Skip to main content

Full text of "Domício da Gama e o impressionismo literário no Brasil"

See other formats





DOMÍCIO DA GAMA 


E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 




Franco Baptista Sandanello 


DOMÍCIO DA GAMA 

E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


SÃO LUÍS 



EDUFMA 


2017 


Copyright © 2017 by EDUFMA 


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 

Profa. Dra. Nair Portela Silva Coutinho 
Reitora 

Prof. Dr. Fernando Carvalho Silva 
Vice-Reitor 

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 

Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira 
Diretor 

CONSELHO EDITORIAL 

Prof. Dr. Jardel Oliveira Santos, Profa. Dra. Michele Goulart Massuchin 
Prof. Dr. Jadir Machado Lessa, Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima 
Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire, Profa. Dra. Maria Mary Ferreira 
Profa. Dra. Raquel Gomes Noronha, Prof. Dr. ítalo Domingos Santirocchi 
Prof. Me. Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz 

Revisão 

Vanessa de Oliveira Temporal 

Projeto Gráfico 

Franco Baptista Sandanello 
Vanessa de Oliveira Temporal 

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 


S213d Sandanello, Franco Baptista 

Domício da Gama e o impressionismo literário no Brasil / 
Franco Baptista Sandanello. — São Luís/MA: EDUFMA, 2017. 
1069 p. : 26 ü. 

ISBN 978-85-7862-611-2 

1. Literatura - Impressionismo literário. 2. Literatura 
comparada. 3. Conto brasileiro. I. Título. 

CDD: 809 





A meus exemplos familiares: Jorge Luís, 
Cinthia, Maria Antonia e Plácida 

A meus exemplos acadêmicos: Maria Célia 
Leonel e Jacqueline Penjon 

À outra metade de mim: Vanessa de 
Oliveira Temporal 

Aos que vieram antes: Luiz Eduardo 
Ramos Borges e Tereza Cristina França 

Ao que deu continuidade: Menalton Braff 

Em memória de Oswaldo Baptista e de 
Domício da Gama 




“[...] a visão das cousas, sem deixar de 
ser verdadeira, exata, é modificada pelas 
diferentes posições do mesmo observador 
para com o objeto, que, sem haver mentira, 
há necessariamente deficiência de verdade 
nas proposições que só consideram um 
objeto de um único ponto de vista.” 

(GAMA, 1892d, p. 1) 




AGRADECIMENTOS 


O presente livro é resultado de uma pesquisa de pós-doutorado realizada 
entre a Universidade Estadual Paulista e a Université Sorbonne Nouvelle Paris 
III sob a supervisão de Maria Célia Leonel e Jacqueline Penjon. A ambas, meu 
mais profundo respeito e gratidão. 

A totalidade do texto foi escrita em pouco mais de doze meses. Agradeço 
infinitamente a meus pais e à minha noiva, que acreditaram em minha pesquisa 
e me ajudaram, senão ao longo de toda minha vida, por um período de seis 
meses em que me dediquei sem financiamento algum e exclusivamente ao to nr 
de force aqui empreendido, entre Paris e Lyon. 

Igualmente importante para a consecução do presente trabalho foi a 
concessão por dez meses de uma bolsa de pós-doutoramento pela CAPES a 
outra pesquisa pós-doutoral sobre Domício da Gama (e Hugo de Carvalho 
Ramos) realizada entre a Universidade Estadual de Goiás e a Université Lyon II 
Lumière sob a supervisão de Ewerton de Freitas Ignácio e João Carlos Pereira. 
A ambos, minha eterna estima e gratidão. 

Segue em curso a transcrição dos textos presentes nos mencionados 
anexos, bem como o estabelecimento do texto, para futura publicação da Obra 
dispersa de Domício da Gama pela EDUFMA. 

Finalmente, um agradecimento especial à minha noiva, Vanessa, que me 
fez uma surpresa pelos idos de 2006 ao presentear-me com uma primeira edição 
dos Contos a meia tinta. Na ocasião, julguei que o livro havia sido vendido para 
outra pessoa (como me disse a dona da livraria) e que jamais poderia revê-lo. Eis 
que, dias depois, estava em minhas mãos. 

Assim, é uma espécie de presente que faço também para o leitor, 
reproduzindo aquele gesto original, ao dar-lhe a conhecer este memorável 
escritor. Que o descubra, é um presente que se fará a si. 

Agradeço, por fim, a Deus e a Nossa Senhora de Fátima. 




LISTA DE ILUSTRAÇÕES 


Foto 1 
Foto 2 

Foto 3 

Foto 4 
Foto 5 
Quadro 1 

Quadro 2 

Quadro 3 

Quadro 4 

Quadro 5 

Quadro 6 

Quadro 7 

Quadro 8 

Quadro 9 


Domício da Gama. Foto: Bain News Service. Fonte: loc.gov/rr/ 
print, Library of Congress Prints and Photographs Division. 

Real Gabinete Português de Leitura. Foto: Marc Ferrez. Fonte: 
ims.com.br, Coleção Gilberto Ferrez, Acervo Instituto Moreira 
Salles. 

Domício da Gama, embaixador em Washington, no Willard Hotel, 
1915. Fonte: loc.gov/rr/print, Coleção Harris & Ewing, Library 
of Congress Prints and Photographs Division. 

Reunião da Sociedade das Nações no Palace du Petit Luxembourg. 
Fonte: gallica.bnf.fr, Bibliothèque Nationale de France. 

Reunião da Sociedade das Nações no Palace du Petit Luxembourg. 
Fonte: gallica.bnf.fr, Bibliothèque Nationale de France. 

Claude Monet, A. beira do Sena em Bennecourt , 1868, óleo sobre tela, 
81,5 x 100,7 cm, The Art Institute of Chicago. Fonte: artstor.org, 
ARTstor (acesso via Univ. Lyon II) 

Pierre-Auguste Renoir, Baile noMoulin de la Galette , 1876, óleo sobre 
tela, 131x 175cm, Musée D’Orsay, Paris. Fonte: musee-orsay.fr, 
Musée D’Orsay. 

Eliseu Visconti, Igreja de Santa Teresa, 1927, 65 x 81 cm, óleo 
sobre tela, Museu Nacional de Belas Artes. Fonte: enciclopédia. 
itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 

Eliseu Visconti, igreja de Santa Teresa, 1 928, 63 x 80 cm, óleo sobre 
tela, coleção particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, 
Itaú Cultural. 

Claude Monet, Ta pont dlArgenteuil, 1874, óleo sobre tela, 60,5 x 80 
cm, Musée d’Orsay, Paris. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via 
Univ. Lyon II) 

Claude Monet, Vetheuil dans le brouillarã, 1879, óleo sobre tela, 60 
x 71 cm, Musée Marmottan, Paris. Fonte: artstor.org, ARTstor 
(acesso via Univ. Lyon II) 

Claude Monet, Tes glaçons, 1880, óleo sobre tela, 60,5 x 99,5 cm, 
Musée d’Orsay, Paris. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via 
Univ. Lyon II) 

Claude Monet, Ta maison du pêcheur, 1882, óleo sobre tela, 60 x 78 
cm, Museum Boijmans van Beuningen, Roterdão. Fonte: collectie. 
boijmans.nl, Museum Boijmans van Beuningen. 

Claude Monet, Bordighera, 1884, óleo sobre tela, 65 x 80,8 cm, The 
Art Institute of Chicago. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via 



Univ. Lyon II) 

Quadro 10 Claude Monet, Sous les pins, 1888, óleo sobre tela, 73 x 92,1 
cm, Philadelphia Museum of Art. Fonte: plrilamuseum.org, 
Philadelphia Museum of Art. 

Quadro 1 1 Navarro da Costa, Baía de Guanabara , 1916, 54 x 65 cm, óleo sobre 
tela, coleção particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, 
Itaú Cultural. 

Quadro 12 Arthur Timótheo da Costa, Barracão rústico , 1916, 38 x 55 cm, óleo 
sobre tela, coleção particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org. 
br, Itaú Cultural. 

Tabela 1 Tabela da produção intelectual de Domício da Gama. Fonte: 
FRANÇA, 2007, p. 45. 

Quadro 1 3 Odilon Redon, L 1 oeil comme un ballon se dirige vers l\ INFINI , 1882. 26,2 
x 19,8 cm, litografia sobre papel velino, Bibliothèque Nationale de 
France, departamento de Estampas e Fotografia. Fonte: gallica. 
bnf.fr, Bibliothèque Nationale de France. 

Quadro 14 Belmiro de Almeida, Arrufos , 1887, 89.1 x 116.1 cm, óleo sobre 
tela, coleção particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, 
Itaú Cultural. 

Quadro 15 Pedro Weingartner, A derrubada , 1913, 102.2 x 149.4 cm, óleo 
sobre tela, coleção particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org. 
br, Itaú Cultural. 

Quadro 16 Almeida Júnior, Gouvre, 1880, 36 x 54 cm, óleo sobre tela, coleção 
particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 

Foto 6 Mediadores em Niagara Falis, Embaixador Naon e Romulo, J. 

Lamar, Embaixador Da Gama, Lehmann, Ministro Suarez e filho. 
1914. Foto: Bain News Service. Fonte: loc.gov/rr/print, Coleção 
Harris & Ewing, Library of Congress Prints and Photographs 
Division. 

Foto 7 Congresso Científico Panamericano. Comitê executivo do 
Congresso e parte do comitê organizador Foto: Harris & Ewing. 
Dezembro 1915, Janeiro 1916. Fonte: loc.gov/rr/print, Coleção 
Harris & Ewing, Library of Congress Prints and Photographs 
Division. 

Foto 8 Da Gama e esposa (Conferência de Paz de Niagara Falis). 1914. 

Foto: Bain News Service. Fonte: loc.gov/rr/print, Library of 
Congress Prints and Photographs Division. 

Foto 9 Eduardo Suáres Mujica, Romulo Naon e Domício da Gama, 
embaixadores do Chile, Argentina e Brasil, na Conferência de Paz 
de Niagara Falis (ABC Conference). Foto: Harris & Ewing. 1914. 
Fonte: loc.gov/rr/print, Coleção Harris & Ewing, Library of 
Congress Prints and Photographs Division. 



SUMÁRIO 


Apresentação: Menalton Braff 19 

Prefácio: Maria Célia Leonel 25 

Introdução: por uma revisão literária de Domício da Gama 31 

Capítulo 1. Panorama da fortuna crítica 39 

Itinerários para a “ilha” Domício da Gama 41 

De Romero a Bechara 42 

Conclusão 72 

Capítulo 2. O impressionismo literário 77 

O impressionismo pictórico (roteiro de principiantes) 79 

O impressionismo literário 

(para além do impressionismo na literatura) 90 

Excurso pela prosa impressionista (dois exemplos) 104 

Conclusão 108 

Capítulo 3. Domício da Gama e o impressionismo do meio termo 111 

A meio caminho do “meio termo” 113 

De 1883 a 1888: o impressionismo incipente e do “justo meio” 116 
1889: o impressionismo literário tout court 125 

1901: balanço extemporâneo e retrocesso ao 

impressionismo do “meio termo” 139 

Conclusão 155 

Capítulo 4. Primeira fase: o “intermezzo” impressionista 157 

Roteiro de leitura: o duplo “ interme^go” 159 

As calças do Manoel Dias (17/01/1886) 161 

A canção do rei de Tule (02/1886) 164 

Cônsul!... (18/03/1886) 168 

A lição da história (28/04/1886) 173 

A mancha (09/09/1886) 176 

A bacante (27/11/1887) 183 

Indução, dedução, conclusão (12/1887) 187 

Estudo do feio (07/02/1888) 193 



Nivelado (14/02/1888) 

201 

Um primitivo (20/02/1888) 

210 

Fibra morta (08/03/1888) 

222 

Scherzo (17/03/1888) 

226 

Conto de verdade \circa 21/03/1888] 

231 

Alma nova (12/04/1888) 

239 

Outrora (06/1890) 

248 

Só [circa 1891] 

255 

Obsessão [ circa 1891] 

265 

Moloch (1897) 

276 

Os olhos (1898) 

287 

Conclusão 

295 


Capítulo 5. Segunda fase: do realismo ao abandono da literatura 297 


Variações sem tema 299 

Possessão (07/1890) 302 

Maria sem tempo (12/1890) 303 

Um poeta (01/1891) 306 

Uma religiosa besta [circa 1891] 308 

A psicologia corrente (25/03/1892) 31 1 

Contente (07/04/1892) 313 

Um conhecido (06/1892) 316 

Meu moleque Tobias (04/07/1892) 318 

A confissão [s / d] 320 

Nhozinho (03/06/1893) 320 

Amabo! (25/09/1895) 322 

Recapitulando (15/10/1895) 324 

A força do nome [1897] 327 

Miss Epaminondas (07/12/1898) 329 

João Chinchila (16/01/1899) 330 

Do realismo ao abandono da literatura 333 

Capítulo 6. Flashes da tradição impressionista no Brasil 337 

Século XX: o impressionista par excellence Adelino Magalhães 340 

Século XXI: os desdobramentos contemporâneos de 

Menalton Braff 343 

Capítulo 7. Conclusão: Sans désirs ni regrets, da capo al fine 347 



Bibliografia 355 

Anexo I: Bibliografia comentada 419 

Nota introdutória 421 

Textos sobre o impressionismo pictórico 427 

Textos sobre o impressionismo literário 541 

Anexo II: Revisão dos demais textos do autor 607 

Nota introdutória 609 

Primeira parte: comentários aos textos inéditos de 

Domício da Gama levantados por Luiz Borges 611 

Segunda parte: comentários aos textos inéditos de 

Domício da Gama presentes no anexo III 632 

Anexo III: Reprodução de textos inéditos do autor 701 

Romance 703 

Conto 705 

Crítica 738 

Crônica 788 

Literatura de viagens 1039 

Discursos 1059 




APRESENTAÇÃO 


Menalton Braff 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


21 


esenterrar pedras preciosas que o tempo teima em enterrar, a mim 
parece uma atividade emocionante. Pelo menos foi com emoção que 
terminei a leitura de Sans désirs, ni regrets: o impressionismo “a meia tinta” de 
Domício da Gama, o relatório de Pós-doutorado que Franco Baptista Sandanello 
apresentou à Unesp de Araraquara, com pesquisas no exterior, principalmente 
no Centro de Pesquisas sobre os Países Lusófonos, da Sorbonne Nouvelle — 
Paris III. E, apesar de seu espírito científico de pesquisador criterioso, que foi ao 
fundo de seu assunto, percebe-se muitas vezes que o Franco trabalhou movido 
por dois estados de espírito diferentes: a curiosidade do cientista, que busca a 
comprovação e o significado de tudo que afirma; a emoção do poeta a quem as 
sucessivas descobertas deslumbram. 

Não está errado dizer que o corpus do Franco foi a obra completa de 
Domício da Gama. Sim, porque além de seus dois livros, Contos a meia tinta e 
Histórias curtas, o autor foi descobrir contos publicados apenas em jornais da 
época e estudou cuidadosamente as dezenas de crônicas de Domício. E isso 
tinha uma importância imensa para seu relatório: Domício da Gama foi um dos 
introdutores, ao lado principalmente de seu amigo Raul Pompeia, da literatura 





22 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


impressionista no Brasil. Era nas crônicas remetidas de Paris que ele discutia as 
características do impressionismo literário. 

Então ocorre uma pergunta: se foi tão grande a importância do escritor 
para o desenvolvimento da literatura brasileira (e pode-se afirmar sem susto 
que o Impressionismo foi o pai do Modernismo), por que não aparece nem 
como referência remota nos livros escolares, como também não é estudado nas 
faculdades de letras? 

A resposta a uma questão como essa passa pelo entendimento do cânone. 
Quem ou o que canoniza? 

Segundo o Houaiss, canonizar é “reconhecer e declarar santo (indivíduo 
falecido), inscrevendo no cânon dos santos, segundo as regras e rituais 
prescritos pela igreja.” A linguagem da crítica literária foi buscar provavelmente 
na linguagem eclesiástica a palavra com que afirma a consagração de certos 
autores, que entram para uma espécie de catálogo com os nomes daqueles que 
deverão ser lembrados pela posteridade. 

No caso da literatura, a canonização tem inúmeros agentes. A universidade, 
com seus estudiosos que remetem alguns nomes para o reino da glória, ou para a 
escuridão do limbo; a mídia, com seus espaços (cada vez menores) para críticos 
saídos ou não das cátedras universitárias; leitores formadores de opinião; as 
academias, enfim, aquilo que se pode chamar de “comunidade literária”. Os 
interesses que estão por trás de uma canonização, eis o que nem sempre é muito 
claro. Só para exemplificar: Olavo Bilac tornou-se um colaborador assíduo do 
poder político nacional. Resultado: o Parnasianismo sufocou o Simbolismo e o 
retrato do “príncipe dos poetas brasileiros” foi afixado na grande maioria das 
salas de aula, muitas vezes ao lado do mandante de então. Por mais de um século 
ninguém saía da escola (primária, como se dizia antigamente) sem que tivesse 
decorado algum verso do “príncipe”. Era evidente o interesse político em sua 
canonização. Não que lhe faltassem méritos literários, mas o colabora cionismo 
foi o móvel para que se lhe chamasse de “príncipe dos poetas”. 

Pois bem, Domício da Gama, em que pese a importância de seu papel na 
história da literatura brasileira, foi esquecido, rolou para a escuridão. 

Sandanello inicia seu trabalho com uma revisão da obra (por sinal diminuta 
no que tange à produção literária específica) de DG, destacando os dois livros 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


23 


em que publicou a maior parte de seus contos, mas comentando ainda aqueles 
que ficaram de fora. Além disso, comenta a produção cronística, em que o autor 
pratica com certa abundância a metaliteratura, em que o Impressionismo é sua 
matéria principal. 

Em seguida, Franco Baptista recolhe e comenta uma extensa fortuna 
crítica da época em que DG viveu, ou seja, fins do século XIX, início do XX. 
Extensa, no sentido de que os textos consultados eram esparsos e constavam 
tanto em jornais como revistas e, por fim, em textos acadêmicos que o 
antecederam. 

No capítulo que se segue, o leitor encontrará um trabalho exemplar 
para que se entenda o que é o Impressionismo literário. Qual sua origem, qual 
seu parentesco com o Impressionismo pictórico, quais suas características 
principais, aquilo que o diferencia de outras estéticas. Estabelecer o parentesco 
com o Realismo /Naturalismo é outro mérito do trabalho. 

Não por último, mas no ver deste leitor, o capítulo mais interessante é 
aquele em que FBS exerce com argúcia seu pendor para a crítica literária, a análise 
dos contos de Contos a meia tinta e Histórias curtas. Suas análises nos revelam o 
que há de impressionista em cada um dos contos, mas também apontam aquilo 
que pode ser entendido como desvios de rota. 

Este estudo avulta em importância se considerarmos que Domício da 
Gama, com ele, ressurge do esquecimento e ganha espaço no panteão de que é 
merecedor. E uma forma de canonização. O que não é pouco. 

Há, por fim, referências a autores que também podem ser classificados 
como impressionistas, como Raul Pompeia, no século XIX, e Adelino Magalhães, 
nos albores do século XX. Autores e tendências, como o decadentismo, de que 
todos se abeiraram, prepararam o terreno onde o Modernismo viesse medrar. 

Para os amantes da literatura, mas sobretudo para aqueles cujo interesse 
vai até os estudos literários, a presente obra, além da importância científica 
(pelas análises, pelas descobertas, pela reunião de quase tudo que já se disse de 
DG, pelo esclarecimento de muitos aspectos de uma estética tão pouco estudada 
entre nós), é uma delícia de leitura em virtude do estilo fluente, da linguagem 
sem a maioria dos tropeços apresentados por especialistas. 

Boa viagem! 





Maria Célia Leonel 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


27 


objeto de estudo do Prof. Dr. Franco Baptista Sandanello é o escritor e 
diplomata brasileiro Domício da Gama, “relegado hoje a um segundo 
plano em nossa história literária, limitado a bibliotecas de órgãos 
públicos, não havendo, até o momento, um único livro que sistematize a sua 
produção ficcional”. Da falta de interesse da crítica nacional pela produção 
desse autor, deriva o objetivo do livro: levantar textos inéditos do escritor, 
mapear a recepção crítica de sua obra, analisar textualmente os contos — o que 
foi feito com admirável empenho e brilhante resultado. 

Saliente-se que, ao se aproximar de Domício da Gama para a realização do 
livro, o Prof. Franco já tinha uma direção para a pesquisa. Não se tratava apenas 
de localizar e examinar a produção do escritor, mas de realizar a investigação 
tendo como norte a característica - por ele considerada como fundamental 
na obra do escritor - que são os traços marcantes do impressionismo. Desse 
objetivo, derivam outros: situar a obra na literatura brasileira e contribuir para 
um melhor conhecimento da prosa impressionista no país. 

A proposta inicial de “avaliação ampla e sistemática da obra de Domício 
da Gama” foi, como se apreende no conjunto, “realizada à risca”. Para 





28 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


tanto, foram consultados diversos acervos e bibliotecas nacionais e francesas. 
No período de realização da pesquisa, tanto no Brasil quanto na França, o 
pesquisador ainda publicou um livro e sete artigos em periódicos, e participou 
de 25 eventos, tendo comunicado resultados da pesquisa em alguns deles. 

O resultado apresenta reflexões sobre a recepção crítica do escritor e 
sobre o Impressionismo; tópicos importantes relativos a posições estéticas de 
Domício da Gama; discussão sobre “o sentido possível (e contraditório) de 
um impressionismo ‘do meio termo’ como mais ajustado à sua obra”; análise 
particularizada de dezenove contos do período que denomina “ interme^go 
impressionista”; análise de quinze contos posteriores em que se inscrevem 
marcas realistas; momentos do impressionismo na literatura brasileira. 

Entre os contemporâneos interessados na obra de Domício, o livro 
menciona Capistrano de Abreu e Machado de Assis e comenta notas e observações 
sobre o escritor de Silvio Romero, Araripe Júnior, Mário de Alencar e ainda José 
Veríssimo, Wenceslau de Queiroz, Raul Pompeia, Artur Azevedo, bem como 
críticas posteriores de Lúcia Miguel-Pereira, Afrânio Coutinho, Fernando de 
Magalhães, Medeiros e Albuquerque, Evanildo Bechara, dentre outros. Destaca- 
se, na apreciação dos estudiosos, a recorrência do reconhecimento da presença 
da sutileza na obra do escritor. 

O estudo do Impressionismo inicia-se pela incursão na sua dimensão 
pictórica em que se distingue a valorização da tonalidade das cores, chegando 
ao impressionismo literário, de difícil definição, que opera uma mudança na 
narrativa de modo que o tema passa a ser secundário. Tais constatações são 
amplamente exemplificadas no livro. 

Quanto aos traços impressionistas de Domício da Gama, salienta-se que, 
desde cedo, ele manifestou-se contra extremismos, defendendo “uma estética 
do meio termo ou do Justo meio’ capaz de fazer a mediação entre a tradição 
literária e o público sem ofender nenhum deles, sob o estratagema de um texto 
rebuscado, mas jamais pernóstico.” Em diferentes textos do escritor - cartas, 
crônicas, prefácio à coletânea de contos - o pesquisador apresenta as variações 
no que se refere à valorização de aspectos da literatura bem como reflexões 
sobre a pintura impressionista como a de Monet e ainda sua preocupação com 
o público leitor. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


29 


A análise dos dezenove contos da primeira fase - relacionados ao 
Impressionismo - é bastante minuciosa, feita com rigor, apontando avanços 
em relação à estética impressionista e a presença de crítica ao naturalismo. Já 
o estudo dos quinze contos da segunda fase mostra a diminuição das marcas 
impressionistas, a distância de certa gratuidade literária da primeira fase e 
inclinação ao Realismo. Refletindo sobre os resultados da análise da obra de 
Domício, o Prof. Franco relaciona as características nela apreendidas com o 
sincretismo do final do século XIX. 

No que se refere a incursões de outros escritores brasileiros no 
Impressionismo, examina ainda a produção de Adelino Magalhães e 0 bolero de 
Kavel de Menalton Braff. 

A despeito dos esforços empreendidos na realização da pesquisa em 
pauta, o autor do livro informa que boa parte da produção de Domício é ainda 
inédita, faltando uma visão mais aprofundada dela, bem como estudos sobre o 
Impressionismo no Brasil. 

Vale dizer que o livro contém mais de mil páginas, contando com 
vastíssima bibliografia de e sobre Domício da Gama e sobre o Impressionismo, 
e anexos preciosos contendo reprodução de contos e crônicas do escritor, 
correspondência selecionada, bibliografia comentada, comentários a textos não 
analisados no corpo do trabalho, textos sobre o impressionismo pictórico etc. 





INTRODUÇÃO: 

por uma revisão literária de Domício da Gama 


“[...] revisitá-lo, tirá-lo da penumbra e 
descobri-lo por inteiro é um dever que se 
impõe à cultura brasileira.” 

(BECHARA, 2013, p. 212) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


33 



|Uem foi Domício da Gama?” — parece ser hoje a pergunta mais 

óbvia acerca de um estudo qualquer de sua obra. De fato, não há 

7 . 

como esquivar-se ao contraste entre o prestígio e reconhecimento 
do escritor na história brasileira e literária de sua época, e a injustiça do 
esquecimento de sua figura hoje. Contudo, o procedimento de discussão de sua 
obra a partir de sua pessoa, ainda que parcialmente válido, não procede por si só, 
e apenas traria uma coisa em decorrência da outra, fazendo mitigar, ainda uma 
vez, seu valor especificamente literário. Composta por dois livros de contos, fora 
inéditos em revistas e jornais, o mais correto seria avaliá-la dentro do quadro de 
transição de nossa literatura oitocentista para o século XX, ressalvando apenas 
os dados biográficos necessários para sua compreensão. Não obstante, a quase 
ausência de seu nome em nossa história literária incomoda quem procura tal 
abordagem. Afinal, é quase um despropósito repensar uma figura que ajudou a 
delimitar, enquanto escritor e diplomata, os contornos institucionais de nossa 
literatura (participando da fundação da Academia Brasileira de Letras) e de 
nosso país (auxiliando o Barão do Rio Branco na soberania nacional sobre os 
territórios das Missões, do Acre e do Amapá) como um indivíduo, ainda hoje, 




34 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


“quase inédito.” (Borges, 1998, p. 9) Trata-se, pois, de um problema não só de 
atenção, mas de recuperação do que nos foi legado, e que não pode isentar da 
discussão do texto as condições de sua recepção. 

Contos à meia tinta , publicado originalmente em 1891 pela tipografia Lahure 
em Paris, não teve uma segunda edição; Histórias curtas , de 1901, distribuído pela 
Livraria Francisco Alves em uma tiragem de dois mil exemplares, não gozou de 
maior sorte. A única edição de fácil acesso hoje é a de 2001 da ABL intitulada 
Contos , e que valeria por uma edição “completa” das obras do autor não fosse 
pela ausência de vários contos, inéditos em jornais e revistas, e das muitas 
crônicas e cartas de Domício. Ainda assim, a compilação de Contos à meia tinta 
e Histórias curtas em um único volume parece ter dado novo ensejo ao resgate 
de Domício: dois dos três trabalhos acadêmicos existentes sobre o autor foram 
escritos após sua publicação (Tereza França e Daniella Silva), assim como um 
capítulo de livro (Alberto Venâncio Filho), um estudo biográfico (Ronaldo 
Costa Fernandes), uma conferência e um artigo (Evanildo Bechara). 

Observando, porém, o que há de juízo especificamente literário na 
fortuna crítica do autor, não parece ter havido alguma alteração significativa: 
ainda hoje, não há um único livro ou trabalho acadêmico que contemple ou 
sistematize sua obra ficcional. A tese de Tereza França (2007) trata do papel de 
Domício na diplomacia brasileira, assim como a dissertação de Daniella Silva 
(2008). O trabalho pioneiro de Luiz Eduardo Ramos Borges (1998) sobre a vida 
e obra do escritor, que recupera uma série de crônicas e ensaios, bem como 
parte da correspondência e um conto inédito, não parece ter outro critério 
que o da impressão pessoal: “Informo, finalmente, que não tive a intenção de 
publicar a obra completa do autor, mas reunir aquilo que me pareceu mais 
significativo e suficiente, considerando o respeito ao autor e o interesse dos 
leitores.” (BORGES, 1998, p. 10) No que diz respeito a artigos sobre a ficção 
de Domício, poucos se seguiram ao de José Veríssimo, escrito na ocasião do 
lançamento de Histórias curtas , em 1901. Quase tudo o mais são textos esparsos 
de pessoas de seu convívio, discursos de posse dos que lhe sucederam na cadeira 
33 da ABL, e informações sumárias contidas em alguns poucos dicionários e 
compêndios de literatura brasileira. Em suma, poucos parecem ter se interessado 
em verificar a fundo os vaticínios entusiasmados de Araripe Jr. (1978, p. 141), 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


35 


que o considerava o “nosso Poe”, ou de Sílvio Romero (1954, p. 1769), para 
quem Domício da Gama e Raul Pompéia eram “dois dos [nossos] escritores de 
altura acima do comum.” 



Foto 1 - Domício da Gama. Foto: Bain News Service. 

Fonte: loc.gov/rr/print, Library of Congress Prints and Photographs Division. 


Neste sentido, o resgate de Domício da Gama representa um passo 
importante para a avaliação tanto deste filão da literatura brasileira — continuado 
mais tarde por autores como Adelino Magalhães e Menalton Braff — como, 
também, para uma nova discussão dos limites da forma e do conteúdo da ficção 
impressionista como um todo. Caberia assim dizer que uma análise aprofundada 
permanece ainda “a meia tinta”, i.e., a meio caminho de ser feita. 1 Que o leitor 

1 Faz-se necessário um esclarecimento acerca da expressão “à meia tinta”, para além de sua 
clara referência ao título do primeiro volume de contos de Domício, sugerido por Raul Pom- 
péia (cf. nota 9, cap. 1). Trata-se de uma menção ao caráter intimista da obra, possivelmente 
tomado à nota introdutória de Zola (1878, p. VI) a Une page d’amour “ Ume reste a déclarerque les 
árconstances seules m’ont fait publier 1’arbre avec Une page d’amour, cette oeuvre intime et demi-teinteP 
Como se sabe, “demi-teinte” significa o tom mediano situado entre a variação mais clara e a 
mais escura de uma cor, conotando, por extensão, certa dose de comedimento, de nuança, de 
discrição: “ Teinte qiti n’est ni claire ni foncée. Peinture executée en demi-teintes. Sonorité adoucie: 
chanter en demi-teinte.” (ROBERT, 1990, p. 489) Assim, a um só tempo, a expressão “à meia 
tinta” liga-se tanto à obra ( Contos a meia tinta , em que se concentra a maior parte dos contos 
impressionistas analisados) quanto ao escritor (muitas vezes designado em sua fortuna crítica 
como alguém comedido, de meias palavras), simbolizando, assim, o duplo resgate de um e de 




36 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


veja o assunto de maneira mais problematizada, e menos passiva (como o 
veria o próprio Domício, cuja divisa, indicada numa ilustração de seu volume 
Contos , possivelmente originada de seu ex-libris, era a de “ Sans desirs ni regreti ’), 
consiste o intuito maior deste trabalho. Importa, pois, redescobrir o autor, 
e “não só pelo que nos deixou publicado, mas ainda pelo que anda esparso, 
quiçá ignorado, em arquivos particulares e públicos, material precioso que nos 
revelará documentação triplicada do que dele hoje conhecemos.” (BECHARA, 
2013, p. 203) 

A divisão do presente trabalho decorre desse objetivo geral e visa esclarecer 
as muitas lacunas da historiografia da literatura brasileira no que diz respeito a 
Domício da Gama e à contribuição de sua obra ao impressionismo literário no 
Brasil. Assim, tendo em vista a mencionada exiguidade de sua recepção crítica, 
o primeiro capítulo traz um panorama (mais ou menos exaustivo, dentro de 
seus limites) de seus intérpretes e comentadores. 

O segundo capítulo consiste de uma discussão teórica sobre o 
impressionismo literário e visa desfazer alguns dos muitos enganos suscitados 
por seu diálogo com o impressionismo pictórico. À maneira da discussão 
posterior dos contos, trata-se de uma análise do que há de especificamente 
literário na expressão ficcional impressionista. 

O terceiro capítulo apresenta alguns momentos importantes da reflexão 
estética de Domício da Gama e discute o sentido possível (e contraditório) de 
um impressionismo “do meio termo” como mais ajustado à sua obra. 

O quarto e o quinto capítulos comportam a análise de seus contos e 
propõem uma divisão de sua obra em dois momentos: uma primeira fase, 
experimentalmente impressionista; e uma segunda, de expressão realista, 
anterior ao abandono definitivo da literatura. Seja pelo enfoque teórico do 
presente trabalho seja pela expressão quantitativamente majoritária dos contos 
de primeira fase, o capítulo quarto conta com análises individuais dos textos, 
enquanto o quinto perfaz uma discussão em grupo, mais abreviada. 

O sexto e último capítulo diz respeito a brevíssimos comentários a dois 
autores nacionais impressionistas — Adelino Magalhães, no início do século XX, 
e Menalton Braff, no século XXI — como forma de integrar a contribuição 


outro pelo presente estudo. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


37 


oitocentista de Domício da Gama no conjunto da literatura brasileira e destacar 
a importância (já secular) de seu veio impressionista, pela sugestão, antes que 
análise, dos pontos comuns aos três autores. 

Finalmente, a conclusão geral evidencia as condições de construção do 
trabalho e relata as experiências de sua leitura, imediatamente posterior às de 
sua escrita. À maneira da análise e comentário integrais dos contos de Domício, 
trata-se de um fecho especular da reflexão crítica, a rigor excrescente ao texto, 
porém não a seu propósito maior, esclarecido há pouco. 

Neste sentido, seria impossível mobilizar tantas questões sem o suporte 
de três anexos que acompanham o presente trabalho. O primeiro anexo 
consiste de uma bibliografia comentada do impressionismo (pictórico, literário), 
servindo de roteiro e de complemento aos argumentos esboçados no capítulo 
2. O segundo anexo traz comentários individuais a todos os textos de Domício 
da Gama que não tenham sido avaliados nos capítulos 4 e 5, de forma a apontar 
(senão sugerir) uma leitura sistemática de sua obra. Finalmente, o terceiro 
anexo traz a cópia digitalizada de muitos textos inéditos do autor — contos, 
ensaios, crônicas etc. — conforme consultados na Hemeroteca Digital Brasileira 
(Fundação Biblioteca Nacional) e na Biblioteca Brasiliana Guitta e José Mindlin 
(USB). 

Trata-se, pois, de um estudo plural das muitas questões mobilizadas pelo 
moto-contínuo de Domício da Gama e do impressionismo literário no Brasil, 
face ao estágio ainda parcial de suas respectivas investigações pela historiografia 
literária brasileira. 

Assim, como ilustração e complemento necessário das mesmas questões, 
foram incluídas diversas ilustrações ao longo do texto, como fotos inéditas 
do autor (obtidas do acervo digital da Library of Congress e da Bibliothèque 
Nationale de France) e quadros impressionistas de pintores franceses e brasileiros, 
ora transpostos em écfrases por Domício ora de autoria de pintores de seu 
convívio mencionados em suas crônicas (extraídos do acervo da ARTStor, da 
Enciclopédia Itaú Cultural e de diversos museus). 





1. PANORAMA DA FORTUNA CRÍTICA 


Enquanto um homem vive, por grande 
homem que seja, parece-nos que ele não 
faz mais do que a sua obrigação, e só 
temos voz para a censura dos seus defeitos 
e dos seus erros. Mas, em morrendo nós 
sentimos, pelo claro que deixa, o lugar 
que ele ocupava em nossa vida, na vida do 
nosso tempo. Depois, os erros e defeitos 
do personagem vão se esquecendo, e dele 
só fica, resumida pela Morte que simplifica, 
pela Morte que poetiza, pela Morte que é 
a legendeira irresistível, a sua obra, que um 
nome evoca, logo brilhante de prestígio das 
cousas que foram. 

(GAMA, 1891o, p. 2, grifo do autor) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


41 


Itinerários para a “ilha” Domício da Gama 


primeira vista, poderia parecer numeroso o conjunto da fortuna crítica 
de Domício da Gama, que inclui artigos, ensaios, conferências, cartas, 
necrológios, depoimentos memorialísticos, notícias anônimas de jornal 
e trabalhos acadêmicos. No entanto, em um segundo exame, há pouco que se 
refira especificamente à sua obra ficcional, e ainda menos que não se limite a 
comentários de poucos parágrafos. 

É lícito, pois, destacar que sua obra constitui uma “ilha” no panorama 
literário brasileiro . 2 Há quatro razões para tanto, mais ou menos evidentes: 
sua inserção cronológica no período anterior ao Modernismo (quase ele todo 



2 A expressão é de Eugênio Gomes (1963, p. 51, grifos do autor), ou antes, de Albert Thi- 
baudet, aplicada originalmente à análise da obra de James Joyce e estendida à de Adelino 
Magalhães: “De fato, não estará configurada de maneira completa a geografia imaginária 
de nossa literatura sem a menção de uma grande ilha, quase desconhecida: a ‘Ilha Adelino 
Magalhães’. Seu aspecto é estranho e insólito, não sendo para surpreender que a só presença 
da selva selvaggia em que ela submerge faça recuar os excursionistas pouco experientes e até 
mesmo um ou outro explorador menos intrépido.” 




42 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


reduzido a um lugar acessório na história literária); sua significação impressionista 
(também pouco estudada no Brasil); o difícil acesso a boa parte de sua fortuna 
crítica;’ e o rápido período criativo do autor, limitado a um intervalo de mais 
ou menos quinze anos entre a escrita e a publicação de Contos a meia tinta e de 
Histórias curtas (que datam de 1891 e 1901, embora seus textos tenham sido 
escritos de 1886 a 1898). 

Assim, há que se recompor pausadamente seus itinerários de leitura, a 
fim de evidenciar os termos pelos quais foi usualmente interpretado. 

De Romero a Bechara 


Aos breves elogios de Sílvio Romero (1954) e de Araripe Jr. (1978), 3 4 
motivados pela reputação crescente de Domício entre as rodas intelectuais, sob 
a tutela de Capistrano de Abreu e Machado de Assis, não se seguiu um estudo 
aprofundado de sua obra. Tal estudo viria apenas anos mais tarde com “Os 
contos do Sr. Domício da Gama”, de José Veríssimo (1977), escrito quando da 
publicação de Histórias Curtas , em 1901, 5 em que recupera o tom dos elogios 


3 Um bom exemplo é a tese de Borges (1998), que, apesar de seu valor inegável, bem como 
de sua escrita recente, permanece ainda restrita a poucas bibliotecas universitárias. Um exem- 
plar, todavia, consta do acervo da biblioteca da ABL. 

4 Araripe Jr., em carta a Domício da Gama datada de 1901, comenta o livro Histórias cur- 
tas à vol cToiseau, dispensando-se de quaisquer rigorismos analíticos, em prol de uma crítica 
“digestiva” de literatura: “Não o critiquei; comi-o, como faziam os antigos profetas do An- 
tigo Testamento; e ele não me indigestou; nutriu-me. Quer V. saber o gosto que lhe achei? 
Achei-lhe o gosto de passa de banana, que, quanto a mim, é a melhor do mundo, superior 
à de Corinto! Mas que diabo, dirá você. O Araripe deu agora para a estética do confeiteiro! 
Seja! Aposentei-me como crítico. E agora todo meu esforço é para readquirir a capacidade 
perdida de ler uma obra, sem outra preocupação além da de gozá-la. Os meus parabéns.” 
(ARARIPE JR. apud BORGES, 1998, p. 565) Seja pelo caráter de blague pressuposto pela 
carta, seja pela intenção expressa de não fazer crítica de literatura, o texto de Araripe Jr. não 
consta do levantamento de sua fortuna crítica, acima. Igualmente, não se inclui o comentário 
ligeiro de Emanuel Carnero (1890, p. 2) - a rigor anterior ao de Pompéia (1982) - em crô- 
nica de outubro de 1890 a respeito de um romance de Bourget, em que julga como únicos 
continuadores do autor francês, entre nós, apenas dois autores: “E entre os homens de letras, 
quantos adeptos teremos? Parece que no romance foi o sr. Pompéia o único. No conto vem 
na frente o sr. Domício da Gama.” 

5 O estudo de Veríssimo foi originalmente publicado no Correio da Manhã (RJ) a nove de 
setembro de 1901, sendo antecedido apenas por uma breve nota de lançamento do volume, 
de autoria de Mário de Alencar, datada de maio do mesmo ano. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


43 


de Romero (1954), assim como sua orientação naturalista na apreciação das 
qualidades do escritor. 

Todavia, antepõe-se ao estudo de Veríssimo (1977) aquilo que é, para 
todos os efeitos, a primeira apreciação crítica de sua obra, datada de cinco de 
abril de 1891 (i.e., imediatamente após a publicação de Contos a meia tinta ). 6 


6 O texto de Pompéia é mesmo anterior ao breve comentário de Joaquim Nabuco aos Contos 
a meia tinta , exposto em carta a Domício da Gama a 18 de abril de 1891. Dada a natureza do 
texto em questão (todo ele particular, mero agradecimento pelo livro e pela dedicatória do 
autor), o mesmo tampouco consta do corpo da fortuna crítica, acima elencada. Não obstan- 
te, é de interesse o parecer de Nabuco (1949, p. 201-202): “Muito obrigado pelo seu livro 
e autógrafo. Há espalhada por ele tanta teoria e tanta notação de ideia que vou sorvê-lo de 
vagar mesmo para gozar mais tempo de sua companhia. Ao contrário da nossa natureza que 
é a melhor das pinturas para o colorista que sabe trabalhar no verde, os nossos costumes, a 
nossa psicologia local, desde o nome próprio, são um embaraço quase invencível para quem 
quer bordar em tela caracteristicamente brasileira. O contrate aparece muito visível entre a 
cultura complicada do escritor e a simplicidade do costume nacional impenetrável. É verdade 
que muita inovação não seria um progresso.” Há, pois, um contraste entre a “cultura com- 
plicada” do autor e a “simplicidade do costume nacional”, o que dificulta a representação 
de outro binômio - o da natureza, ricamente pictórica, frente à “psicologia local”. Trata-se, 
pois, de um duplo distanciamento de uma “tela caracteristicamente brasileira”, ofuscada por 
“tanta teoria”. Perceba-se, ainda, a rápida avaliação dos contos com base em termos visuais 
e pictóricos (conforme sugerido pelo título “a meia tinta”), revisitada mais tarde por outros 
intérpretes de sua obra. De resto, para além da carta de Nabuco, e de extensão igualmente 
breve ou menor, há quatro notícias de jornais publicadas no período entre 1888 e 1891 a 
respeito de Domício, que merecem ser também mencionadas em nota. A primeira é de 27 
de julho de 1888, publicada no jornal Cidade do Rio, em que um suposto “D. Quixote” (1888, 
p. 2) discorre sobre seu estilo e menciona um trecho de seu romance inacabado Psicose (re- 
produzido no anexo 3): “Como tantos outros da moderna geração, Domício da Gama é um 
doente sofrendo da eterna melancolia dos psicólogos analistas. Talento de primeira água, 
que no estudo facetou-se como o brilhante pronto a refrangir o menor raio de luz, ele tem 
entretanto, a grande [meljancolia dos homens que duvidam de tudo e até de si mesmo. Do 
seu estilo burilado [...] dimana um perfume excêntrico, suave e brando, como as essências 
finas, mas triste, triste, imensamente triste, como o último fragmento da Psicose, publicado no 
dia da sua partida para a Europa.” Perceba-se, pois, a recorrência de alguns termos (análise 
moderna e psicológica, dúvida e melancolia existencial, estilo trabalhado e exótico), inau- 
gurados por esse texto anônimo. Por sua vez, o segundo texto, ainda que seja também da 
autoria de um dúbio “Dr. Pangloss” (em verdade, pseudônimo de Wenceslau de Queiroz), 
difere bastante dessa nota de “D. Quixote”, pois trata antes de um comentário de Domício 
sobre Emile Zola que sobre seus próprios méritos literários. Publicado no Correio Paulistano a 
10 de abril de 1890, trata-se de um rebate ao argumento de Domício de que não haveria uma 
frase de estilo em Pa bete humaine. Para Queiroz (1890, p. 2), isto constitui uma “barbaridade 
literária”, e “o sr. Domício da Gama deve[ria] reler as obras de Emílio Zola.” O terceiro texto 
equivale a um breve comentário de Oscar Rosas (1890, p. 2) publicado no periódico carioca 
Novidades a 23 de setembro de 1890, em que defende algo preconceituosamente a literatura 
do sul contra a do norte: “Tenha o norte paciência: a preguiça de ter originalidade e de ser 




44 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Trata-se de uma crônica de autoria de Raul Pompéia publicada no Jornal do 
Comércio (coluna “Lembranças da Semana”), em que, após discutir os últimos 
acontecimentos do Rio de Janeiro, lança-se, como de praxe em suas crônicas, à 
crítica de arte e literária . 7 Nessa “subseção”, aponta as circunstâncias gerais de 
encomenda do volume: 

De Paris acaba de chegar, em edição mandada fazer pela Gaveta 
de Notíáas na Tipografia Lahure, um volume que é um brinde à nossa 
literatura. E um livro de contos de Domício da Gama, o já bem 
conhecido correspondente da Gaveta na grande capital europeia; e 
tem por títutlo - Conto [sic] a meia tinta. Um livro verdadeiramente 
excepcional. (POMPÉIA, 1982, p. 229) 

No mesmo tom elogioso, gaba as qualidades do texto de Domício, do 
qual aprecia, sobretudo, a sutileza e o “cultivo elaborado da linguagem escrita”: 
“ Contos a meia tinta é o nome que se dá a esses cuidados poemetos de estilo, 
assim exprimindo certa delicadeza com que o escritor esquiva-se às cores 
violentas do estilo concreto.” (idem) Entendendo, pois, os contos sob o signo 
da sugestão, do meio-tom e das cores sutis, levanta uma importante ressalva ao 
sentido meramente estilístico do título da coletânea: a expressão “a meia tinta” 
ofusca o sentido psicológico que embasa e fundamenta aquilo que há de mais 
original no autor: 

O título refere-se apenas ao estilo dos contos. Para significar o que 
são seus contos mais intimamente do autor devia intitulá-los contos 
psicológicos. Os Contos a meia tinta são intensamente subjetivos. E 
esta qualidade marca o valor do volume para a crítica em detalhe, 
(idem) 


novo invalidou-o, e o sul, com Raul Pompéia, Domício da Gama e outros, vai longe, sem 
cabeleira romântica da poesia de recitativo e do acróstico e da prosa recheada de índios e de 
tacapes, como uma ópera de Carlos Gomes.” O quarto e último texto referido consiste de 
uma rápida nota de publicação n’0 País dos Contos a meia tinta , de Domício, e dAux Etats-Unis 
dn Brésil, de Sant’Anna Nery, datada de primeiro de maio de 1891 e de autoria de Xavier de 
Carvalho (1891, p. 1): “[...] os Contos a meia tinta são filiados na moderna escola e demonstram 
em Domício da Gama um inteligente estudo dos novos processos críticos. São 17 narrativas 
repassadas de um suave e fino espírito literário. Como estreia de um contista, - é um real 
sucesso. O volume é impresso em Paris.” 

7 O estudo de Pompéia foi também reproduzido na Gaveta de Notícias à primeira página da 
edição de 24 de abril de 1891, em substituição exclusiva à coluna “De Paris”, assinada por 
Domício da Gama e publicada periodicamente pelo jornal sempre em sua primeira ou segun- 
da página, desde 23 de novembro de 1888. É importante destacar que as contribuições de 
Domício à Gaveta de Notícias (incluindo as crônicas “De Paris”), ainda inéditas, encontram-se 
reproduzidas no anexo 3. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


45 


Como causa primeira deste penhor psicológico dos contos, Pompéia 
(idem), embora o mais das vezes avesso à leitura biográfica de sua própria obra, 
considera que “a distinção aristocrática do espírito de Domício fê-lo inclinado 
à análise miúda dos fatos espirituais, esta espécie de amor elegante ao bibelot 
aplicado a miudezas curiosas do mundo moral.” Neste sentido, Pompéia, 
evidente influência literária sobre o amigo, além de responsável indireto pelas 
duas fases de sua obra, 8 é também o preconizador de uma leitura biografista 
que viria lançá-la posteriormente no esquecimento, limitando-a a critérios 
extratextuais. 

Não obstante, Pompéia (idem, p. 230) acrescenta àquele biografismo 
inicial uma discussão teórica do valor psicológico de Contos a meia tinta , dispondo 
os termos de “impressão” e de “microcosmo” como polos da vida estética 
e espiritual, em que “a abundância das impressões do grande universo tem 
equivalente na contemplação do microcosmo do espírito”; destarte, “a arte, em 
vez de se fazer por simples exposição descritiva, tem de se fazer pela análise, 
não sendo a análise mais do que o progressivo aperfeiçoamento de uma ideia ou 
de um sentimento.” É justamente o que há de (psicologicamente) analítico nos 
contos em questão aquilo que serve de (segunda) baliza para o julgamento crítico 
de Raul Pompéia. Com base neste critério, julga alguns contos mais fracos que 
os demais (“Um primitivo”, “As calças do Manoel Dias”, “Cônsul”), enquanto 
outros, aponta como “verdadeiras obras primas” (“Alma nova”, “Outrora”) 
(idem). 

Desta forma, Pompéia (idem) como que inaugura também outro juízo 
recorrente em sua fortuna crítica, a partir de então: o elogio ao caráter visual de 

sua prosa, mediante termos tomados da pintura: 

Dissemos que era intensamente psicológico o livro de 
Domício. O próprio estilo é por assim dizer psicológico também. Os 
Contos a meia tinta colorem-se na névoa dos seus tons esquivos, dos 
seus matizes transparentes, como a primeira mão de uma aquarela, 
obtendo o escritor esse gênero de forma que tão bem exprime o 
título do seu livro por meio de um jogo de termos abstratos, que se 
auxiliam uns aos outros, que se completam, que se aprofundam, que 
se cavam por assim dizer uns dentro dos outros como as abóbadas 
sucessivas de uma galeria fantástica através do pensamento profundo; 
conseguindo-o mais com o auxílio de imagens de pura abstração e 


8 Cf. a análise do conto “Outrora...”, no capítulo 4. 




46 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


por não aproveitar da realidade concreta para o seu colorido senão 
um rápido traço de observação requintada ou uma perspectiva 
desmaiada que lhe serve de fundo longínquo a um outro quadro. 

Nota-se a avaliação elogiosa (e algo pictórica) de sua prosa perante a 
“perspectiva desmaiada” das “imagens de pura abstração” por ela suscitadas, 
mediante rápidos traços de “observação requintada” (idem). No que diz respeito 
ao título do volume ( Contos a meia tinta), é importante observar que foi proposto 
a Domício por Pompéia, em meio a uma conversa informal na livraria Garnier, 
com Machado de Assis. 9 Assim, os elogios aos contos revestem-se, até certo 
ponto, de certo autoelogio às próprias indicações. 

Em todo caso, Pompéia (idem) salienta três efeitos característicos “no 
estilo de Domício”: “ou a pura expressão abstrata [...]; ou a visão do mundo 
transfigurado como por efeito de um sonho, num deslumbramento ou em 
um nevoeiro [...]; ou, finalmente, uma nota de observação rara, minuciosa e 
delicada”. Como exemplo de cada um desses três efeitos, aponta trechos de 
Contos a meia tinta em que sobressaem, respectivamente, a digressão filosófica, 
o tratamento pictórico (“quadros desta espécie enchem o livro quase a cada 
página” (idem)) e a sutileza psicológica. 

Por fim, elogia amplamente a “originalidade sem igual” de seu “livro 
belíssimo”, (idem, p. 231) 


>|o|o|c 


9 A este respeito, em tom de blague , afirma Humberto de Campos (1951, p. 102): “Uma tarde, 
lia Domício na Garnier a Machado, Pompéia, Mário de Alencar, e outros, uma coleção de 
contos, dirigindo de instante a instante um olhar aos pés, quando, ao fim, comunicou tratar- 
-se do seu livro de estreia. Faltava, apenas, o título. - Homem, - fez Pompéia, concentrado, 
- eu, no seu lugar, já o teria encontrado. E olhando o calcanhar do ‘conteur’: - Dar-lhe-ia o 
título de ‘Contos’ à ‘meia tinta’! E tomando nota: - ‘Contos à meia tinta’ fica muito bem!” 
Nesse parecer, a obra de Domício deve-se diretamente à influência de Pompéia e Machado. 
A respeito de seu contato com esse último, observa que fora mesmo por sua sugestão que 
se iniciara nas letras: “Aproximado de Machado de Assis, que passou a chefiar o grupo dos 
recolhidos, ou dos melancólicos, nas cadeiras da Garnier, verificou Machado que o moço 
geógrafo possuía uma observação fina, perspicaz, e que podia ser um excelente pintor psi- 
cólogo. As almas, os caracteres, podiam encontrar nele um paisagista delicado, um fixador 
inteligente, um intérprete como ainda não existia, talvez, nas letras nacionais. - O senhor po... 
podia fa... fazer a ge... ge... geografia do co... co... coração humano! - gaguejou o Mestre. E 
incentivando-o: - Por... por que não escréeve [sic] uns con... contos?” (idem, p. 101) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


47 


Ao estudo de Pompeia, não se seguiram outros estudos de relevo acerca 
dos Contos a meia tinta} 1 ' A responsabilidade do segundo trabalho de relevo 
sobre o autor caberia, pois, a José Veríssimo, em artigo exclusivamente dedicado 
às Histórias curtas . n 


10 Há, contudo, três textos menores publicados em jornais diversos no período que vai de 
1893 a 1905. O primeiro texto data da edição de 27 de setembro de 1893 da Pacotilha (MA), 
e consiste de uma menção sumária do cronista, Aderbal de Carvalho (1893, p. 2), aos Contos 
a meia tinta\ “Domício da Gama nos Contos a meia tinta deu-nos também uma excelente 
amostra de uns belos trabalhos psicológicos, em nada inferiores aos do célebre Paul Bour- 
get.” O segundo, publicado no Jornal do Brasil a 22 de outubro de 1895, é uma longa crítica de 
Cosme de Moraes (1895, p. 1) ao ensaio “A exposição de Belas Artes”, de Domício (repro- 
duzido no anexo 3), que considera um “artiguete”: “Quanto à malignidade, o sr. Domício! 
ouso afirmá-lo, não é menos feroz do que os mais cruéis... Ora imagine-se que s.s., tratando 
da Moerna berardelliana, declara não saber - ‘se a evocação do nome entra principalmente 
na admiração desta contemplação e para tirar toda a dúvida logo mais acrescenta que entre seus 
olhos e a estátua - ‘sempre se meteu um véu prestigioso de poesia’. Ou eu não entendo de 
língua portuguesa ou o que o ilustrado crítico pretendeu significar foi que pela mor parte 
em seu arroubo contemplativo entraram as reminiscências lendárias da formosa amante do 
Caramuru. Poeta e cismador, o sr. Domício ficaria pelo nome e pelas ideias que ele evoca, igual- 
mente abalado ante qualquer outra aberração escultural do sr. Bernardelli. A questão para o 
imaginoso contemplador é o nome da estátua, é o prestígio , isto é, a ilusão que assim se antepõe 
aos olhos do crítico e o impede de ver o artefato! [...] Excessivo, porém, de malícia ou falto 
de indulgência para com os líricos e satíricos a quem julga tão por cima do ombro - deixemos 
em paz o sr. Domício e concluamos a encetada análise da exposição.” O terceiro e último 
texto mencionado é uma breve menção de João do Rio (1905, p. 3) a Domício dentre os no- 
vos contistas brasileiros, em crônica da Gageta de Notícias de 29 de abril de 1905: “No conto, 
gênero que tem sido entre nós cultivado em demasia, além de Machado de Assis e Coelho 
Netto, ocupam lugar saliente Afonso Arinos, estudando com deliciosa exatidão a vida ser- 
taneja; Domício da Gama, em quem predomina um psicologismo como que irônico; Lúcio 
de Mendonça, escritor de apurada linguagem; Medeiros e Albuquerque, Garcia Redondo, 
Afonso Celso e Arthur Azevedo. J’en passe... O gênero é por demais efêmero para que se lhe 
possam descobrir tendências.” Há, ademais, um parágrafo de Antonio Sales (1897, p. 50) em 
“Os nossos acadêmicos”, na Revista Brasileira (tomo de abril a junho de 1897), também digno 
de menção: “Inferior em quantidade é a lista bibliográfica do Sr. Domício da Gama, autor 
de uma única obra - os Contos a meia tinta. A sua pouca fecundidade está felizmente na razão 
inversa do valor dos seus trabalhos, como se verifica dos Contos a meia tinta , onde a finura da 
observação e a elegância da frase traem um pulso firme de escritor feito, de estilista senhor 
da sua arte. Há muito que segue a vida errante de correspondente de jornais e acidentalmente 
diplomata, fazendo-se lembrar de quando em quando por formosos artigos, dos quais tem 
esta Revista estampado alguns sobre a vida americana, belas artes etc.” 

1 1 Para além do estudo de José Veríssimo comentado no corpo do texto, há, do mesmo 
autor, um comentário ao Atlas Universal de Geografia Física e Política dirigido por Domício da 
Gama, publicado no n. 15 da Revista Brasileira. Nele, afirma ser “o mais completo até agora 
publicado em português”, e elogia o sistema adotado pelo “diretor da publicação [...] de dar 
formas portuguesas às denominações geográficas estrangeiras, como fazem todas as línguas 




48 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


José Veríssimo (1977, p. 81), de início, considera seus contos como “de 

alguma coisa distinta, diferente” dos de sua época, evocando um caráter talvez 

de “obra, rara, e, como quer que seja, esquisita.” A razão desta estranheza advém, 

para o crítico, de uma razão pessoal: o pudor do autor frente à publicidade, como 

marca de seu caráter recatado e sóbrio. Neste sentido, o prefácio de Histórias 

curtas , “Nota para o meu melhor leitor”, evidencia antes de tudo a consciência 

crítica do contista, bem como sua lealdade para com “seu temperamento 

literário e [...] sua estética.” (VERÍSSIMO, 1977, p. 82) Este meio-tom intimista, 

esclarecido neste mesmo prefácio como o de uma obra deixada ao cuidado 

de poucos, tende a gerar uma simpatia do leitor para consigo, facilitando a 

princípio o processo de recepção do texto: 

Se uma grande simpatia basta para poder ser dos conhecidos para 
quem escreve o Sr. Domício da Gama, eu reclamo um lugar entre 
eles, pois nenhum aprecia mais o seu talento nem acompanha com 
mais satisfação o seu trabalho literário. Apertando propositalmente 
o círculo do seu público, acaba o Sr. Domício da Gama por ter a 
ilusão de estabelecer entre si e os leitores para os quais escreve, uma 
corrente de simpatia, uma espécie de sugestão à distância, que os 
ponha em comunhão e confidência com ele. (idem, p. 83) 

Contudo, tal excesso de boa vontade por parte do escritor leva, para 
o crítico, a uma sensibilidade um tanto moralista, que opera por debaixo das 
descrições dos ambientes e da análise psicológica das personagens. Desta forma, 
nos contos de Histórias curtas , “o contador lhes põe a moralidade ou a doutrina 
em geral no começo, dando à sua narrativa um feitio de demonstração de uma 
tese preestabelecida, como em geometria.” (idem, p. 84) Tal procedimento, para 
Veríssimo (idem, p. 84-85), não lhe diminui o valor literário, mas apenas indica 
uma vocação do escritor para as abstrações, “aumentada por um estilo pouco 
concreto, sem pitoresco, ou com o pitoresco absorvido numa preocupação 
de raciocínio”, que, por vezes, “nem sempre tem a correção, a clareza e a 
naturalidade vernácula, que reputo qualidades indispensáveis no escritor.” 
Percebe-se, pois, a ênfase do crítico em termos como “moralidade ou a doutrina” 
e “tese preestabelecida”, que indicam uma avaliação de seus contos tendo como 
horizonte os parâmetros da literatura naturalista das décadas de 1 880 e 1 890. 


senhoras de si.” (VERÍSSIMO, 1898, p. 380) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


49 




O terceiro estudo dedicado ao autor (publicado três meses antes do 
de Veríssimo, mas assim posposto a ele por sua exiguidade, sendo antes uma 
nota que um estudo propriamente dito) é de autoria de Mário de Alencar, em 
artigo publicado n’0 Jornal (RJ) a 18 de maio de 1911. Nele, o autor elogia 
a carreira de Domício, recentemente nomeado embaixador nos EUA, e tece 
elogios diversos à sua pessoa, sumamente autorizada à “abnegação íntima” dos 
afazeres diplomáticos em continuação aos trabalhos de Joaquim Nabuco no 
mesmo posto. (ALENCAR, 1911, p. 1) 12 A seguir, o articulista observa, mais 
ou menos em termos gerais, os ecos da superioridade intelectual e moral do 
escritor em seus contos: 

É certo que a sua obra literária não é volumosa: mas o livro de 
Histórias curtas , sobre ser o documento de um escritor primoroso e 
dar a medida da sua capacidade na obra de ficção, revela o homem 
de pensamento dilatado, o observador perspicaz da vida, e o artista 
que ama e usa a palavra mais pelo sentido dela que pela sonoridade. 
O campo das ideias gerais não lhe é estranho, e ele o cultivaria, 
querendo-o, com a mesma habilidade com que compõe as suas 
fantasias. O Sr. Domício da Gama é, sobretudo, um escritor, e quer 
e preza esse título mais que todos, para o seu nome. (idem) 

Apesar da dimensão reduzida do comentário, é interessante que Mário 
de Alencar destaque a escrita como característica sine qua non de Domício, 
precisamente em um momento crucial de sua carreira diplomática. Não menos 
interessante é o agradecimento do recém-embaixador a Alencar (idem), que 
compreende a própria diplomacia em termos de arte: “Creia que também é 
uma arte, que também é cheia de emoções, de vibrações e reflexos duradouros e 
saudáveis como tudo que não se limita ao indivíduo...” Ou ainda, mais claramente, 


12 Mário de Alencar (1911, p. 1) cita ainda uma carta de Domício, recebida “dias antes”, em 
que o embaixador atesta seu apreço pela figura de Nabuco, receoso de não poder substituir- 
-lhe de todo em seu posto diplomático: “Machado de Assis, Euclides da Cunha e Joaquim 
Nabuco fazem falta ao meu coração de brasileiro confiado no futuro de uma nação que teve 
dessas inteligências. Mas Nabuco era, sem dúvida, o maior, porque tinha o orgulho que é a 
espinha dorsal dos gloriosos. O artigo que escrevi sobre ele ficou incompleto, porque pensei 
que não devia demorar a publicação da Kevista americana de fevereiro. E, afinal, parece que só 
em princípios de abril sairá o artigo. Tratarei de completá-lo para a publicação em livro.” O 
artigo em questão, dedicado a Nabuco, consta da tese de Borges (1998, p. 415-428), e, como 
tantos projetos literários de Domício, jamais foi concluído. 




50 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a confissão de ser antes escritor que diplomata: “[...] podem continuar a ignorá- 
lo os que são indiferentes, os que não sabem que ainda sou homem de letras. 
Porque é isto o que eu sou principalmente, meu Mário, e muita gente o vai 
esquecendo com pena sua, com prazer meu.” (idem) 

>|o|o|< 


Em pequena nota de apresentação às Histórias curtas , datada de 12 de 
setembro de 1901, Artur Azevedo (1901b, p. 1) reporta algumas informações 
sumárias e destaca alguns traços do estilo do escritor em seus contos. 

Primeiramente, Azevedo (idem) observa a materialidade do volume 
impresso: “[...] uma coleção de contos de Domício da Gama, intitulada Histórias 
curtas e formando um bonito volume de perto de 300 páginas, impresso em 
Paris.” A seguir, põe-se a elogiar a figura do contista, que diz dominar cada vez 
mais a língua portuguesa, mesmo distante do Brasil: “[...] cada vez se mostra 
mais senhor da língua. Quando lá uma ou outra vez se afasta um pouco da lição 
dos clássicos, vê-se que o faz propositalmente, para ensaiar o estilo.” (idem) 

No mesmo tom, transita do livro ao homem, indistinguindo os limites de 
um e de outro: 

A correção com que escreve, a escolha dos assuntos, a pintura dos 
homens e das coisas, e as incontestáveis qualidades, que patenteia, de 
imaginação e de observação, embora de mistura com certa filosofia 
amarga, muito ao sabor desta época de expiação e tortura, valorizam 
extraordinariamente os seus contos, aliás produzidos sem grandes 
pretensões. Este livro, o próprio autor o diz num excelente prefácio, 
escrito sob o céu londrino, “é como um álbum, sem mais laços que 
os dos cadernos que compõem o volume, e que apenas encerra 
algumas cenas e visagens curiosas, paisagens e retratos físicos e 
morais, sem tenção de doutrina nem presunção de clarear cantos 
obscuros da alma humana.” 

É importante ressaltar, sobretudo, a equivalência que aponta entre “a 
pintura dos homens e das coisas” e a “filosofia amarga” do autor, tocando 
levemente em pontos recorrentes de sua fortuna crítica (i.e., a ênfase em certo 
impressionismo de sua obra, acompanhada de sua interpretação biográfica). 






DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


51 


Outro texto dedicado às Histórias curtas é a notícia anônima “ Histórias 
curtas : um bom livro”, publicada n’0 País (RJ) a 22 de setembro de 1901. Nela, 
o jornal noticia a publicação da obra a partir do “precioso presente” de um 
exemplar enviado à redação do jornal pela livraria Francisco Alves (1901, p. 2). 

Há, como seria de esperar, os elogios vagos de praxe, endereçados às 
“delicadas impressões de artista emérito em viagem retrospectiva pelas suas 
reminiscências”, ao “ gentleman da palavra”, à “profundez do estudo psíquico” 
etc. (idem) Todavia, a ênfase no estudo psicológico das personagens ganha 
relevo dentre as demais passagens, por estabelecer certo pacto de leitura com 
o leitor: 

De bisturi em punho, Domício da Gama autopsia o caso de análise, 
velando-o, porém, na tênue gaze da imagem discreta, como se 
temesse, com a rude crueza do corpo de delito, suscetibilizar a 
imaginação de um leitor escolhido que ele considera apto a desvendar 
a evidência, (idem) 

Focando-se na relação entre a obra e seu público, e retomando as instruções 

do prefácio (“Nota para o meu melhor leitor”), no qual o autor confessa ser o 

universo de seus leitores reduzidíssimo, o jornalista diz: “A verdade, porém, é 

que Domício escreve para todos, que a todos há de indubitavelmente agradar, 

visto que em seu livro resume impressões que evocam em cada um de nós a 

lembrança de psicologias análogas” (idem). Assim, sob tal parâmetro de leitura 

— o imbricamento entre a análise (individual) das personagens e a ressonância 

(geral) de seus dilemas nos leitores — enumera pontualmente algumas situações 

dos contos, e destaca, subliminarmente, a luta do escritor por simplificar sua 

linguagem e fazer-se entender por todos: 

Nas Histórias curtas, desde a narração despretenciosa da ria Enganinha, 
na canção de Reis [sic] de Tule , ao caso de patologia criminal da Obsessão, 
desde a normalidade doméstica do conto de verdade, à vibrante 
paixão do artista na Bacante, a alma do nobre escritor se desenrola 
sincera, calma, sem rebuscamenta [sic] aparente, não conseguindo, 
entretanto, ocultar ao observador arguto o intenso esforço envidado 
para se tomar simples na linguagem, sóbrio na explanação insólita 
que habilmente reduz à modéstia de um comentário e paisagens 
consecutivas se desdobram em trechos concisos de brilhantes 
períodos, o personagem à plena luz, no destaque de suas mínimas 
propulsões animais, revelando ao leitor com evidência plástica de 
um mappa-mundi. (idem, grifos do autor) 




52 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 




Ainda outro estudo sobre as Histórias curtas foi publicado a 25 de setembro 
de 1901 no jornal A. notícia (RJ), na coluna “Crônica literária” de Medeiros 
e Albuquerque (sob o pseudônimo “J. dos Santos”). Trata-se do terceiro 
importante estudo de seus contos (ao lado dos de Pompeia e Veríssimo), em 
que se avalia tanto o conjunto do volume quanto alguns contos isolados. 

Inicialmente, o autor colige algumas informações gerais acerca de sua 
publicação: “As Histórias curtas de Domício da Gama são uma coleção de 22 
contos, escritos entre 1 886 e 1899. Domício é aí o mesmo escritor dos Contos à meia 
tinta\ o mesmo estilista delicado, o mesmo analista sutil.” (ALBUQUERQUE, 
1901, p. 3) Assim, aplica a ambos os volumes de contos o célebre dístico de 
Verlaine, segundo o qual a nuança erige-se em valor máximo da obra literária, 

norteando-lhe a criação literária: 

O assunto dos seus contos nunca é uma ação forte e violenta, 
que valha por si só, referida na língua de qualquer um. Trata-se 
geralmente de um pequeno caso, que só tem mérito, contado com o 
sentimento discreto de suavidade, de ironia, de horror à vulgaridade 
que Domício sabe ter, superiormente. O seu amor pelo estudo dos 
“estados de alma” se revela em todo o volume. É, primeiro, o título 
de vários contos: Obsessão, Possessão, Psicologia corrente , Só e outros; 
e, depois, a repetição frequente da própria palavra psicologia ; é, por 
último, o gosto da generalização, que a cada passo revela. Um dos 
seus hábitos, principalmente nos trabalhos mais modernos, consiste 
em começar e acabar os contos por afirmações, por teses de ordem 
geral, (idem) 

A acuidade crítica de Medeiros e Albuquerque observa, pois, a diferença 
entre tal “estudo dos ‘estados de alma’” (idem) dos estudos naturalistas de 
temperamento, reputando-o à sutileza e ao meio-tom da personalidade do 
escritor. Tal como ele, o enredo é brando, mesmo banal, e impõe-se de pouco em 
pouco por meio da análise psicológica das personagens. Disto deriva também 
o gosto pela abertura e pelo encerramento dos contos com “teses de ordem 
geral” (idem), numa clara antevisão da fórmula do “introito filosófico” definida 
quase cem anos depois por Borges (1998). 

Citando os trechos iniciais de “A canção do rei de Tule”, “A psicologia 
corrente” e “Contente”, o autor julga tal procedimento como “feitio 
predominante” da prosa de Domício, ainda que seja também comum em 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


53 


autores que privilegiem o enredo: “Sente-se que de cada narrativa ele quereria 
tirar uma conclusão, não se contentando com o papel de simples espectador 
e cronista. Essa conclusão é sempre, dadas as inclinações do seu espírito, de 
natureza psicológica.” (idem) 

Sob a tutela da sensibildade do autor, a instrospecção de seus contos é 

entendida como nó argumentativo dos contos, e reproduz, no plano da obra, 

o tom da vida íntima do escritor, que lhe recorda certa afinidade íntima com a 

obra (personalidade) de Machado de Assis : 13 

Vê-se que ele é um desses constantes analistas das próprias 
sensações, que vivem a magnificá-las, para melhor poderem dividi- 
las e subdividi-las, com um empenho minucioso de histologista, a 
querer por o microscópio sobre cada pedacinho de tecido, para lhe 
conhecer a estrutura íntima. Daí esse tom a que acima se aludiu e 
que embebe todo o livro de um sentimento discreto, sem abandonos 
nem indiscrições, uma meiguice pouco expansiva sempre contida. E 
essa em grande parte a feição de Machado de Assis, que não quer, 
a preço nenhum, deixar ver claramente a sua emoção e, sempre que 
uma frase de sentimento lhe escapa, corrige-a logo com uma ironia 
como receando a ironia alheia, (idem) 

No entanto, tal semelhança de comportamentos pessoais engendraria, 
segundo os parâmetros de sua leitura, uma semelhança de estilos entre ambos, 
ideia que rejeita pronta e contraditoriamente. E, como que se desculpando 
do desajuste de seus critérios, tece elogios ao mérito literário de Domício, 
gabando a variedade e a qualidade de seus contos, de que cita alguns excertos, 
esparsamente: “E seria preciso citar mais, citar de quase todos os contos frases, 


13 Talvez a título de curiosidade, é interessante observar que Domício da Gama não apenas 
se lisonjeia com tal comparação, mas também a reforça, como se pode ler em carta escrita 
a Machado de Assis a 11 de agosto de 1908 e enviada de Buenos Aires: “Com alguns traços 
de semelhança, que as vidas diferentes imprimiram às nossas almas, nós temos muito de pa- 
recido, seu Machado. Temos sobretudo a honestidade, modéstia do pensamento, que outros 
chamam ceticismo (em cada um de nós há tanta crença e tanto amor!) que atenua as violên- 
cias escusadas ou precárias da expressão. Se eu pudesse seguir-lhe a obra literária desde os 
seus princípios, mostraria nela a alma brasileira refinada e grande, maior, mais compreensiva, 
mais inteligente que este infinito formigueiro de instintos e ambições pessoais e reduzidas 
em que vive um ministro diplomático.” (GAMA apud BORGES, 1998, p. 517) Há mesmo 
comparação de uma de suas personagens, João Chinchila, ao Conselheiro Aires: “Meu caro 
Machado, se eu pudesse fazer um relatório conversado, ilustrado com anedotas, anexava-o ao 
conto do João Chinchila’, que é um Aires mais queixoso e menos ativo que o seu. E quem 
sabe se V. não se divertiria com ele?” (idem) Trechos da mesma carta, transcrita integralmen- 
te por Borges (1998), foram também reproduzidos no texto de Venâncio Filho (2002, p. 231). 




54 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


períodos, páginas deliciosas, sempre nessa nuance delicada, sem violências de 
cor [...], mas sempre atraente, sempre cativante.” (idem) 

Para além desta crônica, há ainda sua resposta ao discurso de posse de 
Fernando de Magalhães na Academia Brasileira de Letras, em que Medeiros e 
Albuquerque (2006, p. 471), recepcionando-o, assinala ainda uma vez a similitude 

entre a obra e a vida de Domício da Gama: 

Nunca um autor se caracterizou melhor pelo título de suas obras: 
Histórias curtas & Contos ameia tinta. N o primeiro, há a clara reminiscência 
da língua inglesa, cuja literatura ele prezava imensamente. Os 
ingleses chamam aos contos “histórias curtas”, short stories. Aliás, 
Domício, por polidez, por delicadeza, pelo temor que manifestava 
de ser importuno, era sempre breve. E por polidez, por delicadeza, 
pelo temor que manifestava de ser importuno, era sempre breve, era 
o homem das meias tintas, dos tons esmaecidos. Ninguém melhor 
do que ele para poder repetir sinceramente os versos de Verlaine: 
Car nous voulons la nuance encore; / pas la couleur, rien que la nuance. 


Cronologicamente, o próximo estudo dedicado ao livro de Domício é 
“ Histórias curtas” de Antonio Sales, publicado na primeira página do Diário de 
Pernambuco de 18 de outubro de 1901. 

Para Sales (1901, p. 1), as Histórias curtas são uma reedição de Contos à 
meia tinta , “suprimindo-lhe algumas composições e aumentando outras de data 
mais recente.” No entanto, Sales confessa-se inseguro de que um e outro sejam 
conhecidos do público, e recomenda encarecidamente sua leitura. 

Com bom humor, observa de antemão: “Não tenho infelizmente a 
pretensão de ser um exemplar do melhor leitor a quem Domício dedica o seu 
livro num cintilante prefácio” (idem). Imediatamente a seguir, debruça-se sobre 
o caráter nacional da obra e do autor, que vai na contramão de suas longas 
viagens pelo mundo: 

Começo por afirmar que este escritor, cujas produções 
são na maior parte datadas de Paris e Londres, é característico, 
genuinamente brasileiro: as suas imagens, as suas alegorias, a sua 
frase, mesmo quando descreve tipos e cenas exóticos, são repassadas 
da antiga impressão que a vida nacional lhe deixou indelével e pura 
no espírito, ao invés do que sucede com sujeitos que escrevem aqui 
pondo nas suas ideias a roupagem exótica tomada por empréstimo 
aos autores estrangeiros. O pensamento de Domício é brasileiro. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


55 


como brasileira é a sua língua simples e enérgica, (idem) 

Por conseguinte, à influência do meio estrangeiro julga dever-se apenas o 
alargamento de sua visão, o “apuramento da faculdade de comparar, de deduzir”, 
resultados diretos da grandeza de seu talento, que o impede de “apresentar- 
se aos seus compatriotas como um rastaquère larvado de cosmopolitismo 
pretencioso [... e com uma obra] sarapintada de letreiros indicadores de todas 
as suas evoluções de touriste (idem). Assim, são muitos os seus elogios ao 
caráter nacional do pensamento do escritor, que afirma ser “levado daqui em 
gérmen e desabrochado ao choque das impressões e sensações recebidas nos 
seus contatos com as cousas de là hautr (idem) 

Posteriormente, o autor de Al ves de arribação põe-se a definir a concepção e a 
expressão de Domício. Sobre o primeiro termo, deriva do “espírito aristocrático” 
de Domício seu gosto pelo conto, como forma adequada à expressão e à análise 
individual ou intimista: 

O conto é para ele quase que um simples pretexto para 
concretizar sentimentos, para corporizar ideias, para fixar conceitos e 
firmar pontos de vistas individuais. Assim o entrecho de suas histórias 
é sempre secundário, como secundários os seus personagens: o seu 
fito é somente fazê-los representar a ideia e traduzir a sensação que 
deu lugar à composição. (idem) 

Sales (idem) nega toda espécie de naturalismo “de objetivas fotográficas” 
em sua obra — “[...] o autor nunca foi um naturalista” — e define o autor como 
“um fantasista e um poeta suculentamente alimentado a ideias gerais, e tirando 
dessa mesma generalidade de seus conhecimentos um pouco de pessimismo e de 
paradoxo”. Neste sentido, concorda com o parecer de José Veríssimo segundo 
o qual Domício herda algo do pessimismo de Machado de Asssis. Julga, porém, 
certa diferença de grau entre o pessimismo de ambos, “visceral e sistemático” 
em Machado, intermitente ou mesmo opcional em Domício, de acordo com “o 
coração do poeta e a imaginação do fantasista” (idem). 

Discutindo pontualmente alguns textos, aponta a tensão entre as 
“subtrações psicológicas” e “seu afeto incoercível” em “Miss Epaminondas” 
e “A força do nome”; o corte da ação em “João Chinchila”; o “estudo estético 
da mania dos colecionadores de arte” em “A bacante” (do qual releva certo 
sensualismo do autor ao atrelar à beleza da arte a forma feminina); e os paralelos 
entre o escritor e “tipos feitos um pouco à sua imagem e semelhança como 




56 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Campos, João da Mata e João Chinchila” (idem, p. 2) 

Sobre o termo da “expressão” de Domício, diz sucintamente: 

[...] ele tem o estilo que deve ter, ou antes o que pode ter - incisivo, 
cálido, flexuoso, um pouco lento às veze para dar a expressão 
desejada, mas dando-a afinal com firmeza e graça, às vezes um 
pouco sobrecarregado nas tintas, frequentemente conceituoso, e 
aqui e ali enfático, (idem) 

Não obstante, considera-o um dos melhores prosadores brasileiros, 
acusando uma íntima irmandade entre suas qualidades e aquelas de Raul 
Pompéia, seu gêmeo literário: “Domício é uma alma gêmea de Raul Pompéia, 
e, lendo-a, a gente fica consolado de ver que o artista do Ateneu não foi o único 
grande espírito que a nossa raça produziu [... em sua] geração” (idem). 

Visto em conjunto, o balanço interpretativo de Antonio Sales, ainda que 
comungue do biografismo (quase onipresente) nos comentadores anteriores, 
fundamenta-o um pouco mais textualmente nos contos, além de conferir uma 
ênfase — talvez única em toda a sua fortuna crítica — à expressão nacional da 
ficção de Domício da Gama. Talvez por isto mesmo é que o próprio Domício 
menciona o texto de Sales elogiosamente em carta a Garnier (GAMA apud 
SALES, 1918). 




Avesso ao entusiasmo de Antonio Sales, o último 14 texto dedicado às 

Histórias curtas no ano de sua publicação é a nota de Valentim Magalhães em 

“Livros recentes”, publicada n’0 Vais (RJ) a dois de dezembro de 1901 . Valentim 

Magalhães compara negativamente o novo livro de Domício a Amar é sofrer, de 

Guilherme Gama, autor português de quem se diz amigo pessoal, e avalia, ao 

que parece, antes mesmo de haver lido o livro do brasileiro: 

Domício da Gama, que acaba de publicar umas Histórias curtas , 
de que espero ter ensejo de ocupar-me, é também um escritor de 


14 Há notícias menores do lançamento de Histórias curtas que parecem mais ou menos dis- 
pensáveis de constar no presente capítulo, seja pela leviandade com que anunciam o livro 
seja por uma brevidade aberrante. Nesta não-categoria incluímos a nota do Jornal do Brasil de 

15 de setembro de 1901, assinada “F.”, e também uma crônica de Carneiro Vilela de 15 de 
outubro de 1901, em que se vale de um trecho das Histórias curtas (mais especificamente, da 
discussão sobre os tipos possíveis de impostura ao início de “Contente”) para discutir uma 
questão alheia à obra e ao autor. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


57 


meias tintas, e com este mesmo título já nos deu uma coletânea 
de contos; mas é um pouco obscuro, picado de intenções de 
sutilíssimo filosófico como o seu e nosso mestre Machado de 
Asssis, roçando pelo preciosismo mascarado em simpleza; há nele 
rebusca, amaneiramento, intencionalismo. Nada disso no narrativista 
portuense, a sua prosa é como água de mina: flui, canta, cintila, 
serpeia, refresca, desaltera, vivifica; é uma delícia e um consolo 
naturais, sem artifício. (MAGALHÃES, 1901, p. 1) 

Ao acusar o contista de artificialismo e preciosismo mascarados em 
simplicidade, sem ocupar-se de sua obra, o cronista como que inaugura uma 
vertente contrária ao valor de Domício em sua fortuna crítica com laivos de 
preconceito, mais tarde repetida, então na diplomacia, por Rui Barbosa. 15 


>|o|o|c 


Pouco mais de 20 anos depois, quando da morte de Domício, em discurso 
de posse da cadeira 33 da ABL, Fernando Magalhães (2006, p. 456) ressalva a 
ausência da publicação de “manuscritos [que dariam] para outros tomos” além 
dos dois volumes de contos existentes, assim como a escassez de público destas 
obras: 

Domício escrevia certo de ser pouco lido; na sua autocrítica, lembra 
a lenda do passarinho que só contava até sete e, crente de falar a 
muito poucos, embora sete lhe parecesse quase nada, consolava-se 
com a esperança de, na vida das emoções, já não ser solidão número 
tão restrito. 

Para Magalhães (2006, p. 457), “a concisão explica o título das histórias 
curtas, o receio confirma os contos a meia-tinta. [...] E a largueza dentro da 


15 Tais desentendimentos com Rui Barbosa são, diga-se de passagem, momentos-chave 
para a compreensão do fim da carreira diplomática de Domício. Como tal discussão escapa 
ao intuito do presente trabalho, limitamo-nos a indicar uma conferência de Rui proferida a 
quatro de abril de 1919 em São Paulo, em que aponta a possível origem do desentendimento 
entre ambos na autonomeação de Domício como embaixador brasileiro na Conferência de 
Paz de Paris que resultou, posteriormente, no Tratado de Versalhes: “Já desde Washington 
o sr. Domício da Gama se considerava a si mesmo como o futuro embaixador brasileiro à 
Conferência de Paz. Nos jornais anunciou que sua família o iria esperar na Europa. Não 
aguardou que o chefe da Nação brasileira o consagrasse nosso representante.” (BARBOSA, 
1919, p. 197) E, já em termos de aberta inimizade, afirma, mais à frente: “Muito pouco valho 
eu, senhores. Mas alguma coisa hei de valer, por força, mais que os Gamas da nau do Itama- 
raty; pois, para não valer qualquer coisa mais do que eles, seria necessário não valer um pouco 
mais que nada.” (idem, p. 216) 




58 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


brevidade: um panorama em poucas linhas, um caráter em duas réplicas.” Tais 
qualidades de sua obra derivam, à maneira do juízo crítico de Veríssimo, da 
personalidade superior do contista, que “escreveu como falou: homem de 
educação esmerada, falava baixinho; baixinho também escreveu, e, na prosa 
como na conversação, sussurrou deliciosamente, no encanto e na suavidade.” 
(idem) Diverso do patrono que homenageou com carinho, Domício da Gama 
foi um “impressionista, delicado e tímido”, enquanto Raul Pompéia foi “um 
afirmativo vigoroso e firme”; destarte, sua personalidade como que explica e 
resume sua obra, e boa parte de seus contos são derivados diretamente de sua 
percepção e vivência, à maneira de documentos autobiográficos, como “João 
Chinchila”, que “vale quase por uma autobiografia, pelas coincidências frisantes 
na paisagem da terra natal, na obscuridade das horas infantis [...] na docilidade 
da juventude trabalhosa, no surto da carreira feliz [...].” (MAGALHÃES, 2006, 
p. 458) 16 


16 A este respeito, é lícito destacar que o próprio ingresso de Domício da Gama na Aca- 
demia Brasileira de Letras foi marcado indelevelmente por sua carreira diplomática. A este 
respeito, Alessandra El Far (2000, p. 128) aponta as circunstâncias da recepção do escritor 
no Gabinete Português de Leitura (Fig. 1) como golpe de marketing da instituição junto à 
high soáety carioca: “No dia I o de julho de 1900, o diplomata Domício da Gama era recebido 
como acadêmico no salão central do Real Gabinete Português de Leitura. Para que houvesse 
uma melhor representação pública da solenidade, os acadêmicos resolveram providenciar 
os acessórios, dividindo entre si o total das despesas [...]. Além dos discursos, era preciso 
uma refinada teatralização, balizada pela movimentação austera dos atores, em conjunto com 
os adornos selecionados para a circunstância. Domício da Gama voltava da Europa, onde 
cumpria suas tarefas diplomáticas. Na perspectiva dos acadêmicos, seria conveniente uma 
recepção em alto estilo, pois certamente a ocasião atrairia personalidades de prestígio na cena 
política e intelectual do Rio de Janeiro. Com uma celebração em homenagem a Domício da 
Gama, a Academia poderia divulgar, diante de uma camada privilegiada da sociedade, sua ele- 
gância e o esplendor de seus membros em meio a uma instituição de letras.” Curiosamente, à 
recepção decorativa de Domício, somam-se os juízos epidérmicos de seus contemporâneos, 
os quais, para além da teatralidade dos discursos de recepção, não parecem ter levado a obra 
do contista seriamente, i.e., para além das conveniências e da mera publicidade. Em todo 
caso, a recepção de Domício no Real Gabinete é corroborada en passant por José Murilo de 
Carvalho (2014) em seu registro cronológico das diversas “casas” da ABL. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


59 



Foto 2 - Real Gabinete Português de Leitura. Foto: Marc Ferrez. 
Fonte: ims.com.br, Coleção Gilberto Ferrez, Acervo Instituto Moreira Salles. 




Outros textos atrelados ao ano do passamento do escritor são “Domício 
da Gama”, de Mário de Alencar, publicado n’0 Jornal (RJ) a 21 de fevereiro de 
1 925, e o necrológio anônimo “Domício da Gama: com o embaixador Domício 
da Gama, anteontem falecido, a Nação Brasileira perdeu um dos seus mais 
dedicados e nobres servidores”, impresso n’0 jornal (RJ), a 10 de novembro de 
1925. 17 

No primeiro, Mário de Alencar (1925, p. 4) tece diversos elogios ao 
amigo, provavelmente como forma de contrabalancear seu recente desprestígio, 
decorrente da aposentadoria compulsória assinada por Artur Bernardes em 
outubro de 1924. Assim, antes de fazer um apelo para que todos o acolham 
em sua volta ao Rio de Janeiro e provem “que nem tudo se acabou nem se 
esqueceu”, Mário de Alencar (idem) aponta em sua escrita “o contato, sem 
sofrer o contágio, das forças orgânicas do jornalismo, as quais, se são virtudes 


17 Uma parte do necrológio diz respeito ao artigo “Domício da Gama”, de Pandiá Calógeras 
(1936, p. 248-250), inserido nos Estudos históricos e políticos (Res nostra), e dedicado exclusiva- 
mente à sua atuação diplomática (além de subdividido nos tópicos “Rio Branco e Domício da 
Gama” e “A obra do diplomata”, que confirmam tal viés). Não há indicação de que as demais 
partes sejam também de sua autoria, afinal, a diagramação do jornal separa as colunas de seu 
texto das demais, que permanecem, até segunda ordem, anônimas. 



60 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


neste ofício de discussão e divulgação, constituem vícios graves e incuráveis na 
função por excelência reservada e ponderada da diplomacia.” 

No segundo, O J ornai faz um panorama das diversas contribuições de 
Domício da Gama à cultura brasileira, dividindo o necrológio do escritor nas 
seções “Dois espíritos de eleição”, “O escritor” e “O diplomata”. De início, 
aponta em Domício e em Nabuco os dois maiores gentlemen brasileiros, gabando- 
lhes o charme e a lhaneza pessoal; e, a seguir, n’“0 escritor”, afirma ter sido 

Domício o primeiro grande correspondente jornalístico do Brasil na Europa: 

Na história do jornalismo brasileiro Domício da Gama 
conquista nesta fase da sua vida o lugar de iniciador de uma 
atividade literária até então inexplorada entre nós. Domício foi o 
primeiro brasileiro que como profissional e em trabalho sistemático 
interpretou para o público as coisas, os fatos e os homens da Europa. 
As suas crônicas, regularmente mandadas de Paris para a Gaveta de 
Notícias, constituem o primeiro esforço para familiarizar as massas 
da nossa população com as correntes europeias até então apenas 
conhecidas através da literatura ou da colaboração jornalística de 
escritores estrangeiros, cujo desconhecimento do nosso meio e da 
nossa psicologia os impedia de dizer sobre as coisas da Europa, em 
linguagem assimilável pela grande maioria dos leitores. (DOMÍCIO 
DA GAMA..., 1925, p. 1) 

Assim, sublinhando a importância decisiva de sua coluna na Gaveta de 
Notícias para a formação intelectual do escritor e do país, 18 O jorna/ (idem) dedica 
algumas linhas à avaliação de seus volumes de contos, julgando-os “o mais 
perfeito monumento literário desse gênero na literatura da nossa língua.” Mais 
especificamente, avalia o conto como a expressão por excelência “das literaturas 
supercivilizadas” que exigem a apuração da mentalidade e da sensibilidade num 

limite estreito de páginas, e afirma: 

Domício da Gama colocou-se na categoria desses expoentes 
da arte da história curta em alguns dos seus admiráveis contos. E 
conseguiu fazer obra nitidamente brasileira, com a expressão da 
intensa sensibilidade emotiva da nossa raça dentro das limitações 
de um gênero literário que requer grande agilidade para semelhante 
expressão, (idem, p. 2) 

Para além desses elogios vagos, o artigo d’ O jornal (RJ) enumera dados 


18 0 conjunto de suas contribuições à Gaveta, referente às colunas “De Paris” e “Carta de 
Paris”, inéditas até então, encontra-se reproduzido no anexo 3. Igualmente, encontram-se no 
anexo 2 os comentários destinados a cada uma das crônicas do autor. Como bem observado 
pelo artigo em questão, nunca é demais enfatizar a importância desses textos para a justa 
avaliação do percurso intelectual de Domício da Gama. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


61 


da biografia de Domício, as homenagens póstumas do Itamaraty, da ABL, da 
Câmara de Deputados, de seus íntimos etc. E observa com acuidade, acerca de 
seu silenciamento literário: 

Não é fácil encontrar um homem e sobretudo um homem que era 
um artista, tão pronto a apagar-se, tão disposto aos extremos do 
renunciamento, sempre que se lhe afigurava que do seu sacrifício 
pessoal advinha vantagem para o desempenho eficiente da missão 
de que estava encarregado, (idem) 

O artigo conta ainda com a reprodução do discurso fúnebre de Affonso 
Celso, que assim descreve seu valor literário: “Nas letras, jornalista, psicólogo, 
crítico, autor de contos admiráveis, deixou trabalhos de considerável valia pela 
perspicácia e agudeza de observação, finura dos conceitos e apuro da forma.” 
(idem, p. 5) 




Agripino Grieco (1947, p. 134), por sua vez, não teria a mesma simpatia 
de Pompeia, Veríssimo, Medeiros e Albuquerque ou Magalhães por Domício, 
embora apontasse, ainda dentro da mesma chave biográfica de interpretação 
(convenientemente repetida pelos textos ligados à ocasião de seu passamento), 
seu caráter delicado e sutil como a principal falta de sua obra, praticamente 
inexistente por conta deste mesmo caráter submisso: “Em Domício da Gama 
o talento narrativo esteve longe de querer abusar e talvez nem mesmo chegasse 
a usar dos seus direitos. Se teve talento, ocultou-o com todo o cuidado, talvez 
para não comprometer a sua carreira de diplomata.” 19 

*** 

Já na década de 1950, Lúcia Miguel-Pereira (1988,p. 247) desvia a discussão 
da mera comparação entre autor e obra para discutir o estilo das Histórias curtas , 
num breve parágrafo em que indica não um caráter “de tese”, como Veríssimo, 


19 Em artigo de 9 de outubro de 1942, enviado para O Jornal (RJ), Grieco (1942, p. 4) avalia 
em chave ácida os acadêmicos da ABL e define brevemente o escritor, dentre tantos outros: 
“Domício foi um sub-Rio Branco na diplomacia e um sub-Machado nas letras. Eça chama- 
va-o de ‘mulato cor-de-rosa’.” 




62 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mas traços de concepção parnasiana: “Das Histórias curtas de Domício da Gama, 
algumas seriam excelentes se não lhes comunicasse um cunho artificial o estilo 
excessivamente trabalhado; ainda assim constituem, com as de Raul Pompéia, 
os melhores trabalhos de prosa parnasiana de ficção.” 

>|o|o|< 

Publicado originalmente em 1963, João Pacheco (1988, p. 155) discute 

rapidamente os dois volumes de contos de Domício da Gama em 0 realismo , e 

observa com clareza: “Em sua concepção o Naturalismo se mitiga; configura-as 

mais um psicologismo requintado, a esquadrinhar a consciência e a ver no gozo 

estético a finalidade da vida, do que a por a descoberto as forças do instinto 

bruto.” Suas forças são as da meia sombra e da alusão, sugerindo os dramas das 

personagens antes que os situando como consequência do meio. Para tanto, 

o autor vale-se de uma série de recursos, dentre os quais o embate entre o 

brasileiro e o requinte do meio europeu: 

Nas narrativas de Domício da Gama aparece o brasileiro emigrado, 
ora a agitar-se no ambiente do Velho Mundo, deixando-se europeizar, 
ora após a experiência europeia, a retomar contato com o ambiente 
natal, do qual se sente vagamente à parte. Nelas também surgem 
tipos internacionais. São representativas, pois, da confluência de 
duas culturas em nossa mentalidade, a atritar-se e a influenciar-se 
- principalmente dos moldes europeus que informavam - e ainda 
informam - a nossa visão de mundo. 

É ainda de João Pacheco (Paes, 1969, p. 108) a entrada sobre Domício 
da Gama presente no Pequeno dicionário de literatura brasileira, em que é assinalado, 
talvez à guisa de conclusão aos comentários d’ O realismo, “pela sobriedade de 
tintas, pela nota psicológica, pelo cuidado do estilo. A vigilância constante na 
emoção e a contensão inflexível na linguagem por vezes lhe embaraçaram o 
voo.” Assim, Pacheco como que se aproxima da crítica de Lúcia Miguel-Pereira, 
ampliando suas ideias anteriores. 

*** 

Igualmente, aprofundando o caminho iniciado por Lúcia Miguel-Pereira, 
o discurso de posse de Afrânio Coutinho (201 1, p. 151) realizado em 1962, em 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


63 


sucessão a Luís Edmundo, aponta a obra de Domício como parte do “clima 
impressionista” da época, em que demonstrava “secretas e inconscientes 
afinidades intelectuais com Pompéia”, nosso primeiro grande impressionista 
literário. Se, por um lado, tal escolha demonstra originar-se de sua “natureza 
retraída e tímida”, confirmam-no, desde os títulos, seus volumes de contos, que 
“denunciam a estética do entretom, da meia tinta, concisão, sugestão, contenção 
da linguagem, expressão branda, levemente sussurrada, dita baixinho, captando 
impressões sutis e requintadas de paisagens silenciosas.” (COUTINHO, 2011, 
p. 152) 

Percebe-se, contudo, certo resquício de continuidade entre a interpretação 

biográfica de sua obra e esta definição de seus contos como impressionistas, 

dada a sempre presente comparação com sua natureza tímida e os traços 

estilísticos deste movimento literário — meia tinta, concisão, sugestão — par e par 

com sua maneira pessoal de conversar, qual uma obra que se diga “baixinho”. 

A indefinição final de seu breve comentário aponta, inclusive, uma leitura no 

sentido destes meios-termos entre interpretação biográfica e estilística: 

Os seus contos são expressão de arte velada, criada à sombra da 
memória, saudade, melancolia, filtrada através de uma sensibilidade 
esquiva, arte de nuances e meia luz, de atmosfera e transfiguração, 
arte sem contornos, vaga, imprecisa e indecisa, arte do fragmento e 
instantâneo. (COUTINHO, 2011, p. 152) 

*** 

A mesma leitura dúbia da obra de Domício da Gama seria feita, em 25 
de maio de 2001, no discurso de posse do acadêmico Evanildo Bechara (201 1), 
sucessor de Afrânio Coutinho na cadeira 33 da ABL. Repetindo suas indicações, 
Bechara (2011, p. 455-456) considera Domício legítimo representante do 
Impressionismo literário no Brasil, além de cultor da “escrita artista” francesa, 
ao lado de Pompéia. Como exemplo, escolhe o trecho acima citado por Coutinho 
(201 1), e deixa de tecer outros comentários, passando sumariamente à discussão 
de Luís Edmundo. 






64 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Uma leitura mais atenta aos traços textuais e estilísticos do autor, alguns 
poucos anos antes, foi a de Luiz Eduardo Ramos Borges (1998), em tese de 
Doutorado. Ainda que não se trate especificamente de uma análise literária 
destes textos, mas um levantamento da vida e obra de Domício da Gama (a 
bem dizer, o levantamento pioneiro, ao qual os intérpretes posteriores devem 
muitas de suas informações), Borges (1998) talvez seja o único que, a par de 
José Veríssimo, realize um estudo mais aprofundado dos contos — e não apenas 
um comentário, como os demais intérpretes. Igualmente, dando continuidade à 
leitura biográfica iniciada por Pompeia, a divisão da obra responde aos períodos 
da vida do escritor: “É possível compreender a atividade de Domício, enquanto 
escritor, utilizando uma divisão de três fases. Elas correspondem às etapas da 
sua vida, antes, durante e depois de sua presença na Europa.” (BORGES, 1998, 
p. 77) 

Para Borges (1998), a primeira fase compreende o período de sua 

adolescência até 1888, ano em que parte para a Europa a fim de cobrir a 

Exposição de Paris de 1889 para a Gaveta de Notícias. Nesta fase inicial, destacam- 

se as crônicas cotidianamente escritas para a Gaveta, em que transparece o duplo 

propósito de narrar e informar aos leitores os acontecimentos do dia. E neste 

momento em que alguns de seus principais contos são escritos, estabelecendo 

a reputação literária de Domício, sob a influência “morna” da apresentação de 

“cortes da realidade”, à maneira naturalista: 

Nestes contos já aparece uma expressiva face do seu talento, voltada 
para a realização de retratos daqueles que não deram certo, dos 
irregulares, mais conhecidos como “vencidos da vida”. É o que 
se pode observar em “Estudo do feio” ou em “Cônsul”, estórias 
de vidas incompletas, como em “O diplomático” ou “Um homem 
célebre”, de Machado de Assis. Há ainda a tentativa de apresentar 
morna e banalmente cortes da realidade, pedaços da vida a dois, o 
que se verifica em “Só” e “Conto de verdade”. Domício já havia 
inaugurado uma espécie de conto anedótico ou anedótico-filosófico, 
se é que assim pode ser. É o que se pode encontrar em “As calças 
do Manoel Dias”, “A ficção da história” e “Dedução, indução e 
conclusão”, onde há humor, mas há também o retrato melancólico 
de um ser humano escravo das suas próprias limitações. Destaco 
ainda a estupenda gravura de uma mania elevada à quase loucura, 
que é o que pode ser bem visto em “A bacante”. Nada encontrei 
que revelasse inspiração autobiográfica nesse período. Há sim a 
presença de um pessimismo, implícito nas raízes da criação do autor. 
(BORGES, 1998, p. 79) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


65 


A segunda fase, marcada pela estadia em diversos países da Europa 
como correspondente 20 da Gaveta e, mais tarde, como diplomata ao lado de Rio 
Branco, caracteriza-se pela publicação de Contos a meia tinta e de Histórias Curtas. 
Sobre o primeiro, “nenhuma referência encontrei a respeito da repercussão 
desse livro no Brasil, quer em termos de crítica ora de público, e nada indica 
que tenha havido uma segunda edição”; já a respeito de Histórias Curtas , “foi 
muito bem recebido pela crítica. Sílvio Romero, Araripe Jr. e José Veríssimo 
manifestaram-se a respeito”, embora não “viesse a despertar o interesse do 
[grande] público.” (BORGES, 1998, p. 85-86) O título destes livros evoca, para 
Borges (idem), a personalidade amena do escritor, “homem de meio termo, 
incapaz de excessos ou exageros”, assim como diversos contos tendem a fixar 
experiências pessoalmente vividas por ele, como “Um poeta”, “João Chinchila”, 
“Outrora” e “Recapitulando”. Contudo, à aproximação com o leitor, que seria 
esperada desta transcrição fiel e sutil dos fatos cotidianos, interpõe-se o que 
Borges (1998, p. 88) considera um forte empecilho para o sucesso editorial de 
Domício, a saber, “uma divagação existente na maioria deles”, à qual chama “de 
introito filosófico — considerações psicológicas ou anotações de ordem geral 
ou filosófica. E ruim porque esfria a narrativa, aborrece o leitor ao retardar e 
eliminar a ação.” 21 

Ademais, o crítico destaca a falta de condensação da ação em alguns 
contos, que se estendem no tempo e no espaço demasiadamente, como outra 
razão da recepção modesta destas obras. 


20 Uma notícia anônima de jornal comenta a partida de Domício à Europa, situando-a na 
data de 22 de maio de 1888: “Parte hoje para a Europa, em viagem de estudo, este nosso 
distinto colaborador, um dos espíritos mais lúcidos e mais solidamente preparados da mo- 
derna geração de escritores nacionais. Muito moço ainda, muito inteligente, muito estudioso, 
Domício da Gama será em breves anos um dos nossos mais aplaudidos artistas.” Sua colabo- 
ração é vista, assim, como uma série de “trabalhos inspirados pelo que ver e sentir”. (1888) 

21 A expressão não é sem repercussão no pensamento estético de Domício. Como obser- 
va em uma de suas crônicas da seção “De Paris”, na Gaveta de Notícias, discutindo as novas 
tendências parisienses: “Todos moralisam [sic], filósofos, poetas e artistas. Uma obsessão de 
justiça faz de cada livro, de cada quadro, de cada canção um reclame contra a distribuição atu- 
al dos quinhões da felicidade física ou moral. Desviados do seu destino os esforços da arte, 
acabaremos por concluir que a expressão das suas visões e sentimentos foi dada ao homem 
para que ele se queixasse de viver. E francamente...” (GAMA, 1892z, p. 1) 




66 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Foto 3 — Domício da Gama, embaixador em Washington, no Willard Hotel, 1915. 
Fonte: loc.gov/rr/print, Coleção Harris & Ewing, Library of Congress 
Prints and Photographs Division. 22 


Não obstante, Borges (1998, p. 91, 93) concorda com Afrânio Coutinho 
em sua defesa do impressionismo literário como marca da obra de Domício, 
e recupera a fragmentação do enredo, a abundância de imagens sensoriais e 
a inversão da construção frasal, características deste movimento também 
assinaladas por Coutinho, como imprescindíveis para qualquer análise dos 
contos: 

Qualquer um que pretenda analisar os contos a partir de uma rigorosa 
estrutura dramática, compreendendo as, para alguns obrigatórias, 
unidades de ação, tempo, lugar, poderá ficar decepcionado. A 
estrutura algo descosida, irregular, diversificada e sem igualdade 
entre as narrativas, considerando-se também o aspecto da linguagem, 
pode ser melhor compreendida à luz do impressionismo literário. 


22 Sobre sua atuação em Washington, no digno papel de continuador de Joaquim Nabuco 
de 191 1 a 1918, afirma Pandiá Calógeras (1936, p. 250): “Nem só sua gestão inteligente, e sua 
clara visão política, lhe haviam granjeado tal autoridade, como sua diligente cooperação ame- 
ricana na fase anterior à Grande Guerra, e no decurso dela, lhe tinham conferido destaque 
singular no corpo diplomático do continente, em Washington.” De fato, após este período, 
Domício é nomeado ao posto máximo da diplomacia, e atua como Ministro das Relações 
Exteriores de 1918 a 1919. Destaque-se, todavia, que, deste período em diante, por conta das 
inúmeras pressões da carreira dipomática, silencia quase que completamente sua produção 
intelectual, constando de apenas cinco textos entre 1910 e 1924 (ano imediatamente anterior 
ao de sua morte). (FRANÇA, 2007, p. 45) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


67 


A terceira e última fase de sua obra compreende o período após 1 903, em 
que assume suas funções no Itamaraty e deixa de escrever contos, permanecendo 
apenas no exercício esporádico de crônicas, ensaios e correspondência. O 
distanciamento gradual da literatura, por conta dos afazeres diplomáticos 
cada vez mais urgentes no Ministério das Relações Exteriores e nas missões 
diplomáticas pelo mundo afora, encontram confirmação no plano malogrado 
de um romance autobiográfico intitulado Psicose e mais tarde revisto como Pedro 
PacoP De qualquer forma, “o Embaixador deixou de escrever um grande livro. 
Tinha condições para fazê-lo, como poucos na sua época e, se o tivesse feito, 
seria contribuição significativa à literatura no Brasil.” (BORGES, 1998, p. 100) 

24 




Já no século XXI, um estudo de Alberto Venâncio Filho (2002) publicado 
no volume O Itamaraty na cultura brasileira cuida da biografia do escritor e tece 
algumas breves menções a seus contos. O autor parte de boa parte da fortuna 
crítica do escritor (enumerando citações de Heitor Lyra, Capistrano de Abreu, 
Álvaro Lins, Luís Viana Filho, Lúcio de Mendonça, Pandiá Calógeras, Fernando 
Nery, Sílvio Romero, Lúcia Miguel-Pereira, Afrânio Coutinho, dentre outros, 
num total de 17 referências) para observar pontos importantes de sua vida e 
obra: o duradouro convívio com o Barão do Rio Branco; sua entrada na ABL; 
seu discurso de posse; seu trabalho diplomático; suas colaborações literárias 

23 Malgrado jamais haver sido publicada tal obra, houve quem a citasse como característica 
da ficção do autor: “No romance, na novela, no conto e noutros gêneros literários são no- 
mes conhecidos: Domício da Gama, autor da novela Psicose e dos contos Histórias curtas [...]” 
(FREITAS, 1910, p. 101). 

24 Tal opinião ecoa a de Pandiá Calógeras (1936, p. 250), que comenta brevemente seu im- 
portante papel diplomático à luz do rápido esquecimento de sua pessoa: “Esquecidos tantos 
serviços, posto em disponibilidade, foram amargurados seus últimos dias. Merecia mais do 
que a ingratidão dos homens. Sua perda é um empobrecimento mental e moral para o país.” 
Ou, ainda, o parecer fraternal de Antonio Sales (1918, p. 249), ao discorrer sobre uma carta 
enviada de Bruxelas por Domício em 1902: “O ilustre atual Embaixador do Brasil nos Es- 
tados Unidos, se tem grande saldo a favor com a Pátria política, está em grande dívida com 
a Pátria literária, que sabia muito poder esperar dele. Tanto talento, tanto pensamento, tanta 
emoção, tanta arte de escrever e até hoje só o volume, aliás precioso das Histórias curtas. Ah! 
seu Domício...” 




68 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


na Revista moderna , na Ilustração brasileira (da qual destaca seu estudo sobre o 
Barão) e na Revista brasileira (da qual comenta brevemente seus estudos sobre 
Euclides da Cunha e Capistrano de Abreu); sua coluna na Gaveta de Notícias, 
“Carta de Paris”; 23 sua extensa correspondência; sua amizade por Eça de 
Queirós; suas preocupações literárias, frustradas pelos afazeres diplomáticos; 
seus desentendimentos com Rui Barbosa; e seu fim profissional, posto em 
disponibilidade por Artur Bernardes. 

A respeito de seus contos, Venâncio Filho (2002, p. 219) limita-se a 
observar en passant algumas notas estilísticas: “Os contos revelam o estilo leve 
e ameno e a nota do entretom, revelando certamente episódios destacados de 

impressões diversas.” E, mais à frente, não vai além dos comentários gerais: 

A obra de Domício da Gama, reduzida, se coloca em 
proporções ainda mais limitadas quando se verifica que apenas com 
dois livros há uma superposição de trabalhos. Contos à meia tinta tem 
dezessete contos; Histórias curtas tem vinte e seis, mas treze contos 
são reproduções do livro anterior sem modificação ou alteração, 
(idem, p. 225) 

Apesar dessas observações gerais, o autor fornece um importante 
subsídio para o estudo das crônicas de Domício ao citar uma carta do Barão do 
Rio Branco (apud VENÂNCIO FILHO, 2002, p. 216) a Henrique Villeneuve, 
redator chefe do Jornal do brasil, em que esclarece um dos pseudônimos de seu 
secretário, utilizado entre 1891 e 1892. Nela, diz “dever mandar-lhe a declaração 
de que Antonio Serra como sabe o Conselheiro Rodolfo Dantas é pseudônimo 


25 Note-se que nem sempre tal coluna foi assim designada, possuindo diversos títulos ao 
longo das décadas de 1880 e 1890: “De Paris”, “Carta de Paris” e “Cartas de Paris”. O con- 
junto de tais contribuições consta do anexo 3, em que as crônicas estão reproduzidas confor- 
me a digitalização presente na Hemeroteca Digital Brasileira (Fundação Biblioteca Nacional). 
O conjunto de tais contribuições é ainda inédito, e sua reprodução no presente trabalho 
consiste de sua primeira divulgação integral fora dos jornais de então. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


69 


do Sr. Domício da Gama, e M. Ombou pseudônimo meu ”. 26 27 


>|o|o|c 



Foto 4 — Reunião da Sociedade das Nações no Palace du Petit Luxembourg. 
Fonte: gallica.bnf.fr, Bibliothèque Nationale de France. 28 


26 As crônicas de “Antonio Serra” no Jornal do brasil referem-se à coluna “Cartas de Itália”, 
escritas por entre as viagens junto ao Barão na região da Toscana, e constam igualmente do 
anexo 3, em seção à parte. Diga-se de passagem, um segundo pseudônimo utilizado por 
Domício foi o de “Décio Moreno” - utlizado uma única vez, em artigo de juventude sobre 
suas memórias escolares. O texto, “O primeiro exame”, publicado no jornal O alfinete a 31 de 
março de 1883, pode ser encontrado na transcrição de Borges (1998, p. 360-366) feita a partir 
de uma cópia do jornal presente na ABL. O exemplar digitalizado pela Hemeroteca Digital 
Brasileira é ilegível em diversos trechos. De qualquer forma, no que toca a pseudônimos, é 
bom lembrar que “este escritor e diplomata fluminense viveu a bem dizer sob um pseudô- 
nimo, pois seu verdadeiro nome civil era Domício Afonso Forneiro.” (MAGALHÃES JR., 
1959, p. 317) 

27 Uma segunda informação relevante em seu texto é a reprodução, talvez única, dos versos 
de Mário de Alencar presentes na lápide de Domício da Gama no Cemitério São João Batista: 
“Sabe o viajante que suaves os ásperos passos da vida / Fiz por os ver sob a névoa dos olhos 
tocados de mágoa / Por escutar em si mesmo uma vez [sic] que falava em doçura / Tendo 
no espírito a luz da Beleza que é o guia do Sonho.” (ALENCAR apud VENÂNCIO FILHO, 
2002, p. 238) Diga-se de passagem, a informação a respeito da identidade de Antonio Serra 
foi indicada pela primeira vez por Luiz Viana Filho (1967, p. 195). 

28 Domício da Gama pode ser visto sentado, segundo da esquerda para a direita, entre 
representantes do mundo todo (Tang Sat-Fou, Quinones de León, Salandra, Viviani, Eric 
Drummond, Balfour, Adatci, Hymans, Branting). Tal fotografia de presse, tirada a 29 de janei- 
ro de 1 923 pela Agence Rol, permanece, ao que parece, inédita, constando do acervo material 
da BNF (Site Richelieu) e do acervo digital Gallica. O mesmo pode ser dito a respeito da 
Figura de n. 5, reproduzida mais à frente. E lícito destacar que a participação de Domício da 




70 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Os trabalhos mais recentes de Tereza França (2007) e Daniella Silva 

(2008) abordam o papel de Domício em missões diplomáticas na Argentina, nos 

Estados Unidos e em vários outros países, sem analisar especificamente o mérito 

literário de seus contos. Apesar de constituírem trabalhos imprescindíveis para 

uma compreensão maior da biografia do escritor — entre outras, a discussão feita 

por Tereza França (2007) das etapas de sua carreira diplomática é magistral — , 

há apenas uma indicação em ambos os textos referente à avaliação dos contos, 

ainda na tese de França (2007). 29 Para a autora, tais textos trazem uma íntima 

conexão entre vida e obra, e é possível observar elementos da vida do escritor, 

como a morte de seu irmão Sebastião, em um conto como “Um poeta”: 

No conto “Um poeta”, Domício definiu o irmão como um poeta 
exclamativo que “obedecia sem impaciência, sujeitava-se sem 
revolta, porque era naturalmente humilde.” O contraste entre os 
dois estava no fato de Sebastião não ter “vontade suficiente para 
impor à sua afetividade entusiasmos mercenários.” Mas o conto é 
de fato uma mistura do próprio Domício e Sebastião. No prefácio 
de seu livro Histórias curtas , Domício assinala a sua dificuldade em 
abstrair, e somente escrevia para as pessoas que conhecia. [...] Esse 
traço pode ser visto desde os seus antigos contos, “A aldeia” e “Que 
hei de pensar”. (FRANÇA, 2007, p. 23-24) 




Domício da Gama , de autoria de Ronaldo Costa Fernandes (2011), seguindo 
a visada introdutória da “Série Essencial” publicada pela Academia Brasileira 
de Letras, constitui uma mescla de levantamento biográfico, estudo textual e 
antologia dos contos do autor. Talvez por conta dessa apresentação ampla da 
vida e da obra de Domício em um espaço reduzido (29 páginas de estudo e 31 
de antologia), muito da discussão tenha sido limitada. Assim, apesar de contar 

Gama nas reuniões da Liga das Nações foi o que lhe custou a carreira diplomática em 1924, 
“quando foi colocado em disponibilidade - isto é, aposentado - durante o governo de Artur 
Bernardes (1922-1924), que se mostrara insatisfeito com a atuação do embaixador nos trâ- 
mites diplomáticos para a entrada do Brasil como membro efetivo da Liga das Nações, não 
obstante toda a sua luta e todos os seus esforços neste episódio.” (VINHOSA, 2010, p. 13), 

29 A autora deixa ainda, à pagina 44, algumas informações gerais sobre a publicação de Con- 
tos a meia tinta , e, à página 45, um interessante gráfico do número de produções textuais de 
Domício ao longo de sua vida, reproduzido no capítulo IV. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


71 


com diversos pontos interessantes e inovadores na recepção crítica de sua obra, 
como breves comentários a elementos pontuais — o cuidado de Domício com 
o leitor e a ausência de ironia em seu espírito; o espaço ora urbano ora rural de 
seus contos; a presença frequente de um narrador impessoal; o estilo direto e 
algo decadentista do escritor — , o estudo permanece sob a tutela mais ampla da 
biografia do escritor, mais diretamente ligada à estrutura vida-e-obra do volume. 
É o que se constata, por exemplo, quando o autor indica a presença do meio 
rural em vários contos como parâmetro de felicidade por recordar o “campo de 
sua infância, onde seu pai comprou terras para enraizar-se no Brasil”; ou ainda, 
a ausência de ironia ou humor nos contos, que se deve, possivelmente, “pelos 
deveres da sua função burocrática.” (FERNANDES, 2011, p. 15, 17) 

E digna de nota, todavia, a relação entre texto e contexto pela qual se aponta 
no escritor o espectador passivo de uma sociedade em rápida transformação, na 

qualidade de um meio-termo literário visto como “impressionista”: 

Domício da Gama vivia as transformações na base da 
cultura histórica no Brasil e também o fervilhar das ideias estéticas 
na Europa. Sua literatura não será tão crítica e ácida como o realismo 
de Eça, nem chegará a esmiuçar a alma humana com humour e 
densidade psicológica de Machado. Domício será um impressionista 
delicado e preocupado em não ofender a moral burguesa, (idem, p. 
22 ) 


*** 

Tendo em mãos os textos de Borges (1998) e de França (2007), bem 
como alguns dos livros por eles trabalhados em seus respectivos levantamentos 
biográficos de Domício (como as memórias diplomáticas de Heitor Lyra (1981) 
ou o livro de Álvaro Lins (1965) sobre o Barão do Rio Branco), Evanildo Bechara, 
em apresentação realizada a 24 de julho de 2012 no ciclo de conferências “A 
memória reverenciada” da ABL, aprofunda a leitura do patrono de sua cadeira e 
faz algumas indicações interessantes acerca de sua obra. 30 Para todos os efeitos, e 
até segunda ordem, trata-se do trabalho mais recente disponível sobre Domício 
(o texto da apresentação foi publicado na Revista brasileira no primeiro trimestre 


30 A apresentação em questão pode ser encontrada na íntegra, em vídeo disponível online 
(BECHARA, 2012). 




72 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de 2013). 

De início, o autor aponta na proximidade do Barão de Rio Branco e de 
Eduardo Prado, bem como na crescente paixão por Paris e pela lida diplomática, 
o fim do Domício literato: 

Tudo isto fez calar, a partir de 1902, a pouco e pouco, o 
escritor Domício da Gama para começar a surgir, também pouco 
a pouco, o esboço do futuro diplomata Domício da Gama, com 
toda a excelência que terminou por aureolá-lo, merecidamente, ao 
lado do Barão do Rio Branco e de Joaquim Nabuco, as três mais 
importantes figuras dos dias gloriosos da nascente diplomacia 
brasileira. (BECHARA, 2013, p. 202-203) 

A seguir, concorda com a tese de França (2007, p. 12) segundo a qual 
Domício permanece em “uma zona de penumbra entre a história e a memória”, 
e que dela precisa ser resgatado. Para tanto, repassa sua biografia, elogiando as 
dificuldades iniciais da vida do escritor, e tece um paralelo demasiado claro entre 
a leitura de sua vida e de sua obra: “Domício leva aos seus contos os momentos 
de amargura e tristeza que experimentou na juventude pobre e difícil, e essa 
herança imprime neles uma visão negativa de mundo.” (BECHARA, 2013, p. 
208) 

Por fim, após um levantamento de sua carreira diplomática, vista como 
principal fator de seu abandono da literatura, retoma a centralidade do conceito 
de “ self-made natiori ’ proposto por Tereza França (2008), igualmente, para a 
avaliação de sua carreira diplomática. 

Criticamente, este segundo texto de Bechara reproduz, talvez em demasia, 
os pareceres de França (2007), chegando a repetir alguns de seus pontos 
sensíveis, como a aproximação biográfica entre o protagonista do conto “Um 
poeta” e seu irmão Sebastião (único exemplo de conto textualmente citado em 
sua apresentação). 


Conclusão 


É curioso observar, portanto, que ainda há pouco menos de cinco 
anos a leitura biográfica de sua obra continue a determinar o horizonte de 
suas interpretações, limitando ao resgate da memória de Domício o resgate 
necessariamente paralelo de sua produção literária. Mesmo os críticos que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


73 


adiantaram possíveis classificações para sua obra, seja sob o signo da prosa 
parnasiana ou do Impressionismo literário, como Lúcia Miguel-Pereira ou 
Afrânio Coutinho, seja ainda sub-repticiamente sob o signo do Naturalismo, 
como Sílvio Romero e José Veríssimo, não levaram adiante tais observações em 
um estudo mais aprofundado. A recepção crítica de sua obra permanece ainda 
hoje, em grande parte, no âmbito das anotações esparsas de leitura ou então 
sob a mera reprodução de testemunhos pessoais de contemporâneos do autor. 
A própria ideia de Impressionismo literário, como se pôde observar, aparece 
inicialmente ligada à sua obra por intermédio dos testemunhos de Fernando 
de Magalhães e Medeiros e Albuquerque, para quem Domício dispunha de 
um caráter ou personalidade impressionista, tímida e retraída, cujo meio-tom 
faria derivar linearmente o “a meia tinta” de seus contos. Para além destes 
intérpretes elencados, há apenas testemunhos de contemporâneos do escritor, 
de interesse puramente histórico, como os de Luís Edmundo (2007), Medeiros 
e Albuquerque (1942) e Humberto de Campos (1951); observações rápidas 
de estudo, em que Domício figura como coadjuvante, como na biografia Paul 
Pompéia de Brito Broca (19—) e no estudo de Herman Lima (19—) sobre o conto 
brasileiro; e, de maneira mais ampla, breves menções ao escritor nas memórias 
de Rodrigo Octávio (1979), Afonso Celso (1896, p. 277) e Afonso Arinos de 
Melo Franco (1961, p. 151) — para não falar nas inúmeras passagens secundárias 
de Domício em biografias do Barão do Rio Branco ou Eça de Queirós. 31 


31 Que parecem ilustrar, para mais ou para menos, o juízo peremptório de Brito Broca 
(2004, p. 215) segundo o qual “Domício da Gama foi, por excelência, criatura de Rio Bran- 
co”, absorvendo-lhe os ensinamentos (e os contatos). 




74 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Foto 5 — Reunião da Sociedade das Nações no Palace du Petit Luxembourg. 
Fonte: gallica.bnf.fr, Bibliothèque Nationale de France. 


Tendo em vista este quase silêncio da crítica acerca de Domício da Gama, 
parece ser este, portanto, o momento mais indicado para uma revisão de sua 
obra, ainda dispersa e de difícil acesso. Não seria exagero afirmar, como aponta 
Paulo Franchetti (s/ d) em sua discussão sobre os contatos brasileiros de Eça de 
Queirós, que 

De sua obra literária nos ficaram apenas dois volumes em livro: 
Contos a meia tinta , publicado em Paris, em 1901; e Histórias curtas , 
publicado no Rio de Janeiro, pela Ed. Francisco Alves, em 1901. Sem 
reedições, ficaram praticamente desconhecidos, embora sua leitura 
sugerisse a José Veríssimo [sic] o julgamento de que o autor estava 
fadado a ser o nosso Poe”. A crítica, até o momento, parece limitar- 
se a repetir, sobre sua obra, a apreciação de Lúcia Miguel Pereira, 
que via seu estilo como “excessivamente trabalhado” - embora o 
colocasse ao lado de Raul Pompéia, como a melhor expressão da 
nossa prosa parnasiana de ficção. Uma leitura desarmada de seus 
textos, entretanto, permite afirmar que ainda não se fez justiça ao 
escritor, que certamente mereceria reedição e reavaliação. E é este, 
certamente, o momento de fazê-lo, agora que o cânon modernista 
parece estar finalmente deixando de determinar tão decisivamente a 
historiografia e a crítica literária brasileiras como o fez nos últimos 
quarenta anos. 

Não seria outro o intuito do presente trabalho, que busca situar a ficção 
de Domício na tradição (impressionista) da literatura brasileira e recuperar sua 
obra perante o público em geral. 

Para tanto, faz-se necessário observar, para além de sua fortuna crítica, a 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


75 


pertinência do conceito de impressionismo na literatura, fazendo valer o estudo 
individual de sua obra, também, como momento privilegiado de revisão da 
literatura brasileira como um todo. 

Assim, do texto (particular) ao sistema de textos (geral), bem como deste 
àquele, torna-se viável uma leitura mais coesa de sua obra, que venha a corrigir, 
por sua vez, a opinião negativa em torno de seu nome, subrepticiamente indicada 

por um juízo de Medeiros e Albuquerque (1945, p. 255): 

De Domício da Gama pouco há a dizer. Foi sempre uma 
figura de segundo plano; muito gentil, muito delicado, tendo muito 
talento; mas gostando pouco de aparecer. O breve tempo, que 
serviu como ministro do Exterior, provou que a ele se aplicava o 
verso célebre: ‘Tel brille au second rang qui s’éclipse au premier Auxiliar 
de Rio Branco, foi incomparável; substituto de seu grande amigo, 
foi medíocre. 





2. O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO 


The diversity of “impressionism” is in part a 
normal consequence of the poljsemj of language. 
[. . .] If impressionism is an inherently variable, 
pluralistic notion, Imvever, we need to clarify the 
relations arnong its constituents ivith some precision. 
Otherwise the term ’s panoply of conflicting meanings 
may prevent it from communicating very much very 
clearly orfrom offering much interpretive guidance. 

(ARMSTRONG, 1983, p. 268) 


A qitoi bon s’en prendre aux ismes? [...] II suffit 
de se dire, pour qidils deviennent inoffensifs, que 
nommer, en critique, est de 1’ordre de Paction plutôt 
que de celui de la connaissance. 

(CARAMASCHI, 1985, p. 49) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


79 



eja pela perenidade das questões relativas ao impressionismo seja pela 
profusão de comentadores envolvidos, a discussão a seguir pressupõe a 

I 

'leitura dos comentários presentes no anexo 1, que serve não apenas de 
anexo , mas de complemento à definição de impressionismo literário aqui esboçada. 
Trata-se de leitura essencial, sobretudo, para a compreensão de suas tendências 
interpretativas (“negativista”, “comparatista” e “narrativista”), indicadas mais à 
frente. 


O impressionismo pictórico (roteiro de principiantes) 

Pierre Francastel (1973, p. 208), ao discutir as causas que levaram o 
impressionismo ao seu fim, não chega a um termo comum, acabando por 
reconhecer a dificuldade de sua empresa: “Impossível, pois, definir o momento, 
as circunstâncias e as causas do declínio de um movimento que se tornou uma 
forma-tipo, uma estrutura de espírito.” O que julga estar em questão não se 
limita a um período ou a um estilo da história da arte, mas adentra uma nova 
forma de contemplar o homem, de entender sua relação com a arte e com o 
mundo. Para ele, o impressionismo é a primeira forma artística que criou uma 




80 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


postura existencial capaz de dissociar espírito e natureza. O mesmo afirma Maria 
Elizabeth Kronegger (1973, p. 33) , 32 para quem as “criações impressionistas 
nos diversos países são expressões diferentes de uma mesma ideia básica”, a 
saber, aquela do “núcleo de nossa ‘cultura do instante’”. Cabe observar, pois, a 
validade destas afirmações e em que consistiria tal “cultura do instante”. 

Primeiramente, um breve exercício: tente o leitor evocar de memória 
um quadro impressionista de sua preferência. À parte certa dificuldade óbvia, 
inerente ao caráter experimental do teste, terá ele um emaranhado de imagens 
e de cores em que os temas não se deixam entrever com facilidade. Poderá 
pensar em um quadro de Monet sobre uma jovem num campo, em um quadro 
de Pissarro sobre o interior da França; de maneiras diversas, chegará à mesma 
nebulosa sobre o conteúdo dos quadros, mas dificilmente se enganará quanto à 
qualidade pictórica das pinceladas. O estilo ocupa o primeiro plano. Certamente, 
não ocorrerá o mesmo se imaginar uma pintura romântica de Eugène Delacroix 
como A. liberdade guiando o povo ou as clássicas odaliscas de Jean-Auguste- 
Dominique Ingres, dos quais terá contornos fixos e imagens bastante claras na 
memória. “Eis por que não se trata de uma moda, de um simples processo de 
notação: é o próprio exercício da atividade perceptiva e figurativa que mudou.” 
(FRANCASTEL, 1973, p. 208) 

Tal ocorre devido a uma mudança no tratamento das cores, que, ao 
invés de evocar um conjunto maior de referências (políticas e históricas, no 
quadro mencionado de Delacroix; literárias, no de Ingres), passam a ser vistas 
enquanto sensações não interpretadas, numa tentativa de reprodução do efeito 
total da visão. Como assinala Giulio Cario Argan (1996, p. 78), desde 1839 
diversos serviços sociais até então característicos do pintor — elaboração de 
retratos, ilustrações de jornais e reportagens etc. — passam para as mãos do 
fotógrafo, afastando a pintura da mera reprodução gráfica.” Assim, “não estava 

32 “ Impressionist creations in various countries are different expressions of the same basic idea. Impression- 
ism is still alive todaj [...]. In this sen se, impressionism has become the core of our “instant culturê\ 

33 As relações entre pintura e fotografia, no entanto, jamais deixaram de existir. Afinal, « sans 
aucun doute, dans les années 1860, les impressionnistes atteignirent à une vérité de ton que Von définit géné- 
ralement comme ‘photographique’. [...] Mais il est difficile de dire dans quelle mesure ils furent effectivement 
influencés par la photographie. [...] Uinstantané dans le pajsage ne se pratique couramment que vers les 
années 1860, et on ne sait guère avec certitude combien en avaient vu les impressionnistes: asse^peut-être 
pour affermir leur foi en une Vision objective, pas asse% cependant pourj avoir trouvé leur style.” (CLARK, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


81 


em questão a função habitual da cor como signo, mas sim sua posição em uma 
escala de qualidades, muitas vezes em várias escalas coordenadas” (SCHAPIRO, 
2002, p. 62-63), em que, por exemplo, para destacar a luz, sombras coloridas 
são utilizadas em detrimento do chiaroscuro. Se a unidade da experiência visual 
passa a ser a cor não interpretada, o correlativo pictórico imediato torna-se o 
da pincelada palpável, breve e descontínua, ressaltando a mancha de tinta por 
sobre os limites e os contornos dos desenhos, tidos até então como anteriores 
— e não posteriores — à aplicação da cor (HAUSER, 2000, p. 901-902). Logo, 
o modelado e o volume perdem lugar para a cor e a atmosfera, o que dissocia 
gradativamente a representação daquilo que é representado. 34 

Distanciando, pois, significante de significado, o uso específico das 
manchas de tinta é o que passa a diferenciar o estilo individual de cada pintor. 
Não obstante, a recusa comum da “cor local” — i.e., da “cor constante e natural 
de um objeto”, que antepõe à experiência do olhar o conhecimento prévio 
(azul para o céu, verde para a árvore etc.) (SCHAPIRO, 2002, p. 79) — leva 
à busca pela harmonia e pelos diversos matizes do conjunto. Assim, a paleta 
impressionista passa a explorar a espectralização das cores, graduando sua 
variação em tons neutros, em graus de calor e frio e de claridade e saturação. O 
espaço do quadro deixa de ser representado por linhas em perspectiva, para ser 
sugerido pela tonalidade das cores, ora mais ora menos carregadas de acordo 


1962, p. 101-102) 

34 Trata-se de uma crescente “desumanização da arte”, no sentido empregado por Ortega Y 
Gasset (1991) para o abandono gradativo da figura humana e de sua presença pictórica, em 
prol de uma fragmentação (desrealização) do real: “ D u point de vue de la peinture pure, Vimpres- 
sionnisme est un enrichissement, un élargissement certains. Du point de vue de la peinture considérée comme 
un mode d’expression dont 1’homme dispose pour donner corps et â me à des aspirations mentales ou sentimen- 
tales, pour mettre en jeu les facultés de son imagination, pour atteindre, par la matière, mais au délà de la 
matière, un idéal, 1’impressionnisme — dans son application à la fois totale et circonscrite - réduit et appauvrit, 
il faut bien le reconnaítre, le domaine de l’art.» (VAUDOYER, 1953, [s/p]) A este respeito, comenta 
ainda Raymond Cogniat acerca das escolhas temáticas dos pintores impressionistas: «Pour la 
plupart d’entre eux, la présence de l’homme est à peu près sans importance et si leur choix va de préférence au 
pqysage ou à la nature morte, c’est parce que ces thèmes leur laissent une plus grande liberte dans le choix des 
mqyens d’expression. [...] C’est au point que Céganne, faisant poser sa mère, apuluidire, et ce n’était certes 
pas une boutade: Je voudrais que tu poses comme une pomme. ’» (COGNIAT, 1956, p. 10) Menos pon- 
deradamente, tal postura é abertamente criticada por alguns comentadores, que consideram 
sua “linguagem limitada e artificial, dado que envolve atenção exclusiva aos valores ópticos 
de uma cena, à custa do conhecimento conceituai do mundo por parte do observador e de 
seu relacionamento emocional com ele.” (LYNTON, [s/d], p. 49) 




82 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


com a iluminação e a distância entre os objetos. O mesmo ocorre com os temas, 
dos quais não se realiza um desenho prévio: pinta-se o que se vê imediatamente, 
de acordo com as condições de luminosidade instantaneamente percebidas. 
Os temas dissolvem-se em pontos flutuantes, em massas de cor de contraste 
induzido, num trabalho simultâneo de desenho e pintura que demanda do 
espectador certa distância do quadro para apreender, em conjunto, o jogo das 
cores, na experiência total de visão pretendida pelo pintor. 35 

Pontuada, individualizada e apreendida no instante mesmo em que surge, 
tal experiência complementa- se pela prática da segmentação dos quadros. 
Cortados pela moldura em ângulos periféricos a fim de evocar o olhar obstruído 
de um espectador próximo à cena, os temas ganham um efeito de movimento, 
assim como um caráter de esboço. 

Não é surpresa que muitos dos quadros impressionistas tematizem esta 
relação intimista de valorização do instante, como, por exemplo, o quadro de 
Monet, A beira do Sena em Bennecourt. 


35 Um exemplo bastante prático e incipiente é o de Balzi (1992, p. 30-33), que, apontando a 
relação de cores básicas - azul-cerúleo, vermelho-magenta e amarelo - e cores complemen- 
tares — verde, laranja e violeta - sob o efeito da luz, comenta: “[...] um carro azul, iluminado 
pela luz vermelha do entardecer, será violeta. Se colocarmos um vaso amarelo ao lado de 
outro azul, ambos parecerão um pouco verdes, pois um reflete o outro.” Desta forma, a cor 
da copa de uma árvore a ser pintada não deverá ser o verde, mas a intercalação sutil de tons 
amarelos e azuis, que, em conjunto, resultarão num verde mais vivo. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


83 



Quadro 1 — Claude Monet, A beira do Sena em Bennecourt, 1868, óleo sobre tela, 81,5 x 100,7 cm, 
The Art lnstitute of Chicago. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via Univ. Lyon II) 


Percebe-se na reprodução da tela a tematização do espectador enquanto 
parte de um cenário mais amplo, sem identidade específica, mas determinante 
como anteparo da paisagem contemplada. Localizado no interior da Ile-de- 
France, o pequeno povoado de Bennecourt é situado entre o azul do céu e o azul 
do Sena; as fachadas brancas de suas casas e os tons terrosos dos telhados vão 
refletir-se nas águas e no vestido da jovem, sem quaisquer referências externas. 
A paisagem é vista de um ponto periférico, obstruído pela grande árvore em 
que se recosta a jovem. As folhas de sua copa frondosa misturam-se às casas e 
harmonizam o verde com o das plantações e gramados ao fundo. A segmentação 
da perspectiva parece mesmo incluir o olhar periférico no conjunto, afirmando 
a casualidade e o equilíbrio da cena. A grama estabelece um contínuo com o 
pequeno barco, que, a um só tempo, adquire uma tonalidade verde-escura na 
proa e azulada na popa. Por sua vez, os barcos que se encontram do outro 
lado do Sena mesclam-se aos reflexos da cidade nas águas, quase indistintos 
pelo encontro do azul e do verde numa só mancha de cor. O mesmo ocorre 
com a jovem, cujo rosto não se percebe em traços humanos, mas apenas 
por intermédio dos reflexos das casas. Seu vestido branco absorve as cores 


84 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


dominantes do quadro — o marrom dos telhados, o verde das árvores, o azul 
do rio — , dando-lhe equilíbrio e harmonia. Assim, ela serve de anteparo natural 
ao conjunto: seu chapéu, bege com fita azul, está aí para intercalar-se às flores 
amarelas e às sombras do gramado, que não recebem luz debaixo da copa; ao 
redor da jovem e de seu vestido branco, o gramado ilumina-se, recuperando na 
parte inferior do quadro a luminosidade presente no centro e na parte superior. 
Curiosamente, se visto o quadro de cima abaixo, a mesma relação de cores 
permanece: o azul do Sena troca-se pelo do céu; o escuro da grama pelo da 
copa; e o branco do vestido da jovem pelo branco das fachadas. Trata-se, assim, 
de um exemplo significativo do uso impressionista das manchas de cor, sob a 
harmonia dos tons. 

Paralelamente à espectralização das cores, a consciência de que a 
instantaneidade e a particularidade das cenas, regrada pelas condições de luz, 
corresponde a algo mais amplo — a transitoriedade da vida — faz com que o 
impressionismo sugira uma postura e visão de mundo particulares (HAUSER, 
2000). Neste sentido, 

a atomização do mundo da mente e da matéria, ao lado do relativismo 
e do subjetivismo, caracterizam a síntese da visão impressionista 
de mundo. Para ela, tudo gira ao redor de impressões sensoriais: 
os objetos mudam-se em luz e efeitos de cor e em formas quase 
intangíveis (KRONEGGER, 1973, p. 39). 36 

Mediante tal autonomia das impressões sensoriais, o impressionismo 
inicia nas artes pictóricas um longo processo de dissociação entre significante 
e significado, que irá culminar, posteriormente, nas vanguardas do século XX, 
bem como na crescente “desumanização da arte” moderna, em que a estilização 
do mundo passa lentamente a “deformar o real, desrealizar” (ORTEGA Y 
GASSET, 1991, p. 47). Sua contribuição é, pois, a de uma tripla rebeldia estética, 
tendo em vista que 

o impressionismo é uma pintura de “rejeitados” e “independentes” 
em três sentidos diversos: quanto a seu reconhecimento oficial; 
quanto ao tema da pintura que escapa à história, à alegoria, ao 
religioso; enfim, e sobretudo, quanto à forma (pintura en plein air, 
técnica da sombra colorida “simples, fresca e levemente disposta”, 
como diz Mallarmé, que abole o desenho e engendra uma estética 


36 Atomigation of the world of the mind and of matter as well as relativism and subjectivism characterige 
the impressionist synthetic Vision of the world. In this Vision everything turns around sensual impressions: 
things turned into light and color effects and into barely tangible shapes [...]. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


85 


“atmosférica” do esboço e do non finito). (FRANGNE, 2003, p. 52) 

37 


No entanto, essas três rebeldias estéticas não implicam, necessariamente, 
um engajamento direto da arte impressionista. Inversamente, contemplando 
a sociedade com um olhar atento e estrategicamente desinteressado, o 
impressionismo responde a uma estratificação das relações entre arte e mercado 
38 que pode ser observada em um quadro como Baile no Moulin de la Galette , de 
Pierre-Auguste Renoir. 



Quadro 2 — Pierre-Auguste Renoir, Baile no Moulin de la Galette , 1876, óleo sobre tela, 131x 175cm, 
Musée D’Orsay, Paris. Fonte: musee-orsay.fr, Musée D’Orsay. 


37 [...] Timpressionnisme est une peinture de ‘refusés’ et ‘d’indépendants’, à un triple chef: quant à sa recon- 
naissance offidelle; quant au sujet de la peinture qui fuit 1’histoire, Tallégorie, le religieux; enfin et surtout, 
quant à la manière (peinture en plein air, technique de la touche colorée ‘simple, fraíche, légèrement posée’, 
comme dit Mallarmé, qui abolit le dessin et engendre une esthétique ‘atmosphérique’ de 1’esquisse ou du non 

finito). 

38 Estratificação esta que nem sempre favoreceu os pintores, atentos aos gostos flutuantes 
do público, porém à mercê de resultados financeiros incertos. Apesar do sucesso inegável 
de alguns deles já nas décadas de 1880 e 1890 (sobretudo, de Monet), a falta de retorno ma- 
terial foi responsável pela dissolução parcial do grupo nos anos subsequentes a 1877: “ The 
Impressionists, by their decision to appeal directly to the public, placed themselves at the mercy of the market 
systern, subject to the vicissitudes of prosperity and recession. They did so with a high degree of awareness but 
they miscalculated nevertheless. They recogniged, I believe, the false prestige of the poet and creator in modem 
society, but at the same time they believed , or hoped, that their artistic honesty and sincerity would bringjustly 
de serve d rewards. It ivas the f ai lure to realiye suchgains, even after their enthusiastic, large-scale, and relative- 
ly unified presentation at the third exhibition in 1877, that led to the doubts and defections in the immediately 
succeedingyears of Renoir, Monet, Sisley and CéyanneP (ISAACSON, 1980, p. 1 1) 



86 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Observa-se nele a vida burguesa citadina representada num baile 

movimentado de Montmartre. ,9 Apesar da presença de elementos “clássicos” 

— como a centralização e triangularização dos jovens do meio, a composição 

de rostos que demonstram influência de artistas como Veronese e Rubens — , 

os traços individuais são diluídos por entre os objetos do baile. Sobrepõem-se 

pessoas, chapéus, reflexos de lâmpadas, assemelhados uns aos outros pelo tom 

das cores e pelo efeito de luminosidade, que se distribuem reciprocamente. A 

natureza-morta ao canto direito injeta cores quentes entre os casacos escuros 

dos rapazes, assim como o lenço da jovem ao meio; o amarelo dos chapéus, 

distribuídos também na parte direita, contrabalança a menor luminosidade 

desta área; do lado esquerdo, a luz forte que incide sobre os casais dançantes, 

presente até mesmo nos cabelos louros da menina com o laço azul, é equilibrada 

pelos ternos e cartolas pretas, que se continuam pelo fundo do quadro, na 

parte superior. Tal divisão dos dois lados do quadro, ao invés de sugerir uma 

tensão social ou uma divisão conceituai qualquer, visa equilibrá-los entre si, 

dissolvendo a harmonia dos tons numa mesma atmosfera festiva e de lazer. 

De um lado, poder-se-ia argumentar que “Renoir quis [antes] realçar a alegre 

combinação de cores brilhantes e estudar o efeito da luz do sol sobre a multidão 

turbilhonante.” (GOMBRICH, 1979, p. 90-91). De outro, é possível observar, 

no elogio completo do presente, o valor estratégico da dissolução do passado e 

de seus valores, enquanto forma de atingir um público burguês cada vez menos 

especializado em termos de arte: 

A negação da memória significava negação da história, uma 
consequência incisiva da orientação impressionista. A “história” 
não se limitava aos assuntos descartados das pinturas de outrora, 
mas respondia também aos meios pelos quais eram veiculados, 
particularmente a estrutura de luz e sombra que dava à pintura 
convencional a ilusão satisfatória de três dimensões. A exaltação da 
cor luminosa e das grossas pinceladas era a maneira impressionista 


39 Observe-se também a exclusão programática de muitos aspectos miseráveis da capital 
francesa, ajustando-se ao gosto ligeiro dos colecionadores de quadros: “Les tableaux impres- 
sionnistes reflètent souvent le mode de vie de ceux qui collectionnaient ces oeuvres, sans faire allusion au 
commerce qui rendait cette activité possible. Caillebotte, Degas, Édouard Manet, Claude Monet et Pierre 
Auguste Renoir, lesjeux rivés sur les nouveaux boulevards qui partaient du centre de la capitale, laissaient 
de côté les gones d’ activité industrielle à l’ouest et au nord, ainsi que les quartiers les plus pauvres à l’est.” 
(GROOM, 2012, p. 47) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


87 


de apresentar o que se pode ver, sem recorrer ao que se “sabe” por 
conta de um treinamento artístico tradicional. Os impressionistas 
foram a vanguarda da burguesia, e não de uma revolução qualquer. 
(HERBERT, 2007, p. 24-25, 27) 40 

O viés subjetivista e desinteressado das obras impressionistas, assim, 
não é gratuito, e vai além de colocar em xeque o academicismo oitocentista, 
refutando os temas e motivos exóticos, históricos, religiosos etc . 41 Paralelamente, 
outro exemplo de seu elogio à liberdade e ao prazer individual é a representação 
inteiramente revisitada da arquitetura das igrejas, como se percebe no quadro Al 
igreja de Santa Teresa, do ítalo-brasileiro Eliseu Visconti. 



Quadro 3 — Eliseu Visconti, igreja de Santa Teresa, 1927, 65 x 81 cm, óleo sobre tela, Museu Nacional 
de Belas Artes. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 


40 “Dental of memorj meant denial of history, a pervasive consequence of the Impressionists’ orientation. 
“History” ivas not simply the discarded subjects of earlier paintings, but the means by ivhich they were ren- 
dered, particularly the structure of light and dark that gave conventional painting the satisfactory illusion 
of three dimensions. The exhaltation of bright color and patchy brushivork ivas the Impressionists’ ivay of 
presenting what one could see, without recourse to what one “knoivs” by virtue of traditional artistic training. 
[. . .] The Impressionists ivere the vanguard of the bourgeoisie, not of any revolutionP 

41 Afinal, a atenção a temas cotidianos fazem com que a velocidade da vida coloque em 
xeque o anacronismo das instituições: «Ta vérité est autre à chaque nouvel instant, elle est toujours 
nouveauté et la nouveauté est toujours ennemie des intitutions .» (BUSSE, 1996, p. 14) 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Nele, observa-se a partir do atelier do pintor, localizado na rua Mem de 
Sá, próxima à Santa Teresa e aos Arcos da Lapa, a visão segmentada do convento 
carioca por detrás da vegetação que ofusca mais da metade de sua fachada. A 
espectralização das cores faz com que elas se adentrem mutuamente: o marrom 
dos telhados ao branco das paredes, o azul do céu ao verde das árvores. As 
manchas de cor atenuam o desenho da torre central, que se mistura ao fundo, 
e quase indistinguem o crucifixo ao lado, cujas extremidades são mais sugeridas 
que percebidas. As copas das árvores parecem dar continuidade ao céu, e são 
discerníveis apenas pelas manchas mais escuras dos contornos. É notório, pois, 
o enfoque visual conferido ao tema, que não se restringe ao elemento religioso 
previsto no título: a natureza engloba e harmoniza a igreja, não havendo uma 
hierarquia ou uma relação de valor entre o plano terreno e o plano celeste. 
A mescla de ambos em manchas azuis, verdes e marrons consiste antes num 
estudo da luminosidade, que será continuado num quadro sobre a mesma igreja 
no ano seguinte, não mais com a iluminação de um fim de tarde, mas de pleno 
dia. Está visto que, em seu conjunto, ambos dialogam com a série de quadros 
de Monet acerca da Catedral de Rouen . 42 


42 É importante observar a crítica à tradição figurativa encetada por Monet na série men- 
cionada, que exige do público uma nova sensibilidade. Como bem observa Joachim Pissarro 
(1990, p. 7): “La série des Cathédrales de Monet a été essentielle et a constitué un énorme défi — un défi 
poussé à son paroxysme par rapport à l’art officiel des Salons et à la notion de 1’oeuvre d’art finte; et un défi 
par rapport à Monet lui-même qui se choisit un sujet particulièrement ‘résistant’ aux changements de ternps, 
de lumière et d’ambiance qu’il veut observer Et c’est bien aussi un défi jeté aux sens de celui qui regarde, en 
lui réclamant une extreme souplesse de ses capaátés de perceptionP Neste sentido, o tema da série nao 
é tanto a Catedral de Rouen quanto o transcorrer do tempo, surpreendido nas mudanças de 
iluminação. Ao fazer tal inversão, Monet subverte a lógica da pintura histórica: “Les toiles des 
Cathédrales de Monet tournent autour du thèrne du ternps. Elles dépeignent la folie course des heures, des 
minutes et des secondes — à travers la lumière. Ces tableaux de 1’artiste constituent un manifeste radical contre 
la peinture historique, genre fort prisé par les adversaires de Monet dans les rangs de 1’Académie Française et 
lors des Salons. La série des Cathédrales, c’est très exactement 1’inverse de ce que déclarait Charles Lebrun 
(1 61 9-1 690) devant les membres de lAcadémie à propos de l’oeuvre de Poussin intitulé La Manne; Le 
peintre historique doit se borner à représenter un seul moment au cours duquel plusieurs actions simultanés 
se déroulent.’ Non seulement Monet bannissait toute intention narrative de sa série, mais il réduisait chaque 
toile à une portion du ternps — à 1’exclusion de ce qui se passait avant ou aprés. [...] Ce n’est pas une pure 
corncidence si presque chaque toile est centrée sur 1’horloge. Une horloge qui, ironie du sort, a été victime des 
atteintes du ternps, est tombée et a dispam. [...] 1’oeuvre s’ouvre d’elle-même sur le mouvement et la marche du 
ternps qui la rendent possible. C’est dans ce sens que Monet choisit de peindre la cathédrale qui est solidement 
ancrée dans un rapport de tension entre la temporalité et 1’intemporalité, entre un ternps humain — ou séculier 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


89 



Quadro 4 — Eliseu Visconti, Igreja de Santa Teresa, 1928, 63 x 80 cm, óleo sobre tela, coleção 
particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 


É possível, assim, elencar em retrospecto alguns dos elementos 
fundamentais das inovações técnicas impressionistas, enquanto chaves gerais de 
compreensão do impressionismo pictórico: predomínio da cor e da atmosfera sobre o 
volume e o modelado; recusa da cor local; espectralijaçao das cores; uso das manchas de tinta; 
e prática da segmentação. 

Dizer, porém, que tais elementos correspondam a uma ampla “cultura do 
instante” ou a uma “atomização do mundo” (HAUSER, 2000; KRONEGGER, 
1979) seria fazer esquecer sua íntima relação com a destruição programática 
da art pompier (e a crise da tradição representativa) e do mecenato estatal (em 
prol do livre mercado), elegendo a pintura como porta-voz de todo o período 
impressionista — que compreende, para além das exposições de 1874 a 1886, o 
hiato que vai aproximadamente até o final do século XIX. 

Não basta, portanto, corroborar tais conceitos e indicar uma significação 
falsamente comum às artes do período (estando, como são, limitadas à pintura). 


- et un temps divin, autrement dit Téternitê.» (idem p. 22) 


90 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Faz-se necessário observar as tensões próprias a cada caso, e, somente a partir 
daí, observar possíveis analogias entre as inovações técnicas de uma arte e de 
outra. 


O impressionismo literário (para além do impressionismo na literatura) 


Muito embora o diálogo com a pintura possa ser importante no que 

toca a alguns dos autores usualmente tidos como “impressionistas” (por ex. 

Edmond de Goncourt ou Marcei Proust), 4 ’ reduzir o impressionismo literário 

a uma transposição da pintura 44 seria, no mínimo, equivocado: 

Não fazemos serviço nenhum ao estudo das artes visuais e do 
pictorialismo na literatura ao passarmos muito facilmente do 
impressionismo enquanto movimento artístico ao impressionismo 
enquanto fenômeno literário preocupado com a percepção através da 
visão e, sobretudo, com as ambiguidades da percepção. Além disso, 
lemos mal o texto literário se considerarmos as “impressões” como 
formas acabadas ou necessariamente admiráveis de consciência. 
(TORGOVNICK, 1985b, p. 180) 45 


43 Proust (1971, p. 559), por exemplo, em uma entrevista cedida a Élie-Joseph Bois e pu- 
blicada no Le Temps a 12 de novembro de 1913, i.e., dois dias antes de Du côté de che ^ Sivann , 
compara ao uso da cor pelo pintor e à qualidade de sua visão o trabalho estilístico do escritor: 
«Le style n ’esf nullement un enjolivement comme croient certames personnes, ce n ’esf rnêrne pas une question de 
technique, c’esf - comme la couleur che ^ les peintres - une qualité de la Vision, la révélation de 1’univers par- 
ticulier que chacun de nous voit, et que ne voient pas les autres. Le plaisir que nous donne un artiste, c’est de 
mus faire connaítre un univers de plus.» Outra declaração de relevo, como notam os organizadores 
da edição dos Essais etarticles pela Gallimard Pierre Clarac e Yves Sandre, encontra-se em uma 
entrevista pouco posterior (19 do mesmo mês) cedida ao jornalista André Arnyvelde do Le 
Miroir. “L’ombre, le silence et la solitude, en abattant sur moí leurs chapes épaisses, m’ont obligé de recréer 
en moi toutes les lumières et les musiques et les frémissements de la nature et du monde. Mon être spirituel 
ne se heurte plus aux barrières du visible et rien nPietrave sa liberte [...]. ]’ai tenté de de suivre la vie ou se 
révèlent soudain à nosjeux des aspects insoupçonnés d’une personne» (PROUST, 1971, p. 937). Assim, o 
reconhecimento do elemento visual é complementado pelo conhecimento (desvendamento) 
gradativo das personagens, conferindo um papel especial às questões narrativas (perspectiva 
e pessoa, sobretudo). 

44 Para uma revisão das relações entre literatura e pintura, que remonta a Horácio, muitos 
estudos poderiam ser mencionados. Uma boa antologia dessas relações na modernidade (ao 
menos, de Diderot a Quignard) é a de Dethurens (2009). Balanços mais dissertativos, ainda 
que não menos pontuais, são os de Bergez (2011), Schapiro (2011), Vouilloux (2005; 2011), 
Lichten (2004), Souriau (1969) e Todorov (2005). Para uma visão geral da questão (remon- 
tando ao Laokoon de Lessing, até textos mais atuais), consultar Jacques le Rider (1997) e 
Aguinaldo José Gonçalves (1994). 

45 “Buf m do the study of the visual arts and pictorialism in literature no Service bj sliding too easily be- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


91 


Está claro que o impressionismo literário é um conceito espinhoso, 
que mescla, à primeira vista, a discussão da literatura à da pintura, e recupera, 
simultaneamente, toda a carga semântica do conceito de impressão . 46 

Uma revisão qualquer de seus limites demanda, assim, uma revisão de 
seus itinerários de leitura. 47 

Wá, grosso modo, três grandes tendências interpreta tivas do impressionismo 
literário: aquela que nega sua existência mediante o argumento de que não há 
um conjunto de técnicas literárias que adapte o impressionismo ao texto (i.e., 
defendendo uma existência puramente pictórica do impressionismo); aquela que 
o interpreta como a transposição do impressionismo pictórico ao meio literário, 
seguindo a definição inaugural de Ferdinand Brunetière (i.e., debruçando-se 
sobre aspectos estilísticos da prosa e da poesia, bem como sobre semelhanças 
conceituais entre a pintura e a literatura, sem limitar seu métier)\ e aquela que o 
considera como uma via de expressão autônoma, marcada pela experimentação 
com a focalização e com a perspectiva narrativa (i.e., definindo seu métier em 
função de aspectos narrativos, em detrimento da aplicação do termo à poesia). 

48 


hveen lmpressionism as an artistic movement and impressionism as a general literary phenomenon concerned 
ivith perception through seeing and especially ivith ambiguities of perception. And we misread the text if we 
see ‘ impressions ’ as a final or necessarily admirable form of consáousnessP 

46 Para não falar no sentido peculiar de “impressionismo” na crítica literária, enquanto 
sinônimo de falta de rigor metodológico - i.e., correspondente ao que Antonio Cândido 
(1999) chama de “crítica impressionista”. Em determinados contextos, a carga negativa do 
termo não foi tão significativa quanto o é hoje no Brasil (basta pensar na distinção de Charles 
Lalo (1912, p. 203-207) entre “impressionismo” e “dogmatismo”, ou mesmo nas reflexões 
contemporâneas de Thierry Roger acerca de “Jules Lemaitre et la querelle de 1’impressionnis- 
me”). Entretanto, é de se considerar que parte do esquecimento do impressionismo literário 
no Brasil se deva à pecha do impressionismo crítico. 

47 Boas avaliações do movimento conceituai do impressionismo literário podem ser encon- 
tradas em Pouzet-Douzer (2013) e von Gunsteren (1990) Outras, não menos interessantes, 
ainda que menos volumosas, em Vouilloux (2000; 2012a; 2012b). Uma reflexão paralela so- 
bre o impressionismo literário (que desconstrói até mesmo o impressionismo pictórico) é a 
de Florence Dumora (2012). 

48 Uma divisão diversa, embora igualmente tripartite, é aquela proposta por Julia von Gun- 
steren (1990, p. 50): “In the final analysis this chronological survej of the dijferent concepts and descrip- 
tions of Literary Impressionism reveals three possible currents ivhich may be important for future research. 
Firstly, the concept of Literary Impressionism may be based on a parallel with social, philosophical, artistic 
(e.g. painting and music), political and economic conditions, and described within a period concept. Secondly, 
it may be analysed formally as a stylistic classification, usinggrammatical and lexical indexes. Thirdly, fusing 




92 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Para fins de exposição, é lícito mencionar alguns dos autores que 
comungam de cada uma das tendências indicadas. 49 Na primeira tendência, 
que se poderia chamar de “negativista”, incluem-se autores como: Bert Bender 
(1976); Alfredo Bosi (1969); Peter Bürger (2012); Michel Décaudin (1960); 
Meyer Schapiro (2002); Bernard Vouilloux (2000, 2012a; 2012b); Nicolas Wanlin 
(2012); dentre outros. 50 Ainda nela, poderiam ser incluídos estudos estilísticos 
como os de Charles Bally (1942, p. 13), que consideram o impressionismo na 
literatura como mero resultado do impressionismo na linguagem, 51 i.e., nos 
limites de uma tendência psicológica idiomática “em que não se distingue ou 
não se separa com precisão o fenômeno de sua causa” (i.e., em frases como 
“chove”, “o vento sopra”) etc. 52 

Por sua vez, os comentadores que optam pela segunda opção, dita 
“comparatista”, dadas as amplas possibilidades de diálogo entre o impressionismo 
pictórico e o literário, são: Francesco Arcangeli (1977); Paul Bourget (1905); 
Ferdinand Brunetière (1883); Enzo Caramaschi (1985); Stéphanie Champeau 
(2012); Jean Clay (1984); Jacques Dubois (1963); Louis Forestier (1996); 


the hvo possibilities, itmay be analjsed, described, and codified as an aesthetic ‘will to style’. Reference may be 
made to foregromd indexes as to narr ative methods, thernes, structure, characterigation and imagesP 

49 Embora muitos deles, além de diversos outros, sejam comentados individualmente no 
anexo 1. 

50 Basta lembrar a negativa de Meyer Schapiro (2002, p. 299): “[...] o impressionismo no 
romance é somente um aspecto, uma característica ou qualidade de certas partes e não um 
princípio do todo. Nenhum grande romance é tão inteiramente impressionista quanto uma 
pintura de Monet.” 

51 Veja-se, ainda, o comentário de Marcei Cressot (2014, p. 14): “Le mot le plus important de 
ces recettes est constitué par ce qu’on designe sons le nom d’impressionnisme; ce mot ne represente pour nous 
aucune école littéraire, ni rnêrne une esthétique qui ne consisterait que dans 'une transposition systématique des 
mojens d’expression d’un art, qui est l’art de peindre, dans le domaine d’un autre art, qui est l’art d’écrire’ 
[Brunetière]. Nous utilisons ce mot avec le sens strict qui lui a donné M. Bally: “Le phénomène est saisi 
dans une impression immédiate comme un faitsimple des causes [...], c’estle mode ddperception phénoméniste 
ou impression niste” .bA respeito das definições linguísticas do impressionismo literário, comen- 
ta Julia van Gunsteren: “[. . .] any attempt to define Literarj Impressionism bj positioning an inherent 
linguistic configuration is a mistake. Alonso and Rida discredited the term ‘impressionistic language’. They 
believed that it is impossible to verbalise an instantaneous sensorial impression, as a ivord or a sentence alone 
cannot express a pure and isolated perception without being altered to some degree bj empirical knowledge or 
bj memorjP (GUNSTEREN, 1990, p. 42) 

52 “[. . .] en que no se distingue o no se separa con precisión el fenómeno de su causa [. . .]” Cf. comentá- 
rios individuais aos textos mencionados no anexo 1. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


93 


Florence Godeau (2003); Helmut Hatzfeld (1952); Addison Hibbard e Horst 
Frenz (1954); Arnold Hauser (1980); Luzius Keller (2000; 2012); Maria 
Kronegger (1973); André Lamandé (1925); Jérémy Lambert (2012); Gustave 
Lanson (1909a; 1909b); Ruth Moser (1954); Herbert Muller (1938); Junko Oki 
(1990); John Peters (2001); D. C. Richel (1980); Rodney Rogers (1980); Jack 
Stewart (1973; 1982); Camila Storskog (2011); Marianna Torgovnick (1985a); 
dentre muitos outros. 53 

Finalmente, os defensores de uma abordagem “narrativista” do 
impressionismo literário são: Nancy Armstrong (1977); Paul Armstrong (1983); 
Todd Bender (1997); Paul Byrne (2010); Eloise Knapp Hay (1988); Madox 
Ford (1914; 1992); James Nagel (1978); Peter Stowell (1980); Ian Watt (1979); 
e alguns outros. Perceba-se a quase exclusividade de comentadores anglófonos 
nessa terceira e última abordagem, definindo-a como uma contribuição mais ou 
menos derivada da análise das obras de Henry James, Joseph Conrad, Stephen 
Crane, Ford Madox Ford etc. 

Da primeira à última tendência, é visível o lugar estratégico do 
estudo comparativo (pintura-literatura) como ponto intermédio às posturas 
diametralmente opostas de negação (“negativista”) ou de afirmação 
(“narrativista”) do impressionismo literário. Não menos evidente é ainda a 
multiplicidade de autores nela incluídos, representando mais da metade dos 
comentadores do impressionismo literário. 

Não é de surpreender, portanto, que a tendência “comparatista” indique, 
para além de uma crítica (“negativista”) ou de uma defesa (“narrativista”) 
do impressionismo literário, uma série de argumentos diversos, muitas vezes 
conflitantes entre si. A aproximação que opera entre elementos pictóricos e 
literários respeita, todavia, dois pressupostos básicos de interpretação: um 
primeiro fenocentrista [“ phénocentriste ”], segundo o qual o pintor pinta e o 
escritor descreve aquilo que veem , i.e., “causal e temporalmente subordinado à 
fenomenalidade, o pictural ou visual ao verbal” (VOUILLOUX, 2012a, pg. 


53 Uma frase parece sintetizar o questionamento central ao viés comparatista, apesar de suas 
muitas ramificações: “ Comment la littérature se risque-t-elle à regarder la peinture, en se contemplant 
elle-même en miroir ?’ (BAYLE, 2014, p. 16) 




94 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


22) ; 54 e um segundo perceptivista [“ perceptiviste , \ em que o pintor ou o escritor 
veem aquilo que sentem , “caracterizando-se o fenômeno, a cada vez, pelo primado 
da sensação” (idem). 55 

Há, portanto, muitas formas de apresentar o impressionismo literário, seja 
pelo primado da descrição seja pelo primado da sensação, objetivando meios termos 
que permitam avaliar a questão sem fazer recortes excessivos. Neste sentido, 
seria possível ponderar que “veicular a impressão tanto como percepção dos 
sentidos quanto dos pensamentos, aparências que se fazem reais, suspeitas que 
são verdadeiras, e partes que são o todo — tal foi a aspiração ‘total’ do escritor 
impressionista.” (MATZ, 2001, p. I) 56 

No entanto, escapar à discussão dos efeitos da visão do escritor sobre a 
obra (numa ascendência que remonta à presença sempre reiterada da visão do 
pintor) soaria, talvez, mais pertinente. E isso porque, embasando tais visões, o 
conceito dispersivo de impressão (que, em muitos casos, dá lugar a uma reflexão 
contraditória, votada a esclarecer a questão por meio do sentido do termo na 
filosofia de Hume e Locke, na estética de Ruskin e Pater etc.), ainda que esclareça 
o movimento das ideias nas artes oitocentistas, ecoa anacronicamente o texto 
inaugural de Ferdinand Brunetière (1883, p. 88), que define “o impressionismo 
literário como uma transposição sistemática dos meios de expressão de uma 
arte, a arte de pintar, no domínio de outra, a arte de escrever.” 57 

Com alguma reserva, é lícito apontar que 

o maior erro de muitos estudos acerca do impressionismo é sua 
inclinação por reduzir a mero pictorialismo sua visão dinâmica 
[impressionismo] de um mundo em constante transformação. 
O impressionismo literário não poderia existir apenas quanto 


54 “[...] subordomée causalement et temporellement à la phénomenalité, le pictural ou le verbal au visuel 

[•••]» 

55 “[■■•] le phénomène étant characterisé, à chaque fois, par le primat de la sensation [...]» O autor re- 
lembra ainda alguns mitos envolvendo o impressionismo pictórico (a negação do quadro e 
da tradição, em prol do imediatamente visto (Monet); a busca pela “innocence du regard” 
(Ruskin) e pela sensação original evocada pela pintura (Laforgue); o anti-intelectualismo (Va- 
léry, Bergson, Breton) e sua versão científica posterior, ligada ao associacionismo perceptivo 
e, mais tarde, à teoria da Gestalt etc). Cf. comentários no anexo 1. 

56 “To get in the impression not just sen se perception but sense that is thought, appearances that are real, 
suspicions that are true and parts that are whole — this ivas the ‘total’ aspiration of the Impressionist writerP 

57 “[• • •] nous pourrons definir déjà Timpressionnisme littéraire une transposition systématique des mqyens 
d’expression d’un art, qui est 1’art de peindre, dans le domaine d’un autre art, qui est 1’art d’écrire .” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


95 


“impressões fugazes isoladas”. [...] Ainda que haja características 
comuns que permitam assinalar pintores e escritores como os 
formadores do modernismo, elas extenuam qualquer entusiasmo 
interdisciplinar ao insistirem na transposição de técnicas do meio 
visual na linguagem, pelos escritores. Pretender que o impressionismo 
literário disponha uma série contínua de impressões pontilhistas é 
interpretar mal um processo artístico que busca uma técnica para 
expressar a realidade dentro de seus próprios limites. Um escritor 
não pode tomar uma arte espacial e apropriá-la integralmente na 
experiência temporal da literatura. Os impressionistas literários 
deram um passo atrás dos pintores e representaram a consciência 
humana e os atos da percepção. O impressionismo literário é um 
processo temporal que retrata um ato simultaneamente espacial e 
temporal. O tempo liga de maneira durativa [ durationally ] fragmentos 
de percepção espacializada, e a consciência espacializa o fluxo 
do tempo em instantes separados. As impressões da consciência 
perceptiva deve ser representada de maneira singular pela literatura. 
Literatura não é pintura. (STOWELL, 1980, p. 14) 58 

É preciso, assim, dedicar à discussão do impressionismo literário a 

análise de seus próprios meios e de sua contribuição singular à literatura — a 

saber, a consciência formal dos limites literários ao autorreconhecer-se, para 

além da espacialidade da pintura, “um processo temporal que retrata um ato 

simultaneamente espacial e temporal”, (idem) 59 

Tal proposição parece engendrar uma reflexão acerca do processo 

narrativo da ficção em acordo com a herança “narrativista”, e faz pensar na 

58 “The major error in most studies of impressionism is the inclination to reduce its dynamic Vision of a 
changing world into mere pictorialism. Literary impressionism coitld not have existed as simplj a series of 
‘separa te fleeting impressions’. [...] While there are common characteristics that help fuse painters and ivriters 
into the shapers of modernism, it strains interdisciplinary enthusiasm to insist that the writers must have 
directly transposed the techniques of a visual médium into language. To demand that literary impressionism 
string out a continuous series of pointillistic impressions is to misinterpret an artistic process that searches 
for a teclmique to express a reality within the outer limits of its own médium. A writer cannot sei^e upon 
the mode of a spatial art and appropriate it Wholesale into the temporal experience of literature. Literary 
impressionists stepped back from the painters and rendered human consciousness and acts of perception. 
Literary impressionism is a temporal process depicting both a spatial and a temporal act. Time dnrationally 
links the fragments of spatiali^ed perception, and consciousness spatialiges the flow of time into separate fro- 
gen instants. The impressions of perceiving consciousness in literature must be rendered uniquely. Literature 
is not paintingP 

59 É escusado lembrar que a divisão entre artes espaciais (pintura, escultura) e temporais 
(literatura, música) remete à clássica discussão de Lessing (1996). Precisamente, a revolução 
operada pela ficção impressionista é a de revelar os limites narrativos da temporalidade, expe- 
rimentando com o intervalo cada vez menor entre o passado da diegese (e da espacialização 
dos eventos na consciência de uma ou mais personagens) e o presente da narração (e de um 
narrador cujos limites cognitivos são cada vez menores). 




96 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


definição sumária de Julia von Gunsteren (1990, p. 53): “O impressionismo 
literário é o processo pelo qual as impressões são absorvidas e percebidas por 
alguém.” 60 Ou seja: valendo-se do tempo sempre presente da enunciação, o 
narrador “liga de maneira durativa fragmentos de percepção espacializada”, 
reinterpretando o passado da diegese a partir de limites cognitivos cada vez mais 
pontuados, em que “a consciência espacializa o fluxo do tempo em instantes 
separados” (STOWELL, 1980, p. 14), ressignificando-os. 

Essa possível reorientação interpretativa vincula o impressionismo 
literário à análise da experimentação narrativa com a consciência dos entes 
ficcionais: 

A restrição das informações narrativas à projeção que faz o 
narrador da mente de um personagem é central ao impressionismo, 
assim como a sugestão de que uma inteligência perceptiva é 
uma qualificação da definição de realidade, de que as percepções 
são relativas e potencialmente indignas de confiança, de que as 
interpretações da realidade são sempre aproximativas e de que 
mentes diferentes podem perceber o mesmo fenômeno em termos 
diversos. (NAGEL, 1978, p. 77) 61 

Neste sentido, focando-se não mais na experiência visual e no contraste 
simultâneo da cor (característicos do impressionismo pictórico), mas sim, sob 
a forma escrita, na multiplicidade de sentimentos, sensações e impressões que 
fazem a vida da consciência, o impressionismo literário preconiza um novo 
terreno para a literatura. 62 A percepção fragmentada e nuançada do indivíduo, 


60 “Eiterary Impressionism is the process bj which impressions are absorbed bj a perceiverP 

61 “The limitation of narrative data in fiction to the narrator’s projection of the mind of a character is 
central to Impressionism, as is the suggestion that the perceiving intelligence is a qualification of the definition 
of reality, that perceptions are relative and potentiallj unreliable, that interpretations of reality are forever 
tentative, and that other minds may perceive the same phenomenon in other termsP A mesma opinião é 
a de Bert Bender (1997, p. 7-8), que indica na unreliable narration o terreno por excelência do 
impressionismo literário: “Once attention has shifted from an exterior event to the way that event makes 
an impression on a perceiving mind, maktng the protagonist of the story the observer, rather than the object 
observed, narrative point of vieiv becomes a key element in the text. Eccentric, unusual, distorted bj drugs, 
pain, or mania, the point of vieiv through which the readergains access to the affair takes on an augmented 
importance. [...] Foregrounding the point of vieiv, constructing an eccentric, limite d, ‘unreliable’ narrator, 
involves reinterpreting ‘reality’, even reordering space and time in psychological configurations, rather than 
as commonlj experienced with three dimensional space existing in a time scherne which is linear, univocal, 
and one-wayT Está claro que o uso de um narrador autodiegético nos termos que apresenta o 
autor é apenas uma (talvez a mais emblemática) de suas possibilidades. 

62 Jacques Busse (1996, p. 26-27) aponta no entrecruzamento das ideias oitocentistas a raiz 
do amplo fenomenismo impressionista: “En accord avec le matérialisme, cette nouvelle Vision des 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


97 


ao invés de pressupor uma relação determinista de causalidade, passa a ser 
registrada dentro de suas limitações. 63 E é pelo mergulho na vida íntima dos 
entes ficcionais, bem como pela restrição do canal de informação pelos quais 
são apresentados — mediante o uso da localização interna fixa, variável ou 
múltipla, com possível incidência de polimolidade (GENETTE, 1972; 1983) 
— que se diluem os limites do romance clássico (focalização zero, narrador 
heterodiegético, progressão causal e cronológica do enredo). O resultado é uma 
ampla fragmentação da narrativa, disposta segundo os parâmetros e limites 
cognitivos os mais diversos. 64 

Por conseguinte, o impressionismo literário significa uma revolução 
formal na literatura tão importante quanto a do impressionismo na pintura 
(experimentação narrativa X espectralização cromática), uma vez que desvenda 
seus procedimentos formais destacando a importância secundária dos temas, 
outrora centrais no romance clássico (e na art pompier). bS Antes de defender 


choses se serait voulue la plus objective possible, s’appuyant sur 1’analyse scientifique et 1’alimentant à la fois, 
pour une perception plus exacte et une compréhension plus complete de la réalité. En accord avec l’évolution 
phénomeniste de 1’idéalisme, ce nouveau regard aurait implique, dans un premier ternps, le renoncement à 
toute quite d’ une réalité hors de portée de la perception humaine, pour s’accorder, dans un deuxieme ternps, 
la griserie des illusions sans cesse changéantes du monde des apparences. E’impressionnisme se situait-il du 
côté du concret, ou du côté de 1’imaginaire?» Uma resposta possível à sua pergunta parece apontar 
a dubiedade do objetivismo impressionista: “Of some significance are the fact that whereas impres- 
sionism ivas not a clear-cut type of painting, impressionist writing ivas not commonlj and clearly understood 
by its practitioners; both painters and ivriters considered capturing the fleeting moment as a kind of realism: 
painting, the physical, and writing, the psychological; both relied upon the personal, subjective attitudes and 
moods of the artist; both thought ‘rendering’ more effective than mere ‘reporting’; and both shocked their 
contemporaries, who believed thern to be wildly unrealisticP (TEETS, 1992, p. 41) 

63 Assim, não é exagero afirmar, com Albérés (1962, p. 190, grifos do autor): “Multiple, 
tourbillonante, faite de poussières lumineuses suspendues dans le vide, la réalité impressioniste ne se raconte 
pas, ne se décrit rnême point. [...] Eoin de la Vision objective, 1’impressionisme en effet est une plongée dans 
la conscience. Non seulement la vie individuelle, mais le tissu indistinct que forment 1’existence commune, se 
mêlent dans cette kermesse de sensations premières qu’est l’impressionismé\ 

64 “The mental activity of the impressionist narrator fragments reality and ‘defamiliariges’ everyday occur- 
rences by setting thern in new and unexpected contextsT (BENDER, 1997, p. 40) 

65 A ficção impressionista é uma crítica não apenas à forma do romance clássico, mas tam- 
bém aos modelos literários então em voga. Diversos dos elementos indicados podem ser 
vistos como reações pontuais ao realismo, ao naturalismo, ao romantismo. Contra o realis- 
mo, opõe a fragmentação do enredo e a desestruturação do narrador “onisciente”; contra 
o naturalismo, opõe à causalidade de seu estudo de temperamento a realidade múltipla (e 
transpessoal) das sensações; contra o romantismo, opõe à centralidade do eu a estreiteza de 
seus limites cognitivos e a parcialidade de seus propósitos. 




98 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


uma escola ou tradição qualquer, e analogamente ao impressionismo pictórico 
perante o automatismo da representação, o impressionismo literário opõe-se a 
toda forma de automatismo do pensamento, consciente de que “a impressão 
pura, de virgem originalidade e autenticidade rigorosa, ao adquirir expressão 
idiomática, é entreposta a uma série de lembranças e experiências acumuladas 
nas formas do idioma” (ALONSO, 1942, p. 211), 66 ressignificadas por uma 
situação comunicativa particular (narrador, narrado, narratário). 

Dada a centralidade de suas inovações dentro de seu próprio métier ; e 
apesar das analogias indicadas, falar em impressionismo literário não demanda, 
contudo, quaisquer comparações com o impressionismo pictórico. Há, não 
obstante, ao menos duas razões para a manutenção do termo “impressionismo” 
em sua nomeação: recuperar a pluralidade dos pintores assim denominados e 
sua reação comum perante um público ávido por quadros obsoletos (paralela 
à pluralidade de autores impressionistas e sua crítica comum ao romance 
clássico); 67 e a reflexão sobre a materialidade da arte pressuposta na crítica de 
Louis Leroy às telas “inacabadas” dos impressionistas, à maneira de uma “ peinture 
d’impression ” (paralela à experimentação narrativa e à denuncia da impossível 
idoneidade — ideológica, sentimental — do narrador). 68 Como observa Pascal 

66 “La impresión pura, de virgen originalidad y de autenticidad rigurosa, en el instante de adquirir ex- 
presión idiomática es intervenida por la montaria de recuerdosj experiencias acumuladas en las formas dei 
idioma” . 

67 Veja-se o artigo de junho de 1879 de Bertall (1989, p. 143), um dentre tantos ridiculariza- 
dores contra o grupo: “Les impressionnistes ontjété au panier leur nom de l’an dernier. Cette année, ils 
s’intitulent indépendents, quitte à changer de nom 1’année prochaine si le nom d’indépendants ne leur réussit 
pas mieux que celui dlmpressionnistes. Au demeurant, ce sont les mêmes. On peut dire d’eux aussi: ils n ’ont 
rien oublié et rien appris, rien qu’un nom nouveau .” (BERTALL, 1989, p. 143) A desimportância 
do nome sob o qual expõem os pintores é sintomática da multiplicidade dos artistas envol- 
vidos em uma única e grande empresa de teor negativo. Está claro que, para além de uma 
autodefesa do grupo, o que é unanimemente proposto - e o que reúne pintores de origens e 
expressões tão diversas, do lado de fora das benesses do Salon - é a negação da arte acadê- 
mica. Trata-se da eliminação programática de seus ditames sobre a construção e a apreciação 
dos quadros. A este respeito, cf. comentários individuais no anexo 1. 

68 O artigo de Leroy, “ L’exposition des impressionnistes! ’ , é o primeiro texto a aventar o termo. 
Publicado originalmente no jornal satírico Le charivari a 25 de abril de 1874, o jornalista con- 
versa com um fictício Père Vincent, paisagista renomado em muitos Salons, que se enfurece 
com a exposição do grupo: “Je le reconnais le favori de papa Vincent! Que represente cette toile ? Voye% 
au livret. — ‘Impression, soleil levant. ” — Impression,j’en étais súr Je me disais aussi, puisque je suis impres- 
sion né, il doity avoir de 1’ impression là-dedans... Et quelle liberte, quelle aisance dans la facture ! Le papier 
peint à 1’état embryonnaire est encore plus fait que cette marine-là ! [...] Le malheureux reniait ses dieuxL 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


99 


Bonafoux (2008, p. 17), o grupo de pintores do qual fazia parte Monet, Sisley, 
Pissarro, Renoir, Degas, Morisot etc. foi denominado de diversas formas ao 
longo de sua existência — “ impressionnistei ’, “ indépendanti\ “ impressionnalistei ’, 
“ intransigêantr etc. — , e foi apenas por acaso que o nome utilizado para a 
exposição de abril de 1 877 na rua Le Peletier permaneceu, fazendo com que tais 
artistas, muito embora “tenham feito de tudo para evitar passar por uma escola, 
fossem considerados, pelo olhar de outrem, e apesar deles próprios, como um 
movimento.” 69 Logo: 

Eles não tem um método — somente métodos. [...] O impressionismo 
abrange uma grande amplitude de experimentações, embora poucas 
delas tenham sido levadas à conclusão no século XIX. Acima de 
tudo o impressionismo é uma área de conflito entre visão e projeto, 
entre percepção e representação [...] (SYPHER, 1980, p. 136). 

Na literatura, esse “conflito entre visão e projeto, entre percepção e 
representação” (idem) remete, como indicado, à revisão das relações informativas 
entre narrador (es) e personagem (ns), restringindo o canal de informação (foco, 
ou “gargalo” narrativo (GENETTE, 1983, p. 49)) 70 de acordo com os “muitos 


(LEROY, 2008, p. 131-132) Trata-se de clara provocação ao novo estilo, em que se recupera, 
enquanto paralelo ao título do quadro mencionado, a peinture dãmpression como crítica ao 
caráter de esboço e ao todo inconclusivo das telas. Como se sabe, a peinture dhmpression 
corresponde à primeira demão de tinta - sobre tela, mas também sobre muros e paredes - 
que serve para deixar menos porosa (mais acetinada) a tinta que se lhe aplicará por cima. Ao 
dizer que os pintores de 1874 são pintores dãmpression (impression-istas), Leroy está rebai- 
xando a categoria de seus quadros para uma pintura tão corriqueira (e sem arte, reservada 
esta para os quadros do Salon) quanto a pintura de um muro. No entanto, ao indicá-lo, acaba 
por destacar inconscientemente a crítica dos impression-istas à art pompier, bem como seu 
retorno ao mínimo múltiplo comum da pintura através da valorização crescente das relações 
cromáticas, em detrimento do desenho. 

69 “[-••] c>es t ainsi que des peintres qui ont tout fait pour éviter de passer pour une ' école ’ ont été considérés, 
dans le regar d des autres, et malgré eux, comme un mouvement 

70 Convém lembrar o esclarecimento genetteano acerca do conceito de focalização (interna 
e externa, bem como suas infrações, via paralipse e paralepse): “Par focalisation, j 'entends donc 
bien une restriction de \ champ ’, c’est-à-dire en fait une sélection de Information narrative par rapport à ce 
que la tradition nommait 1’omnisáence, terme qui, en fiction pure, est, littéralement, absurde (1’auteur n’ a 
rien à ‘savoir’, puisqu’il invente tout j et qu’il voudrait bien remplacer par information complete — muni de 
quoi c’est le lecteurqui devient ‘omniscient’. Uinstrument de cette ( éventuelle j sélection est un fqyersitué, c’est- 
à-dire une sorte de goulot d’information, qui n’en laisse passer que ce qu’authorise sa situation : Marcei sur 
son talus derrière la fenêtre de Montjouvain. En focalisation interne, le foyer coincide avec un personnage, qui 
devient alors le ‘sujet’ fictif de toutes les perceptionsj compris celles qui le concernent lui-même comme objet: 
le récit peut alors nous dire tout ce que ce personnage perçoit et tout ce qu’il pense (il ne le fait jamais, soit 
par rétention délibérée de telle ou telle information pertinente (paralipse j, comme le moment et le souvenir du 




100 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


fatores que distorcem a percepção humana, ou que atrasam o reconhecimento 
daquilo que é relevante.” (WATT, 1979, p. 178) 71 

Tal desnível temporal entre a percepção do fenômeno e seu reconhecimento 
pela consciência define o que para Ian Watt (1979, p. 179) consiste, de um 
ponto de vista narrativo, na essência do impressionismo literário — o conceito 
de “ delayed decoding ’ : 72 

[...] o dispositivo do delayed decoding simultaneamente encena os 
aspectos objetivos e subjetivos de momentos críticos. O método 
também tem a clara vantagem de convencer-nos da realidade da 
experiência descrita; não há nada estranhamente seletivo a respeito 
da forma pela qual é narrado; ao lermos, tal como na vida, estamos 
inteiramente engajados em extrair um sentido qualquer dentre o 
bombardeio aleatório das impressões sensoriais. 73 

Uma breve digressão sobre o “delayed decoding o conceito de Watt 

dialoga com o dispositivo retórico do “ hysteron proteron ” (literalmente, “o último 

no [lugar do] primeiro”), que consiste da inversão no discurso entre a ideia 

central a ser expressa, deixada para o fim da sentença, e as demais, secundárias 

(à maneira, portanto, de um hipérbato). Aplicado à narrativa, trata-se de quando 

“um autor apresenta um efeito e posterga a apresentação da causa do mesmo 

efeito” (WATTS, 2007, p. 20), 74 como na passagem de The heart of darkness , de 

Joseph Conrad, em que o narrador observa gravetos voarem pelo ar, apenas 


crime dans Roger Ack royd); il ne doit en príncipe dire rien d’autre ; s’il le fait, c’est de nouveau une altération 
(paralepse), c’est-à-dire une infraction, délibérée ou non, au parti modal du moment, comme lorsque Marcei 
‘perçoit’ — et non devine — les pensées de Mlle Vinteuil à Montjouvain. En focalisation externe, le foyer se 
trouve situé en un point de Punivers diégétique choisi parle narrateur, hors de tout personnage, excluant par là 
toute possibilite d’information sur les pensées de quiconque — d’ ou Pavantage pour le parti pris ‘behaviouriste’ 
de certains romanciers modernes .” (GENETTE, 1983, p. 50-51) 

71 “[...] the various factors ivhich normally distort human perception, or ivhich delays its recognition of what 
is most relevant and importante 

72 Uma tradução possível do termo de Watt poderia ser “compreensão em atraso”, uma vez 
que remete tanto ao hiato interpretativo do narrador quanto ao do leitor, apresentado a uma 
série de informações tão surpreendentes quanto as experiências narradas. 

73 “[...] the device of delayed decoding simultaneously enacts the objective and the subjective aspects of 
moments of crisis. The method also has the more obvious advantage of convincing us of the reality of the 
experience ivhich is being described; there is nothing suspiciously selective about the ivay it is narrated; while 
we read we are, as in life, fully engaged in trying to decipher a meaning out of a random and pell-mell bom- 
bardment of sense impressionsP 

74 “Delayed decoding occurs when an author depicts an effect but markedly delays the presentation of the 
cause of that effect .” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


101 


compreendendo a seguir o que são, com um grito de surpresa (flechas). 75 

A inversão da ordem natural das ideias (pressuposta pelo “ hysteron 
proterorí ’), tal como a quebra da linearidade do enredo e a fragmentação da 
consciência engendradas pelo “delayed decoding \ corresponde a uma falácia lógica 
que pretende comunicar os limites cognitivos dos entes ficcionais, colocando- 
os em um patamar epistemológico semelhante ao do leitor. Por conseguinte, a 
narrativa impressionista demanda mais de seu leitor, “confundido e desorientado 
pelo estranhamento de partes desconexas, destacadas de seus contextos 
cotidianos.” (BENDER, 1997, p. 50) 76 

Mediante o dispositivo do “ delayed decodinf ’ o processo narrativo consolida- 
se o carro chefe do impressionismo literário, pois “seu método fundamental 
é apresentar a sensação de forma a criar o efeito de experiência sensorial 
imediata, num dispositivo que coloca o leitor na mesma posição epistemológica 
de determinado personagem.” (NAGEL, 1978, p. 76-77) 77 

E significativo, portanto, que boa parte da ficção impressionista se 
valha de narradores de marcada limitação cognitiva como forma de derivar de 
sua percepção limitada (enviesada) de mundo um eixo comum de leitura às 


75 “Sticks, little sticks, ivere flying about— thick; they were whigying before my nose, dropping beloiv me, 
striking behind me against my pilot-house. All this time the river, the shore, the woods, were very quiet — 
perfectly quiet. I could only hear the heavy splashing thump of the stern-wheel and the patter of these things. 
W ? cleared the snag clumsily. Arrows, by Jove! W ? were being shot at! I stepped in quickly to dose the shutter 
on the land sideP (CONRAD, 2004, p. 67) 

76 Veja-se o trecho, na íntegra: “In an impressionist text, the readerwill be at first confused and disori- 
ented by the defamiliarigation of its fragmentary parts detached from their normal, everyday contexts. Nor- 
mal landmarks for the reader in space, time, and causality will be missing. The artifact will pose questions 
about leveis of reality: Whatpart of the text is fictive ‘reality’, what dream, nightmare, or halluánationN 

77 É interessante destacar na íntegra o trecho em que aparece tal citação: “Indeed, narrative 
method is an especially important consideration for writers within the Impressionistic mode, for their concern 
with vision, with sensory experience, and with the apprehension of realiy led to a new emphasis on the control 
of point of vieiv. The fundamental method of Impressionism is the presentation of sensation so as to create 
the effect of immediate sensory experience, a device which places the reader at the same epistemological posi- 
tion in the scene as the character involved. The qualijying variable in this method is the determination of the 
human intelligence which receives the sensations, a matter not operative in Impressionistic painting and music 
because those forms proceed on the assumption that it is the artist or composer who does the perceiving. But 
fiction involves a formulating center of intelligence, a narrator who, in Impressionism, projects not what he 
perceives but what is apprehended and understood by one or more of the characters. The effect is a distancing 
from the author, a sensory objectiviy which requires extraordinary skill in establishing verisimilitudeP 




102 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


fragmentações do enredo. 78 Afinal: 

Situar a realidade nas impressões sensoriais implica mudar o 
enredo romanesco de um relato para a apresentação de um caso 
faffaid\ dado em tempo e espaço psicológicos, além de trazer para 
o primeiro plano o processo de reflexão da inteligência perceptiva 
do contador da estória mediante uma narração indireta, limitada, 
desconfiável [“ unreliable Por sua vez, inovações como essas na 
forma do romance põem o leitor em um papel coparticipativo ou 
construtivo ao deparar-se com o texto. (BENDER, 1997, p. 10) 79 

Está claro que, para além do impressionismo pictórico, o impressionismo 
literário pretende abarcar toda a dimensão sensorial da experiência, fazendo com 
que “quaisquer semelhanças entre ambos emanem de semelhanças filosóficas — 
não técnicas. Os [escritores] impressionistas não representam apenas a percepção 
visual; inversamente, eles apresentam uma experiência epistemológica muito 
mais ampla.” (PETERS, 2001, p. 14-15) 80 Assim, a dificuldade aparente de 
definição do impressionismo literário corresponde à dificuldade em “determinar 
a relação entre os objetos da consciência e sua representação” (idem) 81 pela 
literatura, ignorando a centralidade das questões de focalização e do “ delajed 
decodin£\ 

Parece escusado dizer, a este ponto, que tal revolução técnica do 
impressionismo literário limite-se ao domínio da narrativa (numa confirmação 

78 Diga-se de passagem, há certa analogia entre tal predileção do impressionismo literário 
por narradores de pouca credibilidade e os fenômenos naturais (neblina, chuva, granizo etc.) 
presentes em telas impressionistas, que se interpõem à visão desimpedida (quiçá “imparcial”) 
dos temas representados: “ForMonet, the fog in a painting, like the narratods hage, is not an accidental 
interference ivhich stands behveen the public and a dear vieiv of the artisfs ‘real’ subject: the conditions under 
rvhich the vieiving is done are an essential part of ivhat the pictorial — or the literarj artist sees and therefore 
tries to convejP (WATT, 1979, p. 170) E bom, lembrar, todavia, os limites de comparações des- 
sa ordem, uma vez que, tanto na literatura quanto na pintura, há impressionismos (no plural): 
“ However it is cruáal to remember that Conrad and Ford, like the painters in the sdiool of Impressionism, 
could share basic aesthetic convictions while producing ivorks as dijferent as those of Céganne and Monet.” 
(THORNTON, 1992, p. 44) 

79 “Rooting reality in sensorj impressions demands changing the plot of a novel from a report to a rendering 
of an affair, set in psjdoological time and space, thus foregrounding the process of ratioánation of the per- 
ceptive intelligence of the storj teller, through indirect, limited, unreliable narration. Such innovations in the 
form of the novel, in turn, cast the reader in a parti cipatory or constructive role when encountering the textP 

80 “[. . .] any similarities behveen impressionist art and literature result from similarities in philosophj — 
not technique. Nor do impressionists simply represent visual perception; instead, thej render a mudo broader 
epistemological experienceP 

81 “[...] determining the relationship behveen objects of consdousness and their representation in impres- 
sionist art and literature [. . .]” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


103 


extemporânea da tendência “narrativista” mencionada), desempenhando 

inclusive, ao longo do século XX, um importante papel no desenvolvimento 

das teorias da narrativa . 82 Afinal, 

a lógica do impressionismo literário sugere que a correspondência 
entre a percepção dos fatores e a interpretação dos sinais nunca é 
certa, e que a realidade é sempre inescrutável. O impressionismo 
literário pressupõe uma constante vigilância de que quaisquer 
descrições da realidade dependem da clareza com que são 
percebidas, apercebidas ou compreendidas. Um modo ficcional que 
apresenta tal pressuposição deve representar sua realidade em uma 
forma esteticamente compatível, de forma a sugerir tal restrição 
da percepção e do conhecimento em pontos de vista cambiantes e 
incertos. (GUNSTEREN, 1990, p. 18) 83 

Nenhum meio artístico é mais apropriado à representação da consciência 

do que a narrativa ficcional, dada sua capacidade de reproduzir falas de terceiros 

valendo-se de sua própria condição de linguagem. Antes de imitá-las, a narrativa 

é um ato de linguagem, e não pode haver imitação particular à 
narrativa que não exista antes na linguagem em geral. Uma narrativa, 
como todo ato verbal, não pode senão informar, isto é, transmitir 
significações. A narrativa não “representa” uma história (real ou 
fictícia), ela conta uma história; ou seja, ela a significa pelo meio da 
linguagem - exceção feita para os elementos já verbais desta história 
(diálogos, monólogos), que ela não imita, obviamente não por ser 
incapaz, mas simplesmente porque ela não tem necessidade de 
fazê-lo, podendo diretamente reproduzi-los, ou mais exatamente, 
transcrevê-los. Não há lugar para a imitação na narrativa, que está 
sempre do lado de cá (narrativa propriamente dita) ou do lado de lá 


82 Sobretudo na relação entre os prefácios de Henry James a seus romances e a influência 
duradoura dos mesmos sobre The craft of fiction, de Percy Lubbock, que sistematiza os modos 
narrativos de apresentação e de tratamento e erige o uso específico da focalização jamesiana 
(cujo exemplo maior é What Maisie kneiv ) em modelo. A respeito de tal relação, bem como da 
dependência visual das teorias da narrativa, cf. o artigo “Pelos olhos de Maisie, pelos olhos 
de quem?” (SANDANELLO, 2013b) 

83 “The logic of literarj impressionism suggests that the correspondence between perception of the factors 
and interpretation of the signals is never certain and that reality is alwctys inscrutable. Titerary Impression- 
ism involves a constant awareness that any description of reality depends upon the clarity ivith which it is 
perceived, apperceived or mderstood. A fictive mode that presents such an assumption must render its reality 
in an aesthetically compatible form, in a manner which suggests a restriction of perception and knowledge in 
shifting, uncertain points of vieivP 




104 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


(diálogo). (GENETTE, 1983, p. 29, grifos do autor) 84 85 
Estando, pois, garantida a transcrição imediata da fala das personagens 
pela autonomia de seu meio de expressão característico (linguagem verbal), a 
narrativa impressionista pode operar um nivelamento epistemológico (NAGEL, 
1978; PETERS, 2001) entre o narrador e o leitor, a ser interpretado em vários 
níveis, segundo as circunstâncias em que for empregado. 86 

Cabe observar “apenas”, para tanto, os limites informativos indicados 
em cada texto — quem narra, para quem, e quais seus propósitos. 

Excurso pela prosa impressionista (dois exemplos) 


Como forma de ilustrar a presente discussão e de estabelecer seus limites 
para além de uma visada conceituai puramente “comparatista” do problema 
(discussão do impressionismo pictórico X discussão do impressionismo 
literário), 87 é válido pospor a tais reflexões comentários ao menos a dois 


84 “ [...] est un acte de langage, et qu’il ne peut doncy avoir davantage d’imitation dam le récit en particulier 
qu’il n’y en a dam le langage en général Un récit, comme tont acte verbal, ne peut qu’informer, c’est-à-dire 
trammettre des significatiom. Le réát ne ‘représente’ pas une histoire ( réelle ou fictive), il la raconte, c’est-à- 
dire qu’il la signifie par le mojen du langage — exception faite pour les éléments déjá verbaux de cette histoire 
(dialogues, monologues j, qu’il n’ imite pas non plus, non certes ici parce qu’il ne le peut pas, mais simplement 
parce qu ‘ 'il n ' 'en a pas besoin, pouvant directement les reproduire, ou plus exactement les transcrire. II n’j a pas 
de place pour l’imitation dans le réát, qui est toujours en deçà ( récit proprement dit) ou au-delà (dialogue).” 

85 O comentário genetteano impede muitas confusões indevidas, como, por exemplo, as de 
Judith Labarthe-Postel (2002, p. 10), que multiplica as interrelações entre pintura e literatura, 
tornando-as ainda obscuras: “[...] 1’insertion d’une description de peinture dans un roman change en 
quelque sorte le statut de la Vision du lecteur En effet, quand celui-ci lit un roman, il assiste à une repré- 
sentation du réel, qui lui est donnée à voir par le narrateur. Mais quand il ‘lit’ une peinture, c’est à une 
représentation du réel qu’il a affaire .” 

86 Paul Armstrong define quatro dimensões interpretatitvas afetadas pelo impressionismo 
literário: “In each of four crucial dimensions of fiction, the representational practice of these impressionists 
is a commentary on a major aspect of interpretation: 1 ) the role of aspects and perspectives in representation 
and the relation of disguise and disclosure in understandingg 2) the function of the manner of narration in 
controlling a work’s perspectives and the problem of adjucating the validity of conflicting interpretations; 3) 
the temporality of the narrative and the role of expectations in understanding •; 4) the relation behveen the 
reader and the world offered by the work and the dilemma pose d by the gap behveen the self and others, the 
basis of much if not all misunderstanding. (ARMSTRONG, 1983, p. 258) Apesar de funcionais, 
tais observações apenas estratificam a experimentação narrativa (anteriormente apresentada 
nos termos mais simples de focalização e de “delayed decoding (j, cuja manutenção seria assim 
preferível. 

87 Paralelamente, um exemplo de prosa impressionista voltada para o comparatismo pin- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


105 


exemplos de textos impressionistas. 

A vol d’oiseau, exemplos sintomáticos das experimentações narrativas 

indicadas são aqueles de A la recherche du temps perdu, de Marcei Proust, e de 

What Maisie kneiv , de Henry James. No primeiro, é focalizada a vida interior do 

narrador autodiegético, Marcei, em seus mínimos pormenores: 

Comoção violenta de todo o meu ser. Logo à primeira noite, como 
sofresse de uma crise de fadiga cardíaca, procurando dominar meu 
sofrimento, curvei-me com lentidão e prudência para descalçar- 
me. Mas, mal havia tocado o primeiro botão de minha botina, 
meu peito inflou-se, cheio de uma presença desconhecida e divina, 
soluços me sacudiram, lágrimas brotaram de meus olhos. O ser que 
vinha em meu socorro e que me salvava da aridez da alma [...] era 


tura X literatura, i.e., aproximando-se do ‘“pontilhismo’, ou pintura com palavras, captando 
a realidade não em estado de repouso, mas nas impressões e no conhecimento afetivo de 
aspectos e partes do real” (COUTINHO, 1978, p. 224) é o de Pescador de Islândia, de Pierre 
Loti. Houve mesmo quem considerasse que tal obra estivesse “ recreating Monets impressionism 
in liter ature” (título do sugestivo capítulo dedicado ao romance no livro de Richard Berrong 
(2013) PuttingMonet <& Rembrandt into ivords). Um exemplo de tal pictorialismo pode ser visto 
no seguinte trecho: “A Maria projetava sobre a vastidão uma sombra, que era tão longa como 
a tarde e que parecia verde, no meio daquelas superfícies polidas, refletindo as brancuras 
do céu; então, em toda aquela parte sombreada, que não espelhava, podia-se distinguir, por 
transparência, o que se passava por debaixo da água; peixes inúmeros, miríades e miríades 
todos iguais, deslizando docemente na mesma direção, como tendo um fim na sua perpétua 
viagem. Eram os bacalhaus, que executavam as suas evoluções de conjunto, todos a seguir, 
no mesmo sentido, bem paralelos, incessantemente agitados de um tremor rápido, que dava 
um ar de fluidez a esse amontoado de vidas silenciosas. Às vezes, com uma pancada rápida 
da cauda, todas se voltavam ao mesmo tempo, mostrando o brilhante do ventre prateado, e 
depois a mesma pancada de cauda, o mesmo reviramento, propagava-se ao cardume inteiro 
por ondulações lentas, como se milhares de lâminas de metal tivessem lançado, entre duas 
águas, cada uma um pequeno relâmpago.” (LOTI, 1974, p. 37-38) A sobrevalorização do 
jogo de cores entre a sombra do barco de Yann (“Maria”) e o azul do mar, dos traços ver- 
des sobre a transparência da água, dos “peixes inúmeros, miríades e miríades todos iguais” 
(idem), do movimento dos bacalhaus e do contato de suas barrigas brancas com a espuma 
das vagas, “mostrando o brilhante do ventre prateado [...] como se milhares de lâminas de 
metal tivessem lançado, entre duas águas, cada uma um pequeno relâmpago” (idem) etc. não 
parece assinalar nenhuma inovação especificamente literária. O efeito visual do movimento 
dos peixes faz quando muito uma referência indireta ao desespero amoroso do jovem Yann, 
indeciso entre desposar Gaud ou continuar sua vida de marinheiro. Há mesmo uma conota- 
ção fortemente romântica nas cismas de Yann, que mais tarde desposa a amada sem deixar 
sua profissão, numa indecisão que termina em um naufrágio simbolizado num segundo ma- 
trimônio, desta vez com o mar. Parece exagerado, pois, sobrevalorizar tais nuanças pictóricas, 
tendo como norte unicamente a pintura impressionista: “S ometimes, doing somethingMonet cottld 
only dream of, Loti even created colors that cannot be defined in terms of those m already knoiv. In bis 
opening description of the North Atlantic, for example, the narrator in Iceland fisherman speaks of ‘all 
thatpaleness of things [that] displayed nuances of color that have no name. *’ (BERRONG, 2013, p. 48) 




106 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


eu e mais do que eu (o continente é mais que o conteúdo e que 
mo trazia). Acabava de perceber, em minha memória, inclinado 
sobre o meu cansaço, o rosto terno, preocupado e decepcionado 
de minha avó [...]. Muitas vezes eu tinha falado nela desde esse 
momento e também pensado nela, mas, sob minhas palavras e meus 
pensamentos de jovem ingrato, egoísta e cruel, jamais houvera nada 
que se assemelhasse à minha avó, porque na minha leviandade, meu 
amor ao prazer, meu hábito de vê-la doente, eu não continha em 
mim senão em estado virtual a lembrança do que ela havia sido. 
Em qualquer momento em que a consideremos, a nossa alma total 
tem apenas um valor quase fictício, apesar do numeroso balanço de 
suas riquezas, pois ora umas ora outras, são indisponíveis [...] Pois às 
perturbações da memória estão ligadas as intermitências do coração. 
(PROUST, 1998, p. 153-4) 

Note-se no trecho acima a digressão do narrador sobre si, falando de 
dentro da diegese da obra e fazendo dela o material de sua vida interior. A 
recordação momentânea de sua avó sobrepõe-se ao presente de Marcei, que 
se esquece de seu cansaço para ocupar-se da reconstituição “do que ela havia 
sido” (idem). Como confessa, a ação impensada do cotidiano que o prendia 
em seu “amor ao prazer” e fazia de si alguém inferior a si próprio, preso às 
contingências materiais, ofusca a percepção integral da avó, e é justamente isso 
o que se apaga no movimento impensado de tirar as botas (idem). É a falta de 
reflexão prática sobre o que fazer que, no gesto essencial do corpo ao tocar o 
primeiro botão da botina, recupera-lhe a vontade de aninhar-se no colo da avó, 
como o fazia quando pequeno, protegido do cansaço e das preocupações da vida 
adulta. Acostumado com sua doença até então, jamais Marcei a contemplara 
pelo que ela fora outrora. Pois, como diz, apesar das riquezas da alma, muitas 
informações ficam “indisponíveis” com o tempo, e apenas podem voltar se 
ligadas às “intermitências do coração” — i.e., ao movimento mais íntimo e 
despreocupado de que pode gozar o homem, e que lhe fica gravado no corpo 
independentemente do intelecto (idem). Os objetos que ocupam o narrador — sua 
avó de outrora, seu desprezo e inconsequência de jovem, seu desejo profundo 
de entender a infância — fazem com que, sobrepostos numa mesma experiência, 
surja o processo metafórico, capaz de recuperar e paralisar as intermitências do 
coração na fixidez da escrita. Destarte, ao aproximar sensações dispersas no 
tempo, ela evoca “sua essência comum no milagre de uma analogia — com a seguinte 
vantagem da metáfora sobre a reminiscência: esta é uma contemplação fugitiva 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


107 


da eternidade, enquanto aquela se beneficia da perenidade da obra de arte.” 

(GENETTE, 1972, p. 42, grifos do autor) 88 

Por sua vez, What Maisie kneiv , de Henry James (2010, p. 45), envereda 

por uma experimentação diversa: 

[...] a única coisa que se fazia era comentar, entre suspiros, que 
felizmente a criança não ficava o ano inteiro onde estava no 
momento desagradável em questão, e que, além disso, ou por ser 
muito esperta ou por ser muito burra, ela parecia não entender nada. 

A hipótese de que a menina era estúpida, que terminou sendo 
aceita por ambos os pais, correspondeu a uma grande data em sua 
pequena existência: o dia em que ela teve a visão completa, íntima 
porém definitiva, do estranho papel que lhe fora reservado. Foi 
literalmente uma revolução moral, transcorrida no mais profundo 
de sua natureza. As bonecas imóveis sobre as prateleiras escuras 
começaram a mexer braços e pernas; formas e palavras antigas 
passaram a ter um sentido novo, que a assustava. Experimentava 
uma sensação nova, uma sensação de perigo; e junto com ela um 
novo remédio surgiu para enfrentá-la, a ideia de um eu interior — em 
outras palavras, da dissimulação. 

Aqui, não se trata mais de um narrador autodiegético, mas da localização 
interna fixa sobre a menina, a partir de um narrador heterodiegético. E “pelos 
olhos de Maisie” que se desenvolve a ação, e por ela que somos apresentados 
às demais personagens. 89 Em contato com o drama do divórcio de seus pais — 
e de seu jogo mesquinho por jogá-la um contra o outro, como prova viva da 
falta de carinho e cuidado do cônjuge — , Maisie amadurece muito rapidamente, 
percebendo o quanto eles acham-na “estúpida”. Apesar de falarem dela apenas 
por suspiros, ela logo tem “a visão completa, íntima, porém definitiva, do 
estranho papel que lhe fora reservado” (idem) de joguete dos rancores dos pais. 
Deixando de observar seus brinquedos com um olhar infantil, Maisie chega a 
uma compreensão ímpar do mundo, estranha para sua idade, e a “revolução 


88 É digno de nota o sentido impressionista que sugere Gérard Genette (1972, p. 50) ao citar 
Benjamin Crémieux e André Maurois, sobre o processo analógico e metafórico de Proust, 
chamando-o de surimpressionisme-. “De fato, o traço mais característico da representação prous- 
tiana é sem dúvida, com a intensidade de sua presença material, essa superposição de objetos 
simultaneamente percebidos, que fez falar de sua arte como um “sobreimpressionismo”.” 

89 Para uma discussão a respeito do desnível entre o título original do romance e o de sua 
tradução brasileira, bem como de suas ramificações nas teorias da narrativa (via Percy Lubbo- 
ck), cf. o já mencionado “Pelos olhos de Maisie, pelos olhos de quem?” (SANDANELLO, 
2013b). 




108 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


moral” da perda da inocência dota de “um sentido novo” as “formas e palavras 
antigas”, permitindo que ela, ainda pequena, desenvolva um “eu interior” 
próprio “da dissimulação” (idem). Este é o comportamento que Maisie passa 
a desenvolver desde então, manipulando a vaidade de sua mãe e ignorando os 
projetos grandiosos, mas nunca realizados, de seu pai. Trata-se, em suma, do 
estudo de sua consciência dentro dessa situação ímpar, em que seu olhar de 
menina-moça, na transição brusca da infância para a vida adulta, importa mais 
que o enredo anacronicamente romântico das constantes traições de seus pais. 

Conclusão 

Elegendo, pois, a via “narrativista” de leitura por ser a única que garante, 
a um só tempo, tanto a existência do impressionismo literário quanto a análise 
de sua contribuição literária , é possível observar na experimentação narrativa 
com as focalizações (simbolizadas pelo dispositivo do “ delajed decoding ) uma 
síntese da revolução impressionista na literatura. Trata-se de um aprendizado 
dos limites cognitivos pressupostos pela comunicação narrativa, que abre as 
portas, por sua vez, para a literatura moderna. 

Inversamente, embora seja possível falar em uma visão de mundo comum 
à ficção da virada do século XIX para o XX em regime não de subserviência para 
com as técnicas ou propósitos especificamente pictóricos, mas enquanto parte de 
uma ampla “atomização [da experiência] do mundo” (KRONEGGER, 1973), 
com base nas analogias mencionadas, insistir em tal comparação faria indistinguir 
não apenas o impressionismo literário e o pictórico, como também as fronteiras 
entre o impressionismo e o modernismo na literatura. Assim, se por um lado 
a revolução formal deflagrada pelo impressionismo na pintura e na literatura 
é o ponto de partida do modernismo em ambas as artes, por outro, misturar 
os termos pode levar a confusões que seria melhor evitar. Os desdobramentos 
do modernismo são muitos e possuem um sentido particularmente especial na 
literatura brasileira. Neste sentido, insistir nessa comparação faria confundir 
ainda mais textos “pré-modernistas” e “modernistas”, tomando uns como 
(falsos) sinônimos dos outros. 90 

90 Em todo caso, há autores que o afirmam, situando o impressionismo não como início. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


109 


mas como “quase” sinônimo de modernismo: “Far from there being a group of ivriters commonly 
identified as impressionists in eludes Flaubert, Daudet, Proust, Mann, Chekhov, Tolstoy, Wilde, George Mo - 
ore, Tawrence, Conrad, Ford, Forster, Virgínia Woolf, Dorothy PJchardson, Joyce, James, Crane, Faulkner, 
Dos Passos, and Gertrude Stein. The application of the term impressionist to so many ivriters so different 
from each other indicates that the term is almost a synonym for ‘modem’ — applied to fiction which renders the 
characters’ stream of consciousness, or which focuses upon intense moments of experience, or which departs 
from a chronological time schemeT (NETTELS, 1992, p. 214-215, grifo da autora) 





3. DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO DO 

MEIO TERMO 

Um valor é uma relação. O que vale um 
tom só pode dizê-lo a oposição. Assim da 
luz, assim do som, assim em todo graduar 
de sensações. 

(GAMA, 1889c, p. 58) 

Ideias, abstrações, muitas que sejam não 
velam o sentir; através da sua transparência 
de mica incolor passará sempre a ardência 
sugestiva de uma sensação, se o artista 
é poeta, se ele mesmo vibra. Mas não 
pode haver vibração uníssona, sem uma 
alienação de simpatia. Ora, quem poderá 
hoje ser simpático em arte, se não tiver a 
complicação de sensações, a agitação de 
ideias, a necessidade angustiosa de explicar 
o mundo, de doutrinar, de convencer aos 
outros para se convencer a si mesmo, se 
não tiver traços morais que sejam nossos, 
se não puder mostrar-nos, singularmente, 
idealmente amplificadas para a emoção 
artística, aparências novas, aspectos não 
revelados desse Proteu de mil figurações, 
que é a nossa alma indivisível? (GAMA, 

1888g,p.2) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


113 


A meio caminho do “meio termo” 


ssim como sua obra, o pensamento estético de Domício da Gama 
encontra-se disperso de tal maneira que seria necessário, antes de discuti- 
lo (quanto mais, de defini-lo), observar seu lento amadurecimento 
ao longo de seus momentos mais significativos. 91 Algo, porém, facilita a 
reconstrução desse quebra-cabeça: o recorte aqui proposto das questões 
relativas especificamente a seu impressionismo literário. 

Obviamente, enquanto alguém que escreve a quase totalidade de sua 
obra ficcional entre 1886 e 1898, Domício da Gama não se diz um escritor 
impressionista. Por um lado, tal seria equivocado não apenas no que toca à 
interpretação de sua obra, mas também da época como um todo: as exposições 



91 Para tanto, recomendamos a leitura dos comentários presentes no anexo 2, que 
abrangem desde os textos inéditos do autor compilados no anexo 3 até aqueles descobertos 
por Borges (1998). Desse conjunto volumoso de textos é que foram retiradas as crônicas mais 
ajustadas à discussão do presente capítulo, muito embora diversos elementos importantes 
para a reconstituição de seu pensamento - estético ou não, abrangendo sua posição política, 
suas reflexões sobre o Brasil e a França, sua posição pessoal ante figuras da intelectualidade 
de então - estejam aí à disposição de novos estudos e de novos enfoques. 




114 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


impressionistas encerram-se em 1886, desdobrando-se posteriormente em 

novas vertentes que seriam absorvidas lenta e difusamente pela literatura. Por 

outro, tampouco é exato que o termo não conste de suas reflexões. Seria difícil 

escapar à influência do impressionismo, que, à essa época, 92 já equivalia a uma 

nova vertente pictórica amplamente conhecida na França: 

A história de seus combates, de suas vitórias, compreende três fases: 
entre 1863 e 1870, o impressionismo bateu-se contra os ‘Salons’, 
afrontou-os, insultou seus jurados. Entre 1870 e 1886, ele se opôs 
ao Salon. A partir de 1886, consagrado, reconciliou-se com eles. 
(HERTZ, 1 9 [ — ] , p. 8) 93 

É importante destacar que sua viagem à França é feita na qualidade de 
correspondente da Gaveta de Notícias, papel que desempenha em tempo integral 
entre os anos de 1889 e 1891, desde seus longos relatos acerca da Exposição 
Universal. 94 Atento ao universo artístico da capital, há nesse período como 
que uma unidade entre sua escrita e sua concepção de arte, que se poderia 
chamar de “impressionismo do meio termo”. Isto por três grandes motivos, 
dos quais um parece já esclarecido: a impossibilidade de discussão simultânea 


92 “Vers 1885, le grand moment de l’impressionnisme a vécuP (CLARK, 1962, p.106) 

93 “Plhistoire de ses combats, de ses victories, comprit trois phases: entre 1863 et 1870, l’impressionnisme se 
battit contre les ‘Salons’, les affronta, brava leursjurys. A partir de 1 870,jusqu’en 1886, il leur opposa son 
propre Salon. A partir de 1886, consacré, il se réconcilia avec euxP Diga-se de passagem, tal repúdio 
dos impressionistas pelos salons é corroborado por Domício, que se mostra avesso à afluência 
mercenária de obras as mais diversas: “Os milhares de telas, de estátuas, de gravuras, de ob- 
jetos de arte decorativa, recebidos cada ano dão lugar a contentamentos de muitas ambições 
ilegítimas. As mediocridades se chamam. E expor no salon passa a ser, não mais uma honra, 
porém uma obrigação para os artistas que carecem de viver do seu trabalho.” (GAMA, 1897e, 
p. 22) A raiz de seu repúdio responde a uma lógica de “adaptação psicológica” do observador 
à tela, praticamente impossível em meio a uma profusão de itens: “Nas seções de pintura, por 
exemplo, o olhar que começava a se enternecer diante de uma cena sentimental, arrasava-se 
de lágrimas diante da tela seguinte, que era no entanto uma paisagem luminosa emoldurando 
idílios e embrumava-a de melancolia, emprestando-lhe um caráter sentimental, que não fora 
certamente da intenção do pintor. Aos embaraços individuais da adaptação psicológica ajun- 
tava-se esse da insuficiência de tempo para a integração dos elementos complexos de uma 
emoção estética.” (GAMA, 1889b, p. 1) 

94 “[...] cette année 1889 vit un événement qiti, pour n’avoir que de lointains rapports avec Part, ne laisse 
pas pourtant d’être pourvu d’une certaine signification artistique: ITdxposition universelle. Ge badaud, certes, 
qui flânait parmi ses vanités éphémères ne se doutait pas qu ’un siècle entier de notre peinture — et quel siècle! 
— s’y trouvait, en quelque sorte, résumé. [...] Degas, en effet, Renoir, Sisley, Guillaumin, Berthe Morisot, Ba- 
%ille, Gepine n’y figuraient pas: Céganne, Monticelli, Pissarro, Boudin etMonet n’y étaientpas représentés 
par une, deux ou trois toiles, contre dix-huit Bastien-Gepage, dix Paul Baudry, huit Delaunay. Seul Manet 
avait dü à 1’amitié dAntonin Proust d’y exposer treine peintures. (DORIVAL, 1943, p. 12) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


115 


do impressionismo na pintura e na literatura, sem intervalo entre a apreciação da 
mensagem e do estilo dos quadros e a formação de uma tendência paralelamente 
literária (a rigor, o conceito de impressionismo literário não consta sequer dos 
textos dos Goncourt, resumindo-se aos meios termos da écriture artiste ); 95 sua 
aversão pelos “ismos”, que entende como maneiras incompletas de tradução 
da modernidade; e sua busca incessante por uma estética do “justo meio” 
(GAMA, 1883a, p. 2), capaz de englobar as formas mais avançadas da literatura 
e de fazer-se entender pelo grande público sem privilegiar nem a criação nem a 
recepção literárias. Tal concepção poderia ser chamada, ainda, de impressionismo 
diplomático , cujo objetivo maior é o de fazer vibrar o leitor segundo as sensações 
e impressões veiculadas pelas personagens (mais especificamente, mediante um 
trabalho de apuração da focalização narrativa), 96 sem pretensão teórica que não 
a de um esboço, de um trabalho de amador. Como afirma, extemporaneamente: 
“Cultivo, sim, essa terra seca da crítica com o severo carinho de um amador 
de atos rebarbativos, considerando que há lugar para estética até no trabalho 
ingrato das classificações abstrativas.” (GAMA, 1916, p. 316) 

Após 1891, sua entrada para a diplomacia fez com que suas crônicas 
escasseassem, desencadeando uma reação nefasta em seus contos a partir de 
então, divididos entre uma concepção impressionista de arte e uma consecução 
realista-naturalista, provavelmente tomada de seu convívio com Eça de Queirós. 
Não obstante, mesmo tal desvio decorre do período indicado. Afinal, é lícito 
observar que a “Gaveta de Notícias foi para Domício uma grande escola de 
aprendizado jornalístico e uma querida escola para aumentar seu círculo de 


95 Há um claro diálogo entre o estilo literário e o pictórico na écriture artiste , chamada pelos 
Goncourt de style tacheté , i.e., paralelo às manchas de cor recorrentes na pintura francesa a 
partir de 1860. No entanto, o preciosismo verbal da écriture artiste parece levar na literatura 
para o decadentismo, como muito bem observa Pierre Jourde, ao falar sobre o emblemático 
A Rebours, de Huysmans, que perfaz um acordo tanto do raro na linguagem quanto da busca 
do raro nas sensações de Des Esseintes: “ Mais cet accord du style et du sujet ne signifie pas pour 
autant adéquation entre le mot et la chose, bien au contraire. Langage de 1’excès signifie, précisément, excès 
du signifiant. Si des Esseintes doit, sans cesse se décoller de lui-même pour se voir, les mots sont aussi en re- 
présentation, c’est-à-dire qu’ilj a décalage entre 1’écriture et son objet. C’est ainsi cette façon d u en faire trop’ 
que l’on peut désigner par la formule ‘ écriture artiste’. [...] Ee style tacheté, c’est la recherche systématique de 
la curiosité, 1’alignement de bibelots littéraires » (JOURDE, 1991, p. 79, 85). 

96 Para a análise e levantamento cronológico do mencionado trabalho narrativo em seus 
contos, cf. capítulos 4 e 5. 




116 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


amizades” (BECHARA, 2013, p. 206), sendo Ferreira de Araújo, diretor do 
jornal, quem o recomendou ao grupo de Eça, Eduardo Prado e Rio Branco. 
Desde o início, a literatura parecia prever, pois, a diplomacia, predizendo já em 
1889 o fim de seu aporte estritamente ficcional. 

Voltando à questão do pensamento estético de Domício em termos de 
sua reflexão sobre o impressionismo literário, parece ser recomendável a série 
dos seguintes textos, estrategicamente postados no início, meio e fim de sua 
produção ficcional: “O justo meio” (GAMA, 1883a); três crônicas da coluna 
“De Paris” (GAMA, 1889h; 1889Í; 1889q); “Cousas modernas” (1889e); e 
“Nota para o meu melhor leitor” (1901). Tais textos permitem observar certa 
unidade entre a criação ficcional e a reflexão estética do autor para além dos 
tantos assuntos abordados à vol cfoiseau em seus escritos, que apontam certa 
recusa em aprofundar suas reflexões seja por herança da escrita para a Gaveta 
(necessariamente curta e informativa) seja pelo pudor de tornar-se rebarbativo, 
distanciando-se com isso do público. Em todo caso, “Domício, num rasgo de 
cuidado que misturava o homem público ao autor bissexto, estava preocupado 
em não ofender e ao mesmo tempo não afastar seus leitores.” (FERNANDES, 
2011, p. 15) 

De 1883 a 1888: o impressionismo incipente e do “justo meio” 

De certa forma, a vida pública é o termo que parece reunir, de uma ponta 
a outra, o pensamento estético de Domício da Gama. Assim, se é por conta da 
diplomacia que deixa a literatura pouco antes da publicação de Histórias curtas 
(limitando-se posteriormente a pequenos relatos e impressões de viagens), seu 
primeiro texto publicado, 97 datado de 14 junho de 1883 e intitulado “O justo 


97 Até segundo exame, trata-se, de fato, do primeiro texto publicado de Domício. Há outro 
pouco anterior, “O primeiro exame”, impresso no jornal O alfinete a 31 de março de 1883 
com o pseudônimo de “Décio Moreno”, em que o autor relembra seus tempos escolares e 
seus primeiros exames. A versão do jornal presente na Hemeroteca Digital Brasileira está 
bastante deterioriada, mas permite confirmar a reprodução de Borges (1998). Resta, porém, 
confirmar a validade do pseudônimo, que consta apenas do presente texto. Por ora, não há 
nenhum documento que o comprove — ao menos, não como aquele outro pseudônimo, 
“Antonio Serra”, explicado em carta pelo Barão do Rio Branco (apud VENANCIO FILHO, 

2002, p. 216). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


117 


meio”, estabelece os parâmetros para a literatura a partir de um contraponto com 
a política. Mais especificamente, ao discutir en passant a queda da Monarquia de 
julho em 1848 e a rejeição popular cada vez maior ante governos extremistas, 
estabelece um paralelo entre política e literatura: “O que acontece em política 
tem grande aplicação em literatura, porque a literatura acompanha passo a passo 
a evolução social, espelhando os clarões mais fugazes que acendem no cérebro 
do homem, iluminando a estrada do progresso.” (GAMA, 1883a, p. 3) 98 

À parte certa retórica positivista cruamente reproduzida pelo jovem 
escritor (que contava então com pouco mais de dezenove anos), segue-se 
um paralelo entre a aversão geral pelos “contrastes violentos [que] assustam, 
porque produzem um desequilíbrio físico ou intelectual, da sensação ou da 
sentimentalidade”, seja nos regimes políticos seja nas obras de arte (idem), 
em que os dogmas políticos — ou, como chama, “os sistemas filosóficos” — 
parecem ganhar corpo, posto que a arte “fala melhor ao espírito popular pelo 
revestimento estético da ideia” (idem). 

No que toca exclusivamente à literatura, um longo parágrafo a respeito da 
evolução das escolas literárias aponta a necessidade do equilíbrio da expressão 
frente ao público, colocando em xeque a validade das reduções apriorísticas de 
cada escola isolada: 

A escola naturalista é chamada a representar o papel de mediadora 
entre a aridez da ciência catedrática e oficial e a ignorância popular 
sujeita a preconceitos e abusões degradantes. O realismo puramente 
psicológico de Stendhal precedeu mesmo a ardente reação 
romântica contra o convencionalismo intolerante da escola clássica. 


98 Para um mapeamento do sentido social da arte para Domício, é preciso contrapor ao 
trecho mencionado suas palavras sobre Raul Pompeia no discurso de posse da ABL, de julho 
de 1900: “Raul Pompéia entendia que a arte, que tem um fim social, devia representar o que 
o artista tivesse em mente, que seria belo quando avultasse e vivesse, livre de certas regras es- 
treitas, fora das contingências da estética corrente.” (GAMA, 2005, p. 55) Significativamente, 
no início do mesmo discurso, o autor declara que, para si, a arte é, sobretudo, social: “Julgo 
ter passado a idade das generalizações ambiciosas, do atrevimento às afirmações categóricas: 
entretanto, acredito agora, como nos meus princípios acreditava, na objetivação social da 
arte.” (idem, p. 49) Não é de espantar a estranheza dos termos (fim social da arte como livre 
expressão “do que o artista tivesse em mente”) se retomada a íntima conexão entre a arte e 
o movimento das ideias (GAMA, 1883a, p. 3). Assim, declarando-se um “objetivista social”, 
Domício apenas indica com isso a falência dos modelos artísticos na virada do século XIX 
para o XX e a necessidade de uma revolução na arte frente às demandas da vida moderna 
- problemas e objetivos caros ao impressionismo (enquanto estética moderna, plural, anti- 
-academicista). 




118 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Mas, assim como o romantismo, desde tanto tempo manifestado 
na obra inimitável de Shakespeare, careceu de uma revolução social 
para triunfar da rotina clássica, também o realismo professado por 
Balzac, Flaubert e Champfleury, nunca foi tomado a sério enquanto 
o romantismo não se afogou no pieguismo enervador dos escritores 
da decadência. Sentiam todos a necessidade do advento de uma escola 
literária que acompanhasse e guiasse a marcha, mais apressada agora, 
do espírito do [ilegível no original] não podia ser senão a naturalista. 
Entretanto, ao grito de investida de Zola, acudiram em defesa do 
romantismo arruinado os conservadores das velhas instituições, 
reunidos nos melindrosos de sentimentos, que chocou a brutalidade 
do ataque. E que Zola, assumindo a responsabilidade de chefe, 
saltou por cima das convenções literárias de polidez e brandura, 
sem cuidar de ladear obstáculos, nem de escolher caminhos que 
não fossem direito ao seu fim. Além disso a escolha pouco artística 
dos assuntos das teses e a crueza dos processos literários alienaram 
de Zola e de seus discípulos mais fiéis as simpatias dos espíritos 
delicados, que na literatura procuram assuntos atraentes tratados 
por forma elegante e amena.” (idem, p. 4) 

Está claro que nenhum extremismo literário ou político parece ser uma 
alternativa viável ao autor. Antes, cada escola literária afasta-se, de maneira 
diversa, das “simpatias dos espíritos delicados” e da “forma elegante e amena” 
(idem): o classicismo, por seu “convencionalismo intolerante” (idem); o realismo, 
que “nunca foi tomado a sério ”, 99 senão após o declínio do romantismo e de 
seu “pieguismo enervador” (idem); e o naturalismo, pela falta de mediação entre 
“a aridez da ciência” e a “ignorância popular”, bem como pela “escolha pouco 
artística dos assuntos das teses e a crueza dos processos literários” (idem ). 100 

99 Dentre os ismos atacados pelo cronista, o realismo é compreensivamente aquele mais 
poupado. Contudo, seria deslocado tratar aqui novamente dos pontos de contato entre o 
impressionismo e o realismo (ou mesmo da derivação do impressionismo a partir do realis- 
mo), discutidos no capítulo anterior. Assim, bastaria apontar a íntima conexão entre traços da 
escrita realista (impressionista) e o aporte do leitor (antes, do público ledor) caro a Domício: 
“ For the novelist, then, the secret of realütic representation is to arrange the aspects and indeterminaáes in 
bis work so as to persuade the reader to bring its world to life by remembenng bis own everjday practices of 
understanding — understanding which is similarly perspectivai, never fully determinate, and actively composi- 
tionair (ARMSTRONG, 1983, p. 260) 

100 Observe-se, ainda, em crônicas bem posteriores à avaliada, a perenidade das críticas de 
Domício aos naturalistas: “Os naturalistas que se caracterizam pela falta de imaginação cons- 
trutiva, conseguem certos efeitos literários, mas as suas obras não podem resistir às pressões 
teatrais, não conseguem vencer a falta de simpatia de um público desconfiado, embora bene- 
volente [...]. Uma obra de arte não resulta unicamente de uma fórmula dirigindo um trabalho 
perseverante. O talento artístico continua a ser necessário e independente.” (GAMA, 18901, 
p. 1) E: “Muito longe disto anda o Naturalismo. Aqui, como em tudo o mais, a Verdade com 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


119 


Para além das principais escolas literárias, o autor que merece os elogios 
de Domício é Alphonse Daudet. Sua principal qualidade é o valor estratégico 
que assume perante o público, mediante um meio termo menos combativo, 
menos parcial: 

Alphonse Daudet, temperamento mais delicadamente artístico, 
poeta e contador elegante, insinua-se no gosto popular sem 
encontrar uma oposição séria, antes aplaudido e vitoriado desde o 
princípio da sua carreira e chega a defender teses de combate, sem 
que possam contestar-lhes o direito de análise das questões sociais 
mais espinhosas. É que o oportunismo tem grande aplicação nos 
sistemas literários, que também não admitem extremos violentos, 
(idem) 

É importante destacar que o termo essencial à superação das escolas 
literárias pelo estrategismo (“oportunismo”) de Daudet é o da equiparação 
entre sua obra e sua pessoa — antes, entre sua obra e seu temperamento, num 
argumento próximo àqueles de Zola acerca dos pintores impressionistas e 
suas telas . 101 Logo, “mais delicadamente artístico, poeta e contador elegante”, 

V grande é sempre a modesta verdade, de que cada um pode dispor, a verdade individual, 
que só o orgulho ou a ignorância nos podem levar a querer impor aos mais como única e 
irrecusável.” (GAMA, 1 89 lr, p. 1) 

101 Em um texto quase contemporâneo ao de Domício, «Le naturalisme au Salon», publi- 
cado no jornal Le Voltaire de 18 a 22 de junho de 1880, Zola discute telas de Monet, Renoir, 
Pissarro, Degas, Caillebotte, dentre outros, e observa: “Ce qu’on peut dire c’est que le mouvement 
s’affirme avec une puis sanee invincible; c’est que le naturalisme, 1’impressionnisme, la modernité, comme on 
voudra l’appeler, est aujourd’hui maítre des Salons officiels. Si tons les jeunes peintres se sont pas de maítres, 
tous, du moins, appliquent la même formule, chacun avec son tempérament différent .” (ZOLA, 2008, p. 
237) O estudo dos temperamentos ultrapassa, aqui como acolá, o estudo e os limites dos 
ismos. No entanto, tal concepção na obra de Zola é muito anterior à década de 1880, remon- 
tando ao célebre Mon Salon de 1866, em que dá a definição do que seria uma obra de arte no 
artigo “Les realistes du Salon”-. “La définition ditne oeuvre d’art ne saurait être autre que celle-ci: Une 
oeuvre d’art est un coin de la création vu à travers un temperamento (ZOLA, 1866, p. 56, grifos do 
autor) Por sua vez, no artigo “Les chutes” , presente no mesmo volume, tal definição é aplicada 
à análise dos quadros, cujo sucesso perante o público é avaliado em termos de maior ou me- 
nor temperamento do artista: “je Vai dit, la grande ennemie, c’ est la personnalité, Vimpression étrange 
dime nature individuelle. Un tableau est d 'autant plus goútê qu’il est moins personne /.” (ZOLA, 1866, p. 
57) Percebe-se, pois, o exato momento em que as leituras de Zola e de Domício acerca do 
“temperamento” divergem entre si. Um segundo exemplo está mais à frente, quando, dis- 
cutindo Rousseau (como se sabe, pintor ligado à Escola de Barbizon que seria fundamental 
para a preparação do impressionismo), Zola observa: “ LHnterprétation n’a plus aucune largeur. 
Tout devient forcement petit. Le tempérament disparait devant cette lente minutie; Voeil du peintre ne saisit 
pas Vhori^on dans sa largeur, et la main ne peut rendre Vimpression reçue et traduite par le tempérament. 
C’est pourquoi je ne sens rien de vivant dans cette peinturê ’ (idem, p. 62). 




120 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Daudet goza do privilégio de “defender teses de combate” sem que impressione 
negativamente o público, que recebe mesmo a “análise das questões sociais 
mais espinhosas” com aplausos (idem). 

O que Domício parece defender é, pois, um balanço tênue entre a reflexão 
(ou a “ideia”, entendida grosseiramente em termos de dogma filosófico ou de 
crítica social) e sua respectiva expressão (também, grosso modo, resultante do 
“temperamento” brando do escritor e de sua escolha de assuntos e técnicas 
“delicadas”). Em outras palavras, trata-se do elogio a uma estética do meio 
termo ou do “justo meio” capaz de fazer a mediação entre a tradição literária e 
o público sem ofender nenhum deles, sob o estratagema de um texto rebuscado, 
mas jamais pernóstico. 

Enquanto tal, nada pareceria mais distinto do impressionismo (pictórico, 
literário) que um “impressionismo do meio termo” definido a partir de tais 
argumentos. Afinal, 

é com o Impressionismo que se manifesta de forma mais acentuada 
o “divórcio” entre o grande público e os artistas que jamais tomou 
forma tão violenta até então, e que se agravará mais e mais ao fim 
do século XIX e durante toda a primeira metade do século XX. 
(BRION, 1966, p. 251) 102 

Cinco anos mais tarde, em crônica da seção “De Paris” escrita a 30 de 

dezembro de 1888 e publicada a dez de fevereiro de 1889 na Gaveta de Notícias, 

Domício da Gama (1889h) muda inteiramente a ênfase de suas reflexões. Ao 

invés de ocupar-se do temperamento do artista e de seu difícil ajuste ao gosto do 

público, i.e., de um ponto de vista exterior e digressivo, passa a discorrer sobre 

seus sonhos de menino e os efeitos de Paris sobre si, já adulto, comparando 

suas impressões pessoais às suas experiências de leitura e de audição. Trata-se, 

agora, de uma reflexão assumidamente interior, quase memorialística, em que 

discute a validade sempre individual do sentimento (e da arte, por extensão): 

Impressões pessoais, discordantes do sentir geral, por explicadas 
e justificadas que sejam, são sempre impostura de modernismo e 
ceticismo de mau gosto. Que me importa a mim, leitor ou ouvinte 
sem pretensões, que um senhor que escreve ou fala tenha a alma 
fina e sensitividade afinada por este ou aquele tom, se não é por 
mim que ele se afina e se não tenho vagares nem disposição para 


102 “C’esf avec llmpressionnisme que se manifeste dírne façon aigue ce ‘divorce’ entre legrand public et les 
artistes qui n ' avait jamais encore pris de forme aussi violente auparavant, et qui s’aggravera de plus en plus 
à la fin du XIXe siècle et durant toute la première moitié du XXeP 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


121 


me afinar por ele? Não tenho interesse algum em admitir a verdade 
mais provável que me não esteja nas cordas, isto é, que não seja do 
meu sentimento. Falem-me em cousas sabidas quando me quiserem 
interessar sentimentalmente. Classificadas como num estereoscópio 
aperfeiçoado, estão cá dentro as figurações quase simbólicas, o 
aparelhamento de cada substantivo com o seu adjetivo legítimo e 
atributos consagrados a cousas que até já desapareceram, cultos 
persistentes de religiões mortas. Mortas para outros, não para mim 
que careço delas, pelo seu efeito decorativo e clássico. Porque eu, 
o leitor ou o ouvinte sem pretensões, sou no fundo conservador e 
clássico. Pois que não sou artista, nem contemplador ativo, para que 
fatigar-me em desfazer e recrear construções estéticas de cujo valor 
nunca me passou pela mente indagar? (GAMA, 1889h, p. 1, grifos 
do autor) 

É de especial importância a obrigatoriedade com que avalia as 
“impressões pessoais” sob a bitola do “sentir geral”, entendendo toda 
discordância como índice de “modernismo e ceticismo de mau gosto.” (idem) 
103 Avesso a vanguardismos , 104 fala, porém, em termos da vibração entre artista 
e público (escritor e leitor, músico e plateia) a partir de suas experiências de 
leitor e ouvinte, e observa que “a sensitividade [é] afinada por este ou aquele 
tom” (idem) à maneira de um instrumento segundo, interior, de “ cordas ’’ ’ (ou 
nervos). Contudo, Domício assinala a afinação nevrálgica dos sentimentos a 
partir da “verdade mais provável” (“Falem-me em cousas sabidas quando me 
quiserem interessar sentimentalmente”), interpretando o funcionamento da 


103 Trata-se de uma apropriação toda especial do esteticismo fin-de-siècle com o qual se depa- 
ra em Paris, bem como uma reação tangencialmente oposta ao elitismo que lhe acompanha: 
“ Uesthétisme français du fin-de-siècle, en tant qu’issue de la crise dit naturalisme, se caractérisa, dans ses 
diverses expressions d’écoles, de courants, de rassemblements autour des revues et des cafés, voire de coteries, 
par cette capacite incontournable et en même ternps typique de créer un regime de singularité élitiste, acteur 
í P une forte poussée expérimentale qui investit aussi bien le niveau formei etgénérique que le niveau stylistique 
des oeuvres qui émanèrent de lui. La necessite de se distinguer vis-à-vis de la société et du public de masse en- 
gendra une esthétisation qui repoussa la mimesis et déplaça 1’attention surle signifianf (D’ASCENZO, 
2016, p. 85) Neste sentido, seria apropriado falar também em um esteticismo do meio termo, 
a propósito de Domício? 

104 Na crônica seguinte da coluna “De Paris”, Domício especifica o sentido liberal de seu 
conservadorismo como resultado de uma ampla liberdade da vida social que defende a todo 
custo: “Sejamos conservadores, pois que os nossos pais foram liberais, para que nossos filhos 
sejam como os avós. E não nos desconsolemos de não possuirmos heróis como no passado 
houve. [...] Nós não carecemos de libertador, de quem nos livre e nos purgue de misérias e 
impurezas profundas: ninguém, nada suscita contra nós ditaduras desastrosas e humilhantes. 
Nem em política, nem em ciência, nem em religião, nem em arte, nem em literatura, temos 
dominações opressivas e absorventes. Ainda bem!” (GAMA, 1889j, p. 1) 




122 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


produção de sentidos na obra literária a partir de uma justaposição passiva “de 
cada substantivo com o seu adjetivo legítimo”, (idem) Confessando-se, assim, 
conservador e classicista em assuntos de arte (“Porque eu, o leitor ou o ouvinte 
sem pretensões, sou no fundo conservador e clássico”), numa lógica invertida 
de conservação não da tradição, mas, ao que parece, do passado e do gosto 
individual , 105 o autor rememora o “efeito decorativo” de um número do jornal 
Ulllustration para seu imaginário infantil, entremesclando à discussão estética o 
biografismo mais imediato: 

[...] aqueles lustres resplandecentes das Tulherias, aquelas fardas 
bordadas e adornadas e os decotes das mulheres em gala, aqueles 
cavaleiros hirtos e corretos, espécies de S. Jorge retour dit bois [...] 
aquelas perspectivas infinitas dos boulevards e avenidas, que 
Haussmann rasgava na cidade antiga, dilatavam-me o coração, 
como um bom sonho. Castelos, que porventura eu fizesse, dessa 
arquitetura se inspirariam e seriam habitados por tal gente. [...] 
embora mudado superficialmente ficou sempre em mim com o 


105 Tal postura conservadora de Domício da Gama parece dialogar com seu longo contato 
com o Barão do Rio Branco, ele próprio assim chamado (“Barão”) cerimoniosamente por 
todos, ainda enquanto representante da República. Luís Santos (2012, p. 150) chega mesmo 
a cogitar certo saldo conservador no convívio entre os intelectuais da Academia Brasileira 
de Letras, marcado pela convivência entre monarquistas como Taunay, Nabuco e Eduardo 
Prado, e republicanos como Rui Barbosa e Salvador de Mendonça: “A leitura que acabará 
prevalecendo na historiografia será a interpretação dos monarquistas, na qual o Império, e 
não só o Segundo Reinado, era apresentado como uma época e de paz e civilidade em con- 
traste com o caudilhismo e o militarismo da primeira década republicana. O imaginário da 
‘república dos conselheiros’ foi sendo assentado com base na alteridade não com o regime 
superado, mas contra a memória então recente da instabilidade dos anos iniciais da própria 
República. O Barão do Rio Branco acabou como um dos artífices da consolidação dessa 
nova ordem e um importante símbolo dessa reviravolta. Inclusive a própria consagração do 
título nobiliárquico de Paranhos nos novos tempos republicanos não deixa de simbolizar 
essa vitória dos monarquistas na batalha sobre a interpretação do passado recente e sua 
projeção no futuro imediato.” Em todo caso, mesmo antes de um convívio estreito com o 
Barão, Domício mostra-se ambíguo perante a queda da Monarquia. Em crônica escrita a 23 
de dezembro de 1889, discorre sobre “A impressão [da queda de D. Pedro] na Europa”: “A 
impressão na colônia brasileira foi de espanto quando se soube a nova. Monarquistas ou não, 
ninguém queria acreditar. E depois de certificarem-se, andavam alguns meio corridos, como 
quem leva um tombo de ilusões. Até hoje dura-me por dentro um abalo comparável ao que 
sentiria alguém que estivesse distraído, encostado a uma porta fechada e que lha abrissem de 
repente. A porta aberta é uma saída, horizontes novos, muita coisa para ver... Mas, o susto de 
sentir-se em falso, perturba a inteligência, impede de ver claro, principalmente se vem uma 
claridade muito viva pela abertura. Essa é a psicologia da surpresa que já se vai moderando 
em muitos. Começam todos a ter mais ou menos previsto o acontecimento. Só eu não: con- 
fesso humildemente que estava bem encostado, absorto, a ler ou a cismar, sem mesmo pensar 
que houvesse porta atrás de mim.” (GAMA, 1889d, p. 2) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


123 


romantismo indelével, a admiração servil pelas cousas que não posso 
ser - rei, artista imperial, fidalgo de sangue ou nome histórico. (Digo 
isto com franqueza, publicamente, porque sei que tenho muitos 
confrades nesta religião do esnobismo). (idem) 

Em certo sentido, Domício faz em “De Paris” tudo aquilo contra o que 
se bate em “O justo meio”: fala na sensibilidade em termos científicos (ópticos, 
valendo-se da metáfora do estereoscópio, e da vibração análoga às cores e aos 
sons (MOLNAR; 1997; ROQUE, 2009)); avalia o sentir geral do público a 
partir de suas próprias recordações; e declara-se aproximadamente classicista 
e romântico. No entanto, muitas dessas reflexões serão nova e abruptamente 
revistas, até sua exposição final em “Nota para o meu melhor leitor”. 

Resta destacar, por ora, 106 a afirmação imediatamente posterior em que 

parece preconizar certa “atomização do mundo” (KRONEGGER, 1979) ao 

falar de Paris como cidade ideal das “investigações sérias”: 

Paris que sofre, trabalha e estuda, Paris que lida na luta escura para 
viver e fazer viver, é hoje o campo aberto às contemplações mais 
profundas. Somente aqui é preciso mudar as lentes dos aparelhos 
óticos que tenham de examinar, isto é, para fazer investigações 
sérias, analisar atentamente, microscopisar um pouco, (idem) 

Até aqui, Domício indica ao menos quatro alterações ao que expusera em 
“O justo meio”, mediante suas ressalvas evidentes perante os vanguardismos; 
suas reflexões confusas entre arte e filosofia (ou entre tons, palavras, sentimentos 
e verdades); seu entendimento peculiar, mesmo paradoxal, do classicismo 
(enquanto manutenção da tradição pessoal); e sua sensibilidade confessadamente 
romântica. Nada, pois, que se refira especificamente ao impressionismo em 
ambas as crônicas. 

A primeira vez que se refere expressamente ao termo “impressionista” 
data de seis de março de 1889 em outra crônica da coluna “De Paris” da Gaveta 
de Notícias. Nela, comenta a difícil sorte da carreira literária, aprofundando suas 
reservas perante todas e quaisquer formas de modernismo (nas quais inclui, 


106 Ao final da crônica, Domício fala ainda em tom introspectivo e melancólico de genera- 
lidades que não vem ao caso, como a preocupação constante dos lojistas parisienses com as 
vendas cada vez menores; a fisionomia carregada dos pobres que economizam “para com- 
prar mesquinhos presentes de festas que humilham ao que dá e não são agradáveis ao que 
recebe”; o frio cortante, acrescido de chuva e de lama etc.: “Paris hoje não é mais a capital 
do prazer, porém uma vasta oficina, um laboratório e um mercado onde se rir e o cantar são 
recreações do trabalho e não gargalhadas e canções de saturnais.” (idem) 




124 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


obviamente, os “impressionistas” como pequena porção de uma infinidade de 
ismos): 

Mas parece que os novos - decadentes, simbolistas, pessimistas, 
deliquescentes, ou imobilistas, incoerentes ou positivistas - são, 
antes de tudo, negativistas. Analistas - psicólogos, impressionistas, 
individualistas, dispersivistas, budistas novos, tudo isso é gente 
que arvora a incapacidade em sistema e tenta instituir a estética da 
miséria. Miséria da vontade, miséria orgânica, legado de impotência 
que as gerações civilizadas vão deixando, único que se não esbanja 
e que se aumenta e se transmite acumulando. (GAMA, 1889i, p. 1) 

Não poderia ser mais negativa a concepção inicial do autor do 
impressionismo nas artes, traduzida enquanto “estética da miséria” (da vontade, 
do organismo) que transforma a “incapacidade em sistema” e produz o “legado 
da impotência” (idem). 107 Entretanto, se em seu pensamento o impressionismo 
faz parte de uma enxurrada de vanguardismos inconsequentes, 108 em seu fazer 
literário algo muito diverso ocorre exatamente no mesmo período em que 
escreve as linhas acima. Em “Scherzo”, conto publicado a 17 de março de 1889 
(i.e., 1 1 dias após a crônica mencionada “De Paris”), o narrador enuncia uma 
frase que bem poderia valer como síntese do impressionismo nas artes: “Um 
valor é uma relação. O que vale um tom só pode dizê-lo a oposição. Assim da 
luz, assim do som, assim em todo graduar de sensações.” (GAMA, 1888e, p. 58) 
Para além de um percurso acidentado em suas reflexões estéticas, mais 
ou menos evidenciado na contramão que vai de “O justo meio” a “De Paris”, 
percebe-se uma produção desigual (e até mesmo conflitiva, no que toca às ideias 
aí defendidas) em sua contística. 


107 « D’ailleurs , les faits sont là: il n’j a peut-être pas eu de mouvement mpressionniste, pas de tableaux 
impressionnistes, pas de peintres impressionnistes, mais tout se passe comme s’ilj en avait eu, au point qu’il 
n’est pas certain que tous les adversaires aient, même aujourd’hui, été désarmés par la réussite, car il en est 
qui continuent à penser qu 'il s’agit du commencement d’ une décadence alors que ce fut le commencement d’ une 
grande renaissance .» (COGNIAT, 1950, p. 127-128) 

108 Vanguardismos dos quais confessadamente faz parte Domício, que, em seu discurso de 
posse da cadeira 33 da ABL, proferido a primeiro de julho de 1901, relembra os tempos de 
juventude no Grêmio Literário Jardim de Academus e assim define a si próprio e aos amigos: 
“Éramos teoristas doutrinários, éramos materialistas, socialistas, niilistas e, por uma generosa 
inconsequência, éramos nacionalistas.” (GAMA, 2005, p. 50) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


125 


1889: o impressionismo literário, tout court 


Uma terceira crônica da coluna “De Paris”, escrita a cinco de julho de 
1 889 e publicada a 28 de julho na Gaveta de Notícias, equivale ao que se pode tomar 
como texto fundamental para o entendimento das relações entre Domício da 
Gama e o impressionismo literário. Trata-se de um texto estruturado à maneira 
do artigo pioneiro de Louis Leroy (2008), “ Nexposition des impressionnistís ’ , e 
de sua sátira por Bertall (1989), “ Exposition des impressionnalistei ’ — i.e., a partir 
de um diálogo imaginário entre o cronista e um amigo (aqui inominado; em 
Leroy e Bertall, respectivamente, Père Vincent e Dr. X) durante uma visita a uma 
exposição de quadros. 109 

Mais especificamente, no texto de Domício, são dois os interlocutores 

do cronista. Um, o amigo que o acompanha à exposição; e outro, alguém que 

lhe escreve uma carta do Brasil, sonhando em ver Paris um dia. Neste sentido, 

são dois os espetáculos avaliados: o de uma exposição de Claude Monet; e o 

da capital francesa, obra de arte para os brasileiros que nela chegam (como 

o cronista) ou que a ela desejam ir (como o missivista). Assim, de início, são 

reproduzidos trechos de “uma carta vinda de lá, da nossa costa desolada como 

uma terra de degredo para quem tem sonhos fora dela”, em que se reflete sobre 

a grandeza do mar a ansiedade do suposto epistológrafo por ver Paris: 

... E pelo mar sem fim, duramente azul, serenamente mau, sob a 
faiscação do sol passam os vapores velozes, como galhadas secas 
boiando na corrente, visão evocativa de saudades, da nostalgia de 
outros horizontes. O mundo é pequenino, mas o mar é largo e a 
miséria do homem que depõe à beira dele todos os seus desejos 
chora na lamentação secular das suas vagas contra a penedia. Dir-se- 
ia que a zoada confusa faz-se dos queixumes de tanta aspiração vã, 
a que a brancura das areias marinhas serve de mortalha. [...] O meu 
sonho seria agora levantar-me no voo destas gaivotas que a onda 
embala e ir pousar na antena oscilante daquela barca [...]. Depois 
a asa batendo rápida, frechando o espaço, por cima dos campos, 
por cima das cidades [...]. E aí, beatamente, sentir Paris!... (GAMA, 
1889q, p. 2) 

Pelo estilo e pelo argumento da carta (inaugurada por uma reflexão geral 
acerca do mar e da solidão, e construída a partir de comparações visuais e de 


109 Para comentários individuais aos textos de Leroy e Bertall, bem como a outros textos da 
fortuna crítica do impressionismo, cf. anexo 2. 




126 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


impressões fugidias, como a dos barcos que parecem “galhadas” vindas da 
outra margem, ou ainda, a do marulho como reunião dos lamentos humanos), 
próximos ao estilo do próprio cronista, percebe-se que se trata verdadeiramente 
de um interlocutor de papel, com quem enceta um diálogo tão imaginário quanto 
aquele que terá com o amigo, na galeria. De fato, aprofundando o tópico, discute 
o cronista (já sem as aspas da carta) a ânsia cada vez maior pela descoberta de 
novos horizontes e de novas sensações como marca característica dos novos 
tempos: 

Há hoje na alma humana, apesar das acusações de materialismo e 
falta de ideal que lhe fazem, uma necessidade de expansão, uma 
ânsia de que bem se poderia chamar elevação para os lados. Em vez de 
misticismo é um sentimento mais prático, mais humano. O protesto 
do viajante são as curiosidades materiais; o seu estímulo real é a 
comunhão necessária com as provas que lhe ensinem a vida, a gozá- 
la, a senti-la bem, a ser feliz, por comparação, (idem, grifos do autor) 

Logo, por meio da fórmula indicada (“ elevação para os lados”), Domício 

alcança um lampejo do sensorialismo buscado nas crónicas anteriores, traduzindo 

o sentimento de muitos brasileiros (e de tantos outros turistas) desejosos de Paris 

como marca indelével de um público e de um sentir específicos. Como seria 

de esperar, passa da indicação do sentimento à avaliação de suas repercussões 

sociais, ponderando o divertimento de seus compatriotas como uma espécie de 

[...] sociologia, nem mais nem menos. Sociologia prática, está claro: 
a teórica aprende-se em casa, nos romances de um franco e vinte 
e cinco [...]. É digna de ver-se a seriedade com que um brasileiro 
diverte-se, isto é, estuda o prazer, aproveitando a ocasião para 
divulgar-nos, propagar-nos, relacionando-nos. (idem) 

Domício observa assim que o império dos sentidos — das artes, dos prazeres 
de Paris — é não apenas uma forma de revelação individual (ou de realização do 
sonho de atravessar o oceano), mas também uma forma de revelação social do 
brasileiro, simultaneamente atualizando-o com sua época e divulgando-o como 
membro de um povo atento, desde antes de chegar na Europa, às nuanças 
da vida moderna. Eis, possivelmente, um exemplo acabado do sentido social 
(sociológico?) daquele impressionismo do meio termo buscado em “O justo 
meio”, que ressurge como que emancipado dos tantos retrocessos das duas 
crônicas anteriores “De Paris”. 

Em todo caso, Domício comenta a seguir a reserva de seus compatriotas 
no estudo das “impressões novas” como de “quem não quer parecer inferior”, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


127 


e revela a natureza ficcional de sua carta ao contar tê-la lido a um brasileiro, a 
fim de expor sua reação: 

A um, que encontrei há dias no panorama da companhia 
Transatlântica, li, com toda a emoção que pude ajuntar na voz 
para o efeito conveniente, a carta cujo fragmento dou e que ele 
pudera ter-me escrito muito bem. Mas a ilusão daquela ponte de 
comando de um transatlântico saindo do Havre não comoveu ao 
meu ilustre compatriota: ele pos de parte o lado sentimental da cena 
para contestar a veracidade de todos os vapores de uma mesma 
companhia reunidos num porto ao mesmo tempo, (idem) 

Domício não se cansa de reforçar a sintonia de ambos perante a carta 
referida (retome-se a metáfora anterior das cordas vibrando em uníssono, ou 
ainda, na do estereoscópio, que, como se sabe, dá a sensação de relevo ao 
enfocar uma mesma imagem por meio de duas lentes com ângulos ligeiramente 
diversos). Sua efusão é tamanha que o mesmo interlocutor brasileiro é seu 
companheiro de visitação à galeria Petit, na rue de Sèze, convidado a ver consigo 
uma “exposição das pinturas de Claude Monet e das esculturas de Rodin” logo 
após a leitura da carta, (idem) 

Os comentários de Domício a respeito de Monet, embora longos, 

merecem ser reproduzidos na íntegra: 

Monet é um dos impressionistas cuja estética ainda se discute, mas 
cujo talento já ninguém contesta. Como todo o artista que tem uma 
ideia, ele começa impressionando-nos pela sua convicção e acaba 
por nos persuadir de que a sua concepção também é verdadeira. Ele 
entendeu que não é impossível fazer viver as cousas por uma das 
suas exterioridades aparentes mais relativas e mais precárias - a cor. 
E fez-se dela cultor apaixonado, frenético. E em toda a sua obra, 
que não é definitiva, como genuína obra de fim de século que é, há 
como vestígios da passagem desse galope furioso da caçada à cor 
fisionômica. O artista está sob a possessão da cor na sua aparência 
irrepresentável, inexprimível, que é a da luz natural. A agudeza da 
sua visão, exacerbada pela análise e diferenciação constantes das 
cores principais, transformou-se em nevrose. A sinceridade fanática 
da representação dos aspectos de luz rapidamente cambiantes, 
a orgulhosa honestidade de artista intransigente obriga-o a uma 
rapidez de trabalho, que impressiona mal ao espectador profano. 
Com as placas de tinta justapostas, com os seus toques duros, os 
borrões que realçam e contrastam asperamente, o seu aspecto 
eriçado e escabroso, o desprezo da linha e a única preocupação do 
tom fisionômico, que é preciso sentir para entender, a pintura de 
Cláudio Monet lembra uma construção incompleta, muito bela para 
os entendidos, que sabem apreciar uma arquitetura ainda coberta 
com os seus andaimes, (idem, grifos do autor) 




128 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


É louvável a agudeza crítica de Domício, capaz de enumerar os principais 
elementos da estética impressionista já na década de 1880: o cultivo “frenético” 
da cor, sob a “aparência irrepresentável, inexprimível” da “luz natural”, logo 
transformada em “nevrose” (idem); 110 a fixação dos aspectos fugidios de 
iluminação; a “honestidade de artista intransigente”, cujo sustento depende 
unicamente da “rapidez de trabalho” frente a um mercado que lhe demanda 
cada vez mais (idem); a importância do estilo (temperamento?) pessoal como 
gerador da “verdade” que persuade o público da qualidade da obra (“acaba 
por nos persuadir de que a sua concepção também é verdadeira ” (idem, grifos 
do autor)); e uma série de inovações técnicas, prontamente interpretadas (o 
“desprezo da linha” e do desenho; a justaposição de tons puros; a “construção 
incompleta” e a ênfase na materialidade do quadro, como se ainda estivesse 
coberto “com os seus andaimes”) (idem); o impacto negativo no contato com 
o “espectador profano” (idem) etc. Domício da Gama demonstra, assim, haver 
compreendido a essência do trabalho de Monet e da estética impressionista, 
mostrando-se um crítico de arte à altura de seus pares brasileiros e franceses, 
muito a despeito de sua modéstia e reserva pessoal, que parece impedi-lo, até 
certo ponto, de alçar voos mais longos. 

Curiosamente, logo após tais observações lapidares sobre a pintura 

impressionista, o autor coloca-se novamente no lugar do público que, há pouco, 

dizia não ter meios para avaliar a pintura de Monet, e, enquanto espectador, 

numa tentativa dúbia de fazer-se entender e de agradar a todos, afirma: 

Nós, porém, o público pouco imaginativo e construtivo, não 
temos olho para isso. Queremos ter a obra completa, pronta, bem 
lustrosa e lisa, pintura que se possa ver de longe como de perto; 
mas sobretudo de perto, porque nós somos geralmente míopes, 
dos olhos ou do espírito. Não basta-nos a sugestão: queremos a 
sensação direta e precisa. Uma facha rosada por cima de uma zona 
escura com espelhamentos vagos pode representar perfeitamente a 


110 Curiosamente, Domício registra em seu estudo de “Germinie GacerteuxT o aspecto nevró- 
tico do romance de Edmond de Goncourt (que considera “um artista sem superior no ro- 
mance”) como traço comum à arte finissecular: “A simplicidade é dos primeiros tempos das 
civilizações - largueza e espontaneidade - na visão das cousas, viveza e novidade de impres- 
sões, virgindade de nervos. O auge delas, que por uma das fatalidades das cousas também 
lhes marca o começo da decadência, assinala-se pela multiplicidade, complexidade, e falta de 
nitidez nas sensações. [...] Nós estamos em um tempo em que artista quer dizer nevrótico.” 
(GAMA, 1889a, p. 2) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


129 


alvorada sobre um lago; mas é pouca cousa para nós, que gostamos 
de ver as cousas claramente, mesmo na noite escura; servem-nos 
melhor os clássicos efeitos de luar. E que a arte para o público tem 
de submeter-se às imposições convencionais necessárias, embora 
falsas, (idem) 

Por meio do lugar comum defendido — as convenções apreciadas pelo 

público, “embora falsas” (idem), como valor estético soberano — o autor 

ofusca sua interpretação do impressionismo pictórico, temeroso de avançar 

demais dentro de suas premissas e de não fazer-se entender pela maioria. É 

assim que, ao incluir-se dentro daquele mesmo público que dizia não entender 

o impressionismo (muito embora esteja claro que dele não faça parte, pelos 

elementos que distingue tão claramente nos quadros de Monet), Domício indica 

como mediador de tal desnível entre teoria e prática a relação onipresente do 

mercado na recepção da arte; 

Este é que é o caso: quem paga tem direitos de exigir. O público 
que paga exige do saltimbanco em cena que lhe revele as intenções 
secretas do personagem representado, como exige do borrador de 
tela que lhe esclareça as intenções sinistras de um borrão de tinta, 
que ali está ao lado do outro, sem dizer ao que veio, só para intrigar- 
nos e nos dar volta ao miolo. Em que pese às almas finas... Que, isto 
aqui para nós, alma fina é cousa que não há. Pelo menos elas são tão 
raras que não entram em linha de conta para o sucesso, (idem) 

Neste sentido, o poder do dinheiro, enquanto medida universal do sucesso 
(financeiro, artístico) faz descair a obra de arte em obra de conveniência, sem 
arrojos formais nem “intenções sinistras” (idem), sempre de acordo com aquilo 
mais palatável ao público. A arte, pois, não se dirige aos poucos entendidos — às 
“almas finas” — , mas à massa insensível, que exige receber aquilo pelo que paga. 
Tal pensamento, embora perspicaz no que diz respeito às relações draconianas 
entre arte e mercado no século XIX , 111 anula completamente o sentido 


111 Não nos esqueçamos de que Domício atende a uma exposição privada das telas de 
Monet na Galeria Petit, e não em espaços coletivos como os do Salon, o que demonstra uma 
importante ramificação do mercado: “As art ivas shown and viewed in diverse places — the Salon, 
the gallery, the club, the hookstore, the studio, the apartment, the home — the distinction hetween puhlic and 
private served to create finely gradated nuances of refinement, and the ideal private exhibition came to be rep- 
resented as a haven for aesthetic appreciation that ivas removed from the crass commerce of the art market, the 
divisive polemics of criticism, and the sensationali^ed tastes of the ‘publid (WARD, 2007, p. 50) Não 
obstante, como se vê ao longo do texto, o autor recupera a centralidade desse mesmo públi- 
co em tal exposição periférica, prejudicando em partes sua análise da mesma ao confundir o 
termo anteriormente empregado de “sensitividade” (GAMA, 1889h, p. 1) com a necessidade 




130 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


tranformador das vanguardas, medindo a arte sempre pelo padrão anterior. De 

certa forma, outra não seria a formulação da art pompier ; pedra de toque da 

reação dos impressionistas (à época também indépendants , intransigeants etc.) ao 

academicismo dos salons. Não obstante, segue o cronista com sua exposição, 

defendendo o meio termo de uma “estesia democrática”: 

O que há, sim, para fortuna dos fabricantes honestos, regulares e 
trabalhadores, é uma estesia democrática, salutar e conveniente. 
Tenho percebido as suas manifestações nos teatros, nos concertos, 
nas exposições artísticas de toda a sorte e ando a redigir notas 
da nova doutrina, que seria a estética do consenso unânime dos 
povos, empresa inutilmente heroica ou heroicamente inútil na sua 
dificuldade, (idem) 

Sem deter-se nessa empresa “heroica” e “inútil” da qual faz o encómio (e 
que valeria, por ora, como novo degrau na escada evolutiva de seu pensamento 
estético, 112 atualizando o impressionismo do “justo meio” em termos de 
impressionismo democrático, “salutar e conveniente”), segue expondo as 
opiniões do amigo imaginário “que tem a preocupação da verdade na arte” 
(idem). 

De um catálogo de 145 telas de Monet, Domício escolhe seis, às quais 
dedica pequenas e preciosas écfrases, enunciadas pelo interlocutor imaginário 
e comentadas pelo cronista. 113 Como se sabe, a écfrase corresponde a uma 
“peça brilhante, destacável (tendo, portanto, fim em si mesma, independente 
de qualquer função do conjunto)” (BARTHES, 1972, p. 38), e tenta recompor 
o momento da visão através da escrita, num recorte específico do pictorialismo 
pela literatura. 114 


premente do que parece ser apenas sensacionalismo. 

112 Diga-se de passagem, tal concepção é também defendida em uma crônica pouco pos- 
terior, datada de primeiro de junho de 1889, da qual um breve trecho serve de complemento 
à presente discussão: “Irei muitas vezes ao Salon e às conferências como esta, e quando tiver 
entendido bem a estética popular, começarei a escrever sobre a arte democrática. Provavel- 
mente os homens de talento me desprezarão; mas o que são humilhações de amor próprio 
quando se tem a missão de propagar a democracia em todas as cousas?” (GAMA, 1889o, p. 
1 ) 

113 As esculturas de Rodin, igualmente presentes na Galeria de Georges Petit, não cede, 
porém, comentários, deixando-o apenas em promessa (demonstrando, com isso, certa predi- 
leção pela pintura, em detrimento da escultura). 

114 Trata-se de um exercício presente na literatura universal ao longo dos séculos, que vai do 
escudo de Aquiles descrito por Homero ao quadro de Tróia visto pela Lucrécia de Shakes- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


131 


O conjunto em questão (telas e écfrases) necessita ser reproduzido em 
sua totalidade, dado o lugar exclusivo que ocupa na obra de Domício. Trata-se 
da única vez em que o autor se debruça de maneira tão imediata e significativa 
na “descrição” da pintura (como previsto desde a etimologia da palavra 
“écfrase ”), 115 na qualidade de feito inédito em suas demais crônicas e ensaios . 116 

Perceba-se, para além de tantos outros elementos, a tentativa reiterada de 
Domício por extrair da pintura de paisagem, mediante a descrição de cores e 
efeitos, um tom ou sentimento central sugerido pelo conjunto. Tal procedimento 
pode ser equiparado, até certo ponto, à busca dos pintores pelo equilíbrio das 
formas visuais en plein air ; do ponto de vista específico (e algo inusitado) do 
ajuste gradual da sensibilidade do espectador ao quadro . 117 


peare. Os exemplos são muitos (aos quais se poderiam somar a urna grega de Keats ou o de- 
funto de Pedro Nava), e indicam o recorte do pictorialismo na escrita, efetuado pela écfrase, 
assim como seus pontos em comum: “In pictorial writing, there is a desire for a coherent presentation 
of the experienced place and time, a desire to frame ( a portion oj ) life in a manner that is capable of providing 
an opportunity to relive comprehensivelj that ivhich is pictorialiged. For the aim of ekphrasis and pictorialism 
is not to describe that ivhich is described into a lifeless photograph, but rather to endoiv that description with 
an ever-present and live nature. In addition, the pictorial poet/ ivriter emplqys his aesthetic organigation of the 
world into symboliging landscapes to enhance his rational, intuitive, and cognitive approach to externai and 
internai realityP (AL-JOULAN, 2010, p. 48) Claramente, a prosa impressionista pode valer-se 
de tais recursos, embora não se limite à transcrição de obras visuais em literárias. Outra razão 
para tal recusa é o comportamento conservador da écfrase, de legitimação de uma dada tra- 
dição, inaplicável ao contexto do impressionismo: “F 'ekphrasis fait d’abord entendre de 1’anden, 
du dujà dit ou écrit, du déjà pensé. Fe lieu de /'ekphrasis était destiné à l’être rernpli à 1’ origine suivant les 
désirs de chaque auteur, puis tout s’est rapidement codifié. Par exemple, la description de paysage, rum des 
deux ekphraseis possibles, avec le portrait, devient donc un lieu ou ce n’est pas le style d’un auteur qui se 
fait entendre, mais avant tout un extrait de la tradition littéraire, de la doxa, de la culture d’ une aire géo- 
graphique ou linguistiqueP (LABARTHE-POSTEL, 2002, p. 51) Uma posição diversa, todavia 
é aquela de Cristóvão (2009, p. 62), para quem o impressionismo literário remete à écfrase, e 
especialmente, à hipotipose, enquanto ampliação e sistematização de elementos da retórica 
na literatura. 

115 O termo grego “ekphrasis (de phragô, ‘fazer entender’, e ek, ‘até o fim’) significa ‘exposi- 
ção’ ou ‘descrição’, associando-se às técnicas de amplificação de tópicas narrativas” (HAN- 
SEN, 2006, p. 85) e à descrição de obras visuais - quadros, esculturas, objetos diversos - por 
meio de palavras, que apresentam, pela escrita, algo imagético ou mesmo imaginário (POP, 
2008, p. 5). 

116 Não, porém, em seus contos. O exemplo maior é aquele de “Um primitivo”, em que 
uma tela mural é repetidamente trabalhada e recomposta pelo pintor (Mestre Camilo) ao 
ponto da exaustão de temas e esforços. Remetemos, pois, o leitor à análise do conto mencio- 
nado, presente no cap. 4. 

117 «Fes impressionnistes ont été curieux de sensations nouvelles; ils en ont cherché d’éclatantes, de délicates, 




132 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Quadro 5 — Claude Monet, La pont cVArgenteuil, 1874, óleo sobre tela, 60,5 x 80 cm, Musée d’Orsay, 
Paris. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via Univ. Lyon II) 


“‘24— Pont dArgenteuil. Água, reflexos; reflexos vivíssimos dos barcos 
brancos; reflexos de uma ponte pardacenta e azul-roxo à direita, do arvoredo 
verde sujo ao fundo, do céu transparente com placas de nuvens claras. É a 
fisionomia das cousas quietas.’” (idem) 


d’inattendues; ils ont noté des jeux de lumière, des nuances, des reflets que l’on n’avait point discernes avant 
eux. II ' y a quelque naíveté à les prendre pour des barbares, ils sont des raffinés de la Vision. Ils veulent enrichir 
l’oeil de perceptions nouvelles pour varieret renouveler ses plaisirs.» (SEAILLES, 1925, p. 124) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


133 



Quadro 6 — Claude Monet, Vetheuil dans k brouillard, 1879, óleo sobre tela, 60 x 71 cm, Musée 
Marmottan, Paris. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via Univ. Lyon II) 


‘“40- Vetheuil dans le brouillard. Um lago, bruma, um barco a vapor, casas, 
uma aldeia, igreja, castelo, espelhamentos, luz difusa, o ambiente incerto do 
sonho, que parece ser característico deste artista.’” (idem) Avesso, porém, à 
avaliação de seu Père Vincent, afirma o cronista, imediatamente a seguir: “Engana- 
se o crítico. Os grandes apuros de sinceridade tocam os confins do irreal.” 
(idem) 118 


1 18 A íntima percepção do impressionismo como pintura hiperrealista denuncia a acuidade 
crítica de Domício, infelizmente tolhida pela estética do meio termo (conforme esboçada até 
o momento). De fato, a aproximação impressionista do imediatamente percebido é paralela 
à fotografia : “The uncompromising natumlism to which they aspired — [. . .], the great emphasis on the 
objective eye; their desire to record the transitory character of natural light and shade, amounted to a kind 
of perceptual extremism which was germane to photography itself, and would not necessita te — indeed would 
obviate — copyingfrom photographic printsT (SCHARF, 1968, p. 126) Aliás, Domício tece alguns 
comentários, em crônica de três de junho de 1 890, acerca da fotografia: “De cinquenta anos 
para cá, a fotografia tem feito caminho. Os aperfeiçoamentos dessa indústria especial, que 
toca os limites da arte, permitem hoje conservar para os mais variados destinos o espetáculo 
de tudo o que um raio de luz natural ou artificial torna visível. As placas esmaltadas de sais 
sensibilizáveis são hoje para a ciência, como para a arte, o auxílio mais precioso. A poeira es- 
telífera das nebulosas no fundo azul-negro dos céus noturnos, o adejo da andorinha flechan- 
do o espaço na suprema graça do voo [...], os contornos de uma paisagem que a memória vai 
colorir à feição das claridades de dentro, o vulto harmonioso de uma estátua, um movimento 
de massas populares tocadas pelo contágio dos entusiasmos coletivos [...] são do domínio da 
fotografia. Mas o interesse supremo da fotografia é o retrato humano, com as considerações 
que ele sugere ao espírito de quem anda em busca do que é mentira e do que é verdade. A 
falta de fisionomia e a aparência morta de uma prova bruta dos retratos assim feitos des- 


134 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Quadro 7 — Claude Monet, L es glaçons, 1880, óleo sobre tela, 60,5 x 99,5 cm, Musée d’Orsay, Paris. 
Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via Univ. Lyon II) 


“‘46— Les glaçons. Embmmado ainda, sente-se a gente deslocada, como 
sob uma alucinação da visão. O verde cadáver do rio dá um grande pestígio à 
tela.’” 



consolam da realidade. Diante de uma fotografia de artista amador, sente-se vivamente a 
necessidade de simpatia que o trabalho do artista comunica à sua produção. Foi então um 
reforço que a invenção de Niepce veio trazer à arte em vez de uma concorrência perigosa.” 
(GAMA, 1890q, p. 2) Em todo caso, parece certo dizer que Domício não coadunaria com os 
desdobramentos posteriores do impressionismo pressupostos na desconstrução do realismo 
aos “confins do irreal” (GAMA, 1889q, p. 2) - i.e., ao abstracionismo: “II est facile de dire: un 
tableau est d’abord une surface plane, avec des couleurs en un certain ordre assemblées, et après seulement un 
cheval de bataille ou un nu — mais ce sont les mpressionnistes qui on reconnu les premiers ce phénomène et qui 
lui ont frajé un chemin. En ce sens, c’est avec eux que commence la peinture sans sujet, la peinture abstraite.» 
(EVERS, 1972, p. 152) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


135 


Quadro 8 — Claude Monet, Lm maison chi pêcheur, 1882, óleo sobre tela, 60 x 78 cm, Museum 
Boijmans van Beuningen, Roterdão. Fonte: collectie.boijmans.nl, Museum Boijmans van 

Beuningen. 


‘“56 —La maison du pecheur. Uma casinha no alto de um morro maninho, 
amarelento, destacando-se em silhueta sobre o mar verde-azul em que passam 
brancuras errantes longe. A melancolia das solidões.’” 



Quadro 9 — Claude Monet, Bordighera, 1884, óleo sobre tela, 65 x 80,8 cm, The Art lnstitute of 
Chicago. Fonte: artstor.org, ARTstor (acesso via Univ. Lyon II) 


“‘61 — Al Bordighera. Um pomar, um jardim italiano. Flores e frutas, 


gritando em cores; céu verde, mar azul, uma convulsão cromática.”’ 



136 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Quadro 10 — Claude Monet, Sous les pins, 1888, óleo sobre tela, 73 x 92,1 cm, Philadelphia Museum 
of Art. Fonte: philamuseum.org, Philadelphia Museum of Art. 


“‘1 14 — Sous les pins. An tibe s. Pingos de cádmio, figurando a vermelhidão 
do crepúsculo entre a folhagem dos altos pinheiros escuros; ao fundo um azul 
vago de montanhas na turvação da hora. Relevo valente.’” 


A resposta a tantas flutuações teóricas, provavelmente sugerida (senão 
motivada) pela contemplação dos quadros impressionistas na Galeria Petit, vem 
pouco tempo depois em crônica escrita a 24 de agosto de 1889 e publicada a 13 
de setembro na Gaveta de Notícias, “Cousas modernas”. Nela, Domício define 
com maior precisão o que entende por “moderno” e “modernista”, e, definindo 
tais termos, acaba por definir-se a si, ajustando e consolidando os meios termos 
de outrora. 

Para tanto, vale-se do mesmo recurso retórico que utilizará mais de uma 

década depois no prefácio às Histórias curtas —as desculpas prévias perante o leitor 

e o reconhecimento de sua humildade, antes, de sua estreiteza de pensamento, 

como responsáveis pela imediaticidade de sua arte. Assim: 

Para mim, que sou um humilde e simples de espírito, que não sinto 
tão bem as grandezas extintas como as que me dominam na hora 
presente, o sentimento do moderno é a simpatia com a vida que me 
pulula em torno. A humanidade por que me afino é essa que vive 
comigo hora a hora, que sente, pensa, e quer cousas que entendo, 
que sinto, que sou capaz de querer, imediatamente realizáveis ou 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


137 


não, mas nunca inúteis ou obsoletas. (GAMA, 1889e, p. 1) 

Nos termos colocados, seu processo criativo corresponde a uma espécie 
de afinação íntima com a vida que o cerca, i.e., uma íntima simpatia, que garante 
simultaneamente que seja entendido pelos demais e que possa entender, com 
um mínimo de desvio, os sentimentos de seu tempo. É, pois, no plural que 
entende o conceito de “moderno”, enquanto miríades de ramificações do 
tempo presente: 

O que é que é moderno, qual o caráter do modernismo não é 
coisa fácil de dizer e ninguém mesmo ainda o definiu. Caracteres do 
moderno, sim, cada um descobre diariamente, por miúdas feições, 
por facetas microscópicas, por cantinhos singulares da alma que 
se revela. Só as linhas gerais da construção psicológica faltam. E 
faltarão. Há coisas que não convém saber. O enigma eterno é a razão 
de ser da nossa atividade, o estímulo do progresso. [...] Não imagino 
Deus, como não imagino o nada - a concepção da onipotência com 
a onisciência é niilista, (idem) 

Outra não poderia ser a definição de uma cosmovisão impressionista, 
nem a de sua contribuição espiritual à modernidade, enquanto pluralidade de 
interpretações de um mundo despido de projetos transcendentes, “por miúdas, 
feições, por facetas microscópicas, por cantinhos singulares da alma” (idem). 
Domício recusa-se a falar em termos absolutos, certo de que a verdade só pode 
ser atingida de maneira parcial, individual. E congratula-se pela maturidade de 
seu tempo, alheia a quaisquer tipos de doutrinação: “A lógica é a característica 
do tempo. A preocupação do mal que podem causar teorias não verificadas [...] 
é uma cousa só do nosso tempo, e uma bem bela cousa.” (idem) 

Levando essas reflexões mais adiante, afirma ser cada vez menor “a 
separação que havia entre a ciência pura e o sentimento humano. Toda solução 
de uma questão teórica só vale pelas suas consequências sociais.” (idem) O que 
significa dizer que a fragmentação da vida cotidiana e a validade individual das 
tantas perspectivas sobre ela apenas tem função se compreendidas à luz da 
crise dos absolutismos, dos extremismos, dos valores transcendentes. Assim, 
observa a inexistência de grandes heróis de época, como outrora, e assinala “a 
abundância de heróis sem espada ao lado” (idem), que compreendem a limitação 
de suas atividades e insistem em fazer o melhor que podem, especializando-se 
ao máximo, a fim de contribuirem para com o conjunto da sociedade: “Ao 
passo que os antigos reis diziam nós e era do seu único querer que se tratava, os 




138 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


da realeza de espírito atual dizem eu frequentemente e é o sentir, a aspiração do 
seu tempo que fala por sua voz.” (idem, grifos do autor) 

Finalmente, a interpretação da atividade individual (social) transfere-se 

para o domínio da arte, enquanto ápice da “vibração humana”: 

É o que faz que o nosso tempo pareça profundamente egoísta, 
sem o ser. Em cada obra individual, sincera, de convicção, sente- 
se a vibração humana. Atravessaram-na as correntes das aspirações 
sociais, que lhe deram têmpera e cunho. O sonho infinito exprime- 
se artisticamente: no gesto indeciso de uma face de estátua, na 
luz inefável de um canto de paisagem, no abaixamento de tom 
de uma frase musical repetida em eco, no destaque de um teto de 
palácio sobre um fundo de arquiteturas longe, numa combinação 
decorativa de cores e linhas, na orquestração de uma página de estilo 
cheia de harmonias voluntárias, um reflexo de sensações facilita as 
comunhões mas íntimas no mundo do sentimento, (idem) 

No que toca especificamente à literatura, percebe-se uma concepção 

mais ou menos simbolista, mais ou menos parnasiana, de composição do texto, 

entendido enquanto “orquestração de uma página de estilo cheia de harmonias 

voluntárias” (idem), sob a concepção abrangente do conceito anterior de 

modernidade. Contudo, do ponto de vista da evolução de seu pensamento 

estético (e do salto qualitativo que opera frente às crônicas anteriores “De Paris”, 

escritas num intervalo de poucos meses antes), é de impressionar o quanto 

“Cousas modernas” esclarece pontos escusos até então. A necessidade de uma 

integração entre o sentir geral e o sentir individual na recepção e criação artísticas 

é resolvida pelo íntimo sentido social do indivíduo na sociedade moderna. É 

por estar imerso em um fluxo temporal acelerado, avesso a valores e a medidas 

transcendentes (vide as críticas anteriores de Domício ao classicismo, ao 

romantismo e ao naturalismo, agora esclarecidos enquanto projetos apriorísticos 

de expressão, pouco ajustados à imediaticidade da “vibração humana” (idem)), 

que o cotidiano pequeno e múltiplo do indivíduo adquire sua validade e 

significação. Trata-se, pois, de uma abordagem pluralista e presentificadora do 

real, muito próxima (senão idêntica) àquela do impressionismo. Afinal, 

[...] jamais houve um mestre impressionista. Essa revolução, 
se revolução houve, foi feita por muitos pigmeus, e não por um 
gigante. Eis a grande diferença entre as revoluções de outrora na 
Arte e aquelas de hoje. Outrora, o que estava em voga, o que era 
afiançado pela crítica, o que era certo para o bando indistinto de 
artistas, da trupe dos “seguidores”, era a rotina; hoje, é a inovação. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


139 


(SIZERANNE, 1904, p. 89) 119 


1901: balanço extemporâneo e retrocesso ao impressionismo do “meio 
termo” 


Muito embora tenha encontrado em “Cousas modernas” um argumento 
apropriado ao conjunto das intenções esboçadas desde “O justo meio”, 
Domício continua a rever sua relação com a arte, ainda que de maneira cada vez 
mais esporádica. Como afirma em carta a José Veríssimo de 25 de novembro 
de 1 898, 120 algo fatigado do desnível entre os trabalhos exigidos pela literatura e 
seus retornos: 

Tenho feito tanta coisa para alicerce de minha reputação literária 
que já é tempo que a fábrica comece a surgir do solo. É natural 
que as paredes sejam mais magras. Não poderia levá-las até cima 
com a mesma espessura, como alguns tem feito. O meu sonho seria 
sobre os fundamentos robustos da ciência assentar uma obra leve 
e graciosa e bem arquitetada, bem ajanelada e aberta, passada de 
claridade e alegria. Não é provável que seja isso que farei, que sou 
pesado e triste; mas isso é o que me aprazeria fazer. (GAMA apud 
BORGES, 1998, p. 526) 

A partir de tal desabafo, seria de se imaginar que Domício desejasse 
desempenhar o papel de um de Daudet, elogiado em “O justo meio” como 
alternativa ao trato grosseiro de Zola com a ciência. 121 Por sua vez, a metáfora 

119 “Le maítre impressionniste n’a pas paru. Car cette révolution, si révolution ily a, fut faite par beau- 
coup de pygmées et non par un géant. C’esf la grande difference, en Art, entre les révolutions d’autrefois et 
celles d’aujourd’hui. Autrefois, ce qui était à la mode, ce qui était encouragé par la critique, ce qui était par 
conséquent le lot de la foule des artistes, du troupeau des « suiveurs », c’était la routine ; aujourd’hui, c’est 
rinnovation .» 

120 A respeito da proximidade entre José Veríssimo e Domício da Gama, Sílvio Romero 
(1909, p. 33) julga, numa áspera passagem, ser produto unicamente do cálculo do crítico, 
amável com o contista (e com outros) por conta de sua posição privilegiada na diplomacia: 
“Snr. Zezé, tome senso. Releva ponderar, entre parêntesis, que não são, pois, só os figurões, 
mais ou menos suspeitos da literatura indígena, os festejados pelo Snr. José Veríssimo. Igual 
atração sente ele, como se vê, por estrangeiros de posição diplomática, política, ou literária, 
que aparecem cá... E o mesmo com os diplomatas da terra: Magalhães de Azeredo, Nabuco, 
Domício da Gama, Oliveira Lima, Graça Aranha, Assis Brasil, Rio Branco, alguns dos quais 
lhe eram completamente alheios. É um tic do criticastro e fica-lhe bem e traz-lhe vantagens.” 

121 Um elogio semelhante é aquele presente em uma crônica pouco anterior da coluna 
“De Paris”, datada de primeiro de junho de 1889 (e já mencionada a propósito da “arte de- 
mocrática”), em que defende, ainda uma vez, a arte do meio termo: “[...] toda obra de arte 




140 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


da ficção enquanto casa repleta de janelas (e de pontos de vista conflitantes — 
postura acertada ao então recente pluralismo teórico de Domício, bem como 
à focalização de muitos de seus contos) seria retomada por Henry James 
(1921, p. XI) em seu valioso prefácio a The portrait of a lady , com repercussões 
importantes não apenas na literatura, mas também no desenvolvimento das 
teorias da narrativa. 122 

Por sua vez, em seu prefácio (introdução) às Histórias curtas , “Nota para 
o meu melhor leitor”, Domício da Gama não apenas faz uma síntese de seu 
pensamento estético, como também prevê, enquanto diálogo com um público 
ideal, sua posição frente a questões de caráter extratextual, tais como as nuanças 
da recepção de sua obra e a importância do leitor na criação ficcional. Assim, 
muitas das questões exploradas nas crônicas anteriores são revistas nesta que 
é a última reflexão estética do autor. De fato, como aponta Alberto Venâncio 
Filho (2002, p. 225), a “Nota” “parece a premonição de que sua obra literária 
estava encerrada, e que deveria apresentar uma explicação ao público.” Trata- 
se, pois, de uma reflexão ampla (e derradeira) acerca da produção de seus textos 
literários, que conviria ser discutida em três momentos distintos, de acordo com 
as linhas gerais seguidas por sua argumentação: uma primeira exposição acerca 


honesta e habilmente realizada, sem rangidos de dentes, estremeções de nervos nem fúrias 
michelangelicas, é sinal de que o seu autor é uma boa alma, capaz de idealização, mas sem 
voos olímpicos que nos façam vertigens e que nos deixem depois exaustos, com a marca para 
sempre das suas garras de águia de talento.” (GAMA, 1889o, p. 1) 

122 James é muitas vezes analisado por suas contribuições ao impressionismo literário, sendo 
esporadicamente classificado enquanto tal. No prefácio mencionado, James (1921, p. XI-XII) 
explora a pluralidade de perspectivas narrativas como marca indelével da ficção: “The house of 
fiction has in short no tone window, but a million — a number of possible Windows not to be reckoned, rather; 
every one of which has been pierced, or is still pierceable, in its vast front, by the need of the individual Vision 
and by the pressure of the individual will [. . .] They are but Windows at the best, mere boles in a dead wall, 
disconnected, perched aloft; they are not hinged doors opening straight upon life. But they have this mark of 
their own that at each of thern stands a figure with a pair of eyes, or at least with a field-glass, which forms, 
again and again,for observation, a unique instrument, ensuring to the person making use of it an impression 
distinct from every otherT A ênfase de James em termos visuais, entendidos enquanto impres- 
sões diversas do real (a partir do uso da focalização interna múltipla), pode ser entendida 
como uma das definições clássicas do impressionismo literário. No mais, bons estudos acerca 
do impressionismo em James são aqueles de Armstrong (1983); Hannah, (2007; 2013); Hay 
(1988); Hoople (2000), Kirschke (1981); Parkes (2000); Stowell (1980) e Torgovnick (1985a; 
1985b). Como de praxe, comentários individuais às análises de tais autores sobre o impres- 
sionismo literário, bem como à crônica de 13 de maio de 1876 em que Henry James comenta 
o impressionismo pictórico, encontram-se no anexo 1. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


141 


da influência do público ledor na composição dos contos; uma reflexão central 
de caráter teórico, em que conceitos importantes do impressionismo literário 
são evocados; e um terceiro e último momento de discussão da finalidade moral 
e prática do conjunto de sua obra ficcional. 

A primeira destas partes consta dos cinco parágrafos iniciais, nos quais o 

autor dirige-se diretamente ao leitor, nos seguintes termos: 

Escolhi-o para representante dessa espécie, particularmente 
cara ao escritor, de leitor afetuoso e simpático, que ainda nas páginas 
falhas descobre o que quisemos exprimir, de leitor atento sobre 
todos, que no livro cheirando a tinta nova busca a frescura da emoção 
e a sinceridade e a pureza imaculada do coração que não envelhece. 
Em casa e por fora a gente sempre carece dessa atenção benévola, 
para acreditar na eficácia do próprio esforço. É ela que supre a falta 
de encomenda do sermão inconclusivo e sem moralidade, embora 
cheio de intenções e de apólogos e de apologias vagas, que é o livro 
da imaginação. (GAMA, 2001, p. 3) 

A intimidade do diálogo com o leitor, que demarca de antemão a escolha 
do público pelo autor (e não o inverso, como indicado em “De Paris”) precede 
o tom cerimonioso e cortês, quase de elogio mútuo, entre autor e leitor, sob 
“a frescura da emoção e a sinceridade e a pureza imaculada do coração que 
não envelhece.” Como justificativa, é evocada apenas a necessidade humana 
de compreensão e diálogo, sob o duplo registro do livro de arte — equidistante 
do “sermão inconclusivo e sem moralidade” e dos “apólogos” e “apologias 
vagas” ordenadas pela “imaginação” (idem). O termo médio das proposições, 
enumeradas assim em tom grandiloquente, permanece velado, embora deixe 
entrever-se na menção à “falta de encomenda” do livro (idem). Não obstante, 
a cordialidade do autor não pressupõe uma hostilidade a esta falta (que seria 
mais marcadamente do público), pois, como ele próprio afirma no início do 
trecho, é ele quem escolhe seu leitor, independente da servidão pressuposta pela 
encomenda de textos de ocasião. 

Tal relação comercial é retomada ao esclarecer a dupla posição do 
escritor, análoga à da arte: “Há quem sempre sinta o dever de escrever para o 
público, para um grande número de pessoas, que lhe são desconhecidas, mas 
que imagina esperando respeitosamente, ansiosamente, a emoção ou a doutrina 
nova trazida pela sua obra.” (idem) Em tom de ironia, confessa ainda “não 
[ser] preciso ser Chateaubriand ou o papa para ter dessas orgulhosas certezas” 




142 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


contidas na seção dos “a pedido dos jornais”, daqueles que queriam ser lidos 
apenas para confessar ou compartilhar “suas dificuldades domésticas”, “seus 
conflitos e pendências com os vizinhos” etc. (idem, p. 3-4) Avesso à ordem 
puramente pessoal desses trabalhos, comparados àqueles de escritores ou 
oradores famosos, certos de serem lidos e para quem o público existe apenas 
como massa amorfa e abstrata, o autor delimita seu horizonte de atuação, 

excluindo tudo que escape à percepção imediata: 

Comigo não se dá o mesmo. Eu tenho a abstração difícil, em se 
tratando de pessoas. Não sei escrever senão para as que conheço e só 
para elas escrevo. [...] A forma, a cor, a espressão [sic] dos olhos que 
me lerão eu careço de conhecer, de ter presentes ao espírito quando 
escrevo de coisas sentidas. São assim as melhores cartas aquelas em 
que mandamos às pessoas amigas impressões, sentimentos e ideias 
de cujo acolhimento afetuoso estamos seguros. Um livro de emoção 
não obedece a outro estímulo. De sorte que se pode dizer que a 
obra de um escritor depende grandemente dos seus leitores, isto é, 
daqueles para quem ele usa escrever, (idem, p. 4-5) 

Portador de uma “abstração difícil” que lhe compromete a inspiração, o 
autor indica, à maneira de um mea culpa , a intimidade necessária de seus contos, 
escritos para pessoas das quais já tem em mente até mesmo “a forma, a cor, a 
espressão [sic] dos olhos” (idem). 12 ’ Neste sentido, os contos diminuem-se ao 
ponto de igualarem-se à correspondência trocada entre si e tais pessoas, acerca 
de “impressões, sentimentos e ideias de cujo acolhimento afetuoso estamos 
seguros.” (idem) Do “livro de imaginação” anterior, passa-se a falar em “livro 


123 É irônico observar que a mesma postura é ironizada pelo autor em crônica da seção 
“De Paris” publicada pela Gaveta de Notícias a 12 de julho de 1889. Nela, critica o ridículo de 
diversos literatos do mundo todo, reunidos em Paris para o I Congresso Internacional dos 
Homens de Letras, pronunciarem discursos mal construídos e em péssimo francês, ainda 
que intimamente certos de serem lidos e apreciados pelo público virtual que criam para suas 
necessidades: “[...] a única hipótese explicativa que encontrei foi a desse público abstrato, que 
nós criamos cá dentro, que nos é simpático, que nos aplaude e nos entende sempre mesmo 
quando nós não nos entendemos bem, que crê no que dizemos mesmo quando a mentira é 
flagrante, que nos defende, nos honra e nos consola quando o nosso merecimento e o nosso 
amor-próprio de pequeninos gênios são reduzidos às suas justas proporções e humilhados 
pelos que tem força e valor. Para esse público bastante fino e sagaz para entender os suben- 
tendidos e as lacunas de nossa expressão defeituosa e bastante ingênua para aceitar confia- 
damente as imposições da nossa interessada interpretação do mundo é que se escrevem os 
livros e os jornais em que ninguém acredita e se fabricam as obras de arte inteligíveis ou rasas, 
a que às vezes a moda atribui caprichosamente valias, profundezas e sentidos puramente ar- 
bitrários. ” (GAMA, 1889p, p. 2) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


143 


de emoção” (idem), construído a partir destes leitores seletos, posto que sentido 
e imaginado em sua presença. Curiosamente, a simpatia do leitor serve-lhe de 
apoio não para a recepção positiva dos textos, mas para que se torne possível, 
dentro desta atmosfera de amizade e apoio mútuo, a escrita ficcional, pautada 
na imaginação e chancelada pela emoção. Do contrário, não seria possível o 
diálogo franco entre os pares aqui indicados — autor, leitor. Assim, é necessária 
a presença quase física de seu “melhor leitor”, sem o qual careceria o texto de 
poder sugestivo. Trata-se de uma abordagem empática e lisonjeira do leitor, 
logo classificado de “melhor”, que quase seguramente obtém de si, senão o 
afeto, ao menos certa generosidade crítica . 124 

Dando continuidade à argumentação, o autor confessa os limites de sua 
visão fixada apenas no “estudo de cenas e visagens curiosas”, indicando-a como 

alheia a uma apreensão maior dos dramas humanos: 

Generalizando o meu caso para os escritores de meia força 
creio que acerto. Para os gênios há outra medida e outro critério. 
O arranco desses dá para transpor até a barreira das línguas. Quem 
olha a multidão de muito alto não distingue mais as figuras; percebe 
apenas o formigar da gente. Mas em compensação pode assim 
acompanhar os grandes movimentos das massas, seguir a direção 
das irreprimíveis correntes humanas. É natural, portanto, que a 
expressão dessa contemplação panorâmica do mundo seja diferente 
da do estudo das cenas e visagens curiosas. Falam os gênios a nações 
e a raças, em alocuções soberbas; nós falamos modestamente às 
pessoas que nos querem ouvir. Eu então falo a muito poucos, (idem, 
p. 5) 

Reconhecendo- se distante da visão panorâmica própria aos escritores de 
gênio, que gozam de “outra medida e outro critério”, o autor reclama para si 
a visão pormenorizada do “estudo de cenas”, útil apenas “às pessoas que nos 
querem ouvir” (idem). Se, por um lado, Domício reconhece aqui sua posição 
como reduzida no panorama literário, medida pelo escasso número daqueles 
que, por amizade e lhaneza de trato, põem-se a ouvir-lhe as impressões, por 


124 “Num século em que não se falava ainda da teoria da recepção teorizada, entre outros, 
por Wolfgang Iser, Domício alertava que não sabia escrever para um público sem rosto. [...] 
Se de um lado [isto] mostra um escritor doméstico, preocupado apenas com a emoção do 
grupo restrito, por outro revela um escritor tímido, temeroso de alcançar grande público que 
tem rosto anônimo e não se personifica diante do autor. Todo autor parece eleger um leitor 
ideal, mas em Domício o leitor ideal estava em Eça, estava no Barão, estava em Eduardo 
Prado, entre poucos outros.” (FERNANDES, 2011, p. 18) 




144 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


outro, reconhece que seu lugar é em meio à multidão, capaz de garantir para 
si uma maior precisão das cenas descritas e analisadas (ou, antes, uma maior 
simpatia, como previsto em “Cousas modernas”). A proximidade, antes de ser 
uma falta, é a salvaguarda de sua obra, pois a torna íntima dos dramas cotidianos 
dos leitores. Sob um registro biográfico-teórico (nesta ordem) de confessadas 
limitações imaginativas e intelectuais, vão distinguindo-se assim os elementos 
de sua estética pessoal: 

Dizia eu, pois, que o escolhi para explicar as faltas e os 
excessos deste livro, que é como um álbum, sem mais laços que os 
dos cadernos que compõem o volume, e que apenas encerra algumas 
cenas e visagens curiosas, paisagens e retratos físicos e morais, sem 
tenção de doutrina nem presunção de clarear cantos obscuros da 
alma humana. 

São histórias curtas, são páginas destacadas do grande romance 
da vida, em que todos nós colaboramos, que alguns mais ambiciosos 
pretendem escrever sozinhos, (idem) 

Transitando para o núcleo teórico da introdução, como que a fim de 
“explicar as faltas e os excessos deste livro” (idem), Domício deixa entrever 
um dado importante: a falta de unidade e a fragmentação das estórias por vir 
devem-se também ao conteúdo dos contos, que consistem de “algumas cenas 
e visagens curiosas, paisagens e retratos físicos e morais” (idem), concebidos 
sem pretensões moralistas ou didáticas. Seu poder sugestivo limita-se à 
evocação das dificuldades comuns, sentidas em moto contínuo pelo autor 
enquanto impressões esparsas do mundo ao redor, em “páginas destacadas do 
grande romance da vida” (idem). O sentido da obra define-se, portanto, por 
um registro de emoções que ultrapassa o autor, deixando de lado a dimensão 
anacronicamente romântica que poderia ser aí pressuposta. 

Destarte, o autor discute a opção formal pelo conto, reconhecendo, além 
de sua praticidade, seu caráter de exercício para o escritor como campo de testes 
e experimentações: 

De serem curtas não tenho que me desculpar, se nelas parecer 
bem indicado o desenho das figuras, discriminada, simplificada, 
a ação moral, livre das imposturas do sentimento humilde. Num 
desses magazines americanos em que você contenta a sua moderada 
curiosidade do mundo exterior li uma teoria justificativa da história 
curta. Dizia o homem que as dimensões reduzidas do conto põem-no 
todo sob a apreciação do leitor e facilitam a sua inteligência imediata; 
no romance longo as demoras e vadiações da ação [...] fatigam a 
atenção de quem lê [...]. No conto não pode haver enchimento; 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


145 


falta o espaço para as linhas supérfluas, quanto mais para as páginas 
de ligação. O conto é, pois, para o autor uma disciplina e para o 
leitor moderno, falto do tempo e de atenção fugitiva, um resumo de 
emoção intensa e breve, (idem, p. 6) 

O autor orgulha-se da limitação espacial e da concisão temática do conto 
— é a primeira e única vez em que não se desculpa em todo prefácio — , uma 
vez que são incursões formais da nova relação de leitura dominante. A partir 
da opinião cosmopolita de um crítico americano (infelizmente não nomeado), 
Domício justifica o efeito benéfico do conto sobre o leitor por ser ele apreendido 
de um só golpe, ao contrário do romance, que pode contar com “demoras e 
vadiações da ação” e reduzir-se ao “enchimento” de “linhas supérfluas” (idem). 
A essência do conto reside em ser sua capacidade de comunicação adaptada 
a todo tipo de leitor. O “desenho das figuras” e da “ação moral” torna-se 
disponível para quem é “falto do tempo e de atenção fugitiva”, servindo de 
“resumo de emoção intensa” pela indicação segura do “desenho das figuras” 
representadas (idem). Tempo e concisão, termos médios da teoria do americano 
incógnito, são retomados integralmente por Domício, que não questiona em 
nenhum momento o fato de serem deslocadas para o público brasileiro de então 
a leitura de revistas americanas ou a vida acelerada do dia a dia. 12 5 

É curioso ressaltar, neste quesito, um breve adendo, a rigor alheio 
ao prefácio, mas que se faz cada vez mais evidente à medida que se tornam 
incompatíveis a postura do autor perante o público e a teoria de arte supostamente 
criada a partir dessa mesma relação. Domício, escrevendo da Europa nas horas 
vagas e em meio a missões diplomáticas que lhe rareiam cada vez mais o tempo 
de leitura e de escrita, não cogita que seja absolutamente despropositada à ideia 
de um público literário brasileiro as mesmas demandas de um público europeu 
ou americano. Seria impossível pensar, em meio ao analfabetismo de mais de 


125 É de surpreender que não haja uma reflexão na “Nota” sobre tal impasse. Pois, anos 
antes, no ensaio “A exposição de Belas Artes”, Domício discute a falta de uma tradição na- 
cional nas artes plásticas, estendendo peremptoriamente o sentido de tal ausência: “Há arte 
no Brasil, não há arte brasileira. Contentemo-nos com o que nos dão artistas estrangeiros de 
nascimento ou de educação, enquanto os seus discípulos brasileiros de sangue e de sentimen- 
to nos não revelam o caráter da arte nacional.” (GAMA, 1895b, p. 98) Apesar de não levar 
tais reflexões adiante, é de cogitar que seu impressionismo “do meio termo” seja uma forma 
intermediária de adaptação de uma estética europeia à realidade brasileira, como transição 
para uma arte nacional. 




146 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


metade da população, uma mesma necessidade de intercalar aos afazeres diários 
a leitura de textos cada vez mais breves, a fim de não perder um hábito de leitura 
que mal poderia estar formado . 126 A reflexão sobre o meio nacional embasa 
alguns dos contos das Histórias curtas , embora não seja retomado na “Nota para 
o meu melhor leitor”. Certamente, Domício pensa em seu “melhor leitor”, 
i.e., naquela porção privilegiada de letrados que dispunha de tempo e de meios 
para atualizar-se com as novas tendências da vida e da literatura europeia . 12 
Precisamente, trata-se do exato oposto àquela explicação para a forma reduzida 
do conto (a falta de tempo e a atenção reduzida), pertinente para o contexto 
europeu, mas sem fundamento para o Brasil de então. É, assim, emblemático 
que, posteriormente, Domício tenha deixado a literatura após a publicação do 
volume, cujas vendas no país mal pagaram o custo da edição . 128 Em todo caso, 
cabe ressaltar que é escusada qualquer reprovação da postura do autor com base 
em sua inadaptação ao meio nacional, tendo em vista suas condições de criação, 
por assim dizer, transnacionais. Neste caso, há que se observar que a equiparação 
entre os públicos europeu e brasileiro adequa-se, ao menos, ao tom cortês (dir- 
se-ia diplomático) que assume o autor em todo o prefácio, estabelecendo, senão 


126 Uma explicação alternativa para tal predileção pela escrita de contos é a de que o próprio 
autor, em meio às constantes tarefas designadas por Rio Branco, não dispunha de tempo para 
a literatura. Assim, em seu prefácio: “Não apenas representa um conhecimento do assunto, 
mas também uma afirmação de sua estética. Ou seja, seu conto deve ser curto, conter o 
essencial, contar a história de forma direta e caminhando para um desenlace. O que quero 
dizer com isso é que Domício poderia exercer plenamente o exercício de escritor e ampliar 
sua bibliografia. Se não o fez, questões exteriores à literatura contribuíram para distraí-lo da 
literatura. Os contos escritos num só dia mostram uma personalidade que tinha necessidade 
de expressar-se e, ao mesmo tempo, uma ânsia de livrar-se daquele ‘incômodo criativo’ que 
perseguem os escritores até que eles escrevam o que lhes vai na alma. [...] Se por um lado a 
convivência com Eça de Queirós e outros escritores serviam de estímulo para a criação, por 
outro, a diplomacia tomava-lhe o tempo ou tomava-lhe o espírito, o que era, para a criação, 
mais daninho e dispersivo.” (FERNANDES, 201 1, p. 16-17) Uma terceira opinião é a de Ar- 
tur Azevedo (1901a, p. 4), para quem, em tom de blague , as Histórias curtas , “um belo volume 
de Domício da Gama [...] tem um único defeito: o serem curtas.” 

127 Ou, mais simplesmente, que aí estavam. Como afirma a propósito do relativo sucesso 
de uma exposição de Victor Meirelles em Paris: “Vê-se que os brasileiros aqui valem alguma 
cousa. E há tanta gente que se está perdendo na rua do Ouvidor, em vez de ser aproveitada 
convenientemente nesta terra hospitaleira...” (GAMA, 1889hh, p. 1) 

128 De acordo com Bechara (2013, p. 211), nenhum retorno financeiro coube a Domício, 
“acrescidas as agruras de ter perdido as reservas investidas na edição de Histórias curtas , que o 
editor Francisco Alves distribuiu de graça.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


147 


uma pertinência histórica, ao menos uma pertinência estilística. 

De volta à sua exposição, o autor continua a referir-se à agitação do 
cotidiano como contraponto à atenção necessária para a composição de um 
romance, afirmando: “Vivemos todos tão abertos à discussão dissolvente, tanto 


nos abeiramos do turbilhão do mundo, que ele nos atordoa e fascina e tira a 
segurança da nossa integridade.” (idem) Como resultado, restam as observações 
e impressões do cotidiano: 

Em plena agitação podemos tomar notas, registrar gestos, delinear 
planos, esboçar figuras, dramatizar uma cena. Para mais seria preciso 
recolhimento [...]. Não podendo escrever grandes composições, 
numerosas de personagens e de movimentos, contentei-me com a 
página de álbum, mais fácil e acessível, com a cena ou mesmo o 
simples gesto indicativo do sentimento que anima e dá vida à criatura 
de ficção. Penso que assim sou mais respeitoso da inteligência dos 
que me leem e lhes deixo campo à imaginação criadora. Se eu não 
somente esboçasse, mas ainda fixasse estas vagas figuras na sua 
atitude definitiva, típica, é provável que a minha obra perdesse em 
transmissibilidade (deixe passar o que há aí de pretensioso) e se 
imobilizasse e endurecesse e se isolasse, (idem, p. 7) 


Atendo-se à “página de álbum”, à “cena” ou ao “simples gesto indicativo” 
que pode delinear uma personagem (idem), o autor justifica-se pela capacidade 
criativa cedida ao leitor mediante tais recursos, como consequência do caráter 
fragmentário do conto. É a partir deste esboço de personagens que o leitor deve, 
pois, completar sua experiência de leitura, participando ativamente do processo 
de produção do texto literário com suas próprias sensações e memórias. Feito um 
parêntese, trata-se de algo próximo ao que apontara Charles Baudelaire (1995) 
acerca da arte moderna. Para Baudelaire (1995, p. 852), o belo é composto de 
uma dupla natureza, voltada para “um elemento eterno, invariável” — a tradição 
artística de cada gênero, suas formas, temas etc. — e por “um elemento relativo, 
circunstancial” — a experiência cotidiana de cada época, em que se compreendem 
“a moda, a moral, a paixão.” Assim, oposta à arte clássica, a arte moderna está 
sob o signo do “transitório, [do] efêmero, [do] contingente, é a metade da arte, 
sendo a outra metade o eterno e o imutável.” (BAUDELAIRE, 1995, p. 859) 
Neste sentido, a “página de álbum” de Domício da Gama tende a aproximar-se 
das ilustrações de Constantin Guys, exemplo maior de artista moderno evocado 




148 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


por Baudelaire (1995). 129 

Guardadas as devidas proporções, o elemento transitório e a notação 
imediata das sensações é aproximadamente o que afirma Domício logo a seguir, 

como elemento primordial da literatura e da língua como um todo: 

O meu desejo seria que estes contos tivessem a amabilidade 
máxima de fazer trabalhar imaginações, sugerindo-lhes ideias, 
evocando memórias, recordando e criando. Forma, língua, 
composição literária, são coisas incertas e transitórias, e já se pode 
prever o tempo em que as páginas mais simples deste livro parecerão 
ridiculamente preciosas , fora da moda, até que a distância no passado 
lhes confira a veneração atribuída aos clássicos, (idem, p. 7, grifo do 
autor) 

Reconhecendo o transitório como domínio dos contos (assim como da 
literatura em geral), Domício salienta também sua validade temporária, útil para 
o registro de época, mas logo superada pela “distância no passado” como “fora 
da moda” (idem). A obsolescência do texto é o que lhe garante “a veneração 
atribuída aos clássicos” (idem), passando assim (com certa impropriedade, e a 
partir dos termos de Baudelaire (1995)) do polo “circunstancial” para o polo 
“invariável” da arte. Por isto, seu desejo é que os contos agradem, uma vez que 
sua sobrevida se garante por seu testemunho histórico (i.e., enquanto documento 
de época). Os contos tem, assim, a finalidade explícita de agradar, embora não 
abram mão do diálogo com a tradição literária nem de suas expectativas para 
com a arte futura. Trata-se de uma literatura de entretenimento no mais alto 
sentido, capaz de reconhecer e testar seus limites a fim de expandir os horizontes 
de seu público. 

Entretanto, Domício reconhece que tal projeto não se realiza de todo, 
e que, apesar de sua tentativa de ser o mais impessoal possível, “apenas falam 
em conclusão implícita a filosofia pessoal e a consequente amargura.” (GAMA, 
2001, p. 7) Confessa mesmo ter seguido fantásticas e “improváveis aplicações 
psicológicas da teoria das vibrações sonoras e luminosas”, em que buscou 
justificar o tom crepuscular de seus contos pelo menor número de “notas 
agudas” e de “raias claras” na escala musical e no espectro da luz (idem, p. 8). E 
declara perceber, anos depois, que “há diversidade nas capacidades perceptivas, 


129 Como se sabe, feitas no calor do momento e em meio aos combates da Crimeia, as aqua- 
relas e desenhos de Guys tinham a função de aproximar os franceses da década de 1850 do 
progresso militar da França, enquanto óbvia propaganda do governo de Napoleão III. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


149 


isto é, há o absurdo para quem o som não existe e há o gênio musical vivendo 
sob a obsessão do número e ritmo e harmonia” (idem ). 130 Logo, conclui que não 
basta tecer comentários ou conclusões de ordem lógica ou causal para apreender 
as individualidades em sua inteireza, recomendando postar-se do lado de dentro 
de cada apreensão de mundo e aceitar as dificuldades e limites previstos por tal 
mudança de perspectiva. 

Numa passagem extensa e digna de citação integral, Domício elucida, a 

seguir, o problema dessa consecução intimista (impressionista?) de arte: 

Nos Conselhos de Monella vem escrito: “Si tu regardes en toi, 
que tout soit blanc.” E um voto de quem sente que a sombra maior 
é a interior. Essa é no entanto a minha escuridão familiar, em que me 
movo sem tropeços, numa segurança relativa, pois nela vivo e lido e 
canto e falo a mim mesmo e me faço companhia e guarda contra os 
fantasmas da Pena, desde que a ela me acolhi, no dia da Inteligência. 
Sem dúvida não é somente a minha vida que a povoa, sem dúvida 
forças e influências longínquas, inacessíveis ao meu conhecimento, 
compõem o que imagino ser a minha atividade consciente. Mas, 
estranhas ou ingênitas, as ideias que surgem à claridade indecisa da 
minha consciência tem a simpatia maior de parecerem geradas do 
meu entendimento. O apagamento e a incerteza são característicos 
da sua fisionomia original ou marcas da passagem através do meu 
negrume interior. Creio mesmo que porque aí se tisnaram é que 
tomam vulto e se destacam no turbilhão indistinto das formas 
incessantemente criadas e desfeitas na vibração cerebral. De sorte 
que por se encorparem e perderem a transparência e a leveza 
imaterial, por serem escuras, é que elas são perceptíveis. Nem se 
deduz inferioridade deste incidente de coloração. É tão alada a 
mariposa parda quanto a mais brilhante e vistosa das borboletas 
diurnas. O que importa dizer que a gravidade, o abaixamento do 
tom reflexivo, não é forçosamente significativa de amortecimento 
e depressão. Significará quando muito atenção maior, demora na 
contemplação, e será atitude respeitosa do espírito, (idem) 

Desdenhando do poder de influência do meio sobre o indivíduo, em prol 
de uma análise detida da vida interior (“a sombra maior é a interior”), Domício 
reconhece que o lusco-fusco da introspecção individual é a “escuridão familiar” 
onde habita e se move “sem tropeços, numa segurança relativa”, satisfeito de 
bastar-se a si mesmo na interpretação de sua vida consciente e inconsciente 
(idem). É, aliás, o reconhecimento dos limites desta perscrutação racional, 

130 Já vai longe, portanto, a teorização empreendida em “De Paris” acerca da vibração har- 
moniosa das cordas internas perante a música ou a literatura (GAMA, 1889h), aqui entrevista 
como fase incipiente de seu pensamento. 




150 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


assinalados por “influências de origens longínquas”, que permite estender seu 
horizonte às margens do inacessível, sob a “claridade indecisa” da consciência 
(idem). Assim, tornam-se palco e fundamento da expressão artística “o 
apagamento e a incerteza” (idem) da reflexão e da memória, a fim de recuperar 
fatos e observações esparsas do passado. Neste sentido, não importa a natureza 
dos elementos reinterpretados — podendo ser, metaforicamente, desde uma 
“mariposa parda” até “a mais brilhante e vistosa das borboletas diurnas” (idem) 
— , mas sim o próprio movimento de reinterpretação, que ignora a “inferioridade 
desse incidente de coloração” para extrair do contingente uma “atenção maior”, 
“uma atitude respeitosa do espírito” (idem). 

Conquanto ainda esteja presente certa influência naturalista e positivista 

nessa reflexão, detectável seja no culto velado à “Pena” e à “Inteligência” seja 

nas comparações de ordem animal ou biológica, percebe-se um acidentado 

projeto de impressionismo literário, voltado para a decifração e apreensão da 

consciência individual imediata: 

Este é claramente o sonho do Impressionista literário - a produção 
de um livro que ultrapasse toda interferência de nossas categorias 
perceptivas entre a realidade e a escrita. Mas se a impressão 
inspira o sonho ela também impede que ele se torne realidade. 
Pois a impressão começa a falhar assim que começa a trabalhar: 
a impressão que a realidade nos imprime é difícil de ser decifrada 
porque nos é estranha. Ela imprime \prints in\ uma linguagem 
desconhecida. A impressão imediata leva tempo para ser decifrada, 
e não é efetivamente imediata; o imediatismo vem somente depois 
do trabalho de decifração, depois de ocorrida alguma mediação. No 
limite do paradoxal, este problema resume perfeitamente o livro 
Impressionista. Desejando imediatamente gravar as impressões da 
realidade, o livro Impressionista acaba por abarcar as limitações de 
nossas figuras de percepção estética, e, assim, torna-se o registro de 
seu próprio apagamento (MATZ, 2001, p. 10-11). 131 

Nestes parâmetros, parece inscrever-se a reflexão de Domício da Gama 


131 This of course is the dream of the literary Impressionist — this production of a book ivhich bypasses all 
the interference that our perceptual categories place behveen reality and writing. Buf if the impression inspires 
that dream it also keeps it from coming true. For this impression starts to fail as soou as it starts to ivork: 
the impression printed by reality ’s press upon us is hard to decipher because it is alien to us. It prints in a 
foreign language. The immediate impression takes time to decipher, and so it is not effectively immediate; the 
immediacy comes only after the ivork of deciphering, only after some mediation occurs. Just short of paradox, 
this problem perfectly epitomfes the Impressionist book. Wanting immediately to record reality ’s impressions, 
the Impressionist book ends up featuring the limitations of our figures for aesthetic perception, and therefore 
becomes the record of its oivn undoing. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


151 


em sua “Nota” como a de um escritor impressionista, consciente das dificuldades 
impostas pela análise da interioridade humana e infenso à mudança deste 
projeto intimista de escrita para aquele do mero registro de ações e ambientes. 
Obviamente, a apreensão dos limites do inconsciente requer um longo processo 
de decifração do que há de limitado nas percepções, e tal não ocorre sem meias 
verdades e insucessos. 132 

Não obstante, a seguir, o autor prepara o terceiro e último momento de 
sua argumentação ao lamentar a estereotipização da alegria e da tristeza “pelo 
grosso da gente simples e assisada”. (GAMA, 2001, p. 9) A questão encontra-se 
precisamente na sensibilidade dos tempos modernos, pouco ajustada à “arte e 
[à] literatura bárbara” da Odisséia ou do Romanceiro do Cid\ inversamente, obras 
como Childe Harold e a Regenda dos séculos apontam para “a alma e as suas agonias, 
a dúvida, a preocupação dos destinos, a discussão dos problemas morais nelas 
implícitos” (idem, p. 10), e não gozam mais de uma harmonia com os novos 
tempos: 

Ou há menos sensibilidade na alma antiga ou há mais inteligência da 
expressão nos modernos: a verdade é que a queixa sem resignação 
destes toma sempre ares de quem sabe o que é o melhor, e o ensina, 
sem esperança de que a Divindade o aprenda. Daí a impressão geral 
de desconsolo e de fadiga prévia do vão esforço, que resulta das 
obras de emoção em que se conta do homem e de suas ilusões. Só a 
visão rápida, só o exame superficial e inatento deixa à comédia dos 
enganos o seu aspecto cômico, (idem) 

Apesar de contar também com certa estereotipização não mais dos 
estados de espírito, mas da arte clássica, entendida como de menor sensibilidade 
ou inteligência, Domício define as obras modernas como “obras de emoção”, 
cujo assunto é o percurso de ilusão e desilusão do homem em sua descoberta 
do destino imutável que lhe cabe, perscrutado com a “fadiga prévia do vão 
esforço” e criticado com certo pendor moralista (idem). Para tanto, rechaça 
o “aspecto cômico” das relações humanas, observando na “comédia dos 
enganos” o teor trágico das lutas do indivíduo (idem). E curioso, neste tocante, 


132 Como será evidenciado no decorrer da análise de seus contos, Domício ora avança ora 
recua nessas explorações, apontando resultados que vão do uso sofisticado da focalização 
interna (enquanto recurso essencial à análise psicológica das personagens) ao descritivismo 
sensorial de cunho realista, passando ainda por elementos naturalistas e românticos. Tal plu- 
ralidade de vias dificulta a síntese esperada pelas tantas reflexões de sua “Nota”, embora não 
inviabilize a análise de seu impressionismo (ainda que de “meio termo”). 




152 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


que Domício observe os dramas individuais pelo prisma do embate com um 
destino superior e cruel, falando de uma “Divindade” imune aos clamores “do 
homem e de suas ilusões”, ao invés de continuar argumentando da perspectiva 
da transcrição dos problemas pontuados, específicos, da consciência (idem). 
Neste sentido, a concepção de obra de arte moderna do autor quase recua para 
uma concepção clássica de tragédia, numa clara influência de ecos românticos e 
neoclássicos avessos à problemática impressionista de transcrição da consciência 
(e retrocedendo seu impressionismo de há pouco para aquele de outrora, do 
justo ou do “meio termo ”). 133 

Nos dois últimos parágrafos da “Nota”, o autor retoma a discussão da 
verdade intimista — senão pessoal e biográfica — dos contos, esclarecendo o que 

entende por sua função artística: 

Ora, pois, se estes contos não saíram brilhantes de forma e 
joviais de humor, é que na minha humilde sinceridade não soube 
escrevê-los de fora de mim, é que o meu respeito pela criatura 
humana não me consentiu ver a comédia no sofrimento. As 
grandes mágoas e as pequenas valem o mesmo para a piedade. Se 
um sentimento anima estas páginas escritas em anos diferentes e 
sobre temas diversos, esse é o da compaixão pela miséria do desejo 
não contente, sentimento caridoso, que exclui a dureza rigorosa 
do julgamento. Que exclui também o pessimismo. O espetáculo 
incessantemente repetido das falências da ambição pessoal serviria 
apenas para provar que o fim da vida não é a felicidade definitiva 
e consciente do indivíduo, porém que da esperança, do sonho do 
melhor, do incontentamento de cada um de nós se gera o movimento 
que aproveita à espécie, (idem, p. 10) 

Observa-se que, de certa dramatização inicial do fazer literário em 
termos de “comédia do sofrimento”, passa o autor à conclusão cientificista da 
utilidade da arte enquanto “movimento que aproveita à espécie”, deslocando o 
anacronismo conceituai anterior para um remate pragmático e finalista (idem). 


133 Seus argumentos parecem mesmo evocar a concepção de poesia clássica e moderna de 
Friedrich Schiller (1971), para quem à primeira deveria corresponder o estado “ingênuo” de 
indissociação harmônica entre arte e natureza, e, à segunda, a busca “sentimental” pelo ideal 
de um indivíduo já atormentado pela cultura e pela razão. Assim, o ponto alto da poesia 
moderna seria a busca moral pela perfeição individual, e não um mero registro sensível, ou 
lamento indiscreto, da situação atual da humanidade. É escusado apontar as diferenças teó- 
ricas entre ambas as discussões, bastando mencionar o que há, portanto, de anacrônico na 
concepção de Domício, que parece repetir, assim, um modelo setecentista (a primeira edição 
do livro de Schiller é de 1800) do entendimento da condição da arte, porém no limiar do 
século XX. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


153 


Surpreende que Domício arremate a questão pelo sentido meramente biológico 
da arte, resumindo os questionamentos e as análises das personagens a uma 
cisma benéfica da humanidade, útil apenas para torná-la mais piedosa para 
com “o espetáculo incessantemente repetido das falências da ambição pessoal” 
(idem). Por um lado, está clara sua procura por um elo comum a todos os contos 
(eles próprios desiguais, posto que escritos em momentos bastante distintos de 
sua vida literária) que também sirva de unidade ao prefácio; por outro, parece 
difícil não estabelecer um elo entre sua concepção de “livro de emoção”, 
discutida no momento central da “Nota”, e a interpretação dos contos enquanto 
quadros destacados entre si e desprovidos de uma correlação necessariamente 
determinada. A função biológica prevista pela utopia de tempos melhores e 
pela reflexão das misérias humanas interpõe-se justamente na passagem de uma 
à outra, como prova, talvez, de “compaixão” (aparente unidade emocional do 
volume) e de “respeito pela criatura humana” (idem). 

Há na argumentação de Domício em sua “Nota”, portanto, um impasse. 
Se tomada ao pé da letra, tal postura ambígua do escritor, indecisa entre o sentido 
geral e unitário dos contos, poderia enfraquecer o conjunto das Histórias curtas , 
ficando a meio termo entre a análise das personagens e o panorama abstrato das 
falhas humanas (está claro que a unidade da obra não estaria assim em questão; 
o que se colocaria em xeque seria sua organicidade). 

Outra opção seria a de relevar o parágrafo citado acima à luz do tom 

descontraído e de mea culpa de Domício, e tomá-lo apenas como mais uma 

digressão grandiloquente dos efeitos e do alcance contraditório do “livro de 

emoção” (idem). É o que parece mais ajustado ao desenvolvimento de sua 

reflexão, a seguir, quando o autor relativiza a validade de suas elucubrações: 

São deduções largas e solenes, fora de afinação com os casos do 
Barão de Itapuca e do João da Matta. Mas a gente bem pode sobre 
um pedaço de giz refazer os sistemas cosmogônicos. O ponto está 
em achar-se nisso graça e divertimento, (idem) 

Retomando algumas das personagens dos contos de Histórias curtas , o autor 
incide especificamente sobre o valor exagerado de suas reflexões anteriores, e 
assume que a validade dos mesmos deve ser medida por “achar-se nisso graça 
e divertimento” (idem). Trata-se de uma interpretação paralela do volume, 
enquanto leitor. Seu divertimento é o de “refazer os sistemas cosmogônicos”, 
como que brincando com aquele possível sentido único da obra (idem). É o 




154 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


prazer da leitura o que tem em vista Domício e o que, por sua vez, arremata 

definitivamente o prefácio, desta vez sem margens para equívocos: 

Divertiu-se V. com os meus pequenos dramas? Chorou, sorriu ou 
cismou sobre eles? Qualquer desses reflexos dos estados de espírito 
em que os escrevi bastaria para a sua conservação em livro. E, sendo 
de leitura recreativa, esse atestaria ao mesmo tempo o profundo 
interesse que tomei pela vida sentimental do meu semelhante, 
mostraria, sob a fingida isenção da ironia e a segurança artificial das 
frases, toda a ansiosa preocupação do bem, e a incerteza dos fins e 
a agonia de não haver remédio para as penas cujo consolo não pode 
vir de fora. Sendo impessoal, seria um livro humano. 

Seria... (idem, p. 11) 

A ambiguidade anterior acerca da função biológica da arte resolve- 
se na chave final do prefácio — a retomada da ideia geral da arte enquanto 
entretenimento. Ao falar em uma “leitura recreativa” pautada na “segurança 
artificial das frases” e na “incerteza dos fins”, Domício recupera a gratuidade 
da arte, colocando como elemento preponderante para sua interpretação a 
recepção dos estados de espírito cambiantes — os “pequenos dramas” — pelo 
leitor, livre para reagir como melhor lhe aprouver (idem). A receptividade do 
livro é o que lhe garante, além de um caráter recreativo, um caráter humano, 
capaz de transpor a impessoalidade da relação autor-obra-leitor e atingir um novo 
patamar na arte do entretenimento. Neste novo contexto, a obra tem a função 
de agradar, de proporcionar entendimento e reflexão interior, pois “qualquer 
desses reflexos dos estados de espírito” (para além de seu valor documental ou 
histórico) valeria para “sua conservação em livro”, numa corrente interminável 
de empatia que só não pode curar “as penas cujo consolo não pode vir de fora” 
(idem). 

A argumentação retoma, assim, o segundo momento do prefácio e 
estabelece-o como eixo de investigação dos contos que se seguem, não sem deixar 
registrados alguns momentos de incerteza existencial (e teórica) traduzidos na 
expressão vaga e desconsolada “Seria...”, destacada num parágrafo único, como 
que para enfatizar a empresa vazia e sem sucesso do registro dos estados de 
espírito, ou do “livro de emoção” (idem). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


155 


Conclusão 

Em seu conjunto, a “Nota para o meu melhor leitor” não estabelece 
uma via precisa de análise para os contos, embora seja fundamental enquanto 
parâmetro das experimentações conceituais e expressivas pelas quais o autor 
transita. A ênfase momentânea (e algo apaixonada) em reflexões e conceitos 
opostos uns aos outros (percebida desde “O justo meio” e “De Paris”, e 
parcialmente resolvida em “Cousas modernas”) prejudica sua organicidade, 
apesar da lhaneza no trato com o leitor, que se vê elogiado por todos os lados. 
No entanto, a presença anacrônica de influências oitocentistas as mais diversas 
na “Nota” — sentido confessional e autobiográfico do “livro de emoção” 
(romantismo); incontentamento pessoal como movimento aproveitado pela 
espécie (naturalismo); representação do destino humano frente à “comédia dos 
enganos” da vida (classicismo) — aponta para a pluralidade de suas propostas, 
ajustadas (ao menos em suas contraditoriedades) com os dilemas europeus da 
mesma época. 

Trata-se, aproximadamente, de uma experimentação teórica tão 
conturbada quanto aquelas de autores como Madox Ford, Conrad e James, que 
à mesma época se debatiam com as questões da gratuidade da arte e da fixação 
dos estados de consciência na forma escrita (paralisada, irrepetível) do texto 
literário. 

Sua solução, por conseguinte, não poderia ser outra que não a de uma 
constante busca: encontrar a resposta seria negar, finalmente, sua descoberta. 





4. PRIMEIRA FASE: 

O INTERMEZZO IMPRESSIONISTA 


Ver sempre coisas novas fatiga; as coisas 
velhas imóveis, monótonas, acabam por 
escapar à atenção. O que interessa é o 
que se transforma sob os nossos olhos, e 
a comparação dos vários estados de uma 
transformação, de acordo com as previsões 
que sobre ela fizemos ou as contrariando, 
é a determinante do nosso sentimento e o 
seu critério. (GAMA, 2001, p. 194) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


159 


Roteiro de leitura: o duplo “intermezzo” 


Q uaisquer discussões acerca do impressionismo literário na obra de 
jDomício jamais poderiam vir destacadas da análise de seus contos, 
Jftamanha a flutuação de suas experimentações narrativas e a disparidade 
das soluções encontradas. Para além de uma mera analogia, há como que uma 
homologia entre seus tateamentos teóricos e sua prática ficcional, cuja única 
constante talvez seja a da transitoriedade. 


Outra não seria, aliás, a marca de um autor impressionista: 

O impressionismo oferecia uma concepção nova da realidade: tudo o 
que vive se transforma, e se se quiser restituir a vida em sua verdade, 
é indispensável analisá-la, exprimi-la naquilo que suas manifestações 
denotam de fugaz, de efêmero e de transitório. (RAYNAL, 1951, p. 
112) 134 


134 « Ubnpressionnisme offrait une conception nouvelle de la réalité: tout ce qui vit se transforme, et si l’on 
veut restituer la vie dans sa vérité, il est indispensable de 1’analyser, de 1’exprimer dans ce que ses manifesta- 
tions dénotent de fugace, d’éphémère et de transitoire .» 




160 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


De fato, “o núcleo do credo filosófico dos impressionistas encontra-se 
precisamente nessa profissão de fé face ao instante.” (PLATTE, 1962, p. 174) 135 
Por sua vez, tal atenção perante o transitório faz pensar, paralelamente, em uma 
dupla ocupação intervalar do fazer literário, que faz da literatura uma espécie 
de “ interme^gp” ou “entreato” da literatura: internamente ao texto, por meio da 
experimentação narrativa com as focalizações (fixa, variável, múltipla; “delayed 
decoding ’ (WATT, 1979)); e externamente ao texto, por meio do próprio percurso 
acidentado do fazer literário em meio às tantas ocupações desempenhadas por 
Domício da Gama (professor de geografia e de filosofia, jornalista da Gaveta de 
Notícias, secretário da Superintendência de Imigração, auxiliar de Rio Branco 
etc.). 


Em todo caso, e para além de um elogio unívoco do conceito de 
impressionismo em sua obra ficcional, o exame da questão encontra-se disperso 
ao longo das análises dos 1 9 contos do presente capítulo, entre os quais constam 
seis inéditos (“A mancha”, “Nivelado”, “Fibra morta”, “Scherzo”, “Moloch” e 
“Os olhos”). 136 

Apesar de múltiplas, é possível indicar de antemão que as soluções 
encontradas por Domício da Gama (2001, p. 5) para seu “livro [ou álbum] de 
emoção” foram de três ordens distintas: dos primeiros contatos com a ficção, 
testando a validade de alguns modelos literários da época; da problematização 
da análise das personagens e manejo da focalização narrativa; e da retomada 
parcial de elementos naturalistas e realistas. 

Para fins de estabelecimento de uma evolução expressiva do escritor, é 
possível dividir tais (ordens de) soluções em dois amplos períodos: uma primeira 
fase, correspondente a um “interme^go” impressionista marcado pela gradual 
experimentação narrativa com as focalizações; e uma segunda, dada por um 


135 «Le but de cette peinture est 1’éternisation, mus pourrons même dire, en retirant tout contem pathétique 
à ce mot, la glorification de 1’instant. Ge noeud du credo philosophique des impressionnistes se trouve bien 
dans cette profession de foi envers 1’instant. C’est en cela que 1’impressionnisme est une peinture éminemment 
moderne, la peinture preponderante de la seconde moitié du XIXe siècle.» 

136 “A mancha”, “Moloch” e “Os olhos” foram descobertos e transcritos por Borges (1998), 
enquanto “Nivelado”, “Fibra morta” e “Scherzo” foram-no pela presente pesquisa. A análi- 
se dos seis contos foi feita, contudo, a partir dos originais presentes na Hemeroteca Digital 
Brasileira - com exceção de “A mancha”, inexistente da Hemeroteca e, portanto, analisada a 
partir da transcrição. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


161 


distanciamento do impressionismo literário em prol de um realismo temporão, 
pouco antes do abandono definitivo da literatura. 

Não se pretende que tal modelo explicativo encerre ou esgote a obra 
do escritor, tampouco que estabeleça uma evolução de ordem causal a partir 
de um suposto desenvolvimento maior ou menor do impressionismo literário. 
Pretende-se, apenas, apontar parâmetros para a discussão e sistematização de 
sua obra. 

É importante destacar, por fim, que a edição utilizada para as análises 
é Contos (GAMA, 2001), mais acessível que as demais. 137 Com exceção dos 
contos inéditos, citados diretamente de seus respectivos jornais, 138 referências 
aos volumes Contos a meia tinta e Histórias curtas são mobilizadas apenas quando 
estritamente necessárias. 

Todas as referências ao volume indicado {Contos), para fins de fluidez das 
análises, são simplificadas apenas por sua inicial, seguindo o modelo “(C, p.)” 
ao invés de “(GAMA, 2001, p.)”. Pelo mesmo motivo, após citações com recuo 
de parágrafo, foram suprimidas as repetitivas referências “(idem)” após palavras 
e pequenhos trechos das mesmas citações, quando citadas imediatamente em 
seguida. 

“As calças do Manoel Dias” (17/01/1886) 

Cronologicamente, o primeiro conto de Domício é “As calças do Manoel 
Dias”. Nele despontam, muito rareados, alguns elementos realistas em meio 
a uma trama folhetinesca, rasa, mais ou menos próxima à de um hoax. Trata- 
se do caso chistoso de um negociante de Maricá, Manoel Dias, que passa a 
ser hostilizado pelos vizinhos após depor numa questão de terras contra os 
frades de São Bento, detentores da maior parte das terras próximas à lagoa da 
Guarapina. Sua decisão, motivada pelo que consideram ser acertos escusos com 
José Mendes — alferes litigioso na questão contra os frades — , decorre apenas 
de sua falta de jeito perante o aparato do tribunal, que tolhe suas mentiras em 


137 É curioso observar que Contos a meia tinta não faça parte sequer do acervo da Biblioteca 
Nacional, embora conste do acervo da Bibliothèque Nationale de France. 


138 Cf. nota 136. 




162 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


interesse próprio e fá-lo esquecer de sua dívida para com os frades, em cujas 
terras situa-se sua venda. O crescendo do ódio da população contra Manoel 
Dias, que leva à sua expulsão daquelas terras, é explorado como unidade de 
efeito do conto, culminando no encontro casual do negociante com o abade, 
único homem capaz de alterar a decisão em seu favor e garantir sua permanência 
na Guarapina. Porém, Manoel, que o chama da janela de sua casa, não encontra 
suas calças, e assim não pode sair para conversar. Ralhando com sua escrava, 
tanto procura ele pelas calças que julga o abade ter Manoel perdido o juízo, indo 
finalmente embora, sem deliberar sobre o problema. 

Como pressuposto pelo enredo, seria de observar aqui, à primeira vista, 
a contação desinteressada de um causo que toma da cultura oral a liberdade 
e a leveza necessárias para causar o riso pressuposto no ridículo do encontro 
do negociante e do abade. De fato, a atmosfera do conto parece evocar o 
movimento da piada, num crescendo de quiproquós em torno de Manoel Dias. 
No entanto, muitos elementos concorrem para desfazer esta impressão inicial. 
Um deles é a citação do “sombrio Schopenhauer” na penúltima linha, como 

forma de enfatizar o desespero do protagonista: 

E a raiva impotente, e a desesperação de que se enchia, com 
o gesto tragicômico, davam-lhe uma expressão tão ridiculamente 
dolorosa que, vendo-o, se moveria o coração do mais maldoso dos 
pessimistas, do sombrio Schopenhauer, o anti-Deus alemão. (C, p. 
74) 

Antes de provocar o riso, não é difícil que o leitor se compadeça, nestes 
termos, do infortúnio de Manoel Dias, erigido em tragédia humana superior 
aos deboches do “mais maldoso dos pessimistas”. Afinal, sendo o desespero 
do negociante assim tão horrendo, não haveria motivo de enfatizar, numa 
passagem longa, o ridículo da procura pelas calças, levada ao extremo da 
loucura. Pois, “com medo de ser visto em ceroulas, fugia [ele] para dentro, 
gritando para a escrava: - Mas onde estão essas calças, que não aparecem? Vê 
se lá não estão no quarto, negra! Ora, esta só a mim acontece!” (C., p. 73) Está 
claro que Manoel não tem culpa de seu infortúnio. Ademais, retratado em sua 
intimidade no depoimento sobre as terras, parece ser pessoa de bem, cujos 
interesses próprios são ofuscados pela necessidade de dizer a verdade, “por 
um impulso de sinceridade, que não podia reprimir” e que o fazia “falar da 
mudança noturna de um desses marcos [fronteiriços], que embaraçava o novo 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


163 


alinhamento dos frades”, a despeito inclusive do juiz, que “com um certo mau 
modo, interrompeu o seu depoimento e passou a outra testemunha.” (G, p. 71) 
Neste sentido, há certo gosto amargo em satirizar o único homem honrado de 
Maricá, por conta de umas meras calças. 

O episódio jocoso perde, quando assim observado, parte de seu propósito, 
sem conseguir emplacar, seja pela conclusão trágico-filosófica seja pelas breves 
análises psicológicas do protagonista, a atenção unilateral às “calças do Manoel 
Dias”. Ao invés de utilizar personagens tipificadas, quase indispensáveis para 
o tipo de riso pretendido, Domício aproxima-se demasiado da interioridade 
do negociante, comprometendo o conjunto do texto. Desta forma, o que viria 
a ser a principal qualidade desenvolvida nos demais contos (o cuidado com a 
interioridade das personagens e sua percepção enviesada do meio) acaba por ser 
o principal defeito, neste caso específico. 

Paralelamente, outro elemento de importância é o tom anticlerical do 
narrador, que confere um sentido social — ainda que raso — às desventuras de 
Manoel. Como o diz, “os poderosos frades valiam mais do que a Justiça!” (C., 
p. 71), e não seria de esperar nada de positivo das decisões do grupo. Neste 
sentido, a truculenta expulsão de Manoel Dias de suas terras — muito apesar 
de sua posição privilegiada de dono da venda local e inspetor de quarteirão 
— visa apenas confirmar algo que pressupõe desde o início: o jugo do Abade, 
enquanto instituição, não é digno do exemplo de Cristo, apesar de sê-lo em 
nome. Assim como o alferes no processo judicial, Manoel é acossado pelo 
poder inquestionável dos frades, sem direito a defesa, e faz com que seja no 
mínimo questionável “a fama de bom coração” do abade (idem). O episódio 
das calças, que constituem o centro óbvio do enredo, ressalta o aspecto trágico 
da desventura de Manoel Dias também neste aspecto, apontando-a como 
decorrente da desumanidade do “Dom Abade, [que] achando suspeitos aqueles 
modos [... limita-se a dizer:] — Coitado do homem, parece que perdeu o juízo 
[...]. Toca, rapaz, estamos perdendo tempo.” (C., p. 73) 

De uma maneira ou de outra, ora pela reflexão algo filosófica ora pela 
crítica anticlerical, parece não haver solução para o impasse tragicômico do 
conto, que sobrecarrega sua experiência de leitura e torna o conjunto desigual. 139 


139 Houve, porém, quem o elogiasse sem reservas. Valentim Magalhães (1894, p. 197-198), 




164 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O mesmo aconteceria ainda n”’A canção do rei de Tule”, ainda que de maneira 
mais sutil e apaziguada. 

A canção do rei de Tule (02/1886) 

Os dois primeiros parágrafos d”’A canção do rei de Tule” inauguram 
a prática do “introito filosófico” nos contos de Domício (BORGES, 1998), 
que se interpõe aos enredos posteriormente esboçados, sugerindo um roteiro 
de leitura pré-determinado. 140 No caso, o narrador homodiegético discute 
inicialmente as relações humanas e distingue dois grandes tipos de “sensação 
da harmonia”: um primeiro de “afinação” psicológica entre os indivíduos, mais 
comum; e um segundo de “oposição” entre elementos emocionais de possível, 
mas improvável, união. Se, por um lado, o primeiro parece-lhe banal, perscrutar 
o segundo tipo “seria o mesmo [que] querer criticar um quadro em que as 
figuras mudassem de posição, de tom e de valor, logo que se atentasse nelas” 
(C., p. 97-98), dependendo inteiramente do encontro fortuito das ocasiões. A 
comparação pictórica é grata, e mesmo a digressão reflexiva basta para a leitura 
atenta do conto, que serve de exemplo para esta reflexão inicial: “Hoje é desta 
última sensação que vou contar um caso.” (C., p. 98) 

Observe-se o caso referido: o narrador discorre sobre certa vez em que 
foi ao Teatro D. Pedro II ver Yausto , de Gounod, e ouviu de seu “companheiro 
de serão”, Antunes, a estória de uma sua tia falecida, chamada Maria das Dores, 


notifica sua publicação e considera o conto como primeira prova do talento de seu autor: 
“Domício revelou-se n’As calças do Manoel Dias’ — um primor de estilo sugestivo e sóbrio, 
de um humorismo clássico e bom até a quimera! — um portento!” 

140 Ronaldo Fernandes prefere falar em “introdução digressiva”, termo que parece mais 
ou menos continuar o de Borges (1998), ao qual aludimos no corpo do texto, por sua pro- 
posição pioneira: “Esse mecanismo de construção narrativa mostra que Domício tinha um 
laivo quase ensaístico, mas que não podia se mostrar na literatura de sua época, porquanto, 
somente mais tarde, a mescla de ensaio e ficção - para mim, melhor realizada pelos autores 
pangermânicos como Musil e Thomas Mann - só será aceita depois da ação demolidora das 
vanguardas do princípio do século XX. O ‘ensaísmo’ de Domício não é nem predominante, 
nem excessivo. Lembra mais introdução digressiva , como forma de aproximar lentamente o lei- 
tor do objeto de sua narração. Contudo, é, com certeza, uma característica forte e que foge 
da objetividade - tanto o tom ensaístico, quanto a tentativa de provar com as ações do per- 
sonagem que o colocam em certos momentos numa caricatura e, em outros, numa silhueta 
incômoda.” (FERNANDES, 2011, p. 24, grifos nossos) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


165 


vulgo “Enganinha” (idem). Em discurso relatado e assinalado por aspas, Antunes 
descreve a figura romântica de Enganinha, velha solteirona que teve “desgostos 
amorosos” quando jovem e que gostava de contar estórias para as crianças, 
talvez para esquecer-se da própria vida (idem). Já em terceiro nível narrativo, 
demarcado por itálico a partir do discurso de Antunes, Enganinha narra um 
conto de fadas sobre montanhas, príncipes e castelos, isolando-se, tal como as 
crianças, numa época de ouro já encerrada. De volta a Antunes, lamenta ele a 
última estória ouvida da tia, em que ela “dava tanta vida à narrativa, contava 
tão bem a pena da princesa encantada na torre, ouvindo a cantiga do noivo que 
andava à sua procura”, que se fazia clara a lembrança de um amor infeliz (C., p. 
104) As lembranças das lembranças da tia vêm a propósito d’“M canção do rei de 
Tule cantada pela Borghi-Mamo”, que apela à memória de Antunes (idem). Por 
fim, levanta-se ele e o amigo, primeiro narrador da série, e vão-se embora, uma 
vez que a longa excursão pelo passado faz, em sua demora, com que se encerre 
o último ato da ópera. 

Por diversas razões, “A canção do rei de Tule” demarca um avanço 
claro com relação a “As calças do Manoel Dias”. O narrador homodiegético 
em primeiro nível, que apresenta as memórias de Antunes e de Enganinha, 
confere um sentido integrador ao introito filosófico do conto, que faz com 
que a reflexão sobre a harmonia das relações humanas antecipe de alguma 
forma seu interesse nas estórias dos narradores mencionados, em segundo e 
terceiro níveis. Neste sentido, o uso de tais níveis narrativos a partir de uma 
situação corriqueira — o encontro e a conversa de dois amigos em uma ópera 
— situa o drama das personagens sobre uma linha casual, mas contínua, que se 
vai fazendo gradativamente superior a elas próprias até levar, ao final, a uma 
confirmação da reflexão dos dois primeiros parágrafos, num círculo gratuito e 
certeiro de discussão ora sobre a fortuita “afinação” entre as pessoas — primeiro 
narrador e Antunes — ora sobre seu irremediável “contraste” — Antunes 
e Enganinha. O tom secamente nostálgico de Antunes em sua apreciação 
condescendente das ilusões de Enganinha arremata a transposição de um nível 
a outro, num crescendo de degraus narrativos acompanhados pela música de 
Gounod, através da depuração de seu sentimento amoroso e do afastamento de 
quaisquer conotações retrogradamente românticas aí presentes. Para ele, a última 




166 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


impressão deixada por ela “era uma toada singela e saudosa que Enganinha 
cantou: letra e música esqueci-as.” (idem) Ou seja, para além do conteúdo de 
sua última estória, ou mesmo para além do conteúdo da ópera presenciada, 
vale a inflexão da voz da tia falecida, lembrada pelo voz da cantora Borghi- 
Mamo, e é tal justaposição dos momentos passados e presentes no palimpsesto 
da memória que remete, ao final do conto, à reflexão inicial dos primeiros 
parágrafos, garantindo o mencionado sentido integrador, a rigor ausente d’“As 
calças do Manoel Dias”. 

Outro item é a descrição sutil do teatro Pedro II, que configura 

possivelmente a primeira descrição “impressionista” dos contos de Domício, 

dada através do olhar do narrador: 

Esvaziavam-se as torrinhas, clareando o negrume das alturas, onde 
pouco antes, no escuro das roupas de homem, só se viam rostos 
superpostos em tríplice fileira, imóveis ou agitados, semelhando 
uma prateleira de máscaras em teatro antigo. A plateia se escoava 
em rastilhos negros, semeados aqui e acolá das manchas claras dos 
vestidos. A desabrida claridade amarela do sol de gás embebia todas 
as tintas, que não fossem ouros e pedrarias faiscantes, sombras 
violentas de casacas realçando a alvura dos peitilhos deslumbrantes, 
ou rosadas carnações das mulheres nos camarotes, oferecendo-se 
aos binóculos como opulentos buquês de carne viva. Um tênue véu 
de fumo vindo dos corredores pairava, nimbando de resplendores 
as arandelas de gás. (C, p. 98-99, grifo do autor) 

O pensamento superficial e distraído do narrador observa a multidão 
de pessoas no Teatro de maneira particularmente ativa, influindo em sua 
organização e distorcendo os rígidos contornos das silhuetas como se 
observasse “uma prateleira de máscaras em teatro antigo”. Igualmente, a agudez 
da luminosidade dos bicos de gás parece-lhe um “ sof ’ amarelo, a desmanchar 
“todas as tintas” em “sombras violentas de casacas” em contraste com “a alvura 
dos peitilhos deslumbrantes”, num espetáculo da visão oferecido “aos binóculos 
como opulentos buquês de carne viva”. Sequer escapa ao narrador o caráter 
inconclusivo da cena, imersa em “um tênue véu de fumo”, que se mistura ao 
conjunto e lhe garante a unidade por meio do rareamento da atmosfera. Tudo, 
pois, parece remeter a um quadro impressionista da alta sociedade carioca, cujos 
elementos — a opulência, a multidão, a nebulosidade — não são enxertados no 
conto despropositadamente, mas remetem ao hipotexto de J. W von Goethe 
(2002), “A canção do rei de Thule”, retomado desde o título do conto. Tal 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


167 


diálogo constitui, por si só, um terceiro avanço em comparação a “As calças do 
Manoel Dias”, uma vez que os elementos aí pressupostos se juntam à temática 
do poema, estabelecendo ainda uma vez um círculo de forma e conteúdo em 
torno do drama de Enganinha. 

A título de confirmação deste diálogo, note-se o poema, na íntegra: 

Houve um rei de Thule, que era / mais fiel do que nenhum rei. / 
A amante, ao morrer, lhe dera / um copo de oiro de lei. / / Era o 
bem que mais prezava / e mais gostava de usar: / e quanto mais 
o esvaziava / mais enchia de água o olhar. / / Quando sentiu que 
morria, / o seu reino inventariou, / e tudo quanto possuía, / menos 
o copo, doou. / / Depois, sentando-se à mesa, / fez os vassalos 
chamar / à sala de mais nobreza / do castelo, sobre o mar. // E ele 
ergue-se acabrunhado, / bebe o último gole então / e atira o copo 
sagrado / às ondas que em baixo estão. / / Viu-o flutuar e afundar- 
se / que o mar o encheu de seus ais. / Sentiu a vista enevoar-se: / E 
não bebeu nunca mais! (GOETHE, 2002, p. 66-67) 

Os pontos de toque são diversos entre as duas obras: Enganinha 
reproduz o lamento amoroso do rei de Thule, bem como seu olhar fixo no 
passado e sua incapacidade de viver sem a presença, ainda que virtual, da figura 
amada; o teatro Pedro II dá continuidade ao cenário festivo e à opulência do 
castelo real; as estórias contadas quando menino a Antunes, pela tia, evocam o 
medievalismo idealizado e romântico do poema; o copo de grog tomado pelos 
amigos repete o “copo de oiro de lei” dado pela amante morta, enquanto motivo 
de divagação sentimental e retomada de fatos passados etc. Uma correlação, 
porém, parece ser a mais importante de todas, pela centralidade com que 
parece ligar os três níveis narrativos do conto: a sobreposição do passado ao 
presente, enquanto ressigniíicação do drama humano e da arte. No poema, os 
dois tempos estão sobrepostos num copo de ouro que vale mais, apesar de seu 
trabalho de ourivesaria simples, que todos os bens do monarca, justamente por 
lembrá-lo de tempos mais felizes. O mesmo vale para Antunes, que prefere “o 
ar de velhice que a Borghi-Mamo dá ao seu papel” na ópera de Gounod a toda 
a “composição trabalhada, suada, [a toda] combinação dos penosos esforços de 
muita gente aplicada em chegar a um designado efeito”, e que não conseguem 
atingir, tal como a voz falha da cantora, sua memória (C., p. 101). Ou ainda, é 
a memória que dá riqueza às estórias de Enganinha, que, lembrando-se de um 
amor de outrora, vai além dos livros de estórias infantis e imprime aos contos de 




168 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


fada “a profunda simpatia de sua voz”, capaz de superar “as mais belas páginas 
dos escritores de imaginação luxuosa” (C, p. 103). O poder da memória é, 
assim, aquilo que dá unidade ao conto, estabelecendo seu rico diálogo com o 
poema de Goethe (2002) em diversos níveis narrativos das equivalências entre 
as memórias inventadas e vividas das diversas personagens — incluindo aí desde 
o rei de Thule até a cantora Borghi-Mamo. 

Contudo, não são apenas qualidades que enformam o conto em questão; 
algumas falhas evidentes devem ser lembradas. A percepção da decadência da 
cantora ou da tia não influencia a narração de Antunes, que deixa em aberto 
a crítica ao romantismo estreito e sufocante que pouco coaduna com sua 
figura desprendida, diletante. Ademais, o fim brusco da conversa dos amigos, 
demarcado pelo final do ato e pela conveniência de evitar a multidão de pessoas 
saindo do teatro, indica uma falta da mesma sensibilidade romanesca em 
Antunes e no narrador. Sua estória parece, pois, apenas preencher o tempo 
na categoria dos divertimentos fugazes e das conversas de botequim. Há, por 
assim dizer, um desnível entre as partes do conto, cuja conclusão faria esperar 
algo diverso, como, possivelmente, uma reflexão específica dos amigos sobre 
a onipresente canção do rei de Thule, e que, todavia, não acontece. Afinal, 
qual a relação específica de Enganinha com a música de Gounod, e com o 
poema de Goethe? Qual a natureza de sua relação com Antunes? Vários pontos 
permanecem pouco explorados, e, enquanto seria possível dizer, em apreciação 
positiva, que reforçam o caráter fragmentário e sugestivo do enredo, passível 
apenas de apreensão interpretativa ou indireta, é igualmente plausível apontar 
seu aspecto negativo de texto mal proporcionado. 141 

Cônsul!... (18/03/1886) 

Cronologicamente, o terceiro conto da obra de Domício apresenta, à 
maneira dos anteriores, avanços claros e quase tangíveis rumo a uma literatura 
impressionista, que viria a realizar em sua inteireza (ainda que com percalços 


141 Alberto Venâncio Filho (2002, p. 220) chega mesmo a dizer, talvez para suprir tais lacu- 
nas por meio de uma interpretação totalizante, de cunho biográfico, que “na Canção do Rei de 
Thule há certamente as reminiscências de cena da meninice”. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


169 


mais ou menos definidos) dentro de alguns anos. 142 Por ora, no que diz respeito 
a “Cônsul!...”, a repetição do introito filosófico consta de uma alteração peculiar, 
a saber: o uso, pela primeira vez, da focalização externa como forma de situar, 
pelo contraste, a vida interior do protagonista Félix Tavares, cujas pretensões 
falhadas por tornar-se cônsul vão constituir, já em focalização interna, o cerne 
da narrativa. 

A ação se passa “no café Londres, às onze horas da noite.” (C., p. 75) O uso 
de verbos no presente, bem como de períodos rápidos e orações coordenadas, 
faz com que o leitor seja apresentado à mesa em que se encontra Félix como se 

fosse uma das pessoas a entrar e sair do café: 

No café de Londres, às onze horas da noite. Chove 
desabridamente. Entre a zoada dos aguaceiros, que lavam a rua, 
ouvem-se raros passos apressados de transeuntes invisíveis na 
sombra. A espaços um ronco rápido e surdo, como um rufo de 
tambor molhado, assinala a passagem de um guarda-chuva por baixo 
do jorro de uma goteira que transborda. Corre um sopro glacial de 
tédio e desconforto pelo café profusamente iluminado, em que já 
pouca gente resta. O silêncio só é quebrado pelo ruído dos talheres 
e da conversa de três rapazes cavaqueando numa ceia econômica ao 
fundo. O homem do contador cochila. 

Sentado a uma mesinha, em frente ao prato vazio, em que um 
osso descarnado de galinha comemora a passagem de uma canja, 
está um homem que cisma sobre um jornal, (idem) 

Imediatamente, passa o narrador a considerar o caráter deste moço, e, de 
maneira inclusiva, pensando ainda da perspectiva daquele que se aproxima da 
mesa e busca compreender o perfil do homem do jornal, pondera: “Nós todos 
conhecemos esse homem, que todos têm encontrado no seu caminho. E o 
eterno mal preparado para o sucesso, que ficou a meia viagem da celebridade ou 
da glória” (C., p. 75-76). 143 O contraste é sensível: de maneira brusca, insere-se o 


142 “Cônsul!...” faz parte da coletânea O conto da vida burocrática , organizada por Raimundo 
Magalhães Jr. (1960). A seu respeito, diz ele: “As mudanças de situações políticas via de regra 
geram expectativas de emprego, para muitos indivíduos. Às vezes, a expectativa é correspon- 
dida... Outras vezes, o candidato apenas levanta uma lebre em que caçador mais afortunado 
atira e acerta... No tempo do Império, quando vigorava no Brasil um arremedo de regime 
parlamentar, as coisas já se passavam assim... E um desses momentos que Domício da Gama 
fixa no conto que se segue, intitulado ‘Cônsul!” (idem, p. 21) 

143 Tal passagem é elogiada por Medeiros e Albuquerque (1901, p. 3) dentre os demais 
contos do autor, que considera o “pequeno retrato” aí presente como algo que “não parece 
mal traçado”. 




170 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


narrador na narrativa, passando, em meio ao segundo parágrafo, da localização 
externa à localização zero, com digressões sobre a natureza do caráter daquele 
mesmo personagem abordado tão cuidadosamente e de maneira imparcial há 
pouco. Relevando certa estranheza do procedimento, que não soa bem à leitura 
e faz, pela mudança repentina do modo narrativo empregado, voltar o leitor 
ao primeiro parágrafo para certificar-se se não deixou passar alguma coisa em 
branco, tal contraste indica um comportamento dual da narração, que, a um só 
tempo, individualiza e generaliza os traços significativos da personalidade de 
Félix. Definindo-o como “o eterno mal preparado para o sucesso”, ela restringe 
e delimita o enredo que se vai seguir, enquanto demonstração e confirmação 
dessa “tese” inicial, além de preparar o leitor para a interioridade de Félix e para 
sua apreensão derrotista da vida. Assim, ao dizer a seguir que “Félix Tavares 
pensava que o seu destino era ele que o fazia e tinha confiança nele como um 
convencido do valor de sua obra” (C., p. 76), seu propósito é indicar paralela mas 
univocamente sua dificuldade em aceitar a derrota inevitável tanto no campo 
da ação quanto no campo do pensamento, além de representar o fracasso de 
sua pessoa (figura ingrata e deslocada num café a altas horas da noite) e de suas 
ilusões (fadadas ao nada já nas reticências e na vaga exclamação desesperançada 
do título do conto). 

Félix, que inaugura a série de personagens ligadas às letras e às artes dos 
contos de Domício, 144 não é, todavia, tão honrado nem tão talentoso como os 
demais que se lhe vão seguir. Depois de um “giro pelos teatros”, Félix entra 
no café para tomar uma canja e depara-se com a notícia num jornal da vaga 
de “cônsul do Brasil em Callau.” (C., p. 76-77) Imediatamente, sente-se atraído 
pela oportunidade e passa a sonhar com o luxo e com as comodidades de tal 
profissão, sem fazer caso da aplicação necessária e do trabalho sério e penoso 
dos afazeres diplomáticos. O protagonista, soberbo e vaidoso, logo se julga 
apto para a tarefa, ao que o narrador, transitando neste momento da focalização 
zero para a focalização interna, mostra-se pronto a registrar suas reflexões e 
desejos mais íntimos: 

Agora era a ocasião. Aquele consulado que vagava não havia 
quem o ambicionasse senão ele; só ele lhe conhecia o valor e tinha as 


144 Para além de Antunes e do narrador de “A canção do rei de Tule”, até então meros di- 
letantes. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


171 


condições para aproveitá-lo. O governo ainda fazia um bom negócio 
dando-o a um cidadão prestante e de reputação firmada, que não 
se separava da pátria senão para servi-la melhor no estrangeiro: 
adquiria assim e por pouco os serviços de um auxiliar precioso. 

Cônsul em CallauL. era uma ideia de gênio, simplesmente. (C. 

p. 77) 

O exercício narrativo que percorre, no espaço dos quatro parágrafos 
iniciais, os três tipos possíveis de focalização narrativa (GENETTE, 1972) num 
movimento de fora para dentro, como forma de abarcar a interioridade de Félix 
com maior acuidade, demonstra o esforço de Domício da Gama por apurar, 
cada vez mais, o aspecto formal de seus contos, bem como o adensamento 
da profundidade psicológica das personagens, que vai ocupando lentamente 
o centro de suas atenções. A ação de “Cônsul...!” acaba suspensa numa pausa 
a partir daqui, e somente é retomada nos dois parágrafos finais, em que uma 
quebra do texto assinala a quebra da sequência de devaneios do protagonista. 
Desta forma, o início, que parecia designar quase uma rubrica dramática da 
ação a ser desenvolvida posteriormente, serve apenas de pano de fundo ou de 
atmosfera para situar quem está pensando, e a partir de que lugar ou momento 
de sua vida. Apesar da estranheza do procedimento, mencionada há pouco, a 
sensibilidade do tratamento narrativo torna-se cada vez mais tangível, e faz valer, 
pelas qualidades que influi no texto, seus defeitos, provenientes de tal mudança 
brusca das focalizações e da necessidade, ainda, de encerrar ou mesmo de situar 
a ação numa unidade também de tempo e espaço, como arcabouço exterior 
falsamente necessário perante a interioridade vivida. 

De volta ao conto e ao trecho citado, o professor acredita ser agora um 

homem de reputação formada, influente no jornalismo e respeitado nas rodas 

de intelectuais como defensor e cultor lapidar da forma vernácula dos idiomas, 

e que seu pedido não será denegado, como da primeira vez. Félix enxerga-se 

percorrendo a América Latina a partir do Peru e daí atingindo a Europa e todo 

o resto do mundo, fazendo figura junto às principais personagens da época, 

atentando, ainda uma vez, mais para a pompa das circunstâncias que para o 

conteúdo de sua vida como cônsul, como se torna sensível na descrição de seu 

trabalho acadêmico, depois de empregado na tão esperada vaga: 

E que livros que escreveria! livros solenes monumentais, impressos 
luxuosamente, à custa do governo... O imperador mandaria chama- 
lo quando voltasse, para conversar com ele nas línguas primitivas. 




172 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Como já estariam distanciados Batista Caetano e BeaurepaireL. Iria 
em missão especial à Academia de Ciências de Paris... 

Paris!... A palavra mágica volitou-lhe quase um minuto pelo 
cérebro, como uma borboleta de fogo, arabescando um debuxo 
fantasista. Depois veio desfilando a série de cenas, que para ele 
representavam a ideal cidade, para a qual tinha amadurecido a sua 
nova posição. (C, p. 78-79) 

Colocam-se, assim, as ambições de Félix sob uma lupa de aumento, 
desvendando- se, por detrás da aparência de erudito, o vazio de seu pensamento, 
ocultado nos tão sonhados livros “impressos luxuosamente, à custa do governo”. 
Batista Caetano, no Brasil, ou Beaurepaire, na França, citados muito a propósito 
de maneira superficial, são para ele apenas vultos passados e já superados de 
intelectuais; inversamente, Félix projeta sua entrada num círculo seleto “em 
missão especial à Academia de Ciências de Paris”, que, justa e unicamente por ser 
seleto, é aquele a que julga pertencer. Pela primeira vez em seus contos, Domício 
da Gama explora a fixação oitocentista pelo cenário parisiense na figura do 
protagonista, como forma de caracterizar seu amor pelo luxo e pelas aparências, 
num elogio à “ideal cidade” (que ignora os ricos acervos bibliográficos franceses 
para ostentar apenas o brilho de lá estar). Neste sentido, é apenas para ser “a 
celebridade do dia, recebendo a homenagem da velha Europa decadente”, que 
o professor busca a posição de cônsul, acreditando ver, num horizonte futuro 
e distante, “a orgia sensual e do espírito, o amor e as suas palpitantes intrigas, 
a vida transformada num drama, em cem dramas [•••] - o alarido triunfal das 
apoteoses de sonho.” (C., p. 79) 

A quebra do texto que se dá em seguida encerra a focalização interna do 
protagonista e volta à focalização zero anterior, relatando, de maneira distanciada, 
a entrada de dois outros fregueses no café. Ambos conversam sobre um tópico 
comodamente ajustado à narrativa, e que dá um ar quase anedótico ao conjunto, 

pela rapidez com que é apresentado: 

Tiniram no relógio do café as doze pancadas da meia-noite. 
Entraram dois fregueses conversando e sentaram-se a uma mesa 
perto do nosso cônsul. 

- Então, está decidido? 

- Está. O Cotegipe me tinha prometido o primeiro que 
vagasse; vagou este, fui lembrar-lhe a promessa e ele a cumpriu. 
Não é grande coisa, mas serve para começar. 

- Não, o consulado de Callau dizem que rende... O que lhe 
invejo são as mulheres bonitas, que o Peru é a terra delas, parece. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


173 


Você é um felizardo! 

Tavares endireitou-se, pagou a canja, levantou a gola do 
paletó e a barra das calças e, abrindo o guarda-chuva, afundou-se na 
escuridão: foi continuar ao travesseiro o seu sonho tão orgulhoso 
conjugado no futuro e agora todo desconjuntado em condicionais 
lamentosos. (C, p. 79-80) 

O infortúnio de Félix, ao invés do de Manoel Dias, não sofre a mesma 
intervenção digressiva e quase filosófica do narrador, bastando-se à menção de 
seu insucesso. O encontro com duas outras personagens, que surgem apenas 
para encerrar o conto e estabelecer sua unidade no momento simbólico da 
meia noite, não deixa de ofuscar a profundidade das análises anteriores sobre 
Félix ao conferir o tom anedótico mencionado e trazer de volta o apoio da ação 
externa — não mais como pano de fundo para a consciência do protagonista, mas 
também enquanto barreira social a seus planos infundados. A crítica sugerida 
pela conversa dos dois desconhecidos, que fazem referência aos acertos políticos 
e favores pessoais típicos das altas rodas do Império, numa evocação à figura 
ilustre do Barão de Cotegipe, não se desempenha de todo, pelo mesmo motivo. 
Ela serve apenas de anteparo à vida de Félix, na qualidade de enxerto necessário 
à economia do conto. Fica claro que, neste momento da obra de Domício, o 
autor ainda não parece à vontade com a estilização dos ambientes nem com a 
análise aprofundada das personagens per se, começando como está a transpor 
em ficção possíveis elementos de sua experiência pessoal . 145 

Tal limitação é acentuada no próximo conto, “A lição da história”, em que 
o jogo de narradores de “A canção do rei de Tule” e a análise do protagonista 
de “Cônsul!...” sofrem um retrocesso temporário, mas evidente. 

A lição da história (28/04/1886) 

Tomado na linha evolutiva traçada até aqui, “A lição da história” é 
um conto deslocado e quase sem precedentes, que opta por não continuar 
as qualidades dos dois últimos contos, refugiando-se na estrutura básica do 
primeiro da série, “As calças do Manoel Dias”, com a diferença de não fazer, ao 

145 Nem por isso seria lícito avançar, inversamente, uma leitura biografista, e dizer, com 
Venâncio Filho (2002, p. 219-220), que “‘O Cônsul’ [sic], em que deve haver muito de auto- 
biográfico, é expansão momentânea da realização de um sonho que rapidamente esboroou.” 




174 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


início, um introito filosófico, mas de reduzir todo o conto, à sua maneira, a uma 
reflexão sobre a incapacidade do homem de alterar seu destino. O enredo, repleto 
de personagens e situações esquemáticas, além de um desfecho folhetinesco 
de mau gosto, tem por objetivo demonstrar e confirmar tal incapacidade no 
relato dos infortúnios de João Luís, aluno de um célebre professor de História, 
o Dr. Julião. A caracterização das personagens é, assim, necessariamente 
plana: “O professor de história era um sábio”; por sua vez, “João Luís não 
era propriamente uma águia, mas era um bom, um consciencioso estudante.” 
(C., p. 63-64) A descrição posterior das personagens, feita à distância por um 
narrador heterodiegético, acrescenta pouco a essas frases sumárias. E é apenas 

algo exterior a ambos o que faz girar a trama: 

Enquanto, porém, vivia preocupado apenas com os estudos, 
não lhe embaraçava muito a mudez imaginativa. Mau foi quando ao 
coração falou-lhe o sangue nos alvoroços da puberdade. 

João Luís enamorou-se. 

Era meio-pensionista e, quando vinha para o colégio, 
encontrava quase diariamente uma rapariga, que ele afinal julgou 
bonita - por comparação, como convém a um lógico. De achá- 
la bonita a sorrir-lhe, a sentir uma quentura por dentro quando 
ela respondia, a sofrer quando a não via... Não sei como foi... 
Enamorou-se. (G, p. 65) 

De maneira quase naturalista, o narrador credita aos “alvoroços da 
puberdade” a grande alteração na vida de João Luís, que lhe fala ao coração 
mediante a “quentura” do “sangue”. No entanto, a vagueza e o lugar-comum 
da análise de sua paixão pela jovem — “Não sei como foi... Enamorou-se” — , 
descrita como dedução lógica e quase matemática da comparação da beleza desta 
à de outras moças, enfraquece o argumento e impede o estudo aprofundado das 
influências biológicas sobre si. Neste sentido, não bastam as frases esparsas 
pelo conto que buscam derivar de uma causa hereditária a vida de João Luis, 
como a menção às suas preferências pelas línguas e ciências exatas, incapaz de 
esmiuçar suas inclinações: “Paulista de Taubaté, era talvez herança do gênio 
destemido e arrojado dos bandeirantes, esse impulso avante que, num terreno 
menos material embora, vencia toda a retração da inteligência nos estudos mais 
áridos.” (C., p. 64) 

Mais decisiva que a influência do sangue é, por sua vez, a presença de 
uma divisa latina enunciada pelo Dr. Julião, e atribuída a Ápio Cláudio Cego na 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


175 


segunda Hpistulae ad Caesarem de Salústio: “‘ Fabrum suae quemquem esse fortunae.d 
Soberba divisa, meus senhores, essa em que o trabalho se eleva do conceito 
aviltante da punição de um pecado à divinização do homem, que faz e que 
governa o seu destino!” (C., p. 66) A tradução aproximada da divisa seria algo 
como “Faze tu mesmo o teu destino” ou “Tu és o arquiteto do teu destino”, 
o que indica, precisamente, a intenção de João Luís por colocar-se à frente de 
todas as contingências e tomar o controle de sua vida. 

É o que ocorre, de maneira lógica e unilateral, na segunda parte do conto, 
separada da primeira por um travessão. A divisa latina é seguida à risca pelo 
aluno enamorado, que chega à conclusão pulha e nada lógica de atacar a jovem 

Maria Augusta, alvo infeliz de seus amores: 

Quando o rapaz chegou e ia falar, ela levantou um pouco a 
cabeça e olhou para ele com um sorriso. Foi pirraça do destino? foi 
a luz daqueles olhos? foi o sangue conquistador dos bandeirantes? 
foi a fata súbita de voz que o obrigou à ação? João Luís nada disse 
a Maria Augusta: deitou-lhe as mãos. E com tal gana que ela deu 
um salto para trás: - “Tire-se daí, brejeiro!” Ele avançou, fero. Uma 
lambada nos olhos com a calça pesada de água de sabão cegou-o. 
(C, p. 67-68) 

O mau gosto da irrealização amorosa de João Luís, iniciada pela frase de 
Ápio Cláudio Cego e terminada pelo confronto com a jovem, que lhe desfere 
um golpe de calças molhadas nos olhos ridiculamente capaz de cegá-lo, não 
cumpre outra função que a de estabelecer um segundo ponto em comum entre 
o político romano e o estudante brasileiro. Encerra-se, assim, pela simples 
comparação, a reflexão acerca da incapacidade do homem de controlar seu 
destino. Neste sentido, o conto todo é uma expansão mal acabada do introito 
filosófico presente nos demais, e poderia ser resumido numa frase, qual um 
conto moralizante: “o homem que se julga senhor de si e do mundo é punido 
severamente por sua arrogância”. É justamente para esta direção que aponta o 
desfecho da narrativa. Pois, 

[...] quando [João Luís] voltou à aula de história, já se tinham passado 
os tempos gloriosos de Roma. Mas numa argumentação o professor 
[...] perguntou-lhe se se lembrava da divisa”, e por detrás de um olhar 
triste e ofendido, limitou-se o aluno a dizer “com a voz trêmula e 
sem convicção: ‘ Fabrum suae quemquem esse fortunae... ” (C, p. 68) 

Em suma, trata-se de um retrocesso perante a linha evolutiva que 
vinham indicando os três outros contos, e um exemplo privilegiado do quanto 




176 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


pode ser negativo o uso do introito filosófico, já criticado por Borges (1998), 
principalmente se elevado a princípio estrutural da narrativa. De qualquer 
forma, o espaço temporal entre estes quatro contos é bastante reduzido — trata- 
se da publicação em jornais de um a cada mês, de janeiro a abril de 1886 — , o 
que indica com alguma clareza o quanto se preocupava o escritor com atingir 
uma forma mais ajustada à sua expressão. 

De qualquer forma, o próximo conto em ordem cronológica que consta 
do volume Contos a meia tinta é “A bacante”, escrito um ano e meio após “A lição 
da história”. Não obstante, conforme a obra esparsa de Domício coligida e 
comentada por Borges (1998), há ainda outro conto, não incluído em nenhum 
dos dois volumes do autor. 

A mancha (09/09/1886) 

Em um sentido restrito, “A mancha” poderia ser visto como um modelo 
de conto impressionista. 146 À rica descrição sensorial de uma praia, bem como 
à hipotipose lentamente trabalhada pelo autor, soma-se o exercício parcial de 
écriture artiste à la Goncourt (uso preferencial de substantivos e da substantivação 
de verbos e adjetivos; uso do advérbio na função do adjetivo; eliminação do 
gerúndio etc.). Assim, em um sentido linear de compreensão do impressionismo 
literário a partir de seu correlativo pictórico, ele pressupõe uma atenção total 
aos “aos dados imediados da sensação [... pois] o substantivo corresponde a 
tal modo de apercepção imediata, enquanto o adjetivo supõe uma elaboração 
intelectual e uma classificação abstrata do fenômeno” (CRESSOT, 2014, p. 
16). 14 Desta forma, a presença simultânea de predicados nominais no conto, de 
orações reduzidas (i.e., sob as formas nominais dos verbos) ou, ainda, de verbos 
de ação aplicados quase que exclusivamente a elementos visuais da paisagem, 
personificando-os, poderia ser vista como marca irrecusável de impressionismo 


146 “[...] a narrativa inédita A mancha , escrita em 1886 e não incluída nos seus livros, [...] 
poderia figurar em primeira página em uma eventual antologia do conto impressionista no 
Brasil” (BORGES, 1998, p. 93). 

147 “dmpressionnisme, négligeant le rapport de cause à effet, s’en tient aux données im medi ates de la 
sensation [...]: le substantif correspond à ce mode ddperception immédiate, alors que 1’adjectif suppose dejà 
une élaboration intelectuelle et le classement du phénomène dans une catégorie abstraite ” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


177 


literário — ponto de vista não desprovido de razão, mas que reduziria o texto, de 
certa forma, a uma “paisagem em prosa ”. 148 

E importante destacar que o presente texto não faz parte dos dois volumes 
publicados em vida pelo autor, assim como outros contos (ex. “Moloch”) 
que pressupõem um “impressionismo” de cunho marcadamente pictórico. 
O próprio conceito indicado pelo título (“mancha”) é retomado em “Um 
primitivo”, grifado em itálico como momento ausente da evolução estilística 
do pintor Camilo . 149 Logo, pode-se salientar certa exclusão (programática?) de 
parte de sua evolução literária como a recusa implícita de uma prosa pictural 
destacada da consciência das personagens. 

O presente conto pode ser visto, assim, de duas maneiras: no conjunto de 
sua obra, como um momento relativamente importante, mas de segundo plano; 
ou, destacado dos demais, como um exemplo interessante do sentido restrito de 
impressionismo literário mencionado há pouco. Embora a análise subsequente 
pareça privilegiar esse segundo viés, para bem de sua leitura individual (quando, 
em verdade, faz o oposto), sua significação deve ser compreendida no concerto 
daquela dos demais contos, de forma a evitar o risco de uma superinterpretação. 



148 «L ’ impressionnisme s’affirme cfabord en littérature, notamment par le paysage en prose , avant 
de s’épanouir en peinture.» (CARAMASCHI, 1985, p. 87, grifos do autor) 

149 “Na sua maneira extremamente longe dos decadentes não entrava a mancha , de que ele 
nem fazia ideia. O seu gosto era o traço, que a inábil mão reduzia, simplificava, até ser quase 
uma notação apenas.” (C, p. 39-40, grifo do autor) 


178 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Quadro 1 1 — Navarro da Costa, Baía de Guanabara, 1916, 54 x 65 cm, óleo sobre tela, coleção 
particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 


Por sua vez, seu enredo, de extensão reduzida (seis parágrafos em três 
páginas), possui um conteúdo sumário: enquanto o narrador deleita-se com 
o espetáculo natural de uma praia, surpreende o corpo de um marinheiro 
sendo jogado pelas ondas na areia. Imediatamente, ao contemplar o morto 
sendo envolvido por uma mortalha de abutres, começa ele a provar vestígios 
de loucura. A transição do espetáculo da vida ao da morte subentende certa 
reflexão pessoal, que o narrador, felizmente, não faz derivar em “intróitos 

filosóficos”, limitando-se a expor o quadro que vê: 

A beira cfágua sente-se o mar e no mar o céu infinito, 
transparente safira de uma profundeza vertiginosa. Brincam de 
luz as palhetas no franjado das vagas. A espuma em flor de neve 
desabrocha, efêmera e brilhante. A torva penedia escura entrega o 
veludo dos limos verde-negros ao mar que os lave, à luz que os core 
e avive e os borde de ouro e os semeie de pedraria faiscante dos 
tesouros do sol. No pano de sombra da calheta entram as ondas 
rolando o fulgor esmorecido da claridade do lago, acendendo as 
cristas aos reflexos que perpassam, iluminando os últimos recantos, 
sacudindo de alegria borrifos refrescantes às carrancas austeras 
dos rochedos. As tintas sombrias são doces nesta hora ao incêndio 
do oriente. Coam na transparência vítrea das vagas raios de luz 
esverdeada que mudam em penumbra suave a treva das furnas. A 
praia de um branco fosco enrubesce ao sol. A luz impera. (GAMA 
apud BORGES, 1998, p. 314) 

A causalidade dos efeitos naturais é suprimida em prol de uma visão 
ingênua do espetáculo natural, que se surpreende com os efeitos de luz e de 
cor, refletidos pela água (“Brincam de luz as palhetas no franjado das vagas”). 
Os menores detalhes naturais percebidos pelo narrador — que permanece 
inteiramente ausente da tela que observa, qual um espectador passivo a 
contemplar o jogo de cores que se lhe oferece e a senti-lo de longe — personificam 
os fenômenos, dotando-os de vida e atividade (“A torva penedia escura entrega 
o veludo dos limos verde-negros ao mar que os lave, à luz que os core e avive e 
os borde de ouro”). Tal procedimento faz com que os verbos de ação do trecho 
sejam “apassivados” pela harmonia do conjunto de imagens, desempenhando 
um papel de ligação entre cada um dos tons desse amplo painel sensorial. 

Perceba-se, pois, que cada uma das imagens é despida de comparações 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


179 


lógicas precedidas pelo “como” comparativo. Segundo Marcei Cressot (2014, p. 

17), o uso da metáfora pressupõe uma síntese imediata das sensações: 

[...] o impressionismo tem uma visão única dos fatos; ele opta pela 
metáfora, síntese imediata, em detrimento da comparação, que é 
uma operação analítica em dois tempos. [...] a frase impressionista 
não é a tradução de uma opinião pronta, mas de um pensamento 
que não cessa de buscar-se, a palavra encontra-se como em 
suspenso, isolada, liberada de seu grupo sintático. Gozando de vida 
própria, considerada independentemente do equilíbrio das massas, 
ela se torna um centro, constituindo um pequeno quadro no quadro 
mais amplo da frase. A subordinação causal dá lugar à juxtaposição 
no tempo e no espaço; ao invés de articular-se entre si, os fatos 
encaixam-se uns nos noutros. 150 

No segundo parágrafo, passa o narrador a integrar mais pronunciadamente 
a paisagem que descreve: 

O céu é azul, o mar azul, o sol de ouro, mas sente-se, ambiente, uma 
brancura infinita. Brancura virtual, menos de cor que de pureza na 
impressão. É como uma recomposição interior, em que às tintas 
de branco luminoso se ajuntam a frescura da manhã nos campos 
(GAMA apud BORGES, 1998, p. 314). 

Embora ainda preceda à descrição do trecho, tal como no primeiro 
parágrafo, o verbo sentir acrescido da partícula apassivadora “se”, há aqui uma 
presença muito maior do narrador, que mescla à natureza uma “pureza na 
impressão”, capaz de evocar, em meio à visão das vagas, e por meio de uma 
“recomposição interior”, “a frescura da manhã nos campos” — a rigor, ausente 
da percepção imediata do narrador, porém sugerida pelas “tintas de branco 
luminoso”. 

Não obstante, a participação crescente do narrador em seu relato não 
contradiz o distanciamento narrativo do primeiro parágrafo, pois, na passagem 
do espaço exterior ao interior, “o objeto será considerado como o teatro de 
uma atividade interna [... e] o estado tenderá a transpor-se em atividade e devir” 


150 “[...] l’impressionnisme a des faits une Vision une; il prefere la métaphore, synthèse immediate, à la 
comparaison qui, elle, est une opération analy tique à deux temps [...] la phrase impressionniste n’est pas 
la traduction d’un jugement formé, mais d’une pensée qui affecte de se chercher, le mot se trouve comme en 
sHspens, isolé, libéré de son groupe syntactique. Ayant sa vie propre, considéré independamment de 1’ equilibre 
des masses, il devient un centre, constitua nt un petit tableau dans le tableau le plus large qu’est la phrase. La 
subordination causale fait place à la juxtaposition dans le temps et dans 1’ espace; au lieu de s’articuler entre 
eux, les faits s’encadrent les uns dans les autres .» 




180 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


(CRESSOT, 2014, p. 15). 151 Assim, tal como “a manhã dos campos”, ausente 
do que é imediatamente visto, “um perfume vago mal sentido, chama à memória 
a brancura das flores.” (GAMA apud BORGES, 1998, p. 314) Os sentidos 
(visão, olfato) deleitam o narrador a tal ponto que começa a distanciar-se do 
registro das impressões sequenciais, principiando a falar dessas mesmas flores 
no pretérito: “Da orla extrema do horizonte ao norte veio este sopro de flores, 
de alguma várzea escusa sorridente ao sol, entre serros cobertos de verdura.” 
(idem) 

Já fragilizados os limites entre o objeto e o sujeito, o passado e o presente, 
segue o narrador enumerando os itens da paisagem, ao sabor das sensações e 
das lembranças: 

Pássaros chilrantes, silvos na espessura, alegria daquela 
varanda enastrada de trepadeiras aonde assoma um corpete branco 
de mulher lidando na faina caseira, cálido bafejo olente das plantas 
ou da terra em gozo e incêndio adamantino da orvalhada, tudo o 
que é luz, brancura, calor, mocidade e alegria da vida que começa 
traz esta aragem que sopra da terra ao mar o bom dia renascente. 
Cruzam as asas no azul em verões caprichosos as gaivotas em bando 
com pios vivos e curtos, notas brancas perdidas no meio do grande 
concerto matutino. E o mar vai rolando as ondas verdes franjadas 
de luz, rolando preguiçosamente, como se adormecesse hipnótico, 
opresso sob a intensa vibração da atmosfera de luz. (idem, p. 314- 
215) 

O que é percebido, claramente, é mediado pelo intelecto, uma vez que 
faz remeter gradualmente a conceitos abstratos (“luz, brancura, calor, mocidade 
e alegria”) detalhes que são mais imaginados do que vistos (“alegria daquela 
varanda enastrada de trepadeiras aonde assoma um corpete branco de mulher 
lidando na faina caseira”). O particular leva, obrigatoriamente, ao geral, que o 
ressigniíica: assim, as gaivotas “cruzam as asas no azul em verões caprichosos”. 
Ademais, desponta a mediação intelectualizada do “como” comparativo, “e o 
mar vai rolando [...] como se adormecesse hipnótico, opresso”. Em suma, a 
mescla há pouco mencionada entre objeto e sujeito começa a desfazer-se em 
prol do último, equilibrando o predomínio do primeiro, observado no primeiro 
parágrafo. 


151 “[...] 1’objet serà volontiers considéré comme le thêatre d’ une activité interne [...]. Uétat aura tendance 
à se transposer en activité et en devenir 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


181 


Tal evidenciação gradual do sujeito é sensível nos parágrafos subsequentes, 
em que ascende ao primeiro plano de interesse ao observar um corpo lançado 
à terra pelo mar: 

Tanta, tanta luz, que o mar todo se acende e repele do seu seio 
até aquele último trapo de sombra que ali negreja, boiando entre 
duas águas! 

É algum feixe de algas ou destroço lamentoso de naufrágio 
com que a onda jogue brincando e que por fim suspende no dorso 
esverdinhado para arrojá-lo à praia? Sinistro joguete era o da vaga! 
O boneco lívido e desloucado nas contorções da ginástica marinha é 
um corpo de homem, é um marinheiro velho, que só agora a morte 
deixa descansar no grande cemitério, que é a terra, (idem, p. 315) 

O contraste entre o espetáculo luminoso da natureza e o “último trapo 
de sombra” que o mar expele como a um corpo estranho vem acompanhado 
de uma quebra de tom narrativo. O narrador, pela primeira vez, dirige-se a seu 
narratário, e interroga-o com uma pergunta retórica (“É algum feixe de algas ou 
destroço lamentoso de naufrágio [...]? Sinistro joquete era o da vaga! O boneco 
lívido e desloucado nas contorções da ginástica marinha é um corpo de homem”) 
que pouco parece dizer, senão que age como o faria um orador à sua plateia, 
despertando-lhe o interesse por meio de acréscimos (enxertos) de suspense 
em sua narração. Ora, nada pode ser mais mediado (indireto, intelectualizado, 
anacronicamente romântico) que tal contato entre narrador e narratário. Por sua 
vez, “ponto extremo do realismo, o impressionismo não deseja dar a conhecer 
senão uma maneira de ver os objetos: aquela que consiste em deixá-los mostrar 
pelos sentidos individuais.” (CARAMASCHI, 1985, p. 52) 152 Neste sentido, 
ainda que conte com parágrafos mais ou menos “impressionistas”, a estrutura 
de “A mancha” opera a partir de um nó, ele próprio, antiimpressionista: a 
chegada brusca e sensacionalista (antes que sensorial) de um marinheiro morto. 

Segue a descrição do defunto de maneira quase caricatural: “O rosto 
intumescido de podridão, eriçado de curta barba grisalha, tem assim o ar 
assombrosamente irônico, a expressão terrífica de uma ironia de além mundo.” 
(GAMA apud BORGES, 1998, p. 315) Igualmente, seguem as interrogações ao 
narratário, que o distanciam da cena: “O que fita aquele único olho parado e 
fixo, como nalguma visão pavorosa da vida após a vida?” (idem) E, finalmente, 

152 « Point extreme du realisme, 1’impressionnisme ne veut connaítre qu’une manière de voir les objets: celle 
qui consiste à les laisser montrer par les sens individuels .» 




182 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


dá-se a transcrição final de sua vida interior, ao observar o espetáculo da morte, 

que inverte um a um os termos anteriormente apresentados: 

Desce dentro de mim, como uma superposição de véus negros 
enlutando-me a alma, a sombra apavorada do mistério da vida. Vejo 
tudo escuro. A terra não germina senão à custa de mortes. Começa 
a cheirar o cadáver. O sol é o grande apodrecedor. A vida é como 
o dia entre duas noites, sem acidente visível da transformação dos 
seres mergulhados na treva eterna. Sinto um esvoaçar sinistro, como 
no cérebro alucinado o bater das asas da insânia. O morto ri e no 
olho que olha brilha-lhe um clarão vago. Chegam os abutres, passam 
e repassam em verão descendente e por fim pousam envolvendo o 
cadáver. Negra, vivente mortalha! Sombra piedosa! (idem, p. 315- 
316) 

O conto encerra-se com essa inversão concertada dos termos iniciais, que 
leva da brancura e da luz à “sombra apavorada do mistério da vida”. O sol, visto 
anteriormente em relação ao jogar das vagas, é agora “o grande apodrecedor”; 
os abutres, não mais as gaivotas, representam o poder das estações, e “repassam 
em verão descendente” sobre o defunto, em “negra, vivente mortalha”; mesmo 
a vida, outrora plenamente luminosa, “é como o dia entre duas noites”. O 
elemento que parece servir de mediador entre tais polos opostos é o da loucura, 
acionada pelo riso do morto e pelo “clarão vago de seu olhar”. Porém, nada muda 
na maneira com que o texto é apresentado que possa corroborar tal elemento 
(ou hipótese); como se percebe, o texto torna-se mais e mais intelectualizado, 
racional, binário. Talvez por conta deste desnível entre forma e conteúdo, “A 
mancha” tenha sido excluída dos textos coligidos em Contos a meia tinta (o 
que relativiza em parte a exclusão programática de um impressionismo literário 
tendente ao pictórico, discutida no início da análise). 

Em todo caso, é lícito destacar a importância desse conto na linha evolutiva 
de sua obra, como exemplo malogrado de “paisagem em prosa”. A vida interior 
do narrador, que em diversos outros momentos trará uma rara qualidade aos 
textos, aqui, conflita com o sensorialismo dos primeiros parágrafos, e ressente 
muito do binarismo causal trazido pelo morto e pela loucura. 

Em diversos sentidos, o conto cronologicamente posterior, “A bacante”, 
desempenha um papel de maior importância. Seja pela exclusão d’“A mancha” 
de Contos a meia tinta seja por seus defeitos formais, a análise desse texto não 
reportará à daquele, privilegiando- se a importância e autoridade conferidas pelo 
autor aos textos por ele selecionados. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


183 


A bacante (27/11/1887) 

Por dois importantes motivos, “A bacante” é um marco entre os contos 
de Domício. Pela primeira vez, uma escultura é tematizada enquanto centro do 
enredo, passando-se quase toda a ação no museu particular de um colecionador 
de arte, por entre pinturas e bricabraques. Ademais, é obliterado todo resquício 
de introito filosófico em prol de uma ênfase direta na ação, em registro onisciente, 
através de um narrador distante da diegese e que não arrisca comentários ou 
conclusões nem na abertura do texto nem em seu desenvolvimento. 

Atentando para o enredo do conto, tudo começa quando um dos amigos 
do Dr. Van Doylen, o mencionado colecionador de arte, vem apreciar seus itens 
em busca de alguma pechincha, deparando-se com a estátua de uma bacante em 
argila. Dominado pela beleza da peça, seu amigo, Comandante Siemens, não 
tarda em propor-lhe uma oferta, prontamente negada pelo colecionador, que se 
recusa a vendê-la. Siemens então parte para a Europa atormentado pela imagem 
da bacante, lamentando saber que jamais vai possuí-la. Anos depois, Van Doylen, 
à beira da morte, manda chamá-lo, e, quando o amigo vem prestar-lhe a visita 
derradeira, ao tentar entregar-lhe em suas mãos a bacante, é surpreendido por 
sua mão vacilante, deixando cair a estátua de argila, que se arrebenta. O gesto 
é interpretado por Siemens como prova superior do egoísmo do doutor, que 
morre horrorizado pela cena inconscientemente provocada por ele. 

Observado em conjunto, o contraste entre a busca vã de Siemens pela 
bacante (numa “mania elevada quase à loucura” (BORGES, 1998, p. 79) e sua 
destruição pelo gesto fatal de Van Doylen parece indicar uma moral implícita 
de que a vaidade e a busca desenfreada por posses podem escravizar até mesmo 
homens cultos e aparentemente cônscios de suas ações. Não obstante, a 
inexistência de tais indicações sumárias e restritivas pelo narrador faz com que o 
leitor atente despreocupado para a riqueza do museu particular de Van Doylen, 
na qualidade de diletante, tal qual Siemens, que seguia “meneando a bengala, 
com o ar de indiferente, inclinada a cabeça sobre o ombro, mostrando na fadiga 
fingida dos gestos [...] o desdém de todo o amador, verdadeiramente amador, 
pelas preciosidades das coleções alheias” (C., p. 13). Enquanto “amador” da 




184 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


arte, os olhos de Siemens e do leitor equivalem-se ao percorrerem um “objeto 
de forma rara, o cinzelado de uma ferragem antiga” ou “um prato esmaltado”, 
passando pelo verde de “uma paisagem detestável”, até chegar finalmente nas 
“peças de valor, escondidas no fundo dos grandes armários envidraçados.” 
(C, p. 13-14) Percebe-se inclusive a coleção de “bordados, pinturas, esmaltes e 
lavores da China e do Japão” — num registro do japonismo e do orientalismo 
presentes no final do século XIX na França e na Europa, 153 por entre “um 
cheiro misturado de vernizes, de madeiras perfumadas, dos estofos antigos, dos 
óxidos metálicos, de cousas velhas, um cheiro do passado”, em suma. (C., p. 
14-15) 

A descrição da sala das terracotas, separada precavidamente por conta 
dos nus da coleção, também antevê o olhar sensível e colorista de um narrador 
amadurecido: “A sala, forrada de púrpura carregada, quase negra, dava em 
manchas suaves o branco fosco dos mármores e biscuits, o tisne dos bronzes 
negros, o ouro claro dos polidos, o rosa-seco das terracotas e o amarelo creme 
dos marfins antigos.” (C, p. 15) Os tons das pedras e dos metais são isolados 
e vistos em sua interação em “manchas suaves”, sob o fundo da “púrpura 
carregada” das paredes da sala, e acolhem o olhar de Siemens e do leitor em 
uma atmosfera de respeito deslumbrado. As estátuas antigas separam-se das 
modernas, cujas expressões “os prendiam mais tempo no estudo psicológico do 
sentimento revelado no gesto indeciso, oscilante e complicado de movimentos 
partidos de origens comuns.” (C., p. 16) E, finalmente, após a sugestão 
psicológica das estátuas modernas, surge a bacante, exemplar único, “a graça 
fugitiva feita estátua, o movimento preso no voo, a realidade de um sonho que 
até ali se contentava em sonho”. (C., p. 16) 

A estátua é descrita por intermédio do olhar extático de Siemens, que, em 


153 É lícito destacar que, em se tratando de um conto de 1887, tais referências ditas en passant 
designam uma clara atenção do autor para o universo cosmopolita da arte no período, media- 
das obviamente por sua presença em Paris enquanto correspondente da Gaveta de Notíáas. É, 
aliás, do mesmo ano de 1887 o livro de Pierre Lo ti, Madame Chrysanthème, retomado e divulga- 
do mais tarde por Giacomo Puccini enquanto arcabouço da ópera Madame Rutterfly, ainda que 
combatido por diversos japonistas como fonte de mal-entendidos (DANTAS, 2011, p. 24). 
Um registro mais detalhado deste orientalismo, já na qualidade de estudo, é o de Aluísio Aze- 
vedo (2011), que a partir de 1897 esteve em Yokohama na qualidade de vice-cônsul do Brasil. 
Tal estudo, porém, foi publicado apenas em 2011, a partir da tese doutoral de Luiz Dantas. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


185 


sonho — e já em localização interna, numa sutileza de tratamento narrativo que 
muito diz a favor deste momento da evolução da obra de Domício — vê e prevê 

a vida e o movimento saindo pouco a pouco dos contornos fixos da matéria: 

À frente da procissão sagrada ela vinha, na divina nudez de 
estátua viva. Guia da festa impura, coriféia lúbrica, festa era vê-la na 
embriaguez lasciva, dançando a dança em que a razão se perde! A 
paisagem encantada, a olímpica paisagem do sonho, invadida pela 
bacanal infrene, iluminava-se toda para aquela aparição radiosa. 
E ela tomava todo o espaço, e só ela avultava e vivia, como entre 
os acessórios apenas indicados de um quadro a figura principal. 
Elástica e flexível como um junco ao vento, saltava sem cessar 
na lânguida cadência de uma música sem som. Torcendo-se em 
requebros estudados, correndo todas as posições acadêmicas, ela 
improvisava na plástica da carne variações infinitas, sempre novas, 
cambiantes inefáveis, sobre o tema vulgaríssimo da sexualidade em 
delírio. Grande artista que era! (C, p. 17) 

A correlação universal entre as artes na dança onírica da bacante, que 
ultrapassa no bambolear de suas formas “todas as posições acadêmicas” e 
representa a um só tempo a figura principal de um quadro e a “cadência de uma 
música sem som”, sugere não apenas o deslumbramento do comandante com 
a estátua, mas também seu alheamento, agravado pela certeza de jamais possuí- 
la. Assim, após ver a coleção do amigo, Siemens “perdeu a alegria de viver, 
abandonou as suas coleções, tornou-se misantropo pelo incontentamento de 
um ideal que lhe era defeso.” (C., p. 17) Todavia, a íntima cobiça de Siemens não 
é registrada em seus pormenores, bastando-se como menção e preparação para 
a entrega falhada da estátua, ao término do conto, que leva “para além-mundo 
o espanto desta cena final do drama da mais terrível cobiça que pode cancerar 
um coração.” (C, p. 19) 

Em certo sentido, é o contraponto desse desfecho dramático e quase 
anedótico o que faz com que, em seu conjunto, “A bacante” não corresponda 
a um conto de maturidade, apesar dos pontos positivos destacados. Outro 
elemento que pesa para este juízo é o comportamento por vezes incoerente 
do narrador, que rompe com seu registro onisciente e se interpõe ao relato em 
metalepses indevidas, e que reforçam o valor anedótico do desfecho. É o que 
ocorre, por exemplo, ao comentar o comércio sutil dos itens de arte entre as 
duas personagens: “Como na especialidade fossem ambos finos, a comédia do 
subentendido da vaidade e da mentira era interessante.” (C., p. 14) Ou, ainda, ao 




186 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


ironizar o roupão de Van Doylen percorrendo seu museu, “que com as longas 

barbas brancas lhe davam um ar de mágico”. (C, p. 15) 

Está claro que, com tais observações, não se pretende doutrinar ou avaliar 

o texto pelo que ele deveria ter sido. É na economia do próprio conto que se 

pautam tais indicações, observando o desajuste da atmosfera casual e diletante 

das primeiras cinco páginas, coroada pela transição sutil ao sonho de Siemens, 

e a degradação moral deste último a par da degradação física de Van Doylen, 

culminando na quebra da estátua. A primeira metade do conto representaria, 

assim, um crescendo, um recrudescimento da paixão e obsessão de Siemens 

pela estátua e a oposição de Van Doylen à venda da bacante; a segunda parte 

representaria o decrescendo de suas ilusões, a morte do doutor e a quebra da 

estátua. No entanto, o segundo termo não coaduna com o primeiro — talvez, 

e justamente, pela falta do introito filosófico, o que deveria ser, a princípio, 

uma evolução — , pois seria de esperar da obsessão do comandante o roubo 

da estátua ou mesmo o assassinato do colecionador. Porém, Siemens “acudiu 

pressuroso. Ia resgatar a sua ingratidão e desamor com toda a exuberância do 

arrependimento e do afeto, que lhe brotava dos lábios em palavras generosamente 

sentidas.” (C., p. 18) O mesmo ocorre com Van Doylen, que, antes da morte, 

“viu aproximar-se o único que com ele partilhara dos mesmos ideais”, e “teve 

um sorriso de alegria e estendeu o braço trêmulo para tomar a Bacante , que 

lhe estava ao alcance, e depositar-lha nas mãos.” (C., p. 18) Algo parece fora de 

lugar na transição de uma metade para a outra, pois a ação se resolve de maneira 

muito rápida e pouco conveniente. E o termo que permanece oculto, a lição de 

moral que deveria estar colocada no introito, ao início do conto — pois ele ainda 

necessita de tal tipo de unidade — , é aquele que vai implícito à breve reflexão 

do narrador nesta passagem, não citada anteriormente para fazer ver melhor a 

centralidade da mesma para a união das metades opostas do texto: 

Entretanto, quando viu aproximar-se o único que com ele partilhara 
dos mesmos ideais, porque a rivalidade ainda é uma comunhão no desejo , 
teve um sorriso de alegria e estendeu o braço trêmulo para tomar a 
Bacante , que lhe estava ao alcance, e depositar-lha nas mãos. Mas o 
esforço foi em vão. (C, p. 18 , grifos nossos) 

Por meio de uma única explicação, pode-se perceber a semelhança 
fundamental de “A bacante” com os contos anteriores, e sua necessidade desta 
explicação talvez ao início, como nos demais. Sendo a rivalidade uma espécie 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


187 


de comunhão no desejo, estaria o leitor preparado para a destruição dos dois 
amigos a partir do sentimento comum da cobiça e anteveria ainda o fim moralista 
da bacante, enquanto razão central da (in) felicidade de ambos. Deslocando o 
eixo do conto, assim, para uma passagem secundária em meio à cena final, 
Domício demonstra o quanto a prática do introito filosófico entranha-se em 
sua composição e relativiza algumas das melhores qualidades de parte de sua 
obra. 

Indução, dedução e conclusão (12/1887) 

Apesar da lógica racional e determinista prevista desde seu título, pode- 
se dizer que “Indução, dedução e conclusão” é o rompimento definitivo de 
Domício com os ranços naturalistas de sua época. 154 Se se lembrar de que 
poucos meses após a escrita do conto seriam publicados romances como A 
carne , de Júlio Ribeiro, e 0 missionário , de Inglês de Sousa, é sensível sua recusa 
programática da causalidade biológica e do estudo analítico (experimental) das 
personagens. Esta recusa é configurada em dois pontos essenciais: ao nível da 
diegese, por meio de um enredo quase anedótico; e ao nível da narração, pela 
ênfase nos pedantismos científicos do narrador. 

Resumir o enredo de “Indução, dedução e conclusão” equivale a dizer, 
quase imediatamente, o sentido pontual da crítica de Domício ao naturalismo. 
A saber, trata-se de um encontro casual entre um senhor mais ou menos 
esclarecido e uma mulher vestida de preto, acompanhada por um menino, em 
um bonde. O homem logo conclui, pelo aspecto de tristeza da mulher e pela 
cor de suas roupas, tratar-se de uma viúva, e sente-se cativado pelas formas da 
jovem, posto que ainda “moça e faceira no seu luto”. (C., p. 91) De suposição 
em suposição, sente-se cada vez mais enleado pela mulher, fazendo um papel 
ridículo aos seus olhos e aos dos circunstantes. Finalmente, depois de ajudá-la 
a descer do bonde e apear também o menino, descobre a “verdade” ao falar 
com um seu conhecido, chamado Mendonça, sobre o recato da suposta viúva: 
“- É a Chiquinha Lisboa; mora na rua do Conde; quando quiseres...” (C., p. 95) 


154 Ou antes, relativo: Domício flerta com o naturalismo na segunda fase de sua obra, prin- 
cipalemente no conto “Maria sem tempo”. 




188 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A rapidez de raciocínio do narrador é o que o condena ao erro, muito 
embora pareça ter, a princípio, claras vantagens para si. Em dois curtos parágrafos 
iniciais, encontra-se resumida a falha do método empregado: “Vestia de preto 
e levava um menino pela mão. Alguma viúva. Moça e faceira no seu luto, mas 
muito correta, da correção cativante para os tímidos como eu.” (C., p. 91) Os 
termos do problema são apresentados justificando-se uns aos outros, tal qual um 
castelo de cartas, de engenharia limitadíssima: o vestido de preto remete à ideia 
de luto; o menino, à de família, e, logo, à condição de viúva; a faceirice imediata 
da mulher, à timidez do protagonista etc. O encontro, ocorrido inicialmente na 
rua (por onde terna e casualmente a mulher é perseguida, além de avaliada na 
minúcia de suas formas, sob a justeza dos panos) 155 continua no bonde, local 
em que os diálogos se desenrolam. Pouco antes de subir à condução e assentar- 
se ao lado da “viúva”, o narrador formula sua hipótese principal: “E já quase ao 
fim da rua formulei, como um inventor : - Aqui vai uma grande amorosa, que 
o não sabe! Todo inventor verifica. No bonde, onde nos sentamos juntos, quis 
logo experimentar a minha hipótese.” (C., p. 92) Trata-se do jogo da conquista, 
provocado pelas tênues evidências há pouco apontadas (primeira fase do 
raciocínio: indução). 

A verificação dos dados colhidos diretamente da experiência, sob 

um prisma mais ou menos geral, é dada em um primeiro momento pelo 

prolongamento das observações, cada vez mais detidas no corpo da jovem: 

A boca sensual, grande, rubra e carnuda era irmã das ancas; mas 
os olhos, de um brilho esmorecido, meigos e tristes, corrigiram-lhe 
a expressão desaforada. Tinham o vinco e o pisado das olheiras, 
as pálpebras orladas de vermelho... da corrosão das lágrimas, sem 
dúvida, das vigílias dolorosas, dos prantos pelo querido morto! 
(idem) 


155 A este respeito, é curioso notar a falta de autocrítica do narrador quanto à sua própria 
misoginia, que o ajuda a avaliar miseravelmente a “viúva”. Seu olhar limita-a à existência pu- 
ramente física, sob as desculpas de faceirice ou lascívia: “Era a moda dos vestidos justos: a 
curva lírica da perna realçava-se ao alto, vencendo o recato das pregas transversais. A cintura 
fina e o busto quase magro, muito honesto, em linhas suaves, faziam um contraste picante 
de surpresa com a opulência da garupa de fêmea, sacudida, ao bater firme de seu passo, 
numa soberba ondulação de carne. A sedução maior vinha desse escândalo da saia, depois 
do ascetismo do corpinho.” (C, p. 91) Logo, qual o motivo da surpresa do narrador quanto 
à “conclusão” de seu raciocínio falho? Desde o início, para si, a mulher está prostituída por 
um afeto marcadamente interesseiro e equívoco. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


189 


O cansaço de seus olhos é logo interpretado a partir do luto pelo falecido, 

agravado pelas “vigílias dolorosas” e pela “corrosão das lágrimas”. Assim, 

embebido nas formas da jovem, o narrador não cogita outras explicações para 

o fato, enxergando no luto uma forma dupla de dignificação da mulher, que a 

eleva à condição privilegiada de boa esposa, passível socialmente de segundo 

matrimônio. Igualmente, ao ouvir-lhe a voz, em seguida, “fatigada e rouca”, 

repete-se a leitura do “inventor”-narrador, supondo-lhe “gritos inarticulados 

[... e] lamentos de desespero”, (idem) Está claro seu equívoco, pela só ênfase 

repetitiva do texto nos movimentos redundantes de sua leitura — jamais 

questionada, senão ampliada — da mulher. Para tal analista, ela é inadvertidamente 

tomada sob o viés naturalista da mulher fêmea, desprovida no auge do sexo, por 

um capricho do destino, de seu companheiro. Percebe-se, logo, o hipotexto das 

ideias naturalistas propostas por Emile Zola, que assinala como objetivos do 

Naturalismo e de toda ficção “experimental” 

possuir o mecanismo dos fenômenos do homem, mostrar a 
engrenagem das manifestações intelectuais e sensuais, tal qual 
a Fisiologia [...], sob as influências da hereditariedade e das 
circunstâncias-ambiente, e depois mostrar o homem vivendo no 
meio social que ele mesmo produziu, que modifica todos os dias, 
e no seio do qual experimenta por sua vez uma transformação 
contínua. (ZOLA, 1982, p. 43) 156 

Neste sentido, o papel do escritor naturalista “é bem nítido: conhecer 
o determinismo dos fenômenos e dominar estes fenômenos.” (idem, p. 42). 
Por conseguinte, a relação projetada entre a “viúva” e o narrador “inventor”, 
tal qual um cientista e seu objeto de estudo, torna-se, assim, muito próxima 
daquela recomendada por Zola (1982), fazendo com que os dados aparentes da 


156 O profetismo metódico de Zola no trecho citado repete-se ao longo de todo o ensaio, 
chegando, por vezes, a conferir exemplos mais extremos (e evidentes) de sua ênfase cientifi- 
cista. O “método experimental”, tomado de cientistas da época como Claude Bernard, equi- 
vale à compreensão integral e subserviente da lei geral do determinismo: “Em uma palavra, 
devemos trabalhar com os caracteres, as paixões, os fatos humanos e sociais, como o químico 
e o físico trabalham com os corpos brutos, como o fisiólogo, trabalha com os corpos vivos. 
O determinismo domina tudo. E a investigação científica, é o raciocínio experimental que 
combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e substitui os romances de pura imagi- 
nação pelos romances de observação e de experimentação.” (ZOLA, 1982, p. 41) Para uma 
revisão dos limites da proposta de Zola no panorama teórico europeu, cf. Gomes (2006); e 
para uma revisão dos limites do naturalismo no Brasil, a partir do viés ideológico do deter- 
minismo enquanto radiografia importada do país, cf. Süssekind (1984). 




190 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mulher sejam lidos a partir de conjecturas pontuais: 

Virgem, estremeceu da sensação indizível, exultou no último gozo, 
sonhou e viveu o seu sonho. Mulher, foi dona de um homem, reinou 
num coração e teve o aconchego, a quentura deliciosa de uma alma 
abandonada à sua; as ardências suaves do desejo e a saciedade beata; 
concentrou-se, desdobrou-se... Levedou nela o fermento do amor: 
foi mãe. 

Agora é infeliz, humilhada e chorosa. 

Não chora também nela a carne a saudade do seu gozo? 
Privada hoje, como amputada de uma parte do seu eu, que lhe era 
tanto porque era o amor, a dor que se revela nos seus olhos pisados, 
na sua face pálida, não será também reclamo da lascívia insaciada? 
[...] A fatalidade da sua carne a faz sofrer, pobre condenada ao amor 
físico. Inconsciente, a carne quer a carne, a boca purpurina o mel 
dos beijos. (C, p. 92-93) 

Sob um prisma determinista, explica-se a vida toda da mulher a partir do 
casamento, instituição familiar e social validada pela união biológica dos gêneros. 
Assim, seus sonhos de moça são reduzidos à “sensação indizível” do primeiro 
coito, cujo prolongamento equivale à existência feliz sob “as ardências do 
desejo e a saciedade beata”. Com a morte do macho, que até então proporciona 
sentido à sua vida e lhe garante o prazer de ser mãe, perde-se o anteparo físico 
da saciedade, parâmetro único de felicidade pessoal: “Não chora também nela 
a carne a saudade do seu gozo?” Neste sentido, “condenada ao amor físico” 
tão somente por sua condição de fêmea, explica-se o desamparo da mulher, e 
também, por extensão, certo interesse do narrador, atraído, enquanto macho, 
pela exuberância de suas formas, torturadas pela ausência do falecido e sedentas 
de satisfação sexual . 157 Encontra-se, pois, reduzida a existência da mulher a uma 


157 Percebe-se, a respeito deste particular, a absorção refratada das ideias naturalistas por 
Domício, que se vale de um narrador autodiegético para analisar a enigmática mulher do 
bonde. Neste sentido, a imparcialidade exigida pelo ideário naturalista ao longo de seus três 
grandes momentos de ressonância na literatura brasileira — “a primeira vez como estudos de 
temperamento, a segunda como ciclos romanescos memorialistas, a terceira como romances-reportagem. 
Ou ainda: a primeira vez nas últimas décadas do século passado [sic], a segunda na década de 
Trinta, a terceira nos anos Setenta” (SUSSEKIND, 1984, p. 40, grifos da autora) -, deixa cla- 
ra a necessidade de uma análise imparcial dos dados observados, demandando um narrador 
heterodiegético ou mesmo extradiegético. No entanto, faz-se necessário tomar tais generali- 
zações de Sussekind (1984) com cautela, uma vez que prima por ver semelhanças ideológicas 
em momentos marcadamente distintos da literatura nacional. Por conseguinte, se há um ciclo 
do cacau e um ciclo da cana de açúcar nas obras de Jorge Amado e de José Lins do Rego dos 
anos 30, não é no mesmo sentido do ciclo de romances dos Rougon Macquart, sendo saliente 
em Cacau e Suor ; por exemplo, a filiação esquerdista (logo, parcial) de Amado, e em Menino 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


191 


série de suposições que a inserem na narrativa como mero anteparo à vida 
tímida e solitária daquele que a observa, justificando antes, seu interesse sexual 
de flâneur descompromissado e a validade de seu raciocínio, muito embora 
permita, sob um exame mais pausado, relativizações fáceis e necessárias de 
tamanho conhecimento da natureza humana com base apenas em um exame 
superficial da mulher e do menino, sempre a partir do viés mesquinho da posse 
sexual (segunda fase: dedução). 

A seguir, aturdido pela beleza da jovem “viúva” e sufocado pela montanha 
de argumentos que o acometem — e que parecem desculpar a própria falta de 
jeito com as mulheres valendo-se termos tão gerais quanto os de “carne”, 
“fermento do amor” etc. — , o narrador passa a demonstrar para os circunstantes 
seu nervosismo, acreditando-se já cúmplice de um adultério em vias de ocorrer: 
“Diante dessa boca lúbrica, oposta à fronte pura, aos olhos enturvados, senti 
queimar-me numa chama danada, como a lava adúltera que abrasa os corações 
na sala mais austera e cerimoniosa.” (C., p. 93) O prazer da conquista, facilitada 
pela suposta viuvez, é relativizado pelo espectro demasiado presente do esposo 
falecido, que (ao menos, para a imaginação fértil do narrador) lança sobre a 
segunda união uma sombra de imoralidade. A reflexão neste momento avança 
em um ritmo vertiginoso, e os termos utilizados pelo narrador para descrever 
seus estados de espírito — “desenfreada orgia da imaginação”, “tumulto dos 
nervos arrojados”, “noite escura do Pecado” (idem) — são postos de forma a 
realçar, à contrapelo, sua completa falta de distanciamento crítico (ou científico) 

para com a hipótese anteriormente aventada. Como ele próprio reconhece: 

Com isso tudo eu devia ter uma fisionomia adoidada, porque 
ela me olhava de vez em quando, admirada. Refreei-me, e, tomando 
de novo por tema o pirralhito enfezado, que em nada se parecia 
com a mãe, discorri sobre o sacrifício da resignação na vida por 
outrem, razão de ser da vida sentimental, a affectiveness , o papagaio 
de Felicidade, de Flaubert, os gatos das solteironas inglesas, o 
desdobramento das personalidades nos grandes sentimentos, a 
atração das afinidades... (C, p. 93-94) 


de engenho e Doidinho o viés intimista (logo, parcial) de Lins do Rego. Parece escusado dizer 
que o romance-reportagem da década de 70 tampouco pode ser filiado estreitamente ao 
naturalismo oitocentista, tendo em vista o sentido político do estilo jornalístico (imparcial?) 
empregado. Note-se, todavia, e por fim, a recusa de um narrador heterodiegético ou mesmo 
de um estilo tomado das ciências exatas e naturais por Domício da Gama no exato momento 
de eclosão do naturalismo na França e no Brasil. 




192 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O ridículo da cena é descrito por Domício com maestria e garante a seu 
leitor o distanciamento necessário para notar a mediocridade deste narrador. 
A fim de esconder seu embaraço frente à “viúva”, tenta ele evocar mil e uma 
semelhanças para o sentimento materno presente no afeto para com outros seres, 
chegando a embaralhar o papagaio de “Un coeur simple” com a “ afectiveness” 
das “solteironas inglesas” para com seus gatos. Ao reduzir, pois, o afeto da mãe 
para com seu “filho” (que em nada parece consigo, aliás) a outro objeto, que 
desmerece o próprio argumento ao colocar no mesmo patamar um menino, um 
papagaio e um gato, está posta em xeque sua própria credibilidade, bem como 
a de suas teorias e hipóteses naturalistas. A crítica de Domício ao naturalismo, 
tão em voga em sua época, é, assim, sutil, deixando a marca subjetivista de sua 
crítica ao compreender no perfil de um “inventor”-narrador nada mais que 
um ente ficcional dentre os outros, com seus limites, qualidades e defeitos. 
Jamais, portanto, o detentor da verdade, senão o infeliz sofredor de uma miopia 
existencial que lhe tolhe o convívio humano e faz com que enxergue o mundo 
sempre pelos avessos. 

Os parágrafos seguintes humanizam sua figura e trazem-na para um plano 
menos teórico, mais sensível, ao lado das demais: “Aconteceu-me o que sempre 
acontece, quando quero falar, eu mesmo e preciso, das coisas que me interessam 
emocionalmente: divaguei, obscuro.” (C., p. 94) O narrador reconhece suas 
faltas e compreende os excessos de seu pedantismo indevido; porém, como é 
apenas um átomo, uma figura limitada e definida pelo contraste com as outras, 
reincide na misoginia de antes: “A pobrezinha, inteligente, sorria de vez em 
quando, com um sorriso entendido. Mas não podia me acompanhar, decerto.” 
(idem) Desta forma, embora reconheça a inconveniência, prefere julgar na 
mulher uma incapacidade de julgamento, tomando-a por alguém inferior. Ora, 
é de saber geral que quando se aponta um dedo a alguém, pelo menos três 
voltam para quem acusa. Torna-se, de fato, simples o arremate da cena: era ele, 
e não ela, o enganado, ou o “incapaz” de entender os fatos. Ainda uma vez, 
em chave irônica, era ele o suposto conhecedor das verdades transcendentes, o 
“inventor”-narrador de ideias naturalistas... Somam-se, assim, epítetos à crítica 
de Domício ao naturalismo, já demasiado ácida: “incapaz”, “inferior”. 

A propósito, tão pouco idôneo é o narrador em perseguir sua hipótese 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


193 


inicial que, ao ouvir novamente a voz rouca da mulher, afirma: “Só aquela 
rouquidão punha um defeito na beleza do meu sonho [...]. Dali me vinha a tristeza, 
tristeza do contemplador que descobre a mancha de uma criação poética.” (C, 
p. 94-95) Nota-se a postura romântica subjacente às ideias cientificistas, que o 
faz cego à realidade imediata. Apenas quando se separa da mulher e descobre de 
Mendonça sua identidade — Chiquinha Lisboa, prostituta da rua do Conde — é 
que o encanto se rompe: “Deixei cair os braços e o beiço. Veio-me como um 
clarão toda a vergonha do meu engano, e, surdo, o amor próprio gemeu: - E eu 
que me dei ao desfrute no bonde!...” (C., p. 95) 

Nesta última fala do narrador, que conclui o conto, está previsto o 
terceiro termo do silogismo indicado pelo título. Mesmo em um caso como o 
narrado, em que a experiência e o raciocínio apontam para uma solução mais ou 
menos conveniente e justifica preconceitos com teorias, as aparências enganam. 
E, afinal, sob um exame mais detido, é aquele que procura saber demais quem, 
afinal, sabe de menos (terceira fase: conclusão). 

De maneira ampla, o pensamento do autor, através da recusa sistemática 
do método determinista e da causalidade na obra literária, aponta ideias caras 
ao impressionismo literário — a atenção aos limites cognitivos; o uso estratégico 
da focalização interna como forma de surpreender os limites entre o indivíduo 
e o mundo; a fragmentação dos dramas humanos e sua difícil coexistência — 
que se vão formando de maneira ainda pouco esquemática. E digna de nota, 
todavia, tal evolução, que se desenvolve por meio desta crítica sutil e pontual à 
estética naturalista, e que perfaz ainda, no hiato que vai das falsas suposições do 
narrador à conclusão que tudo ressignifica, uma espécie peculiar e original de 
“ delayed ãecoãing’ (WATT, 1979). 

Estudo do feio (07/02/1888) 158 

Os avanços de “Estudo do feio” rumo a uma estética impressionista são 
pontuais. A atenção pormenorizada conferida a um homem em seus momentos 

158 A datação da publicação original de “Estudo do feio” na Gaveta de Notícias de 16 de mar- 
ço de 1888 (ano XIV, n. 76) é de quatro de fevereiro. Há, assim, uma pequena disparidade 
entre a data original e aquela indicada nos três volumes de contos hoje existentes ( Contos a 
meia tinta , Histórias curtas e Contos). 




194 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


finais alcança, em certos trechos, a grandeza dos melhores contos de Domício 
e prevê a maturidade de seu tratamento da focalização interna a partir de um 
narrador heterodiegético. O enredo despe- se de toda complexidade, para que as 
sensações finais do moribundo ocupem o plano central do texto. 

“Estudo do feio” trata da morte de um homem aberrantemente feio, que, 
apesar de sua natureza pacífica, tem a vida desperdiçada por conta tão somente 
da feiura. O desnível entre a interioridade do protagonista — gentil, introspectivo, 
sentimental — e sua exterioridade — “uma cara de chuchu maduro”, uma “barba 
como a do diabo mais velho” (C., p. 24) etc. — dá ensejo aos pequenos episódios 
rememorados pelo infeliz em seu estertor, desordenadamente, cujo único fio 
aparente é o isolamento e o escárnio geral para consigo. Desta forma, somam- 
se cenas passadas em um bonde de Botafogo, no restaurante de um hotel no 
Rio, em um baile de máscaras no teatro São Pedro, todas com o mesmo teor 
de sensibilidade magoada, prestes a desforrar-se da vida por meio do encontro 
rancoroso com a morte. De fato, o intuito do protagonista é ter, ao menos, uma 
morte bela, digna de ser rememorada (o que tampouco consegue). Apenas, ao 
sentir-se às margens do fim, sente seu corpo mais leve, rumo ao “sono único, 
inimaginável, eterno.” (G, p. 27) 

O elo com os contos anteriores parece estar, unicamente, no título, em 
que prevê realizar um “estudo” do moribundo, como realizado em “Indução, 
dedução e conclusão” da jovem prostituta. Evidentemente, o “estudo” em 
questão já não conta com o registro irônico de um narrador limitado, suposto 
“inventor” interessado em um falso problema. De maneira inversa, a atenção 
recai sobre as nuanças sensoriais do delírio de um homem simples, observado a 
partir de um narrador postado fora da diegese. Por meio desse recurso, Domício 
consegue atingir um grau superior na análise de suas personagens, destacando- 
se do viés jocoso d’“As calças do Manoel Dias” e das múltiplas interioridades 
previstas n’“A canção do rei de Tule”. Neste sentido, trata-se, até certo ponto, 
de uma hipertrofia dos lamentos do Comandante Siemens de “A bacante”, 
mesclados às amarguras do Félix de “Cônsul!...”, tendo por base o fio narrativo 
e sentimental do rancor. 139 


159 Uma opinião diversa pode ser encontrada em Medeiros e Albuquerque (1901, p. 3), para 
quem “Estudo do feio” consiste de um exemplo típico dos contos de Domício, demarcando 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


195 


De volta a “Estudo do feio”, o primeiro parágrafo situa o problema 

posterior e exaustivamente analisado pelo narrador: 

Tanto nela pensara, tanto para ela se preparara, que estava 
exausto quando ela veio afinal. A ansiedade angustiosa da espera, 
com o enfraquecimento gradual do físico, lhe tinha tirado toda a 
energia para dominar-se ante o horror do último transe. Agora 
desatinava, relaxado à dor, estrebuchando sob a garra do supremo 
espanto, perdida a derradeira e vaga esperança de, na morte ao 
menos, ser uma vez teatralmente belo. (G, p. 21) 

O decoro dramático do momento derradeiro, que deveria emprestar um 
instante de beleza à vida do infeliz cujo nome é estrategicamente ignorado, 
inexiste, o que intensifica o sentido contraditório previsto pelo estilo carregado 
e pomposo do trecho. Afinal, o homem não merece pompa alguma, e apenas 
nisso está seu valor característico. Trata-se, pois, de um estudo da completa 
ausência de beleza, antes que do feio, como se fosse seu protagonista um duplo 
daquela “vítima do incolor” vislumbrada por Raul Pompeia anos antes . 160 
Obviamente, o que importa aqui não é o papel de vítima que desempenha o 
protagonista, tampouco seu olhar crítico ante a superficialidade da sociedade 
carioca. Algo mais está em questão e demanda o olhar atencioso do leitor. 

Contrastando com os sonhos de morte grandiosa, que preveem coisas 
tão improváveis quanto “uma explosão de caldeira” ou “uma luta fatal como 
um tigre numa jaula [...], no cerrado de uma batalha naval, à hora crítica da 


não tanto um momento de sua evolução quanto a linha geral de seu desenvolvimento: “ Estu- 
do do feio, sendo dos mais simples e antigos, é dos mais característicos: as desventuras de um 
feio, cuja feialdade [sic] lhe acarreta os mais vivos dissabores e que, só ao morrer, teve talvez 
uma hora de felicidade.” 

160 Trata-se do poema em prosa “Vítima do incolor”, publicado originalmente pelo Jornal 
do comércio em 13 ago. 1883 e reformulado duas vezes antes de sua versão final nas Canções sem 
metro (I a ed. 1900, póstuma). Nele, esboça-se o perfil de um homem saciado em extremo pela 
vida, ao ponto de desgostar-se de tudo: “Viu tudo, tudo sentiu. Usou da inteligência ocidental 
e da sensualidade do levante; provou o contato das neves polares e as temperaturas do Saara. 
As mulheres beijaram-no, os homens lamberam-no. Nada lhe falta. E é disto que padece o 
desgraçado. Como nada lhe falta, falta-lhe tudo. Falta-lhe desejo. Desejar é viver e o mísero 
não deseja...” (POMPEIA, 1982a, p. 117) No conto de Domício, pode-se ler a personagem 
em polo inteiramente oposto, enquanto marcado pela impossibilidade do gozo (antes que 
pela completa falta de desejo): “[...] ele só podia chorar a vida que não soubera gozar. Não 
pudera, antes. A montanha da vida lhe tinha sido inóspita; passou por ela rapidamente, como 
um animal rojante perseguido, por trilha escusa contornando as ásperas barrancas, onde a 
sombra vem cedo, onde a alegria não mora.” (C, p. 23) 




196 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


abordagem esmagadora” (C., p. 22), erige-se a realidade desinteressante da vida 
(e da morte) comum, pequena e apequenadora, que despersonaliza o moribundo 
e oblitera seu drama particular a ponto de torná-lo inominado até mesmo no 
“estudo” em questão. O abandono e a indiferença dão margem à paranoia e ao 

rancor, inimigos naturais do orgulho e do amor próprio: 

E nada!.. Em vez disso morria a um canto, na indiferença dos 
mais, tendo vivido sempre como a um cão a quem regateiam afagos, 
cujas festas são importunas, porque é feio. O seu isolamento social 
e afetivo daí provinha - de ser feio. [...] Fizera timbre de vencer a 
repulsão que a sua fealdade inspirava, pelo cultivo desvelado do seu 
moral e de afiná-lo, elevá-lo até à angelitude. Isso realizado - sentia- 
se divinamente bom e amável - não compreendeu porque não 
era amado, cuidando que há merecimentos que a isso dão direito. 
Encerrou-se então na clausura de uma desconfiança geral, uma 
suspeita de que, reconhecida a sua real superioridade, quisessem-no 
abafar, persuadi-lo de que não valia, (idem) 

A estratégia do protagonista, ao saber-se feio através do olhar de outrem, 
é a de tornar-se belo em um plano mais elevado, dando-se ao “cultivo desvelado 
do seu moral”. Entretanto, o procedimento não dá resultado, uma vez que sua 
feiura impede que os outros se aproximem de si e possam avaliar a bondade 
(“angelitude”) duramente adquirida. Torna-se, assim, paranoico, adivinhando 
uma intenção geral e oculta de diminuírem suas qualidades, tendo por base 
apenas a aparência física. Os termos colocados são claramente os de beleza 
exterior e interior, e não diferem, em superfície, da crítica romântica do belo 
presente em Notre Dame de Paris ou no prefácio de Cromivell \ “Do grotesco e do 
sublime”, de Victor Hugo (2002). No entanto, Domício situa os termos sob 
o esclarecimento derradeiro do protagonista, que reconhece, por fim: “Agora, 
porém, tarde! só agora, na hora da suprema urgência, a lucidez maior do espírito 
já quase desembaraçado dos elementos da equação pessoal deixava-lhe perceber 
que tinha vivido sozinho e sem amor por falta de revelação.” (idem) I.e., por 
falta de desprendimento ante a mesquinhez do preconceito alheio, enquanto 
causa de um orgulho e de um moralismo infundados. Mais especificamente, 
reconhece o pobre homem o cerne de seu drama — o da não beleza, por conta 
da não expressão: 

Só existe o que se exprime. Nem sempre há fogo onde há 
combustível. A única realidade sensível é a expressão. O que ele 
pensava ser podia ser apenas, não era. E não tinha sido porque a 
expressão o atraiçoara, a expressão, que era o seu físico disforme, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


197 


abjeto, miserável, a sua individualidade visível e única, real, portanto. 
Dele saíra o mal para ele, a sua aspiração envenenada pelo ambiente 
de desprezo social! (C, p. 23) 

O reconhecimento da própria feiura dá-se por conta da ausência 
de possibilidade de exprimir-se, de demonstrar sua candura e bondade, 
impossibilitando suas aspirações “pelo ambiente de desprezo social” gerado 
pela hediondez de seu físico. A fonte de todo o mal está, portanto, nele próprio, 
vítima da censura alheia e também da autocensura. A dimensão projetada 
não é, assim, a da crítica social, mas a da crítica da subjetividade, tomada 
enquanto “estudo” psicológico de um sentimento bastante específico, que 
passa da nostalgia ao rancor e ao arrependimento. A proximidade da morte 
faz ressignificar o abandono do protagonista, que parece morrer de uma morte 
segunda, causada pela vergonha da não fruição da vida. 

É ainda tal sentimento, enquanto unidade argumentativa, o que motiva 

o uso da memória e a evocação de cenas doridas, referentes à contínua 

rejeição do homem por seus “semelhantes”: 

A ânsia atroz de um desespero louco torceu-lhe, espremeu-lhe o 
coração para esgotá-lo em convulsões de pranto. Depois, numa fúria 
de destruição insensata, como o escorpião ferido voltando contra si 
o próprio dardo, ele retornou a fazer pela memória as jornadas mais 
lamentosas da sua lúgubre vida de amargura, (idem) 

O vislumbre final de sabedoria do moribundo não passa, como indicado 
pelo trecho, de uma sessão de autoflagelação, em que os tormentos de sua vida 
repetem-se, com a diferença de ser agora in extremis e por iniciativa (e realização) 
própria. Passa a ser descrito o círculo de fogo previsto pelo movimento suicida 
do escorpião 161 em cenas da mais deliciosa banalidade, em que se percebe o 
anteparo necessário e onipresente do olhar do homem, enquanto espectador 
passivo de uma sociedade a um só tempo superficial e efêmera. 

É o que se nota na injúria feita a si “num bonde de Botafogo” por um grupo 


161 A imagem do escorpião, tomada como anteparo da memória, é bastante presente no 
romance O Ateneu de Raul Pompeia, escrito e publicado nos primeiros seis meses de 1888. 
Domício da Gama, próximo à revisão do texto (como destacado em seu ensaio sobre Capis- 
trano de Abreu (apud BORGES, 1998, p. 401)) e íntimo de Pompeia no período, conhecia 
de perto o trabalho do amigo. Os pontos de contato entre a obra de ambos são muitos e 
ainda está por ser feito um estudo de fôlego a esse respeito. Para uma visão detalhada sobre 
o sentido específico da figura do escorpião em Pompeia, cf. Sandanello (2015). 




198 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de moças, oito dias antes. Antes que fosse percebido por elas, o protagonista 

repara na delicadeza “da mais fina, mais gentil, mais nova talvez”, dando ensejo 

a uma descrição que mescla o caráter pictórico à notação psicológica: 

Era a gesticulação miúda, incompleta, de cambiantes rapidíssimos, 
o sorriso desfeito num amuo, a cabeça que se humilha de vergonha 
fingida, erigindo-se em postura trágica, logo adoçada num gesto 
carinhoso da mão enluvada de amarelo-havana, tocando o braço da 
vizinha, e, por cima de tudo, fazendo harmonia, entre o encolher de 
ombros e o desabrochar da boca comprimida em mesura cômica, 
desferiam a todo instante o voo os perlés irresistíveis daquele riso de 
encanto. Ele, embevecido, esquecido de si, inclinava-se para a frente, 
apoiado ao punho do chapéu de sol, com o sorriso vago de quem 
ouve chilrar um gaturamo... (G, p. 24) 

Parece escusado lembrar que a qualidade pictórica do texto somente 

indica certo estilo impressionista, a vir acompanhado de um trabalho narrativo 

específico, concernente às nuanças da focalização interna. Não obstante, podem 

ser contrapostas às qualidades sinestésicas da descrição do bonde a descrição 

do baile de máscaras no teatro São Pedro, em que, também imediatamente antes 

à descoberta de sua feiura pela companheira de dança, o protagonista interpreta 

a opulência do ambiente e a riqueza de adereços festivos em termos biológicos 

da podridão orgânica da sociedade carioca: 

[...] ele, mascarado, de toga negra e gorro magistrado na cabeça, 
mirava a sala onde, como num buraco de podridões, remexia-se sem 
cessar a multidão larvejante. A claridade, que ofuscava, o estrondo 
ensurdecedor da alegria animal desenfreada, o calor intenso, que 
com o bafio repugnante dos corpos em suor, dos hálitos alcoólicos, 
dos perfumes misturados, do bodum dominante, subia na exalação 
de cuba em fermentação, punham-no tonto ao princípio. Depois 
pareceu-lhe que todos os ruídos eram dominados pelo do 
lascivamente brutal esfregar dos corpos no apertão das danças. E 
àquela singular sensação, acordando-lhe um fervilhar de impureza 
interior, ele sentia uma ânsia irreprimível de gozos baixos - como a 
nostalgia da lama. (G, p. 25) 

À contemplação passiva das moças no bonde soma-se a descrição 
animalesca de uma noite de carnaval no Rio, que substitui a graciosidade anterior 
dos movimentos pelo “brutal esfregar dos corpos no apertão das danças”. 
O movimento humano é visto em seu aspecto mais animalesco, invertendo 
as ordens sociais e nivelando todos por baixo. Neste sentido, vestido como 
magistrado, é o homem feio quem julga seus semelhantes por detrás de sua 
máscara, percebendo a animalidade oculta em homens e mulheres supostamente 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


199 


“belos”, e que, por meio do jogo do esconde-revela do baile, revela sua natureza 
íntima: o “bodum dominante” dos corpos suados, do álcool, “dos perfumes 
misturados”, tudo evidencia um levedar de larvas, “um fervilhar de impureza 
interior”, que emana de dentro para fora. Se retomada a discussão de há pouco 
a respeito dos termos opostos de beleza interior e exterior, destaca-se o aspecto 
lógico e quase silogístico das recordações do protagonista, evocadas pelo 
narrador de maneira pontual a fim de indicar não tanto a injustiça da exclusão 
do feio (pois é excluído no bonde por moças delicadas e no baile por uma 
mulher que em tudo lembra Sancho Pança) quanto a feiura geral, a ausência de 
beleza nos meios mais diversos, por conta da natureza brutal e interesseira do 
convívio coletivo de uma “multidão larvejante”. Desta forma, à cena do bonde, 
regrada pela passividade e pela leveza do movimento, opõe-se a do baile, em 
que a atividade atinge o extremo do visceral, a ponto de fazer o protagonista, 
versado em assuntos morais, sentir “uma ânsia irreprimível de gozos baixos — 
como a nostalgia da lama”. Importa o ponto comum a ambos: todas as pessoas 
desprezam-no, da classe social mais alta à mais baixa. Não há lugar para a feiura 
neste meio, embora possa haver para o escárnio, para a falta de caráter, para 
a violência e a ignorância. É o que conclui o narrador pelos olhos do infeliz, 
quando descoberto por seu par de dança, já sem a máscara: “Ele olhou para a 
mulher vil, sacudida no espasmo da jovialidade maligna, que o feria na face, e, 
reatando a máscara, afastou-se. Nem a lama o queria!” (C., p. 26) 

A morte mesquinha do homem em um quarto de aluguel é acompanhada 
da metáfora sonora do gotejar de uma torneira, ouvida pelo protagonista 
como correspondente ao esvair-se do próprio tempo. 162 A sutileza sensorial da 

passagem merece destaque: 

Era melhor morrer, sim! mas naquele fundo de casa de alugar 
quartos, na sombra lúgubre, sem alguém para acender-lhe a vela, 
extinguir-se, ouvindo sempre aquela torneira gotejante, melancólica, 
como o esvair-se do tempo aos segundos, ferida aberta, donde o 
sangue escorre e não torna, sangue ou tempo, nunca mais! o ouvido 
involuntariamente atento, uma esperança vã, sempre desiludida! 
presa aos passos dos que entram, dos que saem, estranhos, lidando 
na sua vida, sem saber dele, mas fazendo-lhe na mente, já meio louca, 
a dissolvente sonata dos crescendos que vêm, dos afastamentos 


162 Tal passagem parece antecipar a estrutura de contos como “Um prego! Mais outro pre- 
go!...” ou “Francisco”, de Adelino Magalhães (1963). 




200 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


morrendo no fundo dos corredores, até o rufar pianíssimo dos 
tacões rápidos descendo escadas, longe! (G, p. 26-27) 

A imbricação entre o escoar das gotas de água ao escoar do tempo 
ressignifica a miséria da exclusão a que fora submetido o homem, destacando no 
líquido desperdiçado seu próprio sangue, em possível indicação do momento final 
de um suicídio. Logo, não se pode dizer ao certo se se trata aqui de uma doença 
terminal ou do fim voluntário da vida — uma vez que a cena toda é sugerida por 
através do martírio do protagonista. O filtro sentimental do rancor perpassa o 
trecho: o som dos passos “dos que entram, dos que saem” do corredor da casa 
de pensão “sem saber dele” evocam o sair e o entrar também despercebidos 
do homem nas diversas ocasiões de convívio social, fazendo suceder aos 
“crescendos” da vida em conjunto (fonte de dissabores e preconceitos) o “rufar 
pianíssimo” de passos descendo as escadas da pensão, em movimento paralelo 
ao do protagonista, apequenado, desiludido, caminhando rumo ao esquecimento 
e ao nada. Ademais, a escuridão do quarto deve-se também ao abandono, pois 
não há quem se ocupe sequer de acender-lhe uma vela. A completa ausência de 
cores e de imagens visuais nas páginas finais do conto deve ser compreendida 
como parte do estudo psicológico do moribundo. Domício mergulha, assim, 
na análise do revés da vida em sociedade, adentrando, tal como Joseph Conrad 
( [The nigger of the ‘ Narcissus ’ (1897); Heart of darkness (1899); Nostromo (1904)) o 
fez poucos anos depois, nos limites mais obscuros do inconsciente. 163 

Neste sentido, é possível observar que a sucessão dos estados de 

consciência do protagonista aponta um amadurecimento do descritivismo realista 

e dos temas românticos dos textos anteriores, rumo a uma problematização 

psicológica e sensorial das personagens. Como afirma R.M. Albérés (1962, p. 

197-198, grifos do autor), a novidade de muitos autores modernos da literatura 

universal reporta a essa conquista da prosa impressionista, evidenciada em 

“Estudo do feio” (ao menos em germe, pelo uso gradativo da localização 

interna fixa, prévio ao do discurso imediato): 

da arte quase vitoriana de Henry James em 1900 à arte intransigente 
de Claude Simon em 1962, passando pela sensibilidade angustiada e 


163 “Com apagar as formas do mundo, as trevas da noite deixam os homens sem qualquer 
apoio de fora, entregues a si e aos seus demônios, pelo que são a natural figuração do lado 
inconsciente, do lado obscuro da psique.” (PAES, 1991, p. 471) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


201 


estetizante de Virgínia Woolf, pelas transcrições brutais de Faulkner, 
pela mistura de objetividade e de lirismo de Sartre, afirma-se a 
necessidade de introduzir, na expressão romanesca, uma vo% nova: a 
voz da consciência diretamente registrada. 164 

Os dois parágrafos finais reforçam tal leitura, sublinhando o devaneio 
do moribundo, a olhar por uma nesga de luz à porta, confundida com a 
redenção final: “Então cresceu, aproximou-se o clarão, uma vivíssima e suave 
claridade o envolveu, mãos piedosas tocaram-no, sentiu-se bem, a carícia de 
uns dedos alisando-lhe as pálpebras, enxugando-lhe as lágrimas...” (C., p. 27) 
O desprendimento do corpo hediondo é sentido como desprendimento da 
própria feiura, a caminho da paz e da liberdade. E a ausência de luz permite 
uma saída derradeira, sob a mais ínfima fresta de luz, visualizada na companhia 
(algo romântica?) da morte. 

Nivelado (14/02/1888) 


“Nivelado” é, tal como “Fibra morta”, um conto ainda inédito de Domício, 
encontrado em meio ao acervo digital da Hemeroteca Digital Brasileira 
(Fundação Biblioteca Nacional) na quarta página do número 161, ano IV, do 
periódico H semana (RJ). 165 

Por sua vez, a análise do texto assinala a importância deste conto para 
a evolução do impressionismo em sua obra, marcando sua experimentação 
narrativa pelo uso de um narrador autodiegético, que dá a conhecer sua vida 
interior em um longo e ininterrupto parágrafo. As palavras que pronuncia, 
tal qual as gotas de chuva que caem sobre si, seguem- se umas às outras, em 
um ritmo desenfreado que deixa transparecer certo estado de loucura, logo 

atribuído aos efeitos da embriaguez: 

Chovia eterna, desoladamente. Há quantas horas, há quantos 
dias, há quantos séculos não o podia dizer eu, que sentia-me dissolver, 


164 “De 1’art presque victorien d’Henry James en 1900, à l’art intransigeant de Claude Simon en 1962, 
en passant par la sensibilité angoissée et esthétisante de 'Virgínia Woolf, par les transcriptions brutales de 
Faulkner, par le mélange ddbjectivité et de Ijrisme de Sartre, sdffirme pourtant le besoin d’introduire, dans 
1’expression romanesque, dans le registre de tonalités dont dispose le roman, une voix nouvelle : la voix de la 
conscience directement enregistrée .” 

165 Ambos não constam do levantamento de Borges (1998). Cf. anexo 3 para a reprodução 
digital dos mesmos. 




202 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


embebido das lágrimas da tristeza imensa da Nuvem. Tristeza da 
Inimiga - fingida, só para apagar-me o fogo santo da alegria que 
acendera em mim a chama luminosa, a quentura revigorante do bom 
vinho. Eu tinha bebido muito. Tiveram inveja da minha felicidade. 
E meteram-me num cárcere de sombra e melancolia. E há séculos a 
chuva cai para vencer este arder indómito de viver, que sinto. Porque 
eu ia no passo da conquista, firme e arrogante, com o peito dilatado, 
respirando livre os aromas idílicos e nos olhos resplendores celestes, 
encheram-me a estrada de poças lamacentas, desfolharam-me as 
flores à rija ventania, rolaram, encharcaram na enxurrada as folhas 
secas, o meu tapete do sonho, cobriram de véus negros, cegantes, 
os olhos luminosos da minha doce amiga a Noite. (GAMA, 1888d, 
p.4) 

Outro elemento rapidamente evidenciado é o do alto grau de desconfiança 
despertado pelo narrador, que não consegue alinhar seus pensamentos e, por 
conseguinte, fornece apenas flashes de um passado que soa simultaneamente 
próximo e distante do momento danarração. 1 66 Assim, demaneira estrategicamente 
infiel ao transcorrer cronológico dos fatos — que assume o segundo plano face 
ao efervescer de uma verdade subjetiva cada vez mais premente — , o narrador 
parece querer contar sua história de um só borbotão, motivado pela chuva 
torrencial, que cai há horas, dias ou séculos. O aprofundamento psicológico 
da experiência temporal e o afunilamento (antes espraiamento) das medidas 
cronológicas menores nas maiores faz com que o leitor reconheça de pronto a 
verossimilhança interna do texto, que o protege de uma equiparação temporal 
imediata: 

Transferindo os eventos para o plano mental, pode-se dispensar 
a sequência cronológica ordinária e prosseguir mantendo a 
continuidade, pois estes são válidos apenas por padrões externos, 
e não possuem nenhuma justificativa (exceto a conveniência 
do leitor) na evocação de processos mentais em que a memória 
associativa segue leis de sequencia puramente privadas e individuais. 
(MENDILOW, 1972, p. 83) 167 


166 Na clássica definição de Wayne Booth: “Forlack of hetterterms, I have called a narmtor reliahle 
when he speaks for or acts in accordance with the norms of the ivork (ivhich is to say the implied author’s 
norms), unreliahle when he does noi ” (1968, p. 158). Os termos “ reliahle ” e “ unreliahle ” são de difícil 
tradução, e uma interpretação alternativa pode ser encontrada em Alfredo Carvalho: “[...] 
ocorreu-me propor a tradução narrador infiel [...]. Essa denominação parece-me bastante prá- 
tica, e não só bem-soante como imensamente sugestiva. Ademais, permite o uso de um subs- 
tantivo correspondente: podemos falar na infidelidade narrativa ” (2005, p. 27, grifos do autor). 

167 Mais especificamente, tal procedimento de inversão do tempo conceituai no tempo 
psicológico remete ao que Mendilow denomina de “troca de tempo” (procedimento diverso. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


203 


Paralelamente, a dissolução perene do narrador em chuva, em vinho e 
em lágrimas preenche com um conteúdo trágico o recipiente da “sequência 
cronológica ordinária” (MENDILOW, 1972, p. 83) contra a qual se embate. A 
repetição de maiúsculas alegorizantes (“Nuvem”, “Inimiga”, “Noite”) opera a 
interpretação unívoca da tristeza pela razão, que se não deixa analisar. Uma série 
de dúvidas surge à medida que as orações se acumulam: o narrador menciona 
certa “inveja alheia” como supostamente responsável por lançá-lo “num cárcere 
de sombra e melancolia”, em contraste com o “passo da conquista, firme e 
arrogante” proporcionado pela bebida (GAMA, 1888d, p. 4). As perguntas são, 
assim, inevitáveis: conquista de quê? Quem lhe inveja? E tal cárcere, de fato, 
existe fora de seu devaneio? 

O trecho imediatamente posterior parece indicar algumas respostas: 

E agora quem me visse vacilante e trôpego diria que eu estava 
bêbado. Triste é que eu estava. Vencia-me a mágoa, embebia- 
me a sombra, a morte quebrava-me as arrogâncias físicas. Havia 
uma força imensa superior oprimindo-me [...]. Sabia que era uma 
provação aquilo. Bem me tardava repousar, mas não na rua. Nem 
em casa. Uma modalidade física do Ideal insinuava-me que não era 
o melhor o que eu pudesse desejar, porque seria cousa já sabida. 
Por isso eu não desejava cousa alguma. Caminhava duro, teso, 
com o enfatismo nos passos de saltimbanco em drama lírico, com 
investidas e arrancos trágicos, após longas pausas deliberativas, 
torvas de decisão explosiva. (GAMA, 1888d, p. 4) 

O narrador caminha, pois, ebriamente ao longo de uma rua (o que indica 
a natureza metafórica do “cárcere” de há pouco), sentindo uma força superior, 
que julga ser uma provação, atuar sobre si. Claramente, goza ele de uma 
dignidade íntima ao lutar contra tal força, como se uma certeza moral justificasse 
simultaneamente sua embriaguez e a fraqueza física de suas pernas, oprimidas 
por um destino injusto (esqueça-se, por ora, a causa alcoólica, temerariamente 
obliterada em proveito da referida certeza moral). Em meio a uma série de frases 


porém não destacado, do “fluxo de consciência” que comenta na passagem referida): “A 
troca-de-tempo é ainda uma outra maneira de distribuir a matéria de exposição por todo 
o romance. Com efeito, faz da necessidade uma virtude pela fragmentação deliberada da 
sequência; todo o senso de continuidade é perdido, e as lacunas entre os incidentes tratados 
permanecem, portanto, sem serem notadas.” (1972, p. 83) Guardadas as devidas proporções 
- o autor discute o tempo no romance, e não especificamente sua manifestação no conto -, 
podemos pensar, a respeito de “Nivelado” em uma “troca de tempo” semelhante, em que 
o passado (distante, próximo) e o presente são intercalados, de forma a destacar, para além 
da construção linear do enredo, a perenidade (naturalmente confusa) do drama do narrador. 




204 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


desconexas, a chave de compreensão do viés moralista do narrador encontra-se 
em sua menção contraditória a uma “modalidade física do Ideal”, que insinua 
“que não era o melhor o que eu pudesse desejar, porque seria cousa já sabida. 
Por isso eu não desejava cousa alguma.” (idem, p. 4) Ora, trata-se de um desejo 
honroso, do ponto de vista individual, porém ilícito, do ponto de vista coletivo 
(ou, ao menos, da opinião alheia, que pertence ao domínio da inveja). Resta 
responder àquelas duas perguntas: qual poderia ser o objeto desse desejo, que 
faz do narrador, antiteticamente, um prisioneiro a caminhar livremente pelas 
ruas? E quem impede que ele se concretize, valendo-se de uma conveniência 
social infundada, capaz de prostrar um desejo não apenas legítimo, mas ideal 
(“Ideal”), apenas por não consegui-lo para si (i.e., quem o inveja)? 

Em meio à sondagem dos desejos íntimos do narrador, reaparece a 

chuva como moto contínuo de sua dissolução física, em estado cada vez mais 

alarmante de prostração pelo álcool. Desejos e ideais à parte, seu corpo sofre 

cada vez mais com a iminência de uma mencionada “decisão explosiva”, adiada 

após “longas pausas deliberativas” (índices de conservação de certa capacidade 

reflexiva que insiste em dotar a agonia pessoal de foros metafísicos). E a chuva, 

ressurge sem alterações, inteira, una: 

Depois como uma cortina recaindo cerrava-se-me a treva e eu 
escutava o cair da chuva, monótono, constante, inexorável. Há 
quantas horas, há quantos dias, há quantos séculos, toda a minha 
longuíssima existência tendo se escoado transida e enlameada sob 
o perpétuo rorejar dos prantos celestes e terrestres. A lembrança 
dos sóis, de tão apagada, era mítica. Sempre assim vivi, na solidão 
sombria, nas lágrimas. O resto, alegrias e luz, são os poetas que 
sonham. Maus poetas! fazendo-me sofrer... (idem, p. 4) 

Afinal, o que pretende o narrador? Seria aquela “decisão explosiva” a de 
conquistar seu desejo à força (invalidando, pois, seu direito de possuí-lo, tão 
somente pelo gozo da posse)? As diversas sugestões do trecho parecem apontar 
que sim, pois despem gradativamente o “Ideal”, há pouco tão louvado, em prol 
de sua materialidade direta, imediata, carnal. Em meio à dissolução da terra 
pela chuva e do corpo pelo pranto, dissolve-se também a razão, a começar pela 
memória: o sofrimento presente oblitera a “lembrança dos sóis” e substitui 
os dias passados por noites escuras e úmidas. Tudo o mais, como afirma, são 
sugestões literárias, externas, tomadas de livros de (“maus”) “poetas” e enxertadas 
sensibilidade adentro, como elementos estranhos à vida interior, regrada pela 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


205 


alegria simples da satisfação de desejos imediatos e materiais. Trata-se, pois, do 

reconhecimento de que todo hiato entre corpo e espírito (i.e., entre o animal e o 

“Ideal”) é ilusório. Como seria de se esperar, tal revelação somente é entrevista 

longe dos meios socialmente aceitos (o narrador recusa-se a voltar para casa, 

assim como se recusará em breve a voltar a casas de parentes e pretendentes); 

de maneira inversa, cercado pela lama, repara na alegria terra- a-terra dos sapos, 

a coaxar “seus castíssimos amores” a partir de um charco: 

Como se toda ventura não fosse a dos sapos, que aqui perto, no 
alagadiço bem cheio, entoam a potente roncaria epitalâmica 
celebrando os seus castíssimos amores. A chuva sabe - fecundante 
chuva, a lhes nutrir o gérmen que será a prole futura ainda implícita 
nos longos rosários, que a amorosa fêmea vai desfilando - inédita 
chuva! E porque não sou sapo eu, que tenho as mãos tão lascivas, 
a boca mais lasciva, o corpo todo menos nobre que estes puros 
animais? (idem) 

A proliferação dos sapos imundície adentro parece-lhe a mais sublime e 
verdadeira das coisas, e a linha sequencial de ovos e girinos, enfileirados uns atrás 
dos outros, as semelha- se-lhe a um longo rosário — prece e milagre simultâneo 
— que ressignifica a experiência metafísica sob o mistério-sem-mistério da 
reprodução. Desta forma, o narrador chega ao mínimo múltiplo comum da 
vida humana — a vida animal — enquanto recurso último para seus dilemas. O 
hiato (abismo) existente entre corpo e espírito é reavaliado na qualidade de um 
falso problema, inexistente na natureza e criado pela razão, à maneira daqueles 
livros de maus poetas, capazes apenas de escurecer a vida. Observe-se, todavia, 
que a ausência de sol (figura associada, ao menos desde o Iluminismo à clareza 
da razão) é o que possibilita o acúmulo de água na poça, e, consequentemente, a 
formação do charco que reproduz a vida. Ou seja, a vida exclusiva do intelecto 
pressupõe a exclusão da vida em si, enquanto que seu apagamento pressupõe o 
inverso. E precisamente a diferença que há nessa substituição aquilo que encanta 
subitamente o narrador, capaz de compreender — também imerso na lama — a 
chave mestra para seus desejos inviáveis (artificiais). 

Neste sentido, a sequência do conto é ainda mais sugestiva: 

Entendo agora o conselho sibilino do Ideal - seguir o impulso que 
me leva ao charco, prostrar-me, assapar-me de encontro a essa lama 
mole, visguenta, convidativa, nivelar-me, pobre orgulhoso impotente! 
O conselho era do Ideal ou da fadiga extrema. Duas ideias de Vogt e 
de Augusto Comte faziam-me uma carga terrível - a da localização 
da lascívia batráquia, nos dedos e a da inutilidade lógica do macho. 




206 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


da sua imoralidade dada a realização do ideal da virgem-mãe. Então, 
se os ideais humanos me anulavam naquilo em que eu mais julgava 
valer, na minha qualidade de macho, antes sapo, que não tem ideal, 
ou só tem os da vida - comida à farta e fêmeas fecundas - com 
uma renunciação quase mística aos contatos amorosos. A minha 
humanidade começava a pesar-me demais, (idem) 

O problema dos excessos da razão decorre, pois, dos falsos problemas 
positivistas, que pretendem dotar de uma validade científica, objetiva e 
externalista aquilo que deve passar por um crivo intimamente humano, 
subjetivo e animal. As ideias de Vogt 168 e Comte 169 constituem “uma carga 


168 Cari Vogt dedica um subcaptítulo de seu Leçons sur les animaux utiles et nuisibles, les bêtes 
calomniées et mal jugées às virtudes reprodutivas do “crcpaud accoucheur ( Alytes obstetricans, ou, 
mais comumente, sapo-parteiro). Adaptado a ambientes secos, esse sapo vale-se da umidade 
de poças e pequenos charcos para a reprodução de seus ovos, “gestados” pelo macho: “Si 
quelqu’un voulait nier encore que les crapauds mal famés puissent fournir des exemples recommandables de 
tendres vertas, je lui rappellerais le crapaud dit accoucheur (Alytes obstetricans). La femelle pond un 
chapelet d’oeufs entourés d’une peau épaisse, qui se dourcit au point de ressembler à une masse de caoutchouc. 
Le mâle 1’aide à mettre au jour cette masse d’oeufs qu’il enroule autour de ses jambes; puis il va , avec son 
fardeau, se cacher souvent à plusieurs pieds de profondeur dans de l’argile humide, et il reste là des semaines 
entières sans nourriture, dans un trou noir, pourj faire éclore les oeufs. Lorsque les larves sont asse ^ dévelop- 
pées pour pouvoir vivre toute seules, il cesse son incubation et cherche la plaque d’eau la plus voisine pour les 
j déposer.» (VOGT, 1897, p. 99, grifos do autor). Trata-se, pois, de um sapo que não depende 
tanto do macho para sua reprodução quanto da umidade e da ausência de iluminação, que 
fazem eclodir os ovos postos pela fêmea e apenas “gestados” pelo “parceiro”. A referência 
a Vogt é interessantíssima para a avaliação do narrador, pois evidencia aquilo mesmo que 
ele procura esconder: a impossibilidade de consumação sexual de seus desejos. Ademais, 
as palavras de Marieta, mencionadas a seguir, são como ovos depositados no fundo de sua 
consciência, e que vão ganhando corpo à medida que o narrador se deixa levar pela tristeza 
provocada, em parte, pelos preconceitos da amada (“trou noir”). Para mais informações 
biológicas a respeito da reprodução do sapo-parteiro (e da divisão especial de seus ovos), cf. 
Bischoff (1843, p. 619-620). 

169 No que diz respeito a Auguste Comte, a menção ao chefe da escola positivista, imediata- 
mente ao lado à de Cari Vogt (cf. nota anterior), faz pensar naquela parte de Sjstème de politique 
positive em que defende a instrumentalização do desejo sexual por meio de um culto à mulher, 
enquanto estágio intermediário ao culto da Humanidade: “C’est donc le culte féminin, d’abord pri- 
ve, puis public, qui peut seul préparer l’homme au culte réel de 1’Humanité. [...] Ce n ’est pas seulement dans 
1’existance collective que le positivismo fera nettement sentir la liaison du présent avec 1’ensemble du passe, et 
même de 1’avenir En liant tous les individus et toutes les générations, sa doctrine familière permettra à chacun 
de mieux raviver ses plus chers souvenirs, dans un regime ou la vie privée se rattachera profondément à la vie 
publique, jusque chep les moindres citqyensP (COMTE, 1851, p. 261) É escusado apontar o quanto 
tais passagens possuem de uma antropotécnica viciosa, que pretende ditar o comportamento 
individual a partir de supostos benefícios à ordem coletiva. Veja-se, ainda, a seguinte passa- 
gem, pouco à frente, que parece repetir a lógica acessória do macho, discutida a respeito do 
sapo-parteiro (VOGT, 1897), igualando homens e sapos: “Dès lors on conçoit que la civilisation, 
non-seulement dispose l’homme à mieux appréder la femme, mais augmente la participation de ce sexe à la 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


207 


terrível” para o narrador, que, contrário à leveza dos sapos, sente-se pesado e 
desproporcional. A suposta inutilidade lógica dos machos na cadeia evolutiva, 
bem como a localização da sensualidade batráquia nos dedos, tornam-se ideias 
absurdas tão apenas contrapostas à “lama mole, visguenta, convidativa”, que, 
sem argumentos mirabolantes, resolve os questionamentos orgulhosos e 
impotentes da ciência. Por conseguinte, dissociam-se as ideias (positivistas) 
do Ideal (animal). Para que a humanidade não se torne um fardo excessivo, é 
necessário despi-la das opressões científicas, e aceitar os ideais da vida (“comida 
à farta e fêmeas fecundas”), renunciando a desejos que a contradigam (“contatos 
amorosos”). Assim resolve-se a questão do objeto do desejo do narrador como 
sinônimo do contato amoroso, puramente pessoal, com alguém que não lhe 
garanta o próprio sustento nem a certeza de uma posteridade. 

Ora, as questões parecem contradizer-se. Embora o narrador faça o elogio 
da vida animal como solução dos falsos problemas do intelecto, a origem de seu 
drama, que esconde certa insistência gozosa no sofrimento, é a de não poder 
ficar com a mulher amada, sendo obrigado a optar por outra, ao que parece, 
endinheirada e fértil. Logo, a resposta possível da última das três perguntas 
iniciais: invejam-no (outros pretendentes) por ter a opção de escolher o 
naturalmente óbvio, além de socialmente vantajoso. Veja-se mais a este respeito 
no trecho seguinte: 

Encostado ao muro, sentindo farfalharem-me as pernas, duas brasas 
por olhos e uma convulsão no queixo, meditei, hesitei longamente 
antes de aventurar-me pela viela da Baixeza. Eu sentia que entrar ali 
era decisivo. Havia alguma coisa ou alguém que me puxava para trás, 
dobrando-me pelo peito, fatigando-me ainda mais. Mas só depois 
que pus-me em marcha compreendi que o obstáculo era a flagelante 
frase de Marieta naquela noite em que eu por bravata fazia o elogio 
da embriaguez - “O homem que eu visse um dia embriagado nunca 
me poderia entrar no coração.” (idem) 

Recusando-se hesitantemente a pagar pelo sexo, inteiramente contrário ao 
“desejo explosivo” da realização amorosa (o que constituiria moralmente uma 


reproduction humaine, qui doit, à la limite, émaner uniquement de luiP (COMTE, 1851, p. 277) Assim, 
as referências a Comte e Vogt evidenciam o poder (avassalador) outorgado à ciência em fins 
do século XIX. Não sem motivo, o narrador sente-se ameaçado pelo não lugar de seus de- 
sejos, abandonado em meio ao lamaçal sem lembranças claras do passado nem perspectivas 
de futuro. Ironicamente, lembra-se das ideias dos autores mencionados, superiores, neste 
sentido, à sua própria capacidade de reflexão. 




208 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


“Baixeza”, termo expresso por meio de mais uma maiúscula alegorizante), o 

narrador sente-se prostrado pela frase de Marieta (a amada, enfim, cujo nome é 

dado a conhecer), a qual, por sua vez, rechaça a ebriedade como algo sumamente 

ultrajante. Tal frase é o que leva o narrador, ironicamente, a beber, como se 

descobrisse em sua amada uma falta igualmente indecorosa — a da estreiteza de 

pensamento. Ora, uma frase dita au jour le jour poderia prostrar o narrador de 

maneira tão profunda, a ponto de inverjar a sorte dos sapos, no charco? Afinal, 

como reconhece, a situação originária daquela frase não poderia ser mais banal: 

“Na pacífica e honesta sala de jantar entre o cálice de Madeira ainda cheio e a 

xícara de café [...] era mais uma banalidade virtuosa que ela pronunciava com a 

sua voz preguiçosa, [...] graciosíssima, só dela, da boa e carinhosa amiga.” (idem) 

Sob um exame exterior, e ainda sob a sugestão do moto contínuo da chuva, a 

reação do narrador soa, em muitos sentidos, uma tempestade em copo d’água. 

Em todo caso, como se trata de uma reação pessoal cujo valor reside justamente 

na peculiaridade (intempestividade) pela qual ocorre, tal comentário seria de 

todo improcedente. Afinal, é como se sente (por oposição ao discurso ba(na) 

lizador da ciência) aquilo que motiva, de fato, sua narração: “Mas aqui, na noite 

escura, com os pés na lama fria, impelido ao charco pela força combinada dos 

silogismos e do álcool, aquela frase era a minha sentença antecipada.” (idem) 

Apenas ao cair na lama, imergindo seu corpo todo (joelhos, coxas, barriga, 

mão, rosto, barba e boca) na massa vital em que coaxam os sapos, é que o 

narrador consegue entender o real alcance do repúdio de Marieta: 

Pensei no olhar de repugnância e nojo de Marieta, se me visse de 
cara, barba e boca enlameadas, estirado na estrada como um bêbado, 
e chorei. Não digo como chorei, porque só o entenderia quem já 
chorou assim. Acalmou-me por fim o mesmo pranto e sorri dos jatos 
d’água lamacenta que as convulsões do peito, batendo arquejante, 
fazia saltar. Era brincadeira de porco ou de sapo. Familiarizava-me 
com a lama. (idem) 

A dissolução final da memória pelas lágrimas escapa ao alcance 
interpretativo (“Não digo como chorei, porque só o entenderia quem já chorou 
assim”) e proporciona finalmente a satisfação animal do contato com a lama: o 
narrador começa a chafurdar na poça qual um porco ou um sapo, já inteiramente 
“nivelado” com o ambiente. Assim, conclui-se a evolução de seu drama 
romântico (impossibilidade da consecução amorosa) no completo apagamento 
da individualidade (possibilidade da consecução animal-existencial), por meio de 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


209 


“jatos cfágua” indiscerníveis, que remetem igualmente a convulsões de pranto e 
a brincadeiras familiares com a lama. 

Neste sentido, o desfecho do conto é sintomático, uma vez que finda a 

narração sem que se resolva em nada a trama. Inversamente, surgem novos e 

importantes elementos, logo desconsiderados sob a visão descomplicada do 

narrador-porco-sapo, a somar lembranças esparsas e desconexas: 

Estendi-me comodamente e como a água me entrasse no sovaco 
lembrei-me da carta, que trazia no bolso, do tio Luiz, convidando- 
me para ir passar com ele uns dias na fazenda e do sorriso da prima 
Georgina, que era uma carícia... Depois entrei a estudar a melodia de 
dois pingos d’água que, ora alternos ora juntos, caíam de um galho 
d’árvore em uma poça perto da minha orelha esquerda e parecem- 
me que a Marche de pluie de Richepin ensaiava-se ali para irradiar-se 
depois, crescente, desoladora. A cabeça rolou-me, desfalecida e, com 
a face na lama, espojado, adormeci sem cuidar por quantas horas, 
por quantos dias, por quantos séculos, acalentado pelo sussurro 

imenso da chuva, (idem) 

Duas personagens novas, tio Luiz e prima Georgina, 170 são evocadas 
inesperada e unicamente a partir do contato cfágua com o sovaco. No entanto, 
nada há a dizer a respeito da finalidade do convite do tio na carta molhada. 
Seria um possível casamento calculado, por oposição à paixão do narrador por 
Marieta (como razão mais ou menos plausível para seu desespero)? Da prima, 
retoma-se reticentemente a carícia do sorriso, sem que se conclua nada a partir 
disso. Inversamente, a atenção do narrador é colocada por completo no instante 
presente da percepção (“entrei a estudar a melodia de dois pingos cfágua que, 
ora alternos ora juntos, caíam de um galho d’árvore perto da minha orelha 
esquerda”). A partir das gotas de chuva, julga ouvir “a Marche de pluie de [jean] 
Richepin”, 171 poema cujas aliterações (“1/ tomh de l’eau, plic ploc plac, / 11 tomb 


170 O nome da prima será retomado significativamente na pianista (real ou imaginária) de 
“Scherzo”, fazendo cogitar uma proximidade maior entre os dois contos. 

171 «Marche de pluie», de Jean Richepin, é um poema inserido na primeira parte de La chan- 
son des gueux, intitulada “Gueux des champs: chansons des mendiants”. De fato, mendigo é 
o próprio narrador, no sentido em que é despojado de todo artifício social e encontra, em 
meio à completa miséria do charco, um sentido superior, imaterial, de consciência. Segue-se 
o poema, na íntegra, para que se avalie a comparação entre suas aliterações e a melodia das 
gotas de chuva, conforme avaliadas pelo narrador: “II tomh de 1’eau, plic, ploc, plac, / II tomh de 
l’eau plein mon sac. // II pleut, ça mouille / Et pas du vin! Quel temps divin / Pour la gwrnouille [sic]! 
1 1 II tomh de 1’eau, plic ploc plac, / II tomh de 1‘eau plein mon sac. / / Cochon, patauge! / Mais le cochon / 
Trouve du son / Au fond de 1’auge. // II tomh de 1’eau, plic ploc plac, / II tomh de Veau plein mon sac. / / 




210 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de l’eau plein mon saP (RICHEPIN, 1881, p. 22)) — são os últimos resquícios 
de literatura na consciência do narrador. Dissolve-se o drama intelectual do 
narrador simultaneamente à carta de seu tio, cuja escrita é desmanchada pela 
água da poça, levando consigo a única chave possível (romântica?) de decifração 
do enredo. Assim, por meio da completa dissolução líquida do intelecto e de sua 
expressão escrita, encerra-se o conto, com um implícito elogio do animal sobre 
o ideal, ou do corpo sobre o espírito, pressuposto pelo triunfo final e silencioso 
do sono sobre (ou sob) a lama. 

Finalmente, o conto “Nivelado”, ao optar pela ênfase na interioridade 
de um narrador autodiegético, cujo drama permanece irresolvido em um final 
aberto, dialoga abertamente com a literatura moderna, antevendo, já na década 
de 1 880, a imersão da consciência naquilo que há de existencialmente animal no 
homem. Neste sentido, as experimentações posteriores de um João Alphonsus 
ou de uma Clarice Lispector 172 apenas confirmam a importância da descoberta 
e discussão de “Nivelado”. 

Um primitivo (20/02/1888) 

Até certo ponto, pode-se dizer que em “Um primitivo” estão presentes 
as duas formas impressionistas discutidas no capítulo 2: um impressionismo 
descritivo e sensorial, de transposição das técnicas pictóricas ao texto escrito, 


Ee cochon bouffe; / To i, vieux dampin, / C’est pas k pain, / 1 Trai, qui Tétouffe. // II tomb de Teau, plic 
ploc plac, / II tomb de l’eau plein mon sac. / / Bah! sur la route / Allons plus loin. / Cherche un bon coin 
/ Truche une croute. / II tomb de Teau, plic ploc plac, / II tomb de l’eau plein mon sac. / / Après la pluie / 
Viendra le vent. / En arrivant / II vous essuie. // II tomb de Teau, plic ploc plac, / II tomb de Teau plein 
mon sac.” (RICHEPIN, 1881, p. 22-23) Perceba-se a série de elementos aí presentes (o moto 
contínuo da chuva, as figuras da rã e do porco, o contraste da água com o vinho, o vagar difi- 
cultoso do andarilho pela estrada) que embasa um evidente diálogo intertextual entre o conto 
e o poema, digno de estudo em uma leitura comparativa à parte. Em todo caso, segue-se a 
“Marche de pluie” o poema “Ce qui dit la pluie” (imediatamente posterior, igualmente inclu- 
ído em “Gueux des champs”), cuja mudança de tom é igualmente significativa. A respeito de 
ambos, comenta Howard Sutton (1961, p. 98): ‘“Marche de pluie’’ enumerates the miseries brought bj 
the rain to a tramp trudging along a country road, ivhile ‘Ce qui dit la pluie ’ reminds him that the rain causes 
the wheat to sprout and that when crops aregood the farmers are open-handed , '.” Destaque-se a opção de 
Domício da Gama pelo primeiro dos dois poemas de Richepin dedicados à chuva, recusando 
a visão idílica de natureza e de comunidade social presente em “Ce qui dit la pluie”. 

172 Em contos, como, por exemplo, “A galinha cega” e ”0 búfalo”, respectivamente. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


211 


com profusão de termos ligados à visão e à pintura, da qual absorve, no plano do 
conteúdo, temas e motivos (ligado ao viés “comparatista”); e um impressionismo 
psicológico, mais propriamente afeito ao meio do texto escrito, com ênfase na 
percepção de mundo de determinado indivíduo e às nuanças de seus estudos 
de consciência (ligado ao viés “ narra tivis ta”). Comuns às duas formas, a visão 
fragmentada da vida nos últimos anos do século XIX e a pluralidade de agentes 
sociais no momento de transição da Monarquia à República res significam a 
profusão de personagens ociosas e sensíveis, espectadores passivos de um meio 
cultural o mais das vezes hostil. 

O embate entre o meio cultural brasileiro e as tendências renovadoras 
da arte trazidas de fora é, por conseguinte, o assunto de “Um primitivo”. 
Trata-se do conto mais social da obra de Domício, na qualidade de crítica à 
miséria de um pintor na década de 1850 face às encomendas pífias dos broncos 
endinheirados. 173 Mais especificamente, a falta de senso estético do capitão 
Antônio Luís contrapõe-se à sensibilidade “primitiva” de Mestre Camilo, 
acabando por sufocá-la ante seus pedidos esdrúxulos, prontamente secundados 
e apoiados pelo público geral. Claramente, a importância social do capitão 
supera as qualidades do pintor, cujo ofício gozava então de pouca repercussão 
na sociedade brasileira. 174 É, aliás, a sujeição aos gostos do capitão — e não a 

173 Em crônica de sua coluna “De Paris”, Domício reconhece as dificuldades do ofício, 
igualando-as significativamente às da pena: “Pintores caros já são poucos os que o são em 
vida; começam a ser razoáveis os amadores, e a calcular sobre a produção provável de um 
pintor antes de fazer os seus preços. [...] E a comparação vai mais longe do que se pensa. A 
produção rápida obriga o trabalhador do pincel como o da pena a repetir os seus sucessos 
a reproduzir os seus melhores efeitos, a criar para si uma especialidade esterilizante. [...] 
Somente parece-me árduo e ingrato esforço o que se aplicar em conseguir a afinação para 
mediocridades. Será talvez mais simples fazer menção das cousas deste gênero como um 
mercador menciona as fazendas que lhe passam pelas mãos - pelas etiquetas classificativas. 
E as análises sentimentais, pessoalmente interessantes, serão reservadas para as obras de ex- 
ceção, geniais, intensas, ou, simplesmente, novas.” (GAMA, 1889m, p. 1) 

174 A principal instituição de ensino das artes plásticas no país durante o século XIX foi a 
Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, fundada por D. João VI em 1816 e logo chamada, 
com o início do Império, de Academia Imperial de Belas Artes. Criada a partir do modelo 
da Academia Francesa (cujo rigor fez deflagrar reações que iriam culminar, após um longo 
processo de experimentação, no grupo impressionista francês), o ensino na Academia Im- 
perial “buscava divulgar as noções de arte como a representação do belo ideal, a valorização 
do desenho como estruturação básica da obra e a preferência por algumas técnicas especí- 
ficas como a pintura a óleo”, sendo que “a pintura histórica era a que desfrutava de maior 
prestígio.” (VENÀNCIO, 2008, p. 4) Dirigida por mestres de renome trazidos da França 




212 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


insistência em seu talento inato — o que confere ao pintor o prestígio e o sucesso 
comercial, cobrindo “como um símbolo de glória o nome ilustre de Camilo o 
Pintor.” (C, p. 41) Disto decorre a duplicidade do título, que se refere tanto à 
falta de estudo acadêmico do pintor quanto ao embate de suas opiniões com 
as de Antônio Luís. Primitivo também é o incipiente panorama da vida cultural 
das primeiras décadas do reinado de D. Pedro II, que ainda contava com quatro 
quintos de população analfabeta e com uma economia estruturada inteiramente 
sobre a produção escravista. 

Por sua vez, o conto inicia-se com a conversa entre o capitão e o pintor, 

em negociação de um serviço: 

- Aqui tem você a sala. Está caiadinha e limpa. Pinte-lhe as 
paredes à vontade. Tem carta branca. Faça aí uns bonecos, umas 
coisas alegres e engraçadas. Se me agradar a pintura, sou capaz de 
lhe dar trinta mil réis. Mas não demore, que pelo Santo Antonio 
quero dar aqui um bródio. 

Mestre Camilo, sem prestar atenção, passava exame às paredes, 
experimentando pelo toque a solidez duvidosa do reboco sobre os 
engradados de varas com barro amassado. Depois proferiu: 

- E pouco dinheiro e pouco tempo, seu capitão. Por menos 
de cinquenta... (C, p. 37) 

O gosto do capitão é dos mais superficiais possíveis, não havendo um 
pingo de senso estético em seu pedido por “uns bonecos, umas coisas alegres e 
engraçadas”. Interessa-lhe, sobretudo, um passatempo animado para os convivas 
de patuscada, que pretende reunir a propósito das festas juninas. Camilo, que por 
um lado reconhece a falta de tempo e de pagamento implicadas pela proposta 
de Antônio, observa também com atenção “a solidez duvidosa do reboco sobre 
os engradados de vara com barro amassado”, que muito provavelmente irá 
comprometer a qualidade de seu trabalho. Os recursos de que dispõe, o tempo 


como Jean-Baptiste Debret, “a partir do momento em que D. Pedro II assumiu o poder [...], 
a Academia de Belas Artes passou por reformas obedecendo a um projeto político bastante 
claro: criar os fundamentos culturais da nação, fundando símbolos nacionais e consolidando 
um verdadeiro imaginário para o país” (idem, p. 5), como nos quadros de Victor Meireles 
(“Primeira missa no Brasil” (1861)) e Pedro Américo (“Independência ou morte” (1888)), 
acerca de grandes momentos da História nacional. O interesse, pois, era claramente patrióti- 
co, valendo-se, no plano do conteúdo, de temas caros ao Romantismo europeu (sobretudo o 
índio e a natureza, sob o viés da história nacional). No plano da forma, percebem-se técnicas 
tomadas dos mestres franceses da Academia, devedores ainda de uma visão neoclassicista de 
arte (perspectiva, chiaorusco etc.). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


213 


de execução, as instruções do cliente, a qualidade da parede, tudo parece indicar, 
assim, a impossibilidade da encomenda, além da mediocridade do meio no qual 
se debate. Diga-se de passagem, a preocupação de Camilo evoca paralelamente 
a persistência dos pintores franceses da mesma época, que, em um contexto 
evidentemente diverso, debatiam-se também com o estranhamento do público, 
primando por atentar unicamente à qualidade da pintura. 175 

O pedido de Antônio Luís não é atendido inteiramente pelo pintor, que 

opta por “uma tríptica simbolizando a seu modo a glória do trabalho honesto e 

livre.” (C., p. 38) 176 Feita à imagem da inocência e da vontade puras de Camilo, 

a pintura, apreciada também pelo capitão, recebe de si algumas críticas, apenas 

para emular foros de entendedor: 

Era de um lado uma cena representando trabalhadores de machado 
e serradores no mato, do outro carpinteiros em frente de uma casa 
em construção e no centro, entre a porta e a janela, que felizmente 
abriam para fora, a glória furibunda dos ferreiros martelando entre a 
faiscação terrível do vermelhão em brasa. Por cima de tudo - ligação 
celestial das coisas - uma faixa ultracerúlea, povoada de andorinhas 
gigantescas e o alto, saindo de uma nuvem escuríssima de mistério, 
uma grande mão aleijada e vermelha, rubente dextera, ameaçava ou 
abençoava, (idem) 

O trabalho manual é representado, assim, de maneira portentosa, 
equiparando lenhadores, serradores, carpinteiros, ferreiros — e, implicitamente, 
pintores — na tarefa maior e “celestial” da transformação dos materiais pelo 
esforço humano. O símbolo ambíguo da “mão aleijada e vermelha”, a ameaçar 
ou abençoar o espectador conforme sua menor ou maior contribuição pessoal 
para com este universo prático, parece dividir os espectadores e situar em 
polos opostos o pobre Camilo e o rico Antônio. Os aleijões vermelhos na 


175 É o que afirma, por exemplo, Pierre-Auguste Renoir a seu empresário, Ambroise Vollard 
(2000, p. 225-227): “[...] se alguém vai dizer a essa gente que a coisa mais importante para o 
pintor é saber quais são as camadas que duram, assim como o pedreiro precisa saber qual a 
melhor argamassa... E aqueles primeiros “operários” do impressionismo trabalhavam sem 
pensar nas vendas! E a única coisa que nossos seguidores se esquecem de copiar de nós. [...] 
E de dar vontade de largar tudo... Felizmente, nenhuma imbecilidade neste mundo é capaz 
de tirar de um pintor a vontade de pintar.” 

176 Usualmente, uma composição pictórica feita em madeira e dividida em três partes, cujo 
centro - ponto de união das duas folhas laterais - pode ser ocultado pelo fechamento das 
abas, ligadas com dobradiças. Trata-se, pois, de um conjunto de três pinturas ligadas por uma 
moldura em forma de oratório, muito comum no universo medieval. 




214 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mão apontam para a realidade dura do trabalho manual, além de relembrar a 
condição servil (escrava) das funções indicadas . 177 Mesclando, assim, à leitura 
simbólica e extrapictórica da “glória do trabalho honesto e livre” a encenação do 
cotidiano terra-a-terra dos trabalhadores, Camilo demonstra sob o termo geral 
do “ptimitivismo” um sentido social da arte comum ao trabalho de pintores 
como Jean-François Millet e Gustave Courbet, que transitam do passadismo 
acadêmico para uma linguagem pictórica mais próxima à visão, por meio de 
um olhar cada vez mais atento à vida coletiva imediata. Obviamente, Camilo 
desconhece — como não se cansa de afirmar o narrador ao longo do conto — o 
estudo dos grandes pintores; no entanto, é importante destacar sua resposta, 
mais ou menos semelhante à dos nomes mencionados, sem qualquer formação 
na área, e sob condições as mais desfavoráveis possíveis. Um exemplo disto está 
num dos pontos lastimados pelo capitão, que diz serem “as tintas pouco finas”, 
ignorando a pobreza dos meios disponibilizados ao pintor: “o que se podia 
fazer com pós de sapatos, vermelhão, azul, oca e verde de Paris, pintando a 
guache numa parede de barro mal caiada?” (idem) A pobreza dos meios justifica 
a pobreza do resultado, embora não deixe de assinalar o talento do pintor 
entrementes, capaz de transformar (tal qual os demais prosélitos da quase religião 
do trabalho — serradores, marceneiros, lenhadores, ferreiros) materiais chãos 
em objetos belos. A intuição primitiva precede a pintura (negando qualquer 
possibilidade de formalismo); afinal, “o discurso sobre a pintura nasce, aqui, 
do discurso sobre o pensamento que o quadro impõe ou propõe” (REBOUL, 


177 A expressão latina “rubente dextera” vem da Ode (“Carmen”) 1.2 de Horácio (1854, p. 
2-3), denominada “Ad Augustum”. A estrofe em questão é a inicial: “Jam satis terris nivis atque 
dirae / Grandinis misit Pater, et rubente / Dextera sacras jaculatus arces / Terruit Urbem.” Uma tradu- 
ção provisória do trecho seria algo como: “Agora o Pai [Júpiter] comanda um granizo nefasto 
/ E neve às terras, e com rubra / destra lança seus fogos sagrados às cidadelas / Ele acaba de 
aterrorizar a Urbe [Roma]”. O sentido geral da Ode 1.2 é um alerta (laudatório, obviamente) 
ao imperador Augusto para que não repita o destino de César e, ciente do poder dos deuses, 
contente-se com um governo mais moderado. Logo, a expressão “rubente dextera” remete 
ao reflexo do brilho da mão direita de Júpiter, iluminada pelo raio que lança à terra, capaz de 
devastá-la. Na passagem de Domício, os termos são equiparados estrategicamente ao texto 
horaciano, opondo-se aos arbítrios do capitão (imperador) o poder supremo do trabalho 
(“dextera” de Júpiter). Em outras palavras: para além do poder social aparente, está o poder 
real do povo, que lhe sustenta e permite existir - apenas na medida em que não se esqueça 
desta condição. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


215 


1981, p. 52), 178 gerando o embate (teórico?) entre Camilo e Antonio. 



Quadro 12 — Arthur Timótheo da Costa, Barracão rústico, 1916, 38 x 55 cm, óleo sobre tela, coleção 
particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 


Assim, o pedido do capitão é o de trocar a cena pela “ideia de uma 

Crucificação ou qualquer outra santidade para cima da porta que dava para a 

varanda” (C., p. 39), de forma a ilustrar as festas de Santo Antonio. Camilo, que 

em seguida fica só, passa a atentar, “na soleira da porta [...] para a lagoa a oeste” 

(idem), bem como para suas variações de cor e de luz. O resultado é uma rica 

descrição sensorial a partir de seu olhar: 

Para lá do tabual verde e ouro, de um tom suavíssimo, em que a 
viração fazia chamalotes caprichosos, a água se estendia em larga 
chapa de bronze despolido, de brilho quente, afogueado, até às 
serras veladas no horizonte pela poeira luminosa da hora. A esguia 
cinta mosqueada dos cômoros, além, marcava o fim do mar. Vista 
de cá, a sua longa lâmina de aço escuro, aguçando-se em ponta 
cintilante para o sudoeste, parecia uma espada imensa, posta ali 
como separação entre a terra e o céu. O sol descia, entrava atrás das 
serras, os cirros esparsos no céu ficavam de ouro, de cobre rutilante; 
a intensa verberação rubra dava às coisas todas o tom de magia das 
horas crepusculares. E sobre o fundo incandescente de branco as 


178 “Le discours sur la peinture nait, ici, du discours de la pensée que le tableau impose ou propose. S’il 
est legitime de penser devant des couleurs en un certain ordre assemblées, il est également legitime d’exprimer 
cette pensée par les voies usuelles, c’est dire par des motsP Diga-se de passagem, Pierre Reboul discute 
neste texto a reprodução de duas telas de Raffaélli e Bartholomé - quiçá religiosa, nos termos 
propostos pelo conto - por um texto crítico de J. K. Huysmans. Neste sentido, a ekphrasis do 
escritor francês é aqui rapidamente retomada enquanto procedimento análogo (não homólo- 
go) ao desenvolvido por Camilo - da ideia à tela, da tela à escrita. 


216 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


árvores se recortavam em silhueta negra, nitidamente, (idem) 

A profusão de cores e contrastes da passagem enfatiza o apelo visual 
do conjunto, que, no caso específico do conto “Um primitivo”, ajusta-se 
perfeitamente ao olhar do protagonista. Sendo também um pintor, acrescenta- 
se à construção do conto — focalizado em seu olhar — seu próprio processo de 
composição do mural, por meio das diversas sugestões luminosas percebidas 
na lagoa próxima. A percepção das cores é tão intensa que quase pode ser 
tocada, evocando a suavidade dos chamalotes. Parecem participar da mesma 
impressão de conjunto elementos os mais diversos: a água, “que se estendia em 
larga chapa de bronze despolido”; as pequenas dunas, sarapintadas ao redor do 
lago “numa cinta mosqueada [... que] marcava o fim do mar”; o mar, por sua 
vez, que “parecia uma espada imensa, posta ali como separação entre a terra e 
o céu; o sol, que “descia, entrava atrás das serras” etc. A construção sintática é 
da maior importância, pois faz suceder de maneira intérmina as coisas estáticas 
num lento escoar de seres quase animados, por meio do acúmulo de verbos 
no pretérito imperfeito. A este respeito, não seria despropositado lembrar da 
crítica de Marcei Proust (1994, p. 70-71) ao estilo de Gustave Flaubert, elogiado 

justamente por este uso particular do tempo imperfeito: 

Observemos, de passagem, que esse dinamismo das coisas, dos 
animais, visto que elas são o sujeito das frases [...], obriga a uma 
grande variedade de verbos. [...] E essa variedade dos verbos supera 
os homens que nessa visão contínua, homogênea, não são mais do 
que as coisas, mas não são menos, “uma ilusão a ser descrita”. [...] 
Esse imperfeito eterno [...], tão novo na literatura, muda inteiramente 
o aspecto das coisas e dos seres [...]. 

A leitura proustiana é aplicável também ao texto de Domício, uma vez 
que a sequência de verbos no pretérito imperfeito acusa uma atividade tênue e 
irrefreável que se pressente às coisas, dotando-as de um caráter quase mágico. 
Afinal, “a intensa verberação rubra dava às coisas todas o tom de magia das horas 
crepusculares”, e “as árvores se recortavam em silhueta negra”, apelando cada 
vez mais aos sentidos de Camilo. Confundem-se até certo ponto a descrição da 
paisagem e a descrição e composição do mural, cujo núcleo — a Crucificação de 
Cristo — é representado em meio à natureza percebida: “De repente Camilo teve 
o seu Cristo. Entre a galhada seca de uma cajazeira que morria, uma trifurcação 
[...]. Um joelho saliente, o flanco derreado e a cabeça exânime pendida era tudo o 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


217 


que se via da hóstia divina. Bastava isso.” (C., p. 39, grifo do autor) O assunto do 
mural é, pois, mais sugerido que declarado, abrangendo em uma vasta unidade 
a percepção visual e a criação pictórica. 

Todavia, a força da passagem é logo dissipada pelo caráter arbitrário 
dos pedidos de Antônio Luís e pelo “primitivismo” de Camilo. Rompem-se a 
harmonia cromática da água, dos cômoros, do sol, sob os auspícios negativos 
do desenho simples e incorreto do pintor, avesso aos estudos acadêmicos e ao 
trabalho de “colorista”: 

Mestre Camilo era naturalmente idealista e sóbrio, como tal. 
Sobriedade que podia ser pobreza, ou o que quisessem, mas que era 
uma convicção. Na sua maneira extremamente longe dos decadentes 
não entrava a mancha , de que ele nem fazia ideia. O seu gosto era 
o traço, que a inábil mão reduzia, simplificava, até ser quase uma 
notação apenas. Pintava como quem escreve: depressa e incorreto. 
Punha cores, porque achavam bonito: ele não. Não era colorista. 
Verdade que ainda não era desenhista. Mas tinha do fogo sagrado o 
bastante para cozer-lhe o pão - mal amassado embora, ganho com 
o suor do seu rosto. (C, p. 39-40, grifo do autor) 

Há no trecho citado duas incongruências. Primeira: o narrador julga 
anacronicamente a composição de Camilo a partir de seu desconhecimento de 
uma técnica (a “mancha” de cor) praticada por artistas “decadentes”, que, a rigor, 
inexistiam à época representada pelo conto (década de 1850). 179 Segunda: esta 
mesma técnica é tomada como produto de artistas decadentes , e não impressionistas , 
fazendo valer uma vertente (literária) por outra (pictórica). Percebe-se, pois, o 
juízo de valor implicado na confusão, que parece entender os termos apenas 
com base no caráter contestatório e combativo, comum a ambos. 1811 


179 Trata-se de uma falha de composição do enredo, que despoja o universo ficcional de sua 
identidade particular reportando-o imediatamente à época de sua escrita, mediante dados ex- 
tratextuais compreendidos - e aqui está a natureza da “falha” apontada - apesar da narrativa. 

180 E lícito apontar que “a palavra Decadente foi acolhida com honra pelos escritores da 
época, que dela pretendiam servir-se para impor o que de mais sério nascia no final do sé- 
culo XIX. Agiram como os pintores que fizeram da palavra impressionista, lançada para os 
ridicularizar, a denominação da maior escola pictórica do século.” (MORETTO, 1989, p. 27, 
grifo da autora) No entanto, contando com um número de exposições coletivas, além de um 
conjunto de técnicas experimentadas por um grupo de pintores influentes, o impressionismo 
possui um valor coletivo na pintura que não se pode atribuir ao decadentismo na literatura, 
“pois na verdade ninguém, a não ser o bom e grandiloquente [Anatole] Baju, fala de escola 
decadente. E preciso ver o Decadentismo como um movimento histórico, retirar-lhe a cono- 
tação moral e política pejorativa”, a fim de ressaltar algumas das “grandes linhas da estética 




218 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Não obstante, informações importantes a respeito de Camilo constam 
do trecho acima. O narrador é taxativo em realçar seu gosto pelo traço e pelo 
desenho, que realiza quase a esmo, “até ser quase uma notação apenas”. Seu 
cuidado de ourives ao dispor as linhas na parede assemelha-se à composição lenta 
de uma filigrana, naturalmente avessa às cores, por “pobreza” ou “convicção”. 
Sobretudo a insistência de Camilo no trabalho manual (senão seu talento inato e 
mal orientado) é o que o habilita aos olhos do narrador, tendo “do fogo sagrado 
o bastante para cozer-lhe o pão — mal amassado embora”. Equiparado, ainda 
aqui, ao trabalho braçal de um padeiro a preparar a massa dos pães (ao que se 
somam as figuras anteriores do serralheiro, ferreiro, lenhador etc.), Camilo é 
valorizado pela dignidade de seu ofício, em contraposição ao ocioso Antônio 
Luís. O viés é claramente de ordem moral, com nítido elogio ao primitivismo 
do brasileiro, em oposição às avançadas técnicas de outros pintores, ditos 
“decadentes”. Pode-se entender o uso errôneo do termo sob a conotação 
pejorativa (além de anacrônica) que emprega o narrador, usada para fustigar 
todos os que, portadores de estudos e meios, poderiam criticar — e preterir — o 
trabalho simples, mas honesto, do honrado Camilo. 

O argumento do conto demonstra, assim, um fundo moralista e algo 
silogístico, encaminhando-se para o desfecho tal como a triplica inicialmente 
composta pelo pintor. A honradez de Camilo (e dos trabalhadores organizados 
sob a “ rubente dexterd ’ da atividade), contrapõem-se os caprichos e a religiosidade 


decadentista”, tais como a busca incessante por “sensações refinadas”, a visão pessimista de 
mundo e o interesse pelas sutilezas do luxo, do prazer e do inconsciente (MORETTO, 1989, 
p. 30, 32) Ademais, mesmo os pontos de referência cronológica, que se parecem confundir, 
são díspares. O Impressionismo pictórico, cujas exposições oficiais vão de 1874 a 1886, re- 
monta a um período anterior, iniciando-se em inícios de 1860; já as principais publicações 
decadentes, como Le Décadenf, de Anatole Baju, ou La décadence , de Emile-Georges Raymond, 
datam de 1886, ano de desagregação do grupo impressionista, rumo ao pontilhismo de Ge- 
orges Seurat e Paul Signac. Relevando tais informações, seriam todos, ao fim e ao cabo, 
anteriores (ou no mínimo contemporâneos) à composição dos contos de Domício, servin- 
do-lhe de ampla influência cultural em seus longos séjours parisienses, desde os tempos de 
correspondente da Gaveta de Notícias (sua primeira viagem é em fins de 1888). Não obstante, 
há quem aponte certo laivo decadentista no estilo do escritor: “O estilo de Domício da Gama 
tem algo do Decadentismo, mas incorpora sua variante pessoal e sua idiossincrática escrita. 
E um estilo ao mesmo tempo ligeiro e que deseja ser profundo. A linguagem é direta, não 
há digressões exorbitadas e nem muito menos uma luxúria verbal que encantaria mais pelo 
exibicionismo e malabarismo com recheios de adjetivos que pela trama.” (FERNANDES, 
2011, p. 23) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


219 


frouxa de Antônio Luís (sob a cena sugestiva e quase oculta da Crucificação em 

meio à natureza exuberante). O terceiro termo, conclusão dos demais e síntese 

da atividade (pintor) e passividade (capitão) anteriores, é dado nos três últimos 

parágrafos. Sem delongas, a trajetória de Camilo arremata-se pela conivência 

com os pedidos esdrúxulos de Antônio, despojando-o de todo resquício de 

talento em uma longa e importante passagem: 

[...] mestre Camilo contava que a satisfação do capitão vendo 
cumprido o seu desejo lhe asseguraria os almejados cinquenta mil 
réis. Mas seu capitão Antônio Luís não tinha nem um bocado de 
subjetivismo estético. Vendo o seu alto de porta ele ficou com a cara 
de quem não descobre o gato. [...] Só lhe aconselhou que pintasse 
agora coisas mais alegres. 

O iconista desabusado atirou-se à parede do oitão e cobriu-a 
de idílios e pantomimas. Sob uma árvore monstruosa pôs um galã 
suntuoso em azul, amarelo e verde, beijando a mão a uma dama, 
em cujo olhar ternamente enviesado havia uma ponta de loucura. 
Um cavaleiro passando cortejava-os, pasmo de tanto amor! Numa 
braça de vila ou terreiro de fazenda um ginasta equilibrado sobre 
dois cavalos peloticava com laranjas. Entre a luzida sociedade, 
que da varanda de uma casa de telhado rigorosamente encarnado 
assistia ao espetáculo, estava o chapéu do cliile e a barba comprida 
de seu capitão. O saltimbanco fingia ser o mesmo pintor. Doloroso 
símbolo! O que ali não fez ele para divertir o capitão e seus amigos! 
Fez uma briga de cachorros, gelada. Fez um macaco de jaqueta 
montado num cachorro. Fez um papagaio verde de bico amarelo. 
Fez um caboclo matando uma cobra, enrolada num coqueiro que 
parecia um espanador velho. Fez uma bandeira do Divino, com 
foliões e tudo. Fez o diabo! Lá estava ele cabriolando a um canto, de 
rabo e cornos, mas todo gaiteiro. O capitão aprovou e aproveitou 
a inconveniência da alegria do diabo para mandar apagar o lúgubre 
Calvário, e substituí-lo por umas armas imperiais bem catitas. Até os 
caroços de café, encarnadinhos, tinham muita graça... (C, p. 40-41, 
grifos do autor) 

Camilo passa a ser apontado como “iconista desabusado” a partir dessa 
terceira tentativa de agradar o capitão, momento em que prostitui sua arte a 
fim de obter os tão sonhados (e míseros) cinquenta mil réis . 181 Antônio, que 
não consegue perceber nem apreciar as sutilezas de sua segunda pintura, sente- 
se diminuído pelo sentido maior da arte ali executada. Por isto, ao invés de 
solicitar, enquanto cliente, uma alteração expressa, dá ao pintor um “conselho”, 


181 Assim, Camilo deve ser visto como duplamente “desabusado”, a partir dos dois sentidos 
da palavra: enquanto insolente (por diminuir seu talento) e desiludido (sem abusão, ilusão). 
(HOUAISS, 2001, p. 948) 




220 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


passando por mais entendedor que ele próprio: pintar “coisas alegres”. É o 
que faz pronta e estranhamente Camilo, lançando figuras banalíssimas sobre a 
parede. Em diversas delas, há críticas veladas do autor a determinados aspectos 
da vida cultural oitocentista: um “galã suntuoso” sob uma “árvore monstruosa”, 
vestido com as cores da bandeira (romantismo nacionalista e indianista das 
décadas de 1840 e 1850); uma dama terna e com ares de loucura, cortejada pelo 
galã e por um cavaleiro “pasmo de tanto amor” (romantismo folhetinesco de 
vertente francesa, à la Eugène Sue); um ginasta ou saltimbanco “equilibrado 
sobre dois cavalos”, e “doloroso símbolo” do pintor (mercantilização crescente 
da arte, simbolizada entre dois “cavalos” — aquele que suporta a tela e aquele que 
a encomenda grosseiramente); uma profusão de cachorros, macacos de jaqueta, 
papagaios verdes, caboclos matando cobras, foliões etc., muito apreciados pelo 
“capitão e seus amigos” (falta de instrução e de gosto artístico do público); e, 
por fim, assistindo ao “espetáculo”, o próprio “seu capitão” (elite oligárquica 
desajustada ao conjunto do país). A crítica é severa, não poupando sequer as 
mais altas esferas do poder, visto que, entre todos, está também a figura de 
um diabo “gaiteiro”, responsável indireto pela substituição da representação 
do Calvário — intencionadas pelo capitão inicialmente, a propósito das festas 
juninas — “por umas armas imperiais bem catitas”. 

Encerra-se, pois, o argumento do conto, lançando farpas a quase todas 
as esferas da vida pública do país. O parágrafo final serve de arremate à síntese 
da depreciação de Camilo, finalmente aceito por aquela sociedade como pintor 

do mais alto nível, ainda que sob a pecha de “pinta-monos”: 

E no dia de Santo Antônio, festa de luzimento para a qual 
muita gente se convidara, não faltaram admirações e aplausos ao 
bom gosto do capitão Antônio Luís e à habilidade do Camilo. Não 
faltaram também depreciações e zombarias, recordando o injurioso 
cognome de sujo , que perseguia o honrado pinta-monos. Mas o 
sucesso popular daquela noite e dos dias seguintes obliterou-o em 
breve e por fim dos serros do Catimbau às vargens de Inoã voava 
como um símbolo de glória o nome ilustre de Camilo o Pintor. (C., 
p. 41, grifo do autor) 

A glória, derradeiro símbolo da narrativa, não perece como os demais, 
porque é trazida pelo favor de um grande, a quem toda esta sociedade de 
comensais deve favores. Assim, por respeito e medo de Antônio, Camilo é 
acolhido, com algumas poucas ressalvas, e aceito como pintor de “nome ilustre”. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


221 


A passagem do “injurioso cognome de sujo ” ao de “Camilo o Pintor” deriva do 
capricho de um rico, que pode tanto fazer subir quanto enterrar o nome de seu 
inferior. Evidentemente, não se trata de uma relação comercial, propriamente 
dita, entre ambos. O trabalho é feito em triplo por Camilo, apenas para render 
o mesmo dinheiro contratado no início. Seu poder de voz é nulo, necessitando 
uma diminuição estratégica e momentânea do talento, no papel de “honrado 
pinta-monos”. Somente quando se faz entender pelo público, renunciando a 
um talento inato muito próximo do de grandes pintores da época, Camilo pode 
gozar das benesses do status de protegido do capitão (muito mais valioso, diga- 
se de passagem, que qualquer talento “primitivo” no Brasil de 1850). 

Neste sentido, pode-se falar em uma importação mais amadurecida das 
ideias impressionistas por Domício da Gama, que, apesar dos dois defeitos 
presentes em “Um primitivo”, consegue atinar uma reflexão sobre os embates 
do artista com o mercado da arte tomando as devidas proporções do meio local, 
além de tecer trechos de um descritivismo sensorial que muito fazem absorver 
a forma ao conteúdo, aproximando-se, por vezes, de exercícios técnicos como 
os da écfrase. 

É provável que a proximidade da prosa de Raul Pompeia neste período, 
ele próprio no ápice de escrita e publicação d 'O Ateneu (entre janeiro e junho de 
1 888, mês em que é lançado em volume pela tipografia da Gaveta de Notícias após 
uma revisão atenta dos originais feita por Capistrano de Abreu e não ignorada por 
Domício) tenha desempenhado alguma influência sobre o amigo. 182 Ademais, 
a reconhecida dívida intelectual de Domício para com Raul, assinalada em seu 


182 A este respeito, comenta Tereza França (2007, p. 29) que a amizade entre ambos os 
escritores se deu em meio a um período conturbado da vida de Domício, quando lecionava 
geografia em colégios particulares e tentava um cargo na secretaria da Biblioteca Nacional, 
escrevendo, paralelamente, crônicas e contos para a Gaveta de Notícias-. “Durante esse tem- 
po de mudanças pessoais. Gama conheceu duas grandes influências em sua vida pessoal e 
profissional: Raul Pompeia e João Capistrano de Abreu. A amizade entre Gama e Pompeia 
iniciou-se em meio à Gazeta de Notícias. Pompeia, nascido em 12 de abril de 1863, era pra- 
ticamente da mesma idade de Domício e, como ele, tinha uma natureza pouco afeita a falar 
de si mesmo. A exaltação de Pompeia contrastava com a personalidade reflexiva de Domício 
da Gama. [...] Enquanto Araripe Júnior dizia que os dois foram amigos inseparáveis, Eloy 
Pontes, biógrafo de Pompeia, afiança que Raul não teve nenhum amigo íntimo, de frequentar 
a casa, somente amigos de rua. [...] Domício conviveu com Raul Pompeia no período em que 
chamou de o mais fecundo da breve existência de Pompeia, quando este escreveu O Ateneu 
no prazo de três meses.” 




222 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


discurso de posse da Academia Brasileira de Letras, reforça tal ideia de uma 
proximidade estética entre ambos no período. 183 

No conto seguinte, “Scherzo”, o devaneio musical do narrador a partir de 
um scherzo de Beethoven fará repetir alguns dos procedimentos aqui presentes, 
consolidando o “interme^go” impressionista de Domício no período (pós- 
fevereiro de 1888). 

Fibra morta (08/03/1888) 

“Fibra morta”, tal como “Scherzo”, demarca um retorno de Domício 
à focalização interna, constituindo um importante momento de sua produção 
ficcional. Sua descoberta em meio ao acervo da Hemeroteca Digital (Fundação 
Biblioteca Nacional) é um importante reparo aos mais de cem anos de olvido 
desde sua publicação original, datada de 10 de março de 1888, no volume IV, 
número 164, á\A Semana (RJ). 

Tal como em “Nivelado”, “Fibra morta” mescla uma discussão 
existencial (antes, uma série de reflexões sobre a solidão e o vazio da vida) ao 
desenvolvimento de um enredo lacunar, oblíquo, que demanda do leitor uma 
atenção especial aos detalhes que circundam o drama do narrador. Ainda uma 
vez, trata-se de um narrador autodiegético, que, consciente dos enganos da vida 
em sociedade, sente cada vez mais difusos os limites entre o que pensa, o que 
sente, o que vê. Seu relato é dado ao final de uma festa, quando só, em meio ao 

jogo de espelhos do salão, passa a refletir sobre si: 

Dous espelhos opostos que se refletem e neles enfileirados 
em pálida galeria interminável esmorecendo, fundindo-se na 
sombra, espectros de melancolia, e efígies de miséria, dolorosas 


183 Diga-se de passagem, a observar sua fortuna crítica, aproximadamente metade dos pare- 
ceres menciona tal proximidade, numa clara referência à cadeira comum da ABL, e à ascen- 
dência de Pompeia sobre Domício, enquanto patrono da mesma (ROMERO, 1954; ARARI- 
PE JR., 1978; MIGUEL-PEREIRA, 1988; COUTINHO, 2011; BECHARA; 2011). Alberto 
Venâncio Filho (2002, p. 215), discutindo a homenagem de Domício em seu discurso de 
posse, assinala: “O elogio de Raul Pompeia é feito com entusiasmo, destaca o convívio entre 
os dois, quando Pompeia ‘escreveu O Ateneu em três meses nun arranco magnífico que se não 
reproduziu, e ao mesmo tempo revia as provas de uma edição de Canções sem metrd . O estudo 
da vida e da obra de Raul Pompeia é feito com profundidade devido ao convívio estreito.” 
No entanto, ainda sobre Pompeia, sua classificação como autor impressionista é conturbada, 
e não deve ser vista, per se, como um dado acabado. Cf. a este respeito Sandanello (2013a). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


223 


imagens do meu eu doloroso. A sombra é como o passado e como 
o futuro, alternadamente. Entre os dous o balanço angustioso, 
em que anseia a aspiração em que chora a saudade. Lá no fundo 
a superposição dos dous mistérios faz o cerrado nevoeiro negro 
onde lampejam a espaços clarões incertos que o desejo acende 
e que errantes sopros de dúvida apagam. De mim para os dous 
temerosos muros de treva é a atenuação crescente da minha figura 
humilde. Prolongada nos dous sentidos, não sinto, não sentirei 
jamais o ponto em que deixo de ser (GAMA, 1888c, p. 3) 

Às “dolorosas imagens do [seu] eu doloroso” remetem, de imediato, 
a indistinção temporal e a perda da referencialidade espacial, que fazem 


suceder ao binômio “passado” X “futuro” termos igualmente interpolados, 
como “saudade” X “aspiração”, “dúvida” X “desejo”. Permanece, porém, 
oculta a motivação desses sentimentos. A única indicação positiva, enquanto 
materialização da dispersão de sua identidade (“não sinto, não sentirei jamais o 


ponto em que deixo de ser”), é a sombra do narrador, que se impõe sobre seu 
corpo, refletida pelo jogo especular (e especulativo) da reflexão. 


A seguir, à centralidade da sombra, encerrada por “dois muros de treva”, 
parece somar-se uma importante menção a uma “nota gravíssima”, possível 


explicação dos dramas do narrador: 

As tristezas antigas eram das alegrias não minhas. Das excitações 
alheias só me tocam as depressões consequentes, o espólio 
lamentoso das misérias que foram glórias e galas. Demais ressoa em 
mim perfeitamente, na corda de bronze vibrando uníssona com os 
gemidos dos outros eus infinitos, a nota gravíssima, a nota negra em 
que há luto e pranto e ais do mais fundo do coração, (idem, grifos 
do autor) 


A profunda melancolia do narrador estaria, assim, ligada ao luto por 
alguém? Ou tal sentimento seria apenas um lembrete da impossibilidade de 
inte(g)ração com o mundo, sabendo-se dele diverso? Pelo sim ou pelo não, o 
narrador julga representar uma “fibra morta” dentro do organismo do “grande 
Tudo”, ao qual está “estreitamente ligado” (idem). E — transpondo o “introito 
filosófico” (BORGES, 1998) já para uma “reflexão” indissociável do enredo — 
pondera que “viver assim preso ao universo não é viver, é refletir vida. Senti-la 
direto, que sonho!...” (GAMA, 1888c, p. 3) 

Separada por um espaço em branco, a segunda parte do conto parece 
recuperar indícios da referencialidade perdida ao contrapor ao desânimo do 
narrador o contexto festivo que o circundara, há pouco: 




224 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Era festa ainda há pouco. Dançavam trinta pares nesta sala. 
O alvoroço, o ruído, a embriaguez da música, a aproximação dos 
sexos em cio, a alegria física do amor contagioso, com a plástica 
das figuras em grupos pitorescos ou isolada, diferentes mas ligadas 
por uma semelhança obscura, movendo-se a um ritmo só de mim 
sentido, compunham-me a harmonia rara em que sempre espero 
em vão o acorde que me prostre no espasmo fulminante. E ainda 
desta vez não veio. Vaguei por entre as danças, dancei, galanteei e ri, 
sempre frio, sempre vazio de emoção, como um castrado psíquico, 
(idem) 

O narrador faz as vezes, assim, de um “castrado psíquico”, de uma 
nova “vítima do incolor ”, 184 apartado da sociedade pela íntima consciência das 
vaidades que nela imperam. Tal como o protagonista de “Estudo do feio” (não 
obstante o fato de ser, inversamente, desejado por todos), ele espera “em vão 
o acorde” de um sentido transcendente, de um sentido qualquer, que consiga 
elevá-lo a um “espasmo fulminante”. E, novamente, sua ideia de felicidade 
sufoca a possibilidade de sua consecução, denegrindo a materialidade (à maneira 
da sombra, perante o corpo) como espectro do sonho tão esperado. 

A comparação jocosa entre uma das mulheres do baile, que, fantasiada 
de “biscuit policromo”, “abandonava-se nos [seus] braços, como amolecida ao 
ardor da valsa”, a uma “eternamente esquiva Galateia”, que segue “fugindo entre 
os salgueiros do sonho” e oferece apenas um “aroma ou lembrança de aroma” 
(idem), é, neste sentido, marcante. Tal como Pigmalião, o narrador cinzela sua 
ideia de beleza a tal ponto que dela fica enamorado, fechando-se para o mundo 

e acreditando haver, por toda a parte, apenas vaidade e luxúria: 

Estudei linhas e manchas, mas não pude escapar à obsessão 
do futuro pelo passado. Fiavia moços e velhos, carnações rosadas 
e pergaminhos secos, esperança e ruínas, aspirações que vão [ao] 
encontro das desilusões e renunciações lastimosas, não resignadas, 
chorando pelas rugas e pela devastação dos órgãos ao descambar da 
vida. Vi flores pisadas pelo chão, vi nos rostos fatigados, nos grupos 
rareando e nas velas consumidas o fim da festa e toda a fadiga dos 
outros que tiveram prazer pesou sobre mim e atirou-me sobre esta 
cadeira entre dous espelhos. O demônio da ironia gargalhava na 
cadência da última quadrilha. E nem aquela risada que eu escutava, 
alta e aguda, dilacerando as vestes da mentira e entrechocando ossos 
de esqueletos e nem a feição macabra que tomava o baile pôde 
mover-me. Fiquei sozinho a mirar-me — Narciso lúgubre... (idem) 

O estudo das “linhas e manchas” tenta regular sem sucesso a “obsessão 


184 Acerca do poema homônimo de Pompeia, cf. nota 160. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


225 


do futuro pelo passado” e parece bem representar o horror estreito do narrador 
pela vaidade, que lhe oculta seu próprio “vazio de emoção” (vanidade), que o 
deixa “sozinho a mirar-[se] — Narciso lúgubre...” Assim, tudo aquilo que está ao 
seu alcance parece-lhe degradado — as flores, “pisadas”; os rostos, “fatigados”; 
as velas, “consumidas” — e não resta um foco de luz capaz de tirar-lhe a sugestão 
(vibração) premente da sombra. Ainda uma vez, como em “Nivelado”, a 
ausência de luz (Luz, Razão) leva aos declives do inconsciente, fazendo com 
que o narrador ouça “o demônio da ironia na cadência da última quadrilha [...], 
dilacerando as vestes da mentira”. Para além da festa, das diversões mundanas 
e da facilidade de sua obtenção, o melancólico narrador vê apenas o engodo do 
prazer alheio que leva, fatalmente, à fadiga, à solidão e ao silêncio. 

Incapaz de resolver seu destino, ou de ver para além de sua visão “turva” 
de mundo, o narrador encerra seu lamento reafirmando suas incapacidades 
pessoais: 

Agora entendo a tristeza. É a morte. É a dispersão da 
individualidade que não posso guardar e que, parcelada ao infinito, 
foge de mim para estas minhas sombras infinitas. Sou como um 
corpo em que a fibra muscular já não vibra à excitação dos nervos. 
A força não trabalha em mim, que não resisto. Anseio como um 
pássaro batendo asas no vácuo. Morro, dissolvo-me na inanidade 
do desejo, incapaz, cônscio disso. Quero ser um, único e só, e no 
entanto a aspiração moribunda agita-se convulsa naquela pupila 
negra, última à esquerda, que entre os lavores de cristal contempla- 
me. Sou eu que sou sombra e miro-me. E o meu presente misérrimo 
chora o passado que foi e o futuro que não será ele. A turva que me 
esmaga nunca mais se dissipará para mim! (idem) 

A insistência repetitiva no drama da “dispersão da individualidade”, 
sem o anteparo de eventos que a comprovem ou relativizem (além da mera 
contraposição lógica, dual, de uma mulher policroma ao sonho diáfano de 
Galateia), faz com que o conto se torne monótono, à força de ser enigmático. 
Trata-se de um caso curioso de inversão do “introito filosófico” (BORGES, 
1998) que assinala o quanto o apoio excessivo do enredo em questionamentos 
existenciais é danoso, seja mediante o uso de um narrador heterodiegético (ex. 
“Indução, dedução, conclusão”) seja de um autodiegético (“Fibra morta”). 

No conto seguinte, “Scherzo”, o devaneio do narrador a partir de um 
scher^o de Beethoven fará repetir algumas referências musicais aqui presentes, 
consolidando o “intermetçço” impressionista de Domício no período pós- 




226 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


fevereiro de 1888. 


Scherzo (17/03/1888) 


A descoberta de “Scherzo” por entre os documentos digitais da Brasiliana 
(USP) no volume IV, número 165, d 54 semana (RJ) de 17 de março de 1888 não 
apenas repara uma importante lacuna cronológica da produção de Domício 
como também ajuda a aproximar a data de composição de “Conto de verdade”, 
inserindo-o imediatamente a seguir na divisão aqui proposta. Ademais, entre 
seus contos inéditos, é talvez aquele que mais contribui para a revisão de seu 
impressionismo literário, muito embora outros possam conter exemplos mais 
pontuais. 

Isto porque “Scherzo” constitui uma confirmação curiosíssima da 
equiparação entre visualidade e sonoridade sob o termo comum da sensação — ou 
antes, da consciência individual. Neste sentido, é particularmente significativa a 
presença de um narrador autodiegético, de quem emana não apenas o relato, mas 
a própria referencialidade do que diz, dissolvendo a realidade exterior a partir 
de suas reações a um scherzo de Beethoven. Tamanha é a força de sua expressão 
pessoal que o leitor não pode sequer dar por certa a existência da pianista que 
executa a fascinante partitura de quinze páginas, lenta e estrategicamente viradas 
pelo mesmo narrador. Curiosamente, a pianista chama-se Georgina, 185 espécie 


185 Há uma importante indicação a ser feita a respeito de tal personagem. Em crônica 
dedicada ao “ Salon do Campo de Marte”, de 10 de junho de 1891, Domício tece reflexões 
que iluminam, retroativamente, “Scherzo”. Após avaliar a “decomposição das cores nas suas 
tintas componentes”, pela pintura de “placas luminosas [...] o resto ficando apenas indicado 
[...] (a estética de Poe triunfa em toda linha)” (GAMA, 1 89 1 s, p. 1), observa: “Lembro-me 
de um que pintou uma mulher ao piano, para mostrar uma expressão de mãos. O piano é 
antigo, de uma madeira escura e sem lustro, as teclas amarelentas. A mulher é uma dessas 
criaturas sem idade, sem sangue, quase sem corpo e sem vida: tem a face meio encoberta pe- 
los cabelos desatados e com os olhos baixos, quase fechados, move as mãos sobre o teclado, 
num movimento lento de quem desfia as derradeiras notas suspirosas de uma reverie. Quem 
se isola e concentra sobre aquele quadro (que lembra os poemetos de Georges Rodenbach) 
chega a adivinhar no gesto daquelas mãos magras e pálidas, afastadas, a música das dores que 
adormecem com a fadiga dos soluços íntimos.” (idem) A partir do catálogo da exposição 
(LEMERCIER, 1891, p. XIV) é possível identificar o quadro mencionado como sendo de 
GA.-L. Griveau, de nome “ Femme au piano ” (número 424 de registro na exposição), embora 
tal obra não conste dos bancos de dados virtuais como o ARTStor (há apenas pequenas in- 
dicações no sítio do Musée d’Orsay acerca da biografia de Georges Griveau e de seu irmão. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


227 


de versão feminina de Chopin (George Sand?) sem identidade própria, filha do 
gozo estético do narrador: 

De Georgina adoro esse não ser bela em si mas evocar belezas. 
Como as formosuras raras ela tem as grandes linhas clássicas, 
corretas, impessoais. Mas faltam-lhe os traços menores, as inflexões 
que fixam uma individualidade. Ser filha de artista, de um amoroso 
da forma em beleza múltipla, nascer entre pinturas e sonhos de 
plástica ideal, crescer brincando com estampas, contemplando 
estátuas, embeber-se de romantismo estético à força de viver no 
artifício, talvez explique esta representação constante de mulheres 
que não são ela. Seria assim a atriz que eu sonhei. Pianista, ela 
lembraria a visão de Chopin moribundo. Cantora, declamando, o 
seu gesto variaria da moleza enlaçante dos idílios à repulsa apavorada 
de Lady Macbeth. [...] Mas como te enganas comigo, Georgina! 
Música és tu, maravilhosa sonata! Da ponta dos teus pés movendo- 
se continuamente em reforços e abafamentos de som aos anéis 
revoltos do teu cabelo, onde a luz cintila, há frases infinitas de uma 
harmonia única. (GAMA, 1888e, p. 58) 

Georgina, como tudo o mais, é um reflexo de sua consciência. É, pois, 
a sensibilidade do narrador que lhe evoca, sustém e significa. O mesmo ocorre 
com Ariel, personagem evocado pela música logo ao início do conto, que 
pouco desempenha as funções de uma “personagem” propriamente dita. Tal 
como em Shakespeare, “Ariel, ao contrário de Calibã, não é propriamente um 
caráter, mas uma presença das forças indizíveis que pode governar a magia ou a 
imaginação.” (NOÈL, 1984, p. 80) 186 E é o narrador, à la Próspero, quem detê o 
poder sobre si, garantindo -lhe uma existência relativa pela evocação (invocação) 
de um “hino de alegria e luz” (GAMA, 1888e, p. 58). 187 

Por sua vez, o ritmo mais ou menos libertino das sensações do narrador 


Lucien Griveau). Diga-se de passagem, pela entrada das iniciais constantes do catálogo, pa- 
rece ambígua a autoria do quadro apreciado por Domício; porém, pela indicação das demais 
obras expostas, torna-se claro que o quadro é de Georges Griveau, e não do irmão. A per- 
sonagem do conto “Scherzo” parece remeter, assim, a dois “Georges” (Rodenbach e Grive- 
au), num diálogo extemporâneo entre música, pintura e literatura, ainda por ser esclarecido 
mediante a localização da referida tela. 

186 “Ariel, au contraire de Caliban, n’estpas à proprement parler un caractere mais une présence, celle des 
forces indicibles que peut governer la magie ou rimaginationr 

187 Tentar descobrir qual seria exatamente o schergo em questão, que motiva o aparecimen- 
to de Ariel, poderia ser improfícuo, além de algo impertinente. Todavia, parece haver certa 
ressonância entre o esvoaçar ligeiro de Ariel e o segundo movimento (Scherzo, Allegretto 
vivace) da Sonata 18 em Eb maior, op. 31, n. 3, de Beethoven. Naturalmente, não se pretende 
perseguir aqui os rastros (de Ariel?) da comparação. 




228 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


encontra eco na própria forma do scherço. A palavra scher^o, derivada do italiano 
scher^are, significa brincadeira, “ badinage plaisanterii\ e talvez disto derive 
a rapidez, antes a ligeireza, de sua aplicação à música (ARMA, TIENOT, 
1947, p. 199). Formalmente, o schenço é um movimento musical que substitui 
o minueto em sonatas e sinfonias, tomando-lhe a medida ternária e a divisão 
ABA, “mas delas divergindo pela acentuação e pelo tempo .” (AMY, 1961, p. 
654) 188 Após sua consequente inclusão no cânone clássico por Beethoven, 189 o 
scher^o, amplamente desenvolvido no século XIX por compositores românticos 
(Schubert, Schumann, Berlioz, Mendelssohn, Chopin) e celebrizado pela cultura 
de massa no século XX, 190 parece ser, assim, o movimento por excelência da 
imaginação ligeira, da transição feliz entre dois movimentos mais “graves”, que 
permitem sua significação passageira na qualidade de desdobramento de um 
tema proposto alhures. 

Aproximativamente, o mesmo poderia ser dito a respeito do “Scherzo” 
de Domício, que cuida de um breve devaneio eivado de referências literárias e 
artísticas (Shakespeare, Chopin, da Vinci, Delaroche, Beethoven), que acomete 
o narrador entre a “evocação de um acorde fulgurante [que lhe traz] o divo Ariel 
de asas de ouro”, nas primeiras linhas, e a “claridade crua e despoetizante” de 
depois, que mostra “em forma de morcego lúgubre, de asas fuscas e membranosas 
[...] o ideal Ariel de asas de ouro”, ao final do texto (GAMA, 1888e, p. 58). Em 
suma, uma ilusão entre dois desencantos (ou, guardadas as devidas proporções, 
um scherzo vivace entre dois andantes , ma non troppo). Dividido em três parágrafos, 
o conto parece evocar ainda a divisão ABA do scherzo, fazendo Georgina valer 


188 “[...] tout en s’en détachant pour 1’accentuation et le tempo .” 

189 A opinião geral parece ser mesmo a de que «Beethoven en est le véritable créateur.” 
(ARMA, TIENOT, 1947, p. 200) A título de curiosidade, vejam-se alguns usos do scherzo 
anteriores ao de Beethoven: “[...] il apparut d’abord dans la musique vocale ( les Scherp musicali de 
Monteverdi sont légers de ton et modestes de facture). Bach n’utilisa le terme quime fois, dans 1’avant-dernier 
mouvement de caractere léger, de sa partita en la mineur BWV 827. Hajdn appela ‘schergos’ ou ‘scher- 
gandos’ les menuets de ses Quatuors russes op. 33, masi ces pages ne diffèrent parfois en rien de ses menuets 
habitueis (1’exception la plus notable étantfournie par 1’ opus 33 n. 5 en sol).” (VIGNAL, 1987, p. 726) 
De qualquer forma, não é surpresa que no Dictionnaire de musique de Rousseau (2012), escrito 
de 1754 a 1763 e publicado em 1768, tal termo sequer fosse avaliado. 

190 Para não escapar ao conto de Domício, basta lembrar do exemplo do Uapprenti sorcieràc 
Paul Dukas, criado a partir do poema homônimo de Goethe e posteriormente popularizado 
pela animação Fantasia, de Walt Disney. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


229 


por uma variação de Ariel (apresentado no primeiro parágrafo com asas de 
ouro e reapresentado no último com asas de morcego). 191 

A fim de reproduzir com igual riqueza a exuberância sensorial do 
narrador, há certa verborragia na maneira com que o sensorialismo “imediato” 
da música é descrito: “Logo a sombra dos graves adoça-se rasgada por clarões e 
ao ribombar terrífico das cóleras divinas sucede a cantarola clara dos regatos e o 
gotejar dos pingos cristalinos e o incêndio das pedrarias líquidas que o sol irisa 
nas frondes rorejantes.” (idem) As referências ao shakesperiano Ariel e à difusa 
Georgina não parecem condizentes com a referencialidade visual ou sonora da 
ocasião . 192 No entanto, o narrador parece brincar ( schençare ) com a indefinição 
das imagens e sons que descreve, abusando do argumento do devaneio, que 
tudo legitima e res significa: 

Hino ou canção, esperança e aspiração ou saudade, frases de mágoa 
e ardor, flautas subindo dos gemidos à voz cantante dos clarins 
estrídulos, como uma filigrana de luz sobre penumbra, encho o 
espaço intérmino a teia sutilíssima do silfo, em notas de magia. [...] 
Ar! há tanto ar e luz que o desafogo da eterna, suprema libertação 
não será mais beato! [...] Nomes cantantes, sílabas sonoras, infinitos 
de verbos de ação vaga, a inarticulação do desejo gagueja-me na 
mente, (idem) 

Gradativamente, há como que uma dispersão da individualidade do 
narrador, paralela à das criaturas que evoca. Seu ser dissolve-se numa infinidade 
de sugestões, entrepostas entre o momento presente da enunciação e o passado 
das lembranças: “Sinto-me menos, reduzido ao presente, alijado de memórias, 
simplificado e dividido para as sensações sutis. Sou pluma voando ao vento, [...] 
sou poeira dourada volitando na valsa aos raios do sol, sou ainda menos, luz ou 
vibração e vivo na voz de Ariel.” (idem) Há, pois, uma equiparação entre criador 
e criatura pressuposta pela autorrepresentação do narrador enquanto pluma, 
a vagar pelo vento, animada pela voz do espírito de (Ar)iel . 193 Não é diversa a 


191 Não se pode dizer, porém, que a tripartição dos parágrafos pressuponha um encade- 
amento demasiado lógico entre ambos; afinal, que dizer de um silogismo sem teses nem 
antíteses? 

192 Infelizmente, as mesmas excrescências repetir-se-ão esporadicamente em sua obra, com 
destaque para o exemplo de “Outrora...”, conto bem posterior a “Scherzo”. 

193 “[•••] k nom d’Ariel figure dans la Bible, ou il désigne une ville, mais il estplus probable que Shakes- 
peare l’a pris dans la Steganographia de Jean Trithème (1606) et, sans doute, est-ce inspiré par sa sonorité 
rnêrne qu’il en a fait le nom d’un esprit de l’air (NOEL, 1984, p. 80) 




230 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


equiparação de Georgina à música que executa, nem a motivação desta a partir 
do corpete da pianista: “Amarelo palha com toques de rosa e bordados arabescos 
com carmim vivo subindo da cintura ao colarinho vestindo — lhe o pescoço 
esguio, é o corpete da pianista e dele nasce a sedução da música.” (idem) Logo, 
não é difícil concluir que a nuança da sensação subjuga o indivíduo (narrador), 
assim como o movimento de sua consciência enseja a sensação. 

A seguir, em uma brevíssima teorização da “sensação” (que retoma certo 
pendor conceituai dos “intróitos filosóficos” de outrora, ainda que à vol d’oiseau , 
ou de pluma), o narrador dá um resumo de sua condição. Observe-se, para além 
da discussão do conto, o quanto as três primeiras frases poderiam valer por 
uma súmula do impressionismo literário, indicando a maturidade do escritor na 

apreensão de seus pressupostos mais gerais: 

Um valor é uma relação. O que vale um tom só pode 
dizê-lo a oposição. Assim da luz, assim do som, assim em 
todo graduar de sensações. Em plena luz as brancuras 
opacas irradiando ofuscam, e as transparências incolores 
atravessadas de claridade tornam-se invisíveis. Há um 
limite ao sentir, que eu atingi. Daí por diante, o ouvido 
alucinado de Beethoven. [...] Os nervos exaustos vibram 
dolorosamente à volta insistente, irritante, do tema em dez 
ou doze notas, todo nu e descorado, como um que volta 
das ilusões, (idem) 

Tal parece ser o núcleo argumentativo de “Scherzo” (se o houver), para 
o qual todas as comparações do narrador, todos os seus devaneios, servem de 
confirmação posterior. Assim, se “o que vale um tom só pode dizê-lo a oposição 
[...] em todo graduar de sensações” (idem), o fim do scherzo, responsável pelo 
devaneio de Ariel e Georgina, prevê o brusco término da estesia (ou êxtase) 
pelo extremo oposto do silêncio, que o faz não tanto voltar à realidade quanto 
descair da ilusão (“como um que volta das ilusões [... para] uma claridade crua 
e despoetizante” (idem)). 

De certa forma, “Scherzo” é uma espécie de consecução prática da 
estética do “justo meio”, defendida por Domício na crônica homônima (GAMA, 
1883, p. 2-3). Tal se deve à distância entre o conto e as literaturas naturalista e 
romântica, nela atacadas como extremos de concessão da literatura à ciência e 
ao senso comum. De fato, sem fazer literatura naturalista (i.e., sem antepor a 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


231 


tese defendida à expressão literária, mas chegando a ela após a descrição das 
sensações, na proposição de uma síntese a posteriori de seu valor relativo) e sem 
fazer literatura romântica (i.e., sem colocar o indivíduo no centro do texto, 
mas desmontando sua percepção até desestabilizar os referenciais com que 
dialoga), Domício coloca-se a meia distância de uma e de outra. Neste sentido, é 
possível que uma conclusão teórica (geral) advenha de um devaneio do narrador 
(individual), atingindo uma espécie de “justo meio” (ou de meio-termo) ao qual 
poderia equivaler o impressionismo literário do autor . 194 

Parece escusado dizer, a esta altura, que tal via não será explorada 
linearmente por Domício, permanecendo, como tantas outras, apenas uma 
das hipóteses do “justo meio” incessantemente buscado. Para tanto, bastaria 
lembrar a não inclusão de “Scherzo” em suas duas antologias de contos, que, 
não obstante, coligem textos muito menos significativos. 

Em todo caso, o conto cronologicamente posterior, “Conto de verdade”, 
retoma a visada musical de “Scherzo” na análise pormenorizada das recordações 
de um concerto, desenvolvendo-a em uma direção diversa. 

Conto de verdade [circa 21/03/1888] 


Por diversos motivos, “Conto de verdade” é um texto particularmente 
interessante . 195 Seu lugar em qualquer discussão acerca do impressionismo 
literário (em Domício ou no Brasil) é, por assim dizer, garantido. No entanto, 


194 Claramente, é preciso tomar distância de tal defesa do “justo meio”. Afinal, o impressio- 
nismo literário não é uma espécie de naturalismo moderado nem de romantismo científico. 
Do contrário, incorreríamos no mesmo erro de Urbano Duarte (1881, p. 1) em seu inexato e 
belo artigo a próposito d’0 mulato , de Aluísio Azevedo: “Muitos supõem ter feito o supremo 
elogio de uma obra naturalista, dizendo dela: é uma fotografia! Mas há fotografia puramente 
mecânica e há fotografia artística, para todos os preços. O Sr. Aluísio não é um simples ar- 
tesão, mas também ainda não conhece completamente o processo artístico das proporções, 
das meias-tintas e do fini [...]. E um impressionista. Em achando a mancha da composição, 
pouco se lhe dá o resto, havendo portanto borrões, falhas e alguns descuidos no correr da 
ação do romance.” Há uma tênue distância entre “meio-termo” e “inacabado”, que parece 
reproduzir, na literatura, alguns dos erros de compreensão do impressionismo pictórico às 
décadas de 1870 e 1880. 

195 O texto em questão foi incluído por Raimundo Magalhães Jr. (1959) em sua antologia de 
contos e escritores cariocas, o que lhe dá, ao lado de “Cônsul!...”, certo aspecto “antológico”, 
se comparado aos demais. 




232 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


é difícil determinar em que momento precisamente da escrita do autor ele se 
depara com tamanha síntese de elementos impressionistas. Não há datação para 
“Conto de verdade” em nenhum dos volumes existentes do autor. Contudo, 
é possível destacar a data de sua publicação original em jornal como norte 
cronológico de inserção na presente linha “evolutiva”. Publicado na Gaveta de 
Notícias a 21 de março de 1888 (ano XIV, n. 81), é de se supor que a data de sua 
escrita possa ser situada entre fevereiro e março do mesmo ano. Isso porque 
a publicação de “Estudo do feio” poucos dias antes no mesmo jornal, a 16 de 
março (ano XIV, n. 76), traz a datação de quatro de fevereiro — o que permite, 
com certa margem de erro, situar “Conto de verdade” no período indicado. 
Ademais, um segundo elemento embasa tal inserção — a proximidade temática 
entre “Conto de verdade” e “Scherzo”, publicado a 17 de março. De qualquer 
forma, e para todos os efeitos, foi mantida a data do jornal, única textualmente 
disponível. 

Uma primeira leitura do conto faz com que se pense no quanto o autor 
experimenta com as formas literárias, repetindo temas e situações dramáticas 
presentes em textos anteriores ou posteriores (como “A canção do rei de Tule” 
ou “Só”). Porém, em seguida, há que se cuidar da possibilidade do leitor estar 
diante de seu conto impressionista por excelência, hipótese que se parece 
confirmar ou diluir a cada momento. 

A princípio, observe-se seu enredo: Cristiano, “diletante antigo e 
diplomado” (C., p. 30), vai a uma ópera de Donizetti com sua esposa Olímpia, 
encontrando aí uma antiga cocotte com quem tivera um caso, tempos atrás. A 
proximidade da Baianinha (a mencionada cocotte , do terceiro vértice do triângulo 
amoroso) faz com que Olímpia se sinta indisposta, obrigando Cristiano a voltar 
para casa. Lá, não chegam a discutir sobre o assunto, evitando-o Ambos, cada 
qual a seu modo, lamentam-se “gotejando melancolias” (C., p. 35) da infelicidade 
de sua vida conjugal. 

Nada ocorre, pois, de demasiado significativo entre a sessão de ópera e 
a “casinha da rua Guanabara” (idem). A própria ausência de acontecimentos 
é o que resume a vida conjugal infeliz de Cristiano e Olímpia, num marasmo 
de três anos. O que é de particular interesse é o motivo do desentendimento 
do casal — a excessiva sensibilidade de Cristiano após o casamento — revelado 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


233 


curiosamente acerca das reações diversas de cada um frente a um quadro: 

Perdido o seu prestígio de mistério, a mulher não achou mais em 
que prezá-lo. [...] Ela disse-lho uma vez em que ele se entusiasmava 
por um quadrinho do Aurélio, em que a harmonia das manchas era 
tudo. E, desde esse dia, profundamente ofendido, humilhado na sua 
tão mal paga efusão sentimental, quis fechar-se, concentrar-se de 
novo. Mas já não pode. Para Olímpia, a alma do marido, como uma 
luva já usada, ficou aberta. Nada tinha de interessante... Servia-lhe: 
era tudo! (C, p. 31) 

Em certo sentido remoto, talvez fosse esse o maior exemplo da 
introjeção temática da pintura impressionista na literatura; afinal, é um quadro 
impressionista — “em que a harmonia das manchas era tudo” (idem), i.e., em 
que o uso das manchas de cor e das consequentes relações cromáticas equivalem 
aos elementos estruturais fundamentais da composição — que faz as vezes de nó 
górdio (ou de pomo da discórdia) do texto. 

Deixando, porém, de lado tal reflexão, é possível destacar mais diretamente 
o que o narrador insinua sobre o quadro, chegando à sugestão de que a 
sensibilidade do observador é sua única forma de apreciação. Afinal, é a “efusão 
sentimental” de Cristiano que o permite avaliar a justa medida daquilo que sua 
mulher considera apenas um “quadrinho” (idem). O nome do pintor, Aurélio, 
parece contribuir para tal hipótese, se se pensar que, etimologicamente, significa 
algo “dourado” (HOUAISS, 2001, p. 345) — os sonhos de riqueza de Olímpia, a 
sua atenção às pessoas e ao fausto da ópera — , enquanto, cientificamente, liga-se 
à figura da crisálida — o amor infantil de Cristiano, sua falta de preparo para o 
casamento, o nascimento de um possível caso extraconjugal com a Baianinha. 
De qualquer forma, há um grande hiato entre o que cada um dos cônjuges 
espera do casamento, e esse hiato se dá a partir da diferente apreciação do 
quadro, que torna sensível — pelo excesso ou pela falta de sensibilidade — o quão 
distantes estão um do outro. 

É importante destacar, neste quesito, o ambiente da ópera como segundo 
palco sensorial do embate entre Cristiano e Olímpia: “Ele, diletante antigo e 
diplomado, que tinha feito do gozo estético a razão da vida, que ali tinha vindo, 
que ali ficaria até ao fim por seu prazer, ia-se embora pelo prazer de Olímpia, 
que era sua mulher!” (C., p. 30) A reação de ambos perante a arte (pintura, 
música) define a impossibilidade do convívio, bem como certa tirania passivo- 
agressiva da esposa, ciente da nulidade do marido. Extingue-se pela negativa a 




234 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


relação onírica do amor prevista em “Scherzo”. O único que devaneia na ópera 
de Donizetti é o imperador, alheado de tudo e de todos, a dormir pesadamente 
(“Lá estavam todos os amadores sinceros ou fingidos da ópera lírica, desde 
o Imperador, muito quieto, a sonhar por música, até aos estudantes, que, em 
pinha escura, entalados entre o teto e os duros bancos de pau, se esqueiam 
das provas escritas” (idem)). Não se trata, pois, da imersão da consciência nas 
sugestões da música, mas sim da análise consciente dos diferentes olhares e 
interesses humanos, cuja arte (música, pintura) serve de ponto de partida para 
o estudo de suas relações. 

Afinal, “a harmonia das manchas” (C, p. 31), dos desejos e das intenções 
não define apenas o quadro de Aurélio ou a trama do Voliuto de Donizetti, 
mas enforma o triângulo Aurélio, Olímpia e Baianinha. O jogo da focalização 
interna variável, passando do marido à esposa, substitui o narrador autodiegético 
de “Scherzo”, embora não lhe mude a ênfase — a disposição da harmonia 
mencionada. A centralidade do jogo das focalizações, somada ao final aberto e 
à nulidade da trama, aponta marcas indeléveis do impressionismo literário. 196 

No tocante a essa relação, há ainda outra importante ligação no conto entre 
a pintura e a literatura. Homônima ao quadro de Manet, a Olímpia de Domício 
parece repetir as incongruidades da célebre cortesã, que dividiu o público francês 
e fez sensação no Salon des rejusés de 1863: “Se Olímpia é uma incongruidade, 
se é incongruente, escandalosa, é porque ela é uma espécie de contradição feita 
imagem.” (BOURDIEU, 2013, p. 375) 197 A Olímpia de Manet desconstrói a 
figura da Vénus de Urbino, de Ticiano, expondo a lógica da prostituição a que 


196 Neste sentido, apenas mediante a pequena amostra do par “Scherzo” e “Conto de verda- 
de”, é possível observar a experimentação narrativa de Domício da Gama, paralela àquela de 
escritores comumente rotulados como impressionistas como Conrad, Madox Ford ou Henry 
James: “ Their experiments ivith narration are an ongoing interrogation of the narratods privilege to rank 
and control the perspectives ivhich make np a ivorkP (ARMSTRONG, 1983, p. 262) 

197 Veja-se o trecho citado, na íntegra: “Si 1’Olympia estime incongruité, si elle est incongrue, scanda- 
leuse, c’est parce qidelle est une sorte de contradiction faite image II faudrait prolonger 1’analyse de ce tableau 
trop vii, donc non vu, mais avec 1’idée que c’est une révolution forme He spécifique, à condition de 1’entendre 
comme une parodie, c’est-à-dire comme une viole mee symbolique dirigée contre une forme symbolique domi- 
nante. On se sert de la forme pour lutter contre la forme. On s’en prend à la Vénus d’Urbino qui était le 
nu par excellence, celui qu’on copiait dans les é coles, que Manet lui-même au cours d’un vqyage en Italie avait 
copié.» (BOURDIEU, 2013, p. 375-376) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


235 


está submetida, prontamente decodificada pela perda do referencial mítico, pelo 

presente mesquinho das flores e por seu olhar indagador e cínico ao observador, 

surpreendido para além do papel prestigiado de consumidor de arte. Por sua 

vez, a esposa de Cristiano é também contraditoriamente esposa; ela ressente a 

profusão de joias, o rico vestido, a liberdade da Baianinha, sentindo-se, numa 

significativa inversão, como que prostituída pela pobreza do marido: 

Quando entrara a cocotte cintilante, ela a tinha mirado com o olhar 
atento, quase de inveja para as joias, desdenhoso para a dona - 
desdém das sedentárias pelas nômades. E a mulherzinha lhe havia 
arrostado atrevidamente o olhar, o olhar de mulher honesta! Foi ela 
quem cedeu. Depois, mesmo de costas, via-se examinada, e, no seu 
vestido de sedinha escura às riscas brancas, sem rendas caras, no seu 
chapéu de palha e flores, nos grampos de ouro simples, nos brincos 
de pérola, no leque de cetim pintado, sentia-se pobre e humilhada. 
(G, p. 33-34) 


Cristiano não possui nada de material para lhe dar (ou não o deseja 
fazer), e é isso o que a ofende. Cristiano olha Olímpia como uma Vénus de 
Urbino, alçando-a acima de sua condição. No entanto, é a emulação do prazer 
da conquista (e a consequente crítica da liberdade masculina) o que agrada a 
Olímpia. O marido não lhe surpreende; é um presente de outras datas, “uma 
luva já usada” (C., p. 31). Prefere antes a voz do Almeidinha, a cantar no palco, 
na qualidade de pretendente menos prosaico. 

Sem prosaísmo, entretanto, é a exposição da lenta degradação de Cristiano, 

toda ela calculada em detalhes preciosos, numa longa e magistral passagem: 

O que os Goncourt dizem da sensação peregrina: ouvir música 
roçando com o joelho a seda do vestido de uma mulher - amante ou 
outra coisa - Cristiano só tinha experimentado no outro tempo, no 
tempo dos amores leves. [...] Ao estímulo da sexualidade todos os 
nervos vibrantes, o apuro de sentir subia quase ao hino, à expressão 
cantante das sensações extremas. [...] Lembrava-se do prazer inefável 
de, perto da cena, nas peças bem vestidas, com a bengala junto ao 
olho, apreciar o quadro em manchas violentas, berrando para o 
público, para ele adoçado, resumido na prata espelhante do castão. 
E uma vez em que, sentindo no antebraço o cotovelo pontudo de 
uma Blanche qualquer, ele assim gozava da justaposição de três tons 
brutais - uma cena suntuosa, feita em grandes panos de púrpura, a 
entrada de três vestidos, verde claro, carmesim vivo e violeta pálido, 
em cetim reluzente à claridade da rampa, uma briga de cores que o 
irritava ao mesmo tempo que o amolecia na saudade das emoções de 
menino pelas primeiras ilustrações que via, cruamente coloridas - o 
cômico irresistível das ventas de uma das cantoras, a de verde claro, 
arregaçadas fortemente no ataque de um ensemble , que o fazia rir alto. 




236 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


enervado, gostosamente, escandalizando a sala e a companheira... 
(C.,p. 32) 

O amor de Cristiano pela arte, pela harmonia das cores e dos sons, é 
surpreendido pelo narrador através de sua memória, enquanto tentativa de 
recuperar o passado revivendo pela “saudade” as “emoções de menino”, 
embevecido com as “ilustrações que via, cruamente coloridas” (idem). Neste 
sentido, a “sensação peregrina” tomada a propósito dos Goncourt, bem como 
a vibração dos nervos pelas sensações extremas (tomada, possivelmente, à 
teoria das vibrações de Pompeia), equivalem a estímulos visuais análogos aos 
de outrora, reduzidos as prazer do contraste das cores das ilustrações. Logo, as 
mulheres são vistas unicamente pelo prisma cromático (na qualidade de uma 
“Blanche”, uma rouge , outra bleue etc.), frente ao pano de fundo do palco. O 
artifício de colocar ao olho o castão da bengala, surpreendendo o público em 
sua realidade visual mínima, refletida no adorno metálico, como uma criança 
brincando e rindo alto de suas travessuras, é de uma finura exemplar, e resume 
bem o cuidado crescente de Domício com a focalização interna. É, ademais, 
prova de sua maestria na caracterização das personagens, já distantes daqueles 
de outrora (Manoel Dias, Antunes etc.). 

Contudo, senão na caracterização, há algo de viciosamente tipificador na 
análise de Cristiano, Olímpia e Baianinha. Parece haver certa espécie de sumário 
dos dilemas que vivem, dado de antemão pelo narrador de forma a estabelecer 
linhas gerais para sua compreensão. Neste sentido, vale-se de termos animais 
para descrevê-las, sintetizando-as, logo de início, bem ao gosto naturalista. 
Assim, é dizendo que Olímpia e a Baianinha constituem dois tipos de animais 
(sedentário e nômade, respectivamente) que ele analisa o desprezo de uma pela 
outra; ou ainda, ao antever a degradação amorosa de Cristiano, afirmando antes 
de tudo que era “infantilmente, egoistamente amoroso — gato.” (C., p. 31) 

Contrapõe-se a tal análise redutora (gatos, fêmeas sedentárias, nômades) 

a riqueza imagística das relações (extra) conjugais em questão, que enriquecem, 

por sua vez, o liame entre as personagens a partir de seu elo com o passado de 

Cristiano. Observe-se, para tanto, a visualidade das pedrarias da Baianinha, que 

tanto apela à sensibilidade de Cristiano (antes, a seu passado de jovem libertino) 

como se vista pelo prisma daquele castão de prata: 

Sentava-se ali, assinante de cadeira de passagem, a Baianinha dos 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


237 


diamantes, uma irregular fina e gentil sedutora como um pecado 
venial, o que atestavam as joias de faiscante pedraria, de que ela se 
ajaezava como um ídolo bárbaro. E eles se conheciam! Tinham sido 
bons amigos outrora. Entre aqueles diamantes, talvez um par de 
brincos... (C, p. 33) 

Afinal, os brincos que ostenta — entrevistos pelo olhar incerto do amante 
bissexto, já perdido entre o brilho das joias e o brilho da mulher, índices 
intercambiáveis de beleza — são também lavra do Cristiano de outrora. Em 
comparação, Olímpia é fosca, sem brilho (sem beleza, pois); seu vestido é de 
“sedinha escura às riscas brancas, sem rendas caras”, e sua cabeça é ornada 
de “grampos de ouro simples” e de “brincos de pérolas” (C., p. 34). Não há 
mistério, não há fulgor no casamento de ambos. Quando se encontram a sós na 
casinha da Guanabara, apenas um objeto representa sua relação, muito diverso 
daquela bola de prata de sua canne de marche , ligada aos brincos da Baianinha: 
“Cristiano não continuou. Era seco aquilo. Pan! estava partida a cadeia entre os 
dois. A vergonha, a humilhação da culpa implícita afogueou-lhe o rosto. Pôs-se 
a enrolar uma bolinha de pão.” (C., p. 35) 

O último sinal de beleza de sua vida, ou, ao menos, a última prova 

material, visual, de sua sensibilidade artística, é uma gota de lágrima, ou, antes, 

um conjunto delas, rapidamente suprimidas na ópera. Aliás, não era ali que 

iria expô-las, certamente reduzidas ao ridículo em comparação às joias da ex- 

amante. Em casa, onde tudo é fosco, sem vida, é que elas podem cair livremente: 

A tal teimosa lágrima, a companheira fiel das amarguras, assomou- 
lhe, grossa e pesada, às pálpebras. Deixou-a correr, e outra, e mais... 
E sentindo-lhes nos lábios, sob o bigode, a friúra diluente, pensava a 
seu pesar na alegria dos olhos amorosos da Baianinha... (idem) 

De certa forma, não se trata de um final aberto, posto que o inferno 
conjugal é constatado como moto contínuo da vida do protagonista daí em 
diante. Estragado pelos prazeres da alta sociedade e pela própria sensibilidade, 
aberta a todas expressões mais ou menos nevróticas de arte, Cristiano revela- 
se incapaz de operar uma mudança direta em sua vida. 198 Nesse sentido, seria 

198 Em uma de suas crônicas da seção “De Paris” da Gaveta de Notíáas, escrita no mesmo 
período (mais especificamente, em torno de três a quatro semanas após o conto), Domício 
esclarece sua posição a respeito da incapacidade das pessoas sensíveis e instruídas em produ- 
zir algum resultado material na sociedade: “São no entanto estas as que, vendo as cousas de 
alto, podem julgá-las melhor e dirigir quanto é possível a marcha dos acontecimentos. Mas a 
gente das classes superiores tem, pela sua excessiva afinação nervosa, uma ação puramente 




238 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


talvez preferível falar em suspensão da trama ou da vida, como constatação 
da transitoriedade universal das coisas e das pessoas. Mesmo a Baianinha, sua 
última e saudosa recordação, ocupa uma “cadeira de passagem” na ópera (C., 
p. 33). Quem sabe não viria a acabar também, algum dia, o triste casamento de 
Cristiano e Olímpia... 

Em suma, visto em conjunto, “Conto de verdade”, desde o título, 
toma a questão da relatividade dos lamentos sentimentais do protagonista 
(no matrimônio e na arte) como sua maneira particular de levar adiante 
as experimentações do autor com a focalização interna. Em se relevando a 
presença dos ecos naturalistas mencionados, pelo balanço do tema (relatividade 
das relações humanas sob o panorama do intercâmbio das artes e da estesia em 
geral) e da forma (focalização interna variável como responsável por diversos 
desdobramentos na caracterização e na ação das personagens), é possível 
falar em “Conto de verdade” como um conto não apenas majoritariamente 
impressionista (e isso em dois sentidos do termo, enquanto visão de mundo 
de determinado período histórico e também enquanto métier artístico próprio), 
mas também como exemplo privilegiado de estudo das transições da escola 
ficcional naturalista à não-escola impressionista. 199 

O mesmo não pode ser dito indiscriminadamente a respeito do conto 
seguinte, “Alma nova”, ainda que escrito, aproximadamente, no mesmo período 
de “Conto de verdade”. 


negativa, ineficaz, ilusória. Quando um homem muito instruído, muito fino, muito sabedor 
da razão das cousas, quer agir sobre elas, o resultado da sua intervenção é bem diferente do 
que se deveria esperar da sua doutrina.” (GAMA, 1889n, p. 1) Para maiores comentários 
acerca dessa crônica, cf. anexo 2. 

199 Uma posição diversa é a de Luiz Borges (1998, p. 90), segundo a qual “Conto de verda- 
de” e “Só” representam exemplos de contos malsucedidos do autor: “A rotina do dia-a-dia 
na vida de um casal com as suas insatisfações, desde que bem trabalhada, pode produzir exce- 
lentes situações ficcionais. Os atos mais simples da vida podem se tornar imensos e tremen- 
damente simbólicos. Para isso seria necessária a superação da realidade através de uma situ- 
ação dramática convincente. É o que não acontece em Só ou Conto de verdade, por exemplo.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


239 


Alma nova (12/04/1888) 


Dedicado a Coelho Neto 200 e escrito no natalício de Raul Pompeia, 
“Alma nova” pode ser lido como um meio termo entre os preciosismos do 
primeiro e a sensibilidade do segundo . 201 Trata-se do relato emocionado das 
impressões marcantes de uma noite de concerto em uma “casa fidalga e velha”, 
contado em meio a uma conversa informal, entre amigos, que serve de moldura 
à fala relatada do protagonista. Ele, por sua vez, delicado e nevrálgico a ponto 
de perder a audição em meio aos prazeres excessivos do concerto, chega a 
declarar ter perdido sua alma frente ao fantasma de si mesmo (“alma nova”), 
vislumbrado pela música de Domenico Cimarosa, Richard Wagner, Carlos 
Gomes etc. O termo que faz a ligação entre a passagem da vida anterior à 
nova é o da “impressão”, citado textualmente em três momentos do conto, cuja 
ênfase recai inteiramente sobre os graus de evolução da sensibilidade sonora do 
protagonista até chegar ao extremo da surdez. 

A narrativa primeira, moldura da segunda e principal, é apresentada de 


200 Em Contos , há atualização da dedicatória, originalmente “Ao Coelho Netto” (< Contos a 
meia tinta), para “A Coelho Neto”, com certa perda do ar de informalidade da dedicatória 
original. 

201 E lícito destacar que, no momento de escrita do conto, Coelho Neto ainda não havia pu- 
blicado nenhum de seus numerosos livros ( Rapsódias seria publicado no mesmo ano de Contos 
a meia tinta), enquanto Raul Pompeia já publicara diversos textos e exercera forte influência 
sobre Domício (“Um réu perante o futuro” (panfleto político), Uma tragédia no Amazonas (ro- 
mance), As joias da coroa (folhetim), diversos contos, bem como poemas em prosa que viriam 
a compor as póstumas Canções sem metro). Nunca é demais ressaltar que neste momento - abril 
de 1888 - os últimos capítulos de O Ateneu eram publicados na Gageta de Notícias, vindo a 
ser publicados em volume dois meses depois, na tipografia do mesmo jornal, e com revisão 
de Capistrano de Abreu. Sobre o impressionismo literário de Pompeia, diversos autores já 
o salientaram e louvaram ao longo de sua fortuna crítica (COUTINHO, 1978; PLACER, 
1962; dentre tantos outros); já em Coelho Neto, nome central do parnasianismo na prosa, os 
mesmos elementos foram indicados, paulatinamente, como forma de detratar seu purismo 
linguístico e seu domínio do métier parnasiano: “Em um século de crítica social, de renovação 
latente, das bases das nossas instituições; em um século que levou a sua análise até os fun- 
damentos da geometria, que viu pouco a pouco desmontar-se o mecanismo do Estado, da 
Legislação, da Pátria, para chegar aos seus elementos primordiais de superstições grosseiras e 
coações sem justificações nos dias de hoje; em um século deste, o Sr. Coelho Neto ficou sen- 
do unicamente um plástico, um contemplativo, magnetizado pelo Flaubert da Mme. Bovary, 
com as suas chinesices de estilo, querendo como os Goncourts, pintar com a palavra escrita, 
e sempre fascinado por uma Grécia que talvez não seja a que existiu mas, mesmo que fosse, 
só nos deve interessar arqueologicamente.” (BARRETO, 1956, p. 75-76) 




240 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


maneira sumária, além de focalizada exteriormente às personagens: “Monótona 
a voz, num murmurejo plangente, sem inflexão nem calor, o surdo começou.” 
(C, p. 43). Tal qual um boneco de cera, o surdo lastima-se “sem inflexão nem 
calor”, valendo-se de uma voz “monótona” e impessoal. No entanto, nem 
sempre ele foi alguém incolor, desprovido de vida — e o contraste entre estas 
duas primeiras linhas e o título é o que motiva o leitor a prosseguir lendo sua 

estória, cujo início contrasta, ainda uma vez, com o tom de desalento inicial: 

À roda do piano éramos alguns homens e mulheres, com ainda 
mocidade bastante para gozar da vida a poesia e o belo. Folheando 
as pastas e conversando de música revivíamos pela memória as 
horas felizes que a saudade mais doces torna num passado longe, 
longe, como um eco de cantiga perdido entre quebradas. A casa era 
fidalga e velha; a sala, ornada severamente, tinha pelas paredes de 
púrpura sombria retratos sobre molduras suntuosas, cujo dourado 
se avermelhava, de antigo. Havia sombra e frio, a música era um 
aconchego e havia muita música, (idem) 

A indefinição do grupo ao redor do piano aponta para a atmosfera de 
prazer e de vago esquecimento evocada à mercê da música, presente desde 
as pastas folheadas pelos “homens e mulheres” até a analogia da comum 
rememoração do passado enquanto “eco de cantiga perdido entre quebradas”. 
O ambiente da casa contribui para o luxo do abandono à memória, estando 
todos indolentemente dispostos em meio a “paredes de púrpura sombria” e a 
“molduras suntuosas”. O calor da casa, por oposição ao frio de seu exterior, 
reforça a doçura da lembrança, demandando maior estranhamento do leitor — já 
ciente do desfecho trágico da narrativa. 

À primeira vista, por conta de todos estes elementos, poder-se-ia 
conjecturar acerca de certo decadentismo de Domício, espalhado aqui e ali em 
sua obra, e mais concentrado no conto em questão. De fato, o caso inusitado de 
um surdo por excesso de estesia parece evocar algumas das estórias decadentes 
de João do Rio, muito posteriores à escrita de “Alma nova”. Não seria surpresa 
se um texto parecido constasse de uma coletânea como Dentro da noite, ao lado 
de contos emblemáticos como “O bebê de tarlatana rosa” e “O carro da Semana 
Santa”. 202 Porém (como indicado já na análise de “Um primitivo”), tal asserção 


202 Há, aliás, semelhanças interessantes entre “Alma nova” e um dos contos do volume 
indicado, intitulado “A noiva do som”. Nele, uma jovem neurastênica é enleada a tal ponto 
pelos sons de um piano vizinho que morre em meio ao “paraíso” dos arcordes: “Ah! O gozo 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


241 


seria apressada (embora não desprovida de validade), 20 ’ uma vez que a ênfase 

recai sobre as impressões do protagonista e sobre a íntima relação entre música 

e vida , 204 a partir de suas lembranças daquela noite. Veja-se tal nuança no trecho 

seguinte, que faz transitar das canções executadas pelo grupo a algo descrito 

como vibração íntima do protagonista às suas sugestões: 

Cantou-se uma arieta de Cimarosa e logo, a quatro mãos, tocou- 
se um concerto de Weber. Tocaram bem e com ardor, mas na 
vulgar execução musical eu já começava a ressentir alguma coisa 
além da melodia e da harmonia, além da música propriamente dita. 
Era certamente o cansaço da variedade das composições que, me 
impressionando e excitando diversamente, causava-me uma afinação 
excessiva. O caso é que eu vibrava todo como numa febre de emoção 
musical e sentia no coração opresso a estalar a ânsia de cantar, eu só. 


do som! Os seus nervos sensíveis chegavam ao pranto, ao soluço, ao sorriso, como hipnotiza- 
dos. Cada nota já lhe exprimia um sentimento; os trechos repetidos pelo artista ela os seguia, 
adivinhando acordes, adivinhando sons, como se fizesse o exame da sua alma de amorosa, e, 
de cada vez, mais maravilhada ficava, bebendo a pleno trago o delírio, a morte, o êxtase da 
música encantada. Decerto, ninguém, ninguém no mundo amava, sentia-se ainda com esse 
sagrado e impalpável amor.” (RIO, 2002, p. 91) As semelhanças são muitas, e mereceriam 
um estudo pormenorizado, à parte. Todavia, percebe-se de início a diferença essencial no 
tom dos dois textos, modulado pela diferença das vozes narrativas empregadas. No conto 
de Domício, por exemplo, a presença de um narrador autodiegético, apoiado unicamente na 
memória de suas impressões, segue no rumo inverso à impessoalidade nonchalante do barão 
André de Belfort, protagonista rico e afetado dos contos de Dentro da noite , cujas experiências 
e opiniões são relatadas por um embevecido e parcial narrador homodiegético. Ademais, o 
luxo passado, vivido pelo surdo no ápice de sua vida musical, contrasta com o luxo presente 
“na sala malva, a sala das recepções íntimas, das conversas leves em torno da mesa do chá”, 
e com as personagens ociosas do high life carioca - Mme.de Sousa, “linda no seu teagoiv cor 
de pêssego”; Mme. Werneck; “a sisuda viscondessa de Santa Maria”; e “nós, eu e o barão 
Belfort” (idem, p. 87). 

203 Tal é a opinião de autores como Michel Décaudin (1960), para quem o impressionismo 
literário engendra, por si só, uma possível filiação decadentista. Mais especificamente, ele lhe 
parece fadado a duas alternativas: “Tantôt il vire au simple pittoresque et sdpparente à la branche 
mineure dit Vam asse qu’illustrent les dixains réa listes de Coppée [...]. Tantôt, il sdttache à rendre les 
nuances les plus subtiles et les plus raffinées de la sensation; il rejoint alors certaines formes de la sensibilité 
decadente naissanteP (DÉCAUDIN, 1960, p. 139) Neste sentido, o conto “Alma nova” seria um 
bom exemplo para a terminologia do autor (voltada, originalmente, à poesia francesa), muito 
obstante não seja este o enfoque de análise aqui proposto. Afinal, explicar os elementos im- 
pressionistas de um texto a partir de “certas formas da sensibilidade decadente” pode soar 
(programaticamente?) limitado. 

204 A íntima relação entre o impressionismo literário e a música é explorada exaustivamente 
por Ruth Moser (1952), que dedica todo o capítulo dedicado à literatura em seu livro L’®- 
pressionnisme français a tal questão, remetendo à música da poesia ou ao ritmo entrecortado 
da prosa. Para uma breve resenha do livro de Moser (1952), bem como de outros textos, cf. 
anexo 1. 




242 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


humilde voz solitária, o hino retumbante da harmonia sem fim. (C., 
p. 44, grifo nosso) 

O termo médio é o da impressionabilidade excessiva, assinalada pela 
sequência ininterrupta de músicas tocadas (ainda que os compositores citados 
no trecho equivalham àqueles do conto todo — Cimarosa, Weber, e, a seguir, 
Carlos Gomes, a propósito de sua ópera Joana de Flandres ou a Volta do Cruzado), e 
que, apesar da “vulgar execução musical”, parecem relembrar o protagonista de 
“alguma coisa além da melodia e da harmonia, além da música propriamente dita”. 
Embora tal passagem evoque algo das lembranças involuntárias proustianas, o 
narrador tenta entender racionalmente a causa de seus enlevos, atribuindo tudo 
ao “cansaço da variedade das composições”. Reconhece, porém, a peculiaridade 
de seu estado febril, que não o convence de uma causa natural tão imediata 
quanto a que supõe. Assim, o hiato que permeia a banalidade refinada da 
reunião aponta para um abismo desconhecido, apenas entrevisto pelo narrador, 
sugerindo um elemento fantástico que será explorado mais tarde. Tal como uma 
corda musical, o protagonista vibra de acordo com as sugestões das músicas. 
Desaparecem os limites de recepção das peças musicais, sendo absorvidas in 
nuce por meio de uma hiperssensibilidade doentia, não partilhada pelos demais. 
Trata-se, ao que tudo indica, do vislumbre particular do que há de subjetivo não 
apenas na representação do real, mas do que há de real na sensação, mediando a 
ponte que vai da focalização interna (e dos efeitos fantásticos que irão decorrer 
das confusões cognitivas) às correlações fisiológicas entre os sons e as palavras 
(por meio da rara afinação entre sensibilidade e impressionabilidade). 

A seguir, agravam-se os devaneios do narrador ao reviver o enredo da 

ópera de Carlos Gomes, que lhe vai alma adentro através da “retina psíquica”: 

O alto clangor das trombetas dizia tudo isso e mais ainda o 
que eu não podia entender: modulações singulares de sentimentos 
peregrinos, de expressão fugitiva, como pelo espelho turvo da 
percepção a sombra fugaz de uma asa de andorinha brincando, 
passando, riscando na retina psíquica o traço idistinto de que em 
breve a memória extingue-se e só fica a submemória informe e vaga, 
indecifrável. Aferrei-me à decifração das modulações cambiantes e 
em breve senti na percepção a incerteza para discriminar o reflexo da 
impressão direta, a sensação primitiva das suas ressonâncias infinitas 
e ecos reboando ainda pelos recantos do cérebro quando já vinham 
novas ondas de som mudar a afinação interna. (C, p. 45, grifo nosso) 

Percebe-se a inflexão das vibrações musicais na sensibilidade do 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


243 


protagonista, traduzida em termos de “impressão” (termo retomado pela 
segunda vez, após sua incidência mais ou menos imperceptível sob a forma 
verbal anterior). A fugacidade dos “sentimentos peregrinos”, os rasgos 
indistintos da “asa de andorinha brincando”, a passagem gradual da memória à 
“submemória informe e vaga”, tudo parece apontar para um fenomenismo que 
se dá à sensibilidade em termos de destruição da individualidade. A sucessão 
de notas escraviza o protagonista, distanciando-o dos demais personagens. 
É o que se depreende, ao menos, da sucessão rápida de frases coordenadas, 
de orações reduzidas, da quase ausência de verbos de ação que se refiram 
especificamente a si, e não às ondas de som. Presa ao fluxo das impressões, a 
reflexão do narrador não consegue acompanhar sua velocidade, sugerindo um 
não lugar entre o passado da diegese e o presente da narração, que se assemelha, 
talvez, à “submemória” de que fala (projetando uma “subnarração” incapaz de 
transcrever, momento a momento, cada sensação experienciada). 

Assim, “tudo faz pensar que o impressionismo e o fenomenismo 
literário”, nos moldes que aqui se apresentam, “sejam a resposta propriamente 
literária a um estado da questão que põe em jogo menos a representação do real das 
sensações que a representação desta representação .” (VOUILLOUX, 2012, p. 19, grifos 
do autor) 205 Ou seja, trata-se da transposição malograda da representação de 
uma arte para outra — no caso, da música à literatura — por um narrador que se 
vê desprovido, gradualmente, de autocontrole. Como diz, a seguir, ele sente “na 
mente a fadiga perturbadora de quem contemplando o céu estrelado não sabe 
se é azul negro o céu pingado de ouro”, confundindo as cores entre si; ou ainda, 
de quem vê “sobre a faiscação atenuada ao infinito de uma longínqua abóbada 
de chama remexe[r]-se sem cessar um formigueiro de estrelas desvairadas.” 
(idem) No limite da percepção (e da compreensão, pelo que se depreende o 
traço fantástico do conto), o narrador passa, assim, a vacilar na crítica de suas 
impressões — e vê o fantasma de si próprio, ou a “alma nova” destacada da sua, 
feita toda ela de música: 

Assim entrei a vacilar na crítica das minhas impressões. Depois o 

terror de não poder mais dominar-me acabou de me desmontar. O 


205 “[...] tont donne à penser que 1’impressionnisme ou le phénomenisme littéraire est la réponse proprement 
littéraire à un état de la question qui met en jeu moins la représentation du réel des sensations, que la repré- 
sentation de cette représentationP (VOUILLOUX, 2012, p. 19) 




244 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Concert-stuck tinha acabado e Maria Flora cantava... Não sei o que 
cantava de dolente e fundo e sombrio para afogar-me em luto e 
desolação. A mesa de ébano brilhante do piano mostrava-me no 
fundo de treva alucinante um fantasma lívido chorando. Chorando, 
suando lágrimas de desespero, na agonia da substituição de uma 
individualidade por uma forma vã. Entre os traços convulsionados 
daquele rosto miserável alguns eram meus, já poucos e pouco firmes, 
destruídos pela corrosão da sombra. Não sei como direi, mas o 
fantasma vago e trêmulo que me roubava a forma era feito de som, 
de música. Tomou-me a angústia de não poder viver mais dentro 
de mim, livre dos sentidos aloucados. A dispersão da existência 
reflexiva enfraqueceu-me para sentir uno. (C, p. 45-46) 

A atmosfera de dispersão da individualidade a partir da execução de peças 
musicais sugere uma série de outros textos do mesmo período, e haveria muito 
que dizer a esse respeito, talvez em detrimento da leitura específica do conto 
em questão . 206 Não obstante, é curioso destacar que a (frágil) autoconsciência 
do narrador é mediada pelo reflexo de seu rosto (do fantasma) no ébano do 
piano, superfície que atua a um só tempo como causa e consequência de sua 

loucura momentânea. Por sua vez, o desfecho que se irá propor, logo a seguir, 

decorre de uma tentativa de limitar o assunto decadente do texto — a surdez, 

exteriorizada em um fantasma feito de som — a um métier impressionista, 

restritamente psicológico e sensorial: 

Depois os retratos das paredes começaram a viver e a falar-me, a 
cantar, com acompanhamentos diferentes que eram os coloridos de 
cada pintura, harmonizados os ritmos e tons, cores em som, num 
conjunto de enlouquecer. Um carro passando à disparada pela rua 
parou de repente, como se o silêncio o engolisse. O fantasma lívido 
do meu eu em decomposição desfez-se subitamente e no buraco 
de sombra que ele deixou achei-me debruçado, soluçando... e sem 
ouvir os meus soluços. Dizem que desfaleci e quando tornei a mim 
estava surdo. (C, p. 46) 

Neste sentido, não seria exagerado fazer uma leitura do impressionismo 
literário neste momento da obra de Domício como um recorte psicologizante 
da velocidade dispersiva da vida cosmopolita e moderna, em que se fundem 
os sons do piano aos de um carro em alta velocidade, mediante a justaposição 
infinita de uma correspondência universal dos “coloridos de cada pintura”, à la 


206 Uma leitura comparativa entre o presente conto e A confissão de Lúcio, de Mário de Sá- 
-Carneiro, seria bastante proveitosa, embora escape de todo ao propósito da presente dis- 


cussão. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


245 


Baudelaire, tomando “harmonizados os ritmos e tons, cores e som, num conjunto 
de enlouquecer.” Trata-se de um recorte possível do impressionismo literário, 
registrando aquilo que há de unicamente sensorial no texto. Para tanto, note-se a 
segmentação da consciência do protagonista, focalizado internamente, e que só 
conhece certas particularidades da cena pelo que lhe “dizem” posteriormente; 
ou ainda, o desaparecimento súbito do carro em disparada “como se o silêncio 
o engolisse”, imediatamente paralelo à surdez do protagonista. 

Neste estágio em que se encontra a obra do contista, postada imediatamente 
entre “Conto de verdade” e “Outrora...”, seria escusado apontar a parcialidade 
do problema, entendido em termos de (hiper) estesia individual. Não obstante, 
esta é a leitura de alguns críticos, para quem tal orientação sensorialista constitui 

o cerne, e único ponto possível, de manifestação textualmente impressionista: 

Sensualidade da arte: eis o elemento essencial, a fonte viva do 
Impressionismo, o ponto de encontro de todos os escritores desta 
escola, a fórmula que explica suas obras. [...] Prazer dos olhos, das 
orelhas; de todos os sentidos e do espírito, pelas cores, perfumes, 
sons e palavras. Prazer agudo, em harmonia com a nervosidade, 
a trepidação, a rapidez cinematográfica de nossa época. [...] 
Sensualidade que determina não apenas uma visão nova do mundo, 
mas também um novo estilo, uma sintaxe de jazz-band em que as 
palavras, aqui e ali, chispem clarões elétricos e lacerações de buzina. 
(LAMANDÉ, 1925, p. 36-37) 207 

Obviamente, não se trata apenas de ler individualmente os contos, mas 
também de identificar sua posição no lento amadurecimento do impressionismo 
literário do escritor. Neste momento, pois, há como que uma convergência entre 
as impressões do narrador e a correspondência (aparentemente decadente) 
entre música e percepção visual, que faz evocar a anterioridade das “vibrações” 
das cordas do piano à vibração da luz (enquanto origem física dos efeitos 
coloridos sobre a retina ). 208 Assim, a música excessiva executada por Flora serve 

207 “Sensualité de l’art: voilà bien le trait essentiel, la source vive de 1’Impressionnisme, le pointde rencontre 
de tons les écrivains de cette école, la formule qui resume et explique leurs oeuvres. [...] Plaisir desjeux, des 
oreilles; de tous les sens et de 1’esprit, par les couleurs, les parfums, les sons et les mots. Plaisir aigu, en har- 
monie avec la nervosité, la trépidation, la rapidité ánématogrcphique de notre époque. [...] Sensualité qui dé- 
termine, non seulement une Vision nouvelle du monde, mais aussi un style nouveau, une syntaxe de jag^band 
ou les mots jettent, de place en place, des éclairs ékctriques, des déchirements de clacksonsP 

208 Em seu discurso de posse da cadeira 33 da ABL, Domício reconhece a validade do 
pensamento de Pompeia sobre a questão, contrapondo à “teoria das vibrações” o tratamento 
literário do claro-escuro de sua psicologia individual: “Na sua meticulosa honestidade de 
poeta pensador Raul Pompeia descia sempre ao que julgava ser os fundamentos inabaláveis 




246 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de contraponto subjetivo à surdez do protagonista, visando suprir a falta de 
domínio do narrador sobre a perda literal de um de seus sentidos. Aliás, “uma 
das funções da música na ficção é a de fazer o papel de signo na ausência de 
significado: ela aparece quando se busca exprimir o que as palavras não dizem, 
particular mente o que é da ordem do sentimento, sensação, êxtases, afinidades.” 
(JAMAIN, 2000, p. 551) 209 Como mencionado anteriormente, o desnível entre 
o assunto decadente e o métier impressionista do texto parece ofuscar tal uso 
contrapontístico da música, favorecendo uma leitura parcial do texto, voltada 
apenas para seus traços mais expressamente decadentes. 

Ao menos, é para onde aponta a leitura do conto até sua conclusão, 

em que o fim da narrativa emoldurada do surdo depara-se com um grotesco 

diálogo entre si e um de seus ouvintes: 

Sala sombria, retratos antigos, velas de cera em candelabros dourados, 
homens de preto em silêncio e uma mulher pálida cantando junto a 
um piano, que é um microcosmo de fantasmas dolentes, um choro 
dilacerante de coisas que se não exprimem, começa a ser o núcleo 
estranho do que será minha alma futura. Não sou surdo...” 

Um dos ouvintes, maldoso, tocou no braço do orador 
e silabou em frente dele, acentuando a emissão dos sons: 


da ciência. Um dia encontrei-o que estudava a teoria das vibrações. ‘Neste estudo encontro 
eu toda a estética e a própria vida’, explicava ele, ‘porque a arte reproduz vibrações, e vibrar é 
viver.’ [...] Em outro poeta se levaria à conta de extrema mocidade este lirismo sombrio e tu- 
multuoso. Em Raul Pompeia, porém, o estilo é característico e também se poderia dizer que 
nele havia de durar sempre a mocidade, se é próprio da mocidade sentir vivamente e exprimir 
sentimentos com intensidade proporcional à da sensação. Nem se diga que é fácil produzir 
efeitos literários no claro-escuro prestigioso da [sic] uma psicologia incerta, em que o poeta 
tudo cria: as pessoas e o meio favorável a situações e sentimentos improváveis.” (GAMA, 
2005, p. 52, 54-55) E lícito destacar que o mesmo termo de “vibração” foi utilizado, dentre 
outros, por Jules Laforgue (1903) para explicar as inovações do impressionismo pictórico. 
Porém, ficando apenas no citado Lamandé (1925, p. 13), bastaria a seguinte passagem para 
enfatizar a natureza subjetiva da cor, dada por meio de suas vibrações na retina: “La couleur 
n 'est pas une qualité attachée aux objets. Ce n 'est pas le mur qui est blanc, ce n 'est pas la prairie qui est verte, 
ce n’est pas 1’épaule qui est nacrée. Le mur, la prairie, 1’épaule, émettent des vibrations que notre oeil perçoit 
et traduit en couleurs. Autrement dit, la couleur est une suite de vibrations, d’ondes lumineuses qui, impres- 
sionnant notre retine, j éveillent des sensations colorées. Chacune des couleurs du spectre, - comme chacune des 
sept notes musicaks, - est donc une somme de vibrations se propageant par ondes, et ces ondes, s’ajoutant, se 
groupant, se superposant, mais ne se mêlant pas, forment, par leur jeu, la gamme infinie des couleurs et des 
nuancesP 

209 “Lime des fonctions de la musique, dans la fiction, est de jouer le rôle de signe, au nom de la vacance de 
son signifié: elle apparaít lorsqu il s’agit d’exprimer ce que les mots sont impuissants à dire, particulièrement 
ce qui est de 1’ordre du sentiment, de la sensation, les extases, les affinités .” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


247 


- Então se não foi surdo o que tu ficaste, foi maluco... 

E ele murmurou, sorrindo tristemente: 

- Foi... talvez!... (C., p. 46) 

Tal desfecho pseudofilosófico do conto, em completa quebra de 
atmosfera perante a narrativa emoldurada anterior, desdiz em parte os avanços 
de “Alma nova” rumo a uma prosa impressionista mais coerente, se comparado, 
por exemplo, a “Conto de verdade”. Ademais, a brevíssima conversa entre o 
surdo e um de seus ouvintes parece ter como única função a de banalizar os 
termos até então alternantes da surdez e da loucura, arrematando a exposição 
do narrador intradiegético com um reticente “talvez!...” Basta assinalar, para 
além do desfecho pseudojocoso, o uso enclausurado da expressão individual 
da consciência do surdo dentro de uma narrativa primeira, banal, como causa 
fundamental do (evidente) desajuste entre forma e conteúdo. 

Por outro lado, faz-se necessário reconhecer também, por entre as 

pseudofantasmagorias narradas, a apropriação parcial de três elementos comuns 

à ficção impressionista, como indícios de uma prosa mais madura: 

(1) quebrar uma cena ou situação em partes menores e relacioná- 
las a um novo conjunto, processo que Herbert Read chamou de 
“levantar o prisma à natureza”; (2) reconhecer que uma impressão 
mais verdadeira da atualidade pode ser garantida por uma ênfase 
em elementos salientes e uma omissão de detalhes não relacionados 
com o efeito ou atmosfera particular a ser criada; e (3) uma convicção 
de que a escrita não necessita restringir-se à apresentação de um 
personagem, cena ou episódio conforme eles o sabem , mas podem 
apresentá-los conforme veem ou sentem , num dado momento e sob 
dadas condições. (HIBBARD; FRENZ, 1954, p. 1110) 210 

No que diz respeito a (1), pode-se destacar a relativização das canções 
executadas, bem como dos sons e objetos percebidos, sob o prisma da surdez 
(ou loucura) iminente do protagonista; a (2), o uso afirmativo e teórico (antes, 
pseudofilosófico) da experiência narrada, que enfatiza os limites cognitivos do 
narrador intradiegético; e a (3), a riqueza sensual e sensorial da hiperestesia 
que embasa o conto — entendida, infelizmente, em termos de uma loucura 


210 “Three things writers learned from the impressionistic painters: (I) to break a scene or a situation into 
small parts and relate thern to the whole aneiv, ivhat Herbert Read called “holding the prism up to nature”; 
(2) to know that a truer impression of actuality may often be secured by an emphasis upon salient features 
and an omission of details unrelated to the particular effect or mood to be created; and (3) a conviction that 
writing need not restrict itself to presenting a character or a scene or an episode as they know it but that they 
may present their material as they see, or feel, it at a particular moment and under particular conditions.” 




248 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


passageira. 

Em suma, os progressos parciais de “Alma nova” continuam a lógica de 
uma como que “timidez” narrativa, característica de seu impressionismo do 
“meio termo” (chamado também, alhures, de “impressionismo diplomático”). 
Avançar dois passos e recuar um não soa, de todo, um avanço. Não obstante, o 
mesmo ocorre em “Outrora...”, conto claramente de transição para aquele que 
virá complementar, finalmente, o impressionismo de “Conto de verdade” com 
uma nova visada narrativa (“Possessão”). 

Outrora... (06/1890) 

A rigor, “Outrora...” não apenas não pode ser classificado como 
impressionista, como também pode ser visto como exemplo por excelência 
de conto anti-impressionista, indo na contramão de tudo aquilo que poderia 
ser dito a favor de tal classificação. Isto ocorre devido à presença de elementos 
que poderiam indicar os dois sentidos usuais de impressionismo literário 
(“comparatista”, “narrativista”), prontamente contraditos ora pelo enxerto de 
comparações imotivadas em meio às memórias de infância do protagonista 
ora pela interposição frequente de um narrador extradiegético, que resume e 
arremata as recordações do bacharel João da Matta com a desculpa (já gasta pela 
repetição) de uma loucura momentânea. 211 

O enredo pode ser resumido em poucas palavras: João da Matta, bacharel 
recém-formado, volta à fazenda paterna após um interlúdio de 1 2 anos. Em meio 
à longa viagem de volta no lombo de uma “mula viageira” (C., p. 82) chamada 
Estrela, bem como debaixo de uma paisagem pobre e indistinta, encontra 
pelo caminho um velho poeta a quem não via há vinte anos, José Ramos, que 
prontamente lhe descortina na memória cenas de sua primeira infância. Durante 
a noite, em meio a delírios febris, julga ouvir as antigas canções executadas pelo 
velho em sua “rabeca esganiçada e rouca” (C., p. 88), antes de ser socorrido 
pelo pai. Tudo se explica da maneira mais imediata possível: seja por sua pouca 

211 Apesar de tais repetições, “Outrora...” gozou de uma maior divulgação dentre os con- 
tos do autor, constando da coletânea alemã Brasilische prosa , organizada por Clemens Bran- 
denburger (1917). É, assim, conto mais “antológico” que “Conto de verdade”, embora muito 
menos sofisticado. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


249 


idade (24 anos) seja pela falta de hábito em trotar sob o sol severo do interior, 
“amolecido e sacudido pelo cansaço das longas jornadas” (C, p. 82), João da 
Matta caíra vítima de uma forte febre e julgara ver e ouvir José Ramos, na 
estrada e em casa, sem saber que o poeta “tinha morrido há mais de dez anos” 
(C, p. 90). Tal equívoco é relatado pelo bacharel, tempos depois, em uma “roda 
de letrados” (idem), e o episódio é entendido em termos de um deslocamento 
temporário da razão pela loucura da febre. 

A princípio, parece mesmo irônico o fato de sofrer um personagem 
chamado João da Matta de delírios febris provocados pelo sol, como se algo 
estivesse deslocado em sua caracterização, que faria pressupor um contato 
direto com a natureza. De fato, o desnível entre sua origem rural e seus hábitos 
citadinos ou “letrados” acompanha uma visão empobrecedora e unilateral das 
relações sociais no Brasil oitocentista. De qualquer forma, o retorno do herdeiro à 
fazenda paterna, acrescida da saudação servil dos escravos que passam saudando 
os dois senhores, pai e filho, ocorre em meio a um duplo “apagamento”: de um 
lado, a exploração do solo e dos escravos, que torna a paisagem monótona e 
opressiva, é revisitada em termos do reencontro saudoso de um jovem com o 
espaço de sua infância; de outro, a imprecisão da memória, conturbada pela 
febre, desculpa até certo ponto a visão estereotipada (e incompleta) do passado, 
fazendo com que os tempos de outrora sejam projetados no presente, num 
contínuo aparentemente natural e estranhamente repetido, de lá para cá, em 
termos de devaneio, coincidentemente não revistos. Há, pois, uma via de mão 
dupla nos desvios do impressionismo literário neste conto que necessita ser vista 
com certo vagar, muito embora os termos gerais por ela suscitados prevejam 
um conjunto binário, deslocado (e negativo). 

No que toca à negação de um impressionismo literário transposto do 

pictórico, dois elementos centrais podem ser indicados: a pobreza imagética 

do ambiente, que serve de pano de fundo praticamente indistinto à trama; e a 

presença de comparações enxertadas e claramente “literárias” nas hipotiposes 

que buscam descrevê-lo. Sobre o primeiro, observe-se a nulidade do descampado 

por onde segue o protagonista: 

E o resto da viagem uma sucessão interminável de voltas de 
caminho, desenrolando-se em paisagens pouco variadas: por trás 
da cerca forrada de trepadeiraas salpicadas de campânulas roxas e 
alaranjadas, a casinha de palha e barro, com o seu coqueiro e as suas 




250 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


bananeiras no canto, as laranjeiras carregadas de frutas amarelas, 
sobre um fundo de montanha sem caráter... (C, p. 82) 

Ou ainda, a presença fantástica de José Ramos em meio à estrada, 

“confundindo-se quase com a cor da erva seca, sobre a qual as suas roupas 

tristes e a sua posição prostrada não faziam vulto” (C., p. 83), em que se destaca 

mais o delineado típico e caricatural que sua própria figura: 

Analisado, era uma bela academia de velho, enrugado, emaciado, 
encanecido, uma cabeça dolorosa e um grande corpo ossudo, 
acusando-se em linhas violentas, quase trágico, por baixo das roupas 
remendadas e sem cor. No todo era uma mancha parda, em que, 
desde os pés poeirentos calçados de alpargatas até o rosto exangue 
e terroso, aos olhos de uma tinta indecisa, amortecidos e a meio 
ocultos sob as pesadas pálpebras rugosas, notava-se o desbotamento 
absoluto de toda a cor cantando as alegrias de viver, sentia-se a 
poeira das jornadas sem conta sob os sóis implacáveis, a sombra e o 
tisne das longas invernadas ao pé do fogo nos pousos, a passagem 
eloquentemente silenciosa dos anos... (C, p. 83) 

Parece escusado lembrar que o predomínio da linha e do desenho 
sobre a cor, bem como o uso do chiaroscuro e da sombra, indicam uma tradição 
pictórica renascentista muito diversa daquela inaugurada pelo impressionismo. 
Igualmente, a insistência em elementos típicos e descaracterizados, como a 
tipicidade de diversas “montanhas sem caráter” ou de “uma bela academia de 
velho”, desdizem a imediaticidade da visão em prol de um conhecimento prévio 
dos objetos, antepondo a representação à experiência sensorial. Em ambos os 
trechos, percebe-se, assim, um mesmo tratamento beletrista, concertado de 
antemão, que faz lembrar, pela insistência em elementos imagéticos tão pobres, 
na art pompier dos salons. 

Sobre o segundo elemento mencionado (comparações enxertadas e 
“literárias”), há também diversos exemplos. O mais significativo é o do delírio 
febril e verboso de João da Matta, em que o narrador se distancia da cena para 
evocar um delírio correspondente de imagens, suscitadas pela suposta cultura 
livresca do bacharel: 

O alarido silencioso de um drama horrífico passava pelo ar. João da 
Matta sentia-lhe os ecos pavorosos no cérebro percutido por baques, 
choques, golpes surdos, ais, suspiros de agonia, choros dilacerantes, 
e, pior do que tudo, a ânsia ofegante das fadigas sobre-humanas e a 
espaços um som que o gelava de horror, um han inexprimível, como 
de peitos de titãs esmagados sob o desmoronamento dos céus. (C, 
p. 87) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


251 


A presença de titãs nos céus da fazenda soa tão despropositada quanto 
os muitos quadros de odaliscas, ninfas e deuses expostos anualmente nos salons 
de 1860 e 1870. Igualmente, a pobreza primitiva do meio escravocrata serve 
quase de contraponto caticatural aos altos preços atingidos por tais quadros, 
recompensados também com medalhas e com o cobiçado Prix de Rome (já desde 
seu título ligado à tradição clássica). A transposição da pintura à literatura, neste 
sentido, não poderia ser mais equivocada. 

Igualmente, no que toca a um impressionismo mais propriamente literário, 
i.e., em que as inovações formais da pintura se adequem ao meio narrativo 
(ora pelo registro direto da consciência de uma ou mais personagens ora pela 
consciência mais ampla dos limites da linguagem e do aspecto enunciativo da 
narração), observa-se a interposição nociva de um narrador heterodiegético que 
resume as cenas e tira conclusões desde o primeiro parágrafo. É o que ocorre 
na reincidência do “intróito filosófico” como incipit teórico: “As emoções da 
volta à casa paterna tem sido desmoralizadas pela exploração literária. Hoje 
é preciso ser um coração simples ou um espírito forte para senti-las com 
pureza e sinceramente, sem disfarces nem adulterações.” (C., p. 81) Tal recurso 
chega mesmo a assumir um caráter anacronicamente romântico ao término da 
digressão, ainda no segundo parágrafo: “Sentimento personalíssimo, de uma 
pungência motivada, romantismo à parte. [...] Sem falar no enternecimento de 
quem torna a encontrar-se — e quão mudado! — dentro do horizonte dos seus 
primeiros dias, que não mudou.” (C., p. 82) 

O mesmo ocorre também em passagens esparsas em que o narrador 
sumariza a vida interior de João da Matta em poucas e inconclusas palavras: “Na 
sua memória ficava tudo confuso, mal impresso, como as entrevisões de sonho” 
(C., p. 82). Ou, ainda, na refutação da dinamicidade do tempo, ignorando o papel 
mediador da memória do bacharel sob a interpretação de um fluxo contínuo do 
passado rumo ao presente: “Como ele conhecia aquilo! como ele sentia idêntica 
a impressão daquela casa soturna hoje, soturna há vinte anos!” (C., p. 85); “era 
a noite de outros tempos, a mesma luz, os memos sons, os mesmos aromas e a 
sua agonia era de senti-la tão assim.” (C., p. 89) 

O descaso pelo fluir do tempo e da memória é retomado no diálogo final 
entre João da Matta e o “Tempo”. Personalizado em uma entidade algo próxima 




252 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a José Ramos, o “Tempo” é invocado pelo bacharel como único defensor contra 

a incapacidade de amar-se a si próprio: 

Lembralham-lhe as histórias de encantamento e com uns gestos 
de lógica a guiá-lo entre escuridão da loucura, começou a implorar 
ao Tempo a sua liberdade daquele tormento, ao Tempo que se 
encarnara no velho menestrel. [...] - Velho, socorro! Livra-me desta 
miséria de não ser eu quem sou! Tempo, que tudo fazes, que tudo 
podes, muda-me no que devo ser. Faze-me mais novo ou mais 
velho... mais novo e mais velho... diferente... mas harmonizado o 
corpo com a alma! Transforma-me, poeta... para que eu não sofra 
mais esse tormento de não me amar! (C, p. 89) 

Neste sentido, a negação dos dois tipos possíveis de impressionismo 
literário respeita a lógica anteriormente mencionada do duplo apagamento das 
relações sociais sob a desculpa piegas da falta de harmonia entre corpo e alma, 
ou da crise identitária do protagonista, que nada demonstra de conflitivo tanto 
antes do retorno à fazenda quanto depois de sua convalescência, em meio aos 
amigos, já no Rio de Janeiro. À falta de conflito individual equivale a falta de 
conflito social, bem como a aceitação conveniente das relações de mando pelo 
filho de um senhor rural, uma vez que, em meio ao delírio, este mesmo José 
Ramos que simboliza o Tempo — e a oportunidade de encontro do bacharel 
com a felicidade — é aquele que canta uma canção “de cortesia” em sua rabeca, 
“com um sentimento antigo de hombridade nas relações entre o pobre e o 
rico. 0 pobre de pé no chão / também é filho de Deus. Era bem aquilo. Sem azedume, 
lembrando ao rico o seu dever — pagar-lhe-ia em canções o agasalho.” (C, p. 
88, grifos do autor). Ou seja, ao assistencialismo declarado dos grandes, deve 
seguir-se a obediência cega e moralmente legítima dos pequenos, entendida em 
termos de “hombridade”, muito embora subentenda a emasculação completa 
do velho, que outrora lhe parecera, de fato uma “mancha parda” no caminho 
de terra. 212 


212 Assim, não há uma reflexão aprofundada sobre as relações de trabalho e de exploração 
no meio rural, focando-se o narrador unicamente no drama da volta do filho à casa paterna: 
“Ainda não há em Domício da Gama o aparecimento do campo como lugar onde ocorrerão 
conflitos. Conflitos de terra, conflitos humanos, conflitos entre famílias. A ficção regionalista 
do final do século XIX, que já apresentava o campo como o espaço de tensão, mostra que o 
autor, caso oponha cidade x campo, o fará para revelar a singeleza da personagem campestre 
e a confusão interior da personagem urbana. O campo não produz aqui também a figura 
do trabalhador rural, o camponês que virá a preencher as páginas da literatura brasileira, 
utilizado para mostrar a faina agrária e / ou o conflito entre latifundários e o campesinato.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


253 


A canção dejosé Ramos parece ensejar o devaneio central do protagonista, 
muito embora reconheça João da Matta, ao fim do conto, a anterioridade de seu 
estado febril, já na viagem de mula: “- O José Ramos, menestrel, não existia. 
Quando o vi sentado, à beira do caminho, já era a febre que me trabalhava. 
Tinha morrido há mais de dez anos [...]. Foi o meu delírio que o idealizou...” (C., 
p. 90) Não obstante, pela centralidade de sua figuração tanto como deflagrador 
das lembranças de infância quanto como mediador da harmonia futura entre 
o corpo e a alma do jovem, pode-se dizer que a subserviência do velho poeta 
e a pobreza de sua canção como que servem de legitimação, embora falha, 
para o reencontro impossível, a nível pessoal, da ingenuidade ou felicidade dos 
tempos de criança, posto que já contaminados pelo mando e pela força bruta 
da escravidão. A morte do pobre menestrel é, afinal, apenas um espectro, ou, 
quando muito, um episódio passageiro na vida do bacharel, que em alguns dias 
se recupera da febre, e volta aos lazeres comuns, já com a fama de “filósofo do 
grupo”, ao dizer banalidades como: Pois a loucura não é a razão deslocada?...” 
(C, p. 90) 

Neste sentido, “Outrora...” pode servir de contraponto a “Um 
primitivo”, uma vez que se coaduna não com a miséria do artista (pintor, poeta), 
mas com os caprichos e os laivos pseudohumanitários de um rico (capitão, 
bacharel endinheirado). Seu principal defeito decorre, pois, deste alinhamento 
ideológico, que pressupõe antes a art pompier que as obras dos “intransigentes” 
ou impressionistas. Trata-se, pois, de uma redução claramente insatisfatória de 
um devaneio grandiloquente em um mero causo, contado em uma roda de 
letrados ou de pseudofilósofos. Ademais, se entendido, sob outro ponto de 
vista, que o mesmo texto é relatado aos membros desta roda de amigos, o idílio 
ideológico sobre as relações de trabalho passa a soar ainda mais conveniente e 
concertado, assim como os apelos ao narratário, esporadicamente delineados 

pelo narrador, pouco antes ao devaneio: 

João da Matta deitou-se pensando no vento leste. Era outro 
evocador, outro esquecido, outro que não mudara, como o poeta. As 
histórias, as cantigas, a voz surda e quebrada de um, como as rajadas. 


(FERNANDES, 2011, p. 14) Entretanto, parece exagero arrematar a discussão pelo mesmo 
argumento de Fernandes (idem), que confunde personagem e escritor: “A felicidade, se exis- 
tir, estará ao lado do primeiro elemento: é no campo da sua infância, onde seu pai comprou 
terras para enraizar-se no Brasil, que está o paraíso perdido.” 




254 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a roncaria oceânica do outro e o seu longo sussurro desabrido, fora 
dali perdiam toda a influência. Mas escutem só esta voz que fala 
nas copas das árvores retorcidas, sacudidas, descabeladas agora pela 
rajada irosa. Arrepia o pensar que aquele estrondo pode querer dizer 
alguma coisa. (G, p. 87) 

Em última análise, “Outrora...” representa um evidente retrocesso 
na evolução impressionista dos contos aqui analisados e figura como prova 
decisiva do experimentalismo formal e temático do escritor, que tateia à busca 
de uma expressão pessoal. Seria possível objetar, a este respeito, que a própria 
experimentação é um caráter impressionista; porém, sem forçar a leitura em 
busca de elementos que não existem a rigor nos textos, é lícito apontar esse 
retrocesso como parte de um longo processo criativo, que se explica, em partes, 
pelo acidentado contato entre o escritor e a literatura. 

Neste período, há como que uma guinada na produção intelectual de 
Domício até atingir o ápice entre 1889 e 1891 (ano esse em que, conforme o 
próprio escritor em carta a Coelho Neto, contava apenas com a escrita para seu 
próprio sustento): 



Tabela 1 — Tabela da produção intelectual de Domício da Gama 
Fonte: FRANÇA, 2007, p. 45. 213 


Igualmente, é necessário observar certa semelhança entre tal conto e 
dois outros do mesmo período, “Só” e “Obsessão”, escritos em meio a uma 
efervescência cultural que demarca a ampla aceitação do impressionismo 


213 Ressalve-se, porém, a aberrante ausência do ano de 1889 no gráfico em questão. Aliás, 
1889 bem poderia ser o ano de maior número de produções intelectuais de Domício. No 
levantamento dos textos do autor (inéditos ou não) realizado para o presente trabalho, entre 
crônicas, ensaios e contos, foi possível contar ao menos 30 textos do ano em questão. 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


255 


pictórico nos meios culturais e a gradativa “canonização” de seu estilo, digno 
de ser a um só tempo elogiado, desenvolvido e atacado por Maurice Denis, 
Georges Seurat, Félix Fénéon, dentre outros. 214 

“Só”, por sua vez, demarca tal mescla de influências, ressignificando o 
impressionismo demasiado pictórico de contos como “A mancha” em um texto 
mais dramatizado, mais direto, que atesta, ainda uma vez, sua constante busca 
por aquele impressionismo do “meio termo”. 

Só [circa 1891] 

Em “Só” e em “Obsessão”, textos incluídos na coletânea Contos a meia 
tinta , porém não datados (o que faz com que se estimem suas respectivas datas 
de escrita como aquelas da publicação do volume, única disponível), Domício 
da Gama revela a maturidade de seu impressionismo literário, invertendo a via 
pictórico-estilística de contos como “A mancha” (“comparatista”) em uma via 
narrativa da análise interior, focalizando determinada consciência (“narrativista”). 
Tal experimentação, por si só, é importante confirmação do impressionismo 
literário em sua obra, indicando a recorrência de um questionamento formal 
que, infelizmente, faria abandonar ambas as vias numa fase posterior. 

No que diz respeito à análise individual de “Só”, seria válido tomar como 
ponto de partida o elogio do severo Graciliano Ramos (2014, p. 194), para quem 
“Só” equivale a um dos grandes contos brasileiros estrategicamente esquecidos 
ou ocultados pela tradição crítica a fim de não ofuscar os “produtos dos líderes 
modernistas”. 215 À parte certa predileção pessoal do escritor, provavelmente 


214 A título de curiosidade, mesmo do outro lado do oceano, segundo Richard Bretell (2014, 
p. 20), já era impossível falar em arte nesta época sem conhecer o impressionismo pictórico: 
“Dès 1890, aux Etats-Unis, il était impossible d’avoir une ‘culture artistique’ et de ne pas connaitre l’im- 
pressionnisme ditne façon ou d’ une autre. ” No mais, Domício da Gama (1895d, p. 96) mostra-se 
consciente da evolução artística de ambos os meios (norte-americano e francês) ao apontar, 
em ensaio sobre a exposição de Belas-Artes no Rio, que trazia a “memória ainda fresca dos 
salons de New York e de Paris e poderia ser tentado pelas comparações de gêneros e valores, 
se fosse crítico de arte.” 

215 A respeito de “Só”, em entrevista a Homero Senna, inclui-o Graciliano Ramos (2014, 
p. 194) junto a outros grandes contos brasileiros do início do século XX, que, em seu pare- 
cer, foram programaticamente esquecidos de forma a não ofuscar os “produtos dos líderes 
modernistas”: “Nas leituras que tenho feito, encontrei vários contos, de autores propositada- 




256 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


ligada às semelhanças (ressonâncias?) entre São Bernardo e “Só”, é possível 
aproveitar seu elogio como sinal de uma produção literária amadurecida, bem 
como da proporção negativa de seu esquecimento, décadas (século?) afora. 

“Só” é um conto sobre a infelicidade matrimonial narrado da perspectiva 
de um marido frustrado, que “trata do tema da mediocridade do casamento, 
da rotina, da frivolidade que ele vê vulgar.” (FERNANDES, 2011, p. 26) 
Nas palavras de Medeiros e Albuquerque (1901, p. 3), “Só — é precisamente 
a historia de um indivíduo que se casou e que no casamento achou a mais 
triste das solidões.” A concorrência de diversos elementos formais — narração 
autodiegética, focalização interna fixa, fragmentação cronológica do enredo 
— faz antever a modernidade de sua escrita, capaz de absorver e esmiuçar as 
nuanças de uma consciência a partir dela própria, sem intermediários. Tal ocorre 
pela já mencionada “troca de tempo” (MENDILOW, 1972), que faz substituir 
o tempo cronológico pelo psicológico, encontrando nele a fonte, por assim 
dizer, de sua forma e de seu conteúdo. O texto narrativo passa a fazer as vezes 
de um monólogo regido unicamente pela memória (ou, mais especificamente, 
de um “ auto-récif , no termo de Dorrit Cohn (1981)). Há, inclusive, pequenas 
inscursões pelo discurso indireto livre, embora tais passagens sejam mais raras. 
Veja-se, antes de demais comentários, as instruções indicadas pelo próprio texto, 
em suas primeiras linhas: 

Fez hoje um mês que me casei e não sei que singular impressão 
ressinto de uma eternidade de vida marital. Sentir passar o tempo é 
envelhecer, esfriado de ardores entusiastas, desconfiado da pureza 
e da inteireza das próprias sensações. Sou um marido velho e 
desencantado, num mês. A lua-de-mel com o seu clarão misterioso 
perturbou-me um pouco, sem me cegar. Bem vejo, visíveis demais, as 
falhas do espelho da minha felicidade. Ontem pus-me a achar velha 
a minha mulher. Suspeitei-lhe nos olhos de safira um desmaiado da 


mente esquecidos pelos modernistas e que seriam grandes em qualquer literatura. Lembro- 
-me de alguns: ‘O ratinho Tic-Tac’, de Medeiros e Albuquerque; ‘Tílburi de Praça’, de Raul 
Pompeia; ‘Só’, de Domício da Gama; ‘Coração de velho’, de Mário de Alencar; ‘Os brincos 
de Sara’, de Alberto de Oliveira. Nas antologias que andam por aí essas produções geralmen- 
te não aparecem, e de alguns dos autores citados são transcritos contos que não dão ideia 
exata do seu talento e do domínio que tinham do gênero. Só posso atribuir isso, como já dis- 
se, a desonestidade. Porque, se os compararmos aos produtos dos líderes modernistas, estes 
se achatam completamente.” Já em entrevista a Otto Maria Carpeaux, fala com mais precisão, 
a respeito do mesmo conto: “Outro esquecido, Domício da Gama, tem só um conto bom, 
mas é realmente bom e se chama mesmo ‘Só’.” (RAMOS, 2014, p. 210) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


257 


viveza juvenil que me cativou e ali mesmo, nos cantos, no gracioso 
enrugamento que lhe aviva o sorriso, o projeto do pé-de-galinha, 
sinistro. (G, p. 47) 

A explícita “troca de tempo” (MENDILOW, 1972) entre o marco 
cronológico de um mês de casados e a “impressão [...] de uma eternidade de 
vida marital” poderia servir como exemplo em qualquer compêndio de teoria 
narrativa pela brevidade com que é apresentado e resolvido. Em duas linhas, 
o narrador apresenta, resume e conclui o conto, que irá tratar da esgarçadura 
do tempo pelo sofrimento, num cotidiano opressor que faz de um mês uma 
eternidade. A perda da juventude e das ilusões é o que resulta da contemplação 
(reflexão) do “espelho da felicidade”, que reflete de volta ao narrador não a 
imagem de outrora, mas a futura — da velhice e do desencanto — , desmentindo 
a suposta união de duas almas em uma só pelo matrimônio. Inversamente, 
trata-se tão somente do reconhecimento da solidão, e, por seu intermédio, da 
deformação da imagem da esposa, que começa a despontar rugas por detrás 
dos “olhos de safira”, tal qual um espelho com falhas. E, pois, de importância 
central a figura do espelho, uma vez que o narrador, ao mostrar as falhas que 
percebe em sua mulher, denuncia a si próprio, atestando seu desencanto com 
a esposa. E a partir do pressuposto de reprodutibilidade perfeita do espelho (à 
maneira das ilusões anteriores ao casamento, num período em que a solidão não 
turvava a visão, ou reflexão, do narrador) que se dá a conhecer a materialidade 
diversa e imperfeita da experiência (vida a dois). De antemão, sabe-se, portanto, 
que o narrador está, de fato, “só”, e que é apenas mediante sua visão das coisas 
(ou, em seus termos, sua “singular impressão”) que a estória nos é apresentada. 

Não obstante, é digna de nota a consciência do fluir temporal que subjaz 
à apresentação sumária e magistral de seu dilema. As dúvidas e incertezas 
decorrentes de um longo exame da vida interior fazem aparecer problemas onde 
eles não existem (ou rugas onde não as há). E o que reconhece o narrador no 
parágrafo seguinte: “Foi mal educar-me para os estados definitivos da existência 
aprender a ver além da hora presente. Seja sensualista ou sentimentalista, o 
homem que se arma de luneta para explorar os campos da sua felicidade deve 
resignar-se a trocar o gosto pelo antegosto.” (C., p. 48) Logo, independente de 
uma inclinação original pela sensação ou pelo sentimento (i.e., de um ponto de 
vista exclusivamente objetivo ou subjetivo), o exame da interioridade condena 




258 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


o homem à infelicidade. Tal resultado é obtido, ainda uma vez, por meio 
de um instrumento óptico — a luneta — com a importante diferença de não 
refletir de volta aquilo que é visto, mas sim refratá-lo, para que se possa ver 
com clareza algo que está distante. Isto significa que o narrador é incapaz de 
avaliar integralmente sua condição, munido que está pela “luneta” da solidão, 
que a tudo aumenta e deforma. Neste sentido, trata-se possivelmente de uma 
“narração prospectiva” (SANDANELLO, 2015), pela qual se pretende dar a 
entender antes a infelicidade do casamento (de fora para dentro, culpando a 
outrem) que o exame da própria contribuição negativa para tanto (de dentro 
para fora, possivelmente culpando a si). 

Mediante tal configuração narrativa, dois elementos tornam-se 
importantes na avaliação do impressionismo literário e de suas evoluções dos 
primeiros contos até aqui. O “introito filosófico” (BORGES, 1998), recorrente 
nos demais, é cabalmente resolvido pela inserção de um narrador autodiegético. 
Com sua presença, a teorização inicial dos dois tipos de homem introspectivo 
(“sensualista” ou “sentimentalista”) é ressignificada a partir de suas possíveis 
intenções, indicando o que ela tem de particularmente deformadora. Em 
segundo lugar, a focalização interna fixa faz com que a visão — anteriormente 
entendida em termos objetivos e pautada unicamente no esmiuçamento daquilo 
exteriormente percebido (domínio próprio da pintura) — transfira-se para um 
meio caracteristicamente narrativo, atenta aos mecanismos da psique onde se 
formam as impressões e sentimentos (domínio próprio da literatura). Parece 
escusado apontar que a “atomização do mundo” referida por Kronegger (1973), 
bem como os pressupostos “fenocentrista” e “perspectivista” apontados 
por Vouilloux (2012), encontram-se revisados (senão superados) sob tal 
configuração narrativa, que permite falar em um impressionismo literário , tout 
court. No mais, como afirma Dorrit Cohn (1981, p. 20) a propósito das reflexões 
de Kate Hamburger (1986) sobre a narrativa de primeira pessoa, “a narrativa de 
ficção é o único gênero literário e o único tipo de narrativa no qual é possível 
descrever o segredo dos pensamentos, dos sentimentos, das percepções de uma 
pessoa que não o locutor”, 216 consistindo, pois, do campo ideal para a análise 


216 «[...] /<? récit de fiction estie seulgenre littéraire et le seul type de récit dans lequel il estpossible de décrire 
le secret des pensées, des sentiments, des perceptions d’une personne autre que le locuteur.y> 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


259 


interior das personagens. 

De volta ao texto, o narrador continua a lamentar sua sorte, julgando 

mesmo como malsão desfrutar da felicidade, sob qualquer hipótese: 

[...] Caçador do ideal, cometi o erro de comê-lo. A fome, o desejo 
são mais sadios do que esta alimentação. [...] Olhem um Rothschild 
a gozar diretamente de toda a sua fortuna! Endoidecia. 

Eu não endoideço, porque não achei no casamento a minha 
fortuna. Sempre pensei que seríamos dois em um e afinal somos 
dois em dois e eu sou só. Deu nisso a idealização de Celestina. Era 
a mulher o que eu queria e não uma mulher. Pateta que fui! Podia 
ter todo o teatro do feminismo mundano e não gastar toda a minha 
fortuna amorosa na aquisição de uma simples boneca de engonço! 

Também boneca de engonço é um pouco forte [...]. A culpa 
nao é dela, coitadinha da minha mulher! 

Mas que baque!... Aqui estou casado e só. (G, p. 48, grifo do 

autor) 

Claramente, maior que a desilusão do casamento (ou talvez, sua causa 
primeira), é a saudade dos tempos de solteiro, quando podia dispor do “teatro 
do feminismo mundano” e gozar de toda uma “fortuna amorosa” inexplorada. 
A proximidade da esposa é, assim, a soma viva de todas as oportunidades 
perdidas, e seus encantos, se os há, a lembrança constante de que não passam de 
possibilidades isoladas, pequenas, num oceano de feminilidade ignorada. Não é 
demais dizer que o narrador parece inapto a apreciar as qualidades da esposa por 
pura inexperiência, traduzida em termos de ambição carnal. Contudo, seu dilema 
romântico suscita um questionamento algo metafísico a respeito dos limites 
entre o eu e o outro (esposa, amada). À idealização impossível de Celestina, 
i.e., à união de duas almas em uma só, segue-se a divisão do eu em duas partes: 
a de solteiro (recuperada de outrora, jovem, mas agonizante) e a de casado 
(ganha há um mês, envelhecida de antemão). O conflito entre as duas partes de 
si próprio é o que parece reger a acusação e defesa simultâneas da mulher, por 
meio de frases curtas e conflitantes que ora ofendem ora elogiam Celestina. Em 
todo caso, note-se a alusão a um plano superior ao do marido (logo, inatingível, 
também de antemão) prevista no nome da esposa, que antevê, de certa forma, 
a impossibilidade de união de sua alma à do narrador. E também, finalmente, o 
breve apelo ao narratário (“Olhem um Rothschild a gozar diretamente de toda 
a sua fortuna! Endoidecia” (idem)), que parece enviesar a evocação da esposa 
em prol de uma anuência qualquer do interlocutor. 




260 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Resta saber, assim, se há o predomínio de uma das duas metades 
mencionadas no momento presente da narração ou se, inversamente, seu embate 

deve continuar ininterruptamente, sem resolução. Como afirma a seguir: 

Uma solidão mais povoada do que um cortiço, a minha! Tão 
inteirinho que eu andava, no meio da multidão, no deserto, onde 
quer que estivesse! Agora, quando estou só, estou só metade. A 
outra metade está só. E quando estamos juntos, estamos sós. Eu, 
principalmente. 

Oh! esta horrível solidão a dois!... [...] A ininteligência, a falta 
de afinação - pode haver maior tormento para quem pensou que 
vibraria melhor dobrando, multiplicando a sua sentimentalidade? 
(C, p. 49) 

É curioso que o narrador descreva a inteireza de sua solidão passada 
como “mais povoada do que um cortiço”, quando a divisão de si em duas 
metades, após o casamento, causa-lhe tanto transtorno. Afinal, não se trata 
de um somatório de individualidades, mas apenas da garrulice dos tempos de 
solteiro, quando ainda se sentia invencível pela profusão de opções (mulheres?) 
disponíveis. É a perda da liberdade o que lhe dói em demasia, dividindo-o em 
duas partes não mais equivalentes (“Agora, quando estou só, estou só metade. 
A outra metade está só”), ao contrário do passado, em que cismava apenas por 
pura diversão de moço, sem compromissos. No momento atual, que equivale ao 
tempo da narração, ele é obrigado a refletir na vida e avaliar as opções tomadas, 
buscando em si os motivos que o levaram a casar-se. 

Neste sentido, há uma profusão de indicações examinadas à vol cToiseau , 
repassadas pela memória de alguém obcecado com o passado e incapaz de ver 
um futuro melhor à sua frente: lembra-se de uma “D. Sebastiana [que] pensava 
que eu era solteiro, que eu vivia só. O diabo da velha...” (C., p. 48); de sua 
própria autocomiseração de outrora (“O burro fui eu, que fiquei com pena de 
mim, pobrezinho, na solidão!” (idem)); do “feitiço do olhar azul de Celestina, 
[d]o encanto daquele sorriso” (idem); do conselho de “livros ou amigos” que já 
avisavam da “doutrina amarga do casamento resfriando o amor” (C., p. 49) etc. 

Observa-se, assim, uma série elementos que mais parecem concorrentes 
na formação de sua ojeriza pelo casamento que diretamente responsáveis por 
uma vida miserável a dois, junto de alguém incompatível (“falta de afinação”). 
Tudo leva a crer que essa parte da equação fica por conta do próprio narrador, 
indisposto com a mulher. Não obstante, é a ela que reputa a responsabilidade 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


261 


central pelo fracasso do casamento, logo a seguir: “E não foi o casamento, foi 
minha mulher que soprou nele. Não foi por querer, está visto, como quando 
se pisa nos calos dos outros. Mas o mal está feito, a desilusão que quebra o 
encanto. Encanto de Celestina, encanto que me prendeu!” (idem) 

A acusação direta da mulher, sem quaisquer outras informações que 
confirmem sua culpabilidade, parece incriminar à contrapelo o próprio narrador 
pelo fracasso de seu casamento. Como única ilustração de seu argumento, põe- 
se a narrar uma visita casual feita em Botafogo. Leia-se o trecho na íntegra, 
pelo lugar privilegiado que ocupa dentro do conto, na qualidade de única cena 

integralmente evocada pelo narrador: 

Há dias fomos fazer umas visitas a Botafogo, retribuição 
de cortesia de recém-casados. No Catete, entraram para o bonde 
e sentaram-se num banco adiante três senhoras: uma velha e duas 
moças, conhecidas de Celestina. Cumprimentos, muita festa, etc. 
As moças tinham sido suas companheiras de colégio. Olhavam-me 
com insistência, curiosamente. Minha mulher começou a apoiar- 
se mais carinhosamente, muito, sobre o meu braço, que tomou, 
assim como quem garante uma posse. Seu marido... era isso, era o 
marido, com que ela fazia inveja às amigas, como em pequena com 
as bonecas. Quis fazer-me de forte e resistir ao ridículo, sorrindo 
com simplicidade; mas não sei sorrir com simplicidade e sorri como 
um palerma, atrapalhado e de orelhas quentes, furioso. E durante 
as visitas os olhares de ternura, ostensivos, que me buscam do sofá, 
onde ela se achava, em rodas de senhoras. E o meu pobre braço 
tomado desde o vestíbulo, com um aconchego que é quase um 
abraço: isto a correr para tomar o bonde! “Ai! são dois pombinhos!” 
Um dos pombinhos sou eu... 

Mas ensinaram tudo isso às noivas? Porque se fosse por amor, 
seria muito besta. (G, p. 49-50, grifos do autor) 

Eis o único trecho em que se desenvolve a diegese do conto, resumido 
como está a apenas um parágrafo. Na breve cena acima — uma visita de cortesia 
após o casamento, precedida por um encontro da esposa com amigas de colégio 
no bonde — o narrador evidencia importantes traços de sua personalidade, sem 
o saber. O olhar das duas jovens do bonde (“com insistência, curiosamente”) 
parece desmotivado, à primeira vista; porém, mais tarde, ao confessar-se incapaz 
de “sorrir com simplicidade”, fazendo as vezes de “um palerma” em meio à 
mencionada visita, faz cogitar que tal intranquilidade seja aquilo que desperta 
a curiosidade das jovens. Em segundo lugar, a objetificação de si pela mulher, 
orgulhosa de apresentá-lo com mais vagar às amigas e conhecidas, parece-lhe 




262 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


corresponder a um cálculo qualquer ensinado “às noivas” antes do casamento, e 
que somente atualiza uma inveja infantil de meninas mostrando umas às outras 
suas bonecas. Ora, há uma dupla objetificação aqui: se, por um lado, a mulher 
toma-o pelo braço e fá-lo sentir como um objeto, a partir do que considera ora 
calculado ora ingênuo, por outro, quando afirma ser Celestina uma “boneca 
de engonço” (C., p. 48), possivelmente em vingança à cena que evoca, não se 
utiliza senão de puro cálculo, na lógica do toma lá dá cá das brigas conjugais. 
Claramente, o narrador recusa-se a ser visto pela sociedade como “seu marido ”, 
como “um dos pombinhos” etc. No entanto, sua mulher trata-o somente 
com “olhares de ternura” e toma seu braço “com um aconchego que é quase 
um abraço”. Será mesmo esse o comportamento de alguém responsável pela 
infelicidade no casamento? Ou será, como tudo parece indicar, que o narrador 
acha sumamente ridículas as mostras públicas de afeto e não deseja ser visto no 
papel de marido? 

Finalmente, há no parágrafo acima um último elemento que precisa ser 

avaliado. Ao evocar seu sorriso de palerma em meio aos olhares gerais, o narrador 

comete um pequeno deslize que muito ressigniíica sua narração. Ele se encontra 

no seguinte trecho: “E durante as visitas os olhares de ternura, ostensivos, que 

me buscam do sofá, onde ela se achava, em roda de senhoras.” (idem) Há um 

sinal marcante de discurso indireto livre na forma verbal presente “buscam”, 

atualizando o passado no presente, por meio da consciência do narrador. 

Curiosamente, na versão do volume Histórias curtas , há inclusive uma segunda 

ocorrência, absurdamente retirada da edição de 2001: “E durante as visitas os 

olhares de ternura, ostensivos, que me buscam do sofá, onde ela se acha, em 

roda de senhoras.” (GAMA, 1901, p. 40). Note-se a importante atualização da 

visão da esposa por meio do verbo “acha”, aparecendo presentemente à visão 

(consciência) do narrador, e sugerindo uma importante 

diferença, de maneira menos explícita: no emprego que faz do 
[verbo no] presente naquilo “que fa% dada personagem e no que 
lhe acometê\ Esse presente gramatical acentua a simultaneidade do 
acontecimento e da expressão, simultaneidade que distingue essa 
forma nova [monólogo] da “forma usual da narrativa” em primeira 
pessoa, na qual a expressão é sempre posterior ao acontecimento. 
(COHN, 1981, p. 198) 217 


217 “[...] différence, defaçon, ilestvrai, moins explicite: dans femploi qu’ilfait duprésent dans ‘ce qui fait 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


263 


Não obstante, a atualidade narrativa de “Só” é ofuscada pela supressão 
parcial do uso do tempo presente dos verbos na passagem em questão. Que 
dizer da versão original de “Só” em Contos a meia tinta , que traz ainda uma 
terceira alteração: “E nas visitas os olhares de ternura, ostensivos, que me 
buscam do sofá, onde ela se acha, em roda de senhoras.” (GAMA, 1891b, p. 
62) O apagamento da referência temporal (“durante as visitas”) em prol de 
uma indicação mais maleável (“nas visitas”) parece ajustada ao movimento de 
vai e vém da “troca de tempo” (MENDILOW, 1972) operada pelo narrador, 
bem como ao breve uso do discurso indireto livre, que implica a simultaneidade 
entre o acontecimento e sua expressão (COHN, 1981). 

No mais, acerca do papel do discurso indireto livre, percebe-se que 

[...] o estilo indireto livre é uma forma intermediária que lembra 
simultaneamente os dois outros tipos de reprodução: ele 
permite conservar as exclamações, as entonações, e em geral os 
procedimentos expressivos característicos do direto; a sintaxe das 
proposições é independente, sem verbo introdutor transitivo; como 
o indireto subordinado, o indireto livre transpõe os tempos e os 
pronomes pessoais [...]. (LIPS, 1927, p. 51) 218 

A transposição do passado no presente (ou a simultaneidade entre 
ambos) permite, assim, avaliar a medida da atualidade do texto de Domício — 
muito embora seja ela ofuscada pela revisão textual de sua edição mais recente. 
Obviamente, não se trata de um fluxo de consciência como aquele de Virginia 
Woolf ou de Adelino Magalhães, autores que fazem um uso sistemático do 
indireto livre; no entanto, ele já está aqui esboçado no estudo das variações 
do monólogo interior (ou do “discurso imediato” (GENETTE, 1972)). Se 
se quiser, ainda, utilizar os termos empregados por Dorrit Cohn à descrição 
dos modos de representação da vida psíquica no romance (aplicados, pois, 
ao conto), o texto de Domício corresponde a um “auto-rêdf que apresenta 
elementos tanto de um “ monologue auto-rapportê ’ (ou relatado, no sentido dado ao 


ce personnage et ce qui lui arrive’. Ce présent grammatical met 1’accent sur la simultaneité de 1’événement 
et de 1’expression, simultaneité qui destingue cette forme nouvelle de ‘la forme usuelle du réát’ à la première 
personne, dans laquelle 1’expression est toujours postérieure à 1’événement.” 

218 “[•..]/<? style indirect libre est une forme intermédiaire rappelant à la fois les deux autres types de repo- 
duction: il permet de conserver les exclamations, les intonations, et en général les procédés expressifs propres 
au direct; la syntaxe des propositions est indépendante, pas de verbe introducteur transitif; comme 1’indirect 
subordonné, 1’ indirect libre transpose les temps et les pronoms personnels [...].» 




264 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


termo por Gérard Genette (1972)) quanto de um “ monologue auto-narrativisê’’ (ou 

narrativizado, ainda segundo o mesmo autor). Ou, ainda, mais imediatamente, é 

possível observar que na mudança do narrador de “Outrora...” (heterodiegético) 

para o de “Só” (autodiegético), 

há logo de partida uma mudança profunda do clima narrativo 
quando se se desloca de um desses territórios ao outro [...]. Ela 
vem da relação diferente entre narrador e protagonista quando esse 
último é justamente o passado do próprio narrador. A narrativa 
dos acontecimentos da vida interior é muito mais claramente 
atingida pela mudança de pessoa que a narrativa de acontecimentos 
exteriores; os pensamentos e sentimentos de outrora devem ser re- 
presentados , apresentados enquanto lembranças, e ao mesmo tempo 
verbalizados pelo narrador; eles são, assim, coloridos pelo que David 
Goldknopf chama de “acréscimo confidencial” confessional increment. 
(COHN, 1981, p. 29-30, grifos da autora) 219 

De volta à análise textual, os quatro últimos parágrafos do texto 
confirmam tal “acréscimo confidencial” do narrador, que re-apresenta a esposa 
a seu interlocutor sob o espectro da desilusão: “Não valem ironias quando se 
sofre, e eu sofro duplamente, porque me enganei pensando que não era feliz e 
porque esse engano levou-me a ir buscar a solidão pior de uma alma que não 
vibra, uma alma de mulher vulgar.” (C., p. 50) Neste sentido, a falta de afinidade 
(afinação) entre si e a esposa é o que determina sua caracterização como “mulher 
vulgar”, muito embora a cena das visitas pareça indicar justamente o oposto. 
Um rosário de pequenas ofensas é o que compõe a avaliação de Celestina — 
“toda ocupada pelas frioleiras da vida mesquinha”; “um livro mal rabiscado de 
tolices, que não posso emendar”; “não sabe ver largo, nem sentir intensamente 
as coisas que não são suas” (idem) — , muito embora cada uma das acusações 
volte-se para si próprio, denunciando seu desinteresse e egoísmo (afinal, é ele 
quem se sente vexado por uma simples visita; quem escreve apressadamente 
linhas talvez injustas, que não poderá apagar; e quem não vê além do próprio 
umbigo, i.e., sem saber “ver largo”). 


219 «II j a d’abord une modification proponde du climat narratf quand on se deplace d’un de ces territoires 
à 1’autre [...]. Elle provient de la rélation dfférente entre narrateur et protagoniste quand ce dernier n’est 
autre que le passé du narrateur lui-même. Ee rêát des événements de la vie intérieure est bien plus nettement 
affecté par ce changement de personne que le récit des événements extérieurs; les pensées et les sentiments de 
jadis doivent maintenant être re-présentés, présentés en tant que souvenirs, et en même temps verbalisés 
par le narrateur; ils se trouvent dès lors colorés par ce que David Goldknopf appelle le ‘surcroít confidentiel’ 
confessional increment.» 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


265 


Por fim, todo o ódio do narrador concentra-se em uma frase que lhe 
despe de toda razão argumentativa, provando, por “a” mais “b”, sua intenção 

meramente destrutiva, cega, de revisão do passado, sem condições de fazê-lo: 

Mulher vulgar... E qual a que o não seja? Esbarrasse-me eu 
com alguma doutora em psicologia, que em vez de complemento... 
Ora aí está: era de complemento que eu não carecia, pensando que 
eu vivia mal. Fiz uma imprudente experiência, de consequência 
irremediável. [...] Agora arrasto um grilhão com que não posso, 
pesadíssimo. E para sempre... 

Ah! o irreparável... Pois que a vida não é senão uma, por que 
comprometê-la num jogo perigoso de ventura? por que cortar as 
asas à aspiração indómita, se o sonho realizado não se contenta 
jamais? (C, p. 51) 

A única frase que parece mais ou menos razoável de todo o trecho 
citado é aquela em que confessa o narrador ser o casamento um “grilhão” 
que não pode suportar; afinal, é na qualidade de alguém encarcerado por uma 
instituição — e submetido à (incômoda?) argola que carrega no dedo — que se 
sente na urgência de narrar seu sofrimento. Não obstante, a pequenez de seu 
drama não apaga a sua evidente misoginia, nem perdoa sua falta de caráter na 
avaliação integral da miséria familiar, provocada, assim, por ele mesmo. Afinal, 
se Celestina lhe parece rasa, desinteressada de tudo, mesmo uma “doutora em 
psicologia” não lhe bastaria. Eis a falha argumentativa que restava para incriminá- 
lo, denunciando-o aos olhos do leitor, como mais um exemplo de narrador 
“prospectivo” (SANDANELLO, 2015), que defende uma versão claramente 
errônea e manipulada do passado, requisitando obsessivamente o beneplácito 
do leitor como forma de reescrever, pela narração, o (sentido do) que se passou. 

O mesmo narrador pode ser visto no conto seguinte, “Obsessão”, que 
retoma as experimentações de “Só” sob um enfoque diverso. 


Obsessão [circa 1891] 

Por diversos motivos, “Obsessão” é o conto impressionista por 
excelência de Domício da Gama, e poderia figurar (ainda mais que “Conto de 
verdade”) em uma antologia do impressionismo literário brasileiro ou mundial. 
A maturidade do texto, dividido em duas partes (exposição e desenvolvimento, 
estrategicamente não secundados por uma conclusão), é talvez inédita em sua 




266 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


obra, apresentando uma grata homogeneidade do início ao fim. Não seria 
exagero afirmar, na contramão de Raul Pompeia (1982) e Graciliano Ramos 
(2014), 220 que seu texto antológico de direito em qualquer coletânea do conto 
brasileiro seja, justamente, “Obsessão”. 

Seu enredo é mínimo e praticamente equivale à estória que o embasa: 
trata-se da sóbria confissão de um detento, responsável por matar a esposa 
num transbordamento de amor. As causas do crime são-lhe inteiramente 
desconhecidas e ele é também incapaz de recodar-se dos detalhes do crime, 
senão que a própria esposa pede que a mate — devotada a fazer sua vontade até 
o fim, por mais obscura que ela o seja. Todos os detalhes de que se lembra — as 
flores, o vento, as árvores — são mesclados à recordação do crime, e apresentam 
um aspecto negativo que renova seu tormento. Assim, as flores cochicham 
contra si; as árvores retorcem-se de tristeza e há vozes gemendo no ar. Ademais, 
o início e o término do conto são igualmente inconclusivos, marcados por um 
sinal de reticências e outro de interrogação. 

Veja-se um longo excerto do primeiro parágrafo, em que o narrador 
teoriza magistralmente (e sem o perigo do esfriamento pelo “introito filosófico”, 

em terceira pessoa) a natureza imperdoável de seu crime: 

... Não quero ser perdoado aqui neste mundo, que meu 
castigo nunca será tão grande como foi o meu crime. O medo 
que tenho (e desta agonia mesmo é que me vem cá por dentro um 
vislumbre de esperança de que me seja contado o sofrimento), o 
que me acabrunha tanto o ânimo é a ideia da justiça eterna. O peso 
dos ferros, o cansaço do trabalho não me fazem nada. Olho para o 
chão, porque não me atrevo a olhar para o céu. Em tantos anos, que 
tenho passado a pensar assim calado e de cabeça baixa, ainda não 
descobri em mim uma qualidade, que me faça digno da misericórdia 
divina. Não sou manso, nem limpo de coração, nem padeço de fome 
e sede de justiça. Em vez de me humilhar, de me abandonar ao 
arrependimento, endureço-me contra os tormentos, que não me 
tocam senão no corpo: o rigor da punição não começa em mim 
a expiação, que me seria contada no dia do juízo. Diz-me o padre 
capelão que a minha esperança está em me arrepender tanto, que o 
resto da minha vida neste mundo seja o meu purgatório. Mas não 
posso. [...] Não posso, não há em mim humildade de espírito, desejo 
de arrependimento suficiente para me fazer confessar o meu crime, 
sem procurar explicá-lo. Explicá-lo a mim mesmo primeiro, como 


220 Como mencionado anteriormente, tais autores elogiam, sobretudo, e respectivamente, 
“Alma nova” e “Outrora”; e “Só”. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


267 


uma necessidade moral, ao mundo, depois, como uma satisfação 
do meu orgulho de homem humano, que se não conforma com a 
ideia de que haja dentro dele abrigo para os impulsos caprichosos 
do acaso - outra necessidade. E eis aí: explicar os seus atos é uma 
tentativa de defesa, fora do caminho da contrição. (C, p. 107-108) 

Duas especificações importantes do ato de narrar são aqui apresentadas: 
contar (narrar) como forma de contar (reduzir) as próprias penas, num 
“vislumbre de esperança”; e contar (narrar) como forma de contar (explicar) a 
si e a ao mundo a natureza de seu crime. Uma está voltada, portanto, para dentro 
— possibilidade de fim do sentimento de culpa — enquanto a outra está voltada 
para dentro e para fora — possibilidade de entendimento próprio e alheio das 
causas ocultas do assassinato. No entanto, nem uma nem outra pretende buscar 
o perdão, uma vez que o mesmo só pode ser dado por uma “justiça eterna”, 
cuja mera possibilidade de existência acabrunha o narrador. Do que decorre 
uma primeira dúvida: por que, então, narrar, se o perdão é negado de antemão e 
equivale a “uma tentativa de defesa” frustrada, posto que “fora do caminho da 
contrição”? 

No mesmo trecho, há elementos igualmente importantes no plano da 
diegese: a ocorrência temporal do crime, ocorrido há “tantos anos”; o longo 
martírio corporal do narrador, confinado ao “peso dos ferros” de uma prisão; 
e o apoio vazio de um capelão, que insiste no poder do arrependimento. 
Todos os três itens reafirmam o isolamento desesperador do criminoso, cujos 
possíveis apoios racionais, materiais e espirituais (sugeridos, respectivamente, 
pelo ofuscamento do crime em uma distante recordação; pelo suplício físico 
embrutecedor; e pela completa descrença no perdão divino) são sumariamente 
arrancados e destacados de si. 

Assim, tanto em sua narração quanto em sua diegese, a narrativa é uma 
dupla confirmação de um caso sem esperança, a saber, a tentativa de recuperar e 
expiar o sentido de um crime guiado por “impulsos caprichosos do acaso”. De 
antemão, sabe-se que não há como chegar a tal resposta, uma vez que há apenas 
a versão dos fatos informada pelo assassino. Trata-se de uma impossibilidade 
lógica de remissão dos erros passados, que antecede à religiosa (indicada, por 
sua vez, na menção do capelão à transformação da existência num longo 
“purgatório”). 




268 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ademais, parece escusado apontar a natureza sumamente temporal da 

questão da irreversibilidade do crime, alçando-a a 

uma interrogação sem resposta, que me vai fazendo louco, metida 
em cada partícula animada de meu ser, substituindo-se à vontade, 
cuja ação ela destruiu, gritando a cada golfada vermelha que me 
ilumina o cérebro: Por que fiz o mal, conhecendo e sentindo o bem? 
Por que fiz sofrer e matei quem era minha vida e minha alma? (C., 
p. 108) 

Todavia, somando os elementos diegéticos apontados acima àquelas 
duas orientações do ato de narrar, pode-se visualizar provisoriamente um 
mínimo múltiplo comum do desconsolo do narrador: se ele lamenta haver 
matado alguém que era sua vida e sua alma (optando pelo mal, ao invés do 
bem), e se julga impossível a redenção divina após o crime de destruir-se por 
intermédio da esposa (negando-se, assim, a opção de voltar à vida, embora 
reiterando seu poder de fadar-se à morte), o narrador revela um mesmo intuito 
autodestrutivo que serve de hipótese comum aos dois argumentos. Ora, disto 
decorre uma segunda dúvida: como pode o homem contribuir unicamente 
para sua danação e jamais para sua redenção? O caminho é, então, sempre 
para baixo? Ou corrobora para tal desconsolo as misérias racional, material e 
espiritual mencionadas anteriormente, que fazem com que confesse ter “pavor 
das penas eternas” e passar as noites “em suores de agonia”? (idem) 

As respostas às duas perguntas suscitadas por esta primeira parte do 
conto parecem ser impulsionadas pela obscuridade do relato, que talvez queira 
contaminar o leitor, subrepticiamente, para que ele não veja com clareza os 
fundamentos escusos da narração. À suscetibilidade da narrativa, há que se 
cuidar, pois, para que não haja uma idêntica irascibilidade de leitura (que seria, 
da parte do leitor, algo soup au laii). Observe-se, pois, o início da segunda parte 
de “Obsessão”, em que o narrador tenta identificar o exato momento de sua 
queda: 

Foi logo depois do nosso casamento que o mal me entrou 
no corpo. Ou que tomou conta de mim, por me achar sem defesa, 
que até então às investidas dele eu tinha resistido sem custo. O mal 
não foi o amor, que é o sentimento santo; foi a luxúria destruidora, 
que, disfarçando-se com ele, envenenou-me o sangue e a alma. No 
dia, no minuto em que tive minha mulher senti, com um calafrio de 
pavor mortal, que tinha deixado de me pertencer. (C, p. 109) 


O mal oculto do narrador é assim claramente enunciado como o da 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


269 


“luxúria destruidora”, que o invade logo após o casamento, e faz equivaler à 

posse da esposa a perdição de si. No entanto, a resposta “luxúria” não parece 

satisfazer às duas perguntas da primeira parte do conto; afinal, a luxúria (ao lado 

da gula, da avareza, da ira, da inveja, da preguiça e da soberba) corresponde a 

um pecado capital na doutrina católica — com a qual tanto dialoga a “obsessão” 

do narrador pela impossibilidade de redenção — e pode ser perdoada através 

de uma confissão. Mesmo o capelão poderia perdoá-lo, se estivesse pronto 

para confessar-se. No entanto, a recusa do narrador pela confissão (ou pela 

crença em seu poder libertador) condena-o a um impasse religioso. De fato, ele 

julga haver aceitado em seu corpo o “mal”, subvertendo o “sentimento santo” 

do amor pela suposta “luxúria destruidora”. Observe-se, como mediador do 

“mal”, o casamento, que seria tão sagrado quanto o amor se fosse igualmente 

realizado com um coração leve. A posse da mulher é o que o desvirtua. Ora, 

uma luxúria provocada pela posse parece indicar em sua personalidade traços 

de sadismo (ou de masoquismo, se retomado que o amor pela esposa é apenas 

bem-vindo quando faz com que ele sofra): “A felicidade seria que o abandono 

da minha vontade fosse em favor dela [esposa]. Não foi. Na aparência ela era a 

esposa amorosa e submissa, sofrendo mesmo por não compreender as minhas 

violências, os meus transportes loucos.” (idem) 

Tudo parece resolver-se em um caso de posse doentia do corpo da 

mulher, não fosse o terrível prazer de ferir-se através do sofrimento alheio. À 

medida que a brutaliza, despreza-se mais e mais — o que parece encontrar eco na 

condenação metafísica de sua alma — , aumentando exponencialmente a certeza 

de sua nulidade completa. Assim: 

Eu me odiava por não saber dizer-lhe como a adorava [...]. Em vez 
disso a brutalizava [...] comecei a sentir uma voluptuosidade nova 
em vê-la inquieta e apreensiva sob os meus olhares duros e cheios de 
maldade, aflita e desfeita em pranto com as minhas palavras ásperas 
e acusações injustas. Uma vez, numa desolação profunda, observou- 
me que preferia que eu lhe batesse. [...] Uma noite peguei-a pelos 
ombros, que eram um mimo, e pus-me a sacudi-la tão violentamente 
que ela desmaiou. Pensei que a tivesse matado e fugi espavorido. 
Passei dois dias pelos matos num tormento horrível, até que, me 
aproximando da casa, vi-a sentada à entrada da varanda, conversando 
com a mãe. Ajoelhei-me aos seus pés e lhe pedi perdão, chorando de 
alegria, de arrependimento, de amor. Durou poucos dias a felicidade, 
(idem) 




270 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ao tema mais ou menos banal do sofrimento de um jovem marido saudoso 
dos tempos de solteiro — que realça algo unilateralmente as experimentações 
narrativas de um conto como “Só” — , segue-se o sofrimento obscuro do presente 
narrador, pautado na interdição do prazer sádico de ver a mulher diariamente 
martirizada — o que une de maneira mais homogênea aos li ia tos da narração 
autodiegética o plano do conteúdo, ressignificando-a. Pois a satisfação em ferir 
a esposa cresce linearmente à progressão do relato e passa de “palavras ásperas 
e acusações injustas” a violências físicas, que levam mesmo a crer que a mulher 
fora morta antes mesmo do tempo, sacudida até desmaiar. Os dias passados no 
mato, após tal crime presumido, parecem ser evocados algo concertadamente, 
uma vez que, à maneira de Cristo, ressurge à vida ao terceiro dia, depois de 
dois dias passados no inferno provisório de “una selva oscura”, à maneira de 
Dante (1999) nos primeiros versos do canto I do “Inferno”. No entanto, à 
certeza do crime, resolvida rapidamente em termos de mal entendido, não se 
segue o arrependimento verdadeiro, traduzido em uma débil pausa amorosa 
com a esposa e em um falso pedido de perdão. Talvez por isto mesmo, ciente da 
fragilidade do perdão humano — que não o impede de cometer o mesmo crime 
uma segunda vez — , o narrador não sinta remorso pelo que fez, bastando-se a 
analisar o crime de um ponto de vista o mais imparcial que consegue simular. 

Aliás, a simulação é algo com que parece ter certa familiaridade, uma 
vez que regozija por certo tempo com a hipótese integral do apagamento do 
passado pelo perdão, convencendo-se de uma possível compensação de seu 
histórico de abusos: “Logo que nos separamos, a afeição mansa, uma ternura 
que parecia dissolver-me o coração em lágrimas, tomou conta de mim. Nas três 
semanas que andei por longe poucos dias houve em que lhe não escrevesse 
cartas amorosíssimas.” (C., p. 110) Como seria de esperar, a esposa responde 
amorosamente suas cartas, instando-lhe que volte de suas viagens de negócios 
o quanto antes e confessando “que sofria muito por não [o] ter ao pé de si, que 
passava os dias a chorar, com o coração apertado por pressentimentos, ralado de 
saudades” (idem). O realce das qualidades da esposa, assim lembrada enquanto 
mulher extremamente amorosa, parece ter a finalidade única de aumentar a 
incompreensibilidade de seu crime, somada ao reforço numerológico do 
número três (três dias no mato, três semanas na capital), que o recobre de um 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


271 


sentido profano ulterior. Tudo parece, pois, corroborar com a unidade de efeito 
pretendida, de forma a chocar o leitor e provocar em seu espírito uma confusão 
semelhante à do narrador, que não alcança a razão de seu crime e se limita a 
embevecer-se com a raiz oculta do mistério. 

A terceira e última recordação do narrador corresponde, curiosamente, 
ao dia do crime, ocorrido também muito significativamente numa Sexta-feira 
Santa. O dia da Paixão de Cristo, que morre para expiar os pecados humanos, 
corresponde ao dia da consecução das paixões (invertida e execravelmente 
vis) do narrador, encerrando os três eventos recordados à maneira de terços a 
compor um rosário negativo, na contramão da redenção eterna. E isto ocorre 
porque sua mulher pede que ele a mate para que, enfim, seja satisfeito seu desejo, 

mais ou menos à maneira de Jesus: 

Enxugava-me as lágrimas e levava-me a claridade. Fiquei 
cego e pequei. No dia da Paixão sublime, àquela hora religiosa, o 
meu pensamento em vez de subir para as alturas atolou-se no lodo 
do pecado carnal, sob os olhares das primeiras estrelas. Aqui é que a 
minha razão se perde. Não sei se o crime seguiu-se ao pecado como 
continuação da obra diabólica ou se foi a reação contra o pecado que 
me fez criminoso. Lembro-me apenas de que num momento ouvi 
uma voz soluçosa, profunda, suave, sugestiva, que me dizia, que me 
ordenava irresistivelmente: “Mata-me agora, que eu quero...” (C, p. 
111 - 112 ) 

À semelhança de sua queda inconsciente no pecado, o narrador desvirtua 
a ocasião original do crime mediante a profusão de referências religiosas, a ponto 
de indeterminar qual veio primeiro, o crime ou o pecado (“não sei se o crime 
seguiu-se ao pecado como continuação da obra diabólica ou se foi a reação contra 
o pecado que me fez criminoso”). Não obstante, é evidente para quem lê que a 
sequência ternária de acontecimentos pontuada ou implicitamente relacionados 
à Paixão de Cristo é assim apresentada exclusivamente na ordem do narrado, 
enquanto começo, meio e fim da confissão (explicativa, não confessional) do 
narrador. Teria ele então cometido o crime se soubesse de seu intento mimético 
de reencenar a Paixão às avessas? Ou, muito mais provavelmente, os anos a 
fio passados nas galés parecem ter feito encaixar harmoniosamente os fatos 
numa narrativa mais ou menos cômoda, que o exime da culpa pela suposição 
de uma momentânea posse demoníaca justamente no dia da morte de Cristo? 
Inclusive, é para tal alternativa que parece apontar sua única recordação do 




272 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


instante do crime, quando a mulher pede (ou antes, ordena “irresistivelmente”) 
que a sufoque. 

Neste sentido, duplamente isentado de culpa tanto pela ordem suicida da 
mulher quanto pelo abandono da proteção divina no momento de seu sacrifício 
pela Paixão de Cristo (reencenada no sacrifício da esposa, qual segundo 
cordeiro imolado para a expiação senão da alma do narrador, ao menos de sua 
integridade), seu relato parece mais intencional que o prometido, desmentindo 
as linhas gerais delineadas na primeira parte do conto. Àquelas duas perguntas 
por responder — a saber, o porquê do narrar, se o perdão é negado de antemão, 
e o porquê da escolha pelo mal, mesmo sentindo unicamente o bem — segue-se 
o falso mistério da hipótese da possessão, retomada muito convenientemente 
lado a lado das últimas palavras (suicidas) da esposa. Ora, a única alternativa é 
a de cogitar uma resposta negativa para ambas as perguntas, dada a frustração 
do leitor pela inexistência de uma terceira parte conclusiva do conto (do 
argumento), unicamente pressuposta pela suposição pulha de uma atribuição 
do mal (crime) ao Mal (diabo). 

É para tal direção que aponta o trecho imediatamente posterior, em que 

confessa ouvir ruídos sobrenaturais ao sufocar a mulher: 

Comecei a ouvir uns galopes surdos, uivos, risadas malvadas e um 
farfalhar de asas no escuro do meu cérebro, como se o inferno 
tivesse logo tomado conta de mim. Perdi a noção do mais. Disseram 
no tribunal que me encontraram dormindo ou sem acordo, ainda 
agarrado ao cadáver da minha vítima e que a custo desprenderam- 
me as mãos do seu pescoço... (idem) 

Por conseguinte, respondendo às duas perguntas mencionadas, recusar 
ao perdão humano pressuposto pela contrição pública do narrar com base no 
argumento de que a redenção divina é impossível devido à gravidade do crime 
é muito conveniente quando o único argumento de defesa é o da possessão 
diabólica. Quem dera alegasse insanidade, como parece querer fazer ao atribuir 
as manifestações sobrenaturais ao “escuro do [seu] cérebro”. Outrossim, que 
dizer de sua suposta e obscura escolha pelo mal, quando é precisamente o Mal 
seu bode expiatório? 

Trata-se, portanto, de um narrador prospectivo (SANDANELLO, 2015), 
que pretende reescrever o passado com sua própria — e desesperadamente falha 
— versão dos fatos. Não parece haver mais nada a acrescentar a respeito de sua 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


273 


insistência doentia (obsessiva) na insolubilidade do crime, quando das últimas 
linhas de “Obsessão”: 

Condenaram-me às galés; os anos embotaram-me a agudeza 
do tormento, a dureza do castigo me brutificou; mas tudo o que 
me resta da atividade do espírito se concentrou sobre esta questão 
insolúvel da responsabilidade da minha culpa, que eu não quero, 
que não posso tomar sobre mim. [...] De que serviria então um 
perdão dos homens a quem não está certo de que a justiça eterna o 
absolverá? (C, p. 112) 

Não obstante, é de especial interesse a capacidade do escritor, em plena 

maturidade estilística, de apresentar as cenas passadas mediante o desespero 

atual do narrador, que as colore e (res) significa. Trata-se de um procedimento 

ficcional característica e amadurecidamente impressionista. Afinal, 

um elemento essencial a todo comportamento impressionista 
face ao real, além de dado amplamente constitutivo da atitude 
impressionista, é sem dúvida a vontade de opor ao que se vê do 
objeto o que dele se sabe. Disto decorre um respeito, que pode ir aos 
limites da superstição, pelas sensações “reais”, que são ao mesmo 
tempo sensações “pessoais”. (CARAMASCHI, 1985, p. 51) 221 

Neste sentido, o conto representa não apenas o que foi visto, mas, antes 

dele, o como ele foi percebido e atualizado por aquele que o evoca, fazendo mais 

importante que o objeto (crime) sua exposição subjetiva e temporal (confissão, 

explicação). Observe-se sua descrição da fazenda na Sexta-feira Santa, cujos 

detalhes acusam o estado paranoico de sua consciência: 

Pelo aceiro de uma queimada recente, ao pé de um capoeirão de 
machado, eu passei como elevado numa rajada de órgão. Não tão 
absorto que não visse dentro do mato, na sombra que já deixava o 
sol baixinho, umas florinhas brancas balançando sem que houvesse 
vento. Cochichavam decerto sobre coisas estranhas, que se passavam 
lá para dentro, no escuro da noite maliciosa que já aí vinha, coisas 
que eu não queria imaginar, mas que me enturvavam a mente, 
pondo-me um como tremor no coração. (G, p. 110) 

Todo o trecho acima, bem como o que se lhe segue, é antológico em sua 
capacidade de reportar a descrição externa da fazenda a elementos mais e mais 
salientes do impulso assassino do narrador. Assim, parece ouvir os cochichos 


221 “ Un trait essentiel à tout comportement impressionniste face au réel, et partant largement constitutif de 
l’attitude impressionniste, estsans doute la volonté d’opposer ce qtdon voit de 1’objet à ce qu’on en sait. D’oit 
un respect, qui peut aller jusqu a la superstition, des sensations ‘réelles qui sont en même temps les sensations 
‘personnelles’P 




274 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de “ílorinhas brancas” denunciando algo ruim a acontecer “no escuro da noite 
maliciosa”. Mais à frente, repara que “também o rio tinha o que quer que era de 
inquieto”, e o reflexo de suas águas, principalmente onde havia “umas grandes 
árvores de galhos tortos, quase sem folhas, parecia uma tremura de medo ou 
choro de tristeza. E o espelho da água às vezes se embaciava, como se deitasse 
um olhar apreensivo para o céu.” (C, p. 111) Por fim, faz menção a vozes de 
mau presságio trazidas “do outro lado da memória” (qual?): “Havia vozes no 
ar. O vento me soprava nas orelhas umas sílabas de histórias do outro lado da 
memória, que nem mesmo em sonho se chega a saber bem. Então naquela 
tarde eu não queria dar-lhes ouvido, que me pareciam vagamente pecaminosas.” 
(idem) Aqui e ali, parece escusado separar os elementos que são de um e de outro 
(narrador, natureza) pela forma incisiva e sincrética com que são apresentados. 
Observe-se, porém, a menção à rápida passagem pela capoeira queimada 
(terreno comumente empregado para a magia negra, sobre o qual salta como 
“uma rajada de órgão”) enquanto possível índice de preparação do leitor para a 
hipótese da possessão aventada mais à frente. 

Explicados de maneira puramente objetiva, os trechos acima parecem 

indicar uma possível esquizofrenia do narrador, acrescida ao sadismo previamente 

confessado. Ademais, sugerem uma bipolaridade latente, pressuposta pela 

mudança extrema de humor (amor, terror, ódio). Não obstante — e para não 

transformar a crítica em um receituário clínico, cujas prescrições (regras, 

remédios?) fariam silenciar as nuanças da narração — , aos olhos do criminoso, a 

fazenda de outrora, colorida pela paleta da culpa, parece recobrir- se de um véu 

fantástico, sugerindo uma interpretação diversa: 

Mau céu tingido de uma cor incerta, do vermelho ao azul-cinza, 
que cansava os olhos, que ia se abrindo, abrindo, como se a vista 
levantasse cortinas meio transparentes e por fim esbarrasse num 
muro de cristal fosco com relâmpagos deslumbrantes fulgurando 
por trás. Quando eu tirava dele os olhos, a terra me parecia fantástica, 
toda lavada numa amarelidão brilhante com bordados negros. E de 
vez em quando uma asa imensa de sombra sacudia o voo sobre 
aquilo, (idem) 

Assim, explicados a partir do drama do narrador, os mesmos elementos 
parecem indicar uma incapacidade de aceitação dobem (felicidade). O assassinato 
da amada corresponde à destruição de si mesmo e as constantes violências 
psicológicas, anteriores ao sufocamento, equivalem à verificação recorrente de 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


275 


que é amado e de que o merece ser, compensando suas próprias inseguranças. 
Da mesma forma, o argumento da possessão confirma sua incapacidade de 
aceitar a si próprio e sua ênfase desesperada em negar o que há de intimamente 
hostil em sua personalidade, atribuindo a integralidade da culpa a uma força 
exterior. 

No mais, “Obsessão” é o útimo conto do “ interme^go” impressionista de 
Contos a meia tinta e Histórias curtas , porém não o último da carreira do escritor. 
Há ainda dois contos, “Moloch” e “Os olhos”, publicados na Revista brasileira 
entre 1897 e 1898, que retomam alguns aspectos impressionistas, muito embora 
não os desenvolvam para além da forma amadurecida de “Obsessão”. Talvez 
por haver atingido um apuro superior no uso da narração autodiegética e do 
“ auto-réáf \ arduamente conquistado desde os contos do início de sua carreira, 
Domício da Gama decide abandonar tal forma e utilizar um narrador clássico, 
heterodiegético, na maioria dos demais contos posteriores a 1890. 

Outra possível razão para tal afastamento é a do convívio com Eça de 
Queirós em Paris, autor sumamente respeitado (e incensado) por Domício, cujo 
realismo de ênfase social muito pode ter contribuído para uma reorientação de 
seus contos. Além disso, a entrada na diplomacia em (27 de agosto de) 1891 na 
Superintendência Geral da Imigração, em Paris, 222 coloca em segundo plano sua 
produção literária. 

É lícito incluir no mesmo “interme^go” , portanto, os dois últimos contos 
elencados, como forma de avaliar (senão registrar, pelo estado de quase 
ineditismo dos mesmos) as últimas manifestações impressionistas de sua obra. 


222 Diga-se de passagem, a respeito de seu início nas funções diplomáticas, observa Tere- 
za França (2007, p. 44): “A Superintendência tinha por missão cuidar da propaganda e dos 
trâmites daqueles que desejavam emigrar para o Brasil. O trabalho de Gama consistia em 
responder às cartas dos que pediam informações”. Complementa, ainda, Evanildo Bechara: 
(2013, p. 209): “Competia a essa Superintendência fazer a propaganda do Brasil, a fim de 
aliciar imigrantes para a lavoura cafeeira do país, e tratar dos trâmites burocráticos para quem 
se dispusesse a emigrar. Data, portanto, de 1891 o período a partir do qual Domício deixa de 
atuar como jornalista exclusivo da Gazeta para ingressar no serviço público, sob a tutela do 
Barão do Rio Branco.” Alberto Venâncio Filho (2002, p. 216), por sua vez, situa em outubro 
de 1891 (e não em agosto, como Tereza França) o início de suas atividades: “Já em outubro 
de 1891 era nomeado auxiliar da Superintendência Geral do Serviço de Emigração do Brasil 
na Europa, com sede em Paris, dirigida por Rio Branco.” 




276 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Moloch (1897) 

Após a resolução da Questão de Palmas e o fim do litígio geográfico entre 
o Brasil e a Argentina em 1896, Domício da Gama experimenta um período 
de (breve) calma nos afazeres diplomáticos, podendo dedicar-se à literatura 
ainda uma última vez. No entanto, escreve na ocasião apenas dois contos que 
apresentam traços impressionistas — “Moloch” e “Os olhos”. 

Publicado no tomo XII da Revista brasileira de 1897, referente ao último 
trimestre do ano, “Moloch” é uma reflexão acerca da relatividade da percepção 
e de seu poder devastador — físico e espiritual — sobre o indivíduo. 223 Como 
em “Só” e “Obsessão”, há a presença de um narrador autodiegético; contudo, 
não se trata mais do relato de alguém culpado ou criminoso, mas sim de uma 
vítima. Acometido pelo sol e pela seca, o narrador relata fantasticamente em 
meio a devaneios a ocasião de sua morte, relembrando-se de como foi engolido 
pelas chamas de um incêndio. Neste sentido, como segundo texto fantástico da 
obra de Domício, “Moloch” confirma a vertente fantástica iniciada por “Alma 
nova”, desenvolvendo-lhe algo provisoriamente. 

Não menos importante que tal recorrência do elemento fantástico, é 
ainda o fato de “Moloch” não ser incluído em Histórias curtas , sendo preterido 
por muitos outros já publicados em Contos a meia tinta. Há que se relevar, pois, 
o lugar acessório do conto na obra do escritor — cuja análise, a rigor, faria 
encerrar o estudo do impressionismo com “Obsessão”, mais importante para 
o sistema de sua obra, posto que reproduzido nos dois volumes mencionados. 
Não obstante, diversos elementos podem ser nele avaliados com proveito. 

De início, há que se dizer algumas palavras a respeito do deus pagão 
presente no título do conto. Mencionado diversas vezes na Bíblia como 
exemplo de demônio carniceiro e ímpio, 224 ao lado de outros como Dagon 

223 Além de um exemplo diferenciado daquilo que Ronaldo Fernandes (2011, p. 211) mais 
aprecia em sua obra: “Não há em Domício o estilo seco dos naturalistas, nem muito menos 
o estilo enxuto dos realistas, mas um estilo exuberante, sem que caia no trivial ou se afunde 
num rococó que nada acrescenta.” 

224 Há duas passagens em Hvítico que demarcam o grau de abominação do culto a Moloque 
na doutrina cristã: “Não sacrifique um filho seu a Moloc, profanando o nome do seu Deus. 
Eu sou Javé”; “Todo filho de Israel ou imigrante residente em Israel, que entregar um de seus 
filhos a Moloc, será réu de morte.” (BÍBLIA SAGRADA, 2000, p. 128, 130) Nos dois livros 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


277 


e Baal, Moloque corresponde ao deus do fogo cultuado por diversos povos, 
sobretudo os amonitas (antigos habitantes da região que hoje corresponde à 
porção central da Jordânia). Representado por uma figura humana de cabeça 
de boi, a ele eram usualmente sacrificadas crianças, consumidas vivas pelo fogo. 
Há, assim, certa semelhança entre Moloque e Cronos, devoradores eternos das 
gerações futuras, além de símbolos do fluir temporal. Ademais, duas outras 
razões fazem com que tal figura seja de importância estratégica na linha de 
contos aqui analisada: primeiramente, retoma o motivo da posse demoníaca 
com a significativa menção ao fogo (basta lembrar do narrador de “Obsessão”, 
que se julga possuído por um espírito mal, chegando mesmo a saltar por sobre 
um pedaço de chão queimado com uma velocidade descomunal); em segundo 
lugar, retoma o recurso a referências literárias as mais diversas como forma 
de ampla resolução e justificação do enredo, à maneira de um deus ex machina 
(em alusão às referências mitológicas de “Outrora...”, bem como à encarnação 
do Tempo na figura do menestrel José Ramos). Logo, há uma confluência de 
recursos previamente detectados, revisitados pela rica descrição do incêndio na 
Fazenda Velha (ao qual tampouco é escusado tecer paralelos com trechos de “A 
mancha”). 

O enredo de “Moloch” é bastante sucinto: um grupo de homens conversa 
tranquilamente à noite em meio ao sertão de Campo Grande. O narrador, 
chamado pelos demais de “Nhosinho” (o que faz inferir sua qualidade de 
possível herdeiro daquelas terras), chega a sonhar molemente com um incêndio, 
em meio à conversa do fim do dia. Quando descobrem que um grande incêndio 
se acerca da fazenda, vão todos até lá para ver a gravidade do ocorrido e são 
surpreendidos pelo rápido alastrear das chamas. “Nhosinho” tenta fugir, mas 
morre com os olhos bem abertos, surpreendidos pela grandeza da visão das 
chamas. 

O elemento visual é, assim, revisitado do início ao fim do conto e 

de Reis, há menção à adoração de Moloc por Salomão, e à destruição dos ídolos estrangeiros 
por Josias (idem, p. 362; 406); em Jeremias, Javé acusa a profanação de seu Templo: “Eles co- 
locavam abominações na Casa que levava o meu nome, profanando-a; construíram lugares 
altos a Baal no vale de Ben-Enom, para aí queimar seus filhos e filhas em honra de Moloc: 
coisa que eu nunca mandei, nem jamais passou pelo meu pensamento. Eles fizeram abomi- 
nações semelhantes, ensinando Judá a pecar.” (idem, p. 995-996) Uma acusação semelhante 
da falta de fé de seu povo está presente nos Atos dos Apóstolos (idem, p. 1335). 




278 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


desempenha nele uma função tanto estilística quanto temática. Paralelamente, 
as descrições são dadas uma a uma a partir de seus efeitos sobre a percepção do 
narrador. No mais, o cuidado com a equivalência entre a ação (exterior) e sua 
apreensão (interior) atinge, tal como em “Obsessão”, um grau de maestria que 

se pode verificar desde as primeiras linhas do conto: 

Era o tempo de seca, pelos fins de agosto. Fumaceira azulenta 
envolvendo os montes, sóis vermelhos ao amanhecer, violetas à 
hora do crepúsculo, e um calor incômodo atravessado por baforadas 
sufocantes, como de queimadas perto, o mal-estar das brumas 
quentes dos trópicos. 

Por pouco que se trabalhasse durante o dia, no serão da prosa 
costumada havia quase silêncio agora. A mesma fadiga que quebrava 
os corpos para a ação tolhia as línguas para a palestra. Frases raras, 
espaçadas, entreabrindo a porta a cismas vagas, ensaiando conversas 
sem assunto, passavam como um voo na sombra, deixando no 
minuto seguinte a submemória apenas, a realidade indefinível de 
música imaginada em sonho. (GAMA, 1897b, p. 321) 

A enumeração de sensações visuais e tácteis evoca uma atmosfera de vaga 
tranquilidade, dissipada na fumaça “azulenta” e nas “baforadas sufocantes” do 
fim do dia no sertão, sob a luminosidade cambiante do sol, sempre presente 
“nas brumas quentes dos trópicos.” À semelhança da quietude do clima, 
segue-se a quietude da “prosa” descompromissada dos tropeiros e peões em 
“conversas sem assunto”, visualmente recodificadas “como um voo na sombra” 
e resumidas na vagueza de uma “submemória”. Atente-se para a importância de 
tal palavra-conceito no desenvolvimento do conto, enquanto ponto de contato 

entre a percepcão do narrador e aquilo que é percebido: 

E não se pensava: sentia-se, rememorava-se. Nos braços 
fatigados um retorcimento de músculos evocava o bonito laço 
jogado a um boizinho vermelho no Campo Grande e o esticão da 
mula voltando na espora, fazendo praça ao outro laçador; nas pupilas 
dilatadas na escuridão um clarão nervoso, reflexo da asa trêmula de 
algum morcego que volita, da folha de palmeira que apanha a luz de 
uma estrela ou a fosforescência de um vagalume errante, seria o voo 
de garças brancas que se levantou da beirada verde à barulhada dos 
cavaleiros atravessando o rio logo de manhãzinha. E a repercussão, 
que fica na cabeça, das longas galopadas do dia de lida marcava 
a cadência na memória do último sapateado na festa do capitão, 
(idem) 

A presciência de Domício da Gama ao observar a íntima conexão entre 
o corpo e a percepção (antes, entre o corpo e a memória), traduzida, assim, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


279 


em termos de uma “submemória” embrenhada no retesar dos músculos do 
braço (laçar de “um boizinho vermelho”), na dilatação das pupilas (reflexo 
do voo de morcegos, de uma folha de palmeira molhada de sereno, de um 
“vagalume errante”) e na repercussão nos ouvidos (“último sapateado na festa 
do capitão”), antecipa uma discussão que somente seria aprofundada mais de 
meio século depois pela filosofia francesa — sobretudo, pela Fenomenologia da 
percepção de Merleau-Ponty . 225 

Neste sentido, “submemória” equivale ao ponto em que os atos de 


225 “As pretensas condições da percepção só se tornam anteriores à própria percepção 
quando, em lugar de descrever o fenômeno perceptivo como primeira abertura ao projeto, 
nós supomos em torno dele um meio onde já estejam inscritas todas as explicitações e todas 
as confrontações que a percepção analítica obterá, onde estejam justificadas todas as normas 
da percepção efetiva — um lugar da verdade, um mundo. Ao fazer isso, nós subtraímos à 
percepção a sua função essencial, que é a de fundar ou de inaugurar o conhecimento, e a 
vemos através de seus resultados. Se nós nos atemos aos fenômenos, a unidade da coisa 
na percepção não é construída por associação, mas, condição da associação, ela precede os 
confrontos que a verificam e a determinam, ela se precede a si mesma. Se caminho em uma 
praia em direção a um barco encalhado e a chaminé ou o mastro se confundem com a flo- 
resta que circunda a duna, haverá um momento em que estas partes se juntarão vivamente 
ao barco e se soldarão a ele. A medida que eu me aproximava, não percebi semelhanças ou 
proximidades que enfim teriam reunido perestrutura do barco em um desenho contínuo. 
Eu apenas senti que o aspecto do objeto ia mudar, que nesta tensão algo era iminente assim 
como a tempestade é iminente nas nuvens. Repentinamente o espetáculo se reorganizou 
satisfazendo minha expectativa imprecisa. Depois eu reconheço, como justificações da mu- 
dança, a semelhança e a contiguidade daquilo que chamo de “estímulos” — quer dizer, os 
fenômenos mais determinados, obtidos a curta distância, e a partir dos quais eu componho 
o mundo “verdadeiro”. “Como não vi que estes pedaços de madeira faziam corpo com o 
barco? No entanto eles tinham a mesma cor que ele, ajustavam-se bem à sua superestrutura .” 
Mas essas razões de bem perceber não eram dadas como razões antes da percepção correta. 
A unidade do objeto está fundada no pressentimento de uma ordem iminente que de um só 
golpe dará resposta a questões apenas latentes na paisagem, ela resolve um problema que só 
estava posto sob a forma de uma vaga inquietação, ela organiza elementos que até então não 
pertenciam ao mesmo universo e que, por essa razão, como disse Kant com profundidade, 
não podiam ser associados. Colocando-os no mesmo terreno, o do objeto único, a sinopse 
torna possível a contiguidade e a semelhança entre eles, e uma impressão nunca pode por si 
mesma associar-se a uma outra impressão.” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 40-41) É impos- 
sível não pensar, no que toca à “vaga inquietação” referida pelo filósofo, na sequência imedia- 
ta de “Moloch”, em que o narrador, após sintetizar os pares isolados de impressões (a partir 
dos mencionados músculos, pupilas, ouvidos), experimenta uma mesma “inquietação vaga”, 
talvez decorrente de um mesmo “pressentimento iminente” da necessária unidade do objeto 
(a “Noite” na alma, premonitória da morte do narrador): “Em tudo isto nada de preciso; era 
como se a Noite entrasse com o ar quente pela alma adentro e cortasse de sombra a clareza 
e o destino dos pensamentos em formação. Uma inquietação vaga, no entanto: a expectação 
de coisas que se não devem esperar...” (GAMA, 1897b, p. 322) 




280 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


sentir e rememorar indistinguem-se, revelando a natureza corporal, biológica, 
da memória. Atento à falácia de uma ideia preconcebida dos objetos, que 
pressupõe uma divisão entre aquele que percebe e aquilo que é percebido, 
o autor revela, assim, uma íntima consciência dos extremos “ phénocentristê ’ e 
“ perceptivistê ’ do impressionismo literário (VOUILLOUX, 2012), revelando o 
quanto a percepção está imbricada na memória e o quanto é indevido privilegiar 
um elemento (pictórico sob o visual) em detrimento do outro (fenômeno sob 
a sensação). De certa forma, não seria ilícito afirmar que, por meio da palavra- 
conceito “submemória”, Domício dá sua contribuição pessoal à evolução do 
impressionismo literário no Brasil, antecipando uma concepção de literatura que 
seria revisitada, sobretudo, por Adelino Magalhães (e que faz pensar também na 
obra de autores como Proust ou Sarraute 226 ). 

No entanto, ainda que anteponha brevemente a sensação e a memória 
ao pensamento e resguarde, com isso, um plano especial para este contínuo 
que chama de “submemória”, há a referência exterior (extrassensorial) do 
holocausto a Moloque, que tudo antecipa e ressignifica — o tempo de seca, o 
calor, o abandono dos homens à conversa, as sensações-memórias — com base 
em um desfecho introjetado por tal referência a um culto pagão, de todo estranho 
às personagens e ao meio representado. Essa inversão parece rarear o sentido 
de “submemória” no conto, uma vez que sabota a imediatez da experiência em 
prol de um reforço da impressão do leitor pela apoteose pagã do fogo. 

Uma segunda causa do apagamento da “submemória” é a explicação 
empobrecedora das (até então ricas) reflexões do narrador pelo argumento da 
loucura: 

Só ficaram os rumores imaginosos do silêncio, deformados por 
interpretações do ouvido alucinantes: suspiros profundos, quase 
gemidos, como de órgãos soando nas alturas; notas perdidas de 
cantos que a memória recompõe; frases quase inteiras moduladas 
num sussurro suave de ária cantada a menos de meia voz, a 
cochichar baixinho, mas afinada como a imaginação sabe afinar pela 
harmonia interior; cadências joviais de castanholas começadas pelas 
folhas secas rolando no chão duro do terreiro [...]. Deitado sobre 
uma esteira ao longo da escada e com a nuca apoiada no último 


226 Para ficarmos em conceitos próximos e igualmente instigantes, seria de grande interes- 
se um estudo das nuanças da “submemória” em Domício da Gama, da “subnarrativa” em 
Nathalie Sarraute e do “ suritnpressionnisme” em Proust. Porém, como quase tudo relativo a 
Domício da Gama, tal trabalho ainda está por ser feito. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


281 


degrau eu cansava os olhos procurando no céu fuliginoso o lugar 
das estrelas costumadas, (idem) 

Assim, a explicação terra-a-terra da loucura e da alucinação, ainda 
que some qualidades a textos como “Só” e “Obsessão”, é uma negativa em 
“Moloch”, fazendo com que a “submemória” seja preterida em prol de uma 
leitura univocamente causal. É o que ocorre no trecho acima, em que se deixa 
de explorar a conexão entre o corpo e a memória para resolver as sugestões 
evocadas — como o rolar de “folhas secas no chão duro” e o equivalente tilintar de 
castanholas — pelas pobres “interpretações do ouvido alucinantes”. Igualmente, 
confessa o narrador que procura mais do que vê “no céu fuliginoso”, i.e., 
pospondo ao que vê aquilo que já sabe ali estar no “lugar das estrelas costumadas”, 
quando, até então, buscava ele fazer exatemente o oposto, abandonando-se às 
cenas evocadas (ou mesmo presentes nos movimentos feitos) pelos músculos, 
pupilas e ouvidos. O desnível entre um argumento e outro, no breve espaço de 
duas páginas em que constam ambos, é um sucinto contrassenso, e exemplifica 
o quanto a resolução silenciadora da loucura — ou antes, a crença irrestrita no 
poder da razão, como reguladora última também das sensações e da memória — 
prejudica a coesão de seu texto, dando inicio a uma série de incongruências (que 
possivelmente o motivaram a excluir “Moloch” de Histórias curtas , mantendo, 
contraditoriamente, um conto como “Outrora”, em que a loucura, enquanto 
argumento, desempenha uma falha semelhante de composição). 

Não obstante, acrescenta- se à autoavaliação do narrador uma série de 

novas incoerências no que toca à “submemória”: 

E era como um morrer suave, um gozo sem espasmo, essa 
embebição voluptuosa pelo quase esquecimento de sentir, pela 
sombra aquietante; era, com a diminuição da percepção grosseira 
das coisas, um enternecimento por tudo o que me fazia e me queria 
bem, que até então não percebera, pela Natureza, mãe amantíssima, 
pela vida daqueles peões e tropeiros, homens de outra lida, meus 
companheiros por uns tempos, meus irmãos por origens e destino, 
meus irmãos pelo sentir talvez, pelo desconhecido enchendo a treva 
e fazendo palpitar com a sagrada opressão o meu corpo jovem, forte, 
elástico, em que o sangue corria com o ímpeto tranquilo de uma 
caudal serena, dando-me pela intuição da força disponível o orgulho 
de viver. Depois eram uns eclipses inefáveis da energia, [...] minutos 
em que nem tormentos do passado, nem ansiedade do futuro, nada 
me vinha enturvar as claridades da alma capaz de sentir a vida 
intensa e pura, a essência das coisas desprendida delas, a realidade 
fora da materialidade do fato, capaz de entender a fisionomia moral 




282 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


dos seres de menor vida, na contemplação quase divinatória do 
Universo, e logo, no abaixamento dos voos vertiginosos, a atração, o 
pavor divino dos abismos devoradores. Hiperestesia, persentimento, 
pressentimento - o maximum da tensão. Uma arcada mais forte me 
estalaria as cordas, (idem, p. 322-323) 

A atenção completa à “realidade fora da materialidade do fato” (i.e., fora 
de sua relação imediata com os sentidos e, por extensão, com a “submemória”) 
é dada em diversas etapas pelas quais o narrador se afasta gradualmente da 
“percepção grosseira das coisas” e se aproxima da contemplação de sua 
essência: de início, elogia a Natureza, alegorizada e destacada da experiência 
na qualidade genérica de “mãe amantíssima” (logo desmentida pela seca e pelo 
incêndio); a seguir, elogia a unidade que o liga aos demais peões e tropeiros, seus 
“irmãos por origem e destino” e “irmãos pelo sentir talvez” (muito embora seja 
chamado por todos de “Nhosinho” e dispense seus conselhos); gaba-se, ainda, 
de seu corpo sadio, “jovem, forte, elástico”, capaz de garantir-lhe o viço da 
juventude (conquanto, posteriormente, sua lentidão na fuga fade-o à morte); 
e, finalmente, atinge a serenidade “em que nem tormentos do passado, nem 
ansiedade do futuro”, podem interpor-se-lhe à “essência das coisas desprendida 
delas” (à contrapelo da intimidade entre a coisa e a percepção, na qualidade de 
“submemória”). Trata-se, pois, de uma série de negativas pelas quais o narrador 
julga ilusoriamente atingir “a fisionomia moral dos seres de menor vida, na 
contemplação quase divinatória do Universo”, provocando uma cisão entre o 
plano da narração e o plano do narrado. Uma a uma, suas afirmações são assim 
negadas por aquilo que afirma a respeito do sertão, dos companheiros e de si, 
respectivamente. Apreciadas em conjunto — e somadas à morte do narrador 
— parecem indicar uma incoerência de base entre a simplicidade da prosa dos 
tropeiros, ao cair da noite, e a “hiperestesia” súbita e imotivada do narrador, 
que se abandona ao “persentimento, pressentimento — o maximum da tensão”, 
equiparando sua arcada óssea a um instrumento musical em constante vibração 
(“Uma arcada mais forte me estalaria as cordas”). 

Tal afinação holística entre o narrador e o Universo torna-se, pois, 
despropositada à diegese do conto. Afinal, de um lado, os comentários dos 
peões à chegada da seca — “- A água do mar está fria. Vai seca adiante. [...] - 
Deus nos guarde! Os pastos já são só palha seca” (idem, p. 322) — antecipam 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


283 


a hipótese do incêndio; de outro, o alheamento do narrador, que ignora as 
advertências dos companheiros, antevê a causa de sua morte. Pelo sim ou pelo 
não, se ele, de fato, possuísse uma apreensão “divinatória” (idem) do futuro, 
não haveria tampouco porque cogitar como devaneio sua “adivinhação” do 
incêndio: 

Por trás do Mato Grande surgiu uma nuvem avermelhada, 
parecendo refletir um clarão. 

- Será o fogo? indaguei. 

- Qual fogo, Nhosinho? 

Não respondi. A minha pergunta completava uma criação 
imaginária de incêndio colossal, as chamas invadindo toda a 
atmosfera, e nós vivendo entre elas como salamandras contentes, 
rabeantes, infatigáveis - sugestão da tepidez do ar, da secura das 
matas e dos campos, dos receios de incêndio, e também de estar 
deitado muito tempo na mesma posição, (idem, p. 323) 

Novamente, a tentativa de explicação lógica das percepções — no caso, do 
possível reflexo do fogo pelo vermelho das nuvens — acompanha o argumento 
de uma “criação imaginária”, deformadora do real. Trata-se de um movimento 
textual sumamente aintimpressionista, votado à busca de causas exteriores que 
expliquem as possíveis incoerências da percepção: a “tepidez do ar”, a “secura 
das matas e dos campos”, os “receios do incêndio”, a debilidade do corpo 
“deitado muito tempo na mesma posição” etc. Tudo parece confirmar o incêndio 
como algo secundário (imaginário), invalidando as comparações do narrador 
(peões e trapeiros como “salamandras contentes, rabeantes, infatigáveis”) 
como despropósito lógico. Infelizmente, seja pela extensão reduzida do conto 
seja pela sugestão prevista pelo título, esse movimento parece reforçar aquela 
incoerência de base, tornando sua leitura morosa e previsível . 22 


227 Curiosamente, o próprio autor, ao discorrer em uma de suas crônicas da coluna “De 
Paris” a respeito das lacunas que considera haver na arte teatral de sua época, mostra-se 
contrário ao excesso de explicações na obra de arte, julgando ser ele o responsável pela fal- 
sidade dos caracteres representados: “Dados os elementos cômicos ou trágicos, a comédia 
ou a tragédia está feita e verdadeira, exalando-se deles como a nota musical aguda ou grave, 
segundo a corda vibrada. O que produz a simpatia que eles nos inspiram, é a sua sinceridade 
e simplicidade. Nós hoje somos pouco claros, porque nos enturvamos de propósito com 
explicações que nada adiantam à verdade dos nossos caracteres. Um homem que é triste e 
simpático, torna-se antipático, se explica com muitas finuras vaidosas o estado de sua alma. 
A decadência romântica, todas as produções da escola psicológica atual, estão eivadas desse 
narcisismo lamentoso.” (GAMA, 1890c, p. 1) Percebe-se, assim, certo desnível entre o pensa- 
mento do autor e a sua prática literária, embora seja ele menos perceptível em outros contos 




284 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Assim, chega por um cavaleiro de nome Chico Lopes a súbita notícia do 
fogo “no mato da Fazenda Velha” (idem, p. 323) com ar de notícia de ontem. 
E, curiosamente, a corrida pela restinga atrás de outro cavaleiro, João Pedro, 
acompanha-se da mesma nuvem avermelhada, já sem sombra de alucinação 
nem de loucura: “A nuvem, que tinha crescido e ocupava agora grande parte 
do céu, nos clareava o caminho com o reflexo do incêndio.” (idem, p. 324) 
Logo, a retomada de uma passagem em outra, ou melhor, da visão de outrora 
(reflexo de um fogo imaginado) na visão presente (reflexo de um fogo factual), 
confirma o completo abandono da fórmula anterior da “submemória” e exclui 
a participação subjetiva do olhar do narrador naquilo que é visto. É importante 
destacar que a passagem da suposta loucura à suposta verdade é mediada pela 
presença de dois outros personagens — Chico Lopes e João Pedro — , que fazem 
uma espécie de triagem das observações do narrador, deixando apenas o mínimo 
múltiplo comum da experiência. 

Há, pois, a certeza do fogo. Entretanto, para além da mera constatação 

de sua existência, é o olhar imaginativo (alucinado) do narrador que garante a 

beleza de sua descrição, toda ela feita em termos do efeito das nuvens, do chão, 

do trotar dos cavalos etc., sobre si: 

Ao avistar a lagoa tive um estremeção: nos lugares livres da sombra 
dos morros, a oeste e para o mar, ela parecia suja de sangue, do 
sangue daquela batalha, cujo estrondo já nos chegava indistintamente 
aos ouvidos. [...] Sobre o chão elástico, húmido e sempre coberto da 
erva miúda da beira d’água, as oito patas de ferro do Castanho e do 
Anum cadenciaram o galope que embriaga. Junta à quase sem-razão 
da nossa sortida, começada na excitação de um primeiro impulso e ao 
fantástico do cenário iluminado pelo clarão vermelho, aquela corrida 
veloz e silenciosa acabava de me desvairar. Pus-me fora de mim, 
para me encarnar em cavaleiro heroico de legenda. E estribando-me 
forte, a musculatura preparada para o mando dos nervos excitados, 
[...] experimentei a rara sensação do primeiro movimento de uma 
agressão prolongado. A imaginação deformando e multiplicando 
sons e visões fazia-me sentir a arrancada de um esquadrão me 
acompanhando, (idem, p. 324) 

Ainda que reconheça seu desvairamento “em cavaleiro heroico de legenda” 
e explicite a mediação deformadora e multiplicadora de sua imaginação como 
ponto comum à descrição subsequente do incêndio, a descrição soa falsa. De 


aqui analisados. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


285 


partida, soa dcsaj us tadamen tc racional alguém que se diz louco e enumera com 
capacidade invejável, uma a uma, as peculiaridades de uma cena que se quer dar 
a ver inteiramente para o leitor. Em seguida, reconhece-se uma falta básica entre 
o recurso retórico empregado — a hipotipose — e a demonização da imaginação 
pelo narrador. Isto porque “a hipotipose é uma figura claramente perceptiva, 
isto é, assenta no testemunho (imaginado) dos sentidos. O que o orador intenta 
com a hipotipose é que o ouvinte se convença tal como aconteceria com uma 
percepção direta do que é assim descrito.” (FIDALGO, [s/ d], p. 2) No entanto, 
interpõe-se à visualidade dos detalhes descritos — o reflexo do fogo na lagoa 
“suja de sangue”; a embriaguez cadenciada pelo som do galope dos cavalos, 
a trotarem por um “chão elástico, húmido”; o cenário “fantástico” iluminado 
pelo “clarão vermelho” — a digressão onipresente do narrador, desculpando- 
se pelo excesso de imagens e lembrando o leitor de seu estado de loucura 
temporária. Ora, não se duvida da parcialidade de seu testemunho, nem do 
papel nisso desempenhado pela imaginação; afinal, parcialidade e inventividade 
são pressupostos básicos de qualquer texto literário. Inversamente, o que se 
percebe da insistência nesse mau uso da hipotipose, acrescida da negação 
da “submemória” previamente discutida, é certa reserva do autor perante a 
subjetividade na escrita, sensível nos últimos anos dedicados à literatura. Cada 
vez mais, a objetividade dos afazeres diplomáticos parecem contaminar sua 
escrita, revestindo seus contos de entre 1896 e 1898 de uma aura de bom senso 
mediano. 

Feitas tais observações, e relativizado o estado de loucura temporária do 

narrador, é possível avaliar no trecho subsequente do conto um bom exemplo de 

descrição (pictoricamente) impressionista. Neste sentido, e sob tais condições 

apenas, é que se contempla o avançar das chamas (cuja opulência visual parece 

lembrar o incêndio d’0 Ateneu, de Pompeia): 

De baixo já as árvores mostravam as grimpas tocadas de púrpura, 
de carmim, de ouro candente, da reverberação do fogo próximo. 
No alto o cavalo estacou de repente, com as orelhas fitas e 
sacudimentos de espanto, querendo recuar. A luz cegava. O que 
se via primeiro era só fumo e sombra. Depois a avançada do fogo, 
sinuosa e deslumbrante, como uma maravilhosa franja viva que 
arrastasse sobre a terra o manto da treva infinita. No céu entre os 
turbilhões de fumo desapareciam as estrelas. Os lugares de faxina 
abundante se conheciam pelo alteiamento súbito, quase explosivo, 
da chama clara e viva. Grandes fagulhas arrebatadas pela tiragem 




286 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


do incêndio abatiam-se em elegantes parábolas, ateiando novos 
focos mais longe. A cem passos de nós um gramado ressequido 
ardia rapidamente aos arrancos caprichosos do fogo cujas línguas 
fuzilantes pareciam lamber a terra, encarniçando-se, numa ânsia 
devoradora. Pelo grotão escuro do Palmital a labareda rugidora 
se estendia, como uma cachoeira que subisse, ardente e furiosa, 
divina de espanto. Para o horizonte ao norte, os vultos sombrios 
dos montes escorrendo em brasidos sanguinolentos eram como 
os cadáveres de desmedidos elefantes carbonizados. E além, além 
seriam negrumes mortuários, solidões pavorosas, a desolação da 
passagem devastadora do Elemento... (GAMA, 1897b, p. 324-325) 

Parece escusado demonstrar, ainda uma vez, o desnível entre a riqueza 
das metáforas e comparações do trecho acima e a pobreza assensorial do 
“Elemento” mencionado em seu desfecho. Em suas evidentes qualidades, 
pode-se retomar aquilo que Richard Brettell (2005, p. 199) dizia a respeito das 
“construções temporais impressionistas” e de sua tendência ao “antinarrativo”, 
sob uma nova postura de visão e de escrita: “Longe de sermos ‘espectadores 
passivos’, nós nos tornamos ‘pintores espectadores’ [...]. Por conseguinte, nós 
criamos a narração pelo ato de observar [...], imaginando desejos plasmados 
[fantasmés] em nossos assuntos humanos.” 228 Neste sentido, observe-se o 
como a fascinação do narrador pelo fogo motiva a descrição de sua dança quase 
carnal sobre a terra, sem que tal razão seja explicitada no trecho (muito embora 
o seja, dois parágrafos à frente). 

Finalmente, a morte fantástica do narrador, autossacrificado em meio às 
chamas pela contemplação de sua beleza majestosa, reconfigura aqueles laivos 
picturais segundo a referência extrassensorial a Moloque. Há, assim, observações 
que apenas reforçam a obsessão do narrador pelo fogo, na qualidade não mais 
de “Nhosinho”, mas de sacerdote de um culto profano, completamente exterior 
ao incêndio como percebido pelos demais tropeiros e peões: “Eu entontecia, 
como entre a fumarada dos altares o levita antigo [...]. Já olhava sem ver, já me 
sentia perdido, fascinado pelo elemento destruidor.” (GAMA, 1897b, p. 325) 
Assim, é com terror, alegria, lamento e abandono que se deixa “tragar pela 
estrada feita em goela de chama, a boca esfomeada de Moloch”, até adentrar 


228 «Ainsi, les constructions temporelles impressionnistes tendent vers 1’antinarratif, mais pas de la ma- 
nière dite par Ha user. Poin d’être des ‘spectateurs passifs’, noas devenons des ‘peintres spectatears’ [...]. Par 
conséquent, c’est noas qai créons la narration par l’acte de regarder [...] imaginant des désirs fantasmés che ^ 
nos sajets humains .» 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


287 


os instantes posteriores à sua morte: “Dos cantos da boca convulsa escorria- 
me a espuma ensanguentada. Os olhos tinham olhado. E a visão terrífica os 
extinguira.” (idem, p. 326) 

O disparate da narração da própria morte na boca de um narrador que 
tem horror a ser minimamente imaginativo em suas descrições é, de certa forma, 
o resultado lógico do mau uso da hipotipose. Afinal, em literatura, é possível 
confessar coisas ilógicas, mesmo existir um defunto narrador (ex. Brás Cubas). 
A liberdade narrativa proporcionada pelo impressionismo literário (como pela 
literatura, em geral) é, assim, indeferida por um pudor realista cada vez mais 
debilitante, que viria a contribuir para o fim da carreira literária de Domício. É 
digna de nota, diga-se de passagem, a rejeição programática em “Moloch” de 
elementos arduamente explorados e conquistados na primeira fase de sua obra, 
claramente indicativos de uma estética que perpassa de maneira tão perene o 
pensamento e a sensibilidade do escritor (para além dos contos e adentrando 
seus discursos, crônicas etc.). 

No conto seguinte, o último aproximativamente “impressionista” de sua 
obra, “Os olhos”, a liberdade imaginativa é utilizada com maior proveito, ainda 
que esteja longe de configurar um uso sistemático de elementos (no presente 
caso, de rudimentos) impressionistas. 

Os olhos (1898) 

Assim como “Moloch”, “Os olhos” ocupa um lugar periférico na obra de 
Domício da Gama. Trata-se de um conto que não faz parte daqueles compilados 
em Histórias curtas e cuja única publicação é a da Revista brasileira, no volume 
imediatamente posterior ao de “Moloch” (jan.-mar. 1898). De certa forma, é 
curioso que um conto autobiográfico como “João Chinchila”, escrito também 
em 1898, tenha tomado seu lugar no desfecho das Histórias curtas, apontando 
para uma direção de leitura completamente diversa. Tampouco consitui “Os 
olhos” um exemplo de conto impressionista, muito embora alguns elementos 
aí estejam presentes e mereçam uma análise um pouco mais detida. 

Como de praxe nos demais contos do autor, o enredo d’“Os olhos” pode 
ser resumido em poucas linhas: o narrador acaba de sair do enterro de alguém 




288 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


muito querido e, no auge de seu sofrimento, tem alucinações terríveis à beira 
da praia, das quais acaba por despertar. Há, portanto, a presença de um novo 
narrador autodiegético, cujos pensamentos constituem ainda a matéria central 
do texto. Porém, a diferença que separa “Os olhos” da linha evolutiva dos contos 
anteriores é aquela trazida por um elemento novo: sua fixação pelos olhos do 
morto reproduz- se em suas alucinações, fazendo com que um olho fantástico, 
destacado de si, observe no movimento da História (assim alegorizada em 
maiúscula) os olhos de figuras importantes do passado, como forma de totalizar 
um registro suprassensorial da própria dor. 

À primeira vista, tal elemento poderia evocar certa ressonância 
romântico-simbolista e fazer pensar em autores oitocentistas como Balzac, 
Poe ou Lamennais, numa longa tradição de textos simbólicos e visionários que 
remonta ao Apocalipse de São João. Obviamente, tal seria plausível, não fosse a 
manutenção de elementos trazidos de contos anteriores de Domício, tais como 
o recurso ao argumento da loucura temporária, a justaposição do devaneio do 
narrador a referências literárias enxertadas etc., que reorientam a leitura d’“Os 
olhos” segundo sua significação de conjunto. Neste sentido, caberia observar, 
antes de tudo, seu lugar específico na evolução do impressionismo literário do 
autor e limitar tais indicações a roteiros possíveis e futuros de análise. 

Observe-se, assim, os dois primeiros parágrafos do texto, e veja-se como 

as tensões da narração de “Moloch” são repetidas e ampliadas: 

Alguns palmos de terra escura e morta, da terra sinistra das 
sepulturas, guardam agora o corpo para sempre imóvel daquele 
a quem em vida mal bastava a largueza dos mares infinitos! [...] 
Cismando na dissolução que começa do morto amado, a amargura 
da minha saudade se agravava de uma piedade lancinante, de 
uma tristeza esmorecedora, pela expressão queixosa que tomou 
o seu rosto quando se desfranziu das espantosas contrações da 
agonia, quando se lhe fechou a boca para sempre muda, quando 
se abaixaram os seus sobrolhos arregaçados e convergentes no 
espasmo desesperado das máscaras da Dor na tragédia antiga. [...] 
E os olhos olhavam... Olhavam como vivos - fixamente, pasmos, 
porém vivos - pela janela aberta olhavam a orla extrema do mar 
com o céu, e se enchiam de luz, acendendo-lhe as pupilas sombrias 
um brilho vago de diamantes negros. 

E, reprimindo os soluços na garganta, que cerrava uma ânsia 
atroz, uma curiosidade angustiosa, insensata, me inclinara palpitante 
sobre aquele longo e tenebroso olhar, espelho turvo refletindo o 
horizonte inacessível do Mistério. (GAMA, 1898b, p. 72-73) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


289 


O contraste entre a luz refletida pelo “brilho vago” nos olhos do morto 

— testemunho ainda vivo de seu corpo sadio de outrora, para o qual “mal 

bastava a largueza dos mares infinitos” — com as trevas de “alguns palmos de 

terra escura e morta” é o que enseja o narrador a fixar-se unicamente em seu 

olhar, enquanto negação íntima da materialidade terra-a-terra “que começa do 

morto amado.” A redução do morto (amigo, familiar?) à pura matéria equivale 

à redução dos horizontes infinitos em sete palmos de chão, o que constitui algo 

inaceitável para o narrador postado à beira da cova, ele próprio ainda vivo e 

dado à contemplação “dos mares infinitos”. Não surpreende, pois, que após o 

cortejo fúnebre vá buscar consolo numa praia ali perto, de forma a esquecer-se 

da própria mortalidade (materialidade), num movimento paralelo ao do gradual 

esquecimento da jovialidade do morto, após a contemplação de seu tormento 

final: “Tanto me embebi na contemplação desse rosto desesperado, que não 

pude mais evocar a grata lembrança da sua fisionomia dos bons dias.” (idem) 

No entanto, à obsessiva imediaticidade sensorial do narrador ante a luz 

viva-morta de seu olhar, acompanham-se referências literárias de todo ausentes 

da cena. Ao refletir sobre a morte, fala ele em “máscaras de Dor na tragédia antiga” 

e no “horizonte inacessível do Mistério”, o que confere a seu relato um tom de 

artificialidade avesso ao assunto do conto (dor da perda de um ente querido, 

como que amenizada pela capacidade de discursar em pensamento). De certa 

forma, tal desnível relembra aquele anteriormente comentado de “Moloch” ao 

enxertar argumentos e comparações imotivadas em meio ao relato sequencial, 

minimamente deslocado no tempo, do embevecimento contemplativo da luz 

do fogo, retraduzido no brilho do olhar. 

Ainda como em “Moloch”, ressurge o argumento da loucura temporária 

do narrador, espécie de habeas corpus preventivo a desculpar perante os leitores 

os abusos imaginativos seguintes: 

No latejar das fontes marteladas de agonia, no surdo galopar do 
sangue através do cérebro abrasado, no sopro ardente de demência 
que me inchava o crânio, eu ouvia uma voz cruel me segredando que 
era o apego à vida o que iluminava de saudade aqueles olhos, que era 
o pavor da decomposição, o horror sobrehumano do aniquilamento 
irrevogável o que pasmava aquela face dolorida e convulsa, sem lhe 
permitir a serenidade da resignação. [...] Era então, à volta das viagens, 
o contentamento da alegria dos seus, a boca loquaz desabrochada 
em riso e uns olhos claros de sol, cheios de bondade e de afeição. 
Agora é a desolação infinita do seu derradeiro gesto, é a projeção 




290 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


terrífica daquele olhar de expressão obscura, de uma profundeza 
temerosa, escrutando na morte mais que em vida, é uma obsessão 
torturante, a insana indagação do raio de luz perdido, rasgando a 
treva sem fim! (idem) 

Para além do argumento do “sopro ardente de demência”, observe-se a 
íntima conexão entre aquilo que o narrador afirma do morto e simultaneamente 
revela de si. É impossível que afirme com qualquer grau de certeza “que era 
o apego à vida o que iluminava de saudade aqueles olhos, que era o pavor da 
decomposição [...] o que pasmava aquela face dolorida e convulsa”; no entanto, 
é revelador que os termos “saudade” (do morto) e “pavor” (da morte) sejam 
assim aplicados unilateralmente pelo narrador, “sem lhe permitir a serenidade 
da resignação.” No limite, a fixação pelo olhar do morto, que se irá agravar mais 
e mais até atingir o delírio (desculpado de antemão pela cláusula da loucura), 
revela a incapacidade de aceitar a morte de outrem e de si, dotando o conto de 
certa dimensão metafísica gratamente atrelada à questão da visão. Neste sentido, 
a vida é comparada a um “raio de luz perdido, rasgando a treva sem fim”. Se 
desenvolvido o raciocínio nos mesmos pares de vida X morte, luz X treva, 
chegar-se-á à íntima conexão entre objetividade e subjetividade pressuposta 
pelo sentido da visão: “O olho deve sua existência à luz. De órgãos animais a 
ela indiferentes, a luz produz um órgão que se torna seu semelhante. Assim o 
olho se forma na luz e para a luz, a fim de que a luz interna venha ao encontro 
da luz externa.” (GOETHE, 1993, p. 44) 229 

Segue-se o relato do sofrimento do narrador, cada vez mais introspectivo 
e afinado pela “escuridão da noite”: 


229 Goethe enfatiza a simultaneidade do dado subjetivo e da apreensão (objetiva) do que 
é visto pela pressuposição de uma luz interna ao olho, capaz de receber e ressignificar a luz 
exterior. Assim: “As cores que vemos nos corpos não são algo completamente estranho ao 
olho, como se de algum modo fosse a primeira vez que tivesse tal sensação. Ao contrário, 
esse órgão se dispõe a produzir, por si mesmo, as cores, e desfruta de uma sensação agra- 
dável, quando externamente se apresenta algo adequado a sua natureza e se fixa de modo 
significativo sua capacidade de ser determinado numa certa direção.” (GOETHE, 1993, p. 
128-129). Isto permite dizer que há uma íntima conexão entre os “estados de ânimo especí- 
ficos” e as “cores distintas” (idem), ideia (datada, obviamente, porém) muito proveitosa no 
que diz respeito ao conto em questão, que equipara à “luz interna”, pressuposta por Goethe, 
o único indício de vida, por assim dizer, resistente à morte. Em todo caso, e no que toca à 
Doutrina das cores , trata-se do livro em que, nas palavras de Bento Prado Jr. reproduzidas na 
contracapa de sua tradução brasileira - “se esboça, pela primeira vez de forma sistemática, 
uma fenomenologia do visível '.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


291 


Na escuridão da noite, que caíra de todo sobre o humilde 
cemitério dormindo em frente ao largo mar deserto, levantei-me 
por fim alquebrado e trôpego e, tomando o mais longo caminho, 
desci, buscando a praia. Desceu comigo no farfalhante bater 
d’asas do delírio o meu sinistro bando de abutres familiares. Numa 
vibração profunda de todo o ser longamente afinado pelas horas 
cruéis de sofrimento desenrolou-se ante os olhos do meu espírito 
o lúgubre cortejo das misérias sentidas ou vividas em reflexo: 
recordações avivadas de penas que dormiam esquecidas, gemidos e 
suspiros de prantos sem consolo, páginas negras e ensanguentadas 
do livro da vida, imagens das formas horríveis que reveste a Dor 
para o tormento sem tréguas, gestos suplicantes e trágicos olhares 
miseráveis, aloucados na aflição suprema, a queixa imprecisa, a 
fadiga da vida idealizando em horror os negrumes informes do não- 
ser. (GAMA, 1898b, p. 73-74) 

Por sugestão direta da escuridão, um grande sentimento de vazio recai 
sobre o “cemitério dormindo” e sobre o “mar deserto” ao lado, extinguindo os 
anteriores “mares infinitos” contemplados à luz do dia. Igualmente, extingue-se 
a clareza de pensamento sob a “Dor” e “o tormento sem tréguas” (lembre- 
se que a luz do sol ainda dotava de vida o olhar do morto e, por extensão, 
mantinha viva a esperança do narrador), fazendo com que, à ausência de 
luz externa (noite), siga-se uma ausência de luz interna (loucura). Trata-se, 
claramente, de um segundo funeral, em que o narrador é coberto de um manto 
negro fantástico simbolizado pelo “sinistro bando de abutres familiares”, sob “o 
lúgubre cortejo das misérias sentidas ou vividas em reflexo”, acompanhando-o 
rumo à praia, onde desfalece e põe-se a devanear. Assim, como na expressão 
popular, ele “morre na praia”, numa reprodução do horror do morto querido, 
pego subitamente pela morte em meio a seus pensamentos infinitos. A série 
de paralelos entre o narrador e o morto é, assim, interminável, e os detalhes 
somam-se uns aos outros, sempre segundo aquela reflexão metafísica que vê no 
chiaroscuro de um funeral ao entardecer a manifestação do poder destruidor da 
morte. 

Logicamente, não se mantém incólume a clareza de raciocínio do 
narrador, que, até então, ainda consegue ver até que ponto está “afinado pelas 
horas cruéis de sofrimento”, sob “a fadiga da vida idealizando em horror os 
negrumes informes do não-ser.” Apaga-se a distância temporal entre narrador 

e protagonista perante a atualidade do sofrimento, sob o olho “do espírito”: 

Para os meus sentidos alucinados começa a povoar-se a 




292 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


solidão tenebrosa de visões fugitivas e indistintas - sombra sobre 
sombra. Entre elas vejo passar cabeças de supliciados, lançando- 
me um olhar de fogo. Agora um ventre roto, de entranhas soltas, 
embaraçado, numa agitação convulsa como de um pânico em ninho 
de serpentes e logo um esqueleto nu com a cabeça intacta, viva, 
carnuda, e os olhos fixos, atentos olhando... Um pano de sombra 
se define como um dominó e, vazio, mas animado pela alma das 
coisas, vai dançando pelo ar em contorsões frenéticas, jovial e 
sinistro. [...] Sinto-me só na treva inimiga. Por cima do estrondo da 
minha cabeça percebo um silêncio esmagador; e a garganta cerrada 
e a boca ressequida me impedem a voz. Tenho os olhos como duas 
brasas. Debruço-me sobre o mar: na sombra ondulante a ardentia 
acende a espaços um clarão vago - o olhar torvo e triste do abismo. 
Então me vence a obsessão: uma angústia sem nome me domina 
e desfalecido, abandonado, morto, afundo-me na vida irreal, e me 
deixo arrastar às regiões em que o Indefinido cambiante se cristaliza 
em sonhos enganadores, compondo o susbtratum vacilante da vida, 
que é a instabilidade, (idem, p. 74) 

A sutileza, a prostração no desconsolo da dor, o lento abandono voluntário 
das forças sob a certeza do “ substratum vacilante da vida, que é a instabilidade”, 
valeriam por um interessante exemplo do impressionismo na ficção. Afinal, 
a narração autodiegética e a focalização interna decorrem da transitoriedade 
dos “sonhos enganadores” e buscam estabelecer o efeito de um acontecimento 
externo sobre a sensibilidade do narrador, registrando momento a momento o 
descair de sua consciência na loucura. No entanto, tal suposição não se realiza 
inteiramente. Como se analisasse um achaque qualquer, o narrador afirma 
momento a momento que “me vence a obsessão”, que “uma angústia sem 
nome me domina e desfalecido, abandonado, morto, afundo-me na vida irreal” 
etc., indicando algo de concertado em seu “devaneio”. 

Não obstante, a explicação dos “olhos em brasa” do narrador como 
“olhar torvo e triste do abismo”, presente no mesmo trecho, problematiza a 
anterior oposição entre luz X treva (razão X loucura) e sintetiza os termos 
em um só, marcado pela hipervalorização de seu olhar esgazeado do qual 
emana não luz, mas fogo. O devaneio corresponde, assim, a um novo tipo 
de iluminação, incerta e destrutiva, que substitui o pensamento lógico pelo 
acúmulo de imagens justapostas (“na sombra ondulante a ardentia acende a 
espaços um clarão vago”). Trata-se de uma inversão intencional de valores em 
que o olho, bem ao gosto simbolista, faz as vezes de um sol negro, capaz de 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


293 


iluminar (e incender, e destruir) tudo aquilo que evoca. Neste sentido, há mais 
de uma semelhança entre “Os olhos” e o uma estampa conhecida de Odilon 
Redon, datada de 1882 . 



Quadro 13 — Odilon Redon, Uoeil conrne un ballon se dirige vers 1’INFINI, 1882. 26,2 x 19,8 cm, 
litografia sobre papel velino, Bibliothèque Nationale de France, departamento de Estampas e 

Fotografia. Fonte: gallica.bnf.fr Bibliothèque Nationale de France. 


De fato, é a partir da hipertrofia simbólica do olho que tudo é decifrado, 
levando a um estranho uso da hipotipose (que se presta mais a esclarecer ao 
locutor — e não ao interlocutor — a natureza do que vê, dada a sobrenaturalidade 
de suas visões): 

Era sempre a Noite, a Noite prenhe de horrores, o fecundo 
ventre de assombros. A treva para mim era a pátina dos séculos, a 
superposição de camadas infinitas do negrume eterno. Ao princípio 
nada, o vazio tumular. Depois se abriu um dúbio clarão vermelho, 
um reflexo da minha órbita ensanguentada e lamentosa como uma 
viúva trágica. Apareceram muralhas, pilones colossais em galeria, 
cantos de rocha ciclópicos formando base a alguma desmedida 
abóbada, brutais cadeias de bronze conjugando fustes de colunas, 
cujos pedestais e capitéis se perdiam na sombra e, fosforescente, 
com eclipses e reaparições teimosas, uma inscrição lapidar, 
cuneiforme, rúnica, cóptica ou fenícia, que eu não queria entender e 



294 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


à qual o meu olhar voltava sempre, legenda sugestiva da Revelação 
suprema. Em torno o véu negro da sombra se adensou, tonalizando 
em mistério o cenário ritual, panejando solene, religioso, como 
um tabernáculo infinito. Entre o vago borborinho como de uma 
multidão cochichando, estrondou de súbito a música sem nome das 
excitações sagradas, ritmando em cadências caprichosas o conjugar 
das formas, (idem, p. 76) 

À parte a apoteose mística da visão, marcada pela onipresença da “órbita 
ensanguentada” e pelas muitas referências a termos visuais e pictóricos, o núcleo 
de seu devaneio parece levar o elemento impressionista a uma nova dimensão 
assensorial (ascensorial), muito próxima, senão já no domínio, do simbolismo. 
Até certo ponto, é possível ponderar com Jules Laforgue (1903, p. 135-137, 
grifo nosso) que “o olho apenas vê sintética e grosseiramente a luz e tem uma 
pequena capacidade de decompô-la nos espetáculos da natureza”, sendo, até 
fins do século XIX, “o olho impressionista o olho mais avançado, aquele que 
até então absorveu e exprimiu as mais complicadas combinações de nuanças 
conhecidas”, observando “nos jogos de luz, a Vida”. 230 Neste sentido (e neste 
sentido unicamente), trechos textuais como o mencionado seriam sua perfeita 
adaptação à literatura. 231 No entanto, parece mais pertinente apontar certa 


230 “[••■] desjeuxdelalumière, la Vie [...] 1’oeil voit synthétiquement et grossièrement seulement la Itmière 
et n’a que de vagues pouvoirs de la décomposer dans les spectacles de la n ature [...]. En somme 1’oeil impres- 
sionniste est dans 1’évolution humaine l’oeil le plus avance, celui qui jusqtdici a saisi et a rendu les combin ai- 
sons des nuances les plus compliquées comines .” Uma visão detalhada sobre a leitura de Laforgue, 
com observações acerca de seus limites e avanços teóricos, consta do anexo 1. 

231 Para além do sentido indicado, estar-se-ia extrapolando o impressionismo literário para 
além de seus limites, sob o argumento da hipertrofia da subjetividade e da sensibilidade - que 
possui, por sua vez, sentidos diversos em estéticas nem sempre paralelas, como o romantis- 
mo, simbolismo, expressionismo etc. Parece despropositado avaliar elementos impressionis- 
tas em visões que se revestem mais e mais de um conteúdo simbólico. Lembre-se, porém, a 
plausibilidade relativa do impressionismo literário no conjunto do conto, sob a explicação 
causal da “visão” (sensorial, extrassensorial) do narrador a partir do argumento da loucura 
temporária, que, do ponto de vista da série de contos analisados, garante sua primazia sobre 
a discussão isolada da simbologia da mencionada “visão” (extrassensorial). Enumere-se, à 
guisa de exemplo, alguns trechos da mencionada simbologia. Em seu devaneio, o narrador 
perde-se na “harmonia dos mundos [...], na imensidade do espaço, na eternidade do tempo”, 
e vê-se “tornado em centro de ressonância do universo”, passando a ouvir “a voz do mar” 
da “História” (GAMA, 1898, p. 74-75); vê os “olhos de Cleópatra [...] olhos suntuosos, pinta- 
dos e ornados como os de um ídolo”, e, numa bandeja de prata, “os olhos mortos do [João] 
Baptista também vinham olhando...” (idem, p. 75); põe-se a analisar-se a si próprio para que 
seja absorvido “no Nirvana”, arrancando “um olho da órbita, para mirar-me [...]. Era vivo o 
olho, movia-se, viscoso e mole, e, escorregando entre os meus dedos, caiu no mar”, levando 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


295 


influência do decadentismo fin-de-siècle na distorção das impressões e sensações 
do narrador: 

Bastante utilizada para apresentar a sensação, a impressão, essa 
brumização abre simultaneamente o real ao onírico e denuncia 
implicitamente seu caráter indefinível. A linguagem da subjetividade 
oscila entre a inconsistência e uma violência compensatória, entre o 
movimento e a fixação. (JOURDE, 1991, p. 87) 232 

A seguir, toda a simbologia mística (ou, ao menos, a “brumização” de 

seu relato) cai por terra junto do narrador, que desfalece sobre um rochedo, 

despertando de seus devaneios. Sem demora, volta a cogitar a influência de 

referências literárias sobre sua (in)consciência, deslocando o sentido simbólico 

de há pouco numa nova explicação causal, que reduz as inscrições rituais lidas 

em sonho a referências de Shakespeare: 

E caminhando pela praia afora, ainda assombrado e sem poder 
dissipar os fantasmas importunos, com um terror introspectivo, 
vagamente me lembrava de ter lido algures, em Shakespeare ou na 
inscrição ritual, que sobre a urdidura tenuíssima do sonho se tece a 
nossa vida. (idem) 

Em suma, os elementos impressionistas dispersos n’“Os olhos” fazem- 
no valer, aproximadamente, como o último texto do autor na esteira dos demais 
contos analisados. Como se percebe, tais elementos encontram-se rareados na 
produção tardia de Domício, provando sua concentração em seus anos iniciais 
( 1886 - 1891 ). 


Conclusão 


Vistos em conjunto, tais contos dão prova de dois importantes arremates. 
Em primeiro lugar, o impressionismo literário não foi uma exploração 
inteiramente consciente de Domício, mas sim o resultado de uma experimentação 
formal constante, não sistemática, ainda que mais ou menos sistematizável. Em 


consigo metade de si (idem, p. 76); observa ainda o desfile das “teorias genésicas dos seres 
[...] o tropel sem fim dos gérmens indecisos”, “a furiosa celeuma dos galopes copulativos”, 
a “Grande Fêmea” e “um bando de inumeráveis olhos soltos” a seu redor, dos quais um é o 
seu (idem, p. 77) etc. 

232 “ Souvent utilisée pour présenter la sensation, 1’impression, cette brumisation à la fois ouvre le réel à 
l’onirique et en dénonce mpliátement le caractere indéfinissable. Le langage de la subjectivité oscille entre 
1’inconsistance et une viole mee compensatrice, entre le m ouvem ent et la fixation .” 




296 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


segundo lugar, pela recorrência com que aparece em seus contos e pela rápida 
definição de suas linhas em Contos a meia tinta (e mesmo antes de 1891, nos 
inéditos “Nivelado” e “Fibra morta”), pode-se aproximadamente dizer que 
foi, cronologicamente, o primeiro impressionista da literatura brasileira. Tais 
observações, somadas à clarividência teórica de suas crônicas (sobretudo em 
suas écfrases acerca da exposição de Monet na rua de Sèze) e à sua longa estadia 
europeia, realizada intermitentemente de 1888 a 1925, erige em importante fator 
formativo para sua estética pessoal o impressionismo, fazendo com que não se 
possa desprezar sua influência sobre sua obra. 

Poder-se-ia objetar que o conjunto dos 19 contos aqui avaliados 
consiste de mais da metade do total de sua contística, embora não a represente 
inteiramente. De fato. No entanto, a experimentação formal de Domício, que 
envereda posteriormente pelos meandros do naturalismo e do realismo, não 
desmente o lugar majoritário do impressionismo literário em sua obra. Antes, 
confirma-o, assinalando sua independência ante as estéticas mencionadas — o 
que, aproximadamente, constitui outro traço impressionista. Afinal, e de maneira 
ampla, 

o impressionismo é uma tomada de consciência, uma tomada de 
poder: a afirmação pelos artistas de seu direito à liberdade. [...] Toda 
a história da arte contemporânea ligar-se-á ao impressionismo, seja 
pelo desenvolvimento das teorias enunciadas seja pelas reações 
suscitadas. Se ele conheceu tal extensão, é porque, apesar de sua 
unidade aparente, o impressionismo soube agrupar em alguns anos 
os temperamentos mais prestigiosos e diversos de seu tempo, além 
de ter sido realizado por homens que, em outras circunstâncias, ter- 
se-iam violentamente opostos uns aos outros. (COGNIAT, 1956, p. 
5, 8) 233 


233 «L 'impressionnisme esf une prise de conscience, une prise de pouvoir même: 1’affirmation par les artistes 
de leur droit à la liberte. [...] Toute 1’histoire de l’art contemporain se rattachera à 1’impressionnisme, soit 
par développement des théories énoncées, soit par les réactions suscitées. S’il a connu une telle extension, c’est 
que malgré son apparence d’unité, 1’impressionnisme a su grouper en quelques années les tempéraments les 
plus prestigieux de son temps mais aussi les plus divers et qu ’il a été servi par des hommes qui, en d’autres 
circonstances, eussent été violemment opposés les uns aux autres.» 




5. SEGUNDA FASE: 

DO REALISMO AO ABANDONO DA LITERATURA 


Adotei o seu conselho, tirei uns contos 
do meu volume, acrescentei uma dúzia de 
novos e dou uma edição melhorada dos 
meus contos. Depois disso arrumarei o 
que tenho escrito do volume que V. não 
quer que se chame Psicose e escreverei 
mais o que resta para vértebra-lo ainda 
que virtualmente. Depois, se não me der 
a preguiça, farei outra coisa por amor 
dos amigos. Sabe V. que muitas vezes sou 
accomettido (má ortografia) do que se pode 
chamar a fadiga prévia, que não é outra coisa 
que senão a preguiça. A minha preguiça 
é humilde, porquanto nasce da falta de 
ambição, do sentimento da inanidade do 
esforço. [...] O niilismo é a suprema estética 
(Você crítico, não se sente ferido?) pois que 
todo o gesto é imperfeito, e a imobilidade 
somente é divina. (GAMA apud BORGES, 
1998, p. 534, grifo do autor) 234 


234 Carta de Domício da Gama a José Veríssimo, datada de 25 de janeiro de 1901. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


299 


Variações sem tema 

U .ma segunda fase da obra de Domício inicia-se pouco antes da publicação 
de Contos a meia tinta , desenvolvendo-se até a publicação de Histórias 
curtas. Mais especificamente, seus marcos temporais correspondem ao 
intervalo que vai de julho de 1890 (escrita de “Possesão”) até janeiro de 1899 
(escrita de “João Ch incluía”, último conto do autor). Grosso modo , poder-se-ia 
dizer que a primeira fase de sua obra delimita-se à década de 1 880, enquanto a 
segunda corresponde à de 1890. Por sua vez, dois argumentos — um de ordem 
extratextual, outro de ordem intratextual — permitem observar os contornos, 
nem sempre precisos, entre uma fase e outra. 

No que toca ao primeiro, é importante destacar a proximidade de Eça 
de Queirós como elemento decisivo para sua reorientação estética: “Disse 
certa vez Domício da Gama que Eça de Queiroz o fizera escritor e Rio Branco 
diplomata.” (VENÂNCIO FILHO, 2002, p. 227) 235 As intimidades entre Eça de 


235 Tal influência é parcialmente corroborada por Eça, que chega mesmo a exagerá-la em 
uma de suas cartas, elogiando a passividade do amigo: “O Domício é bom companheiro 




300 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Queirós e Domício da Gama fizeram-se sentir a partir dos “empreendimentos 
editorias [sic]” de Eça, que visavam à criação do “planejado Suplemento da 
Gaveta de Notícias ou [à] criação da Revista de Portuga/, que saiu de 1889 a 1890.” 
(BECHARA, 2013, p. 207) 

Como prova dessa influência, Domício apresenta uma nova orientação 
de sua escrita em contos como “Maria sem tempo”, escritos após poucos meses 
de convívio com Eça. Há quem atribua tal mudança, mais ou menos repentina, 
a uma reorientação de paradigma pessoal provocada pela viagem do Rio (sob a 

órbita conceituai de Raul Pompeia) 236 a Paris (sob as ideias de Eça): 237 

Antes de sair do Brasil, a influência humana e literária era o espírito 
republicano de comtiano de Raul Pompeia. Não se sabe se Pompeia 
insuflou-lhe seu jacobinismo, que contrastava com o republicanismo 
spenceriano dos republicanos de Itu. O certo é que ao lermos os 
contos de Domício percebe-se que a influência humana e literária 
- a quem ele pedia conselhos - era a de Eça. A influência de Eça 
foi mais forte e definitiva, tratava-se de um homem com renome 
internacional, e Domício já entrava na idade adulta, participando das 
tertúlias literárias e das conversas íntimas e intelectuais do grupo de 
Paris. (FERNANDES, 2011, p. 18-19) 238 

Mais acertado seria dizer, porém, que a forte presença e influência do novo 
amigo sobre Domício não avança sem recuos. E isto porque — já de um ponto de 
vista intratextual — a principal alteração formal dos contos de segunda fase não 
se torna onipresente em sua obra. Trata-se do uso (esporádico) da focalização 


para a montanha, porque tem o trepar fácil e condescendente.” (apud VENÀNCIO FILEIO, 
2002, p. 227) 

236 Em crônica de 14 de maio de 1890 de sua coluna “De Paris”, Domício demonstra ainda 
a influência do pensamento de Pompeia (mesmo após quase dois anos afastado do Rio) ao 
discutir religião e estética: “[...] para o Tratado do Verbo, já o Pompeia tem quase concluído 
o seu estudo sobre a Vibração Sonora. Daí para a instituição filosófica do símbolo do Verbo 
Criador, só faltam as teorias das articulações, dos signos, da vontade amorosa e gestativa, a 
recomposição da metafísica e a teoria dos Destinos.” (GAMA, 1890n, p. 2) 

237 Diga-se de passagem, Eça e Domício ligam-se gradativamente um ao outro por diver- 
sas empreitadas editoriais (Revista Moderna, Ilustração Brasileira). Um exemplo privilegiado 
dessa relação pode ser visto em 1893, quando a Gazeta de Notícias, sob possível orientação 
de Domício ou Ferreira de Araújo, opera a gradativa substituição (antes, desenvolvimento) 
da coluna “De Paris”, de Domício, pela “Ecos de Paris”, de Eça. 

238 Uma posição diversa é a de Borges (1998), para quem a primeira fase de sua obra re- 
fere-se às crônicas publicadas no Rio até 1889, e a segunda, aos dois volumes de contos e à 
viagem à Europa. O autor discute ainda a possibilidade de uma terceira fase, marcada pela 
diplomacia e pelo posterior abandono da literatura, como indicado no capítulo 1. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


301 


zero, em substituição às experimentações de outrora com a focalização interna. 
Tal mudança permite chamar esta fase de “realista” em um sentido que vai 
além da mera dissociação da anterior, uma vez que, em prol de uma capacidade 
analítica de conjunto, recua as inovações do impressionismo literário, podando- 
lhe as incursões narrativas pela consciência das personagens. 239 

O resultado de uma revisão tão nuclear (de concepção e de consecução 
do texto literário) em um intervalo de tempo tão curto não poderia ser outro 
que não o de uma nova (e ainda mais incerta) pluralidade de respostas. Assim, 
nos anos que compreendem 1890 a 1899, Domício vai do quase naturalismo 
(“Maria sem tempo”) ao quase simbolismo (“Os olhos”), encerrando sua carreira 
ficcional com uma quase autobiografia (“João Chinchila”). É pelo abandono 
das experimentações impressionistas — ou, antes, pela inespecificidade de seus 
contos pós-1890 — que Domício priva sua obra ficcional de uma mensagem 
mais coesa, capaz de garantir sua sobrevida no século XX. 

Não obstante, seu abandono relativo do impressionismo literário parece 
ajustado à debandada geral de artistas das fileiras do impressionismo, à mesma 
época. Como fala Robert de la Sizeranne (1904, p. 86), a ampla vereda (“ sentie /’) 
aberta por ele deixava gradativamente de ser uma alternativa, aproximando-se 
das escolas do passado: 

E não é uma individualidade ou duas que abandona a vereda 
do Impressionismo, é uma multidão. Hoje, ninguém poderia 
enganar-se: o Impressionismo pertence ao passado. Podemos, sem 
injustiça, compará-lo a todas as escolas do passado. (SIZERANNE, 
1904, p. 86) 240 

Todavia, seria impróprio prolongar a discussão dos significados de sua 


239 Contradizendo, pois, a evolução natural do realismo no impressionismo: “The principie 
of verisimilitude of the naive realist (to refkct accurately in art the phenomena of the world) becomes, rather, 
that of the impressionist (to represent a mind in the act of experienáng the outer world).” (BENDER, 
1997, p. 34) 

240 «Et ce n’est pas une individualité ou deux qui abandonnent le sentier de 1’lmpressionnisme: c’est une 
foule. [...] Aujourd’hui, personne ne pourrait s’j tromper: 1’lmpressionnisme appartient bien au passé. On 
peut donc, sans injustice, le comparer à toutes les écoles du passé . '.» Todavia, mais tempo foi necessário 
para que o impressionismo fosse realmente visto como uma estética definitivamente incor- 
porada ao cânone artístico. Como afirma André Lhote (1936, p. 175) em depoimento situado 
já na década de 1930: “On a trop rarement 1’occasion de contemplerun ensemble d’oeuvres aussi émouvant 
que celui par leque l ATM. Durand-Ritel inauguraient leur nouvelle galerie [...] le spectateur de 1 925 en était 
tout attendri. famais on n’éprouva mieux qu’à cette exposition le sentiment que decole impressionniste est 
définitivement, indiscutablement entrée dans 1’histoire, et qidelle est la source des révolutions qui suivirent.» 




302 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


segunda fase ignorando a sequência dos contos nela agrupados. Neste sentido, 
cabe discutir seu abandono do impressionismo, bem como sua possível 
reorientação realista, mediante a linha cronológica que abrange praticamente 
toda a década de 1 890, rumo ao fim de sua produção literária. 

Possessão (07/1890) 

O primeiro conto em que começam a surgir elementos destoantes 
àqueles da primeira fase é “Possessão”, datado de julho de 1890. Nele, o amor 
possessivo e desiludido da duquesa Ninita por seu marido é explicado em uma 
longa conversa com a baronesa Amélia, sua prima. À maneira dos contos de 
outrora, o enredo é mínimo, girando em torno de um drama puramente pessoal. 
No entanto, a ausência de narração homodiegética, o relato direto através de 
travessões e a pobreza das descrições visuais sugerem certa rarefação dos 
elementos impressionistas. 

Assim, é com surpresa que se vê, após um diálogo inicial de página e 

meia, a ambientação da casa da duquesa, tão pobre quanto ela: 

Isto era por uma manhã muito clara e alegre, na sala de jantar de 
uma casinha da rua Silva Manoel. Entrava muita luz pelas janelas 
abertas sobre um quintalinho triste, com as suas plantas sem trato e 
as ruas sujas. A sala, igualmente descuidada, por arrumar, com um 
vago aspecto de mau lugar. Os móveis em desordem, maltratados, 
pareciam mais de uma taverna que de uma casa de família. [...] 
Sentia-se como um cheiro de desconforto, o mau ar dos lugares em 
que se não vive feliz. (G, p. 115) 

O contraste entre a tristeza de Ninita e a manhã “clara e alegre” não 
parece ter efeito nenhum sobre o ambiente, que é descrito de maneira sucinta e 
avaliado em sua semelhança com uma taverna. Todo ele, em sua desordem de 
garrafas e cigarros jogados pelo chão, apenas confirma factual e exteriormente 
as queixas da esposa, sem conferir o mínimo enfoque às nuanças do ciúme e 
do despeito. Neste sentido, as conclusões de Ninita — “Ele vive assim, porque 
não tem consciência: eu, se fizesse o mesmo, seria uma criminosa, em vez de 
uma desgraçada. E a fogueira de ciúmes em que me consumo, Amélia!” (C., p. 
1 1 8) — destacam os crimes do marido, sem que lhes acrescente, de fato, a dor da 
mulher traída em sua ciência do mal “inconsciente” do cônjuge. 

Mesmo ao final do conto, após uma rápida visita do marido, que se põe 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


303 


a cantar cançonetas francesas de vaudeville numa nova confirmação da baixeza 
de seus amores por uma “alcazarina [...] bonita” e de “ar ordinário” chamada 
Bellony, a confissão desesperada de Ninita resume-se à constatação do desatino 
de seu amor, que a faz aceitar todas as condições apenas para ter seu marido 
por perto: “Chego a pensar às vezes que é o espírito maligno que me possui, 
que me faz estrebuchar nos espasmos desta bem-aventurança atroz!...” (C., 
p. 118-119) Perceba-se, a respeito destas linhas finais, o quanto a hipótese da 
possessão demoníaca, desenvolvida mais tarde em “Moloch”, encontra-se aqui 
canhestramente esboçada, além de limitada à exposição banal de um sofrimento 
amoroso, tout court. 



Quadro 14 — Belmiro de Almeida, Arrufos, 1887, 89.1 x 116.1 cm, óleo sobre tela, coleção particular. 
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 


A banalidade confessional de “Possessão” deriva, assim, do sufocamento 
da dor de Ninita pelo olhar exterior de um narrador clássico (heterodiegético, 
focalização zero), que pouco se importa com as nuanças do amor traído, 
limitando-se a constatar as provas da traição. 

Maria sem tempo (12/1890) 

O conto seguinte, “Maria sem tempo”, atualiza o realismo blasé de 
“Possessão” sob uma forma confessadamente naturalista. Trata-se, mesmo, de 
material fundamental para o estudo específico do naturalismo em sua obra, 
uma vez que a análise psicológica da protagonista (tão cara aos contos de 



304 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


primeira fase) se torna o estudo de um temperamento, enfocando em seu drama 
supostamente pessoal aquilo que possui de biológico e animal. 

Seu enredo é, talvez, o mais desenvolvido dentre os contos do escritor: 
trata-se do longo martírio de Maria, cujo filho, Luciano, única alegria de sua vida 
miserável, é levado à força para longe de si, vítima do alistamento compulsório 
para a “guerra no Sul” (guerra do Paraguai). Depois de muito tempo aguardando 
seu retorno, informam-lhe de sua morte, com base no relato de um voluntário 
de guerra que ficou ao lado de seu filho em um hospital de campanha e o viu 
morrer. Maria recusa-se a confiar na notícia e apega-se à ideia fixa do retorno 
de Luciano, acreditando que, a qualquer momento, ele deva voltar (o que lhe 
confere o apelido de estar sempre “Sem Tempo” para nada, temerosa de não 
estar preparada no momento de seu retorno). Com o passar do tempo, definha a 
olhos vistos, demonstrando diversos sinais físicos de loucura (olhos esgazeados, 
cabelos hirtos, corpo descuidado). Sua esperança vazia termina no dia em que, 
confusa após ouvir um cavaleiro cantando uma cantiga que ensinara outrora ao 
filho (“a cantiga do mineiro da serra” (C., p. 128)), começa a procurar loucamente 
pelo filho em uma pedreira ali por perto, sem perceber o perigo das explosões, 
cujo baque julga ser o mesmo dos canhões daquela guerra passada. Assim, 
vítima de uma saraivada de pedras, Maria morre pouco depois, sem que volte a 
ver o filho. Todos sentem sua morte, e um velho resmunga, “sem saber que tão 
bem dizia” (C., p. 129), ter morrido de tanto ser mãe. 

Ao contrário de “Possessão”, a presença de um narrador heterodiegético 
é claramente mais ajustada ao assunto do conto. De fato, os tormentos de Maria 
não apontam nenhuma profundidade, tampouco são passíveis de nuanças. 

Trata-se da dor de uma mãe em toda sua unidade. Como bem define o narrador: 

E Maria Sem Tempo não era uma lição, nem um castigo, nem 
um exemplo. Se alguma coisa ela provava, era que há sofrimentos 
que nada provam e que nada justifica, que são , pela razão obscura 
daquilo que tem de ser. A sua miséria nem mesmo era trágica, 
porque não exclamava, não lutava, não indagava. O céu rigoroso 
era-lhe como um senhor cruel, que a pobre escrava não entendia 
e sob cujos golpes se encolhia apenas. Vivera para ser mãe: sofria 
disso, como disso outras jubilam. (C, p. 122) 


Como de praxe nos textos naturalistas do período, à constatação do 
sofrimento materno, entendido em termos de um animal a quem é arrancada 
sua cria, não se segue uma reflexão qualquer sobre as misérias sociais que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


305 


“legitimam” o alistamento compulsório do íilho. Maria, depois de perder o 
filho, perde também sua casa, o que aceita com submissão canina. De fato, 
ela é descrita repetidas vezes por meio de termos animais, que lhe roubam a 
humanidade: seus gritos são “alarido de araponga rouca”; seus olhos, “perdidos 
como os de um cão de caça” etc. (C., p. 125, 127) Ou, em termos vegetais, é 
comparada à “passividade inerte da folha que o vento rola pelos caminhos”, 
uma planta sem frutos, “mirrada e seca e sombria, como se tivesse perdido a 
seiva ao ardor dos estios”. (G, p. 121) Logo, na qualidade de animal ou vegetal, 
é igualmente pasmosa a submissão com que circula pela fazenda do capitão, 
possivelmente o mesmo que lhe tirou o filho à força, até ser escorraçada da 
propriedade por seus cães. Nada, nada lhe ocupa a consciência (tampouco a do 
narrador) que diga respeito à origem social, exploratória, de seus males. 



Quadro 15 — Pedro Weingartner, M derrubada, 1913, 102.2 x 149.4 cm, óleo sobre tela, coleção 
particular. Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br, Itaú Cultural. 


Em todo caso, aquela comparação entre Maria e uma árvore seca é, talvez, 
a figura de maior recorrência do texto. Depois de morta, seu corpo é descoberto 
pelos escravos das redondezas sob uma árvore rachada por um raio. Diga-se de 
passagem, a noite em que seu filho lhe é tomado é uma noite de tempestade; 
Luciano sai “enquadrado pela porta aberta sobre a noite negra cortada de 
relâmpagos”, sob o estouro dos trovões. (C, p. 124) O mesmo estouro é aquele 
do disparo dos canhões nas datas festivas da cidade (repetido nos devaneios de 
Maria como o dos canhões da guerra), e também aquele outro das explosões na 


306 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mina, responsáveis pelo desfecho trágico do conto. Assim, o momento em que 
seu filho lhe é tirado equivale ao raio que divide em dois a árvore seca, único 
túmulo de que pode dispor a pobre mulher (“Os respingos da chuva lhe tinham 
coberto o rosto de terra e os olhos esgazeados já pareciam olhar do fundo da 
sepultura” (G, p. 128-129)). 

Ao narrador, desinteressado de sua sorte (afinal, o sofrimento de uma 
infeliz equivale, para si, a uma fatalidade tão previsível quanto um raio caindo 
sobre uma árvore), ocupa-se unicamente do processo de formação e consolidação 
de sua ideia fixa, como estudo das limitações humanas: “Era louca, porque só 
tinha uma ideia, e a criatura humana pode não ter ideias, mas não pode ter só 
uma. A sua era o angustioso desassossego das maternidades malogradas.” (C., 
p. 121) Sobre o mais, curiosamente, nada diz. 

Neste sentido, e neste sentido apenas, relacionado ao vazio do desinteresse 
do narrador pela leitura social do caso de Maria, “Maria sem tempo” demonstra 

alguns dos limites do naturalismo. Afinal, 

a banalidade naturalista ou a vazia artificialidade de seus processos 
formalísticos tinham forçosamente de prevalecer por algum tempo 
e levaram os nossos escritores a incidir de preferência na construção 
mais simples - o estudo de um caráter, de um temperamento, em 
função de suas tendências particulares ou de seu triunfo sobre as 
forças conscientes e inconscientes do espírito. (LINHARES, 1987, 
p. 342) 


Um poeta (01/1891) 

Por sua vez, em contraponto claro a “Maria sem tempo”, e focando- 
se não no drama da mãe que fica, mas no do filho que parte, “Um poeta”, 
escrito poucos dias depois (janeiro de 1891), 241 demarca outra faceta de sua 
experimentação formal. A estória de um menino de dez anos que morre após 


241 Trata-se do último conto escrito pelo autor previamente a seu ingresso na diplomacia. 
Em 27 de agosto de 1891, inicia Domício oficialmente seus trabalhos na Superintendência de 
Emigração, ao que se seguirá, em 1893, sua nomeação como secretário da questão fronteiriça 
das Missões, em Washington (BORGES, 1998, p. 24) Ainda em 1891, organiza às pressas 
seus Contos a meia tinta para publicação quase que imediata em Paris (lembre-se ser de setem- 
bro do mesmo ano o primeiro importante comentário a seu respeito, em crônica assinada 
por Raul Pompeia). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


307 


uma breve e poética existência incide antes por um caminho romântico e 
biográfico. O conto é dedicado à memória de um irmão mais novo do escritor, 
Sebastião, falecido há pouco, e seu protagonista chama-se, justamente, Sebastião. 

Tal equiparação momentânea entre vida e obra não é único na obra 
de Domício, reaparecendo mais tarde em seu último conto, “João Chinchila” 
(também dedicado a alguém próximo do escritor). No entanto, seria uma 
temeridade fazer valer “Um poeta” pela obra do autor, i.e., enquanto parâmetro 
de análise para os demais (FRANÇA, 2007; BECHARA, 2013), muito menos 
como forma de justificar qualidades do estilo do escritor, transportadas de sua 
biografia. Trata-se de caso praticamente isolado em sua obra (ao lado apenas do 
mencionado “João Chinchila”). 

Não obstante, alguns elementos parecem “desculpar” tal intrusão inédita 
de dados extratextuais em “Um poeta”. O período em que foi escrito coincide 
com uma época em que, conforme carta de Domício a Coelho Neto (datada de 
maio de 1891), rareava cada vez mais seu tempo dedicado à literatura, em meio 
ao séjour na França: “Foi um tempo em que eu lia livros meu velho; era lá no Rio 
de Janeiro... Aqui quando muito a gente pode escrevê-los à força e aos arrancos.” 
(GAMA apud FRANÇA, 2007, p. 33-34) Além disso, trata-se do texto mais 
recente de Contos a meia tinta , escrito pouco antes de sua publicação em 1891. A 
morte do irmão parece haver impulsionado, prontamente, sua publicação junto 
aos demais, como forma duplicada de homenagem póstuma. 

Em todo caso, no que toca ao texto propriamente dito, o enredo volta a 
ser secundário, como de praxe: trata-se do inventário das sensações e impressões 
dos últimos dias de vida do menino e de suas conversas com a mãe. Novamente, 
há a mediação de um narrador heterodiegético (que se vai tornando uma 
constante na segunda fase de sua obra). Afinal, o que lhe diferencia dos demais 
é a atribuição do caráter de “poeta” a um menino de dez anos com base não em 
sua expressão verbal (poesia enquanto poema), mas em sua hipersensibilidade 
auditiva, olfativa e visual (poesia enquanto estesia individual), numa clara 
idealização do narrador: 

Sebastião era poeta, como costumavam ser as almas solitárias. 
Poeta contemplativo, admirativo, a expressão das suas admirações era 
de uma simpleza primitiva, quase balbuciante. Não era conclusivo, 
não tinha ideias em ligação, não tinha forma intencional, não era 
artista. Era um exclamativo. E as vagas explicações subjetivas ou 




308 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


comparativas que ele dava das suas afeições contemplavam-lhe o 
caráter elementar de poeta lírico. Só suas afeições, o que era bom 
para ele... Cantava as belezas da forma, da cor, do som, do aroma, 
do movimento, das vibrações simpáticas: as sensações amáveis. 
Vivia iluminado pela grande claridade do amor místico da natureza 
serena, com a pena unicamente de que os outros não sentissem com 
ele. (G, p. 134) 

A idealização romântica do irmão (espécie de vate romântico em 
miniatura) parece de acordo com o intuito encomiástico, necrológico, do texto. 
De fato, Domício não poupa elogios ao irmão, mobilizando muitos conceitos 
artísticos que tem em alta estima. Assim, fala nas “canções sem metro” e na 
“estética obscura” do menino, num claro diálogo com o longo projeto poético 
de Raul Pompeia; e na “harmonia das vibrações”, ressonância das obras de 
Charles Baudelaire e Paul Bourget (ambos citados em epígrafes nas Canções sem 
metro) (C, p. 133, 135). 

Infelizmente, o autor não mede esforços nos ditos elogios, enfatizando 
ainda a maturidade intelectual e emocional de Sebastião. Há trechos de conversa 
entre o menino e sua mãe que, do ponto de vista narrativo (para não dizer do 
bom senso), parecem despropósitos. Talvez para isto concorra alguma razão de 
cunho intimamente pessoal, que seria despropositada discutir. 242 

Uma religiosa besta [circa 1891] 

O texto seguinte, “Uma religiosa besta”, é o último a totalizar o conjunto 
dos Contos a meia tinta. O mesmo não possui datação, o que dificulta sua inserção 
cronológica na linha evolutiva aqui esboçada. Por outro lado, se observado com 
atenção, sobressai seu evidente diálogo com os contos de segunda fase. “Uma 
religiosa besta” é o primeiro conto do autor a esboçar um ataque à religiosidade 
(para além d’“As calças do Manoel Dias”) como desculpa dos preguiçosos 


242 A título de exemplo, e para justificar dubiedades, parece haver certa parcela de culpa 
no relato do narrador, que faz supor certa aura de incompreensão em torno do menino: “A 
nossa vida física também se ressente da falta de simpatia ambiente, que parece completar a 
harmonia das vibrações de que se compõe uma existência. E as crianças, que se impressio- 
nam tanto pelas menores coisas, exigem mais do que qualquer outra criatura esse conjunto 
de interesse, de confiança, de incitamento a crescer, a viver conosco e da nossa vida, carecem 
de sentir justificadas as suas existências pelo nosso amor.” (C, p. 133) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


309 


ou dos sem talento, e a defender, inversamente, uma visão materialista, quiçá 
positivista, de adesão estrita aos fatos. 

Dois elementos podem ser destacados de antemão: a presença de dois 
narradores (um primeiro, na narrativa primeira, heterodiegético; um segundo, na 
narrativa emoldurada, homodiegético ou “testemunho” (FRIEDMAN (1967)); 
e a centralidade do enredo, cada vez mais voltado para a afirmação de um 
argumento. 24 ’ Tal como em “Maria sem tempo”, “Uma religiosa besta” parece 
fazer as vezes de um estudo de temperamento, ou antes, de uma narrativa de 
tese. Tal é o que parece ser sugerido por sua própria estrutura, uma vez que a 
narrativa primeira serve de moldura a uma metadiegese que, por sua vez, parece 
desempenhar tanto uma função explicativa quanto uma função persuasiva 
(GENETTE, 1972, p. 241-243; 1983, p. 62-Ó4). 244 

Seu enredo, tão desenvolvido quanto o de “Maria sem tempo”, pode ser 
assim resumido: em meio a uma “conversa de ociosos letrados” num hotel da 
alta sociedade, frequentado por banhistas, músicos amadores, bacharéis eruditos, 
jogadores de voltarete e xadrez etc., discutem-se temas os mais diversos ( spleen , 
anedotas, suicídio), até que se toque no “misticismo, as consolações da religião” 
(C., p. 53-54). Neste momento, enceta-se um diálogo entre um “arquibacharel 


243 No parecer de Fernandes (2011, p. 20), a presença mais ou menos recorrente de grupos 
de literatos, de ouvintes diversos etc., “em que alguém narra a história daquele que será o per- 
sonagem principal”, atesta uma clara influência machadiana nos contos de Domício: “E uma 
pequena deferência ao estilo machadiano do conto, presente no Bruxo do Cosme Velho em 
inúmeras narrativas curtas, da qual podemos citar ‘O espelho’. No caso de Domício, citaria 
‘Uma religiosa besta’”. 

244 Tal mescla de duas funções na narrativa do engenheiro decorre da causalidade direta 
com a narrativa primeira, para a qual serve de ilustração ou confirmação (função explicativa); 
e da natureza da narrativa primeira, toda ela uma discussão de argumentos, dos quais um será 
elencado como o mais procedente, e demonstrado em suas consequências mais imediatas 
(função persuasiva). Assim, para retomar os exemplos de Genette (1972; 1983), ao contar 
episódios de sua vida, o engenheiro assemelha-se a Ulisses narrando seu passado aos feácios; 
porém, ao fazê-lo, desempenha um claro intuito de convencimento do interlocutor, tal como 
o cônsul romano Agripa Menênio na História de Roma de Tito Lívio, inventando uma fábula 
sobre as partes do corpo humano como forma de dissuadir uma secessão da plebe em 494 
a.C. por meio da organização social romana metaforizada em membros (povo) e estômago 
(patrícios), num único organismo. No mais, os exemplos parecem duplamente ajustados à 
discussão do conto, uma vez que não apenas situam as funções da metadiegese, mas tam- 
bém retomam certa superioridade do narrador intradiegético ante seu público, num elogio 
implícito ao materialismo como sinal de distinção de alguém, a um só tempo, experiente e 
eloquente. 




310 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


[...] Doutor em leis” e “um engenheiro que vinha entrando” (C., p. 54). 
Expondo suas ideias, de maneira cada vez mais exclusiva, o engenheiro ataca 
“a falsa promessa da religião” que incensa a vaidade e leva ao “parasitismo” da 
“elevação dos impotentes [...], dos que se dizem nossos irmãos e que o não são, 
nem em valor, nem em dignidade.” (C., p. 55) A seguir, o engenheiro torna-se 
um narrador secundário, relatando um dos casos que conhece “da ineficácia 
da religião”: a estória de Justino Rocha, seu veterano da “Escola” (Politécnica), 
tido pelos colegas como tão grande quanto Comte, mas logo descoberto pelo 
engenheiro em sua “estreiteza de ideias infantil” (C., p. 56-57). A descoberta 
decorre de seu amor pela matemática pura — “era impotente: com ele a ciência 
tinha de ser estéril” — e de seu catolicismo “ultramontano e fervoroso” — “a 
caridade evangélica não dava-lhe para abafar a inveja feroz e vilã, venenosa, que 
os castrados tem da virilidade alheia” (C., p. 58). Consequentemente, depois de 
formado, sua incapacidade em conseguir um emprego decorre de seu caráter 
“mole e cheio de suscetibilidades”, cada vez mais miserável, invejoso, fechado 
em casa, dado antes à leitura de Chateaubriand e Lamartine que à de Comte, 
contra quem tece projetos de escrever um livro capaz de destruir sua obra. Por 
fim, a metadiegese encerra-se pela narração do último encontro entre Justino e 
o engenheiro, que atesta sua miséria completa ao vê-lo inteiramente satisfeito 
com um jantar reles, em uma casa imunda e em concubinato com uma ex- 
prostituta cuja alma “redimira do vício”, mas que o abandona pouco depois, 
deixando-o “perdido na cachaça...” (C., p. 61) Assim, arremata: “Não é um 
bonito exemplo do revigoramento religioso?” De volta à narrativa primeira, um 
dos jogadores de xadrez, batendo firme sua peça, conclui do caso, ouvido por 
alto: “- ‘O que se pode bem chamar de uma religiosa besta!” 

Relevando a natureza combativa dos argumentos, de que se pode 

depreender um estudo dos efeitos superficiais da religião sob um caráter 

rancoroso e tíbio, é de interesse o quanto a subjetividade e a interioridade 

típicas da primeira fase (sobretudo no que toca à focalização interna fixa das 

personagens) passam a ser entendidas como expressões bestializadas da luta 

entre o indivíduo e a sociedade. Assim, como diz o engenheiro ao bacharel: 

- A vida do sentimento... Lá vou ter. Olhe para dentro de si. Senhor 
Doutor. O que vê no seu teatro interior? Vê-se a si mesmo no 
primeiro plano, enorme, gigantesco e... solitário. E o gênero humano 
a uma distância respeitosa, fazendo bastidores, quadro e outros 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


311 


efeitos agradáveis de pespectiva, da perspectiva da sua vaidade. (C, 
p. 56) 

Perceba-se o deslocamento da representação “pictórica” do indivíduo 
em termos de egoísmo biológico, que ressignifica os “efeitos agradáveis de 
perspectiva” e como que menospreza sua falta de aplicação prática sob o 
panorama vivo, avesso a ilusões religiosas (e estéticas) do “gênero humano”. 
Neste sentido, “Uma religiosa besta” pode ser visto como uma negação 
da gratuidade artística outrora tão presente em sua obra, em prol de uma 
compreensão lógica da existência disposta em pequenas vaidades, como peças 
de xadrez. 

É irônico que Medeiros e Albuquerque (1901, p. 3) considere uma “bela 
réplica” a fala do engenheiro. Seu objetivo é o de afirmar categoricamente a 
falsidade da religião cuidando da verdade, não da beleza. De fato, o engenheiro 
chega a desculpar-se pela eloquência eventual de seu discurso, atentando apenas 
para a força dos argumentos: “Perdoem-me o escorregão na solenidade; não era 
para aí que eu ia.” (C.„ p. 58) Assim, o caso de Justino, seu argumento central, 
busca demonstrar a falsidade das pretensões biológicas, travestidas em requintes 
de bacharelismo e de análise psicológica. 

A psicologia corrente (25/03/1892) 

O mesmo ocorre, desde o título, em “A psicologia corrente”, 

cronologicamente o primeiro conto das Histórias curtas (datado de 25 de março 

de 1892). Em muitos sentidos, trata-se de uma versão reduzida de “Uma 

religiosa besta”, tomando-lhe de empréstimo a estrutura e atualizando apenas 

o argumento central, voltado agora para o valor relativo da lealdade amorosa. 

Assim, há novamente um narrador secundário que apresenta uma metadiegese, 

conquanto brevíssima, e tudo se inicia a partir do diálogo de ideias em uma 

roda de intelectuais. Observe-se, a título de exemplo, as primeiras linhas, que 

parecem ligar permanentemente a leitura deste conto à do anterior: 

- ... As ilusões sentimentais, as ilusões poéticas da vida, são feitas 
de ignorância e de desejo. Notem bem que o desejo é sempre a 
determinante da ilusão: ele é quem se aproveita da nossa ignorância 
para afeiçoar a realidade à imagem dos nossos sonhos. Para as 
necessidades afetivas e estéticas do homem as ilusões são preciosas 




312 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


e mesmo quem corre o risco de as perder é mais feliz do que o que 
as não possui. (G, p. 139) 

Há, novamente, uma interpretação biológica das ilusões humanas — 
sobretudo, do sentimento e da arte — a partir do desconhecimento do alcance 
do “desejo”, “determinante da ilusão”. A diferença está no registro poético 
dessa perda das ilusões, enquanto espécie de ingenuidade necessária para a 
conformação da realidade aos sonhos individuais. Percebe-se certa diferença 
de ênfase — menos combativa, mais compreensiva — que aquela de “Uma 
religiosa besta”, motivada talvez pelo salvo-conduto de um enredo frouxamente 
construído ao redor de uma conversa banal entre artistas parisienses. 

De fato, o enredo é quase inexistente: dois convivas, Gérard e Suzon, saem 
conversando da taverna Sylvain, onde deixam uma “roda de escritores e artistas” 
composta por duas mulheres (Raucourt, atriz; uma mulher anônima) e três 
homens (Catulle Ferrez, poeta e jornalista; Louis Bercheux, “pintor decorador 
quase célebre”; e um “secretário do Écho de Paris”'), ocupada em discutir, cada 
vez mais interessadamente, “sobre a questão controversa e complicada da 
culpa, das intenções, da sinceridade, questão de princípios, frequentemente 
atraída para o terreno dos fatos, exemplos pessoais, casos testemunhados e bem 
ou mal interpretados.” (C., p. 140-141). A conversa parece não levar a nada, 
até que Raucourt pergunte a Bercheux o que é feito da Laura, sua modelo e 
companheira. O pintor julga que a discussão do grupo acerca da lealdade e do 
amor, iniciada pelo “animal psicólogo do Gérard” e arrematada por “todo o 
trem de filosofias idiotas”, visa acabrunhá-lo, tendo em vista que “Laura é a 
mentira em pessoa” (C., p. 141). Assim, passa a lamentar-se da falta de caráter 
de sua modelo, dando início a uma brevíssima metadiegese, em que relata a vez 
em que Laura adotou por algum tempo um menino e disse que era seu filho. 
Seus lamentos encerram-se com uma possível menção à razão de seu amor, 
motivado pelas falsidades de Laura: “As mentiras de Laura, mudando para mim 
de cada vez a sua fisionomia, fazem dela uma mulher de várias vistas, coisa 
preciosa para um decorador, como veem.” (C., p. 144) 

A narração de Bercheux não parece apontar duas funções, como a do 
engenheiro. Àquele, basta explicar a natureza cambiante de Laura, sem objetivos 
ulteriores. Talvez por isso, o tópico da lealdade não é explorado a fundo, e 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


313 


a sugestão inicial de Gérard, citada mais acima, não apenas introduz, como 
parece valer mais que o desenvolvimento do conto. Assim, seja pela falta de 
desenvolvimento da questão (i.e., a natureza desejante da ilusão, sob o pano 
da lealdade amorosa) seja pela brevidade do drama amoroso de Bercheux 
(resolvido, à última linha, por um lacônico “- Talvez seja...” (C., p. 144)), “A 
psicologia corrente” é, talvez, o conto menos acabado, menos coeso, de todos 
os escritos pelo autor. 

Contente (07/04/1892) 

Tais defeitos parecem revistos e corrigidos em “Contente”, conto em que 
a ênfase “dialética”, por assim dizer, dos dois anteriores serve de meio e de fim 
para uma fina crítica social à hipocrisia de seu protagonista. Mesmo o “introito 
filosófico” (BORGES, 1998), quase sempre presente nos textos ficcionais de 
Domício (e facilmente evidenciado em “Uma religiosa besta” e “A psicologia 
corrente”, a ponto de não haver sido mencionado anterior mente), desempenha 
nele uma função especial, enunciado como é por um narrador homodiegético, 
amigo e adulador do protagonista. 245 Há, ainda, uma metadiegese e um narrador 
secundário, aparentemente revitalizados pela mudança da pessoa narrativa. 

Antes de tudo, veja-se seu enredo: o narrador, membro de uma roda de 
intelectuais parisienses, busca “fazer conhecido e admirado o nosso ilustre José 
Vicente” (C., p. 145), esforço gratamente repetido por seus pares. Certo dia, um 
estranho — mais tarde identificado como Cinccinato — desconfia da enxurrada 
de elogios ao célebre conterrâneo, e, para justificar sua reserva, passa a fazer a 
biografia de José Vicente numa longa narrativa. Nela, elenca sua origem humilde 
“numa fazenda qualquer de Minas”, seus estudos incompletos e sua atuação 
como jornalista do Cruzeiro, “que lhe deu bilhete de passagem para a Europa, 


245 O uso amadurecido do introito filosófico é marcante no texto em questão e serve como 
exemplo da não limitação dos contos de Domício ao conto de tese. Afinal: “Algumas das 
narrativas tem uma característica forte: defendem ideias que são apresentadas logo de início. 
Essas ideias, contudo, não levam a uma literatura de tese como nos naturalistas. Geralmente 
é um preâmbulo, e o narrador oferece um personagem-exemplo para provar o que teoriza 
de forma genérica e ampla. E o caso do conto ‘Contente’ (p. 145). Aqui existe também, por 
coincidência, o expediente de criar um pequeno grupo que discute um assunto e alguém 
apresenta a história” (FERNANDES, 2011, p. 24). 




314 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


como correspondente” (C, p. 146). Sobretudo, destaca “o seu contentamento”, 
a sua singela “gratidão à existência”, jamais interrrompida depois do “anúncio 
do pagamento da sua prosa a tanto a linha na Ga%etcT\ e assim, o narrador 
confessa-se também um de seus admiradores, em outros tempos: “Criou para 
nós o caráter do homem feliz, que não só não se queixa como envergonha a 
gente de se queixar. [...] E passa como exemplo vivo de estoicismo, impassível 
perante os dissabores, os desgostos públicos, sereno, contente.” (C., p. 146- 
147) Porém, observa uma ocasião importante: certa vez, ao falar sobre sua 
capacidade de ser feliz tanto como mestre-escola na roça ou jornalista em Paris, 
José Vicente é avisado de que o Cruzeiro fora vendido e de que teria de regressar 
ao Brasil. Sua reação é inesperada e faz com que tanto Cinccinato quanto seus 

ouvintes, dentre eles o narrador da narrativa primeira, descubram sua hipocrisia: 

- Você que tem amigos no Governo não podia me arranjar 
alguma comissão por aqui, ó Cinccinato? 

- Pretendente? Você, pretendente, Maldonado? 

- Para ficar em Paris, sim! Pois você lá pode imaginar-me 
mestre-escola em Minas ou professor no Rio de Janeiro, dando 
lições nos externatos, naquele calor, naquele ambiente malévolo, 
irritante, ouvindo asneiras desde a manhã até a noite, sem estímulo 
para o trabalho, sem prazer no repouso... 

- Oh! José Vicente! e então a sua boa filosofia?... 

- A minha filosofia, disse ele com imensa desolação, não é 
boa senão para os casos de menor importância, não para mim, nas 
condições em que me acho. Você não sabe que não posso deixar 
aqui a Antonietta... (C, p. 150) 

Ouvindo tais disparates, o narrador primário sente que “o balão da 
impostura do José Vicente” se lhe “rebentava na cara” (idem), e considera tal 
possibilidade como um novo gênero das possibilidades humanas de impostura, 
termo que parece valer para os excessos de personalidade, situados nos polos 
opostos da finura e da grosseria. Como discorre no início do conto, no introito 

filosófico aludido há pouco: 

Todo homem tem a sua importura, simpática, perversa ou 
inocente, conforme o fundo do sonho pessoal de que ela se originou. 
Também os limites são pouco definidos entre a mania inocente e 
a impostura orgulhosa. Psicologicamente devem classificar-se do 
mesmo modo o homem que se atribui sutilezas e finuras excessivas 
e que vive na repugnância de tudo que é baixo e grosseiro, embora 
indispensável à vida, e o que brutaliza toda a ilusão, numa aparente 
insensibilidade à poesia. Impostores uns e outros, diferem os dois 
no modo de o ser. (C, p. 145) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


315 


Claramente, a terceira forma de impostura inaugurada por José Vicente é 

a do (falso) meio termo, i.e., do estoicismo de fachada que esconde a necessidade 

terra-a-terra de manter os próprios privilégios às custas da credulidade geral. 

Em uma palavra, trata-se do excesso pela hipocrisia, definida em termos de 

exploração pecuniária e moral. A nota curiosa é que, em muitos e muitos 

detalhes de sua biografia, José Vicente assemelhe-se ao próprio escritor, 

Domício da Gama. Toda ela é idêntica, não fosse pelo nascimento no Rio (e 

não em Minas) e pelo emprego na Gaveta de Notícias (e não no Cruzeiro, muito 

embora a “Ga^etcP seja mencionada). 246 Mesmo as crises de dispepsia, das quais 

Domício não se cansa de queixar-se em suas cartas, está aí presente como traço 

indelével da vida de Vicente. A confusão é tamanha que mesmo uma leitora 

atenta como Tereza França acaba por tomar um pelo outro. Assim, ao discorrer 

sobre a Exposição Universal de 1889, fala no alter-ego do escritor, “contente” 

por viajar pela primeira vez à Europa: 

A bordo do vapor Targus, da Mala Real Inglesa, como o escolhido 
por Ferreira de Araújo para cobrir a Exposição Universal de Paris, 
carregando cartas de apresentação de Capistrano [de Abreu] e 
Ferreira de Araújo para Eduardo Prado e o barão do Rio Branco, 
Domício se sentia contente. As suas percepções das suas viagens 
foram descritas em um conto, no qual um alter-ego, José Vicente, 
pensou a sua história. (FRANÇA, 2007, p. 32-33) 

A leitura biografista, sempre revisitada na fortuna crítica de sua obra, 
acaba por ser particularmente nociva no caso em questão. Pois José Vicente não 
é, de forma alguma, o alter-ego do escritor, mas uma figuração dos brasileiros 
que se mantêm no exterior às expensas do país. Seria absurdo incluir Domício 
nessa categoria, sendo mesmo ocioso elencar os motivos para tal recusa. 247 Se 


246 Mais especificamente, Domício iniciou sua carreira jornalística no Jornal do Comerão , 
quando ainda cursava a Escola Politécnica: “José Carlos Rodrigues, diretor do Jornal do Comér- 
áo, levou-o para aquele diário. Reprovado ao final do terceiro ano, o pai suspendeu a mesada 
mas já se mantinha com o que escrevia, e passou em seguida a fazer o rodapé da Gaveta de 
Notíáastí (VENÂNCIO FILHO, 2002, p. 209-210). A Gaveta não é usualmente citada apenas 
por havê-lo enviado à França, mas também pela presença reiterada em seu período de for- 
mação, ainda quando do Grêmio Literário Jardim de Academus, do qual Domício foi eleito 
presidente perpétuo: “O Jardim funcionava nos fundos de um segundo andar que dava para 
as oficinas da Gaveta de Notícias. As reuniões realizavam-se uma vez por semana e os interes- 
ses eram ecléticos: a política, a história, a religião, a arte, a filologia, a gramática, e numa das 
reuniões afirmou-se a existência de uma literatura nacional.” (idem, p. 210) 

247 Seria melhor considerar a figura de José Vicente como uma mera exemplificação dos 




316 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


se quiser apontar um alter-ego no conto — contra toda a unidade pressuposta 
pela ficção — seria mais viável afirmá-lo em Cinccinato. 248 Entretanto, de que 
adiantaria fazê-lo? Tal argumento não seria produtivo se aplicado a outros 
autores (e encerraria a discussão do texto aludindo a uma relação causal com 
algo que é extra texto), tanto menos a alguém que alude displicentemente a 
elementos de sua biografia na construção de um personagem tão negativo 
quanto José Vicente. 

Um conhecido (06 / 1892) 

O conto cronologicamente posterior, “Um conhecido”, datado de junho 
de 1892, mas somente publicado na Revista moderna de primeiro de abril de 
1898 com o título significativo de “Um cosmopolita”, repete a fórmula do 
narrador homodiegético (porém, sem a metadiegese explicativa) como anteparo 
expressivo de um protagonista singular, ao redor de quem se constrói o enredo. 
A novidade do conto é a de inverter a lógica de “Contente”, apresentando o 
drama-não-drama de alguém apagado, praticamente desconhecido das rodas 
intelectuais, sem identidade própria nem traços marcantes, que não o da 
facilidade de comunicar-se, assumindo os pensamentos de outrem. 249 


tipos de impostura discutidos pelo narrador, à maneira de Carneiro Vilela (1901, p. 1): “Tra- 
ta da impostura o jovem acadêmico, e analisa este vício tão comum entre nós, como quem 
o conhece a fundo e dele se desvia cauteloso. É assim, que desde o princípio do seu conto 
[“Contente”], ele estabelece um teorema, que, a meu ver, é um verdadeiro axioma, desneces- 
sário de ser demonstrado, sendo inútil toda a explicação que ele acrescenta a tal respeito.” 

248 Cincinato é, inclusive, o nome de um cônsul romano (Lúcio Quíncio Cincinato) tido 
como modelo de retidão e de estoicismo. Seu desamor pelo poder, seu apego à vida simples, 
parecem evocadas em “Contente” muito a propósito da falsa moralidade de José Vicente, na 
qualidade de contraponto necessário. 

249 De fato, em crônica de 21 de maio de 1893, o autor deixa expresso seu repúdio ao cos- 
mopolitismo, enquanto fator de apagamento das características nacionais: “E o obstáculo 
maior encontraria em si o próprio viajante no chamado cosmopolitismo, que é um terrível 
amolecedor de rijezas nativas. Deve datar dos tempos da decadência romana, quando o impé- 
rio era o mundo civilizado e dissoluto, o triste aforismo do ubi bem, ibi patriad (GAMA, 1893f, 
p. 1) Assim, ao bem-estar pessoal, Domício contrapõe a integridade nacional, nem sempre de 
acordo com o aforismo em questão. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


317 



Quadro 16 — Almeida J únior, Louvre, 1880, 36 x 54 cm, 
óleo sobre tela, coleção particular. 


O cenário é ainda o da Paris cosmopolita, “uma encruzilhada do mundo: [e] 
quem anda pelas estradas durante anos, acaba conhecendo os tropeiros com quem 
viajou ou pernoitou nos pousos.” (G, p. 199) Assim, casualmente abandonado à 
“harmonia dos sons, das formas, da claridade, dos aromas” do Café de la Paix, 
entre a Place de 1’Opéra e o Boulevard des Capucines, o narrador depara-se 
com “um cavalheiro de maneiras um tanto fáceis demais”, de “linguagem fácil, 
de frases-feitas e ideias corridas, comum de forma e sem relevo”, falando tão 
bem o francês quanto o português (G, p. 201). Um seu amigo, o Dr. Sampaio, 
apresenta-o como sendo Jorge Eggerton Morales, poliglota e jornalista viajado, 
embora desconheça suas origens, supondo ser inglês ou espanhol. Nas páginas 
seguintes, o narrador descreve a figura enigmática de Morales, entrevista aqui e 
ali depois de alguns anos, sem que consiga estabelecer um padrão qualquer de 
sua personalidade. Transcreve apenas uma de suas crônicas, na qual o jornalista 
defende a completa adoção do falar e da cultura local pelos viajantes, como 
prova do juízo certeiro de Fradique Mendes, para quem o poliglotismo é visto 
“como um defeito, como um sintoma veemente da falta de caráter, sintoma 
negativo, que não define o homem.” (G, p. 203) Finalmente, julga ser Morales 
um mentiroso, votado à vida fácil “de Cosmópolis, do bairro suspeito”, entre 
mulheres duvidosas, e relata seus últimos momentos junto de sua porteira, 
noticiados pelos colegas de profissão, já com pouco ou nenhum interesse. 

Diversos elementos de “Um conhecido” são dignos de nota. Para além 
do claro intertexto com o personagem de Eça de Queirós (e da verificação 


318 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de sua influência duradoura sobre Domício), não seria exagero afirmar no 
protagonista de “Um conhecido” o esboço de um tipo da Belle Époque 
parisiense — o do homem viajado, polido, bem relacionado, mas superficial e 
hedonista a ponto de não estabelecer quaisquer vínculos duradouros, valendo 
por uma materialização tanto da velocidade crescente das comunicações quanto 
da (consequente?) banalização das relações interpessoais. Mesmo a mudança do 
título — de “Um cosmopolita” para “Um conhecido” — visa ajustar a descrição de 
Morales à pouca familiaridade do narrador, em conformação a uma focalização 
interna fixa que bem representa o isolamento das personagens, cada uma em seu 
mundo próprio. Aliás, a comparação dos cosmopolitas a tropeiros do mundo 
parece trazer certa conotação intimista, pessimista, fazendo equivaler as ilusões 
pessoais ao fardo das boiadas cotidianas, sem nenhuma conotação regional. 
Observe-se, pois, o que nisto se imprime de crítica à perda das raízes locais 
(mesmo nacionais, sendo Morales talvez inglês, talvez espanhol), prenúncio de 
uma nociva “lide da mentira” (C., p. 206). 

Neste sentido, Jorge Eggerton Morales vale por uma espécie de Gatsby 
transnacional de menor prestígio, representando uma segunda e importante 
crítica social, paralela àquela de José Vicente. 

Meu moleque Tobias (04/07/1892) 

Por sua vez, “Meu moleque Tobias”, escrito a quatro de julho de 1892 
e último conto anterior período entre “[agosto de] 1892 e 1895, quando ele 
envolveu-se com os trabalhos na Superintendência de Imigração e com os 
trabalhos da Missão de Palmas com Rio Branco, [e] sua produção [literária] 
descendeu” (FRANÇA, 2007, p. 45), é uma súmula do racismo brasileiro 
oitocentista. Alguns elementos estruturais podem ser indicados de antemão: 
narrador homodiegético; diálogo entre o narrador e o protagonista, que se 
torna narrador secundário; presença de breve metadiegese; introito e desfecho 
“filosóficos”. A novidade fica por conta de uma crítica social absolutamente 
deturpada da escravidão. 

O enredo é demasiado simples, e parece ocultar o progresso literário do 
escritor, lentamente conquistado desde “As calças de Manoel Dias”. Trata-se 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


319 


de uma “pilhéria”, de um causo passageiro, que faz as vezes “de um estudo 
violento em preto e branco, ou ‘em preto e branca’, como diz o próprio Itapuca, 
com quem se passou o caso.” (C., p. 161) O sentido racista do “estudo em preto 
e branca” dá-se logo a conhecer: um brasileiro chamado Rodolfo conta a estória 
de seu amigo, o Barão de Itapuca, filho de um senhor de engenho da Bahia, 
enganado por sua amante parisiense Leonídia com um de seus escravos forros, 
o Tobias. Descobrindo a preferência da amante, o Barão empresta Tobias a 
Leonídia por algum tempo e segue acabrunhado em viagem ao Oriente, a fim 
de esquecer o ocorrido. Depois de meses, retorna a Paris, e ao ver o ex-escravo 
com a ex- amante demonstrando ares de insolência, tratado há muito como “um 
príncipe africano, o príncipe da Bahia”, sente-se estarrecido ao ponderar que é 
possível amar alguém como ele: “A preferência da mulher é que se não explica”. 
(C., p. 164) Por fim, Rodolfo conlcui que talvez a viagem, talvez o sofrimento 
amoroso, deu ao amigo um vislumbre de sabedoria ao considerar o amor como 
a justa explicação do caso. 

Parece não haver nada a dizer a respeito de um texto tão nuclearmente 
racista quanto “Meu moleque Tobias”. O narrador chega mesmo a lamentar 
não ter sido o próprio Barão de Itapuca quem narrasse o caso de Tobias, 
como alguém inteiramente aferrado aos “preconceitos contra a raça inferior de 
pele escura e cabelos encarapinhados”; assim: “Casos de pretos referidos por 
europeus liberais e cultos são perfeitamente desenxabidos. Não há como um 
antigo fazendeiro para exprimir o cômico de negros tirados de sua condição.” 
(C., p. 161-162, grifos do autor) A conversa entre ambos arremata o preconceito 

racial que compartilham, sensível desde a apresentação do caso por Itapuca: 

— A Leonídia tomou-me o meu moleque Tobias... 

— O seu copeiro? 

— Sim, o pajem que meu tio criou para mim no engenho e que 
eu trouxe para a Europa há cinco anos. 

- E uma bonita peça. 

- Antes da abolição valia um conto e quinhentos, ou um conto 
e oitocentos. Hoje não tem preço para a Leonídia. (C., p. 163) 

Há ainda diversos trechos que confirmam o viés racista do conto. Bastam 
dois exemplos: um argumento do Barão, que considera decorrente da histeria 
da amante sua preferência (“Entretanto, bem estudado, aquele estado d’alma, 
que eu qualifico de monstruso, dava para um livro interessante...” (C., p. 165)); 




320 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


e um comentário final de Rodolfo (“- Seu Barão, é talvez a catinga do preto, 
cebola crua pisada em vinagre, um fartum que entontece...” (G, p. 166)). 

Por um lado, enquanto obra ficcional, “Meu moleque Tobias” não parece 
valer mais do que um documento de época, uma verificação das raízes racistas 
da elite brasileira endinheirada, circulando incólume pela Paris da Belle Époque. 
Por outro, como parte da evolução literária do autor, prestes a entrar para a 
diplomacia nacional, é fato triste e execrável, estranhamente (estrategicamente?) 
ocultado pela fortuna crítica, quase sempre elogiosa ou reticente a seu respeito. 

A confissão [s/d] 


Um contraponto interessante ao racismo de “Meu moleque Tobias” é 
aquele do conto “A confissão”, original presente no arquivo Domício da Gama 
da Academia Brasileira de Letras e transcrito na tese de Luiz Borges (1998). 
Infelizmente, em se tratando de texto ainda inédito e de acesso restrito (além de 
não datado), os efeitos reparadores de seu diálogo com “Meu moleque Tobias” 
são, por certo, minorados. Há que se relevar, contudo, que, apesar da seleção 
de Borges (1998), o estilo e a estrutura do conto é demasiado diverso daquele 
empregado em todos os demais contos de Domício, fazendo pensar, seriamente, 
em sua autenticidade. Neste sentido, seria recomendado limitarmo-nos à sua 

crítica à escravidão, como contraponto ao conto anterior: 

A exploração do homem pelo homem foi, sem dúvida, o mais 
triste capítulo da História do Brasil. Mesmo sem o incidente dos 
Palmares, uma epopeia destacante do heroísmo da digna raça que 
teve em Zumbi a encarnação da libertade suicida, ou nas estrofes 
candentes do Navio negreiro e o verbo inflamado dos abolicionistas, 
talentos em luta pela redenção das almas, ressentia-se, de há muito, 
a consciência da Nação, diante dos processos cruéis, com que os 
brancos traziam jungidos à gleba os nossos semelhantes de cor. 
(GAMA apud BORGES, 1998, p. 309) 

Nhozinho (03/06/1893) 


Já em “Nhozinho” , o tema da escravidão deixa de ocupar o pensamento 
do autor, que volta a ocupar-se dos temas de outrora. O conto trata de uma longa 
conversa entre duas personagens, Tristão e Balbina, acerca da possibilidade da 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


321 


“hipocrisia voluntária, intencional”, com base na traição de Balbina por seu 
marido mais jovem, “Nhozinho” (C., p. 166). O próprio tema da conversa 

parece retomar aquele de “Contente”, já em suas linhas iniciais: 

- Há gente de imaginação preguiçosa, há gente de espírito 
vazio, que diz que o mundo é chato e monótono... Quando, em 
vez disso, sem sairmos de nós mesmos, de nós e dos que mais 
supomos conhecer, quanto recanto temos cá dentro em que a alma 
verdadeira se esconde... É grande o mundo interior; às vezes não 
é voluntariamente que a alma se perde nele e demora a revelar- 
se ao nosso conhecimento. A senhora acredita que há hipocrisia 
voluntária, intencional, que dure anos? (idem) 

Diversos elementos dos contos de segunda fase são novamente 
repetidos, com a diferença de que, pelo excesso de diálogos e pela presença de 
um narrador heterodiegético, “Nhozinho” aproxima-se antes de “Possessão” 
que daqueles cronologicamente mais próximos de si. Mesmo o assunto de 
ambos é semelhante — as desventuras de uma mulher submissa (Ninita, Balbina) 
ante as estroinices do marido (Luisinho, “Nhosinho”). Há ainda uma segunda 
divergência: a estória de “Nhozinho” é narrativizada por Tristão em um longo 
parágrafo, a partir do relato do amigo em “uma mesa de varanda do Ba/ des 
Canotiers ” (C., p. 171), em Paris, não chegando a consistir de uma metadiegese 
pela consequente ausência de um narrador secundário. 

Não obstante, a recorrência de alguns elementos pontuais merece 
destaque. Tal como em “Um conhecido”, a figura do tropeiro é evocada como 
paralela àquela do viajante. “Nhozinho” começa a vida transportando “mulas 
nos campos do Paraná” e em Sorocaba, e, depois de muito tempo, segue 
cantarolando na Alemanha uma “cantiga de tropeiro” em uma ferrovia de 
Aschaffenburg: “Vou-me embora para Minas, / Sete anos, por meu gosto, / 
Para ver a Dona Rosa / Com que água lava o rosto.” (C., p. 170-171) 250 Outro 


250 Seguindo as sugestões de Ronaldo Costa Fernandes (2011, p. 12-13), poder-se-ia re- 
lacionar tal recorrência da figura do tropeiro a certa particularidade da escrita de Domício, 
supostamente dividida entre os meios local e cosmopolita: “Domício da Gama, podemos 
afirmar, é um autor que retrata o ambiente sofisticado em que viveu como diplomata e, con- 
comitantemente, sem esquecer suas origens, busca-as para dar colorido ao cenário campestre 
brasileiro que descreve com propriedade. [...] E comum na sua ficção a junção desses dois 
universos: o mundano, muitas vezes internacional como Paris e Londres, e o mundo do cam- 
po.” No entanto, seria uma temeridade dizer que há uma mesma ênfase nos dois universos, 
uma vez que o “cenário campestre brasileiro” é descrito apenas esporadicamente, ou como 
contraponto à interioridade das personagens, quase sempre cosmopolitas ou ligadas ao espa- 




322 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


elemento recorrente (e reportando a uma herança da primeira fase da obra) 
é a descrição da praia por onde passam Tristão e Balbina, enquanto paralelo 
do assunto algo ominoso em pauta: “Do sol, que mergulhava no oceano, 
vinha até eles um imenso rastilho fulgurante. [...] O mar zoava, estrondava, 
tinha pancadas e pausas, como se falasse contando alguma história monótona 
e obscura, interminável.” (C., p. 168-169) Por fim, a explicação biológica 
do sumiço repentino do protagonista, sob a chave de “fatalidades orgânicas, 
heranças ou não sei o quê”, presente no estudo de temperamento de “Maria 
sem tempo”, é revisitada sob a comparação de Nhozinho às aves de arribação: 
“[...] logo que veio a crise das migrações, a ave errante começou a alvoroçar-se e 
um belo dia, mais violentamente seduzida, aproveitando uma boa ocasião, abriu 
o voo para as terras sonhadas, da vida intensa e variada, solitária na multidão.” 
(C.,p. 171) 

Uma causa provável do reencontro de tantos elementos prévios em 
“Nhozinho” parece ser o silêncio literário do autor por mais de um ano, após 
sua entrada na Superintendência de Imigração. Neste momento, Domício parece 
buscar as linhas mestras de sua atividade literária e retomar sua produção de 
onde parou. Infelizmente, tal projeto não foi bem sucedido, e o próximo conto, 
“Amabo!”, escrito após um intervalo de mais de dois anos, atesta as muitas 
imprecisões dessa retomada d’emblée. 

Amabo! (25/09/1895) 

Diversos elementos de sua segunda fase estão presentes em “Amabo!”: 
narrador heterodiegético; construção do enredo ao redor de um protagonista 
de quem se faz um breve estudo; e presença de metadiegese, de função 
explicativa e persuasiva. Há mesmo a recorrência — inédita em sua obra — de 
uma personagem de outro conto, João da Matta, protagonista de “Outrora...”. 
Assim, superficialmente, o autor parece estar em sintonia com seus contos de 
“outrora”, muito embora haja claros indícios de que tal continuidade esteja 
minada internamente por importantes contradições. 

Neste sentido, a recorrência dos elementos e personagens indicados 


ço europeu (ou, ainda, de passagem pelo Brasil). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


323 


precisa ser examinada, ao menos, à luz de dois contrassensos. Ambos são, 
todavia, mais facilmente detectáveis se retomado seu enredo: em “Amabo!”, 
João da Matta, “brasileiro estragado pela Europa”, devota-se à pândega em 
Paris e torna-se verdadeira “flor de vício e de dissipação”, na qualidade de 
“jovem bárbaro de sangue ardente e sensualidade exuberante” (C, p. 175, 177). 
Suas estroinices datam dos tempos passados no Rio, e é sem sucesso que sua tia 
Joaquina, responsável por sua criação, financia seus estudos na Europa como 
forma de afastá-lo dos vícios. Os sacrifícios continuados da tia não sensibilizam 
o rapaz, que chega a fazer uma longa defesa teórica da pândega em carta a 
um amigo, argumentando sobre a honestidade do gozo imediato, “sensação e 
sentimento à farta, mas naturais, vindos da pobre e honesta carne, sem cheiro 
nem sombra de literatura.” (C., p. 178) Segue a vida dissipada de João da Matta, 
perdido nos amores de uma cortesã parisiense, Jeanne, até que ouve falar do fim 
da Monarquia, voltando ao Brasil com uma vontade que “não era certamente 
[a de] dedicar-se em corpo e alma à obra da consolidação da República.” (C., p. 
181) Consegue, enfim, uma comissão remunerada na Prússia, e conhece, num 
vapor da Mala Real Inglesa que o leva de volta à Europa, Galdina, de quem se 
aproxima e logo se vê noivo. Casam-se. Um dia, Galdina encontra uma carta de 
Jeannette, repleta de versos amorosos, e um sinete, com a divisa “An/abo [...] entre 
uma rosa e um crânio”, usado outrora por João da Matta como representação do 
“reclamo urgente do amor insaciável.” (C., p. 183) Finalmente, a carta guarda-a 
como uma espécie de fetiche; e o sinete, afasta-o, suspeitosa de sua validade 
mesmo após o casamento. 

Há, pois, dois contrassensos em “Amabo!”. Um deles, mais evidente, é 
o da recorrência deslocada de João da Matta, personagem de “Outrora...”, com 
um histórico pessoal e familiar inteiramente diverso. No conto anterior, trata- 
se de um bacharel sensível, que retorna amorosamente à casa paterna depois 
de mais de uma década de ausência, logo após bacharelar-se; aqui, é uma tia 
quem é responsável por sua criação, e tudo que ocupa João da Matta é a vida 
à farta, sem menção ao pai ou ao menestrel José Ramos. Tal leva a supor que, 
embora possua o mesmo nome, João da Matta não é a mesma personagem. 
Antes, parece haver algo do José Vicente de “Contente” no cinismo prático 
com que volta ao Brasil tão somente em busca de uma comissão. Em todo caso, 




324 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a contradição aí pressuposta ressignifica negativamente tal recorrência nominal 
da personagem, indicando uma tentativa frustra de dialogar com o passado e 
uma capacidade de apenas lançar sombra, e não luz, ao diálogo entre os contos 
(personagens) de primeira e segunda fase. 

O segundo contrassenso diz respeito ao não lugar do estudo de 

temperamento do jovem libertino, desde o início apresentado como uma 

personagem terrivelmente plana, “significando em resumo que a pândega 

estava-lhe na massa do sangue.” (C., p. 178) No entanto, o conto busca fazer 

uma análise da natureza de sua dissipação, ligando seu comportamento à sua 

juventude e às suas origens tropicais: 

a dissipação era para ele uma simples manifestação de atividade 
varonil e forte, o seu esporte físico e sentimental ao mesmo tempo. 
Em tais condições, o vício perde o seu caráter de artificialidade 
deprimente e passa a ser um fenômeno natural e espontâneo, que 
não chega a prejudicar à sociedade pelo espetáculo da degradação de 
um indivíduo. (C, p. 177) 

Tal é o mesmo argumento defendido pelo narrador secundário, João 
da Matta, na carta mencionada, endereçada a um amigo qualquer que o tenta 
reprovar por seus excessos: “O senhor talvez ainda não tenha pensado que a 
vida impura é a mais simples, de uma simplicidade que, violente a moral social 
embora, tem para um homem de impulsos animais, como eu, a vantagem de não 
fingir.” (C., p. 180) Ora, não se trata de uma análise de João da Matta, mas de 
uma repetição de seu argumento — o da naturalidade do vício em determinados 
casos. O que equivale a dizer que “Amabo!” faz uma análise tautológica de uma 
personagem plana, algo como se dissesse que as paixões carnais vêm da carne. 

Releve- se, ainda, o tom de brincadeira presente em alguns momentos do 
conto, que chegam a baratear a análise do protagonista, vazia de antemão. É o 
que ocorre, por exemplo, quando ele sente saudades de Jeanne: “Se não fosse ela 
entra frequentemente como o mais poderoso dos motivos nas decisões de um 
varão e deve datar dos tempos pré-históricos, da primeira tolice sentimental do 
homem da pedra lascada.” (C. p. 176, grifos do autor) 

Recapitulando (15/10/1895) 


Algo muito parecido acontece com “Recapitulando”, conto escrito quase 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


325 


simultaneamente a “Amabo!”, e que se lhe serve de contraponto imediato. Aliás, 
aquilo que falta à caracterização de João da Matta — a saudade dos tempos de 
outrora e o amor à família — é o que define o novo protagonista, o Dr. Libânio 
Rangel, cônsul de 3 a classe em Sheffield, Inglaterra, de volta ao Brasil em 
busca de uma ascensão qualquer em sua carreira. Libânio logo vê seus planos 
frustrados ao saber da miséria da família, de volta para os lados da Manitiba, já 
sem influência alguma na capital, ao que decide voltar à Inglaterra, já entregue à 
“melancolia piedosa de quem suspira uma elegia”, sentida desde a contemplação 
do mar largo, ao chegar no Rio (C., p. 157). 251 

De início, é possível perceber uma série de reaproveitamentos temáticos 
dos contos anteriores. A frustração profissional de um cônsul parece evocar 
diversas passagens do conto homônimo (“Cônsul!...”); o retorno à casa paterna 
por uma estrada de chão e o encontro inesperado com alguém do passado (não 
mais o menestrel José Ramos, mas a irmã Maria), dialogam com “Outrora...”; 
o amor da irmã pela pintura e a rusticidade de sua arte fazem pensar no Mestre 
Camilo de “Um primitivo”; a crítica de Libânio à abolição da escravidão, 
enquanto fator de miséria das antigas fazendas, parece evocar a negatividade 

251 Diga-se de passagem, Ronaldo Costa Fernandes (2011) considera a “melancolia” como 
experiência marcante na leitura dos contos do autor, o que julga ser uma clara influência de 
Eça e de Machado. Assim, retomando uma passagem de seu prefácio às Histórias Curtas , diz: 
“Mostra-se interessante o fato de o autor de Contos preocupar-se com seus leitores no que 
diz respeito ao fato de estar diante de um texto melancólico. Não se dava conta Domício da 
Gama que dois de seus grandes mestres, Machado e Eça, principalmente o primeiro, abu- 
saram da melancolia.” (FERNANDES, 2011, p. 14-15) No entanto, especifica a natureza 
amena de tal melancolia, contrária à influência dos autores mencionados, mais social e ácida: 
“A verdade é que a melancolia dos contos de Domício não chega a ofender a moral burguesa, 
nem mesmo aos leitores desatentos ou não iniciados. Domício trafega pela literatura com 
certo conforto, embora não se prenda a escrever ‘causos’ como é comum do autor bissexto 
ou bisonho, iniciante ou inepto. Domício domina a arte da narrativa, e seus contos, no as- 
pecto de narrar histórias tristes ou não, estão no limite entre um caso curioso e uma branda 
tristeza.” (idem, p. 15-16) Para além da plausibilidade da melancolia como experiência decisi- 
va de leitura, é interessante lembrar que um soneto dedicado a Domício da Gama, escrito em 
agosto de 1902 e de autoria de Dário Galvão, é justamente intitulado “A Melancolia”. Ei-lo, 
na íntegra: “Corre o vinho, recendem belas flores; / Hinos soam cantando a minha glória; / 
Eu me lembro porém que além há dores, / E o riso nego à face merencória... / / Ferem-me 
o coração cruéis horrores, / O triunfante mal canta vitória! / Mas o pranto contém minha 
memória / Relendo as páginas dos meus amores! / / Com porte de astro, impávido e sereno, 
/ Como passou outrora o Nazareno / Do quente berço à gélida agonia, / / Sem convulsões 
de dor, nem de alegria / Graças a ti percorro o chão terreno, / Oh! casta e sideral melanco- 
lia!” (GALVÃO, 1911, p. 58) 




326 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de “Meu moleque Tobias ”; 232 e a chegada de um transatlântico europeu, repleto 
de turistas e de estrangeiros, confirma uma preferência temática praticamente 
onipresente na obra de Domício . 253 

Igualmente, a forma do conto é semelhante à dos anteriores de segunda 
fase, com a diferença de não constar de metadiegese, nem da análise mais ou 
menos naturalista (do temperamento) do protagonista. Há, ainda, a recorrência 
de pequenos trechos descritivos acentuadamente visuais, bem como do termo 
“impressão” nas sensações trazidas a Libânio pela viagem de volta a Manitiba, 
que fazem cogitar num breve inventário de conteúdos e formas previamente 
explorados. A inconclusão da trama, suspensa entre os lamentos de Libânio 
e de Maria, torna tal constatação mais plausível, integrando “Amabo!” e 
“Recapitulando” num esforço comum de retomada da criação literária 
(arrematada ou prevista já no título de “Recapitulando”). 


252 “Depois vieram as leis sucessivas contra o trabalho escravo desanimar de todo os que 
ainda teimavam em lutar com a terra tornada ingrata, com as febres deprimentes. Arruina- 
ram-se os fazendeiros, as várzeas se mudaram em pântanos, por falta do braço passivo e 
robusto do escravo negro, que as sangrava e expunha ao sol; as estradas largas e batidas de 
outrora, diminuindo o trânsito, se transformaram em trilhos onde, anos atrás, ele pudera 
viajar de boca cerrada e amarga longas milhas sem encontrar uma pessoa com que trocasse o 
bom-dia ou boa-tarde usado entre a gente do campo. De longe em longe vê-se uma casa em 
ruínas, de fachada fendida e teto roto, janelas sem vidros, portas escancaradas sobre a solidão 
e o abandono. Marcando os limites do antigo terreiro, onde o mato cresce, a linha das antigas 
senzalas não é mais do que um lamentoso quadrado de entulho, que a vegetação cerrada e 
exuberante vai encobrindo piedosamente...” (G, p. 154) Ademais, o narrador do conto, como 
em “Meu moleque Tobias”, não dá relevo ao povo pobre que vai encontrando pelo caminho, 
limitando-se a constatar sua existência, tout court. 

253 Independente da divisão de sua obra em duas fases, tal preferência temática demarca 
um claro elemento temático cosmopolita, relacionado lato sensu com a estética impressionista. 
Afinal: “Dam sa première phase d’ailleurs, l’impressionnisme reste un art de citadins: il traduit cette joie de 
vivre en plein air— née d’ une réaction contre la ville tentaculaire moderne — qui devait se traduire un peu plus 
tard dam la littératureP (BAZIN, 1956, p. 5) E, como observa Fernandes (2011, p. 19): “Nos 
grandes salões, nas casas das famílias da alta burguesia, nos meios diplomáticos, nos espaços 
públicos e privados de países da Europa, nas óperas, são nesses espaços que Domício da 
Gama insere seus personagens. Jornalistas, diplomatas, nobres, comerciantes, estrangeiros, 
são as caracterizações mais ocorrentes nos seus contos. E interessante também observar que, 
assim como existe o espaço elegante do Champs Elysées, também ocorrem viagens, muitos 
dos personagens se deslocam de seus lugares de origem ou vivem entre um país e outro”. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


327 


A força do nome [1897] 

“A força do nome”, por sua vez, não possui datação nas Histórias 
curtas e poderia ser incluído como parte desse esforço comum, não fosse sua 
publicação no quinto número da Revista Moderna (Paris) a cinco de setembro de 
1897, o que parece apontar a data de sua composição nesse período. Trata-se, 
junto a “Miss Epaminondas”, do conto de maior extensão escrito pelo autor. 
Algo consequentemente, seu enredo é bastante desenvolvido, constando de três 
subdivisões. 254 

Resumidamente, “A força do nome” traz a estória de Fabius Bennett, 
jornalista político inglês, conhecido pelo narrador durante um jantar no Vian, 
em meio a um monótono feriado de Páscoa em Paris, “na melancolia das mesas 
abandonadas e desfeitas.” (C., p. 189) Após tecer uma série de perfis dos habitues 
do local, o narrador descreve sua apresentação pelo amigo e também inglês M. 
Léon a Fabius. Certa noite, no Vian, Fabius conta-lhe a estória de sua vida. Fala 
de seu pai diplomata e das viagens pelo mundo junto de si; de sua educação 
“excessiva e imperfeita”, causa de seu desinteresse posterior pela vida, que 
“lhe passava por diante dos olhos como uma paisagem vista pelas janelas de 
um trem expresso, fugitiva, desinteressante” (C., p. 190); da morte do pai; de 
seu ingresso na carreira jornalística, como correspondente político do Morning 
Post; de seu cotidiano profissional estressante e de sua viagem de descanso a 
Florença, em casa do romancista Lello Mathey; da amizade com os membros 
da família Mathey — Lello, Rosa e Mila; de sua paixão por Mila, eclipsada por 
um episódio fatídico de duelo com o amante de uma cantora italiana; da estadia 
em Cuba por dois anos; e do retorno a Paris, seguido do reencontro com Mila, 


254 A respeito da centralidade do enredo nos contos de Domício (i.e., nos contos de se- 
gunda fase, especificamente), observa, ainda uma vez, Ronaldo Fernandes (2011, p. 24): “Vi- 
vendo o fin-de-siècle , a indecisão narrativa e impressionista que nos deu um Raul Pompeia, 
por exemplo, Domício consegue conter-se e exercer uma literatura que tenderia ao excesso 
desnecessário se não houvesse qualidade em sua ficção e sua prosa estivesse a serviço da 
história que conta.” Parece exagerado afirmar, todavia, que a atenção ao enredo seja um salto 
qualitativo ante “a indecisão narrativa e impressionista” da virada do século, para não dizer 
mesmo uma impropriedade histórica, que inverte o desenvolvimento da prosa ficcional dos 
séculos XIX e XX, considerando um avanço o retrocesso, e vice-versa. 




328 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


casada com um acadêmico inglês. 

É digno de nota o abandono do estudo pormenorizado do protagonista 
a partir de causas hereditárias ou biológicas, mais ou menos recorrente nos 
contos de segunda fase. Antes disso, o narrador atém-se às experiências passadas 
de M. Bennett e à lenta maturação de sua sensibilidade, cada vez mais aberta ao 
espetáculo da vida. Outro elemento importante é a ausência de metadiegese: as 
falas de M. Bennett são narrativizadas ou relatadas pelo narrador homodiegético, 
que mantém sua centralidade, concedendo ao protagonista apenas a prerrogativa 
da focalização interna fixa. Neste sentido, “A força do nome” parece um conto 
de transição para “Moloch”, do qual é, aliás, cronologicamente próximo. 

Algumas passagens são de interesse, sobretudo, para uma revisão do 

pensamento estético do autor. É o que ocorre quando define o humor inglês de 

M. Bennett, parecendo resumir sua própria concepção de humor (basta pensar, 

a este respeito, em um conto como “As calças do Manoel Dias”): 

Como todos os ingleses, pendia para o humour ; os contrastes 
cômicos, a caricatura sem sátira, isto é, sem ódio e sem depressão da 
humanidade que há nas criaturas mais ridículas. A anedota vinha a 
propósito e caracteristicamente; fazia de ilustração psicológica. E o 
que havia de informação seca no que dizia tinha o vigor e a nitidez 
dos algarismos de uma notícia bem dada. (G, p. 187) 255 

Ou ainda, ao adentrar o narrador nos pensamentos de M. Bennett e 
discutir a transitoriedade da vida a partir de seus instantes cambiantes, numa 
reflexão que poderia valer como uma súmula (extemporânea) do impressionismo 
literário: 

Ver sempre coisas novas fatiga; as coisas velhas imóveis, monótonas, 
acabam por escapar à atenção O que interessa é o que se transforma 
sob os nossos olhos, e a comparação dos vários estados de uma 
transformação, de acordo com as previsões que sobre ela fizemos 


255 Ronaldo Costa Fernandes (2011, p. 17) compara o humor sóbrio de Domício àquele de 
Machado e Eça, destacando seu comportamento como que diplomático também no humor: 
“Outro traço da narrativa de Domício é a ausência de situações cômicas ou de um humour à 
Machado e até mesmo praticado pelo seu amigo Eça, seja em O mandarim , seja em A. cidade 
e as serras. Em Domício, os lábios não deixam de se entreabrir num sorriso irônico, muitas 
vezes divertido, sem que caia na ironia corrosiva machadiana, nem na ironia às vezes devas- 
tadora de um Eça, que, numa página ou menos, destroça o caráter de um personagem tor- 
nando ridículo o que antes fora compostura. Na verdade, perguntamo-nos se Domício, pelo 
exercício da diplomacia, pelos deveres da sua função burocrática, não deseja ingressar num 
campo em que os dois mestres sabiam discutir muito bem e deles sair sem mácula, mesmo 
sendo um burocrata (Machado) e o outro diplomata (Eça).” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


329 


ou as contrariando, é a determinante do nosso sentimento e o seu 
critério. [...] A jornada da vida deixava de ser para ele uma corrida 
sem rumo através de paisagens anônimas entrevistas fugitivamente 
pelas vidraças de um trem expresso. (C, p. 194) 

Miss Epaminondas (07/12/1898) 

“Miss Epaminondas”, publicado no número 26 (ano II) da Revista 
Moderna (Paris), repete o drama amoroso de “A força do nome”, abordando-o, 
porém, da perspectiva de uma mulher “que mantém um amor platônico por um 
sujeito que, mais tarde, descobrirá casado.” (FERNANDES, 2011, p. 27) Como 
de praxe, as personagens circulam pelas grandes capitais do mundo, num teatro 
de sentimentos e impressões que se resolve pela desilusão da protagonista. 
E, ainda uma vez, apresenta diversos elementos caros aos contos de segunda 
fase: narrador heterodiegético; estudo de uma personagem central; presença de 
metadiegese (protagonista tornado narrador secundário em uma de suas cartas); 
excesso de diálogos etc. 

Para resumir seu enredo, cheio de quiproquós amorosos, bastaria dizer 
que “Miss Epaminondas” apresenta Annie Brooks, americana de 18 anos, 
ingênua, enamorada de um espanhol, o Sr. Campos. Annie confia cegamente 
em Campos e guarda-se para ele, desprezando outro pretendente, um estudante 
galanteador. Infelizmente, Campos engana a jovem, que desconhece o fato de 
ser ele já casado. Após um longo período de solidão, em que se extenua no estudo 
de literatura e filosofia, Annie deixa Nova Iorque e vai à Europa acompanhada 
da mãe, seguindo recomendações médicas. Visita a casa de Campos a fim de 
revê-lo, e, enfim, descobre a verdade. Como vingança, decide acatar o conselho 
do outro pretendente, o estudante, e formar-se jornalista, para defender, na 
falta do amor, a verdade. Assim, funda um periódico chamado Brooks’ Weekly, 
“um dos mais massadores jornais para famílias que há na América”, e que lhe 
rende o apelido de “Miss Epaminondas” à maneira do general grego, “austero, 
intransigente e seco”, a discutir sempre “grandes questões insolúveis do 
desequilíbrio necessário das massas sociais, da desigualdade na repartição da 
riqueza, dos destinos das raças e das nações.” (C., p. 223) 

Com o perdão da comparação biografista, há muito de Domício na 




330 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


caracterização de Miss Annie — ao menos no que toca a seu interesse pela 
literatura e pela filosofia. Houve mesmo quem visse ecos do autor no estudante 
rejeitado pela americana, dizendo que “em Miss Epaminondas pode haver a 
réplica à indiferença cortês de uma mulher desejada.” (VENANCIO FILHO, 
2002, p. 220) De qualquer forma, seja pela proximidade cada vez maior entre 
o meio cosmopolita de sua ficção e o de sua atuação profissional seja pelo 
tom cada vez mais constatativo das ações representadas, reduzidas a um longo 
inventário de fatos cujo interesse central é o próprio desenrolar das ações, “Miss 
Epaminondas” parece indissociável de “João Chinchila”, na qualidade de conto 
bissexto e sem propósito aparente. A visão de um projeto literário do autor 
segue desfazendo-se pouco a pouco, deixando para trás o projeto realista, quiçá 
naturalista, dos contos de segunda fase. 

Poder-se-ia objetar que a vingança literária de Annie visa atacar Campos, 
elevando sua insatisfação biológica ao nível intelectual: “Durante a última guerra 
Annie falou em conferências públicas, fez parte de comitês patrióticos, deu 
combate à iniquidade e à mentira espanholas. Esqueceu-me dizer que Campos 
era espanhol.” (G, p. 223) Tal sugestão do narrador permanece, contudo, 
isolada, e tampouco encontra eco no conto posterior, de maior relevo, apesar 
de sua extensão reduzida. 

João Chinchila (16/01/1899) 

“João Chinchila” é o conto mais recente da obra de Domício. Até segunda 
ordem, trata-se do último conto escrito pelo autor, indicando na data de sua 
composição — 16 de janeiro de 1899 — o marco final de suas produções ficcionais. 
A partir de então, Domício dedica-se apenas a projetos literários inconclusivos, 
que se vão somando uns aos outros em sua extensa correspondência. 

Parece ser ponto pacífico na fortuna crítica do autor que João Chinchila 
equivalha a uma espécie de alter-ego de Domício: “João Chinchila revela 
quase uma autobiografia, pelas numerosas coincidências com a paisagem onde 
nasceu, os momentos das horas infantis, a juventude ansiosa e o final dolorido.” 
(VENÂNCIO FILHO, 2002, p. 220) Ou ainda: “ João Chinchila [...] caso, que 
além de sentimental, tem uns longes de documento autobiográfico...” (SALES, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


331 


1901, p. 2) De fato, para além das muitas semelhanças de vida e de pensamento 
entre autor e personagem, há uma importante homonímia entre a dedicatória 
de “João Chinchila” — “para a Maria d’Eça de Queirós” — e seu narratário — a 
própria Maria, filha de Eça — que atesta a veracidade da hipótese. Mesmo a 

reflexão do introito filosófico é modulada a partir do diálogo com a menina: 

A história triste de uma vida inteira é sempre triste, por feliz 
que tenha sido. Há no correr dela as mortes, as separações em 
caminho, os desencantos do que se desejava e que saiu diferente 
do sonho, há sobretudo a fadiga que desce sobre a gente com as 
sombras da velhice. Assim é melancólica a tarde do mais belo dia, 
por comparação com a frescura e o esplendor das madrugadas de 
esperança. Por isso, para que a Maria não se entristeça lendo-a, eu 
corto a história de João Chinchila pelas três horas, quando ainda lhe 
vai alto o sol da vida. (C. p. 225) 

Há, por assim dizer, uma influência direta da homenageada sobre a 
estrutura do conto, que se prende aos momentos mais ou menos felizes da vida 
de João Chinchila. De fato, para que não enfastie a menina, o conto sequer tem 
um final, deixando em aberto o episódio da epifania de João Chinchila, que seria 
o momento central de sua formação pessoal: “Mas o episódio da libertação, a 
volta à terra natal e os colóquios de João Chinchila com o mar são matéria para 
longas páginas e encheriam e escureceriam impropriamente o livro de menina 
da Maria.” (C., p. 230) 

Assim, segue-se um inventário ameno (censurado?) da formação do 
protagonista — o nascimento “em terra americana [...] à beira das lisas praias”; 
o amor imoderado pelo espetáculo da natureza, em seus menores detalhes; 
o desapego pelo conhecimento científico etc. (C., p. 225-227) Em sendo seu 
último conto, parece haver em sua crítica declarada à ciência uma como que 
retratação pessoal, separando o conhecimento factual de seu pensamento 
íntimo. Observe-se o longo trecho em questão, em que faz suceder ao elogio das 
nuanças luminosas do sol e da água uma crítica à realidade puramente química 
dos elementos: 

Ele bem via com seus olhos avisados e claros que o sol que 
se acendia todas as manhãs por trás da serra e de tarde se apagava no 
mar era todos os dias diferente, mais quente, mais frio, amarelo ou 
vermelho, sem falar nos dias em que não havia sol, quando a chuva 
o apagava ou não havia com o que o acender. [...] Depois havia a 
Água tão vária de modos, de gestos, de vozes, de caráter [...]. E o 
espelho azul da laguna, lilás de madrugada e púrpura ao crepúsculo. 




332 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


onde se mirava o céu faiscante de ouro das noites estreladas, os 
diamantes da orvalhada nos campos ao amanhecer e a água vinosa 
e morna dos paus traiçoeiros e as estrias da chuva desoladora, que 
de longe se anuncia pela zoada e pelo cheiro, então tudo isso não é 
mais do que protóxido de hidrogênio? (C, p. 227) 

Seria tal crítica à ciência, somada ao elogio da transitoriedade da 

natureza, uma espécie de retorno à primeira fase de sua obra, eleita como a 

mais importante para sua formação (entendida em termos de formação da 

sensibilidade)? Ao menos, é o que é evocado como digno de menção didática à 

filha de Eça, elegendo a sensação como superior à informação: 

E o perfil dos montes e a fisionomia das coisas, a linguagem dos 
seres sem vida, o olhar dos animais, o canto dos pássaros e a dança 
das lavandiscas nos remansos, os perfumes e as vozes da noite, 
os deslumbramentos caritativos do Sonho, únicos que contentam a 
gente sem as ânsias do desejo e as fadigas da conquista, nada disso 
explicavam ao menino pensativo. Explicaram-lhe, sim, que 2 e 2 
nunca podem fazer mais de 4, que uma roda é um círculo porque 
todos os seus pontos se acham à mesma distância do centro, que em 
cinco sextos de x não há meio de se encontrar um x inteiro e que 
quem de 14 tira 17 não pode e pede um emprestado ao vizinho, (idem, 
grifos do autor) 

A crítica ao pensamento científico não poderia ser mais evidente. João 
Chinchila não desdiz os mestres apenas para não ser desagradável, regrando 
sua existência pela humildade e paciência. Assim, “toda a ciência absorvida [...] 
não lhe tinha aproveitado praticamente, melhorando-o, desenvolvendo-lhe a 
alma, isto é, transformando-a no sentido da felicidade absoluta na adoração da 
grandeza e da beleza ambientes” (C., p. 228), e é com tristeza que segue em sua 
vida diplomática, fazendo aproveitar a outrem conhecimentos desprezados por 
ele próprio. 

O episódio de sua epifania, ainda que inconcluso, ocorre significativamente 

em meio a “um piquenique informal entre colegas [. . .] homens e mulheres de várias 

nações, representando raças, civilizações, tendências e interesses contrários” (C., 

p. 229) A sensibilidade de João Chinchila aflora, final e desmedidamente, para 

além das nações e dos interesses, abrindo-se aos sons, às cores e aos cheiros: 

João Chinchila gozava acima do lugar, além do momento, fora da 
realidade presente, na recorrência do passado que assinala a vida, 
na simbólica das fisionomias que atribuía às coisas e às pessoas, na 
excitação da música, da claridade, das formas moventes e graciosas, 
da cor e dos aromas. [...] Essa individualização infinitesimal das 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


333 


coisas, essa discriminação analítica da vida, que desde menino lhe 
tornara diferente, independente, a visão de mundo, pareceu-lhe ali 
tão sensível e evidente que, obedecendo à Ordem, resolveu dizê- 
la aos companheiros. E no momento em que um homem prático 
falava do mar como caminho de conquistas e veículo de riquezas, o 
poeta-ministro levantou-se solene, de olhos vidrados e faces pálidas, 
para a revelação, (idem) 

Não seria outra a revisão do conceito de “atomização do mundo” 
(KRONEGGER, 1973) da estética impressionista, assim enunciado como a 
“individualização infinitesimal das coisas”. Afinal, é bem provável (senão, 
certo) que o impressionismo literário em Domício da Gama não seja apenas 
uma vertente dentre outras, limitada à primeira fase de sua obra, mas esteja 
intimamente ligada à formação de seu pensamento (antes, de sua sensibilidade) e 
à sua consecução epifânica, infelizmente irrevelada por um excesso de modéstia. 


Do realismo ao abandono da literatura 



Foto 6 - Mediadores em Niagara Falis, Embaixador Naon e Romulo, J. Lamar, Embaixador 
Da Gama, Lehmann, Ministro Suarez e filho. 1914. Foto: Bain News Service. Fonte: loc. 
gov/rr/print, Coleção Harris & Ewing, Library of Congress Prints and Photographs 

Division. 



334 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ao contrário do que pondera Evanildo Bechara (2013), bem antes de 

1902 já estava encerrada para Domício a carreira literária. É certo, porém, que 

“até então Domício se debate entre dois sonhos: a Literatura e a Diplomacia.” 

(BECHARA, 2013, p. 211) Seu completo silêncio literário após 1899 256 (1898 

é a data do derradeiro “João Chinchila”) demarca a exclusividade dos afazeres 

diplomáticos junto ao Barão do Rio Branco, recém-empossado como ministro 

das Relações Exteriores no governo de Rodrigues Alves. Assim, convidado a 

administrar o gabinete do Barão e cada vez mais imerso num trabalho que 

resultaria no Tratado de Petrópolis em 1904, Domício parece haver optado 

por um de seus dois sonhos, dando-se por satisfeito com o prestígio literário 

relativo de que gozava, na qualidade de empossado há pouco (julho de 1900) da 

cadeira 33 da ABL. 237 Há que se considerar, sobretudo, que a literatura 

não lhe auferia meios de sustentar-se financeiramente, acrescidas as 
agruras de ter perdido as reservas investidas na edição das Histórias 
curtas , que o editor Francisco Alves distribuiu de graça. Ainda assim, 
[até então] entre o burburinho de suas tarefas oficiais, esforçava-se 
por atender aos pedidos dos jornais e revistas e aos de José Veríssimo 
para colaborar na Revista da Academia. Os encargos diplomáticos o 
tiravam desse empenhamento, porque, segundo suas palavras, “não 
posso me ocupar assiduamente de nenhum trabalho que possa 
embaraçar ao que me fornece os meios de vida.” (BECHARA, 


256 Alberto Venâncio Filho (2002, p. 217) considera como marco final das produções fic- 
cionais de Domício o ano de 1903, muito embora ressalve a continuidade de sua “corres- 
pondência com amigos no Brasil [... e] o desencanto e a decepção por não se estar dedicando 
com maior empenho à atividade literária.” O mesmo marco é corroborado por Luiz Eduardo 
Borges (1998), considerando-o ainda como indicador de uma terceira fase de sua obra, mar- 
cada unicamente pela correspondência e pelo silêncio. 

257 A bem da verdade, Domício jamais se contentou com o silenciamento de sua produção 
literária. Conforme carta enviada a Mário de Alencar, a diplomacia é confessada como algo 
inferior à literatura, ou, ao menos, como momento parcial, ingratamente passageiro, de rea- 
lização pessoal: “Você não imagina o que é compor alguma coisa pessoal e sentida no meio 
das ocupações tão diferentes da minha vida de guarda internacional. Aí no Rio a gente tem 
toda espécie de estímulo. Aqui nem sequer sabem que sou escritor. E pouco lhes interessaria 
saber. Mas não pense que eu me considero mais diplomata do que escritor. Ao contrário, se 
como diplomata eu não posso ter individualidade, se apenas na apresentação física tenho 
personalidade e assinatura, o desafogo de tanta compreensão moral seria a escrita literária, 
a obra de arte sincera. Aí sim, há respeito pelo assunto e estima pelo resultado do esforço, 
avaliado pelo receio do insucesso. E depois essa certeza da retirada garantida, que é a ironia, e 
a defesa contra as acusações à obra definitiva, que sempre nos guardamos de compreender.” 
(GAMA apud ALENCAR, 1911, p. 1) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


335 


2013, p. 211) 

Em todo caso, a qualidade e a coesão do conjunto de seus contos garante 
a importância de sua obra ficcional, embora escassa. E o retorno a questões 
e motivos caros ao impressionismo literário, no limiar final da segunda fase, 
reforça a perenidade de tal vertente. Quantitativamente, é mesmo a mais 
extensa de sua obra, que apenas esporadicamente revisita o naturalismo ou 
o realismo (ao menos segundo as conclusões da divisão aqui proposta, que 
analisa pormenorizadamente dezenove contos no capítulo anterior, e quinze, en 
passant, no atual). Isto se deve, dentre outras razões, ao sincretismo do período 
íinissecular, em que “Domício da Gama viveu um momento literário difuso. As 
estéticas realistas e naturalistas estavam se esgotando; avizinhava-se um período 
de transformação social e artística.” (FERNANDES, 201 1, p. 22) 



Foto 7 - Congresso Científico Panamericano. Comitê executivo do Congresso e parte do 
comitê organizador Foto: Harris & Ewing. Dezembro 1915 / Janeiro 1916. Fonte: loc. 
gov/rr/print, Coleção Harris & Ewing, Library of Congress Prints and Photographs 

Division. 


Diversa e finalmente, é lícito arrematar a análise da obra ficcional de 
Domício da Gama assinalando o caráter pioneiro (e, consequentemente, 



336 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


incompleto) do presente livro no que toca à tentativa de sistematização de 
seus textos literários à luz de suas crônicas e textos inéditos (comentados no 
anexo 2 e reproduzidos no anexo 3), num conjunto que pretende unificar, 
simultaneamente, a leitura de seus contos e seu lugar específico no conjunto da 
literatura brasileira. 




6. FLASHES DA TRADIÇÃO IMPRESSIONISTA 

NO BRASIL 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


339 


A s breves análises aqui presentes visam indicar a perenidade do 
impressionismo na literatura brasileira, contribuindo para a ideia de um 
^sistema impressionista (a par do romântico, naturalista, modernista etc.) 
em sua historiografia. Neste sentido, para além da análise da obra de Domício 
da Gama (1863-1925), são comentadas as obras de Adelino Magalhães (1887- 
1969) e Menalton Braff (1938-), como exemplos mais ou menos equidistantes 
de autores impressionistas de nossa ficção. 

Trata-se, pois, de um capítulo posterior à discussão central, mas cuja 
finalidade — englobar as análises anteriores em uma visão de conjunto da 
literatura brasileira — vai além das condições complementares pressupostas em 
um “anexo”. 

Obviamente, tais comentários reduzem-se a flashes das obras mencionadas 
— especificamente, do conto “Um prego! Mais outro prego!...”, de Adelino; e do 
romance Bolero de Kavel, de Menalton) — , não pretendendo ser uma avaliação de 
cada autor nem reduzir a significação de suas obras ao impressionismo literário 
(que, como discutido anteriormente, é, antes, um campo de experimentações as 
mais diversas). 




340 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Século XX: o impressionista par excellence Adelino Magalhães 


A bem dizer, Adelino Magalhães é o impressionista brasileiro par excellence. 
Desde o título de seus livros ( Casos e impressões ; Visões, cenas e perfis ; Tumulto da 
vida ; Inquietude ; A. hora velot ^ Os momentos-, Os marcos da emoção-, íris-, Plenitude-, Quebra- 
lup), é notória a preocupação (obsessão?) do escritor pelos dramas interiores 
de suas personagens, focalizados a partir de uma percepção fragmentária 
(marcadamente visual) de mundo. De fato, enquanto autor “impressionista” 
Adelino foi analisado por seus comentadores mais célebres (COUTINHO, 197; 
MURICY, 1922; PLACER, 1963; VICTOR, 1938), 258 isolado do contexto dos 
modernistas de 1920. 

Por sua vez, 1920 é o ano em que foi publicado Tumulto da vida , 259 
antologia de contos cujo primeiro é, talvez, o mais comentado do autor — “Um 
prego! Mais outro prego!...”. Desde a epígrafe do volume surge com força o viés 
subjetivista da obra de Adelino, num elogio às “ânsias, dores, fugazes alegrias” 
da vida: 

Tumulto da vida, sublime embriaguez dos meus sentimentos 
e de minha inteligência - ânsias, dores, alegrias... Glória à miséria 
humana! Ânsias, dores... e me impressionem mais o sofrimento e 
a miséria - fundo do claro-escuro, donde se relevam os grandes 
heroísmos. (Que mais homem é o homem quando geme e se 
amesquinha!) Apraza a outros a humana pompa... e à Dor eu diga: 


258 Todavia, nem sempre o escritor foi assim denominado. José Aderaldo Castello (2004, 
p. 41), por exemplo, considera-o como autor expressionista, de laivos regionalistas: “Adelino 
Magalhães já se classificou um precursor expressionista, herdeiro da prosa simbolista. Mas 
notadamente a primeira parte - ‘Casos da roça’, de seu primeiro livro. Casos e impressões, ainda 
não se classifica como tal. Destaca-se mesmo do resto de sua produção, voltado para o uni- 
verso rural fluminense, com certo sabor local à medida que acentua tipos e costumes, sem, 
contudo, se comprometer com o regionalismo. Mas ele evoluirá, passando então a cultivar 
uma temática fluida, sob a marca do expressionismo.” Nestor Victor (1938, p. 203), por sua 
vez, afirma ser sua obra expressão de um supra-realismo vanguardista: “Com o suprarrea- 
lismo, ele está na hora que lhe cabe. Hoje ele é considerado pelos entendedores como um 
precursor no Brasil, sob vários aspectos, dessa nova literatura ainda tão discutida, mas que 
já irrecusavelmente está marcando uma nova hora, vinda com os vanguardistas do mundo 
inteiro.” 

259 “Tumulto da vida é volume de obras-primas no gênero. Dentro dele, o monólogo trá- 
gico sobre a gripe espanhola no Rio: ‘Um prego! Mais outro prego!’, tem sido, com razão, 
citado como o ponto mais alto do livro.” (PLACER, 1962, p. 43) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


341 


Hosana! e às aventuras breves, loiras irmãs das tenebrosas agonias, 
duradouras! A ti, glória, sublime embriaguez, tumulto da vida!... 
ânsias, dores, fugazes alegrias!... (MAGALHÃES, 1963, p. 335) 

Esse tumulto de impressões é retomado na estrutura fragmentária de 
seus contos. Adelino “esquiva-se intencionalmente aos gêneros. E escreve casos, 
impressões, perfis, crônicas, ‘manchas’, instantâneos, monólogos, devaneios, 
visões, caprichos de temas, pequenos poemas em prosa” (PLACER, 1962, 
p. 45), fazendo do discurso imediato seu dispositivo técnico central, além do 
único ponto “pacífico” em meio ao “tumulto” mencionado. Não é surpresa 
que atribuam a ele Eugênio Gomes (1963) e Xavier Placer (1962) o papel de 
primeiro grande cultor do monólogo interior no Brasil. 260 

“Um prego! Mais outro prego!...” relata o devaneio de um pai que enterra 
a filha menina, desperadamente a improvisar um caixão em meio a um surto 
de gripe espanhola no Rio. O som repetido dos baques do martelo nos pregos 
resume o tom quase maníaco e dissolvente da narração, que faz do discurso 

indireto livre o meio ideal de expressão aos lamentos do protagonista: 

Pam! Pam! Pam! Põe-te de novo a trabalhar!.. Ou queres, de 
novo, a moleza covarde e consternada deste leito? 

Pam! Pam!.. Repara como há um zumbido impertinente, 
choramingoso, plangente, no espaço! Assim fosse um pranto 
contínuo, fatigado, monotonamente inconsolável, junto à tumba, na 
treva absoluta de uma noite-de-morte! 

Repara no choramingar plangente deste sombrio espaço, 
úmido! - Desperta a ti, porém, mais um ruído... e outro ruído... de 
caminhão e de alígero automóvel, na intérmina agonia do “lá fora!” 
- da vasta cidade sepultada... 

E mais um automóvel!... que tardio e impossível consolo irá 
este buscar, na fúria bravia e cega, a romper aí pela amodorrada dor, 
febril e delirante, dos milhares de agônicos emparedados?... [...] 


260 “Não só o faz, como também, debatendo a questão do emprego do monólogo interior 
na literatura (em doses maciças, porque como recurso acidental é prática antiga) assinala a 
prioridade de nosso escritor, indiscutível pelo menos nas letras brasileiras” (PLACER, 1962, 
p. 39) Eugênio Gomes (1963, p. 59) vai ainda mais longe, afirmando haver Adelino “implan- 
tado entre nós, por antecipação, o monólogo interior na forma e na intenção sob moldes 
idênticos àqueles que produziram tamanha celeuma quando surgiu o Ulisses em 1922.” Em 
todo caso, seria melhor optar por uma posição mais intermediária, aventada pelo próprio 
Eugênio Gomes (idem, p. 52): “Seria preciso admitir que o escritor estava rigorosamente em 
dia não só com a nova literatura europeia em formação, mas sobretudo com as teorias psico- 
lógicas que essa literatura se propôs ilustrar, para se considerar sua obra como um produto 
de mera imitação. Não há nenhuma indicação aí de que Adelino estivesse sequer informado 
do que se passava além do Brasil, neste sentido.” 




342 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Fon! fonL. 

Contudo, uma alegria íntima lhe vinha, um clarão de vida, 
vigoroso a exaltar, sentindo de novo os automóveis, com o seu 
característico buzinar, tão conhecido dos dias felizes, como se numa 
surpresa estrondosamente redentora, a cidade fosse voltar aos seus 
dias comuns! 

Oh! quem lhe dera!... Verdade é... 

- É verdade... para que, agora? sem ela? (MAGALHÃES, 
1963, p. 341) 

Perceba-se o uso de frases breves, desconexas, eivadas de reticências e 
exclamações, bem como a aguda fixação nos sofrimentos do protagonista, que 
mescla às considerações do narrador sua própria voz, indistinguindo o momento 
em que terminam as recordações de um e começam as considerações do outro. 
Trata-se, pois, de um discurso imediato, dado de um jato só e “emancipado 
de toda dependência narrativa”, resultado direto da experimentação com as 
focalizações (GENETTE, 1972, p. 193). 261 Mesmo o narratário é envolvido 
no trecho acima, servindo tanto de anteparo à compaixão do narrador quanto 
de êmulo do protagonista, em meio a uma conversa maníaca dele consigo 
próprio. O baque dos pregos mistura-se ao som das buzinas vindas de fora, 
como se viessem do mesmo mundo interior (embora seja isolado o “lá fora” 
enquanto domínio completamente alheio ao luto do pai). O som animado dos 
carros parece insuflar-lhe momentaneamente novo ânimo, fazendo reviver uma 
pequena parcela “dos dias felizes”, que logo se esvai com a constatação do 
momento presente, “sem ela.” (MAGALHÃES, 1963, p. 341) 

Não é de surpreender que essa transcrição agressiva das sensações 
do protagonista sugira para Xavier Placer (1962, p. 43) “o avesso da arte de 
escrever”, distorcida até “expressar a coisa na sua realidade individualíssima”. 262 


261 Segue-se o trecho na íntegra: “[•••] He monologue intérieur’, et qu’il vaudmit mieux nommer dis- 
cours immédiat: puis que 1’essentiel comme il n’a pas échappé à Joyce, n’est pas qu’il soit intérieur, mais qu’il 
soit d’emblée Çdès les premières lignes) emancipé de toute patronage narratif, qu’il occupe d’entrée de jeu le 
devant de la ‘scène’P 

262 Para Eugênio Gomes (1963, p. 54), tal dinamicidade narrativa aproxima Adelino de D. 
H. Lawrence: “Com esse maleabilíssimo instrumento de expressão puderam ambos subtrair- 
-se à visão convencionalizada e, sob o mesmo impulso vitalista, inserir-se nas coisas represen- 
tadas identificando-se com elas, disto resultando terem adquirido uma visão de movimento e 
perspectivas por efeito da qual as suas construções representam a realidade exterior e a psí- 
quica imediatamente. [...] Como consequência natural do ângulo de visão em que se coloca, 
o impressionismo nem só despoja as coisas de quaisquer correções lógicas, como lhes nega a 
dignidade ou a beleza objetiva que a percepção normal surpreende nelas.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


343 


Outrossim, parece escusado apontar o quanto a experimentação narrativa 
de Adelino (engendradas pelo discurso imediato e pelo ritmo infrene das 
recordações, pelo discurso indireto livre etc.) se ajusta ao tema do conto. 

O mesmo pode ser dito, aliás, de outros textos de Adelino, como “A 
galinha” e “Francisco”. De maneira semelhante, no primeiro, o narrador explora 
o remorso de uma senhora que, indiretamente, incita sua criada a roubar uma 
galinha do vizinho para a janta. O excesso de culpa faz com que perca o apetite, 
pedindo para que seja levado embora o prato. Já no segundo, trata-se de outro 
monólogo, agora de Francisco, que, embalado (e algo enervado) pelo som de 
uma goteira no quarto de cima, lembra-se do mendigo de sua rua e lamenta a 
indiferença com que sempre o viu da janela, mesmo quando levado pela polícia. 

“Não há dúvida de que, em todos os casos, o escritor opera em 
conformidade com a técnica impressionista, e, incontestavelmente, consegue 
tornar a expressão de seu pensamento mais rápida e sintética” (GOMES, 1 963, p. 
58), passando da experimentação com as focalizações — marcante, por exemplo, 
na obra de Domício da Gama — à prática do discurso imediato (GENETTE, 
1972). 

Século XXI: os desdobramentos contemporâneos de Menalton Braff 

O perceptivismo imediatista de Adelino é revisto pela prosa contemporânea 
de Menalton Braff, 263 que, em bolero de Kavel (2010), elabora uma relação como 
que negativa com o elemento visual, mediada por um narrador mal ajustado 
à vida e para quem o contato com o mundo exterior, simbolizado pela luz, 
constitui o maior dos males. 

Seu enredo, como de praxe em narrativas impressionistas, pode ser 
sintetizado em poucas palavras: Adriano, homem de 35 anos sustentado pela 
família, vê sua vida entrar em crise ao perder seus pais em um acidente de carro. 


263 Outros exemplos de experimentações impressionistas em sua obra, não comentados 
no corpo do capítulo, são Na Teia do sol e, sobretudo. Moça com chapéu de palha. Aliás, parece 
escusado assinalar o claro intertexto do título do romance com o quadro de Renoir, “ jetme 
filie au chapeau de paille ” (que por sua vez, dialoga com o quadro homônimo de Rubens). Para 
uma maior discussão acerca da presença do impressionismo em Braff, cf. Costa e Silva (2015, 
p. 74-76) e Beleboni (2007). 




344 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Sua irmã, Laura, advogada como o pai e orgulho da casa, demanda metade de 
sua herança, ou, ao menos, que o irmão trabalhe e arque com suas próprias 
despesas. O resultado é desastroso, pois Adriano não consegue adaptar-se ao 

trabalho, horrorizado pela vida fora do quarto: 

Abro os olhos como se fosse começar a viver outra vez. Abro com a 
vaga esperança de que ainda não saí de um sonho mal, por isso abro 
apenas uma fresta, com medo de que haja luz no quarto, e que a luz 
me fira como vem acontecendo ultimamente toda vez que abro os 
olhos. Meu corpo quente muda de posição, protegendo-me, depois 
de ter visto a mancha clara do dia que nasce molhado nas trinchas 
da veneziana. (BRAFF, 2010, p. 19) 

Nesta atmosfera de meia luz, o tempo torna-se relativo, submergindo-se 
em meio aos pensamentos do narrador: “A claridade escassa pode ser do dia que 
nasce. Ou morre. Vejo na parede o quadrilátero da janela com vestígios de uma 
luz azulada, mas que janela é esta que vejo e não significo?” (idem, p. 27) Tal 
fuga do mundo e do fluxo temporal decorre de um processo de ressignificação 
das sensações, que, de maneira quase bergsoniana, constata o sofrimento de 
Adriano no tempo que se esvai, “pois é nele que transcorre. Sofrimento existe 
na duração: a sucessão dos instantes.” (idem, p. 39) O confronto com o mundo 
passa por um drama existencial em crescendo, atento unicamente ao fluir das 
sensações, comprometidas pela ausência de contato interpessoal: “À medida 
que vou apagando as luzes da casa, vou mergulhando sem remédio em uma 
nuvem de tristeza. Sou o último a me deitar e isso está muito perto de significar 
que sou o único.” (idem, p. 58) 

Ademais, a aversão do narrador à vida comum — à luz e às cores — 
estende-se também aos sons. Tal qual numa repetição exaustiva do Bo/ero de 
Maurice Ravel, 264 que dá ensejo ao título da obra, Adriano revive o passado 
cíclica e obsessivamente, temeroso de deparar-se com o presente: “Não quero 
me sentir responsável por ato nenhum. Então me anulo tanto quanto posso. 
Passo em silêncio pelo corredor, porque o silêncio está mais próximo do nada 
onde o ruído vai dar existência aos seres.” (idem, p. 25) Trata-se, pois, de um 
lento “ 'processo de esfacelamento da personagem ” (COSTA E SILVA, 2015, p. 156, 


264 Parece escusado lembrar que Maurice Ravel é considerado por muitos um compositor 
impressionista, herdeiro da música de Claude Debussy. Cf. Moser (1952); Jarocinski (1971); 
Fleury (1996). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


345 


grifos da autora), cujo eixo que liga a reflexão temporal ao nada existencial do 
narrador é de origem edípica, decorrendo do carinho superprotetor da mãe. 
Iara, pianista que, em vida, envolve o filho numa redoma de afeto e ajuda-o a 
isolar-se do mundo (enquanto “yára” ou “senhora” de sua vida), tocando-lhe 
músicas e dando-lhe CDs para que se sinta bem, é aquela que rouba as cores e 
os sentidos do mundo: 

Às vezes, depois de uma longa escuta, eu abria os olhos, frestas 
mínimas, e via minha mãe de costas, mas era uma sensação holística 
que me atingia. Eu a via completa, transvista. [...] Ao começarem 
a dedilhar as teclas do piano, seus dedos pareciam roubar o que 
lhes restava de cor no rosto. [...] O primeiro CD que ela me deu 
foi o bolero, de Ravel, porque eu sempre pedia a ela que tocasse 
o arranjo para piano, de que nós dois gostávamos. Aquele motivo 
repetido obsessivamente, a frase que permanecia quando parecia ter 
sumido, o modo como aos poucos tudo crescia, tomava conta de 
meus sentidos até a apoteose final. Tudo isso era o modo com eu 
saía do tempo, me ausentava do mundo para ter existência apenas 
na música, (idem, p. 73-74) 

Desta forma, a composição do romance efetua-se de maneira imbricada 

à peça indicada de Ravel, “regida pela gradação progressiva que vai da menor 

à maior intensidade dramática, da menor à maior quantidade de instrumentos, 

da menor à maior estridência dos sons à qual se segue um abrupto silêncio.” 

(FRANCO JR, 2013, p. 189) A alternância de eventos passados e presentes, 

sob duas frentes distintas — a saber, a repetição edípica da música de Ravel, 

entendida enquanto fuga ao fluxo do tempo pelo recolhimento ao afeto 

materno, 265 e a aversão de Adriano ao mundo exterior, ou a tudo que não diga 

respeito à mãe — incide numa mesma expectativa frustrada de reabilitação social 

do protagonista, que é adiada capítulo a capítulo, tornando previsível ao leitor 

o movimento de sua decadência, rumo à loucura. Neste sentido, Bo/ero de Ravel 

perfaz a caracterização de uma personagem típica de uma obra impressionista: 

Personagens da ficção impressionista encontram-se muitas vezes 
isolados de suas famílias, amigos e da sociedade em geral, porque 
cada um vê seu cantinho do mundo de maneira bastante diversa. 
Cada um percebe um vasto e oculto mundo como imediatamente 
inacessível, através de muitas falhas de percepção. O isolacionismo 


265 O desejo edípico do narrador para com sua mãe estende-se, aliás, à irmã odiada / amada, 
Laura, a quem surpreende certa vez saindo do chuveiro e dedica, desde então, um respeito 
dúbio (“Não acredito que haja maior perfeição do que o corpo desde então gravado na mi- 
nha memória” (BRAFF, 2010 p. 90)). 




346 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


militante leva o mais das vezes para um individualismo farisaico, e, não 
obstante, o desejo pela comunicação humana, a partir de múltiplas 
perspectivas, acarreta a confusão e a perda da individualidade. E 
isso se torna um tema central na ficção impressionista. (STOWELL, 
1980, p. 28-29) 266 

De qualquer forma, esse “efeito criado pelo romance, essa expectativa 
implica o leitor, obrigando-o a reconhecer-se parte integrante do mundo 
recusado por Adriano.” (FRANCO JR, 2013, p. 195) Com isso, a leitura de 
Bo/ero de Bavel parece dividir duas tendências de leitura: uma imediatista de 
negação das razões de Adriano, em favor de Laura; e, de maneira inversa, outra 
de distanciamento da visão “exterior” aos dramas existenciais de Adriano, em 
favor da simples cooptação. Em todo o caso, estão nítidos os traços de um 
típico “ unreliabíe narratot v (BOOTH, 1968, p. 158), que deixa entrever marcas 
da fraqueza de seus argumentos, muito embora deixe marcado o valor humano 
de seu drama pessoal. 267 

Em suma, apesar de uma mudança de “tom” perante um romance como 
Moça com chapéu de palha — que deixa de incidir sobre o material tátil e sobre a 
referência direta ao meio da pintura para adentrar o impressionismo literário na 
“atomização do mundo” que sua visão mais íntima pressupõe (KRONEGGER, 
1973, p. 39) — , Bolero de Ravel constitui verdadeiro avanço, dentro do conjunto 
da obra de Menalton Braff, rumo a uma reavaliação madura da herança do 
impressionismo literário no Brasil. 


266 “ Characters in impressionist fiction find that they are often isolated from family, friends, and society be- 
cause each sees bis own limited ivorld quite differently. Each realizes a vast, hidden world that is immediately 
inaccessible and each mahes errors in perception. Militant isolationism often leads to self-righteous individu- 
ality, andyet the desire for human communication based upon multiple perspectives brings on confusion and 
loss of indivídua lity. This becomes a major thematic tension in impressionist fiction P 

267 Como bem observa Peter Stowell (1980, p. 32): “The great temptation for these characters is to 
predict reality, to build an edifice based on deductive desires, and to turn smatterings of fleeting perceptions 
into facts. When they are confronted by a shattered and transitory world unraveling before their eyes they can 
no longerfall back upon their unsubstantiated generaligations and dreamsP 




7. CONCLUSÃO: 

SANS DÉSIRS NI REGRETS, DA CAPO AL FINE 


[...] é então como um palácio em festa, 
onde as luzes brilham mais nas salas vazias, 
após a partida dos últimos convidados. Há 
um adormecimento ou uma expectação, 
conforme sejam cansados ou excitados os 
nervos do que contempla, pois que está 
sempre em nós mesmos a sugestão das 
cousas. (GAMA, 1 889f, p. 1) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


349 


omício da Gama, no dia cinco de agosto de 1889, esteve presente à 
cerimônia de inauguração do anfiteatro da Sorbonne e admirou, 
sobretudo, a imensa composição de Puvis de Chavannes. Em suas 
palavras: 

A festa de inauguração do novo edifício da Sorbonne foi uma 
destas solenidades pouco interessantes como pormenores, mas 
profundamente comoventes como simbólicas. [...] no dia 5 de agosto 
uma das mais brilhantes assembleias que é dado a um homem ver, 
reunia-se no grande anfiteatro do templo novo. 

É uma sala para 3000 ouvintes, disposta em hemiciclo, de 
uma arquitetura imponente, iluminada por cima, pintada, ornada 
de maneira que a impressão geral é de calma e recolhimento sem 
enfado. 

A ciência ali aparece sem rugas, nem mau humor; faz-se 
acolhedora, hospitaleira e ao mesmo tempo séria e amável - é a 
ciência francesa. [...] Ali se debaterão os mais altos interesses do 
espírito humano; ali se comentarão os poemas imortais; os sistemas 
filosóficos serão analisados e discutidos. [...] Como na noite da Idade 
Média, que não foi tão noite como se diz, a Sorbonne de hoje é e 
continuará a ser um farol do espírito. (GAMA, 1889v, p. 1) 

À maneira da festa presenciada por Domício, o presente livro possui 
qualidades e defeitos salientes. Considerado em seus valores argumentativos, 





350 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


tem-nos “pouco interessantes como pormenores” (idem), recortando o 
impressionismo literário dentro de seus horizontes puramente narrativos e 
sistematizando uma obra plural em duas fases mais ou menos distintas. Visto, 
porém, em suas contribuições “simbólicas” (idem), parece haver contribuído 
positivamente, de três maneiras distintas. 

Em primeiro lugar, como observado nos “Agradecimentos”, a escrita 
do presente livro decorre de um trabalho de pós-doutoramento realizado na 
Universidade Estadual Paulista, i.e., na mesma universidade em que foi realizado 
o primeiro trabalho acadêmico sobre o escritor, de autoria de Luiz Borges 
(1998), demarcando, assim, a continuidade de sua fortuna crítica e como que 
assinalando sua gradual e futura inclusão no cânone literário brasileiro como 
escritor de obra consolidada e digna de diversos vieses de análise. 268 

Em segundo lugar, a realização de um estágio pós-doutoral na Université 
Sorbonne Nouvelle (Paris III) assinala, de certa forma, o retorno de Domício da 
Gama para o ambiente de sua predileção pessoal e literária, 269 com o importante 
acréscimo da apresentação de sua obra (infelizmente não no mencionado 
anfiteatro, mas na Maison de la recherche) a um público que, como o brasileiro, 
desconhecia-a inteiramente. 271 ’ 

268 Sua inserção na literatura brasileira oitocentista é corroborada pelo próprio autor, que, 
em carta a Coelho Neto de 20 de abril de 1916, observa sua já provável obsolescência: 
“Às vezes penso que estamos ficando velhos, que somos uns precursores em literatura...” 
(GAMA apud BORGES, 1998, p. 559) 

269 Predileção esta sempre reiterada em suas crônicas, que constam de trechos significati- 
vos: “Paris que sofre, trabalha e estuda. Paris que lida na luta escura para viver e fazer viver, 
é hoje o campo aberto às contemplações mais profundas. Somente aqui é preciso mudar as 
lentes dos aparelhos óticos que tenham de examinar, isto é, para fazer investigações sérias, 
analisar atentamente, microscopisar um pouco.” (GAMA, 1889h, p. 1) Igualmente, sua pre- 
dileção pela França não é menos enfática, como assinala em sua primeira crônica enviada da 
Europa ao Rio: “(Não é preciso explicar que bárbaro é tudo o que não é francês).” (GAMA, 
1888Í, p. 1) Sua afeição chega a ser quase bajulatória, chegando ao extremo de encomiar até 
os déspotas do passado: “Dos tiranos quem se lembrasse seria benevolamente, com um vago 
sentimento de gratidão pelos que, fazendo obra de orgulho pessoal, embora, criaram para a 
França o mais belo passado que pode ter uma nação e a prepararam para ser o que depois foi 
e hoje continua a ser - a heroína das gentes!” (GAMA, 1889c, p. 1) 

270 Domício observa o esquecimento de sua persona literária em prol da do diplomata, e 
afirma-se, antes de tudo, um “homem de letras”, em carta a Mário de Alencar: “[...] podem 
continuar a ignorá-lo os que são indiferentes, os que não sabem que ainda sou homem de 
letras. Porque é isto o que eu sou principalmente, meu Mário, e muita gente o vai esquecendo 
com pena sua, com prazer meu.” (GAMA apud ALENCAR, 1911, p. 1) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


351 


Finalmente, a escrita do livro, realizada entre agosto de 2015 e julho 
de 2016, sem financiamentos de qualquer ordem, 271 parece acompanhar na 
rapidez de sua composição certo aspecto fragmentário, senão fugidio, do 
impressionismo, bem como sua gratuidade algo ruinosa e bienveillant. 



Foto 8 - Da Gama e esposa (Conferência de Paz de Niagara Falis). 1914. Foto: Bain News Service. 
Fonte: loc.gov/rr/print, Library of Congress Prints and Photographs Division. 


Para além de seus valores simbólicos e de seus recortes argumentativos, 
há no livro muitos aspectos dúbios que oscilam entre positivos e negativos. 
Há uma fragmentação bastante declarada nos capítulos 4, 5 e 6, e nos dois 
primeiros anexos, que aumenta o escopo dos textos avaliados, mas dificulta 
uma apreensão de conjunto. É o que ocorre ainda com o limite temporal e 
espacial de sua composição, realizada ao longo de 12 meses quase inteiramente 
passados em acervos franceses, 272 o que permitiu o importante levantamento 

271 Tal como nos “Agradecimentos”, é lícito observar que uma segunda pesquisa de pós- 
-doutoramento, realizada entre a Universidade Estadual de Goiás e a Université Lyon II 
Lumière com financiamento da CAPES proporcionou nos últimos seis meses de pesquisa 
condições para que a primeira fosse concluída. 

272 Mais especificamente, entre Paris e Lyon, em acervos especificados no anexo 2. Curio- 
samente, assim como Paris, Lyon faz parte do imaginário afetivo de Domício, que, à sua ma- 
neira quase impressionista, considera o Ródano como uma estrada movente em uma de suas 
crônicas da Gaveta de Notícias-. “Um rio é uma estrada movente, e o Ródano é uma longa e 
bela estrada. Toda a poesia dos caminhos se encontra nas suas margens e sobre as suas águas. 



352 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de textos acerca do impressionismo (pictórico e literário), mas impôs limites à 
composição do terceiro anexo, dependente de consultas paralelas aos acervos da 
ABL e do Itamaraty (feitas indiretamente através dos textos de Borges (1998), 
França (2007) e de consultas online). 

Não é sem propósito dizer, finalmente, que, para além de todos os 
esforços, boa parte de sua obra permanece ainda inédita. E ainda necessitada 
de uma visão de conjunto, i.e., de uma sistematização mais aprofundada, segundo 
seu valor e inserção no conjunto da literatura brasileira. 



Foto 9 — Eduardo Suáres Mujica, Romulo Naon e Domício da Gama, embaixadores do Chile, 
Argentina e Brasil, na Conferência de Paz de Niagara Falis (ABC Conference). Foto: Harris & 
Ewing. 1914. Fonte: loc.gov/rr/print, Coleção Harris & Ewing, Library of Congress Prints and 

Photographs Division. 


Certamente, tal discussão depende da aceitação necessária, mediata, 
do lugar de Domício da Gama e do impressionismo literário no Brasil — 
processo este que, infelizmente, pode ainda esperar um longo período para 


que, vindo das geleiras germânicas, contam ao azul Mediterrâneo as lendas da terra brumosa 
do Norte. Pelo rio descem com os barcos as canções e os amores, as ambições e os dramas 
da vida vária e inquieta. (GAMA, 1897c, p. 31) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


353 


ser propriamente avaliado. Felizmente, “Domício da Gama não está esquecido. 
Aqui está a prova.” (FERNANDES, 201 1, p. 29) 

Assim, o presente livro resume-se a um breve momento de sua fortuna 
crítica e assinala apenas algumas direções para a “ilha” Domício da Gama. Sua 
melhor descrição, neste sentido, poderia ser aquela dada pelo próprio autor ao 
livro de viagens que jamais concluiu: 

Escasso e falho é o livro, mas a sua pouquidade não é impertinente. Quem 
o percorrer com paciência não achará agressivo o seu personalismo, que 
não doutrina. É que as minhas viagens foram feitas para aprender, não para 
ensinar. O mesmo é de certos livros que lemos para os ter lido, não para 
falar deles. Descrever paisagens clássicas e contar emoções consagradas 
sempre me pareceu exercício de poeta sem respeito pela imaginação alheia. 
Daí a parcimônia das descrições nestas páginas descuidosas. Enquanto as 
esboçava ia pensando nos que antes de mim viram melhor e exprimiram 
melhor o que viram, com mais vibração, com a convicção comunicativa. E 
resumia e esquematizava e calava, com esse honesto medo de enfadar que 
impede tanta gente de ser engraçada em sociedade. (GAMA, 1916, p. 317) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


355 


BIBLIOGRAFIA 


Obras de Domício da Gama 


Conto 

GAMA, Domício da. A bacante. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 
XXIII, n. 360, p. 1, 26 dez. 1897a. 

. A força do nome. Revista Moderna, Paris, ano I, n. 5, p. 145-152, 5 

set 1895a. 

. Amabo! Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XXI, n. 274, p. 1-2, 

30 set. 1895b. 

. A psicologia corrente. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, 

n. 113, p. 1, 23 abr. 1892a. 

. As calças do Manoel Dias. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 

XVII, n. 173, p. 1, 22 jun. 1891a. 

. Cônsul!... In: MAGALHÃ E S JR., Raimundo (Org.). O conto da vida 

burocrática. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. p. 23-27. 

. Contente. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 203, p. 

1-2, 4 mai. 1892b. 

. Conto de verdade. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 

81, p. 1-2, 21 mar. 1888a. 

. Conto de verdade. In: MAGALHÃES JR., Raimundo (Org.). O conto 

do Rio de Janeiro. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1959. p. 319-325. 

. Contos. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2001. 

. Contos à meia tinta. Paris: Lahure, 1891b. 

. Estudo do feio. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 76, 

p. 1-2, 16 mar. 1888b. 

. Fibra morta. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 164, p. 3, 10 




356 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mar. 1888c. 

. Histórias curtas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1901. 

. Meu moleque Tobias. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, 

n. 205, p. 1, 24 jul. 1892c. 

. Miss Epaminondas. Revista Moderna, Paris, ano II, n. 26, p. 65-69, 

dez. 1898a. 

. Moloch. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano III, t. XII, p. 321-326, 

out.-dez. 1897b. 

. Nhosinho. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 154, p. 1, 

4 de junho de 1893a. 

. Nivelado. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 161, p. 4, 18 fev. 

1888d. 

. Os olhos. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano IV, t. XIII, p. 72-78, 

jan.-mar. 1898b. 

. Outrora. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 136, p. 1, 

17 mai. 1891c. 

. Possessão. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 148, p. 

1, 29 mai. 1891d. 

. Recapitulando. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XXI, n. 289, 

p. 1-2, 15 out. 1895c. 

. Scherzo. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 165, p. 58, 17 mar. 

1888e. 

. Um cosmopolita. Revista moderna, Paris, ano 2, n. 18, p. 576-578, 1 

abr. 1898c. 

. Um primitivo. A semana, Rio de janeiro, ano IV, v. IV, n. 162, p. 36, 

25 fev. 1888f. 


Romance 

. Psicose [trecho]. Gazeta de Notícias, ano XIV, n. 142, 21-22 mai. 


1 888g. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


357 


Crítica 


. A exposição de Belas Artes. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano I, 

t. IV, p. 96-100, out.-dez. 1895d. 

. A morte de Renan. Gazeta de Notícias, Rio de janeiro, ano XVIII, 

n. 299, p. 1,26 out. 1892d. 

. Belmiro de Almeida. Revista moderna, Paris, ano III, n. 28, p. 1 53- 

156, fev. 1899a. 

. Capistrano de Abreu. Revista do Brasil, São Paulo, ano VIII, v. XXVI, 

n. 103, p. 193-197, jul. 1924. 

. Germinie Lacerteux. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 

63, p. 2, 4 mar. 1889a. 

. Guilherme Moniz Barreto. Gazeta de Notícias, Rio de janeiro, ano 

XXIII, n. 63, p. 1, 5 fev. 1897c. 

. John Lemoinne. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 6, 

p. 1, 7 jan. 1893b. 

. La Débacle. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 10, p. 3, 31 mai. 

1895e. 

. La Débacle — conclusão. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 1 1, p. 

3, 31 mai. 1895f. 

. La Débacle. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 206, 

p. 1,25 jul. 1892e. 

. La Nature de Rollinat. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, 

n. 107, p. 1, 16 abr. 1892f. 

. Livros novos. Revista moderna, Paris, ano 1, n. 1, p. 31-32, 15 mai. 

1897d. 

. Loti na Academia. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 

127, p. 1, 6 mai. 1892g. 

. Magalhães de Azeredo. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 

XXIV, n. 297, p. 1-2, 24 out. 1898d. 

. Na falta de ideias claras. Revista moderna, Paris, ano 1, n. 10, p. 318- 


319, 20 nov. 1897e. 




358 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


. O Duque de Caxias. Revista moderna, Paris, ano III, n. 27, p. 101- 

107, jan. 1899b. 

. O duque de Viseu. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XII, n. 

268, p. 3, 25 set. 1886. 

. O fim da Exposição. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 

332, p. 1,28 nov. 1889b. 

. O justo meio. Guanabara, Rio de Janeiro, ano I, n. 4, p. 2-3, 14 jun. 

1883a. 

. O Salon dos Campos Elíseos. Revista moderna, Paris, ano I, n. 1 , p. 

22-25, 1897f. 

. Os simples. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 5, p. 6-7, 15 mar. 

1895g. 

. Os simples — conclusão. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 6, p. 8, 

31 mar. 1895h. 

. Os simples. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 209, 

p. 1,28 jul. 1892h. 

. Puvis de Chavannes. Revista Moderna, Paris, ano II, n. 25, p. 5-6, 

nov. 1898e. 

. Raul Pompéia. O País, Rio de Janeiro, p. 2, 2 jul. 1900. 

. Romancite. A semana, Rio de janeiro, ano IV, v. IV, n. 166, p. 8, 25 

mar. 1888h. 

. Rose et Ninette. Gazeta de Notícias [Suplemento literário], Rio de 

Janeiro, ano XVIII, n. 116, p. II, 26 abr. 1892L 


Crônica 

. 5 e 6 de maio. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 157, p. 

1-2, 6 jun. 1889c. 

. A convenção literária com a França. Gazeta de Notícias, Rio de 

Janeiro, ano XVIII, n. 254, p. 1, 1 1 set. 1892j. 

. A dinamite de Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, 

n. 143, p. 1, 23 mai. 18921. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


359 


. A impressão na Europa. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, 

n. 357, p. 2, 23 dez. 1889d. 

. A política e o Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, 

n. 4, p. 1-2, 4 jan. 1893c. 

. A questão do Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, 

n. 352, p. 1, 18 dez. 1892m. 

. A questão do Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, 

n. 5, p. 1-2, 6 jan. 1893d. 

. A questão do Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, 

n. 15, p. 1, 16 jan. 1893e. 

. A sétima coluna. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XXX, n. 

152, p. 1, 1 jun. 1903. 

. Carta de Paris. Correio paulistano, São Paulo, ano XXXVI, n. 10129, 

p. 1-2, 13 jun. 1890a. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 21, p. 2, 29 

abr. 1891e. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 40, p. 1,18 

mai. 1 891 f. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 47, p. 1, 25 

mai. 1891g. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 107, p. 1, 

24 jul. 1891h. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 117, p. 2, 3 

ago. 189 li. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 169, p. 2, 

24 set. 1 891 j. 

. Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 132, p. 2, 

18 ago. 18911. 

. Cousas modernas. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 

256, p. 1, 13 set. 1889e. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 327, p. 1, 

23 nov. 1 888i. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 13, 13 jan. 




360 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


1889f. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 33, p. 1, 2 

de fev. 1889g. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 41, p. 1, 10 

fev. 1889h. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 65, p. 1, 6 

mar. 1889L 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 69, p. 1, 10 

mar. 1889j. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 105, p. 2, 15 

abr. 18891. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 127, p. 1, 7 

mai. 1889m. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 147, p. 1, 27 

mai. 1889n. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 152, p. 1, 1 

jun. 1889o. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 193, p. 2, 12 

jul. 1889p. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 209, p. 2, 28 

jul. 1889q. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 231, p. 2, 19 

ago. 1889r. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 239, p. 1, 27 

ago. 1889s. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 244, p. 1, 1 

set. 1889t. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 246, p. 1, 3 

set. 1889u. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 248, p. 1, 5 

set. 1889v. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 271, p. 1, 28 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


361 


set. 1889x. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 277, p. 2, 4 

out. 1889y. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 303, p. 1, 30 

out. 1889z. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 308, p. 2, 3 

nov. 1889aa. 

.De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 318, p. 1, 14 

nov. 1889bb. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 322, p. 2, 18 

nov. 1889cc. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 334, p. 2, 30 

nov. 1889dd. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 361, p. 2, 27 

dez. 1889ee. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 26, p. 2, 26 

jan. 1890b. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 33, p. 1, 2 

fev. 1890c. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 35, p. 1, 4 

fev. 1890d. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 57, p. 1, 26 

fev. 1890e. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 75, p. 1,16 

mar. 1890f. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 76, p. 1,17 

mar. 1890g. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 83, p. 1, 24 

mar. 1890h. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 86, p. 1, 27 

mar. 1890L 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 96, p. 1-2, 


6 abr. 1890j. 




362 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 98, p. 1, 8 

abr. 18901. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 107, p. 1, 

17 abr. 1890m. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 134, p. 2, 

14mai. 1890n. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 142, p. 1, 

22 mai. 1890o. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 150, p. 2, 

30 mai. 1890p. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 154, p. 2, 

3 jun. 1890q. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 167, p. 1, 

16 jun. 1890r. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 203, p. 1, 

22 jul. 1890s. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 204, p. 1, 

23 jul. 1890t. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 223, p. 1, 

11 ago. 1890u. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 226, p. 1, 

14 ago. 1890v. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 231, p. 1, 

19 ago. 1890x. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 259, p. 1, 

16 set. 1890z. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 300, p. 1, 

27 out. 1890aa. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n.330, p. 1, 

26 nov. 1890bb. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 335, p. 2, 

1 dez. 1890cc. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 356, p. 2, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


363 


22 dez. 1890dd. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 360, p. 1, 

26 dez. 1890ee. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 19, p. 1, 

19 jan. 1891m. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 31, p. 1, 

31 jan. 1891n. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 57, p. 2, 

25 fev. 1891o. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 87, p. 1, 

28 mar. 1891p. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 1 15, p. 1, 

26 abr. 1891q. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 132, p. 1, 

13 mai. 1891r. 

. De Paris: o Salon do Campo de Marte. Gazeta de Notícias, Rio de 

Janeiro, ano XVII, n. 161, p. 1, 10 jun. 1 891 s. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 192, p. 2, 

12 jul. 1 891 1. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 203, p. 2, 

22 jul. 1891u. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 225, p. 2, 

13 ago. 1891v. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 231, p. 2, 

19 ago. 1891x. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, 241, p. 2, 29 

ago. 1891z. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 243, p. 1, 

31 ago. 1891aa. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 255, p. 

1-2, 12 set. 1891bb. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 28, p. 1, 


28 jan. 1892n. 




364 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 40, p. 1, 

9 fev. 1892o. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 141, p. 

2, 21 mai. 1892p. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 158, p. 

2, 7 jun. 1892q. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 165, p. 

1, 14 jun. 1892r. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 170, p. 

2, 19 jun. 1892s. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 175, p. 

1,24 jun. 1892t. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 190, p. 

1, 9 jul. 1892u. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 192, p. 

1-2, 11 jul. 1 892v. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 202, p. 

1, 21 jul. 1892x. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 267, p. 

1, 24 set. 1892z. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 269, p. 

1, 26 set. 1892aa. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 284, p. 

1, 11 out. 1892bb. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 298, p. 

1-2, 25 out. 1892cc. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 308, p. 

1 , 4 nov. 1892dd. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 315, p. 

1, 11 nov. 1892ee. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 332, p. 

1, 28 nov. 1892ff. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 345, 1 1 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


365 


dez. 1892gg. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 357, 23 

dez. 1892hh. 

. De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 28, p. 2, 29 

jan. 1893f. 

. De volta. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 140, p. 1-2, 

21 mai. 1893g. 

. De volta. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 141, p. 1, 

22 mai. 1893h. 

. De volta. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 144, p. 1, 

25 mai. 1893L 

. Em Beyreuth. Gazeta de Notícias, Rio de janeiro, ano XIV, n. 294, 

p. 2, 21 out. 1888j. 

. Escândalos parisienses. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 

XVIII, n. 111, p. 1, 21 abr. 1892H. 

. Incitamento. Guanabara, Rio de Janeiro, ano I, n. 9, p. 2-3, 21 jul. 

1883b. 

. No Bairro Latino. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 

84, p. 1, 26 mar. 1893). 

. No Chat Noir. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 60, p. 

1, 1 mar. 1889ff. 

. O Brasil na Exposição. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, 

n. 187, p. 1, 6 jul. 1889gg. 

. O dinheiro pacificador. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 

XXIII, n. 104, p. 1-2, 14 abr. 1897g. 

. O movimento anarquista. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 

XVIII, n. 135, p. 1-2, 15 mai. 1892)). 

. O primeiro exame. O Alfinete, Rio de Janeiro, ano I, n. 2, p. 2-3, 31 

mar. 1883c. 

. O Rio de Janeiro em Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 

XV, n. 109, p. 1, 19 abr. 1889hh. 

. O terror anarquista. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, 


n. 112, p. 1,22 abr. 189211. 




366 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


. Paris em Falta. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 165, 

p. 1, 14 jun. 1889ÍÍ. 


Literatura de viagens 

GAMA, Domício da. Em Edimburgo. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 
XIV, n. 238, p. 2, 26 ago. 18881. 

. Nuremberg. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 281, p. 

1, 8 out. 1888m. 

. O capítulo das viagens. Revista do Brasil, São Paulo, ano I, v. III, n. 

12, p. 315-321, dez. 1916. 

. Quinze dias na Itália. Gazeta de Notícias, Rio de janeiro, ano XV, n. 

171, p. 2, 20 jun. 1889)j. 


Discursos 

. Discurso de posse do Sr. Domício da Gama. In: ACADEMIA 

BRASILEIRA DE TE TRAS. Discursos acadêmicos (1897-1919). Rio de 
Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2005. t. 1. v. 1-5. p. 49-57. 

. The neutrality rules adopted by Brazil. Philadelphia: American 

Academy of Political and Social Science, 1915a. 

; CARVALHO, Frederico Affonso de; FONSECA, Hermes da; 

MÜLLER, Lauro. The neutrality rules adopted by Brazil. The Annals of 
the American Academy of Political and Social Science, Philadelphia, v. 
60, p. 147-154, jul. 1915b. 


Ofícios diplomáticos 

VINHOSA, Francisco Luiz Teixeira. Domício da Gama em Washington — 
guia de pesquisa: ofícios expedidos por Domício da Gama, embaixador do 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


367 


Brasil em Washington, ao Ministério das Relações Exteriores (1911-1918). 
Rio de Janeiro: CHDD; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2010. 


Compilações de textos do autor 

BORGES, Luís Eduardo Ramos. Obra seleta. In: . Vida e obra do 

escritor Domício da Gama: um resgate necessário. Assis: UNESP, 1998. 
Tese de Doutorado, p. 142-618. 


Recepção crítica do autor e sua obra 

ABREU, Capistrano de. Correspondência de Capistrano de Abreu. Rio de 

Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1954. v. 1. 

ALENCAR, Mário de. Domício da Gama. O Jornal, Rio de Janeiro, ano VII, 
n. 1892, p. 4,21 fev. 1925. 

. Domício da Gama. O País, Rio de Janeiro, ano XXVII, n. 9720, p. 1, 

18 mai. 1911. 

ARARIPE JR., Tristão de Alencar. Teoria, crítica e história literária. Rio de 

Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1978. 

ASSIS, Machado de. A Domício da Gama (26 de outubro de 1904). In: . 

Obra completa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008a. v. 3. p. 1398. 

. A Domício da Gama (29 de agosto de 1906). In: . Obra 

completa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008b. v. 3. p. 1406. 
AZEVEDO, Artur. Croniqueta. A estação, Rio de Janeiro, ano 30, n. 17, p. 4, 
15 set. 1901a. 

. Livros, folhetos e revistas. O País, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 6183, 

p. 1, 12 set. 1901b. 

BARBOSA, Ruy. O caso internacional. Revista do Brasil, São Paulo, ano IV, v. 
XI, n. 42, p. 99-130, jun. 1919. 

BECHARA, Evanildo. Discurso do Sr. Evanildo Cavalcante Bechara. In: 
ACADEMIA BRASILEIRA DE TE TRAS. Discursos acadêmicos (1996- 




368 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


201 1). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 201 1 . t. VIL p. 453-467. 

. Domício da Gama: o escritor e o diplomata. Ciclo de conferências da 

Academia Brasileira de Letras “A memória reverenciada”. 2012. Disponível 
em: https: / / www.youtube.com/watch?v=RXFvtV 1 VswM Acesso em: 27 de 
abril 2016. 

. Domício da Gama: o escritor e o diplomata. Revista Brasileira, Rio 

de Janeiro, ano II, n. 74, p. 201-213, jan.-mar. 2013. 

BORGES, Luís Eduardo Ramos. Vida e obra do escritor Domício da Gama: 
um resgate necessário. Assis: UNESP, 1998. Tese de Doutorado. 

BROCA, Brito. Raul Pompéia. São Paulo: Melhoramentos, [19—]. 

CALÓGERAS, Pandiá. Domício da Gama. In: . Estudos históricos 

e políticos (res nostra...). 2 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 
1936. p. 248-250. 

CAMPOS, Humberto de. Domício da Gama. In: . Perfis (crônicas — I a 

série). São Paulo; Porto Alegre: WM. Jackson, 1951. p. 99-104. 

CARVALHO, Aderbal de. O naturalismo no Brasil. Pacotilha, Maranhão, ano 
XIII, n. 229, p. 2, 27 set. 1893. 

CARVALHO, Xavier de. O Brasil em Paris. O País, Rio de Janeiro, ano VII, n. 
3292, p. 1, 1 mai. 1891. 

CELSO, Afonso. Vultos e fatos. Rio de Janeiro: Domingos de Magalhães 
Editor, 1896. 

COSTA, Sérgio Corrêa da. Resposta do Sr. Sérgio Corrêa da Costa. ACADEMIA 
BRASILEIRA DE LETRAS. Discursos acadêmicos (1996-2011). Rio de 
Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2011. t. 7. p. 469-483. 

COUTINHO, Afrânio. Discurso de posse de Afrânio Coutinho na Academia 
Brasileira de Letras (1962). In: COUTINHO, E. E; KAUSS, Vera L.T. (Org.). 
Discursos de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de 
Letras, 2011. p. 143-184. 

D. QUIXOTE. Na brecha: Domício da Gama. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, 
ano II, n. 167, p. 2, 27 jul. 1888. 

DOMÍCIO da Gama. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 142, p. 
1, 22 mai. 1888. 

DOMÍCIO da Gama. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 113, 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


369 


p. 1 , 24 abr. 1891. 

DOMÍCIO da Gama: com o embaixador Domício da Gama, anteontem 
falecido, a Nação Brasileira perdeu um dos seus mais dedicados e nobres 
servidores. O Jornal, Rio de Janeiro, ano VII, n. 2116, p. 1-4, 10 nov. 1925. 
(edição 021 1 6) 

EDMUNDO, Luís. Recepção do Sr. Luís Edmundo. In: ACADEMIA 
BRASILEIRA DE LETRAS. Discursos acadêmicos (1936-1950). Rio de 
Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2007. t. 3. p. 761-775. 

FERNANDES, Ronaldo Costa. Domício da Gama. Rio de Janeiro: Academia 
Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial, 2011. 

E Livros novos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano XI, n. 258, p. 1, 15 set. 
1901. 

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. A alma do tempo: memórias (formação e 
mocidade). Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. 

FRANÇA, Tereza Cristina Nascimento. Self made nation: Domício da Gama 
e o pragmatismo do bom senso. Brasília: UnB, 2007. Tese de Doutorado. 

FRANCHETTI, Paulo. Relações brasileiras de Eça (Eduardo Prado e outros). 
Disponível em: http:/ / paulofranchetti.blogspot.com.br/ 2012/ 05/normal- 
0-21 -false-false-false-pt-br-x 24.html Acesso em: 28 de abril 2016. 

FREITAS, Leopoldo de. Literatura nacional. São Paulo: Magalhães, 1910. 

GRIECO, Agrippino. Ad Immortalitatem. O Jornal, Rio de Janeiro, ano XXIV, 
n. 7158, p. 4, 9 out. 1942. 

. Evolução da prosa brasileira. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 

1947. 

HISTÓRIAS Curtas: um bom livro. O País, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 6193, 
22 set. 1901. 

LIMA, Herman. O conto. Revista do Brasil, São Paulo-Rio de Janeiro, ano 
VII, v. XXI, n. 83, p. 203-215, set. 1922. 

. Variações sobre o conto. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e 

Saúde, [19-]. 

LYRA, Heitor. Domício da Gama no Itamaraty. In: . Minha vida 

diplomática. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981a. 1. 1. p. 79-101. 

. Um passeio, em Paris, com Domício da Gama. In: . Minha 


370 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


vida diplomática. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981b. t. I. p. 
227-233. 

. Triste fim de Domício da Gama. In: . Minha vida diplomática. 

Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981c. 1. 1. p. 332-341. 

MAGALHÃES, Fernando. Recepção do Sr. Fernando Magalhães. In: 
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Discursos acadêmicos (1920- 
1935). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2006. t. 2. p. 451-462. 

MAGALHÃES, Valentim. “Gazetilha literária”. A semana, Rio de Janeiro, ano 
V, t. V, n. 25, p. 197-198, 20 jan. 1894. 

. Livros recentes. O País, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 6264, p. 1, 2 

dez. 1901. 

MAGALHÃES JR., Raimundo. Domício da Gama. In: . (Org.). O conto 

da vida burocrática. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. p. 21-22. 

. Domício da Gama. In: (Org.). O conto do Rio de Janeiro. 

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959. p. 317-318. 

MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. 2 ed. São Paulo: 
Cultrix, 1979. v. 4. 

MEDEIROS E ALBUQUERQUE. Crônica literária. A Notícia, Rio de Janeiro, 
ano VIII, n. 227, p. 3, 24-25 set. 1901. 

. Lembranças de homens de letras: Domício da Gama. In: . 

Quando eu era vivo... (memórias 1867 a 1934). Porto Alegre: Globo, 1942. 
p. 254-255. 

. Resposta do Sr. Medeiros e Albuquerque. In: ACADEMIA 

BRASILEIRA DE LETRAS. Discursos acadêmicos (1920-1935). Rio de 
Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2006. t. 2. p. 463-480. 

MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. Prosa de ficção (de 1870 a 1920): História da 
literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1988. 

MORAES, Cosme de. O salão de 1895: independentes. Jornal do Brasil, Rio 
de Janeiro, ano V, n. 295, p. 1, 22 out. 1895. 

NASSIF, Luis. Domício da Gama, o primeiro embaixador negro. Disponível 
em: http: / / www.jornalggn.com.br/blog/luisnassif/ domicio-da-gama-o- 

primeir o- emb aixad 
or-negro. Acesso em: 25 fev. 2016. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


371 


N.C. Domício da Gama e sua prosa. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano 
LVII, n. 19961, p. ll,24abr. 1958. 

NOTÍCIAS literárias. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ano VIII, n. 2120, p. 
2, 24 abr. 1891. 

OCTÁVIO, Rodrigo. Rio Branco. In: . Minhas memórias dos outros. 

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1979. p. 97-152. 

PAES, José Paulo; MOISÉS, Massaud. (Org.). Pequeno dicionário de 
literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1969. 

PACHECO, João. O realismo. 4 ed. São Paulo: Cultrix, 1971. 

POMPÉIA, Raul. Obras: Crônicas 4. Rio de janeiro: Civilização Brasileira; 
OLAC; FENAME, 1982. 

QUEIROZ, Wenceslau de. Prosas ligeiras. Correio paulistano, São Paulo, ano 
XXXVI, n. 10075, p. 2, 10 abr. 1890. 

QUIRINO, Luís. A nota. O Tempo, Rio de Janeiro, ano II, n. 473, p. 1, 13 set. 
1892. 

RAMOS, Graciliano. Conversas. Rio de janeiro: Record, 2014. 

RIO, João do. O momento literário: Souza Bandeira. Gazeta de Notícias, Rio 
de Janeiro, ano XXXI, n. 119, p. 3, 29 abr. 1905. 

ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. 5 ed. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1954. t.5. 

ROSAS, Oscar. Janela do espírito. Novidades, Rio de Janeiro, ano IV, n. 210, 
p. 2, 23 set. 1890. 

SALES, Antonio. Alguns autógrafos. Revista do Brasil, São Paulo, ano III, v. 
VIII, n. 31, p. 242-249, jul. 1918. 

. Histórias curtas. Diário de Pernambuco, Recife, ano 77, n. 149, p. 1, 

18 out. 1901. 

. Os nossos acadêmicos. Revista Brasileira, ano 3, n. 10, t. X, p. 47-60, 

abr.-jun. 1897. 

SANDANELLO, Franco Baptista. Mito da interioridade e crise da subjetividade: 
sobre um conto inédito de Domício da Gama. O Eixo e a Roda, Belo 
Horizonte, v. 25, n. 2, p. 127-149, 2016. 

. Sans desirs ni regreis: o Impressionismo “à meia tinta” de Domício da 

Gama. In: LEÃO, Isabel Ponce de; MENDES, Maria do Carmo; LIRA, Sérgio 




372 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


(Org.). Artes e ciências em diálogo: actas do Congresso Internacional. 
Porto: Green Lines Instituto para o Desenvolvimento Sustentável, 2015. p. 
1 - 10 . 

SANTOS, Alan dos. Um homem chamado Domício da Gama. In: A 

memória escolar reconta a história de Maricá. São Gonçalo: UERJ, 2009. 
Monografia (Licenciatura em Pedagogia), p. 12-24. 

SI L VA, Daniella A. D. Alteridade e ideia de nação na passagem à 
modernidade: o círculo Rio Branco no Brasil. Niterói: UFF, 2008. 
Dissertação de Mestrado. 

VENÂNCIO FILHO, Alberto. Domício da Gama. In: SILVA, Alberto da 
Costa e (Org.). O Itamaraty na cultura brasileira. Rio de janeiro: Francisco 
Alves, 2002. p. 209-239. 

VERÍSSIMO, José. Atlas Universal de Geografia Física e Política. Revista 
Brasileira, Rio de Janeiro, n. 15, p. 380-381, jul.-set. 1898. 

. Os contos do Sr. Domício da Gama. Correio da Manhã, Rio de 

Janeiro, ano I, n. 87, p. 1, 9 set. 1901. 

. Os “contos” do Sr. Domício da Gama. In: . Estudos de 

literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1977. v. 
IV p. 81-86. 

VILELA, Carneiro. Tocando e... rindo. A Província, Recife, ano XXIV, n. 234, 
p. 1, 15 out. 1901. 


Textos sobre o impressionismo pictórico e literário, acrescidos de 
textos gerais sobre as relações entre pintura e literatura 

ADAM, Paul. Peintres impressionnistes. In: RIOUT, Denys (Org). Les 
écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 382-391. 
ADHÉMAR, Hélène; ADHÉMAR,Jean (Dir.). Chronologie impressionniste: 

1863-1905. Paris: Réunion des Musées Nationaux, 1981. 

ADHÉMAR, Hélène; CLARK, Anthony M. Avant-propos. In: DIST EI 
Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Édition des musées 
nationaux, 1974. p. 29-31. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


373 


Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

AL-JOULAN, Nayef Ali. Ekphrasis revisited: the mental underpinnings of 
literary pictorialism. Studies in literature and language, Quebec, v. 1, n. 7, 
p. 39-54, 2010. 

ALBERES, R.-M. Plongées dans les profondeurs: 1’impressionisme. In : . 

Histoire du roman moderne. Paris: Albin Michel, 1962. p. 181-198. 
ALONSO, Amado; LIDA, Raimundo. El concepto linguístico de impresionismo. 
In: BALLY, Charles et al. El impressionismo en el lenguaje. 2 ed. Buenos 
Aires: UBA, 1942. p. 133-264. 

ALPHANT, Marianne. Impressions, séries, prose sans fin. In: GENGEMBRE, 
Gérard;LECLERC, Yves;NAUGRETTE,Florence (Dir.). Impressionnisme 
et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
153-157. 

AMIC, Sylvain. Eblouissants reflets. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, Diederik; 
CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent chefs- 
d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: Reunion 
des musées nationaux, 2013. p. 18-25. 

APOLLINAIRE, Guillaume. Je crois que 1’avenir... In: . Oeuvres en 

prose complètes. Paris: Gallimard, 1991. t. II. p. 507-509. 

ARCANGELI, Francesco. Poètes et peintres de France (1860-1890). . 

Des romantiques aux impressionnistes. Trad. Martine Guglielmi-Peretti. 
Paris : Gérard Monfort, 1977. p. 87-108. 

ARGAN, Giulio Cario. Arte moderna. Trad. Denise Bottmann e Federico 
Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1 992. 

. As fontes da arte moderna. In: . A arte moderna na Europa: 

de Hogarth a Picasso. Trad. Lorenzo Mammi. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2010. p. 426-430. 

. Elstir ou da pintura. In: . A arte moderna na Europa: de 

Hogarth a Picasso. Trad. Lorenzo Mammi. São Paulo: Companhia das Letras, 
2010. p. 516-527. 

ARMSTRONG, Nancy. Character, closure, and impressionist fiction. Criticism, 
Detroit (Estados Unidos da América), v. 19, n. 4, p. 317-337, outono 1977. 
ARMSTRONG, Paul B. The hermeneutics of literary impressionism: 




374 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


interpretation and reality in James, Conrad and Ford. The Centennial 
Review, East Lansing (Estados Unidos da América), v. 27, n. 4, p. 244-269, 
outono 1983. 

ASSOULINE, Pierre. Grâces lui soient rendues: Paul Durand-Ruel, le 
marchand des impressionnistes. Paris: Plon, 2002. 

ASTRUC, Zacharie. Salon de 1868. In: VENTURI, Lionello. Les archives 
de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley et autres. 
Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: Durand- 
Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 281-282. 

BAKHUYS, Diederik. Loisirs fluviaux. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, 
Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent 
chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 147-165. 

BALLY, Charles. Impresionismo y gramática. In: et al. El 

impressionismo en el lenguaje. 2 ed. Buenos Aires: UBA, 1942. p. 1 1-55. 

BALZI, Juan José. O impressionismo. São Paulo: Ática, 1992. 

BAYLE, Corinne. La poésie hors du cadre: Nerval, Baudelaire, Reverdy, Char 
— poésie, prose et peinture. Paris: Harmann, 2014. 

BARILLI, Renato. Ldmpressionnisme et Festampe: une fleur avec bien des 
épines. Trad. Centre Culturel Français de Turin. In: FOSSIER, François. 
II fiore delPImpressionismo. Milão: Fabbri, 1990. p. 17-24. Catálogo de 
exposição, Centro Saint-Benin, Aosta, 13 jul. — 31 out. 1990. 

BARSKAIA, Anna et al. Impressionnistes, post-impressionnistes: Musées 
de L’Hermitage et Pouchkine. Leningrado, Rússia: Editions d’art Aurora, 
1985. 

BAZIN, Germain. L’époque impressionniste. Paris: Editions Pierre Tisné, 
1947. 

. L’univers impressionniste. Paris: Somogy, 1982. 

. La tradition française du paysage. In: HOOG, Michael et al. Le 

paysage français: de Poussin aux impressionnistes. Paris: Edition des 
Musées Nationaux, 1956. p. 3-6. Catálogo de exposição itinerante. 

. Les impressionnistes au Jeu de Paume. Paris: Somogy, 1972. 

. Les impressionnistes au Musée d’Orsay. Paris: Somogy, 1990. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


375 


. Trésors de 1’Impressionnisme au Louvre. Paris: Somogy, 1962. 

BECKETT, Soeur Wendy. Les chefs d’oeuvre impressionnistes. Trad. Daniel 
Alibert Kouraguine e Étienne Schelstraete. Paris: Solar, 2001. 

BELEBONI, Rafaela Cardoso. Traços impressionistas nos contos de 
Menalton Braff. Araraquara: UNESP, 2007. Dissertação de Mestrado. 
BE LL ONY-REWALD, Alice. Le monde retrouvé des impressionnistes. Paris: 
Seghers, 1978. 

BENDER, Bert. Hanging Stephen Crane in the impressionist museum. The 

Journal of Aesthetics and Art Criticism, Maiden (Estados Unidos da 
América), v. 35, n. 1, p. 47-55, outono 1976. 

BENDER, Todd K. Literary Impressionism in Jean Rhys, Ford Madox 
Ford, Joseph Conrad, and Charlotte Brontè. Nova Iorque, Londres: 
Garland, 1997. 

BENEDETTI, Maria Teresa et al. Les impressionnistes. Trad. Corinne 
Hewlett e Bernadette Imbert. Paris: Gründ, 1999. 

BERGEZ, Daniel. Littérature et peinture. 2 ed. Paris: Armand Colin, 201 1. 
BERRONG, Richard. Modes of literary impressionism. Genre, v. 39, n. 2, p. 
203-228, 2006. 

. Putting Monet & Rembrandt into words: Pierre Lotfs recreation and 

theorization of Claude Monefs impressionism and Rembrandfs landscapes 
in literature. Chapei Hill, Estados Unidos da América: The University of 
North Carolina, 2013. 

BERSON, Ruth. The new painting: impressionism 1874-1886. São Francisco: 

Fine Arts Museum of San Francisco, 1996. v. I. 

BERTALL. Exposition des indépendants. Ex-impressionnistes, demain 
intentionnistes. In: RIOUT, Denys (Org). Les écrivains devant 
1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 143-146. 

BERTOLINO, Giorgina. 1874-1899. In : . Comment identifier... les 

mouvements artistiques: de PImpressionnisme à 1’art vidéo. Trad. Todaro 
Tradito. Paris: Hazan, 2009. p. 9-43. 

BESSAC, Jérôme (Dir.). Grands peintres: la diffusion de lTmpressionnisme. 

Paris: Hachette; Le livre de Paris, 1980. v. VI. 

BLANCHE, Jacques-Emile. Propos de peintre: de David a Degas. Paris: 




376 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Émile-Paul Frères, 1919 

BLAVET, Emile. Avant le Salon: Fexposition des réalistes. In: BERSON, Ruth. 
The new painting: impressionism 1874-1886. São Francisco: Fine Arts 
Museum of San Francisco, 1996. v. I. p. 62. 

BLEMONT, Émile. Les impressionnistes. In: BLAVET, Émile. Avant le 
Salon: Fexposition des réalistes. In: BERSON, Ruth. The new painting: 
impressionism 1874-1886. São Francisco: Fine Arts Museum of San 
Francisco, 1996. v. I. p. 62-64. 

BLUNDEN, Maria; BLUNDEN, Godfrey. Journal de 1’Impressionnisme. 
Trad. Margaret e André Chenais. Genebra: Skira, 1987. 

. La peinture de 1’Impressionnisme. Trad. Margaret e André Chenais. 

Genebra: Skira, 1981. 

BOCQUILLON, Marina Ferretti. LTmpressionnisme. Paris: PUF, 2004. 
BOMFORD, David; KIRBY, Jo; LEIGHTON, John; ROY, Ashok. Art in the 
making: Impressionism. Londres: The National Gallery; Yale University 
Press, 1990. Catálogo de exposição, 28 nov. 1990 — 21 abr. 1991, National 
Gallery, Londres. 

BONAFOUX, Pascal. Du côté des peintres. Paris : Ed. Diane de Selliers, 
2008. 

. Ifimpressionnisme et les malentendus. In: GENGEMBRE, Gérard; 

LECLERC, Yves; NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et 
littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
37-43. 

. Les impressionnistes: portraits et confidences. Ecrits, lettres et 

témoignages. Genebra: Skira, 1986. 

. Passions impressionnistes. In: (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 17-19. 

BOSI, Alfredo. O pré-modernismo. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1969. 
BOUILLAGUET, Annick. Proust et les Goncourt: le pastiche du Journal dans 
Lí temps retrouvé. Paris: Lettres Modernes, 1996. 

BOURGET, Paul. Deux paradoxes d’un demi-savant: Paradoxe sur la musique, 

r 

paradoxe sur la couleur. In: . Etudes et portraits d’écrivains et 

notes d’esthétique. Paris: Plon, 1905. p. 259-273. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


377 


BRETTELL, Richard Robson. Impressionnisme et cinéma. In: RAMOND, 
Sylvie (D ir.). Impressionnisme et naissance du cinematographe. Lyon: 
Musée des Beaux Arts, 2005. p. 191-199. 

. Impressionnisme et nationalisme: 1’exemple américain. In: 

BOURGUIGNON, Katherine M. (Dir.). L’Impressionnisme et les 
américains. Paris: Hazan, 2014. p. 14-21. Catálogo de exposição, Musée des 
Impressionnismes, 28 mar. — 29 jun. 2014, Giverny; 19 jul. — 19 out. 2014, 
National Galleries of Scotland, Edimburgo; 4 nov. 2014 — 1 fev. 2015, Museo 
Thyssen-Bornemisza, Madri. 

. Impressions: peindre dans 1’instant, les impressionnistes en France 

1860-1890. Trad. Jean-François Allain. Milão: Hazan, 2000. 

. Le paysage impressionniste et 1’image de la France. In: LACLOTTE, 

Michel et al. L’Impressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion 
des musées nationaux, 1985. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984-16 set. 
1984, Los Angeles County Museum of Art; 23 out. 1985-6 jan. 1985, The 
Art Institut of Chicago; 4 fev.- 22 abr., Galeries Nationales du Grand Palais, 
Paris. p. 22-39. 

. Peindre pour le marché. LTmpressionnisme et les collections privés. 

In: Les impressionnistes en privé: cent chefs d’oeuvre de collections 
particulières. Paris: Musée Marmottan Monet; Hazan, 2014. p. 17-29. Catálogo 
de exposição, 13 fev. — 6 jul. 2014, Musée Marmottan, Paris. 

; SCHAEFER, Scott. Introduction. In: LACLOTTE, Michel et al. 

LTmpressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1985. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984 — 16 set. 1984, Los 
Angeles County Museum of Art, Los Angeles; 23 out. 1985 — 6 jan. 1985, 
The Art Institut of Chicago, Chicago; 4 fev. — 22 abr., Galeries Nationales du 
Grand Palais, Paris. p. 14-20. 

BREVIK-ZENDER, Heidi. Écrire la mode, de Balzac à Mallarmé. In: GROOM, 
Gloria; COGEVAL, Guy (Dir.). LTmpressionnisme et la mode. Paris: 
Musée d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 271-278. 

BRION, Marcei. Le triomphe de la lumière: impressionnisme, néo- 

impressionnisme, post-impressionnisme. In: . L’oeil, 1’esprit et la 

main du peintre. Paris: Plon, 1966. p. 251-261. 




378 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


BROCA, Brito. A vida literária no Brasil: 1900. 4 ed. Rio de janeiro: José 
Olympio; Academia Brasileira de Letras, 2004. 

BRUNETIÈRE, Ferdinand. Ldmpressionnisme dans le roman. In : . 

Le roman naturaliste. Paris: Calmann Lévy, 1883. p. 75-104. 

BÜHRLE, Cristian et al. Un regard passionné: chefs-d’oeuvre de 
rimpressionnisme et autres toiles de maítres de la Collection Emil G. Bührle. 
Genebra: Skira, 1990. Catálogo de exposição. 

BÜRGER, Peter. Teoria da vanguarda. Trad. José Pedro Antunes. São Paulo: 
Cosac & Naify, 2012. 

BURTY, Philippe. Chronique du jour. In: DISTEL, Anne et al. Centenaire 
de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées nationaux, 1974. p. 256. 
Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, Galeries Nationales du Grand 
Palais, Paris. 

. Exposition de la Société anonyme des artistes. In: BONAFOUX, 

Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris : Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 136-141. 

. Exposition des impressionnistes. In: VENTURI, Lionello. Les 

archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley 
et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: 
Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 291-293. 

. Préface du Catalogue des tableaux et aquarelles. In: LOBSTEIN, 

Dominique (Org.) De Charles Baudelaire à Georges Clemenceau: éloges 
et critiques de FImpressionnisme. Paris: Artlys, 2012. p. 44-45. 

BUSSE, Jacques. L’impressionnisme: une dialectique du regard. Neuchâtel: 
Ides et Calandes, 1996. 

BUTLER, Augustin de. Lumières sur les impressionnistes. Paris: LEchoppe, 
2007. 

BUTOR, Michel. Les mots dans la peinture. In: CALLE-GRUBER, Mireille 
(Dir.). Oeuvres complètes de Michel Butor: Répertoire 2. Paris: Editions 
de la Différence, 2006. t. III. p. 119-167. 

BYRNE, Paul Johnson. Heart of darknesr. the dream-sensation and literary 
impressionism revisited. The Conradian, Londres, v. 35, n. 2, p. 13-29, 
outono 2010. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


379 


BYVANCK, Willem G. C. Une impression. In: . Un hollandais à Paris 

en 1891: sensations de littérature et d’art. Paris: Didier; Perrin, 1892. p. 175- 
178. 

CABANÈS, Jean-Louis. Écriture artiste et maladie. In: THOREL- 
CAI L LETEAU, Sylvie (Org.). Dieu, la chair et les livres: une approche de 
la décadence. Paris: Honoré Champion, 2000. p. 367-393. 

CABANNE, Pierre. Les peintres de plein air: du romantisme à 
1’impressionnisme. Paris: Les Editions de FAmateur, 1998. 

CACHIN, Françoise. Introduction. In: FÉNÉON, Félix. Au-delà de 
1’Impressionnisme. Paris: Hermann, 1966. p. 11-29. 

CADERMATORI, Lígia. Impressionismo. In: . Períodos literários. 8 

ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 56-60. 

CAHN, Isabelle. L’impressionnisme ou 1’oeil naturel. Tours, França: Editions 
du Chêne, 2005. 

CA LL EN, Anthea. Les peintres impressionnistes et leur technique. Trad. 
Solange Schnall, Robert Bré e André Noél. Paris: Sylvie Messinger, 1983. 

CAM E LIM, Francine. Impressões e paisagens: na fronteira entre naturalismo, 
simbolismo e impressionismo. Araraquara: UNESP, 2009. Dissertação de 
Mestrado. 

CARAMASCHI, Enzo. A propos des frères Zengamno. In: . Arts 

visuels et littérature: de Stendhal a lTmpressionnisme. Bari: Schena; Paris: 
Nizet, 1985. p. 81-90. 

. Duranty entre peinture et littérature. In: . Arts visuels et 

littérature: de Stendhal a lTmpressionnisme. Bari: Schena; Paris: Nizet, 1985. 
p. 143-171. 

. Huysmans «salonnier». In: . Arts visuels et littérature: de 

Stendhal a lTmpressionnisme. Bari: Schena; Paris: Nizet, 1985. p. 245-261. 

. Paysages impressionnistes chez Balzac. In: . Arts visuels et 

littérature: de Stendhal a lTmpressionnisme. Bari: Schena; Paris: Nizet, 1985. 
p. 47-80. 

. Réalisme et impressionnisme dans 1’oeuvre des frères Goncourt. 

Pisa: Libreria Goliardica, 1971. 

CARDON, Emile. L’exposition des revoltés. In: DISTEL, Anne et al. 




380 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Édition des musées nationaux, 
1974. p. 262-263. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, Galeries 
Nationales du Grand Palais, Paris. 

CART, Germaine (Dir.). De 1’Impressionnisme a nos jours. Limoges, França: 
Direction des musées de France, 1956. Catálogo de exposição itinerante de 
reproduções «Peinture française de rimpressionnisme a nos jours». 

CASTAGNARY, Jules Antoine. Exposition du boulevard des Capucines: 
les impressionnistes. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 
1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 52-58. 

CASTANET, Pierre-Albert ; COUSINIÉ, Frédéric ; FONTAINE, Philippe. 
LTmpressionnisme, les arts, la fluidité. Rouen: Presses Universitaires de 
Rouen et du Havre, 2013. 

CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Les ponts. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, 
Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Éblouissants reflets : cent 
chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen : Musées de la ville de Rouen ; Paris : 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 135-145. 

CHAMPEAU, Stéphanie. Les Goncourt, “écrivains impressionnistes” dans le 
Journal? In : GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, Yves; NAUGRETTE, 
Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. Rouen: Presses 
Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 125-141. 

CHAMPSAUR, Félicien. Édouard Manet. In: RIOUT, Denys (Org). Les 
écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 324-330. 

CHARDIN, Virginie. Le mouvement pictorialiste. In: AMIC, Sylvain; 
BAKHUYS, Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Éblouissants 
reflets: cent chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de 
Rouen; Paris: Reunion des musées nationaux, 2013. p. 263-277. 

. Une vision nouvelle: la photographie. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, 

Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Éblouissants reflets: cent 
chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 89-105. 

CHAUMELIN, Marius. Actualités: 1’exposition des intransigeants. In: BERSON, 
Ruth. The new painting: impressionism 1874-1886. São Francisco: Fine 
Arts Museum of San Francisco, 1996. v. I. p. 67-68. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


381 


CHERBULIEZ, Victor. Le Salon de 1876: les impressionnistes, les tableaux de 
genre et les portraits. In: BERSON, Ruth. The newpainting: impressionism 
1874-1886. São Francisco: Fine Arts Museum of San Francisco, 1996. v. I. 
p. 69. 

CHESNEAU, Ernest. Le plein air: exposition du boulevard des Capucines. In: 
BONAFOUX, Pascal. (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 145-148. 

. Groupes sympathiques: les peintres impressionnistes. Paris-Journal, 

Paris, 7 março 1882. 

CHILVERS, Ian (Ed.). Art: les grands mouvements et les chefs d’oeuvre. Trad. 

Laurence Seguin e Anne-Marie Terei. Paris: Flammarion, 2014. p. 276-287. 
CLANCY, John I. (Ed.). Impressionism: historical overview and bibliography. 

Nova Iorque: Nova Science Publishers, 2003. 

CLARETIE, Jules. La vie à Paris: 1880. Paris: Victor Havard, [188-]. 

. La vie à Paris: 1881. Paris: Victor Havard, [188-]. 

. Salon de 1874. In: . L’art et les artistes contemporains. Paris: 

Charpentier, 1876. p. 206-283. 

CLARIS, Edmond. De 1’Impressionnisme en sculpture. Paris: Editions de 
La Nouvelle Revue, 1902. 

CLARK, Kenneth. La vision naturaliste. In: . L’art du paysage. Trad. 

André Ferrier e Françoise Falcou. Paris: René Julliard, 1962. p. 85-109. 
CLAY, Jean. De 1’impressionnisme à 1’art moderne. Paris: Hachette, 1975. 

. Gauguin, Nietzsche, Aurier: Notes sur le renversement matériel 

du symbolisme. In: WARNOD, jeanine et al (Org). L’éclatement de 
1’Impressionnisme. Saint-Germain-en-Laye, França: 1982. p. 19-28. 
Catálogo de exposição, 13 out. 1982 — 16 jan. 1983, Musée du Prieuré, Saint- 
Germain-en-Laye. 

. LTmpressionnisme. Paris: Hachette, 1971. 

COGNIAT, Raymond. Au temps des impressionnistes. Paris: Hypérion, 
1950. 

. Le siècle des impressionnistes. Paris: Flammarion, 19[— ]. 

. L’impressionnisme. Paris: Somogy, 1956. 

COGNIAT, Raymond; TERRASSE, Antoine. Les impressionnistes. Genebra: 




382 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Éditions Famot, 1978. 

COMAN, Florence E. Treasures of impressionism and post impressionism 
from the National Gallery of Art. Nova Iorque: Abbeville, 1993. 

CONRAD, Joseph. Preface. In: . The nigger of the ‘Narcissus’, 

Typhoon and other stories. Harmondsworth: Penguin, 1968. 

CORET, Noèl. Les peintres de la vallée de la Marne: autour de 
Flmpressionnisme. Tournai, Bélgica: Casterman, 1996. 

COURTHION, Pierre. Autour de 1’Impressionnisme. Paris: Nouvelles 
Éditions Françaises, 1 9 [ — ] . 

. Les impressionnistes. Paris: Éditions Fernand Nathan, 1982. 

COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: simbolismo, impressionismo, 
transição. 2 ed. São Paulo: Sul Americana, 1969. 

. Do Realismo ao Impressionismo. In: . Introdução à literatura 

no Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 222-230. 
CREPA LD T, Gabrielle. L’art au XIXe siècle. Trad. Chantal Moiroud. Paris: 
Hazan, 2005. 

. Les impressionnistes. Paris: Éditions Gründ, 2002. 

CRESP ELL E, Jean-Paul. La vie quotidienne des impressionnistes: 1863- 
1883. Paris: Hachette, 1989. 

CRESSOT, Marcei. La phrase et le vocabulaire de J.-K. Huysmans. Genebra: 
Slatkine, 2014. 

CROS, Philippe. Peintures modernes: des impressionnistes à Bonnard. 

Toulouse, França: Fondation Bemberg; Paris: Somogy, 1997. 

DALANÇON, Joel. 1^’oeuvre de Zola ou Fodyssée du peintre-marcheur. In: 
GUILLERM, Jean-Pierre (Ed.). Récits / tableaux. Lille, França: Presses 
Universitaires de Lille, 1994. p. 185-200. 

D’ASCENZO, Federica. Lesthétique artiste selon Édouard Dujardin: questions 
de genres et d’écriture. In: DUFIEF, Pierre-Jean; MELISON-HIRCHWALD, 

r 

Gabrielle (Org.). Ecriture en artistes des Goncourt à Proust. Paris: Honoré 
Champion, 2016. p. 85-101. 

DAUBERVILLE, Henry; DAUBERVILLE, Jean. La bataille de 
Flmpressionnisme. En encadrant le siècle. Paris: J. et H. Bernheim-Jeune, 
1967. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


383 


DÉCAUDIN, Michel. Poésie impressionniste et poésie symboliste, 1870-1900. 

Cahiers de 1’Association internationale des études françaises, Paris, n. 
12, p. 133-142, 1960. 

DENIS, Maurice. Le soleil. In: . Du symbolisme au classicisme: 

théories. Paris: Hermann, 1964. p. 172-178. 

DENIZEAU, Gérard. Panorama des grands courants artistiques. Paris: 
Larousse, 2013. 

DESSY, Clément. Les écrivains et les nabis: la littérature au défi de la peinture. 

Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2015. 

DETHURENS, Pascal (Dir.). Écrire la peinture: de Diderot a Quignard. Paris: 
Citadelles & Mazenod, 2009. 

DEWHURST, Wynford. Impressionist painting: its genesis and development. 
Londres: George Newnes, 1904. 

D’HERVILLY, Ernest. L’exposition du boulevard des Capucines. In: DISTEL, 
Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées 
nationaux, 1974. p. 256-257. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, 
Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

DISTEL, Anne. Les collectionneurs des impressionnistes. Lausanne, Suíça: 
La Bibliothèque des Arts 1989. 

. Paul Durand-Ruel et les collectionneurs dTmpressionnisme en France. 

In: PATRY, Sylvie (Dir.). Paul Durand-Ruel: le pari de lTmpressionnisme. 
Paris: Réunion des Musées Nationaux, 2014. p. 94-105. 

et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées 

nationaux, 1974. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, Galeries 
Nationales du Grand Palais, Paris. 

DORIVAL, Bernard. Les étapes de la peinture française contemporaine: 

de 1’impressionnisme au favisme 1883-1905. 19 ed. Paris: Gallimard, 1943. t. 

I. 

DRÒSDAL-LEVI 1 4 MIN, Anne. Unetraverséemoderniste:dePimpressionnisme 
à Texpressionnisme. In: PACCAUD-HU GHET, Josiane; MAISONNAT, 
Claude (Dir.). Joseph Conrad. Paris: Herne, 2014. p. 107-110. 

DUBIGNY, Christine. L’impressionnisme en musique. Lyon: Université 
Lyon II, 1 992. Dissertação de Mestrado. 




384 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DUBOIS, Jacques. Romanciers français de 1’Instantané au XIXe siècle. 

Bruxelas: Palais des Académies, 1963. 

DUMAS, Ann. The public face of landscape. In: HOUSE, John (Ed.). 
Landscapes of France: Impressionism andits rivais. Londres: Cornerhouse, 
1996. Catálogo de exposição, 18 mai. 1995-28 ago. 1995, Hayward Gallery, 
Londres; 4 out. 1995-14 jan. 1996, Museum of Fine Arts, Boston, p. 30-39. 
DUMORA, Florence. Ifimpressionnisme entre guillemets. In: GENGEMBRE, 
Gérard;LECLERC, Yves;NAUGRETTE,Florence (Dir.). Impressionnisme 
et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
27-35. 

DURAND, Pascal. Crises: Mallarmé via Manet (de «The impressionists and 
Edouard Manet» à «Crise du vers»). Leuven: Peeters, 1998. 

DURANTY, Edmond. La nouvelle peinture: à propos du groupe d’artistes 
qui expose dans les galeries Durand-Ruel. Paris: LEchoppe, 1988. 

. La quatrième exposition faite par un groupe d’artistes indépendants. 

In: BONAFOUX, Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. 
Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 220. 

DURET, Théodore. Critique d’avant-garde. Paris: Ecole Nationale Supérieure 
des Beaux-Arts, 1998. 

. Les peintres impressionnistes: Claude Monet, Sisley, Pissarro, 

Renoir, Berthe Morisot. Paris: Librairie Parisienne H. Heymann & }. Perois, 
1878. 

. Claude Monet. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 

1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 224-229. 

EITNER, Lorenz. I f Impressionnisme. In: . La peinture du XIXe 

siècle en Europe. Paris: Hazan, 2007. p. 589-744. 

EPHRUSSI, Charles. Exposition des artistes indépendents. In: RIOUT, Denys 
(Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 
232-237. 

. Exposition des artistes indépendents. In: RIOUT, Denys (Org). Les 

écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 238-245. 
EISENMAN, Stephen F. The intransigent artist or how the impressionists 
got their name. In: FRASCINA, Francis; HARRIS, Jonathan (Ed.). Art in 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


385 


modern culture: an anthology of criticai texts. Nova Iorque: Icon; Harper 
Collins, 1992. p. 189-198. 

EVERS, Hans Gerhard. De 1’Impressionnisme àl’art abstrait. Trad. Adélaide 
e Alain Gascuel. Paris: Albin Michel, 1972. 

FASCINA, Francis et al. Modernidade e modernismo: pintura francesa no 
século XIX. Trad. Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. 
FEIST, Peter. O impressionismo em França. In: WALTHER, Ingo (Dir). A 
pintura impressionista: 1860-1920. Trad. Alice Milheiro et al. Cingapura: 
Taschen, 2006. 

FÉNÉON, Félix. Les impressionnistes en 1886. Paris: Publications de la 
Vogue, 1886. 

. Uimpressionnisme. In : . Au-delà de 1’Impressionnisme. 

Paris: Hermann, 1966. p. 81-86. 

. Uimpressionnisme scientifique. In : . Au-delà de 

1’Impressionnisme. Paris: Hermann, 1966. p. 73-80. 

FÈVRE, Henri. Uexposition des impressionnistes. Paris: UÉchoppe, 1992. 
FIXOT, Anne-Marie. Une conclusion «impressionniste». In: A T T EM A ND, 
Sylvain; BEST, Francine; FREMONT, Monique (Dir.). Une normandie 
sensible: regards croisés de géographes et de plasticiens. Caen: Presses 
Universitaires de Caen, 2012. p. 139-143. 

FOCILLON, Henri. Uimpressionnisme. In: . La peinture au XIXe et 

XXe siècles: du réalisme a nos jours. Paris: Renouard; H. Laurens, 1928. p. 
200-227. 

FLEURY, Michel. L’impressionnisme et la musique. Paris: Fayard, 1996. 
FLORISOONE, Michael. Impressionism and Symbolism. In: HUYGHE, René 
(Ed.). Larousse encylopedia of modern art: from 1800 to the present day. 
Trad. Emily Evershed et al. Londres: Hamlin, 1980. p. 177-196. 
FONTAINE, Isabelle. LTmpressionnisme et les tendances de la peinture 
contemporaine. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer, 1973. 

FORESTIER, Louis. Maupassant et lTmpressionnisme. In: DESJARDIN- 
MENEGALLI,Marie-Hélène(Coord.).Maupassantetl’Impressionnisme. 
Une vie des oeuvres. 2 ed. Fécamp: Musées Municipaux de Fécamp, 1996. 
Catálogo de exposição, 22 mai- 22 jul 1 993, Musées Municipaux de Fécamp. 




386 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


p. 15-51. 

FRANCASTEL, Pierre. O Impressionismo. Trad. Maria do Sameiro Mendonça 
e Rosa Carreira. São Paulo: Martins Fontes; Lisboa: Edições 70, 1988. 

. O Fim do Impressionismo: estética e causalidade. In: . A 

realidade figurativa. Trad. Mary A. L. de Barros. São Paulo: Perspectiva; 
EDUSP, 1973. p. 203-212. 

. Peinture et société: naissance et destruction d’un espace plastique de 

la Rennaissance au Cubisme. Paris: Gallimard, 1965. 

FRANGNE, Pierre Henry. La peinture selon Proust et Mallarmé: 
Impressionnisme et Symbolisme. In: C LE DER, Jean; MONTIER, Jean- 
Pierre (Dir.). Proust et les images: peinture, photographie, cinéma, vidéo. 
Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2003. p. 51-67. 

FRIED, Michael. AlmayeFs face: On “Impressionism” in Conrad, Crane and 
Norris. Criticai Inquiry, Chicago, v. 17, n. 1, p. 193-236, outono 1990. 

. Le modernisme de Manet: ou le visage de la peinture dans les années 

1860. Trad. Claire Brunet. Paris: Gallimard, 2000. 

GACHET, Paul. Deux amis des impressionnistes: le docteur Gachet et 
Murer. Paris: Editions des Musées Nationaux, 1956. 

GAMBONI, Dario. Conílit et solidarité entre le pinceau et la plume. In: . 

La plume et le pinceau: Odilon Redon et la littérature. Paris: Les Editions 
de Minuit, 1989. p. 224-245. 

GEFFROY, Gustave. Claude Monet, sa vie, son oeuvre. 3 ed. Paris: Macula, 
2011 . 

. La vie artistique: histoire de rimpressionnisme. Paris: E. Dentu, 

1894. 

. «Les Meules», de Claude Monet. In: BONAFOUX, Pascal (Org). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
305-308. 

GENET-DELACROIX, Marie-Claude. La reconnaissance officielle des 
impressionnistes (1865-1925): art trançais ou art moderne? In: COUSINIE, 
Frédéric (Dir.). L’impressionnisme: du plein air au territoire. Rouen: Presses 
Universitaires de Rouen et du Havre, 2013. p. 55-66. 

GENETTE, Gérard. Proust palimpsesto. In: . Figuras. Trad. Ivonne F. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


387 


Mantoanelli. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 41-67. 

GIBBS, Beverly Jean. Impressionism as a literary movement. The modern 
language journal, Newjersey, v. 36, n. 4, p. 175-182, abr. 1952. 

GI LLE T, Louis. À 1’exposition Degas. In: . Essais et conférences sur 

1’art: de Giotto à Matisse. Paris: Klincksieck, 2012. p. 865-880. 

GODEAU, Florence. Peindre Pephémère: Marcei Proust, Virginia Woolf et 
lTmpressionnisme. In: CLÉDER, Jean; MONTIER, Jean-Pierre (Dir.). 
Proust et les images: peinture, photographie, cinéma, vidéo. Rennes: 
Presses Universitaires de Rennes, 2003. p. 39-50. 

GOMBRICH, Ernst Hans. História da arte. Trad. Álvaro Cabral. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1979. 

GONÇALVES, Aguinaldo José. Laokoon revisitado: relações homológicas 
entre texto e imagem. São Paulo: EdUSP, 1994. 

GONCOURT, Edmond etjules de. Journal: mémoires de la vie littéraire. Paris: 
Robert Laffont, 1956. t. III. 

GREENBERG, Clement. Du rôle de la nature dans la peinture moderniste. In: 

. Art et culture : essais critiques. Trad. Ann Hindry. Paris: Macula, 

1988. p. 189-192. 

. Towards a newer Laocoon. In: . The collected essays and 

criticism: perceptions and judgments 1939-1944. Chicago, Londres: The 
University of Chicago Press, 1986. v. I. p. 23-39. 

GROOM, Gloria. Les espaces de la modernité. In: GROOM, Gloria; 
COGEVAL, Guy (Dir.). LTmpressionnisme et la mode. Paris: Musée 
d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 45-53. Catálogo de exposição, set. 2012 
— jan. 2013, Musée d’Orsay, Paris. 

GUNSTEREN, Julia von. Katherine Mansfield and literary impressionism. 

Amsterdam; Atlanta: Rodopi, 1990. 

HANNAH, Daniel. Henry James, Impressionism, and Publicity. Rocky 
Mountain Review of Language and Literature, Greeley (Estados Unidos 
da América), v. 61, n. 2, p. 28-43, outono 2007. 

. Henry James, impressionism and the public. Surrey, Inglaterra: 

Ashgate, 2013. 

HANSEN, João Adolfo. Categorias epidí ricas da ekphrasis. Revista USP, São 




388 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Paulo, n. 71, p. 85-105, set.-nov. 2006. 

HARTMAN, Elwood. Japonisme and nineteenth-century French literature. 
Compar ative Literature Studies, College Township - Pennsylvania (Estados 
Unidos da América), v. 18, n. 2, p. 141-166, jun. 1981. 

HATZF EL D, Helmut. Literature through art: a new approach to French 
literature. Oxford, Inglaterra: Oxford University Press, 1952. 

HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. Trad. Álvaro 
Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 

HAY, Eloise Knapp. Proust, James, Conrad, and Impressionism. Style, DeKalb 
( Estados Unidos da América), v. 22, n. 3, p. 368-381, outono 1988. 
HEILBRUN, Françoise. Impressionnisme et photographie. In: RAMOND, 
Sylvie (Dir.). Impressionnisme et naissance du cinematographe. Lyon: 
Musée des Beaux Arts, 2005. p. 243-253. 

. Le paysage dans la photographie française au XIXe siècle et ses 

rapports avec la peinture du réalisme à Pimpressionnisme. In: LACLOTTE, 
Michel et al. L’Impressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion 
des musées nationaux, 1985. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984-16 set. 
1984, Los Angeles County Museum of Art; 23 out. 1985-6 jan. 1985, The 
Art Institut of Chicago; 4 fev.- 22 abr., Galeries Nationales du Grand Palais, 
Paris. p. 370-389. 

HERBERT, Robert L. Impressionism, originality, and laissez-faire. In: LEWIS, 
Mary Tompkins (Ed.). Criticai readings in Impressionism and Post- 
Impressionism: an anthology. Los Angeles: University of Califórnia Press, 
2007. p. 23-30. 

. L’impressionnisme: les plaisirs et les jours. Trad. Antoine Jacottet. 

Paris: Flammarion, 1991. 

HERTZ, Henri. Introduction. In: . Impressionnistes. Paris: Phaidon, 

1 9 [ — ] . p. 5-14. 

HOOPLE, Robin. In darkest James: reviewing impressionism, 1900-1905. 

Londres: Associated University Presses, 2000. 

HUEFFER, Ford Madox. Joseph Conrad. In: CARABINE, Keith (Ed.). Joseph 
Conrad: criticai assessments. East Sussex: Helm Information, 1 992. v. IV. p. 
2-13. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


389 


HUYGHE, René. Limpressionnisme et la pensée de son temps. In: . 

La relève du réel: impressionnisme, symbolisme. Paris: Flammarion, 1974. 
p. 9-34. 

. Préface. In: MARTIN-MÉRY, Gilberte (Org.). La découverte de 

la lumière: des primitfs aux impressionnistes. Bordeaux, França: Delmas, 
1959. p. XVII-XXXI. Catálogo de exposição, 20 mai. — 31 jul. 1959, Musées 
de Bordeaux, Bordeaux. 

HIBBARD, Addison; FRENZ, Horst. The impressionists. In: . Writers 

of the western world. 2 ed. Boston: Riverside Press Cambridge, 1954. p. 
1109-1166. 

HOUSE, John. Framing the landscape. In: . Landscapes of France: 

Impressionism and its rivais. Londres: Cornerhouse, 1996. Catálogo de 
exposição, 18 mai. 1995-28 ago. 1995, Hayward Gallery, Londres; 4 out. 
1995-14 jan. 1996, Museum of Fine Arts, Boston, p. 12-29. 

. Impressionnism and the modern portrait. In: JOHNSTON, Sona 

(Org.). Faces of Impressionism: portraits from American collections. Nova 
Iorque: Baltimore Museum of Art, 1999. p. 1 1-35. Catálogo de exposição, 10 
out. 1999 — 30 jan. 2000, Baltimore Museum of Art, Baltimore; 25 mar. — 7 
mai. 2000, The Museum of Fine Arts, Houston; 28 mai. — 30 jul. 2000, The 
Cleveland Museum of Art, Cleveland. 

. Impressionism: paint and politics. New Haven: Yale University Press, 

2004. 

HUEFFER, Ford Madox. On Impressionism. In: MONRO, Harold (Ed.). 
Poetry and drama. Londres: The Poetry Bookshop, 1914a. v. II. p. 167-175. 

. On Impressionism [second article]. In: MONRO, Harold (Ed.). Poetry 

and drama. Londres: The Poetry Bookshop, 1914b. v. II. p. 323-334. 

HUYSMANS, Joris-Karl. Appendice. In: . L’art moderne. Paris: 

Charpentier, 1908. p. 283-301. 

. La “N ana’ ’ deManet. In: B ON AF OUX, Pascal (Org.) . Corre spondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 182-184. 

. Lexposition des Indépendants en 1880. In: . L’art moderne. 

Paris: Charpentier, 1908a. p. 97-139. 

. Lexposition des Indépendants en 1881. In: . L’art moderne. 




390 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Paris: Charpentier, 1908b. p. 247-282. 

. Lexposition internationale de la rue de Sèze. In: BONAFOUX, Pascal 

(Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 
2008a. p. 287. 

. Premier bilan sur les impressionnistes. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008b. p. 
211-214. 

ISAACSON, Joel. The crisis of Impressionism. In: (Org.). The crisis 

of Impressionism: 1874-1882. Michigan, Estados Unidos da América: 
The University of Michigan Museum of Art, 1980. p. 1-49. Catálogo de 
exposição, 2 nov. 1979 — 6 jan. 1980, The University of Michigan Museum 
of Art, Michigan. 

ISOU, Isidore. De 1’impressionnisme au lettrisme: Févolution des moyens 
de réalisation de la peinture moderne. Paris: Filipacchi, 1974. 

JEANCOLAS, Claude. Le groupe des Batignolles: les impressionnistes avant 
rimpressionnisme. Paris: FVW, 2014. 

JAMAIN, Claude. La fibre et 1’onde: sur Fimaginaire de la musique chez le 
decadent. In: THOREL-CAILLETEAU, Sylvie (Org.). Dieu, la chair et les 
livres: une approche de la décadence. Paris: Honoré Champion, 2000. p. 
551-566. 

JAMES, Henry. Parisian festivity: letter from Henry James, Jr. New York 
Tribune, Nova Iorque, p. 2, 13 maio 1876. 

JANKÉLÉVITCH, Vladimir. Le Debussy de Stefan Jarocinski. In: 
JAROCINSKI, Stefan. Debussy: impressionnisme et symbolisme. Trad. 
Thérèse Douchy. Paris: Seuil, 1971. p. 7-15. 

JAROCINSKI, Stefan. Debussy: impressionnisme et symbolisme. Trad. 
Thérèse Douchy. Paris: Seuil, 1971. 

JOURDAIN, Francis. L’impressionnisme: origines, conséquences. Paris: 
Braun et Cie., 1953. 

... ' 

JOURDE, Pierre. Lecriture artiste. In: . Huysmans — A rebours: 

Fidentité impossible. Paris: Honoré Champion, 1991. p. 79-90. 

KANDINSKY, Wassily. Punto y línea sobre el plano. La Plata: Terramar, 

2007. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


391 


K E AR, Jon. Les impressionnistes. Paris: Gründ, 2008. 

KELDER, Diane. The great book of french impressionism. Nova Iorque: 
Abbeville, 1980. 

KELLE R, Luzius. Proust, au delà de 1’impressionnisme. In: BERTHO, Sophie 
(Org.). Proust et ses peintres. Amsterdam; Atlanta: Rodopi, 2000. p. 57-70. 

. Proust et 1’impressionnisme. In: GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, 

Yves; NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. 
Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 159-166. 
KELLY, Simon. «La victoire de 1’art moderne»: 1’émergence du paysage chez 
les peintres français au milieu du XIXe siècle. In: BAILEY, Colin B. et al. 
Le paysages de Renoir: 1965-1883. Trad. M.-F. Dispa, L.-E. Pomier e L. 
Meijer. Milão: 5 Continents, 2007. p. 18-31. Catálogo de exposição, 21 fev. 
— 20 mai. 2007, National Gallery, Londres; 8 jun. — 9 set. 2007, National 
Gallery of Canada, Ottawa; 4 out. 2007 — 6 jan. 2008, Philadelphia Museum 
of Art, Philadelphia. 

KIMBER, Gerri. Use of literary impressionism. In: . Katherine 

Mansfield and the art of the short story. Hampshire (Inglaterra); Nova 
Iorque: Palgrave Macmillan, 2015. p. 26-32. 

KIRSCHKE, James J. Henry James and impressionism. Nova Iorque: 
Whitston, 1981. 

KLEIN, Jacques-Sylvain. La Normandie, berceau de 1’Impressionnisme: 
1820-1900. Rennes: Ouest-France, 1996. 

. La Normandie des impressionnistes: le guide du routard. Paris: 

Hachette, 2010. 

KRONEGGER, Maria Elisabeth. Literary impressionism. New Haven: 
College and University Press, 1973. 

LABARTHE-POSTEL, Judith. Littérature et peinture dans le roman 
moderne: une rhétorique de la vision. Paris: L’Harmattan, 2002. 

LAFORGUE, Jules. LTmpressionnisme. In : . Oeuvres complètes: 

Mélanges posthumes. Paris: Société du Mercure de France, 1903. p. 133-145. 

LALO, Charles. Ldmpressionnisme et le dogmatisme. In: . Introduction 

à 1’esthétique. Paris: Armand Colin, 1912. p. 199-339. 

LAMANDE, André. L’impressionnisme dans l’art et la littérature. Mônaco: 




392 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Imprimerie de Monaco, 1925. 

LAMBERT, Jérémy. Uimpressionnisme littéraire. In: . Peinture et 

bibelot: prégnance du pictural dans Poeuvre de Joris-Karl Huysmans. Paris: 
Honoré Champion, 2012. p. 94-97. 

LANSON, Gustave. La phrase artistique au XIXe siècle: couleur et tonalité 

générales. In : . L’art de la prose. 2 ed. Paris: Librairie des Annales 

Politiques et Littéraires, 1909a. p. 277-289. 

. Les Eléments artistiques de la phrase au XIXe siècle. Images, verbes 

et constrution grammaticale. In : . L’art de la prose. 2 ed. Paris: 

Librairie des Annales Politiques et Littéraires, 1909b. p. 253-267. 
LAPRADE, Jacques de. L’Impressionnisme. Paris: Somogy, 1956. 

LASSAI GNE, Jacques. L’Impressionnisme. Paris: Lausanne, 1966. 

. L’impressionnisme, sources et dépassement. Genebra: Skira, 1979. 

LE MEN, Ségolène (Dir.). La bibliothèque de Monet. Paris: Editions 
Citadelles & Mazenod, 2013. 

LE PAUL, Charles-Guy. L’Impressionnisme dans 1’école de Pont-Aven. 

Paris: La Bibliothèque des Arts, 1983. 

LE M E RCIER, E. (Ed.) et al. Catalogue illustré des ouvrages de peinture, 
sculpture et gravure exposés au Champ-de-Mars le 15 mai 1891. Paris: 
A. Lemercier et Cie., 1891. 

LEMONNIER, Camille. L’art à 1’Exposition Universelle. Ceux qui n’exposaient 
pas. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. 
Paris: Macula, 1989. p. 204-207. 

LEROY, Louis. Lexposition des impressionnistes. In: BONAFOUX, Pascal 
(Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 
2008. p.128-135. 

LESCOUBLET, Denise Schoendorf-. Couleurs et peintres. In : . Je 

suis... Michel-Eugène Chevreul. Lyon, França: Jacques André, 2012. p. 
40-51. 

LESPINASSE, François. Les événements de la vie artistique de 1878 à 1914. 
In: PETRY, Claude et al. L’école de Rouen: de Fimpressionnisme à Marcei 
Duchamp. Rouen, França: Musée des Beaux-Arts de Rouen, 1996. p. 33-35. 
Catálogo de exposição, 18 abr. — 1 jul. 1996, Musée des Beaux-Arts, Rouen. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


393 


LESSING, Gotthold Ephraim. Lacooonte: ou sobre as fronteiras da pintura e 
da poesia. Trad. Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Iluminuras, 1996. 
LETHÈVE,Jacques. Les peintres impressionnistes devant 1’opinion. In: . 

Impressionnistes et symbolistes devant la presse. Paris: Armand Colin, 
1959. p. 15-149. 

LEVEQUE, Jean-Jacques. L’aube de 1’Impressionnisme: 1848-1869. Paris: 
ACR, 1994. 

. Les années impressionnistes: 1870-1889. Paris: ACR, 1990. 

LE VY, André. Alphonse Daudet: le romancier impressionniste. Colleville, 
França: Thalie, 1997. 

LEWIS, Mary Tompkins. Introduction: the criticai history of Impressionism: 

an overview. In: (Ed.). Criticai readings in Impressionism and 

Post-Impressionism: an anthology. Los Angeles: University of Califórnia 
Press, 2007. p. 1-22. 

LEYMARIE, Jean. Dessins impressionnistes: de Manet à Renoir. Genebra: 
Skira, 1985. 

. La révolution impressionniste. In: . La peinture française: le 

dix-neuvième siècle. Genebra: Skira, 1962. p. 157-211. 

. L’Impressionnisme. Genebra: Skira, 1959. 2v. 

; MELOT, Michel. Les gravures des impressionnistes: Manet, 

Pissarro, Renoir, Cézanne, Sisley. Paris: Arts et métiers graphiques, 1971. 

LHOTE, André. Renoir, Pissaro, Monet, Sisley. In: . Parlons peinture. 

Paris: Denoêl et Steele, 1936. p. 175-178. 

LICHTEN, Abert. Le signe et le tableau: peinture, écriture, référent dans la 
pensée contemporaine de la peinture. Paris: Honoré Champion, 2004. 
LIMA, Danilo Brandão de. Realismo e impressionismo em contos de Guy 
de Maupassant. Araraquara: UNESP, 2012. Trabalho de conclusão de curso. 
LINHARES, Temístocles. Naturalismo psicológico e Impressionismo: a 

irreparável miséria do homem. In: . História crítica do romance 

brasileiro: 1728-1981. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1987. v. I. 
p. 339-358. 

LOBSTEIN, Dominique. Au temps de 1’Impressionnisme. Paris: Gallimard; 
Réunion des musées nationaux, 1 994. 




394 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


. Avant-propos: Ldmpressionnisme, de la connaissance à la 

reconnais sanee. In: . (Org.) De Charles Baudelaire à Georges 

Clemenceau: éloges et critiques de rimpressionnisme. Paris: Artlys, 2012. 
p. 9-19. 

. Claude Monet et rimpressionnisme dans les critiques de 1’exposition 

de 1874. In: MATHIEU, Marianne; LOBSTEIN, Dominique (Dir.). 
Impression, soleil levant: Fhistoire vraie du chef d’oeuvre de Claude 
Monet. Paris: Hazan; Musée Marmottan Monet, 2014. p. 106-115. Catálogo 
de exposição, 18 set. 2014 — 18 jan. 2015, Musée Marmottan, Paris. 

. Impressionismo. Trad. William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2010. 

. Les impressionnistes. Paris: Editions Le Cavalier Bleu, 2007. 

. Les salons au XIXe siècle: Paris, capitale des arts. Paris: Editions de 

la Martinière, 2006. 

LORA, Léon de. Petites nouvelles artistiques: exposition libre des peintres. In: 
DISTEL, Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des 
musées nationaux, 1974. p. 257. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 
1974, Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

LOYRETTE, Henri. La vie moderne. In: LOYRETTE, Henri; TINTEROW, 
Gary. Impressionnisme: les origines 1859-1869. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1994. p. 265-293. 

; ALLARD, Sébastien; CARS, Laurence des. L’art français: le XIXe 

siècle (1819-1905). Paris: Flammarion, 2009. 

; BASCOU, Marc (Dir.). De 1’Impressionnisme à 1’Art nouveau: 

aequisitions du musée d’Orsay 1900-1996. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1996. 

LYNTON, Norbert. A segunda metade do século XIX. In: . O mundo 

da arte: arte moderna. Rio de Janeiro: José Olympio; Expressão e Cultura, 
[s/d], p. 44-78. 

MADELINE, Laurence; LOBSTEIN, Dominique. L’ABCdaire de 
1’Impressionnisme. Paris: Flammarion, 1995. 

MAINGON, Claire. Le néo-impressionnisme: reflet ou anti-reflet 
de Fimpressionnisme? In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, Diederik; 
CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Éblouissants reflets: cent chefs- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


395 


cToeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: Reunion 
des musées nationaux, 2013. p. 53-61. 

MAIS ON, Françoise. Le comte de N ieuwerkerke : ar t et pouvoir sous N apoléon 
III. Paris: Réunion des musées nationaux, 2000. Catálogo de exposição, 6 
out. 2000 — 8 jan. 2001, Musée National du Chateau de Compiègne. 
MALLARMÉ, Stéphane. Édouard Manet et les impressionnistes. Trad. 
Mitsou Ronat e Barbara Keseljevic. Bourg-en-Bresse, França: Éditions 
Horlieu, 2014. 

. Fine-art gossip. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 168. 

. Le jury de peinture pour 1874 et M. Manet. In: RIOUT, Denys (Org.). 

Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 82-88. 

. The impressionists and Édouard Manet. In: MOFFETT, C.S. The 

newpainting: Impressionism 1874-1886. Seattle: University of Washington 
Press, 1986. p. 27-35. 

MANET, julie. Journal: 1893-1899. Paris: Klincksieck, 1979. 

MANTZ, Paul. L’exposition des peintres impressionnistes. In: BONAFOUX, 
Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 205-206. 

MARTI, José. Nouvelle exposition des peintres impressionnistes. In: 
BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 278-280. 

MATHEY, François. O Impressionismo. Trad. Raul Correia. São Paulo: 
Verbo; EDUSP, 1976. 

MATHIEU, Caroline. Un atelier à ciei ouvert. In: THOMPSON, Sophy (Dir.). 
Paris au temps des impressionnistes: 1848-1914. Paris: Skira; Flammarion; 
Musée d’Orsay, 2011. p. 49-88. Catálogo de exposição, 12 abr. — 30 jul. 201 1. 
Musée d’Orsay, Paris. 

MATHIEU, Pierre-Louis. Huysmans et Fimpressionnisme. In: GUYAUX, 
André et al. (Org.). Huysmans, une esthétique de la decadence: actes 
du colloque de Mâle, Mulhouse et Colmar. Paris, Genebra: Slatkine, 1987. p. 
183-194. 

MATZ,Jesse. Literary impressionism and modernist aesthetics. Cambridge: 




396 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Cambridge University Press, 2001. 

MAUCLAIR, Cami ll e. L’impressionnisme: son liistoire, son esthétique, ses 
maítres. Paris: Librairie de 1’art ancien et moderne, 1 904. 

MAUPASSANT, Guy de. La vie d’un paysagiste. In: BONAFOUX, Pascal 
(Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 
2008. p. 274-277. 

MCCAULEY, Elizabeth Anne. Photographie, mode et culte des apparences. 
In: GROOM, Gloria; COGEVAL, Guy (Dir.). L’Impressionnisme et la 
mode. Paris: Musée d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 245-256. 

MCMILLAN, James F. La France profonde, modernity and national identity. 
In: HOUSE, John (Ed.). Landscapes of France: Impressionism and its 
rivais. Londres: Cornerhouse, 1996. Catálogo de exposição, 18 mai. 1995 — 
28 ago. 1995, Hayward Gallery, Londres; 4 out. 1995 — 14 jan. 1996, Museum 
of Fine Arts, Boston, p. 52-59. 

MEIER-GRAFFE, Julius. À propos de Camille Pissarro. In : BONAFOUX, 
Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 322-327. 

MEIXNER, John A. Ford’s literary technique. In: STANNARD, Martin (Ed.). 
Ford Madox Ford - The Good Soldier. Nova Iorque: W W Norton, 1995. 
p. 247-253. 

MEIXNER, Laura L. Impressionism, pathology and progress. In: . 

French realist painting and the critique of American society: 1865- 
1900. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p. 193-250. 

MELOT, Michel. L’estampe impressionniste. Paris: Flammarion, 1994. 

. Les impressionnismes. In: JOUBERT, Caroline; MELOT, Michel; 

SI JEI JR-HERM E L, Valérie. L’estampe impressionniste: trésors de la 
Bibliothèque Nationale de France. De Manet a Renoir. Paris: Somogy; Caen: 
Musée des Beaux Arts, 2010. p. 8-14. Catálogo de exposição, Musée des 
Beaux-Arts, Caen, 4 jun. — 5 set. 2010. 

. Une autre histoire de 1’impressionnisme. In: CAREY, Edith; MINDER, 

Nicole. (Dir.). La gravure impressionniste: de 1’école de Barbizon aux 
nabis. Paris: Somogy; Baden, Suíça: Fondation Langmatt Sidney and Jenny 
Brown, 2001. p. 36-43. Catálogo de exposição, 20 set. — 9 dez. 2001, Musée 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


397 


Jenisch, Veney; 31 mar. - 9 set. 2001, Fondation Langmatt, Baden. 

MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides: breve história da 
literatura brasileira. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. 

r 

M E S L IN-PERRIER, Charles et al. Emaux atmosphériques: la céramique 
‘impressionniste’. Rouen, França: Musées de la ville de Rouen; Musée de la 
Céramique; Ed. Nicolas Chandun, 2010. p. 61-71. Catálogo de exposição, 4 
jun. — 26 set. 2010, Musée de la Céramique, Rouen. 

MICHELS, Heide. La maison de Monet: un intérieur impressionniste. Trad. 
Hélène Seyrès. Paris: Albin-Michel, 1998. 

MINDER, Nicole. Ldmpressionnisme et le renouveau de 1’estampe dans 
la seconde moitié du XIXe siècle: quelques repères. In: CAREY, Edith; 
MINDER, Nicole. (Dir.). La gravure impressionniste: de 1’école de 
Barbizon aux nabis. Paris: Somogy; Baden, Suíça: Fondation Langmatt 
Sidney and Jenny Brown, 2001. p. 12-25. Catálogo de exposição, 20 set. — 9 
dez. 2001, Musée Jenisch, Veney; 31 mar. — 9 set. 2001, Fondation Langmatt, 
Baden. 

MIRBEAU, Octave. Camille Pissarro. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 
Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008a. 
p. 300-301. 

. Claude Monet. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008b. p. 292-294. 

. Exposition de peinture [1, rue Lefitte]. In: LOBSTEIN, Dominique 

(Org.) De Charles Baudelaire à Georges Clemenceau: éloges et critiques 
de lTmpressionnisme. Paris: Artiys, 2012. p. 92-93. 

. Exposition internationale de peinture. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008c. p. 
264. 

. Impressions d’art. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 

1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 353-359. 

. L’Exposition internationale de la rue de Sèze (I). In : RIOUT, Denys 

(Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 
348-353. 

. LExposition internationale de la rue de Sèze (II). In: BONAFOUX, 




398 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008d. p. 289-290. 

. L’Exposition Monet-Rodin. In: BONAFOUX, Pascal (Org). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008e. 
p. 294-300. 

. Notes sur 1’art. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008f. p. 251-263. 

MOLNAR, François. Le contraste simultané dans les arts visuels. In: ROQUE, 
Georges; BODO, Bernard; VIÉNOT, Françoise (Coord.). Michel-Eugène 
Chevreul: un savant, des couleurs! Paris: Muséum National d’Histoire 
Naturelle; Puteaux: Etude et Réalisations de la Couleur, 1997. p. 217-231. 

MONNERET, Sopliie. Cézanne, Zola...: la fraternité du génie. Paris: Denoèl, 
1978. 

. L’Impressionnisme et son époque: dictionnaire international 

illustré. Paris: Denoèl, 1981. 4 v. 

MONTEIRO, Adolfo Casais. Figuras e problemas do nosso tempo: abstratos e 
figurativos. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 76, 21 nov. 1954. 

MONTIFAUD, Marc de. Exposition du boulevard des Capucines. In: DISTEL, 
Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées 
nationaux, 1974. p. 266-268. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, 
Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

MOORE, Georges. Confessions of a young man. Londres: William 
Heinemann, 1917. 

MOSER, Ruth. L’impressionnisme français: peinture, littérature, musique. 
Genebra, Suiça: Droz; Lille, França: Giard, 1952. 

MU LL ER, Herbert. Impressionism in fiction: prism vs. mirror. The American 
Scholar, Washington D.C. (Estados Unidos da América), v. 7, n. 3, p. 355- 
367, verão 1938. 

NAGEL, James. Backgrounds and definitions: Conrad’s “complete 
impressionist”. In: . Stephen Crane and literary impressionism. 

State College (Estados Unidos da América): Pennsylvania State University 
Press, 1980. p. 1-35. 

. Stephen Crane and the narrative methods of impressionism. Studies 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


399 


in the novel, Baltimore (Estados Unidos da América), v. 10, n. 1, p. 76-85, 
primavera 1978. 

NARDIS, Luigi di. Impresionismo di Mallarmé. Roma: Salvatore Sciascia, 
1957. 

NECTOUX, Jean-Michel. «Reílets dans 1’eau»: Peinture et musique, de 
Franz Liszt à Claude Debussy. In: AMIC, Sylvain ; BAKHUYS, Diederik ; 
CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Éblouissants reflets: cent chefs- 
d’oeuvre impressionnistes. Rouen : Musées de la ville de Rouen ; Paris : 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 62-69. 

NETTELS, Elsa. Conrad and Stephen Crane. In: CARABINE, Keith (Ed.). 
Joseph Conrad: criticai assessments. East Sussex: Helm Information, 1992. 
v. IV. p. 203-218. 

NOCHLIN, Linda. Ldnvention de Pavant-garde: la France entre 1830 et 1880. 

In: . Les politiques de la vision: art, société et politique au XIXe 

siècle. Trad. Oristelle Bonis. Marseille: Jacqueline Chambon, 1995. p. 22-43. 
NORD, Philip. Les impressionnistes et la politique: art et démocratie au 
XIXe siècle. Trad. Jacques Bersani. Paris: Tallandier, 2009. 

OKI, Junko. LTmpressionnisme de lEvanescence dans Romances sans paroles 
de Paul Verlaine. The Geibun-kenkyu, Tóquio, v. 57, p. 151-164, 1990. 
Disponível em: http:/ /koara. lib.keio.ac.jp/xoonips/modules/xoonips/ 
download.php/AN00072643-00570001-0164.pdf?file_id=71584 Acesso em 
14 dez. 2015. 

ORTEGA Y GASSET, José. A desumanização da arte. Trad. Ricardo Araújo. 
São Paulo: Cortez, 1991. 

PAES, José Paulo. Conrad ou a crise do herói. In: CONRAD, joseph. Nostromo. 

Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p. 457-482. 
PARKES, Adam. A sense of justice: Whistler, Ruskin, James, Impressionism. 
Victorian Studies, Bloomington (Estados Unidos da América), v. 42, n. 4, 
p. 593-629, verão 1999-2000. 

PARULO, Elena. Reality and consciousness: impressionism in Conrad. In: 
CARABINE, Keith (Ed.). Joseph Conrad: criticai assessments. East Sussex: 
Helm Information, 1992. v. IV. p. 752-760. 

PASSERON, Roger. La gravure française au XXe siècle. Paris: Spadem; 




400 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Genebra: Cosmopress, 1970. 

PATIN, Sylvie. Impression... Impressionnisme. Paris: Gallimard, 1998. 
PELLISSIER, Georges. Ldmpressionnisme. In: JULLEVILLE, Louis Petit de 
(Dir.). Histoire de la langue et de la littérature française: des origines à 
1900. Paris: A. Colin, 1899. t. VIII. p. 183-202. 

PERRUCHOT, Henri. La vie de Renoir. Paris : Hachette, 1964. 

PETERS, John G. Conrad and impressionism. Cambridge: Cambridge 
University Press, 2001. 

PETRY, Claude. L’Ecole de Rouen, de Fimpressionnisme à Marcei Duchamp. 
In: PETRY, Claude et al. L’école de Rouen: de 1’impressionnisme à Marcei 
Duchamp. Rouen, França: Musée des Beaux-Arts de Rouen, 1996. p. 11-15. 
Catálogo de exposição, 18 abr. — 1 jul. 1996, Musée des Beaux-Arts, Rouen. 
PICON, Gaétan. 1863 : naissance de la peinture moderne. Paris: Gallimard, 
1988. 

. Zola et ses peintres. In: ZOLA, Emile. Le bon combat: de Courbet 

aux impressionnistes. Paris: Hermann, 1974. p. 7-22. 

PIERINI, Mágna Tânia Secchi. Os pescadores e As Ilhas desconhecidas, de 
Raul Brandão: entre itinerários e paisagens, a miséria. Araraquara: UNESP, 
2013. Tese de Doutorado. 

PISSARRO, Joachim. Les cathédrales de Monet: Rouen 1892-1894. Trad. 

Josie Mely. Arcueil, França: Anthese, 1990. 

PLACER, Xavier. Adelino Magalhães e o impressionismo na ficção. Rio de 

Janeiro: Livraria São José, 1962. 

PLATTE, Hans. Les impressionnistes. Trad. Marianne Duval-Valentin. Paris: 
Arthaud, 1962. 

POOL, Phoebe. Les fondements de FImpressionisme. In: . 

LTmpressionnisme. Trad. Hélène Seyrès. Paris: Thames and Hudson, 
1994. p. 7-36. 

POMARÈDE, Vincent. «... dix tableaux vivants, animés d’une vie absolumment 
intense...» Pertinence de la relation de Fimpressionnisme avec la naissance 
du cinématographe. In: RAMOND, Sylvie (Dir.). Impressionnisme et 
naissance du cinematographe. Lyon: Musée des Beaux Arts, 2005. p. 169- 
189. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


401 


. Rayonnements (1860-1870). In: POMARÈDE, Vincent et al. L’école 

de Barbizon: peintre en plein air avant 1’impressionnisme. Lyon: Musée des 
Beaux Arts; Paris: Réunion des musées nationaux, 2002. p. 254-271. 

POP, Doru. For an ekphrastic poetics of visual arts and representations. 

Ekphrasis, Cluj-Napoca (Romênia), n. 1, p. 5-12, 2008. 

POTHEY, Alexandre. Expositions. Beaux-arts. In: VENTURI, Lionello. Les 
archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley 
et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: 
Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 301-304. 

POUZET-DUZER, Virginie. L’Impressionnisme littéraire. Saint-Denis: 

Presses Universitaires de Vincennes, 2013. 

PRAZ, Mario. Literatura e artes visuais. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: 
Cultrix, EDUSP, 1982. 

PROTH, Mario. Voyage au pays des peintres: Salon de 1877. Paris: Henry 
Vaton, 1877. 

PROUST, Marcei. Le peintre. Ombres — Monet. In: . Contre Sainte- 

Beuve précédé de Pastiches et mélanges et suivi de Essais et articles. 

Paris: Gallimard, 1971. p. 675-677. 

. Préface. In: B LANCHE, Jacques-Emile. Propos de peintre: de David 

a Degas. Paris: Émile-Paul Frères, 1919. p. I-XXXV 

. Sobre a Arte: para Jacques-Emile Blanche. In: . Nas trilhas da 

crítica. Trad. Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Edusp; Imaginário, 1994. p. 
41-63. 

PROUVAIRE, Jean. Lexposition du Boulevard des Capucines. In: 
BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 121-127. 

RAYNAL, Maurice. Ambiance de formes et sensations. In: . De Goya 

a Gauguin: le dix-neuvième siècle, formes et couleurs nouvelles. Genebra: 
Skira, 1951. p. 79-124. 

. De Baudelaire a Bonnard: nais sanee d’une vision nouvelle. Genebra: 

Skira, 1949. 

READ, Herbert. Lepoque moderne et son action sur 1’art. In: RAYNAL, 
Maurice. De Baudelaire a Bonnard: naissance d’une vision nouvelle. 




402 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Genebra: Skira, 1 949. p. V-XIX. 

REBOUL, Pierre. Huysmans: deux toiles, un homme, un discours... In: 
BONNEFIS, Pierre; REBOUL, Pierre (Org.). Des mots et des couleurs: 
études sur le rapport de la littérature et de la peinture (19 eme et 20 eme siécles). 
Lille: Université de Lille III, 1981. v. I. p. 49-56. 

RENAUX, Sigrid. Ford Madox Ford’s essay on poetry and T.S. Eliotis The ivaste 
land. Letras, Curitiba, n. 34, p. 145-154, 1985. 

RENOIR, Edmond. Cinquième exposition de «La vie moderne». In: 
BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 214-218. 

RICATTE, Robert. La création romanesque chez les Goncourt: 1851-1870. 
Paris: Armand Colin, 1953. 

RETAT LLE , Denis. Les lieux du chevalet errant: une déconstruction en forme 
d’analytique. In: COUSINIE, Frédéric (Dir.). L’impressionnisme: du plein 
air au territoire. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2013. 
p. 237-246. 

REWALD, John. História do impressionismo. Trad. Jeferson Luis Camargo. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 

REY, Jean-Dominique; BERSIER, Jean-Eugène. Pour 1’impressionnisme, 
contre 1’impressionnisme. Nancy: Berger-Levrault, 1969. 

REYNIER, Christine. De l’impressionnisme comme première définition 

du Modernisme. In: (Dir.). Les grands mouvements littéraires 

anglo-américains. Paris: Michel Houdiard, 2009. v. I. p. 106-1 13. 

RICHARD, Jean-Pierre. Deux écrivains épidermiques: Edmond et Jules de 
Goncourt. . Littérature et sensation. Paris: Seuil, 1954. p. 263-283. 

RIDER, Jacques le. Les couleurs et les mots. Paris: PUF, 1997. 

RIECHEL, D. C. Monet and Keyserling: toward a grammar of literary 
impressionism. Colloquia Germanica, Lexington (Estados Unidos da 
América), v. 13, n. 3, p. 193-219, 1980. 

RIFFATERRE, Michel. Lillusion d’ekphrasis. In : MATHIEU-CASTELLANI, 
Gisèle (Org.). La pensée de 1’image: signification et figura tion dans le texte 
e dans le peinture. Paris : Presses Universitaires de Vincennes, 1994. p. 211- 
227. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


403 


RILKE, Rainer Maria. Lettres sur Cézanne. In : BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris : Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
333-340. 

RIOUT, Denys. Diversité des impressionnismes, 1874-1886. In: (Org.). 

Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 7-31. 

. (Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. 

. Théodore Duret, gentleman de la critique. In: DURET, Théodore. 

Critique d’avant-garde. Paris: École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, 
1998. p. 9-26. 

RIVIERE, Georges. A M. le rédacteur du ‘Figaro’. L’exposition 
des impressionnistes. In: VENTURI, Lionello. Les archives de 
1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley et autres. 
Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: Durand- 
Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 306-314. 

. Explications. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 202-205. 

. Lexposition des impressionnistes. In: VENTURI, Lionello. Les 

archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley 
et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: 
Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 314-321. 

. Le prochain Salon. In: VENTURI, Lionello. Les archives de 

1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley et autres. 
Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: Durand- 
Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 325. 

. Les intransigeants et les impressionnistes. Souvenirs du Salon libre de 

1877. In: RIOUT, Denys (Org). Les écrivains devant 1’impressionnisme. 
Paris: Macula, 1989. p. 195-201. 

ROBIDA, Michel. Le salon Charpentier et les impressionnistes. Paris: La 
Bibliothèque des Arts, 1958. 

ROBIQUET, Jean. LTmpressionnisme vécu. Paris: René Julliard, 1948. 
ROGER, Thierry. Jules Lemaítre et la querelle de l’impressionnisme. Disponível 
em: http:/ 7www.fabula.org/ colloques/documentl609.php Acesso em 08 de 
out. 2015. 


404 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


ROGERS, Rodney O. Stephen Crane and Impressionism. Nineteenth-century 
Fiction, Berkeley (Estados Unidos da América), v. 24, n. 3, p. 292-304, dez. 
1969. 

ROQUE, Georges. Art et Science de la couleur: Chevreul et les peintres, de 
Delacroix à 1’abstration. Paris: Gallimard, 2009. 

. Au fil de 1’eau : scintillement, papillotement, miroitement, lustre, 

vibrations. In : AMIC, Sylvain; BAKHUYS, Diederik; CATHELINEAU, 

r 

Anne- Charlo tte. Eblouissants reflets: cent chefs-d’oeuvre impressionnistes. 
Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: Reunion des musées nationaux, 
2013. p. 70-79. 

. La réception de Chrevreul par les peintres. In: ; BODO, 

Bernard; VIENOT, Françoise (Coord.). Michel-Eugène Chevreul: un 
savant, des couleurs! Paris: Muséum National d’Histoire Naturelle; Puteaux, 
França: Etude et Réalisations de la Couleur, 1997. p. 247-261. 
ROQUEBERT, Anne et al. De Cézanne a Picasso: chefs d’oeuvre de la galerie 
Vollard. Paris: Musée d’Orsay; Réunion des musées nationaux, 2007. 

ROOS, Jane Mayo. Herbivores versus herbiphobes: landscape painting and the 
State. In: HOUSE, John (Ed.). Landscapes of France: Impressionism and 
its rivais. Londres: Cornerhouse, 1996. Catálogo de exposição, 18 mai. 1995- 
28 ago. 1995, Hayward Gallery, Londres; 4 out. 1995-14 jan. 1996, Museum 
of Fine Arts, Boston, p. 40-51 

ROSSO, Medardo. La sculpture impressionniste. Trad. Patrice Contensin e 
Giovanni Lista. Paris: L’Échoppe, 1994. p. 126-130. 

RUBIN, James H. L’impressionnisme. Paris: Phaidon, 2008. 

. Les ports impressionnistes et la moralité du moderne. In: HAUDIQUET, 

Annette (Dir.). Pissarro dans les ports: Normandie impressionniste — Le 
Havre. Paris: Réunion des Musées Nationaux, 2013. p. 36-49. Catálogo de 
exposição, 27 abr. — 29 set. 2013, Musée d’Art Moderne André Malraux, Le 
Havre. 

. Voir des près les tableaux impressionnistes. Paris: Hazan, 2014. 

SABATIER, Pierre. L’esthétique des Goncourt. Genebra: Slatkine, 1984. 

«» /v 

SA E Z, Evelyne. Sites impressionnistes en Ile-de-France. Rennes: Ouest- 
France, 2013. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


405 


SALOMÉ, Laurent (D ir.). Une ville pour 1’impressionnisme: Monet, Pissarro 
et Gauguin à Rouen. Paris: Skira, Flammarion, 2010. 

; COURDERT, Marie-Claude. Musée des Beaux-Arts de Rouen: les 

impressionnistes. Paris: Réunion des Musées Nationaux, 2002. 

SANDANELLO, Franco Baptista. Entre a pintura e a prosa: o impressionismo 
literário no Brasil oitocentista. In: CARVALHO, João Carlos. (Org.). Arte e 
Ciências em Diálogo. Coimbra: Grácio Editor, 2013a. v. 1. p. 390-400. 

SANTOS, Kedrini Domingos dos. Aspectos impressionistas em Bel-Ami de 
Guy de Maupassant. Araraquara: UNESP, 2013. Dissertação de Mestrado 

SAUNDERS, Max. Self-impression: life-writing, autobiografiction, and the 
forms of modern literature. Oxford: Oxford University Press, 2013. 

SCHAEFER, Scott. LTmpressionnisme et son public. In: LACLOTTE, 
Michel et al. LTmpressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion 
des musées nationaux, 1985. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984-16 set. 
1984, Los Angeles County Museum of Art; 23 out. 1985-6 jan. 1985, The 
Art Institut of Chicago; 4 fev.- 22 abr., Galeries Nationales du Grand Palais, 
Paris. p. 350-368. 

SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo: percepções e reflexões. Trad. Ana Luiza 
Dantas Borges. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. 

. Les mots et les images.Trad. Pierre Alferi. Paris: Macula, 201 1. 

SCHARF, Aaron. Impressionism. In: . Art & photography. Londres: 

Allen Lane The Peguin Press, 1968. p. 125-138. 

SCHIFF, Richard. Defining Impressionism and impression. In: FRASCINA, 
Francis; HARRIS, Jonathan (Ed.). Art in modern culture: an anthology of 
criticai texts. Nova Iorque: Icon; Harper Collins, 1992. p. 181-188. 

. II faut que les yeux soient émus. In: . Cézanne et la fin de 

1’impressionnisme: étude sur la théorie, la technique et 1’évaluation critique 
de l’art moderne. Trad. Jean-François Allain. Paris: Flammarion, 1995. p. 
194-199 

. La fin de 1’impressionnisme. In: . Cézanne et la fin de 

1’impressionnisme: étude sur la théorie, la technique et 1’évaluation critique 
de 1’art moderne. Trad. Jean-François Allain. Paris: Flammarion, 1995. p. 13- 
57. 




406 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


.Lamarionentteetlamire.In:RAMOND,Sylvie(Dir.).Impressionnisme 

et naissance du cinematographe. Lyon: Musée des Beaux Arts, 2005. p. 
201-241. 

SCH L ESSER, Thomas ; TT LL IER, Bertrand. Le roman vrai de 
1’Impressionnisme: 30 journées qui ont changé l’art. Boulogne-Billancourt: 
Beaux Arts, 2010. 

SCHUH, | ulien. Des écrivains contre rimpressionnisme. In : GENGEMBRE, 
Gérard;LECLERC,Yves;NAUGRETTE,Florence (Dir.).Impressionnisme 
et littérature. Rouen : Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
201 - 211 . 

SEAT TJ.E S, Gabriel. I Rimpressionnisme. In: . L’origine et les destinées 

de 1’Art. Paris: Félix Alcan, 1925. p. 1 17-125. 

SEGINGER, Gisèle. Zola et \ xi bête humaine: de 1’impressionnisme à 
1’expressionnisme. In: GENGEMBRE, Gérard; LEC LE RC, Yves; 
NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. Rouen: 
Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 169-178. 
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação 
cultural na Primeira República. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 
SIGNAC, Paul. D’Eugène Delacroix au Néo-impressionnisme: écrits et 
propos sur 1’art. Paris: Hermann, 2014. 

SILVESTRE, Armand. Exposition de la rue Le Peletier. In: VENTURI, 
Lionello. Les archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, 
Pissarro, Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, 
Nova Iorque: Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 286-287. 

. Préface à “Recueil d’estampes”. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
112-116. 

SIMMONS, Allan H. Impressionism. In: KNOWLES, Owen; MOORE, Gene 

M. Oxford Reader’s Companion to Joseph Conrad. Oxford: Oxford 
University Press, 2000. p. 166-168. 

SIZERANNE, Robert de la. Le bilan de rimpressionnisme. In: . 

Questions esthétiques contemporaines. Paris: Hachette, 1904. p. 51-103. 
SMITH, Allan Gardner. Stephen Crane, Impressionism and William James. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


407 


Révue française cPétudes américaines, Paris, n. 17, p. 237-248, mai. 1983. 
SMITH, Paul. L’artiste impressionniste. Trad. Jean-François Allain. Paris: 
Flammarion, 1995. 

STANGOS, Nikos (Org.). Conceitos de arte moderna. Trad. Álvaro Cabral. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991. 

STEWART, Jack F. Historical impressionism in Orlando. Studies in the novel, 
Denton (Estados Unidos da América), v. 5, n. 1, p. 71-85, primavera 1973. 

. Impressionism in the early novels of Virginia Woolf. Journal of 

modern literature, Filadélfia (Estados Unidos da América), v. 9, n. 2, p. 
237-266, mai. 1982. 

STORSKOG, Camila. Literary impressionism and Finland: a criticai digest. 
Scandinavian Studies, Champaign (Estados Unidos da América), v. 83, n. 
3, p. 387-413, outono 2011. 

STOWELL, H. Peter. Literary impressionism, James and Chekhov. Athens 
(Estados Unidos da América): University of Geórgia Press, 1980. 

SOURIAU, Etienne. Le système des Beaux-Arts. In: . La correspondance 

des arts: éléments d’esthétique comparée. Paris: Flammarion, 1969. p. 101- 
144. 

SOUTO MAIOR, A. História geral (para o ensino do 2 o grau). 15 ed. São 
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. 

SYMINGTON, Micéala. Ecrire le tableau: 1’approche poétique de la critique 
d’art à 1’époque symboliste. Bruxelas: Presses Interuniversitaires Européennes 
Peter Lang, 2006. 

SYPHER, Wylie. A experimentação impressionista. In: . Do Rococó 

ao Cubismo na arte e na literatura. Trad. Maria H. P. Martins. São Paulo: 
Perspectiva, 1980. p. 135-151. 

TARDIEUJean. Introduction. In: LASSAIGNEJacques. LTmpressionnisme. 
Paris: Lausanne, 1966. p. 7-9. 

TEETS, Bruce F. Literary impressionism in Ford Madox Ford, Joseph Conrad 
and related writers. In: CARABINE, Keith (Ed.). Joseph Conrad: criticai 
assessments. East Sussex: Helm Information, 1992. v. IV p. 35-42. 
THIÉBAUT, Philippe. Un idéal d’urbanité virile. In: GROOM, Gloria; 
COGEVAL, Guy (Dir.). LTmpressionnisme et la mode. Paris: Musée 




408 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 193-213. 

THOMSON, Belinda; HOWÀRD, Michael. Impressionism. Londres: Bison 
Books, 1994. 

THORNTON, Lawrence. ‘Deux bonhommes dinstincts’; Conrad, Ford, 
and the visual arts. In: CARABINE, Keith (Ed.). Joseph Conrad: criticai 
assessments. East Sussex: Helm Information, 1992. v. IV. p. 43-52. 

TINTEROW, Gary. L’apparition et le rôle de la mode dans la peinture du XIXe 
siècle. In: GROOM, Gloria; COGEVAL, Guy (Dir.). LTmpressionnisme 
et la mode. Paris: Musée d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 29-39. 

. Le paysage impressionniste. In: LOYRETTE, Henri; TINTEROW, 

Gary. Impressionnisme: les origines 1859-1869. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1994. p. 233-263. 

TOBIEN, Felicitas. L’impressionnisme. Trad. Pierre Crevecoeur. Ramerding, 
Alemanha: Berghaus Verlag, 1981. 

TODOROV, Tzvetan. La répresentation de 1’individu en peinture. In: 
FOUCROULLE, Bernard; LEGROS, Robert; TODOROV, Tzvetan. La 
naissance de 1’individu dans 1’art. Paris: Grasset & Fasquelle, 2005. p.13- 
39. 

TORGOVNICK, Marianna. In the documentary mode: James, Lawrence, 

Woolf and the visual arts. In: . The visual arts, pictorialism and 

the novel: James, Lawrence and Woolf. Princeton: Princeton University 
Press, 1985a. p. 37-69. 

. Perception, impression, and knowledge in The portrait of a lady, The 

ambassadors, and The gol den hoivl. In: . The visual arts, pictorialism 

and the novel: James, Lawrence and Woolf. Princeton: Princeton University 
Press, 1985b. p. 157-191. 

TUFFELLI, Nicole. L’art au XIXe siècle: 1848-1905. Paris: Larousse, 2013. 

VAISSE, Pierre. La Troisième République et les peintres. Paris: Flammarion, 
1995. 

VALÉRY, Paul. Au sujet de Berthe Morisot. In: MATHIEU, Marianne (Dir.). 
Berthe Morisot: 1841-1895. Paris: Hazan; Musée Marmottan Monet, 2012. 
p. 11-15. Catálogo de exposição, 8 mar. — 12 jul. 2012, Musée Marmottan 
Monet, Paris. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


409 


. Degas, danse, dessin. Paris: Gallimard, 2003. 

VALLES-BLED, Maithé (Dir.). Collection David et Ezra Nahmad: 

Impressionnisme et audaces du XIXe siècle. Souyri (França): Au fil du temps, 
2013. 

VAUDOYER, Jean-Louis. Les impressionnistes. Paris: Flammarion, 1953. 
VEDRINE, Hélène. Barbey d’Aurevilly et 1’impressionnisme: du “crétinisme 
dans la couleur” à 1’âme nor mande. In : GENGEMBRE, Gérard ; LECLERC, 
Yves ; NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. 
Rouen : Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. P.179-187. 
VENANCIO, Giselle Martins. Pintando o Brasil: artes plásticas e construção da 
identidade nacional (1816-1922). Revista História em reflexão, Dourados, 
v. 2, n. 4, p. 1-18, jul.-dez. 2008. 

VENTURI, Lionello. Impressionistas e simbolistas. Trad. Nataniel Costa. 
Lisboa: Estúdios Cor, 1954. 

VENTURI, Lionello. Les archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, 
Monet, Pissarro, Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. 
Paris, Nova Iorque: Durand-Ruel Editeurs, 1939. 2v. 

. Les peintres impressionnistes et Durand-Ruel. In: . Les 

archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley 
et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: 
Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v 1. p. 5-112 
VER Ff A E R EN, Emile. Exposition d’oeuvres impressionnistes. In: RIOUT, 
Denys (Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 
1989. p. 362-366. 

. LTmpressionnisme. In : . Sensations. Paris: G. Crés, 1928. p. 

172-181. 

. Ldmpressionniste Turner. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains 

devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 366-370. 

VINCENT, Hélène et al. Lire 1’ impressionnisme: six tableaux, six maítres. 
Versalhes, França: Artlys, 2010. 

VOLF, Elie. Chevreul et les beaux-arts. In: . Michel-Eugène Chevreul: 

un savant doyen des étudiantes de France. Des corps gras et de la chandelle à 
la perception des couleurs. Paris: LHarmattan, 2012. p. 161-172. 




410 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


VOLLARD, Ambroise. Ouvindo Cézanne, Degas, Renoir. Trad. Clóvis 
Marques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 

VOSSOUGHI, Afzal; KHAN MOHAMADI, Fatemeh; ZIBAI, Mehri. Verlaine 
et les aspects impressionnistes de sa poésie. Révue des études de la langue 
française, Isfahan (Irã), ano 2, n. 3, p. 79-91, outono -inverno 2010-2011. 
Disponível em: http:/ /ecc.isc.gov.ir/ShwFArticle.aspx?aid= 

209938 Acesso em 14 dez. 2015. 

VOI JI L LOUX, Bernard. La peinture dans le texte: XVIIIe — XXe siècles. 
Paris: CNRS, 2005. 

. Le tournant «artiste» de la littérature française: écrire la peinture 

au XIXe siècle. Paris: Hermann, 2011. 

. Ldmpressionnisme littéraire, un mythe fécond. In : GENGEMBRE, 

Gérard;LECLERC,Yves;NAUGRETTE,Florence(Dir.).Impressionnisme 
et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012a. 
p. 17-25. 

. L’»impressionnisme littéraire»: une révision. Poétique, Paris, n. 121, p. 

61-92, fev. 2000. 

. Pour en tinir avec 1’impressionnisme littéraire: un essai de metastylistique. 

Questions de style, Caen (França), n. 9, 2012, p. 1-25, 15 março 2012b. 
WALEFFE, Pierre (Dir.). La vie des grands peintres impressionnistes et 
nabis. Paris: Editions du Sud; Albin Michel, 1964. 

WANLIN, Nicolas. Comment se construit Fidée ddmpressionnisme poétique 
(sur le cas de Verlaine). In: GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, Yves; 
NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. Rouen: 
Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 143-151. 

. Les références artistiques dans Poèmes saturniens et Fêtes galantes. 

In: GUYAUX, André (Dir.). Les premiers recueils de Verlaine: Poèmes 
saturniens , Fêtes galantes, Komances sans paroles. Paris: Presses Université Paris- 
Sorbonne, 2008. p. 25-39. 

WARD, Martha. Impressionist installations and private exhibitions. In: LEWIS, 
Mary Tompkins (Ed.). Criticai readings in Impressionism and Post- 
Impressionism: an anthology. Los Angeles: University of Califórnia Press, 
2007. p. 49-73. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


411 


WATT, Ian. Conrad criticism and The nigger of the “N areis sus In: . 

Essays on Conrad. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. p. 63-84. 

. Conrad in the nineteenth century. Berkeley, Los Angeles: University 

of Califórnia Press, 1979. 

WECHSLER, Herman J. French impressionists and their circle. Nova 
Iorque: Harry N. Abrams, 1953. 

WHITE, Andréa. Conrad and Modernism. In: PETERS, John G. (Ed.). Conrad. 

Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 163-196. 

WHITE, Harrison C.; WHITE, Cynthia A. La carrière des peintres au 
XIXe siècle: du système académique au marché des impressionnistes. Trad. 
Antoine Jacottet. Paris: Flammarion, 2009. 

WILDE, Oscar. La Critique et 1’Art (deuxième partie). In: . Intentions. 

Trad. J. Joseph-Renaud. Paris: P.-V. Stock, 1905. p. 159-228. 

WOLFF, Albert. Le calendrier parisien. LOBSTEIN, Dominique (Org.) 
De Charles Baudelaire à Georges Clemenceau: éloges et critiques de 
lTmpressionnisme. Paris: Ardys, 2012. p. 50-51. 

YOSHIKAWA, Kazuyoshi. Impressionnisme. In: BOUILLAGUET, Annick; 
ROGERS, Brian G. (Dir.). Dictionnaire Marcei Proust. Paris: Honoré 
Champion, 2004. p. 496-498. 

YOO, Yae-Jin. Uesthétique impressionniste proustienne. In: . La 

peinture ou les leçons esthétiques chez Marcei Proust. Nova Iorque: 
Peter Lang Publishing, 2012. p. 103-141. 

ZAROBELLJohn. Paul Durand-Ruel et le marché dekartmoderne (1870-1973). 
In: PATRY, Sylvie (Dir.). Paul Durand-Ruel: le pari de lTmpressionnisme. 
Paris: Réunion des Musées Nationaux, 2014. p. 60-75. 

ZOLA, Emile. A batalha do impresionismo. Trad. Martha Gambini. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1989. 

. Deux expositions d’art au mois de mai. In: BONAFOUX, Pascal 

(Org.). Correspondances impressionnistes. Paris : Ed. Diane de Selliers, 
2008. p. 170-175. 

. Le bon combat: de Courbet aux impressionnistes. Paris: Hermann, 

1974. 

. Le moment artistique. In: . Mon salon. Paris : Librairie 




412 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Centrale, 1866. p. 31-38. 

. Le naturalisme au Salon. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
232-239. 

. Les chutes. In: . Mon salon. Paris : Librairie Centrale, 1866. p. 

57-64. 

. Les réalistes du Salon. In: . Mon salon. Paris: Librairie Centrale, 

1866. P. 49-56. 

. Mon Salon — Le Jury. In: . Mon salon. Paris: Librairie Centrale, 

1866. p. 17-30. 

. Peinture. In : BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 320-323. 

. Une exposition: les peintres impressionnistes. In: BONAFOUX, 

Pascal. (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 184-188. 

ZUFFI, Stefano; CASTRIA, Francesca. La peinture moderne: des 
impressionnistes aux avant-gardes. Trad. Silvia Bonucci e Claude Sophie 
Mazéas. Paris: Gallimard, 1998. 


Demais referências 

ALQUIE, Ferdinand. Philosophie du surréalisme. Paris: Flammarion, 1977. 
AMY, Gilbert. Scherzo. In: MICHEL, François (Dir.). Encyclopédie de la 
musique. Paris: Fasquelle, 1961. t. III. p. 654. 

ARMA, Paul; TIENOT, Yvonne. Nouveau dictionnaire de musique. Paris: 
Les Editions Ouvrières, 1947. 

ARNOULD, Edmond. Sonnets et poèmes. Paris: Charpentier, 1861. 
AZEVEDO, Aluísio. O Japão. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 201 1 . 
BARRETO, Lima. Impressões de leitura. São Paulo: Brasiliense, 1956. 
BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Trad. | úlio 
Castanon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. 

. O efeito do real. In: (et al.). Literatura e semiologia. Trad. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


413 


Célia Neves Dourado. Petrópolis: Vozes, 1972. p. 35-44. 

BASTOS, Maria Helena Camara. A educação do caráter nacional: leituras de 
formação. Educação e filosofia, Uberlândia, v. 12, n. 23, p. 31-50, jan.-jun. 
1998. 

BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. Trad. Suely Cassai. In: 

. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 851-881. 

BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulus, 2007. 

BISCHOFF, Theodor Ludwig. Encyclopédie anatomique: traité du 
développement de 1’homme et des mamifères, suivi d’une histoire du 
développement de Poeuf du lapin. Trad. Antoine J. L. Jourdan. Paris: J.-B. 
Baillière, 1843. t. VIII. 

BOOTH, Wayne C. The rhetoric of fiction. Chicago: The University of 
Chicago Press, 1968. 

BRAFF, Menalton. Bolero de Ravel. São Paulo: Global, 2010. 

. Castelos de papel. São Paulo: Nova Fronteira, 2002. 

. Moça com chapéu de palha. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009. 

. Na teia do sol. São Paulo: Planeta, 2004. 

BRANDENBURGER, Clemens (Org.). Brasilische prosa: erste zammlung. 

São Leopoldo e Cruz Alta, RS: Berlag Rotermund, 1917. 

BRETON, André. Nadja. Paris : Gallimard, 1964. 

. Manifesto do Surrealismo. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda 

europeia e modernismo brasileiro. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1997. p.174- 
208. 

CÂNDIDO, Antonio. Crítica impressionista. Remate de males, Campinas, p. 
59-62, 1999. 

CARNERO, Emanuel. Un coeur de femme. Diário de Notícias, Rio de janeiro, 
ano VIII, n. 1925, p. 2, 4 out. 1890. 

CARVALHO, Alfredo Leme Coelho de. O narrador infiel. In: . O 

narrador infiel e outros estudos de teoria e crítica literária. São José do 
Rio Preto: Editora Rio-Pretense, 2005. p. 21-33. 

CARVALHO, José Murilo de. As casas da Casa. Revista Brasileira, Rio de 
Janeiro, n. 81, ano 3, p. 179-191, out.-dez. 2014. 

CASSIL, R.V. (Org.). The Norton Anthology of Short Fiction. 4 ed. Nova 




414 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Iorque: WW Norton & Company, 1978. 

CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade. São 
Paulo: Edusp, 2004. v. 2. 

COHN, Dorrit. La transparence intérieure: modes de representation de la 
vie psychique dans le roman. Trad. Alain Bony. Paris: Seuil, 2002. 

COLI, Jorge. Une dialectique amoureuse. In: FOCILLON, Henri. Pour un 
temps. Clamecy, França: Editions du Centre Georges Pompidou, 1986. p. 
190-198. 

COMTE, Auguste. Système de politique positive ou traité de sociologie. 

Paris: L. Mathias, 1851. v. I. 

CONRAD, Joseph. Heart of darkness and The secret sharer. Nova Iorque: 
Bantam Classics, 2004. 

CORTAZAR, Julio. Valise de cronópio. Trad. Davi Arrigucci Jr. e João 
Alexandre Barbosa. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. 

COSTA E SILVA, Natalí Fabiana. Os hábitos da memória nos conflitos dos 
protagonistas de Menalton Braff em Que enchente me carrega? (2000) 
e Bolero de Ravel (2010). Araraquara: UNESP, 2015. Tese de Doutorado. 
CURRENT-GARCÍA, Eugene; PATRICK, Walton R. (Org.). What is the 
short story?: case studies in the development of a literary form. Glenview: 
Scott, Foresman and Company, 1961. 

DANTAS, Luiz. Apresentação. In: AZEVEDO, Aluísio. O Japão. Brasília: 

Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. p. 7-38. 

DANTE ALIGHIERI. A divina comédia. Trad. ítalo Eugênio Mauro. São 
Paulo: Editora 34, 1999. 

DUARTE, Urbano. O mulato. Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, ano II, n. 157, 
p. 1, 8 jul. 1881. 

DUFRENE, Thierry (Dir.). Pierre Francastel, 1’hypothèse même de l’art. 

Paris: INHA, 2010. Catálogo de exposição, 1 mar. — 6 mai. 2010, Galerie 
Colbert, Paris. 

ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. Trad. Monica Stabel. 2 
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 

EL FAR, Alessandra. “A presença dos ausentes”: a tarefa acadêmica de criar e 
perpetuar vultos literários. Estudos históricos, Rio de Janeiro, n. 25, p. 119- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


415 


134, 2000. 

FAYE, Jean-Pierre. Mallarmé deux fois dans 1’entre deux jeunes femmes. In: 
MALLARMÉ, Stéphane. Édouard Manet et les impressionnistes. Trad. 
Mitsou Ronat e Barbara Keseljevic. Bourg-en-Bresse, França: Éditions 
Horlieu, 2014. n.p. 

FERREIRA, Vergílio. Manhã submersa. 2 ed. Lisboa: Portugália, [19—]. 
FIDALGO, Antonio. O poder das palavras e a força das imagens: a retórica na 
era do audiovisual. Disponível em: http:/ /bocc.ubi.pt/~fidalgo/reto 
rica/fidalgo-antonio-retorica-era-televisao.pdf Acesso em 13 jun. 2016. 
FLORIENSKI, Pável. A perspectiva inversa. Trad. Neidejallageas e Anastassia 
Bytsenko. São Paulo: Editora 34, 2012. 

FRANCO JÚNIOR, Arnaldo. Jogando com leituras previsíveis: bolero de Kavel, 
de Menalton Braff. In: PEREIRA, Helena Bonito (Org.). Ficção brasileira 
no século XXI: terceiras leituras. São Paulo: Mackenzie, 2013. p. 175-202. 
GALVÃO, Dário. Ecos e sombras. Rio de Janeiro, Paris: H. Garnier, 1911. 
GENETTE, Gérard. Figures III. Paris: Seuil, 1972. 

. Genres, types, modes. Poétique: revue de théorie et d’analyse littéraires. 

Paris, n. 32, p. 389-421, 1977. 

GOETHE, Johann Wolfgang. Doutrina das cores. Trad. Marco Gianotti. São 
Paulo: Nova Alexandria, 1993. 

. Poesias escolhidas. Campinas: Átomo; PNA, 2002. 

GOMES, Álvaro Cardoso. O diálogo entre a literatura e as ciências: o romance 
experimental de Zola. Graphos, João Pessoa, v. 8, n. 1, p. 103-112, jan.-jul. 
2006. 

GOMES, Eugênio. Adelino Magalhães e a moderna literatura experimental. In: 
MAGALHÃES, Adelino. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. p. 
51-70. 

GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. 1 1 ed. São Paulo: Ática, 2006. 
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance 
machadiano e o público de literatura no século XIX. São Paulo: Nankin, 
2004. 

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. 2 ed. Trad. Maria da Penha 
Villalobos et ah São Paulo: EDUSP, 2005. 




416 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


HAMBURGER, Kate. A lógica da criação literária. Trad. Margot Malnic. 2 
ed. São Paulo: Perspectiva, 1986. 

HOBSBAWM, Eric. A era do capital (1848-1875). Trad. Luciano Costa Neto. 
13 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. 

HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 1 1 ed. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1977. 

HORÁCIO. The works of Horace. Londres: Rivingtons, 1854. 

HOUAISS, Antonio; VI EL A R, Mauro de Salles. Grande dicionário Houaiss 
da língua portuguesa. Rio de janeiro: Objetiva, 2001. 

HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime: tradução do prefácio de Crommll. 

2 ed. Trad. Célia Barretini. São Paulo: Perspectiva, 2002. 

IMBERT, Enrique. Teoria y técnica dei cuento. 3 ed. Barcelona: Ariel, 1999. 
JAMES, Henry. Pelos olhos de Maisie. Trad. Paulo Henriques Britto. São 
Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010. 

JAMES, Henry. The portrait of a lady. Londres: Mac.mil lan, 1921. v. I. 
JOLLES, André. Formas simples. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 
1976. 

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A leitura rarefeita: livro e leitura no 
Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1991. 

LEVAILLANT, Maurice. Le temple intérieur. Paris: Bernard Grasset, 1910. 
LINS, Álvaro. Rio Branco: biografia pessoal e história política. 2 ed. São Paulo: 
Compahia Editora Nacional, 1965. 

LOTI, Pierre. Pescador de Islândia. Trad. Carlos José de Meneses. Mem- 
Martins: Europa- América, 1974. 

MAGALHÃES JR., Raimundo (Org.). O conto do Rio de Janeiro. Rio de 

Janeiro: Civilização Brasileira, 1959. 

MARTOCQ, Bernard. Le romancier et son modèle: Eça de Queiroz à Paris 
(1888-1900), Cahiers d’études romanes, Marseille (França), n. 6, p. 101- 
121 , 2001 . 

MENDILOW, A. A. O tempo e o romance. Trad. Flávio Wolf. Porto Alegre: 
Globo, 1972. 

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos 
Alberto Ribeiro de Moura. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


417 


MICELI, Sérgio. Poder, sexo e letras na República Velha: estudo clínico dos 
anatolianos. São Paulo: Perspectiva, 1977. 

MINE, Elza. Ferreira de Araújo, ponte entre o Brasil e Portugal. Via Atlântica, 
São Paulo, n. 8, p. 221-229, 2005. 

MORETTO, Fúlvia M. L (Org.). Caminhos do Decadentismo francês. São 

Paulo: Perspectiva; Edusp, 1989. 

NABUCO, Joaquim. Cartas a meus amigos. São Paulo: Instituto Progresso 
Editorial, 1949. v. I. 

NOÈL, Bernard. Ariel. In: LAFFONT, Robert; BOMPIANI, V. (Org.) 
Dictionnaire des personnages: de tous les temps et de tous les pays. Paris: 
Robert Laffont, 1984. p. 80. 

PENJON, Jacqueline et al. Le Brésil dans ses littératures. O Brasil em suas 
literaturas. In: TOURAINE, Alan (Dir.). Brésils-Brésil, Brasis-Brasil. 
Paris: Syndicat National de FÉdition, 1998. p. 73-119. 

PIGLIA, Ricardo. Formas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 
POMPEIA, Raul. Obras: Canções sem metro. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira; OLAC; FENAME, 1982a. V. IV. 

. Obras: Miscelânea, fotobiografia. Rio de Janeiro: Prefeitura Municipal 

de Angra dos Reis, 1991. V. X. 

PROUST, Marcei. A propósito do “estilo” de Flaubert. In: . Nas trilhas 

da crítica. Trad. Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Edusp; Imaginário, 1 994. 
P. 65-85. 

. Contra Sainte-Beuve: notas sobre crítica e literatura. Trad. Haroldo 

Ramanzini. São Paulo: Iluminuras, 1988. 

. Sodoma e Gomorra. Trad. Mário Quintana. 14 ed. São Paulo: Globo, 

1998. 

. Swann expliqué par Proust. In: . Contre Sainte-Beuve 

précédé de Pastiches et mélanges et suivi de Essais et articles. Paris: 
Gallimard, 1971. p. 557-559. 

ROBERT, Paul. Le petit Robert. Paris: Dictionnaires Le Robert, 1990. 
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da crítica: repulsas e desabafos 
(I a série). Porto: Comércio do Porto, 1909. 

RICHEPIN, Jean. La chanson des gueux. Paris: Maurice Dreyfus, 1881. 




418 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


RIO, João do. Dentro da noite. São Paulo: Antiqua, 2002. 

SANDANE LL O, Franco Baptista. O escorpião e o jaguar: o memorialismo 
prospectivo d’ O Ateneu , de Raul Pompéia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 
2015. 

. Velos olhos de Maisie , pelos olhos de quem? Criação e crítica, São Paulo, 

v. 11, n. l,p. 1-1 1,2013b. 

SANTOS, Luís Cláudio Villafane Gomes. O evangelho do Barão: Rio Branco 
e a identidade brasileira. São Paulo: Editora UNESP, 2012. 

SCHI LL ER, Friedrich. Poesia ingênua e sentimental. Trad. Márcio Suzuki. 
São Paulo: Iluminuras, 1971. 

SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. 5 ed. São Paulo: Duas Cidades; 
34, 2000. 

SUSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua 
história: o naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984. 

SUTTON, Howard. The life and work of Jean Richepin. Genebra: Droz; 
Paris: Minard, 1961. 

TORRES, Antonio. Pasquinadas cariocas. Rio de janeiro: Livraria Castilho, 
1921. 

TRUDGIAN, Helen. L’esthétique de J.-K. Huysmans. Genebra: Slatkine, 

2012 . 

VIANA FILHO, Luiz. A vida do Barão do Rio Branco. São Paulo: Martins, 
1967. 

VIGNAL, Marc (Dir.). Dictionnaire de la musique. Paris: Larousse, 1987. 

VICTOR, Nestor. Adelino Magalhães: Os violões , Casos e impressões. In: . 

Os de hoje. São Paulo: Cultura Moderna, 1938. p. 202-208. 

VOGT, Cari. Leçons surles animauxutiles etnuisibles,lesbêtescalomniées 
et mal jugées. Trad. Gustave Bayvet. Paris: Schleicher Frères, 1897. 

WATTS, Cedric. Joseph Conrad: The secret agent. Tirril: Humanities-Ebooks, 
2007. 

ZOLA, Emile. O romance experimental e o Naturalismo no teatro. Trad. 

ítalo Caroni e Célia Barretini. São Paulo: Perspectiva, 1982. 

. Une page d’amour. 27 ed. Paris: Charpentier, 1878. 




ANEXO I 


BIBLIOGRAFIA COMENTADA 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


421 


Nota introdutória 

T ^endo em vista a dificuldade de consulta de diversos textos sobre o 
impressionismo (pictórico, literário) em bibliotecas brasileiras, acrescida 
do moroso levantamento de materiais em bibliotecas e acervos franceses, 
compilados entre Lyon e Paris, consideramos redigir um anexo contendo o 
conjunto das anotações esparsas de trabalho (que vão de observações a 
fichamentos sucintos), na medida em que cada item bibliográfico foi sendo 
consultado, analisado e incorporado ao texto final. 

Certamente, em se tratando de um tópico tão abrangente quanto o 
impressionismo na pintura e na literatura, a bibliografia que aqui segue comentada 
não constitui, tampouco tem a pretensão de constituir, um referencial completo 
sobre o assunto. Trata-se apenas de um itinerário para aqueles que, interessados 
pelo assunto, venham a desenvolver futuramente suas próprias pesquisas. 
Neste sentido, assim como o estudo prévio sobre a obra de Domício da Gama 
procura suprir um hiato na historiografia literária brasileira, tal anexo visa abrir 
caminhos para a discussão e amadurecimento do impressionismo literário no 
Brasil. Conceito aplicado diversas vezes às literaturas inglesa, americana, francesa 




422 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


e portuguesa, não há razão pela qual não possa ser amplamente investigado 
também na literatura brasileira. 

Para tanto, dado o escopo da pesquisa e sua ênfase no impressionismo 
literário, foram excluídos deste anexo todos os textos que não contivessem 
uma discussão de conjunto ou de caráter teórico sobre a significação do 
impressionismo pictórico ou literário. Insistir em materiais acessórios ou 
demasiado pontuais implicaria deslocar o presente estudo para outro domínio, 
esquecendo a estrela central que o preside. Neste sentido, há certo predomínio de 
textos sobre o impressionismo literário, ainda que não sejam os mais volumosos 
na bibliografia; igualmente, há predomínio de textos escritos entre 1870 e 1900 
no que toca ao impressionismo pictórico, como forma de observar os muitos 
sentidos que teve para a geração de escritores formada nesse período. 

Logo, muito embora deva ter-se em mente a circularidade dos tópicos 
discutidos, foi preciso estabelecer um recorte do assunto em questão, tendo em 
vista a amplitude com que usualmente foi tratado, pelos vieses mais diversos. 
Desta forma, os itens excluídos foram: 

• Cartas de pintores, escritores, colecionadores e comerciantes de quadros 
(salvo raras exceções); 

• Estudos marcadamente individuais, biográficos ou memorialísticos sobre 
a obra de determinado pintor; 

• Catálogos de exposições, pinacotecas, coleções privadas etc. (salvo 
citação exclusiva de ensaios antepostos aos dados catálogos); 

• Obras de vulgarização como guias ou enciclopédias, constando apenas 
de dados sumários, cronológicos e numericamente contextuais acerca do 
Impressionismo; 

• Obras dedicadas à “jeunesse”, de caráter didático, pedagógico ou lúdico; 

• Estudos sobre o Impressionismo pautados em suas manifestações 
exteriores à pintura e à literatura (i.e., escultura, gravura, estampa, música 
ou cerâmica impressionista); 

• Todos e quaisquer dicionários, quer sejam acerca de autores específicos 
relacionados ao Impressionismo, quer sejam acerca do movimento como 
um todo, dentro e fora da França (salvo raras exceções); 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 423 


• Análises e estudos sobre os antecedentes do impressionismo (ex: escola 
de Barbizon) ou seus sucessores (ex: neoimpressionismo); 

• Impressões de críticos e escritores acerca dos Salons das décadas de 1850 
e 1860 (salvo exceções); 

• Estudos sobre as inovações químicas de então (ex: M.-E. Chevreul) e 
seus respectivos manuais de vulgarização (ex: Ogden Rood); 

• Crônicas, editoriais ou textos demasiado breves, constando apenas de 
notas esparsas, sem exposição de um argumento relevante. 

Mediante os parâmetros indicados, diversos textos presentes na 
bibliografia geral — e que serviram à construção do texto, passiva ou ativamente 
— não foram aqui incluídos. A principal exceção é aquela feita para livros 
extensos e panorâmicos sobre o impressionismo pictórico, como os de Bazin 
(1982), Blunden (1981; 1987), Bomford et al (1990), Cahn (2005), Loyrette et 
al (2009), Rubin (2008; 2014); e para textos fundamentais como os de Herbert 
(1991), Francastel (1988), Schapiro (2002), Rewald (1991) e Hauser (2000). 1 Tais 
referências foram excluídas do presente anexo por três motivos: a como que 
obrigatoriedade do conhecimento das mesmas — sobretudo, e evidentemente, 
das últimas cinco — pelos pesquisadores do assunto; sua fácil disponibilidade 
no mercado brasileiro, contando com edições e traduções recentes; e a 
desproporção entre o comentário que demandariam face àquele dos demais. 
Assim, as muitas anotações de trabalho referentes a esses textos não foram 
agrupadas em resenhas individuais. Um quarto e último motivo, mais ou menos 
evidente (ou latente), é o da composição simultânea do presente anexo entre 
análises de contos, redação de capítulos teóricos, pesquisa em acervos digitais 
e físicos, e preparação dos demais anexos, num período total de doze meses. O 
recorte temporal contribuiu irremediavelmente para com a exclusão do total de 
notas e fichamentos na versão final. 

A seguir, é lícito destacar que diversas bibliotecas e acervos foram 
consultados para a composição da presente pesquisa. A maior parte do trabalho 
foi desenvolvida no interior da França (Lyon), com visitas esporádicas a Paris. 


1 O livro de Hauser parece ser o mais recorrentemente citado de todos — ao menos, em pesquisas 
sobre os traços impressionistas de narrativas brasileiras. Não obstante, uma boa resenha sobre ele 
pode ser encontrada no estudo de julia van Gunsteren sobre Katherine Mansfield (1990, p. 43). 




424 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


É lícito, pois, elencar os acervos consultados, sem os quais o material aqui 
compilado não seria possível: 

• Bibliothèque Nationale de France, Paris; 

• Bibliothèque Sainte-Geneviève, Paris; 

• Bibliothèque du Centre de Recherches sur les Pays Lusophones (CREPAL 
— Univ. Sorbonne Nouvelle — Paris III); 

• Bibliothèque Universitaire Censier (Univ. Sorbonne Nouvelle — Paris III); 

• Bibliothèque Diderot (Ecole Normale Supérieure de Lyon); 

• Bibliothèque de la Manufacture, Bibliothèque de Droit et Philosophie, 
Bibliothèque de Lettres et Langues, Bibliothèque de la Maison 
Internationale des Langues et Cultures (Univ. Lyon III Jean Moulin); 

• Bibliothèque Universitaire Chevreul, Bibliothèque de Lettres et 
Musicologie, Bibliothèque Universitaire Campus Bron, Biblioteca do 
Institut d’études brésiliennes; acervo fotográfico e artístico do ARTStor 
(Univ. Lyon II Lumière); 

• Bibliothèque Municipale de Part-Dieu, Lyon; 

• Bibliothèque Saint-Sever, Rouen. 

De volta ao Brasil, as últimas consultas bibliográficas foram feitas no 
acervo físico das seguintes instituições: 

• Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (USP); 

• Biblioteca Florestan Fernandes (FFLCH — USP); 

• Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras (UNESP); 

• Biblioteca Comunitária (UFSCar). 

E necessário destacar também as plataformas online mediante as quais 
muitos livros e artigos foram encontrados em sua versão digitalizada. São eles: 
Hemeroteca Digital Brasileira (<bndigital.bn.br/hemeroteca-digital>); Gallica 
(<gallica.bnf.fr>); Persée (<www.persée.fr>); Fabula (<www.fabula.org>); 
Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (<www.bbm.usp.br>); JSTOR 
(<www.jstor.org>); Biblioteca Digital da UNESP (<http:/ /bibdig.biblioteca. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


425 


unesp.br>); Biblioteca Nacional Digital de Portugal (<purl.pt/index/geral/ 
PT / index.html>). 2 

No que diz respeito às fotos do autor espalhadas pela pesquisa e 
referenciadas na bibliografia geral, trata-se de material inédito encontrado nos 
bancos digitais da Bibliothèque Nationale de France e da Library of Congress. 
Por sua vez, os quadros dos impressionistas europeus foram consultados nos 
bancos digitais da ARTStor (com acesso mediado pela Université Lumière Lyon 
II) e dos museus Philadelphia Museum of Art (E.U.A.) e Museum Boijmans 
van Beuningen (Holanda). Já os quadros de artistas plásticos brasileiros que 
ilustram algumas análises textuais (e que foram assim selecionados seja por serem 
autores textualmente citados por Domício em suas crônicas, seja por serem de 
expressão impressionista) foram obtidos do banco digital da Enciclopédia Itaú 
Cultural. 

Finalmente, é lícito reforçar o caráter provisório, limitado e parcial do 
presente anexo. E repetir: trata-se de um mero itinerário para aqueles que, 
interessados pelo assunto, venham a desenvolver futuramente suas próprias 
pesquisas. 


2 Alguns destes acervos digitais, como o JSTOR, foi acessado a partir de informações obtidas na 
British Library, de Londres — instituição e cidade que não constam das instituições acima elencadas. 
Soou algo desnecessário incluir os acervos ingleses sobre a questão, tendo em vista a profusão de 
itens consultada nas bibliotecas francesas. A exceção a ser feita é, de fato, apenas aos artigos em 
língua inglesa sobre o impressionismo literário em escritores como Conrad, Crane e James — materiais 
encontrados todos no acervo do JSTOR (ainda que restrito, por vezes, a materiais pagos). 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


427 


Textos sobre o impressionismo pictórico 


ADAM, Paul. Peintres impressionnistes. In: RIOUT, Denys (Org.). Les 

écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 382-391. 

Publicado originalmente em Ea revue contemporaine de abril de 1 886 (mesmo ano 
em que fundaria, com Gustave Kahn e Jean Moréas, o importante periódico Ee 
Sjmboliste ), Paul Adam fornece neste artigo um balanço do grupo impressionista, 
a propósito de sua última exposição. Em tom polêmico, faz uma caricatura 
da crítica desde 1874 e explora algumas das inovações técnicas do grupo, já 
evidentes em 1886, para além de uma apreciação demasiado contemporânea de 
seus inícios, como a de A. Pothey: “En 1874, une toile de Claude Monet, exposée par 
Durand-Kuel, portait en titre : Impression. Absolument neuve, cette peinture dérouta les 
critiques et faillit troubler le mijotement de leurs sir upe uses élucubrations [...]. Ils ergotèrent 
pour malmener 1’intrus ; ils émirent cette sentence: Claude Monet ne parvenait qu’à rendre 
1’impression, lui et ses adeptes étaient des impressionnistes et rien autre chose. Ee nom 
demeura. Par hasard il se trouvait exact. Car, différente des autres écoles dont l’art surajoute 
à la sensation perçue les données toujours incertaines de 1’expérience, celle-á veut reproduire le 
phénomène pur, l’apparence subjective des chosesP (p. 382-383) 

Aprofundando-se nesta ideia de Impressionismo como escola da abstração e 
do fenômeno, Adam equipara-o ao avanço da filosofia no estudo dos fenômenos, 




428 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


antecipando, de maneira visionária, suas relações futuras com a fenomenologia: 
“C’est une école ã’abstraction. Elle fuit 1’erreur imposée à notre esprit par 1’éducation de vingt 
siècles dualistes, qui créèrent hors nos sens 1’existence d’un monde objectif tout imaginaire. Ea 
philosophie moderne se convertità une substance unique, le phénomène-idée; les impressionnistes 
s’efforcent d’en traduire les plus caractéristiques manifestations. Rendre le prime aspect d’ une 
sensation visuelle, sans laisser 1’entendement dévoyer par la mâle Science de Poeil, la compliquer 
de traits hypothétiques; apprendre à voir, mais à voir exclusivement l’allure initiale des choses; 
conserver une cette vision et la fixer: tel le but de ces peintres analjstes (p. 383) 

Tal relação antevista pelo articulista merece uma discussão à parte (feita, parcial 
e restritamente, em nosso Capítulo 2). Adam fala inclusive na necessidade de 
abstrair “ 1’influence des enseignements transmis par atavisme, et poursuivre jusque sa formule 
la plus abstraite la subjectivité de 1’ aperception” (idem), o que relembra discussões 
sobre o tema como as de Husserl e Merleau-Ponty (embora ainda utilize termos 
tomados de Kant, talvez pela própria precocidade de seu texto, escrito dois anos 
antes do primeiro livro de Bergson). Em todo caso, o autor compara ao espírito 
analítico desta nova pintura a nova orientação da literatura, em um trecho longo, 
porém importante, como os anteriores: “Au mouvement analytique de la littérature 
nouvelle semble se combiner cette thèse d’art. Ea recherche excessive des móbiles qui maitrisent 
la vie humaine, la lutte des idées obervée [sic] parles psychologues et substituée à 1’action vaine 
et frust de l’ancien roman, le sensationisme méticuleux qui anatomise les sens des personnages 
jusqiden leurs éléments les plus simples; cela concorde bien avec la préoccupation picturale de 
rendre le phénomène pun [...] Ce n’est rien moins qu’une entière révolutionP (idem) Seria 
válido não apenas comentar tais linhas, mas, antes, reproduzi-las e divulgá-las, a 
fim de uma justa avaliação do Impressionismo enquanto movimento amplo das 
artes e do pensamento ocidental. 

Seguem-se observações pontuais sobre alguns dos expositores (dos quais exclui, 
prontamente, M. Bracquemond, H. Rouart, Tillot, Vignon e Schuffenecker), 
demorando-se em Guillaumin, Degas, Zandomeneghi, Gauguin, Forain, Cassatt, 
Redon, dentre outros. Dentre o grupo, destaca Camille Pissarro, Seurat e Signac 
como principais representantes de “la tendance définitive de l’art impressionniste.” (p. 
388) Entendendo, pois, o método analítico do Neoimpres sionismo como grau 
final do Impressionismo (e não seu desdobramento), Adam realiza uma síntese 
de diversos termos e conceitos então em ebulição; de fato, é o que se pode 
depreender de um trecho dedicado às “Des ModisteC de Signac, em que mescla 
a uma leitura vaga (e “impressionista”) da harmonia do azul na tela a presença 
do temperamento do pintor (à la Zola): “le coloriste s’est donné la joie d’exécuter une 
symphonie de bleu; ily en a partout, sur la tapisserie, dans les robes, dans le reflet des cheveux 
noirs, dans les ombres des papiers. Ea débauche d’un tempéramentC (p. 390) 

A conclusão, evidentemente, é uma síntese de excelentes percepções estéticas 
e de um vocabulário teórico ainda em desenvolvimento: “En resume cette exposition 
initie à un art neuf, éminemment remarquable par les bases scientifiques de ses procédés, le 
retour aux formes primitives et le soin philosophique de rendre l’aperception pureC (p. 390- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


429 


391) 


ADHÉMAR, Hélène; CLARK, Anthony M. Avant-propos. In: DIST EL , 
Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées 
nationaux, 1974. p. 29-31. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, 
Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

Nesta brevíssima apresentação de catálogo, os autores tecem uma rápida, 
porém válida, aproximação entre o personagem Coriolis, de Manette Solomon 
(Goncourt) e o paradigma então nascente do pintor impressionista — para além 
das adivinhações teóricas de Baudelaire e Thoré: “Nousy vqyons le peintre Coriolis 
rapporter d’Asie Mineure un Orient‘fin, nuancé, vaporeux, volatilisé, subtil’. Puis, ilfeuillette 
des albums japonais, il cherche la ‘lumière vraie’, le plein air, et aussi la beauté de la femme 
de Paris, la ‘physiognomie moderne’; à la fin de sa vie il ne peint plus que des oeuvres ‘de 
couleur exaspérée’ dans le Midi de la France. N’était-il pas par avance un impressionniste ? 
Fa prescience des Goncourt leur avait jait voir l’avenir de la peinture, de Manet et Monet à 
Van GoghP (p. 30) 

Para além desta reflexão, Clark e Adhémar apontam brevemente um conceito 
útil para o estudo do Impressionismo — o de “vibra tio n coloriste “I dl mpressionnisme, 
donc, ne dois pas se résumer seulement dans le sens de la modernité, ni dans le japonisme, ni 
dans 1’école de plein air, mais avant tout comme une vibra tion coloriste, exprimée par des 
touches de peinture juxtaposés et se jaisant valoir les unes les autresP (p. 30) Infelizmente, 
dada a extensão e a natureza do texto, os autores não desenvolvem tal sugestão, 
que poderia ser útil, em mais de um sentido. 


AMIC, Sylvain. Eblouissants reflets. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, Diederik; 
CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent chefs- 
d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 18-25. 

Embora seja o texto de apresentação para uma exposição de cem obras 
impressionistas no Museu de Belas Artes de Rouen em 2013, dois trechos que 
se referem à modernidade do Impressionismo podem ser úteis (para além das 
descrições dos demais artigos do volume, pressupostas neste tipo de texto). Para 
Amic, o símbolo da arte impressionista — o quadro “Impression: solei! levanf , de 
Monet — é também “ image métonymique de la nouvelle peinture, voire de l’art mo derne tout 
entierP (p. 20) A este respeito, destaca a exploração formal dos efeitos pictóricos 
proveninentes dos reflexos da água por pintores e fotógrafos da época como 
marca da modernidade por nascer, fluida e indefinível: “C’est là, dans cet espace de 
liberté, que peintres et photographes semblent Pattacher au plus près d’ um monde de lumière, 




430 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de matière et des couleurs, détaché ãu simple souci de fidélité au réel. Dans ces éblouissants 
reflets se trouve, em somme, le berceau de l’art moderne.” (p. 25) 


AURIER, Albert. Textes critiques 1889-1892: de 1’impressionnisme au 

symbolisme. Paris: Ecole Nationale Supérieure des Beaux Arts, 1995. 

Escritor ligado, sobretudo, ao movimento simbolista, além de importante 
crítico de arte no Mercure de France, de que foi cofundador, Aurier dedica algumas 
linhas ao estudo de Monet e Renoir. Sobre o primeiro, afirma ser não apenas 
um pintor, mas o sacerdote de um culto pagão ao sol, sob o templo fantástico 
da natureza: “ le grand peintre, qui sut, en nous traduisant excellemment les joies et les 
coruscations de ses seules visions, si souvent éblouir nos prunelles et égayer nos coeurs, le 
magicien qui sut voler, pour nous, les gemmes fabuleuses éparses dans la rutilante chevelure 
de la tête errante de Baal.” (p. 43) Sobre o segundo, aprecia a inocência de suas 
telas, bem como a consequente concepção pueril de mundo, que o toma por 
um “ immense et joli ba^ar à joueti ’: “Fe joli de Bxnoir, qui est le joli poussé au dernier 
degré de la mièvrerie, le joli par excellence et même le joli impossible, devient prodigieusement 
intéressant, d’abord par son excès même et ensuite parce qu’il est, en quelque sorte, un joli 
philosophique, un joli symbolique, de son âme ddrtiste, de ses idées, de ses compréhensions 
cosmologiques...” (p. 45) 

Percebe-se, pois, a superinterpretação das obras impressionistas (no caso, 
especificamente as de Monet e Renoir) a partir do olhar enviesado do crítico. 
Não seria outra, aliás, a conclusão pessoal de Aurier, que compara Renoir 
ao mítico des Esseintes, de Huysmans, aproximando sem cautela elementos 
impressionistas e simbolsitas: “N’est-ce point un cas paradoxal et déconcertant que celui 
de ce peintre, vraiment candide comme un enjant, et pourtant si compliqué, qui a, mais lui 
sans nulle vicieuse préméditation, des goüts d’ artificiei dignes du subtil des Esseintes, de ce 
peintre ingénu et narf, sachant par je ne sais quelle révélation des philosophes aussi raffinées, 
de cet un peu crédule sceptique, tout instinctif qui, si intuitivement convaincu de la futilité de 
la vie, de la vanité de la femme, de 1’illusoire du monde, loin de tomber, pour cela, dans l’aigre 
pessimisme, s’égaie au contraire de ces choses, glorifie leur futilité, leur vanité, leur illusoire, 
et, heureux aux larmes, les proclame les très admirables, três précieux et três jolis joujoux 
nécessaires aux enfantines récréations de son âme...” (p. 48) 


BERSON, Ruth. The newpainting: impressionism 1874-1886. São Francisco: 
Fine Arts Museum of San Francisco, 1996. v. I 

Obra publicada em dois volumes. O primeiro, “Documentation. Eevieivs ” , 
consiste do compêndio mais completo dos textos contemporâneos às exposições, 
constando de reprodução dos catálogos e das respectivas resenhas e textos 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


431 


críticos, quase todos na íntegra. Já o segundo volume refere-se à “ Documentation . 
Lxhibited Works \ e traz a lista detalhada de obras expostas em cada uma das 
oito exibições, seguidas de reproduções de miniaturas das telas, esculturas etc. 

Ainda que alguns de seus textos tenham sido discutidos individualmente no 
presente anexo (tirados do presente volume, ou de coletâneas como as de Riout 
e Bonafoux), trata-se de item essencial para o levantamento da fortuna crítica 
do impressionismo pictórico em sua totalidade. Recomendamos, a esse respeito, 
a leitura das crônicas de Louis Enault, Charles Bigot, Roger Baliu, Frederic 
Chevalier e Charles Morice, Celen Sabbrin, Jules Desclozeaux, Gustave Kahn, 
Charles Vignier, Paul Adam, Octave Maus, Jean Moréas, Jean Ajalbert, Jules 
Cristophe, Arsène Alexandre, Paul Alexis, Marcei Fouquier, dentre tantas outras. 


BERTA LL . Exposition des indépendants. Ex-impressionnistes, demain 

intentionnistes. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 

1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 143-146. 

Neste artigo de junho de 1879, publicado em L’ ar tis te e a propósito da quarta 
exposição impressionista à Avénue de 1’Opéra, Bertall (pseudônimo de Charles- 
Albert d’Arnoux) desenhista e caricaturista de renome, além de responsável 
por diversos textos jocosos na imprensa da época, satiriza a constante troca 
de autodenominação dos pintores impressionistas: “Les impressionnistes ont 
jété au panier leur nom de l’an dernier Cette année, ils s’intitulent indépendents, quitte à 
changer de nom 1’année prochaine si le nom d’ indépendants ne leur réussit pas mieux que 
celui d’impressionnistes. Au demeurant, ce sont les mêmes. On peut dire d’eux aussi: ils 
n’ont rien oublié et rien appris, rien qu’un nom nouveau.” (p. 143) Igualmente, detrata a 
figura «interesseira» de Manet e a suposta independência de Caillebotte, pautada 
apenas no dinheiro: “Disons, tout d’abord, que M. Manet, premier inspirateur de ce 
groupe curieux, n’est autre quun opportuniste. [...] M. Caillebotte, jeune homme charmant 
et des mieux élevés, est à la tête d’ une centaine de mille francs de rente: ilj a là de quoi assurer 
à tout jamais 1’indépendance. (p. 144) Ironiza, a seguir, diversas telas expostas, e 
conclui, não menos ácido: “ Somme toute, il règne dans cette exposition une folie douce et 
aimable, qui n 'est point dangereuse et sert à faire vivre les douleurs, les marchands de toile et 
de couleur. Veut-être est-ce là le but philanthropique caché sous ces petites fantaisies soi-disant 
artis tiques.” (p. 146) 


. Exposition des impressionnalistes, rue Le Peletier. In : BONAFOUX, 

Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Sellters, 2008. p. 155-158. 

Em um artigo publicado no jornal Le soir a 15 de abril de 1876, escrito a 




432 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


propósito da segunda exposição impressionista, Bertall descreve, à la Louis 
Leroy, uma conversa com um imaginário Dr. X, que o acompanha em sua visita 
pela exposição. Em tudo semelhante ao artigo do mencionado Leroy, que lhe 
serve de paralelo em muitos sentidos, Bertall ataca os quadros vistos na ocasião: 
“Dans des cadres ruisselants d’or étaient suspendus des ébauches bfrarres, des contournements 
grotesques, des fracas de couleur sans forme et sans harmonie, sans perspective et sans dessin. 
Çà et là cependent des morceaux fins, d’un concert juste et vrai, au milieu de fantaisies 
grotesques, nées dans des cerveaux malades .” (p. 155) O autor teoriza ainda, por meio 
do Dr. X (espécie de Vincent mais racional), o motivo pela qual os mesmos 
pintores expõem suas fantasias, observando nisto um golpe publicitário feito 
para chocar e atrair o interesse geral. Assim : “ II ne passera pas un individu devant 
une toile ainsi peinte, sans s’arrêter étonné, quelques-uns riront à gorge déplojée. Tant mieuxl 
Tous demanderont notre nom, au bout de quelque temps tout le monde le saura .” (p. 156) 

É, pois, com notória incompreensão que Bertall descreve o projeto comum 
dos pintores que chama de “ impressionalistei ’ , usando (talvez pela primeira vez) 
este termo que parece criado com o propósito de distorcer ainda mais o original 
e hostil “ impressionnistei ’ de Leroy. Ademais, Bertall inverte a lógica de exclusão 
imposta aos pintores pelo Salon, julgando como trabalhadores honestos os fiéis 
seguidores dos princípios acadêmicos, e, por oposição, como aproveitadores 
e calculistas os pintores independentes. Está claro que Bertall arbitrariamente 
ignora o fato de serem os últimos impedidos de concorrerem aos prêmios 
reservados aos primeiros, além de estarem expostos, por consequência desta 
mesma exclusão, ao predatismo dos marchands , sob o espectro renitente da 
miséria. 

Uma alternativa reprodução — também integral — deste texto pode ser 
encontrada em Bonafoux (2008). 


BLAVET, Émile. Avant le Salon: Fexposition des réalistes. In: BERSON, Ruth. 

The new painting: impressionism 1874-1886. São Francisco: Fine Arts 

Museum of San Francisco, 1996. v. I. p. 62. 

Publicado originalmente em Le Gaulois a 31 de março de 1876, trata-se de 
artigo escrito a propósito da segunda exposição coletiva, em que o cronista 
salienta a continuidade do projeto realista de Courbet pela nova geração: “Depuis 
vingt ans que Courbet a donné cette notte dissidente, elle s’est ajfirmé vigoureusement. [...] En 
dehors de toute considération artistique, n ’est-il pas consolant, au landemain de nos désastres, 
de voir une jeune génération, pleine de vie et de rêve, sacrifier à cette conviction proclamée un 
succès souvent injuste, parfois même la gene, pour soutenir une idée dont elle a fait un article 
de foi?’’ (p. 62) 

Para Blavet, a reunião do grupo “realista” numa exposição isolada do Salon , 
pela segunda vez (lembre-se o fato de que apenas em 1877 a exposição seria 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


433 


declaradamente “impressionista”), representa uma prova de liberdade necessária 
para as novas gerações. 


B LE MONT, Émile. Les impressionnistes. In: BERSON, Ruth. The new 
painting: impressionism 1874-1886. São Francisco: Fine Arts Museum of 
San Francisco, 1996. v. I. p. 62-64. 

O presente texto, publicado originalmente no jornal Le rappel (09/04/1876) 
e reimpresso parcialmente em Le moniteur universel (11/ 04/ 1 876), representa um 
compte rendu da segunda exposição impressionista bem diverso do de Blavet. 
Para si, trata-se de um grupo impressionista (não realista), muito embora não saiba 
dizer ao certo o que o termo significa: “O/dest-ce qu’un peintre impressionniste ? On 
ne nous a guère donné de définition satisfaisante; mais il nous paraít que les artistes qui se 
réunissent ou qu ’on réunit sous cette qualification, poursuivent par divers modes d’éxecution 
un but analogue: rendre avec une sincérité absolue, sans arrangement ni atténuation, par des 
procédés simples et larges, l’impression éveillée en eux par les aspets de la réalitéP (p. 62) 
Assim, diversos dos realistas, tais pintores não imitam a natureza, mas 
traduzem-na, interpretam-na: “Ils sont sjnthétistes et non analjstes, et ils ont en cela 
raison, crojons-nous; car si 1’analyse est la méthode scientifique par excellence, la sjnthèse est 
le vrai procédé de 1’artL (p. 62-63) Tal opção, que leva tais pintores, por vezes, a 
“ solécismes regettables et des gros barbarismes” , proporciona uma liberdade inegável. 

(P- 63) 

Segue-se uma descrição de obras individuais expostas (Lepic, Millet, 
Desboutin, Monet, Renoir, Morizot [sic], Caillebotte, Degas, Pisarro [sic], 
Béliard, Ottin, Cais e Jacques-François), concluída por um elogio geral à crítica 
do movimento à tutela estatal da arte: “II j a là un bon mouvement qui s’accentue avec 
une certaine autorité. Nous espérons que le succès de cette entreprise de libre initiative aura une 
heureuse influence [...] et contribuem à ébranlerle ridicule sjstème de partialité accablante et de 
protection à outrance, par lequel l’Etat tient l’art en tutelle à perpétuitéP (p. 64) 


BONAFOUX, Pascal. Passions impressionnistes. In: (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
17-19. 


Neste prefácio ao livro organizado por si, Bonafoux relembra a polêmica 
instituída ao redor do grupo de pintores que, em 1874, evitavam todos os 
rótulos, e, a partir de 1877, aceitaram a algunha de «impressionistas», cunhada 
originalmente por Leroy: “d est ainsi que des peintres qui ont tout jait pour éviter de 
passer pour une ‘école’ ont été considérés, dans le regard des autres, et malgré eux, comme un 
mouvementP (p 17) Citando diversos outros críticos e intérpretes do movimento, 




434 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Bonafoux confessa a necessidade de agrupar, em um único volume, o conjunto 
de manifestações pró e contra o Impressionismo, dada a profusão e diversidade 
de textos críticos sobre o assunto. Para si, esta é a forma mais direta de 
surpreender, ao longo dos anos, a construção e consolidação das principais 
linhas da estética em questão: “ Or ; qui avaitpu mieux 1’exprimer alors que ces écrivains, 
poetes, romanciers et critiques encore — ou aussi — qui tentaient de rendre compte de ce qu’ils 
découvraient? [...] II ' fallait donc un livre qui retrouve ces textes et leur esprit, et les replace en 
face des oeuvres qui les avaient inspires D (p. 18) 

Tal é o projeto de Corresponãances impressionnistes e de Du côté des peintres, 
dois volumes que devem ser vistos conjuntamente. No que diz respeito ao 
primeiro, trata-se da reprodução direta de textos críticos de difícil acesso, a par 
da reprodução dos quadros por ele comentados, ao longo de quatro períodos 
distintos: 1855-1863, ou da Exposição Internacional de 1855 ao Salon des rejusés\ 
1864-1874, ou de Olympia à primeira exposição impressionista; 1875-1886, ou do 
primeiro leilão à ultima exposição; e 1887-1901, ou da Exposição Internacional 
à entrada de Olympia no Louvre. Já no que toca ao segundo volume, trata-se de 
uma coletânea de cartas, diários, memórias e entrevistas dos pintores e de seus 
íntimos, organizadas em um texto corrido, e em subtópicos, por Bonafoux: 
“ Ainsi ce livre donne non seulement à voir mais aussi à écouter— et à entendre — les peintres 
êux-mêmes et ceux qui les accompagnèrent. Le premier réinvente son actualité. Le second 
révèle la lucidité, la jougue et le patient courage qui furent les leurs (p. 19) 

Por razões especificadas na Nota Introdutória a este Anexo, foram comentados 
textos extraídos, em sua grande maioria, dos dois últimos períodos em questão. 
Igualmente, pelas mesmas razões, o texto Du côté des peintres foi excluído deste 
Anexo. 

Recomenda-se, pois, fortemente a leitura destes dois volumes (sobretudo do 
primeiro), não apenas como introdução, mas também como guia de leitura para 
uma maior compreensão dos pontos de semelhança e diferença entre os muitos 
intérpretes do Impressionismo. 


. Ldmpressionnisme et les malentendus. In: GENGEMBRE, Gérard; 

LE CLERC, Yves; NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et 
littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
37-43. 

O autor inicia seu artigo com uma posição polemica: para si, o impressionismo 
é um mal entendido. Porém, a seguir, cita apenas chistes e desentendimentos 
entre pintores, literatos e jornalistas da época, sobretudo na ocasião da primeira 
exposição do grupo. Parece esclarecer o mal entendido apontado ao citar, nas 
linhas finais, a decisão de Renoir por manter o rótulo impressionista na exposição 
de 1877 como forma de afronta ao gosto médio do público, simbolizado pelo 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


435 


termo depreciativo de Leroy. Sem mais, encerrando o artigo, conclui Bonafoux: 

“Les choses sont enfin claires: le mot ' impressionniste ’ n’a jamais designe que ce ‘genre de 
peinture’ que l’on n’aime pas. Comment ne pas se demander, maintenant, que ce ‘genre de 
peinture ’ estaimé plus quaucun autre, de quel malentenãu il peut bien s’agir ?...» (pg. 42) 


BOURGET, Paul. Deux paradoxes d’un demi-savant: Paradoxe sur la musique, 

r 

paradoxe sur la couleur. In: . Etudes et portraits d’écrivains et 

notes d’esthétique. Paris : Plon, 1905. p. 259-273. 

Interessa-nos, sobretudo, o texto “ Paradoxe sur la couleur v dentre os dois que 
compõem o capítulo citado, originalmente publicado enquanto crônica do jornal 
Ee parlement , de 14 de abril de 1881. Trata-se de uma narração bem-humorada, 
muito provavelmente inspirada na famosa crônica de Louis Leroy, de um 
diálogo com um personagem exótico e “demi-savant”, espécie de “Pèré” Vincent 
que se põe a examinar os quadros da exposição do grupo impressionista no 
Boulevard des Capucines. Compara-se as manchas de cor com “ la décomposition 
presque barbare de 1’adjectif et du substantij ’ (pg. 271) na obra de J.-K. Huysmans, 
com a velocidade da vida moderna e das pessoas vistas por detrás das janelas 
de um tramway etc. No todo, é palpável a incompreensão de Bourget acerca 
do impressionismo (em qualquer arte), colocando sua defesa na boca de um 
“ inconséquenf (pg. 273). 

Para uma reprodução alternativa deste texto, cf. Riout (1989). 


BRETTELL, Richard Robson. Impressionnisme et cinéma. In: RAMOND, 

Sylvie (Dir.). Impressionnisme et naissance du cinematographe. Lyon: 

Musée des Beaux Arts, 2005. p. 191-199. 

Incerto da relação imediata entre os dois termos em questão, o autor 
reflete, inicialmente: “ Uobjetif que l’un n’était fixe a été réalisé, semble-t-il, par 1’ autre. 
U impressionnisme est-il un cinema frustré ? Ou bien ce mouvement pictural complexe du 
dernier quart du XIXe siècle préfigure-t-il tout simplement le cinéma?'’ (p. 193) E, a seguir, 
elenca as duas questões que julga as mais desenvolvidas nos estudos sobre o 
impressionismo — o movimento e a mudança — como elementos comuns a 
ambos, ao menos a princípio. 

A respeito do movimento, compara à rápida representação das figuras 
pelas telas impressionistas o viés narrativo do cinema: “ C’est comme si le peintre 
déambulait dans la rue armée d’un cadre vide, avant de déciderdu cadrage de sa représentation. 
Cependant, ce qui est vital pour le cinéma, c’est la narration, sous la forme de ‘cadres’ ou 
d u images’ organisées selons des séquences auxquelles on croít et qui sdgglomèrent pour créer 
une histoire. En dépit du fait qu’ils [retrato do Visconde Lepic, de Degas ; e «Pont 




436 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de 1’Europe», de Caillebotte] présupposent un flux temporel, aucun des ces deux tableaux 
ne donne une forme narrative à ce flux. lis sont destinés, de manière flagrante, à neutraliser 
la tendance qu’a le spectateur à créer des histoires — ou, du moins, à l’en dissuader . :” (idem) 
Sobre o movimento de rios, folhas, nuvens etc., limita-se a dizer que remonta à 
tradição pictórica, não constituindo um problema exclusivo ao Impressionismo. 

Sobre a mudança, destaca sua dimensão política e sua inegável modernidade, 
pautada no amplo deslocamento de pessoas e ideias: “E’idée de n’être pas à sa place, 
d’avancer à 1’aveuglette, d’être en un endroit inforfortable, d’être assis près de gens qu ’on ne 
connait pas, de partir en vacances sous 1’eflfet d’ une publicité, d’acheter un billet afin de voir un 
spectacle urbain [...]: cette liste pourrait faire des milliers des pages. Tout ceci est déplacement. 
Et presque tout dans 1’impressionnisme et dans le ánéma révèle la beauté de cette forme 
d’ aventure des plus modernes .” (p. 195) 

A seguir, cita passagens de E’éducation sentimentale , de Flaubert, e Thérèse 
Raquin, de Zola; retoma o parecer de Hauser, segundo o qual o impressionismo 
e o cinema são dois exemplos picturais da modernidade capitalista (embora o 
primeiro seja estático e o segundo dinâmico); e relembra-se de uma conversa 
com James Lapine. Tudo, enfim, para dizer que, ao contrário de Hauser, 
considera as telas impressionistas como antinarrativas por uma razão particular: 
“ Ainst ', les constructions temporelles impressionnistes tendent vers l’antinarratif, mais pas de 
la manière dite par Hauser. Eoin d’être des ‘spectateurs passifs’, nous devenons des ‘peintres 
spectateurs’ incarnés sous la forme de flâneurs dans les histoires anonymes de la vie moderne. 
Par conséquent, c’est nous qui créons la narration par 1’acte de regarder et devenons presque 
ce que les anthropologues appellent des ‘observateurs participants’, plutôt que des spectateurs 
omniscients, imaginant des désirs fantasmés chet ? nos sujets humains. Malgré ses motivations 
temporelles, 1’impressionnisme est donc le contraire du cinema qui raconte une histoire. 11 
entretient des liens plus forts avec la photographie ou avec les ‘ images ’ cinématographiques 
qidavec le ánéma narratif proprement clitP (p. 199) 

Neste sentido, Brettell responde a possível relação entre estas duas estéticas 
(artes) pela negativa. Para si, é apenas pela profunda inspiração temporal da 
retórica impressionista que se pode mesmo cogitar a hipótese de tal aproximação. 


. Impressionnisme et nationalisme: 1’exemple américain. In: 

BOURGUIGNON, Katherine M. (Dir.). LTmpressionnisme et les 
américains. Paris: Hazan, 2014. p. 14-21. Catálogo de exposição, Musée des 
Impressionnismes, 28 mar. — 29 jun. 2014, Giverny; 19 jul. — 19 out. 2014, 
National Galleries of Scotland, Edimburgo; 4 nov. 2014 — 1 fev. 2015, Museo 
Thyssen-Bornemisza, Madri. 

De início, Brettell comenta a estranheza em falar de um possível 
“impressionismo americano” ou mesmo de um “impressionismo francês”: “ le 

nationalisme exclut généralement 1’idée de ‘modernité’, et s’il existe une première manifestation 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


437 


de la moãernité artistique, c’est bien l’impressionnisme .” (p. 14) Para tanto, relembra que 
um adjetivo recorrentemente aplicado à discussão sobre o Impressionismo é o 
de “cosmopolita”, diametralmente oposto à ideia de nacionalismo artístico. 

Aprofundando-se nesta questão, Brettell, a partir de E. Gellner e B. Anderson, 
afirma ser tal orientação cosmopolita uma das possíveis razões da rejeição 
geral do público parisiense quando de seu surgimento, em 1874. Relembra 
também o caldeirão de nacionalidades envolvidas nas exposições do grupo, 
que desmentem a raiz supostamente francesa do Impressionismo: o britânico 
Sisley e o dinamarquês Pissarro; os italianos Zandomeneghi e de Nittis; a 
americana Mary Cassatt; as muitas experiências do marinheiro Gauguin (Peru, 
Taiti) etc. Não obstante, sublinha o sucesso geral do Impressionismo ante os 
colecionadores e amadores estrangeiros, e a contribuição destes para a aceitação 
da nova pintura na França. 

A seguir, pergunta-se se o Impressionismo foi um movimento ou um grupo: 
“ Historiquement \ il s’agissait plutôt d’un ‘groupe des gr o upes’: en effet, les huit expositions 
impressionnistes organisées de 1874 à 1886 par la Société anonyme des artistes peintres, 
sculpteurs et graveurs présentèrent chaque fois des artistes différents, même si certains 
participèrent à plusieurs d’ entre elles. [...] Pour certains membres en effet, l’impressionnisme 
était davantage un mouvement qu’un groupe. Selon eux, il se définissait non seulement par un 
style et une conception de rexécution, mais aussi par une posture d’avant-garde opposée à l’art 
‘officiel’ ou ‘académique’.” (p. 16) E sintetiza, de maneira coesa: « Uimpressionnisme 
tel qu’il a existe en France était donc un groupe à la recherche d’un mouvement durable et 
stylistiquement cohérent — mais qui échoua.» (idem) 

Embora seja, pois, «um grupo em busca de um movimento», definir em um 
só termo o Impressionismo não é tarefa fácil; e, apesar das simplificações dos 
manuais de história da arte, “les contemporains qui allaient voirles expositions du groupe 
ou lisaient des comptes rendus de ces expositions dans les années 1870 et 1880 savaient 
que rimpressionnisme n ’ était ni un style homogène ni un mouvement cohérent. Pour eux, 
il s’agissait d’un groupe d’ artistes qui, pour différentes raisons et de différentes manières, 
refusaient la domination du Salon et de la culture promue par 1’Etat dans leurs vies et leurs 
carrières .” (idem) 

Feita esta ressalva — que dispõe a questão, novamente, em termos negativos 
e provisórios — , Brettell cita pintores americanos próximos ao Impressionismo: 
Whistler (que aproxima, antes, de Courbet e Manet); Mary Cassatt (única que 
considera verdadeiramente uma “impressionista americana”); John Singer 
Sargent (de quem destaca não apenas seu sucesso nos salons e sua deferência 
para com Carolus-Duran, mas também sua intimidade com Monet) e George 
Inness (pintor já estabelecido e de duas gerações anteriores, de quem destaca 
a atenção às novidades do grupo). E diz, por fim: “ Dès 1890, aux Etats-Unis, il 
était impossible d’avoir une ‘culture artistique’ et de ne pas connaitre 1’impressionnisme d’ une 
façon ou d’ une autrel ’ (p. 20) 

Em suma, muito embora se trate aparentemente de um texto sobre o 




438 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Impressionismo nos Estados Unidos (portanto, específico e limitado), o 
presente ensaio de Brettell contém valiosas reflexões de conjunto sobre os 
muitos propósitos — e as consequentes dificuldades de definição — do grupo 
impressionista (“um grupo em busca de um movimento”). 


. Impressions: peindre dans 1’instant, les impressionnistes en 

France 1860-1890. Trad. Jean-François Allain. Milão: Hazan, 2000. 

Antes de debruçar-se em estudos individuais sobre os pintores ligados ao 
impressionismo (Manet, Monet, Morisot, Renoir, Sisley, Degas, Caillebotte, 
Pissarro e Van Gogh, nesta ordem), Brettell investiga o sentido originalmente 
revolucionário do termo, derivado estrategicamente de “impressão”. Opondo- 
se à leitura marxista de Hauser, para quem o impressionismo é a forma vitoriosa 
de uma sociedade capitalista e individualista (provada pelo enorme sucesso de 
exposições e leilões de quadros nas grandes capitais do mundo), Brettell salienta a 
centralidade do conceito de impressão para o entendimento do impressionismo, 
observando na falta de discussão do mesmo — inclusive na falta de reflexão do 
conceito na própria organização das exposições — a causa principal para os 
desentendimentos e polêmicas entre críticos. Entendido muitas vezes como 
sinônimo de incompleto ou de mal sucedido, a agilidade e instantaneidade da 
impressão apontam antes para “ 1’évocation d’une corresponãance esthétique entre le 
temps représenté et le temps de la représentation, um lien symbiotique entre le style et le sujet, 
la qualité rapide ou précipitée du premier venant renforcer les qualités corre spondantes du 
secondP (p. 17) Destaca para tanto condições diversas: a separação dos quadros 
uns dos outros nos ambientes escolhidos por Durand-Ruel, ao contrário dos 
Salons, além de sua luminosidade natural; o fascínio paradoxal dos “ esquissei ’ e 
“ étudei ’ sobre o público de 1874 como algo completamente novo e desajustado 
aos padrões tradicionais; o papel importante de antecessores como Fragonard e 
Boilly na performatização do trabalho do pintor e no elogio do tempo reduzido 
de execução dos quadros (visto até então como sinônimo de falta de apuro); a 
recorrência da “pintura direta”, i.e., “ d’ une peinture oü 1’artiste a travaillé alia prima, 
c’est-à-dire directement sur la toile sans p as ser par des é tapes intermédiaires [...], telle qidelle 
attire 1’attention du spectateur sur la nature du processus pictural autant que sur le sujet 
représenté ’ (p. 35), sem o auxílio de croquis ou de esboços; a influência marcante 
dos pintores de Barbizon, como Rousseau, Daubigny e Corot, na gestualidade 
imanente à técnica e aos temas impressionistas; o papel decisivo da fotografia, 
mediado pela perda das “fonctions documentaires et référentielles de la peinture, du dessin 
et de destampe ” (p. 57), e pelo interesse crescente dos pintores em fenômenos que 
as fotografias de então não conseguiam reproduzir com clareza, como “ le vent, 
les nuages et autres phénomenes atmosphériques éphèmerei ’ (idem); o vago e a ausência 
de contorno como referências ao movimento e à “ instantaneité du sujet [...] lié au 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


439 


tempo rapide de la mode et de la machine ” (p. 62) etc. Finalmente, Brettell sintetiza 
suas observações em uma tentativa de definição do conceito de impressão, parte 
central de seu texto : “Une impression serait une oeuvre qui: I o prend naissance sous la 
stimulation directe d’un motif choisi par l’artiste ; 2 o prend forme sans plan clairement défini 
quant à son apparence définitive ; 3 0 laisse voir clairement les matériaux utilisés et n ' 'occulte pas 
les processus qui entrent dans son élaboration ; 4 o est composée dans un langage gestuel propre 
à 1’artiste et essentiel pour 1’ apparence de 1’ oeuvre ; 5 o semble avoir été exécutée rapidement ; 6 o 
est considerée comme achevée par 1’artiste parce que celui-ci Va signée ou exposée. Uimpression 
est donc une oeuvre ouverte ou informelle dont la structure doit être découverte en grande 
partie par le spectateur lui-même et qui est importante moins par sa relation avec le motif 
que parle sentiment de vitalité et d’ immediateté qu’elle dégage. C’est un acte de répresentation 
performatif qui s’ exprime avec de la peinture à l’huile appliquée directement sur la toile au 
moyen des gestes discontinus. Elle enregistre une série d’actes concentrés dans le temps tout 
autant qu’elle représente un motif ” (p. 64) 


. Le paysage impressionniste et 1’image de la France. In: LACLOTTE, 

Michel et al. L’Impressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion 
des musées nationaux, 1985. p. 22-39. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984- 
16 set. 1984, Los Angeles County Museum of Art; 23 out. 1985-6 jan. 1985, 
The Art Institut of Chicago; 4 fev- 22 abr., Galeries Nationales du Grand 
Palais, Paris. 

Compreendendo a paisagem como gênero verdadeiramente nacional da 
França, além de meio privilegiado de busca por uma identidade coletiva ao 
longo do século XIX, Brettell julga ser a paisagem impressionista em particular 
“la force la plus importante de tout l’art français, voire même international.” (p. 25) Para 
tanto, destaca a importância crescente de Paris e da Ile-de-France entre os 
séculos XVII e XIX como centro político e cultural do país, responsável pela 
unificação nacional e pela criação de um imaginário coletivo, mesmo em regiões 
afastadas (e até hoje sensíveis a um discurso descentralizador) como a Bretanha. 
Assim, os desenhos do jardim de Versailles por Le Notre (1668), os mapas 
encomendados pelo Ministério da Guerra (1879) e os quadros de monumentos 
históricos de François Blin e Jean-Baptiste Corot podem ser vistos como 
diferentes contribuições para a construção de um imaginário coletivo, por meio 
da representação e do elogio ao território comum. 

Por outro lado, a respeito do distanciamento ideológico entre os impressionistas 
e a paisagem histórica, Brettell diz: “En éliminant les grands monuments du centre 
de leurs paysages, les Impressionnistes préconisaient une doctrine consáemment moderne 
et anti-historique qui voyait la France comme un pays tourné vers 1’avenir et non vers un 
passé glorieux, quoique mouvementéF (p. 29) Inversamente, ocupados com a vida 
cotidiana, urbana ou rural, “ces peintres ont marqué une nette préférence pour une histoire 




440 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


des humbles, ãu peuple plutôt que pour celle des institutions (p. 30) Parece escusado 
enfatizar o apelo direto de tal abordagem da vida coletiva ao público, ou mesmo 
a presença de um (evidente) nacionalismo, ainda que despretensioso. 

O autor enfatiza ainda diversos outros elementos: a presença do homem e de 
seu tabalho nas paisagens impressionistas, por oposição à paisagem dos pintores 
de Barbizon; sua recusa de grandes viagens rumo a locais distantes, longe de 
“un monde domestiqué, eq ui libré, oü toutes les formes se complétaient les unes les autres ” (p. 
32); sua contemporaneidade ao início das grandes massas turísticas na França e 
em toda a Europa; suas semelhanças para com a percepção dos viajantes de um 
trem, apresentados pela primeira vez à rápida sucessão de paisagens etc. Assim, 
conclui: “Leurs oeuvres prouvent qidils avaient un pie d de chaque côté de ce qui semblait 
être un moment transitoire entre 1’histoire et la vie moderne, entre un monde aux modeles bien 
definis et celui oü l’on évoluait d’instinct, incertain de 1’avenir. Si leurs tableaux montrent un 
certain optimisme, presque une nécessité, cette qualité fut péniblement acquise, elle fut arrachée 
à une nature en mutation .” (p. 39) 


. Peindre pour le marché. UImpressionnisme et les collections privés. 

In: Les impressionnistes en privé: cent chefs d’oeuvre de collections 
particulières. Paris: Musée Marmottan Monet; Hazan, 2014. p. 17-29. 
Catálogo de exposição, 13 fev. — 6 jul. 2014, Musée Marmottan, Paris. 

Discutindo a relação entre o Impressionismo e o mercado, Brettell retoma 
o contexto da organização da terceira exposição impressionista por Caillebotte 
(i.e., a primeira em que os propósitos estéticos do grupo tornam-se mais 
pronunciados), bem como sua intenção de tornar mais concisa a outrora 
numerosa reunião de artistas (30 em 1874, 19 em 1876 e, enfim, 18 em 1877). 
Com acuidade, Brettell salienta também a importância da escolha do local — um 
apartamento alugado especificamente para a exposição, em lugar das galerias 
e ateliês (vide os de Nadar e Durand-Ruel, utilizados para as duas primeiras 
exposições) — como prova mais ou menos determinante da orientação 
mercantilista da nova pintura: “ Cette décision, probablement prise parce que la galerie 
Durand-Ruel n ’était pas disponible pour la période d’un mois requise, n ’ en est pas moins 
extraordinaire sur le plan du pur marketing, car les collectionneurs potentiels pourront voir les 
tableaux dans des espaces três comparables à leurs propres intérieurs. [...] Mais l’idée même 
d’organiser une exposition dans un appartement privé est révolutionnaire. Les impressionnistes 
prennent consáence qu’ils ne fontpas de Tartpour 1’art’, mais de 1’artpourle marché de l’art, 
et ils savent que leurs acheteurs les plus probables sont les membres de cette nouvelle classe aisée 
qui contribue à 1’édification du nouveau Paris.” (p. 18-19) 

Neste sentido, Brettell supõe certa consciência mercantilista nos pintores 
impressionistas, supostamente atentos ao cotidiano e à visão de mundo do 
público burguês que procura atingir. Como segunda prova, indica a prática 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


441 


de emprestar quadros a colecionadores famosos (Théodore Duret, Georges 
Charpentier, Georges de Bellio, Ernest Hoschedé, Henri Rouart, dentre 
outros) de forma a incluir no catálogo suas iniciais ou nomes, e, assim, atrair 
compradores potencialmente indecisos. E relembra, enfim, o poder completo 
da Academia e dos salons como razões mais imediatas para tais práticas: “Dans 
ces conditions, les artistes d’avant-garde qui prétendent bouleverser le monde de l’art en France 
peuvent difficilement attendre une reconnaissance officielle sous quelque forme que ce soit. Pour 
le groupe impressionniste à ses débuts, en 1874, Fétaient donc les collectionneurs privés et les 
galeristes, ou rien .” (p. 20) 

Dentre os compradores, o autor destaca a importância de estrangeiros a 
partir de meados de 1886 (ingleses, alemães e, sobretudo, americanos) como 
parte da divulgação mundial da pintura impressionista, que muito dificultou, em 
seu início, o trabalho de seus primeiros estudiosos fForsque paraissent les premiers 
livres et essais sur 1’impressionnisme dans les années 1920 et 1930, le mouvement est encore 
essentiellement privé.” (p. 21) 

Assim, a relação entre os museus e o colecionismo privado atinge, no caso 
do Impressionismo, seu ápice: “ Aujourd’hui encore, quand on parcourt les salles 
impressionnistes à Boston, New York, Philadelphie, Washington ou Chicago, Pest pourj lire 
la litanie des noms des collectionneurs ou des donateurs: Cabot, Rogers, Cochrane, Havemejer, 
Tyson, D ale, Rejerson, Bartlett ou Palrnen [...] Fn Amérique, même 1’impressionnisme des 
rnusées est une affaire privée. 11 en est de même en Europe avec Courrauld, D avies, Burrell, 
Kessler, Krõller-Müller, Nahnloser, Reinhardt, Hansen et Ton pourrait prolonger cette liste 
de noms associés aux collections publiques du continentl ’ (p. 21-22) Como aponta, os 
únicos museus que fizeram compras públicas de obras impressionistas foram 
os de Munique, Berlim e Londres (Tate Gallery), sem que se incluam nesta 
lista os museus franceses, conservadores e alheios ao Impressionismo fquand 
on traverse aujourd’hui les salles du musée d’Orsay, force est d’admettre que la collection 
impressionniste, d’importance mondiale, n ’ existerait pas sans Caillebotte, Moreau-Nélaton, 
Gachet, Personna % Walter Guillaume et bien d’autres” , p. 22) 

Sem mais delongas, Brettell deixa claro o sentido da revolução impressionista 
no mercado: a transferência da relação entre preço e valor do plano estatal 
(como realizado nos salons pela distribuição de prêmios e medalhas) para o plano 
privado: “ce sont les marchés privés et dérégulés qui créent la valeur de l’art moderne, et [...] 
c’est précisément le sens de la révolution impressionniste. [...] Ta domination actuelle de Tart 
par le marché privé trouve donc ses origines dans les années 1870.” (p. 23) Lentamente, 
a arte transforma-se em um terreno especulativo, como o imobiliário, e atrai 
pessoas para quem seu valor artístico interessa menos que seu poder de revenda. 

De qualquer forma, o autor considera tal concepção liberal de mercado como 
núcleo da cosmovisão impressionista: “cette idée va s’introduire dans le coeur de leur 
esthétique, car la vente directe au consommateur va changer la vision du monde des artistes 
et, par conséquent, la nature de leur production. [...] Fn effet, son imagerie et ses inventions 
formelles se rattachent à ces traditions [pintura holandesa do século XVII e pintura 




442 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


inglesa de paisagem do século XVIII] cVun art libre et profonáément làic, que le public 
peut aborder sans formation particulière .” (p. 24) Neste sentido, o abandono de temas 
mitológicos e históricos corresponde à generalização e secularização do ensino, 
com apelo imediato para os prazeres simples do cotidiano da burguesia. E, com 
isto, o profundo individualismo das telas impressionistas erige-se em mínimo 
múltiplo comum da nova pintura: “Le caractere le plus remarquable de rimpressionnisme 
en tant que mo de de représentation, c’est son individualisme profond; chaque artiste a une 
jaçon personnelle de pratiquer son art: il a as touche, sa palette, ses compositions, ses sujets, 
le tout dans des permutations et des combinaisons telles qu’il est impossible de prendre un 
Caillebotte pour un Degas ou de confondre un Pissarro avec un Monet. Là encore, on est à 
mille lieux de l’art académique, dans lequel la participation de Partiste au sjstème esthétique 
est plus importante que son individualitéP (p. 25) Trata-se, pois, de um individualismo 
coletivo, que dá as coordenadas à arte, da criação à recepção; e poucos são os 
compradores desta nova pintura que provêm da aristocracia e da nobreza, para 
quem a soma das gerações tem um valor superior ao do mérito individual. 

Por fim, Brettell observa a imediatez da apreciação das telas impressionistas 
— e a ausência de reflexão teórica — como pontos essenciais à sua estética: “Pour 
comprendre 1’impressionnisme, il n’était pas nécessaire d’être eduqué; il nf avait pas de 
manifeste impressioniste. Si Stéphane Mallarmé, Louis Ldmond Duranty et Jules Laforgue 
ont écrit, ce n ’ 'est pas pour les artistes; ils ont écrit à leur sujet, et point n ’ est besoin de les 
tire pour apprécier les tableaux. Cette absence de médiation est la grande caractéristique de 
rimpressionnisme; aujourd’hui encore, il parle directement à un grand nombre de personnes 
qui, dans leur façon de vivre, ne sont pas si différentes des femmes et des hommes qui ont acheté 
ces tableaux à 1’époque oü ils ont été exécutés .” (p. 27) 

Escusado é dizer que, apesar dos muitos pontos válidos da discussão do 
autor, não se pode tomar suas conclusões sem ressalva. Afinal, será mesmo 
que a arte dos salons (Bouguereau, Carolus-Duran, Ingres etc.) demandava, em 
contrapartida, uma reflexão teórica prévia (ou uma educação mais refinada) 
de seus muitos admiradores — e compradores? Ademais, toda arte não pode 
ser também apreciada de maneira direta, sem intermediários mais autorizados 
que seu espectador direto (como os mencionados Mallarmé, Duranty e 
Laforgue)? Enfim, Brettell parece ter, de certa forma, caricaturizado o público 
consumidor dos pintores impressionistas para defini-los, por oposição, e apesar 
de seu pluralismo característico (que não se cansa de destacar em outro ensaio, 
comentado acima, “Impressionnisme et nationalisme: 1’exemple américain”). 


; SCHAEFER, Scott. Introduction. In: LACLOTTE, Michel et al. 

LTmpressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1985. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984 — 16 set. 1984, Los 
Angeles County Museum of Art, Los Angeles; 23 out.1985 — 6 jan. 1985, 
The Art Institut of Chicago, Chicago; 4 fev. — 22 abr., Galeries Nationales du 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


443 


Grand Palais, Paris. p. 14-20. 

Exagerando a importância da paisagem impressionista sobre o imaginário 
pictórico mundial — “Fe monde en sait plus sur la France à travers la vision des 
Impressionnistes qu’il n’en sait d’expérience de ce pajs ” (p. 15) — , Brettell e Schaefer 
perguntam-se sobre o que teria tal pintura a dizer a respeito da França. Assim, 
muito embora estudiosos de grande calibre, como Arnold Hauser, insistam 
sobre o valor atemporal do Impressionismo, ambos os autores destacam sua 
inserção estratégica na França da década de 1870, duplamente derrotada pela 
guerra franco-prussiana e pela Comuna: “Fe changement, cet impétueux mouvement en 
avant de 1’histoire, s’était, en un sens, arrêté dans la France du début de 1’impressionnisme, et 
la nation s’activait à as reconstruction et à restaurersa fierté. Fa conscience du temps, que l’on 
peut appeler la conscience historique de la France, était restée confuse durant les décennies qui 
avaient suivi la guerre de 1870 et [...] les paysages impressionnistes constituent la réponse des 
artistes qui les ont créés aux ambigmtés inhérentes à 1’histoire récente de la nation.” (p. 1 7) 

Neste sentido, ao representarem construções novas da metrópole parisiense 
em reconstrução, bem como o Sena e seus afluentes, as paisagens impressionistas 
testemunham as mudanças incessantes da paisagem francesa e fixam os novos 
deslocamentos coletivos, surpreendendo-os em seus temas particulares. Não 
obstante, “ni la compréhension du contexte culturel, ni la désignation et 1’analyse de motifis 
particuliers d’un pajsage ne sont suffisantes pour saisir les significations d’ une peinture de 
paysage ” (p. 19). Ademais, o próprio título dos quadros parece desencorajar a 
análise de seus temas, enfatizando igualmente « 1’heure du jour, la saison, un bâtiment 
identifié, ou même 1’évocation générique d’un liem (idem). Por estas razões, os autores 
justificam suas escolhas de divisão dos quadros da exposição em seções e 
capítulos, tratando deste problema até o final da discussão. 

Ao abordar, pois, a paisagem impressionista por sua importância contextuai, 
e analisá-la através de um método negativo (ou pautado apenas no “ emplacement’ 
das estruturas no espaço, por oposição a um estudo temático ou geográfico), 
os autores reforçam a dupla inserção do Impressionismo enquanto expressão 
da França de sua época (reconstrução urbana e espiritual pós-1870) e revolução 
formal da pintura (dependência relativa aos temas, predomínio da técnica). 


BRION, Marcei. Le triomphe de la lumière: impressionnisme, néo- 

impressionnisme, post-impressionnisme. In: . L’oeil, 1’esprit et la 

main du peintre. Paris: Plon, 1966. p. 251-261. 

O autor discute as razões pelas quais o impressionismo poderia haver causado 
tamanha hostilidade perante o público de arte oitocentista, e observa de antemão 
que as paisagens impressionistas não poderiam ser imorais no mesmo sentido 
da “Olímpia” de Manet. Inversamente: “ C’est donc sur la dififérence de vision, d’abord, 




444 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


et ensuite sur la différence de représentation, que s’établit cet antagonisme qui mit si longtemps 
à se laisser apaiser et à désarmer (p. 252) Trata-se, pois, de uma recusa sistemática 
da inteligência e da razão — do tradicionalismo e do academicismo, pois — como 
parâmetros de composição, que Brion enxerga, sobretudo, na troca do atelier 
pelo plein-ainsme. A pintura en plein-air é, assim, o que garante ao impressionismo 
seu caráter fragmentário, sua busca pelo transitório, subordinando a pintura às 
condições de iluminação. 

A seguir, Brion aponta a amplitude da revolução impressionista como parte 
do pensamento finissecular: “Ce n’est pas fortuitement que les Impressiomistes sont 
les contemporains de cette musique de 1’insaisissable que nous entendons chet ? Debussj, de la 
philosophie du mouvant énoncée parBergson.” (p. 255) Tal argumento parece abroximar 
Brion de Bourget, em sua conhecida defesa de um impressionismo-espírito-de- 
época. 

Finalmente, Brion elogia a perspicácia de Duranty; relativiza a importância 
dos preceitos de Chevreul enquanto “influenciadores” do impressionismo; e os 
pontos de contato entre o impressionismo e a filosofia oriental. 


BURTY, Philippe. Chronique du jour. In: DISTEL, Anne et al. Centenaire 
de 1’Impressionnisme. Paris: Édition des musées nationaux, 1974. p. 256. 
Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, Galeries Nationales du Grand 
Palais, Paris. 

Trata-se do primeiro texto jornalístico consagrado à exposição impressionista 
de 1874, publicado originalmente em 16 de abril do mesmo ano no jornal Ca 
Képublique française. Burty informa o horário, o local e os artistas participantes da 
exposição, observando a independência de tais pintores ante os júris do Salon 
— posição que será retomada em seu texto posterior, do dia 25 do mesmo mês: 
“Cette expo sitiou est prête le 15 avril, pour bien marquer qidelle n’est en rien une maison de 
refuge pour les refusés parle jury officiel Elle n’entend rien entreren lutte avec 1’administration. 
Ses status rejettentle príncipe du jury, comme attentatoire à la libre manifestation des données 
personellesP (p. 256) 

Como em seu texto posterior, elogia a disposição dos quadros no ateliê de 
Nadar, e afirma (ainda algo incerto do sucesso do grupo): “C’est un essai. Nous 
souhaitons qu’il soit couronné d’un franc succès, et qu’me seconde exposition s’organise à 
l’automne prochainP (idem) E, finalmente, observa dois dos maiores elementos 
programáticos do grupo, de maneira premonitória e brilhante: “Ce groupe qui 
s’offre ainsi à la discussion poursuit, avec des visées personnelles très reconnaissables, un but 
d’art commun: dans le procédé, le rendu de la large lumière du plein air; dans le sentiment, la 
netteté de la sensation priemièreP (idem) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


445 


. Exposition de la Société anonyme des artistes. In: BONAFOUX, 

Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris : Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 136-141. 

Publicado em Ra Republique jrançaise a 25 de abril de 1874, trata-se também 
de um dos textos pioneiros na imprensa acerca do Impressionismo, ao lado de 
outros, como os de Leroy, Cardon, Castagnary etc. Burty observa a novidade 
de uma exposição independente como uma alternativa sadia, plural e honesta: 
“ Pour bien marquer qu’ils n’étaient ni au Salon des refusés, ni au Salem des mécontents, — 
plusieurs d’ entre eux sont des medaillés —, ils ont ouvert le 1 5 avril, quinze jours avant le 
Salon des Champs-Rlysées. Rnfin ni jury, ni médailles pour n ’ offenser ni décevoir personne. 
Toute cette série de résolutions et d’actes fort simples, et cependant compliqués et hasardeux, 
s’est accomplie sans provocations, sans récriminations. II se pourra que 1’opération financière 
soit bonne. Quant à la bataille, elle est gaignée, et l’on peut compter sur une seconde tentative, 
plus complete, pour l’automne prochain (p. 136) O cronista considera ainda uma 
vantagem da exposição no ateliê de Nadar a naturalidade da iluminação e a 
atmosfera de tranquilo deambular de visitantes, algo de que ressente a falta 
nos Salons : “Ils pensent enfin — et nous pensons comme eux — que les expositions officielles 
modernes sont, par le nombre et la disposition forcée des oeuvres, la négation du jugement et du 
plaisir; qu’il est impossible d’en sortir avec une idée nette sur un artiste, sur une oeuvre, sur 
une tentative sortant des voies tracées et acceptées (p. 139) 

Neste sentido, a nova pintura parece a Burty, apesar de algo superficial e 
ainda em desenvolvimento, uma alternativa à tradição monótona dos alunos de 
Gérome, dos paisagistas históricos, dos repetidores de faunos e hamadríades etc. 
Por isto, elogia a seguir os principais artistas da exposição, assim como outros 
menores, pouco ou nada impressionistas (Colin, Rouart, Boudin, Lépine, Ottin, 
de Nittis e Bracquemond), que toma também como membros de uma mesma 
“école” (p. 141). 

Para além da coletânea de Bonafoux, o mesmo texto é reproduzido, também 
integralmente, na de Riout (1989), assim como no anexo do catálogo Centenaire 
de rimpressionnisme (Distei, 1974). 


. Exposition des impressionnistes. In: VENTURI, Lionello. Les 

archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, 
Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova 
Iorque: Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 291-293. 

Artigo publicado originalmente em 25 de abril de 1877, a propósito da 
terceira exposição impressionista, em que o cronista acentua a “viva surpresa” 
provocada no público, a par de uma breve discussão sobre o sentido de seu rótulo, 
pela primeira vez assumido publicamente pelos pintores: “Re mot ‘impressionniste’ 




446 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


exprime mal 1’usage banal d’ une profession et les caractérise mal. Ils sont particulièrement 
des gens impressionnables [...] ces artistes cherchent, dans 1'ensemble, à fixer 1’aspect général 
des choses et des êtres, le caractere dégagé des aspects conventionnels ; et, dans la pratique, 
qidils poursuivent les colorations claires et proclament rinutilité du noir ou des tons opaquesG 
(p. 291) Assim, defende a pintura impressionista contra as incompreensões do 
público, afirmando ser o desenvolvimento excêntrico de pesquisas cromáticas 
como as de Corot. 

A seguir, comenta brevemente as telas expostas de Morisot, Degas e Renoir. 
A respeito deste último, chama-o, talvez pioneiramente, de “ impressionniste 
romantiquê\ antecipando a rotulação futura entre impressionistas científicos ou 
românticos. 

Por fim, é lícito ressaltar a menção que faz Venturi a um romance de Burty, 
Grave imprudence (1880), cujo protagonista é um pintor impressionista chamado 
Brissot. Para Venturi, “ destle roman de la naissance de 1’impressionnisme, et la description 
de sa méthode.” (p. 294) Dada a natureza deste anexo, obras como Grave imprudence , 
ou mesmo UOeuvre , de Zola (e, em outro plano, textos teatrais como Ga cigale 
(1877), de H. Meilhac e L. Halévy, e Ges impressionnistes (1878), de E. Grangé e V. 
Bernard), não foram incluídos. 


. Préface du Catalogue des tableaux et aquarelles. In: LOBSTEIN, 

Dominique (Org.) De Charles Baudelaire à Georges Clemenceau: éloges 
et critiques de 1’Impressionnisme. Paris: Artlys, 2012. p. 44-45. 

Elogio encomendado pelo grupo impressionista a Burty, a propósito de 
sua segunda exposição conjunta, em 1875, a fim de impulsionar as vendas. O 
crítico havia já defendido o grupo nas crônicas do jornal Ga Képublique française 
(comentadas acima), e fora chamado, assim, estrategicamente para compor um 
catálogo da exposição, no papel de prefaciador. 

Ainda uma vez, o texto de Burty integra também a coletânea feita por Riout 
(1989). 


CAL LE N, Anthea. Les peintres impressionnistes et leur technique. Trad. 

Solange Schnall, Robert Bré e André Noél. Paris: Sylvie Messinger, 1983. 

A rigor, trata-se de compilação de informações sumárias sobre o 
impressionismo e seus representantes que dispõe, todavia, de introduções 
interessantes à evolução do movimento (divididas entre as décadas de 1860, 
1870, 1880 e 1890), em que constam dados curiosos, capazes de ilustrar o tema 
com itens inusitados: reprodução de tubos de tinta da década de 1840; tabela 
das dimensões de telas usadas para figuras, paisagens e marinhas; exemplos do 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


447 


preparo do tecido das telas; paletas de harmonia complementar usadas no fim 
de 1880 etc. Há ainda uma cronologia e um glossário geral ao fim do volume, o 
que reforça sua qualidade enciclopédica, bem como seu caráter de discussão à 
vol d’oiseau, acerca do impressionismo. 


CARDON, Émile. Ifexposition des revoltés. In: DISTEL, Anne et al. 

Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées nationaux, 

1974. p. 262-263. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, Galeries 

Nationales du Grand Palais, Paris. 

Texto contemporâneo à primeira exposição do grupo impressionista, 
publicado em La presse a 29 de abril de 1874, em que se reconhece o tom 
crítico dos artistas ao júri dos Salons como decorrente dos próprios abusos 
oficiais, e em que se elogia tal iniciativa do grupo, apenas para criticá-la, em seus 
fundamentos estéticos, ao final: “La Société anonyme des artistes-peintres a tranche de 
la façon la plus simple ces questions difficiles: elle a supprimé le jury d’admission, supprimé 
les recompenses. L’absence de toute règle est-elle un bien? C’est 1’avenir seul qui nous éclairera 
et répondra à cette question. D ’autres artistes assurément suivront 1’ exemple des membres de 
la Société anonyme des peintres [...]. C’est un bien, Vartne peut que gagner au développement 
de la liberté intelectuelle. Le principe qui a présidé à cette association mérite donc toutes les 
louangeL. (p. 263) 

A seguir, debruça-se sobre os quadros daqueles que considera os discípulos 
de Manet, “les représentants les plus convaincus et les plus autorisés de /École de 
Fimpression», como Degas, Cézanne, Morisot, Monnet [sic], Sisley e Pissarro. 
Para Cardon, “cette école supprimé deux choses: la ligne sans laquelle il est impossible 
de reproduire la forme d’un être animé ou d’ une chose, et la couleur qui donne à la forme 
1’apparence de la réalitéS (idem) Assim, por meio de uma leitura que parece não 
abranger a complexidade dos quadros exibidos, Cardon julga bastarem alguns 
salpicos de amarelo, vermelho e azul sobre um fundo branco e preto para que 
os adeptos desta nova escola caiam em êxtase. Ou, então: “Barbouilley de gris un 
panneau, flanque \ au hasard et de travers quelques barres noires ou jaunes, et les illuminés, 
les voyants vous diront : - Heinf comme cela donne bien Fimpression du bois de MeudonL 
(idem) 

O articulista demontra-se ainda mais virulento ao discutir a representação 
das figuras humanas, que para si “c‘est tout simplement la négation des règles les plus 
élémentaires du dessin et de la peinture. Les charbonnages d’un enfant ont une naíveté, 
une sincérité qui font sourire, les débauches de cette école écoeurent ou révoltentP (idem) 
Menciona ainda os quadros por sua numeração, julgando-os provas cabais de 
uma alienação mental deplorável. E, afinal, avalia ser tal exposição algo a ser 
cuidado não pelos críticos de arte, mas pelo “Dr. Blanche” (idem), numa clara 
demonstração de que a jocosidade do texto de Leroy, publicado quatro dias antes, 




448 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


passa gradativamente a ser um dos pilares da fortuna crítica do Impressionismo. 

O texto de Cardon pode ser encontrado também, ainda que apenas em 
excertos, na coletânea de Lobstein (2012). 


CASTAGNARY, Jules Antoine. Exposition du boulevard des Capucines: 
les impressionnistes. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 
1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 52-58. 

Aparecido originalmente no jornal Le Siècle a 29 de abril de 1874, trata-se do 
primeiro texto em que o grupo de pintores é designado como “impressionista”, 
quatro dias após a crônica de Leroy. Para Castagnary, defensor apaixonado das 
inovações propostas pelo grupo, “ Ilfaudra forgerle terme nouveaud impressionnistes. 
Ils sont impressionnistes en ce sens qu’il rendent non le paysage, mais la sensation 
produite par le paysage. Le mot même est passé dans leur langue: ce n’est pas paysage, c’est 
Impression que s’appelle au catalogue le Soleil levant de M. Monet. Par ce côté, ils sortent 
de la réalité, et entrent en plein idéalismeP (p. 56-57) Todavia, segundo o cronista, 
tais pintores não fazem uma revolução na pintura, mas somente sistematizam e 
levam ao extremo as descobertas de realistas como Courbet, Daubigny e Corot, 
incensando-os com seu trabalho: “Telle est, en soi, la tentative, toute la tentative des 
impressionnistes.” (p. 57) 

Encontra-se o mesmo texto reproduzido dentre os dez artigos presentes no 
anexo do catálogo Centenaire de 1’lmpressionnisme (Distei, 1974). 


CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Les ponts. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, 
Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent 
chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; 
Paris: Reunion des musées nationaux, 2013. p. 135-145. 

Cathelineau busca as razões pelas quais a ponte é um dos temas mais revisitados 
da pintura impressionista, para além da óbvia e crescente industrialização da 
segunda metade do século XIX. “Le pont apparaiit tout d’abord porteur d’ une valeur 
symbolique. Trait d’ union entre un lieu et un autre, il peutêtre considéré comme une métaphore 
du passage de la tradition à la modernité: le mouvement impressionniste se revendique en 
effet comme une nouvelle forme de peinture, ou le travail sur le motif conditionne la vision, 
à 1’opposé de la conception académique de la peinture créée au sein de 1’atelier. Dans leur 
approche picturale, comme dans leur sujets, les artistes impressionnistes se positionnent en 
peintres de la vie moderne: le pont, construction emblématique du progrès, participe de cette 
revendicationP (p. 135) 

Ademais, de formato alongado, a ponte permite uma variedade de pontos 
de vista, conforme vista de lado, em diagonal ou debaixo, podendo gerar, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


449 


respectivamente, uma sensação de estabilidade, de profundidade ou de 
monumentalidade. “En outre, le pont presente un rapport avec le ciei et l’eau qui ne 
pouvait que séduire les peintres impressionnistes compte tenu de leurs recherches surle rendu des 
effets atmosphénques ” (idem) Ou ainda, a representação das pontes pode englobar 
também uma dimensão histórica, ao remeterem, como nos quadros da ponte de 
Argenteuil feitos por Monet, ao contexto preciso da Guerra Franco-Prussiana, 
por meio da destruição da velha ponte e construção / representação de uma 
nova. 

Finalmente, Cathelineau debruça-se sobre o conjunto de pontes nas obras 
de Sisley e Monet, desviando a atenção para questões pontuais a tais pintores. 
Permanecem válidas, porém, suas breves e interessantes opiniões sobre os 
sentidos das pontes no Impressionismo, exploradas também, de maneira mais 
sistemática, pelos textos monumentais de Robert Herbert e de Meyer Schapiro. 


CHAMPSAUR, Félicien. Édouard Manet. In: RIOUT, Denys (Org). Les 

écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 324-330. 

Artigo publicado originalmente em Ees contemporains (n. 29, 16/06/1881) 
e reproduzido na coletânea Ee massacre (1883), em que constam, além de 
comentários sobre a vida e obra de Manet, sucintos conceituações sobre o 
impressionismo como um todo. Para Champsaur, escritor ligado a grupos 
vanguardistas como os FLjdropathes e os Fumistes, o impressionismo inicia-se na 
recusa de Manet à art pompier. “Eh bien, madame et monsieur, voilà rimpressionnisme. 
Au lieu de s’inspirer de Praxitèle, du Saneio, d’autres, les peintres nouveaux s’inspirent de 
la nature. Elle est sans cesse variable et elle est composée indissolublement de matière et de 
forceP (p. 326) Neste sentido, acompanhando as transformações da sociedade 
francesa, em que « le travail abime les uns, et le plaisir les autrei ’, e em que “le type 
grec, on peut 1’assurer, est rare [...], 1’impressionnisme a pour but de peindre les hommes et les 
femmes de notre temps, et les filies, de saisir et de fixer, sur la toile, la vie moderne. Ce but est 
excellentC (p. 326-327) 

Assim, para além de seu claro apreço pelo movimento, Champsaur exemplifica 
o que seria uma impressão de neve, à maneira impressionista, por meio de um 
soneto. Apesar de elemento acessório ao texto (e muito embora seja, em muitos 
sentidos, uma blague jornalística), é de importância para que se perceba a ideia 
geral de impressionismo literário, em 1881. Ei-lo, pois, na íntegra: “Ouartier des 
Gobelins, vers le soir, une place / En janvien Ees maisons, les arbres, tout est blanc, / C’est 
la neige. E’air est très froid, très froid, brülant, / Grêle et coquette luit la fontaine Wallace. 
1 1 Ee crépuscule naít, crépuscule de glace, / Probablement. Par-ci, quelques flocons volant / 
Encore. Pas un chat. Aucun ne árculant. / Si, là-bas une femme. Elle va vite et passe. / / 
Au fond, bien loin, des becs dega% sont allumés, / Six, sept, huit, neuf ou dix. Ees cieux 
sont embrumés / Ene usine a côté. Fort longue cheminée. / / Tout est blanc, blanc, blanc, 




450 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


blanc. A droite, un assommoir / Sur un refuge, une ombre à peine dessinnée, / Une ombre 
en capuchon, sergent de ville, noirS (p. 327) Trata-se, pois, de uma transposição das 
manchas de cor ao texto literário, reproduzindo, por meio de diversos recursos 
(uso de orações coordenadas breves para sugerir as rápidas pinceladas da tela; 
atenção a um espaço coletivo e aberto, retirado de uma cena do cotidiano 
parisiense do 1 3 eme, tal como as escolhas temáticas do elogiado Manet; uso de 
condicionais e alternativas para simular as nuanças brancas deixadas pela forte 
neve etc.), uma vaga e imediata impressão. 

Segue-se um breve relato das relações pessoais entre Zola e Manet, bem como 
um elogio final ao Impressionismo, entendido enquanto novo Renascimento: 
“les impressionnistes ontun mérite énorme. Ils ontété les promoteurs d’ une sorte de renais sanee. 
Oü les peintres antiques et institutaires ne voyaient que des femmes greeques, des V énus ou 
des Sapho, ils ont su découvrir la femme parisienne. Ils ont été, en somme, artistes, c’est-à-dire 
créateurs, alors que, depuis trop longtemps, on était accoutumé à plagier et à copierP (p. 329) 


CHARDIN, Virginie. Le mouvement pictorialiste. In: AMIC, Sylvain; 
BAKHUYS, Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants 
reflets: cent chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville 
de Rouen; Paris: Reunion des musées nationaux, 2013. p. 263-277. 

Neste artigo, a autora ocupa-se da influência das artes pictóricas sobre a 
fotografia a partir da década de 1880. Citando de início Peter Henry Emerson, 
teórico inglês da fotografia e defensor do naturalismo fotográfico até 1890, além 
de autor de diversas melhorias técnicas “ comme la mise au point sélective avec des effets 
de fiou, le tirage au platine et 1’héliogravure sur papierjaporT (p. 263), Chardin observa: 
‘ ‘ C ’est à ce moment que se développe le mouvement dit ‘pictorialiste ’, dont les partis ans tentent, 
par l’emploi de procédès vanés, de se rapprocher de l’art moderne, dans presque tous ses 
courants nationaux (naturalisme, préraphaélisme, impressionnisme, symbolisme, japonisme, 
art nouveau), afin d’échapper à 1’aspect purement documentaire de la photographie, arrivée à 
son point de maturité technique avec l’invention du gélatinobromure d’ argentS (idem) 
Reproduzida em massa, divulgada por revistas, cartões postais, a fotografia 
“ devient d’usage banal et utilitaire, avec des standards de composition très conventionnels\ 
razão pela qual “les pictorialistes ont recours à des techniques de tirage artisanales, souvent 
hy brides, faisant appel à des retouches, des grattages, des rehauts, par analogie avec la gravure 
et l’aquarelkr (idem) Ademais, difundida por uma série de clubes e sociedades 
autônomas, os temas desta nova fotografia aproximam-se daqueles das telas 
impressionistas — “péniches ammarrées sur les quais de la Seine, effets de brouillard, 
cheminées d’usine” (idem). 

Menciona, finalmente, as influências impressionistas na fotografia de Edward 
Steichen, Antonin Personnaz (colecionador de quadros impressionistas, além de 
amigo de Pissarro e de Guillaumin), Alfred Stieglitz (venerado posteriormente 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


451 


pelos surrealistas) etc. 

Em seu conjunto, apesar de, a rigor, não relacionado com o Impressionismo, 
o presente texto demonstra, por meio de seu diálogo com a fotografia, o lugar 
canônico do movimento na tradição pictórica já em meados de 1890, e seu 
papel modelar não apenas na pintura, mas também em outras artes. 


. Une vision nouvelle: la photographie. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, 

Diederik; CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent 
chefs-d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; 
Paris: Reunion des musées nationaux, 2013. p. 89-105. 

Chardin relembra a importância da fotografia e de seu impacto sobre o 
imaginário dos pintores impressionistas: “Pour la première fois, 1’image de la nature 
pouvait être produite non pas par la main de l’homme, mais par le truchement d’un appareil 
mécanique, la camera obscura, combiné à 1’action chimique de la lumière sur une surface 
sensible.” (p. 89) Retoma ainda a comercialização inicial dos daguerreótipos e sua 
gradual substituição pelos calótipos (negativos em papel), como alternativa de 
reprodução serial das fotografias. De acordo com Chardin, a fotografia, ainda 
limitada pela ausência de cores e pela incapacidade de captação do movimento, 
era tomada como um acessório à disposição dos artistas, e não como uma arte 
autônoma, muito embora gerasse manifestações ímpares de elogios à precisão 
com que podia fixar detalhes. Seu principal desafio passava a ser, pois, o de 
fixar fenômenos transitórios da natureza, por meio de uma série de tentativas 
de captação da luz: “la grande différence d’intensité lumineuse entre le áel et l’eau rendait 
difficile le choix d’un même diaphragme et d’un même temps de pose pour les deux parties de 
1’imageP (p. 89) A comparação entre tais preocupações e as do Impressionismo, 
apesar de mencionada, é mais pressuposta que explícita, talvez pela evidência 
do tema. 

A seguir, cita a semelhança entre o trabalho de fotógrafos como Camille 
Silvy, Firmin Eugène Le Dien ou Félix Moutarde e os quadros impressionistas, 
encerrando seu texto com uma menção à exposição exclusiva de fotografias 
em uma ala própria no Vaiais des Champs-Vlysées em 1859, marco de seu 
reconhecimento enquanto arte, vinte anos após sua invenção. 


CHAUMELIN, Marius. Actualités: 1’exposition des intransigeants. In: BERSON, 
Ruth. The new painting: impressionism 1874-1886. São Francisco: Fine 
Arts Museum of San Francisco, 1996. v. I. p. 67-68. 

Originalmente publicado em í m gayette des étrangers a oito de abril de 1876, 
o texto em questão representa, ao lado dos de Blavet e Blemont, a fluidez 




452 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


terminológica com que foi recebido o grupo impressionista até sua expressa 
autodenominação em 1877. Para Chaumelin, chamados de “les peintres du plein 
aiP’’ ou “ d’impressionniste/\ «il j a un titre qui leur convient beaucoup mieux : celui 
ã’intransigeants». (p. 67) Tal se deve às suas desconfianças para com os realistas, 
as tradições clássicas e a dependência da arte ao Estado. 

Dentre os expositores, julga que Monet faz mais barulho que os outros 
dezoito, e elogia, sobretudo, suas paisagens. Discute ainda Morisot, Renoir, 
Desboutin, dentre outros. Por fim, conclui: «Si 1’intransigeance consistait àpeindre de 
cette façon [sobretudo à la Degas e Caillebotte],yf conseillerais à notre jeune école de se 
faire intransigeante .» (p. 68) 


CHERBULIEZ, Victor. Le Salon de 1876: les impressionnistes, les tableaux de 
genre et les portraits. In: BERSON, Ruth. The newpainting: impressionism 
1874 - 1886 . São Francisco: Fine Arts Museum of San Francisco, 1996. v. I. p. 
69. 

Publicado na Reme des deux mondes de primeiro de junho de 1876, o presente 
artigo discute a aversão do júri do Salon “ à la jeune école, à 1’ école de 1’avenir, aux francs- 
tireurs, aux garibaldiens de la peinture, à ceux qui s’appellent eux-mêmes les intransigeants 
ou les impressionnistes.” Sem mais, Cherbuliez afirma na nova escola a pretensão 
grandiosa de ser mais que uma escola de pintura, de ser “une secte qui aspire à fonder 
une nouvelle religion.” E define todo impressionista como aquele que busca novas 
impressões, tendo por preceito a máxima religiosa: “ mes enfans [sic], impressionneq- 
vous les uns les autresP Por oposição — já em tom de galhofa declarada — , todo 
burguês é aquele que não se contenta em achar um esboço mais interessante 
que um quadro. 

Assim, sem tomar partido, Cherbuliez reconhece o talento de alguns dos 
expositores, embora não condene o júri do Salon por negar a representação de 
“ 1’herbe rose et aux arbres rougei\ que, por sua vez, considera desrespeitosa para 
com o público. 


CHESNEAU, Ernest. Le plein air : exposition du boulevard des Capucines. In: 
BONAFOUX, Pascal. (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 145-148. 

Publicado em meio à controversa exposição original do grupo impressionista 
(Paris-Journal, 7/5/1874), o presente artigo de Ernest Chesneau observa com 
desprendimento a reserva do público perante tal evento, considerando mesmo 

“ prévu d’ avance qu’il se prononcera pour 1’oeuvre de convention contre 1’oeuvre d’innovation. 
C’est ce qui arrive au boulevard des CapucinesS (p. 145) Para si, tal grupo, que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


453 


constitui a escola do plein air, manifesta sua liberdade de expresão ao expor 
coletivamente quadros jamais submetidos à avaliação do júri : “II n’estpas inutile 
d’informer le visiteur quaucun des tableaux exposés ici n’a été soumis à 1’examen du juryy 
officiel L’exposition étant ouverte depuis le 1 5 avril, elle n’est point du tout une exposition 
des refusés. [...] A mesjeux c’est là leus mérite, parce qidils rompent ouvertement en visière 
avec toutes les conventions traditionelles (p. 145) A seguir, elogia e critica quadros 
pontuais de Monet, Renoir, Degas e Sisley, o que escapa aos propósitos deste 
anexo. 

Diga-se de passagem, o texto de Chesneau integra também a coletânea de 
Riout (1989). 


. Groupes sympathiques: les peintres impressionnistes. In: RIOUT, 

Denys (Org). Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 
1989. p. 67-70. 

Trata-se de texto publicado originalmente no Paris-Journal a sete de maio de 
1882, em que Chesneau faz o elogio do grupo de pintores, autoproclamados 
então de “independentes”, e assinala sua proposta inovadora de pintar “non 
plus la nature comme elle cst, comme la peut concevoir Antelligence du savant, mais la 
nature comme elle nous apparaíp la nature telle que la font pour notre oeil, s’il sait 
voir, les phénomènes de 1’atmosphère et de la lumièrê\ por meio de um “ enchantement de 
mouvements et de couleurs\ (p. 69) 

O texto integra também a coletânea de Bonafoux (2008). 


CLARETIE, Jules. La vie à Paris: 1880. Paris: Victor Havard, [188-]. 

Coletânea de artigos os mais diversos de Claretie, dos quais, na seção “Les arti ’ 
(desorganizadamente indicada por meio de um conjunto de páginas e capítulos 
espalhados pelo livro), percebe-se seu desapreço pelo grupo impressionista, 
exposto em termos peremptórios, acerca de uma exposição na rue des Pyramids 
(relativa à quinta exposição coletiva do grupo, em abril de 1 880): “II y a là de tout un 
peu, de 1’excellent et du pire. L’excellent n \ appartient pas plus à decole de /impression pure 
que le pire n’ appartient à 1’artd (60-61) A atenção do autor, todavia, não se detém 
demasiado sobre tais pintores, mencionados en passant, tratando rapidamente de 
outros assuntos. 


. La vie à Paris: 1881. Paris: Victor Havard, [188-]. 


Sequência do volume anterior, com os mesmos problemas de organização, 




454 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


em que se encontra, todavia, um compte renãu da sexta exposição impressionista, 
realizada no Boulevard des Capucines. Nele, Claretie reforça sua aversão pelo 
grupo, em termos cada vez mais severos e unilaterais: “Car, voilà 1’originalité de 
cette exposition des Indépendants — ils commencent à affirmer leur indépendance sous la forme 
sculptée. Ce n ’ était pas asse ^ de la couleur. II leur faut la cire, ou le plâtre ou le bronze. Nous 
allons voir, bone Deus! des sculpteurs impressionnistes! Je ne m’en plains pas s’il s’agit 
de M. Degas, mais je sais des sculpteurs qui font déjà du Fortuny en terre cuite! S’imagine- 
t-on ce que cela peut être et quelle école de la torsion, de la contorsion, de la déviation et du 
désossement cela peut nous donnerC (p. 150-151) 


. Salon de 1874. In: . L’art et les artistes contemporains. Paris: 

Charpentier, 1876. p. 206-283. 

Neste que é o terceiro de quatro artigos publicados no jornal UIndépendence 
belge , impresso em 13 de junho de 1874, Claretie demonstra sua insatisfação 
com os projetos estéticos dos novos pintores, valendo-se dos seguintes termos, 
parcialmente emprestados de Bertall (tal como o controverso “impressionnalistei\ 
provavelmente por ele cunhado em abril do mesmo ano): “Je Usais tout à 1’heure 
dans un 'Journal très grave que la doctrine de M. Manet exigerait de longues explications. 
Des explications ? Une doctrine? Mias qui trompe-t-on ici? Eaut-il être initié pour comprendre 
une peinture dont tout le secret consiste en ceci que Partiste s’ arrete oü la diffculté commence. 
Car voilà tout le secret de ces impressionnalistes: ils se contentent d’indications rapides qui 
suppriment le travail et le style. Da chose est trop com mo de. [...] Et voilà que ces oripeaux 
deviennent une doctrine! Grand merci. IJAcadémie nous suffisait .” (p. 261) 

Os parágrafos finais deste texto foram reproduzidos na coletânea de Riout 
(1989). 


CRESPE LL E, Jean-Paul. La vie quotidienne des impressionnistes: 1863- 
1883. Paris: Hachette, 1989. 

Biografia detalhada do grupo impressionista, constando de centenas de 
informações contextuais sobre o período, bem como sobre a vida íntima dos 
pintores e escritores. A rigor, não constaria deste anexo; porém, recomenda-se 
sua leitura, pela profusão de dados que apresenta. 


DENIS, Maurice. Le soleil. In: . Du symbolisme au classicisme: 

théories. Paris: Hermann, 1964. p. 172-178. 

Não se trata de um estudo sobre a pintura impressionista, mas de um 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


455 


depoimento importante de um pintor diretamente ligado a Fénéon e aos pós- 
impres sionistas. Segundo o parecer de M. Denis, “vers 1885 à 1’époque des premières 
expositions des indépendants [...] les impressionnistes commençaient d’ exercer une influence; 
on ne pouvait plus nier 1’immense talent de Claude Monet. [...] Même au concours de Rome, 
un des concurrents, M. Rliot, fít scandale en présentant une Nausicaa toute fleurie de mauves 
et d 'orangés. Ra technique lumineuse se vulgarisaitU (p. 173) 

Neste sentido, a análise da luz e da cor, iniciada pelos pintores impressionistas, 
é sensível já em 1885, enquanto formadora de uma nova tradição pictórica. Não 
obstante, Denis registra também a aversão dos pós-impressionistas pelo grupo, 
afirmando que, simultanemaente, “ outre l 'extreme simplicité de l’exécution, [...] rien ne 
reste de la théorie impressionistê ’ , limitada à “ la vieille gamme diatonique de ChevreulP (p. 
175) 


DEWHURST, Wynford. Impressionist painting: its genesis and 

development. Londres: George Newnes, 1904. 

Estudo previamente desmerecido por Pissarro, que, tendo se correspondido 
com o autor, já antevia o teor ideológico de sua teorização do impressionismo 
francês a partir de uma dívida inicial para com pintores ingleses como Turner e 
Constable. Não obstante, dois de seus capítulos mais gerais (para além de diversos 
estudos individuais de pintores impressionistas, que escapam ao propósito 
deste anexo) podem ser lidos com proveito — mesmo que com a finalidade de 
identificar sua rigidez e parcialidade: “The evolution of the impressionistic idea” e 
“The impressionist group: 1870-1886 ” (31-37). 

Sobretudo no primeiro, verifica-se a plausibilidade da crítica de Pissarro 
em trechos artificiais e claramente ideológicos de Dewhurst como: “The frendo 
lands cape group of 1830, ivhich embraceã such giants as Corot, Rousseau, and Daubigny, 
ivas the direct result of Constable’s Poiver. [...] Torty years later the younger men sought 
fresh inspiration in the ivorks of an Rnglishman. Indirectly, Impressionism owes its birth to 
Constable ; and its ultimate glory, the ivorks of Claude Monet, is profoundly inspired by the 
genius of Turner. [...] British artists did not fully grasp the significance of their ivork, and 
failed to profitby their valuable discoveries (p. 4) Que dizer, então, de trechos como: 
“french artists developed a style ivhich ivas British in its conception. Many tloings have assisted 
this development, some accidental, some natural, All the Rnglishmen had ivorked to a large 
extent in the open. Nono the atmosphere of Trance lends itself admirably to Impressionistic 
paintint ‘en plein air’. AU landscapists notice thatthe lightis purer, stronger, and less variable 
in Trance than in Rngland. By thus ivorking in the open both Constable and Turner, together 
ivith their Trench folloivers, ivere able to realige upon canvas a closer verisimilituãe to the 
varying moods of nature than had been attempted before. [...] Both Constable and Turner 
ivorked pure ivhite in impasto throughout their canvases, high light and shadoiv equally, long 
before the advent of the Trench men 7 ’ (p. 4-5) 




456 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Percebe-se, pois, a consagração do impressionismo pictórico no início do 
século XX, prestando-se inclusive a disputas de paternidade (claramente mal 
orientadas no texto em questão) entre França e Inglaterra. 


D’HERVILLY, Ernest. L’exposition du boulevard des Capucines. In: DISTEL, 
Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées 
nationaux, 1974. p. 256-257. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, 
Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

Exemplo inteiramente oposto à retórica inflamada de Wolff, trata-se de um 
elogio à iniciativa do grupo como “des plus intelligentes et des plus pratiques, qui aura 
pour résultat de mettre en contact direct le public et les artistei ’, pautado ainda em um 
conjunto de « choses pranches, pleines de sève, et dont la généreuse exagération même est 
un charme et une consolation quand on songe aux écoeurantes banalités que fait produire la 
routine académique .» (p. 256-257) 

Em tempo, é lícito lembrar que o artigo foi originalmente publicado no jornal 
parisiense Le rappel ' a 17 de abril de 1874, constituindo o segundo relato na 
imprensa acerca da exposição do grupo (logo, posterior apenas ao de Philippe 
Burty). 


DURANTY, Edmond. La nouvelle peinture : à propos du groupe d’artistes 

qui expose dans les galeries Durand-Ruel. Paris: L’Echoppe, 1988. 

Publicado quando da segunda exposição impressionista a pedido de seu 
organizador, Durand-Ruel, como forma de divulgação e apreciação crítica dos 
quadros ali vendidos, Duranty rebate as críticas usualmente feitas ao grupo 
por meio de críticas às figuras pontuais, explicitadas em nota (embora já mais 
ou menos evidentemente pressupostas), de Eugène Fromentin e Gustave 
Moureau. Reforça a importância da historicidade da arte para a compreensão 
das obras impressionistas, e lamenta a falta de sensibilidade do júri oficial dos 
Salons. O tom geral é o de um convite aos espectadores casuais : “En attendant, 
venet^ regarder dans le jardinei de ceux d’ici, vous verre^ qu ’on tente d’j créer de pied en cap 
un art tout moderne, tout impregné de nos alentours, de nos sentiments, des choses de notre 
époque .” Para além de tais convites, farpas a pintores célebres como Jean-Luc 
Gérome e Fortuny; elogios a alguns predecessores do grupo — Courbet, Corot, 
Boisbaudran, Jongkind, Boudin; encómios a Whistler, Fantin-Latour, Manet etc. 
No campo teórico, Duranty destaca os avanços impressionistas em três pontos 
distintos: na coloração, no desenho e nas “vues origineis” . Sobre o primeiro : “Ea 
découverte de ceux d’ici consiste proprement à avoir reconnu que la grande lumière décolore 
les tons, que le soleil reflété par les objets tend, à forcé de clarté, à les rammener à cette unité 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


457 


lumineuse qui fond ses sept rayons prismatiques en un seul éclat incolor e, qui est la lumière ” 
(p. 30) ; sobre o segundo, retoma as prescrições de Diderot e afirma: “ce que veut 
le dessin, dans ses modernes ambitions, c’est justement de reconnaitre si étroitement la nature, 
de 1’accoler si fortement qu’il soit irréprochable dans tons les rapports des formes, qu’il sache 
rinépuisable diversité des caracteres [...], c’est la note spéciale de 1’individu moderne, dans 
son vêtement, au milieu de ses habitudes sociales, che% lui ou dans la rui ’ (p. 34); sobre 
o último, “si l’on prend à son tour le personnage [do quadro] soit dans la chambre, soit 
dans la rue, il n ’est pas toujours à égale distance de deux objets parallèles, en ligne droite ; 
il est plus resserré d’un côté que de l’autre par 1’ espace ; en un mot, il n ’est jamais au centre 
de la toile, au centre du décor II ne se montre pas constamment entier, tantôt il apparait 
coupé à mi — jambe, mi-corps, tranché longitudinalement. Une autre fois, 1’oeil [...] rejette 
très loin dans les petitesses de la perspective (p. 39-40) Em suma, trata-se de 
um elogio de encomenda, muito embora já possua, nos três pontos teóricos 
mencionados, uma rara acuidade crítica e uma visão de conjunto pertinente, 
vinda à luz apenas dois anos após a primeira exposição do grupo: “Ils n’y viennent 
pas non plus chercher des dogmes, mais des exemples de libertê (p. 43) Neste sentido, é 
lícito concordar com o viés social dos elogios de Paul Smith (1995, p. 22), para 
quem “La nouvelle peinture [...] va rester longtemps la meilleure analyse de ceux qui 
au sphinx de la nature préfèrent les rjthmes, l’agitation, les tensions, mais aussi les beautés 
régulières du Paris d’Haussmann : Degas e CaillebotteP Evidentemente, tais trechos de 
análise individual não são aqui discutidos, muito embora seja válido recomendar 
sua leitura. 

O mesmo texto de Duranty pode ser encontrado integralmente na coletânea 
de Riout (1989) e parcialmente na de Bonafoux (2008). 


DURET, Théodore. Les peintres impressionnistes : Claude Monet, Sisley, 
Pissarro, Renoir, Berthe Morisot. Paris: Librairie Parisienne H. Heymann 
& J. Perois, 1878. 

Defesa do grupo impressionista contemporânea à lenta, porém certa, aceitação 
de seus maiores nomes, como Monet e Renoir, pelo público, tendo em vista a 
exposição de telas do primeiro no Salon de 1878 e do segundo no de 1879. 
Entretanto, Duret ainda lastima a falta de aptidão geral para a compreensão 
das inovações trazidas pelos pintores, que considera “certaine et absolue” (p. 10). 
Para tanto, reconhece a dívida do grupo para com os pintores “ natur alistes” — 
Corot, Courbet, Manet — e para com a pintura japonesa, colocando-se, a seguir, 
a pincelar uma visão combativa (e talvez resentida, de crítico e de colecionador 
apaixonado por tais obras) perante o público: “Ue malheureux Impressionniste a 
beau protester de um pafaite sincérité, déclarer qu’il ne reproduit que ce qu’il voit, qu’il 
reste fidèle à la nature, le public et les critiques condamnent. [...] Pour eux, il nf a quune 
chose : ce que les Impressionnistes mettent sur leurs toiles ne correspond pas à ce qui se trouve 




458 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


sur les toiles des peintres antérieurs. C’est autre, ãonc c’est mauvais .” (p. 16) Segue-se 
uma pequena série de estudos sobre Monet, Sisley, Pissarro, Renoir e Morisot, 
em que surge a famosa frase : “Monet est l’Impressionniste par excellence .” (p. 17) 
Posteriormente, no posfácio, ameniza-se a hostilidade do início por meio de um 
convite algo marqueteiro à reavaliação dos pintores, em um diálogo imaginário 
com o leitor / consumidor: “- Goüte^encore. Ge goüt est question d’habitude et le palais 
a besoin ddpprentissageP (p. 35) 

Uma reprodução deste texto, mais atual e também na íntegra, pode ser 
encontrada em Riout (1989). 


EISENMAN, Stephen E The intransigent artist or how the impressionists 

got their name. In: FRASCINA, Francis; HARRIS, Jonathan (Ed.). Art 

in modern culture: an anthology of criticai texts. Nova Iorque: Icon; 

Harper Collins, 1 992. p. 189-198. 

Neste interessante artigo, Eisenman propõe-se a responder a dois aspectos 
da origem do nome dos impressionistas, desde sua criação por Leroy em 1874 
até sua aceitação pelo grupo, em sua terceira exposição, em 1877: “First, the 
basic accuracy of the account — how common ivas the term Impressionism in the period 
betiveen April 1 874 and Februarj 1877, and ivhj did the Société anonyme adopt a name 
that apparentf had been used in derision? Second, ivhat ivas at stake in naming the neiv art ? 
Whj did the artist s and their critics attach such importance to the matter? n (p. 189) 

Para responder a estas duas perguntas, primeiramente, destaca a entrada 
da palavra “impressão” no vocabulário da crítica de arte à época dos estudos 
positivistas sobre a percepção, na década de 1860: “By 1870 it had become clear 
that any art based upon Impressions, that is, upon unmeâiated sensorj experience, must 
resemble the coloured patchivork that it ivas believed constituted unreflective vision, ivhat 
Ruskin had earlier called ‘the innocence of the eye’.” (p. 189-190) Releva ainda a dupla 
acepção do termo “Impressionismo” em 1874 tanto como uma vaga definição 
de técnica pictórica quanto como uma atitude individualista geral. Ademais, 
ambígua também do ponto de vista politico, “serving as a description of unbridled 
individualism, Impressionism assured politicalf moderate critics that the neiv art had both 
broken ivith increasingf discredited salon conventions, and remained unsullied bj any troubling 
radical affiliations7' > (p. 190) 

Eisenman considera esta união entre inovação técnica e discrição política 
uma das razões pelas quais o Impressionismo foi logo aceito por parte da crítica 
(“ Individualism ivould be necessarj in the massive ivork of reconstructing France after the 
disasters of the Franco-Prussian War and Communê\ idem), muito embora fosse 
associado, até 1877, à ideia de “intransigentes”. 

Por sua vez, o termo “intransigente” remete ao neologismo espanhol “los 
intransigentes ”, referente à ala anarquista do Partido Federalista Espanhol de 1872. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


459 


A clara alusão ao espectro de descontrole político do governo de Thiers, após 
os eventos de 1870, implica certo repúdio generalizado ao termo: “The perception 
ivas mde-spread that the neivly hatched Spanish Kepublic might degenerate into a radical 
Commune. Indeed the links hetiveen the two ivere direct, as it had been the Commune that 
helped inspire the Tederalist challenge in Spain. (p. 191) Logo, falar dos impressionistas 
como artistas também “intransigentes” (na esteira de Emile Blemont, Louis 
Enault e Marius Chaumelin) é equiparar a subversão das leis à subversão da 
tradição, discutindo a arte pela política. Eisenman observa com propriedade 
que nas eleições de 1876 os radicais (dentre eles Georges Clemenceau, futuro 
admirador e defensor de Monet) ganharam ao redor de 30 assentos na Câmara 
de Deputados — o que em muito alarmava os mais conservadores. Em todo 
caso, o autor destaca, a seguir, a grande divulgação do termo “intransigente” 
pelo célebre artigo de Mallarmé “Édouard Manet and the impressionists ”, enquanto 
sinônimo não de arte anarquista, mas de arte democrática: “ Impressionism ivas a 
movement ivith a radical co-operative programme, Mallarmé believed, and the currency of the 
name Intransigeant signalled to him the ividespread perception of that fact. [...] Mallarmé 
suggested that this radical erasure ivas itself a positive style, akin to the popular art commonly 
supposed indigenous to the ivorking classes .’’ ’ (p. 193) 

Finalmente, refletindo sobre a natureza “intransigente” (radical, democrática) 
ou “impressionista” (afirmativa, individualista) da pintura em questão, Eisenman 
responde de maneira magistral, em um longo, porém necessário, trecho: 
“ The ansiver must be that it ivas neither and both. The essence of the neiv art ivas its 
insistent indeterminacy, or, put another ivaj, its determined position betiveen those polarities 
Impressionist / Intransigent. As such, the neiv art must be understood as a signa! instance 
of Modernist dialectics. On the one hand, ivorks that primarily explore their oivn physical 
origins or constituents [. . .] are Intransigent rebukes to a society that seeks to tailor all culture 
to its oivn interests. On the other hand, the apolitical self-regard of Modernist art creates an 
environment favourable to the eventual industrial appropriation of the ivorks. The free space’ 
desired by Modernism also is valuable to a culture industry that relies for its vitality upon 
the public generation of neiv desires. Yet there have been times ivhen this latter process of 
appropriation has been sufficiently sloived that a semblance of autonomy (ivhat Adorno has 
called ‘the duty and liberty of\ the mind’s] oivn pure objectification ) has been achieved. Such 
ivas the case betiveen 1874 and 1877 ivhen the neiv art ivas definable only by the uncertainties 
in criticai languageT (p. 194) 

Eisenman observa finalmente o papel de Manet em tal guinada rumo ao 
Modernismo e salienta o nome inicial da Société anonyme des artistes peintres etc. 
como opção premeditada dos pintores por certa neutralidade ideológica, o 
que facilitou, por sua vez, a indefinição crítica dos propósitos coletivos do 
Impressionismo. 

O presente texto encontra-se também reproduzido nas antologias de Moffett 
(1986) e Lewis (2007). 




460 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


EPHRUSSI, Charles. Exposition des artistes indépendents. In: RIOUT, Denys 

(Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 
232-237. 

Entusiasta e colecionador de obras impressionistas, Ephrussi, em crônica 
publicada na Gazçette des BeauxArts (01/05/ 1880) a propósito da quinta exposição 
do grupo, à qual diversos grandes pintores do grupo não compareceram, resume 
diversas de suas características em tom elogioso, sem mais : “ Composer son tableau, 
non dans 1’atelier, mais sur place, en présence du sujet, se débarrasser de toute convention ; se 
mettre en face de la nature et l’interpréter sincèrement, brutalement, sans se préocupper de la 
manière ojjicielle de voir ; traduire scrupuleusement 1’impression, la sensation, toute crue, toute 
étrange qidelle puisse paraítre [...] tel est 1’idéal de la nouvelle école .” 

O mesmo texto pode ser encontrado nas coletâneas de Lobstein (2012) e 
Bonafoux (2008). 


. Exposition des artistes indépendents. In: RIOUT, Denys (Org.). Les 

écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 238-245. 

Publicado originamente no suplemento da Gagette des Beaux Arts (“ Chronique 
des arts et de la curiositê. '») de 16 e 23 de abril de 1881, o artigo de Ephrussi 
aborda a sexta exposição coletiva dos impressionistas, realizada no Boulevard des 
Capucines. De início, ironiza o envio de telas de alguns dos supostos pintores 
“independentes” ao Salon e sua crescente divisão entre o reconhecimento e o 
projeto estético pessoal. Lamenta igualmente a ausência de alguns dos maiores 
nomes do grupo, entre os quais inclui Monet, Renoir, Sisley e Manet (ignorando o 
fato deste último não haver exposto tampouco nas cinco exposições anteriores). 
E, a seguir, divide os expositores em dois grupos: “ceux qui méritent réellement le 
nom d’indépendants parce qu’ils apportent dans l’art une note nouvelle, un accent original, et 
ceux qui ne se séparent que timidement des traditions acquises .” (p. 239) 

No primeiro, inclui Degas (de quem elogia, com reservas, a estátua de título 
“ Petite danseuse de 14 ans\ que considera “ une oeuvre de forte saveur, de Science exacte, 
sous une forme vraiment originali\ p. 240), Pissarro (que julga ver o camponês “ tel 
qu’il est, massif lourd, épais, hébété et stupide, vraie bete de somme, non sans quelque noblesse 
cependanf , p. 240), Morisot (estudiosa da luz e de seus meios-tons, para quem 
«les sujets n ’ont qu’ne importance secondaire, insignifiante presque; ils ne sont qu’un pretexte 
à effets lumineux, à combinaisons harmonieuses. », p. 241) e Cassatt fpleine d’honnêteté, de 
sincérité, de recueillement ; lagravité nf exclut point la grâce», p. 242), incluindo também, 
ainda que brevemente, Vignon e Guillaumin. 

No segundo, inclui apenas Raffaèlli, ao qual se nega rotular de “independente”, 
como aos demais. Para Ephrussi, suas 33 telas expostas “ne constituent pas un 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


461 


tableau et restent à 1’état de morceaux détachés qui n ’ont ni la spontanéité, ni la jraícheur 
d’impression d’ une esquisse, d’ une franche note d’ artisteP (p. 244) 

Por fim, resume a arte dos independentes como uma arte do plein air, 
diametralmente oposta ao academicismo, neste trecho conclusivo que retoma 
as linhas gerais de seu artigo anterior: “ Uart original à la place de l’art d’imitation, le 
rajeunissement au sein de la nature, au milieu du plein air, en face du soleil et de la lumière, 
le mépris de la calligraphie et le souci du caractere dans le dessin, telle est la nouvelle et louable 
esthétique des vrais indépendents (p. 245) 


FÉNÉON, Félix. Les impressionnistes en 1886. Paris: Publications de la 

Vogue, 1886. 

Neste raro depoimento acerca da oitava e última exposição do grupo, já 
inteiramente esfacelado por razões diversas, mesclado ainda a comentários sobre 
a quinta Exposição Internacional e a segunda exposição da Société des artistes 
indépendants (cofundada em 1884 por diversos pintores pós-impressionistas, e 
marco da transição para de uma “escola” para outra), Fénéon tece diversos 
comentários às obras individuais de diversos pintores então presentes. O tom 
de sua leitura, porém, é o de uma revisão do impressionismo agonizante e de 
elogio à nova pintura, nas linhas de Signac e Seurat : “Dés le début, les peintres 
impressionnistes [...] avaient vu les objets solidaires les uns des autres, sans autonomie 
chromatique, participant des moeurs lumineuses de leurs voisins [...] ces peintres firent donc 
des notations séparées, laissant les couleurs s’émouvoir, vibrer à des brusques contacts, et 
se reco mpo ser à distance [...]. On procédait donc par décomposition des couleurs ; mais 
cette décomposition s’effectuait d’une sorte arbitraire [...]. M. Georges Seurat, Camille et 
Fucien Pissarro, Dubois-Pillet, Paul Signac, eux, divisent le ton d’ une maniére consciente et 
scientifique. Cette évolution se datte 1884, 1885, 1886P 

A seguir, Fénéon faz um pequeno e valioso histórico das exposições anteriores 
(pg. 25-26), que complementa cronologias como as de Lobstein (2010) e Riout 
(1989). 

A título de conclusão, é válido retomar a síntese de Françoise Cachin (1966, 
p. 19), para quem Fénéon foi o primeiro crítico de arte a observar a dimensão 
conceituai do impressionismo: “II tente à la fin de 1886 les premières mises au point 
claires et conceptualisés sur 1’ esthétique impressionniste. [...] Fénéon, pour la première fois, 
décrit un tableau dirne façon formelle; son jugement dépend uniquement de la valeur des 
formes. Pour lui, le mérite principal de la peinture impressionniste est de répondre au voeu 
baudelairien d’ une image de la modernitè 

O texto de Fénéon está reproduzido em Riout (1989), assim como no volume 
Au delà de 1’impressionnisme (FÉNÉON, 1966), juntamente a outros textos críticos 
(dos quais consta “ F’impressionnismê\ importante para a compreensão de sua 
leitura pessoal do Impressionismo, assim como “ F’impressionnisme cientifique ”, 




462 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


que explora com mais acuidade a distinção entre Impressionismo e Neo- 
Impressionismo, ambos comentados abaixo). 


. Uimpressionnisme. In : . Au-delà de 1’Impressionnisme. 

Paris: Hermann, 1966. p. 81-86. 

Artigo publicado originalmente no jornal socialista L, ’Émancipation sociale 
(Narbonne) a três de abril de 1887, em que Fénéon discute a terceira exposição 
da Société des artistes indépendants (24/03 a 03/05/1887). De início, enumera os 
pintores, espectadores e críticos presentes, além de tecer um breve panorama 
da opinião mais autorizada sobre os “impressionistas” presentes (conceito que 
estende, pois, a Seurat, Signac etc.): “ Aux bons critiques, la peinture reconnaissante. 
Ils anathématisent la peinture impressionniste au nom de la peinture ancienne. Mais on 
sait bien qu’ils ignorent celle-ci plus encore que celle-là et distingueraient difficilement un 
Velasqueg^ d’une paire de bottesri (p. 82) Cita, inversamente, os muitos defensores 
do Impressionismo — Mallarmé, Zola, Huysmans, Duret, Celen Sabbrin, Jules 
Desclozeaux, Gustave Kahn, Charles Vignier, Verhaeren, Paul Adam, Octave 
Maus, Jean Moréas, Jean Ajalbert, jules Cristophe, Arsène Alexandre, Paul 
Alexis e Marcei Fouquier — e aponta seu elogio comum à nova visão artística 
trazida pelo grupo. 

Fénéon tenta resumir em quatro tópicos o espírito geral da exposição: “I. 
Proscription de tout sujet historique, allégorique, mjthologique, outrop expressément littéraire. 
II. Comme méthode de travail, - l’éxecution d’après la nature directement, et non dans Tatelier 
d’après des souvenirs, des croquis, des documents écrits. III. Le souci de la signification 
émotionelle des couleurs. TV. Veffort à se rapprocher des éclatantes luminosités naturelles. 
— Uécole impressionniste est une école de coloristes (p. 82-83) Dentre todas, a mais 
fundamental para si é a última, razão pela qual exclui do Impressionismo pintores 
como Degas, Forain e Raffaélli, “préoccupés surtout du mouvement, de Tanedocte et du 
caractere .” (p. 83) Lamenta, contudo, a falta de certeza e de premeditação na obra 
de Manet, precursor direto do estilo impressionista. 

Aprofundando-se nos aspectos técnicos do Impressionismo, Fénéon tece uma 
perfeita inversão do que hoje comumente se entende por Neoimpressionismo, 
explicando este por meio (e no lugar) daquele: “les oeuvres de ces peintres se 
présentaient avec une allure d’improvisation; leur paysages étaient des coins de nature vus d’un 
rapide coup d’oeil comme à travers un hublot brusquement ouvert le cios: c’était sommaire et 
approximatif. Cette technique rigoreuse, l’impressionnisme la possède depuis 1 885, grâce à 
un peintre de quelque vingt-cinq ans, M. Georges SeuratP (p. 83-84) Desta forma, os 
principais pintores impressionistas são, para Fénéon, Camile e Lucien Pissarro, 
Paul Signac, Dubois-Pillet, Charles Angrand, Maximilien Luxe e o mencionado 
Seurat — “ les forces vives de Timpressionnismê ’ . (p. 84) 

Neste sentido limitado (r), Fénéon passa a enumerar as vantagens 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


463 


da decomposição da cor segundo o método de Seurat (pontos de cor 
correspondentes à cor local dos objetos, acrescidos de pontos de cor referentes 
à iluminação momentânea e ao reflexo dos corpos imediatamente vizinhos, 
segundo a complementaridade de cores estudada à época por cientistas como 
Chevreul), mostrando-se verdadeiramente partidário à causa: “De cette manière 
d’opérer, voici les avantages: I. De couleurs se composent sur la retine : nous avons donc 
un mélange optique. Or 1’intensité lumineuse du mélange optique [...] est beaucoup plus 
considérable que cette du mélange pigmentaire [...]. II. Ce mélange sur la rétine donne au 
tableau une vibration lumineuse qui en vivifie ttaspect. III. De modelé qu’il est impossible de 
traduire exactement avec les trainées de pâte de la méthode traditionelle, s’obtient dans son 
infinie délicatesse, puisque les proportions respectives des gouttes colorantes peuvent, sur un 
très petit espace, varier infiniment. IV. D’habileté de la main devient une question négligeable 
[...]”(p. 84-85) 

Não obstante, Fénéon considera o tempo dos “impressionistas” (referindo- 
se não mais ao grupo de Seurat) já encerrado, bem como sua pintura de telas 
brancas: “Des beaux temps de 1’impressionnisme sont périmés. Autrejois, devant les cadres 
blancs qui enferment les tableaux des impressionnistes, le public se tordait dans les convulsions 
d’une joie effrénée, proposait d’interner ces déments, plaignait ces daltoniens, conspuait ces 
farceurs. Aujourd’hui, il regard, il comprend vaguement, et s’il ricane destnon sans timidité.” 

(P - 86) 

Percebe-se, pois, a fluidez do termo para Fénéon, que ora o compreende a 
partir do grupo de 1874 ( Société anonyme des peintres etc.) ora a partir do de 1884 
( Société des artistes indépendants). É escusado salientar a importância de diferenciar 
um do outro, bem como de olhar seus textos críticos — ao menos, aqueles escritos 
até 1887 — com certo desprendimento. A partir desta data, Fénéon discute com 
precisão o Neoimpressionismo, atendo-se à sua significação particular — razão 
pela qual não constam deste anexo comentários a estes textos, também presentes 
no volume Au-delà de ttlmpressionnisme (como “Définition du néo-impressionnisme”). 


. Ifimpressionnisme scientiíique. In : . Au-delà de 

1’Impressionnisme. Paris: Hermann, 1966. p. 73-80. 

Ainda em um primeiro momento de sua reflexão sobre o Impressionismo, 
embora já com maior clareza, Fénéon especifica aquilo que entende por 
Impressionismo ao falar, a propósito da Société des artistes indépendants fundada 
em 1884, em termos de “impressionismo científico”. Trata-se de um artigo 
publicado em 1 dar t moderne a 19 de setembro de 1886, em que o crítico 
discorre sobre a segunda exposição do grupo {me des Tuilleries), realizada 
quase simultaneamente à sexta exposição impressionista irue Daffittè). De 
início, teoriza sobre a significação original do grupo de 1874: “Dès tt origine, le 
mouvement impressionniste se particularisa par la recherche de vives luminosités naturelles, la 




464 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


notation plus complete des réactions des couleurs, une observation exclusive et plus stricte de 
la vie contemporaine. [...] Mais n’est-il pas possible d’instituer un tableau de façon précise et 
consciente ? Ungroupe de peintres 1’ajjirme et le prouve (p. 74) Trata-se, pois, do grupo 
liderado por Seurat e Signac, ao qual tece elogios à precisão milimétrica da 
decomposição da cor segundo teorias científicas como as de Maxwell e Ogden 
Rood. Para Fénéon, o pontilhismo é, assim, capaz de deixar em segundo plano 
o trabalho do pincel, em prol da mistura óptica das luzes, no olho do espectador 
(não mais dos pigmentos, imediatamente sobre a tela): “ Pourles promoteurs de cette 
nouvelle peinture, de toute surface colorée s’épanãent, avec des forces diverses, des colorations 
qui vont s’amoindrissant; elles se pémtrent comme des cercles d’ondes, et le tableau s’unifie, se 
sjnthétise en une sensation gênérale harmoniqueC (p. 76) 

Percebe-se, paralelamente ao ataque iconoclástico à pintura impressionista, 
uma já incorporação do Impressionismo ao cânone pictórico, como escolha mais 
ou menos “paralisada” — logo, estabelecida, enquanto métier — da luminosidade 
e da cor. É o que se depreende, ademais, dos últimos parágrafos do artigo, em 
que Fénéon defende o cientificismo e o talento do novo grupo como novas 
formas de luta contra o público e os marchands, não empreendidas novamente 
— posto que já assegurado seu lugar na tradição pictórica — pelos cômodos 
impressionistas de outrora, como Monet: “On accuse enfin ces peintres de subordonner 
l’art à la Science. [...] La vérité est que la méthode néo-impressionniste exige une exceptionelle 
délicatesse d’oeil: fuiront effarés de sa lojauté dangereuse tous les habiles qui dissimulent 
par des gentillesses digitales leur incapacité visuelle. Cette peinture n’est accessible qu’aux 
peintres [...]. M. Monet ni tels autres n’oseront, malgré 1’ exemple de M. Camille Pissarro, 
leur dojen, recommencer la lutte contre le public, les marchands et leurs acheteurs: mais un 
compromis ralliera leur faire à celui des dissidents. Quant aux recrues de l’impressionnisme, 
c’est vers 1’analyste Camille Pissarro etnon vers Claude Monet qu’ elles s’orienterontP (p. 80) 
É lícito, porém, observar este e outros textos de Fénéon com certa reserva, 
uma vez que, mais novo que a maior parte da geração impressionista, não 
pôde ter de si senão uma visão parcial, tomada em muitos sentidos de Pissarro. 
Como observa Riout (1989, p. 26): “Par lettre du 6 juillet 1886, Fénéon demande à 
Camile Pissarro divers renseignements sur l’historique du mouvement impressionniste. Pour 
la première exposition, il désire connaítre le noms, la date et la rue, et avoue même ignorer 
1’annéeP 


FÈVRE, Henri. L’exposition des impressionnistes. Paris: UÉchoppe, 1992. 

Artigo publicado em junho de 1886, a propósito da oitava exposição do 
grupo impressionista, em que Fèvre discute com desconfiança a cristalização 
das inovações propostas em uma fórmula mais ou menos facilitada: “Certes, 
1’impressionnisme en peinture interesse et empoigne, comme une vision inédite de la nature, 
une quase- découverte des colorations, une évasion hors des traditions asphjxiantes et de la 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


465 


lumière de cachot des écoles dans le granã air et le plein soleil Mais une formule ne crée pas 
un talent, le procédé ne remplace pas 1’originalité, et l’impressionnisme ne vaut que par ce que 
vaut 1’impressionniste.” (p. 18) 

É curioso observar que, após fazer tal afirmação, Fèvre, demasiado 
contemporâneo à arte que comenta, interessa-se exclusivamente pelo quadro 
de Georges Seurat, “Un après-midi à l’Ile de la Grand Jatte ”, não se dando conta de 
que o quadro que lhe cativa é precisamente aquele que rompe declaradamente 
com tal modelo (Neoimpressionismo), para si, já solidificado em uma fórmula. 
Talvez por isto, à maneira dos primeiros comentadores do movimento em 1874, 
reproduza a estupefação do público ante a tela mencionada. 


GEFFROY, Gustave. Claude Monet, sa vie, son oeuvre. 3 ed. Paris: Macula, 

2011 . 

Muito embora constitua uma biografia do pintor, são dignos de menção 
seus capítulos referentes às exposições impressionistas, em que estabelece um 
panorama dos expositores, bem como dos comentários suscitados nos jornais 
de então. Dada a natureza dos mesmos (citações tout court , com meros índices 
de nomes de pintores, obras, críticos e jornais), parece escusado comentá-los 
aqui. Os trechos teóricos sobre o movimento, todavia, são elencados abaixo a 
respeito de seu Ua vie artistique. 

Há ainda dois capítulos sobre importantes intérpretes do Impressionismo 
(“ Duranty et la ‘nouvelle Peinture e “Théodore Dur et critique de 1’Impressionnisme ”) que 
podem ser lidos também com proveito, muito embora a natureza destes textos 
escape ao intento deste anexo. 


. La vie artistique: histoire de 1’Impressionnisme. Paris: E. Dentu, 

1894. 

A par de muitos estudos pontuais de pintores isolados, de importância maior é 
o capítulo intitulado “Histoire de l’Impressionnismê\ em que se discute o movimento 
como um todo. Em uma definição sumária, Geffroy assinala : “UI mpressionnisme 
dans les oeuvres qui les représentent le mieux, - c’est une peinture qui va vers le phénoménisme, 
vers l’apparition et la signification des choses dans 1’espace, et qui vaut paire tenir la sjnthèse 
de ces choses dans 1’apparition d’un moment. [...] II s’agit d’ une tendance, d’un élan de 1’esprit, 
du vertige spirituel qui nait en nous de 1’exaltation des sens .» (p. 8) Desta forma, o estudo 
pormenorizado da luz não é senão uma expressão sensível da transitoriedade 
da vida, fixada pela “sensation de la durée ”. (p. 14-15) Apontando a influencia de 
estampas japonesas, dos paisagistas franceses e ingleses (com destaque para 
Turner), Geffroy assinala no Impressionismo diferenças essenciais ante as 




466 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


formas artísticas predecessoras, tais como a negação da paisagem histórica, em 
prol de uma paisagem universal. São dignas de nota ainda as informações sobre 
as oito exposições do grupo, das quais consta inclusive o valor obtido pelas 
vendas dos quadros, e as datas de exposições individuais feitas por membros 
do grupo, entrementes às coletivas. Por fim, Geffroy demonstra-se um crítico 
articulado ao reconhecer, paralela à experimentação técnica, o sentido social do 
impressionismo (retomado mais tarde por autores como Francastel e Hauser), 
enquanto expressão de sua época e, também, de um capítulo da história: “ C’est 
une preuve nouvelle, à ajouter aux autres, que 1’Impressionmsme ne jut pas une doctrine 
restreinte, valable pour um temps, une formule étroite à classer parmi les curiosités de l’art, 
mais que ce fut au contraiu um chapitre de l’histoire universelle, l’art pris ou il était et mené 
plus loin, la vie continuéer (p. 50) 


. «Les Meules», de Claude Monet. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
305-308. 

Continuando sua via explicativa (cf. B. Vouilloux) de leitura do Impressionismo, 
Geffroy, agora em prefácio para um catálogo de exposição de telas de Monet 
(Galeria Durand-Ruel, maio de 1891), discorre sobre o sentido da representação 
serial da natureza nas quinze telas das mós: “Ces meules, dans ce champ désert, 
ce sont des objets passagers ou viennent se marquer, comme à la surface d’ um miroir, les 
influences environnantes, les états de l’atmosphère, les soufflés errants, les lueurs subites 
(p. 305) Trata-se, para si, de um estudo sobre a transitoriedade da vida, feito 
singelamente a dois passos da casa do pintor. Porém, vale-se de uma linguagem 
igualmente vaga, quase lisonjeira, que, apesar de pressuposta pela função de seu 
texto, atrapalha sua exposição teórica (mais nítida em seu volume posterior, ha 
vie artistiquè). É o que ocorre, por exemplo em trechos como o que se segue : 
“De toutes ces phjsionomies du même lieu, il s’exhale des expressions qui sont parei lies à des 
sourires, à de lents assombrissements, à des gravités et à des stupeurs muettes, à des certitudes 
de force et de passion, à de violents enivrementsP (p. 307) 


GENET-DELACROIX, Marie-Claude. La reconnais sanee officielle des 
impressionnistes (1865-1925): art français ou art moderne? In: COUSINIE, 
Frédéric (Dir.). L’impressionnisme: du plein air au territoire. Rouen: 
Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2013. p. 55-66. 

Explorando o lento processo de aceitação oficial do Impressionismo na 
França — mediado por funcionários administrativos e diretores das Belas Artes 
como Geffroy, Marx, Burty, Alexandre, Mantz, Castagnary, Marcei e Léon, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


467 


e assinalado vitoriosamente pela doação das Njmphéas de Monet ao Estado 
Francês, por intermédio de Clemenceau — , a autora salienta diversos momentos 
relevantes neste percurso moroso: a crise das artes do Segundo Império com 
o Salon des refusés em 1863; o reconhecimento estatal de que os pintores, assim 
como os escritores e compositores, podem organizar suas próprias empresas e 
associações, abolindo os Salons a partir de 1881; o conjunto de textos críticos 
favoráveis ao movimento, dos quais sobressai “ une sorte d’esthétique officielle 
appliquée à 1’usage de rémanápation du goüt et de 1’éducation de la perception du publiP (p. 
59) etc. Finalmente, Genet-Delacroix conclui seu texto reforçando o aspecto, 
a um só tempo, local e universal do Impressionismo, que se coaduna com o 
momento político de descentralização do poder na França na década de 1880: 
“ Enjeu de l’innovation picturale et de la perception spatiale du territoire f rançais dans um 
répartition régionale, le paysage impressionniste renouvelle la tradition française autant qu’il 
enrichit l’art International par 1’universalité de son modele formei. [...] Dans sa diversité des 
styles picturaux des artistes réalistes et impressionnistes expriment la beauté des pajsages 
des provinces de France au moment ou s’est mise en oeuvre la démocratie muniápale et la 
décentralisation administrative et artistiqueP (p. 64) Assim, “ Dmpressionnisme constitue 
le moment révolutionnaire le plus radical dans la mutation culturelle qu’il représente pour les 
contemporains des années 1865-1925.'’'’ (p. 65) 


GONCOURT, Edmond et Jules de. Journal: mémoires de la vie littéraire. 

Paris: Robert Laffont, 1956. t. III. 

Dentre muitas menções à vida artística francesa, pelas quais perpassam aqui 
e ali os nomes de diversos pintores impressionistas, a entrada de 18 de maio 
de 1889 é, talvez, a mais significativa. Nela, Edmond de Goncourt comenta 
a Exposição Universal de 1889 (“La tour Eiffel, les architectures exotiques, ça vous 
met comme dans une rêvê\ muito embora lhe pareça difusa, sem coesão (p. 271)), 
passando a crititicar a pintura de Manet e de seus seguidores, em seguida: “ Avec 
Manet, dont les procédés sont empruntés a Goja, avec Manet et les peintres à la suite, est 
morte la peinture à l’huile, c’est-à-dire la peinture à la jolie transparence ambrée et crystallisée, 
dont la femme au chapeau de paille de Kubens est le type. C’est maintenant de la peinture 
opaque, de la peinture mate, de la peinture plâtreuse, de la peinture ajant tous les caracteres 
de la peinture à la colle. Et tous peignent ainsi, depuis Kaffaelli jusquau dernier rapin 
impressionniste! ’ (idem) 

Há ainda muitas referências menores interessantes, como aquela em que diz 
ser Monet “le paysagiste, un silencieux, à la forte mâchoire de carnassier, aux terribles 
yeux noirs d’un tapeur dAbrugpes” (p. 282), ou ainda, em que observa a respeito 
de seus quadros expostos na Galeria Petit conjuntamente a Rodin (trata-se da 
mesma exposição visitada e noticiada por Domício da Gama) : “[...] ma vision 
n ’est pas faite pour ces pajsages, qui me semblent, par moments, des tableaux de passage, 




468 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


et fen suis reste au faire des Wousseau et des Dupré. Ouelques marines, mais ce sont des 
Jongkind maladroits (p. 294) 


GREENBERG, Clement. Du rôle de la nature dans la peinture moderniste. In: 

. Art et culture: essais critiques. Trad. Ann Hindry. Paris: Macula, 

1988. p. 189-192. 

Para Greenberg, o paradoxo da evolução pictórica de Courbet a Cézanne, 
e deste a Picasso, é o do advento da abstração por conta da tentativa cada 
vez maior de transcrição completa da experiência visual. No início deste 
percurso controverso, está o Impressionismo : “Les valeurs mêmes de l’art pictural 
reposaient aux jjeux des impressionnistes sur cette fidélité.” (p. 189) Esperava-se, pois, 
que o refinamento óptico pudesse diminuir a distância que vai da natureza à 
arte. Todavia, o primeiro movimento a rejeitar a importância primordial dos 
elementos ópticos foi o Cubismo, esforçando-se por restaurar, em contrapartida, 
“ rillusion sculpturale ” (idem) dos objetos. No cerne, o Cubismo desenvolvia 
com isto a lógica impressionista por ele herdada : “ha logique du réajustement 
impressionniste, quelque réserve qu’elle suscitât, devait suivre son cours indépendamment des 
volontés individuelles. (p. 190) 

Neste sentido estrito, a pintura ocidental jamais deixou de ser naturalista 
(diretamente ocupada com o real). Sua atualização só foi possível relativamente 
quando pintores como Braque e Picasso aproximaram- se dos objetos “par 
Fanalogie la façon dont la nature en général oppose les verticales aux horispntales” . (idem) 
Aproximativamente, “avec leur trame de touches de couleur oü la discontinuité des choses 
tenãait à se disso udre comme dans une solution chimique, les impressionnistes s’étaient 
approchés d’ une telle notion de l’ espace. En même temps, une disposition uniforme des accents 
picturaux conférait à la surface du tableau impressionniste plus de densité et de cohésion. Eu 
fait de 1’accentuation régulière et appujée de cette surface-objet, 1’oeil pénétrait dans un espace 
fictif d’air et de lumière qui était beaucoup plus éloigné des moyens de sa représentation que 
tout ce qui peut lui être comparé dans l’art des maitres anciensP (p. 191) 

Tais observações são úteis na compreensão do papel pioneiro do 
Impressionismo na experimentação do “espaço total” abrangido pela visão, e de 
sua influência duradoura na pintura moderna (do cubismo ao abstracionismo). 


HEILBRUN, Françoise. Impressionnisme et photographie. In: RAMOND, 
Sylvie (Dir.). Impressionnisme et naissance du cinematographe. Lyon: 
Musée des Beaux Arts, 2005. p. 243-253. 

A autora avalia as relações entre a fotografia e o impressionismo em seus 
primórdios, observando a forma acidental, e parcial, deste diálogo: “ C’est 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


469 


ãonc, remarquons-le, sous as forme plus accidentelle, la plus anonyme, et on le verra bientôt 
la plus commerciale, que la photographie eut un impact sur les peintres impressionnistes. 
Cela explique qu’ils n’aient pas jugé utile d’en parler ou lorsqidils le firent, comme Degas, 
qu’ils aient mis 1’accent sur ses insuffisances .” (p. 247) Ademais, observa a formação 
acadêmica dos primeiros fotógrafos, bem como a configuração “pictórica” de 
suas fotos, como pontos de relativização de uma possível influência (invertida, 
pois) sobre a pintura. E, enfim, salienta: “C’est peut-être simplement parce que nous 
sommes aujourd’hui saturés ã’instantanés que nous ne trouvons pas naturelles les attitudes 
très posées qui pour les contemporains constituaient problablement encore la norme dans le 
domaine de la représentationP (p. 248) 

Tal argumento não invalida, entretanto, certa influência da visão mais 
“moderna” de fotógrafos como Louis Robert, Humbert de Molard e Charles 
Nègre, que exploravam a integração de figuras, “cortadas” pela segmentação 
do ângulo da objetiva. Não obstante, a banalização e comercialização crescente 
da fotografia tornava difícil uma aceitação confessa de influência, por parte dos 
pintores. 

Seja como for, Heilbrun aponta o surgimento tardio das fotografias coloridas 
(a partir de 1885 com as placas de Vogei e de 1907 com os autocromos dos 
Lumière) como segunda causa da inconfessada dívida da pintura impressionista 
à fotografia. 

Os mesmos argumentos são expostos, com uma profusão maior de exemplos, 
em outro ensaio de Heilbrun (1985). 


HERBERT, Robert L. Impressionism, originality, and laissez-faire. In: LEWIS, 
Mary Tompkins (Ed.). Criticai readings in Impressionism and Post- 
Impressionism: an anthology. Los Angeles: University of Califórnia Press, 
2007. p. 23-30. 

Robert Herbert demonstra neste artigo (para além de seu monumental 
Uimpressionnisme: les plaisirs et les jours ) sua clareza marxista de visão sobre o lugar 
contextuai do impressionismo pictórico nas últimas décadas do século XIX, 
ressalvando, a partir da crítica de Fénéon ao movimento, a interpretação usual do 
impressionismo — recorrente até 1940 — como “an unthinkingform of naturalismP 
(p.23) Herbert, destaca, porém, o aspecto “revolucionário” do movimento: “ its 
subjects and attitudes undermined the ivhole concept of ivhat art schools should teach, and hoiv 
art exhibitions should be organigedP (p. 24) 

Herbert reconhece, porém, o sentido específico deste lado “revolucionário” 
de um grupo comstituído por pintores pouco críticos de sua época (com exceção 
de Pissarro), e acolhidos por uma nova burguesia, na linha de “novos-ricos” 
como Ernest Hoschedé e Jean-Baptiste Faure. Ele passa pelo tratamento técnico 
de um constante “presente”, que usurpa ao espectador possíveis referências 




470 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a outros momentos — i.e., à própria memória: “Denial of memory meant denial 
of history, a pervasive consequence of the Impressionists’ orientation. “History ” ivas not 
simply the discarded suhjects of earlier paintings, hut the means by ivhich they ivere rendered, 
particularly the structure of light and dark that gave conventional painting the satisfactory 
illusion of three dimensions. The exhaltation of bright color and patchy brushivork ivas the 
Impressionists’ ivay of presenting ivhat one could see, ivithout recourse to ivhat one “knoivs” 
by virtue of traditional artistic trainingP (p. 24-25) 

Assim, o autor observa uma clara correspondência entre o capitalismo e o 
crescente sucesso do impressionismo, moldado à sua imagem: “Hn education 
in Greek and Tatin, in Homer and Hirgil, and in the Bible had little real function for 
the entrepreneurs of industrial capitalism: ‘lf y o u’re so smart, why ain’t you rich?’ These 
premodern subjects, ivhich had been attached to monarchy, nobility and theocracy, eventually 
ceased to underpin public education [...]. The Impressionists ivere ahead of most of their 
comtemporaries ivhen they denounced the Academy and its retardataire allegiance to those 
traditional sourcesT (p. 25) 

Trata-se, pois, de uma luta pelo liberalismo no plano pictórico. Diversas 
vezes surge o termo “liberdade” nos textos de defensores do grupo, como 
Duret e Duranty: “Freedom, quite logically for the artists, ivas required both for the sake of 
producing their ivorks (art historiam recognige this) and for marketingthem (most art historiam 
avoid this). The laissegjaire market they fought for is the most obvious comparison ivith the 
commercial ivorldT (p. 26) A inventividade disposta em cada quadro viria suprir 
a incompatibilidade do mesmo frente ao mecenato estatal e religioso — cujos 
temas o impressionismo pretende abolir, mediante a fórmula independentista 
do laissegfaire. 

Em geral, este argumento marxista de Herbert pretende explicar também a 
mesmice da art pompier com base em seu próprio sistema de premiação pelos 
salony. “ The requirement ivas to conform enough to these institutions to guarantee continued 
subsidies and commissions — observing tradition ivas literally a ivay to make a living. Hoiv 
could artists outside this closeã market earn their ivay? Tike upstart businessmen, they had 
to develop a neiv product, and in the process they had to assert its neivness, its onginalityT 

(P ' 27) . 

A síntese de sua leitura, que subverte o sentido revolucionário do 
impressionismo, pode ser encontrada nesta frase polêmica e interessante: “The 
Impressionists ivere the vanguard of the bourgeoisie, not of any revolution (idem) 


HUYGHE, René. Ldmpressionnisme et la pensée de son temps. In: . 

La relève du réel: impressionnisme, symbolisme. Paris: Flammarion, 
1974. p. 9-34. 


Ensaio originalmente publicado na revista Tromethée de feveiro de 1939, em 
que René Huyghe retoma o caráter limitado das periodizações e classificações 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


471 


estéticas a fim de observar a dupla natureza do impressionismo: “ 'Qu’en est-il en 
réalité? Uimpressionnisme fiut-il une discipline ou la libération de personnalités exceptionelles? 
On en pourrait discuter sans fin. Car 1’impressionnisme offre une double prise: d’ une part, il 
peut apparaitre comme le lien fragile qui masse en un bouquet tout une série de fleurs distinctes 
et impossibles à confonâre. [...] Mais, d’autre part, les impressionnistes forment sans conteste 
unegroupe.» (p. 9-10) Assim, o autor realiza, nesta introdução, um estudo “geral” 
do grupo impressionista, para, posteriormente, avaliar a obra individual de cada 
um de seus representantes. 

Primeiramente, Huyghe retoma a atitude intelectual comum ao impressionismo 
e à ciência (“ sensualisme rationneP) como causa de seu “ réalisme fidèle aux disciplines 
s cientifiques, un réalisme analysé et contrôlé par des méthodes op tiques süres"\ disto julga 
derivar seu uso das cores, em detrimento do chiaro scuro (como, por ex., o uso do 
azul para as áreas de sombra), (p. 11) 

Em seguida, assinala a lenta sobreposição da matéria pelo movimento 
nas correntes estéticas desde o Barroco e o papel do impressionismo como 
auge desta mudança. Assim, vagamente, Huyghe define o espírito da época 
impressionista: “ Plus de ligne droite et ferme, des lignes flott antes, mouvantes [...]. La 
ligne droite, le rayon sont pourchassés jusque dans la physique oü les ondes s’installent en 
maitresses. La philosophie même, dans son langage, dans ses images, avec Bergson n ’admet 
plus que ‘mouvanf, ‘courant vital', ‘jaillissement’, ‘flux de la vie intérieure’..." (p. 21) 

Porém, a base de seu argumento é demasiado simplista, e busca apenas 
confirmar o contexto na obra de arte, e vice versa: “La Science ne divise-t-elle 
pas la matière en milliards d’atomes qui fiont de 1’univers un immense magma de particules 
infinitésimales tourbillonnant? [...] L’impressionniste de son côté pratique un semblable 
divisionnisme: plus de contours, plus de formes, plus d’objets distincts; un poudroiement de 
taches colorés dont le rapprochement, le groupement engenãrent l’illusion des choses." (p. 25) 
O mesmo se aplica à apresentação dos pintores: “Mais Seuratl Mais Man Goghl 
Seurat vibre du froid lyrisme du physicien devant la complexité sans borne de ses taches 
compos antes criblant sa toile comme des ato me s analysés. [...] Man Gogh, avec sa double 
vue de mystique, voit se révéler à lui la sarabande effrénée des mondes et des atomes, leurs 
mouvements de rotation ou de bombardementP (p. 26) 

Compara, finalmente, o impressionismo à filosofia de Bergson — enquanto 
ensaio dos “dados imediatos da consciência” — , e observa aí certa semelhança com 
o projeto literário proustiano: “le roman avecProustet/a peinture avec rimpressionnisme 
accomplissent une tentative analogue pour rejeter la mécanisation imposée par 1’intelligence à 
la vérité fuyante et indéfinissable de la vie et se remettre en contact spontané avec elle." (p. 
29) E, prova final de seu olhar holístico sobre o impressionismo (na literatura, 
na pintura, na ciência, na filosofia), julga as descrições de Elstir na Kecherche — 
enquanto pintor votado ao discernimento entre a visão e à inteligência — a a 
definição perfeita da questão, dada em termos de apreensão sensorial do tempo 
(ou da duração): “Définissant ainsi l’impressionnisme, Proust se définissait lui-même et il 
définissait aussi la méthode bergsonienne demandant que la vérité füt recherchée, degagée des 




472 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


notions de rintelligence, des préjugés (au sens littéral) de la pensée, dans le ãonnée imméãiate 
pure de tout alliage que fournissent les sens et Tintuition. [...] lei encore le peintre, 1’écrivain, 
le philosophe adoptent la même attitude .” (p. 29) 

Trata-se, pois, de texto epidérmico sobre a questão (ainda que reproduzido 
em volumes importantes, como Centénaire de rimpressionnisme (DISTEL, 1974)), 
cuja inclusão neste anexo visa remeter a diversos itens que dele foram excluídos, 
justamente por este não lugar de análise — i.e., entre a apresentação ampla da 
estética impressionista e um argumento demasiado limitado (como ocorre, por 
ex., em outro texto de Huyghe (1959), estrategicamente posto de lado). 


HOUSE, John. Framing the landscape. In: . Landscapes of France: 

Impressionism and its rivais. Londres: Cornerhouse, 1996. p. 12-29. 

Catálogo de exposição, 18 mai. 1995 — 28 ago. 1995, Hayward Gallery, 

Londres; 4 out. 1995 — 14 jan. 1996, Museum of Fine Arts, Boston. 

Em meio à discussão da evolução da paisagem na pintura francesa oitocentista, 
House discute brevemente o conceito de impressão como parte deste mesmo 
processo evolutivo. Para o autor, “impressão” acompanha termos como 
“efeito” e “sensação” na literatura crítica da época, tomando-lhes a primazia: 
“The distinction hetween the emotional impact of the scene and the suhjective response of 
the artist ivas consistently blurred in the ivriting of the period, in particular in the use of 
the terms effet, sensation and impression. It ivas the artisfs suhjective engagement ivith 
nature’s fleeting effects that ivas expressed by the picture and transmitted to the vieiver ln 
the present context, impression is the most significant term. It referred initially to the 
impression made on the vieiver by the experience of nature’s most transitory effects, and 
then, by extension, to paintings that recorded such impressionsT (p. 22) Citando Gautier, 
Lagrange e Claretie, House salienta o uso generalizado do termo, após 1874, em 
textos sobre o grupo impressionista. 

No que diz respeito à tradição das paisagens, House observa ainda que “ the 
painting of effets and impressions ivas unconcerned ivith the actual site depicteâ\ muito 
embora contribuíssegradativamenteparaa^rrép/tífofi/yo/’ overtly contemporary scenesT 
(p. 23) Neste sentido, aberta a uma visão de mundo marcada pela curiosidade 
acerca do novo (e que House reputa em débito para com o pensamento de 
Baudelaire), a pintura impressionista representa uma importante transição, na 
década de 1870, dos temas acadêmicos à representação do cotidiano, por meio 
de suas cenas reiteradas de Paris e seus arredores. Contudo, o autor sublinha 
uma importante nuança na relação entre os impressionistas e o mercado: 
com a demanda cada vez maior de cenas contemporâneas pelas autoridades 
republicanas após as mudanças no governo de 1877 a 1879, os impressionistas, 
que muito contribuíram para o sucesso deste gênero de pintura, recusam uma 
venda direta às instituições, optando pela mediação de marchands : “ ivhen State 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


473 


began to encourage expliátly contemporary subjects, the members of the Impressionist group 
turned aimy from them [...]. This shift coincided ivith their attempts to market their ivork 
through art dealers such as Paul Durand-Durel; their pursuit of the burgeois collector market 
probably led them toivards more conventionally picturesque them es.” (idem) 

Sem que especifique quais seriam estes temas convencionais, House comenta 
o uso impressionista da cor como triunfo do modelado sobre a linha (ou da 
matéria sobre o pensamento), marcando também “ the triumph of a spontaneous, 
‘natural’ for m of painting over academic artífice ” (p. 24). Ajustado à pintura de 
paisagens por estas mesmas razões, além de afeito ao teor democrático deste 
gênero que não se fixa sobre a hierarquia social nem sobre o prestígio individual, 
o Impressionismo apelaria diretamente a compradores particulares, em busca 
de decoração para cômodos geralmente pequenos: “Modest subjects suited smaller 
formats; the rapid technique needed to catch transitory effects also demanded portable canvases; 
and private collectors, often mth modest-sfed apartments, sought domestic-sjed pictures. The 
large landscapes exhibited at the Salon, however informal their subjects, ivere only suitable 
for display in public buildingsT (p. 26) Como observa o autor, as telas de Monet, 
Pissarro e Sisley vendidas para Durand-Ruel, no início dos anos 1870, eram 
todas paisagens, e garantiram lentamente seu sucesso de vendas com este célebre 
marchand (que, por sua vez, a partir de 1891, organizou exposições individuais 
destes e de outros pintores impressionistas, garantindo seu sucesso duradouro 
e estabelecendo algumas das raízes do comércio de arte atual). 

Sobre as oito exposições impressionistas, observa sua falta de unidade — 
realizadas como o foram mediante as pressões financeiras dos membros ou de 
Durand-Ruel — , embora observe dois tipos de quadros aí expostos: “In shomng 
both sketches and ‘dealer landscapes’ the painters brought together types of painting that 
normally belonged in dijferent settings and addressed different publics. The primary audience 
For the ‘dealer landscape ’ ivas the stroller doivn the Rue Tafitte, ivhile the sketches ivere aimed 
toivards a more elite and intimate vieivership like that of the cercles.” (p. 28) Assim, 
ao lado das vendáveis paisagens, os pintores expõem telas cujo vanguardismo 
técnico apela a um grupo de conhecedores, agradando, pois, aos dois polos do 
mercado. 

Finalmente, o autor chama a atenção para o perigo de aceitar passivamente 
distinções como as de um público popular e de elite, dada sua construção 
unicamente a partir de um ponto de vista elitista, a posteriori, a partir de textos de 
artistas e de críticos: “In nineteenth-century France there ivas no simple correlation betiveen 
taste and social class. The notion of ‘burgeois’ taste ivas as much of a negative stereotype as 
that of the ‘public ’ [ . . .] ; yet most art lovers and most artists, ivhatever their aesthetic position, 
ivere broadly members of the bourgeoisieT (p. 29) 

Em suma, trata-se de texto interessante do ponto de vista da relação entre 
os pintores e o mercado, porém limitado ao apelo da paisagem frente aos 
consumidores “menos” especializados. Infelizmente, deixa de discutir o caráter 
popular deste apelo mercadológico, com base na (boa?) razão de não tomar a 




474 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


arte de vanguarda como sinônimo de arte elitista. 

O ensaio de House encontra-se reproduzido também na coletânea de Lewis 
(2007). 


. Impressionnism and the modern portrait. In: JOHNSTON, Sona 

(Org.). Faces of Impressionism: portraits from American collections. 

Nova Iorque: Baltimore Museum of Art, 1999. p. 11-35. Catálogo de 
exposição, 10 out. 1999 — 30 jan. 2000, Baltimore Museum of Art, Baltimore; 
25 mar. — 7 mai. 2000, The Museum of Fine Arts, Houston; 28 mai. — 30 jul. 
2000, The Cleveland Museum of Art, Cleveland. 

Retomando implicitamente a discussão do artigo anterior, House inicia seu 
estudo sobre o retrato impressionista a partir da disparidade entre estes dois 
termos (estando, pois, o Impressionismo mais próximo do apelo democrático da 
paisagem que do personalismo do retrato): “At first sight, ‘Impressionist portraiture’ 
may seem an unlikely combination of terms. Portraiture is essentially an art that defines and 
preserves personal identity, often mth the purpose of propagating or commemorating the status 
and position of the sitter. Impressionism, by contrast, focuses on the transitory — visual effects 
caughtin passing that elude precise identificationP (p. 1 1) Não obstante, House destaca 
a contribuição dos impressionistas para o retrato moderno — seu afastamento 
do dado histórico, em prol da representação fugaz de pessoas próximas aos 
pintores — e propõe-se a discutir a fundo esta questão. 

O autor enumera as duas possibilidades de sucesso para um retratista no 
século XIX — “ establishing a network of contacts and patrons, and through presenting 
portraits at public exhibitions, in the hope that they might attract client s” (idem) — e 
destaca a importância de retratos de grandes personalidades como elemento 
facilitador de ambas. Porém, ao enumerar retratos de Renoir e Degas, observa 
certo intimismo dos impressionistas, atentos às suas próprias famílias e amigos: 
“This very intimacy in central to the Impressionists’ contribution to the art of portraiture. 
Focusing on sitters ivho ivere close to them, persons ivith ivhom they enjoyed an everyday 
familiarity, alloived them to develop a repertoire of forms and poses that evoke the immediacy 
of daily life, rather than the artificial conventions of ‘high art’ portraiture P (p. 13) Tais 
convenções acadêmicas, que vão desde a experimentação fisionômica direta 
de Lavater até as fórmulas de Le Brun, preconizam simultaneamente o estudo 
da fisionomia e a representação do caráter por meio de um físico, o mais da 
vezes, idealizado. Inversamente, na contramão destas teorias, o pintor do século 
XIX tem de ajustar suas formas de representação às novas individualidades 
emergentes da classe média: “ Somehoiv the individual needed to be seen as representing 
a type, mthout his individuality being compromised.” (p. 15) 

Assim, House destaca duas categorias de retratos impressionisas: públicos 
e privados. Na primeira, observa a predominância de figuras masculinas; a 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


475 


representação de flâneurs em meio aos seus lazeres; a atenção a ambientes de 
trabalho e à interação coletiva de seus funcionários (como no “ Cotton bureau” de 
Degas); os flashes de óperas, teatros, cafés, bulevares etc. Na segunda, observa 
inversamente a predominância de figuras femininas (nem sempre reveladas por 
seu nome ou iniciais) e de crianças; representações de reuniões íntimas à mesa, 
em jardins etc. Entre ambas as categorias, insere os autorretratos e os retratos 
de artistas em seus ateliês, enquanto mescla de local de trabalho e de esfera 
íntima, no caso exclusivo dos pintores. 

A seguir, o autor destaca a importância paralela da fotografia na demanda 
de retratos cada vez mais “artísticos” (e menos mecânicos): “ The emergence of 
photography in the 1 8 30 s as the most immediate ivay of fixing a superficial likeness heightened 
the ãemands on ‘fine arf portraiture. It intensified the pressure on the artist to penetrate 
sufiace appearances and reveal the sitter’s essence; ath the same time, it ivas argued that the 
true portraitist— unlike the operator of a mechanical âevice such as a camera — should express 
somethingfundamental ahout himself in his portraitureP (p. 26) Talvez por conta desta 
mesma pressão por um estilo e uma visão rebuscada do cotidiano, observa 
a aproximação dos retratos impressionistas à pintura de gênero, como parte 
de uma ampla — e fluida, incerta e experimental — visão de modernidade: “ In 
standard artistic theory of the nineteenth century, the distinction hetiveen portraiture and genre 
painting ivas unprohlematic. Portraiture depicted individuais as individuais, ivhile the figures 
in genre painting ivere typical, involved ingeneric activities and situations. [ . . .] Hoivever, for a 
numher of reasons, such distinctions have hecome blurred in discussing Impressionist painting: 
in part, this is the result of the activities of subsequent art historiam, but it also reflects the 
nature of the experiments that the painters themselves ivere makingr (p. 29) 

Tal como o ensaio anterior, o presente texto de House possui pontos 
interessantes de análise, muito embora deixe de aprofundá-los; o que se deve, 
provavelmente, à natureza rápida dos textos em questão, incluídos em dossiês 
sobre o Impressionismo antepostos a catálogos de exposição que limitam seu 
enfoque teórico (ora sobre a paisagem ora sobre o retrato). 


. Impressionism: paint and politics. New Haven: Yale University 

Press, 2004. 

Para além da discussão entre arte e sociedade na França entre 1860 e 1880 
(que constitui, por sua vez, o maior exemplo de uma história crítica do sentido 
contextuai subjacente à mercantilização da arte e à ruptura com a cosmovisão 
setecentista), House faz um levantamento dos historiadores do impressionismo 
em uma “Coda” a seu livro, intitulada “ Impressionism f histories revieivedP Nela, 
sumariza com acuidade a lenta evolução dos estudos sobre o assunto. Assim, 
destaca na década de 1960 a linearidade teleológica do impressionismo como 
início de uma “pintura pura”, diretamente ligada às qualidades formais do 




476 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Modernismo, e cita como exemplos as leituras “moralistas” de John Rewald 
(arte corrupta dos salons X unidade modernista entre estética e moralidade) e 
de Michael Fried; na década de 1970, sublinha o início das críticas à postura 
moralista, pautadas na ruptura entre os tratamentos estético, biográfico e 
contextuai, e cita como exemplos as reações a manuais como os de Phoebe Pool 
por Mark Steven Walker e Robert Rosenblum, ou ainda, os estudos de T. J. Clark, 
Linda Nochlin, Richard Schiff e Robert Herbert; na década de 1980, destaca 
o desenvolvimento das afluências iniciadas em 1970 com The painting of modern 
life (T. J. Clark), obra da qual observa uma ênfase em nuanças ideológicas e em 
registros verbais, por oposição ao factualismo documental de Herbert Read; na 
década de 1990, destaca as contribuições de Stephen Eisenman (seu Nineteenth- 
century art e sua atenção a questões de gênero, raça e classe, continuada mais 
tarde por Griselda Pollock e Kathleen Adler), Nicholas Green (seu estudo da 
natureza como constructo cultural) e Pierre Vaisse (sua Ta Troisième Republique 
et les peintres , que coloca em xeque o conceito de vanguarda no século XIX, 
atribuindo muitas de suas conquistas ao papel do Estado); na década de 2000, 
destaca a obra de Philip Nord Impressionists and politics. 

Muitos outros autores e questões são mencionados, dentre os quais se 
incluem os diversos catálogos de exposição lançados todos os anos, ora atentos 
a um pintor específico ora a determinada questão, comum a vários. 


HUYSMANS, Joris-Karl. Appendice. In: . L’art moderne. Paris: 

Charpentier, 1908. p. 283-301. 

Na primeira parte deste apêndice, Huysmans lamenta o tamanho diminuto 
da exposição de 1882, a sétima do grupo, da qual estavam ausentes Degas, 
Raffaelli, Forain, Cassatt e Zandomeneghi; todavia, o retorno de Renoir, 
Caillebotte, Monet e Sisley parece motivá-lo a escrever sobre o assunto, do qual 
fornece comentários mais sucintos, divididos em subtópicos, conforme cada 
pintor avaliado: Caillebotte (do qual lamenta o £ persistent silence ’ em torno de seu 
nome, p. 288), Gauguin (que lhe decepciona desta vez, não apresentando “rien 
qui vaillê\ idem), Guillaumin, Renoir (de quem aponta altos e baixos), Pissarro 
(apenas elogios), Sisley e Monet. A respeito deste último, Huysmans é mais 
incisivo, explorando o sentido específico que dá ao Impressionismo como algo 
demasiado próximo ao realismo: “ T’impressionnisme tel que le pratiquait M. Monet, 
menait tout droit à une impasse; c’était l’mf reste constamment mal éclos du réalisme, 1’auvre 
réelle abordée et toujours abandonnée à mi-côte. M. Monet est certainement Vhomme qui a 
le plus contribué à persuader le public que le mot ‘impressionnisme ’ désignait exclusivement 
une peinture demeurée à Vétat de confus rudiment, de vague ébauche .” (p. 292) Todavia, 
elogia seus quadros desta exposição, e afirma ser “M. Monet [...] le mariniste par 
excellenceP (p. 293). Conclui ainda, antes de passar a discutir, na segunda parte, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


477 


sobre a exposição oficial da Societé Nationale des Beaux Arts : «C’est avec joie que 
je puis faire maintenant l’éloge de M. Monet, car c’est à ses efforts et à ceux de ses confrères 
impressionnistes du paysage qu’est surtout due la réãemption de la peinture .» (idem) 

Uma reprodução alternativa deste texto está presente na coletânea de Riout 
(1989). 


.La“Nana”deManet. ImBONAFOUX, Pascal (Org.).Correspondances 

impressionnistes. Paris : Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 182-184. 

Breve artigo sobre o quadro “Nana” de Manet, prévia, apesar de inspirada no 
romance, da Nana de Zola, em que se elogia a capacidade dos impressionistas 
— dentre os quais inclui Manet — em representar como “ aucun des peintres non 
impressionnistes [...] lafillêT (p. 182) 

O texto encontra-se reproduzido também em Riout (1989). 


. Uexposition des Indépendants en 1880. In: . L’art moderne. 

Paris: Charpentier, 1908. p. 97-139. 

Lamentando a convencionalidade dos quadros tradicionais, pintados em ateliê, 
Huysmans, a propósito da quinta exposição do grupo impressionista, reconhece 
o papel libertário destes pintores: “C’estau petitgroupe des impressionnistes que revient 
1’honneur d’avoir balayé tous ces préjugés, culbuté toutes ces conventionsP (p. 101-102) 
Para tanto, segundo seu ponto de vista, foi necessária a percepção da verdade 
científica da transitoriedade da cor, mediante as condições de iluminação de 
cada ambiente. O hábito de pintar ao ar livre, comum a diversos paisagistas 
do grupo, foi o que revelou a este grupo tal verdade, inspirada nas ciências da 
época: “ Nétude de ces oeuvres relevait surtout de la physiologie et de la médecine .” (p. 103) 
Percebe-se, pois, o viés partidário de Huysmans ao defender o grupo, enquanto 
ramificação de um cientificismo e de um naturalismo partilhado por ele próprio, 
ao longo de muitos anos (há, inclusive, um elogio deslocado a Zola, à p. 1 05, e 
uma avaliação de um quadro de Degas, às pp. 130 e 131, pautada na precisão 
fisiológica dos organismos das jovens moças, conforme os hábitos alimentares 
das regiões de onde provêm). Nesse sentido, seria lícito repetirmos, com Pierre- 
Louis Mathieu (1987, p. 184): “ Huysmans intitula son recueit ' L’art moderne. Un 
titre tel que L’art naturaliste eüt certainement mieux convenu, car la définition qui figurait 
dans les premières pages précisait sans ambages les critères esthétiques de 1’auteur 1 ’. Tal 
viés de análise seria responsável ainda pelas citações mais ou menos hostis de 
Huysmans por Fénéon e Geffroy (MATHIEU, 1987, p. 188). 

Não obstante, a seu ver, o grupo lentamente despoja-se do que havia de 
incompleto nas telas de suas primeiras exposições, atingindo maior maturidade 




478 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


no uso da luz. Tece comentários às obras de Pissarro e Monet (das quais destaca 
altos e baixos), Raffaelli, Zandomeneghi, Forain, Cassatt, Morisot, Bracquemond, 
Degas (“ Vexécution de M. Degas me rappelle, à bien des points de vue, Véxecution littéraire 
des frères de Goncourt. Ils auront été, les uns et les autres, les artistes les plus raffinés et les 
plus exquis du sièclé’\ p. 133), dentre outros. Como exímio romancista, Huysmans 
executa como que écfrases dos quadros que comenta, analisando e revivendo as 
cenas representadas em narrativas breves e poéticas. 

“En somme, Vart français est par terre ; tout est à reconstruiu ; jamais plus glorieuse tâche 
n ’a été réservée à des artistes de talent comme ceux dont je viens de parco urir les envois, dans 
la salle des PjramidesP (p. 139) 

É lícito destacar, por fim, o elogio incontido à obra de Caillebotte entre 
as páginas 107 e 113, pintor praticamente despercebido à época, embora 
responsável em grande parte pela sobrevivência e divulgação do grupo mais 
tarde, enquanto comprador e colecionador de quadros ele próprio, e doador de 
seu conjunto de obras (próprias e alheias) ao Estado francês, após sua morte. 

Para uma reprodução alternativa deste texto, cf. Riout (1989). 


. Uexposition des Indépendants en 1881. In: . L’art moderne. 

Paris: Charpentier, 1908. p. 247-282. 

Huysmans, assíduo às exposições do grupo, das quais conhece não apenas 
as duas que analisa em E’art moderne, mas também as anteriores, que evoca à 
medida que faz suas observações, inicia o presente texto elogiando o talento 
de Degas, que considera o maior pintor do século XIX, também na escultura. 
A seguir, debruça-se sobre os quadros de Mary Cassatt (dos quais enaltece 
a representação magistral, não sentimental, da infância), Pissarro (em que 
destaca o amadurecimento das técnicas impressionistas como principal dado da 
exposição — “ ungrand fait domine, l’éclosion de Vart impressionniste arrivé à maturité avec 
M. Pissarro ”, p. 278), Guillaumin, Gauguin (de quem elogia o trato honesto da 
nudez de outros povos como algo especialmente salutar à sociedade parisiense, 
por vezes demasiado artificial), Raffaelli, Forain, Morisot, dentre outros. Destaca 
a maturidade do estilo impressionista, com destaque para o mencionado Pissarro, 
frente à irritabilidade sensorial de seus primeiros anos: “Ainsi que je Vai maintes 
fois écrit, jusqidà ce jour la rétine des peintres de Vimpression s’exacerbait. Elle saisissait bien 
tous les passages de ton de la lumière, mais elle ne pouvait les exprimer et les papilles nerveuses 
étaient arrivées à un tel état d’irritabilité qu’il ne nous restait que peu d’espoir En somme, 
Vart purement impressioniste tournait à Vaphasie lorsque, par miracle, tout à coup il s’ est mis 
àparler, sans incohérencesP (p. 278-279) 

Por fim, Huysmans conclui comentando o fim dos Salons oficiais por conta da 
série de críticas — das quais o Impressionismo é uma das mais relevantes — feitas 
a seu caráter normativo e limitador. Sua posição, absolutamente contemporânea 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


479 


ao fechamento dos Salons, é de toda importância, e merece ser lida com atenção: 
“11 n’j a pas plus de raison, un effet, de proteger et de médailler les peintres qu’il n’j a de 
raison d’aider et de décorer les littérateurset les musiciens. Ceux qui auront une personnalité 
finiront par percer peut-être et, du reste, leur sort restera le même, que l’on anéantisse ou que 
l’on conserve les méãailles et les commandes, puisqidils sont assurés de n’en jamais avoir ; 
quant aux autres, ils se feront employés de commerce s’ils ont de rinstruction, camelots ou 
boueux s’ils ne savent ni compter ni tire. D’ailleurs, je ne suis pas inquiet sur leur sort, ils 
continueront à barbouiller de la peinture, car moins on a de talent et plus on a de chance 
de gagner sa vie dans l’art ! ” (p. 281) Trata-se de uma defesa liberal do poder 
regulador do mercado e do talento individual como únicos parâmetros para o 
sucesso das artes, compreendendo-se nisto a troca do valor das medalhas pelo 
valor do dinheiro: “Uexample des Indépendants démontre victorieusement rinutilité d’um 
budget et le néant d’ une direction appliquées aux arts (p. 282) 

Para uma reprodução alternativa deste texto, cf. ainda a coletânea de Riout 
(1989). 


. Uexposition internationale de la rue de Sèze. In : BONAFOUX, Pascal 

(Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 
2008. p. 287. 

Elogio relativo aos quadros de Monet e Pissarro escrito para a Reme indépendante 
de junho de 1887, algo próximo ao realizado por Mirbeau a propósito do 
mesmo evento (Exposição Internacional de Pintura e Escultura), e de ordem 
também criticamente impressionista. Veja-se, a título de exemplo, um trecho de 
seus comentários sobre Monet: “ha sauvagerie de cette peinture vue par um oeil de 
cannibale déconcerte d’abord, puis devant la force qu’elle décèle, devant la foi qui 1’ anime, 
devant le soufflé puissant de l’homme qui la brosse, l’on se soumet aux rébarbatifs appas 
de cet art frustrei’’ (p. 287) Percebe-se, ainda, certa decepção do crítico perante 
o grupo impressionista, apontada por Helen Trudgian (2012, p. 113) como 
decorrente dos “ dissentiments qui éclatent au sein du groupe, en 1883 ”, a respeito da 
homogeneização das exposições futuras (participação apenas de expositores 
que desenvolvam as mesmas técnicas, os mesmos temas etc.). 


JAMES, Henry. Parisian festivity: letter from Henry James, Jr. New York 
Tribune, Nova Iorque, p. 2, 13 maio 1876. 

Após uma série de banalidades (das quais elencamos, a título de exemplo, uma 
menção ao feriado de Páscoa, vários elogios à beleza da raça britânica e à capital 
francesa, notas sobre os últimos concursos hípicos etc.), Henry James passa 
a discutir a exibição dos “Irreconcilables othenvise knoivn as the ' Impressionists de 




480 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


1876, organizada por Durand-Ruel. James, que pessoalmente esteve na exibição, 
confessa não compartilhar de todo do projeto dos pintores em questão: “The 
young contributors to the exposition of ivhich I speak are partisans of unadorned reality 
and absolute foes to arrangement, embellishment, selection, to the artisfs alloiving himself, 
as he has hitherto, since art began, found his best account in doing, to be preoccupied ivith 
the idea of the beautijulP Observa ainda a semelhança da valorização do instante 
e do transitório como ponto em comum com os pré-rafaelitas ingleses, muito 
embora assinale a inferioridade do grupo francês perante o inglês. As frases 
de James são severas, e parecem desmotivar os habituais estudos sobre o 
impressionismo em sua obra: “None of its members shoiv signs of possessingfirst-rate 
talent, and indeed the ‘Impressionisf doctrines strike me as incompatible, in an artisfs mind, 
ivith the existence of first-rate talent. To embrace themyou must be provided ivith a plentiful 
absence of imaginationf A seguir, deixa de ocupar-se dos impressionistas para falar 
sobre as últimas novidades da Ópera, sobre Sainte-Beuve, Zola etc. 


KEAR, Jon. Les impressionnistes. Paris: Gründ, 2008. 

Há no presente volume a curiosa reprodução do catalogo da exposição de 
1874; de trechos de jornais; de croquis de ‘Tes chcits de Champfleury; de cartas, 
charges e jornais; dum número do Te Figaro (26/ 11/1 863) em que foi impresso 
o ensaio ‘Te peintre de la vie moderne de Baudelaire etc., como forma de ilustrar o 
universo intelectual dos anos iniciais do impressionismo. 


LAFORGUE, Jules. UImpressionnisme. In: . Oeuvres complètes: 

Mélanges posthumes. Paris: Société du Mercure de France, 1903. p. 1 33- 
145. 

Laforgue considera o ano de 1883 como o ano do Impressionismo, tendo 
em vista a publicação de seu artigo ao lado de outros textos, como Tes peintres 
impressionnistes de Théodore Duret e “Paradoxe sur la couleuF de Paul Bourget, e 
a quinta exposição do grupo, em outubro do mesmo ano. Trata-se de um texto 
importante pela clareza com que define as inovações técnicas do Impressionismo 
valendo-se de um métier evolutivo tomado às ciências naturais, muito embora 
não se limite, como boa parte destas teorias, a apenas ilustrar a vida intelectual do 
século XIX. Definindo de antemão o sentido do termo que se propõe a discutir, 
diz : “ rimpressionniste est un peintre moderniste qui, doué d’une sensibilité d’oeil hors du 
commun, oubliant les tableaux amassés par les siècles dans les musées, oubliant 1’éducation 
optique de 1’école (dessin et perspective, coloris), à force de vivre et de voir franchement et 
primitivement, dans les spectacles lumineux en plein air, fest-à-dire hors de 1’atelier éclairé à 
45°, que ce soit la rue, la campagne, les intérieurs, est parvenu à se refaire un oeil naturel, à 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


481 


voir naturellement et à peindre ndivement comme il voit” (p. 133) Para tanto, aponta a 
subversão de três técnicas da pintura que existem desde sempre: o desenho, a 
perspectiva e a iluminação do atelier. Os dois primeiros são substituídos pelas 
vibrações e contrastes entre as cores, e o terceiro é trocado pelo plein air , à 
frente do objeto e executado no menor tempo possível, de forma a captar, sem 
prejuízo, a iluminação natural (fora do atelier). 

Analisando, a seguir, cada uma das técnicas mencionadas, Laforgue afirma 
que a dependência imemorial do desenho na pintura remonta à necessidade 
humana de captar “ des jeux de la lumière, la X/ie” (p. 134) através dos olhos — os 
quais, ao longo da evolução humana, discernindo outrora apenas a luz branca, 
fizeram uso das mãos para localizarem-se no espaço, e “les sens des formes a 
epre des doigts dans 1’oeil.” (p. 135) A dependência do desenho, resultante desta 
configuração táctil do olhar, interpôs-se ao refinamento do órgão, “retardée 
relativement à celle de 1’oreille par example, et est encore dans la couleur une intelligence 
rudimentaire, et tandis que 1’oreille analyse aisément les harmoniques, comme un prisme 
auditif l’oeil voit synthétiquement et grossièrement seulement la lumière et n ’a que de vagues 
pouvoirs de la dêcomposer dans les spectacles de la nature ” (p. 135-136). Logo, o olho 
natural, cultivado pelos impressionistas, deve abrir mão de suas referências 
táteis de outrora e ver a realidade atmosférica tal como ela é, por meio de suas 
incessantes variações. Para Laforgue, esta é a primeira característica do olho 
impressionista, muito mais avançado que o olho acadêmico, seu antecessor : 
“En somme 1’oeil impressiomiste est dans 1’évolution humaine 1’oeil le plus avancé, celui qui 
jusqidici a saisi et a rendu les combinaisons des nuances les plus compliquées connues.” (p. 
137) 

O segundo elemento serve de complemento ao anterior, uma vez que, tal 
como o desenho, a perspectiva também é interpretada conforme as vibrações 
coloridas da natureza: “ E’impressionniste voit et rend la nature telle qu’elle est, c’est-à- 
dire, uniquement em vibrations colorées. Ni dessin, ni lumière, ni modelé, ni perspective, ni 
clair-obscur, ces classifications enfantines : tout cela se résolut en réalité en vibrations colorées 
et doit être obtenu surla toile uniquement par vibrations colorées (idem) Desta forma, a 
paleta do pintor está para a luz e suas variações assim como a perspectiva sobre 
a tela plana está para a profundidade do real no espaço, e tais convenções são, 
embora atualizados, os principais recursos do pintor. 

O terceiro e último elemento, a troca do atelier pelo plein air. , necessita ser 
discutido levando em conta, além das variações de luz na natureza, a variação 
das impressões do pintor : “même en ne restant que quinge minutes devant un paysage, 
1’oeuvre ne sera jamais l’équivalent de la réalité fugitive, mais le compte-rendu d’ une sensibilité 
optique sans identique à ce moment qui ne se reproduira plus identique che \ cet individu, sous 
1’excitation d’un paysage à un moment de sa vie lumineuse qui n ’aura plus Vêtat identique 
de ce moment. [...] E’objet et le sujet sont donc irrémédiablement mouvants, insaisissables et 
insaisissants (p. 140-141) Logo, falar em um Belo absoluto, ou em um Gosto 
absoluto, é algo fora de questão, para todos os efeitos. 




482 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Para que a evolução do olho atinja um grau superior — critério único de 
avaliação de um pintor, assim como a evolução do ouvido para um músico 
etc. — é necessário que não existam mais escolas, júris, medalhas etc., i.e., toda 
forma de patronato do Estado sobre as artes. “Plus de beau officiel, le public sans 
guide apprendra à voir par lui-même et ira naturellement aux peintres qui rintéressent d’ une 
façon moderne, vivante, et non grecque ou renaissanceP (p. 144) 

Uma reprodução alternativa deste texto está presente em Riout (1989). 


LEMONNIER, Camille. L’art à 1’Exposition Universelle. Ceux qui n’exposaient 

pas. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. 
Paris: Macula, 1989. p. 204-207. 

Publicado originalmente na revista belga IJartiste em 31 de agosto de 1878, o 
presente artigo lamenta a ausência dos impressionistas na Exposição Universal 
de 1878 e opta por discutir o evento a partir dos que ali não expuseram: “Je 
regrette 1’absence des peintres de 1’impression pure. Ils sont incomplets; la plupart ne savent 
pas leur métier; mais ils apportent dans l’art une sève nouvelle. Ils ont en commun une 
sensation de la vie que passe, une saveur étrange d’instantanéité. A ce titre ils avaient leur 
place dans une exposition qui est forcément une sorte d’état de 1’art, une cote des valeurs, un 
bilan des forces acquises .” (p. 204-205) 

Entendidos, assim, como inovadores (ainda que tecnicamente incompletos) 
da pintura de então, tais pintores trazem consigo uma nova maneira de olhar a 
arte, por meio da simplicidade representativa e da ênfase no transitório: “ C’estune 
sténographie de Phumanité, avec des procédés simplifiés, asse \ complets toutefois pour indiquer 
le permanent à travers le transito ire.” (p. 205) Trata-se, pois, de uma “ art d’intuitiorí\ 
que contibui para com o “ idéal moderne ” de representação da natureza ao propor 
um novo tratamento da cor, capaz de captá-la em seus movimentos e nuances, 
decorrentes de vagos e nervosos “gestes d’intention (p. 205-206). Neste sentido, 
excelem os impressionistas — entre os quais destaca Degas e Manet — em temas 
da grande cidade, como “la femme malsainê ’ ou a vasta gama de “ exaspérés ” que 
aí habitam, sem conseguir atingir o pacato cotidiano burguês em sua totalidade: 
“Les fonds troubles auxquels ils s’attardent ont des côtés excessifs plus faciles à paire et d’un 
effet plus accessible que la simple ordonnance de la vie bourgeoise, si ardue à exprimer par cela 
qidelle est sans surprises.” (p. 206). 

Lemonnier interpreta, assim, os pintores da “impression purê ’ como 
preconizadores de uma arte decadente ou nevrótica, negando justamente aquilo 
que tantos outros viriam a confirmar, por meio de seu sucesso comercial — sua 
perfeita adequação ao capitalismo vitorioso e à sensibilidade burguesa. Todavia, 
é valioso o testemunho do crítico belga pela precisão contraditória com que 
exprime a indefinição do sentido coletivo do grupo à década de 1870, e o 
impacto revolucionário (e dúbio) de sua pintura não apenas perante o público, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


483 


mas também perante a crítica. 


LEROY, Louis. L’exposition des impressionnistes. In: BONAFOUX, Pascal 
(Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 
2008. p.128-135. 

Texto publicado originalmente no jornal satírico Ee charivari a 25 de abril 
de 1874 do qual se originou o termo “impressionismo”, com claras intenções 
jocosas. Nele, o jornalista conversa com um fictício Père Vincent, paisagista 
renomado em muitos Salons, que se enfurece, ao extremo do sufocamento, com 
a exposição do grupo: “Je le reconnais le favori de papa Vincent! Que represente cette 
toile ? Voye ^ au livret. — ‘Impression, soleil levantd — Impression, y rí? étais sür. Je me 
ãisais aussi, p uísque je suis impressionné, il doitj avoir de l’impression là-dedans... Et quelle 
liberté, quelle aisance dans la facture ! Ee papier peint à l’état embryonnaire est encore plus 
fait que cette marine-là ! [...] Ee malheureux reniait ses dieuxP (p. 131-132) Trata-se 
de clara provocação, ainda que chistosa, ao estilo nascente, em que se recupera, 
enquanto paralelo ao título do quadro mencionado, a peinture d’impression, como 
crítica ao caráter de esboço e ao todo inconclusivo das telas. 

Este texto de Leroy pode ser encontrado também em Lobstein (2012) e no 
anexo do catálogo Centenaire de rimpressionnisme (Distei, 1974). 


LEWIS, Mary Tompkins. Introduction: the criticai history of Impressionism: 

an overview. In: (Ed.). Criticai readings in Impressionism and 

Post-Impressionism: an anthology. Los Angeles: University of Califórnia 
Press, 2007. p. 1-22. 

Bom guia introdutório em que são levantados os principais momentos 
da apreciação crítica do impressionismo pictórico, passando pelos primeiros 
comentadores, pela síntese formalista de Fry, pela guinada social de Schapiro, 
pelo tradicionalismo de Francastel, pelo marxismo de T.J. Clark etc. 


LOBSTEIN, Dominique. Avant-propos: Ifimpressionnisme, de la connaissance 

à la reconnais sanee. In: . (Org.) De Charles Baudelaire à Georges 

Clemenceau: éloges et critiques de 1’Impressionnisme. Paris: Artlys, 
2012. p. 9-19. 

Neste prefácio a uma interessante, porém breve, coletânea de textos críticos 
sobre o Impressionismo, o autor e organizador Dominique Lobstein pergunta- 
se quais foram as razões do sucesso estrondoso e simbólico de um quadro 




484 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


como “ Impression , soleil levant\ de Monet. Diversas causas são, assim, levantadas: 
a nova orientação da pintura de paisagens após 1820, rumo ao abandono 
do ateliê e em prol da pintura au plein air, as revoluções populares de 1848, 
que garantiram uma aura de compreensão em torno do realismo pictórico; a 
crescente industrialização e modernização de Paris, que demandavam da pintura 
“un substitui du monde abandonnê ’ (p. 10); o uso de inovações técnicas, tais como 
o cavalete portátil, as telas padronizadas e a caixa de tubos de tinta etc. “ Sur tout 
cela planait un mot, issu depuis près d’un siècle du jargon des ateliers, ‘impression ’, que les 
artistes, comme la critique, n’hésitaient pas à employer sans toutefois le définir précisément.” 

(P-H) 

Lobstein salienta, a seguir, o endurecimento do júri dos Salons após 1871 (em 
decorrência da guerra franco-prussiana) como catalisador da insatisfação dos 
pintores, que se iriam reunir em 1874. A exposição coletiva dos independentes 
no ateliê de Nadar, muito embora provocasse, de início, uma reação ambígua da 
crítica (dividindo, de um lado, republicanos como Burty e Castagnary, e, de outro, 
conservadores como Cardon e Leroy), logo conquistou diversos amadores, 
cujo número não deixou de crescer até a última exposição independente — já 
declaradamente “impressionista” — em 1886: “Les plus rapidement convaincus jurent 
les marchands et les collectionneurs. A la suíte de Paul Durand-Ruel, plusieurs générations 
de galeristes s’intéressèrent aux oeuvres impressionnistes, engageant une concurrence acharnée 
pour obtenir Pexclusivité de la production de certains des peintres dont la cote, désormais, 
s’affirmait.” (p. 16) 

Posteriormente, o autor enumera a entrada gradual dos quadros impressionistas 
no rol de obras de importantes museus, como forma de demarcar sua canonização 
pela crítica. Cita também o estudo de Camille Mauclair, L dmpressionnisme, son 
histoire, son esthétique (que data erroneamente de 1912, sendo sua primeira edição 
de 1904), como primeiro grande marco dos estudos teóricos sobre o assunto. 
E, por fim, enumera os critérios de seleção dos textos para a coletânea por ele 
organizada, cuja importância é digna de nota. 

A dificuldade de consulta aos jornais e periódicos da época autoriza a leitura 
do presente volume, assim como os comentários pertinentes do organizador a 
cada um dos textos elencados. 


LORA, Léon de. Petites nouvelles artistiques: exposition libre des peintres. In: 
DISTEL, Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des 
musées nationaux, 1974. p. 257. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 
1974, Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

Terceiro artigo jornalístico dedicado à exposição de 1874, que aborda, tal 
como o primeiro, de Burty, o caráter independente e revolucionário de uma 
sociedade de pintores alheia aos Salons , o que considera uma “très louable 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


485 


tent ative”'. “ Vingt-et-un peintres ont conçu l’idée de former une société áans le but d’ organiser 
des expositions libres, sans jurqy ni recompenses honorifiques, ou choque associé pourra exposer 
et vendre ses oeuvres. [...] Ces salons, disposés en deux é toges, ne contiennent pas moins de 
cent soixante-dix ouvrages, exposés dans un excellent jout et placés seulement sur un ou deux 
rangs, ce qui facilite les appréciations des connaisseurs (p. 257) 

Desculpando-se por uma passagem demasiado rápida pelo ateliê de Nadar, 
elogia algo indiscriminadamente os quadros de Brandon, Degas, Monet, 
Morisot, Astruc, Bracquemond, Cais, Renoir, Lépine, Pissarro, Rouart, Sisley, 
Cézanne, Colin, Lepic, de Nittus [sic] etc. Neste sentido, ainda que não possua 
o mesmo discernimento crítico de Burty ou d’Hervilly, Lora faz também seus 
votos de amizade ao grupo impressionista, dizendo de maneira algo efusiva: 
“nous serions très heureux de voir réussir les artistes de cette nouvelle société. heurs efforts 
méritent d’être encouragés: cor c’est avec de minces ressources qu’ils tentent un essai qui peut 
donner les meilleurs résultats dans 1’avenir.” (idem) 


LOYRETTE, Henri. La vie moderne. In: LOYRETTE, Henri; TINTEROW, 
Gary Impressionnisme : les origines 1859-1869. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1994. P. 265-293. 

Examinando o nascimento da modernidade nas artes a partir da década de 
1860, Loyrette assinala como pontos essenciais para sua compreensão o ensaio 
de Baudelaire, “O pintor da vida moderna”, e o quadro de Manet, “ha musique 
aux Tuilleries”. Em ambos, destaca a preocupação comum pelas minúcias e 
pequenezas da vida cotidiana como parâmetros de criação, paralelos na arte 
das novidades da vida parisiense de então: “Stigmate d’une époque de décadence, le 
triomphe du ‘petit goüt’ va de pair avec le chamboulement haussmannien, avec les pr ogres de 
la photographie et de 1’architecture métalliqueri (p. 269) Salienta ainda a pressão cada 
vez maior do mercado sobre a arte, e a profusão de quadros cada vez menores, 
compostos em menos tempo, por pressão dos marchands. 

No campo das influências pictóricas desta nova pintura simbolizada por “ha 
musique aux Tui/leries” , Loyrette percebe ecos de pintores setecentistas como 
Watteau e Chardin, transpostos para a ágil vida oitocentista : “Cette redécouverte 
d H un certain XVIII siècle\..\ prouve, en effet, que 1’attachement à 1’éphémère, la sensibilité 
aux modes, loin de condamner à l’oubli permettent d’y échappen Ce n’est pas en gommant 
les traces trop visibles de la vogue qu ’on gangne 1’éternité, mais en recueillant sur la toile ou le 
papier, comme le firent Constantin Guys pour Baudelaire, Gavarni pour les Goncourt, tous 
les indices, jusquaux plus fugaces, qui dessinent le profil d’ une époque .” (p. 272) 

Todavia, o autor assinala a lenta absorção da vida moderna pela pintura 
impressionista através de sua algo tardia representação da Paris remodelada por 
Haussmann, enquanto processo de sua lenta maturação na década de 1860, e 
organização, nas décadas de 1870 e 1880. 




486 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


MALLARMÉ, Stéphane. The impressionists and Édouard Manet. In: 

MOFFETT, C.S. The new painting: Impressionism 1874-1886. Seatde: 

University of Washington Press, 1986. p. 27-35. 

Artigo de encomenda para um periódico londrino, escrito em francês por 
Mallarmé e traduzido em inglês pelo editor, que lhe pediu um texto escrito 
“ straightfonvarãly and mthouttoo much discussion, but nottoo shorf’, é, sobretudo, uma 
referência seminal para o estudo das vanguardas. Ao discutir o papel central de 
Manet na pintura francesa de então (o artigo foi publicado em 30 de setembro 
de 1876), Mallarmé não apenas tece um elogio ao pintor, mas o apresenta como 
chefe indireto do grupo impressionista, conhecido do público pelas exposições 
de 1874 e 1876. Assim, ao dizer que “one of his habitual aphorisms then is that no 
one should paint a landscape and a figure by the same process, ivith the same knorvledge, or 
in the same fashion; nonvhat is more, even tivo lands capes or tiro figures. Each ivork should 
be a neiv creation of the mind.” (p. 29) Para ele, a principal característica do amigo, 
“erudite student of paintinff , é a de que ele “ seems to ignore all that has been done in art 
bj others, and draivs from his oivn inner consciousness all his effects of simplification, the ivhole 
revealed bj effects of light inconstestably novel This is the supreme originality of a painter 
by ivhom originality is doubly forsivorn, ivho seeks to lose his personality in nature herself or 
in the gage of a multitude until then ignorant of her charms.” (p. 31-32) Neste sentido, 
a originalidade de Manet traduz-se em termos de recusa de individualidade, ou 
de completa indistinção perante a natureza ou a multidão — traços semelhantes 
à arte de Charles Baudelaire, a quem Mallarmé compara o amigo. 

A seguir, discutindo os impressionistas, Mallarmé reconhece que nenhum 
pintor de seu tempo desconhece suas técnicas, “ notably that of the open air. (p. 
32) Porém, para si, pintores como Monet, Sisley e Pissarro apenas continuam, 
ainda que de maneira brilhante, o trabalho de Manet, “for they each endeavour to 
suppress individuality for the benefit of nature (idem) Destaca o trabalho de cada 
um dos três pintores citados com os fenômenos transitórios e dinâmicos da 
natureza, por meio de uma execução rápida, e, na maioria das vezes, da pintura 
de paisagens, em tamanho reduzido. 

Discute ainda, brevemente, as obras de Degas, Morisot, Cézanne, e afirma: 
“Impressionism is the principal and the real movement of contemporary painting. [...] the 
transition from the old imaginative artist and dreamer to the energetic modern ivorker is found 
in Impressionism.” (p. 33) Uma causa possível desta inovação na arte é levantada 
por Mallarmé, que observa a semelhança, em termos políticos, do termo outrora 
conferido ao grupo — os Intransigentes — , “ivhich in political language means radical 
and democratid\ remetendo à participação crescente de uma massa ignorada de 
pessoas na vida social francesa, e, por extensão, também nas artes, pois “the 
multitude demans to see ivith its oim eyes; and if our latter-day art is less glorious, intense, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


487 


and rich, it is not mthout the compensation of truth, simpliáty and child-like charm .” (idem) 
Por fim, Mallarmé sintetiza a visão de arte — e de mundo — impressionista, em 
uma resposta que merece ser lida na íntegra, à pergunta se seria melhor, pois, 
ante a natureza, imitá-la? “Ah no! this fair face, that green landscape, ivill groiv old and 
ivither, but I shall have them alivays, true as nature, fair as remembrance, and imperishably 
my oim; or the better to satisfy my Creative artistic instinct, that ivhich I preserve through the 
poiver of Impressionism is not the material portion ivhich already exists, superior to any mere 
representation of it, but the delight of having recreated nature touch by touch. I leave the 
massive and tangible solidity to its fitter exponent, sculpture. I content myself ivith reflecting on 
the clear and durable mirror of painting, that ivhich perpetually livesyet dies every moment, 
ivhich only exists by the ivill of Idea, yet constitutes in my domain the only authentic and 
certain merit of nature — the Aspect. It is through her that ivhen rudely throivn at the close 
of an epoch of dreams in the front of reality, I have taken from it only that ivhich properly 
belongs to my art, an original and exact perception ivhich distinguishes for itself the things it 
perceives ivith the steadfast ga^e of a vision restored to its simplest perfectiond (p. 34) 

Para uma fácil localização do texto de Mallarmé, cf. as coletâneas de Bonafoux 
(2008) e Riout (1989). Recomenda-se, todavia, o texto organizado por Riout 
(1989), uma vez que o reproduz integralmente, assim como Moffett (1986). 
Ademais, Riout faz referências às traduções parciais do texto de volta para o 
francês, indicando as versões de M. Barthelme, Barbara Keseljevic e Mitsou 
Ronat. 


. Le jury de peinture pour 1874 et M. Manet. In: RIOUT, Denys (Org.). 

Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 82-88. 

Neste artigo publicado originalmente na revista í m Kenaissance littéraire et 
artistique de 12 de abril de 1874, Mallarmé, em meio à defesa do amigo perante a 
exclusão de dois de seus três quadros submetidos ao Salon de 1874, demonstra 
que desde o primeiro ano de exposição coletiva dos impressionistas o conceito 
de “impressão” faz parte de seu vocabulário crítico. Para ele, Manet, acusado de 
enviar obras inacabadas à avaliação do júri, respeita a unidade : “Ou’est-ce qu ime 
oeuvre ‘pas asse^poussée’ alors qu’ily a entre tous ses éléments un accord par quoi elle se 
tient, et possède un charme facile à rompre par une touche ajoutée ? Je pourrais, désireux de 
me montrer explicite, faire observer que, du reste, cette mesure, appliquée à la valeur d’un 
tableau, sans étude préalable de la dose d’impression qu’il comporte, devrait, logiquement, 
atteindre 1’excès dans le fini comme dans le lâché: tandis que, par une inconséquence singulière, 
on ne voit jamais l’humeur des juges sévir contre une toile, insignifiante et à la fois minutieuse 
jusquà 1’effroi .” (p. 86) 

Neste sentido, o excesso de trabalho sobre um quadro pode ser igualmente 
prejudicial, orientado como deve ser, obrigatoriamente, segundo a impressão 
que veicula. Consequentemente, cabe ao público o elogio ou a crítica a 




488 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


determinada tela, pelo que se segue a defesa de Mallarmé não apenas a Manet, 
mas também à independência dos pintores e à livre concorrência no mercado 
de arte. “Impressão”, no contexto indicado, refere-se à harmonia e à totalidade 
da representação, proporcional apenas a si mesma. E isto indica, já no plano 
teórico sugerido, uma íntima conexão entre a independência comercial do 
artista e a independência da obra, enquanto tal. 


MANTZ, Paul. Uexposition des peintres impressionnistes. In: BONAFOUX, 

Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. P. 205-206. 

Escrevendo para o jornal Le Temps em abril de 1877, Paul Mantz dá seu 
parecer a respeito da terceira exposição impressionista na Galeria Durand-Ruel, 
e mostra-se hostil à pintura emblemática de Monet. Para ele, “M. Monet nous 
donne plusieurs variantes : mais le sentiment des réalités manque absolumment dans les 
Tuilleries, le Pare Monceaux et les autres paysages de 1’auteur. Les plans s’embrouillent 
les valeurs se conjondent, tout s’efface et se mele dans un fouillis anarchique (p. 206) 
Sobre os demais, afirma tão somente que não são principantes, e que “n ’ont pas 
une naiveté de bon aloi. Ce sont em réalité des maniéristes qui prennent des air innocents. 
Ils exposent depuis deux ou trois ans des tableaux qui sont constamment les mêmes et qui 
ne révèlent aucun effort, aucun progrès. Ils ont sur la nature et sur la lumière des vues 
arbitraires et systématiquesri (idem) Para Mantz, crítico severo do movimento, os 
únicos pintores que aí demonstram algum talento, ou esforço para aprender seu 
ofício, são Morisot, Degas e Caillebotte. Julga péssimos os demais, e prevê — de 
maneira absolutamente errônea, pelo que seu texto ganha algo de cômico — o 
esquecimento rápido do grupo, ausente da posteridade: “l/s auront d’ailleurs fort 
à faire s’ils prétendent persuader au public que le dernier mot de l’art, c’est la maladresse. 
Ouoi qu’ils fassent, les perspectives de 1’avenir restent rassurantes. II np a pas à craindre que 
Irignorance redevienne jamais une vertuP (idem) 


MARTI, José. Nouvelle exposition des peintres impressionnistes. In : 

BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. P. 278-280. 

Em seu balanço da última exposição impressionista (nos Estados Unidos) 
para o jornal argentino La Nación, o escritor José Marti avalia antes de tudo o 
estágio parcial das vitórias de “ceux qui ennuient les idéaux de 1’Académie froide comme 
une copie, ceux qui veulent fixer sur la toile la nature palpitante comme une esclave nueP 
(p. 278) Para Marti, aos naturalistas e impressionistas — ou aos pais e filhos — a 
sobrerania da luz mostra-se cada vez mais intangível, embora seja vendida por 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


489 


altas somas na América do Norte, onde “ quiconque ne connait rien de ces peintures à 
New York ne sait rien de l’art moderne (idem) 

A seguir, explorando a filiação naturalista do grupo, aponta sua dívida para 
com Courbet, Manet, Velásquez e Goya, no cultivo da liberdade e da aproximação 
direta à natureza: “ Arrivés à l’art à une époque sans autels, les impressionnistes n \ avaient 
aucune foi um 1’invisible et ne souffraient pas d’avoir perdu cette foi. Ils entrent dans la vie des 
pays avancés ou 1’homme est libre. [...] Ce que les peintres désirent, n’ayant aucune croyance 
à defendre, ri est mettre les choses sur la toile avec la splendeur et le lustre qirielles montrent 
dans la vie. Ils veulent peindre dans la surface la qualité tridimensionelle de la nature dans 
1’espace. Par les artífices du pinceau ils veulent obtenir ce que produit la nature dans la réalité 
de la profondeur. Ils veulent montrer les objets dans les vêtements fiottants et iridescents dont 
la lumière fugace les illumine et les recouvreri (idem) 

Concluindo, Marti afirma ser o término da caminhada pela exposição uma 
tristeza para os olhos, os quais, ao menos os seus, detiveram-se com prazer e 
vagar no quadro de Renoir, “ Canotiers de la Seine ”. 


MAUCLAIR, Camille. L’impressionnisme: son histoire, son esthétique, 

ses maítres. Paris: Librairie de 1’art ancien et moderne, 1904. 

Balanço precoce e generalizante do impressionismo na pintura, em que, 
para além de muitos estudos individuais de artistas e quadros isolados, há o 
levantamento de traços gerais: “Ces idées impressionnistes peuvent se résumer de la 
manière suivante. Dans la nature, aucune couleur n ’ existe par elle-même. Ca coloration des 
objets est une pure illusion: la seule source créatrice des couleurs est la lumière solaire qui 
enveloppe toutes choses, et les révèle, selon des heures, avec d’infinies modifications. Ce 
n’est qiriartificiellement que nous distinguons entre le dessin et la coloration: dans la nature 
ils ne se distinguent pas. [...] C’idée de distance, de perspective, de volume, nous est donnée 
par des couleurs plus sombres ou plus claires: cette idée est ce quon appelle en peinture le 
sens des valeursri (p. 27-28) Assim, sendo não uma imitação da natureza, mas sua 
interpretação através do olho humano, cabe à pintura acompanhar os jogos 
luminosos e cromáticos. 

E nítida a adoção integral dos pressupostos impressionistas pelo autor (que se 
põe imediatamente a atacar a cor local, a elogiar a atmosfera como assunto real 
dos quadros, a defender o uso das sombras coloridas e do contraste simultâneo 
— que entende em termos de “refração” e de “dissociação de tonalidades” etc.). 
É digna de nota também a inclusão do impressionismo no cânone pictórico já 
em inícios do século XX. 

De qualquer forma, assinala Mauclair: “On peut donc définir 1’impressionnisme 
comme une révolution de la technique picturale, parallèle à un essai d’expression 
de la modernité. Ca réaction contre le symbolisme et le romantisme se trouva comcider 
avec la réaction contre la peinture sombreri (p. 38, grifos do autor) E enfatiza sua 




490 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


revolução técnica como principal legado do impressionismo, perfeitamente 
aplicável a quaisquer temas. No entanto, observa, na conclusão de seu estudo: 
“ Uimpressionnisme a dépensé la moitié de ses forces à prouver à ses adversaires qiPils 
erraient, et l’autre à inventer des procédés techniques. II n’est pas étonnant qu’il ait manqué 
de profondeur intellectuelle et qu’il ait laissé à ses successeurs le soin de réaliser des oeuvres 
médit atives et intellectmlles. Mais ces hommes n’eussent pas existé sans lui .” (p. 203) 


MEIER-GRAFFE, Julius. À propos de Camille Pissarro. In: BONAFOUX, 

Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 322-327. 

Em meio a um breve estudo da pintura de Pissarro (suas possíveis influências 
de Constable e Turner, seu diálogo com a obra de Monet etc.) de 1 904, o autor 
tece um comentário a respeito do formalismo na arte moderna que mostra o 
quanto, no início do século XX, havia de desconfiança para com as inovações 
teóricas na arte — das quais o Impressionismo não era senão uma negação das 
teorias, uma maneira de pintar livre e naturalmente: “Pissarro, sans le vouloir, a 
sérieusement remis en question l’idée reçue du rôle primordial de la technique che% les modernes. 
Pa technique du peintre est son moyen d’expression, elle est essentielle pour son art comme 
l’est le langage pour 1’orateur ou Pécrivain, mais elle reste d’une valeur toute relative et non 
pas ahsolue, ne pouvant être que 1’ejfet de 1’oeuvre et non pas son objet: elle est le résultat de 
ce que Partiste veut exprimer [...] Ce n’est pas la pensée qui dorme sa valeur à l’art; elle est 
partie intégrante de la matière de Partiste, et ceux qui réagirent contre un art tendancieux, 
en prônant un art plus proche du sens, voyaient juste. II y a danger aujourd’hui, de vouloir 
assimiler Part à la technique de Partiste, de confondre le chemin de la création avec la création 
elle-même, avec cette unité supérieure qui concentre Pesprit et donne sa forte et nécessaire 
pllénitude à Pexpérience esthétiqueP (p. 326-327) 

Neste sentido, na virada do século, os impressionistas já se haviam 
incorporado à tradição pictórica, por oposição às inovações formais dos ismos 
modernistas, perdendo, com isto, a significacao revolucionária de outora. Para 
um leitor atento como Meier-Graffe, tal significação era não apenas possível, 
mas também a única viável, simbolizando o retorno a uma expressão natural 
e justa por meio do plein air. Percebe-se, ademais, a cristalização do cânone ao 
redor de pintores como Pissarro, tal como havia, quarenta anos antes, com 
relação à pintura de Ingres, Gérome, Gleyre etc. 


MIRBEAU, Octave. Camille Pissarro. In: BONAFOUX, Pascal (Org). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
300-301. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


491 


Em meio a elogios e a impressões vagas sobre a obra de Pissarro (à maneira 
de seus textos sobre Monet), Mirbeau opera brevemente uma distinção entre a 
nova pintura de Pissarro e a dos quadros já estabelecidos e aceitos pela opinião, 
observado nisto uma lenta, mar certa, mudança de sensibilidade: “Nous admirons 
les oeuvres anciennes, mais 1’émotion qidelles nous procurent n’a plus guère qu’une valeur 
de respect chronologique. Nos exigences sont devenus plus nombreuses et plus compliquées 
que les sensations courtes, incomplètes, inharmoniques, oü elles nous laissent maintenant, ces 
oeuvres du passé. A mesure que se révèlent et s’expliquent les phénomènes de la vie [...] nous 
demandons aux artistes plus que ce que le passé nous a léguê .” (p. 302) 

Neste sentido, muitas das idiossincrasias da época podem ser percebidas 
também na transitoriedade do gosto, como no trecho acima, que, pela sinceridade 
verbosa de Mirbeau, deixa transparecer — talvez em demasia — suas qualidades 
(de percepção) e seus defeitos (de análise). Pois, em suas próprias palavras : 
“Et de tout cela, il vous vient une impression intense et poignante de grandeur, et aussi une 
impression très douce de charme, dans cette grandeur qui se pare de toutes les gloires de la 
terre .” (p. 303) 


. Exposition de peinture [1, rue Lefitte]. In: RIOUT, Denys (Org). Les 

écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 348-353. 

Neste comentário à oitava e última exposição impressionista (maio de 
1886), Mirbeau repudia a incompreensão geral ante as obras apresentadas, nos 
seguintes termos : “Pour ces messieurs, dès qu’un peintre, répudiant les leçons de decole, 
et les conventions des coteries différentes, se met hardiment aux prises avec la nature, dès qu’il 
veut tenir compte de 1’atmosphère, de 1’action locale de l’air sur les objets, dès qu’il tente de 
saisir la presque insaisissable et frissonnante fugitivité des reflets, dès qu’il n’enserre pas les 
conto urs dans le fil de fer de la ligne, alors il ne sait rien : c’est un fou ou un farceur qui ne fait 
de la peinture que pour mistifier les gensP (p. 349) 

Todavia, Mirbeau parece agrupar de maneira ampla, e pouco atenta, as 
diferentes vertentes pictóricas reunidas neste ano, das quais aponta elementos 
(fixação da transitoriedade dos objetos, contato direto com a natureza, 
independência das cores frente ao desenho etc.) que pouco refletem as telas 
neoimpressionistas e pós-impressionistas expostas. Trata-se, pois, de um elogio 
deslocado, que parece também ignorar o sucesso crescente do grupo, já em vias 
de ruptura em 1886 (como atestam diversos outros críticos, além das cartas 
trocadas entre importantes figuras do movimento, tal como Monet, Cézanne, 
Zola, Pissarro etc.). Tal ponto de vista é parcialmente revisto em um texto do 
ano seguinte, “EExposition Internationale de la rue de Sèqe (II/’. 

Este mesmo texto encontra-se reproduzido, ainda que apenas em trechos, no 
livro de Bonafoux (2008). 




492 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


. Impressions d’art. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 

1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 353-359. 

Relato da exposição de 1886 na Galeria Petit, à rua de Sèze, da qual Mirbeau 
escolhe apenas comentar Monet, Renoir e Rodin. Sobre o escultor, considera-o 
um dos três maiores da história da arte e gaba sua independência perante a 
mídia, certo de seu métier. Sobre Renoir, elogia a naturalidade de suas figuras 
femininas, e peca pelo excesso ao compará-lo, ainda que adjetivamente, a Ingres: 
“ Admire ^ sa Femme à 1’enfant, qui évoque, ãans son originalité, le charme des Primitifs, 
la netteté des Japonais et la maitrise dlngres.” (p. 357) E sobre Monet, destaca os 
muitos insultos dirigidos ao pintor, paralelamente ao triunfo posterior de sua 
visão artística: “ Claude Monet a été un des plus insultés, parmi les insultés. On le tratait 
de barbouilleur insigne [...] mais l’art est si puissant qu’il s’impose de lui-même aux imbéciles 
[...]. Monet a fait sortir de sa palette toutes les décompositions de la lumière, toutes les magies 
de 1’atmosphère, tous les évanouissements de la brnme. Je crois qu’il nj a pas, ãans la nature, 
un état spécial, une impression si rapide, une rêverie si intense, qu’il n’ait su lui déroberP (p. 
357-358) 


. UExposition internationale de la rue de Sèze (II). In: BONAFOUX, 

Pascal (Org). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 289-290. 

A propósito da Exposição Internacional Pintura e Escultura de 1887 na 
Galeria Georges Petit, localizada na rue de Sège, Mirbeau, após um primeiro 
artigo em que elogia simples e reiteradamente Monet (diga-se de passagem, 
Mirbeau, por algum tempo, foi o arrimo financeiro do pintor), tece algumas 
observações importantes sobre a obra de Renoir, dignas de atenção. Para si, a 
arte de Renoir poderia ser chamada de quintessencial (“ un art tout exceptionnel qu’on 
pourrait appeler, pour en caractériser la nature très particulière, de la quintessence de Vart, de 
1’extrait de l’arf\ p. 289), por seu estudo metódico da luz. Avesso às críticas a tal 
pintura, Mirbeau recomenda a longa contemplação de suas “ Baigneusei ’ como 
processo incontornável de avaliação dos “ détails delicieux [de] toutes les modulations 
devinéei’’ (p. 290). 

Em seu parecer — já não tanto moderno para sua época, e prova do sucesso 
perene dos impressionistas não apenas nas vendas de seus quadros, mas também 
no processo mais sutil de incorporação de suas premissas aos próprios critérios 
de gosto e de avaliação dos quadros a partir de então — , “un art, la grande affaire 
est d’émouvoir, que ce soit par des touches rondes ou carrées, des virgules ou des glacis, qu’est- 
ce que cela fait, je vous priel Et puis, si 1’emploi constant de ce procédé est parfois gênant, le 
principe en estjusteP (idem) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


493 


. L’exposition Monet-Rodin. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
294-300. 

Aprofundando os elogios de um artigo também publicado no longevo 
periódico Gil B/as, Mirbeau afirma ter sido o golpe de gênio de Monet perceber 
a instantaneidade da vida: 1 1 observa que, dans un jour égal, un effet dure à peinte trente 
minutes.” (p. 294) O mesmo aplica-se ao processo de composição da tela, enquanto 
fixação de uma impressão primeira. De maneira também impressionista, algo 
ficcional, Mirbeau elabora suas sensações antes tais quadros e discorre sobre a 
transitoriedade da vida (“Et c’est la vie, en effet, qui emplit ces toiles d’un rajeunissement 
de passion, d’ um soufflé d’art nouveau et qui étonne : la vie de l’air, la vie de l’eau, la vie des 
parfums et des lumières, 1’insaisissable, 1’invisible vie des météores, sjnthétisée en d’admirables 
hardiesses, en d’éloquent audaces, lesquelles, en réalité, ne sont que des délicatesses de percpetion 
et dénotent une supérieure intelligence des grands harmonies de la natureP (p. 297) 

Por fim, chega a adentrar suas impressões pessoais dos quadros de Monet 
enquanto êmulo de alentos amorosos, de espamos da natureza etc., evidenciando, 
com isto, o quanto pode ser perniciosa, na crítica, a tentativa de reproduzir 
princípios básicos das artes a si contemporâneas. 


. Notes sur 1’art. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 251-263. 

Reunião de artigos publicados no jornal Ea Erance de outubro a dezembro de 
1884, dos quais o primeiro (31/10/1884) reitera a aversão geral ante à pintura 
de Manet, Degas, Monet e Renoir, bem como seu triunfo posterior: “Toutes les 
insultes, on les leur a prodiguées, on leur a jeté la blague canaille au visage. [...] pour un peu, 
on les eüt traités de crimineis ; on allait à leurs expositions isolées, comme on se rend à la foire 
pour s ‘ 'esbaudir devant un monstre. [...] Et pourtant ces honnis et ces méprisés se faisaient sans 
le savoir les éducateurs de l’art nouveauP (p. 251-252) 

No segundo (15/11/1 884), faz um breve estudo sobre Degas, que elogia mais 
ou menos à maneira de Zola : “ll a appliqué la contemporaneité — et à la contemporaneité 
vue à travers son tempérament spécial — le procédé simplificateur absolumment synthétique, 
des maitres de l’école de Sienne ; Degas est un primitif égaré dans notre ávilisation à habit 
noir.” (p. 254) 

No terceiro (21/11/1884), debruça-se sobre o gênio de Monet, para si o 
mais insultado dentre os demais, e que “fermant ses oreilles aux cris du dehors, il se 
jeta, avec plus d’énergie que jamais, dans le travailB (p. 259) Para Mirbeau, Monet é o 
mais completo paisagista moderno, captando as mais diversas e sutis gradações 




494 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


da natureza, de maneira tão integral quando Beethoven, na música. 

No quarto e último artigo (8/12/1884), Mirbeau elogia Renoir como o pintor 
por exelência da beleza feminina. Para si, Renoir capta em meio à modernidade 
a importância central das figuras, realçada pela harmonia das luzes, pelo volume 
das peles e carnes etc. 


MONTIFAUD, Marc de. Exposition du boulevard des Capucines. In: DISTEL, 
Anne et al. Centenaire de 1’Impressionnisme. Paris: Edition des musées 
nationaux, 1974. p. 266-268. Catálogo de exposição, 21 set. — 24 nov. 1974, 
Galeries Nationales du Grand Palais, Paris. 

De maneira curiosa, Montifaud, em artigo publicado originalmente no 
periódico Uartiste a primeiro de maio de 1874, define o novo grupo de pintores 
como a “escola do olho”: “Si ce petite groupe pouvait constituer une école, on devrait les 
appeler ‘1’ école des jeux’. Mais com me ses adeptes se jont une loi de repousser tout précepte 
absolu, ou d’admettre un point de départ quelconque, de quel droit appliquer à leur ensemble 
le mot d’école, qui suppose toujours un certain dogmatisme ?’ (p. 266) Porém, afirma 
ainda não estar convencido de suas inovações técnicas, cuja validade julga ainda 
provisória. Igualmente, avalia as telas de maneira parcial, elogiando em Monet 
antes o pintor de gênero, próximo a Manet e a Velasquez, que o paisagista, cuja 
arte lembra “la main enjantine d’un écolier qui étale pour la première fois des couleurs sur 
une surface quelconque (idem) 

A seguir discute telas de Renoir, Degas, Cézanne, Sisley, dentre outros. E 
conclui, reafirmando suaincredulidade no grupo, bem como seu conservadorismo 
e seu apreço pela figura e pelo modelado, cujo trato alcançou seu apogeu com 
«les grands patriciens de Rome »: “Peut-être dans quelques années retrouvera-t-on une certaine 
unité dans les oeuvres de cette société naissante, qui, aujourd’hui, se jait gloire de sortir de 
dignorance, ou, si l’on veut, de tenirpour vrai seulement ce qidelle aura expérimenté, palette 
au poing, crayon aux dents. Si nous éprouvons un regret, c’est de voir 1’étude de la figure 
abandonnée pour le pajsage [...] car nous crojons qu’il faut commencer par copier servilement 
la n atureS (p. 268) 


MOORE, Georges. Confessions of a young man. Londres: William 
Heinemann, 1917. 

O relato apaixonado deste irlandês, cujas memórias foram publicadas pela 
primeira vez em 1886, discorre sobre a terceira exposição impressionista, de 
1876. Nele, é possível ler com proveito, no relato da reação de seus amigos, 
como a maioria das pessoas compareciam a tais eventos: “We indulged in boisterous 
laughter, exaggerated in the hope of giving as much pain as possible, and deep doim in 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


495 


our souls ive knew that we ivere lying — at least I did (p. 36) Ansioso por causar 
sensação, deixa transparecer o artificialismo oitocentista em Paris relativo aos 
eventos artísticos. Outrossim, analisa quadros de Degas, Morisot e Guillaumin, 
a propósito de quem fazem este comentário: “ We could but utter coarse gibes and 
exclaim, ‘What could have induced him to paint such things ? Surely he must have seen that it 
ivas absurd. I ivonder if the Impressionists are in earnest or if it is only une blague qu’on 
nous fait?’ [ . . .] For art ivas not for us then as it is noiv a mere emotion, right or ivrong only 
in proportion to its intensity: ive believed then in the grammar of art, perspective, anatomy, 
andF jambe qui porte; and we found all this in Julien’s studioF (p. 39-40) Percebe-se a 
maturação não apenas do pensamento crítico do memorialista, em um intervalo 
de dez anos entre as vivências e a escrita, mas também um painel de mudança 
dos critérios de avaliação dos quadros — em uma palavra, do gosto do público 
consumidor, que lentamente se dá conta de que o conjunto representado pode 
responder não apenas à perspectiva ou à anatomia, mas também à sua própria 
harmonia e proporção. 

Para além deste breve e importante depoimento, o Impressionismo aparece 
em seu livro apenas outras duas vezes, quando discutindo en passant Degas 
(citado como um de seus mestres) e Whistler (mencionado a propósito de seu 
talento mais clássico que moderno). 


NECTOUX, Jean-Michel. «Reflets dans 1’eau»: Peinture et musique, de 
Franz Liszt à Claude Debussy. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, Diederik; 
CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent chefs- 
d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 62-69. 

Lembrando que tanto a música quanto a pintura são formas diversas de 
vibração — “Fa musique ne représente et n’ exprime rien de précis en elle-même, son langage 
est tout entier constitué de la vibration modulée des corps sonores — Instruments, voix humaine 
— de même que la peinture est formée des vibrations de couleurs dont se compose la lumièri ’ 
(p. 64) — , Nettoux debruça-se sobre o Impressionismo em ambas as artes. 

No que diz respeito à pintura, retoma a definição original do termo, a partir 
de Louis Leroy. Na música, por sua vez, destaca as premissas pictóricas de Franz 
Liszt em seu Álbum d’un voyageur (1842), mais evidentes em uma composição 
como “Jeux d’eau à la villa d’Este” (1877), e o papel de Ravel e Debussy na 
exploração musical da água e seus reflexos. Cita ainda a presença do tema na 
estrutura da barcarola, como em Mendelssohn, Chopin, Fauré etc., bem como 
a apoteose do mar em Fa Mer, de Claude Debussy, que considera antes fauvista 
que simbolista. Não obstante, deixa de explorar conceitualmente o valor de tal 
relação entre pintura e música, limitando-se a juízos críticos vagos, como aqueles 
que salienta em comentadores como Maurice Kufferath e Camille Mauclair: 




496 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


“Resterait à sonder le profond mystère de l’art de la transposition che ^ les musiciens comme 
Lis^t, Ravel ou Debussy: on pourrait même avancer le terme de ‘transmutation ’ — cher aux 
occultistes — pour definir ce passage d’un firagment du réel à son évocation musicale, phénomène 
qui tient de 1’assomption tant il est lié à 1’invisibleP (p. 69) 


NORD, Philip. Les impressionnistes et la poli tique: art et démocratie au 

XIXe siècle. Trad. Jacques Bersani. Paris: Tallandier, 2009. 

O trabalho de Nord parece ser uma longa refutação de comentários como 
aquele de Lorenz Eitner (2007, p. 595), segundo o qual “ les impressionnistes 
défendaient pour la plupart des idées poli tiques avancés, parfois radicales, mais qui n’avaient 
sur leur travail aucune influence apparentel n Inversamente, Nord observa o sentido 
republicano do impressionismo, acrescido à sua revolução artística aos olhos 
de seus contemporâneos, responsável em parte pela recusa geral de seus 
pressupostos: “ Son opposition à Uart établi prit dès lors une connotation politique qui 
rendit le scandale plus insupportable encore à ses adversaires. Re rapprochement, quoique 
provisoire, n ’ était pas accidentel: les deux partiesj avaient aidé, à des degrés divers. Les liens 
avec les républicains aident à expliquer les débuts agités, en termes de réception, que connut la 
nouvelle peinture et même, jusquà un certain point, ses succès ultérieursP (p. 23) 

Assim, avalia a posição individual dos pintores frente ao tema — as famílias 
burguesas de Cézanne e Bazille; as famílias modestas deMonet, Pissarro e Renoir; 
e as famílias aristocráticas de Morisot e Degas — , bem como o andamento do 
republicanismo a partir de 1870 e da guerra franco-prussiana, como formas 
de indicar a pluralidade da questão. Observa ainda o fato de que muitos dos 
críticos que apoiaram o movimento em seus primeiros anos o fizeram em 
jornais abertamente republicanos (Le Siècle , Le Ruippei ' Le Peuple souverain e La 
Republique française ), como Castagnary, Camille Pelletan, Zacharie Astruc e Burty 
(p. 79); assim como a predileção dos impressionistas por temas ligados à vida 
cotidiana — abrangendo comemorações republicanas, retratos de políticos (de 
Clemenceau; da família do senador Goujon; do braço direito de Gambetta, 
Spuller) etc. E salienta: “Prenons par exemple la partie de canotage de Renoir: Lphrussi, 
le dandj, partage les mêmes plaisirs, figure dans le même espace que les rameurs au chapeau de 
paille et aux bras nus. Ou bien Le Train dans la campagne (1870-1871) de Monet: le 
vert d’ une scène champêtre s(y trouve rehaussé par la présence en rose et blanc de promeneuses 
à ombrelle au premier plan et, sur le bord supérieur de la toile, par une trainée de fiumée 
s’échappant de la locomotive. Disparues les tensions entre beaux messieurs et gens du peuple, 
entre la nature et la machineP (p. 93) 

Assim, por essas e muitas outras observações aqui não comentadas (o 
perfil social dos primeiros colecionadores de obras do grupo; as paulatinas 
encomendas estatais; a voga crescente de exposições individuais, em detrimento 
das coletivas etc.), trata-se de referência importante para o estudo contextuai 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


497 


do impressionismo pictórico, lado a lado ao livro de Harrison e Cynthia White 
(2009). 


PATIN, Sylvie. Impression... Impressionnisme. Paris: Ga ll imard, 1998. 

Idem ao texto de Laure-Caroline Semmer, com a diferença de que, ao 
invés de realizar uma síntese das questões que aborda por meio de um texto 
corrido, prefere elencar longos e profusos trechos esparsos da fortuna crítica do 
movimento. Sua importância introdutória, todavia, permanece tão importante 
quanto a do texto mencionado. 


PICON, Gaétan. Zola et ses peintres. In: ZOLA, Émile. Le bon combat: de 

Courbet aux impressionnistes. Paris: Hermann, 1974. p. 7-22. 

Para bem observar os juízos críticos de Zola acerca de Manet e das inovações 
pictóricas das décadas de 1860 e 1870, é lícito consultar este texto introdutório 
de Picon. De início, o autor observa o tom combativo dos textos de Zola, que 
“ ressemblent à des éditoriaux politiques plutôt qu’à l’habituelle critique d’art.” (p. 7) De 
fato, e com precisão, Picon salienta as semelhanças entre os Salons de Zola e 
seu J’accuse (“. Manet est un autre Drejfus”, idem), muito embora negue o mesmo 
espírito — diretamente — combativo em um texto como Uoeuvre. Para si, é com 
injustiça que Cézanne e Monet se sintam de alguma forma representados por 
Claude Lantier, quando “ la vérification d’un jugement contemporain par 1’histoire n’a 
été plus constante et plus précise qu’en ce qui concerne les premiers Salons de Zola, ceux de 
1866, 1867, 1868, ou il ' faitTéloge des peintres qu’il aime, et vraiment à la première heure .” 
(p. 9) O autor elogia, sobretudo, seu pronto reconhecimento das qualidades de 
Manet, bem como sua justeza de gosto, cuja avaliação pauta apenas em suas 
qualidades pictóricas; assim, “ Zola ne confond jamais les peintres que nous avons oubliés 
ou déposés dans la ré serve des Musées avec ceux dontil a déviné la gloire à la nais sanee .” (p. 
11 ) 

A seguir, especifica alguns conceitos importantes nas críticas de Zola, como 
“natureza” (“ une sorte d’éblouissement et d’innocence optique, étrangère à toute référence de 
jugement, comme si la nature était la peinture livrée à elle-même, à sa propre spontanéitê\ 
idem) e «modernidade» ( «{comme la nature) se confond avec la pure présence, la pure 
immanence optique », p. 12), de forma a situar seu repúdio à imaginicação fantástica 
(Scheffer, Doré e Moreau), à evasão histórica (Puvis de Chavannes) e às 
imitações de escola (Ribot). Zola, atento ao papel crescente das ciências na 
sociedade e nas artes, percebe a correspondência “ entre cette recherche générale de 
réalité et la plénitude optique, la visualité sans partage de la nouvelle peinture, comme si la 
réalité était ce quon appelera plus tard peinture pure.” (p. 13) Disto deriva, pois, certa 




498 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


correspondência entre o apelo formal da pintura impressionista e “ce mot de 
réaliste, de natur aliste” (idem). 

Picon especifica, porém, a busca de Zola pelo temperamento na pintura, o 
que difere de uma busca pura e simples pelo real. Neste sentido, destaca sua 
“ esthétique individualiste, romantique, qui s’oppose à la notion classique d’un beau absolu, 
d’une tradition à reprendre et à perfectionner et, aussi bien, à la notion scientiste d’une 
réalité objetive ” (p. 14), por meio de uma apropriação da realidade como forma 
de individuação do temperamento — e não o oposto. É somente mediante tal 
enriquecimento do temperamento pela realidade que se pode entender com 
justeza a reprovação zoliana dos desdobramentos da pintura impressionista em 
1896, horrorizado pela deformação do real pela cor, beirando os limistes da 
caricatura: “Le tempérament doit éclairer d’un jour nouveau ce que, cependant, chacun 
pourra reconnaitre; 1’oeuvre doit être 1’expression particulière d’une vision rattachée à un fond 
commun [...]: 1’artiste de génie que l’on attend est celui qui, exprimant une vision assurément 
particulière, inconnue avant lui, son monde, engagera pourtant cette totalité communicable — 
le monde” (p. 17, 19) 

Após levantar as críticas de Zola a seus contemporâneos — convicto, em 
1896, de sua falta de gênio, de sua incapacidade em criar uma técnica própria, 
viva, como a de um Michelângelo — , Picon observa, finalmente, a semelhança 
de sua crítica de arte à sua criação romanesca, cada vez mais passadista, mais 
conservadora: “ voulant écrire pourson époque, il écritpour une époque passée, les Rougon- 
Macquart finissent par être une Comédie Humaine inférieure, oü bnllent pourtant les 
métaux d’ une autre terre, dont Balqac n’a jamais eu le soupçon. Comme 1’écrire pour son 
époque, le peindre pour son époque, refusant l’obscurité, rinintelligibilité de ce qui se 
fait, de ce qui vient, risque fort de reconduire vers ce qui est déjà venu .” (p. 22) 

Em suma, o balanço de Picon sobre a crítica de Zola a “ses peintres” , consegue 
evidenciar importantes nuanças em seu pensamento crítico — muito embora 
assuma, ao final, um tom claramente valorativo, quiçá negativo — , que se soma 
aos artigos de Zola como introdução, ou contraponto, útil. 


POMARÈDE, Vincent. Rayonnements (1860-1870). In: POMARÈDE, Vincent 

et al. L’école de Barbizon: peintre en plein air avant 1’impressionnisme. 

Lyon: Musée des Beaux Arts; Paris: Réunion des musées nationaux, 2002. p. 
254-271. 

Em meio a um volume dedicado à escola de Barbizon, Pomarède resume, 
neste ensaio, boa parte das relações possíveis entre os impressionistas e estes seus 
“antecessores” diretos. Em se tratando de uma questão acessória ao presente 
anexo, basta observar a pertinência de tal comparação, e os pontos essências às 
duas “escolas” em questão: “ il apparait aussi jallacieux— ou du moins aussi discutable 
— de vouloir faire des peintres de decole de Barbizon des précurseurs de l’impressionnisme que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


499 


de vouloir enfermer ces derniers dans un simple héritage de la pratique ãu paysage élaborée 
auto ur de 1 850 d (p. 258) Neste sentido (negativo), ainda que tenham aprendido 
consigo diversas técnicas — sombras coloridas, cores puras, pintura en plein air—, 
“les impressionnistes allaient rompre avec un des fondements de decole de Barbigvn , cet étrange 
anthropomorphisme qui poussait Théodore Kousseau et ses amis à projeter des sentiments sur 
les ‘ornements de la n ature’, conjérant ainsi à un arbre ou un rocher une réelle personnalité, 
dispensatrice de sentiments et de poésie .” (idem) 

Pomarède alerta para o fato, todavia, de certo lobbj da crítica de arte, para a qual 
o viés sentimental da pintura de Barbizon limita-se a um estágio intermediário, 
ou incompleto, do viés sensorial impressionista. Salienta, pois, “ le triomphe de 
dimpressionnisme, répondant de plus à des engagements sociaux et à une nouvelle conception 
de 1’image de dartiste, plus indépendant, indiviãualiste et provocateurd (p. 259) 

Em todo caso, cabe salientar a importância acessória desta discussão para o 
justo entendimento da tradição pictórica em que se insere o Impressionismo 
— enfoque válido, sobretudo, para um trabalho exlusivamente dedicado ao 
Impressionismo pictórico. 


POOL, Phoebe. Les fondements de lTmpressionisme. In : . 

L’Impressionnisme. Trad. Hélène Seyrès. Paris: Thames and Hudson, 
1994. P. 7-36. 


É de interesse maior o capítulo inicial, de caráter teórico, precendente aos 
demais, relativos à análise individual de artistas do movimento. 

Para a autora, que se coloca ao início uma série de questões sobre as possíveis 
causas das inovações técnicas do Impressionismo, Az la différence de Courbet ou de 
Signac, jamais ils n ’ont formule un ensemble de príncipes, ni redigé un manifeste. De même 
que de nombreux critiques ou romanciers des années 1860 et 1870, tels Flaubert, Sainte- 
Beuve et les Goncourt, les impressionnistes se méfiaient des généralisations. Deur style leur 
est venu en peignant et son évolution a sans doute été influencée par d’obscurs instincts, qidils 
ríauraient su identifier ou analyser ” (p. 7-8) 

Com esta não resposta, Pool considera uma herança romântica a independência 
impressionista ante as normas acadêmicas, bem como sua emoção “ quase 
mjstique ” ante a vida cotidiana, seja nas grandes cidades seja na província. 
Paralelamente, destaca as influências na pintura das descobertas científicas da 
época (polarização da luz; contraste simultâneo das cores; aperfeiçoamento da 
fotografia etc.). 

A seguir, a autora parece confundir-se em meio a uma série de referências 
diversas sobre as possíveis influências de diversas escolas sobre o gosto médio do 
público, bem como sobre as obras impressionistas, citando pintores holandeses, 
ingleses e franceses, de diferentes épocas. Neste sentido, o texto de introdução, 
de tamanho reduzido, parece ressentir-se desta profusão de informações, 




500 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


perdendo seu foco inicial. 


POTHEY, Alexandre. Expositions. Beaux-arts. In: VENTURI, Lionello. Les 
archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, 
Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova 
Iorque: Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 301-304. 

Neste artigo publicado originalmente no jornal Eapresse (31/03/1876), Pothey 
discute brevemente a segunda exposição impressionista a partir de alguns pontos 
relevantes da primeira. Assim, enfatiza a aproximação direta entre os pintores e 
o público (“T/x ne demandaient à 1’Etat ou à l 'Administration ni faveurs, ni recompenses, 
ni acquisitions, pas même un local gratuif, p. 301) como principal elemento a ser 
elogiado nas duas exposições, para além da incompreensão e animosidade geral: 
“ les exposants furent désignés avec que l que ironie comme impressionnalistes et intransigeants, 
tandis qu’ils cherchaient tout simplement à être indépendants (p. 302) Ademais, nota a 
continuidade do trabalho do grupo, ativo há quase duas décadas, como prova 
de perseverança e coesão. 

Entretanto, examinando os quadros expostos na rua Le Peletier, afirma 
serem infinitamente superiores àqueles do Bulevar des Capucines, assim como 
sua organização em painéis isoladamente dedicados às obras de cada pintor. 
Seguem-se elogios às telas de Monet, Degas, Renoir, Cisley [sic] e Pissarro. 

A coletânea de Venturi (1939) reproduz ainda outro artigo de Pothey, 
desta vez no Le petit parisien e intitulado “ Beaux-arts 1 ’ (07/04/1877), em que 
discute, de maneira também breve, o sucesso ainda maior da terceira exposição 
impressionista. Nele, é relevante observar o lento, porém certo, reconhecimento 
do grupo por todos (cronistas, público em geral) como portador de uma nova 
visão pictórica: “ Tout le monde sait que ce groupe de dix-huit artistes s’est forme dans un 
Seul but: rendre 1’effet et l’émotion que la nature produit directement dans le coeur ou dans 
l’esprit. Ce résultat est-il atteint? Quelquefois; mais il est toujours visé. [...] L’exposition des 
impressionnistes restera ouverte pendant tout le mois. Elle ser a fort suivie, si nous en jugeons 
par 1’empressement que le public manifestait dès la veille de rouvertureP (p. 303-304) 
Percebe-se, pois, de um artigo ao outro (bem como de uma exposição à 
outra, retornando inclusive à primeira), a aceitação crescente do grupo e de seus 
pressupostos teóricos (muito embora sejam tomados ainda enquanto sinônimos 
de um vago efeito ou emoção direta da natureza). 


PROTH, Mario. Voyage au pays des peintres: Salon de 1877. Paris: Henry 
Vaton, 1877. 

Balanço bem humorado da exposição impressionista de 1877, tratada en 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


501 


passant cm meio a tantos outros assuntos. Para Proth: “ Impressionnisme! Puisque ces 
messieurs tiennent sifort à une terminaison en isme, n’y en aurait-il pas quelque autre à leur 
proposer? Nihilisme, àpeuprèsisme, bygantinisme, lugubrisme, ne seraient pas si malvenus. 
Eugubrisme rendrait as ses^ bien 1’impression, faut-il dire 1’impressionnisme? que nous avons 
subie .” (p. 6) 

Por entre os expositores, e para além do tédio que confessa sentir, julga haver 
alguns talentos honestos: Monet e seus “ Dindons ” inacabados; e os documentos 
de época de Degas. No mais, limita-se a concluir: £ ‘E 'impressionnisme, enfin, ãont 
il vaudrait mieux qu’on ne parlât point, n’est pas une équipée de jeunes gens. Ouelques uns, 
par mi ses fidèles, ont depuis maint lustre doublé le cap des Tempêtes. Encore une fois, les folies 
froides sont bien lugubresE (p. 7) 


PROUST, Marcei. Le peintre. Ombres — Monet. In: . Contre Sainte- 

Beuve précédé de Pastiches et mélanges et suivi de Essais et articles. 

Paris: Gallimard, 1971. p. 675-677. 

Em uma “ note de date incertaine” presente em Essais et articles , Proust tece 
algumas considerações acerca da pintura de Monet que podem ser entendidas, 
até certo ponto, como parte de sua compreensão pessoal do impressionismo. 
Nela, observa que um amador da pintura de Monet e de Sisley tem de gostar do 
mar azul de Antibes, dos riscos de uma vela desenhados em um rio, da vista da 
catedral de Rouen por entre os telhados das casas etc., à maneira que o aficionado 
de uma cantora ama os papeis por ela representados. No entanto, observa que 
muitos amadores de pintura que viajam para ver as papoulas de Monet não o 
fazem para ir ver um campo das mesmas flores, “ comme ces astrologues qui avaient 
une lunette dans laquelle ils voyaient tout les choses de la vie, mais qu’il fallait aller trouver 
dans une solitude car ils ne se mêlaient pas à la vie, ils ont dans des chambres des espèces des 
miroirs non moins magiques appelés tableaux, et dans lequels, si l’on sait, en s’éloignant un 
peu, bien les regarder, d’importantes parties de la réalité sont dévoiléesP (p. 675) 

Assim, enquanto espelho mágico da realidade, a pintura transporta o meio 
representado pelo pintor à sensibilidade de quem a vê, mas, no caso de Monet, 
não vale pela sensação da paisagem: “Un tableau de Monet nous fait aimerle pays qui 
nous y plait. II a beaucoup peint les bords de la Seine à Vernon. C’est assegpour nous pour 
aller à Vernon. [...] Ees tableaux de Monet nous montrent dans Argenteuil, dans Vétheuil, 
dans Epte, dans Giverny 1’essence enchantée. Mlors, nous partons pour ces lieux bénis .” (p. 
676) 

Demasiado próximo dos locais que representa, e muito embora saiba 
captar certo aspecto divino e contemplativo de suas paisagens, Monet parece 
a Proust como ligeiramente vulgar, banal. Incomoda-lhe a interposição de um 
casal de costas em meio a uma praia deserta, por exemplo: “Nous avions soif de 
lieux de la terre qui sont eux et qui ne sont pas d’autres, de greves qui ne voient jamais qu’un 




502 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


certain coin de falaise et qui entenãent tout le jour et toute la nuit les plaintes de la mer [...]. 
Telle est 1’exigence de nos idéauxP (p. 677) 

Inversamente, confessa preferir a idealidade de Gleyre ou de Ingres nos 
museus, “oü nous avons besoin de formes admirables, de lunes comme un croissant d’argent 
sur un ciei semé d’étoiles .” (idem) 


PROUVAIRE, Jean. Uexposition du Boulevard des Capucines. In: 

BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: 
Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 121-127. 

Publicado originalmente no jornal Le rappel de 20 de abril de 1874, Prouvaire 
fornece um depoimento apaixonado do gesto revolucionário dos expositores 
no salão de Nadar: “II j a là une entreprise audacieuse, et qui, à ce seul titre, aurait 
droit à nos sympathies. L’audace, d’ailleurs, n’estpas son seul mérite. — C’est quelque chose 
comme un lever de rideau avant le drame; mais, quelquefois, la petite pièce est meilleure 
que la grande.” (p. 121) Nestes termos, em que se relata a pequena exposição 
impressionista qual um Davi frente ao Golias dos Salons, o cronista exorta, 
já inteiramente convencido do programa em questão, o olhar precavido dos 
passantes: “vous qui entresy laisset r tout préjugé ancien. II fut un temps sans doute ou des 
peintres ndífs, lorsqidils voulaient donner l’idée d’un arbre, peignaient un arbre en effet, 
avec son trone, ses branches et ses feuilles. Ils ignoraient, pauvres gens, que la peinture doit 
donner avant tout ‘1’impression ’ des choses, non leur réalité mêmeL (idem) Seguem-se, 
finalmente, comentários elogiosos a telas de Renoir, Degas, Sisley e Monet. 

O texto encontra-se também reproduzido no anexo do catálogo Centenaire de 
rimpressionnisme (Distei, 1974). 


READ, Herbert. L’époque moderne et son action sur 1’art. In: RAYNAL, 

Maurice. De Baudelaire a Bonnard: naissance d’une vision nouvelle. 

Genebra: Skira, 1 949. p. V-XIX. 

Reconhecendo a dificuldade e a imprecisão da tarefa de investigar o momento 
exato de origem de uma estética qualquer, Read afirma, para além de uma 
explicação biológica das artes (cara, por exemplo, a Jules Laforgue), a analogia 
ao movimento complexo de um cronômetro: “en effet, le ‘temps’ historique semble 
se réduire, en dernière analjse, à cet assemblage d’engrenages et de roues. On nous dira que 
le chronomètre ne peut se passer d’un ressort au centre, mais ce n ’est pas forcément le cas du 
chronomètre moderne qui peut être maintenu en mouvement par la simple succession des nuits 
et des joursl ’ (p. VII) 

Read levanta, a seguir, a hipótese marxista de leitura do mesmo cronômetro, 
que substitui os “dias” e as “noites” pela luta de classes (ricos e pobres, patrões 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


503 


e empregados etc.), descartando-a rapidamente: “Néanmoins, les faits économiques 
et les mouvements sociaux ne peuvent avoir qu’un rapport lointain avec 1’évolution du style 
dans l’art .” (idem) Menciona apenas a importância das teorias científicas sobre 
a cor, paralela à criação e aperfeiçoamento da fotografia, como fatores sociais 
determinantes para tal evolução estilística. Assim: “Ce qui s’est produit c’est une 
distinction nette entre /íllustration et /ínterprétation. A première vue ceci peut paraítre 
sans importance, mais nous j trouvons aussi impliquée la distinction entre l\ mage et le 
symbole, distinction qui [...] est capitale pour la compréhension des mouvements artistiques 
contemporainsP (p. VIII) 

Para discutir as nuanças existentes entre os conceitos de imagem e símbolo, 
Read retorna às ideias elementares de originalidade e de tradição na arte: 
“Uhomme, dans son unité irréfléchie avec la n ature, n’avait besoin que de l’image pour 
projeter ses sensations. Mais 1’homme, en tant qu’individu pleinement conscient et séparé 
du reste de la création, eut besoin d’un langage fait de sjmboles pour exprimer son identité. 
[...] C’est la co-existence de 1’image et du symbole, comme normes de l’art, qui explique cette 
complexité et ce manque apparent d’ unité dans le monde moderne.” (p. X) 

Citando Whitehead e Emile Bernard, o autor reforça a interdependência 
histórica entre arte, sociedade e pensamento, e observa o não lugar do artista 
na contemporaneidade: “Ca conséquence immédiate de la révolution industrielle sur 
l’art a été d’exclure graduellement 1’artiste de 1’organisation fondamentale de la production 
économique. On peut placer ce changement à 1’avènement même du système capitaliste, c’est-à- 
dire avec 1’apparition de la richesse individuelle accumuléeP (p. XII-XIII) Read destaca 
o papel predominante dos mecenas entre os séculos XVI e XVIII como fonte 
única de renda dos artistas, responsável por um sentido estreito de humanismo 
e por uma dependência da arte à dada elite social. Assinala também a Revolução 
Industrial e o consequente fim das esporádicas relações entre arte e artesanato 
como catalisador da reação dos artistas ao mercado: “En présence d’une telle 
situation 1’artiste pouvait réagir de différentes façons. II pouvait devenir un vulgaire courtisan, 
acceptant d’office le point de vue du mécène, apportant ainsi son appui à 1’ordre social en 
créant des oeuvres destinées à satispaire les goüts de ses clients et à flatter leur vanité. Tel est, 
dans son ensemble, l’art bourgeois des XlMIIe et XIXe siècles. Mais une telle situation ne 
peut que provo quer une dégradation Progressive de l’art. [...] E’artiste qui re repuse à une telle 
décadence peut réagir de deux façons. Si les questions sociales ne le laissent pas indifférent il 
se révoltera contre 1’ordre social et deviendra un artiste révolutionnaire, c’est-à-dire un artiste 
qui, sciemment, mettra son art au Service de la réforme soei ale. [...] Ea même situation sociale 
peut paire naitre che ^ 1’ artiste un état d’esprit qui le détourne de ce qu’il considere comme des 
valeurs esthétiques fausses et périmées et 1’oriente vers de nouvelles valeurs esthétiques mieux 
adaptés à révolution sociale de ses contemporains.” (p. XIII) 

Tal é o caso dos impressionistas, que, para Read, puseram-se a analisar a 
realidade a despeito dela própria: “les impressionnistes, en pait, avaient conscience de la 
vitalité des objets, des vibrations de la lumière, de 1’intensité de la couleur, aux dépens de la 
nature même de ces objets, de leur solidité, en un mot de leur réalité. E’étude de la lumière et 




504 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de la couleur conáuisit à une séparation de la couleur et de la forme.’ ’ (p. XIV) 

Detém-se, a seguir, sobre o papel desta separação na obra de Cézanne 
(enquanto representação do real), de Gauguin (enquanto criação do belo) e de 
Van Gogh (enquanto expressão da emoção), o que interessa pouco ao presente 
anexo. Por fim, arremata sua discussão ao dizer com justeza: “II ne semble pas que 
la contradiction qui existe entre la fonction aristocratique de l’art et la structure démocratique 
de la société moderne puisse jamais être résolue. Mais tous deux peuvent porter le manteau de 
rhumanisme, l’un pour se protéger, 1’autre pour se parader Uartiste sensible sait qu’un vent 
aigre est en train de souffler.” (p. XIX) 

Trata-se, pois, de um estudo amplo, conquanto breve, sobre a arte moderna, 
e válido, sobretudo, em suas análises do papel social do artista e dos efeitos 
da sociedade capitalista sobre o Impressionismo. Não obstante, insiste o autor 
em nuançar a validade marxista de tal argumento, bem como em relativizar a 
importância do Impressionismo na evolução da arte moderna, optando por 
discutir as soluções individuais de pintores pós-impressionistas como Cézanne 
e Van Gogh. 


RETAILLÉ, Denis. Les lieux du chevalet errant : une déconstruction en forme 
d’analytique. In : COUSINIE, Frédéric (Dir.). L’impressionnisme : du 
plein air au territoire. Rouen : Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 
2013. P. 237-246. 

A fim de discutir o “chevalet errant” impressionista enquanto parte da nova 
geografia de Paris, engendrada pelo prefeito Haussmann, Retaillé dispõe 
algumas premissas iniciais do movimento — a centralidade do café Guerbois 
(“Les impressionnistes forment um cercle de sociabilité plus qu’une école unifiée par le style 
ou les sujets” , p. 238) e a atenção ubíqua a locais em meio à natureza ou em 
meio à agitação urbana f sites répresentés sur des toiles” , p. 239) — para apontar a 
dependência de movimento, ou dinamismo, para a eleição do “lieu” ou lugar 
representado f un événement qui est aussi un avènement ”, idem). 

O autor define tal “lieu” — que diferencia de “site” fie cadre le plus ou moins fixé 
par une profonãeur et un angle de vue”, idem) e de “ localitê ’ (espaço de representação 
resultante da acumulação dos signos e de memórias compartilhadas, “dont les 
Hocalités ' jalonnent les itinéraires” , idem) — em termos de “rizoma”, à maneira de 
Deleuze e Guattari em Mille plateaux : “Poser son chevalet pour saisir un mouvement, 
serait-ce celui de la lumière, c’est produire du lieu. Tous ces sites saisis sont li és en un space 
qui a la forme d’un rhi^ome : le réseau social des peintres et de leurs amis des lettres et 
du marché de 1’art, le réseau des lieux animés du Paris modernisé et le réseau des sites 
fluviaux, ruraux, urbains industrieis, littoraux maintenant bien reliés et frequentés par la 
même société que les impressionnistes peignent à Paris.” (p. 240) A partir de então, põe- 
se a desconstruir duas “quimeras”: a do cavalete errante, que parece conferir 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


505 


uma unidade fictícia a tantos lugares individuais; e a do ícone territorial, que 
parece sugerir um “ territoire de 1’impressionnisme, [possível senão] par métaphore 
(idem) Teoriza, a seguir, os conceitos de espaço estrutural e espaço funcional a 
partir de Desmarais, Ritchot, Foucault e Baudrillard, dentre outros, a fim de ver 
a plausibilidade da formulação de uma “Normandia impressionista”, tema que 
motiva o volume em questão (e dos quais os demais artigos, salvo o de Genet- 
Delacroix, constituem explorações pontuais acerca da presença e influência da 
região na obra individual de diversos grandes pintores) e que toca de maneira 
muito tangencial a questão do Impressionismo pictórico, enquanto tal. 


REY, Jean-Dominique; BERSIER, jean-Eugène. Pour 1’impressionnisme, 

contre 1’impressionnisme. Nancy: Berger-Levrault, 1969. 

Trata-se de obra introdutória de coleção que busca abranger os prós e os 
contras de cada assunto, e que, de acordo com Jean-Dominique Rey, não poderia 
deixar de abranger o assunto do impressionismo, sobre o qual “ ilj aurait en effet 
quelque ridicule à se poser aujourd’hui en simple défenseur d’un mouvement né ily a cent ans 
etqui connait depuis tant des lutres la consécration la plus éclatanteP (p. 3) Não obstante, 
parece um pouco insólito incluir o impressionismo como tema de uma coleção 
que abarca temas como a pena de morte, o anticoncepcional e o planejamento 
familiar, a conquista do espaço, o automóvel, a liberdade sexual etc. 

Do lado “pró”, Rey observa a recusa revolucionária dos temas tradicionais 
(provindos do Humanismo e da Renascença) e das instituições oficiais (vide 
o repúdio dos pintores pelo Louvre ou pela Ecole des Beaux Arts): “toute sa 
période ascendante se cristallisera autour de ces ruptures et de ces rejus. Et désormais la 
peinture ne será plus ce qidelle avait été auparavant, ni l’attitude du peintre face à un héritage 
qu’il ne ces ser a de remettre en question. [...] L dmpressionnisme marque le passage de la 
Kenaissane au monde moderne .” (p. 9-10) O autor observa ainda a diferença entre 
um impressionismo “fechado” e outro “aberto”, ou seja, limitado a pintores 
mais “puramente” impressionistas como Monet, Pissarro, Sisley e Renoir, ou 
aberto a outros, como Manet, Degas, Gauguin, Cézanne etc. O autor retoma, 
ainda, a reflexão de Oswald Spengler segundo a qual há uma “constante” 
impressionista nas artes ao longo de todas as civilizações (assim como uma 
constante barroca, clássica etc.), modalizando logo tal sugestão para uma ampla 
“tendência” impressionista — termo que reconhece existir já para pintores como 
Corot, Boudin, Millet e Manet, que não se cansavam de sublinhar a importância 
da primeira impressão (e da percepção do pintor). 

Do lado “contra”, há alguns contrassensos básicos, mais ou menos derivados 
da natureza “um-menos-um” da coleção: “ Ee peintre et la peinture ne sont plus 
que du marc de café que le mage-critique interprete ” (p. 6); “accepter ce mot, ce titre, 
cette classification [impressionismo] en grandes majuscules, englobant un mouvement de 




506 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


longue durée et un groupe indéfectible combattant pour un idéal commun, une formulation 
nouvelle de la peinture et, grâce à ce mot, 1’intronisant, cela me parait abusif (p. 8) etc. 
No mais, enfatiza o uso de técnicas ditas impressionistas por pintores como 
Delacroix e Rubens; a personalidade rica e plural de Manet, Degas e Pissarro; 
o distanciamento cada vez maior de Monet, suposto núcleo do grupo, ante os 
demais pintores impressionistas; a necessidade injustificada de nossa época por 
classificações e simplificações etc. 


RIOUT, Denys. Diversité des impressionnismes, 1874-1886. In: (Org.). 

Les écrivains devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 7-31. 

Retomando Jacques Lethève, Riout observa com propriedade que, a fim de 
entender a justa medida da reação dos impressionistas aos valores estéticos 
de sua época, é necessário observar o conjunto de sua recepção pela crítica 
(pensamento que embasa sua própria coletânea de textos, à qual seu “Diversité 
des impressionnismes ” serve de apresentação geral): “Puisque leur lecture est la seule 
voie d’accès à une compréhension historienne des sensibilités passées, il a paru opportun, 
dans le contexte actuel de révision, voire de ‘révisionnisme’, de rassembler les plus notables 
d’entre euxP (p. 8) Todavia, Riout observa diversos fatores levados em conta na 
organização do volume: a ilusória unidade de conjunto dos textos compilados; 
a inversão da hierarquia de diversos de seus autores (afinal, “en 1 874, Mallarmé 
était beaucoup moins connu que Chesneau ou Clarétie”, p. 1 1); o diferente alcance das 
revistas e jornais em que foram publicados; a fluidez do termo “impressionismo”, 
cunhado pelos críticos de arte e não pelos próprios pintores (a par de tantos 
outros: “‘peinture de communards’, ‘garibaldiens de la peinture \ ‘francs-tireurs ’, ‘école 
démocratique’, ‘intransigeants’ , ‘école des taches’, ‘école du plein air’, ‘école desyeux’, ‘école de 
1’avenir’, ‘indépendants’ , ‘intentionnistes’ , ‘impressionnalistes * ’ , p. 12) etc. 

Detendo-se na acepção política do termo “impressionista” à época, o autor 
salienta que “‘intransigeant’ jut souvent emplqyé, alors que la Képublique était encore 
fragile, pour disqualifier les artistes ” (p. 13), significando tanto “radical” quanto 
“democrático”. Obviamente, a parte mais conservadora da imprensa haveria de 
insistir na primeira conotação, enquanto os defensores do grupo, na segunda, 
salientavam, sobretudo, suas inovações formais. A palavra de ordem é, em todo 
caso, a de independência, seja formal seja econômica, perante o cânone e o 
mercado monopolizados pelo Salon : “Le libéralisme, en matière d’organi%ation de la 
vie artistique, s’imposait, telle une évidence, aux militants républicains qui avaient connu les 
inconvénients du centralisme impérialP (p. 15) 

Desta forma, enquanto reação coletiva a tal sistema de estatização da arte, 
o Impressionismo passaria a acolher diversos insatisfeitos, servindo-lhes de 
bandeira mais ou menos comum, por meio da ambivalência do termo que o 
embasa: “Plus quun drapeau, ‘impressionnisme’, qui s’impose finalement, jut un mot- 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


507 


écran. Fe même terme designe /impression des caracteres typographiques et /impression 
psychologique qu’ils produisent: il permetainsi une hésitation de lecture entre le registre des faits 
positifs et celui des sensations subjectives. Nouvelle manière picturale, équivalent du naturalisme 
en peinture, synonyme de modernité, ou encore plaisanterie de rapin, impressionnisme 
finit par désigner une nébuleuse d’oeuvres et de pratiques, associées par des liens analogiques 
lâchesP (p. 16) Ambivalente por natureza, logo o termo viria a ser amplamente 
aceito, bem como ampliado para além de seus amplos limites (como a noção de 
crítica impressionista, cunhada por Brunetière). 

Riout chama atenção para o fato de que não se pode entender o papel dos 
independentes sem a arte oficial, nem esta sem aqueles, pois “la violence ne jut pas 
unilatérale ” (p. 17): “Renverser le système des genres qui mettait Fallégorie et la peinture 
d’histoire au sommet d’ une hiérarchie régnant em France depuis le XVlle siècle, détait prendre 
la RastilleF (p. 18) Trata-se de uma luta pelo estabelecimento da modernidade 
na arte, já sob um viés diverso daquele proposto em 1863 por Baudelaire, 
para quem um belo desenho deveria resultar da imaginação e da memória do 
desenhista {“ T impression produite par les choses sur Áesprit”, não “sur /beil”, p. 21). 
Neste sentido, enquanto extensão do realismo e de sua abordagem direta da 
natureza, o Impressionismo apela antes a autores como Duranty e Zola, que 
veem nele a possibilidade de atingir “une ‘ modernité ’ naturalisteP (p. 22) 

A seguir, o autor levanta diversas posições hostis dos contemporâneos ao 
Impressionismo, e destaca as frequentes críticas à sua falta de domínio técnico 
como principal argumento explorado por seus defensores: “A lo rs qidinvention 
et exécution formaient, dans la tradition classique, deux moments distincts, c’est désormais 
au fil de la réalisation matérielle que la création s’ exerce. Toute une conception de 1’artiste- 
chercheur — et ce mot apparaít souvent dans les textes javorables à l’impressionnisme — 
trouve ici sa sourceP (p. 24) Disto decorre o posterior afastamento de Zola, avesso 
à estética cada vez mais fragmentária e serial do Impressionismo, capaz de 
colocar em cheque as próprias noções de obra-prima e de totalidade artística. 

Finalmente, Riout fala a respeito do conceito de vanguarda artística, tomado 
em duas acepções no que toca ao Impressionismo: como metáfora militar, 
referindo-se aos sacrificados das primeiras filas, em combate (Zola); e como 
versão secularizada da profecia evangélica, que antecipa que os últimos serão 
os primeiros. Discorre ainda brevemente sobre a transposição de tal sentido 
profético para o Neoimpressionismo (Fénéon), bem como sobre a presença 
cada vez maior de teóricas científicas sobre a cor (Chevreul e seus divulgadores, 
Charles Blanc e Ogden Rood). Menciona ainda a antecipação de parte do 
projeto impressionista por escritores como os Goncourt; sua defesa parcial por 
escritores simbolistas; os (des) entendimentos entre Pissarro e Huysmans etc. 

Trata-se, pois, de texto absolutamente ciente da profusão de sentidos agregados 
ao Impressionismo — ou à polifonia (cacofonia) — que ele engendra. Sua leitura, 
assim como a do volume que pretende apresentar, e ao qual serviria melhor, 
talvez, de conclusão, é indispensável. Pois, à profusão de vozes, é necessário 




508 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


somar aquela própria ao leitor, apenas para consentir (mos) no amplo silêncio 
que paira ao redor das telas e livros: “Foin d’être des documents d’archives, ces écrits 
nous convient à prendre part aux débats, à retourner auprès des peintures, et à consentir enfin 
au silence (p. 31) 


RIVIÈRE, Georges. A M. le rédacteur du ‘Figaro’. Uexposition 
des impressionnistes. In: VENTURI, Lionello. Les archives de 
1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley et autres. 
Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: Durand- 
Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 306-314. 

Trata-se do primeiro de uma série de artigos, escritos de seis a 28 de abril de 
1877 e publicados no efêmero ‘ Journal d’art” Uimpressionniste , “un projet mentionné 
fin 1873 dans la charte de lAssociation coopérative du groupe.” (Riout, 1989, p. 187). 
Rivière participa em todos os quatro números deste efêmero jornal, que pretende 
emular a liberdade do grupo impressionista ao intitular-se, ele também, de 
“ Uimpressionniste ” . A este respeito, é lícito destacar que tal periódico é publicado 
paralelamente à terceira exposição impressionista, em 1877, primeira em que os 
pintores autodenominam-se a partir do termo jocoso de Leroy. 

Nele, Rivière defende o grupo dos ataques da imprensa em 1874 e em 1876, 
lamentando, sobretudo, a acidez de um cronista anônimo do Figaro (sob o 
pseudônimo de “Baron Grimm”, segundo informação de Lethève (1972, p. 
82-83)) e também a de Albert Wolff, “qui a des prétentions de connaisseur, [e] ne 
trouva pas assei i des termes grossiers dans son fertile cerveau pour accabler les artistes qui 
luttaient courageusement contre la mauvaise chance.” (p. 306) Discutindo, pois, terceira 
exposição impressionista, aponta seu sucesso em 1877 perante o público, do 
qual nenhum convidado deixou de comparecer: “Fes sympathies étaient nombreuses, 
et jeudi matin, c’est avec une proponde tristesse que fai lu les critiques ridicules et odieuses 
contre les impressionnistes.'’'’ (idem) Assim, é com intuito combativo que endereça 
este artigo-carta ao redator do Figaro , opondo-se à crítica especializada e 
confessando que “ le public se moque d’elle, en venant en foule admirer les oeuvres que des 
gens de talent soumettent à son jugement plus sain, parce qu’il est plus impartial que celui de 
quelques vaniteux qui rient toujours de ce qu’ils ne comprennent pas.” (p. 307) 

Segue Rivière em tom absolutamente deslumbrado com a exposição — talvez 
como forma de contrabalancear as opiniões negativas que combate: “One 
d’enchantements, que d’oeuvres remarquables, que de chefs-d’oeubre même accumulés dans 
les salons de la rue Fe Peletier! Nulle part et em aucun temps, exposition pareille n ’a été 
offerte au public.” (p. 308) Descreve, a seguir, os quadros expostos, com destaque 
para os elogios ao quadro “Bal du Moulin de la Galette ” (em que, por sinal, está 
representado ele próprio, Rivière), a partir do qual salienta a acuidade histórica 
dos impressionistas como sua principal característica, paralelamente ao uso 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


509 


imoderado da cor: “M. Renoir et s es amis ont compris que la peinture historique n’était 
pas rillustration plus ou moins drôlatique des contes du passé: ils ont ouvert une voie que 
d’autres suivront certainement. Oue ceux qui veulent faire de la peinture historique fassent 
1’histoire de leur époque, au lieu de secouer la poussière des siècles passés. [...] Traiter un sujet 
pour les tons et non pour le sujet lui-même, voilà ce qui distingue les impressionnistes des 
autres peintres. [...] C’est surto ut cette recherche, cette façon nouvelle d’exposer un sujet qui 
est la qualité très personelle de M. Renoir [...] et le ‘Ba/’, dont la couleur a tant de charmes 
et de nouveauté, sera certainement le gr and succès des expositions de peinture de cette annéeP 
(p. 309) 

Em suma, trata-se de documento importante sobre o sucesso relativo do 
grupo já na década de 1870, em que se denuncia o desnível entre a apreciação 
simpática do público e a recusa imoderada (de parte) da crítica. 

E, em tempo, a respeito do periódico Uimpressionniste , é lícito retomar o 
parecer de Joel Isaacson (1980, p. 9), para quem constituiu o único meio mais 
ou menos institucionalizado de expressão coletiva dos intuitos do grupo: “ The 
impressionists had no organ to proclaim their program; indeed, thej had no program. The 
most that ive can point to is the very-short lived journal lTmpressionniste, published by 
Georges Rivière during the run of the third exhibition in 1877 (although a publication had 
been projected as part of the articles of incorporation for the inaugural shoiv). In its hortatory 
and enthusiatic tone, lTmpressionniste did serve for a moment the role of propagandist for 
a movement, combining a condemnation of tradition ivith a resounding endorsement of the 
painters and their artP 


. Explications. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 202-205. 

Trata-se do terceiro artigo publicado em Uimpressionniste , em meio à exposição 
do grupo impressionista em 1877, na rua Le Peletier. Nele, Rivière discute o 
título da exposição não enquanto uma tomada de postura dos pintores perante 
o público, mas apenas de uma aceitação respeitosa de um termo já utilizado para 
designá-los, correntemente: “C’est bien simple. Ils ont mis à la porte de leur exposition le 
mot impressionniste afin de ne pas être confondus avec d’ autres et parce que ce mot les désignait 
d’ une façon fort claire pour le public. D’abord, ce nom c’est le public et les journalistes qui 
l’ont donné aux peintres, et ces parrains sont bien mal avisés de venir aujourd’hui demander 
à leurs filleuls la raison d’un nom que ceux-ci n’ontfait qu’accepter respectueusement. [...] Ce 
titre rassure le public, les impressionnistes sont suffisamment connus pour que personne ne 
soit trompé sur la qualité des oeuvres exposés.” (p. 202) 

A seguir, Rivière debruça-se sobre qual seria tal qualidade das obras expostas. 
Para tanto, destaca a ausência de temas literários e históricos da exposição (algo 
que salienta ser sabido pelos visitantes de antemão): “Te mot impressionniste 
explique tout cela, et il me semble qu ’on peut se dispenser d’en demander davantage.” (idem) 




510 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


E releva a falta de acuidade da crítica ao reprovar a escolha “de son sujet ou de 
sa palette ”, quando “ il suffit qidune chose soit belle, peu importent les moyens emplojés 
(idem) 

Não obstante, insiste nova e exacerbadamente na defesa dos pintores, 
fazendo disto uma constante nesta sua série de quatro artigos: “Tous les artistes, 
je le soutiens, sont sincères, ils donnent toujours dans leurs oeuvres, leur valeur exacte, si ce 
qidils produisent est mauvais, il n’y a pas de leur paute, ils ne sauraient ni paire mieux, ni paire 
autrement. Les impressionnistes sont ainsi, leurs oeuvres sont le résultat des sensations 
qidils ont éprouvées, et je conçois peu, que des artistes puissent mettre en doute un seul instant 
la sincérité des oeuvres exposées rue le Peletier 3’ (p. 205) 

O texto está reproduzido, embora parcialmente, no segundo volume de Venturi 
(1939), com acréscimos de uma carta de Renoir ao diretor de L’impressionniste e 
de trechos de um breve apelo Aux pemmes de Rivière, como formas diversas de 
publicidade e defesa da exposição impressionista. 


. Uexposition des impressionnistes. In: VENTURI, Lionello. Les 

archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, 
Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova 
Iorque: Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 325-329. 

Trata-se do segundo artigo publicado em L’impressionniste (1877), em que, 
como no primeiro, Rivière lamenta a insistência dos jornais no repúdio 
infundado aos pintores da rua Le Peletier: “ Pourquoi ? Voila ce qu’il paudrait savoir 
[...] Pourjuger les gens, ils paut comaitre ce qu’ils ontpait, et le chroniqueur du Pays ne parait 
pas supfisamment renseigné. Le Sportsman a pait un article violent qui n ’a pas plus de 
raison que celui du Pays. [...] Le Gaulois pait aussi un méchant article qui prouve seulement 
1’ignorance de son auteur en matière artistique. La Petite République Française laisse 
éclore une petite critique assei i anodine ” (p. 314-215). Inversamente, cita os elogios 
de outros periódicos piJhomme libre et le Rappel , le Petit parisien et le Courrier de 
France”, p. 315) como ilhas de simpatia em meio à desconfiança geral, que para 
si, prova apenas a cegueira da crítica, incapaz de orientar um público melhor 
informado que ela própria. 

Assim, rebate as críticas feitas a Cézanne como “de barbares critiquant let 
ParthénorT (idem); elogia a variedade de tons em Pissarro, “ au-dessus de toutes les 
criailleriei’ (p. 318); a “ poésie ch ar mente’’ de Sisley (idem); a ciência de Caillebotte; 
a delicadeza de Morisot; e os esforços de Cordey, Lamy e Guillaumin. 

Rivière conclui este segundo artigo lamentando o estado de então da crítica 
de arte na França, porém certo do sucesso vindouro dos impressionistas: “La 
crainte du ndicule est si grande en France qu ’on se méfie et qu ’on rit de tout ce qui est 
original. Et puis ilj a des gens médiocres partout, en France comme ailleurs, et là comme 
autre part, les médiocrités pont la loi. Qu’ importei Comme leurs prédécesseurs de 1830, les 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


511 


impressionnistes, forts de leur talent, combattront jusqu’au triomphe complet et qui ne 
saurait taráer” (p. 320-321) 

O texto em questão encontra-se reproduzido, com pequenos cortes, nas 
coletâneas de Riout (1989) e de Bonafoux (2008). 


. Le prochain Salon. In: VENTURI, Lionello. Les archives de 

1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, Pissarro, Sisley et autres. 

Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. Paris, Nova Iorque: Durand- 
Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 325. 

Quarto e último artigo publicado em JJimpressionniste (1877), em que Rivière 
reforça seu repúdio às hostilidades da crítica para com os novos pintores e aos 
elogios para com os já estabelecidos: “A.u Salon, les critiques ne rient pas, loin de là; 
armés d’un crayon, ils prennent le plus sérieusement du monde des notes sur des tableaux 
abominables [...]. Quant au public, confiant dans la Science des hommes d’Etat qui ont 
institué 1’Exposition officielle, il vient au Vaiais de 1’Industrie comme il irait à tiéglise, avec 
recueillementP (p. 325) Para solucionar tal equívoco, resta ao público apenas a 
comparação entre o Salon e a exposição da rua Le Peletier, a fim de demonstrar 
as facécias de uma e a honestidade de outra. 


. Les intransigeants et les impressionnistes. Souvenirs du Salon libre de 

1877. In: RIOUT, Denys (Org.). Les écrivains devant 1’impressionnisme. 
Paris: Macula, 1989. p. 195-201. 

Publicado originalmente no longevo Uartiste (01/11/1 877), o presente artigo 
retoma os temas desenvolvidos nos quatro de Uimpressionniste , explorando com 
mais vagar particularidades de telas de Renoir (“Bal du Moulin de la Galetti'’ e 
“La balançoirêp. “C’est ainsi qu’il arrive à varier la color ation, la pose, le dessin, suivant 
1’impression qu’il reçoit. Chaque tableau devient une improvisation née d’ une sensation 
neuve et dégagée de toute idée préconçueti (p. 197) Assim, o autor acaba por designar 
alguns dos elementos comuns às telas impressionistas — a fixação da impressão 
momentânea e imediata, o estudo do que há de “gai, charmanf na natureza (p. 
198) — debruçando-se sobre o exemplo pontual de Renoir. 

É ainda o que ocorre em suas análises posteriores de Morisot e Degas, em 
que destaca, respectivamente, a apreensão subjetiva e reduzida do ambiente 
familiar, e a representação quase cronística dos eventos e do cotidiano da época. 
Como nos artigos anteriores, menciona ainda Caillebotte, além de recomendar 
vivamente os expositores da rua Le Peletier (muito embora a exposição já tenha 
acabado em maio do mesmo ano) como artistas genuínos. 

Assim, conclui, esquivando-se da conotação política que poderia haver na 




512 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


suposta “revolução” artística preconizada pelo grupo: “0;? aurait tort de prendre 
les exposants de la rue Ce Peletier pour des révolutionnaires. Ce sont des artistes soucieux 
de conserver à leurs oeuvres toute la valeur qu’elles peuvent avoir, sans autre prétentionP (p. 
200 ) 

Em seu conjunto, os artigos escritos por Rivière em 1877 demonstram não 
apenas o empenho apaixonado do cronista na defesa do grupo impressionista 
(que se deve relevar de início, conforme recomendação acurada de Riout 
(1989)), mas também a divisão crescente da crítica a respeito desta nova 
estética, em que, gradativamente, rejeitar pura e simplesmente as novas técnicas 
passa a ser sinônimo de incompreensão — e de falta de atualização — perante 
o cotidiano artístico da época. O argumento que utiliza com maior sucesso é 
o da representação de temas cotidianos, por oposição aos temas históricos e 
literários das pinturas do Salon. Desta forma, a atenção ao cotidiano francês 
(parisiense, sobretudo) autoriza as telas impressionistas como transposição da 
vida moderna à pintura, além de flagrar, por comparação, o anacronismo do 
gosto oficial dos júris e da crítica. 


ROQUE, Georges. Au fil de 1’eau: scintillement, papillotement, 
miroitement, lustre, vibrations. In: AMIC, Sylvain; BAKHUYS, Diederik; 
CATHELINEAU, Anne-Charlotte. Eblouissants reflets: cent chefs- 
d’oeuvre impressionnistes. Rouen: Musées de la ville de Rouen; Paris: 
Reunion des musées nationaux, 2013. p. 70-79. 

Perguntando-se pelo motivo da fixação impressionista pelos motivos 
relacionados à água, e, mais especificamente, pela possível existência de 
influências científicas na representação dos reflexos, Roque retoma T. Duret e 
observa: “ Duret met ainsi l’accent sur 1’une des prinápales raisons du choix de ce motif: la 
volonté de rendre l’instabilité des phénomènes météorologiques. Keposons donc la question: les 
savants auraient-ils encouragé les artistes en ce sens? Ca réponse est nettement négative, car la 
plupart d’ entre eux avaient une conception idéaliste de 1’artP (p. 72) Menciona, dentre 
eles, Helmholtz e Laugel, cientistas cujos pensamentos sobre a arte considera 
antípodas aos do Impressionismo. Porém, não rechaça de todo a influência das 
ciências sobre o movimento, voltando à questão inicial. 

Duranty e Zola fazem observações sobre a decomposição da luz solar nas 
telas impressionistas, como forma de elogiar — e justificar — sua atualidade, 
prontamente rechaçada pelo público. No que diz respeito à composição destas 
telas pelos pintores, “ leur intérêt pour la division des tons n’estpas théonque mais provient 
de l’expérience vécue en se conjrontant aux toiles de TurnerP (p. 74) Desta forma, Roque 
sublinha a influência do pintor inglês como motivadora do interesse científico — 
vivenciado, não teórico — do grupo. Tal diálogo irá motivar a intensa luminosidade 
dos quadros, bem como a harmonia vibrante de suas cores, elogiada por, dentre 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


513 


outros, Gefrroy. 

No que diz respeito à insistência impressionista na natureza “ vibratoire ” 
das cores e de seus efeitos, o autor relembra o papel fundamental de Charles 
Blanc. Autor da concepção de mistura cromática de diferentes pigmentos no 
olhar do espectador, Blanc afirma também que as cores são vibrações da luz 
— opinião compartilhada ainda por Jules Laforgue e pelos neoimpressionistas, 
conhecedores das teorias de Blanc. “De plus, il est intéressant de remarquer que 
la conception ondulatoire de la vibration avait été mise en évidence depuis longtemps par 
1’observation des ondes concentriques qui se produisent lorsqu ’on jette une pierre dans l’eau. 
Nous touchons ici un point capital: les vibrations colorées sont le résultat de ces menues 
touches fragmentées, atomisées, décomposées, comme l’avaient noté les critiques au sujet de 
rimpressionnisme .» (p. 75) Parece dispensável demonstrar o quanto tal discussão 
aproxima-se da representação da água e dos efeitos da luz sobre si. 

Roque destaca ainda a importância do pensamento estético de John 
Ruskin, ainda que lido (e escrito) tardiamente: a necessidade de representar o 
imediatamente visto, e não o suposto ou imaginado; seu elogio da inocência do 
olhar na pintura, como forma de apreensão direta das manchas de cor etc. 

A seguir, discute a leitura e o efeito das teorias de Ruskin e de Ogden Rood 
pelos neoimpressionistas, o que escapa ao propósito deste anexo. Vale destacar, 
apenas, sua conclusão geral, negativa, em resposta à pergunta inicial: “Que 
conclure de cette analyse ? Tout d’abord, les artistes impressionnistes ou neo-impressionnistes 
qui ont exploré avec tant de maitrise le motif de l’eau ne Pont pas puisé che ^ les scientifiques; 
ils ont pu trouver che% ces derniers des raisons de confirmer leur pratique, mais nullement un 
guide pour l’orienter. Ensuite, du fait du désintérêt des savants pour la question des refle ts 
dans l’eau, les s o urces que nous avons mentionnées (Blanc, Ruskin) constituent des théories 
artistiques et non des théories scientifiques.” (p. 78) 

A conclusão do autor oferece tão somente uma negativa à pergunta inicial, 
bem como sua breve argumentação final sobre o uso da água para estudo da 
luz, como forma de decomposição prismática da luz, pelo efeito do vento e do 
reflexo vibratório etc. Há inclusive comparações sumárias entre a fluidez da 
água e a transitoriedade do mundo moderno, que se parecem apenas somar, 
sem nada acrescentar, à negativa que encerra o todo do texto. 


ROOS, Jane Mayo. Herbivores versus herbiphobes: landscape painting and the 
State. In: HOUSE, John (Ed.). Landscapes of France: Impressionism 
and its rivais. Londres: Cornerhouse, 1996. Catálogo de exposição, 18 mai. 
1995-28 ago. 1995, Hayward Gallery, Londres; 4 out. 1995-14 jan. 1996, 
Museum of Fine Arts, Boston, p. 40-51 

Relevando a dupla significação das paisagens perante o público oitocentista — 
para alguns, “the most salutary aspects of modem lije [...], the end of an elitist structuring of 




514 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


the world’’ ; para outros, “ the erosion of the great traditions of the past [...], the decline of 
hum anis t v aluei’ (p. 40) — , Roos salienta como principal pomo de discórdia entre 
os críticos seu aspecto poli tico, i.e., sua superação do personalismo nobiliárquico 
rumo a uma representação mais coletiva ou democrática. Cita, para tanto, alguns 
de seus detratores (Charles Blanc, Barão de Nieuwerkerke) e de seus partidários 
(Chesneau, Castagnary, Du Camp), e reforça o poder central da Academia como 
padrão de recusa ou de aceitação das paisagens, especificando sua organização 
institucional: “A division of the French Institute, the Academy comprised an elite corps 
of fifty men: fourteen painters, eight sculptors, eight architects, four engravers, six musicians, 
and ten free’ academicians (the latter consisting primarily of museum administrators and 
writers on the arts). The Academy was a self-contained society that elected its own members, 
all of whom served for life. lt directed the Ti cole des Beaux-Arts, the state training school 
for the visual arts, and served as the jury for the Salon, the governmenfs exhihition of 
contemporary ar ti’ (p. 44) Detentora também das bolsas de estudo na Villa Mediei 
(Prix de Rome), a Academia abrange inclusive a voga oitocentista das paisagens 
desde 1816, quando introduz, a cada quatro anos, um prêmio exclusivo para as 
paisagens históricas — “ to ahsorh landscape into the realm of heroic art by promoting an 
ennobled, classicising variant of itT (idem) Roos destaca, contudo, a exclusão dos 
paisagistas — bem como de todas as mulheres — dos prêmios de maior distinção 
da Academia (medalhas de primeira classe ou outorga da Legião de Honra), 
como marca de seu passadismo e conservadorismo a toda prova. 

Pelo bem ou pelo mal, a relação entre o artista e o público, neste contexto, 
tem de passar inevitavelmente pelo júri acadêmico e pelo Salon, situado no Palais 
de 1’Industrie, e aberto todos os anos por seis semanas para um público de 300 
a 500 mil pessoas. Logo, o Salon era a principal referência estética ao alcance 
da classe média, já ciente de que “ knowledge of the visual arts carried social cachet” , 
porém com uma “ edgy insecurity that clung to the judgements of the Salon ’s juryT (p. 45) 
E se seus principais jurados já não tinham em boa conta a pintura de paisagem, 
terms of state policy the 1 870s were darkyears for landscape painters. As Trance 
struggled to recover from the catastrophes of 1870-1, its government found some consolation 
in a sense of continuity with the artistic traditions of the past. Heroic, historical works best 
suited the post-war rnood and assumed an intensely nationalistic significanceT (p. 47) 

No que toca ao grupo impressionista, Roos destaca o papel centralizador do 
Marquês de Chennevières, nomeado ministro da Instrução Pública em fins de 
1873, como importante para a formação da Société Anonyme, tendo em vista a 
proposta daquele de uma sociedade elitista de artistas, prontamente recusada por 
estes: “It is impossible to avoid the conclusion that Chennevières’s arrival atthe ministry, and 
the announcement of his academy, provided the final stimulus that leã these artists to organise 
their cooperativeT (p. 50) Porém, a autora desconsidera uma suposta revolução 
estética ou modernista do grupo, compreendendo-o como uma consequência 
imediata do não lugar da pintura de gênero e das paisagens no panorama dos 
Salons: “ Though the exhihition is generally hailed as an important landmark in the history of 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


515 


moãernism, this interpretation takes a narrow vieiv. Re/atively feiv artists in that exhibition 
actually fit the designation ‘modernist’, and ivhat unites them as a group is that they mre, 
ovenvhelmingjy, landscape and genre painters .” (idem) 

Seja pela profusão de dados que fornece a respeito da dança de cadeiras 
no ministério da Instrução Pública (há muitos detalhes, obviamente não 
mencionados aqui) seja pela leitura que faz do Impressionismo como movimento 
estético desligado, enquanto tal, da história do modernismo, a leitura de Roos é 
digna de menção. 


«» /v 

SAEZ, Evelyne. Sites impressionnistes en Ile-de-France. Rennes: Ouest- 

France, 2013. 

Guia curioso de museus, casas, rios e cidades ligadas ao imaginário 
impressionista, que demonstra não apenas sua popularidade hoje, mas também 
o fetichismo consumista que faz dos quadros e de sua mundividência particular 
uma espécie de correlativo turístico da França, mesclando uma coisa à outra. 
Paralelamente, o mesmo pode ser dito de um livro como o de Klein (2010) ou 
o de Michels (1998) — ainda que, este último, na função de catálogo da casa 
(museu) de Monet em Giverny. 

A respeito deste correlativo turístico, basta lembrar rapidamente o texto de 
Dumas (1996, p. 35-36), que analisa os contrapontos históricos entre a pintura 
oitocentista e a constante mutação da paisagem francesa: “The connection betiveen 
rail travei, tourist guides and Impressionism is evident, since the sites the Impressionists 
painted — in and around Paris, along the Seine oralong the Channel coast— ivere precise ly the 
places recently colonised by tourism. On the other hand, the impact of raihvays and tourism 
on the Salon painters is more complex and h arder to assessP 


SCHAEFER, Scott. LTmpressionnisme et son public. In: LACLOTTE, 
Michel et al. L’Impressionnisme et le paysage français. Paris: Réunion 
des musées nationaux, 1985. Catálogo de exposição, 28 jun. 1984-16 set. 
1984, Los Angeles County Museum of Art; 23 out. 1985-6 jan. 1985, The 
Art Institut of Chicago; 4 fev.- 22 abr., Galeries Nationales du Grand Palais, 
Paris. p. 350-368. 

A questão que se coloca Schaefer é a de entender o motivo da rejeição inicial 
do público ao grupo impressionista, frente ao sucesso estrondoso do mesmo, 
algumas décadas depois. Para tanto, levanta a questão dos compradores de quadros 
de Durand-Ruel — em sua maioria, burgueses à procura de um ar aristocrático: “lis 
voulaient surtout ressembler à des aristocrats et se détournaient des nouveautés trop radicales, 
particulwrement en art. [...] Ainsi le public contemporain des Impressionnistes cherchait 




516 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


surtout à maintenir le statu quo, etne pouvait qu’être choqué par de telles oeuvres (p. 352) 
Observa também os preços baixos das telas impressionistas, comparativamente 
às de acadêmicos como Bouguereau, e a consequente rejeição dos compradores 
ao irrisório “valor” agregado a tais obras. 

Para Schaefer, esta condição marginal da pintura impressionista viria a 
mudar nos anos subsequentes à Primeira Guerra Mundial, quando os temas 
pacatos e idílicos de suas telas apelariam para um passado harmônico comum, 
já praticamente irrecuperável: “Parmi les milliers de tableaux de ces artistes, une allusion 
sociale ou pessimiste est un pur hasard; elle est négligeable tant elle est superficielle. Pa France 
j est montrée embellie par l’homme pour son propre bénéfice; les catastrophes naturelles ne 
sont parfois évoquées qidimplicitement, ainsi que la puis sanee de réssurrection de la natureP 
(idem) Disto decorre o crescente prestígio da paisagem, gênero vendável e 
facilmente aceito pelo público. 

Ademais, a lenta vitória do Impressionismo sobre os Salons remete ao caráter 
ambíguo do patrocínio estatal: “ 1’admission au Salon n’étaitpas non plus une garantie 
de reconnaissance, encore moins de succès. Pes murs de salles d’exposition étant couverts de 
plusieurs rangées de toiles, seuls les peintres les plus célebres, ou ceux qui avaient obtenu des 
médailles, étaient bien placés. Toute oeuvre accrochée dans la partie haute des murs, dans un 
coin sombre ou derrière une porte, avait de grandes chances de passer inaperçue du public 
qui suivait choque année cet événementP (p. 353-354) Assim, dentre os (estimados) 
quatro mil pintores em Paris na década de 1860, seria esperada uma grande 
animosidade perante o júri oficial, como resposta à concorrência crescente: “ Pe 
jury du Salon, qui devait éliminer au moins la moitié des cinq mille toiles soumises pour des 
salles déjà insujfisantes pour en recevoir deux mille cinq cents, mérite plus la pitié que le blâme. 
Pes murs sacro-saints du Salon, ainsi surchargés, exigeaeint une réformeP (p. 354) 

Neste sentido, o sucesso simbólico da primeira exposição da “ Société anonyme 
coopérative d’artistespeintres, sculpteurs, graveurs, etc., à Paris” — nome original do 
grupo, quando de sua primeira associação — seria ainda determinante para a 
consolidação de uma relação direta entre artista e público, sem o obrigatório 
recurso dos Salons. Ao longo das quatro semanas de exposição em 1874, três mil 
e quinhentas pessoas visitariam o ateliê de Nadar (média de cento e setenta ao 
dia), número, de fato, simbólico, se comparado aos quatrocentos mil visitantes 
do Salon de 1875 no Palais de 1’Industrie (média de mil pessoas ao dia). Ademais, 
assim como Castagnary, Schaefer destaca como ponto favorável da primeira 
exposição impressionista o número reduzido de telas, bem como sua disposição 
privilegiada em paredes bem iluminadas, sob a supervisão de Renoir (que 
buscava realizar algo oposto aos Salons , cujas paredes eram preenchidas por 
quadros, de cima abaixo, sem espaços ou vãos sobressalentes). 

Segue-se o levantamento dos primeiros críticos do acontecimento, em que 
se observa, apesar dos prós e dos contras, uma mesma apreciação coletiva dos 
pintores aí reunidos. Igualmente, faz-se o relato de uma série de admiradores e 
patrocinadores dos artistas, com destaque para o papel central de Durand-Ruel, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


517 


seu divulgador não apenas na França mas também na Inglaterra e nos Estados 
Unidos. De qualquer forma, “les Impressionnistes obtenaient enfin ce qu’ils avaient 
désiré dans les années 1870 mais, pour certains, il était trop tard. En 1900, Monet pouvait 
dire à juste titre que presque tout le monde, maintenant, les appréciait à un certain degré. [...] 
Mais d’emblée, le public d’aujourd’hui reconnait les peintures impressionnistes. Eeur beauté 
est apaisante. Elles évoquent ce que nous considérons à tort comme l’âge d’or d’un monde 
préindustriel aux couleurs claires et vives, aux formes un peu floues, fortemente influencé par 
la vision du peintre, donc comme tout ce qui touche notre sentiment esthétique et moraF . (p. 
368) 


SCHIFF, Richard. Defining Impressionism and impression. In: FRASCINA, 
Francis; HARRIS, Jonathan (Ed.). Art in modern culture: an anthology of 
criticai texts. Nova Iorque: Icon; Harper Col li ns, 1992. p. 181-188. 

Neste estudo, Schiff observa a facilidade ilusória com que é utilizado o termo 
“Impressionismo” de forma a encobrir a dificuldade de sua definição. Para 
si, o termo foi abordado ao longo das décadas conforme quatro parâmetros 
distintos: “( 1 ) the social gr o up to ivhich the artist belongeã; (2) the artisfs subject-matter; 
(3) style or techni que; and (4) the artistic goal orpurposeP (p. 181) 

O primeiro diz respeito à participação de um artista em uma das oito exposições 
realizadas entre 1874 e 1886, bastanto associar-se, de alguma forma, ao grupo, 
para ser chamado também “impressionista”. Tal parâmetro é questionado pela 
obra pluriforme de pintores como Degas e Cézanne, ou ainda, por sua extensão 
indiscriminada a pintires como Corot, por textos como os de Théodore Veron 
e Frédéric Chevalier. 

O segundo toca na questão do tema ou do assunto dos quadros impressionistas, 
geralmente tomados en plein air e relacionado com as cenas da vida parisiense, 
flagradas seja no campo seja no meio urbano. Ora, como observa o autor, tal 
critério pode incluir muitos quadros do Salon de 1872, dentre eles até mesmo 
um de Stanislas Lépine, que chegou a expor com os independentes em 1874, 
muito embora não compartilhasse de suas técnicas. 

O terceiro parâmetro concerne justamente à técnica dos quadros 
impressionistas — seu uso particular da luz e da cor, sua abolição do chiaroscuro 
etc. — , o que poderia excluir pintores relevantes à “' impressionisf vision ” e à sua 
consolidação, como Degas. (p. 182) 

O quarto e último, relativo a um propósito artístico comum, é igualmente 
refutado por Schiff, que relembra os textos de contemporâneos ao movimento 
— Castagnary, Duret e Rivière — e sua insistência em uma abordagem imediata e 
direta da natureza, como característica elementar das telas ditas impressionistas. 

Assim: “ELoiv does one come to understand the apparent contradiction implicit in the 
notion of an art of specific and perhaps innovative techniques, ivhich seems nevertheless to 




518 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


lackgoals particular to itself? [...] The problem is that of the ináiviáuaTs means of arriving 
attruth or knoivledge, and the relation of this individual truth to a universal truth! (p. 1 83- 
184) Tal questão involve todo o panorama artístico do final do século XIX, e é 
comum tanto à arte impressionista quanto à simbolista. O que faz, entretanto, 
a primeira diferir da segunda é a maneira pela qual os artistas desenvolveram 
o conceito de impressão, rumo a uma alternativa fundamentalmente prática e 
objetiva. 

Discutindo o conceito de impressão em si, Schiff observa a conotação 
física do termo f impression”, “ imprinf ), que sugere o contato de um material 
com outro, como em uma fotografia. “In both cases [pintura, fotografia] the 
term ' impression ’ evokes a mechanistic account of the production of images bj means of 
light; light is conceived as rays or particles ivhich leave their marks or traces upon a suface, 
ivhether the photographic film’s Chemical coating of the eye’s retina. The impression is ahvajs 
a suface phenomenon — immediate, primary, undeveloped! (p. 184) Disto deriva suas 
acepções posteriores, ligadas a termos como particularidade, originalidade e 
individualidade, enquanto marcas do estilo de um artista. “ The impression, then, 
can be both a phenomenon of nature and of the artisfs oivn being! (p. 185) 

O que está em questão é, portanto, a ideia de uma impressão subjetiva do 
mundo, única do pintor, que se mescla ao efeito pictórico de uma imagem, sobre 
si. Esta ideia, explorada com vagar pela psicologia (Schiff cita a contribuição de 
Hume e Littré para o estudo da impressão), reforça a relatividade da apreensão 
do mundo por um dado indivíduo, bem como a verdade de sua expressão por 
meio de uma impressão original e “pura”. É o que observa Fernand Caussy 
em seu estudo sobre a fisiologia do impressionismo, distinguindo entre o 
realismo visual de Manet e o realismo emocional de Monet. Ou ainda, é o que 
diz Castagnary, ao definir o impressionista como aquele que não pinta uma 
paisagem, mas a sensação por ela provocada. 

E de maneira igualmente relativista que Schiff encerra sua discussão: “an art 
of the impression (or of sensation) may vary greatly from artist to artist, in accord ivith the 
individuais physiological or psychological state or, in other terms, ivith his temperament or 
personality. Whatever truth or reality is represented must relate to the artist himself as ivell 
as to nature. Indeed, one might say that the artist paints a ‘self’ on the pretext of painting 
‘nature’! (p. 187) 

De maneira geral, a discussão de Schiff empenhada neste texto, que integra a 
primeira parte de seu Cé^anne et la fin de 1’impressionnisme (“Ta fin de 1’Impressionnismé ”, 
discutida abaixo) pode ser de grande utilidade para o estudo do Impressionismo 
na literatura, uma vez que demonstra a fragilidade de sua aplicação na própria 
pintura, apontando para seu significado antes explicativo (amplo) que descritivo 
(particular) (Vouilloux). Disto decorre seu tratamento isolado, e recomendação 
exterior à do livro mencionado. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


519 


. II faut que les yeux soient émus. In: . Cézanne et la fin de 

1’impressionnisme: étude sur la théorie, la technique et 1’évaluation 

critique de 1’art moderne. Trad. Jean-François Allain. Paris: Flammarion, 
1995. p. 194-199. 

Artigo acrescido ao volume e traduzido separadamente por Jeanne Bouniort, 
em que Schiff afirma serem Mirbeau, Geffroy e Lecomte os responsáveis por 
uma leitura mais sofisticada do Impressionismo, dissociando-o do objetivismo 
naturalista então em voga. Para si, a ênfase dos três críticos nos aspectos subjetivos 
e técnicos da pintura — executada obsessiva e serialmente por pintores como 
Cézanne e Monet — apontam para quatro elementos fundamentais (que em 
muito se acrescentam e esclarecem os quatro critérios discutidos em “ Defining 
Impressionism and impression ”, chegando mesmo a ampliá-los): “ un idéal social (la 
mise en place d’un mode de production libre, adapté aux rythmes variables du créateur), 
un programme d’investigation (étudier l’homme et la nature dans leur diversité inifinie et 
dans leurs interrelations j, un objectif professionnel (affirmer l’individualité par le biais d’ une 
manière toute personelle), un débouché commercial (la décoration des interieurs bourgeois.). 
Évidemment, ce n’estpas tout. La réalisation de séries de peintures suppose enconre une autre 
condition: le sentiment d’un besoin psychologique et social. Le travail en série semble indiquer 
que Partiste crée de façon incessante et indeterminée parce que l’acte de peindre constitue en 
soi une affirmation de la vie, même lorsque le projet individuel ne donne pas les résultats 
escomptés sur le marché ou dans Pesprit du peintre. Assurément, la peinture démontre (en 
tant quactivité) et répresente (en tant qu’image) tout à la fois un idéal d’écoute d’introspection 
sensorielle intenseP (p. 195) 

Tal atenção ao universo sensorial, enquanto elo entre o homem e a natureza, 
representa a nevrose e a hiperestesia comuns à década de 1890, presentes 
também na estética simbolista. Muitos textos e telas de Mirbeau, Van Gogh e 
Monet podem ser vistos, assim, como partes de uma mesma atitude moderna 
perante a arte, postada a meio caminho entre o mecanicismo da técnica e a 
solenidade do rito religioso: “ La création artistique devient une profession de foi politique 
et spintuelle, et Part semble supplanter la religion. [...] Les peintures comme répresentations 
sont censées faire ressentir une certaine harmonie politique et psychologique aux spectateurs qui 
les regardent collectivement. De même, la peinture comme activité engendre une impression de 
bien-être par le biais de la production créatrice qui soulage Partiste de ses angoisses ou névroses 
personnellesP (p. 199) 


. La fin de 1’impressionnisme. In: . Cézanne et la fin de 

1’impressionnisme: étude sur la théorie, la technique et 1’évaluation 
critique de l’art moderne. Trad. Jean-François Allain. Paris: Flammarion, 
1995. p. 13-57. 




520 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A introdução desta primeira parte do estudo de Richard Schiff sobre Cézanne 
tem por subtítulo “ha subjectivité de l’impressionnismê\ e, de fato, é a partir de tal 
noção — inaugurada por Castagnary em seu célebre artigo de 1874 — que o 
autor se pergunta até que ponto pode ser entendido o trabalho “objetivo” dos 
impressionistas com a luz e a cor. 

Discutindo o texto de Castagnary com base nos de Rewald, Venturi, 
Francastel, Fénéon e Aurier, Schiff observa os pontos comuns entre o 
Impressionismo e o Simbolismo, entendidos na década de 1890 como formas 
diversas, embora não inteiramente opostas, de idealismo na arte. Assim, destaca 
a leitura ambígua de Cézanne feita por André Mellerio, assim como a leitura de 
Monet feita por Geffroy, para concluir, posteriormente, acerca da anterioridade 
do Impressionismo: “Le symbolisme a été engendre par 1’impressionnisme, qui, lui-même, 
ne se limitait pas à la simple imitation de la réalité matérielle, ni à la représentation de son 
apparence brute, mais se définissait comme un art exprimant ‘les émotions intimes d’un ordre 
intellectueVr (p. 20) Tal relação não é, contudo, explorada a fundo, bastando-se 
em lugares comuns como: “Pour 1’artiste impressionniste ou symboliste, la vision estplus 
importante que ce qui est vuh (idem) 

A argumentação de Schiff irá desenvolver-se com mais clareza posteriormente, 
em “Defininglmpressionism and impression ” (comentado acima, à parte). 

No que diz respeito aos três outros textos que compõem “ha fin de 
rimpressionnisme ” — “Impressionnisme, vérité et positivismi\ “Distinction objet / sujet, 
êvaluation critique et procédure technique . », uh’ impressionnisme et le symbolisme comme 
moães d’expression artistique » — , três questões são desenvolvidas isoladamente. No 
primeiro, o conceito de verdade — ora da natureza ora da sensibilidade artística 

— é discutido amplamente na arte do século XIX, por meio de uma profusão de 
citações de Baudelaire, Fromentin, Roger Marx, Silvestre, Duret, Laforgue, Zola 
etc., que, finalmente, parece-lhe evocar certa influência positivista, ao menos 
no que toca à dependência dúbia do “olho” do pintor (em sentido figurado e 
literal). Assim, vagamente, assinala: “Cette doctrine, bien reçue et largement diffusée à 
1’époque impressionniste, préconisait l’observation directe comme moyen valable d’accéder à la 
connaissance .” (p. 31) A seguir, distingue nuanças da crítica positivista de então 

— entre Petroz, Taine e Comte — e sua maior ou menor apreciação da “verdade 
subjetiva” (para além da verdade, “objetiva”) na arte. 

No segundo, o autor discute o conceito de impressão e seu entendimento 
como unidade elementar de sensação. Observa a quantificação da experiência 
humana por psicofísicos como Charles Henry e Gustave Fechner, considerando-a 
característica do relativismo subjetivista do século XIX. E liga tais ideias à íntima 
conexão entre sujeito e objeto na pintura impressionista, tal com observada por 
Laforgue e Maurice Denis. Disso deriva a análise das percepções humanas com 
base no temperamento (Deschanel, Taine, Zola), passando a avaliar os pontos 
de contato entre a (de) formação do real operada pelo impressionismo e pelo 
simbolismo. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


521 


Finalmente, no terceiro discute os limites entre os conceitos de “ideia” e 
“ideal” no impressionismo e no simbolismo, arrematando: “ Uimpressionniste en 
effet, veut s’appuyer sur une technique capable de transmettre sa spontanéité, son originalité 
et as sincérité; il souhaite par-dessus tout éviter les conventions académiques traditionelles 
qui lieraient son art à une école et non à la manifestation d’un tempérament unique. Son 
naturalisme radical lui permet d’exprimer son individualité: la peinture exécutée à la lumière 
naturelle se situe déjà en dehors des conventions puisqu’elle n’obéit qu’à très peu de règles 
prédeterminées. [...] lues symbolistes, deleurcôté, accordent une plus grande place à 1’expression 
artistique finale et à son pouvoir de communication. Ils critiquent donc leur prédécesseurs 
impressionnistes pour avoir choisi leurs sujets de façon inconsidérée et ne pas les avoir traités 
de manière cohérente. [...] Par 1’importance qu’ils accordent à la technique, les symbolistes sont 
souvent amenés à paire une distinction entre le symbole et 1’allégorie: un art du symbole est un 
art du ‘style’ et de la forme expressive, alors que la répresentation allégorique reste liée à un 
choix de sujets établisP (p. 52-53) 


SCH L ESSER, Thomas; TILLIER, Bertrand. Le roman vrai de 

1’Impressionnisme: 30 journées qui ont changé 1’art. Boulogne- 

Billancourt: Beaux Arts, 2010. 

Versão romantizada de 30 dias relevantes na história do Impressionismo, 
que se propõe a ser “le récit impressionniste de 1’Impressionnismé ” (p. 11). Trata-se, 
todavia, de texto de vulgarização, muito embora não desprovido de interesse, 
pela mescla de ficção e documentação que se vê estranhamente pouco repetida 
nos livros — o mais das vezes documentais, cronísticos — sobre o movimento. 
Destaque para um trecho da Introdução em que os autores, após retomarem 
lugares comuns da crítica sobre o plein air, o repúdio do público, o conceito 
de impressão etc., julgam ser o traço comum ao Impressionismo uma mesma 
preocupação com a metexis, numa interessante (e infelizmente inexplorada) 
observação: “ Quel est-il? Sans qu’ils ne le formulent si savamment, on pourrait dire que 
c’est celui de la metexis (la participation au monde), relais indispensable à la mimesis (la 
reproduction traditionelle du monde sur un support). Les impressionnistes ont chacun le désir 
de modifier la perception de leurs contemporains sur 1’univers environnant et sur le devenir 
social; ils estiment tous qu’un art moderne doit concourir au renouveau de 1’individu et de 
l’être-ensemble. (idem) Segue-se a narrativa projetada, “ d’ une approche plus intime, 
ou la petite anedocte a parfois fonction de puissant détonateur; elle se couplera à un récit par 
petites touches ventilées et suggestives, qui ont pour voeu de relater vraisemblablement les 
choses, sans prétendre que tout soit véridiqueP (idem) 


SEMMER, Laure-Caroline. Une histoire de lTmpressionnisme. In: 

Les oeuvres-clés de 1’Impressionnisme. Paris: Larousse, 2013. p. 14-53. 




522 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Interessa, sobretudo, a primeira parte, tendo em vista que a segunda, intitulada 
“Lire les oeuvrerí , consiste de comentários e análises de quadros impressionistas. 

Em se tratando de um texto de vulgarização, é digno de elogios o didatismo 
com que a autora apresenta muitos elementos ligados ao Impressionismo — o 
histórico das oito exposições, a origem do termo, o conceito de impressão, a 
mediação dos marchands e das galerias etc. — sem escamotear a importância do 
assunto. Em suma, é importante texto introdutório, muito embora, a rigor, as 
muitas questões que aborda sejam tratadas melhor, e com mais profundidade, 
por outros autores. 


SILVESTRE, Armand. Exposition de la rue Le Peletier. In: VENTURI, 
Lionello. Les archives de 1’Impressionnisme: lettres de Renoir, Monet, 
Pissarro, Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. Documents. 
Paris, Nova Iorque: Durand-Ruel Éditeurs, 1939. v. 2. p. 286-287. 

Publicado originalmente no jornal UOpinion (02/ 04/1876), o presente artigo 
discute a segunda exposição impressionista, tratando-a já em termos de escola 
pictórica, cujos princípios nega, muito embora compreenda sua profundidade: 
“Elle procede d’un príncipe de simplification vraiment nouveau et auquel on ne saurait 
contester sa raison d’être. Uniquement préoccupée de la justesse, elle procede par harmonies 
élémentaires: peu soucieuse de la forme, elle est exclusivement décor ative et coloriste. Son idéal 
est, à notre humble avis, absolument incomplet, mais ses travaux auront absolument une place 
dans la légende de l’art contemporainrí (p. 286) 

Silvestre não sabe, todavia, se a pintura em questão remete a um fim ou a um 
começo de uma arte. Não obstante, elogia com reservas seu uso imoderado do 
plein air , seus tons claros, sua análise sumária das impressões, avaliando, a seguir, 
a pintura de Degas, Pissarro, Sisley, Monet, Renoir e Morisot. 


. Préface à «Recueil d’estampes». In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 

112-116. 

Neste prefácio a Galerie Durand-Ruel, recueil d’ estampes gravées à 1’eauforte (1873- 
1875), Silvestre faz um elogio ao caráter inovador da pintura de Manet, a partir 
de três quadros expostos na Galeria Durand-Ruel (“Le bal de l’Opérd\ “ Les 
hirondellerí e “Le chemin de ferí), em que se vê “la noble tentative dj faire tenir, par de 
purs moyens demandés à cetart, toute une vision du monde contemporainrí (p. 115) Destaca 
ainda a mediação do plein air na representação da vida cotidiana, e rechaça as 
críticas a tal pintura (que se poderia estender às obras impressionistas) dadas 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


523 


a rotulá-la como imperfeita ou incabada: “Cette mesure, appliquée à la valeur d’ um 
tableau, sans étude préalable de la dose d’impression qu’il comporte, devrait, logiquement, 
atteinãre 1’excès dans le fini comme dans le lâchê ’ (p. 116). Finalmente, refuta a 
autoridade seletiva dos júris e garante que cabe ao público garantir a sobrevida 
dos quadros que aprecia. 

O mesmo texto é reproduzido na coletânea de Riout (1989), porém 
enfatizando outros trechos, de caráter menos teórico e mais analítico, sobre as 
telas expostas na Galeria Durand-Ruel. 


SIZERANNE, Robert de la. Le bilan de l’impressionnisme. In: . 

Questions esthétiques contemporaines. Paris: Hachette, 1904. p. 51-103. 

Citando o sucesso do impressionismo em diversos museus da França e 
do mundo, o autor observa que, ao início do século XX, era possível (senão 
necessário) fazer o seu balanço. Sua maior preocupação é a de dar a justa medida 
do impressionismo, de forma a não julgá-lo injustamente, nem às escolas 
tradicionais da pintura às quais se opôs. 

Inicialmente, no primeiro capítulo, refuta a ironia geral ante a exposição de 
1877 (que considera a maior e mais organizada do grupo): “ C’était en réalité une 
réaction et — en dépit des sujets qui cachaient son sens profond — c’était une réaction idéaliste. 
Elle était amenée par deux choses: par le désir de peindre la vie moderne et par l’impossibilité 
d’en faire une représentation réaliste .” (p. 56) 

O argumento que utiliza para avaliar tal “reação idealista” (idem) é, porém, dos 
mais pitorescos. Para Sizeranne, os pintores impressionistas souberam aproveitar 
o preceito realista segundo o qual é possível (senão necessário) encontrar beleza 
em toda a parte, para além dos temas históricos ou lendários. Todavia, à feiura 
da vida moderna (dos trens, dos coches, do cotidiano dos pequenos burgueses), 
foi necessária a análise da cor como solução para transformá-la: “Al la vérité, la 
transjormation n ’ était pas facile. Vuisqu ’on ne voulait plus ni composition, ni arrangement, 
ni sjmboles, ni ‘stylisation’, puiqidil jallait que l’art représentât des choses laides en soi, des 
lignes monotones ou prétentieuses, comment modifier 1’aspect absurde et le décor trivial ? Un 
seul mayen restait aux réalistes pour s’évader du lai d réel: la couleur. Ea couleur, en effet, 
demeure dans le décor de la vie moderne aussi belle, aussi variée, aussi riche d’effets qidaux 
plus grandes époques du passéE (p. 59) 

Assim, por extensão, o autor pondera inusitadamente: “ Ouand le peintre du 
mvyen age s’en allait à la campagne, il trouvait de plus belles ordonnances de lignes que nous, 
mais non pas autant de couleurs .” (p. 60) Ainda que fundamentalmente inválida, tal 
reflexão faz-nos pensar no alcance da vitória do impressionismo (já) no início 
do século XX, enquanto intérprete privilegiado (senão único) da vida e da 
experiência moderna, marcadas pela “feiura” inestética dos trens, dos ônibus, 
pelas luzes ofuscantes da praça do Carrousel etc.: “En sorte que la théorie moderniste 




524 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


[i.e., impressionista] voulant que toute forme moderne soit esthétique, ãu moment qu’elle 
reproãuit les besoins et les aspirations de la vie, s’est réduite pratiquement à cacher cette forme 
sous d’éclatantes couleurs .” (p. 63) 

A seguir, Sizeranne explora pontos que viriam a ser lugares comuns na 
discussão do impressionismo, ditos desde o título do segundo capítulo como 
“Ses veritéi ’: a definição de ‘impressão’ (“[...] ce qu’ils cherchèrent à reproduire de 
la nature c’était non pas la substance qidelle annonce, mais le rcjyonnemenf’ (p. 64)); o 
primado da cor sobre a linha (p. 67); a descoberta das sobras coloridas (p. 67-68), 
algo antevista por Delacroix e Ruskin; o contraste simultâneo das cores (p. 72- 
75), exemplificado pelo efeito da luz sobre um tampete (logo, subrepticiamente, 
sob a tutela de Chevreul); a íntima conexão entre a transi toriedade das cores e a 
transitoriedade da vida (p. 76); a centralidade da luz na composição (p. 77); “ la 
trouvaille la plus précieuse de rimpressionnisme: la division de la couleur” (p. 77), e a 
consequente “ mélange optique ” (p. 79) etc. Enfim: “C’est de la peinture caméleonneP 
(p. 75) 

Por outro lado, no terceiro capítulo, assinala “Ses lacunei\ certo de que ao ano 
de 1 904 o impressionismo era uma escola — e uma escola tão encerrada quanto 
a dos românticos ou a de David, de duração de mais ou menos trinta anos (“Et 
ce n’est pas une individualité ou deux qui abandonnent le sentier de rimpressionnisme: c’est 
une foule ” (p. 86)): sua incapacidade de fornecer à posteridade, de imortalizar, 
um retrato; sua ausência de um mestre ou de uma figura central (“[...] futfaite par 
beaucoup de pygmées et non par un géanf (p. 89)); a distorção de seus princípios e a 
proliferação de diversas iconoclasias perante a tradição pictórica; suas conquistas 
cromáticas em detrimento da execução da linha etc. 

No último capítulo, “Son erreuE , o autor deflagra todas suas reservas anteriores 
e afirma ser o impressionismo um aborto pictórico, causado diretamente pela 
doença da originalidade: “Et pourquoui a-t-il avorté? [...] — C’estparce qu’il portait en 
lui, avec des germes de vie, un germe de mort, une certaine humeur fatale à tous ceux qui en 
furent ajfigés, commune à beaucoup d’écoles contemporaines, et qu’il faut dénoncer comme la 
pire des ma/adies de notre temps: la recherche de 1’originalité.” (p. 97) E arremata: 
“[...] 1’lmpressionnisme est une découverte: ce n’estpas une peintureE (p. 103) 

Em suma, trata-se de texto representativo de muitas ideias acerca do 
impressionismo ao início do século XX, e, enquanto tal, pode ser visto enquanto 
carrefour de suas conquistas e desacertos perante o público. 


SMITH, Paul. L’artiste impressionniste. Trad. Jean-François Allain. Paris: 
Flammarion, 1995. 

Livro curiosamente introdutório, que se distancia dos demais por um caminho 
de análise peculiar, evidenciado entre a introdução e os dois primeiros capítulos. 
Como o próprio subtítulo da introdução evidencia — “Ouelques repèrei ’ — , 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


525 


Smith levanta diversos dados relativos ao surgimento e consolidação do 
Impressionismo, sem deter-se em nenhum inicialmente: o mito fundador do 
quadro de Monet, “ Impression , soleil levanf ; a representação orientada não mais 
para o que é, mas para o que aparenta ser, fixado em sua transitoriedade; a 
dissolução do desenho pelo acúmulo de cores; a influência da pintura chinesa 
e japonesa (vista na época como exclusivamente japonesa); a fragmentação da 
imagem “ en aplats colorés comme pour attester [...] la nouvelle peinture, celle des sensations, 
suppose de peindre par ' taches *’ (p. 21); o estudo da vida urbana em seus ambientes 
mais emblemáticos (cafés, jóqueis, cabarés, estações, teatros, óperas etc.); o 
repúdio à mediação dos Salons como fonte única de divulgação e comercialização 
dos quadros etc. 

Porém, no primeiro capítulo, começa a evidenciar- se um argumento que 
se vai prolongar pelos demais: em “Manet, Baudelaire et Partiste flâneuD, Smith 
debruça-se sobre a figura do flâneur e a relação física e psicológica que ele 
estabelece com o espectador. Primeiramente, observa que tal espectador é, o 
mais das vezes, masculino: “Notons d’ailleurs qu’il s’agit bien du n spectateur; si ces 
oeuvres sont regardées par des femmes, celles-ci doivent s’identifier à un spectateur masculin .» 
(p. 33) A seguir, destaca a óbvia influência de Baudelaire sobre tal enfoque na 
flânerie parisiense, e teoriza, a partir do poeta: “le ‘peintre de la vie moderne’ est un 
flâneur qui se livre à un duel avec les impressions ephémères du monde moderne ” (p. 35). 
Assim, observando prostitutas, criminosos, e delinquentes de toda espécie, “ le 
flâneur devait user de toute son intuition, guidée par ses physiologies, pour distinguer la vraie 
respectabilité de la fausse et identifier les types de crimineis, à la manière d’un détectiveP (p. 
37) 

Neste sentido, atentos, às máscaras da vida em sociedade, pintores como 
Degas irão surpreender as figuras em seu cotidiano e desvendar-lhes, pela 
sugestão, seus possíveis mistérios, crimes etc. (Smith chega mesmo a indicar a 
predileção de Degas pelas teorias de Lavater, para quem o estudo da fisionomia 
corresponde ao estudo “ de l’ame et de l’intelligenci\ p. 39) 

Tal percepção inicial do papel da flânerie no universo impressionista parece 
orientar a leitura de Smith a partir de então, que passa a interpretar diversos 
quadros sob o mesmo viés detetivesco. Diversas são as análises que tece sob 
os parâmetros indicados — como de “Les parapluies ” de Renoir; “ Musique aux 
Tuilerie de Manet etc. — bastando para ilustrar seu procedimento o seguinte 
trecho a respeito do quadro “Olympid’ > \ “Le tableau doit surtout sa force au fait qu’il 
implique le spectateur en tant que client des faveurs d’Olympia. Ou du moins, si le spectateur 
réel assume la psychologie que Voeuvre prête au spectateur dans le tableau, il ne peut que se 
sentir activement associe à la scène et à 1’action qui s’y déroule: d est à nous quOlympia dévoile 
son corps en faisant glisser le tissu qui la couvre, c’est nous qui avons offert le bouquet de fleurs 
à la domestique pour nous attirer ses grâces. De plus, la flemme ne semble pas particulièrement 
en attente d’une relation sexuelle (ses tétons sont à peine visibles), et le médaillon de son 
bracelet montre qu’elle est liée à un homme et que tout rapport avec elle ne pourrait être que 




526 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


venal” (p. 49-50) 

Trata-se, portanto, de um procedimento interessante e mesmo informativo, 
que possui algo de crítica (sadiamente) impressionista, com a vantagem de 
desvendar, pelo olhar detetivesco do crítico-espectador, o sentido dramático 
das cenas representadas. 

Desta forma, no segundo capítulo, “Des femmes et le regará masculirí\ elenca as 
diversas representações femininas cogitadas em diversos quadros impressionistas 
(desde o encontro ocasional e sedutor de um passante e uma jovem em “Les 
parapluies ” até o olhar submisso da mulher desprezada pelo companheiro em 
“ha logê\ de Renoir) a fim de chegar a uma síntese possível, mobilizando para 
tanto um suporte teórico freudiano: “en effet, 1’angoisse de la castration incite l’homme 
à retarder la découverte de la véritable nature du corps jéminin, dans la mesure oü la femme est 
un rappel constant du traumatisme qu’il a pu subir. Cette association peut conãuire l’homme 
à fétichiser la femme en accorãant à certaines parties du corps jéminin une fonction phallique 
qui lui permet ddtténuer son angoisse. De même, les hommes portent sur les femmes un regará 
fétichiste — comme s’ils lui prêtaient une ‘présence’ ou un ‘pouvoir’ — afin de se défendre contre 
la castration D (p. 65-66) 

Já no terceiro capítulo, dedicado a Monet (“Monet etle moment de 1’arf'), estuda 
os temas de seus quadros em oposição a pintores acadêmicos como Gleyre e 
Carolus-Duran, por meio de um viés não mais psicanalítico, mas social, acrescido 
do método “detetivesco”: “Monet est un pur produit de la bourgeoisie, et beaucoup de 
ses oeuvres reflètent ou consolident 1’identité de cette classe et son idéologie des loisirs, de la 
consommations ostentatoire, de la spontanéité et de rindividualisme. (p. 83, 95) 

No capítulo IV, “Da Vision politique de Céqanné\ avalia o suposto anarquismo 
de suas obras por meio de interessantes comparações com Ingres (como nos 
paralelos que tece entre “De marche à Pontoise ” e “Madame MoitessieD ) e, em um 
plano teórico, com Proudhon e Kropotkine (“Da manière dont Pissarro traite ses 
sujets paysans correspond tout à fait à la vision utopiste de la vie rurale telle qidelle à fait à 
la vision utopiste de la vie rurale telle qidelle a été dévelopée dans les écrits de Proudhon et de 
Kropotkine ”, p. 136), dentre outros. 

Finalmente, no capítulo V, « Céganne et le problème de la forme», Smith rejeita « les 
interprétations de type formaliste et psychanalitique [que] ne sont pas vraiment compatibles, 
ni entre elles, ni avec les intentions conscientes exprimées par Céganne» (p. 146), propondo 
uma revisão do conceito de forma na obra do pintor. Com isto, parece atualizar 
seu método «detetivesco» observando a validade parcial e acessória da (super) 
interpretação dos quadros: “le peintre montre sans doute que l’art et la nature sont 
dfférents, mais que Vart peut néanmoins, à sa façon, recréer la nature au point que l’on ne 
voie plus oü commence l’un et oü finit 1’autreP (p. 163) 

Em sua conclusão, Smith faz um balanço amplo do Impressionismo como 
conjunto de estudos e inovações tanto da natureza quanto da natureza da 
representação: “Un tableau qui traduit une sensation tout en restant un tableau (c’est-à- 
dire une oeuvre d’art et non la simple répresentation d’ une expérience sensorielle) montre que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


527 


l’art est capable de renouveler notre perception ãu monde, et peut-être même de nous le donner 
à voir, non plus tel qu’il est, mais tel qu’il ' pourrait être .” (p. 169) 


SYPHER, Wylie. A experimentação impressionista. In: . Do Rococó 

ao Cubismo na arte e na literatura. Trad. Maria H. P. Martins. São Paulo: 
Perspectiva, 1980. p. 135-151. 

O autor observa diversos elementos estilísticos do impressionismo na 
pintura, considerando-o como a principal revolução pictórica do século XIX. 
De início, observa a dificuldade em distinguir o impressionismo do simbolismo: 
“Não importa o que se diga dos impressionistas, nenhuma asserção será 
completamente confiável. Eles não tem um método — somente métodos. Como 
os simbolistas, eles são, em primeiro lugar, independentes que se revoltam 
contra os salões. E, ainda como o simbolismo, o impressionismo conduz a 
interpretações subjetivas. O impressionismo abrange uma grande amplitude de 
experimentações, embora poucas delas tenham sido levadas à conclusão no 
século XIX. Acima de tudo o impressionismo é uma área de conflito entre visão 
e projeto, entre percepção e representação, já que a experiência visual era nova 
e a composição não o era.” (p. 136) 

Assim, buscando especificar algumas inflexões da (nova) visão na (antiga) 
composição, destaca: a presença da natureza como meio ambiente, não mais 
como fundo; a elevação do esboço à categoria de arte; a nova concepção de 
espaço, já antevisora do cubismo, em que a concentração no objeto ultrapassa 
os limites geométricos, sob a onipresença do tempo (i.e., da mudança gradual 
da cor) etc. No que toca especificamente à nova concepção do tempo e do 
espaço, diz Sypher: “Um novo sentido de tempo e um novo sentido de espaço 
são, portanto, inerentes à atmosfera impressionista; ilogicamente, ao cuidar de 
registrar o fugidio, o impressionismo se defronta com a arte abstrata, a notação 
do sentimento que espaça à tirania dos sentidos e representa uma qualidade 
da experiência. O objeto impressionista existe em um novo ambiente, uma 
condição especial de luz e ar que penetra e envolve as figuras que aparecem no 
tempo, com uma presença que também é eterna, extraída a partir da hora e da 
luz em mudança.” (p. 144-145) 

Podem-se destacar ainda as críticas e elogios do autor ao impressionismo. De 
um lado: as muitas cópias de autores renascentistas por Manet, e a falta de projeto 
composicional nas telas de Monet; de outro: seu caráter premonitoriamente 
cinemático, tomado às aquarelas de Constable, Corot e Turner; e a harmonia 
musical, quase simbolista, de Monet, consequência de sua busca pelo fluxo 
temporal. 

No que toca ao impressionismo literário, Sypher limita-se a dizer: “Na literatura, 
o impressionismo assumiu formas que foram convenientemente chamadas 




528 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de pan-impres sionismo, uma vez que as distinções entre impressionismo, 
simbolismo e decadência — difíceis de serem feitas na pintura — são, às vezes, 
invisíveis na poesia e no romance.” (p. 148) Cita como exemplos aproximados 
alguns trechos de Zola (Une page d’amour), Walter Pater ( Chilã in the house), no que 
toca à visualidade e ao cromatismo transpostos ao romance; versos de William 
Henley (Eondon voluntaries), no que toca à criação de um “ continuum atmosférico” 
(p. 149); e a figura de Walt Whitman, que considera como o paralelo por 
excelência do impressionismo na literatura: “Whitman fez exatamente o que 
os franceses pensaram que fez: encontrou uma nova linguagem, simplificada, 
e adaptou o veículo poético ao seu grito bárbaro. [...] Whitman não criou um 
estilo; mas reduziu a poesia a um vocabulário primário e purgou-a das qualidades 
acadêmicas, aventura esta que é congenial ao impressionismo.” (p. 151) 


TARDIEUJean. Introduction. In: LASSAIGNEJacques. L’Impressionnisme. 

Paris: Lausanne, 1966. p. 7-9. 

Nesta brevíssima introdução, o autor destaca a amplitude do termo 
“impressionismo”, primeiramente aplicado à pintura, mas logo capaz de abarcar 
uma nova forma de ver, de ser e de sentir. Assim, “bref quelque chose comme un 
nouvel empire, gorgé de lumière et degrand aid\ o Impressionismo inaugura um novo 
conceito — o de impressão: “ Cette révélation de l’‘impression \ qui nous permet de saisir 
dans sa frakheur 1’instant fugitif et éternel, je Dmagine comme 1’intuition, d’abord familière, 
puis généralisée, d’un univers en expansion qui ne cessera plus désormais de se chercher et 
de se dépasser, dans notre esprit comme dans notre expériencer (p. 7) Sem reservas ante 
à grandeza da estética impressionista, que considera um dos ápices do gênio 
francês, Tardieu elogia um amplo Impressionismo do pensamento, que se 
estende dos diários de Joseph Joubert, escritos em 1806, até os romances de 
Proust, passando por Bergson na filosofia e por Debussy na música: “Et voici 
que tout se rejoint: peinture, poésie, musique, le jour oü Mallarmé, dont le Faune avait 
été illustré par son ami Edouard Manet, écoute et approuve le Prélude inspiré à Claude 
Debussy par ce poèmeE (p. 8) 

De maneira demasiado ampla, o autor entende, pois, o Impressionismo como 
destruição de todos os tabus, em prol da vida, em todas as suas nuanças. Trata- 
se de um momento de equilíbrio, assim como de recuperação de um panteísmo 
primitivo, já quase inacessível aos homens modernos. 

Parece desnecessário tecer conclusões acerca do presente texto, que, por si 
só, parece encerrar toda uma leitura idílica e ingênua do movimento, sob um 
prisma igualmente tão generoso quão limitado. 


THIÉBAUT, Philippe. Un idéal d’urbanité virile. In: GROOM, Gloria; 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


529 


COGEVAL, Guy (D ir.). L’Impressionnisme et la mode. Paris: Musée 
d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 193-213. 

Lamentando-se a respeito do silêncio do papel da moda masculina na pintura 
impressionista — o que atribui à atenção dos comentadores à moda feminina, 
talvez a partir do preconceito oitocentista de que a moda deveria restringir- 
se à mulher (como no Guide sentimental de l’étranger dans Paris, de 1878, que o 
corrobora ao dizer que “/ ’homme civilisé, au point de vue de 1’habillement, n’estplus que 
l’accompagneur de la femme ; il la laisse chanter seule la symphonie du blanc, du rose, du vert, 
avec toutes les modulations de demi-teintes que 1’industrie a introduites, comme des dièses et des 
bémoir , p. 194) — , Thiébaut observa a falta de cores nas vestes masculinas, bem 
como a uniformidade das duas únicas roupas que intercambia, entre as manhãs 
e as noites, ao longo de todo o século XIX (o terno e a sobrecasaca). Assim, 
passa a analisar as gravuras de moda masculina, bem como sua representação 
nas telas impressionistas, como sinônimo de um ideal viril de modernidade, que 
gradativamente substitui ogentilhomme aristocrático e extravagante dos românticos 
pelo moderno gentleman\ “En campanant une silhouette, un profil, une attitude, repetes à 
satiété — quel que soitle vêtement porté —, elle diffuse un idéal morphologique ainsi qu’un idéal 
d’urbanité virile. S’en dégagent les composantes d’un canon. Ee corps est droit, le torse large, 
la taille étranglée, le ventre parfaitement plat sans qu ’aucun de ces caracteres soit cependant 
attribuable au corset dont le porte, prisé par les dandys romantiques, est abandonné.” (p. 195) 

Multiforme, como espera ser a moda masculina oitocentista, Thiébaut opera 
diversas “frentes” de argumentação: a propósito de um quadro de Fantin-Latour 
(“Un atelier aux Batignolles”) , destaca as calças claras de Manet como índice de 
diferenciação perante os paletós de Scholderer, Renoir e Monet, e as jaquetas de 
Astruc, Zola, Maítre e Bazille; deste último, cita suas cartas à mãe para supreender- 
lhe o cuidado com as vestimentas e a necessidade premente de apresentar-se bem 
em sociedade; acerca das opções temáticas dos impressionistas, destaca a quase 
ausência de vestes de soirée ou de uniformes militares, em prol de uma maior 
recorrência de vestes diurnas, de trajes típicos da província (Renoir, Manet) e 
até mesmo de equipamentos esportivos (Caillebotte); releva a voga do charuto e 
do cigarro nas telas, generalizados desde as guerras napoleônicas como parte do 
hábito burguês (por oposição a seu cultivo muito anterior pela nobreza e pelo 
alto clero), na caracterização de escritores e intelectuais etc. 

Assim, de maneira igualmente ampla, conclui o ensaísta: “Autant d’images qui 
démontrent la capacité des impressionnistes, en dépit des difficultés liées à l’uniformité de 
la coupe et du chromatisme du vêtement, à faire vivre le corps masculin et à en traquer le 
comportement quotidien.” (p. 201) 

Escusado é salientar a importância social e documental do estudo de Thiébaut, 
que, apesar de cuidar de um elemento bastante acessório à questão geral do 
Impressionismo, coloca em discussão a centralidade da figura masculina, bem 
como o apagamento da individualidade por detrás de vestes cada vez mais 




530 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


padronizadas, em suas telas. 


TINTEROW, Gary. L’apparition et le rôle de la mode dans la peinture du XIXe 
siècle. In: GROOM, Gloria; COGEVAL, Guy (Dir.). L’Impressionnisme 
et la mode. Paris: Musée d’Orsay; Skira-Flammarion; 2012. p. 29-39. 

Thiébaut afirma ser o objetivo da arte moderna, para autores tão diversos 
entre si quanto os Goncourt e Zola, rinterprétation inspirée mais precise des aspects 
de la vie dans et autour de Paris , capitale de la modernitéP (p. 30) Para tanto, concentra- 
se em sua representação da moda oitocentista, que considera resultado direto do 
crescimento do consumo de arte pela classe média e da diminuição do mecenato 
estatal: “ Inutile de préciser que cette même bourgeoisie consommait également en abondance 
les produits à la mode; évidemment, il fallait que ses intêrêts et attitudes apparussent dans les 
oeuvres d’art achetées.” (idem) 

Para tanto, opõe a fixação pela moda de Ingres e Winterhalter, pintores 
queridos da nobreza europeia, à fixação de tipos parisienses por Manet e à ampla 
visão de modernidade de Baudelaire. Contudo, não aprofunda tal oposição, que 
é apenas repetida por meio de diversas citações; e enumera paralelos modísticos 
entre telas de pintores, de um ponto de vista talvez superficial: “On estfrappé par 
le fait que Camille Corot et Degas aient tous deux composé des tableaux de studio qui étaient, 
avant tout, des portraits de robes dans ce beau bleu índigo, sommet de 1’élegance du début des 
années 1870, portées par leur modele bien-aimé Emma Dobinj, elle-même prototype de la 
Parisienne chic.” (p. 32) 

E assim que, sob o mesmo tom de análise a vol d’oiseau, Tinterow conclui: “Le 
pendule continue à osciller à mesure que les artistes, sans se lasser, privilégient ou rejettent le 
rôle de la mode dans l’art moderne, mais celle-á ne retrouverait jamais la place centrale qu’elle 
a occupé dans la peinture française des années 1860 et 1870.” (p. 33) Tal é o perigo de 
qualquer discussão sobre o Impressionismo, dada sua pluralidade de sentidos; e 
nada pior para uma compreensão geral do problema que uma reafirmação desta 
pluralidade, tout court. 


. Le paysage impressionniste. In: LOYRETTE, Henri; TINTEROW, 

Gary. Impressionnisme: les origines 1859-1869. Paris: Réunion des musées 
nationaux, 1994. p. 233-263. 

Analisando em conjunto a ênfase impressionista antes no meio da 
representação que no motivo representado, o autor destaca dois aspectos 
relevantes para esta transição: o japonismo, tomado das gravuras e estampas 
de Hiroshige e Hokusai; e o plein air , recuperado dos quadros da “escola” de 
Barbizon. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


531 


Com relação ao primeiro, cujo poder de sedução, a partir da década de 
1860, atingiu desde os pintores mais velhos (Millet, Rousseau) aos mais novos 
(Manet, Monet), Tinterow observa: “ V ouverture comerciale du Japon aux Occidentaux 
ne remonte qu’à 1858. Ce qui est indiscutable, em revanche, [...] les ressources de l’art 
japonais pourun renouvellement des conventions picturales de 1’Ocident” (p. 241). Algumas 
destas contribuições: a redução das personagens a indicações sumárias na 
tela; o contraste entre uma perspectiva suspensa (“planante”) e uma vista 
em profundidade; o uso de diversos pontos de fuga; a ênfase em cores vivas, 
paralela ao uso sutil do cinza e de monocromatismos etc. Ademais, “à en croire 
les témoignages de 1’époque, c’est l’art japonais qui a joué le rôle de catalyseur pour le pajsage 
impressionniste” (p. 263), como confirmam textos de Duret, Silvestre, Chesneau 
e Pis sarro, dentre outros. 

Sobre o segundo, menos enfatizado pelo autor, Tinterow destaca a influência 
decisiva de Monet sobre os demais pintores do grupo, enquanto exemplo de 
estudioso metódico dos efeitos de luz ao ar livre, retornando posteriormente 
ao japonismo, ou à japomania, para sublinhar seu papel importante tanto 
na construção quanto na confirmação estética das inovações técnicas do 
Impressionismo. 


VALÉRY, Paul. Au sujet de Berthe Morisot. In: MATHIEU, Marianne (Dir.). 

Berthe Morisot: 1841-1895. Paris: Hazan; Musée Marmottan Monet, 2012. 

p. 11-15. Catálogo de exposição, 8 mar. — 12 jul. 2012, Musée Marmottan 

Monet, Paris. 

Neste breve estudo sobre Morisot, Valéry discute en passant os pontos de 
semelhança entre a poesia absoluta de seu mestre Mallarmé e a revolução 
pictórica iniciada pelo impressionismo, destacando sua comum abordagem 
‘mística’ do real, mediante a sensibilidade: “Ca poésie absolue, entrevue par Mallarmé, 
et rimpressionnisme à l’état naissant, 1’une se référant à la source même de toute expression; 
l’autre, ne retenant des choses et des êtres que leur dépendence de la lumière, dont ils ne sont 
pour doeil pur que des modulations, m’ont paru devoir être rapprochés: ces tendances ont un 
rapportplus étroit etplus significatif que celui d’ une coincidence chronologique. II j a une sorte 
de ‘mystique’ dans les deux. Uimpressionnisme introduit une vie spéculative de la vision: un 
impressionniste est un contemplatif dont la méditation est retinienne: il sent son oeil créer, et 
en releve la sensation à la hauteur d’ une révélation. Et quoi de plus prodigieux, en vérité ? Si 
le mot mystère a un sens, je ne lui vois de plus juste emploi que de qualifier cette substance de 
tout: la sensibilitêP (p. 12) 

A mesma estrutura argumentativa é utilizada, ainda, para a discussão de 
Morisot, cuja vida e obra aproxima, amplamente, da aura mallarmeana: “E’élegance 
composée et comme sublimée du poete, qui opposait à l’idolatne realiste d’alors, son voeu de 
tout réduire en allusions, s’accordait à 1’élegance naturelle de Madame Morisot, et à cette 




532 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


áistinction de toute sa personne ” (p. 15). 

Trata-se, pois, de texto mais dedicado ao papel centralizador de Mallarmé 
nas artes oitocentistas que à pintura impressionista ou ao papel específico de 
Morisot. 


VENTURI, Lionello. Les archives de 1’Impressionnisme: lettres de 

Renoir, Monet, Pissarro, Sisley et autres. Mémoires de Paul Durand-Ruel. 

Documents. Paris, Nova Iorque: Durand-Ruel Éditeurs, 1939. 2v. 

A obra de Venturi consiste do primeiro levantamento sistemático de 
documentos, depoimentos, cartas etc. relativas ao impressionismo pictórico, 
e permanece até hoje (talvez ultrapassada apenas pelo livro de John Rewald 
(1991)) como referência fundamental sobre o assunto. O primeiro tomo traz 
uma introdução geral e muitas cartas de Renoir e Monet. Já o segundo tomo 
abrange cartas de Pissarro, Sisley e de diversos outros artistas; as memórias de 
Durand-Ruel; cartas de diversos pintores a Octave Maus; cartas de Durand-Ruel 
etc. Há ainda o levantamento dos catálogos das oito exposições impressionistas 
e de sua fortuna crítica entre os anos 1863 e 1880; a reprodução integral e 
parcial de textos de terceiros etc. 


VERHAEREN, Émile. I flmpressionnisme. In: . Sensations. Paris: G. 

Crés, 1928. p. 177-181. 

Sucintamente, associando arte e modernidade, Verharen afirma que 
« Uimpressionnisme est né de la perfection de plus en plus aigue que les modernes mettent 
à voir les choses.» (p. 177) Mais aptos para perceber a variação de cores que 
seus antepassados — ou mesmo que outros povos, dos quais cita os hindus de 
tempos imemoriais — , o primeiro dentre eles “c’est Claude Monet [...] le superbe 
révolutionnaire. (p. 178) Traduzindo o que há de mais sutil e fugitivo na natureza 
(água, céu, mar), as obras destes pintores, dos quais destaca ainda as mulheres 
de Renoir e as cenas citadinas de Degas, dão “la sensation de 1’étendue, de 1’immensitê, 
de rinfiniP (p. 179) 

O mesmo texto, originalmente publicado no Le journal de Bruxelles a 15 de 
junho de 1885, encontra-se reproduzido na coletânea de Riout (1989), com o 
título de “ Exposition d’oeuvres impressionnistei ’ . 


. Lfimpressionniste Turner. In: RIOUT, Denys (Org). Les écrivains 

devant 1’impressionnisme. Paris: Macula, 1989. p. 366-370. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


533 


Neste breve estudo sobre Turner, pouco posterior ao artigo comentado acima 
(IJart moderne, Bruxelas, 20/09/1885), Verhaeren repete sua apreciação técnica 
da pintura impressionista ao apontar como inegável o caráter impressionista das 
telas do pintor inglês, com base em sua decomposição da luz solar e em seu uso 
das cores: “ Uimpressionnisme de Turner n’est pas niable. A partir du jour oü il rompit 
délibérement avec /es anciennes formules, il fit des phénomènes de la lumière l’étude constante et 
acharnée de sa vie. II décomposa le prisme solaire, chercha à en exprimer sur la toile les effets 
magiques au moyen de la combinaison des tons simples qui le composentT (p. 367) 

A seguir, mostrando-se sensível a termos usualmente empregados pelos 
críticos de então, elogia a originalidade de Turner a partir de seu temperamento, 
como intermédio ao realismo e ao idealismo na arte: “Ce qui fait 1’originalité de 
Turner, Cest que l’imagination et 1’observation livrèrent constamment bataille dans son ame 
d’artiste; de cette dualité naquit une oeuvre mixte, qui ne réalise le voeu ni des idéalistes 
purs, ni celui des amants de la vérité, mais qui n ’en est pas moins très interessante et dénote 
un tempérament de choixT (p. 368) Assim, igual a uma árvore que se alimenta de 
diferentes seivas, Verhaeren avalia a falta de “reprodução” da obra de Turner na 
de outros pintores como resultado de sua indecisão entre o estudo do real e o 
domínio da imaginação, que seria precursor dos impressionistas franceses. 

Com isto, Verhaeren não parece indicar uma leitura do Impressionismo que 
divirja da de Zola, que muito o influenciou, desde cedo. 


WHITE, Harrison C; WHITE, Cynthia A. La carrière des peintres au XIXe 
siècle: du système académique au marché des impressionnistes. Trad. 
Antoine Jacottet. Paris: Flammarion, 2009. 


É de interesse, sobretudo, a quarta parte do livro, intitulada “Tes impressionnistes: 
rôle dans le nouveau système”. Nele, é inicialmente ressaltado que, embora 
tenham contribuído para o surgimento de uma nova concepção de artista, “leurs 
ambitions, leurs attitudes et leurs carrières furent au moins autant les produits du système 
académique que la conséquence de l’esprit d’innovation et de rebellion .” (p. 1 97) Assim, H. e 
C. White observam a dupla acepção do termo, ora aplicado a um grupo distinto 
e inovador (como por Zola), ora a mais um número de contestadores, cada 
vez mais frequentes no panorama político e literário de então. Denominados 
esporadicamente “coloristas”, “linearistas”, “românticos” ou “realistas”, 
seria mesmo de se esperar certa animosidade geral ante aos Salons , que, como 
observam os autores, passaria em 1881 do controle acadêmico governamental à 
recém criada Société des artistes f rançais. 

Para ambos, é notória a tentativa inicial de integração ao sistema acadêmico 
pelos pintores impressionistas, cujos trabalhos e intenções “furent modifiées, 
ainsi que les moyens employés pour atteindre les buts fixes par 1’idéologie académique .” (p. 
199) De um ponto ao outro, surge uma nova concepção de artista, bem como 




534 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


uma especialização de papéis no mundo da arte. I.e., a carreira do pintor era 
valorizada socialmente apenas quando ligada a instituições oficiais, e, de fato, 
todos os pintores em questão — com exceção de Cézanne — , passaram pela Ecole 
des Beaux Arts, pela Académie Suisse ou pelos ateliês privados de pintores 
acadêmicos. 

Assim, em acordo com o parecer de Pierre Vaisse em seu estudo La Lroisième 
Republique et les peintres : «ha solution, pour les auteurs, résidait dans la multiplication des 
expositions et dans leur décentralisation; mais, par manque d’information historique, ils ne 
voient que les peintres dits indépendants et leurs marchands qui aient accompli 1’effort voulu. 
C’est que pendanttrop longtemps les historiem se s’intéressèrent aux expositions, auxgaleries, 
aux ventes publiques, bref, à la diffusion des oeuvres et au commerce d’art que dans la mesure 
oü ces peintres étaient directement concernés.» (p. 96) 

Haveria muito ainda que comentar acerca do presente volume, que constitui, 
certamente, referência essencial para quaisquer estudos contextuais do 
impressionismo pictórico. 


WOLFF, Albert. Le calendrier parisien. LOBSTEIN, Dominique (Org.) De 

Charles Baudelaire à Georges Clemenceau: éloges et critiques de 

1’Impressionnisme. Paris: Artlys, 2012. p. 50-51. 

Exemplo cabal da incompreensão do público da época ante as inovações 
impressionistas. Destaque para frases combativas e ácidas, lamentando «la haute 
médio cri té vaniteuse et tapageuse», como: “ Cinq ou six aliénés, dont une femme, un gr oupe 
de malheureux atteints de la folie de 1’ambition sf sont donné rende^vous pour exposer leur 
oeuvre. [...] Lffroyable spectacle de la vanité humaine s’égarantjusqu’à la démence .» 


ZOLA, Émile. Deux expositions d’art au mois de mai. In: BONAFOUX, 
Pascal (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 170-175. 

Publicado originalmente em junho de 1876 como artigo do jornal Le messager 
de 1’Europe, o texto em questão trata da segunda exposição conjunta do grupo, 
que, para Zola, busca “ 1’impression véridique donnée par les choses et les êtres ” (p. 170). 
Entre seus pintores, que comenta e elogia individualmente, está a principal 
influência da pintura francesa: “ le mouvement révolutionnaire qui s’amorce transformem 
assurément notre école française d’ici vingt ansP (p. 175) 


. Le moment artistique. In: . Mon salon. Paris: Librairie Centrale, 

1866. p. 31-38. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


535 


Apesar de sua importância indiscutível, alguns capítulos de Mon Salem não 
foram incluídos neste anexo, tendo em vista sua ênfase por vezes individual 
(e quicá documental) em pintores pontuais do Impressionismo (dedicatória 
a Cézanne, estudo de Manet etc.), bem como por seu caráter amplo, mesmo 
genérico, de coletânea de artigos publicados no jornal Uévenement , dos quais 
alguns escapam ao propósito deste anexo. 

Dito isto, o presente artigo constitui uma súmula do pensamento estético 
de Zola, para quem a arte não se deve restringir aos temas e aos artifícios, mas 
deve buscar a vida e a expressão acertada do temperamento humano, através 
da individualidade de cada obra. Explicando-se com mais vagar, Zola esclarece: 
“II ne s’agit donc plus ici de plaire ou de ne pas plaire, il s’agit d’être soi, de montrer son 
coeur à nu, de formuler énergiquement une individualité. Je ne suis pour aucune école, parce 
que je suis pour la vérité humaine, qui exclue toute coterie et tout systèmeP (p. 32) Nestes 
termos, Zola dispõe os dois elementos existentes para si na arte — de um lado, a 
natureza, e, de outro, o homem — , organizados e fundidos entre si por um dado 
temperamento. Assim, “l’art est un produit humain, une sécrétion humaine ; c’est notre 
corps qui sue la heauté de nos oeuvres. Notre corps change selon les climats et selou les moeurs, 
et la sécrétion change donc également (p. 33) 

Sob tais critérios, Zola repudia sumariamente as obras do Salon de 1866: 
“jamais je n’ai vu un tel amas de médiocrités. II y a là deux mille tahleaux, et il njj a pas 
dix hommes.” (p. 34) 


. Le naturalisme au Salon. In: BONAFOUX, Pascal (Org.). 

Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 
232-239. 

Neste famoso ensaio, publicado originalmente no jornal I ,e Voltaire de 18 a 
22 de junho de 1880, Zola reincide em seus elogios anteriores sobre o grupo 
impressionista a partir de sua reação conjunta perante “la tutelle de 1’administration .” 
(p. 232) Ora apreciados (Degas) ora rejeitados (Monet, Renoir, Pissarro) pelos 
Salons, e vindos de diferentes meios, capazes inclusive de pagar as despesas 
de uma exposição particular (Caillebotte, Rouart), todos tinham em comum 
o repúdio pela dependência do Estado e pela tutela de um júri passadista e 
arbitrário. 

Em seguida, passa a availiar individualmente os pintores (as estratégias 
marqueteiras de Renoir, o injusto esquecimento de Monet, o sucesso de Degas 
etc.), que considera verdadeiros arautos do futuro na pintura: “ils sontdans la seule 
évolution possible, ils marchent à 1’avenir” (p. 234) Sua influência faz-se presente nos 
Salons (sobretudo o de 1880), que, há já alguns anos, contam cada vez menos 
com quadros acadêmicos (mitológicos, clássicos, históricos etc.), e cada vez 




536 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mais com cenas cotidianas pintadas ao ar livre: “C’est un flot montant de moãernité, 
irrésistible, qui emporte peu a peu PE cole des beaux arts, 1’Institut, toutes les recettes et to utes 
les conventionsP (p. 237) 

Desta forma, Zola conclui, equiparando entre si Naturalismo, Impressionismo 
e modernidade, por meio de um enviesamento teórico que muito esclarece seu 
apreço pelo triunfo do grupo: “Ce quon peut dire c’est que le mouvement sdffirme avec 
une puissance invincible; c’est que le naturalisme, rimpressionnisme, la moãernité, comme on 
voudra 1’appeler, est aujourd’hui mattre des Salons oficieis. Si tous les jeunes peintres se sont 
pas de maitres, tous, du moins, appliquent la même formule, chacun avec son tempérament 
différent.” (idem) Trata-se, pois, do estudo de temperamentos, transposto para a 
pintura. 

Finalmente, elogia Manet como a matriz das inovações propostas pelos 
impressionistas, e afirma ser Monet, dentro de dez anos, o líder dos novos 
pintores, tão logo esteja disposto a colocar todo seu temperamento em suas 
telas. 

Uma reprodução alternativa do mesmo texto pode ser encontra em Riout 
(1989). 


. Les chutes. In: . Mon salon. Paris: Librairie Centrale, 1866. p. 

57-64. 


Avaliando, em contrapartida, o sucesso dos quadros do Salon , Zola afirma 
que aqueles com maior personalidade são aqueles mais repudiados: “Je Pai dit, 
la grande ennemie, c’est la personnalité, Pimpression étrange d’ une nature individuelle. Un 
tableau est d’ autant plus goüté qiPil est moins personnelP (p. 57) Os únicos que atraem 
sua atenção, dentre todos os expositores, são Courbet, Millet e Rousseau. A 
propósito deste último, interrompe os elogios de praxe para tecer uma breve 
reflexão sobre a fixação da impressão pela tinta: “ E’interprétation n’a plus aucune 
largeur. Tout devient forcement petit. Ee tempérament disparait devant cette lente minutie; 
Poeil du peintre ne saisit pas Phoriqon dans sa largeur, et la main ne peut rendre Pimpression 
reçue et traãuite par le tempérament. C’est pourquoi je ne sens rien de vivant dans cette 
peintureP (p. 62) 

Neste sentido, e de maneira doutrinária (muito embora afirme, em outros 
momentos de Mon Salon , uma suposta aversão por escolas e teorias), Zola 
interpreta linearmente a qualidade do quadro na proporção em que traduz 
pelo temperamento do pintor sua impressão original. Tais termos — impressão, 
temperamento — equivalem ao objeto e à forma do quadro, e sua interação, por 
conseguinte, a seu valor estético: resta definir, porém, o juízo crítico capaz de 
constatar tal relação. Disto resulta certo impressionismo crítico de Zola em 
seus textos sobre o Impressionismo (sobretudo em “A dieux d’un critique d’arf\ 
artigo do volume não resenhado, por tal razão, neste Anexo), inteiramente 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


537 


compreensível se levada em conta sua proximidade ao grupo — ou mesmo o 
contexto em que foram escritos, à luz da hostilidade geral ante as audácias do 
plein air, das taches etc. 


. Les Réalistes du Salon. In: . Mon salon. Paris: Librairie 

Centrale, 1866. p. 49-56. 

Repetindo sua não adesão a escolas ou estéticas, Zola insiste no valor supremo 
da verdade e do temperamento na arte: “ Seulement , voici qu’il arrive en nos temps 
d’analjse • psychologique etphysiologique. Le ventestà la Science .” (p. 50) Assim, zomba de 
todos os artistas que, expondo no Salon , seguem apenas preceitos acadêmicos, 
e não seu próprio temperamento. O único quadro que elogia, dentre todos, é 
“Camille”, de Monet, que lhe parece um homem dentre os demais “ ennuques” . 
(p. 52) Para além dele, nem mesmo a mentira, que seria preferível à verdade, 
desde que representada por alguém com força de caráter e uma personalidade 
própria (diverso, pois, de pintores como Ribot, Vollon, Bonvin e Roybet, aos 
quais não poupa críticas): “ 'Qu’importe la vérité! ai-je dit, si le mensonge est commis par 
un tempérament particulier et puissantS (p. 52) 

Finalmente, dá sua definição sumária de obra de arte, que seria retomada 
ainda em outros textos: “La définition d’ une oeuvre d’artne sauraitêtre autre que celle-ci: 
Une oeuvre d’art est un coin de la création vu à travers un tempérament.” (p. 56) 


. Mon Salon — le jury. In: . Mon salon. Paris: Librairie Centrale, 

1866. p. 17-30. 

Atento às nuanças do Salon de 1866 desde antes de sua inauguração, Zola 
ridiculariza o papel demasiado censório do júri anual, colocando-se a falar antes 
dos juízes que dos julgados: “II est donc bien entendu que le Salon n ’ est pas 1’expression 
entière et complete de Vart français en l’an de grâce 1866, mais qu’il est à coup sür une sorte 
de ragoüt préparé et fricassé par vingt-huit cuisiniers nommés tout exprès pour cette besogne 
délicate. Un salon de nos jours, n 'est pas l’ oeuvre des artistes, il est 1’ oeuvre d’un 'Jury.” (p. 1 8) 
A analogia alimentar continua, jocosamente, a seguir, quando satiriza a receita 
antiga e sensaborona da Academia de Belas Artes e a escolha malfadada do 
júri por “ceux-là [...], qui justement n’ont pas besoin du jury ”, ou seja, pelos artistas já 
condecorados nos Salons anteriores (p. 20), em uma tentativa ridícula de fazer 
parecer a seleção dos mesmos algo democrática. 

A este respeito, a posição de Zola é enfática: “Ceux qu’il faut appeler au vote, ce 
sont les inconnus, les travailleurs cachês, pour qu’ils puissent tenter de constituer un tribunal 
qui les comprendra et qui les aãmettra enfin aux regards de la foule.” (idem) É assim que, 
de antemão, os Salons fecham suas portas a muitos, para abri-las a uns poucos 




538 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


seletos, num círculo vicioso. Por conseguinte, Zola mostra-se hostil a tal júri, 
bem como a toda forma de seleção, e defende o retorno do Sa/on des Kéfusés, 
como forma de compensação. 

Na segunda parte deste texto, reproduzida a seguir (tendo em vista a própria 
natureza do volum eMon salon , que constitui um compêndio de artigos publicados 
separadamente, acrescidos de um apêndice, onde constam diversos textos de 
terceiros suscitados por seus artigos, além de uma longa dedicatória a Cézanne), 
Zola proclama-se “défenseurde la réalitê\ colocando-se contra todos os detratores 
de Manet. (p. 26) Critica a arte oficial e bajuladora aprovada anualmente (p. 29), 
bem como a falta de critério de seleção, por vezes pautado apenas no nome de 
alguns ilustres e bem queridos pintores, (p. 30) 


. Peinture. In: BONAFOUX, Pascal (Org). Correspondances 

impressionnistes. Paris: Ed. Diane de Selliers, 2008. p. 320-323. 

Neste artigo datado de dois de maio de 1896 (Le Figaro), Zola fornece 
um balanço de seu Mon salon de trinta anos antes, observando, sobretudo, a 
mudança decisiva nos Salons deste período. “Mettons, si vous le voule ^ bien, que j’aie 
dormi pendent tr ente années. [...] Autrepois, lorsquon accrochait une toile de ceux-ci [Manet, 
Monet, Pissarro] dans une salle, elle faisait un trou de lumière parmi les autres toiles, 
cuisinées avec les tons recuits de 1’Ecole. C’était la penetre ouverte sur la n ature, le pameux 
plein air qui entrait. Et voilà qu’aujourd’hui il np a plus que du plein air, tous se sont mis 
à la queue de mes amis, après les voir injuriés et tnavoir injurié moi-mêmeP (p. 321-322) 
Já quase saudoso dos Salons de outrora, Zola lamenta a adesão cega e quase 
completa dos novos pintores às fórmulas impressionistas {plein air , manchas de 
cor etc.): “Au Salon, il np a plus que des taches, un portrait n’est plus qu’une tache, , des 
figures ne sont plus que des taches, rien que des taches, des arbres, des maisons, des continents 
et de mer (p. 322) Zola chega a julgar uma demência o exagero com que é 
utilizada a teoria dos reflexos e dos contrastes simultâneos, levada aos extremos 
da caricatura: “Et ce sont vraiment des oeuvres déconcertantes, ces pemmes multicolores, ces 
paysages violets et ces chevaux orange, qu ’on nous donne, en nous expliquant scientifiquement 
quils sont tels par suite de tels reflets ou de telle décomposition du spectre solaire. [...] C’est 
affreux, affreux, affreux! [...] Les germes que j’ai vu jetter en terre ont poussée, ont fructifié 
d’ une façon monstrueuse. Je recule d’epproi .” (idem) 

Claramente, Zola demonstra ter atingido seu máximo de compreensão para 
com a pintura moderna, mostrando-se tão conservador perante as obras pós- 
impres sionistas quanto o público de outrora aos quadros (tão elogiados por si) 
de Manet, Monet, Pissarro etc. Ademais, Zola considera em um único bloco 
os diluidores das fórmulas impressionistas e seus possíveis continuadores, 
repudiados tão somente pelo exagero das formas. Neste sentido, sua conclusão 
é das mais interessantes, pois, descrente das lutas de outrora, revela a relatividade 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


539 


das lutas de escola (tão importantes em textos como “Le Naturalisme ao Salorlf. 
“Eh quoi! vraiment, c’est pour ça que je me suis battu? C’est pour cette peinture claire, pour 
ces taches, pour ces refle ts, pour cette décomposition de la lumière ? Seigneur! étais-je fou? Mais 
c’est très lai d, cela me fait horreur! Ah! vanité des discussions, inutilité des formules et des 
écoles! [...] Non,j’ai fait ma tâche, j’ai combattu le bon combat. J 'avais vingt-six ans, fetais 
avec les jeunes et avec les braves. Ce que j’ai défendu, je le défendrais encore, car c’était 1’audace 
du momenf . (p. 322-323) 

Para melhor avaliar a ambiguidade deste depoimento já em si conflitivo, 
como se faz evidente no último trecho, seria necessário retomar ainda seu papel 
acessório no desmembramento do grupo por meio do romance Loeuvre. Diga- 
se de passagem — uma vez que tal questão seja também acessória no presente 
estudo — o romance mencionado foi responsável por uma carta descrente de 
Monet a Zola (temeroso das consequências deste relato dos insucessos de um 
pintor independente, nos jornais) e pela ruptura de sua longa amizade com 
Cézanne (logo identificado como possível modelo para o protagonista). 


. Une exposition: les peintres impressionnistes. In: BONAFOUX, 

Pascal. (Org.). Correspondances impressionnistes. Paris: Ed. Diane de 
Selliers, 2008. p. 184-188. 

Neste artigo enviado a um jornal de Marseille (Le sémaphore de Marseille ) 
a propósito da terceira exposição do grupo impressionista (1877), Zola, 
perguntando-se sobre o sentido do termo, que considera um bom rótulo (como 
todos os demais), sintetiza a discussão que poderia haver a este respeito e afirma: 
“Je crois qu’il faut entendre par des peintres impressionnistes des peintres qui peignent la 
réalité et qui se piquent de donner 1’impression même de la nature, qu’ils n’étudient pas 
dans ses détails, mais dans son ensembleP (p. 184) Para além disto, confessa haver 
um parentesco de visão entre os pintores do grupo, dentre os quais afirma 
haver artistas de grande valor — “lis voient tous la nature claire et gaie sans le jus de 
bitume et de terre de Sienne des peintres romantiques. Ils peignent le plein air, révolution 
dont les conséquences seront immenses. Ils ont des colorations blondes, une harmonie de tons 
extraordinaire, une originalité d’aspect très grande (idem) — , passando a avaliar, a 
seguir, os pintores da exposição individualmente. Por fim, elogia a originalidade 
do grupo, e afirma que dentro de poucos anos sua influência deveria ser notada 
inclusive nos Salons. A prova de sua genialidade, para Zola, está no fato de que, 
mesmo ridicularizados pelo público, continuam atraindo mais de quinhentas 
pessoas por dia em suas exposições. 

Uma reprodução alternativa deste texto pode ser encontrada em Riout (1 989). 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


541 


Textos sobre o impressionismo literário 

ALPHANT, Marianne. Impressions, séries, prose sans fin. In: GENGEMBRE, 
Gérard;LECLERC, Yves;NAUGRETTE,Florence (Dir.). Impressionnisme 
et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
153-157. 

Tentativa de recriação da surpresa de Baudelaire ante os quadros de Boudin, 
confessada no Salon de 1859, por meio do próprio texto crítico, em que são 
dispostas mais ou menos aleatoriamente, enquanto pontos de aproximação, o 
estado inacabado de muitos textos de Mallarmé e de quadros grandiosos de 
Monet; as semelhanças entre as séries de catedrais do mesmo pintor e o projeto 
literário de Charles Péguy ou mesmo Daniel Halévy; as anotações de viagens 
de Mallarmé, Maupassant e Zola etc. Por fim, a autora resume seu intento algo 
audacioso e caótico: “ Tout et rien, pourrait-on-dire. On ne sait oü on va, on se sait ou 
on se trouve, dans quel trouble, dans quel vertige qui ne peut que rappeler celui de baudelaire 
devant la collection de cieis qu’il feuillette che% boudin. » (p. 157) 

ARCANGELI, Francesco. Poètes et peintres de France (1860-1890). . 

Des romantiques aux impressionnistes. Trad. Martine Guglielmi-Peretti. 




542 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Paris: Gérard Monfort, 1977. p. 87-108. 

Citando um trecho de Valéry, Arcangeli aponta o sentimento geral “de 
rinépuisable richesse, en France, des trente années qui ont suivi le romantisme. [...] Fes 
sentiments de ces années-là — heureuses sans frivolité, amères sans désespoir, désespérées sans 
délire, délirantes sans arbitraire — se sont déposés, formant la couche profonde de la sensibilité 
moderne .” (p. 87) Neste tom positivo, menciona os diversos ismos em ebulição 
entre 1 860 e 1 890, e critica a posição de Thibaudet, para quem os impressionistas 
não deveriam ser sequer citados aos grandes nomes do período. Inversamente, 
retoma o epíteto de Hugo a Mallarmé (“ mon cher poete impressionniste ” — “elle n ’aurait 
pu naítre sur les lèvres d’un artiste aussi éloigné de certains centres d’intérêt, si déjà n ’avait 
existé dans l’air du temps la conviction d’ une communauté possible de destin et de signification 
entre la poésie et la peinturi\ p. 88), e afirma, a propósito de Verlaine, ser específica 
à poesia a ideia de um impressionismo poético, atento à sonoridade das palavras 
e à sua vibração musical: «De même que la couleur du peintre impressionniste vibre et se 
ãissout presque dans la lumière du plein air, de même le mot du poete impressionniste vibre 
et se dissout presque ‘dans l’air’ de l’atmosphère musicale. F’existence d’un impressionnisme 
spéàfiquement poétique s’annonce, parallèlement à rimpressionnisme pictural, mais sans 
nécessairement s’identifier à lui .» (p. 89) 

Neste sentido, julga ser válido o epíteto de impressionista antes a Verlaine 
que a Mallarmé, “en raison de ce sentiment direct du rapport à la nature, qui est toujours 
à 1’origine du véritable impressionnisme ” (p. 90) E, após uma longa digressão sobre as 
razões pelas quais Mallarmé não pode ser classificado como poeta impressionista, 
retorna às semelhanças entre a nuança musical de Verlaine e a nuança pictórica 
das telas impressionistas, e afirma serem perceptíveis, sobretudo, em Komances 
sans paroles. Finalmente, interroga-se: “Est-il donc possible de saisir la trace d’un 
impressionnisme poétique dans un sens non seulement musical, mais aussi plus strictement 
figuratif?'’ (p. 94) 

Para tanto, cita um poema de Sagesse, que considera como uma pintura de 
Sisley, e diversos poemas de Rimbaud, que segue comparando sumariamente a 
telas e pensamentos de Van Gogh, Gauguin etc. Assim, não é sem contrassenso 
que diz, a seguir, sobre Rimbaud: “II était dans ses possibilites, nous 1’avons vu, mais 
non dans sa nature ni dans ses intentions, d’observer cet équilibre entre sujet naturaliste et 
transfiguration lyrique, qui, quinge ans durant au moins, fait la force de rimpressionnisme 
pictural et qui n ’a presque pas d’équivalent dans la poésie du siècle. (N’oublions pas que 
1’équivalent verlainien ne vaut que pour un impressionnisme en ton mineur, et non pour la 
pleine et libre orchestration, ardente mais sereine, d’un Fenoir ou du Monet le plus grand. .)” 
(p. 98) Afirma ainda serem incompatíveis as duas acepções geralmente aceitas 
de impressionismo — uma ligada a seu desdobramento científico, e outra, a seu 
lado lírico, romântico — , sendo ele uma reunião de diferentes tendências, além 
de “un sommet, un point de maturité dans tout l’art du XIXe siècle [...] le moment le plus 
complet, le moment absolud (p. 99) Por fim, discute a poesia de Rimbaud e seus 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


543 


sentidos surrealistas, cubistas etc. como marca final de todo um período da 
civilização ocidental. 

Visto em sua totalidade, o texto de Arcangeli apresenta, pois, um escopo muito 
amplo de análise, e, no que diz respeito especificamente ao impressionismo 
literário, parece reduzido a algumas poucas e boas passagens sobre a poesia 
de Verlaine — cujo uso ulterior não deve ser desacompanhado de uma reflexão 
primeira. 


ARMSTRONG, Nancy. Character, closure, and impressionist fiction. Criticism, 

Detroit (Estados Unidos da América), v. 19, n. 4, p. 317-337, outono 1977. 

Retomando o texto de Madox Ford “The march of literature ”, bem como a 
importância das obras de Ford, James e Conrad, a autora observa que tais textos 
não apenas criaram o impressionismo literário, mas também apontaram para um 
novo vocabulário da crítica literária, influenciado do conceito de personagem 
esférica (Forster) ao ponto de vista (Lubbock) e à mais recente “ unreliahle 
narration ” (Booth): “The innovative techniques of impressionist fiction mark a distinct 
change in the ivay people read literature and in what they find meaningful there (p. 318) 

Entretanto, Armstrong considera difícil determinar a natureza desta mudança 
para além de uma explicação conceituai ou contextuai tautológica, pelo que 
passa a expor brevemente a evolução da crítica — principalmente no que se 
refere ao conceito de narrativa — de Propp e Lévi-Strauss a Greimas e Jameson. 
A seguir, comenta romances clássicos diversos, demorando-se na comparação 
das teorias expostas às obras — porém, sem tecer nenhuma relação concernente 
ao impressionismo literário. 

Tal questão retorna somente depois, ao falar sobre seus paralelos com o 
T>ildungsroman\ “Each exemplary impressionist novel purports to be the history of a 
character and can therefore be conceived in dialectic mth the Bildungsroman novelT (p. 
329) Mencionando personagens de Ford, James e Conrad (John Dowell, de The 
good soldier, a governanta de The turn of the screiv; e Kurtz, de Heart of darkness ), 
observa sua crítica comum a padrões de representação do romance tradicional: 
“AU thee [sic] protagonists desire a character maintained by the literary tradition, and it is 
reasonable to say that consequently the representational value of the code of character itself is 
being called into question in their histories. The bovarysm of these protagonists ãemonstrate 
that the economic structure cannot accommoãate individual desire in a socially approved or 
moral form. Going beyond the alienation of a Hardy in their treatment of character, the 
impressionists present the social model, the accepted notion of the typical on ivhich character 
dependsforits meaning, as an inadequate means of organifing social, economic, orpsychological 
data. It is not a matter of an artist vieiving the social model as repressive but of bis finding 
it essentially outmodedT (p. 330) 

Assim, para Armstrong, diversos são os sinais de decadência dos costumes 




544 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


nestas obras: o escândalo sexual envolvendo o gentleman Ashburnham, em The 
good soldier, o não lugar da cultura e do dinheiro de Kurtz em meio à selva africana, 
em Heart of darkness etc. Assim, há sempre um viés social na representação das 
personagens: “In Heart of darkness Europe’s rendering of African history in terms 
of the traditional Western model is the literary counterpart of economic imperialism, and in 
The turn of the screw the attempt to realiye novelistic conventions on an individual scale 
brings a diagnosis of madness upon the head of a potential heroine (p. 331) Ademais, 
Armstrong observa ainda nestas mesmas obras o uso da narrativa emoldurada, 
que, por meio de um narrador testemunho, relativiza as informações referidas, 
tornando dúbia a caracterização das personagens (bem como expondo 
convenções caras ao romance do século XIX): “The frame situation characteristic 
of impressionist fiction generates similar confusion at the levei of social Information. The 
socio-political bias concealed by the objective suface of the nineteenth-century novel is exposed 
in the impressionisfs frame. In the neiv communication situation, it becomes obvious that the 
storyteller is not the traditional type of authority, the bourgeois gentleman, but a modification 
of the type, and consequently his usage of the social and literary codes of his society becomes 
questionable. [...] These novels indicate the disappearance of the storyteller as spokesman for 
his society, and such a change necessarily implies a neiv audience .” (p. 333) 

A este respeito, Armstrong enfatiza o novo contrato de leitura inaugurado 
pela ficção impressionista, projetado pela ausência de um código social (ou 
moral) universal. Assim, em um importante (e talvez central) trecho, afirma: 
“In the absence of a Grammar of human behavior, the reader tends to use his oim rules, 
and by doing so, assumes the conventional storytelleris authority over the materiais of the 
text. The social Information encoded in the frame situation that is a distinguishingfeature of 
impressionist narratives essentially constitutes the paradigm for a nem contract betmeen author 
and audience. [. . .] In such a society as that implied by the impressionisfs frame, the artist 
creates a cultural object mithout a determinate structure or hierarchy of codes, one in mhich the 
groups comprising the literate classes can find their divergent cultural attitudes representedf 
(p. 334-335) Tal contrato “aberto” difere, pois, daquele do romance tradicional 
do século XIX, ao estabelecer uma nova distância entre a narração e o evento 
narrado, em segunda potência, para além daquela observada por W Benjamin 
entre o narrador moderno e o narrador oral. 

Ademais, há uma diferença de caracterização entre o romance impressionista 
e o romance de personagem tradicional que remonta a uma ampla crise cultural: 
“Where the novel of character tests the social code in order to affirm it, I have argued, 
impressionist texts evoke the same code only to call it into question. If me mish to distinguish 
literary impressionism from other modes of narrative, such as those o/Tris tram Shandy or 
Wuthering heights mhich also employ imbedded tales, unreliable narrators, and discontinuous 
plots, it is necessary to consider the impressionist narratives as the criticai questioning of 
the previous culture’s may of producing meaningf (p. 335) Para a autora, que retoma 
Hayden White ao chamar tal mudança de paradigma de uma inovação literária 
historicamente siginificativa (“ historically significant literary innovatiori ’), o lugar 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


545 


mediador da ficção impressionista, do romance oitocentista à ficção moderna, 
é evidente: “ The place of literarj impressionism in the historj of the novel identifies itivith 
such a ‘cri sis’ in cultural historj. This is evident not onlj in the impressionisPs treatment of 
the previous tradition hut in the relationship hetiveen literarj impressionism and suhsequent 
tiventieth-centurj literature as ivell. Uterarj impressionism anticipates radical reformulation 
of the social function of literature that distinguishes modernism. Thatis, ratherthan affirming 
the existing social model, modem literature characteristicallj takes as its ohjective suhversion 
of those accepted ideas of ‘ things as thej are and people as thej hehave. ’ [...] The fleeting 
prominence of impressionism as a narrative mode that attemped to account for both audiences 
identifies it as a transitional form, signaling a transformation at the primarj levei of social 
conflict. Afterthis pointin historj, the binarj opposition generating narrative can no longer be 
conceived in terms of conflict within a bourgeois classification sjstem, but rather betiveen that 
social model and the interests of a class of radical or alienated individuais ivhose minoritj 
viern are inadequatelj represented bj the old conventions. [...] Conventions such as ambiguitj, 
point of view, and unreliable narration provide a methodology for disjoining the strands of 
meaning ivoven together bj the oldfashioned storjteller Keaders educated in this criticai idiom 
distrust the overt, ideological content of anj narrative and tolerate, if not prefer, multiple 
readings of a text.” (p. 336-337) 

Este artigo, de clara importância para o estudo do impressionismo literário, 
pode ser encontrado na seção restrita do banco de dados JSTOR. 


ARMSTRON G, Paul B. The hermeneutics of literary impressionism: 
interpretation and reality in James, Conrad and Ford. The Centennial 
Review, East Lansing (Estados Unidos da América), v. 27, n. 4, p. 244-269, 
outono 1983. 

Para o autor, o impressionismo dos três autores dá início à autoconsciência 
da literatura moderna. No entanto, observa a difícil conceituação dos termos 
“impressão” e “impressionismo”, e passa a analisar, em dois momentos, a 
epistemologia de James, Conrad e Ford (que embasa seu “impressionismo” 
comum) e suas soluções literárias particulares. Interessa, sobretudo, o que o 
autor assinala a respeito daquilo que une tais autores, no segundo momento, 
como traço de um impressionismo literário comum, capaz de revisar o que 
considera as quatro grandes categorias epistêmicas da ficção: “In each of four 
crucial dimensions of fiction, the representational practice of these impressionists is a 
commentarj on a major aspect of interpretation: 1 ) the role of aspects and perspectives in 
representation and the relation of disguise and disclosure in understandingj 2) the function of 
the manner of narration in controlling a ivork ’s perspectives and the problem of adjucating 
the validitj of conflicting interpretations; 3) the temporalitj of the narrative and the role of 
expectations in understandingj 4) the relation betiveen the reader and the world offered bj 
the ivork and the dilemma posed bj the gap between the self and others, the basis of much 




546 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


if not all misunãerstanãingP (p. 258) Como resultado, desponta a ligação entre as 
múltiplas perspectivas focalizadas pela obra e a visão naturalmente parcial (e 
fragmentada) de mundo do leitor, que se vê identificado e faz, assim, “viver” a 
obra: “ For the novelist, then, the secret of realistic representation is to arrange the aspects 
and indeterminacies in his ivork so as to persuade the reader to bring its ivorld to life bj 
remembenng his oivn everjdaj practices of understanding — understanding ivhich is similarly 
perspectivai, never fully deter minate, and active ly compositionald (p. 260) E, de qualquer 
forma, “Their experiments ivith narration are an ongoing interrogation of the narratoFs 
privilege to rank and control the perspectives which make up a ivork.” (p. 262) 

Tais afirmações reforçam o papel do discurso narrativo como eixo central 
do impressionismo literário, no que toca, sobretudo, às questões de focalização, 
narração e narratário, totalizando, pois, os quatro eixos mencionados. 


BENDER, Bert. Hanging Stephen Crane in the impressionist museum. The 
Journal of Aesthetics and Art Criticism, Maiden (Estados Unidos da 
América), v. 35, n. 1, p. 47-55, outono 1976. 

Breve discussão do possível sentido impressionista da obra de Crane, 
resolvido pela negative, de antemão: “ The truth is that, ivhile Crane is attentive to 
his characters’ sensorj experience, his primary interest is in dramatiying their inability to 
see. From the ‘little man ’ of the earliest sketches to the correspondent in ‘The open boat\ his 
characters fail to see themselves clearly in relation either to their immediate surroundings or, 
ultimately, the universe. Thus Crane ahvays raises metaphysical questions, and his peculiar 
vision [...] bears no felt resemb lance to the impressionists’ lighted lands capes or, say, their 
bright scenes from Paris.” (p. 48) 

O estudo consta ainda de algumas imprecisões a respeito do insucesso e pouco 
alcance da pintura impressionista na Europa e E.U.A. na virada do século XIX 
ao XX, talvez de forma a mitigar o diálogo entre Crane e a pintura, reforçando, 
pois, a negativa central, que enforma sua posição: “ ‘impressionism ’ in literature has 
become an almost meaningless concept. Mainly it suggests ivritingfrom around the turn of the 
century that is subjective and attentive to sensuous detail. But the list of impressionist ivriters 
has come to include such diverse talents as Dorothy Richardson, Ford Madox Ford, Virginia 
Woof Joseph Conrad, Henty James [...]. But my question is, who would really be content to 
place such a collection mthin the confines of one galleryC (p. 50) 


BENDER, Todd K. Literary Impressionism in Jean Rhys, Ford Madox 
Ford, Joseph Conrad, and Charlotte Brontè. Nova Iorque, Londres: 
Garland, 1997. 


Em se tratando de um estudo extenso dos autores indicados, faz-se necessário 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


547 


elencarmos apenas, para os propósitos do presente anexo, as partes relativas ao 
impressionismo pictórico e literário. Sob tal recorte, há as discussões de praxe 
(feitas, porém, com muita propriedade) sobre o impressionismo: a significação 
do conceito de “impressão” na pintura, nos métodos científicos (Comte, 
Darwin, Chevreul) e na filosofia (Locke, Hume, Bergson); a conceituação de 
impressionismo literário segundo Madox Ford e sua evolução na crítica inglesa 
etc. No que toca, porém, àquilo que especifica o impressionismo literário , por 
oposição ao pictórico, o autor enfatiza os aspectos particularmente narrativos da 
reprodução textual de uma impressão: “ The authors reply to that anxiety bj developing 
a set of technical devices for the telling of the storj, such as limited narration, verbal collage, 
subversive laughter, open plot and characterigation, and cognitive dissonance and turbulence 
in theirtexts .” (p. 14) 

Assim, ganha especial interesse aquilo que fala acerca da importância do foco 
narrativo para o impressionismo literário: “ Once attention has shifted from an exterior 
event to the ivaj that event makes an impression on a perceiving minã, making the protagonist 
of the storj the observer, rather than the object observed, narrative point of vieiv becomes a 
kej element in the text. Eccentric, unusual, distorted bj drugs, pain, or mania, the point of 
vieiv through ivhich the reader gains access to the ajfair takes on an augmenteã importance. 
[...] Foregrounding the point of vieiv, constructing an eccentric, limited, ‘unreliable’ narrator, 
involves reinterpreting ‘realitj’, even reordering space and time in psjchological configurations, 
rather than as commonlj experienced with three dimensional space existing in a time scheme 
ivhich is linear, univocal, and one-ivay.” (p. 7-8) 

O autor pondera que tal importância do ponto de vista narrativo leva à 
fragmentação, à justaposição, ao estranhamento das cenas narradas, deslocando 
a ênfase de toda a tradição romanesca do enredo para a apresentação (parcial, 
indireta, fragmentária) de um episódio. No capítulo II (“ Impressionist verbal 
collage”), adentra com maior propriedade tais questões. 

Assim, diz: “The principie of verisimilituãe of the naive realist (to reflect accuratelj in 
art the phenomena of the world) becomes, rather, that of the impressionist (to represent a 
mind in the act of experiencing the outer world).” (p. 34) E, a seguir, pondera a seleção 
dos eventos pelo narrador (seu enviesamento, sua unreliability) como um de seus 
maiores elementos formais. 

Sua excelente discussão do impressionismo literário é, todavia, demasiado 
colada à obra dos autores que estuda, o que em nada desmerece seu trabalho. 
Assim, salta das observações anteriores para o uso dos quatro princípios da 
colagem (“ artistic collage” (p. 44)) por Madox Ford (fragmentação, desfamiliarização, 
justaposição e incrementação), passando a analisar a centralidade da colagem 
verbal em sua obra, à maneira do pontilhismo de Seurat; seus ecos em Conrad 
e Rhys; os pontos de contato entre as ideias expressas em The march of literature 
e diversas telas de Monet; os aspectos cognitivos das obras desses autores (para 
o qual chega a movimentar a célebre imagem de Jastrow, utilizada alhures por 
Wittgenstein, dentre outros); suas escolhas lexicais, apresentadas em tabelas etc. 




548 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Em suma, trata-se de referência excepcional para o estudo de tais autores, 
além de mais que fecunda fonte de reflexões para a questão do impressionismo 
literário. 


BRUNETIÈRE, Ferdinand. Ldmpressionnisme dans le roman. In : . 

Le roman naturaliste. Paris: Calmann Lévy, 1883. p. 75-104. 

Partindo de críticas ao naturalismo de Zola, Brunetière analisa a obra Les 
rois en exil ' de Alphonse Daudet, estabelecendo, com isto, em 1879, o primeiro 
estudo acerca do impressionismo literário. Para ele, “si cela n’est pas écrit, cela est 
peint, et cela est vivant ’ (p. 81), de forma que as cenas sejam captadas pela visão 
e fixadas pela escrita: “1’action continue des objets extérieurs sur l’oeil et de 1’impression 
de l’oeil sur le mouvement de la main, que de cet entre-croisement et de ce fouillis, une 
dernière ligne, un dernier mot, tout à coup, fait surgir 1’ensemble vivant (p. 82) Percebe- 
se a anterioridade da pintura à escrita e seu papel igualmente modelar para 
a discussão do impressionismo literário: a mão habitua-se “à rendre pour l’oeil 
d’autrui ce premier aspect des choses ” (idem), sugerido pelas manchas de cor; a 
exprimir o inexprimível, registrando e analisando as impressões elementares 
que compõem a impressão total; a utilizar profusamente verbos no imperfeito, 
a fim de, com “un procédé de peintré”, “prolonger la durée de 1’action exprimée par le 
verbe ” (p. 84); a suprimir as conjunções aditivas e incentivar o uso excessivo de 
adjetivos demonstrativos, que fragmentam o texto e lhe garantem dinamicidade; 
a valer-se de comparações para dizer “le langage de la sensation ” (p. 87) etc. Assim, 
de uma maneira direta e linear, muito reproduzida ao longo da crítica do século 
XX — e, neste aspecto, corretamente lamentada por B. Vouilloux (que a analisa 
detidamente nas primeiras páginas de seu artigo “Pour en finir avec 1’impressionnisme 
littéraire ”) — , o autor afirma: “nous pourrons definir déjà l’impressionnisme littéraire 
une transposition systématique des moyens d’expression d’un art, qui est l’art de peindre, 
dans le domaine d’un autre art, qui est l’art d’écrire (p. 88) Falar a linguagem da 
sensação, ainda que impossível pela disparidade de meios, é aquilo que parece 
unir, assim, o impressionismo literário ao pictórico, devendo estabelecer uma 
ponte (necessariamente provisória) entre ambos. 


BYRNE, Paul Johnson. Heart of darkness: the dream-sensation and 
literary impressionism revisited. The Conradian, Londres, v. 35, n. 2, p. 

13-29, outono 2010. 

Neste instigante artigo, o autor propõe-se a avaliar o impressionismo 
controverso de Conrad no romance Heart of darkness a partir daquilo que seu 
narrador chama de “ dream-sensation ”, i.e., “thatnotion of being captured by the incredible 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


549 


which is of the very essence of dreams .” (p. 13) Tal sensação, ligada ao não lugar 
dos referenciais europeus de Marlow em meio à floresta do Congo, embasa 
a possível classificação da obra como impressionista — ao menos em espírito; 
“for as lan Watt has observed, ‘it accepts, and indeed in its verj form asserts, the bounded 
and ambiguous nature of individual understanding ’ [...], a basic premis e and principie of 
organigation in anj ivork that might in good faith be called impressionist.” (p. 15) 

Primeiramente, Byrne distingue a ênfase de diversos críticos em uma 
acepção de impressionismo literário demasiado próxima do pictórico, bem 
como a aversão de Conrad pelos “ismos”, como indicações de uma possível 
(e cautelosa) comparação: “ Although it ivould be a mistake to insist upon too close 
a correspondence betiveen impressionist painting and impressionist ivriting — a connection 
Conrad seemed inclined to assume and in which many critics have since mistakenly followed 
suit — there are nevertheless certain common articles of faith sufficiently alike to justijy a 
cautious comparisonT (idem) O retorno a um olhar primitivo e despojado de todo 
intelectualismo — marca característica do impressionismo pictórico (Laforgue) 
— não impede uma abordagem analítica do que é percebido, como nas obras de 
Cézanne e Gauguin. O mesmo pode ser dito da crítica elogiosa de Conrad a 
Crane, ou ainda, de seu romance Heart of darkness. 

Nesta obra, aquilo que se esconde sob a realidade percebida ( '“inner truth ”) 
é tão real quanto ela própria: “These depths might seem especially remote, perhaps even 
inaccessible, to a superficial conception of literary impressionism, but such an assumption fails 
to take into account certain of the philosophical ideas that inform it.” (p. 16) Para Byrne, a 
epistemologia impressionista de Conrad, segundo a qual todos os dados sensíveis 
podem ser mudados seja pelo indivíduo que os recebe seja por sua disposição 
física imediata, é uma forma de explorar o hiato que há entre a apreensão dos 
objetos pela consciência e sua compreensão posterior pelas facultades analíticas 
(fi analytic facultieC). (idem) E, por intermédio desta sondagem, avaliar a fundo 
os ideais supostamente civilizados “of the imperial enterprise in Teopold ITs CongoT 

(P- 1? ) 

Logo, como já lembrado por John Peters, “where impressionist painters sought 
to render the visual sensations of a particular eye at a specific time and place, literary 
impressionism encompasses the entire current of sensory data as it streams round, flows into, 
and filters through an individual consciousnessP (p. 18) 

A seguir, Byrne analisa trechos do romance em que a percepção das diversas 
formas de violência testemunhadas na selva mescla-se à vida interior de Marlow, 
adquirindo um aspecto fantástico de redução e reeducação do olhar, atento, 
até então, apenas à cultura europeia. A isto, chama de dream-sensation ’ , ou seja, 
sensação onírica e de estranhamento que decorre do não lugar de alguém como 
Marlow no “coração das trevas”, conforme já mencionado (“It is this uncanny 
feeling of unreality that the dream-sensation resides, the ‘commingling of absurdity, surprise, 
and bewildermenf that Marlow describes as having ‘pervaded all [his] days’. To his de-ranged 
senses, objects appear ‘real’ only if they occurin a context where they seem to belonfi’ (p. 20)). 




550 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ademais, o autor aponta a releitura do realismo feita pelo impressionismo 
literário, bem como a necessidade de atentar para sua existência (nem sempre 
evidente): “ Where the conventions of realism posit a uniform objective world existing 
independently of the perceiver, it becomes necessary in impressionist texts to distinguish insofar 
as possible between objective reality, and reality as experienced by a particular individual at 
a specific time and place .” (p. 20-21) Assim, observa nuanças da “ dream-sensatiorf’ 
de Conrad (seu desdobramento em uma “ life-sensation” , i.e., em uma experiência 
mais pujante, embora ainda mesclada ao sonho) e sua semelhança para com 
a apreensão hermenêutica de mundo, sempre diversa entre dois indivíduos 
quaisquer: “For Conrad, the moments of perception that make up any individual 
understanding of reality are merely impressions arrested in the stream of sensations, divorced 
from the flux of time, and modulated in the mind. [...] Moreover, as the context in which 
these data are received is constantly subject to change, each act of interpretation is often only 
momentarily valid. For all of these reasons, the meaning, and ultimately the knowledge, that 
Marlow constructs on the basis of his impressions bears no necessary or stable relation to the 
world outside his senses.” (p. 22) 

Em meio a novos exemplos do romance, o autor destaca ainda, com 
propriedade, a natureza parcial das palavras, paralelamente à da impressão: “Not 
only is the meaning derived, or constructed, from impressions often at variance with the world 
beyond the senses, but the meaning of the words with which one attempts to translate such 
impressions into intelligible experience is also similarly unfixed and susceptible of distortion. 
Experience is filtered through the individual mind as much as through an individuais language 
[...]. Although language may seem to provi de a stable semantic Index for ordenng reality, 
words do notgive back the world they pretend to describe but only a reductive vision of it as it 
seems to a particular individual at a certain time and place.” (p. 23) Neste sentido, uma 
técnica possível de manipulação da linguagem como forma de veicular (f render 1 j 
a impressão é a da “colagem verbal” (“ verbal collage ”), “ whereby juxtapose fragments 
of apparently random sensory data compel the reader to infer connections in the absence of 
narr ative commentary [...]. Verbal collage is a key element here, for it reflects the incremental, 
contextually contingent nature of individual understanding and follows logically from the basic 
assumption of literary impressionism that ‘Eife [does] notnarrate, but [makes] impressions 
on our brains [Ford].” (p. 24) Tal técnica está além da ideia — incompleta, para 
Byrne — do “delayed decoding (conforme defendida por Watt), que submete o 
texto literário à reprodução da visão, destacando, antes, a parcialidade tanto da 
escrita quanto da visão. 

Este texto encontra-se no banco de dados restrito do JSTOR. 


CADERMATORI, Lígia. Impressionismo. In: . Períodos literários. 8 

ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 56-60 

Repetindo o que há de essencial na argumentação de Francastel e Hauser, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


551 


para quem o Impressionismo constitui, além de um estilo artístico, uma visão 
de mundo pautada na consciência da transitoriedade — e na passividade dela 
resultante — , Cadermatori revisita alguns lugares comuns: a “experiência 
diretamente ótica”, o “caráter analítico”, a “apreensão [...] fragmentada” de 
mundo, “o desprezo pelo natural”, “a arte voltada para si mesma”, a acidentada 
definição de impressionismo literário etc. (p. 57-58) Por vezes, a facilidade 
de resumo dos termos gerais acerca do assunto, em um livro de caráter 
evidentemente introdutório, descai no simplismo de sínteses demasiado banais: 
“Se o barroco e o romântico foram homens conflitados, o impressionista, 
por sua vez, é entediado, tomado por um sentimento de que falta peso às 
coisas” (p. 58); “Os escritores realistas fazem o inventário do mundo exterior; 
os impressionistas concentram-se na apreensão das sutilezas das impressões 
subjetivas das personagens” (p. 59) etc. Todavia, apesar de tais momentos, 
há em outras passagens trechos de melhor proveito, como quando associa 
(conquanto não aprofunde o assunto) o nascimento do romance psicológico ao 
impressionismo literário: “O texto literário torna-se evocatório, fragmentário e 
hipersensível. Nasce o romance psicológico na acepção moderna, de estrutura 
não-linear e com narrador impessoal e onisciente. A percepção do tempo ganha 
proeminência, como se observa na obra que marcou o surgimento desse estilo 
na ficção: Um busca do tempo perdido, de Marcei Proust” (p. 59-60). Como outros 
exemplos de autores impressionistas na ficção, cita ainda Raul Pompéia, cujo O 
Ateneu serve de epígrafe ao capítulo, e Adelino Magalhães. 


CARAMASCHI, Enzo. Paysages impressionnistes chez Balzac. In: . 

Arts visuels et littérature: de Stendhal a 1’Impressionnisme. Bari: Schena; 
Paris: Nizet, 1985. p. 47-80. 

No que diz respeito especificamente ao impressionismo literário, o autor 
discute neste ensaio sobre Balzac a dificuldade de delimitação do termo desde a 
pintura, remontando à década de 1 860: “Hors de la peinture, on arrive à des découpages 
encore moins nets; et le procédé consistant à abstraire des différents arts une série des caracteres 
plus ou moins directement comparables, pour en tirer une physionomie commune, est souvent 
très fécond, mais ne lais se pas d’être insidieux .” (p. 50) 

Não obstante, reconhece o impressionismo pictórico como filho direto do 
realismo e do romantismo, e destaca a transição fecunda que opera “ entre des 
habitudes objectives et des exigences subjectives, entre des cohérences et des compro mis.” 
(p. 51) Como elemento comum ao impressionismo nas diversas artes, destaca 
a oposição elementar entre o que se vê e o que se sabe: “Un trait essentiel à 
tout comportement impressionniste face au réel, et partant largement constitutij de l’attitude 
impressionniste, est sans doute la volonté d’opposerce quon voit de 1’objetà ce quon en sait.” 
(idem) 




552 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Assim, em Balzac, destaca a atenção aos apectos cambiantes dos objetos, 
bem como “le souci corrélatif ã’une prise de vues plus ou moins strictement commandée 
par une perspective située” (p. 59), como uma dupla aproximação de sua obra — 
temática e formal — do impressionismo literário. 


. Réalisme et impressionnisme dans 1’oeuvre des frères Goncourt. 

Pisa: Libreria Goliardica, 1971. 

Segundo o parecer do autor, o impressionismo literário consiste de uma 
variante subjetiva do realismo: “Étre, pour les choses, c’est provoquer des impressions; 
vivre, pour un objet, c’est affecter le sujet: à ce réalisme subjectif et artiste quel autre nom 
pourrait-on donner sinon celui ^Impressionnisme? ‘ Rendre ’ ce qui est, reproduire 
1’impression de 1’ objet sans qidelle sdffaiblisse pendant le trajet qui mène à 1’expression, 
fixer 1’éphémère tout en laissant vibrer dans 1’image quon en présente ce qu’ily a en lui de 
labile, de fugitif: tout le travail de 1’ artiste se ramène pour eux [Goncourt] à cet effort et à 
ce souci.'’’’ (p. 47) No entanto, antes de reportar-se a uma ampla estética literária, 
o impressionismo literário — antes, o impressionismo dos Goncourt — liga-se à 
sua nevralgia: “Evidemment, le réalisme des Goncourt est un besoin de leurs nerfs avant 
d’être une théorie artistiqueP (p. 66) Trata-se, pois, de uma interpretação demasiado 
particularista e biografista do impressionismo literário. 


CHAMPEAU, Stéphanie. Les Goncourt, “écrivains impressionnistes” dans le 
Journal? In: GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, Yves; NAUGRETTE, 
Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. Rouen: Presses 
Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 125-141. 

Neste valioso artigo, a autora discute o suposto viés impressionista da obra 
dos irmãos Goncourt analisando os pontos de semelhança entre sua concepção 
de arte e aquela do Impressionismo, como um todo. Citando o Journal— tentativa 
de “coller à la sensation [...] particulièrement sensiblê ’ (p. 125) — , Champeau aponta 
como tensão inicial da arte dos Goncourt a tentativa de exprimir a vida “dans 
toute as jraicheur et sa véritê\ paralela à busca por sensações raras, pelos detalhes 
e pela “ nuance la plus raffinée. Cette tension est au coeur de ce qu’on a appelé, à leur suíte, 
‘l’écriture artiste’, dont la parenté avec l’impressionnisme est tout à la fois indéniable et 
problématiquel ’ (p. 126) 

Explorando esta relação ambígua, a autora aponta a concepção algo nevrótica 
de arte dos irmãos Goncourt, para os quais todo artista deve cultivar a sensação: 

“1G artiste est d’ abor d quelqu’un qui sent, qui ressent, et qui ressent à s’en rendre malade: si la 
sensation, en effet, nourrit et ponde son art, elle peut arriver à le détruire en tant qu ’ individu . 
Bien plus, il paut qidelle le détruise, qidelle dérègle sa ‘machine’ psychopsysiologique en 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


553 


profondeur, pour qu’il puisse inventer un art original?’ (idem) Desta forma, para ambos, 
a única forma de renovar a literatura é através de uma “art de la sensation, de 
1’impression brülantê\ como a do pintor Crescent, de Manette Solomon (idem) 

Champeau aproxima esta visão de arte daquela expressa no Salon de Zola, e, 
citando Jean-Pierre Leduc-Adine, contrapõe ao fisiologismo e ao materialismo 
de ambos Ç‘un coin de la création vu à travers un tempéramenf , nas palavras de 
Zola) a visão de arte de Baudelaire, platônica e intelectualista. Cita ainda seus 
parentescos com o anti-intelectualismo de Proust, Bergson e Valéry, e aponta 
sua principal semelhança com a arte impressionista: “Ees Goncourt, dans le même 
esprit, cherchent à renouveler l’art en renouvelant d’abord leur regard, en s’efforçant de 
‘regarder, c’est-à-dire oublier les noms des choses que l’on voit’ [Valéry], en apprenant à voir 
des ‘présences singulières’ là oü le commun des hommes ne voit que des ‘objets-signes’. Et c’est 
cette même ‘naiveté’ du regard que l’on retrouve chet ? les peintres impressionnistes [...}, et dans 
le regard desquels ily a quelque chose du regard de 1’enfant (p. 128) 

Intimimamente ligada ao corpo enquanto “ esthétique de l’apparaítri\ que 
inclui o sujeito impressionável na representação do objeto — e não enquanto 
“ esthétique de l’apparancê\ fotográfica, como preconizada pelo Realismo 
(Françoise Gaillard), a arte dos Goncourt pressupõe certa dimensão extática 
e panteísta, em que as sensações são significadas ao máximo, evocando uma 
“ mystique de la sensation” (Merleau-Ponty). (p. 128-129) Neste sentido, enquanto 
cultivadores da sensação imediata, os Goncourt são impressionistas avant la 
lettre : “ Impressionnistes ; les Goncourt le sont, avant la lettre, par leur thématique. Et, tout 
d’abord, par le choix du moderne, choix qui est dans la logique de leur culte de la sensation. 
[...] Dans leurs romans comme dans leur Journal [...] se manifeste une prédilection pour les 
sujets modernes, pour les réalités les plus contemporaines saisies à chaud [...] predilection et 
choix qui seront également ceux des peintres impressionnistes .” (p. 129-130). Edmond 
de Goncourt crê, inclusive, que sua obra tenha inspirado quadros de Degas e 
Manet, obtendo-lhes a primazia. 

Para além da semelhança temática, há ainda uma correspondência no trato 
com a natureza, por meio das descrições: “ les Goncourt paysagistes manfestent une 
prédilection pourcertains motifs qui sont ceux- là mêmes qui hantent la peinture impressionniste. 
D’ une façon génér ale, leurs descriptions nous montrent les deux frères infiniment sensibles à 
1’atmosphère, au climat, au temps qu’il fait.» (p. 131) Desta forma, descrevem o céu 
por meio de manchas, dispostas entre as folhas das árvores; detalham cores; 
evidenciam efeitos de luz — “ évoquant la nature, une impression de purê Grace, de 
légèreté et de bonheur, qui est celle-là même qui emane des tableaux impressionnistes. ..” (p. 
132) 

Champeau, a partir de então, passa a enumerar os pontos comuns entre as 
obras dos Goncourt e o Impressionismo: a predileção pela água e por plantas 
aquáticas; pelas brumas e vapores; pelos fenômenos fugazes em geral etc. 
Assim, “ toujours revient chet r les Goncourt ce désir de peindre la nature en mouvement, les 
brando es des arbres frissonant [...] et, comme ailleurs, il se dégage de ce paysage des Goncourt 




554 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


une lumière, une délicatesse, une transparence, qui rappelent 1’impression provoquée par les 
tableaux impressionnistei ’ (p. 133) 

De maneira ampla, é a centr alidade do movimento na écriture artiste seu 
traço impressionista por excelência: “ Cette attention au mouvement, cet intérêt porté 
à rinstabilité et au changement, aussi bien dans les paysages que cheg^ les êtres humains, 
constitue un point de rapprochement fondamental entre les Goncourt et l’impressionnisme” (p. 
134) Disto decorre a fragmentariedade de sua escrita, bem como a segmentação 
das cenas narradas, «en raison des effets des découpages imprévus, de décalages, de 
superpositions ...» (p. 135) 

Champeau destaca ainda outros pontos de contato dos Goncourt com a 
pintura — seu talento plástico, sua fama perante seus contemporâneos como 
pintores da escrita — , e destaca o projeto monumental do Journal como êmulo da 
pintura: “Je [Edmond] voudrais trouver des touches des phrases, semblables à des touches 
de peintre dans une esquis seG (p. 136) A seguir, enumera alguns traços sintáticos da 
écnture artiste como provas de pictorialidade na escrita, dispensáveis, neste anexo, 
uma vez que contidos com mais detalhe no texto de Marcei Cressot. 

A conclusão da autora sobre tal estilo, porém, necessita ser lida com atenção: 
“ce voluntarisme de leurstyle nous semble, d’ une certaine façon, en contraãiction avec leur désir 
de rendre la vie, la sensation, dans toute la spontanéité de son jaillissement. Ainsi apparaít cette 
contraãiction fonãamentale entre un art qui cherche à la fois le primesaut et la sophistication 
— la sophistication, censée apposer le cachet inimitable de l 'artiste. [...] Komantiques, les 
Goncourt sont pour 1’individu à 1’état pur, et cet individu, il peut apparaítre soit sous la forme 
du ‘naturel’, du spontané, soit sous la forme de la préciosité et de la ‘décadence’ — car qu’est-ce 
que la préciosité sinon le fait de parler de façon unique, de parler com me soi seul parle?’' (p. 
139-141) 

Muitas das confusões que existem a respeito do impressionismo literário 
poderiam ser resolvidas se o trecho acima fosse refletido em sua inteireza. 
Afinal, o que há de decadente ou de refinado em tal escrita não é senão um 
extremo pessoal e individual das muitas possibilidades que ela entrevê, coagida 
ao refinamento pela busca incessante do novo. Neste sentido, ignorar esta 
nuança seria o mesmo que confundir écnture artiste e impressionismo literário, 
tomando aquele por expressão única deste. 


CLAY, Jean. Comprendre 1’Impressionnisme. Paris: Ed. Du Chêne, 1984. 

São de maior interesse a introdução geral e a introdução individual dos 
capítulos do livro pelo caráter teórico que compartilham entre si, por oposição 
às informações sumárias posteriores, que desempenham unicamente a finalidade 
de ilustrar uma série de reproduções de quadros. 

Jean Clay observa, de início, que, apesar das muitas diferenças temáticas e 
formais existentes entre os pintores presentes nas oito exposições, “la volonté 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


555 


de mettre en question les règles les mieux établies de 1’art Occidental. [...] Avant d’être un 
paysagisme, l’impressionnisme jut un laboratoireP (p. 4) Para tanto, teve de superar 
desde o princípio dois adversários — “le courant académique et le réalisme à 
connotation sociale et poli tique qui s’était formé en doctrine autour de Courbet.” 
(idem) Para além destas duas opções, nada poderia garantir o sustento dos 
jovens pintores, acossados pela reprodução de um cânone, de uma postura e de 
um método de trabalho previamente estabelecidos. 

No que diz respeito à primeira opção, o autor observa a inexistência de um 
ensino do uso das cores até meados de 1863, numa atenção exclusiva à linha: 
“File est encore plus étrangère à la vision fusionnelle et informelle (à l’interpénétration des 
formes et des couleurs) qui fera 1’originalité de rimpressionuismeB (p. 5) Por conseguinte, 
célebres pintores do Institut de France e da Ecole des Beaux Arts de Paris, 
como Jean-Léon Gérôme, insurgem-se contra os detratores das leis da pintura. 

No que diz respeito à segunda alternativa, proveniente do realismo de Courbet, 
Clay salienta sua ênfase em cenas populares e objetos prosaicos, como forma de 
“ encanailler l’art\ Trata-se de uma mudança frente ao academicismo da ordem 
do conteúdo, porém não da forma — como pretendia, por exemplo, Charles 
Baudelaire, ao elogiar a modernidade de Constantin Guys. Mais próximos 
deste que daquele, “ peu importe aux impressionnistes que leurs sujets soient ‘ acutels Ils 
s’attaquent aux gares, aux nouveaux boulevarãs percés par Haussmann, aussi bien qu’aux 
pajsages intemporels de 1’Ile-de-France. [...] Pour des auteurs aussi avertis que Delacroix 
(le Journal), Baudelaire ou les frères Goncourt, le figurai A est pas exclu, mais il passe au 
second plan, ils partent de la confrontation des couleurs, décrivent la texture, la relation entre 
les formes et la sufaceP (p. 6) 

Mais especificamente, enquanto trampolim para a superação de uma e de 
outra alternativa, Clay observa a nova concepção do visível como algo não lisível, 
ou seja, liberto de todo intelectualismo, em um trecho longo, porém decisivo: 
“Derrière ce sensualisme un peu court ( mais qui n’en prefigure pas moins le formalisme du 
XXe siècle par son analyse des constituants matériels en travail dans le tableau ), ce qui se 
défait, c’est la subordination de la peinture au langage. II s’agit d’arracher— comme le dira 
bientôt Bergson — l’expérience immédiate aux prescriptions d’ une intelligence qui mesure et qui 
nomme. Ne prendre en compte dans la peinture que ce qui est nommable, c’est contraindre 
la sensation à s’enfermer dans le carcan du concept. Fe visible est ramené au lisible: le mot 
dicte ce qui est à vo ir (dans la n ature et dans le tableau ); les choses mdpparaissent aussi 
séparées dans le monde (et sur la toile j que les mots dans la phraseB (idem) 

Tal ruptura está na base da pintura impressionista, que se ocupa de um 
mundo instável, incomensurável, em que os objetos não possuem formas fixas 
ou separadas do mundo, mesclando-se ao ambiente, sem hierarquias espaciais. 
Citando Laforgue, Geffroy e Francastel, Clay considera esta inovação parte de 
uma nova mentalidade, de uma nova sensibilidade, fomentada também pelos 
avanços científicos, pelas modernizações urbanas etc. 

No que diz respeito à analogia com a literatura, Clay retoma a ênfase 




556 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


apaixonada dos literatos romanciers, poetes, critiques — [que] avaient perçu et décrit 
1’autonomie croissante des procédures picturales et rejeté au second plan le contenu narratif 
des oeuvres” (p. 8), citando a obra de Flaubert e dos Goncourt como exemplos 
desta influência cada vez maior da pintura sobre a literatura, “oü les destins êvoluent 
sans cause, et ne sont que 1’écoulement insensible des jours [...]. Tableau sans bord, le roman 
moderne est également sans relief.” (p. 9) 

Aprofundando este diálogo, que considera de mão dupla (tendo em vista 
a influência dos próprios escritores sobre os pintores, como de Flaubert em 
Cézanne, que dizia ver, após ter lido Madame Bovarj, uma cor azul avermelhada, 
ou um suposto “ ton Flaubert”), Clay sintetiza seu ponto de vista no seguinte 
trecho: “ Mais 1’analogie entre peinture et littérature va plus loin que ces connivences: cheg les 
écrivains comme che g les peintres, nous assistons à la déconstruction de 1’objet denote [...].!/ 
ne s ’agit plus tellement d’évoquer 1’intégralité de cette table ou de ce visage, mais des fragments, 
des miroitements, des effets de surface et de grain, des gros plans, des gones lumineuses qui 
brisent la cohérence anatomique ou tectoniqueF (idem) Cita, a seguir, trechos de Balzac 
e dos Goncourt, destacando de um ao outro a sistematização crescente das 
manchas de cor, a adjetivação do substantivo, a anteposição da qualidade ao 
objeto etc., numa leitura descritiva (B. Vouilloux) do impressionismo literário. 


CRESSOT, Marcei. La phrase et le vocabulaire de J.-K. Huysmans. Genebra: 

Slatkine, 2014. 

Em meio a um levantamento pormenorizado das inovações trazidas à 
língua francesa por Huysmans, Marcei Cressot discute brevemente o papel 
da écriture artiste em sua criação verbal, explorando a relação entre ela e o 
Impressionismo. Opondo-se à visão de Brunetière, para quem é possível falar 
em um impressionismo literário, Cressot afirma: “Fe mot le plus important de ces 
receites est constitué par ce qu ’on designe sous le nom d’impressionnisme; ce mot ne représente 
pour nous aucune école littéraire, ni même une esthétique qui ne consisterait que dans ‘une 
transposition systématique des mojens d’expression d’un art, qui est l’art de peindre, dans le 
domaine d’un autre art, qui est l’art d’écrire ’ [Brunetière] . Nous utilisons ce mot avec le sens 
strict qui lui a donné M. Ballj: Fe phénomène est saisi dans une impression immédiate comme 
un fait simple des causes [...], c’est le mode ddperception phénoméniste ou impressionniste. 
(p. 14) Disto resulta uma menor ênfase no agente- sujeito e um maior uso da 
construção impessoal. “Du moment que 1’agent-sujet est effacé, 1’objet será volontiers 
considéré comme le thêatre d’ une activité interne [...]. F’état aura tendance à se transposer en 
activité et en devenir.” (p. 15) 

Segue-se a tais definições sumárias, embora úteis, uma enumeração de 
processos estilísticos caros à écriture artiste\ a troca do adjetivo pelo particípio; o 
uso preferencial de substantivos — ou da substantivação de verbos e adjetivos 

( '“F’impressionnisme •, négligeant le rapport de cause à effet, s’en tient aux données im medi ates 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


557 


de la sensation [...]: le substantif correspond à ce mo de d’aperception immédiate, alors que 
1’adjectif suppose dejà une élaboration intelectuelle et le classement du phénomène dans une 
catégorie abstraitê\ p. 16); o uso sistemático do advérbio na função do adjetivo; 
a eliminação do gerúndio; o uso do plural perifrástico etc. (para uma lista 
completa, cf. sobretudo “Matériel grammatical etEcriture artiste ”) 

Em suma, “ l’impressionnisme a des faits une vision une; il prefere la métaphore, 
synthèse immediate, à la comparaison qui, elle, est une opération analytique à deux temps. 
E’impressionnisme enfin se manifeste dans la structure de la phrase elle-même. Ees faits y sont 
présentés, non plus sous la forme d’un jugement qui reconstitue une suit logique, mais dans 
1’ordre de 1’apparition des faits ou des sentiments à 1’esprit du personnage. 11 en résultera une 
rupture de 1’ordre logique: antéposition ou postposition anormales. Qui plus est, parce que 
la phrase impressionniste n 'est pas la traduction d’un jugement formé, mais d’ une pensée qui 
affecte de se chercher, le mot se trouve comme en suspens, isolé, libéré de songroupe syntactique. 
Ayant sa vie propre, considéré independamment de 1'équilibre des masses, il devient un centre, 
constituant un petit tableau dans le tableau le plus large qu’est la phrase. Ea subordination 
causale fait place à la juxtaposition dans le temps et dans 1’ espace; au lieu de s’articuler 
entre eux, les faits s’encadrent les uns dans les autres. Ea notation de calepin, 1’assyndète, le 
pointillisme, 1’absence du verbe traduiront la rapidité et la acuité de la sensation, et surtout le 
caractere fragmentaire de la vision.” (p. 17) 


DÉCAUDIN, Michel. Poésie impressionniste et poésie symboliste, 1870-1900. 

Cahiers de 1’Association internationale des études françaises, Paris, n. 
12, p. 133-142, 1960. 

Recuperando alguns lugares-comuns sobre o impressionismo pictórico, 
Décaudin observa a situação oposta de sua aplicação à literatura — “ Rien de plus 
confus, au contrair e, que la notion d’impressionnisme lorsqu’elle est appliquée à la littér ature” 
(p. 133) — e observa a mescla do impressionismo pictórico ao simbolismo 
poético nos textos de críticos e historiadores oitocentistas que se ocuparam 
da questão: “ oubliant 1’existence d’une école symboliste en peinture, oubliant aussi que 
Zola avait défendu Manet autant que Mallarmé ou Eénéon, ils ont été de ce fait conduits à 
considérer 1’impressionnisme en littérature comme un aspect particulier, une frange indécise du 
symbolisme.” (p. 134) Como exemplo, indica, sobretudo, o estudo de Ruth Moser; 
e limita-se, por sua vez, a indicar o parentesco distante entre o naturalismo e 
o impressionismo literário. Na poesia, porém, indica uma proximidade maior, 
visível em poemas de Verlaine, Paul Arène, Paul Demeny, Gustave Kahn, Henry 
Detouche, Morèas, André Gill e Tristan Corbière. 

Décaudin observa ainda as menções ao impressionismo literário presentes no 
romance Dinah Samuel , de Félicien Champsaur, e, a seguir, apresenta o núcleo 
de seu argumento (demasiado próximo do de autores como Alonso): “Ea nature 
même de cette esthétique est ici en cause. On doutera qu’il soit per mis à un poete de n’être, 




558 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


selon la formule ãu peintre, qu’‘un oeil, une main ’ [...]; le mot est toujours chargé á’un contenu 
affectif ou intellectuel, il ne réduit pas à la pure sensation que provoque la tache colorée: peut- 
il atteindre aux mêmes effets? [...] Uimpressionnisme pur est, dans les arts du langage, une 
gageure: c’est pourquoi on le voit si souvent se fondre dans d’autres tendances (p. 139) 
Trata-se, pois, de uma visão negativista do impressionismo literário, pautada 
apenas em seu valor estilístico, claramente desajustado, enquanto texto, à 
imediaticidade da tinta. Assim: “Tantot il vire au simple pittoresque et s’apparente à 
la brando e mineure du P ar nas se quHllustrent les dixains ré alistes de Coppée [...]. Tantôt, il 
sdttache à rendre les nuances les plus subtiles et les plus raffinées de la sensation ; il rejoint 
alors certaines formes de la sensibilité décadente naissante.” (p. 139) 

Por fim, sinaliza ainda a diferença elementar entre o impressionismo e o 
simbolismo enquanto arte do real e do ideal, respectivamente. 


DUBOIS, Jacques. Romanciers français de 1’Instantané au XIXe siècle. 

Bruxelas: Palais des Académies, 1963. 

A presente obra consiste de item de grande importância para o assunto, uma 
vez que cogita amplamente o instantaneísmo sensorial do romance francês 
oitocentista e faz uma discussão particular do mesmo, ao capítulo V, sob a 
questão “Romanciers de 1’instantané ou impressionnistes?\ 

Para Jacques Dubois, ultrapassando a mera terminologia, trata-se “d’une 
certaine étape artistique de la France.” (p. 153) E, a partir da discussão de Pierre 
Francastel (1965) segundo a qual há duas perspectivas na pintura ocidental — 
aquela da Renascença (“qui faitvoirle sujet d’un point de vue eloigné et conventionneF') e 
aquela do impressionismo f qui, physiquement comme psychologiquement, est rapprochée, 
qui aiguise le regard sur de minimes détails”) — , avança um paralelo da perspectiva 
impressionista com o romance finissecular: “ Tout dénote une sorte de traduction 
fragmentaire et immédiate qui caractérise d’ailleurs 1’ensemble de la toile. Cette ‘imperfection ’ 
générale en même temps que 1’acuité de certaines notations et les effets de perspective créent 
1’impression d’un contact direct, intime. Voilà déjà qui nous rappelle nos romanciers.” (p. 
154-155) 

Assim, certo da semelhança entre o intimismo sensorial e psicológico comum 
aos pintores impressionistas e o romance de então, e já em tom de conclusão, 
Dubois afirma, pouco à frente: “En conclusion, et pour autant que les critiques que je 
viens de citer aient bien vu les choses, ne serait-il pas tout indique de voir dans les romanciers 
de 1’instantané les compagnons de route de des peintres impressionnistes ? Ce que ceux-ci 
appliquent à 1’ espace du tableau, ceux-là 1’introduiraient dans la durée du roman. C’est, 
tout d’abord, une mise en forme fragmentiste, que l’on observe aussi bien chet r Manet et 
Degas que che \ les Goncourt et Vallès. [...] C’est le commencement d’un rendu immédiat 
qui, sdgissant des littérateurs comme des peintres, consiste aussi à donner du relief à certains 
détails, à analyser certaines impressions, afin de retrouver les données d’ une saisie première. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


559 


[...] Tant de traits de ressemblance nous autorisent sans doute à étenãre au roman la notion 
d’impressionnisme .” (p. 157) 

No entanto, observa que tal comparação é puramente operatória, e não 
esconde o fato de que aproxima duas artes distintas, cujos procedimentos 
técnicos partem de pressupostos diversos. Mais especificamente, Dubois assinala 
dois empecilhos para a extensão do termo “impressionismo” ao romance: a 
imediaticidade da visão impressionista, ainda que preencha o espaço pictural, 
não dá conta de preencher as exigências do romance, “sa durée et son intrigue ” (p. 
159); e, aplicado à literatura, o termo reveste-se de uma profusão de significados, 
que dificultam seu uso. (idem) 

Discutindo o impressionismo na poesia a partir de Romances sans paroles , de 
Verlaine, Dubois observa que a própria natureza da construção poética implica 
certo rebuscamento técnico do verso (ainda que mínimo), o que impede a 
instantaneidade integral: “ Cela revientà constater qu’ entre poetes et romanciers de tendance 
proche l’assimilation est impossible, tout comme entre peintres et romanciers: si l’on se risque 
à parler d’impressionnisme poétique, on ne pense encore une fois qu ’à une orientation três 
générale de la sensibilité et de la visée esthétique .” (p. 1 63) Assim, aponta a existência de 
elementos instantaneístas na poesia de Laforgue, Verlaine, Rimbaud e Mallarmé 
(“ notations immédiates, images inattendues, liaisons subjectives, mouvement discontinu, 
mobilité, aperçusr (p. 165)) 

Já na prosa, o autor faz um breve inventário de seus primeiros comentadores 
(Brunetière, Koelher, Loesch, Wenzel, Melang, Kleinholz, Ricatte), criticando 
a abordagem puramente estilística da questão: “II est faux de croire que certains 
types sjntaxiques puissent être impressionnistes en eux-mêmes et de nature à fonder la notion 
d 'impressionnisme. (p.170) A seguir, lamenta a estreiteza dos estudos sobre a 
questão, sempre endereçados à análise do impressionismo em determinado 
escritor; e elogia os estudos amplamente comparativos de Hatzfeld e de Moser. 

Por fim, Dubois faz um apelo à revisão do impressionismo na literatura, 
demarcando a parcialidade das leituras feitas até então: “Le rôle qu ’il joue dans 
1’histoire du roman méritait d 'être precise: nous avons vu qu’un instantanéisme l’j représentait 
— s’il est besoin de mots en — isme .” (p. 173) 


DUMORA, Florence. Uimpressionnisme entre guillemets. In: GENGEMBRE, 
Gérard;LECLERC, Yves;NAUGRETTE,Florence (Dir.). Impressionnisme 
et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
27-35. 

Estabelecendo uma breve comparação inicial entre o barroco e o 
impressionismo, a autora passa a discutir o sentido limitado — e sempre entre 
aspas — do impressionismo literário. Na esteira da análise “ phénocentristê ’ de 
B. Vouilloux, E. Gombrich e P. Francastel, Dumora destaca a importância 




560 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


das definições aproximativas e vagas do termo impressionismo desde seu 
nascimento, seja no título do quadro “Impression, soleil levanf de Monet, seja 
nas definições apressadas das crônicas de Leroy e Castagnary. Desta forma, 
aplicado à literatura, o termo torna-se ainda mais limitado: “On peut donc baptiser 
impressionniste une littér ature a fortiori une critique, qui s’attache à 1’impression sans recourir 
au concept ou à la pensée causale, hors de toute émulation avec Monet, Kenoir ou Debussy.” 
(p. 31) A herança pictórica deixada ao / no texto literário torna-se contraditória, 
uma vez que “ l’impressionnisme littéraire hérite donc de 1’impressionnisme pictural aussi 
bien le plus subjectif que le plus objectij: point de vue et partialité de l’impression d’un côté, 
impersonnalité et factualité de ‘notations détachées’ de 1’autre. [...] D ’oü le paradoxe apparent 
lié à la possibilité de soutenir à la fois que le tableau impressionniste ne fait pas dans le détail, 
et que c’est l’art du détail qui signe le texte ‘ impressionniste (idem) Por estas razões, 
Dumora estende suas ressalvas ao impressionismo literário à observação de 
E. Gombrich, para quem é literalmente impossível ver uma impressão visual, 
e conclui: o “impressionismo” literário deve ser assim indicado, com aspas, (I) 
por pura menção ao impressionismo pictórico; (II) por acepção figurada ou 
metafórica (tal como é possível falar de certo “impressionismo” em Velasquez); 
ou (III) por aproximação, “pour rappeler l impropre, qui signifie autant ce qui n’est 
pas approprié que ce qui est figuré sans propre identifiable .” (p. 35) Sendo literalmente 
impossível ver uma impressão (Gombrich), o mesmo ocorre com uma 
imagem qualquer, como já demonstrado pela Fenomenologia. Neste sentido 
(propositalmente limitado, a fim de acompanhar o sentido estrito da reprodução 
de uma impressão, seja pela literatura seja pela pintura), tampouco se poderia 
chamar um quadro de impressionista. 


FIXOT, Anne-Marie. Une conclusion «impressionniste». In: A T. TE M A ND, 
Sylvain; BEST, Francine; FREMONT, Monique (Dir.). Une normandie 
sensible: regards croisés de géographes et de plasticiens. Caen: Presses 
Universitaires de Caen, 2012. p. 139-143. 

Balanço do colóquio realizado em Cerisy acerca da relação entre a geografia 
normanda e as artes plásticas, que demonstra o uso vago — e intencionalmente 
sem propósito definido — do termo “impressionismo” ainda hoje. 


FOCILLON, Henri. Lfimpressionnisme. In: . La peinture au XIXe et 

XXe siècles: du réalisme a nos jours. Paris: Renouard; H. Laurens, 1928. 
p. 200-227. 


Sobre este livro de Focillon, comenta Jorge Coli: “en essayant de rendre compte 
de son sujet de la manière la plus encyclopédique possible, le texte ne perd jamais sa puissante 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


561 


unité et ne sombre jamais ãans le manuel-inventairel ’ (p. 193) De fato, as breves 
observações de Focillon nele presentes sobre o impressionismo pictórico 
sugerem tal unidade, a começar por sua definição do mesmo: “ Uimpressionnisme 
n’est pas un mouvement d’école, appuyé par des theóries. C’est 1’expression forte et vivante 
d’un moment de la sensibilité française, un rajeunissement de la peinture, moins de procédés et 
d’idées que cVinstinctP (p. 200) 

Para Focillon, ao captarem a dinamicidade da vida sob as nuanças da luz, os 
maiores poetas líricos do fim do século XIX foram os pintores impressionistas, 
e não os próprios poetas: “ Tout est aspect mobile, écoulement, diversité, passage; chaque 
être vivant est une succession de phénomènes, un jeu d’apparences en mouvement. La règle 
d’or qui les ordonne, le milieu qui les contient et qui les stimule, c’est la lumièreP (p. 203) 
Enumera, a seguir, algumas das técnicas resultantes desta regra — a pintura en 
plein air , o uso dos tons homogêneos (i.e., não misturados na paleta, mas sim na 
retina, enquanto “ mélange op tique”) etc. 

Sua conclusão posterior, de que o impressionismo é uma arte decorrente 
de uma tradição francesa de pintores (Corot, Boudin, Díaz), possuindo apenas 
algumas notas e sugestões inglesas (Turner, Constable) e japonesas (Hiroshige, 
Hokousai), pode ser vista como um contraponto saudável a textos como os de 
Dewhurst (1904). 


FORESTIER, Louis. Maupassant et lTmpressionnisme. In: DESJARDIN- 
MENEGALLI,Marie-Hélène(Coord.).Maupassantetl’Impressionnisme. 
Une vie des oeuvres. 2 ed. Fécamp: Musées Municipaux de Fécamp, 1996. 
Catálogo de exposição, 22 mai- 22 jul 1 993, Musées Municipaux de Fécamp. 
p. 15-51. 

Forestier avalia como que tangencialmente o impressionismo de Maupassant, 
indicando suas críticas de arte, suas relações pessoais com pintores, suas 
descrições da vida moderna (gares , trens, multidões) etc. Para tanto, cita trechos 
de Une vie , Fort comme la mort , Notre coeur, e tece paralelos diretos entre trechos 
descritivos dessas narrativas e diversas telas de Monet, Degas e Renoir, dentre 
outros (cores, movimentos, temas). Sua conclusão soa igualmente vaga e não 
toca na questão do que distinguiria o impressionismo literário no autor: “ Sa force 
est d’avoir partagé avec les peintres un goüt immodéré du plein air, un ravissement devant la 
lumière et ses jeux, un sentiment aigu que tout est mobilité, passage et devenir ” (p. 31) 


GIBBS, Beverly Jean. Impressionism as a literary movement. The modern 
language journal, Newjersey, v. 36, n. 4, p. 175-182, abr. 1952. 

Trata-se de texto limitado pelo propósito demasiado amplo que busca 




562 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


atingir, sem explorar a profusão de autores que cita. Nele, a fim de avaliar o 
impressionismo enquanto movimento literário primário, a autora propõe-se a 
discuti-lo, inicialmente, enquanto movimento secundário, derivado do realismo 
e do naturalismo. Assim, retoma lugares comuns de definição sobre estes dois 
últimos, e observa, a seguir, suas diferenças para com o impressionismo literário, 
das quais destaca a presença da sensação como diferencial subjetivo de si perante 
o realismo, acompanhada da descrição objetiva, quiçá realista, da mesma Ç‘Once 
the sensation has been received, it is this ivhich becomes objectivelj contemplated and describeâ\ 
P-176). 

A seguir, cita uma série de definições do impressionismo literário a partir de 
outros autores sem, infelizmente, estabelecer um ponto de equiparação entre 
si. Da mesma forma, propõe-se a avaliar as diferenças entre impressionismo e 
expres sionismo com base em premissas fracas: “I should like to state that ivhat the 
artist receives from the material ivorld shall be knoim as impressionism, and ivhat the ivorld 
receives from the artist, as expressionism (idem) 

O mesmo procedimento incompleto é o que utiliza para discutir a natureza 
(não) impressionista da linguagem, retomando tout court Bally, A. Alonso e R. 
Lida. Pouco se pode acrescentar relativamente às suas análises de trechos dos 
Goncourt, de Daudet e de Miró (que considera o autor impressionista por 
excelência) . 

Este texto pode ser encontrado na base restrita de dados do JSTOR. 


GODEAU, Florence. Peindre 1’ephémère: Marcei Proust, Virginia Woolf et 

Flmpressionnisme. In: CLÉDER, Jean; MONTIER, Jean-Pierre (Dir.). 

Proust et les images: peinture, photographie, cinéma, vidéo. Rennes: 

Presses Universitaires de Rennes, 2003. p. 39-50. 

Para a autora, Woolf e Proust compartilhavam uma sensibilidade próxima 
àquela do Impressionismo, “dans leur imaginaire aux pajsages et à Vatmosphère de 
leurpropre jeunesse, même s’ils furent aussi, en qualité ddmateurs éclairés, particulièrement 
attentifs aux mouvements ultérieurs, et notamment à la double rupture qidintroduisirent dans 
les domaines des arts plastiques 1’abstraction et le cubisme (p. 39) Cita a preferência 
de Woolf por pintores como Whistler, Sisley, Monet e Seurat, assim como a de 
Proust por Monet, como forma de introduzir o assunto de seu estudo: o uso 
das referências pictóricas nos textos de ambos (com destaque para aspectos 
diversos de trechos descritivos). 

De início, observa uma mesma preocupação de Woolf e Proust pela “pintura 
do efêmero” como herança bergsoniana: “ Chacun à leur manière, ils ont cherché à 
traduire poétiquement dans le tissu de leur narration Finstant de la sensation, c’est-à- 
dire 1’insaisissable par excellence, le toujours et encore déjà passé.” (p. 40) De um lado, 
destaca a ênfase de Woolf na análise pormenorizada da consciência, visível em 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


563 


Mrs Dalloimy, To the lighthouse e Between the acts , em que “une multituãe ã’événements 
se voient concentres à 1’intérieur ã’une seule journée ; le temps raconté, comme distendu, inscrit 
l’expérience temporelle fictive dans un réseau complexe de sensations et Áímpressions, oü 
la conscience de chaque personnage est le point de rencontre d’un instant et d’ une émotionP 
(p. 42) De outro, destaca “la disjonction jatidique entre 1’impression et son expression ” 
em Proust, marcada pela lenta tradução de uma paisagem ou personagem pela 
memória do narrador, ao longo da Kecherche. (idem) Entre ambos, Godeau 
distingue a centralidade de uma só consciência em Proust e “le polyperspectivismi' > 
de Woolf, mediante o uso de uma voz narrativa que opera jogos metafóricos 
com diversas consciências simultaneamente, (idem) 

A seguir, a autora analisa uma passagem da Kecherche em que o narrador se 
debruça sobre sua impressão fugaz de uma caminhada ao redor de Méséglise, 
ao ver o sol despontar após a chuva. Para ela, neste trecho, o uso do pretérito 
imperfeito opera uma mediação pictórica, transformando o texto em uma “tela”, 
cujas manchas de cor correspondem a aliterações : “Tes éléments du ‘tableau ’ (décrit 
à 1’imparfait, qui marque ici une sorte de présent dans le passé, dans la mesure oü sa valeur 
durative permet de suggérer un temps comme suspendu, un instant miraculeusement prolongé) 
sont réduits à leur expression la plus simple: la cahute converte d’un toit de tuile, la mare, 
et enfin la poule dont le duvet ébouriffé donne au lecteur un équivalent visuel de la sensation 
tactile du vent qui soufflé, comme lui donnent cette sensation les mots emplojés par Proust (en 
lieu des touches de couleurs pour le peintre), choisis pour leur richesse allitér ative associant 
liquides et fric ative sT (p. 44) 

Neste sentido, Proust compartilha a mesma fixação pelos fenômenos naturais 
de Monet e Woolf (Godeau assinala, inclusive, uma fixação por objetos de vidro, 
associados à reflexividade prismática da água), revelando-se caracteristicamente 
impressionista: “En fait, 1’écriture de Proust est impressionniste parce qidelle se donne pour 
hut de traduire non pas seulement un instantané, mais une impression suhjective, irréductihle 
à aucune ‘ réalité ’ empinque. Pden de moins réaliste que la peinture impressionniste, rien de 
plus subjectif, au contraire, que celle-ci, ce qui explique, du reste, la différence essentielle qui 
separe un Monet d’un Kenoir, un Seurat d’un Camille Pissarro, par-delà 1’hjpothétique 
identité des ‘mojens’ mis en oeuvreP (p. 46) Sem admitir possíveis nuanças a tal 
hipótese — defendida e combatida igualmente por muitos outros comentadores 
de Proust — , Godeau admite como nova evidência do impressionismo de Proust 
sua escrita dinâmica, “en prenant le parti de la jugaáté de Pinstant, jugacité qu’il traduit 
non par la spontanéité de la touche, mais par le biais d’ une description essentiellement mobile 
et changeante, décrivant en quelque sorte Pinstabilité mêmeP (idem) 

No que diz respeito a Woolf, Godeau destaca em seu conto “Kew GardenT as 
referências cromáticas, o léxico “comme des touches qui seraient reproduites à 1’identique 
sur la toile ”, a acumulação de frases em polissíndetos etc. Assim, configura-se o 
caráter impressionista do texto, paralelo ao da pintura, “exactement comme dans une 
toile de Claude Monef\ repetindo as cores primárias, em meio ao movimento da 
folhagem das árvores, (idem) 




564 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Por conseguinte, tanto Woolf quanto Proust devem ser vistos como autores 
impressionistas, uma vez que preocupados com as modulações da luz, com as 
variações atmosféricas e com a tradução literária de fenômenos simultâneos. 
Neste sentido, a literatura pode ser até mesmo mais impressionista que a pintura, 
dado que não “fixa” as cores em uma tela, paralisadamente, mas as evoca ao 
longo da narrativa, fugaz e gradativamente: “ Uécriture narrative — plus aisément 
que la peinture, füt-elle ‘impressionniste’ —, parce qiTelle dit sans trêve la juite du temps et 
se confond avec elle, peut faire sentir au lecteur, par le flux qui l’emporte d’ une sensation à 
l’autre, d’un mot à l’autre, l’éphémère, le mouvement perpétuel, la flugacité de 1’instant. D ’un 
côté, un moment privilégié se voit fixé dans une toile qui restitue par le jeu des couleurs un 
effet de vibration rétinienne, la correspondance entre primaires et secondaires [...]/ de 1’autre, 
ce moment (plus souvent surgi du passe que ‘sai si’ ou ‘brossé’ sur l’instant ) se développe 
au fil d’une phrase courant d’une métamorphose à l’autre, saisissant à mesure, selon un 
mouvement fluide, les infimes variations inscrites au coeur d’ un instant de vie [...]. Rivalisant 
avec la peinture, la description s’ animem recourt à ses mojens propres qui lui octroient la 
possibilité non seulement d’une traduction plastique de la réalité visible exclusivement par 
Toeil intérieur, mais aussi d’ une traduction sonore, animée et tridimensionelle de cette vision, à 
laquelle s’ajoute encore une dimension supplémentaire, beaucoup plus dijflálement saisissable 
par la peinture: celle du Temps” (p. 49) 

Percebe-se, pois, o caráter unívoco de argumentação da autora, que chega 
mesmo a inverter as relações entre Impressionismo pictórico e literário ao 
considerar este mais autêntico ou mesmo superior àquele. Evidentemente, seria 
um despropósito defender com tamanha ênfase tal inversão. Não obstante, 
enquanto leitura extremada de uma estética muitas vezes compreendida a partir 
de outras — sobretudo, na literatura — , o texto de Godeau pode ser de interesse 
introdutório ao assunto (na qualidade de negação de negativas). 


GUNSTEREN, Julia von. Katherine Mansfield and literary impressionism. 

Amsterdam; Atlanta: Rodopi, 1990. 

Ainda que se trate de estudo algo superficial sobre o impressionismo 
literário, é de interesse, sobretudo, a primeira parte de seu estudo, em que 
avalia o impressionismo na pintura e na literatura. Nele, começa por levantar 
paralelos entre ambas (“ obscuration of vision ” , “ transience of reality”') e sintetiza, algo 
obscuramente: “ The purpose of Titerarj Impressionism is to render the sensory nature 
of lifle itselfl, especiallj to make the reader ‘see’ the narrative described.” (p. 17-18) Não 
obstante, insiste na relatividade dos dados sensoriais e no tratamento narrativo 
dos mesmos, com propriedade: “ The logic of literarqy impressionism suggests that the 
correspondence betiveen perception of the factors and interpretation of the signals is never 
certain and that reality is always inscrutable. Titerarj Impressionism involves a constant 
aivareness that anj description of reality depends upon the clarity ivith ivhich it is perceived, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


565 


apperceived or unãerstooãP (p. 18) 

Apesar de algumas impropriedades na descrição da relação entre narrador 
e personagem, a autora destaca a importância do ponto de vista narrativo e 
da paralaxe para o impressionismo literário. E, à maneira de Stowell, de 
quem recupera boa parte de sua discussão acerca da dimensão filosófica do 
impressionismo (i.e., seus pontos de contato com a durée bergsoniana e com a 
fenomenologia), começa a enumerar diversos de seus elementos mais comuns. 

E de destaque, sobretudo, seu levantamento do conceito de impressionismo 
literário, sua origem e desenvolvimento, do final do século XIX ao fim do 
século XX, em que são apresentadas as leituras de Brunetière, Gilbert, Desprez, 
Juleville, Spronk, Balir, Grottewitz, Lamprecht, Lemke, Hamann, Kõhler, 
Hoppe, Melang, Brõsel, Thon, Bally, Richter, Alonso e Lida, Warren Beach, 
Madox Ford, Hauser, Sommerhalder, Diersch, Overland, H. Howard, Ilie, 
Brown, Kronegger, Werner, Paulk, Kirschke, Nagel, Stowell etc. E ainda digna 
de nota sua conclusão: “In the final analysis this chronological survey of the dijferent 
concepts and descriptions of Titerary Impressionism reveals three possible currents ivhich 
may be important for future research. Firstly, the concept of Uterary Impressionism may 
be based on a par aliei ivith social, philosophical, artistic (e.g. painting and music), political 
and economic conditions, and described ivithin a period concept. Secondly, it may be analysed 
formally as a stylistic classification, using grammatical and lexical indexes. Thirdly, fusing 
the two possibilities, it may be analysed, described, and codified as an aesthetic ‘ivill to style’. 
Keference may be made to foreground indexes as to narrative methods, themes, structure, 
characteri^ation and imagesP (p. 50) 

Finalmente, ao dar sua própria definição de impressionismo literário — “At 
the centre of Literary Impressionism aesthetics is the act of perceiving the outside world 
and the manner in which it is perceivecT (p. 52) — a autora retoma o argumento de 
Stowell (autor a quem dirige diversas críticas no levantamento prévio) segundo 
o qual a percepção individual da personagem no universo diegético, em todas 
as suas nuanças, é o elemento central da crítica impressionista ao realismo, 
decompondo a realidade em flashes de consciência. Assim: “The Impressionisfs 
only responsability is to render a character’s reactions to the externai stimuli as truthfully as 
he canT (p. 52) Algo contraditoriamente, repete a seguir os mesmos argumentos 
que embasam a “atomização do mundo” de Maria Kronegger (embora seja 
outra autora bastante criticada anteriormente) e defende elementos temáticos 
próprios ao impressionismo literário (embora critique tal veio de análise nos três 
vieses interpreta tivos levantados acima): sua atenção à percepção fragmentada e 
gestáltica de personagens o mais das vezes passivos; a centralidade das epifanias 
dessas personagens nos textos impressionistas, que suspendem o fluxo temporal; 
a ênfase em impressões e imagens transitórias, que conferem uma atmosfera 
de vagueza ou de incerteza ao conjunto (i.e., na percepção bruta e inicial dos 
objetos, à maneira da apercepção da teoria da Gestalt) etc. 




566 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


HANNAH, Daniel. Henry James, impressionism and the public. Surrey, 
Inglaterra: Ashgate, 2013. 

Revisando diversos autores da fortuna crítica de James, bem como passagens 
isoladas de suas obras, há interessantes momentos deste livro que dizem respeito 
ao impressionismo literário — ou, antes, a “ his centering of narrative and identity in 
the experience of impressions (p. XI) 

Há mesmo certa afinidade entre a concepção de público de Henry James 
e aquela de Domício da Gama: “ The public is, for James, a torn and complex space, 
naming, at once, a body of readers, a polítical realm of democratic negotiation, and a space 
of threatening exposure and exhilarating socialiyationT (p. XII) 

No entanto, em meio à etimologia do termo “impressão”, à herança 
filosófica de Hume e de Locke, à influência de Pater, ao manifesto relativamente 
impressionista de James em The art of fiction etc. (e que fazem de seu livro uma 
leitura talvez essencial para o impressionismo em James, com destaque para 
o levantamento e discussão de textos importantes como as entradas de nove 
de janeiro e de 25 de abril em seu diário), trechos isolados concernentes ao 
impressionismo literário são dificilmente destacáveis da discussão geral. De fato, 
Hannah observa duas grandes tendências interpretativas do impressionismo 
literário — enquanto descrição textual de elementos visuais próprios à pintura 
(Kirschke, Kronegger, Torgovnick) e enquanto fragmentação subjetiva do ponto 
de vista narrativo — , assinalando seus limites: “[...] these formal and someivhat abstract 
effects of impressionism cannot be divorced from the impression’s (and impressionability’s) 
evocation of the historically specific public sphere in which these effects circulatedT (p. 12) 
Assim, ao discutir um romance como What Maisie knew , liga à personagem 
a posição periférica de James ante os gostos cada vez mais fluidos do público, 
e aprofunda contextualmente o debate entre o suposto imoralismo do tema 
(perda precoce da inocência). 


HATZF EL D, Helmut. Literature through art: a new approach to French 

literature. Oxford, Inglaterra: Oxford University Press, 1952. 

Haztfeld, em seu influente estudo sobre o impressionismo (que mescla ao 
simbolismo), tece sobre ele importantes considerações nos tópicos “ Triumph 
of description over narration ” e “ Psychic obsession”. No primeiro, tece comparações 
entre Courbet, Corot e Flaubert, e entre Monet e Verlaine, dizendo que, no 
sentido filosófico, toda forma de realismo pode ser chamada de impressionista, 
dada sua atenção à vida cotidiana e sua nova concepção de natureza, subjugada 
à percepção. Assim: “ Impressionism in literature, coinciding to a certain extent mth 
symbolism, means: primacy of atmosphere, musique rather than topic; unconscious 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


567 


transfiguration, not studies of eloquence [...]/ impressions of plein-air [...], that is, refine d 
response to nature; concentration on the nuance [...], that is, suggestive art; effacing of 
contours [...], that is, no logically constructed sentences; shading [...], that is, metaphors 
rather than similes; suppression of single, discursive elements [...}, generally effecteâ bj the 
nominal style mthout clarifying verbs .” (p. 169) Seguem-se exemplos de Maupassant, 
Loti, Baudelaire etc. 

Tais elementos, bem como tal definição, parecem bastante embasados na 
leitura pioneira de Brunetière (impressionismo literário como transposição do 
pictórico), e é de surpreender que sejam tão prontamente defendidos ainda 
na década de 1950. Feita tal ressalva, é importante observar que a mediação 
dessa ampla definição de impressionismo nas artes na mesma década de 1950 (é 
Verlaine quem serve de modelo a Hatzfeld como exemplo de literature through art) 
foi decisiva para a revisão dos aspectos puramente literários do impressionismo 
nas décadas seguintes. 


HAY, Eloise Knapp. Proust, James, Conrad, and Impressionism. Style, DeKalb 

(Estados Unidos da América), v. 22, n. 3, p. 368-381, outono 1988. 

A autora recupera a ênfase dos três autores enfocados no aspecto visual da 
literatura a partir de um erro de citação presente no célebre texto de Ford sobre 
Conrad (finalidade da literatura como “ before all to makeyou see”, atualizada para 
“ above all to makeyou see”), como deslocamento de uma questão de sequência para 
outra de importância. A autora pergunta-se, assim, qual dessas duas alternativas 
seria aquela que orienta a relação entre os dados sensoriais f impressions”) e os 
demais conhecimentos. 

Retomando o papel revolucionário dos pintores impressionistas (e, por 
extensão, de Elstir), a autora observa: “Truth to life as an aim, rather than play 
of imagination, distinguishes the artistic purposes of Proust, James, Conrad, and the 
Impressionist painters as well” (p. 368) A seguir, mostra o quanto tal propósito 
vai de encontro à reflexão de Mallarmé e na direção contrária aos argumentos 
de Brunetière, e discute particularidades do impressionismo em cada um dos 
autores (Conrad, Proust, James), bem como sua diferença geral para com a 
pintura impressionista: “ The stress here on the immobility of the object recaptured 
is ivholly different from the Impressionists’ object captured and in motion or in a state of 
transience. Not that for Proust, Conrad and James impressios work less powerfully, amid 
all these allusions to extra-temporality, but that something needs to be known ivhich the 
Impressionists, realists, and naturalists have neglected.” (p. 371) 

Assim, salientando o repúdio comum pelo tratamento superficial da realidade, 
enquanto mera captura de instantâneos fugazes (exemplificados pela obra de 
Daudet), e enfatizando o aspecto aristocrático subjacente à lenta recuperação da 
impressão como forma de cultivo pessoal e social (exemplificado pela fixação 




568 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


nobiliárquica do protagonista da R echerchê), a autora chega à conclusão negativa 
acerca do diálogo entre o impressionismo dos três autores e seu correlativo 
pictórico, demarcando o desapreço dos três pela realidade sensorial aparente e 
sua busca por algo mais real que o real: “AU three novelists refute the impressionists’ 
premise that ideas and secondarj reflections derived from lively first impressions are less ‘real’ 
than sense impressions, that ideas are simply faint recollections of ‘real’ sensory data. As we 
have seen, James, Conrad and Proust led their readers to conceptual questions ahout a truth or 
reality more real, poiveful, and essential than any accessible to simple sensations.” (p. 378) 


HIBBARD, Addison; FRENZ, Horst. The impressionists. In: . Writers 

of the western world. 2 ed. Boston: Riverside Press Cambridge, 1954. p. 
1109-1166. 

Discutindo o impressionismo literário, os autores ponderam algumas de 
suas dificuldades: “ Impressionism is one of the most vaguely understood literary tempers. 
In its simplest sense, impressionistic literature is ivriting ivhich records chiefly the artisfs 
impressions of a scene, a character, an incident. It makes its appeal largely through the 
senses by its concern ivith feeling, ivith emotion. Narrative and plot are subordinated to mood, 
and effect becomes all-importantP (p. 1109) E chegam à definição do que consideram 
sua essência: “ The essence of impressionism, thus understood, is perhaps its emphasis on the 
revelation of the momentP (idem) 

Assim, à imitação da natureza, o impressionismo literário opta pela 
interpretação da natureza humana. Fatos e detalhes são utilizados quando 
em harmonia com a atmosfera pretendida pelo autor (o que confere um ar 
biografista para a interpretação de Hibbard e Frenz): “Por impressionism shoivs us 
ivhat ive see as colored by the mind and mood of the artist .” (p. 1110) 

A este respeito, mencionam a atenção pela cor e pelos efeitos cromáticos na 
obra de Pierre Loti. 

Ademais, para ambos, os literatos impressionistas aprenderam três coisas 
da pintura correspondente: (1) “to brake a scene or a situation into small parts and 
relate them to the ivhole anenT\ (2) “an emphasis upon salient features and an omission 
of details unrevelated to that particular effect ” ; (3) “present their material as they see, or 
feel, it at a particular momenP . Trata-se, pois, de uma hipervalorização reflexa 
do sensorialismo na literatura: “Impressionistic ivnting is directed toivard presenting 
emotions, feelings, individual attitudes’.’ (p. 1111, grifos dos autores) 

Os limites da leitura de Hibbard e Frenz são melhor visualizados em trechos 
como este, em que comparam o impressionismo literário a uma forma enfática 
de realismo diretamente herdada da pintura: “Impressionism is realism ivith a special 
emphasis; only those elements and details are selected ivhich serve to build up the dominant 
sensation and to communicate the desired impression. [...] As the French impressionistic 
painters broke masses up into details, so the impressionistic ivriter ivill break up his story into 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


569 


episodes and accounts which may violate chronology but ivhich, nevertheless, are logical from 
the impressionistic point of viewT 


HUEFFER, Ford Madox. Joseph Conrad. In: CARABINE, Keith (Ed.). Joseph 
Conrad: criticai assessments. East Sussex: Helm Information, 1992. v. IV. 
p. 2-13. 

Como o outro texto de Ford, abaixo comentado, trata-se de item fundamental 
para a compreensão do impressionismo literário, posto que escrito por um de 
seus primeiros preconizadores. 

Após discutir a moral em diversos textos de Conrad (sob o prisma de seu 
país e de sua religiosidade), Ford passa a considerar seu método, e afirma 
enfaticamente: “There is one technical maxim that jumps at the eye all through 
his work. It is this: Never state: present. Again: Never state: present. [...] The self 
appointed work of an artist of Conrad ’s type is to make each of his stories an experience for 
his reader That is his preoccupation; it is for that that an august and inscrutable providence 
has set him in the world; if he do anything else he offends against his personal honourT (p. 8) 
O exemplo com que Ford ilustra tal método de Conrad é, indubitavelmente, 
antológico. E parece ser escusado indicar ao leitor a leitura de Ian Watt e a seu 
conceito de “ delayed decoding como excelente chave interpretativa da atenção de 
Conrad (e Ford) aos limites cognitivos da personagem: “ Supposing thatyour name 
is John, and thatyou have a friend called James, and for private reasons of his own James 
takesyou into his billiard room and tries to shootyou with a rifle. Now, when that happens 
toyou nothing in the outside world says toyou, in so many words, ‘That man is going to 
shoot me’. What happens toyou roughly is this. You are taken byyour friend into a room. 
You perceive the greenish light thrown upwards from the billiard table. Your friend talks. You 
answer. You are thinking of what he says; of what you are to answer. You perceive other 
objects;you perceive that some of the cues are not in the rack, and that the last game marked 
ended at 100 to 64. James says something else. You notice that his voice is rather high. You 
answer. You notice thatyou are saying toyourself ‘I must keep my temperl’ You also notice 
that the clock has stopped at 3.17 ... So itgoes on, the whole way through the incident — it is 
a mixture of things that appear insignificant and of real actionT (p. 8) 


. On Impressionism. In: MONRO, Harold (Ed.). Poetry and drama. 

Londres: The Poetry Bookshop, 1914. v. II. p. 167-175. 

Texto fundamental para a compreensão do impressionismo literário, que se 
quer apenas “ some notes towards a workingguide to Impressionism as a literary methoã\ 
sem preconizar “«o Tapacy in the matterP (p. 167) 

De início, buscando compreender o porquê o chamam de impressionista, 




570 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ford cogita ser tal rótulo uma expressão do egotismo, pois este é o único termo 
que pode expressar seus métodos literários: “This is called egotism; but, to tell the 
truth, I do not see hoiv Impressionism can be anything else. [...] The ímpressionist gives 
you his oivn vieivs, expectingyou to draw deductions, since presumably you knoiv the sort of 
chap he is.” (idem) Explicando melhor tal nuança por meio de uma comparação 
entre a prosa de W H. Hudson e a de um correspondente agrário do Times, 
afirma que este apenas buscaria dar informações pontuais sobre um dado tipo 
de grama, “mth reading that is quite interesting to the layman, since all facts are interesting 
to men of good wilf , enquanto aquele não daria “nothing but the pleasure of coming 
in contact mth his temperament, and I doubt ivhether, if you read mth the greatest care his 
description of false sea-buckthorn [. . .] you ivould very ivillingjy recognige that greenish-grey 
plant [ . . .] if you came across it.” (p. 1 68) Neste sentido, tal como toda prosa literária, 
“Impressionism is a frank expression of personality; the fact that non-Impressionism is an 
attempt to gather together the opinions of as many reputable persons as may be and to render 
them truthfully and without exaggeration. (The ímpressionist must ahvays exaggerate)f (p. 
169) 

Neste sentido, uma regra pode ser extraída de todo autor impressionista, 
sendo, como é, a exageração de um literato, em geral: “the ímpressionist gives you, 
as a rule, the fruits of his oivn observations and the fruits of his onm observations alone. 

[ . . .] He should be in this as severe and as solitary as any monk. It is ivhat he is in the world 
forf (p. 170-171) Exemplifica, a seguir, tal regra, por meio de máximas retiradas 
de suas conversas com Joseph Conrad: (I) “ Ahvays consider the impressions that you 
are making upon the mind of the reader, and always consider that the first impression ivith 
whichyou present him ivill be so strong that it ivill be all that you can ever do to efface if (p. 
172); (II) “to import into the records of observations of one moment the observations of a 
moment altogether different is not Impressionism. For Impressionism is a thing altoghether 
momentaryf . Cita, a propósito da primeira, o trecho de uma obra de Maupassant, e, 
da segunda, uma estrofe de Tennyson — autores que considera, respectivamente, 
como precursor e antípoda de um estilo impressionista na ficção. 

Enfatizando o elemento psicológico como marca característica do 
Impressionismo (na literatura, na pintura, na escultura), Ford segue teorizando 
livremente, definindo seus principais elementos, em um longo, porém valioso, 
trecho: “Indeed, l suppose that Impressionism exists to render those queer effects of real life 
that are like so many views seen through bright glass — through glass so bright that whilstyou 
perceive through it a landscape or a backyard,you are aware that, on its surface, it reflects a 
face of a person behindyou. For the whole of life is really like that; we are almost ahvays in 
one place ivith our minds somewhere quite other. And it is, l think, only Impressionism that 
can render that peculiar effect; l knoiv, at any rate, of no other method. [. . .] The point is 
that any piece of Impressionism, whether it be prose, or verse, or painting, or sculpture, is the 
record of the impression of a moment; it is not a sort of rounded, annotated record of a set 
of circumstances — it is the record of the recollection inyour mind of a set of circumstances 
that happened tenyears ago — or ten minutes. It might even be the impression of the moment 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


571 


— butit is the impression, notthe corrected chronicleF (p. 174) 

Desta forma — e já antevendo uma acuidade narrativa que somente seria 
desenvolvida anos mais tarde pela crítica, ao tratar da pertinência ideológica 
e psicológica de narradores mais ou menos confiáveis, em obras da virada do 
século XIX para o XX — , é impossível que quaisquer longos discursos sejam 
reproduzidos integralmente em textos impressionistas: “ Thus an ímpressionist in 
a novel, or in a poem, ivill never render a long speech of one of his characters verbatim, 
because the mind of the reader ivould at once lose some of the illusion of the good faith of 
the narrator, (idem) 

Tais explanações serão retomadas, ainda que superficialmente, em um 
segundo artigo, de menor importância. 


. On Impressionism [second article]. In: MONRO, Harold (Ed.). Poetry 

and drama. Londres: The Poetry Bookshop, 1914. v. II. p. 323-334. 

Considerando as possíveis objeções ao Impressionismo, conforme definido 
no último artigo, Ford empenha-se em uma longa explanação sobre o tratamento 
impressionista de um enredo, e concorda que muita reflexão prévia deva ser 
necessária para a fixação de uma impressão transitória (portanto, dependendo 
de um meio não impressionista, ainda que provisoriamente). Cogita também 
que não se pode determinar com certeza que tipo de impressão será provocada 
nos leitores, o que muito dificulta a criação de um texto sob tais parâmetros. Não 
obstante, volta-se para o aspecto psicológico do Impressionismo, previamente 
discutido, e pondera: “This method,you ivill observe, founds itself upon analysis of the 
human mind. For no human mind likes listening to long and sustained arguments. [. . .] A 
picture should come out of its frame and seitçe the spectatorP (p. 328) 

A seguir, discorrendo sobre generalidades, define os diversos tipos de leitor 
que um texto pode ter — dos mais pedantes aos mais chulos — , afirmando preferir 
uma audiência aberta a novidades, seja ela culta ou não. Para Ford, é um perigo 
para o artista todo aquele que interpreta suas sensações a partir de coisas lidas, 
e não vividas: “ This last man is the man ivhom the artist should avoid, since he ivill regard 
phenomena not as phenomena, but as happenings, ivith ivhich he may back up preconceived 
dogmas — as, in fact, so many sticks mth ivhich to beat a dog .” (p. 332-333) Fala ainda 
sobre a necessidade de despertar o interesse no público, de contar com sua 
“peasant intelligence ” e com a de alguns raros eleitos, de jamais escrever apenas 
para contentar a si próprio etc. 

Por fim, lamenta estoicamente o trabalho ingrato da escrita, sem retornar ao 
mérito inicial da questão (Impressionismo), falando sobre a literatura em geral: 
“ Only ', just at times, whenyou come to look again at some ivork of yours thatyou have quite 
forgotten, you mil say ‘Why, that is rather ivell done. ’ That is allP (p. 334) 

Madox Ford, nestes dois artigos, define assim o Impressionismo nas 




572 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


diversas artes como uma transposição concertada — não impressionista — da 
vida consciente, apesar da nonchalance com que trata o tema, à maneira de um 
depoimento sobre suas concepções de arte e escrita. De certa forma, ao tecer 
tal definição em função do interesse do leitor e da expressão sintética sobre a 
vida de uma personagem, Ford fala da arte da escrita como um todo, desviando 
a ênfase de sua argumentação inicial, relativa ao impressionismo literário. 


KELLE R, Luzius. Proust, au delà de l’impressionnisme. In: BERTHO, Sophie 
(Org.). Proust et ses peintres. Amsterdam; Atlanta: Rodopi, 2000. p. 57-70. 

Por entre sugestões cubistas e futuristas, o autor introduz a breve discussão 
sobre o impressionismo em Proust de maneira algo sumária: “Au niveau du texte, 
c’est le mot impressions qui suggère 1’impressionnisme, au niveau de la diégèse, c’est le lieu, 
les jardins des Champs-Élisées, un des haut lieux de la peinture impressionniste. (p. 59) 
Assim, Keller observa diversos elementos de proximidade entre Proust e 
o impressionismo: suas visitas às galerias de Durand-Ruel e de Georges Petit; 
cenas isoladas de Jean Santeuil e de Les plaisirs et les jours (“des marines, des lilás en 
fleurs, des jardins, des champs, une ferme sous les pommiers, des fleuves glacés” (idem)) ; e, 
sobretudo, o capítulo de Jean Santeuil «Un amateur de peinture — Monet, Sislej, Corot», 
que «s’agit évidemment d’ une mise en abyme de la pratique d’écriture qui domine dans le 
contexte, c’est-à-dire de la composition de tableaux impressionnistes [...] par un jeu rajfiné de 
lumière, de reflets, de miroitement et des images.» (idem) 

Todavia, aquilo que vai além do impressionismo em Proust é seu naturismo, 
i.e., sua incapacidade de deter-se nos instantâneos das cenas, buscando, 
inversamente, a essência da paisagem. A partir de então, Keller debruça-se sobre 
os aspectos cubistas e futuristas da justaposição de impressões do narrador 
(antes, da colagem das descrições ou manchas de descrições), abandonando a 
questão até aí explorada. 


. Proust et 1’impressionnisme. In : GENGEMBRE, Gérard ; LECLERC, 

Yves ; NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. 

Rouen : Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 159-166. 

Partindo de trechos ratés do romance de Proust Jean Santeuil ’ bem como de 
menções a sua atuação como crítico bissexto de grandes pintores (Rembrandt, 
Moureau e Monet), Luzius Keller, em seu artigo / apresentação, propõe-se a 
esclarecer alguns dos projetos proustianos: o de veicular uma concepção estética 
e estilística, por meio de comentários às artes plásticas; o de exercitar uma escrita 
de verve pictórica, que vai da écfrase à análise; e o de prestar homenagem a 
colecionadores de arte, como Charles Ephrussi, Georges Charpentier e François 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


573 


Depeaux. 

Após uma breve digressão em torno de colecionadores de arte (dos quais 
destaca alguns, provavelmente por conta da localização física do colóquio em 
Rouen, como forma de prestar ele próprio homenagens pontuais), Keller detém- 
se nos fragmentos de Jean Santeuil em que um amador anônimo discute quadros 
de Monet, Sisley e Corot, e passa a encontrar paralelos, imediatos talvez em 
demasia, entre a pintura e a literatura. 

Observe-se o seguinte trecho, como exemplo de superinterpretação descritiva 
(no sentido do termo proposto por B. Vouilloux) do impressionismo literário : 
“ha couleur rose des pierres et du sable ainsi que le détail des o vibres noires invitent à 
identifier le modele du premier tableau avec un Monet du musée des Beaux Arts de Dijon. 
Ce qui prédomine au niveau du discours c’e st la figure de la prosopopée établissant un rapport 
entre le tableau-énonciateur et le lecteur-spectateur. II existe un rapport évident entre le geste 
déictique de 1’impératifxojcz et le jeu de la lumière et des ombres : soleil au début, contrasté 
par ombtcs noires et fraíches, et à la fin en écho ombre noire. A 1’intérieur du tableau, 
on constate des effets de couleur au sens propre : les pierres sont roses, et de couleur 
au sens rhétorique du terme : les bateaux papillonnent dans une mer volatilisée oü 
l’atmosphère du texte est crée non seulement par le contenu sémantique des mots, mais encore 
par leur constitution phonique. ha source de cette couleur spécifique, teintée de o, e, i et 1, c’est 
le mot soleil. he mot soleil est pour ainsi dire la palette du tableau textuelP (p. 161) 

Tal é o teor de trechos de análise de Jean Santeuil e da Kecherche, buscando ver, 
algo direta e linearmente, o impressionismo (pictórico) em Proust, antes que o 
impressionismo (literário) de Proust — muito embora discuta a relatividade do 
termo quando aplicado a Proust, mencionando mesmo possíveis ecos futuristas 
e cubistas, com base em textos críticos de Ortega y Gasset, Jacques Rivière, 
Jacques Emile-Blanche etc. 


KIMBER, Gerri. Use of literary impressionism. In: . Katherine 

Mansfield and the art of the short story. Hampshire (Inglaterra); Nova 
Iorque: Palgrave Macmillan, 2015. p. 26-32. 

Neste brevíssimo capítulo, a autora retoma o sentido do impressionismo 
literário na obra de Mansfield a partir do enorme interesse da autora pelo 
tema, identificado em sua reação demasiado positiva às exposições londrinas 
pós-impressionistas de 1912 (organizadas por Roger Fry). Trata-se, mais 
especificamente, de uma série de elementos que Kimber julga transpostos da 
pintura à literatura: sua fascinação pelo olhar segmentado de janelas e escadas no 
interior da ambientação de suas estórias; seu cuidado na descrição de naturezas- 
mortas; o trato pictórico na descrição de contos como “Bank Holiday [... that], 
resembles the description of a painting by Monet or Renoid’ (p. 30) etc. 




574 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


KIRSCHKE, James J. Henry James and impressionism. Nova Iorque: 
Whitston, 1981. 

O livro de Kirschke é uma referência interessante para os estudos das relações 
literárias entre James e os escritores franceses e ingleses comumente associados 
ao impressionismo. Sua leitura dos efeitos do impressionismo sobre James 
incidem em duas frentes: nas qualidades pictóricas de suas descrições; e em seu 
papel precursor no romance do stream of consciousness. 


LAMANDÉ, André. L’impressionnisme dans l’art et la littérature. Mônaco: 

Imprimerie de Monaco, 1925. 

Conferência realizada em janeiro de 1 925 e publicada em uma edição raríssima 
de cem exemplares, tornada amplamente acessível pelo acervo digital (Gallica) 
da BNF. Nela, Lamandé defende a existência de um ^ eitgeist impressionista, 
pautado na busca pela “ lumière et 1’harmonie avant toute chose (p. 6) Assim, in nuce , 
delineia os termos que pretende expor: “si nous pouvons justement dire que le XVIIe 
siècle est foi et raison, nous pouvons également affirmer que le XVlIIe est intelligence et 
scepticisme, leXIXe, sensibilité. Le nôtre, enfin, peut se résumer en un mot: lumièreP (p. 7) 

Para chegar à unidade geral da luz, retoma a reação aos padrões pictóricos 
pela pintura impressionista como início de uma lenta transmissão à música 
e ao romance. Após relembrar blagues envolvendo Ingres e Delacroix, dois 
dos padrões da pintura oitocentista; realça a reação dos impressionistas aos 
temas tradicionais (históricos, dramáticos) como parte de uma ampla reação à 
“ construction rationelle qu’enseignait lEcolè”; e aponta seu uso da cor — “la couleur, 
enfin, ne futplus au Service du sujet, ni de la formei'’ (p. 11-12) Em seguida, e de maneira 
grandiloquente, diz que a pintura impressionista descobriu o sol, logo tornado 
o deus da pintura, segundo o exemplo de Monet. E, finalmente, tece uma teoria 
das vibrações, por entre as conformações da visão e da audição: “La couleur n’est 
pas une qualité attachée aux objets. Ce n’est pas le mur qui est Blanc, ce n’est pas la prairie 
qui est verte, ce n ’est pas Fépaule qui est nacrée. Le mur, la prairie, l’épaule, émettent des 
vibrations que notre oeil perçoit et traãuit en couleurs. Autrement dit, la couleur est une suite 
de vibrations, d’ondes lumineuses qui, impressionnant notre rétine,y éveillent des sensations 
colorées. Chacune des couleurs du spectre, - comme chacune des sept notes musicales, - est donc 
une somme de vibrations se propageant par ondes, et ces ondes, s’ajoutant, se groupant, se 
superposant, mais ne se mêlant pas , forment, par leurjeu, la gamme infinie des couleurs 
et des nuances. [...] Le voilà bien le dogme, le credo, des fervants de la lumière: les couleurs 
sont des agglomérations, des juxtapositions, des superpositions de vibrations lumineuses. Et ce 
credo com mande toute leur techniquer (p. 13) 

Equiparando, pois, a mesma rebeldia dos impressionistas a Ingres daquela de 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


575 


Debussy a Glück, o autor parece regojizar em mesclar termos da crítica musical 
à literária (“ Mystérieuses correspondances! Troublantes analogiesP , p. 20), sem que 
especifique com mais vagar o nó górdio a unir tantas artes. Mais especificamente, 
sobre a influência da pintura impressionista na literatura, diz apenas que não foi 
tão imediata e decisiva. A razão de tal atenuação (repetida mais tarde por Amado 
Alonso) é, para si, a natureza da literatura: “Ea littérature, en effet, par son domaine 
qui est la pensée, par son instrument qui est le style, offre une matière moins malléable, plus 
rebelle que les autres arts aux révolutions rapides (p. 20-21) 

Não obstante, considera ser o impressionismo literário uma força dominante 
no momento de elocução da conferência: “ D 'ailleurs, ce goüt de la transposition, 
de rassimilation même, des choses de la peinture et de la musique à celles de la littérature 
était dans l’air et resta longtemps la seule manifestation de 1’lmpressionnisme littéraire .” 
(p. 21-22) E enumera escritores simbolistas e decadentes que partilharam de 
seu apreço pela ampla correspondência entre as artes — René Gliil, Rémy de 
Gourmont, Huysmans, Rodenbach etc. 

Enumera, a seguir, as características mais essenciais do impressionismo 
literário, evidentes, sobretudo, no período pós-guerra: “ce n’est qudprès la guerre 
quil s’est affirmé vraiment, en littérature, avec tous les traits qui le caractérisaient en peinture 
et en musique: mépris de grands sujets, de la composition et de l’ordre; seul souci de saisir 
le coeur humain et la nature non dans leurs aspects significatifs ou exceptionnels, fugitifs 
ou contradictoires, et de projeter sur eux une vive lumière ; technique nouvelle, remplaçant 
la période, la phrase ‘léchée’, par la juxtaposition de touches rapides, brutales, lumineuses. 
En un mot, pointillisme dans 1’observation et dans le style, qui permet de définir un roman 
impressionniste: dJn assemblage d’images et de pensées pour le plaisir de despriPP (p. 25) 
Trata-se, pois, de uma série de procedimentos técnicos derivados da pintura, 
e mesmo considerados terminologicamente a partir do modelo pictórico, 
enquanto espécie particular de pontilhismo textual-sensorial. 

Para Lamandé, escritores mais marcadamente impressionistas são Proust, 
Giraudoux, Morand e Joseph Delteil, aos quais dedica análises individuais que 
escapam ao propósito deste anexo. 

Finalmente, é lícito retomar sua defesa do sensualismo impressionista como 
possível síntese (exagerada, certamente) de seu argumento: “Sensualité de l’art: 
voilà bien le trait essentiel, la source vive de 1’Impressionnisme, le point de rencontre de tous 
les écrivains de cette école, la formule qui résume et explique leurs oeuvres. Sensualité de l’art, 
soutenue par la philosophie moderne de Bergson, par delà le monument de la philosophie 
allemande, arratachée à Condillac. Plaisir desjeux, des oreilles; de tous les sens et de 1’esprit, 
par les couleurs, les parfums, les sons et les mots. Plaisir aigu, en harmonie avec la nervosité, la 
trépidation, la rapidité cinématographique de notre époque. Sensualité exige ante, vite émoussée, 
avide de nouvelles exátations [...]. Sensualité qui détermine, non seulement une vision nouvelle 
du monde, mais aussi un style nouveau, une sjntaxe de jagy^band oü les mots jettent, de place 
en place, des éclairs électriques, des déchirements de clacksonsS (p. 36-37) 




576 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


LAMBERT, Jérémy. Ldmpressionnisme littéraire. In: . Peinture et 

bibelot: prégnance du pictural dans 1’oeuvre de Joris-Karl Huysmans. 

Paris: Honoré Champion, 2012. p. 94-97. 

O autor recupera o parecer de Huysmans segundo o qual o estilo dos Goncourt 
é semelhante ao de Degas (i.e., enquanto “style tacheté") e define brevemente o 
impressionismo na literatura: “ D’un point de vue textuel, le modele impressionniste se 
manifeste sous différentes formes. Thématiquement, il repatrie dans la littêrature les grands 
motifs impressionnistes que constituent la réalité quotidienne et le paysage (pittoresque, mais 
aussi urbain). Yortement infuencé par la photographie, [...] 1’impressionnisme tend à fournir, 
loin d’un académisme artificiei, une vision subjective et impressionnante de la réalitéri (p. 95) 
Lambert retoma ainda trechos de Vouilloux e considera, por fim, a escrita de 
Huysmans como devedora da visualidade do impressionismo pictórico. 


LANSON, Gustave. La phrase artistique au XIXe siècle: couleur et tonalité 

générales. In : . L’art de la prose. 2 ed. Paris: Librairie des Annales 

Politiques et Littéraires, 1909. p. 277-289. 

Para Lanson, os escritores do século XIX, desde Chateaubriand e Saint- 
Pierre, esforçam-se por “donner à sa description le caracüre d’une notation de peintre ” 
(p. 277), algo inédito na literatura dos séculos precedentes. Cita autores como 
Gautier, Banville e Flaubert, e pergunta-se, a seguir, qual seria a escola pictórica 
mais imitada pelos escritores, mostrando algo indiscriminadamente a relação 
(nem sempre linear, o que constitui para si prova valorativa) entre a pintura da 
época e a pintura contida na diegese de textos extraídos das obras de Voltaire e 
Anatole France. 

A seguir, pergunta-se sobre a influência da música na literatura oitocentista, 
indicando, em resposta, a experimentação formal dos versos de Mallarmé, bem 
como a retórica musical da prosa de Barrès. Pergunta-se, ainda, a respeito da 
evocação da “cor” pela prosa oitocentista, que entende por “ pas seulement par des 
images, mais par tous les éléments du style, mots abstraits, mots incolores. La couleur résulte 
de 1’unité d’origine, de la convergence precise des expressions particulièresP (p. 285) Neste 
sentido, evoca a cosmologia religiosa de Huysmans nos romances En route e 
Cathéãrale ; as análises morais tomadas do espírito científico em Ee mannequin 
d’Osier, de Anatole France etc. 

Percebe-se, pois, que Lanson confunde a influência entre as artes com a 
interrrelação entre os discursos, tomando tal diálogo — nem sempre benéfico 
para a expressão artística em si, posto que capaz de reduzi-la a uma ilustração 
de dada teoria — como parâmetro de invenção artística: “ E’image devient ainsi 
une méthode d’invention artistique. En soumettant 1’expression littéraire aux fins et aux 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


577 


conáitions d’un art ou d’ une Science, en identifiant l’idée littéraire à un problème d’art ou de 
Science, on se donne une ligne de devéloppement, et au style une couleur générakP (p. 288) 
Assim, chega a considerar Taine como um artista dotado do vocabulário da 
História Natural; Brunetière, um artista dotado do vocabulário evolucionista 
etc. 

Entretanto, tal confusão teórica serve como ilustração, por sua vez, 
da importância crescente da transtextualidade no texto literário, visto em 
decorrência de outras artes — ou mesmo das ciências exatas e naturais. 


. Les Eléments artistiques de la phrase au XIXe siècle. Images, verbes et 

constrution grammaticale. In : . L’art de la prose. 2 ed. Paris: Librairie 

des Annales Politiques et Littéraires, 1909. p. 253-267. 

E de maior interesse a terceira parte do capítulo, em que, após um estudo das 
metáforas em Salammbô , de Flaubert (I), e dos verbos e construções sintáticas 
em Michelet e Loti (II), Lanson discorre sobre a dita écriture artiste dos irmãos 
Goncourt. “Ils pratiquaient avec constance un impressionnisme exaspere, dont le príncipe 
est de n ’ employer que des mots intenses et de les juxtaposer dans la phrase en rejetant tout ce 
qui ne serait que liaison logique [...]; c’est un pointillé violent oü se mêlent les vibrations des 
termes juxtaposés ” (p. 265) 

Para além deste tratamento algo hostil do estilo dos Goncourt, Lanson 
enfatiza o uso por escritores como Zola do pretérito imperfeito, enquanto 
tempo verbal pictórico capaz de organizar as descrições em um quadro mais ou 
menos palpável ao leitor. 


MEIXNER, John A. Ford’s literary technique. In: STANNARD, Martin (Ed.). 

Ford Madox Ford - The Good Soldier. Nova Iorque: W W Norton, 1995. 
p. 247-253. 

No que diz respeito especificamente ao impressionismo de Ford, o autor 
ressalta sua defesa apaixonada, após 1914, do registro da impressão momentânea 
(“ record of the impression of a momenf'), bem como sua autoinserção em uma escola 
“impressionista” de escritores tais como Conrad, James, Crane, Maupasssant e 
Flaubert. Observa, porém, seu objetivismo pré-1914 como diferencial de Ford 
ante os nomes citados, enumerando técnicas então não utilizadas que viriam 
a ser, posteriormente, marcas indeléveis do impressionismo literário: “ The 
Impressionism of the Ford ivho ivrote before 1914, then, ivas relatively more objective. While 
he pursued the aim of rendering the impressions life conveys to the senses, he gave greater 
iveight to ‘common sense’ objective modes of perception. In many ivays, Fords storytelling 
technique remained traditional. He did not employ interior monologue, partly because it ivas 




578 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


notyet developeã, nor did he transfigure the externai world into vibrating Symbol More 
important, chronology ivas unbroken .” (p. 251) 

Finalmente, Meixner encerra sua breve discussão julgando Ford um autor 
(provavelmente) não impressionista, posto que demasiado apegado à forma 
tradicional do romance: “But, in the last analysis, Ford probably should not be described 
as an Impressionist. What basically excludes him as such is his steady adherence to the ideal, 
learned firom his Continental masters, of the tightly constructeã novel. In that adherence he 
remained significantly traditional in his approach to the fiorm (p. 253) 


MOSER, Ruth. L’impressionnisme français: peinture, littérature, musique. 

Genebra, Suiça: Droz; Lille, França: Giard, 1952. 

O livro de Ruth Moser desempenha, ao lado do de Hauser (datado de 1951), 
um importante papel na reconsideração do impressionismo enquanto ampla 
expressão artística (pintura, literatura, música) da Europa da virada do século 
XIX para o XX. No que toca espeficamente à literatura, discute o impressionismo 
na poesia e na prosa, sob o panorama das cinco grande características do 
impressionismo que analisa em seu estudo: “ musique de la sensation, mystique de la 
sensation, morcellement de la matière, dissolution du monde physique, nuance et suggestion 
comme lois de la beautéP (DUBOIS, 1963, p. 170). 

Na poesia, assinala a importância da “ musique verbale” , da ilogicidade e do 
sensorialismo em poemas de Verlaine, Poe, Laforgue, Baudelaire e Mallarmé, 
sem cuidar na dimensão simbolista, muito mais evidente, dos mesmos. Neste 
sentido, não é sem razão o parecer de Julia von Gunsteren (1990, p. 21), segundo o 
qual “Ruth Moser [ . . .] in her monumental ivork on French Impressionism draws no sharp 
distinction between Symbolism and Fiterary Impressionism.” Menciona ainda os elogios 
de Proust aos poemas da condessa de Noailles e analisa a expressão citadina 
de Léon-Paul Fargue, sempre segundo a mesma ideia de “poesia musical”, que 
parece pouco contribuir para a definição do impressionismo literário, (p. 98) 

Na prosa — antes, na prosa “musical e pictural”, como indica no título do 
subcapítulo — , Moser indica com maior acuidade os percalços do sensorialismo: 

“En prose, la musique de la sensation ne s’est peut-être pas aussi complètement réalisée 
qu’en poésie. [...] II [o prosador] est obligé d’expliquer, de décrire, sans cesse préoccupé de 
la trame du livre, de la psychologie des personnages, toujours pressée ddrriver. Forcément, son 
langage est moins pur, moins cristallisé. Néanmoins, la prose a, elle aussi, son langage de la 
sensation.” (p. 100) 

Assim, buscando na prosa um paralelo estilístico ao sensorialismo poético, a 
autora faz e comenta algumas indicações esparsas: o estilo peculiar, murmurado, 
das “ harmonies en sourdine ” dos Goncourt e sua escrita artística (com destaque 
para a anteposição de adjetivos aos substantivos (p. 101-102)); os exotismos 
de Pierre Loti; a simplicidade de Daudet; o refino sensitivo de Colette, Francis 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


579 


Jammes e Proust etc. 

Finalmente, mais à frente, Moser deixa claro o que entende por impressionismo 
literário ao enunciar o que seria sua frase-tipo: “On a désigné, comme type de la 
phrase impressionniste, cet exemple des Goncourt tiré des Frères Zemgamno: ‘avec sur la 
figure grave un bon et doux sourire... ’ Donc une phrase morcelée par 1’action du complément 
circonstanciel qui fait sauter son cadre logique et disjoint ce qui du point de vu de la sjntaxe 
est étroitement lié. Ainsi la préposition est séparée du nom, et de façon analogue le verbe 
peut 1’être du régime, de 1’infinitif qui en dépend, 1’auxiliaire du participe dans les temps 
composés. Et cette disjonction se fait au profit de 1’impression: peindre la sensation, 1’effet, 
avant la cause qui le produit.” (p. 115) Trata-se, pois, de uma definição estilística 
do impressionismo literário enquanto tradução verbal da impressão bruta antes 
de sua interpretação pela inteligência (o efeito, jamais a causa; como o “estilo 
telegráfico”, parcimonioso em verbos e conjunções, de Loti e dos Goncourt (p. 
135)). Afinal: “ E’impressionnisme est Uart de 1’insaisissable, du fluide; c’est ce qui ressort 
non seulement de ses thèmes fluviaux et marins, mais encore de telles métaphores qui voient 
la matière sous le rapport de la fluiditê (p. 119) Parece desnecessário comentar a 
primazia do impressionismo pictórico sobre o literário, ou ainda, a tentativa 
evidente de emulações técnicas do primeiro pelo último. 

Suas análises posteriores do ritmo da prosa e da poesia não alteram tais 
argumentos, senão os desenvolvem, mediante novos e profusos exemplos, 
definindo a linguagem impressionista como aquela do “ morcellement du rythme, la 
simplification syntaxique [...], la représentation partielle des choses et des êtres, 1’amour de la 
suggestion, de 1’allusion, la fragmentation générale de la forme U (p. 147) 


MULLER, Herbert. Impressionism in fiction: prism vs. mirror. The American 
Scholar, Washington D.C. (Estados Unidos da América), v. 7, n. 3, p. 355- 
367, verão 1938. 

Neste artigo de difícil acesso e pouco comentado — encontrado por entre 
os dados restritos do JSTOR — , Herbert Muller busca resumir a questão do 
impressionismo literário como núcleo da ficção moderna, por meio de seus 
principais elementos (dispostos em pares quase sempre conflitivos). Assim, a 
partir de uma definição do dicionário Webster, para o qual o impressionismo na 
ficção é “ depiction of scene, emotion, or character ivith broad simplicity and little elaboration 
of detaiP , pondera que, por meio destes parâmetros, Fielding seria um escritor 
impressionista por excelência, e Proust sua antítese — “ and this does not make 
sense (p. 355) 

Para Muller, o impressionismo é um conceito chave da literatura moderna; 
“it has significant linkages mth other fields of thought, notably psychology. It is bound up, 
in fact, mth the whole process of revaluation that is the central problem of modem life 
(p. 355-356) E tal importância remete diretamente à sua nova perspectiva de 




580 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mundo, atenta ao estudo da luz e à expressão, como um todo, em detrimento da 
rigidez formal. Assim, destaca, sobretudo, o papel de Cézanne como precursor 
dos ismos de vanguarda. 

Dentre os escritores impressionistas, aponta Joseph Conrad, Stephen Crane, 
Marcei Proust, D. H. Lawrence, Dorothy Richardson, Virginia Woolf, Sherwood 
Anderson, Conrad Aiken, Katherine Mansfield, William Faulkner e Thomas 
Wolfe: “these and other ivriters have in various ivays adapted to fiction the technique of 
the impressionistic painters, especially as it ivas supplemented by Cétçanne.” (p. 357) E a 
principal marca destes autores é a expressão direta, instantânea e sensorial do 
viver: “In general, their aim is an im medi ate, puré re-creation as opposed to a formal report 
oran orderly analysis or any generaligation of experience. They seek to suppress, or at least to 
subordinate, the habitual percepts and concepts that separate us from actuality ; to communite 
the live, instantaneous, total sensory impression before common sense has transformed it or 
intellect abstracted its conventional ‘meaning’; in short, to give a full intense realization 
instead of a mere comprehension of experience .” (idem) Neste sentido, “ like Cézanne, 
the impressionists strive for a greater intimacy, not ivith nature itself but ivith the sensations 
aroused by nature. [...] Thus impressionism does not imply an utterrejection of logical analysis 
or a denial of its validityT (p. 358) 

Logo, o impressionismo na ficção é antes um princípio animador (“ animating 
principie ”) e uma abordagem sistemática (“ system atical approach ”) da vida sensorial, 
que um método; “a self-conscious creed rather than an instinctive practiceT (p. 359) 
E, para todos os efeitos, seu papel na literatura moderna é inegável, ao que 
aponta Muller alguns de seus elementos, deixados em legado à posteridade: a 
ênfase em ações descontínuas, inacabadas; a lenta e incerta caracterização das 
personagens; o inventário e análise do instante, em detrimento da cronologia 
etc. “In general they have destroyed the solidity and rigidiiy of life as traditionally represented, 
blurred the contours and, like the painters, have sacrificed symmetry and neatness to intensity 
and expressiveness (idem) 

Muller ressalva, todavia, as diferenças entre os autores citados, que jamais 
poderiam formar, entre si, uma escola literária: “They are not a compact school; 
they have not formulated a clear and consistent program. They differ not only in their vision 
and values but even in their methodsT (p. 360) E destaca a semelhança entre esta 
dificuldade de definição do impressionismo literário, como paralela à dificuldade 
geral de definição da literatura e da arte moderna, como um todo: “Definition is 
further complicated by the ivelter of experimentation in modern fiction and by all its centrifugai 
tendencies. One cannot draiv a sharp Une ivhere ordinary realism ends and impressionism 
begins or ivhere impressionism ends and something else begins. Similarly it is dijficult to make 
nice distinctions among related tendencies in other art forms. Imagist poetry, the technique of 
montage in the movies, the broken rhythms and jagged forms of modern music — these have a 
fairly obvious correspondence ivith impressionistic fiction T (p. 361) 

Não obstante, o núcleo do impressionismo na ficção é, para o crítico, 
evidente; ele simboliza uma nova concepção de ficção, que ladeia os demais 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


581 


ismos modernistas. “ Impressionism is maãe so significant preásely because of the depth, 
extent, and urgency of the forces that impelled it. It is not merely a fancy imy of ivntingj it 
leads back to the central issues of the modem world” (p. 362) Tanto na pintura quanto 
na literatura, o impressionismo representa uma reação às estreitezas da arte 
acadêmica e naturalista, além de uma denúncia do irrealismo da mera transcrição 
dos fatos percebidos. Assim, possui diversas semelhanças com as ciências de 
sua época — principalmente, com a psicologia e a psicanálise — e “ corresponds to 
the anti-mech anistie trend in all fields of thoughtP (p. 362) Trata-se, enfim, de uma 
arte subjetivista imediatamente ligada ao mundo moderno: “Above all, however, 
the subjectivism implicit in impressionism — the emphasis upon the knoiver rather than the 
known, upon sensation rather than generali^ation — is a direct result of the central problem 
of this age: the decay of faith, the dearth [sic] of universally accepted values and symbols, 
the breakdown of the trunk lines of communication, the spiritual anarchy generally .” (p. 
363) Disto deriva, para Muller, a íntima relação entre a vida dos escritores e 
suas respectivas obras, que se ligam a experiências particulares (Conrad) ou a 
sensações individuais (Proust, D. Richardson, C. Aiken, T. Wolfe) como forma 
de compensar o não lugar do homem neste panorama moderno e anárquico. 

Por fim, Muller sintetiza seus argumentos em uma breve definição: “The best 
pages of Conrad, Tawrence and Virginia Woof the whole immense achievement of Proust, 
are alone sufficient justificado n of impressionism. [...] Impressionism is finally to be viewed 
as one manifestation of the widespread search for new perspectives — of the whole process of 
reorientation, once more, to a world at once staggering old and new. [...] Despi te its apparent 
sophistication impressionism is, to be sure, primitive — primitive in its subordination of 
intellectual analysis to naíve sensation, formal knowledge to intuitive perception. It is in other 
words reactionary and in an age when reactionary is the mo st fashionable term of abuse P 
(p. 366-367) 


NAGEL, James. Stephen Crane and the narrative methods of impressionism. 

Studies in the novel, Baltimore (Estados Unidos da América), v. 10, n. 1, p. 

76-85, primavera 1978. 

Certas passagens do estudo sobre Crane servem para um estudo maior 
sobre o impressionismo literário, como esta, brilhante em sua apreensão da 
especificidade do impressionismo na narrativa, a propósito da leitura de Crane 
por Madox Ford: “Indeed, narrative method is an especially important consideration for 
writers within the Impressionistic mode, for their concern with vision, with sensory experience, 
and with the apprehension of reality led to a new emphasis on the control of point of 
view. The fundamental method of Impressionism is the presentation of sensation so as to 
create the ejfect of immediate sensory experience, a device which places the reader at the 
same epistemological position in the scene as the character involved. The qualijying variable 
in this method is the determination of the human intelligence which receives the sensations, 




582 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a matter not operative in ímpressionistic painting and music because those forms proceeã on 
the assumption that it is the artist or composer n>ho does the perceiving. But fiction involves 
a formulating center of intelligence, a narrator ivho, in Impressionism, projects not ivhat he 
perceives but ivhat is apprehended and understood bj one or more of the characters. The effect 
is a distancing from the author, a sensory objectivity ivhich requires extraordinarj skill in 
establishing verisimilitudeP (p. 76-77) 

No entanto, em passagens como a seguinte, o autor parece excluir do 
impressionismo literário o uso da primeira pessoa, como forma temporalmente 
“estranha”: ‘Tf first-person narration is temporally aivkivard for Impressionism, and 
omniscience philosophically discordant, its natural expression is third-person limited, the mode 
Crane almost consistently used, although ivith numerous variationsT (p. 79) Inversamente, 
se ponderarmos a relatividade das focalizações e a presença de um narrador 
jamais onisciente, ao menos no caso específico da narração em primeira pessoa 
do tipo narrador-protagonista (autodiegético, pois), podemos observar na 
bipartição entre o presente do narrador e seu passado, enquanto protagonista, o 
jogo mencionado das focalizações, o que o torna menos “estranho” ao “narrative 
methocT do impressionismo. 

Em todo caso, as análises dos procedimentos narrativos em Crane, resumidas 
no presente artigo, são desenvolvidas aprofundadamente em Stephen Crane and 
literary impressionism (NAGEL, 1980), e, ainda que não se adequem à proposta 
deste Anexo, são de proveito para uma ampla avaliação do repertório narrativo 
do impressionismo. 


NETTELS, Elsa. Conrad and Stephen Crane. In: CARABINE, Keith (Ed.). 

Joseph Conrad: criticai assessments. East Sussex: Helm Information, 
1992. v. IV. p. 203-218. 

Breve balanço das relações pessoais e estéticas entre Crane e Conrad, em que 
há considerações sobre o impressionismo de ambos. Sobre estas considerações 
em particular, Elsa Nettels (p. 213) opõe à aceitação integral do termo por Crane, 
entendido enquanto transposição dos meios da visão para os da consciência 
fTspecially in stories of violent conflict, Crane strove to capture moments of extreme 
tension in sudden, photographic images in which the mind takes the image like the film of 
a camera or like flesh burned by sealing m ; ’), como na célebre passagem de “War 
memoriei ’ em que expressa sua preocupação por reproduzir no pensamento o 
que os impressionistas franceses fazem com a cor, a recusa de Conrad pelo 
impressionismo pictórico, “comparing them to products of an insane asylunP . A autora 
destaca as contradições de Conrad em seu prefácio a The nigger of the Narcissus, e 
aponta nos diferentes processos narrativos de Tord fim e The red badge of courage 
a raiz da diversidade de seus impressionismos: “As Crane shifts his vieivpoint to 
present different impressions of the same scene of landscape, so Conrad places around fim a 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


583 


number of narrators, each of whom offers a different vieiv of fim and his actions. Like Crane, 
Conrad implies that reality is a matter of individual 'perception, that objective, absolute truth, 
if it exits [sic], is unknoimble, that ivhat ive apprehend are impressions, none of ivhich can 
be conclusively ajfirmed as the real orthe trueP (p. 215) 

A síntese final do contraste entre ambos é, talvez, o ponto alto de seu estudo: 
“But there is an essential dijference in the kinds of mental experience they represent. In The 
red badge of courage and a number of stories, Crane represents impressions as they are 
received, moment by moment, by characters ivhose minds he often compares to films or screens. 
Conrad, on the other hand, in most of his important ivorks, presents experience as it is 
recollected, perhapsyears later, by characters who engage in intense mental activity — perceiving 
likenesses, t?iaking analogies, analyqjng impressions, speculating on the meaning of ivords 
and gestures, generalicfng and deducing conclusions, and seeking the words to convey their 
experience to othersC (p. 216) 


OKI, Junko. LTmpressionnisme de FEvanescence dans Romances sans paroles 
de Paul Verlaine. The geibun-kenkyu, Tóquio, v. 57, p. 151-164, 1990. 
Disponível em: 

http: / / koara.lib.keio.ac.jp/ xoonips /modules /xoonips/downloadphp/ 

AN00072643-00570001-01 64.pdf Pfile id=71584 Acesso em 14 dez. 2015. 

Apesar de reconhecer, à maneira de Michel Décaudin, a dificuldade de 
classificação do impressionismo na literatura, a autora propõe-se a discutir 
os aspectos impressionistas da poética de Verlaine, mediante a sugestão de 
Laforgue de sua “estética do efêmero.” (p. 164) 

Com este intuito, Oki enumera uma série de elementos “impressionistas” 
em seus poemas — cores (expressões vagas como “ blême ” ou ií pâlé’ y ), luzes (“ une 
aurore future ”, “ 1’étoile des cieu>C) e reflexos d’água fies flots de la med\ “ l’eau qui 
vire”') — , sob uma suposta “ evanescence des choses” que lhes embasa teoricamente 

— pequenos sons fbruit doux de la pluiê\ “ga^puille et susurre”), objetos frágeis e 
em vias de desaparição f quelque oiseau faib/e ”, “ une main frêle ”) etc. E, por fim, 
conclui: “Les ‘obfets-substantifs’ disparus, le monde poétique verlainien devient l’ espace pur 
de 1’impression. Uévanescence était peut-être pour Verlaine 1’essence des êtres et il tente à fixer 
dans ses vers l’éclair qu’a jeté leur vie brèveC (p. 153) 

Trata-se, pois, de uma mera verificação de elementos pictóricos no texto 
literário, sem uma teorização qualquer que justifique o intento geral do texto 

— votado ainda, ao que parece, a confirmar a fórmula inaugural de Brunetière, 
tout court. 


PARULO, Elena. Reality and consciousness: impressionism in Conrad. In: 
CARABINE, Keith (Ed.). Joseph Conrad: criticai assessments. East 


584 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Sussex: Helm Information, 1992. v. IV. p. 752-760. 

No que toca especificamente ao impressionismo de Conrad, a autora limita- 
se a repetir, algo deslocadamente, a célebre sentença de Bourget acerca do 
decadentismo nas artes (tomada, por sua vez, do texto de Hauser), e afirma, 
valendo-se de trechos do prefácio de The nigger of the Narcissus “ Just as the 
experience of pure colour can be a rendering of the artists vision, the ivriter’s linguistic travail 
becomes an inquiry into, and a cult of the ivord. Colours, words and musical notes are not 
only Instruments but rich and secret entities in themselves. ít’s no coincidence that the style of 
literarj impressionism has been described thus: ‘the impression of the single page is ahvays 
stronger than the ivhole book, the sentence is more striking than the page, and the ivords more 
striking than the sentencel ” 


PELLISSIER, Georges. I flmpressionnisme. In: JULLEVILLE, Louis Petit de 

(Dir.). Histoire de la langue et de la littérature française: des origines à 
1900 . Paris: A. Colin, 1899. t. VIII. p. 183-202. 

Nesse interessante livro escrito no calor das primeiras discussões sobre a 
existência ou não de um impressionismo literário, o presente capítulo garante 
um espaço exclusivamente dedicado ao impressionismo dentre a “Histoire de 
la langue et de la littérature française ”. Nele, o autor observa que muitos escritores 
tidos como naturalistas deveriam ser chamados, antes, de impressionistas, e tece 
considerações curiosas sobre os aspectos do impressionismo literário a partir 
do termo “impressionismo”, já claramente visto como parâmetro de análise 
para (todas) as artes: “ Or ; surbien despoints, 1’impressionnisme s’oppose au naturalisme. 
Tandis que le naturalisme poursuit une vérité objective, absolue, indépendante du ' moi\ 
l’impressionnisme prétend interpréter la nature et non la reproduire. Prenons le terme au sens 
le plus simple et n’y cherchons pas autre chose que ce qu’il laisse tout d’abord entendre: un 
impressiomiste est celui qui traduit ses impressions. 11 s’agit sans doute des impressions que 
la réalité fait naitre ; mais cette réalité, l’impressionniste ne la considere que comme un moyen ; 
il a pour véritable objet de s’exprimer soi-même .” (p. 1 83) 

A vagueza de tal definição parece apontar no impressionismo uma forma 
atualizada, pós-realista, de romantismo. Assim, não é de surpreender que a obra 
dos autores tidos como impressionistas por excelência, i.e., dos Goncourt e de 
Daudet, seja analisada em aspectos tão pouco “impressionistas” como os do 
documento humano e do estudo clínico ( Germinie Tacerteux, Mme. Gervaisais). 
Pelissier fala ainda da nevrose como elemento central da écriture artiste (“ Même 
aversion pour la régularité, même dédain de 1’ordre logique, même goüt de 1’accident, du 
discontinu, de 1’inattendu. Teur unique objet, c’est de peindre 1’impression ” (p. 189)), 
das qualidades pessoais de Daudet como aquelas também de sua arte; da 
inclassificabilidade de Loti etc. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


585 


PETERS, John G. Conrad and impressionism. Cambridge: Cambridge 
University Press, 2001. 

Apesar da qualidade da presente obra, a definição e a discussão acerca do 
impressionismo literário concentram-se no primeiro capítulo, “ Subject / object: 
Science and the epistemological origins of literary impressionism”, que será aqui quase que 
exclusivamente apresentado. 

Nele, retomando a centralidade da ciência (e não da nobreza, nem da religião) 
no panorama intelectual oitocentista, bem como sua presença nas artes via 
realismo, naturalismo e impressionismo, Peters observa o papel específico do 
impressionismo literário: “Conrad and other literary impressionists responded to sáentific 
positivism by demonstrating that reason and Science alone are insufficient for analyging 
problems and human existence.” (p. 13) 

À maneira de autores como Bourget e Hauser, Peters afirma a existência de uma 
ampla gama de questões e pressupostos filosóficos comuns ao impressionismo 
(literário, pictórico), lamentando, inversamente, o escopo ora demasiado 
restritivo ora demasiado amplo da análise dos autores assim denominados. 
E, especificamente: “In particular, the difficulty in defining literary impressionism lies 
in tivo areas: first, determining the relationship betiveen objects of consciousness and their 
representation in impressionist art and literature. In other ivords, confusion concerningliterary 
impressionism causes some critics to draiv too close a tie betiveen the techniques of the visual 
and literary arts, ivhile others fail to identify the nature of impressionist epistemology itself 
Contrary to most commentary, I ivould argue that any similarities betiveen impressionist art 
and literature result from similarities in philosophy — not technique. Nor do impressionists 
simply represent visual perception; instead, they render a much broader epistemological 
experience.” (p. 14-15) 

Trata-se, pois, de um aprofundamento geral das questões relativas à 
consciência, para além dos elementos meramente visuais: “In short, impressionists 
— ivhether in the literary or visual arts — sought to represent the interaction betiveen human 
consciousness and the objects of that consciousness.” (p. 15) Neste sentido, Peters critica 
a orientação demasiado subjetiva (Sichel) ou objetiva (Laforgue) da fortuna 
crítica do impressionismo, às quais relaciona, respectivamente, com o idealismo 
e o positivismo. E arremata: “Positivism, idealism, and impressionism all represent 
change occuring in the interaction betiveen subject and object. Butivhile positivism and idealism 
render a one-sided change, impressionism renders a tivo-sided exchange. For positivism, since 
reality exists outside the subject, objects may change subjects, but the objects themselves remain 
the same regardless of ivho experiences them. On the other hand, for idealism, since reality 
exists ivithin the subject, subjects may change objects, but the subjects themselves do not change 
because all objects are part of the subject. Homver, for impressionism, neither positivism 
(ivhich minimiyes subjectivity ) nor idealism (ivhich minimiyes objectivity) accurately represents 




586 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


the epistemological ' process. In contrast to these polariged vieivs, impressionism presents subject 
and object in constant change through their mutual influence.” (p. 18) 

A perspectiva da interação sujeito-objeto é, todavia, individual, e passa pelo 
filtro da singularidade espaço-temporal da experiência: “Kecogniging this highlj 
contextualiged interaction betiveen subject and objectm, impressionism tried to recreate the 
experience of a single subject at a specific point in space and time. For impressionism, all 
experience is individual, and everj experience of objects of consciousness is uni que.” (p. 
20) A individualidade de tal relação é o que distingue o impressionismo, por 
exemplo, do realismo, apontando como ilusória toda abordagem generalizante 
e distanciada do real. 

Na literatura, diversas técnicas enformam as dintinções teóricas apresentadas: 
o uso do in media res; a restrição do ponto de vista; a centralidade de dada 
consciência; o emprego de diversos narradores; e o uso do que o autor chama 
de narrativas “arqueológicas”, i.e., que apelem ao leitor para a reconstrução de 
episódios cronologicamente fragmentados. Seguem-se exemplos extraídos das 
obras de Conrad e James. 


REYNIER, Christine. De 1’impressionnisme comme première définition 

du Modernisme. In: (Dir.). Les grands mouvements littéraires 

anglo-américains. Paris: Michel Houdiard, 2009. v. I. p. 106-113. 

Lamentando o desconhecimento de Madox Ford pelo público francófono 
(para o que contribui, acima de tudo, a ausência de traduções para o francês 
de seus dois ensaios icônicos, “On impressionism ’ , falta esta que busca suprir o 
volume dirigido por Reynier, que consta da referida tradução), a autora salienta 
a autoconsciência do escritor em apontar traços impressionistas em sua obra. 
Até então, pouco havia sido dito na Inglaterra acerca de um movimento ou 
estética impressionista na literatura, sendo o termo mobilizado, quando muito, 
para qualificar a inconclusão e o caráter de esboço das obras de escritores como 
Stephen Crane e Joseph Conrad. Assim: “ C’est sans doute ce qui explique que Ford, 
dans le second essai, plutôt que tenter d’offrir une définition canonique d’un mouvement 
littéraire, mal identifié, préfere décrire sa propre écriture et sa propre méthode en des termes 
qui évoquent davantage ‘la nouvelle fiction’ selon Henry James ou le ' roman moderne’ selon 
Virginia Woolf. Au fil des pages, ce qu’il nomme impressionnisme apparaít très proche de ce 
que l’on nomme aujourd’hui modernisme, mouvement littéraire dont il était partie prenante 
et qu’il a largement contribué à façonner en publiant les textes des principaux écrivains .” (p. 
107-108) 

No primeiro artigo, Reynier salienta a ênfase de Ford na natureza subjetiva do 
impressionismo (literário) enquanto expressão direta de uma personalidade, e 
sua revisão desta mesma postura, no segundo artigo, a partir de uma ambiguidade 
essencial entre o autor e sua criação. Com isto, Ford, a um só tempo, retoma 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


587 


a polêmica construída em tomo de Maãame Bovary , e antecipa reflexões feitas 
somente anos mais tarde pelo New criticism e pelos (pós) estmturalistas franceses. 
De maneira visionária, Ford aponta o que há de ilusão de real no realismo e 
no impressionnismo, distintos entre si pela ênfase que colocam nos termos de 
representação e apresentação (escrita mimética X nova escrita): “ha représentation 
suppose qu’ily ait quelque chose à représenter, um référent que ‘ artiste s’évertue à copier. Ce 
présupposé est entièrement remis en question par le passage à la présentation. ha présentation 
implique un contact direct avec la réalité, sans commentaire ou intermédiaire, sans narrateur 
omniscient. he contact direct intervient dans le flux de conscience, le monologue intérieur de 
Doivell dans The good soldier, par exemple, ou celui de híenry dans The rash act, qui 
permet au lecteur d’appréhender la réalité par le prisme de la consáence et de la sensibilité du 
personnage- narrateur. Ce qui implique que la réalité perçue est hautement et uniquement 
subjective : il ne s’agit plus d’un référent pré-existant mais d’ une construction de l’esprit en 
questionP (p. 109) 

Tal método digressivo depende de um leitor atento, capaz de reconstruir os 
passos do narrador e reestabelecer o fio da estória contada. Pois, ainda uma vez, 
o impressionismo literário pode superpor imagens e sensações de diferentes 
épocas, permitindo “ce qu ’on appellerait la sjnchronie de l’écriture. PourFord, hmpression 
est impression d’un moment et des milles sensations dont il vibre, hoin d’être une chronique, 
elle est tout au plus chronique de 1’éphémèreP (p. 110) 

Por fim, a autora enfatiza a semelhança daquilo que Ford define como escrita 
impressionista perante aquilo que comumente se toma como escrita modernista, 
citando passagens em que Ford identifica o impressionismo literário com 
processos técnicos de quadros futuristas; trechos em que destaca a importância 
de produzir a impressão no leitor, interessando-o ou mesmo chocando-o; apelos 
de Ford à criatividade e à livre capacidade interpretativa do leitor etc. Por todas 
estas informações, Reynier conclui que seu ensaio, chamado “On impressionism ”, 
poderia ser visto com mais acuidade se lido como “On (post) impressionism ”, 
sendo ele próprio de uma forma indefinível, capaz de mesclar ao “ vous” de um 
leitor a quem se dirige o eu do próprio escritor, crítico dos ingleses da época, tal 
como — em outro registro, diverso, mas intencionalmente próximo — o narrador 
de The good soldier ; Dowell. 


RIECHEL, D. C. Monet and Keyserling: toward a grammar of literary 
impressionism. Colloquia Germanica, Lexington (Estados Unidos da 
América), v. 13, n. 3, p. 193-219, 1980. 

Isolando os trechos que fazem referência ao impressionismo literário para 
além da comparação das telas de Monet aos romances de Keyserling, pode- 
se observar a definição de Richel, emprestada de Hauser e Lang, do conceito 
em questão: “The reduction of all motifs to landscape is the principal grammatical 




588 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


component of impressionismo (p. 198) Assim, mediante uma profusão de exemplos 
de paisagens na obra do autor alemão, Riechel conduz sua análise, derivando 
o impressionismo literário de uma herança subjetiva (romantismo) e de uma 
herança técnica (naturalismo): “ The polarity / identity of jorm and formlessness, garden 
and world, constituting the abstract structure of Keyserling’s oeuvre is es senti ally romantic in 
nature, but ivithout the romantic possibility of redemption. Fiterary impressionism thus has 
a twofold inheritance: in “Anschauung” romantidsm, in technique naturalism. But Monet 
also s bares that intellectual heritage, just as his art and Keyserling’s share the same grammar, 
a grammar whose compass is internaliyed landscape, and whose essence is as abstract as it is 
subjectiveO (p. 212) 


ROGERS, Rodney O. Stephen Crane and Impressionism. Nineteenth-century 

Fiction, Berkeley (Estados Unidos da América), v. 24, n. 3, p. 292-304, dez. 
1969. 

Leitura do impressionismo de Crane como devedor não do estilo da pintura, 
mas de sua mundividência (à la Bourget, Hauser): “If Crane in fact owes anything 
substantial to the French school, it consists mainly in his having adopted the world view upon 
which impressionism as a painting style dependsO (p. 292) No que toca à prosa de 
Crane, Rogers assinala (em indicações que seriam aproveitadas mais tarde por 
James Nagel) seu uso tripartite do ponto de vista narrativo: por meio de uma 
disparidade, expressamente enunciada pelo narrador, entre ele e o personagem 
focalizado; por meio da justaposição de focalizações inteiramente díspares, 
como de um grupo de náufragos e de um grupo num salão de dança, numa praia 
ao lado [paralaxe]; ou por meio de uma “disparidade verbal” [verbal disparity\ , a 
saber, a junção violenta de ideias díspares como forma de relativizar o ponto 
de vista até então empregado (como na passagem “ then was seen a long blade in 
the hand of the gambler. It shot forward, and a human body, this citadel of virtue, wisdom, 
power, was pierced as easily as if it had been a melorC'). 


SCHUH, Julien. Des écrivains contre l’impressionnisme. In: GENGEMBRE, 
Gérard;LECLERC, Yves;NAUGRETTE,Florence (Dir.). Impressionnisme 
et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 
201 - 211 . 

Avaliando a profícua relação entre os pintores impressionistas e os escritores 
da época, com base em diversas amizades célebres dentre os membros e 
simpatizantes do grupo (Mallarmé, Manet, Morisot etc.). Schuh aponta, por 
detrás dos elogios da grande imprensa posteriores a 1886, o desapreço das 
revistas vanguardistas da mesma época pelo impressionismo (Mercure de France, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


589 


Essais d’art libre). Cita como seus principais detratores G.- Albert Aurier, F. 
Fénéon e C. Mauclair. Não obstante, no início do simbolismo francês, destaca a 
importância do conceito de impressão nas teorizações de Gustave Kahn, bem 
como a tentativa de escritores como E. Dujardin em fixar a vida psíquica através 
da escrita. Afeitos entre si pelo mesmo culto do Eu e pela consciência cada vez 
mais aguda da fragmentação da subjetividade e da não linearidade do tempo 
vivido, como atestado pelo influente Maurice Barrès, tanto o impressionismo 
quanto o simbolismo, na opinião de Schuh, concebem a obra de arte enquanto 
síntese de uma vida cada vez menos palpável. Todavia, logo tais semelhanças se 
dissipariam, frente ao repúdio simbolista pelo materialismo perene dos quadros 
impressionistas, transformando-se em críticas diretas nas páginas dos autores 
mencionados, dos quais destaca Mauclair: “Ce compte renãu synthétise les critiques 
des Symbolistes envers rimpressionnisme: matérialisme, recherche de 1’effet virtuose mais lié au 
hasard, manque de composition, absence de délimitations des couleurs avec pour conséquence 
un asémantisme qui ne fait que reproduire celui du monde, quand Partiste devrait lui donner 
sens par son oeuvreC (p. 211) 


SÉGINGER, Gisèle. Zola et E a bête humaine: de 1’impressionnisme à 
Fexpressionnisme. In: GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, Yves; 
NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. Rouen: 
Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 169-178. 

Atendo-se ao período em que Zola se distancia dos pintores impressionistas 
(pós-1879), bem como ao romance Ea bête humaine (1890), a autora destaca 
a ocorrência de procedimentos impressionistas no início desta obra como o 
retorno final do escritor à estética impressionista com o único propósito de 
negá-la por meio de seus próprios recursos: “une série impressionniste répresentant 
la gare Saint-Eagare à des heures differentes, avec une variation de lumière. [...] Aux sujets 
typiquement impressionnistes et à la série s’ajoute une description souvent attentive aux effets 
et qui dissout le sujet [...]. Mon hypothèse est que Zola revient à rimpressionnisme pour le 
li qui der, en retournant la série impressionniste contre rimpressionnisme (p. 169) 

Notando bem o repúdio de Zola pelos impressionistas a partir de 1880, vistos 
como incapazes de fixar criativamente a natureza por meio do temperamento: 
“II rejette désormais rimpressionnisme car celui-ci s’éloigne trop de la nature et systématise ses 
procédés, car Pimplication d’un tempérament génial et d’ une façon spécifique de voir est donc 
insuffisante et de ce fait Poeuvre n ’est pas asseg^ construite, ony ne sent pas asseg^ la force d’ une 
intentionnalité structuranteC (p. 171) Tal repúdio mostra-se evidente, sobretudo, 
em seu último artigo sobre o Impressionismo, datado de 1896. 

Outros sim, o uso de um tratamento pictórico na descrição inicial de Ea bête 
humaine visa realizar aquilo que o Impressionismo parecia prometer, mas não 
pode cumprir: a íntima conexão entre a observação da natureza e a estrutura 




590 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


social da época correspondente. Assim: “ Zola va fixer ces instants en ãonnant aux 
couleurs et aux formes une signification dans un ensemble narratif structuré par une répétition 
d’actions — les meurtres qui s’enchainent — , structuré par un leitmotiv (la bete humaine 
tapie sous le progrès) — , structuré aussi par la récurrence des couleurs et des images dans les 
descriptions: le rouge du sang, le blanc du linceuil (une des images récurrantes), le noir de la 
mortP (idem) 

Desta forma, a progressão dramática de sete quadros da gare Saint-Lazare 
no primeiro capítulo do romance faz sobressair a miséria humana por detrás 
da significação das cores, em um processo de espelhamento simultâneo que 
seria aquele desejado nas telas (incompletas, sob tal leitura) dos impressionistas. 
Avesso à visão fenomenológica destes pintores, muito embora utilize recursos 
sintáticos claramente impressionistas para Séginger (como “1’estompage des 
contours, les notations fractionnés et la juxtaposition sjntaxique ”, p. 172), Zola opta por 
uma gradativa alegoria dos episódios narrativos, mediante a sequência de telas 
da gare: “Chaque description devient donc signifiante par des procédés proprement littéraires 
(figures de rhétonque et discours narratif). ha gare Saint-Lazare se transforme selon 1’heure, 
du milieu de la journée jusqu ’à la tombée du jour, mais son évolution suit surtout celle des 
personnages, de leurs passions. Les descriptions correspondent à des moments du drame et 
contribuent au récit d’ une évolution .» (p. 173) Tal evolução da gare pretende substituir 
a análise psicológica das personagens, mediante uma abordagem mais imediata 
do meio em que elas interagem. 

Séginger analisa, a seguir, a cena do assassinato no trem, e conclui sua discussão, 
apontando certo viés expressionista na apropriação do Impressionismo por 
Zola: “ Dans La bête humaine, la série impressionniste se métamorphose en une série 
expressionniste qui pousse jusqu ’à son extrême conséquence la prise en compte de la relativité 
et de rinstabilité du réel en les faisant dépendre non plus seulement de phénomènes extérieurs 
(le changement de la lumière ) mais aussi de phénomènes intérieurs. [...] La ‘bête humaine ’ est 
le nom qu ’on pouvait employer pour évoquer des forces inconscientes encore mal connues avant 
Freudr (p. 176) 

É curioso, todavia, que a autora não problematize sua leitura do Impressionismo 
em Zola (extrapolada, como muitas leituras sobre o impressionismo em dado 
escritor, ao polo ilusoriamente oposto do expressionismo) a partir de influências 
românticas reincidentes. Afinal, em muitas obras românticas tal paralelo entre 
os fenômenos naturais e o drama pessoal das personagens, enquanto alegoria 
de uma tragédia ou catástrofe iminente, é um recurso comum. Tal reflexão não 
consta do artigo, que opta por observar unicamente (e eis aqui, talvez, a deficiência 
de sua leitura) o sentido crítico de Zola perante o Impressionismo, observando 
no capítulo inicial de La bête humaine uma relação hipertextual propositalmente 
unívoca. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


591 


SIMMONS, Allan H. Impressionism. In: KNOWLES, Owen; MOORE, Gene 

M. Oxford ReadeEs Companion to Joseph Conrad. Oxford: Oxford 
University Press, 2000. p. 166-168. 

Levantamento sucinto e não desinteressante de diversas passagens na obra e 
na fortuna crítica de Conrad acerca de seu impressionismo literário. 


SMITH, Allan Gardner. Stephen Crane, Impressionism and William James. 

Révue française d’études américaines, Paris, n. 17, p. 237-248, mai. 1983. 

Para Smith, o juízo de que Stephen Crane seria o único escritor impressionista 
possível, emitido efusivamente por Joseph Conrad, “seems to have sent the critics 
off on a chase from ivhich thej have never returned (p. 237) Assim, elenca alguns 
destes críticos “perdidos” nesta busca (Nagel, Hartwick, Perosa, Wertheim, 
Waern), e relativiza o valor do trecho de “War memories” em que Crane confessa 
preocupar-se com a transcrição mental de uma cena, tal qual a de um quadro do 
impressionismo francês. De qualquer forma, “ to quarrel ivith the accounts of Crane 
as an impressionist, homver, seems merely petulance: the real issue here is not ivhether Crane 
ivas an impressionist, hut ivhether he ivas ‘only an impressionist' (p. 238) 

Revelando suas intenções logo a seguir, Smith comenta definições de 
impressionismo literário tomadas de Nagel, e avalia haver algo de “imperialismo 
crítico” em atribuir conquistas narrativas existentes desde Richardson a uma 
estética europeia individual. Inversamente, “ ivhat critics have taken to calling 
impressionism should properly be ascribed to its larger context of the end of formalism .” (p. 
240) 

Assim, mitiga o possível sentido de “fluxo de consciência” nas obras de Crane 
(bem como sua amizade com William James, via Henry), limitando-se a dosar 
o sentido do diálogo entre Crane e (William) James a uma recusa comum do 
determinismo na psicologia e na literatura: “I believe that, like James, Crane reserves 
the question of consciousness and free ivill, to make a personal commitment against complete 
deter minismC (p. 245) 

Trata-se, pois, de uma leitura negativa do impressionismo em Crane, que 
nega uma influência direta (ou imperialista) da arte europeia sobre si, de forma 
a enfatizar traços comuns ao pensamento da época (sobretudo, ao pensamento 
de figuras americanas como James e Pierce). 


STEWART, Jack F. Historical impressionism in Orlando. Studies in the novel, 
Denton (Estados Unidos da América), v. 5, n. 1, p. 71-85, primavera 1973. 

Buscando definir o “impressionismo histórico” de Orlando — ou seja, “ a literary 




592 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


mo de in ivhich scenes from racial memory are given the peculiar tones and colors of an artisfs 
sensibilip” (p. 71), mesclando, pois, a esfera individual à coletiva, e as impressões a 
fatos — , Stewart correlaciona elementos do romance àqueles do impressionismo 
ficcional em geral. Logo, define-o, a partir da pintura: Impressionist fiction , influenced 
by painting, shares the jreedom of lyric and fantasy. lt does not simply reproduce a stream 
of images as they pass before the half-shut eye; it selects, combines, and fertilizes them ivith 
the aesthetic and ethical values they bring into playT (idem) E, em seguida, com certa 
liberdade conceituai, equipara o senso de movimento da narrativa de Woolf 
àquele do fluxo “histórico” de consciência, julgando em seu impressionismo 
espiritual fspiritual impressionism ”) uma revolução da biografia (“ a single being can 
comprehend seventy-six kinds of time, 2052 selves, and a change of seT\ p. 72), que 
acentua o espírito das épocas por meio do fluxo de impressões. 

A este respeito, destaca a importância da atmosfera — histórica ou psicológica 

— para a enformação do impressionismo ficcional (W Sypher), bem como para 
o impressionismo histórico de Orlando , atento às diversas eras político-sociais 
vividas pelo (pela) protagonista (“ Ulizabethan , Jacobean, Restoration, Augustan, 
Victorian, Edivardian ”, p. 73). Mesmo a composição da obra escrita por Orlando 

— The Oak Tree — leva 340 anos. Assim, de forma a garantir a coesão narrativa 
através da rápida passagem dos anos, Stewart destaca o hiato e a justaposição 
como técnicas recorrentes na intercalação entre “ dramatitçed scenes and impressions.” 
(p- 75) 

O impressionismo é visto, pois, à luz desta alternância, e com ênfase em sua 
tradução de seu correlativo pictórico. Como, por exemplo, em sua descrição 
da era augustana: “ Sensuous impressions of light anda ir symbolize the sense of seeing, 
breathing, moving in an historie atmosphere, such as that of eighteenth-century Tondon [. . .] 
In this luminous tone-poem, faces and buildings blend ivith a mingled gloiv of natural and 
artificial light to form an harmonious compositionP (idem) Ou ainda, mais à frente, ao 
analisar a passagem surreal no romance do século XVIII ao XIX: “The style is 
an impressionistic intenveaving of color, light, and atmosphere, observed mth a painter’s eye. 
Tonal qualities reflect changes in climate, symbolizjng shifts in historical consciousness — thus 
the dominant tones of murky red suggest ‘the material, the near, the full-blooded’T (p. 77) 
E, enfim, ao abordar o ritmo acelerado da vida no século XX: “Radical shifts in 
space-time dissolve experience into a kaleidoscopic series of impressions. Things flash in and 
out of consciousness, threatening to ‘disassemble’ the personality, ivhich is only reintegrated in 
its ' illusion of holding things mthin itself’, ivhen momentum sloivs and uniformity is restored 
to the visual sceneT (p. 82) 

Logo, apesar da interessante proposição de um “impressionismo histórico” 
em Woolf, o texto, que avança neste sentido, recua ao tomar o impressionismo 
na literatura pela reprodução ou adaptação do pictórico. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


593 


. Impressionism in the early novels of Virgínia Woolf. Journal of 

modern literature, Filadélfia (Estados Unidos da América), v. 9, n. 2, p. 
237-266, mai. 1982. 

Trata-se de verificação linear das qualidades pictóricas do impressionismo 
em trechos descritivos e visuais de obras de Virgínia Woolf, a partir de telas de 
Monet, Sisley e Renoir. Há mesmo uma equiparação entre “Ta Grenouillère ” de 
Monet e Jacobs room. 


STOWE LL , H. Peter. Literary impressionism, James and Chekhov. Athens 

(Estados Unidos da América): University of Geórgia Press, 1980. 

Ao contrário do texto de Bender (1 997), o de Stowell reserva a discussão sobre 
o impressionismo literário para seu primeiro capítulo, deixando os demais para 
a análise dos autores (Tchekhov, James). Nele, compreende o impressionismo 
como um meio termo entre a subjetividade romântica e a anarquia modernista, 
e afirma: “ Neither a literary movement nor a criticai invention, literary impressionism ivas 
a phenomenon that existed as a set of shareâ assumptions, elective affnities, philosophic 
agreements, and common reactions to the ‘supersensual multiverse (p. 13) E aponta que, 
sem contar com um chefe de escola, estando reduzido a um breve espaço de 
tempo entre outras tendências literárias, e sem haver em sua época nenhum 
escritor e obra autoproclamados como “impressionistas”, o impressionismo 
literário é em seu parecer hoje, como antes, um fenômeno contraditório. 

A seguir, Stowell afasta-se com propriedade de uma definição pictural do 
termo: “The major error in most studies of impressionism is the inclination to reduce its 
dynamic vision of a changing ivorld into mere pictorialism. Titerary impressionism could not 
have existed as simply a series of ‘separate fleeting impressions’.” (p. 14) E defende, à 
maneira de Kronegger, a leitura do impressionismo literário na direção de sua 
atenção moderna à percepção fenomenológica, à atomização da realidade pela 
subjetividade, à crítica à causalidade, tomando como sua origem o sentido cada 
vez mais rápido de mudança e de transitoriedade no cotidiano. 

Entendendo, pois, o impressionismo como uma antevisão de diversas 
mudanças nas artes, nas ciências, na filosofia etc., Stowell aponta como crucial 
para sua compreensão a relação entre sujeito e objeto, i.e., entre a consciência e a 
realidade exterior. Para tanto, aponta sua mistura entre o conceito de “duração” 
(Bergson) e o tempo-espaço da fenomenologia, sob a tutela e onipresença do 
Tempo: “Itis this quality that distinguis h es literary impressionism from painting. Titer ature 
must cr e ate characters responding to events through time. [ . . .] The impressionists ivent a step 
further by fusing the subjective ivave of Bergsonian time ivith the subjectively objective quanta of 
perceived phenomenon. Vhenomenological time stresses the ‘moments’ of events, ivhich, because 
they are imperceptibly framed and spatially perceived, take on the literary impressionists ’ 




594 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


hallmark: temporally extended frotyen moments of spatialiyed time that dissolve and return 
to the floiv of durational time” (p. 19) 

A seguir, retoma elementos recorrentes na discussão do impressionismo 
literário — a dissolução do enredo, a ambiguidade de percepções, o 
relativismo espaço-temporal etc. — e passa a discutir a questão em Tchekhov 
e James, ressaltando como base da classificação de ambos enquanto autores 
impressionistas sua atenção aos limites entre narração e perspectiva (entendido 
nos termos de um ou mais “ camera eye\ i.e., de centro (s) focalizador (es) na 
narrativa): “They had to overcome the possible division betiveen the voir and the savoir of 
the experiences. They could not presume to knoiv mthout seeing nor, because they saw, presume 
to knoiv all Perception and consciousness became ivoven into the fibre of knoivability .” (p. 
21 ) 

Stowell fala ainda na transição do “ tellinf ’ narrativo oitocentista para o 
“ shomnf ’ impressionista; nas relações entre o camera eye e o “ innocent eye” do 
impressionismo pictórico; a diversidade de estilos e escolhas lexicais entre os 
autores assim classificados; a atenção comum à atmosfera e à descrição vaga 
dos objetos por meio de verbos de percepção, e não de ação; o uso comum de 
personagens isoladas, ou, ao menos, apartadas de seus respectivos grupos sociais; 
a gradativa fusão entre a consciência e a realidade dos objetos (que considera 
o núcleo da ficção impressionista, nos termos fenomenológicos anteriormente 
expostos); a espacialização do tempo pela narrativa; a justaposição de imagens 
e a “montagem” de impressões etc. 

Em suma, trata-se de texto importante para a revisão de diversos elementos 
isolados do impressionismo literário, e que conta com boa bibliografia sobre 
o assunto. Há que se ressalvar, contudo, certa permanência dos preceitos do 
impressionismo pictórico subjacentes à análise dos textos literários, como no 
trecho: “Impressionist prose is suffuseã mth ‘instants’, ‘moments ' \ ‘ seconds \ and ‘minutes’ 
that fill the narrative canvas mth a thousand strokes of immediacy (p. 41) Ou em: 
“The ivriter always seemed positioned behind the painter, rendering the expression of the 
paintePs impression. An impressionist character sees mth the eyes of an impressionist painter. 
[. . .] Titerary impressionism is the transformation of the paintePs painting and the paintePs 
consciousness in the act of painting. ” (p. 55) 


STORSKOG, Camila. Literary impressionism and Finland: a criticai digest. 

Scandinavian Studies, Champaign (Estados Unidos da América), v. 83, n. 
3, p. 387-413, outono 2011. 

Para além do enfoque do artigo, expressamente voltado para o impacto do 
impressionismo literário na Finlândia, seu resumo dos elementos textualmente 
impressionistas evocados pela crítica finlandesa desde a década de 1 880 indica 
certa unanimidade global da fórmula inaugurada por Brunetière (transposição 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


595 


da pintura à literatura): “ The keys to unãerstanãing impressionism in literature offered 
by the literary criticism in Finland are: (1) metonymic descriptions that avoid cataloguing 
to concentrate instead on a set of representative details; (2) a prose that keeps to the sketch 
and the fragment to the point of abandoning the plot ivhile favoring the passing rnood over 
any permanent condition; (3) a subjective naturalism stemmingfrom the idea that subjective 
impressions are the only reliable data ; (4) a miting bearing resemblance to the themes, 
framing, and obliqúe angle of vision in impressionist painting, as in the ivorks of writers 
most likely acquainted ivith the major ivorks of the impressionists (plein-air prose, scenes 
from ‘impressionist Paris’, descriptions of shifting light, and the play of reflections that suggest 
a mood or an atmosphere); (5) texts that draiv on [Herman] Bang’s unique impressionism 
that demanded its oivn terminology and implied, among other things, the use of an impassive 
narrator ivho did not intrude into the impressions of the characters and relied on the senses as 
the only source of Information; and finally, (6) the compositional horror that derives from a 
rapid and rough sketching and a seemingjy careless perception of reality .” (p. 409) 

A menção ao escritor dinamarquês Herman Bang, apontado pela autora e 
por diversos intérpretes avaliados neste texto como autor impressionista por 
excelência (que ressente da falta de traduções do dinamarquês ao português — 
muito embora seja possível, com alguma dificuldade, encontrar suas obras em 
francês ou inglês) reforça, não obstante, a hipótese anterior de sobrevivência 
da definição sumária de impressionismo literário via Brunetière, vide sua 
abordagem visual e sensorial dos ambientes em romances como Tine ou Maison 
blanche maison grise. 


TEETS, Bruce F. Literary impressionism in Ford Madox Ford, Joseph Conrad 
and related writers. In: CARABINE, Keith (Ed.). Joseph Conrad: criticai 
assessments. East Sussex: Helm Information, 1992. v. IV. p. 35-42. 

Em seu início, o artigo discute os pontos de proximidade entre o 
impressionismo pictórico e literário, resumindo a questão de maneira claramente 
introdutória: “ Impressionist painting ivas not a clear-cut style, being more a coincidence of 
a group of painters ivho accepted the term impressionism as expressing their community of 
interest. There exist no th eore tical defences of any specific principies of these painters [...]. The 
apparent intent of the impressionists ivas to catch the subject that they painted in one of the 
fleeting moments of its existence. [ . . .] In literature, writers accepted the similar conviction that 
the personal attitude and moods of the writer ivere legitimate elements in depicting character 
or society or action. Briefly put, the literary impressionist holds that the expression of such 
elements as these through the fleeting impression of a moment is more significant artistically 
than a photographic presentation of cold fact. The object of the impressionist is, then, not to 
present his material as it appears to the objective observer but as it is seen or felt by himself 
in a single passing moment T (p. 35-36) 

Buscando, todavia, compensar tais generalidades, o autor faz um levantamento 




596 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


da fortuna crítica de Conrad e Ford, e, a seguir, passa a avaliar alguns elementos 
textuais do impressionismo literário em suas obras, especialmente em Lo rd jim 
e The good soldier (‘‘ juxtaposition , the time-shift, progression d’effet, and pointillisnP 
(P-36)). 

Ao final, Teets dá um novo compte rendu da aproximação: “Cf some significance 
are the fact that ivhereas impressionism ivas not a clear-cut type of painting, impressionist 
ivriting ivas not commonly and clearly understood by its practitioners; both painters and ivnters 
considered capturing the fleeting moment as a kind of realism: painting, the physical, and 
ivnting, the psychological; both relied upon the personal, subjective attitudes and moods of the 
artist; both thought ‘rendering’ more effective than mere ‘reporting’; and both shocked their 
contemporaries, ivho believed them to be ivildly unrealisticP (p. 41) 


VÉDRINE, Hélène. Barbey d’Aurevilly et rimpressionnisme: du “crétinisme 
dans la couleur” à 1’âme nor mande. In: GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, 
Yves; NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. 
Rouen: Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p.179-187. 

Destacando o lugar acessório da crítica de arte em sua obra (referente a 
um em vinte e cinco volumes) e do interesse superficial de Barbey d’Aurevilly 
pela pintura (acrescida da completa ausência de comentários sobre pintores 
impressionistas, com a exceção do precursor Manet), Védrine observa: “11 n’est 
que temporairement et partiellement négatif et, comme dans la gravure en creux, permet de 
faire apparaítre três nettement une ligne esthétique propre.” (p. 179) 

A seguir, esclarece o título de seu artigo / comunicação, ao observar o 
conservadorismo teórico do escritor: “Par ‘crétinisme dans la couleur’ Barbey 
désigne une sorte de dégénérescence de la vision, qui passe par 1’exacerbation de la couleur, 
une ‘épilepsie de la couleur’ furieusement poussée et dont la violence est le signe même de la 
faiblesse du temps: ‘Ce pauvre siècle épuisé, anémique prend naturellement la violence des 
sensations pour de la vieT (p. 180) Inversamente, seu olhar artístico é o de “un oeil 
du noir et blanc, un oeil graphique” , atento antes para a a precisão do desenho que 
para as (degenerescentes) nuanças de cor (idem). Assim, no ano de eclosão 
do Impressionismo, 1874, enquanto todos elogiam e criticam as revoluções do 
plein air na pintura, d’Aurevilly comenta apenas uma estátua de Joana d’Arc 
inaugurada há pouco no “plein jour de la place publique ”, em construção desde 
1872. (p. 181) 

Avesso a paisagens e a retratos, o escritor não poderia, aliás, apreciar a 
estética impressionista, de antemão. Ademais, seu mundanismo, tomado em 
partes de pintores como Courbet e Manet, não poderia tampouco agradar 
alguém ideológica e severamente cristão como d’Aurevilly. Os únicos pintores 
que lhe parecem merecer um tratamento flexível são Edouard Manet e Zacharie 
Astruc, uma vez que elogiados pelo juízo artístico de Baudelaire, norte literário 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


597 


de d’Aurevilly. Porém, mesmo destes, parece destacar justamente aquilo que 
lhes é acessório, como as esculturas de Astruc, cuja forma elogia a partir do 
conteúdo, e vice-versa: “Ai Barbey ///en creux dans les textes ou les oeuvres de mouvance 
impressionniste ce qui leur est contraire, il saura aussi reconnaítre ce qui, en creux, fait écho 
à ses propres préoccupations .” (p. 184) 

Desta forma, considera a principal inovação impressionista « la complexité retorse 
des points de vue adoptés, qui révèlent à eux seuls la subjectivité de 1’artiste, et non dans cette 
innocence de 1’oeil que l’on attribue souvent aux impressionnistes .» (idem) Nestes termos, 
elogia o quadro “Le combat du Kearsarge et de lAlabama ’ de Manet pela visão 
retorcida da violência do mar, expressa pelo combate dos navios americanos. 
Sua leitura (já enviesada) do quadro de Manet é, todavia, incompleta, pois ignora 
a mediação de um terceiro navio, de observadores, em uma torção de pontos 
de vista “ comme Barbey le fait lui-même dans ses romans ou nouvelles en imbriquant 
plusieurs niveaux de narration.” (p. 186) Mesmo o título de sua coletânea de artigos 
demonstra o quanto pode ser impressionista a crítica de d’Aurevilly — Sensations 
d’art—, “ dessinant en creux les propres données biographiques de Barbey.'” (idem) 

Em seu conjunto, o exemplo dos textos críticos de d’Aurevilly mostra que a 
absorção da nova estética, preconizada pelo Impressionismo, não foi de difícil 
absorção apenas pelo grande público, mas também pela elite intelectual da época, 
que poderia guiar e facilitar tais discussões. Dividida em seu próprio seio, pelos 
mais diversos motivos (estéticos, religiosos e biográficos, como exemplificados 
aqui e ali no texto crítico de Védrine), tal comunhão de pensamentos, claramente, 
não foi possível no dado contexto. 


VOSSOUGHI, Afzal; KHAN MOHAMADI, Fatemeh; ZIBAI, Mehri. 
Verlaine et les aspects impressionnistes de sa poésie. Révue des études de la 
langue française, Isfahan (Irã), ano 2, n. 3, p. 79-91, outono-inverno 2010- 
2011. Disponível em: http:/ / ecc.isc.gov.ir/ShwFArticle.aspx?aid=209938 
Acesso em 14 dez. 2015 

Estudo do impressionismo de dois poemas de Verlaine face a dois quadros 
de Monet, em que o impressionismo literário é entendido como êmulo das 
qualidades da pintura. E assim que, por exemplo, « dans les Paysages belges de 
Komances sans paroles, écrits pendant les semaines de vagabondage avec Pãmbaud, qu \ 'apparaít 
le mieux le caractbre impressionniste du style verlainien. Le poete énumère sans transition les 
images visuelles, sonores, o/factives — ou plutôt les impressions, le retentissement en lui de 
ces sensations .» (p. 83) Há levantamento de processos textuais (como a ausência 
de verbos, enquanto paralelo textual da justaposição de cores) que pretendem 
atestar a similaridade (contiguidade) entre pintura e literatura. 


598 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


VOUILLOUX, Bernard. Lfimpressionnisme littéraire, un mythe fécond. In: 

GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, Yves; NAUGRETTE, Florence (D ir.). 

Impressionnisme et littérature. Rouen: Presses Universitaires de Rouen et 

du Havre, 2012. p. 17-25. 

Este artigo, fundamental por sua concisão e precisão teórica, trata de 
acompanhar — sem discutir a validade ou não do termo — a evolução do 
conceito de impressionismo literário desde seu surgimento no século XIX, 
enquanto “ artifact critique ”. (p. 17) Iniciando-se em 1879 com Ferdinand 
Brunetière (“ Uimpressionnisme du romari ’), cuja hostilidade manifesta é repetida 
ainda por Gustave Lanson (“LW de la prose ”, 1908), e desenvolvendo-se com 
Paul Bourget (“ Paradoxe sur la couleud ’, 1881), o autor examina os dois ângulos 
utilizados de análise: o descritivo (atenção aos traços estilísticos, definidores 
de um impressionismo literário, como “ la substantivation de 1’adjectif ’ e do verbo, 
a focalização interna, o discurso indireto livre, a narração impessoal, a frase 
nominal, o emprego de preposições como “com” ou “sem” em complementos 
circunstanciais, as acumulações de frases curtas etc.) e o explicativo (tomado 
ora enquanto “ modelisation” ou “influência” do impressionismo pictórico sobre 
o literário, na esteira de Brunetière; ora enquanto impregnação, não difusão, de 
uma tendência psicológica comum às artes da época, na esteira de Bourget). 
O autor registra a seguir o desenvolvimento dessas duas vias de análise nos 
decênios seguintes, citando estudos franceses e alemães sobre os Goncourt, 
Proust, Flaubert, Maupassant, Verlaine, Loti e Zola, ressaltando a semelhança 
dos títulos, que visam o impressionismo “bei, in ou arí ’ determinado escritor. 

Vouilloux observa ainda a importância de dois pressupostos em todos os 
estudos citados: um primeiro, £ phénocentristê ’ (em que o pintor pinta e o escritor 
descreve aquilo que veem , “ subordonnée causalement et tempporellement à la phénomenalité, 
le pictural ou le verbal au visueV , p. 22), e um segundo, “ perceptivisti ’ (em que o pintor 
ou o escritor veem aquilo que sentem , “le phénomène étant characterisé, à choque fois, 
par le primai de la sensation ”). Relembra alguns mitos do impressionismo pictórico 
(a negação do quadro e da tradição, em prol do imediatamente visto (Monet); 
a busca pela “ innocence du regard ’ (Ruskin) e pela sensação original evocada pela 
pintura (Laforgue); o anti-intelectualismo (Valéry, Bergson, Breton) e sua versão 
científica posterior, ligada ao associacionismo perceptivo e, mais tarde, à teoria 
da Gestalt. 

O autor chega a fornecer sua própria versão, a partir de indicações de Renan, 
do impressionismo literário na França: “Al suivre Kenan, le ‘moment impressionniste > 
de la prose française serait celui ou 1’écriture littéraire, à défaut de pouvoir retrouver 1’initiale 
‘image indivise’ formée par la perception, endosse le caractere analy tique de la langue tout 
en s’efforçant de privilégier la partie sensitive de l’idée sur la partie intelligibled (p. 23) 
Desta forma, desenvolve-se a prosa romanesca futura: “la ligne de 1’écriture laisse 
se détacher le punctum sensoriel, lesgrands rythmes romanesques se fragmentent, le lien, ou 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


599 


le liant, narratif ou discursif semble se dissoudre dans la pulvérulence des ‘ notations un 
mot que le langage critique de 1’époque associe souvent aux ‘impressions’ à partir desquelles 
travaille la jeune école de peinture. Vartout, le fragment, le morceau, 1’étude (un mot que 
revendique la photographie) supplantent le tableauP (p. 24) 


. L’»impressionnisme littéraire»: une révision. Poétique, Paris, n. 121, p. 

61-92, fev. 2000. 

No presente artigo, o autor avalia a possível equivalência entre literatura e as 
descobertas pictóricas de sua época (impressionismo), cogitando a pertinência 
de suas relações macroestruturais (composição) e microestruturais (estilo). 

De antemão, descarta a hipótese da “influência”, assinalando a postura 
ambígua dos escritores frente à pintura impressionista; levanta a existência 
da hipótese de um geitgeist comum às artes do período; e observa a hipótese 
estilística (ela também uma espécie de síntese periodística), o mais das vezes 
centrada no estudo da écriture artiste e dos aspectos impressionistas da linguagem 
(Bally). 

Vouilloux observa que, após um século de discussão, o impressionismo 
literário tornou-se um objeto histórico, apesar de suas muitas contradições; 
e que parece haver bastado assinalar pequenezas como a substantivação do 
adjetivo para designar o processo de verbalização da visão de pintores como 
Monet e Renoir. 

A seguir, levanta e discute os textos de Brunetière, Bourget, Mitterand, Pagès, 
Gaillard, relevando: “II est hautement significatif que, chaquefois qu’il s’agit de caractériser 
ce qui est écrip nos critiques commencent par se demander ce qui a été vu, 1’ écriture étant 
définie de manière corollaire comme un art verbal qui ‘transpose’ les impressions que restitue, 
de son côté, l’art visuel de la peinture impressionniste — ou qui ‘ transpose ’ les effets visuels de 
la peinture impressionniste .” (p. 65) 

O propósito maior de Vouilloux é o de desfazer as confusões da crítica 
literária em sua leitura quase sempre “visual” do impressionismo literário, que, 
ainda hoje, ignora as evoluções da história da arte, mantendo-se fiel às primeiras 
leituras do impressionismo pictórico (ou, como observa, ainda insistindo em 
leituras estilísticas, ignorando a Semiótica). Inversamente, indica o privilégio do 
polo artístico sobre o polo perceptivo na evolução do impressionismo na história da 
arte, ultrapassando as leituras de Castagnary, Burty, Chesneau, Duranty e Duret, 
com base em sua releitura da tradição pictórica renascentista. No que toca ainda 
ao polo artístico , três questões importantes da pintura moderna são avaliadas no 
impressionismo pictórico: a relação entre a forma e a luz; a triangulação do 
espaço; e a representação polissensorial (Francastel) . 

Vouilloux retoma a distinção kantiana entre “aparência” e “fenômeno” 
para distinguir o impressionismo da pintura clássica: “ On pouvait donc dire qu’à 




600 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


1’apparence (conceptualisée) des objets peints, tels que la forme-contour les ãélimitait dans la 
peinture classique, rimpressionnisme substituait le phénomène (sensible) de la couleur, telle que 
la jorme-tache la circonscritP (p. 69) Assim, o impressionismo conseguiu resguardar 
a fugacidade da impressão momentânea, estabelecendo certo elo lírico com o 
espectador (percebido à época por Castagnary e Laforgue). 

Após um longo e brilhante excurso pela sugestão do “olho natural” de Laforgue 
(visando os pontos de contato entre o perceptivismo e o multissensorialismo, 
via Ruskin), e da definição dos mitos “fenocentristas” e “perceptivistas” 
(discutidos em seus dois outros artigos, e aqui observados segundo sua relação 
com os avanços da Gestalt e a obsolescência das teorias estéticas que embasam 
ou correspondem ao impressionismo pictórico), pondera: “II J a dans toutes les 
analjses qui font jouer les arguments phénocentriste (peindre ce que l’on voit) et perceptiviste 
(voirce que l’on sent) une réquisition primitiviste ou ' jondamentaliste. (p. 82) E conlcui, em 
tom claramente crítico à manutenção do conceito de impressionismo literário, 
posto que ligado a um momento da evolução da arte — e das teorias oitocentistas 
sobre a sensação e a percepção — já encerrados: “[...] sa signification est à chercher du 
côté non du mimétique, mais du sémiotique. Pour qui veut cerner les enjeux impliqués dans 
la notion d’impressionnisme littéraire, cette inflexion majeure doit constamment être gardée 
a l’esprit: elle fait apparaitre combien il est hasardeux de continuer à fair fond sur un ordre 
de postulations théoriques tenues pour obsolètes aussi bien en histoire de l’art que dans la 
psychologie de la perception tout en prétendant donner une description rigoureuse des relations 
objectives entre peinture et littér. ature (p. 85) 


. Pour en finir avec rimpressionnisme littéraire: un essai de metastylistique. 

Questions de style, Caen (França), n. 9, 2012, p. 1-25, 15 março 2012. 

Neste artigo, o autor revisa a sobrevivência do discurso crítico acerca do 
impressionismo literário a partir de dois pressupostos: a doxa de fazer ver as 
coisas como são imediatamente percebidas (não concebidas) na pintura; e a 
articulação entre cognição e percepção na escrita, com igual predomínio do 
que é “perçu, sentP . (p. 1) Retomando o ano de 1879 como marco do início 
do impressionismo literário e da écriture artiste (respectivamente, definido por 
Brunetière em “ Uimpressionnisme dans le romatP e por Goncourt no prefácio a Les 
frères Zemgamno ), bem como o periodismo impressionista na literatura francesa 
defendido por autores como Giles Philippe, Georges Pellissier e Ferdinand 
Brunot, Vouilloux observa o interesse central de uma revisão desta discussão, 
que vai além de uma mera identificação dos procedimentos técnicos envolvidos: 
“Aussi bien, si la notion d’impressionnisme littéraire mérite d’ être interrogée aujourd’hui, 
c’est moins pour les données qidelle subsume que pour le modele explicatif d’ ordre causal 
sur lequel elle repose et pour ce quelle présuppose quant à l’articulation entre 1’expression 
linguistique et la perception (p. 3) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


601 


Seguem-se análises do texto mencionado de Brunetière e da discussão de 
Bourget em “Paradoxe sur la couleu que levam a uma conclusão provisória: “les 
ãeux hypothèses explicatives sont suscetibles de se combiner et que, de la sorte, littérature et 
peinture sont aptes à entrer dans au moins ãeux types de rapports: ou bien la littérature s ’aligne 
purement et simplement sur le matérialisme de la peinture (c’est 1’hypothèse de Brunetière); ou 
bien littérature et peinture, dans leur version impressionniste, sont les symptômes d’ une même 
attitude caractérisée par la prédominance de la subjectivité (c’est 1’hypothèse de Bourget)’.’ (p. 
5-6) Porém, tecendo uma importante distinção entre dois sentidos possíveis 
de subjetividade — aquele que diz respeito à representação do real \ ou seja, ao jogo 
de focalização e de discurso indireto livre que caracteriza a visão limitada de 
uma cena por uma personagem; e aquele que liga o impressionismo ao real da 
sensação , tal como previsto por Bourget, ou seja, “la réalité telle que la percevrait tout 
individu indifféremment, en tant qu’elle serait réductible au processus physio-psychologique 
au gré duque l, comme dirá Proust, les choses viennent avant leur nom” (p. 7) — , o autor 
observa a dupla herança do impressionismo literário, entendido ora como ampla 
via psicológica (na esteira de Bourget, Eric Koehler e Richard Hamann) ora 
como particularidade de construção linguística da frase (na esteira de Brunot, 
Charles Bally, Marcei Cressot). Em outras palavras, começa a distinguir-se um 
impressionismo histórico (visão de mundo, ampla significação cultural sobre 
as artes) de um impressionismo psicolinguístico (substantivação do adjetivo, 
pretérito imperfeito, parataxe). 

Vouilloux detém-se neste último, estabelecendo diferenças entre as reflexões 
de Cressot, Lanson e Marouzeau, dentre outros, principalmente no que toca à 
dinamicidade do pretérito imperfeito e ao “pontilhismo” da parataxe. Observa 
ainda a distância que vai da frase impressionista (rebuscada ao ponto de um 
“artefato literário”, no dizer de Cressot e Marouzeau) à fala coloquial, que se 
vale desordenadamente da justaposição e da parataxe. 

Finalmente, conclui: “A pousser plus loin 1’analyse, tout donne à penser que 
rimpressionnisme ou le phénomenisme littéraire est la réponse proprement littéraire à un 
état de la question qui met en jeu moins la représentation du réel des sensations, 
que la représentation de cette représentation.” (p. 19) E lamenta a falta de 
contextualização do impressionismo literário, que faz de uma discussão estilística 
uma outra metaestilística, retomando a distinção entre os pressupostos de análise 
“ phénocentristê ’ e “perceptiviste” , explorados em seus outros artigos presentes neste 
anexo: “En tant que système causal visant à renvoyer le phrasé au perçu et le perçu au senti, 
rimpressionnisme littéraire jait partie de ces constructions de pensée, de ces aterfacts théoriques 
qui jorment une paradigme.” (p. 25) 


WANLIN, Nicolas. Comment se construit 1’idée dámpressionnisme poétique 
(sur le cas de Verlaine). In: GENGEMBRE, Gérard; LECLERC, Yves; 
NAUGRETTE, Florence (Dir.). Impressionnisme et littérature. Rouen: 




602 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Presses Universitaires de Rouen et du Havre, 2012. p. 143-151. 

A referência às artes plásticas na poética de Verlaine é uma constante, 
começando pelos títulos de diversas de suas obras (“ ' A.quarellei\ “ Eaux-fortef ’). 
Igualmente, diversos críticos aplicaram para si o rótulo “impressionista”, muito 
embora o poeta “n’a jamais placé sa poésie sous le signe de ce mouvement picturalP (p. 
143) Assim, Wanlin propõe-se a desvendar como se deu, entre leitores e autor, a 
cocriação deste epíteto de poeta impressionista, pautando-se em três diferentes 
vieses de leitura: fenomenológico, estilístico e sociológico. 

No que toca ao primeiro, Wanlin destaca a plasticidade dos Poèmes saturniens 
como primeiro indício de uma leitura pictórica do poeta pela crítica. É o caso de 
Louis Desprez, que elogia sua “ vision de peintri\ ou ainda de Francis Magnard, 
que elogia sua ênfase antes em impressões que em sentimentos, (p. 143-144) 
O primeiro a chamá-lo de impressionista é Ernest Raynaud, em 1888, quase 
imediatamente após a desagragação do grupo de pintores: “A ce stade, [...] 1’idée 
d’un art impressioniste, qu’il soit verbal ou plastique, estprincipalementprise en mauvais part, 
voire refutée comme absurde ou ndiveP (p. 1 44) Em contrapartida, os primeiros estudos 
de fôlego dedicados à questão (Octave Nadai, “ UImpressionnisme verlainien”, de 
1952; e Ulmpressionnisme jrançais. Veinture, littérature, musique , também de 1952) 
gozam da prerrogativa de um público já afeito ao Impressionismo pictórico. 
Tais textos avaliam a poesia pela sensação originária e pela impressão — termos 
já aceitos como integrantes de uma psicologia (da estética) impressionista. E o 
caso da leitura fenomenológica da poesia de Verlaine, que toma seus poemas 
por sua percepção do mundo (leituras de Russel King, Paule Soulié-Lapeyre e 
Michel Décaudin). 

No que diz respeito ao segundo, Wanlin resume a discussão de Vouilloux 
em seu artigo “ Uimpressionnisme littéraire: une revision ”, e repete sua aversão pelo 
termo, aplicado anacronicamente para o estudo da literatura, sem desfazer as 
confusões que traz consigo desde as artes plásticas: “Les coínádences que l’on a 
voulu établir entre des poétiques et 1’esthétique impressionniste reposent sur le mythe de Toeil 
innocenf, développé à la fin duXIXe siècle alors que la psychologie de la percpetion faisait ses 
premiers pas. Xouloir reconduire, un siècle plus tard, les thèses psychologiques qui ont servi 
à décrire d’ une part et légitimer d’autre part une révolution de la représentation picturale, 
revient à ignorer toutes les évolutions de la psychologie, de 1’histoire et de la sémiologie de Part 
qui ont eu lieu entre-temps. En un mot, la notion d’impressionnisme littéraire repose sur des 
thèses datées que l’on ne s’estpas donné la peine de réévaluerP (p. 146) A única hipótese 
que admite Wanlin é a de um estilo próprio à literatura, tal como a écriture artiste 
dos Goncourt, que não deixa de ser problematicamente comparável a técnicas 
de uma arte exterior, como a pintura: “ de là ày voir une transcription du primat de la 
sensation sur 1’identification, qui serait homologique de 1’impressionnisme, le fossée estgrand, 
et probablement injranchissableP (p. 147) 

Finalmente, Wanlin confessa difícil uma abordagem sociológica da questão 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


603 


por diversos fatores: a ausência de contato entre o poeta e os pintores 
impressionistas; a independência cada vez maior dos pintores de temas literários, 
mediante a ampliação do mercado e a decadência dos Salons etc. 

Por conseguinte, a única forma de falar em um impressionismo literário, para 
Wanlin, é falar nas inovações da prosa e da poesia modernas — que, por sua vez, 
dispensam uma tal terminologia: “Dans ce nouveau contexte, si l’on voulait trouver em 
littérature un équivalent de 1’impressionnisme, ce serait plutôt la remise en question du vers 
traditionnel et 1’invention du monologue intérieur; non qu’ily ait une quelconque homologie 
structurelle, mais parce que ce sont les signes que les écrivains eux aussifont porter leurs efforts 
sur des matériaux qui leur sont spécifiques (p. 148) 

Infelizmente, Wanlin ignora sistematicamente a homologia estrutural que 
existe entre a pintura e a literatura no final do século XIX, observando no 
diálogo entre as artes uma aporia, que, embora se justifique textualmente, do 
ponto de vista sociológico (mais precisamente, do ponto de vista sociológico 
amadurecido de Antonio Cândido, que vai muito além das questões sociais 
levantadas por Wanlin, como o desenvolvimento do mercado de arte ou a 
não convivência entre Verlaine e os pintores impressionistas), possibilita uma 
discussão muito mais proveitosa. 

Talvez desta sistemática negação do impressionismo literário — e de sua 
homologia sociológica com a pintura — provenha o teor de sua conclusão, que 
versa sobre uma possível (e elevada a enésima potência) homologia com o 
impressionismo pictórico: “Puisque les analogies d’ordre phenomenologique, stylistique 
et socio logique entre poésie et impressionnisme se sont avérées illusoires, on doit se rabattre sur 
ce qui peut à présent apparaítre comme les deux seuls fondements fiables d’ une impression de 
poésie impressionniste: d’ une part 1’abandon progressif des modeles de l’art au profit d’un 
travail sur la vision, d’autre part la tentation, même chimérique, d’un modele non figuratif. 
C’est donc au niveau de la conception, plutôt qu ’à celui des réalisations, que doit être cherchée 
une homologie entre peinture impressionniste et poésieP (p. 151) 


WATT, Ian. Conrad in the nineteenth century. Berkeley, Los Angeles: 

University of Califórnia Press, 1979. 

Ainda que Watt faça um estudo brilhante de The nigger of the ‘Narcissus’ em 
Essays on Conrad (2000, p. 63-84), seu parecer sobre o impressionismo literário 
está contido no volume em questão, (p. 169-180) Seu ponto de comparação 
inicial entre Conrad e o impressionismo é o uso de cenas de névoa e neblina em 
The heart of darkness e a presença dos mesmos recursos nas telas de Monet: “ For 
Monet, the fog in a painting, like the narratoPs hage, is not an accidental inteference ivhich 
stands betiveen the public and a clear vieiv of the artisfs ‘real’ subject: the conditions unãer 
ivhich the viemng is done are an essential part of ivhat the pictorial — or the literary artist sees 
and therefore tries to conveyP (p. 170) 




604 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A seguir, Watt faz um histórico dos termos em questão (“impressionismo”, 
“impressão”), destacando seu lugar estratégico na passagem do conhecimento 
geral à experiência do indivíduo. Realça o uso dos termos por Hume, John 
Rogers, Madox Ford etc.; afirma ser o lugar de Conrad na história literária, 
atualmente, como o de um escritor impressionista; fala sobre os comentários de 
Crane por Conrad, e sobre o prefácio de The nigger of the Narcissus’; e observa, 
para além da visualidade desse romance, o impressionismo central de Heart 
of darkness : “Heart of darkness is essentiallj impressionist in one verj special andyet 
general ivay: it accepts, and indeed in its very form asserts, the bounded and ambiguous 
nature of individual understandingg and because the undestanding sought is of an inward 
and experiential kind, m can describe the basis of its narrative method as subjective moral 
impressionismT (p. 174) 

Após citar outros exemplos de textos impressionistas de Conrad, Watt 
chega naquilo que pode ser visto como sua contribuição para a leitura do 
impressionismo literário (em Conrad): o “ delayed decoding' entre a apresentação 
parcial das cenas às personagens e sua compreensão posterior pelas mesmas: 
“This narrative device may be termed delayed decoding, since it combines the fonvard temporal 
progression of the mind, as it receives messages from the outside world, with the much slower 
reflexive process of making out their meaning. Through this device — [...] — the reader 
participates in the instantaneous sensations!' (p. 175-176) Assim, é pelo “ delayed 
decoding' que a narrativa se aproxima da imediaticidade da pintura: “ Conrad 
presented the protagonisfs immediate sensations, and thus made the reader aware of the gap 
betiveen impression and understandingg the delay in bridging the gap enacts the disjunction 
betiveen the event and the observer’s trailing understanding of it.” (p. 176-177) 

O mesmo pode ser dito a respeito da seguinte passagem: “ Titerary impressionism 
implies a field of vision which is not merely limited to the individual observer, but is also 
controlled by whatever conditions — internai and externai — prevail at the moment of 
observation. In narration the main equivalents to atmospheric inteference in painting are the 
various factors which normally distort human perception, or which delay s its recognition of 
what is most relevant and important!' (p. 178) 

Assim, em uma valiosa conclusão, Watt arremata: “ Conrads device of delayed 
decoding represents an original narrative solution to the general problem of expressing the 
process whereby the individuais sensations of the externai world are registered and translated 
into the causal and conceptual terms which can make them understandable to the observer and 
communicable to other peopleT (p. 179) 


YOO, Yae-Jin. Uesthétique impressionniste proustienne. In: . La 

peinture ou les leçons esthétiques chez Marcei Proust. Nova Iorque: 
Peter Lang Publishing, 2012. p. 103-141. 


A autora recorre ao lugar-comum das impressões pessoais como ponto de 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


605 


partida para sua leitura do “impressionismo” de Proust: “ Uécriture proustienne 
privilegie les impressions personnelles. Le narrateurvoue un culte absolu à ses propres impressions 
quil considere comme le seul crítère de véritéP (p. 103) E sublinha a importância da 
figura de Elstir para o desenvolvimento artístico de Marcei, enquanto estágio 
intermediário, demasiado “visual”, de impressionismo. 

A partir dessas duas diretrizes, Yoo destaca elementos do que seria o 
impressionismo literário de Proust: a escrita anti-intelectual e fenomenológica, 
que cuida antes dos efeitos que das causas dos fenômenos; a busca pela 
dissolução das fronteiras entre as sensações e as lembranças; e a representação 
pelo narrador dos elementos fugitivos do Tempo. 

A seguir (p. 105), faz um breve levantamento do histórico de interpretações 
acerca do impressionismo literário, e começa a estabelecer parâmetros 
comparativos entre pinturas impressionistas e Proust, muito embora critique 
a postura crítica de apagamento dos aspectos literários do impressionismo: 
as séries de Monet e as muitas Albertines de Marcei; as muitas referências a 
quadros; as também diversas descrições de teor pictórico etc. 

Neste sentido, há algo de demasiado direto em sua argumentação, de 
demasiado causal: “Autrement dit, les impressions sontles données primitives etimmédiates 
de la conscience qui méritent seules d’être sauvés de la réalité vécue. Pour Marcei, le rôle de 
1’écrivain est d’inventer un style propre à traduire ces impressions. Par conséquent, le style qu’il 
choisit ne peut être que celui d’ une écriture impressionnisteP (p. 109) Ou, ainda, ao dizer: 
“Ce príncipe de description qui abolit le causalisme au profit de 1’ écriture phénoménologique 
est une des conséquences naturelles de la vision impressionnisteP (p. 122) 

De qualquer forma, é muito comum o tratamento da Kecherche como exemplo 
por excelência do impressionismo literário, fazendo equivaler a discussão do 
romance às da possibilidade de adaptação do impressionismo à ficção. Um 
outro exemplo, significativo por constar do Dictionnaire Marcei Proust, é o da 
entrada impressionnismê ’ , de Kazuyoshi Yoshikawa (2004). 





ANEXO II 

REVISÃO DOS DEMAIS TEXTOS DO AUTOR 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


609 


Nota introdutória 

O s textos abaixo comentados dividem-se em duas seções. A primeira 
) corresponde a comentários individuais aos textos inéditos de Domício da 
Gama transcritos na tese de Luiz Borges (1998) e visa complementar o 
amplo trabalho por ele encetado de levantamento das obras do autor. A segunda 
traz os comentários aos textos inéditos levantados por nossa própria pesquisa, 
conforme reproduzidos no Anexo III. 

É importante ressalvar que nem todos os textos levantados por Borges (1 998) 
como sendo de Domício da Gama são, de fato, de sua autoria. Neste sentido, 
como em alguns outros que serão oportunamente indicados, há importantes 
observações e reparos a serem feitos ao seu levantamento. Remetemos, pois, o 
leitor aos comentários e notas feitos ao longo dos anexos 2 e 3. 

É necessário destacar também que o conjunto dos comentários aqui 
presentes, tanto da primeira quanto da segunda parte, não visa uma análise 
pormenorizada dos textos em questão — ao menos, não como presente nos 
capítulos 4 e 5. Inversamente, o presente anexo visa proporcionar, por meio 
de breves comentários, uma visão de conjunto da obra de Domício que se 
acrescente à análise e avaliação de seus contos, na qualidade de complemento (a 
rigor, não necessário) das discussões anteriores. Observe-se que a diversidade 




610 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


de gêneros textuais aqui incluídos — crônicas, ensaios, “prosa jornalística”, 3 
correspondência, discursos — assinala a riqueza de uma obra ainda em estágio 
inicial de avaliação. 

Finalmente, parece escusado dizer que os comentários aos textos presentes 
no anexo 3 (i.e., constando aqui da segunda parte) são aqueles sobre os quais 
mais nos concentramos, consistindo de mais da metade do presente anexo. 
Trata-se de reflexo natural do levantamento dos jornais na Hemeroteca Digital 
Brasileira, um a um. 


3 A expressão é de Borges (1998) e muito embora não haja razão para manter a distinção que opera 
entre “crônica” e “prosa jornalística” (sendo o primeiro termo amplo o bastante para abranger ambas 
as terminações), em segunda homenagem a seu texto pioneiro, foi mantida tal oposição, bem como 
sua divisão geral. Não foram comentados, porém, os textos referentes à correspondência passiva, 
posto que não escritos pelo autor. Raras exceções, todavia, no caso específico de textos de terceiros 
voltados à discussão de suas obras literárias, foram feitas ao longo do corpo do trabalho (como a carta 
em que Araripe Jr. discute suas Histórias curtas , mencionada em sua fortuna crítica). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


611 


PRIMEIRA PARTE: 4 

Comentários aos textos inéditos de Domício da Gama 
levantados por Luiz Borges 


CRÔNICAS 

Uma visita ao Guarujá (jornal não identificado, SP, 18/11, ABL) 

Trata-se de um testemunho pessoal que poderia ser incluído em sua literatura 
de viagens, acerca das benesses e semellhanças naturais entre as recentes 
instalações turísticas do Guarujá e a costa do Maine nos E.U.A. Há descrições 
vivas da paisagem natural: “E a Leste o Oceano sem fim, azul de anil, profundo 
e solene, movendo-se entre as pedras da calheta e ao longo da penedia do costão, 
como quem andasse experimentando as sinuosidades de um muro importuno 
de prisão. Aquele mar é o meu, que bem conheci, o mar dos arrepios da minha 
infância, que tem vozes e tem fisionomia.” (p. 321) 


Ipiranga (Revista da ABL, 22/06/1888, ABL) 

Comentário sobre a tela de Pedro Américo homônima, em que se nota o 
republicanismo do escritor, bastante relativizado posteriormente, sobretudo em 
suas crônicas de 1889 a 1891: “Que trabalheira para os artistas do futuro: colorir 
a estética do assunto! Que massa de vermelhão marselhês para vestir a tapuia 
velha!” (p. 325) 


De volta (recorte de jornal sem identificação, 18/05/1893, ABL) 

Depoimento desanimado e desiludido da volta à terra natal após cinco anos 
de ausência (1888-1893), em que se percebe, a todo momento, o quanto o autor 
está imbuído da vida mundana e citadina da Europa e o quanto se distancia do 
provincianismo do Brasil (que considera “ disgusting’’') . Para maiores detalhes a 
respeito do presente texto, cf. os comentários aos textos inéditos de Domício, 
ao final do presente Anexo, que constam da versão integral de “De volta” 


4 Para melhor fluidez dos comentários, e pela evidente referência nessa primeira parte do anexo 2 aos 
textos de Domício segundo o levantamento de Borges (1998), suprimimos as referências em “apud” 
por demasiado ociosas (do tipo “GAMA apud BORGES, 1998”). Simplesmente, apontaremos o 
número das páginas em questão, quando necessário. 




612 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


(incluindo a segunda parte, ausente do levantamento de Borges). 


De volta I (manuscrito, ABL) 

Continuação do texto anterior (dividido em três partes, com a mencionada 
ausência da segunda), em que há a descrição de duas viagens feitas em seis dias 
pelo interior do país: destaque para Caeté (visita ao irmão José), em que há uma 
rica descrição sensorial das estradas. Ao final, Domício dirige-se a um narratário 
específico, Eça de Queirós, para quem confessa estar agora arrependido de seu 
mundanismo, bem como de sua estadia “pecaminosa” (ainda que aprazível) na 
Europa. Maiores comentários na segunda parte do presente Anexo. 


A vida fluminense (jornal A evolução, 30/04/1886, ABL) 

Relato das impressões acerca da exposição da prataria imperial, em que há um 
forte teor impressionista na análise da atmosfera mortuária e lúgubre dos luxos 
de outro tempo: “E aquela sensação expositiva, aquela iluminação funerária, 
incendiando de reflexos vermelhos as pratas palejantes, aquela multidão, que 
passa olhando tudo como se fosse mais uma igreja que visitasse, desinteressada 
e morna, arrastando os pés nos tapetes antigos, encostando o nariz nas pinturas 
enegrecidas para ver aqui um braço, acolá um rosto [...] dão à exposição das 
pratas imperiais na quinta-feira santa uma fisionomia singular e incomparável.” 
(p. 339-340) Há breve menção a um texto dos Goncourt na p. 341, e uma 
descrição jocosa da Sexta-Feira Santa no Rio à p. 342, em que descreve uma 
infinidade de cheiros para satirizar a fedentina da aglomeração popular (em 
que sobressai, inclusive, certo racismo — “Oh! o cheiro do povo escuso...”; “o 
acre perfume de cebola pisada em vinagre, que assinala a vizinhança dos pretos 
encalmados”). 


Domingo (jornal A evolução, 02/06/1891, ABL) 

Longo “introito filosófico” acerca da hipocrisia dos namoros implícitos às 
manhãs de missa aos domingos, seguido por exposição irônica dos possíveis 
momentos deste dia da semana — almoços exagerados, donjuanismos 
esporádicos, passeios familiares, visitas ao teatro: “Esta gente toda que na sua 
virgindade estética de público sem escola, aceitaria contente toda a dominação 
artística potente, retira-se com ar fatigado de quem nada concluiu ao cabo de 
três horas de espetáculo, de um drama falso e inconcludente.” (p. 345) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


613 


As civilizadoras (texto datilografado, Londres, 1924, ABL) 

Texto de maturidade em que discute a suposta macaqueação nacional de 
costumes e avanços estrangeiros, argumentando pela negativa. Todavia, 
Domício lamenta a falta de espírito de grupo do brasileiro e elogia a iniciativa 
algo nacionalista de algumas moças ao agruparem-se em “moças bandeirantes”. 


O divino olvido (manuscrito, [s/d], ABL) 

Ao que parece, trata-se de um conto em primeira pessoa cujo narrador se 
põe a analisar seu fracasso pessoal diante da vida, assim como a falha de seus 
esforços intelectuais ao cabo de uma existência de imitações e aprendizados os 
mais diversos. Todavia, pela falta de informações acerca de sua publicação, seria 
necessário confirmar sua autoria antes de partir à análise (e à respectiva inclusão 
na linha evolutiva dos textos do autor). 


O primeiro exame (jornal O alfinete, 31/03/1883, ABL) 

Texto memorialístico publicado com o pseudônimo de “Décio Moreno”, 
em que Domício relembra retrospectivamente seus tempos escolares e seus 
primeiros exames, nos quais fora aprovado com louvor. O jornal é fidedigno (a 
versão presente na Hemeroteca Digital está bastante deterioriada, mas permite 
confirmar a reprodução); no entanto, há que se confirmar ainda a validade do 
pseudônimo, que consta apenas, até segunda informação, do presente texto. 


Um brasileiro estragado (jornal não identificado, ABL) 

Do suposto encontro em Londres com um brasileiro chamado Silviano 
Lima, o qual, por suas ideias avançadas e por sua intransigência pessoal, teve de 
abandonar o país às pressas e mudar-se para a Inglaterra. 


Glória latente (Revista da ABL, 18/09/1888, ABL) 

Malentendido da parte de Borges, que, ao encontrar tal texto entre os demais 
de Domício, tomou-o como seu. Trata-se, na verdade, de uma crônica de Raul 
Pompeia publicada à primeira página da edição de 18 de setembro de 1888 da 
Gaveta de Notícias (ano XIV, n. 261), em sua célebre seção “Pandora”. 




614 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Domingo I (Revista da ABL, [s/d], ABL) 

Outro lamentável malentendido. Trata-se de crônica de Raul Pompeia 
misturada nos arquivos de Domício, originalmente publicada na Gaveta deNotíáas 
a cinco de junho 1888 (ano XIV, n. 156, p. 1) também na seção “Pandora”. 


CRÍTICA 


Belmiro de Almeida (manuscrito, ABL) 

Estudo sobre a pintura de Belmiro de Almeida, em que Domício da Gama 
demonstra conhecer vários pintores europeus do momento, mas em que, 
curiosamente, nenhum dos famosos impressionistas é citado. Mais informações 
sobre o mesmo texto constam dos comentários presentes na segunda parte do 
presente Anexo. 


Capistrano de Abreu (Revista do Brasil, 07 / 1924, ABL) 

Elogio da obra e da figura intelectual de Capistrano, com indicação sobre 
Pompéia: “Conhecemo-nos em fins de 1887. A Gaveta deNotíáas começara a 
publicar contos meus e Capistrano falou deles a Raul Pompéia, julgando que o 
nome que assinava fosse pseudônimo literário de ‘algum português amigo do 
Elysio Mendes’. Pompéia divertiu-se com a ideia e nos ajuntou num café.” (p. 
397) Menciona ainda a revisão d’ O Ateneu, que reputa unicamente a Capistrano: 
“Sua carinhosa devoção aos amigos é tocante. Em 1888 ele ajudou Pompéia a 
rever as provas do Ateneu, publicado primeiro na Gaveta de Notíáas. Na noite de 
13 de maio esse trabalho — que se fazia na tipografia da Gaveta na rua Sete de 
Setembro era interrompido por excursões de Capistrano à Rua do Ouvidor onde 
em procissões e discursos patrióticos celebrava-se a libertação dos brasileiros 
escravos naquele dia.” (p. 401) 

Domício lamenta, ainda, a ausência de um livro de memórias de Capistrano, 
que muito faria definir os perfis de seus contemporâneos para a posteridade. 


Euclides da Cunha (Revista da ABL, n. 72, 1925, ABL) 


Elogio do amigo Euclides e de seu saber enciclopédico, com indicação final 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


615 


até mesmo de sua santidade, no que lhe toca à lhaneza do trato pessoal. 


Homenagem a Olavo Bilac (Revista da ABL, n. 44, 08/1925) 

Elogio fúnebre do poeta. 


Rio Branco (Revista da ABL, n. 141, 09/1943) 

Testemunho valioso feito em 1901, logo após a vitória sobre a questão 
do Amapá acerca de seu fiel Barão: “Poucos tem sentido como ele o bafejo 
carinhoso da gratidão nacional, a volta generosa e sem reserva do amor da Pátria 
respondeu ao seu. Si [sic] só essa segurança lhe faltava, ei-lo agora completo e 
grande homem.” (p. 414) 


Joaquim Nabuco (Revista Americana, 1910) 

Elogio do amigo, no qual suas palavras parecem ecoar as faltas de sua 
própria obra, estando ele na qualidade de continuador de Nabuco na embaixada 
brasileira em Washington: “[...] com ser grande a obra que deixou, maior nos 
prometera o seu poder.” (p. 416) 


Eça de Queirós (Revista Moderna, n. 10, 20/11/1897, ABL) 

Ainda outro elogio àquele que considera o “maior escritor da língua 
portuguesa.” Todavia, há importantes discrepâncias entre tal texto e sua versão 
original, reproduzida no Anexo III, “Na falta de ideias claras”, que são expostas 
ocasionalmente, quando dos comentários a esse texto específico. 


Livros novos 

Breve comentário acerca dos livros L&r poème du Kone, texto provençal 
traduzido por Mistral, e I ,es jeux rustiques et divins , de Henri de Régnier. 




616 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


PROSA JORNALÍSTICA 


Watteau e Remi Delleau (Gazeta de Notícias, 13/12/1896) 

Crônica sobre os monumentos então recentemente erigidos em Paris aos 
dois artistas, em que Domício aproveita a ocasião para tecer elogios ao espírito 
nacional francês, preocupado com venerar a memória dos seus grandes homens 
e guardá-la para a História: “E assim se vai edificando o museu nacional dos 
grandes homens, em pedra e bronze, sentinelas infatigáveis velando pelo destino 
histórico de um povo.” (p. 442) 


Guilherme Moniz Barreto (Gazeta de Notícias, 24/01/1897) 

Necrológio do jovem escritor e crítico português. 


A venda das letras (Gazeta de Notícias, 04/03/1896) 

Curiosa observação acerca do sucesso financeiro de escritores franceses de 
menor valor literário, como [Emile de] Richebourg, Xavier de Montepin e Jules 
Méry, ou de maior valor, como Daudet e Zola, em que Domício lamenta a 
veneração dos literatos principiantes pelo sucesso meramente pecuniário, ao 
invés de cuidar de ambições maiores e mais profundas. E conclui: “Mas não 
digam aos recrutas, partindo para a guerra, que as balas são mais numerosas 
que os bastões de marechal. Eles bem o sabem. E se há um prêmio grande na 
loteria da fortuna, porque não serei eu o feliz? Demais, as ambições vão sendo 
ridiculamente modestas.” (p. 446) 


Raios anarquistas (Gazeta de Notícias, 04/03/1896) 

Comentário de circunstância sobre a descoberta de raios de luz, pela 
fotografia, para detecção de substâncias perigosas, seguida de observação 
um tanto passadista (e algo premonitória) de que, no futuro, tais descobertas 
poderiam levar à perda e ao esvaziamento do “Mistério” da vida. (p. 448) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


617 


Ministros escritores (Gazeta de Notícias, 04/03/1896) 

Da publicação de duas obras históricas por dois ministros franceses, com 
o comentário de que, se o fizessem no Brasil, “viveriam sem dúvida meio 
envergonhados de ocupar com tais frioleiras os seus momentos de ócio, em vez 
do profundo voltarete ou as sugestivas conferências com os chefes do partido.” 
(p. 449) 


Contra os gabinetes de leitura (Gazeta de Notícias, 04/03/1896) 

Crítica aos críticos dos gabinetes de leitura e do aluguel de livros, que 
desejavam aplicar uma taxa de imposto sobre o valor do aluguel, por conta da 
diminuição das vendas de tiragens etc. 


O leilão de Alexandre Dumas (Gazeta de Notícias, 04/03/1896) 

Notícia sobre o leilão das preciosidades de Dumas filho. 


Dois mortos ilustres (Gazeta de Notícias, 04/03/1896) 

Necrológios de Ambroise Thomas e Arsène Houssaye. 


Restauração da Universidade de Paris (Gazeta de Notícias, 20/12/1896) 

Notícia da reinauguração da Sorbonne e breve histórico do ensino em França, 
em que Domício comenta sua anterior descrição do anfiteatro da Sorbonne 
(presente em crônica de setembro de 1889 da seção “De Paris”, comentada 
no Anexo III): “Há sete anos descrevi a festa internacional da inauguração da 
nova Sorbonne, durante a exposição. [...] A festa de ontem foi toda francesa. Os 
discursos entusiásticos de Lavisse, o estudante laureado, alma da universidade 
nova, do ministro da instrução, que é também professor, o do próprio presidente 
da República, tinham uma ressonância patriótica e estreita. [...] Entretanto, 
um parágrafo do discurso de Lavisse teve uma vibração socialista, dissonante 
naquele meio oficial. [...] Vamos lá, que para um discurso inaugural já é isto uma 
promessa de independência no ensino universitário e de liberalismo filosófico.” 
(p. 454-455) 




618 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Inundações e milhões (Gazeta de Notícias, 13/12/1896) 

Das enchentes francesas do Ródano, Loire e Sena, e dos desvios milionários 
de verbas públicas por parte de poderosos como o rei da Itália. 


Exumações literárias (Gazeta de Notícias, 05/11/1896) 

Crítica acerba de Domício às crescentes edições de mexericos literários e de 
discussões biográficas dos escândalos de grandes nomes da literatura (Musset, 
Sand, Hugo), em que lamenta a decadência dos costumes e prevê para o futuro 
uma vulgarização do público e de seu gosto estético: “E assim chegaremos 
brincando à licença e ao impudor de uma bela civilização sensual e decadente. A 
destruição dos pequenos respeito trará a dos grandes, a dos cultos conservativos 
da sociedade organizada. E quando a molície intelectual, o diletantismo egoísta 
e exaustivo, a consideração da inanidade de todo esforço, o rien ne vaut rien das 
fadigas nervosas tiverem enfraquecido toda a resistência coesiva contra as 
forças dispersivas exteriores, o menor choque produzirá o pânico convulsivo 
ou a simples síncope que marcará o fim da sociedade antiga. Se os anarquistas 
soubessem e tivessem a paciência de esperar — quem sabe quanto?” (p. 462) 


A filha louca de Victor Hugo (Gazeta de Notícias, 04/04/1896) 

Discussão superficial da loucura de Adèle Hugo, em que se poderia cogitar 
que Domício faz exatamente aquilo contra o que se insurge na crônica anterior, 
“Exumações literárias”. 


Espiões alemães (Gazeta de Notícias, 20/03/1896) 

Da prisão cotidiana de “espiões” na França, em que se percebe o 
posicionamento avesso do articulista, por exemplo, a Dreyfus: “Dreyfus há 
dois anos, Boillot agora... Estes processos por espionagem são sintomáticos da 
extraordinária facilidade com que se permite a criaturas sem responsabilidade 
a aproximação de documentos contendo segredos militares, cujo grande valor 
para o inimigo constitui a tentação para elas. Ou será que não pode haver segredos 
militares?’’ (p. 466-467) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


619 


A cheia do Sena (Gazeta de Notícias, 06/07/1896) 

Notícia de ocasião em que se destacam algumas das qualidades de sua 
escrita (sobretudo, o sensorialismo) na descrição do olhar contemplativo dos 
parisienses ao Sena transbordando. 


Jules Simon (Gazeta de Notícias, 06/07/1896) 

Necrológio do historiador, cuja defesa perante seus inimigos políticos julga 
ser o próprio valor de seus livros. 


La France aux français (Gazeta de Notícias, 06/07/1896) 

Sobre as então recentes leis contra a imigração excessiva na França, às quais 
Domício apoia e endossa com críticas aos “estrangeiros oportunistas”: “Se 
ofereço a minha casa aos amigos não é para que eles se instalem à minha mesa 
e me empobreçam e me tirem o bocado que ia ser meu. Visitas curtas entre 
almoço e jantar é o que se admite na vida corrente, fora das festas de ostentação 
em que se afirma e publica a grandeza da casa.” (p. 473) 


Os trabalhos da Grande Exposição — Paris muda de aspecto (Gazeta de 
Notícias, 07/07/1897) 

Da modernização da vida parisiense por meio da criação e demolição de 
monumentos, pontes, vias etc. para a Exposição Universal de 1 900. É interessante 
compará-la à Exposição de 1 889, bastante noticiada em textos comentados na 
segunda parte do presente Anexo. 


A matilha e o duelo (Gazeta de Notícias, 06/07/1896) 

Dos efeitos nocivos de La mente , peça satírica de Abel Hermant, e do duelo 
deste autor com um rico fidalgo ofendido pela peça. 


Crônica política (Gazeta de Notícias, 04/04/1896) 

Peculiaridades da vida política e diplomática francesa, dos desentendimentos 
sobre o Egito e Madagascar etc. Ao início, sua breve digressão acerca do 




620 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


interesse humano da política é de muito interesse, sobretudo pelo que esclarece 
de suas próprias concepções de diplomacia e de ativismo (passivismo, talvez) 
político: “Entre as coisas imensamente divertidas deste mundo, a política é uma 
que para o espectador desinteressado tem pelo menos tantos atrativos como 
uma corrida de cavalos para quem não aposta. Além de ser humana, a política 
não é tão monótona e tem mais peripécias e tem situações que correm a escala 
emocional da tragédia à farsa. É preciso ser um grande aborrecido, isto é, um 
fatigado e inibido, para não sentir a excitação reflexa da grande comédia das 
ambições do poder civil. Na própria terra a gente não pode ser desinteressada: 
tem de indignar-se ou de chorar, de perder a serenidade contemplativa, de motu- 
próprio ou pelo respeito devido ao próximo, que não admite que fiquemos calmo 
quando ele tem as entranhas retorcidas de emoção patriótica ou partidária. Em 
terra estranha, porém, quem chegou a convencer-se da inanidade dos protestos 
de fraternidade internacional e sente-se tão absolutamente estrangeiro que seria 
mesmo uma falta de respeito aos nacionais a mínima expressão de simpatia pela 
vitória desta ou daquela facção política, em terra tão estranha como esta é para 
um brasileiro irredutível, as peripécias torvelinhantes da comédia parlamentar 
despertam um interesse tão palpitante que é quase espasmódico.” (p. 481) 


Ponta Negra (manuscrito, ABL) [s/ d] 

E significativo que Fernando Magalhães (2006) em seu discurso de posse 
da ABL considere “Ponta Negra” um conto. Em primeira análise, não há nada 
que distinga tal texto de crônicas como “De volta”. Aliás, o evento relatado 
em “Ponta negra” é textualmente mencionado em “De volta”, como primeiro 
momento de seu reencontro com o Brasil em 1893. Por sua vez, Luiz Borges 
(1998) opta por chamá-la de “crônica local” — e, à sua maneira, incluímo-la aqui, 
dentre os demais textos comentados do autor. Não obstante, a presença de 
elementos ficcionais (sobretudo, a ênfase nas lembranças dos tempos de menino) 
pode motivar futuras leituras no viés oposto, próximos ao de Magalhães (2006). 

No que toca ao texto, trata-se de balanço autobiográfico de uma de suas 
vindas ao Rio, em reencontro passageiro e distante com o torrão natal: “Vai 
para vinte e dois anos que a deixei pela última vez e desde então só tornei a 
vê-la através das lentes do binóculo de viagem, em uma das minhas voltas da 
Europa, e foi como se não a visse, tão estranha e mudada pareceu aos meus 
olhos mudados.” (p. 356) 

O estilo da crônica é bastante representativo do estilo do escritor, uma vez que 
as descrições da praia de infância são ponderadas a partir do olhar do viajante 
maduro, desencantado: “Era assim dantes, porque hoje são mais sabidos os 
olhos que tanto viram e porque, mudado o ponto de vista, a contemplação é 
agora de fora para dentro, simbolicamente, melancolicamente.” (p. 357) Note-se, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


621 


paralelamente, o visualismo do seguinte trecho, como anteparo de seu “olhar”: 
“Apenas sobre o chamalote azul do mar a esteira branca ficava, como a baba 
de uma lesma gigantesca, e, mais duradoura, tisnando para o resto da tarde o 
verde desmaiado do céu do sul, a mancha ominosa do fumo negro dos fogos 
estrangeiros.” (p. 358) 


LITERATURA DE VIAGENS 


Livro de viagens — prefácio (manuscrito, ABL) 

Prefácio interrompido do que seria o livro de viagens de Domício, e que 
aponta, em sua incompletude, uma lacuna inestimável na literatura nacional. É 
curioso observar as diferenças entre o presente manuscrito original e a versão 
“final” publicada pela Revista do brasil, sob o título “O capítulo das viagens” 
(comentário presente na segunda parte deste Anexo). 


Em Edimburgo (jornal não identificado, 10/07, Londres, ABL) 

Descrição viva da estadia de Domício em Edimburgo, na Escócia, e que 
apenas reforça o comentário de Borges (1998) de que sua grande contribuição 
para a literatura nacional poderia ter sido sua literatura de viagens. Exemplo: 
“A visita dos aposentos de Maria Stuart confrange o coração mais que qualquer 
romance. A morada é lúgubre e mesquinha e certamente nunca foi esplêndida. 
E preciso abaixar-se a gente para não dar com a cabeça na verga das portas. 
Mostram no chão de uma das salas manchas escuras que dizem ser do sangue de 
David Rizzio, apunhalado quase no regaço da rainha. [...] Lá estão os móveis, as 
camas, as roupas, as tapeçarias, os quadros nas paredes para mostrar como vivia 
uma rainha. Por dez shillings em qualquer hotel de hoje ela viveria bem melhor.” 
(p.498) 


Nuremberg (jornal não identificado, 25/08, St. Moritz, ABL) 5 

Outro exemplo de expressão madura de sua literatura de viagens, retomando 
os tons medievais da gótica e soturna Nuremberg. Mesmo o percurso até a 
cidade é digno de menção: “Os campos se estendem à roda, monótonos, por 


5 Apesar de constar do levantamento de Borges (1998) como não identificado, o texto pode ser 
encontrado na primeira página da Gaveta de Notícias de oito de outubro de 1888 (ano XIV, n. 281). 




622 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


tiras regulares, trigais, forragens, vinhedos, pomares, hortas — lembrança infanda 
dos desenhos topográficos da Escola! Para tornar interessantes as vastidões 
monótonas e as aldeias semeadas pelas rugas do terreno, como cravos cinzentos 
fixando ao solo o tapete verde das culturas, é necessário que o sol esteja baixo 
no horizonte. E a essa hora chegamos a Nuremberg.” (p. 501) 


Uma nota da América (Revista Brasileira, t. IV, 1895) 6 

Roteiro de viagens pela América do Norte, em que consta uma discussão 
sobre a questão do negro nos E.U.A. Nela, percebe-se o respeito do cronista pelo 
espírito prático e trabalhoso dos americanos, além de certo preconceito racial 
latente (antes, evidente): “Oito milhões de homens classificados à parte na estima 
e na consideração sociais, diferenciados mesmo politicamente, e vivendo como 
um corpo estranho e inassimilável, junto às fontes da vida nacional parecem- 
nos um perigo urgente e formidável. [...] Sentem-se evidentemente inferiores, 
incapazes de resistir à concorrência com raças mais ativas e inteligentes. [...] 
Suponho que esta falta de consideração da massa negra pelos esforços dos 
mais inteligentes que a querem levantar é a maior garantia que tem os brancos 
de que a mancha negra , longe de se alargar contaminando toda a superfície da 
União, acabará por se reduzir às proporções de uma simples pinta que sirva para 
contrastar a brancura da república e a pureza das raças fortes que a fundaram, 
como me disse um americano.” (p. 512, 514-515) 


CORRESPONDÊNCIA SELETA 


Para Machado de Assis (10/08/1908) 

Interessante comparação entre João Chinchila e o Conselheiro do Memorial de 
Aires , suscitada por uma comparação entre si e Machado: “Com alguns traços de 
dessemelhança, que as vidas diferentes imprimiram às nossas almas, nós temos 
muito de parecido, seu Machado. Temos, sobretudo, a honestidade modesta do 
pensamento, que nuns chamam de ceticismo (e em cada um de nós há tanta 
crença e tanto amor!) que atenua as violências excursadas [sic] ou precárias da 
expressão. Se eu pudesse seguir-lhe a obra literária desde os seus princípios, 
mostraria nela a alma brasileira refinada e grande, maior, mais compreensiva, 
mais inteligente que este infinito formigueiro de instintos e ambições pessoais e 
reduzidas em que vive um ministro diplomático. [...] Meu caro Machado, se eu 


6 Reproduzido em jornal do Recife, ano XXXIX, n. 101, p. 2, 3 mai. 1896. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


623 


pudesse fazer um relatório conversado, ilustrado com anedotas, anexava-o ao 
conto do ‘João Chinchila’, que é um Aires mais queixoso e menos ativo que o 
seu. E quem sabe se V. não se divertiria com ele?” (p. 517) 


Para José Veríssimo (25/04/1896) 

Confissão valiosa do tempo cada vez mais escasso para a literatura, em meio 
aos afazeres diplomáticos: “Ainda não me ocupei com literatura; desde que vim 
tenho vivido entre os cuidados da profissão que acidentalmente exerço, e que 
por enquanto pouca folga me deixa. Espero, entretanto, entrar em breve em 
uma fase de trabalho regular e ordenado, sem apuros enervantes de correios 
urgentes a expedir. Será o tempo então de escrever para a Gaveta e a Revista e de 
cuidar do meu voluminho de contos, que ainda nem tirei do fundo da mala.” 
(p. 519) 


Para José Veríssimo (27 / 01 / 1897) 

Agradecimento pela escolha de seu nome para a ABL em 1897, e breve 
discussão acerca dos rumos da nascente Academia. Há lamentos contra seus 
trabalhos cada vez mais volumosos: “Mas V. não pode imaginar quanto trabalho 
há para mim na vadiação de Paris. Apago a lâmpada às duas horas muitas vezes 
e às nove da manhã já estou sentado à mesa, escrevinhando. Trabalho ingrato, 
que não vem à publicidade, mas que é o pão do dever, don ’tyou knoiv\ Nunca fui 
tão pouco mundano, apesar de me não faltarem os convites e atrações. [...] O 
tempo falta-me para aquelas boas tiradas de outrora quando eu podia fazer um 
conto num dia inteiro de trabalho. Estou obrigado ao trabalho interrompido, 
entrecortado por ocupações diferentes.” (p. 521-522) 


Para José Veríssimo 

Novos agradecimentos pela nomeação à ABL; pedido de um autógrafo para 
seu exemplar dos Estudos brasileiros ; e notícias sobre os textos em composição 
(necrológio de Moniz Barreto à Gageta\ estudo sobre Eça, ainda incabado; envio 
futuro de um conto inédito pelo correio). Com bom humor, diz: “Vejo que 
tenho aí amigos que se lembram de mim, mas que se esqueceram de me explicar 
o que vai fazer a sociedade para cuja composição me fizeram a honra de escolher. 
Imagino que entre os minores ou excluídos haverá uma grande animosidade 
contra os acadêmicos. Certamente passamos à categoria de caducos. Aos trinta 
anos é duro ser classificado de acaâémicien gateuxG (p. 523) 




624 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Para José Veríssimo (07/07/1897) 

Carta em que menciona o estudo de Moniz Barreto sobre Eça, copiado por 
Domício de próprio punho e enviado para publicação no Brasil; seu desligamento 
da Revista moderna, após proposição pelo diretor de colaboração por linha, a partir 
do segundo número (“Está bem claro que não escrevi mais uma linha para lá” (p. 
524)); a acusação de recebimento dos estatutos da nascente ABL; e a confissão 
da predileção do nome de Pompéia para seu patrono na Academia: “Recebi os 
estatutos da Academia Brasileira de Letras e uma requisição de Rodrigo Octávio 
para dar o meu endereço e designar o nome de minha cadeira. Vou responder- 
lhe. Mas bem gostaria de trocar com o próprio Rodrigo Octávio, o Pompéia, 
que ele tomou, pelo Manuel de Araújo Porto Alegre, José Bonifácio, Monte 
Alverne, Uruguai ou Magalhães, que escolheria por ordem de sucessão, se já 
outro tivesse tomado o meu patrono. Se esses mesmos tivessem sido tomados 
(veja se alguém tomou o Santa Rita Durão, que eu não quero, mas que não pode 
ficar esquecido), recorro ao pobre mulato velho do Teixeira e Souza, de Cabo 
Frio...” (p. 524) 


Para José Veríssimo (25/11/1898) 

Domício fala sobre a necessidade premente de firmar a própria reputação 
literária: “Tenho feito tanta coisa para alicerce de minha reputação literária que 
já é tempo que a fábrica comece a surgir do solo. E natural que as paredes sejam 
mais magras. Não poderia levá-las até cima com a mesma espessura, como 
alguns tem feito. O meu sonho seria sobre os fundamentos robustos da ciência 
assentar uma obra leve e graciosa e bem arquitetada, bem ajanelada e aberta, 
passada de claridade e alegria. Não é provável que seja isso que farei, que sou 
pesado e triste; mas isso é o que me aprazeria fazer.” (p. 526) 


Para José Veríssimo (28/09/1899) 

Sobre o envio breve do conto “João Chinchila” para publicação na Revista 
brasileira ; há breve comparação entre os contos “A vicentina” e “Voluntários”, 
de Veríssimo, a “Maria sem tempo”: “São os contos da piedade, que é a nossa 
nota sentimental comum. A mãe do seu voluntário se parece com a minha ‘Maria 
sem tempo’, que o De Amicis achou ‘profundamente comovedora’.” (p. 529) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


625 


Para José Veríssimo (15/10/1900) 

Inventário de notícias recentes: ataques de reumatismo; morte de sua mãe, 
de Eça (“A morte do Eça abriu-me um grande buraco cá na Europa” (p. 530)), 
de Ferreira de Araújo; leitura do Felisberto Caldeira, de Rodrigo Octávio; menção 
ao discurso da ABL e pedido do envio do original, mais completo que a versão 
publicada pel’0 País etc. 


Para José Veríssimo (03/10/1901) 

Comentário do autor em agradecimento ao estudo de Veríssimo sobre 
os contos de Histórias curtas , paralelo à promessa de remeter os volumes de 
seu livro enviados por Veríssimo a Antonio Sales e “ao Constando” (p. 533) 
Entrementes, observa algumas peculiaridades de Histórias curtas e tece um 
consentimento tácito frente à leitura prática e amplamente biográfica de sua 
obra: “A verdade é que, apesar de lenta e interrompidamente escrito, o meu 
livro tem muitos descuidos e abandonos de forma, de língua, como V. diz. 
Cuidarei de evitá-los no seguinte. Mas o que me penhorou no seu artigo foi 
a consideração pessoal, a atenção com que estudou no escritor o meu caráter 
moral. Chamar-me distinto ainda é chamar-me inteligente e se essa inteligência 
se dissolve no escrito que quis ser impessoal, fica-me a segurança de que posso 
empreender outros trabalhos sem receio de ser banal ou de fazer obra inútil e 
já feita. Nós poderíamos conversar muito sobre essa distinção, que não visa a 
aristocratismo, que é um modo e não um fim e de que não podem tirar vaidade 
os escritores que a possuem, como não pode um louro gabar-se de não ser 
moreno. Mas será para mais tarde.” (p. 532) 


Para José Veríssimo (25/01/1901) 

Sobre a publicação de Histórias curtas, com menção a “Psicose”: “Adotei o 
seu conselho, tirei uns contos do meu volume, acrescentei uma dúzia de novos 
e dou uma edição melhorada dos meus contos. Depois disso arrumarei o que 
tenho escrito do volume que V. não quer que se chame Psicose e escreverei mais 
o que resta para vértebra-lo ainda que virtualmente. Depois, se não me der a 
preguiça, farei outra coisa por amor dos amigos. Sabe V. que muitas vezes sou 
accomettido (má ortografia) do que se pode chamar a fadiga prévia, que não é 
outra coisa que senão a preguiça. A minha preguiça é humilde, porquanto nasce 
da falta de ambição, do sentimento da inanidade do esforço. [...] O niilismo é 




626 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


a suprema estética (Você crítico, não se sente ferido?) pois que todo o gesto é 
imperfeito, e a imobilidade somente é divina.” (p. 534) 


Para José Veríssimo (02/07/1913) 

Notícias menores: envio de revistas dos E.U.A. ao amigo; visitas futuras de 
Roosevelt ao Brasil; doenças da esposa e próprias etc. 


Para José Veríssimo (02/08/1911) 

Sobre os cansaços da idade; os acúmulos de livros com o tempo (seis toneladas 
na alfândega de Nova Iorque); doenças do fígado etc. Fala ainda sobre seus 
dois livros — infelizmente jamais acabados: “Trouxe comigo uma maleta com 
recortes de jornais e manuscritos velhos e estou arrumando o Livro de Pedro 
Paco (aquele livro de mocidade, que V. não quis que eu chamasse de Psicose) e, se 
puder, o das viagens. Do Pedro Paco estou arrumando o prefácio. Infelizmente, 
caí esta manhã, escorregando no soalho encerado da sala de jantar, e forcei o 
tendão de um dedo da mão direita, que inchou e dificulta a escrita.” (p. 538) 


Para Carlos de Laet (02/10/1919) 

Mera notícia de viagem à Europa, como pedido de licença aos afazeres da 
presidência da ABL. 

Para Afonso Celso (09/05/1901) 

Mera carta de cortesia ao amigo. 


Para José Francisco (19/10/1907) 

Comentários diversos acerca dos olhos negros das peruanas, de um elogio 
recebido pelo Ministro do Exterior do Peru etc. 


Para Capistrano de Abreu (17 /08/ 1896) 


Pedido de ajuda para o amigo Moniz Barreto (antes, de um cargo de 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


627 


professor em liceu ou instituto), em claro depoimento do toma lá dá cá do 
Brasil oitocentista. 


Para José Vicente (14/11/1920) 

Brevíssimo relato da dificuldade de publicação de seus discursos: “Já pensei 
em coligir e publicar um livro meus discursos dispersos. Mas, como para outras 
coisas literárias, ‘cadê tempo ? Meu dia se esfarela em ocupações dispersivas e 
imemoráveis, mas talvez mais úteis, porque são urgentes e profissionais. Aliás 
meus discursos em inglês nada valem em português se não forem reescritos.” 
(p. 546) 


Para José Vicente (14/10/1920) 

Sobre o envelhecimento; mudanças de casa; possíveis colaborações com a 
Revista da ABL; viagens e visitas a Cambridge, Stratford etc. 


Para José Vicente (09/12/1919) 

Menção aos votos de amizade vindos do Brasil (com exceção de Rui Barbosa 
e de Oliveira Lima), além de cortesias e notícias menores. 


Para José Vicente (11/01/1921) 

Sobre as rusgas de muitos brasileiros (de Rui Barbosa e de seus partidários, 
ao que parece) contra si: “Quer me parecer que quando estive no Rio pisei 
moralmente nos calos de muita gente, que mo não perdoa. Calos morais devem 
doer mais que os outros.” (p. 549) 


Para José Vicente (06/05/1921) 

Envio de um exemplar das Fanfarras de Rodolfo Teófilo ao amigo, em resposta 
a um cartão seu do dia 12 de abril (data do “aniversário de Raul Pompéia”, 
como não se esquece seu fiel amigo Domício mesmo 26 anos após sua morte 
(p. 550)). 




628 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Para Salvador de Mendonça (18/09/1898) 

Sobre o cotidiano e pormenores diplomáticos, em que fala um pouco de si 
e de sua introspecção: “Os meus planos... Acho melhor não falar deles desta 
vez. Continuo no provisório. Se eu tiver fortuna, como penso (já agora sou o 
homem de todas as presunções), um dia ela me passará ao alcance. Esteja certo 
de que lhe não farei beiço. Há gente que me chama de mole e sem ambição. Está 
claro que não vale a pena pedir sem esperança de obter!” (p. 552) 


Para Coelho Neto (22/03/1903) 

Sobre a melancolia de Coelho Neto em Campinas, seguida de recomendação 
de Domício ao Barão de seu nome para a diplomacia. Há também menção 
a outros literatos: “Tenho estado duas vezes no Rio e pouco tenho visto os 
amigos. O Bilac almoçou ontem aqui. O Aluísio vai ser nomeado cônsul 
no Salto. Entra para o quadro dos cônsules, esperando melhoria de posto 
oportunamente. (Oportunamente é um odioso advérbio mas encontro nele um 
mundo de filosofia...)” (p. 555) 


Para Coelho Neto (02/12/1915) 

Sobre a leitura db4 conquista , seguida de relato dos tempos de outrora. Há 
menção ao pai, enquanto senhor de escravos nos tempos da Monarquia: 
“Enquanto isso meu pai, confiado e otimista à sua maneira, comprava os negros 
bons que se lhe ofereciam, porque eram baratos e porque o Estado lhe garantia 
a posse deles, desde que percebia o imposto de transmissão dessa propriedade. 
Tempos heroicos!” (p. 556) 


Para Coelho Neto (20/04/1916) 

Depoimento interessante do jogo das cadeiras na ABL, em que transmite seu 
voto a Oscar Lopes, a pedido de Coelho Neto: “Causa-me sempre prazer ver 
como é disputado o acesso à câmara alta das letras brasileiras. E bom sinal para 
a nossa vida moral. Se nos mantivermos fieis à superstição intelectual das letras, 
poderemos resistir à dissolução do jornalismo baixo igualitário, que confunde 
noções e mistura democracia com canalhismo.” (p. 558) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


629 


Para Alfredo Pujol (11/01/1916) 

Agradecimento pelo envio de sua conferência sobre Machado de Assis como 
forma de mantê-lo ainda atualizado sobre as letras nacionais: “Sinal de que 
ainda me conta entre os da carreira. Muito obrigado. Eu, por mais que faça e 
por mais que me aconteça, não perco nunca a esperança de voltar ao grêmio.” 
(p. 560) 


Para Max Fleuiss (10/03/1896) 

Sobre as últimas encomendas de livro do amigo, com silêncios acerca do 
arbitramento da Guiana. 


Para Altino Arantes (23/09/1924) 

Importante depoimento sobre o repúdio em torno de seu nome às voltas de 
1924, em contraponto aos elogios de Arantes, então presidente de São Paulo, 
em seu livro Disse...: “Meus chefes atuais querem despedir-me com um duro 
e injusto atestado de incapacidade profissional contra o qual parece que não 
valem reclamações nem provas em contrário.” (p. 563) 


DISCURSOS 


Discurso de posse da Academia Brasileira de Letras 7 

Elogio do amigo e patrono da cadeira 33 Raul Pompeia, reproduzido em 
partes no jornal O País a dois de julho de 1900 (logo, no dia seguinte ao de seu 
pronunciamento). Nele, Domício agradece inicialmente pelo voto de confiança 
dos colegas e põe-se a relembrar os tempos de moço no Grêmio Literário 
Jardim de Academus. Julga a nova Academia digna da memória de Franklin 
Sobral Bittencourt, antigo organizador do Grêmio, e passa a fazer o elogio de 
Pompeia: “Venho falar- vos de Raul de Ávila Pompeia e, oprimido pela grandeza 
da tarefa, quase me arrependo de a ter solicitado do colega [Rodrigo Octávio] 
que primeiro a tomara para si. [...] com risco embora de avelhentar o retrato, só 
do Pompéia de há doze anos falarei com inteira segurança. Foi esse tempo em 


7 No caso específico do texto em questão, comentamos a partir da edição dos discursos acadêmicos 
da própria ABL (GAMA, 2005) e não a partir da tese de Borges. 




630 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


que conheci talvez o mais fecundo da sua breve existência. Escreveu ele então 
O Ateneu em três meses, num arranco magnífico, que se não reproduziu. E 
ao mesmo tempo revia as provas de uma edição das Canções sem Metro, para 
as quais procurava ainda epígrafes, ‘porque com epígrafes’, dizia ele, ‘pode-se 
concentrar num livro toda a poesia humana’.” (GAMA, 2005, p. 51) Relembra 
sua coluna “Pandora” (que nomeia de memória “Boceta de Pandora”) e seu 
cultivo da beleza aos extremos do ódio. Fala ainda de seu apreço pela ciência 
e de seu estudo da “teoria das vibrações”: “Na sua meticulosa honestidade de 
poeta pensador Raul Pompéia descia sempre ao que julgava ser os fundamentos 
inabaláveis da ciência. Um dia encontrei-o que estudava a teoria das vibrações. 
‘Neste estudo encontro eu toda a estética e a própria vida’, explicava ele, ‘porque 
a arte reproduz vibrações, e vibrar é viver.”’ (idem, p. 52) Cita, a seguir, uma de 
suas “canções sem metro” (“Vibrar é viver”). 

Em seguida, faz uma comparação de ordem biográfica entre a violência do 
rebuscamento estético de Pompeia e a violência de sua sensibilidade, assinalando 
o pessimismo como “o fundo da sua filosofia.” (idem, p. 53) Compara tais 
reflexões com outra “canção” (“Verde, esperança”), e afirma: “Havia nele a 
agitação de uma alma divina, orgulhosa, dominadora, que não queria ser possuída 
sem possuir e para a qual a posse não existia sem o conhecimento. Esse orgulho 
defensivo, conciliável com a ternura exuberante, o levava a afirmar o que queria 
que fosse a realidade, talvez pela idéia obscura de que ela assim seria por força 
do seu desejo.” (idem, p. 54) 

Assim, considera tal exuberância de desejos e sentimentos a marca 
característica do estilo de Pompeia, e afirma que nele haveria de durar sempre, 
pelos mesmos motivos, a mocidade. Destaca o estilo caricatural de sua escrita, 
mencionando, para tanto, o nome de Thomas Lawrence, com a diferença de que 
para o retratista inglês a arte é um fim, enquanto para Pompeia seu fim é social: 
“Raul Pompéia entendia que a arte, que tem um fim social, devia representar o 
que o artista tivesse em mente, que seria belo quando avultasse e vivesse, livre 
de certas regras estreitas, fora das contingências da estética corrente. E fazia 
caricaturas por vezes, por vezes desenhava imagens encantadoras, e numas e 
noutras se encontra sempre a marca do artista genial, do que se inspira da vida 
para produzir a emoção, que é uma das razões da vida.” (p. 55) 

Ele próprio, Domício, declara que, para si, a arte é, sobretudo, social: “Julgo 
ter passado a idade das generalizações ambiciosas, do atrevimento às afirmações 
categóricas: entretanto, acredito agora, como nos meus princípios acreditava, na 
objetivação social da arte.” (p. 49) E, seguindo a reflexão pictórica anterior, elogia 
a capacidade estilística de Pompeia ao representar “um período de paisagem de 
nevoeiro, em que a bruma aparece como subjetivada.” (p. 55) Elogia O Ateneu 
como sua maior obra, valendo-se de termos igualmente caros a uma cosmovisão 
impressionista de arte, comungada parcialmente pelas crônicas analisadas no 
capítulo 3, e nega que seu principal móvel seja o de um livro de vingança: 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


631 


“Coleção de retratos em caricatura ou em proporções naturais; álbum de figuras 
miudamente desenhadas ou de perfis rápidos; galeria de quadros maravilhosos 
em que a maneira chega a impressionar independente do assunto, com proveito 
manifesto para o artista; livro de sátira, mas da sátira que se contenta com 
o riso e perde com ele a força para ir até ao insulto; em que a comédia das 
ambições mesquinhas, dos apetites disfarçados ou cínicos, do egoísmo feroz 
e dos temores vis, se desenvolve ao lado do drama da escravidão das almas, 
das individualidades tolhidas na sua expansão, desviadas viciosamente, feridas, 
humilhadas, espezinhadas pelo desprezo generalizado do educador mercenário; 
livro de doutrina moral e de estética, em que se ensinam as grandes sínteses do 
espírito humano e as pequenas lições de cousas; livro de ironia, livro de piedade 
e de ternura, “crônica de saudades” realmente, saudades não do que foi, mas 
do que poderia ser essa passagem inolvidável através da primeira camada da 
sociedade, em que todos os elementos da cidade se acham reunidos e ainda não 
existe o cidadão, livro de poesia, livro denso e sugestivo de fundas meditações, 
como poucos se encontram nas literaturas todas, é 0 Ateneu .” (p. 56) 

A maneira de Araripe Jr., interpreta o todo da vida e da obra de Pompeia 
como uma máquina de emoções “sob alta pressão constantemente”, e afirma, 
por fim, que seu verdadeiro estudo ainda está por ser feito. 


Discurso proferido em Cambridge (manuscrito, ABL) 

Transcrição do discurso pronunciado em Cambridge, em que se percebe a 
intenção de mostrar o Brasil preparado para o ingresso no desfile das civilizações 
mais avançadas — apesar de suas dificuldades internas — através do elogio da 
natureza brasileira e do nacionalismo popular. Há inclusive críticas acerbas à 
Alemanha, além da negação da importância da cultura alemã no país. 




632 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


SEGUNDA PARTE: 

Comentários aos textos inéditos de Domício da Gama 
presentes no Anexo III 


Psicose [trecho] (21-22 mai. 1888) 

Excerto do romance incompleto de Domício da Gama publicado na Gaveta 
de Notícias em maio de 1 888. Mais tarde, o título do romance foi substituído pelo 
de “Pedro Paco”, muito embora tenha permanecido sem continuação. 


O justo meio (14 jun. 1883) 
Discutido no corpo do texto. 


O duque de Viseu (25 set. 1 886) 

Notícia de imprensa em que elogia a vinda de uma companhia teatral 
portuguesa ao Rio, “não sei por que impulso do amor da arte ou de especulação 
financeira”. Há descrições jocosas do Rio de Janeiro como “cidade bárbara e 
brutal”, afeita à humidade excessiva e às “bronquites e catarreiras incômodas”, 
que muito atrapalham as representações teatrais. Não obstante, assinala o 
silêncio geral do público ante “peças mesquinhas de um teatro frio [...], peças 
de intriga, de tese a demonstrar, de psicologia falsa, de paixão banal”, que nada 
possuem da “emoção da verdade”, característica das grandes obras. 

Assinala, a seguir, a reação positiva e estupidificada do público, em Portugal, 
acerca d’0 duque de Viseu, peça “de um sobrinho do ameno folhetinista Lopes de 
Mendonça”. Enumera, ainda, os defeitos da peça, e confessa certa reserva ante 
à métrica, sobretudo à construção dos alexandrinos: “[...] punge-me a constante 
ansiedade da rima obrigada, e diante dessa preocupação pueril, material, foge a 
atenção do assunto.” 


Romancite (25 mar. 1 888) 

Breve comentário sobre o excesso de romances (“inúmeros”) escritos à época 
do artigo, de acordo com as conversas da roda literária que frequenta. Acredita 
haver mais de vinte — e como causa, julga ser a exigência cada vez maior da 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


633 


publicação de um romance como forma dos novos literatos serem aceitos pelos 
“chefes”. Em todo caso, afirma: “Não façamos caso dessas primeiras provas 
condicionais, que são como as teses de doutorando, raramente honrosas para os 
candidatos.” E aponta o número maior de versejadores, sobre o de prosadores 
(que, à falta de editores, continuam a sonhar com um Charpentier carioca). 

Finalmente, discute a morbidez que embasa, por vezes, a criação literária, 
constituindo-se (em termos mais ou menos biológicos, caros ao Naturalismo, 
marcante, sobretudo, no mesmo ano de 1888): “A incapacidade para a ação 
atira-nos para a contemplação. E o inválido idealiza as batalhas em que entrou. 
[...] Dá-se então um fato que se estudará na história literária depois de estudado 
na patologia cerebral — a morbidez particular, individual, toma a feição geral, 
dominante e afeta a forma epidêmica. Reina agora, gravíssima, a romancite 
devastadora.” 


Germinie Lacerteux (4 mar. 1889) 

A respeito da representação de uma versão teatral de Germinie Lacerteux 
no Teatro Odéon, que é vista pelo articulista como indecorosa para um 
autor consagrado, aposentado das letras depois de Chérir. “Não é depois de 
sessenta anos que se recomeça.” E justifica sua opinião a partir da oposição 
entre o sucesso comercial da peça e seu fracasso crítico, que acredita ser 
devido à incompatibilidade entre o Naturalismo (avesso às formas) e o teatro 
(tradicionalista): “Ora, as obras naturalistas tem o defeito de não acomodarem-se 
em moldes feitos; elas têm ou pretendem ter a infinita diversidade de expressões 
e apresentações da natureza. Porém, se no romance o naturalismo triunfa (e 
ainda é bem contestado esse triunfo), no teatro — considerada a arte dramática 
como foi no seu esplendor e é hoje na sua decadência — nunca ele entrará 
dominador.” 

A seguir, afirma (de forma bastante unívoca) ser o público de teatro afoito 
por “peças de teatro”, i.e., avesso por “sutilezas, intenções e subentendidos”. 
Para si, a contradição entre e a forma teatral e o assunto romanesco — o estudo 
patológico do instinto de conservação, transformado em sentimento e marcado 
pelo histerismo — é o principal defeito da peça. Após resumir seu enredo, 
enumera os defeitos decorrentes daquela contradição: “A sua peça caiu por 
muitas razões — por seu assunto lúgubre, pelos seus diálogos longos, pelas suas 
palavras sujas, por sua falta de arranjo de intriga, do que unicamente constitui 
teatro para muita gente” etc. 

Por fim, lamenta a falta de simplicidade na arte de sua época, que acredita 
mais votada à decadência e à nevrose: “A simplicidade é dos primeiros tempos 
das civilizações — largueza e espontaneidade — na visão das cousas, viveza e 
novidade de impressões, virgindade de nervos. O auge delas, que por uma das 




634 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


fatalidades das cousas também lhes marca o começo da decadência, assinala- 
se pela multiplicidade, complexidade, e falta de nitidez nas sensações. [...] Nós 
estamos em um tempo em que artista quer dizer nevrótico.” No mais, julga 
Edmond de Goncourt “um artista sem superior no romance”, na contramão 
de seus insucessos no teatro. 


Loti na Academia (publ. 6 mai. 1892; escr. 8 abr.) 

Do fracasso do discurso de recepção de Loti na Academia Francesa, que, ao 
invés de fazer o elogio de seu antecessor, Octave Feuillet, fez o próprio: “E, 
pela primeira vez, falando de si, o encantador poeta marinheiro desagradou aos 
amadores do seu talento tão pessoal.” 

Domício destaca o polêmico ataque de Loti ao naturalismo e o sentido 
especialmente espinhoso da situação, estando Zola presente no auditório — e 
sendo preterido em prol de Loti para a dita vaga: “Pois o marujo-letrado não 
se lembrou de injuriar o naturalismo ali representado pelo seu chefe! Falou da 
grosseria absoluta, do cinismo que de tudo escarnece, do monstruoso talento de 
alguns escritores dessa escola... Zola queixou-se disso aos reporters amargamente; 
queixou-se da falta de cortesia de seu ex-concorrente, que não teve generosidade 
no seu triunfo. Tanto mais quanto, na sua opinião, na academia não se vota por 
alguém , e sim contra alguém. Loti foi o romancista escolhido para tapar a porta ao 
autor do AssommoirP 

Cita os juízos mais ou menos severos de Barrès acerca de Loti, e avança seus 
próprios pareceres sobre o escritor: “Como a sua sensibilidade é extremamente 
fina e poderosa, e a absorve e possui tiranicamente, ele imaginou que essa 
dominação não podia provir senão do ideal. E inexperto em dialética (cousa que 
acontece a quem não lê, fatalmente), embrulhou-se na terminologia e espichou- 
se redondamente.” 

Por fim, encerra chistosamente: “Zola, esse promete que, se Loti morre 
de uma bala ou de uma febre por esses mares longe, ele se apresentará como 
candidato à sua sucessão, e que, por vingança, fará o seu elogio magnificamente. 
Zola é um bom homem...” 


A morte de Renan (publ. 26 out. 1892; escr. 4 out.) 

Notícia da morte de Renan, toda eivada do apreço do cronista por sua obra: 
“Dizem que Renan morreu de uma congestão pulmonar complicada de cachexia 
[sic] cardíaca. Eu penso que ele morreu de ter acabado a sua obra, cumprido o 
seu destino. [...] Desde os vinte anos, entre a compressiva doutrina do seminário 
de S. Sulpício e o liberalismo da interpretação cientifica dos textos sagrados, que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


635 


da Alemanha lhe comunicava em longas cartas a sua irmã Henriette, o bretão 
pensativo e cabeçudo fez uma escolha e marcou uma tarefa à sua vida, que a 
ocupasse toda inteira e a fizesse grande e nobre: dizer a verdade, confessar a 
irrecusável verdade, sem desprestigiar a Divina Legenda.” 

Observa a proscrição de suas obras desde o Livro de Jó, tido por heresia em 
1859, e indica como aquilo que mais aprecia no autor sua constante avaliação 
das ideias e caminhos por trilhar, numa confissão espelhada de seus próprios 
valores: “A cousa tão simples que ele afirma e prova é que a visão das cousas, sem 
deixar de ser verdadeira, exata, é modificada pelas diferentes posições do mesmo 
observador para com o objeto, que, sem haver mentira, há necessariamente 
deficiência de verdade nas proposições que só consideram um objeto de um 
único ponto de vista.” 


A exposição de Belas-Artes (out.-dez. 1895) 

De início, o ensaísta afirma que a Exposição de Belas Artes do Rio “provou 
que no Brasil as artes do desenho tem cultores que resistem à depressão nervosa 
do clima e que trabalham com meritória pertinência e progresso sensível.” (p. 
96) A partir de tal ponto de vista, claramente afinado com teorias climáticas que 
pressupõem certa tibieza biológica do homem sob a influência dos trópicos, 
Domício exime-se de fazer a crítica das obras aí presentes, muito embora traga 
a “memória ainda fresca dos salons de New York e de Paris e poderia ser tentado 
pelas comparações de gêneros e valores, se fosse crítico de arte.” (idem) Por 
modéstia, julga-se inapto para a crítica, e lamenta o silêncio de outros mais 
capazes, que se limitam ora ao “elogio” ora ao “vitupério”. 

Ademais, lastima a falta de interesse do público pela Exposição, que, 
conquanto não gozasse de muitas obras, “como nos grandes saloni\ tornou-se, 
por isto mesmo, “mais amável”, (p. 97) Elogia as obras expostas de Henrique 
Bernardelli, Aurélio de Figueiredo, Brocos, Belmiro de Almeida, Rodolfo 
Amoedo, Facchinetti, Maria Forneiro, Almeidajunior, Alexandrino Borges, Alina 
Teixeira, Lix. Bernardelli, Diana Cid, Delphim da Câmara, [Pedro] Weingartner. 
Todavia, julga não haver ainda uma arte nacional brasileira, mas apenas “arte no 
Brasil”: “Há arte no Brasil, não há arte brasileira. Contentemo-nos com o que 
nos dão artistas estrangeiros de nascimento ou de educação, enquanto os seus 
discípulos brasileiros de sangue e de sentimento nos não revelam o caráter da 
arte nacional.” (p. 98) 

Ao final de seu ensaio, levanta questões importantes à pintura — tal como a 
necessidade ou não de uma referência ou imaginação poética determinada, o 
fim comercial por meio do qual é composta, ou as implicações do uso exclusivo 
do cavalete — , às quais insiste em não responder, por não ser algo de sua alçada: 
“Seria talvez necessário que para completar o artista que ao pintor se ajuntasse 




636 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


um poeta entendendo o mundo e sentindo a sugestão clara ou obscura das 
coisas. Mas, não sendo muito comuns esses exemplares de humanidade, seria 
conveniente, e isso é infinitamente mais fácil, que o artista fosse educado na 
veneração da ideia e no seu culto estético, que sentisse a intelectualidade do 
seu ofício social. [...] A decoração de um palácio ou de um templo, ocupando 
pintores e escultores numa obra sistemática, não faria mais pela arte do que 
a grande quantidade de quadros de cavalete e de pedaços avulsos, que dão a 
impressão de fragmentos, magníficos embora, de vários livros desunidos e 
incompletos? Ou este inacabamento e esta dispersão são próprios da arte, larga 
e humana, inquieta e tateante, ansiosa, forçadamente incompleta? Questões 
abertas, a discutir senão a resolver por sábios ou poetas, por competentes.” (p. 
99-100) 


O Salão dos Campos Elíseos (1897) 

Reconhecendo que talvez não fosse um mal à arte francesa postergar os 
Salons parisienses para depois da Exposição Universal de 1900, Domício lastima 
a falta de qualidade das produções artísticas: “Os milhares de telas, de estátuas, 
de gravuras, de objetos de arte decorativa, recebidos cada ano dão lugar a 
contentamentos de muitas ambições ilegítimas. As mediocridades se chamam. 
E expor no salon passa a ser, não mais uma honra, porém uma obrigação para 
os artistas que carecem de viver do seu trabalho.” (p. 22) 

Principia, então, a fazer a resenha impressiva de quem passa pela exposição: 
a falta de ar e a imensa paisagem escura de J.-P. Laurens, na primeira sala; a 
banalidade literária de um quadro de Henri Martin; a boa composição decorativa 
de Paul Gervais acerca d’M tempestade , de Shakespeare; a “bela marinha” de 
Tattegrain, “ Sauvetage en pleine mer'\ os muitos quadros quase sempre negativos 
de Bouguereau, Gérôme, Bonnat, Benjamin Constant, Boutigny, Détaille, 
Fantin-Latour, Roybet, Joseph Bail, Henner, Hébert, Dantan, Debat-Ponsan, 
Demont, Collin, Jules Lefêvre e Harpignies. Em todo caso, parece que seus 
elogios são estrategicamente guardados para os dois únicos brasileiros do Salon , 
Pedro Weingartner e Pedro Luiz Vauthier, que parecem igualmente ensejar uma 
série de elogios a expositores espanhóis. 

Sua conclusão, é, pois, a de um triunfo dos pintores estrangeiros sobre os 
franceses, como consequência da obrigatoriedade fatigante e comercial do Salon : 
“Assim há muitos outros quadros de estrangeiros, em que a arte é primorosa 
quando a ideia falta. Ora o que se quer de um quadro é que ele seja bem pintado, 
principalmente. De sorte que o salon de pintura da Sociedade dos Artistas 
Franceses encerra as suas exposições nos Campos Elíseos com o triunfo dos 
artistas estrangeiros.” (p. 25) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


637 


Puvis de Chavannes (nov. 1898) 

Escrito na ocasião da morte de Puvis de Chavannes, trata-se de um elogio 
verboso a este que considera “um dos maiores pintores que tem existido” (p. 5), 
e cuja estética assim resume: “Simplificar a visão das cousas, para a tornar mais 
solene e impressionante pela pureza da contemplação, foi o princípio da sua 
estética.” Logo, elogia a grandeza e simplicidade das pinturas de Santa Genoveva 
no Panthéon, bem como suas demais obras, no anfiteatro da Sorbonne, no 
Hôtel de Ville (Paris) etc. 


O duque de Caxias (jan. 1899) 

Longo encómio ao duque de Caxias, em que o autor enfatiza, sobretudo, 
a importância da supressão das revoltas regenciais como fator estratégico de 
unidade política do país: “Com efeito, os que só viram em Caxias uma espada 
afortunada e toda dedicada ao serviço da disnatia não consideraram de certo 
nem os resultados da pacificação das províncias revoltadas nem os meios de que 
se servia o pacificador. Nas campanhas em que tomou parte o grande capitão 
nunca vencido não interessam somente as vitórias, mas também a maneira de 
vencer. O Brasil não é nação militar; teve a fortuna de crescer entre vizinhas 
mais fracas, embora não pouco belicosas. Mas quem sabe se a própria repressão 
das primeiras guerras civis não foi para ela a educação de paz e de concórdia, 
que lhe deu força e prestígio entre as irmãs divididas e agitadas? E se assim foi 
[...] quem mais do que Caxias trabalhou para a grandeza da sua nação?” (p. 103- 
104) Assim, de maneira algo conservadora, entende o conjunto de sua atividade 
como uma “campanha de conciliação mais do que de repressão!” (p. 104) 


La nature de Rollinat (16 abr. 1892) 

Publicado na ocasião de lançamento de La Nature, trata-se do elogio de 
Maurice Rollinat, o poeta decadente mais conhecido das Nevroses, a quem Sarah 
Bernhardt, presa da musicalidade de seus versos, introduziu em sua “roda de 
letrados”. Acerca do amor do poeta pela vida no campo, evidenciado neste 
último volume de versos, afirma, lembrando-se do clássico personagem de 
Huysmans: “O leitor, que não conhecesse o campo, a terra solitária, o céu e as 
suas feições, seria tentado, depois de ler o livro de Rollinat, pelo ideal de Des 
Lsseintes viver num recinto iluminado artificialmente, em que a mão do homem 
se sentisse em todas as cousas e nenhum vazio se achasse para ser ocupado 
pelo Mistério.” E, por fim, após enumerar diversas imagens “melancólicas” em 




638 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


sua obra, defende sua estética decadente: “É uma estética da sombra, mas tão 
respeitável como qualquer outra que seja sincera.” 


Rose et Ninette (26 abr. 1892) 

Elogio da obra de Alphonse Daudet, enquanto nova mostra de sua capacidade 
de “escritor nevrálgico” de captar as nuanças da sociedade francesa — sobretudo 
dos desenganos que ela pressupõe, e que faria valer toda sua obra como uma 
longa reescrita cYAs ilusões perdidas, de Balzac. Após um longo resumo do enredo, 
repleto de infelicidades familiares, Domício conclui, vagamente, comparando a 
sensibilidade francesa à brasileira: “E um livro para fazer a gente pensar que 
o coração dos franceses é singularmente frio e duro, para nos fazer odiar a 
civilização, que requinta a maldade na polidez. Nós outros faríamos cousa mais 
brutal e menos peçonhenta — mais trágica. Só não seria tão bem feito. Talvez...” 


John Lemoinne (7 jan. 1893) 

Necrológio do jornalista francês, membro da Académie Française. 


Magalhães de Azeredo (24 out. 1898) 

Escrito na ocasião de lançamento do livro de versos Proce/árias, de Magalhães 
de Azeredo, em que Domício julga necessário acompanhar o elogio da obra 
poética uma descrição igualmente poética e imaginativa (senão verbosa): “A 
gente que lê versos num estado d’alma adequado, parte dele para uma funda 
e solene contemplação poética. São as ondas do mar em fúria, verde-sujas e 
baças, manchadas de espuma, tisnadas da sombra das nuvens baixas, cavadas em 
abismos, erguidas em montanhas, rolando por fileiras formidáveis ou desfeitas 
num borrifo imenso, dispersas em debandada louca de pânico, fugindo diante do 
Vento devastador. E a face terrífica da cólera do céu, decomposto em manchas 
lívidas e negras, invisível e clamoroso, sibilando, rugindo, atroando, enchendo 
o Espaço com o estrondo da sua voz espantosa. E a convulsão, o espasmo da 
força desordenada e indómita, a corrida desvairada dos barcos sob as refegas 
da procela, os naufrágios, as tragédias do esmagamento e destruição dos fracos 
arrastados no turbilhão dos elementos.” (p. 1) Tal estilo de análise — de todo 
avesso à análise do livro de Azeredo — segue por mais dois longos parágrafos, 
que demonstram a riqueza verbal do articulista por oposição à obra comentada, 
reconhecidamente de valor relativo, incipiente: “Não é provável que no futuro 
o nome de Magalhães de Azeredo signifique Procelárias, e um substitua o outro. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


639 


Este é o primeiro livro de um moço poeta, o livro dos ensaios e dos primeiros 
cantos”. Observa, ademais, o não lugar de temas caros às “torturas e agonias 
da nevrose”, tomados de Poe e Maupassant, na pena de um jovem “bem 
equilibrado” como o amigo (p. 1), e assinala como os melhores poemas da 
coletânea (numa leitura à vol d’oiseau?) o primeiro e o último. 


Os simples (15 mar. 1895) 

Sobre o lançamento d’ CL simples , de Guerra Junqueir o, avaliado por Domício 
como o melhor de seus livros, seguindo uma evolução literária visível desde 
A morte de D. João e A musa em férias. Contudo, exagera nos elogios, como em 
passagens deste feitio: “Já há tanta discussão por esse mundo... As filosofias 
todas se valem. Eu estou aqui, mísero verme, pronto para dar água pela barba 
ao maior poeta da península, em se tratando de sistemas, e não posso ler os seus 
versos incomparáveis, senão com os olhos turvos d’água e a garganta cerrada de 
emoção, (parte I, p. 7)” 

O presente artigo consiste de reprodução de texto originalmente veiculado 
pela Gaveta de Notícias (ano XVIII, n. 209), a 28 de julho de 1892. 


La débacle (31 mai. 1895) 

Elogio ao romance de Zola, excessivo, verboso, tal qual aquele de seu artigo 
pouco anterior, dedicado a Guerra Junqueiro: “E um desses livros que a gente 
lê com os cabelos em pé, eriçados em desordem, como um sapesal cerrado por 
onde passa um rebojo do nordeste. A pele do crânio tem as vibrações violentas 
do Sublime. Das páginas, das frases sopra impetuosamente uma ventania de 
paixões, de recordações imprecativas, de convulsões trágicas, o flato da epopeia.” 
(parte I, p. 3) Reconhendo, porém, a desigualdade entre os capítulos no vasto 
diorama ao qual corresponde seu conjunto, passa a discorrer sobre as cenas 
da batalha de Sedan e a queda de Napoleão III, fazendo, por assim dizer, mais 
literatura que crítica. 

Ao final da segunda parte de seu artigo, entretanto, acusa brevemente a fórmula 
naturalista como culpada, em parte, pelo desequilíbrio da obra: “E a propósito 
vem a acusação de inverossimilhança a que a fórmula naturalista dá lugar, 
quanto à psicologia dos personagens. Para explicar e dramatizar a indisciplina 
e a desordem das tropas francesas, Zola mostra os soldados entendendo muito 
melhor as manobras, as marchas e movimentos dos exércitos do que os próprios 
oficiais. Então, pela conversa dele, o leitor tem a sensação do desastre iminente. 
Mas não é isto um artifício indispensável num livro tão sincero?” (parte II, p. 3) 
E acusa ainda, de outra parte, a dificuldade natural de extrair de “um fundo de 




640 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


harmonia escura” como o do assunto do livro “efeitos variados”, muito embora 
tal não atrapalhe a intensidade da “impressão do livro”, (idem) 

É importante destacar que o presente artigo consiste de reprodução de texto 
originalmente veiculado pela Gaveta de Notícias (ano XVIII, n. 206) a 25 de julho 
de 1892. 


Incitamento (21 jul. 1883) 

Considerando que o estudo da história é no Brasil “um puro exercício da 
memória”, o autor lamenta o estado então icipiente da sociologia entre nós, de 
maneira ainda algo exacerbada e verbosa: “[...] através dos baldios espinhosos 
do passado, dos encontrões com a fábula e a legenda popular, das impressões 
violentas e peníveis causadas pelo espetáculo da gloriosa luta da liberdade 
contra a opressão, da razão contra o erro, da luz contra a treva espiritual, da 
leitura palpitante dessa sublime epopeia do progresso só resulta um profundo 
sentimento de terror, o terror do desconhecido, numa impressão de pavor 
imenso, que não conseguem vencer nunca necessidades posteriores de uma nova 
investigação do passado.” (p. 3) Não obstante — e algo ironicamente — , critica 
os legisladores nacionais, “que, embriagados pelo vinho quente da eloquência 
tropical, gastam em formular a medicação o tempo que dura a crise.” (idem) 
Por fim, afirma ser a história, e não a religião, a chave na luta do individuo pela 
existência. 


O Rio de Janeiro em Paris (19 abr. 1889) 

O presente artigo, dedicado à situação do artista nacional e composto 
a partir de uma exposição em Paris de Victor Meirelles (pintor patrocinado 
por Dom Pedro II, de expressão romântica e neoclássica) inicia-se com uma 
descrição distópica do Rio, entendido como lugar de penitência para os que 
nele são “condenados” a viver: “A impressão que causa a vista da cidade do Rio 
de Janeiro é de uma bela moldura mal empregada. Os que nela tem vivido e 
sofrido, os que a ela são condenados perpetuamente conhecem a cidade, a bela 
corte que se sonha na província, como uma espécie de monstruoso emplastro 
de caliça e pedra, cinzento, sujo, informe, colado à face da natureza viçosa e 
deslumbrante.” Sobre seus habitantes, lastima o “formigar sombrio” de pessoas 
que vivem em ambientes “tão desarranjados, tão nus, tão sem conforto e sem 
arte, que basta esse sintoma da pobreza dos seus habitantes [...] — pobreza de 
espírito, então, pobreza moral, mais desoladora ainda — que basta a visita de 
meia dúzia de interiores fluminenses dos genuínos para sentir-se ridículo, isto 
é, isolado e desamparado, estranho e fora da afinação geral, quem quer que aí 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


641 


pretenda ser artista em atividade, fazendo dessa profissão o objeto exclusivo.” 

Neste sentido, contrapondo ao horror cultural, material e moral do Rio a 
vontade heroica de quem queira ser artista neste meio — ao que acrescenta o 
“quietismo” do clima tropical e as influências hereditárias da “raça que, se não 
é a menos artista, é a menos representativa do ocidente” — Domício arremata: 
“Os artistas contrastam tanto com esse meio ingrato, acham-se tão singulares, 
tão diferentes dos seus semelhantes, que eles são os que mais se admiram disso 
e também, valha a verdade, os que mais se admiram pessoalmente.” Neste 
sentido, grandes artistas nacionais, como os pintores Pedro Américo e Victor 
Meirelles, são raras exceções ao meio brasileiro. 

Por fim, debruça-se em descrever a inauguração de uma exposição de Victor 
Meirelles em Paris, enumerando os comentários dos estrangeiros e seu interesse 
exclusivo por ver aí não a representação da cidade do Rio, mas apenas “uma 
impressão agradável para os olhos”, que o ofende de certa maneira seus brios 
nacionais: “Isso encontrarão os mais indiferentes a belezas naturais e artificiais.” 

A conclusão do artigo, porém, retoma o desprazer inicial com o Brasil, num 
comentário em que transparece, por detrás da pena para com os conterrâneos 
que ficaram na Rua do Ouvidor, o elogio da França como padrão de atividade 
e de reconhecimento artístico mundial (releve-se o sentido destrutivo destas 
linhas, que, no limite, representariam a negação da formação de um meio 
artístico nacional com a debandada em massa de artistas para o exterior): “Vê- 
se que os brasileiros aqui valem alguma cousa. E há tanta gente que se está 
perdendo na rua do Ouvidor, em vez de ser aproveitada convenientemente 
nesta terra hospitaleira...” 


5 e 6 de maio (6 jun. 1889) 

Sobre as comemorações do cinco de maio na França (data que marca o início 
da Revolução Francesa, com a reunião dos Estados Gerais em Versalhes), em 
que se repete a retórica francófila de Domício, explicitamente partidário: “Dos 
tiranos quem se lembrasse seria benevolamente, com um vago sentimento de 
gratidão pelos que, fazendo obra de orgulho pessoal, embora, criaram para 
a França o mais belo passado que pode ter uma nação e a prepararam para 
ser o que depois foi e hoje continua a ser — a heroína das gentes!” (p. 1) O 
autor parece ter se esquecido que, duas décadas antes, a mesma “heroína das 
gentes” movia uma tentativa de criar o Segundo Império Mexicano, estendendo 
seu domínio ultramarino contra um México já fragilizado pela guerra com 
os Estados Unidos (que lhe custou, aliás, cerca da metade de seu território). 
Há, a este respeito, um sentido irônico no título da crônica, que denuncia a 
ingenuidade política de Domício (retome-se o igualmente importante “Cinco 
de mayo”). Não obstante, o autor julga até mesmo o atentado contra a vida 




642 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


do presidente Carnot, ocorrido em meio ao evento comemorativo, como de 
pouca monta, abrandado pela calma da vítima, que sequer soube quando lhe 
ameaçaram a vida: “Depois explicaram-lhe o fato e ele prometeu interessar-se 
por Perrin [autor do atentado] . E eis como nesta pacífica república até os tiros 
de revólver são mansos...” (idem) Segunda ironia: à mansidão dos tiros viria 
somar-se um segundo atentado contra a vida de Carnot cinco anos depois, com 
a diferença de ser bem sucedido, e por meio de um punhal. 

Porém, e sempre, eguem-se os elogios à França e a seu povo bem comportado 
durante as festas, provando a “doçura de caráter e a boa educação do francês, 
sobretudo quando ele está disposto a divertir-se.” (idem) 

Há ainda, em meio aos muitos elogios, trechos da mais desconcertante 
ingenuidade — ou anuência — perante absurdos históricos, tais como, ao discutir 
a harmonia dos vestidos das mulheres: “Atraíam também os olhares as roupas 
exóticas dos selvagens africanos e dos filhos das outras civilizações distribuídos 
pela sala muito decorativamente.” (idem) 


Paris em falta (publ. 14 jun. 1889; escr. 20 mai.) 

Crônica publicada no número 165 da Gaveta de Notícias , em que é feita uma 
ampla cobertura da Exposição Internacional de 1889. De sua parte, Domício 
ressalta os pontos negativos dos primeiros dias da Exposição. Depois de 15 dias 
da abertura, diversos pavilhões permanecem incompletos; há diversos atoleiros 
pelo chão, mais ou menos encobertos pelo saibro; a falta de arrumação dentro 
dos pavilhões, e de pintura, fora deles; a profusão de visitantes, que se interpõe 
à apreciação dos objetos; o preço exorbitante cobrado pelos cocheiros; as 
visitas desagradáveis à torre Eiffel, ainda incompleta etc. Assim: “Incompleto é 
o adjetivo que sempre vem modificar-nos todos os juízos que possamos fazer 
sobre uma cousa e que deve ser vista no seu conjunto. Não é a impaciência de 
ver a obra feita e sim o receio de não vê-la completa o que nos desagrada do 
espetáculo de uma arrumação demorada como esta.” 

Pondera, todavia, que muito do prazer da Exposição se deve às muitas 
expectativas a seu respeito, chamando tal protelação de “psicologia da 
Esperança”. E, tal como em diversos de seus contos, tece algumas reflexões, 
também algo destacadas do presente texto, embora muito interessantes: “Há os 
que se matam na véspera de serem felizes — matam-se ou deixam-se morrer, o 
que dá no mesmo — por sentirem que o auge da ventura é um minuto efêmero, 
um instante, um ponto apenas, o máximo da fatal trajetória da vida que não 
para. São uns exagerados esses: perdem-nos a espiritualidade superior e a lógica 
excessiva (porque a lógica nunca deve provar contra nós mesmos). [...] E há os 
colecionadores de esboços e de obras incompletas em que fica sempre lugar 
para o sonho...” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


643 


Voltando à Exposição, diz que não há lugar para o sonho numa tal ocasião, 
e que nada supre aí a falta do que ver (“não faço caso da torre Eiffel que por 
enquanto ainda não cumpre das quatro condições senão o ser de ferro e (dizem) 
ter 300 metros de altura”). 


O Brasil na Exposição (6 jul. 1889) 

Elogio talvez maior da serenidade de Sadi Carnot que do pavilhão brasileiro 
na Exposição Internacional de 1 889, em que se nota certa vergonha da propalada 
expansividade brasileira em meio à descrição da passagem do presidente francês: 
“Ninguém lhe deu um empurrão, ninguém abraçou-o nem lhe bateu no ombro, 
ninguém lhe impôs a obrigação de responder a um discurso, afinando-se pelas 
ardências tropicais dos nossos, nessas frases já tão sabidas, que, mesmo quando 
são sinceras, parece que o não são. Todos foram corretos (não tanto como ele, 
que é a correção exemplar), amáveis (não tanto como ele, etc.), discretos, bem. 
O Brasil portou-se bem; não foi rastaquouère , nem selvagem, ficou-se na média 
honesta de gente séria, que não quer fingir mais do que é.” 


Cousas modernas (publ. 13 set. 1889; escr. 24 ago.) 
Discutido no corpo do texto. 


O fim da Exposição (28 nov. 1889) 

Já algo cansado da Exposição universal, comenta o cronista: “Havia 
impressões demais a receber nas visitas à Exposição. Era o mundo inteiro a 
passar por diante de olhos inteligentes, e um mundo de sensações, um turbilhão 
imaginativo que em duas horas impossibilita a coordenação das ideias.” Lamenta, 
assim, o excesso e o contraste das muitas coisas expostas, sobretudo no que toca 
às pinturas, sem harmonia e sem tranquilidade, elementos primordiais para a 
“emoção estética”: “Nas seções de pintura, por exemplo, o olhar que começava 
a se enternecer diante de uma cena sentimental, arrasava-se de lágrimas diante da 
tela seguinte, que era no entanto uma paisagem luminosa emoldurando idílios e 
embrumava-a de melancolia, emprestando-lhe um caráter sentimental, que não 
fora certamente da intenção do pintor. Aos embaraços individuais da adaptação 
psicológica ajuntava-se esse da insuficiência de tempo para a integração dos 
elementos complexos de uma emoção estética. [...] Depois a diferença dos 
ambientes... Saía-se tonto, com dor de cabeça, incapaz de resumir impressões 
senão viciosa ou paradoxalmente.” 




644 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A impressão na Europa (publ. 23 dez. 1889; escr. 20 nov. 1889) 

Relato muito interessante da reação surpresa dos estrangeiros ante o fim da 
Monarquia brasileira, a qual pensavam ser “um império muito vasto, muito rico 
e muito feliz, um império em que todos descansavam de preocupações políticas 
que porventura pudessem surgir, confiando na alta inteligência de um rei sábio, 
liberal, bondoso e reto”. De início, diz que lastimaram a sorte do imperador; 
a seguir, julgaram tudo um golpe isolado no Rio, ao que se deveria seguir uma 
série de revoltas pelo país. Apenas após um anúncio do Times de que “o Brasil 
estava perfeitamente em condições de pagar aos seus credores e cumprir os 
seus contratos”, começaram a acreditar na mudança. 

Por oposição ao Times , Domício ressalta a inépcia da maioria dos jornais 
franceses, “vazios, chocarreiros ou mentirosos, aceitando informações falsas 
ou forjando-as para mostrarem-se sabedores de cousas que ignoravam até a 
chegada dos telegramas de Havas.” 

Finalmente, dá um depoimento valiosíssimo, que bem demonstra o contraste 
entre sua introspecção e sua atuação política: “A impressão na colônia brasileira 
foi de espanto quando se soube a nova. Monarquistas ou não, ninguém queria 
acreditar. E depois de certificarem-se, andavam alguns meio corridos, como quem 
leva um tombo de ilusões. Até hoje dura-me por dentro um abalo comparável 
ao que sentiria alguém que estivesse distraído, encostado a uma porta fechada 
e que lha abrissem de repente. A porta aberta é uma saída, horizontes novos, 
muita coisa para ver... Mas, o susto de sentir-se em falso, perturba a inteligência, 
impede de ver claro, principalmente se vem uma claridade muito viva pela 
abertura. Essa é a psicologia da surpresa que já se vai moderando em muitos. 
Começam todos a ter mais ou menos previsto o acontecimento. Só eu não: 
confesso humildemente que estava bem encostado, absorto, a ler ou a cismar, 
sem mesmo pensar que houvesse porta atrás de mim.” 


Carta de Paris (13 jun. 1890) 

Generalidades do cotidiano parisiense, como a bonomia de Bismarck para 
com a imprensa, a volta das touradas, a derrota do Gal. Boulanger nas eleições 
para o conselho municipal, o início da exposição dos “artistas dissidentes” no 
Palais des Beaux-Arts (dos quais cita Meissonier, Dagnan-Bouveret, Shermitte, 
Ribot, Harpignies, Lemaire, Carolus Durand, Gervex, Roll, Béraud, Cazin e 
Duez, sem que mencione outros mais renomados, como Puvis de Chavannes 
ou Auguste Rodin) etc. A respeito desse último item, defende a união dos 
artistas e não parece entender as dissensões entre os grupos de pintores: “O 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


645 


sentimento geral, porém, é que o congraçamento e a reunião dos dous salons 
[ Vaiais des Beaux-A. tis e Pedais de l’Industrie\ se fará mais cedo ou mais tarde e que 
não persistirá essa lastimável prova de que as rivalidades entre artistas podem 
chegar ao ódio separatista.” 


Escândalos parisienses (publ. 21 abr. 1892; escr. 30 mar. 1892) 

Texto escrito a 30 de março e assinado “D.G.”, em que se levantam os 
últimos escândalos públicos: o pedido de anulação do concurso para professor 
substituto da faculdade de medicina (“Os candidatos vencidos não eram 
superiores aos felizes nomeados, é o que é. Ou então um concurso na escola de 
Medicina de Paris é uma cousa tão artificial, como os exames e concursos nas 
escolas do Brasil...”); as críticas de um padre jesuíta contra o exército francês; 
os discursos mais ou menos socialistas de outro jesuíta; os embates entre fiéis e 
operários na ocasião de uma conferência na igreja de Saint Joseph de Belleville 
(“Ficam os padres prevenidos de que a casa de oração não é sala de conferências 
contraditórias sobre questões palpitantes de atualidade, e que os ministros do 
Senhor não tem competência para doutrinar em matéria civil, por mais íntimas 
que sejam as relações existentes entre sociologia e religião, entre o evangelho e 
o código.”) etc. 


O terror anarquista (22 abr. 1 892) 

Crônica de dois de abril assinada “D.G.”, na qual se discorre sobre o medo 
geral da população parisiense ante o roubo de 28 quilos de dinamite de uma 
mina, após um atentado na casa de um juiz: “Esta circunstância começou a 
inquietar seriamente a gente que tem casas, a gente que mora nas casas, 
elementos sérios da sociedade. [...] Paris começou a sentir-se sobre um vulcão 
de dinamite. Os vinte e oito quilos roubados na pedreira iam dar para arrasar- 
se a cidade inteira.” Há linhas dedicadas à figura lendária de Ravachol, preso 
e sentenciado à guilhotina, “um bandido, antigo tintureiro em Saint-Étienne, 
moedeiro falso, ladrão de quadrilha e assassino — uma fera, dizem mesmo que 
na aparência física. [...] Entretanto, Ravachol preso, condenado, decapitado, terá 
morrido com ele a hidra da anarquia?” 


O movimento anarquista (publ. 15 mai. 1892; escr. 21 abr.) 

Domício aproveita o temor da população parisiense ante os ataques 
anarquistas para tecer considerações gerais sobre a relatividade de todas as 




646 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


certezas, pretensamente resolvidas pela violência: “O que todos nós, receosos 
ou tranquilos, não podemos deixar de ver, é que todas as questões que os 
filósofos, os pensadores, os criadores de sistemas do mundo parece terem 
resolvido especulativamente, são respostas em discussão. E quem as pretende 
resolver agora, não são os abstratadores de quintessências das cousas, não são os 
trabalhadores em dialética, que fazem obra nova e maravilhosa combinando 
elementos conhecidos, não são os frios e endurecidos profissionais da moral; 
são os ignorantes, os meio-cegos, os interessados, os impulsivos; é a gente bruta 
e malcriada da segunda mesa do banquete das civilizações, que se impacienta 
com a longa espera, enquanto os outros discursam e filosofam, doutrinando 
sobre a fome e de barriga farta.” (p. 1) 

A seguir, deixa evidente seu pensamento social como prolongamento de uma 
íntima concepção de selj-made man (à maneira de seu posterior pensamento na 
diplomacia do selj-made nation)'. “O mal provém da separação social, do haver 
uma primeira e uma segunda mesa, da falta de caridade dos que se assentam à 
primeira, da falta de habilidade dos que esperam em só mostrar a sua fome, sem 
esperteza para, individualmente, cada um e por conseguinte todos ganharem um 
lugar entre os favorecidos; o mal provém de se criarem classes sociais, depois de 
se suprimirem as castas.” (p. 1) 

Atenta, finalmente, para o perigo da dispersão pelo mundo de anarquistas 
e “niilistas”, zombando da possível emigração de alguns deles para o Brasil: 
“Não seria mau, talvez, que para lá fossem esses azedados pela injustiça social. 
Não há entre nós questão social possível, com a terra de que dispomos, aberta 
a todas as atividades [...]. Adaptadas, nacionalizadas, adoçadas as suas doutrinas 
filosóficas, quem sabe se não dariam bom resultado nesse vasto campo de 
experiências políticas que é hoje o Brasil? E nós nos estabeleceríamos em face 
do Velho Mundo como modelo às sociedades modernas, americanas, a primeira 
nação a realizar esse paradoxo etimológico da Anarquia organizada...” (p. 2) 


A dinamite de Paris (publ. 23 mai. 1 892; escr. 30 abr.) 

Nova exposição do medo geral de Paris, às vésperas do dia primeiro de maio, 
ante explosões de dinamite ligadas a atentados e revanchismos anarquistas, logo 
após a prisão de Ravachol (“Isto se passa na capital da civilização moderna, no 
tempo em que se celebrariam as festas da primavera”). 


A convenção literária com a França (publ. 1 1 set. 1 892; escr. 20 ago.) 

O cronista tece algumas pilhérias acerca do interesse apressado e ligeiro da 
Europa pelo Brasil, talvez motivado pelo centenário de Cristóvão Colombo: 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


647 


“Nem o tom dos artigos é acerbo, nem se aproveita a ocasião para fazer 
pilhérias sobre os pobres selvagens de além-mar. Há como que uma curiosidade 
simpática de quem procura conversa com o vizinho, para saber quem é e por-se 
bem com ele.” 

Imediatamente, coloca-se a discutir o interesse francês pela criação de uma 
convenção literária entre ambos países, tendo em vista a descoberta (recente?) 
da influência francesa sobre nós. Domício critica a iniciativa de alguns deputados 
brasileiros levarem adiante tal proposta, que prevê o pagamento de direitos e 
honorários aos autores europeus e leva ao “escoamento do ouro para estas terras 
já tão ricas.” No entanto, não chega a propor o calote do devido pagamento. 

A seguir, satiriza a recente discussão em torno dos direitos de tradução, 
devidos dos tradutores aos autores, considerando-a absurda: “Direitos de 
tradução! É uma cousa fantástica, quando se pensa bem nisso! Parece-me, na 
minha mesquinhez de letrado sem vertigens de ambição, que eu pagaria antes 
um jantar a quem me traduzisse para outra língua, dando-me as honras de 
doutra gramática, de vestimentas novas, de sonoridades exóticas, de frase. [...] 
Propriedade literária de que cousa? Da forma? E o trabalho do tradutor, que 
deforma, transforma e tantas vezes reindividualiza o trecho traduzido?” 

Por conseguinte, Domício nega a propriedade intelectual de qualquer ideia 
(“[...] quem se atreve a declarar-se proprietário de assuntos e de ideias?”), e 
recorre à suposta autoridade do Positivismo para legitimar sua posição, 
desconstruindo-o também: “A aprovação nas câmaras de um projeto de lei que a 
reconheça [a convenção], me fará concluir que não é o positivismo que governa 
o Brasil, como aqui se espalhou nestes últimos tempos. É o único benefício que 
se tirará dessa inoportuna lei [...]. Ficamos sabendo que não há uma doutrina 
governando um Estado. Esses sintomas negativos às vezes inspiram mais 
confiança do que as afirmações de um ministro de finanças.” 

Finalmente, ironiza a voga da literatura folhetinesca e o sentido francês do 
termo que lhe embasa ( re^-de-chaussée ). 

E curioso assinalar que a presente crônica despertou imediata reação na 
imprensa, provando a atualidade e combatividade do tema. No dia seguinte ao de 
sua publicação, Luís Quirino escreve uma réplica à crônica de Domício, publicada 
prontamente no dia 13 de setembro pel’0 Tempo (RJ). Nela, Quirino (1892, p. 1) 
rebate com hostilidade: “Veio se alistar o nosso afastado compatriota na falange 
dos que defendem o statu-quo , repelindo a ideia de qualquer reconhecimento 
oficial aos direitos da arte estrangeira no Brasil.” Fica evidente que Quirino 
(idem) repudia a ideia de Domício segundo a qual o tradutor também deveria 
ter direito à propriedade intelectual de sua tradução, numa defesa à contrapelo 
do direito do autor da obra sobre aquele do tradutor. Assim, aproveita para 
atacar o socialismo como “propaganda perigosa que se deve receber com 
cautela vigilante e calma” (idem), numa possível extensão de sentido da ampla 
defesa dos direitos individuais pelo colega. 




648 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A questão do Panamá (publ. 18 dez. 1892; escr. 20 nov.) 

Das primeiras comissões de inquérito em torno do escândalo da Cia. do 
Panamá, agravadas pela morte misteriosa do barão Reinach, um de seus 
administradores. 


A política e o Panamá (4 jan. 1893) 

Detalhes cotidianos sobre o escândalo de corrupção no (Canal do) Panamá, 
envolvendo altos escalões do governo francês que financiaram a imprensa para 
silenciar a crise iminente da Companhia — que, afinal, com prejuízo de milhões 
de francos desviados, não construiu o Canal. 


A questão do Panamá (6 jan. 1893) 

Idem ao anterior, com mais detalhes sobre o escândalo: “Paris e a França 
despertam cada manhã com os olhos sobre os jornais, à procura do novo 
escândalo, do novo nome atirado em pasto à suspeita pública. E do governo já 
nem se espera um ato de energia que reprima um pouco a imaginação odienta 
dos jornalistas de oposição.” 


A questão do Panamá (publ. 16 jan. 1893; escr. 24 dez. 1892) 

Balanço pessoal e algo intimista do escândalo financeiro, em que o cronista 
observa a rapidez dos acontecimentos, enumera alguns boatos, e confessa, 
afinal, sua falta de posição sobre o assunto: “Não sei. Não sou do jogo, não 
tenho palpite. Não sou da companhia, não tenho camaradagem que me faça 
prever simpaticamente o resultado da contenda. Faz um frio de quatro graus 
centígrados abaixo de zero: é uma temperatura que dissuade a gente de ir à 
praça pública vibrar com o entusiasmo dos cidadãos que discutem.” 


No Bairro Latino (publ. 26 mar. 1893; escr. 24 fev.) 


Notícias menores do cotidiano do Quartier Latin (briga entre dois poloneses 
refugiados, seguida do suicídio de um deles; vaias dos alunos da Sorbonne ao 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


649 


Prof. Larroumet, por inveja de seu sucesso com o público feminino etc.). 


O dinheiro pacificador (14 abr. 1897) 

Da oposição dos países europeus ao avanço do Império Turco-Otomano 
sobre a ilha de Creta, assim avaliada partidariamente pelo autor: “No caso 
presente temos a certeza de que uma das causas da Grécia não brigar com a 
Turquia é não lho consentirem os seus credores. [...] Nós todos, que odiamos 
o turco e queremos ver a Grécia restaurada nos seus antigos domínios, nem 
fazemos literatura, nem fazemos política que aproveite à gente que About 
tanto maltratou nos seus livros; somos, com infinitamente menor entusiasmo, 
outros tantos voluntários platônicos de 1827; e quando cada noite morremos 
de impaciência, porque os jornais ainda não trazem a notícia de que rompeu 
a guerra, reproduzimos com atenuação infinita o drama de Byron morrendo 
em Missolonghi antes do combate; celebramos em nossa alma o culto da 
Humanidade, pela aspiração à volta de uma bela cousa, a Grécia antiga, ou 
pela simples restituição do seu nome aos territórios que o bárbaro turco ainda 
polui.” 


De Paris (publ. 23 nov. 1888; escr. 5 nov.) 

Primeiro texto de uma série de 37 contribuições à Gaveta de Notícias, em que o 
cronista demonstra seu amor por Paris, mediante uma breve comparação entre 
os nomes de Paris, Babilônia, Atenas e Bizâncio. Sob o rótulo de “bizantinismo”, 
que julga ser sinônimo de “discussões pueris entre retóricos”, afirma: “A 
França acha-se completamente isolada no meio da Europa inimiga e a Europa 
é inimiga da França por causa dos seus retóricos — dos seus homens de estado, 
dos seus jornalistas, dos seus homens-de-estado-jornalistas. [...] Esse grasnido 
impertinente é o que mais irrita e incita os bárbaros contra a repúbica. (Não é 
preciso explicar que bárbaro é tudo o que não é francês).” 

Fala ainda da popularidade do Gal. Boulanger, da chegada do inverno, de uma 
peça malograda (Pépd) de Meilhac e “Gauderax” ou “Granderax” [Ganderax], 
da presença dos rastaquouères no teatro etc. E comenta a facilidade do público 
francês em aplaudir peças as mais frívolas possíveis: “São assim os franceses: 
capazes de pensar com alteza e de impor aos outros a mais bela estética, 
mas deixando-se levar pela sedução especial do cabotin. E afinal de contas o 
cabotinismo é que é sincero.” 

Por fim, tece comentários gerais acerca da amenidade da comédia, por 
oposição ao teatro moralista: “A comédia deve ser luminosa e amena; nenhuma 
sombra de questões profundas deve enturvá-la. Uma historieta dialogada e ao 




650 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


vivo, eis tudo. Mas a literatura dramática toma muito a sério o seu papel, hoje 
anacrônico, de doutrinária.” E encerra em tom de blague\ “[...] eu bem sei a causa 
das causas. O leitor ignora que se me seguir neste curso de Parisiologia ficará 
um sábio por fim. Mas com tempo.” 


De Paris (publ. 13 jan. 1889; escr. 15 dez. 1888) 

Descrição algo feérica da atmosfera noturna de Paris, no mesmo tom dos 
textos de sua esparsa literatura de viagens, em que se nota a preocupação com 
o lento acúmulo de detalhes, sob uma impressão original de conjunto (ou, em 
seus termos, “a sugestão das cousas”): “A avenida dos Campos Elíseos, com os 
seus rosários de lampiões unindo-se para os lados do Arco do Triunfo, parece 
abrir-se na sombra à passagem de alguma cousa obscuramente solene. Do meio 
da ponte o anfiteatro luzente do Trocadéro de um lado, e do outro as linhas dos 
cais para o Louvre e o Instituto, esfumados a leste, aumentam com os reflexos 
trementes na água negra o brilho da iluminação. A cidade é então como um 
palácio em festa, onde as luzes brilham mais nas salas vazias, após a partida 
dos últimos convidados. Há um adormecimento ou uma expectação, conforme 
sejam cansados ou excitados os nervos do que contempla, pois que está sempre 
em nós mesmos a sugestão das cousas.” 

Mais à frente, encontra-se um novo e interessante comentário a respeito do 
público de arte em Paris, discorrendo sobre alguns estudantes e copiadores no 
Louvre: “Examinando o público de uma galeria de arte, pode-se fazer uma lição 
de estética, da sua evolução histórica. Não há lugar para ela aqui; só uma menção 
curiosa. Na sala que chamarei da Gioconda, havia um homem estudando um 
grupo de um Ticiano e cinco mulheres copiando quadros. Dessas, uma moça 
feia e triste pintava para um leque uma cena de pastoral galante de Watteau, e 
das outras quatro, velhas, algumas de óculos, uma copiava um Terburg e três 
copiavam Corregios. Achei dolorosamente significativo o contraste e a seleção 
daquelas pobres criaturas. Daí, talvez fossem encomendas...” 

No mais, contrapõe à ideia da capital francesa como centro atabalhoado 
do mundo a quietude dos museus, das salas de bibliotecas, gabinetes e ateliês 
de escritores e artistas etc., de onde se traz “uma impressão bem diferente da 
imaginação que se fazia desse turbilhão que se chama Paris.” (grifos do autor) E 
cita acontecimentos do dia-a-dia, dos quais se destaca seu elogio ao livro de 
SantiAnna Nery, Polk-lore brésilien. 


De Paris (publ. 2 de fev. 1889; escr. 20 dez. 1888) 


Sobre as críticas e defesas ao parlamentarismo na França, com menção à 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


651 


influência crescente do Gal. Boulanger, às contendas entre Clemenceau e Morei 
etc. A breve menção que faz a Germinie Gacerteux , de Edmond de Goncourt, 
aponta para seu ensaio exclusivamente dedicado ao romance. 


De Paris (publ. 10 fev. 1889; escr. 30 dez. 1888) 


Discutido no corpo do texto. 


De Paris (publ. 6 mar. 1889; escr. 9 fev. 1889) 

Balanço do estado de lenta revisão política na França. O cronsita destaca a 
indignação desarrazoada dos “jornais ultra” contra o governo, apontando no 
exemplo do medalhão Henri Rochefort a decadência dos polemistas de outrora. 

É de maior interesse, a este respeito, sua posição acerca dos extremados na 
arte, que parecem incapazes de destituir os velhos figurões, representantes de 
outrora: “[...] os novos, se fossem bem novos e fortes, se tivesse o talento , não 
esperariam que estivesse o lugar vazio, empurrariam os velhos e enfraquecidos 
para os arquivos, para as suas prateleiras funerárias e nem dariam lugar a que 
eles fossem lembrados. Mas parece que os novos — decadentes, simbolistas, 
pessimistas, deliquescentes, ou imobilistas, incoerentes ou positivistas — são, antes 
de tudo, negativistas. Analistas — psicólogos, impressionistas, individualistas, 
dispersivistas, budistas novos, tudo isso é gente que arvora a incapacidade 
em sistema e tenta instituir a estética da miséria. Miséria da vontade, miséria 
orgânica, legado de impotência que as gerações civilizadas vão deixando, único 
que se não esbanja e que se aumenta e se transmite acumulando.” 

Fala ainda sobre a criação de uma “Liga de Educação Física” em Paris, que 
considera muito superior à de Niterói embora lamente o artificialismo do retorno 
parisiense à natureza, à la Rousseau; e constata “a hipertrofia do indivíduo em 
prejuízo da espécie” como índice da crescente modernização social. Assim, 
é com surpresa que elenca a diminuição dos filhos por casal, o aumento do 
número de abortos etc. 

Por fim, retoma a menção anterior a Rousseau lembrando da inauguração de 
sua estátua no Panthéon, e diz: “E outro ruim e antipático esse moralista imoral, 
é outro que, se eu fosse pai dele, me faria arrepender bem... disso.” 


De Paris (publ. 10 mar. 1889; escr. 14 fev.) 

Elogio do cronista à situação política e econômica de então da França, 
que, apesar de seus evidentes cuidados, e da falta de heróis ou de grandes 




652 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


atores nacionais, pressupunha uma época de liberdade e de conservadorismos 
estratégicos: “Sejamos conservadores, pois que os nossos pais foram liberais, 
para que nossos filhos sejam como os avós. E não nos desconsolemos de 
não possuirmos heróis como no passado houve. [...] Nós não carecemos de 
libertador, de quem nos livre e nos purgue de misérias e impurezas profundas: 
ninguém, nada suscita contra nós ditaduras desastrosas e humilhantes. Nem 
em política, nem em ciência, nem em religião, nem em arte, nem em literatura, 
temos dominações opressivas e absorventes. Ainda bem!” 

Por fim, tece críticas ao papel por vezes negativo dos críticos de arte, deixando 
para seu artigo seguinte tal discussão. 


De Paris (publ. 15 abr. 1889; escr. 10 mar. 1889) 

Crônica sobre diversos assuntos: a Liga dos Patriotas e a atuação cabotina 
de Deroulède (que considera nada mais que um fanático); o contato entre 
Deroulède e Atchinoff (“uma espécie de Deroulède russo”); a morte de 
Denfert Rochereau, motivada pelo investimento desastroso de seu banco em 
empresas de metais, e os desdobramentos nefastos para a economia francesa; e 
a revogação do exibo do duque dAnmale. 


De Paris (publ. 7 mai. 1889; escr. 23 mar.) 

Sobre a volta triunfante do sol da primavera, em contraponto ao frio dos 
mortos da semana, com destaque para a morte de quem considera o maior 
colecionador de quadros da época, o Sr. Secretan. São de interesse, sobretudo, 
as reflexões do cronista sobre a mercantilização da pintura da época, sugeridas 
pela morte do citado “mecenas”: “Pintores caros já são poucos os que o são 
em vida; começam a ser razoáveis os amadores, e a calcular sobre a produção 
provável de um pintor antes de fazer os seus preços. [...] E a comparação vai 
mais longe do que se pensa. A produção rápida obriga o trabalhador do pincel 
como o da pena a repetir os seus sucessos a reproduzir os seus melhores efeitos, 
a criar para si uma especialidade esterilizante. [...] Somente parece-me árduo e 
ingrato esforço o que se aplicar em conseguir a afinação para mediocridades. 
Será talvez mais simples fazer menção das cousas deste gênero como um 
mercador menciona as fazendas que lhe passam pelas mãos — pelas etiquetas 
classificativas. E as análises sentimentais, pessoalmente interessantes, serão 
reservadas para as obras de exceção, geniais, intensas, ou, simplesmente, novas.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


653 


De Paris (publ. 27 mai. 1889; escr. 12 abr.) 

Crônica relevante para a reconstituição do pensamento polítco de Domício, 
em que discorre sobre a falta de expressão direta na sociedade das classes 
“superiores”, responsáveis por sua administração efetiva. De um lado, ataca o 
aristocratismo inócuo dos mais ricos, definindo-o em termos mais ou menos 
peculiares: “Não é, entretanto, o receio de serem engolidos pela máquina social 
o que dela afasta os homens mais capazes de lhe entender o mecanismo e de 
a governar: é o que acima qualifiquei gravemente de budismo, e que aqui se 
qualifica brejeiramente [...] jemenfichismo . [...] Todo o trabalho deles consiste em 
arrancar do seu caminho a hervinha tenra e escorregadia do Ideal, que nos faz 
levar tantos tombos dolorosos. Arrancam-na chorando, para que a turba ignara 
os lastime, e lhes não siga o exemplo e lhes não venha diminuir os lucros e 
vantagens de posição à parte.” 

A seguir, define tais aproveitadores da credulidade (ou incapacidade) geral 
como os defensores da ideia (antes, da ilusão) da democracia, e expõe sua posição 
pessoal: “Mas então, se é uma burla essa história de igualdade e democracia, pois 
que a abolição dos privilégios nunca se cumpriu nem se cumprirá completamente, 
se se tem feito a claridade sobre a legenda dos direitos do homem, por que é 
que não entra tudo nos seus eixos e não acabam essas agitações de gente que 
não sabe bem o que quer? Ah! é porque não se confessa facilmente um erro que 
dura há um século (erro conforme o aspecto sob sob [sic] o qual encaremos), 
nem mesmo que todos fossem capazes de contentar-se com um negativismo 
sereno. O homem carece de ilusão para viver melhor.” 

Por fim, compara tais reflexões à hipótese da vitória popular do Gal. Boulanger 
e de um possível governo seu, e, espectador passivo do jogo político, não se 
preocupa com a possibilidade de derrota da democracia ou de vitória da ditadura: 
“A ficção democrática tem muita força, tem. A menos que não tenha... Então o 
homem da barba loura será o tirano e fechará o balanço do fim do século. Será 
uma era interessante, cheia de novidades velhas e desenterramentos.” 


De Paris (publ. 1 jun. 1889; escr. 4 mai. 1889) 

Após registrar o início da primavera e os preparativos do pavilhão brasileiro 
na Exposição Internacional, o cronista dá seu parecer a respeito do Salon do 
mesmo ano, apontando a mediocridade geral na média de boas obras (nem 
ótimas, nem péssimas). Contudo, não se preocupa com isto, pois afirma não ser 
crítico de arte; tampouco julga benéfico o mesmo fato, uma vez que acreditaria 
contribuir para o fim dos “direitos de ser da arte individual.” Inversamente, 
parece repetir seu texto de há muito, “O justo meio”: “[...] toda obra de arte 
honesta e habilmente realizada, sem rangidos de dentes, estremeções de nervos 




654 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


nem fúrias michelangelicas, é sinal de que o seu autor é uma boa alma, capaz de 
idealização, mas sem voos olímpicos que nos façam vertigens e que nos deixem 
depois exaustos, com a marca para sempre das suas garras de águia de talento.” 

Observador atento, repara na claridade das telas do Salon e na preferência 
geral por assuntos amenos, assim como nas palestras proferidas e apreciadas. 
E, por fim, declara como seu objetivo aprofundar sua observação social e 
“propagar a democracia em todas as cousas”: “Irei muitas vezes ao Salon e 
às conferências como esta, e quando tiver entendido bem a estética popular, 
começarei a escrever sobre a arte democrática. Provavelmente os homens de 
talento me desprezarão; mas o que são humilhações de amor próprio quando 
se tem a missão de propagar a democracia em todas as cousas?” 


De Paris (publ. 12 jul. 1889, escr. 21 jun.) 

Crônica a respeito das recentes inaugurações (pavilhão norueguês, pavilhão 
amazônico) e eventos (I Congresso internacional dos homens de letras, festas, 
jantares). Há, entrementes às breves descrições, novas farpas à democracia 
e ao republicanismo: “Nestas alegrias republicanas, democratas, socialistas, 
humanitárias, fraternais etc., é sempre para alguém que se alegram os festeiros. 
Para alguém que não sabe-se bem quem é, alguém abstrato, povo, humanidade, 
mundo, o auditório simpático que cada orador fabrica para o seu uso, que 
engole complacente as maiores araras empalhadas que existem nos armazéns 
da retórica pretenciosa e vã.” 

Para além dos 58 congressos então em desenvolvimento, o autor lança farpas 
aos discursos dos literatos presentes no congresso internacional mencionado 
(com exceção dos de Jules Simon, Jules Claretie “e do filho de Mickievicz”), 
sentindo-se envergonhado pela superioridade dos intelectuais franceses ante os 
demais: “Eu comecei por envergonhar-me pela figura triste que fazia o resto 
da humanidade diante da França, sem compreender as razões que levavam 
aqueles homens, alguns dos quais mal falavam o francês, a arrostar o ridículo 
das alocuções desafinadas e grotescas num congresso em que sem dúvida se 
achariam reunidos os príncipes do bem dizer.” 

E, finalmente, julga-se aliviado por haver chegado em Paris Ramalho Ortigão 
para dar seu balanço da Exposição Internacional, na qualidade de cronista muito 
mais autorizado que ele próprio. Diz ainda que nada poderia dizer a respeito 
do pavilhão amazônico e da comunicação de Ladislau Neto, tendo em vista 
sua nulidade em antropologia (desculpada, mais uma vez, pela autoridade e 
presença providencial de Ramalho Ortigão). 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


655 


De Paris (publ. 28 jul. 1889; escr. 5 jul.) 
Discutido no corpo do texto. 


De Paris (publ. 19 ago. 1889) 

Texto ligeiro em que o cronista observa en passant a voga da inauguração 
de monumentos na França — a saber, “duas estátuas por semana”, das quais 
faz parte a “estátua da Liberdade que os franceses de Nova- York ofereceram 
à cidade de Paris e que foi ereta na ilha dos Cisnes em Grenelle”. Fala com a 
mesma nonchalance a respeito das disputas intestinas entre jornalistas e políticos 
(sobretudo, boulangistas), e discorre ainda sobre a Exposição de 1889: “Na 
exposição há toda a sorte de assuntos de estudo. A brevidade do tempo e a 
confusão das impressões são o maior embaraço para os que só tem da indústria 
e da arte conhecimentos gerais. Mas os especialistas, os poucos imaginativos 
acham logo aí o material das suas investigações em coleções tão completas 
como raramente se encontram.” 

Sobre a participação brasileira na Exposição, garante que a comissão de “trinta 
e tantos brasileiros de toda a competência” há de cumprir a “tarefa heroica” de 
acompanhá-la e relatá-la, antes de ser censurada pelo “governo ditatorial do Sr. 
Silva Jardim”. 

Antes de encerrar seu texto, observa a frequentação assídua da Exposição 
pelo presidente Carnot, assim como de todos os excessivos eventos festivos 
parisienses, que o fazem sorrir maquinalmente mesmo diante de exposições de 
minerais ou de madeiras. 


De Paris (publ. 27 ago. 1889; escr. 19 jul.) 

Do fracasso das comemorações de 14 de julho por conta de uma forte chuva 
— incapaz de dissuadir a multidão, todavia, de atender “à revista militar” de 32 
mil homens sob o comando do General Laussier. O cronista fixa na ocasião o 
comportamento geral da população, comparando-o ao do povo inglês e carioca, 
sob as mesmas circunstâncias: “[...] os ingleses não são bastante nuancés — o 
francês o é infinitamente e nas horas de maior expansão é um prazer ouvi-lo 
e vê-lo. [...] O povo de Paris aumentado com os visitantes da província e do 
estrangeiro dava uma impressão vertiginosa pelo movimento e pelo número. 
Mas a multidão aqui não inspira receio como no Rio. As rixas são muito raras. 
Ninguém sai para a rua disposto a fazer rolo , como entre nós acontece. A maioria 
é gente de bons instintos e ajuizada.” 

Finalmente, o cronista arremata sua exposição mencionando o auto de 




656 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


acusação lavrado contra os dissidentes boulangistas (Boulanger, Rochefort e 
Dillon), cuja crítica à Terceira República acredita ser já inofensiva. 


De Paris (publ. 1 set. 1889; escr. 27 jul.) 

Novo relato dos avanços dos boulangistas na política, agora nas eleições 
para conselheiro municipal, assim sumarizado: “Todo o formidável aparelho da 
propaganda boulangista tem sido impotente para suprir o prestígio que lhe falta 
e que a má reputação dos seus chefes nunca lhe permitirá adquirir. É o diqe-me 
com quem andas... oposto à sentença que afirma que o mundo é dos que não tem 
vergonha.” 

Observa-se ainda a maior organização e tranquilidade dentro das instalações 
da Exposição Universal, ainda que seja preciso “fazer cauda” (faire la queuè) para 
comer, para tomar um jornal, para experimentar os fonógrafos de Edison, para 
“ouvir a Sanderson cantar”. 

A respeito de música, comenta o sucesso dos cafés-concertos e das cançonetas: 
“No Eldorado há récitas de cançonetas clássicas: Uamant d’A manda, La femme 
à barbe, C’est dans l’ne ^ qu’ça me chatouille, são peças clássicas, que mostram a 
relatividade do classicismo. [...] E cuidam que Massenet, Saint-Sáens, Gounod, 
Berlioz são músicos franceses e não se convencem de que na Europa não há 
lugar senão para a música alemã e para a italiana.” 

Assim, demonstra certa estreiteza crítica ao defender o que crê ser o lugar- 
comum da música e da escultura — “[...] ficou provado que existe uma música, 
que é a alemã, da mesma sorte que existe uma escultura, que é grega” — , por 
oposição na França à “consciência de sua superioridade na prosa literária, na 
pintura, na decoração em geral, nas artes em que o sentimento fino, a estética 
das nuances predomina”. Resta, porém, a importante informação de que, para 
o cronista, a prosa literária faz parte de tal “estética das nuances” ao lado da 
pintura, sendo ambas ligadas a um universo artístico caracteristicamente francês. 

Por fim, reproduz as impressões ingênuas e bem intencionadas (“sátira”?) 
de um correspondente de Manchester, que julga, à primeira vista, as mil e uma 
maravilhas de Paris, sem mesmo acreditar que aí chova ou faça mau tempo. 


De Paris (publ. 3 set. 1889; escr. 5 ago.) 

Breve relato dos reis que vieram atender à Exposição, com destaque para 
os caprichos do rei grego, a falta de modos do xá da Pérsia, o quiproquó de 
“um [rei] preto de Senegal” etc. Para um estudo integral da figura de Domício, 
destaque-se ainda o racismo implícito em expressões como “uns reizinhos 
pretos da África”, perante os demais reis elencados. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


657 


Domício descreve ainda a cerimônia de traslado dos restos mortais de 
[Alphonse] Baudin, [Lazare] Carnot, La Tour d’Auvergne e Marceau para o 
Panthéon, sob discursos pomposos e falsos que prontamente desautoriza: 
“Depois de ouvi-los falar é bom ler os artigos desses homens, para adquirir o 
calejamento necessário contra a mentira perene, que é a vida da imprensa em 
França.” 

O tópico seguinte é, talvez, o mais interessante de todos, revelando a reserva 
da Europa (e, definitivamente, também a sua reserva pessoal) perante os 
republicanos brasileiros e a deposição de D. Pedro. Domício retoma o atentado 
contra o imperador a 15 de julho no Teatro SantiAnna (hoje Carlos Gomes) 
ao sair de uma encenação d VI escola dos maridos, de Molière, ocasião em que 
seu carro foi alvejado por balas disparadas por apoiadores da República: “As 
manifestações republicanas no Brasil são ininteligíveis aqui. A que terminou 
pelo fato absurdo, que os jornais todos deram como um atentado ignóbil 
contra o imperador [...] fez muita gente pensar na possibilidade de extinguir- 
se o Brasil político e de uma nação florescente e de altos destinos não restar 
mais que a designação geográfica, um pano de mundo em que se guerreassem 
longamente um punhado de republiquetas mesquinas. D. Pedro é o que mais 
na Europa se conhece do Brasil e por esse motivo o seu garantidor moral. 
Todos o admiram, todos o veneram. Enquanto não cresce e mostra para o que 
vale essa nova geração tão pensativa que possuímos, seria um desastre terrível 
o desaparecimento do único fiador idôneo, que podemos apresentar ao velho 
mundo, cuja confiança tanto nos esforçamos por merecer.” 

Por fim, elogia o livro do rabino Mossé sobre o Brasil a partir das informações 
do “ilustre brasileiro” Barão do Rio Branco, e gaba os estudos de Rodolfo 
Dantas no Collège de France e na Sorbonne, como exemplo de brasileiro “de 
boa vontade e [que] não usam trazer pistolas nos bolsos contra os reis.” 


De Paris (publ. 5 set. 1889; escr. 16 ago.) 

Depoimento do amor incondicional do cronista pela França, como parâmetro 
e exemplo de civilidade para todo o mundo: “Não é só aos de casa, aos da 
mesma família social, da mesma raça, mesmo sangue e mesma civilização, que 
a França ensina e alumia os passos. O mundo inteiro vive do seu pão espiritual, 
que ela tempera, coze e prepara, quando o não fornece inteiramente, desde o 
grão substancial até o sangue com que o amassa. E assim que toda ideia que 
a França não adotou, não é uma ideia simpática, não é humana, não é prática. 
Todos os povos a reconhecem, todos lhe são gratos por isso, política à parte.” 

Fala ainda sobre a inauguração do novo prédio da Sorbonne, tendo por 
pano de fundo a enorme pintura de Puvis de Chavannes no anfiteatro, que 
descreve em seus pormenores, considerando-a um consolo às palestras tediosas 




658 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


ou complemento harmônico às interessantes: “Como na noite da Idade Média, 
que não foi tão noite como se diz, a Sorbonne de hoje é e continuará a ser um 
farol do espírito.” 

Para melhor ilustrar a inauguração do prédio da Sorbonne, uma série de 
desenhos das diversas delegações são impressos pela Gaveta, por entre os 
parágrafos da crônica de Domício (infelizmente, não sabemos dizer quem é o 
autor de tais ilustrações), acompanhando suas descrições. 

Domício elenca ainda as muitas celebridades (Edison) e nobres (xá da Pérsia, 
rei do Senegal) que assistiram às muitas comemorações da semana; noticia a 
crise do boulangismo; assinala que a Exposição já está completa e que foram 
impressos muitos volumes acerca do que nela constará (contando o Brasil com 
três volumes organizados por SantiAnna Nery, com artigos de Eduardo Prado, 
Ferreira de Araújo, Rio Branco, Fernandes Pinheiro, dentre outros); e faz o 
elogio de Heitor Cordeiro. 


De Paris (publ. 28 set. 1889; escr. 5 set.) 

Discutindo um artigo do Temps acerca da participação brasileira na Exposição, 
Domício observa que, para além das inseguranças e desejos dos brasileiros a 
respeito de seu país, os estrangeiros parecem achar favorável o conjunto de nossa 
contribuição. Assim, ataca as turvações políticas nacionais: “Se há macaquice 
odiosa é essa do revolucionário fora de propósito. Mas felizmente nós somos 
tão pouco ativos que mesmo para as revoluções falta-nos energia.” 

Para maiores elucidações, recomenda a leitura do Brésil en 1889 , organizado 
por Sant’Anna Nery e comentado na crônica anterior. E sente-se orgulhoso do 
Brasil, observando o fim dos preconceitos para conosco: “E que cada vez mais 
se propaga a simpatia por nós, é que começamos a sempre aparecer bem, que 
o tipo do brasileiro de Meilhac, como o de Balzac, como os de Castelo Branco, 
são tidos afinal por convencionais e falsos, tanto como os heróis antigos nas 
tragédias do século dezessete, tanto como os românticos de 1830. Não somos 
mais rastaquoères, que delícias! não usamos mais diamantes nos dedos e no peito 
da camisa, não trazemos correntes de ouro com casaca, não usamos gravatas 
de espantar... Alguns mesmo chegam a não ser da cor da calda do tabaco. E 
quando o são, são-no tão discretamente que fingem de espanhóis, de rumaicos, 
de turcos.” 

Fala ainda do artigo Uhomme nouveau , de Emile Bergerat, em homenagem 
a Villiers de 1’Isle Adam (recentemente falecido) e Thomas Edison, em que o 
colega fala sobre o futuro da civilização como decorrente dos “povos novos”, 
dentre eles os povos da América. Do que conclui Domício, tão ufano quanto 
a respeito da crônica anterior: “E, entre os povos novos, aquele em que o 
trabalho lento do progresso sem convulsões melhor se consolidará, aquele que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


659 


se apresentará mais forte e mais seguro da sua força, sem tisne de ódios de 
raças, sem ressentimentos internos de regimes proscritos em dissenções civis, 
não vejo por que não seria o Brasil...” 


De Paris (publ. 4 out. 1889; escr. 13 set.) 

Balanço das mais de quinhentas premiações do Brasil na exposição, em que 
Domício lamenta as recompensas quase exclusivas de nossos produtos naturais, 
em detrimento de nossos produtos da inteligência: seis medalhas de ouro aos 
açúcares; uma ao tabaco; inúmeras ao café (“O nosso café é rei”); além de um 
grande prêmio parisiense à nossa borracha etc. 

O autor menciona ainda novas informações sobre a Exposição — as 140 mil 
visitas diárias (350 mil em fins de semana); a afluência de povos e línguas do 
mundo todo — ; a ênfase republicana cada vez maior da política francesa (“O que 
acho de pior na república é que ainda estejam a fazer a sua propaganda”) e as 
últimas festas em sua homenagem. 


De Paris (publ. 30 out. 1889) 

O cronista faz uma breve digressão a respeito da natureza conservadora da 
política, atacando os boulangistas (“aventureiros para quem o fim justifica os 
meios”) e expondo sua visão pessoal sobre o tema: “mesmo na culta França, 
onde ela entra mais ou menos no conhecimento de todos, são os políticos que 
fazem a política e que declaram os governos bons ou maus. O povo, esse não 
discute cousas finas, sacode fora os governos que não lhe servem e atura com 
paciência os que lhe servem mal, com a esperança de que aprendam e melhorem. 
É o espírito conservador deduzido da lição da história.” 

Aponta, por fim, notícias mais pontuais: o excesso de festejos republicanos; 
a fuga do comunista Dalou para Londres; o festival de distribuição de prêmios 
da Exposição, ainda por vir (no qual o Brasil, por ser um dos primeiros em 
ordem alfabética, “virá representado entre as primeiras e o losango de ouro, a 
esfera armilar, as vinte estrelas, a coroa, o café e o tabaco das suas bandeiras 
ferirão primeiro a vista das dezenas de milhares de espectadores presentes”); e 
a diminuição dos visitantes na Exposição, já perto de seu fim. 


De Paris (publ. 3 nov. 1889; escr. 5 out.) 

Crônica escrita a cinco de outubro e dedicada exclusivamente à cerimônia 
de entrega dos prêmios da Exposição Universal, em que Domício faz uma 




660 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


bela descrição do evento: principiando por sua espera de “vinte minutos” 
na fila de entrada; passando pela organização das cadeiras “das corporações, 
magistratura, ensino superior, administração, conselho de estado, academias, 
imprensa, comissariados”; pela execução da “Marcha heroica” de Saint- 
Saéns e da Marselhesa, com vivas ao presidente; pela decoração “do teatro ao 
fundo”, cuja “claridade do dia que vem do alto, por trás, banha aquilo de um 
esplendor mais vivo, mais mágico do que as iluminações da mais bela mágica”, 
com representações dos “negros do Senegal e de outras colônias [...] desde os 
bosques de Meudon até as alturas do Himalaia”; pelo desfile das bandeiras do 
mundo todo, “menos a inimiga e menos a pobre e esmagada pela última guerra 
da América”; pelos discursos do presidente Carnot e de demais autoridades; 
pela saída em meio à lama e à chuva na Place de la Concorde; até chegar nos 33 
mil prêmios concedidos aos participantes, um deles — a Legião de Honra — ao 
visconde de Cavalcanti, organizador da exposição brasileira. 

Menciona-se, em nota final, o passamento do barão do Rio Doce. 


De Paris (publ. 14 nov. 1889; escr. 11 out.) 


Infelizmente, o original presente na Hemeroteca Digital Brasileira está 
bastante deteriorado (há possivelmente apenas metade da página em questão). 
Assim, do que é possível consultar, há mais comentários acerca da Exposição. 
Domício reporta a vontade geral de vê-la logo encerrada; as últimas notícias 
acerca do boulangismo em crise; e a visita de Pinheiro Chagas a Paris. 


De Paris (publ. 18 nov. 1889; escr. 20 out.) 

Boa parte do presente artigo está igualmente comprometida, tendo em vista 
o estado de deterioração do original. Do que é possível consultar, há uma 
variedade de assuntos tratados: a entrada de Coquelin para o Teatro Francês; a 
revisão da lei de 1881 relativa à responsabilidade da imprensa; a visita a Berlim 
do czar russo; os passeios da princesa Theodora pela Exposição em Paris; os 
últimos momentos da Exposição; e a morte de João Martins da Silva Coutinho. 


De Paris (publ. 30 nov. 1889) 

Crônica dividida em duas partes, uma dedicada às novidades do mundo 
artístico, outra aos acontecimentos posteriores à Exposição. Na primeira, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


661 


registra a morte do médico Ricord, do músico Metra e do dramaturgo Augier 
(“Em Maitre Guérin, em Madame Caverlet e nos [Les] Effrontés há mais teatro, e, 
sobretudo, há mais humanidade que em todo Dumas Filho”), o que lhe dá 
ensejo a fazer uma interessante reflexão sobre certa dificuldade do teatro na 
apreensão e representação das nuanças da vida moderna: “As criações atuais 
seriam de nuances — e o teatro tem uma ótica especial para a qual as nuances são 
imperceptíveis — ou seriam muito individuais, muito analíticas, novas demais 
— irrepresentáveis, portanto. Aos que pedem um teatro moderno, isto é, atual 
e novo, com personagens ainda não apresentados, caracteres modernos e 
ações modernas, eu diria, se para isso tivesse autoridade, que estudassem esses 
caracteres com um duplo fim: verificar a sua modernidade primeiramente, e a 
possibilidade da sua representação teatral, depois disso.” 

Ainda na primeira parte, assinala o prosaísmo do título de uma nova peça 
de Daudet, í m lutte pour la vie (“com uma explicação entre parênteses, Struggle 
for life, para que todos saibam que é de Darwin mesmo que se trata. [...] De 
Darwin o que há na peça, é uma comparação impertinente, que se repete no 
fim, mal a propósito”). O cronista sente-se ofendido pelo assunto vulgar da 
peça — a ascensão social de um homem mesquinho e calculista — , e tece uma 
comparação de cunho biográfico entre o autor e a obra: “Daudet é um homem 
feliz aparentemente: bonito, rico, adulado no mundo e na intimidade... parece 
que a sua concepção de vida não deveria ser tão triste. E no entanto, através 
das suas lunetas de míope, o mundo aparece-lhe doloroso e mau, a realidade 
amarga. [...] Mas falando sério e sem literatura: lá porque um senhor sofre de 
dispepsia e tem repugnâncias nervosas, deixa de ser um desaforo que ele cuspa 
na nossa feijoada?” Assim, confessa que tal “pessimismo literário” nos teatros 
serve para estragar uma diversão comum e fazer com que todos se tornem 
“reacionários furiosos”, desconfiados de toda modernidade no dia-a-dia. 

Neste sentido, gaba a falta de preparo dos teatros cariocas como favor às 
gerações futuras, fazendo de tais sucessos escusos peças naturalmente fadadas 
ao fracasso: “Por esse lado está o Brasil garantido do pessimismo.” 

Na segunda parte, descreve com ironia o desfile de carros dos homens 
condecorados na Exposição, e lastima os franceses, que, ao contrário dos 
brasileiros, “vivem suspirando por uma condecoração.” 


De Paris (publ. 27 dez. 1889; escr. 5 dez. 1889) 

Domício relata a grande celeuma provocada pela “revolução” republicana 
brasileira na Europa, tornando o Brasil um dos principais assuntos do momento: 
“Aproveitemos o movimento de simpatia e façamo-nos benquistos. E raro que 
haja tamanha benevolência em torno das originalidades, mesmo políticas. O 
bem que nos fez essa gentileza, essa cortesia com que foi feita a deposição do 




662 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


único imperador amado do mundo inteiro! O bem que nos faz e que nos fará a 
moderação do regime novo!” 

É curioso observar, todavia, que o autor parece inconsciente da íntima conexão 
entre o fato de ser correspondente em Paris (lembremo-nos da reiterada tutela 
cultural e política da França como alternativa a Portugal nos momentos cruciais 
de transição à Independência) justamente no ano da proclamação da República, 
e nos demais, subsequentes. A transcrição quase semanal do cotidiano parisiense 
ajusta-se à formação da nova elite cultural brasileira, que viria a ditar os rumos 
da política nacional nas primeiras décadas do século XX. 

Em todo caso, continua Domício: “Como era natural, dada a circunstância 
de jornalistas ignorantes do que somos nós e carecendo de se mostrarem 
informados sobre a questão do dia, apareceu muita tolice escrita sobre o Brasil. 
Houve brasileiros que se prestaram a cuspir sobre o cadáver da monarquia 
brasileira e outros que tentaram embalsamá-la em louvores.” 

A seguir, mostra-se preocupado com os rumos diplomáticos do Brasil 
republicano frente ao que considera o ódio ancestral da “raça” rival, “os 
argentinos”, e teme que o Brasil seja espoliado “pelas irmãs inimigas”, apesar de 
“sermos nós os grandes, os superiores em crédito, em fortuna”. É de interesse, 
sobretudo, o eco que tais palavras podem ressoar em sua posição diplomática 
futura. 


De Paris (publ. 26 jan. 1890; escr. 14 dez.) 

Num interessante relato das novas epidemias europeias, Domício registra 
o aparecimento da dengue: “Corre a Europa, de S. Petersburgo a Madri, uma 
epidemia de constipações violentas, a que dão os nomes esquisitos de febre dengue, 
injluenga e outras. Dizem que é contagioso o mal e que o tempo frio e úmido 
favorece-o. Começa por uma febre violenta, dor de cabeça, quebramento de 
todo o corpo, grande prostração e não passa disso. Mas obriga ao repouso.” 
Em Paris, observa que o início da epidemia se deu nos armazéns do Louvre, 
paralelamente à “abertura dos fardos de tapetes vindos do Oriente”. 

A seguir, fala de outros tópicos rápidos: o prestígio momentâneo das firmas e 
empresas brasileiras na França, impulsionadas pela propaganda e pela especulação 
de bancos europeus, após a proclamação da República; a morte do romancista 
Champfleury (“que teve glória e nome para fingir de realista no tempo em que 
Eugênio Sue, Dumas e muitos outros soltavam aos ecos [...] suas orgias de 
imaginação nos romances de aventuras românticas”; “Ele e os Goncourt se 
desprezaram reciprocamente. Tinham razões para isso. Os Goncourt criaram 
o século XVIII, o japonismo e o documento humano. Champfleury criou o 
realismo, Gustavo Courbet e Ricardo Wagner”); e a bonança da política interna 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


663 


e externa da França. 


De Paris (publ. 2 fev. 1890; escr. 20 dez. 1889) 

Crônica em que se discute, sobretudo, a encenação d’ O mercador de Veneza no 
Odéon com participação da célebre Réjane: “A comédia tem 300 anos e parece 
nova. Não tem destemperos nem afetações. Tem esta grandeza Shakespeare, de 
arrastar tudo o que é menos provável na torrente de sua prodigiosa intuição de 
poeta. É assim que todos os seus caracteres são verdadeiros.” 

Sob tal sugestão, avança ainda alguns comentários acerca da arte dramática, 
entendida pela vibração dos sentimentos e comparada à música: “Dados os 
elementos cômicos ou trágicos, a comédia ou a tragédia está feita e verdadeira, 
exalando- se deles como a nota musical aguda ou grave, segundo a corda vibrada. 
O que produz a simpatia que eles nos inspiram, é a sua sinceridade e simplicidade. 
Nós hoje somos pouco claros, porque nos enturvamos de propósito com 
explicações que nada adiantam à verdade dos nossos caracteres. Um homem que 
é triste e simpático, torna-se antipático, se explica com muitas finuras vaidosas 
o estado de sua alma. A decadência romântica, todas as produções da escola 
psicológica atual, estão eivadas desse narcisismo lamentoso.” 

Domício gaba ainda as personagens de Shakespeare — Hamlet, sobretudo — , 
reproduz um trecho do último ato d’0 mercador de Veneza, elogia o talento da 
Réjane, e observa os últimos acontecimentos artísticos da data (a interdição de 
uma peça de Coppée e a cisão entre os membros do júri de Belas-Artes, por 
efeito de “vaidades não contentes”). 

No mais, menciona acontecimentos menores e conclui seu texto pela menção 
ao crescente interesse da imprensa europeia pelos acontecimentos poHticos 
brasileiros: “Já esse resultado benéfico produziu a revolução. Agora é o Temps 
que manda um correspondente ao Rio de Janeiro, para estudar de perto os 
acontecimentos da nossa crise poKtica e comunicar-lhos.” 


De Paris (publ. 4 fev. 1890; escr. 28 dez. 1889) 

Enumeração de fatos menores de uma semana de Natal “calma e sem 
acontecimentos”, semelhante a “uma interrupção no trabalho para a História.” 
Observa, unicamente, que “já começa a perder o seu caráter de benignidade a 
singular epidemia [de dengue] que reina sobre a Europa inteira”, noticiando a 
morte de alunos e criados da escola militar de Saint Cyr, e a morte do pintor e 
ilustrador Jules Garnier. 

Por fim, discorre amenamente sobre o sucesso comercial das ilustrações 
de livros, jornais, revistas, cartazes e anúncios em geral, avaliando o apelo 




664 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


direto à sensibilidade desta nova arte, mais ou menos mesclada à propaganda: 
“Lucra o artista por dous modos: populariza o seu nome e vende duas vezes 
os seus desenhos, originais e reprodução. Os colecionadores tem orgulho de 
possuir originais de ilustrações de sucesso. [...] Isso produz por intermédio 
da livraria e da imprensa ilustrada uma espécie de dinamização da arte, de 
consequências incalculáveis para a afinação estética deste povo e dos que com 
ele tem comércio literário. [...] É preciso saber compor uma figuração nova, 
original de cada vez, arranjar braços e pernas de dançarinas e de cloivns ébrios em 
movimentos graciosos com verossimilhança (que é dada apenas pelo equilíbrio 
e proporções no desenho); e com azuis vertiginosos, amarelos mais dourados 
do que o ouro e vermelhos berrantes, pintar fantasias que possam parecer ao 
mesmo tempo representações reais e símbolos, que façam cismar depois de 
nos terem chamado violentamente a atenção, como certas frases explosivas de 
sinfonias, que nos fazem estremecer primeiro, que nos fazem chorar depois, 
quando se lhes saboreia o eco inefável. É preciso fazer-se ver, fazer-se lembrar, 
sustentar a concorrência com as mil distrações da rua, que disputam a atenção 
do transeunte.” 


De Paris (publ. 26 fev. 1890; escr. 5 fev.) 

Balanço das notícias do ano de 1890, frente à completa ausência de novidades 
em que o cronista elogia o ritmo sereno do progresso econômico e social, 
percebendo (ou supondo, como diz, por meio de “uma prova pessoal por 
absurdo”) uma maior integração entre o indivíduo e a sociedade, para além 
dos extremismos e das diferenças de classe: “Estreitam-se mais os laços entre 
a sociedade e o indivíduo. E até a consideração dos males incalculáveis, que a 
desordem pode trazer ao corpo social e indiretamente ao indivíduo que dela 
faz parte, atua como corretivo à expansão das reclamações menos legítimas. A 
submissão às leis mais injustas não é sinal de impotência nem de servilismo: é 
sintoma do grande desenvolvimento que tem tomado a vida moral no homem 
do nosso tempo, acusado no entanto de imoralidade e materialismo.” 


De Paris (publ. 16 mar. 1890; escr. 23 jan.) 

Sobre a enxurrada de notícias sobre o Brasil nos jornais franceses, o mais das 
vezes falsas ou jocosas: “Chegam a inventar contrarrevoluções, não sabendo que 
os brasileiros são incapazes de fazer revoluções, quanto mais contrarrevoluções! 
E dão pormenores horríveis a respeito dos atos de repressão do novo regime 
contra os que tentam restaurar o antigo. [...] Noutro tempo era preciso que se 
libertassem os escravos ou que se atirasse sobre o imperador, para que a imprensa 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


665 


se importasse com o Brasil. Hoje, a supressão de um jornal de oposição no Rio 
e a partida de um enviado do governo ao rio da Prata, são comunicados por 
telegrama e fazem o giro da Europa. É um grande passo, no ponto de vista 
jornalístico.” 

Acerca da mudança do regime em si, pondera apenas que se deva esperar a 
constituinte e não acreditar apressadamente que as prerrogativas temporárias 
de um regime temporário sejam mais que isso. Prega, todavia, a necessidade da 
“independência do jornalismo brasileiro” frente à conturbação política, pelo 
que há de “prestar maior serviço à nação” que espalhando os boatos do dia a 
dia. 

Assim, lamenta a troca apressada da bandeira e do brasão nacionais; e os 
boatos acerca da substituição da religião católica pela positivista no Brasil, 
felizmente desmentido por Rui Barbosa. 

Menciona ainda a perseguição política aos últimos boulangistas e “um 
temporal terrível” na França. 


De Paris (publ. 17 mar. 1890; escr. 14 fev.) 

Breve sumário das últimas intrigas políticas sem resultado, às quais se seguem 
comentários à recepção tépida de uma encenação de Hgmont , de Goethe (“Não 
é que a peça não preste — de Goethe, imaginem — é que os atores franceses 
são dramáticos nominalmente. Falta-lhes a quase todos a fibra necessária para 
que neles ressoe com fingimento intenso o sentimento das situações graves 
e dolorosamente interessantes”), e à facilidade natural dos franceses para a 
tragédia clássica e para a “comédia de chalaça”. 


De Paris (publ. 24 mar. 1890; escr. 20 fev.) 

Notícia da volta da “estrela do Messias”, visível apenas de 378 em 378 
anos, que o cronista interpreta de forma algo positivista como lembrete dos 
avanços da humanidade: “Verão antes razões para alegrias e regozijos: a sublime 
promessa será cumprida e foi o Verbo divino que propagou o pensamento 
afetivo pelo mundo, melhorando os homens e congregando-os para a obra 
comum da redenção universal. Foi o Verbo, será o Verbo: não mais o Verbo 
feito carne, porém o Verbo feito força, que ilumina e que mostra a um tempo 
lâmpada e lente.” 

Domício destaca ainda uma encenação teatral a propósito da estrela 
mencionada no Chat noir ; e reproduz os comentários de Jules Lemaítre à peça, 
os quais secunda incontinente: “E grande, simples, comovente. [...] São destas 
às vezes as surpresas que nos reserva a boêmia irreverente.” 




666 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A seguir, enumera acontecimentos menores: a polêmica sobre a autenticidade 
de um quadro de Rembrandt; a reeleição de alguns deputados boulangistas; a 
pífia circulação parisiense nos dias de carnaval; e a publicação do romance Toute 
une jeunesse , de François Coppée (“Há no livro interesse mesmo para os que não 
acham nele recordações de infância, mas muitos outros livros podem valer mais 
do que os romances de Coppée, que é um mole, sem originalidade, desde o seu 
primeiro volume de versos, em que se esgotou”). 


De Paris (pub. 27 mar. 1 890) 

A propósito de um duelo entre Camille Dreyfus e o Marquês de Morés, 
fotografado por um repórter do New York Hera/d , o cronista faz importantes 
considerações sobre o desenvolvimento da imprensa no século XIX, lamentando 
a má qualidade das impressões nos jornais e o barateamento do texto escrito pela 
imediaticidade (“secura”) das ilustrações: “É um pouco entristecedor também, 
quando se pensa no desenvolvimento que vai tomando a imagem nos jornais e 
livros, na imprensa em geral, quando se reflete no barateamento da ilustração 
com prejuízo da expressão literária. Esgotam-se rapidamente em Paris edições 
de livros, cujo único valor está nas ilustrações que os ornam, que os compõem 
quase inteiramente. Esses produtos de livraria são comparáveis às óperas e 
operetas em que a música é tudo e o libreto é nada. Quem for amador da forma 
literária não pode deixar de augurar mal dos emprêtements da imagem plástica no 
terreno da expressão literária. São concessões feitas à preguiça das inteligências 
que só a forma material, brutalmente sensível, sacode. Verão que isso causará 
por fim uma degradação do espírito incalculável. Porque perde-se o hábito de 
imaginar, quando não se tem mais do que o trabalho de ver. E nem sempre o que 
se vê, definido por linhas e sombras e cores, tem correção e dignidade plástica 
que compensem a falta da amplidão, da riqueza, do povoamento de ideias, 
que são apanágio da arte da escrita. Sem que pareça tal, a forma plástica tem 
uma secura, um limitamento excessivos. Os melhores desenhos são expressões 
atenuadas de visões excessivamente individuais. Sente-se demais a maneira , que 
é a deformação pessoal do objeto a representar, e a nossa contemplação sofre a 
opressão, a obsessão daquela marca da personalidade do artista. A consequência 
é admirar-se mais o artista que a obra de arte. Dá-se pois um desvio da emoção 
estética a sentir, cousa que não acontece com a linguagem abstrata das palavras. 
Aí a expressão verbal, quando é imaginosa, tem a largueza dos símbolos, numa 
atmosfera de sonho — todo o movimento, todas as ligações das formas poéticas; 
e, quando é precisa e nominativa, tem toda a compreensão de uma síntese, na 
exatidão de uma cifra.” 

Domício lamenta, ainda, a supressão dos desenhos e das gravuras pela 
enxurrada de fotografias dos jornais ingleses: “Os ingleses vão mesmo no seu 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


667 


mau gosto a darem simples provas fotográficas coladas, fazendo de estampa à 
parte. Assim, o que seria arte do desenho, a gravura, a interpretação artística de 
uma obra d’arte, fica também excluída. De sorte que o que antigamente seria 
um produto duplamente artístico, que era o livro com gravuras, passa a ser 
simplesmente uma publicação ilustrada com a qual o público, o pseudoleitor 
de tal cousa, não aprende a ler nem aprende a ver.” E observa com acidez 
que a profusão dessas ilustrações em jornais serve apenas para tornar a arte 
(contraditoriamente) mais aristocrática: “E, quando os algarismos fabulosos 
das tiragens de futuras publicações chamadas artísticas, fizerem crer aos 
ingênuos que o nível geral da educação estética tem subido muito, os amadores 
verdadeiros de belas letras e de belas figuras provarão facilmente que ainda 
nesse terreno a proporção das classes privilegiadas para a massa ininteligente e 
inferior conserva-se aristocraticamente.” 

Finalmente, noticia a publicação de um romance de Jean Richepin ÇLe 
cadei) e de um estudo de M. A. Guillot ÇLes prisons de Paris). Sobre o primeiro, 
critica sua tentativa malograda de fazer um romance psicológico a partir de um 
protagonista sem relevo, inerentemente mau, que torna maçante o conjunto da 
obra. Sobre o segundo, elogia a discussão moral das origens do crime a partir 
da crescente fragmentação das famílias, das religiões etc. 


De Paris (publ. 6 abr. 1 890; escr. fev.) 

Com uma breve e lacônica datação de “fevereiro”, a presente crônica trata 
exclusivamente do Salon de 1 890. Domício observa a divisão do Salon em dois: um 
no Palácio da Indústria ( Salon Bouguereau), como de costume, e outro no Palácio 
de Belas-Artes ( Salon Meissonnier ), “o dos dissidentes”. Tal se deve às brigas 
decorrentes dos prêmios e honrarias da Exposição de 1889, contestados por 
pintores como Meissonnier: “Vaidades, lutas de amor próprio, birras, a intrigas 
de atelier e de academias, a propósito das recompensas concedidas pelo júri da 
Exposição Universal de 1889, que a maioria do comitê dos 90 da Sociedade dos 
Artistas não quis reconhecer, e finalmente um voto mal pensado numa reunião 
tumultuosa da mesma sociedade, recusando os medalhados da Exposição as 
honras e privilégios de entrada hors-concours nos Salons anuais, determinaram a 
retirada de Meissonnier e cento e vinte e tantos dos seus partidários.” 

Domício considera tal dissidência positiva para o universo das artes, uma 
vez que torna menos dependente do nome de mestres ou ateliês consagrados a 
participação nos salons , cedendo mais espaço ao “merecimento do artista”. Tal 
é salutar, sobretudo, em um meio artístico competitivo como o francês, em que 
convivem lado a lado artistas de talento e aproveitadores: “Vendo os sucessos 
fantásticos de alguns pintores hábeis e as pagas mais que justas das obras de 
merecimento, não há homem capaz de por uma figura com relevo sobre um 




668 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


plano, que se não julgue com direitos a competir para a glória e o proveito fáceis 
aos mais. E vão lá dizer a esses que a cobiça não é vocação, e que para ser pintor 
é preciso não ser outra cousa!...” 

Assim, os únicos pintores que julga de valor nas exposições parciais e 
anteriores do mesmo ano são Boutet de Mouvel e Besnard, dos quais elogia as 
“linhas arquitetônicas” do desenho e as fisionomias (de Mouvel), e a leveza e 
a harmonia de tons das aquarelas (Besnard). “Os outros são os conhecidos de 
todos os anos, que pintam sempre a mesma coisa” (Adrien Moreau, Vilbert, 
Penne, Lambert, Giacomelli, Cazin, Duez, Zuber, Detaille, Lewis-Brown). 


De Paris (publ. 8 abr. 1 890; escr. 5 mar.) 

Notícias diversas: uma briga intestina no conselho de ministros; um 
empréstimo feito pelo neto de Victor Hugo; a profusão de reuniões mundanas 
em Paris (“Por pouco que se detenha a gente a gozar, saboreando um bem, 
que para ser melhor deve ser efêmero, vem logo ao espírito a sombra com 
a indagação inquieta, se será o incontentamento, se será a saciedade que nos 
conduz à morte, pior do que à morte, à ânsia de viver sem saber porque. E 
então, pela identidade dos destinos, tanto nos faz uma recepção no Eliseu ou 
um sarau num suntuoso palácio do bairro de Monceaux ou de 1’Etoile, como 
uma redoute do Continental, um bailarico num terceiro andar em Batignolles ou 
um vaudeville num teatro do boulevard. Lugares e ocasiões de matar o tempo 
imortal”); a estreia e fiasco de três novas peças naturalistas (uma adaptação de 
Les frères Zemgamno , de Goncourt; “uma espécie de comédia azeda, intitulada 
Grand mèn r \ e uma adaptação de Monsieur Betsy, de Paul Alexis); o lançamento 
de Ga bete humaine , de Zola (que considera ter “capítulos, páginas, situações 
soberbas, nunca um período que se possa chamar de estilista, de artista”, opinião 
que valeu ao autor críticas quase imediatas de Wenceslau de Queiroz (1890)); 
a publicação de Dernière bataille de Edouard Drumont; e a chegada a Paris do 
Visconde de Ouro Preto. 


De Paris (publ. 17 abr. 1890; escr. 20 mar.) 

O presente texto divide-se em duas partes. Na primeira, o cronista discorre 
sobre a bonança econômica e política temporária na Europa, advinda da 
prosperidade econômica da França e do fim do período de Bismarck como 
chanceler da Alemanha. 

A segunda parte versa sobre as novidades literárias do momento, assinalando 
a tiragem volumosa do romance Sous-offs de Lucien Descaves (impulsionado 
por um processo judicial) como indício da competitividade crescente nas 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


669 


letras: “No ano passado publicaram-se mais de quatorze mil volumes em Paris, 
quarenta por dia em média. Para ser lido e fazer dinheiro no meio de tal acervo 
de imprensa, é preciso ser processado ou chamar-se Zola, Daudet, Ohnet, etc.” 


De Paris (publ. 14 mai. 1890; escr. 12 abr.) 

Para além de notícias menores — uma sobre o orçamento milionário dos 
ministérios da guerra e da marinha por conta do medo geral ante uma nova 
guerra com a Alemanha (que o cronista confessa não saber noticiar em detalhes 
— “Eu lastimo não saber fazer destas cousas, e sou obrigado a dizer chatamente as 
notícias mais relevantes. E a trouxe-mouxe, ainda mais”); outra sobre o suicídio 
de um alemão “empregado em uma casa de açúcares”, recentemente promovido; 
e ainda outra sobre “a instalação do novo grão rabino de França” — , Domício 
faz uma interessante digressão acerca de religião e dos novos conhecimentos 
humanos. Nela, diz que “quando formos para o céu” daremos a Deus notícias 
das novas ideias: “Explicar-lhe-emos Darwin, a filosofia nova, o socialismo e 
o niilismo, antropologia (isso eu ainda não sei), a eletricidade, o magnetismo 
e a história e o Tratado do Verbo. [...] Assim para o Tratado do Verbo, já o 
Pompeia tem quase concluído o seu estudo sobre a Vibração Sonora. Daí para 
a instituição filosófica do símbolo do Verbo Criador, só faltam as teorias das 
articulações, dos signos, da vontade amorosa e gestativa, a recomposição da 
metafísica e a teoria dos Destinos. [...] Coube-nos por isso, ao Pompeia e a 
mim, esta função quase levítica de não escrever para o Jornal do Comércio , e para 
a Gaveta de Notícias , que são o mais claro exemplo das cousas sempre as mesmas 
e sempre diferentes. Deus nobis haec otia fecit... e ao Capistrano.” 

A seguir, discorre ironicamente sobre os ócios do trabalho com a escrita 
(“Não escrever, não quer dizer não trabalhar. Ao contrário — no maior número 
das vezes escrevendo destrabalha-se”), julgando ver no futuro um Brasil budista, 
votado ao sublime ócio e governado de longe por alguma possível Inglaterra. 

Por fim, noticia o ódio antissemita na Áustria, em que uma multidão de 20 
mil pessoas invadiram e saquearam lojas de comerciantes judeus, concluindo: 
“Socialismo, antissemitismo, niilismo, generalismo, liberalismo, republicanismo, 
tanto nome para exprimir um só fundo de descontentamento! E como a roncaria 
do mar contra as pedras — uma fatalidade. Infeliz de quem vê nisso mais do que 
um belo, um incomparável espetáculo, que é o da agitação da vida — humana e 
social.” 


De Paris (publ. 22 mai. 1890; escr. 21 abr.) 


Digressão acerca de um encontro com um mendigo à frente do Louvre, 




670 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


antecipado e seguido por uma série de reflexões sobre a vida: “As sombras vagas 
que me andavam rodando, condensaram-se e me invadiram então. Achei uma 
ironia o soberbo Apoio de Mercié, que orna a fachada do Louvre, em frente. 
O galope alado do Pégaso, a elevação divina do poeta, como entenderá isso o 
mendigo assapado na lama, tiritante ansiando pelos vinténs dos transeuntes 
menos absortos ou menos pobres? E daí para pensar em destinos da arte em 
desigualdades forçadas, aristocratismos fatais na vida social, em cousas que não 
cabem numa crônica de Paris não foi preciso mais tempo do que o que se gasta 
para ir do Louvre à Biblioteca Nacional.” 

Discorre ainda sobre a publicação de um estudo de Max Leclerc sobre o Brasil 
no Journal des débats, bem como sobre um banquete em honra de Tiradentes 
(“A Gaveta de Notícias teve a sua parte nos brindes da sobremesa. O seu 
correspondente representava a imprensa brasileira, embora ele pessoalmente 
fosse suspeito de monarquismo”). 


De Paris (publ. 30 mai. 1890; escr. 3 mai.) 

Novo texto dividido em duas partes. A primeira versa sobre o fracasso da 
“grande manifestação internacional socialista” no dia primeiro de maio, sufocada 
por um policiamento aproximadamente três vezes maior que o número de 
manifestantes: “Houve ainda assim cerca de trezentas prisões, tiros de revólver, 
punhaladas e outras cousas mínimas. Mas para uma manifestação que só pela 
ameaça fez com que as ruas ficassem desertas, as lojas fechadas, os ônibus 
vazios [...] foi pouca cousa.” 

A segunda parte trata das novidades literárias, novamente, e destaca o Précls 
de géographie économique , de Marcei Dubois, sobre o qual o autor tece críticas ao 
capítulo sobre o Brasil (“onde vêm informações perfeitamente fantasistas, falando 
da colonização chinesa, como de um fato consumado, de inexplorabilidade da 
maior parte das nossas riquezas naturais [...], da má qualidade do nosso café [...], 
das más condições do nosso desenvolvimento econômico em geral”). A seguir, 
elogia-se o rebate de Eduardo Prado ao mesmo livro de Dubois mediante uma 
série de dados e números, revide tido por Domício como indispensável para a 
imagem do Brasil no exterior. E, por fim, assinala-se a importância da presença 
dos brasileiros cultivados na Europa, como forma de divulgar o país e aproveitar 
integralmente seus talentos, do contrário desperdiçados pela “pouca idade do 
Brasil como nação” e pela dificuldade de abrir caminhos novos frente à sua 
carência de meios. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


671 


De Paris (publ. 3 jun. 1 890; escr. 8 mai.) 

Greves na França, Espanha e Áustria-Hungria, que servem de mote para a 
expressão conservadora das ideias do cronista: “O trabalho insurge-se contra 
a exploração do capital. O pior de tudo isso é que não são as massas operárias 
inteligentes que reclamam a sua emancipação [...]. Infelizmente, porém, a 
indústria não pode dispensar por enquanto a massa miserável dos operários 
brutos. E sobre esses pobres enganados da fortuna é que os agitadores 
anarquistas trabalham para a perturbação da ordem.” 

Domício dá ainda depoimento dos avanços da fotografia, motivado pela 
entrega de uma medalha à viúva de Niépce: “De cinquenta anos para cá, a 
fotografia tem feito caminho. Os aperfeiçoamentos dessa indústria especial, que 
toca os limites da arte, permitem hoje conservar para os mais variados destinos 
o espetáculo de tudo o que um raio de luz natural ou artificial torna visível. As 
placas esmaltadas de sais sensibilizáveis são hoje para a ciência, como para a arte, 
o auxílio mais precioso. A poeira estelífera das nebulosas no fundo azul-negro 
dos céus noturnos, o adejo da andorinha ílechando o espaço na suprema graça 
do voo [...], os contornos de uma paisagem que a memória vai colorir à feição 
das claridades de dentro, o vulto harmonioso de uma estátua, um movimento 
de massas populares tocadas pelo contágio dos entusiasmos coletivos [...] são 
do domínio da fotografia. Mas o interesse supremo da fotografia é o retrato 
humano, com as considerações que ele sugere ao espírito de quem anda em 
busca do que é mentira e do que é verdade. A falta de fisionomia e a aparência 
morta de uma prova bruta dos retratos assim feitos desconsolam da realidade. 
Diante de uma fotografia de artista amador, sente-se vivamente a necessidade 
de simpatia que o trabalho do artista comunica à sua produção. Foi então um 
reforço que a invenção de Niépce veio trazer à arte em vez de uma concorrência 
perigosa.” 

Fala ainda sobre a especulação escandalosa e malsucedida da Comptoir 
d’Escompte com a produção e o preço do cobre, as polêmicas sobre o hipnotismo 
na Bélgica; a morte do pintor Robert-Fleury etc. 


De Paris (publ. 16 jun. 1890; escr. 24 mai.) 

Sobre a revogação de um projeto de lei contra a imprensa na câmara dos 
deputados; a queda definitiva do boulangismo; o fracasso da organização de 
touradas na França (“Para tudo o que não é natural ou não representa um 
esforço de humanidade inteligente, o francês não tem inclinação”); a conquista 
do direito feminino a frequentar cursos na Ecole des Beaux-Arts e a concorrer 
ao Prêmio de Roma (“A transformação social talvez tenha aí o seu futuro — nos 
homens a indústria, a vida mais difícil; às mulheres o trato das cousas amáveis, a 




672 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


poesia, a arte, a fantasia, a contemplação estética, para que tudo as predispõe”); 
a abertura de quatro exposições em Paris (“Do ano passado ficou-me um 
tremor cada vez que vou escrever de exposições. Acho melhor não fatigá-los, 
fatigando-me primeiro”); a publicação de uma tradução em português no Figaro 
de um soneto escrito por D. Pedro II em francês (“Todos sabem que é um poeta 
amador. [...] Os amigos do venerando imperador deviam ser menos indiscretos 
sobre as suas fantasias literárias ou então exigir dos jornais a que comunicarem 
os seus trabalhos uma rigorosa correção de provas”); e a prisão de um assassino 
em Havana, como lembrete da violência crescente nos subúrbios de Paris (“São 
explosões da animalidade sob as abóbodas da civilização — o horror são os ecos 
e ressonâncias infinitas...”). 


De Paris (publ. 22 jul. 1890; escr. 14 jun.) 

Notícias diversas da vida política e social da França (redução do número 
de departamentos na França de 87 para 17; chegada do duque de Orléans em 
Londres etc.), bem como indicação do livro Brésil, de Alfredo Marc. 


De Paris (publ. 23 jul. 1890; escr. 28 jun.) 

Sobre a voga de penas pequenas ou nulas para crimes passionais: “É que 
nós vivemos num mau tempo para a consciência: o tempo da reforma ou da 
substituição dos critérios, em toda a escala das cousas doutrináveis do Bem 
ao Belo. O Bem ainda é menos inteligível do que o Belo entre a poeirada e o 
estrondo, a desordem das demolições e reconstruções da era nova, que é para 
desorientar mesmo os espíritos bem encaminhados.” 

Informa ainda o reconhecimento da República dos Estados Unidos do Brasil 
pela França e a promulgação da nova Constituição brasileira: “O reconhecimento 
da nova república foi uma fineza de nação generosa que a França nos fez 
mesmo saltando por cima das praxes e usos da política internacional.” E critica 
os remoques do jornal Fa bataille contra D. Pedro II: “Eu sempre pensei que 
respeitá-lo fazia-nos honra. Não se bate em homem caído...” 


De Paris (publ. 11 ago. 1890; escr. 12 jul.) 


Crônica não assinada em que o autor observa como passadista a criação 
de uma polícia correcional no Brasil, passando a discorrer sobre o direito da 
propriedade intelectual, debatida na câmara acerca da fotografia: “E sabido que 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


673 


a propriedade artística é a mais sagrada das propriedades, pois que todos os 
outros bens são exteriores ao possuidor, ao passo que a obra d’arte, criação de 
um indivíduo, reverte sobre ele, criando-o, isto é, dando-lhe renome, fazendo-o 
valer pela forma, distinguindo-o da mais gente obscura. Os proveitos materiais 
são consequentes. A obra de arte então é o artista representado, um pouco dele, 
mesmo que está fora dele, uma das suas múltiplas imagens, em que ele existe 
como Deus existe nele, criatura humilde.” Assinala ainda que tal debate está 
cada vez mais presente na sociedade francesa em decorrência do aumento do 
comércio de arte (que equipara ao comércio de joias), e assinala ainda notícias 
menores da semana. 


De Paris (publ. 14 ago. 1890; escr. 20 jul.) 

Texto importante para a discussão do pensamento político do autor, que 
discorre sobre a dificuldade de explicar a nova república brasileira para o 
público europeu: “Trazer queixas do paço para explicar o que deveria ser um 
unânime movimento nacional provocado por necessidades de outra ordem, 
é fazer suspeitar ao estrangeiro que tais necessidades não existiam, que tal 
movimento não houve, que o que houve foi uma revolta parcial de quartel que 
triunfou e generalizou-se pela natural indiferença do povo e que consolidou-se 
pela necessidade que tiveram os usurpadores do poder de se impor pela força. 
É preciso que se diga que este é o sentimento geral na Europa acerca da nossa 
revolução. Conviria explicar-lhe as causas, então; mas sem paixão, sem falar 
nas personalidades do antigo nem do novo regime, sem procurar desprestigiar 
o venerando velho que foi nosso imperador [...] e que o foi sempre com tanta 
dignidade nos tempos difíceis da nossa história, com tanta bondade, com tanta 
longanimidade nos tempos serenos [...]. Deixar que os acontecimentos falem, 
que as transformações nacionais se imponham à atenção do mundo; só então 
os nomes que representam ideias e princípios não serão antipáticos, não serão 
de simples ambiciosos sem escrúpulos a quem a fortuna sorriu.” 

Adotando uma postura moderada, Domício advoga pela moderação do 
novo governo, para que seja indulgente com a oposição e não censure suas 
expressões. Observa que é bom deixar os pessimistas falarem — nos quais inclui 
os poetas de outrora e os jornalistas de então — como “reveladores das correntes 
de aspirações nacionais, humanas, de raças ou de classes.” Cabe, assim, “deixar 
que os jornalistas falem! E todo o brasileiro é um jornalista em disponibilidade: 
deixar que todos os brasileiros falem, embora sem tomá-los muito a sério...” 
Lamenta, porém, um artigo do Sr. Pereira contra Nabuco escrito em mau 
francês, como exemplo de jornalismo que seria melhor suprimir, ou impedir 
que circulasse mundo afora. 

Por fim, inveja a unidade francesa festejada no 14 de julho (e gaba o cenário 




674 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


parisiense), dizendo com tristeza: “Há muitas bandeiras brasileiras adornando as 
casas, e essas são de três espécies: as imperiais antigas, mais numerosas, porque 
são mais decorativas, as republicanas do tempo da monarquia (losango amarelo 
em campo verde, sem escudo) e as positivistas, com a bola estrelada e o letreiro. 
Aos franceses, que perguntam qual é a autêntica, responde-se: ‘É a da bola, mas 
vai-se mudar.’ E fica-se triste.” 


De Paris (publ. 19 ago. 1890; escr. 26 jul.) 

Crônica não assinada em que discorre sobre certos aspectos da sociedade 
francesa: famílias numerosas e desfavorecidas (148 mil com mais de seis filhos, 
das quais 114 mil na linha da pobreza); diminuição da taxa de natalidade; queda 
do primeiro para o quarto lugar na lista dos países europeus mais populosos 
etc. Cita o exemplo de uma família de um desenhista, pai de seis filhos, que se 
suicidou toda inalando fumaça de carvão de madeira, e da viúva sobrevivente, 
a quem foi dada uma pensão do governo: “Não é mais, como outrora, em 
nome da religião que se faz esmola. Quem a faz pensa no bocado de pão a que 
cada um de nós tem direito em nome da sociedade e da fraternidade humanas. 
E assim a caridade muda de nome, para se chamar de ora em diante justiça 
piedosa.” 


De Paris (publ. 16 set. 1890; escr. 19 ago.) 

Da falta de assunto provocada pelo fim das sessões das câmaras, e de seus 
efeitos nocivos na imprensa, deixada à mercê dos destemperos entre colegas etc. 
Cita um duelo entre dois jornalistas e afirma haver preferido, antes de bater-se, 
ir a um congresso científico em Limoges, como “menino de escola”: “Discursos 
longos, que a Reme Rose publicou por extenso. Sumidades cientificas, nenhuma 
ideia nova e um certo cabotismo [sic] de expressão, que desmoralizou para mim 
os sábios. [...] Hoje digo a todo mundo, com muita bazófia, que venho de tomar 
parte no Congresso de Umoges para o avançamento da ciência. E brevemente começarei 
a espalhar que não fui eu talvez quem lhe deu menos empurrões para que ela 
avançasse...” 


De Paris (publ. 27 out. 1 890; escr. 4 out.) 

Apresentação das novidades da semana em três partes. Na primeira, lamenta- 
se a sorte de figuras de segundo plano da geração de 1830 como Alphonse 
Karr, morto recentemente: “Julgado literariamente é um satírico romântico. O 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


675 


grande sucesso obtido pela petulância de sua crítica desviou-o da verdadeira 
literatura, de que ele não deu senão algumas amostras, cada vez mais fracas 
[...] todos os seus livros são eivados de um fel, de uma amargura inexplicável. 
Não são simpáticos. Há neles como um propósito de pessimismo mesquinho, 
rancorosamente pessoal. [...] Antes dos naturalistas e sem a visão artista 
destes, ele tinha visto a humanidade com garras de tigre e focinho de porco. E 
passou a sua longa vida a dizê-lo espirituosamente, como contente de o haver 
descoberto...” 

Na segunda parte, elogia-se, na contramão da morte de Karr, o pranto geral 
ante o passamento da sempre querida Jeanne Samary, atriz da Comédie Française. 
E na terceira e última, menciona-se a abertura da nova temporada dos teatros e 
óperas e a dificuldade de obter um ingresso. 


De Paris (publ. 26 nov. 1890; escr. 24 out.) 

Crônica não assinada, em que são relatadas as últimas comemorações, como 
a festa do centenário de Lamartine (“O vento sopra das bandas do idealismo 
e Lamartine é um dos maiores idealistas franceses, talvez o maior, porque é o 
menos individualista deles. A sua vida o prova, que foi um como borboletear 
sem destino, com o destino obscuro dos poetas, só depois da morte conhecido 
— mostrar a vida em belo, em grande, como devia ser, que eles sentem”) e a 
inauguração da estátua de Camille Desmoulins. Há ainda linhas a respeito da 
reabertura da câmara e das últimas manifestações dos boulangistas; das notícias 
recentes do Congresso dos Americanistas; da estreia da peça Fe deputé Feveau, de 
Jules Lemaítre; da representação da Cléopatre, de Sardou etc. 


De Paris (publ. 1 dez. 1890; escr. 5 nov.) 

Dada a bonança política e financeira dos últimos tempos, o autor afirma 
“que os que são capazes de outras coisas são felizes.” Assim, passa a avaliar 
o panorama artístico, do qual destaca a presença duradoura da obra “sincera” 
de Taine e de Renan (destaca, sobretudo, o lançamento do terceiro volume 
da História do povo de Israel ’ de Renan); o sucesso de público do romance Thaís, 
de Anatole France; a publicação do terceiro volume do Tartarin de Tarascon, de 
Daudet (“O mal deste tempo para as literaturas é não ser mais possível escrever 
obras universais. Senão, Tartarin seria um tipo comparável a D. Quixote”); a 
publicação de uma biografia de Jesus pelo pe. Didon (“E uma tentativa sem 
originalidade para conciliar a ciência com o catolicismo”); a morte do escritor 
Louis Jacolliot (“O que ele escreveu de viagens [à índia...] é enorme como 
quantidade. A qualidade é desprezível. Até escreveu estudos sobre origens do 




676 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


cristianismo na índia. Era para exportação...”); e a publicação de um Anuário dos 
duelos. 


De Paris (publ. 22 dez. 1890; escr. 20 nov.) 

Como de hábito na seção “De Paris”, diversos assuntos são tratados en 
passant. De início, faz o elogio da conferência do Dr. Gorceix na Sociedade 
de Geografia Comercial a respeito da face “econômica e moral” de Minas 
Gerais, cujos índices ínfimos de criminalidade causou comoção entre ouvintes 
brasileiros e franceses incrédulos. Em seguida, assinala a reserva de diversos 
políticos ante um empréstimo de “75 milhões em ouro” da França à Inglaterra, e 
relembra uma hesitação semelhante perante as capacidades financeiras de países 
sulamericanos como o Brasil e a Argentina (“até que os limites da nossa pátria 
como os da nossa solvabilidade e honestidade financeiras, sejam conhecidas, 
seremos envolvidos na suspeição em que vivem as repúblicas do extremo sul 
da América, desmoralizadas pela jogatina desenfreada dos seus espectadores”). 
Elogia ainda o discurso do cardeal Lavigerie acerca da necessária unidade política 
da França, e aproveita o ensejo para criticar o “odioso jacobinismo radical”. E, 
por fim, enumera os mortos da semana (o pintor Lewis-Brown e um general 
russo). 


De Paris (publ. 26 dez. 1 890; escr. 29 nov.) 

Do interesse geral pelo novo remédio do Dr. Koch contra a tuberculose 
(“Robert Koch ocupa todas as atenções. Pasteur, seu mestre e inspirador paira 
não sei em que alturas olímpicas, todos esses criadores de bacilos mansos, para 
servirem de madrinha ou darem caça aos micróbios ferozes que nos roem são 
hoje da grande moda científica...”) e da inauguração do monumento a Flaubert 
em Rouen (à qual confessa haver sido convidado, junto a três outros brasileiros, 
por Guy de Maupassant, dedicando linhas interessantes à descrição da cidade — 
“Ao pé da catedral, que é a mais deliciosa joia gótica, normanda e romana que 
tenho visto, com os seus crivos negros de pedra, que o tempo escureceu, que 
o mesmo tempo retocou de branco nas arestas, inefavelmente, à roda da velha 
sé prestigiosa ainda, há umas ruas escuras, estreitas e tortuosas, feitas de casas 
cujas fachadas quase se tocam no alto, os andares fazendo saliência” — e aos 
discursos aí proferidos — “[...] o velho Goncourt foi o primeiro que recitou o 
seu. Nada de particular; o escritor de finas cousas não tem a vibração do orador. 
Mas sua bonita figura, de olhos mansos, e a boca afetuosa sob o longo bigode 
branco que o vento agitava, como se lhe quisesse arrancar as palavras da boca, 
faria bom efeito na paisagem, como se diz em gíria. [...] Zola, muito magro e 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


677 


cansado, encolhia-se com frio. E o vento, soprando às rajadas furiosas, divertia- 
se em arrepiar o pelo do chapéu de Maupassant.”). 


De Paris (publ. 19 jan. 1891; escr. 24 mai.) 

Relato dos efeitos do vento frio do norte sobre a sensibilidade do cronista: 
“E o tempo escoa-se, sem que lhe sintamos a urgência, sem que as pulsações 
do coração nos sejam mais do que o ritmo impreciso de uma embaladeira que 
nos suspira em canto as delícias do sono... [...] Assim, quando abaixo a cabeça 
e cerro os queixos, para furar cinquenta metros de frio sobre o boulevard, 
é raro que peça perdão às pessoas em quem abalroo ou tropeço. Já é uma 
diminuição do sentimento social — caminho aberto às violências, ao crime...” 
Assim, sob a sugestão entorpecedora do frio, confessa que todas as notícias da 
semana parisiense parecem-lhe mesquinhezas. Não obstante, noticia a eleição 
de Freycinet para a Academia; um pequeno desentendimento entre Renan e os 
Goncourt; o envio ao Rio de Janeiro das primeiras amostras “do remédio de 
Koch” contra a tuberculose (acrescida do comentário: “Mas os senhores bem 
sabem que em alemães não há que fiar...”); a publicação do livro Aux Eiais 
Unis du Brésil, de Sant’Anna Nery; e um banquete no Hotel Continental em 
homenagem ao Gal. Mitre. 


De Paris (publ. 31 jan. 1891; escr. dez.) 

Datada apenas de “dezembro de 1890”, trata-se de crônica a respeito de dois 
casos criminais célebres da época, na qual o autor se lamenta do sensacionalismo 
da imprensa diária, interessada apenas em vender uma boa estória. 


De Paris (publ. 25 fev. 1891; escr. 15 jan.) 

Digressão a respeito da onda de mortes em Paris, que faz da crônica de 
suas atualidades um longo necrológio. Enumera, pois, os mortos: o romancista 
Octave Feuillet (“já ele tinha sido posto de lado na contagem tão complicada e 
difícil dos escritores neste tempo. Entretanto, quando sobre a sua cova aberta 
estudou-se rapidamente a obra que ele deixava, verificou-se que esta valia mais 
do que um estudo rápido. [...] E a gente ali, encantada pela literatura, esquece 
as necessidades da verdade rigorosa que anda hoje em dia a nos dessecar a 
arte.”); o aquarelista Eugène Lami; os escultores Eugène Delaplanche e Aimé 
Millet; a atriz Celina Montaland; o barão e ex-prefeito Haussmann (“Todos os 
parisienses estão de acordo que a ele devem a satisfação orgulhosa de viverem 




678 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


na cidade mais bela do mundo. Os milhões que isso custou outra cousa os 
levaria, todos sabem.”); a Condessa de Barrai; e o duque de Bedford. 


De Paris (publ. 28 mar. 1891; escr. 7 mar.) 

À maneira da crônica anterior, Domício culpa o sensacionalismo da imprensa 
diária como principal fator do revanchismo francês após a derrota na guerra 
franco-prussiana. Cita o depoimento de um oficial general alemão com quem 
falou “no verão passado no expresso de Vienna a Insbruck”, para quem na 
Alemanha a vontade geral era a de esquecer a guerra e reatar os laços com a 
França, e lamenta o mal entendido despertado pela imprensa no que toca à 
Exposição de Berlim, para a qual muitos pintores franceses foram convidados 
por Guilherme II, e, no entanto, por conta do alarido gerado pelo convite, muitos 
tiveram de decliná-lo: “Os artistas que tiveram receio de serem acusados de falta 
de patriotismo, declararam-se pela abstenção, os resolvidos a expor sentiram-se 
pouco numerosos para representarem a pintura francesa e resolveram também 
abster-se.” 

Fala ainda das animosidades geradas pela visita da Imperatriz alemã, mãe 
de Guilherme II, e, num plano mais amplo, pela proibição das apostas no 
hipódromo de Paris, por conta da imoralidade dos jogos de azar. 


De Paris (publ. 26 abr. 1891; escr. 5 abr.) 

Crônica não assinada, em que discute a onda de reformismos sociais a 
propósito do próximo dia primeiro de maio (“O socialismo insinuou-se entre 
todas as preocupações mais graves dos pensadores e homens de Estado. Não 
há quem não pense nele diariamente, quem o não faça entrar como elemento 
irremissível na solução de todos os problemas da existência social”), comparando 
a onda favorável ao socialismo à do abolicionismo nos últimos anos do reinado 
de D. Pedro II. 

Noticia ainda diversos itens menores, limitando-se a falar, por exemplo, de 
uma nova exposição na galeria de Georges Petit: “Abriu-se a exposição dos 
pastelistas na rua de Sèze. Nenhum artista novo.” 


De Paris (publ. 13 mai. 1891; escr. 20 abr.) 

Novas rusgas entre jornalistas franceses (duelo entre Jules Lemaítre e Felicien 
Champsaur) e ingleses: “Que o que resulta do exame de tanta descompostura 
trocada entre eles é que a reputação dos jornalistas é pior do que a realidade. A 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


679 


força de viver na ficção, no convencionalismo da vida das aparências imaginosas, 
eles perderam a medida exata para a avaliação dos caracteres. Quando se anda 
tonto de remexer ideias desencontradas, a tanto por linha e uma em cada linha, 
que muito é que se perca o sentimento de equidade e da justeza na aplicação 
dos qualificativos?” 

O cronista dá depoimento ainda da batalha diária de Zola pela eleição à 
Academia, visitando seus membros e pedindo os respectivos votos, passando a 
avaliar seu caráter: “Parece que é um bom homem, Zola. Os maliciosos dizem 
mesmo que é um ingênuo, um contemplador que engrandece as suas visões no 
emballement da frase latina! O bem como o mal tem para ele descomedimentos de 
forma e de grandeza. O seu panteísmo dá-lhe para viver no perene espanto da 
humanidade, em vez de senti-la simpaticamente, como os outros. É um Dante 
à moderna, negativista. A realidade, que ele tanto apura na documentação dos 
seus poemas, fica exageradamente deformada no sentido das linhas que mais o 
impressionam. [...] Muito longe disto anda o Naturalismo. Aqui, como em tudo 
o mais, a Verdade com V grande é sempre a modesta verdade, de que cada um 
pode dispor, a verdade individual, que só o orgulho ou a ignorância nos podem 
levar a querer impor aos mais como única e irrecusável.” 

Por fim, lamenta a exposição aventada por Emile Bergerat de desenhos, 
aquarelas e pinturas feitas por literatos (Nerval, Jules de Goncourt, Gautier, 
Baudelaire, Musset etc.): “Lemonnier imita o impressionismo de Leurat. Mirbeau 
se aproxima de Claude Monet. Ed. de Goncourt faz à la Gavarni” etc. Gaba, 
todavia, o talento heterogêneo dos escritores, que parecem diversificar seu métier 
por diversos motivos: “Parece que os escritores querem ter muitos ofícios para 
todas as emergências da vida, ou se preparam para fazer crítica como o Pompeia 
queria que se fizesse — mostrando praticamente como a obra deve ser feita. Mas 
a multiplicação dos ofícios é um sonho. Sempre um pintor faz melhor que um 
letrado.” 


De Paris (publ. 10 jun. 1891; escr. 16 mai.*) 

Domício aponta o sucesso do Salon do Campo de Marte (quase 35 mil 
pessoas no dia de sua inauguração, imediatamente anterior ao da escrita da 
crônica), “completamente fora das condições necessárias para a contemplação 
de pinturas ou estátuas.” Diga-se de passagem, ainda que não datada, é de se 
supor que a data da escrita do presente texto seja 16 de maio, sendo 15 de maio 
a data de início do Salon. 

Sobre as pinturas, assinala, tal como um cronista de moda o fizera há pouco, 
a predominância dos tons frios: “E esse o tom que dá a nota ultramoderna aos 
quadros do Salon do Campo de Marte, a nota azul ou lilás, harmonizada em cinza, 
bruma luminosa como a da visão imperfeita de quem não está bem acordado. 




680 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Parece que é disto mesmo que provém o caráter especial destas pinturas turvas: 
os pintores vivem sonhando com a expressão de uma realidade, que não é a dos 
profanos. São uns viciosos, uns bêbados de cores, que querem que, nós vejamos 
através da sua turbação, da embriaguez da luz de que se atestaram. Há no 
Campo de Marte um Carrière, um Besnard, um Deschamps, um Gandara, que 
confundem as noções que a gente simples tem sobre a loucura: são os talentos 
libertinos, que já não liberais, que produzem essas derradeiras consequências da 
liberdade no ponto de vista.” 

Diz, assim, que, pela “decomposição das cores nas suas tintas componentes”, 
pela pintura de “placas luminosas [...] o resto ficando apenas indicado [...] 
(a estética de Poe triunfa em toda linha)”. E curiosamente, tece importantes 
observações acerca de um dos quadros da exposição, que muito parece esclarecer 
a pianista de seu conto “Scherzo”, chamada Georgina: “Lembro-me de um que 
pintou uma mulher ao piano, para mostrar uma expressão de mãos. O piano 
é antigo, de uma madeira escura e sem lustro, as teclas amarelentas. A mulher 
é uma dessas criaturas sem idade, sem sangue, quase sem corpo e sem vida: 
tem a face meio encoberta pelos cabelos desatados e com os olhos baixos, 
quase fechados, move as mãos sobre o teclado, num movimento lento de quem 
desfia as derradeiras notas suspirosas de uma reverie. Quem se isola e concentra 
sobre aquele quadro (que lembra os poemetos de Georges Rodenbach) chega 
a adivinhar no gesto daquelas mãos magras e pálidas, afastadas, a música das 
dores que adormecem com a fadiga dos soluços íntimos.” 

A partir do catálogo da exposição (LEMERCIER, 1891, p. XIV), é possível 
identificar o quadro mencionado como sendo de GA.-L. Griveau, de nome 
“Femme au piano ” (número 424 de registro na exposição). Infelizmente, não há 
tal obra nos bancos de dados virtuais (ARTStor, Google Art Project), havendo 
pequenas indicações na página do Musée d’Orsay acerca da biografia de Georges 
Griveau e de seu irmão, Lucien Griveau. Pela entrada das iniciais, constante do 
catálogo, fica mesmo ambígua de quem seria a autoria do quadro apreciado 
por Domício; porém, pela indicação das demais obras expostas, torna-se claro 
que o quadro é de Georges Grieau, e não do irmão. A personagem do conto 
“Scherzo” faz, assim, referência a dois “Georges” (Rodenbach e Griveau), num 
diálogo extemporâneo entre música, pintura e literatura. 

A seguir, fala sobre o painel de Puvis de Chavannes, Estio, em termos 
muito menos elogiosos que aqueles endereçados outrora à sua composição do 
anfiteatro da Sorbonne: “Puvis de Chavannes tem imitadores, o que prova que 
entre os pintores nem todos são inteligentes. Há telas naquele tom, como se 
a pintura decorativa pudesse ser tratada do mesmo modo que os quadros de 
cavalete.” 

Avalia ainda Carolus Duran (de quem elogia alguns retratos como “joias de 
arte”); Boldini e Blanche, que julga modernos (“Por isso é que eu acho modernos 
estes pintores: pintam para a gente superexcitada, inquieta e apressada do nosso 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


681 


tempo, que tem imaginação, mas que não tem lazeres para desenvolvê-la e aplicá- 
la.”); e avalia, em termos gerais: “A maior parte são simbolistas, intencionais, 
subinteligentes. Sem falar nos ilustradores de concepções alheias, há os que criam 
filosofias ao simples modo de uniformizar (eles dizem harmonizar) o colorido 
das suas pinturas. Com esses a crítica d’arte perde o seu tempo: eles estão fora 
do alcance dela, são ilimitados e livres, na derradeira acepção do termo.” 

Confessa-se, finalmente, impressionado pela tela de Derolle, “Fuga para o 
Egito”, elogia Meissonier como “mestre incomparável”, e dá outros pequenos 
pormenores da exposição. 


De Paris (publ. 12 jul. 1891; escr. 14 jun.) 

O autor discorre sobre o amplo avanço social rumo à divisão igualitária de 
renda, em termos que negam a concorrência dos movimentos populares: “Os 
tempos de dureza de coração passaram. Os governos impessoais personalizam- 
se para atender aos reclamos das classes menos favorecidas na distribuição dos 
quinhões da fortuna social. [...] Os ricos vão ao encontro dos mendigos: o Estado 
vai legitimar e regularizar as reclamações dos socialistas.” Como exemplo de sua 
postura conservadora (ou de cima para baixo), cita a proposta de criação de 
uma caixa de pensões para os trabalhadores pela câmara dos deputados. 

Domício fala ainda da polêmica envolvendo a venda de segredos militares a 
países estrangeiros (i.e., do explosivo “Melinite”), do início do processo contra 
a Cia. do Panamá e da inauguração da Basília de Sacré-Coeur. 


De Paris (publ. 22 jul. 1891; escr. 20 jun.) 

Panorama das pressões sindicais na França que resultaram no direito geral à 
associação profissional em 1891, no qual o autor expõe sua opinião contrária 
aos sindicatos: “Isto é a volta à corporação medieva, ressuscitada em toda a 
sua tirania. Já certos sindicatos começam a se opor à admissão de mulheres, ao 
engajamento de aprendizes, para diminuir a concorrência nas oficinas.” julga 
inclusive ser uma afronta e uma invalidação dos ideais da Revolução Francesa 
tal surto de sindicatos. 

A seguir, menciona outros assuntos: o possível vazamento de segredos 
militares franceses à Alemanha; o desenvolvimento da questão da Guiana entre 
a França e a Holanda; o falso roubo de um anel por uma empregada; a viagem 
da viúva de Napoleão III a Paris; e um episódio envolvendo o príncipe de Gales. 


De Paris (publ. 13 ago. 1891) 




682 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Segundo relato da onda de greves e de formação de novos sindicatos na 
França, avaliada como resultado da falta de fiscalização governamental da 
“instituição de direitos absurdos”. Novamente, para o cronista, é errôneo pensar 
que todas as classes de empregados podem organizar um sindicato próprio, 
pois isso ocorreria em prejuízo da “hierarquia e a disciplina suprema”. Assim, 
algo extremadamente, afirma: “A formação dos sindicatos sem um critério que 
os justifique, autorize e legitime, é uma ameaça da volta de um feudalismo de 
nova espécie.” 

A seguir, e algo contraditoriamente, lamenta a miséria dos “ bandistei ’, 
empregados de jornais tão miseráveis que não podem prescindir nem da 
pequena contribuição necessária para a formação de um sindicato próprio, e 
arremata: “O que faz pensar que na sociedade o homem é como a fera na 
jaula dos domadores: é preciso enfraquecê-lo pela fome, para que ele se deixe 
governar docilmente e não faça mal.” 

Enumera ainda as demais notícias da semana: novos procedimentos 
burocráticos de beatificação; a soltura de um corrupto; a participação das 
mulheres francesas na Exposição Colombiana de 1 892 em Chicago; a cópia de 
monumentos franceses para apresentação na mesma exposição; e a entrega de 
um prêmio acadêmico à viúva de Foustel de Coulanges. 


De Paris (publ. 19 ago. 1891; escr. 31 jul.) 

Crônica não assinada, acerca do jantar em homenagem a Souza Dantas e a 
Antonio Prado. 


De Paris (publ. 29 ago. 1891) 

Enumeração de acontecimentos menores nas câmaras; do esmorecimento 
das greves (“as companhias readmitem todos os dias dezenas e centenas deles 
[grevistas], que desertam à bandeira do socialismo antiprático e antipatriótico, 
que lança manifestos ao estrangeiro, pedindo-lhe o socorro que não encontra 
em casa”); do declínio do Gal. Boulanger; de um inaudito prêmio de cem mil 
francos legado à Academia de Ciências por uma viúva interessada na descoberta 
de um meio de comunicação entre a Terra e a lua; de um suicida vestido de três 
lanternas acesas, das três cores nacionais; e um choque entre trens na Gare du 
Nord. 


De Paris (publ. 31 ago. 1891; escr. 26 jul.) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


683 


Pormenores da Exposição do Trabalho, no Palácio da Indústria (casas de 
joalheria, galerias de máquinas, exposições de assentos etc.); ereção de estátuas 
a Danton, Jean Lafontaine e Victor Noir; fim da greve dos empregados das 
ferrovias (com ácidas observações do cronista — “Os empregados que fazem 
greve e pressão contra os interesses dos patrões para pedir uma cousa a que 
normalmente não tem direito, dizem que são reivindicadores. Na realidade eles 
são uns pedintes insolentes. A massa popular sente tanto a ilegitimidade das 
reclamações socialistas, que já não apoia o movimento das greves e contribui para 
desmoralizar o movimento dessa cruzada injusta, contra o capital aparentemente, 
contra o trabalho e a fortuna pública, bem examinadas as contas”) etc. 


De Paris (publ. 12 set. 1891; escr. 23 ago.) 

Assuntos diversos: trocas de amabilidades entre monarcas europeus e o 
governo francês; a campanha de certos jornalistas franceses contra a emigração 
para o Brasil (“A superintendência da emigração para o Brasil, na Europa, tomou 
a si a liquidação dessa campanha, levantada por jornalistas sem assunto e sem 
leitores, e que para os franceses é de um interesse muito longínquo. Eu deixá- 
los-ia escrever quanto quisessem, e mesmo caluniar o governo de uma nação 
amiga, que já vai se acostumando a viver sem as simpatias das suas irmãs latinas. 
Aprendêssemos nós com a lição que eles nos dão da sua pouca benevolência, e 
fôssemos mais cautos...” (p. 2)); o suicídio de uma jovem, abusada pela mãe; e a 
paranoia de uma família de Nice. 


De Paris (publ. 28 jan. 1892; escr. 26 dez.) 

Crônica não assinada, na qual comenta os novos esforços franceses de 
comércio internacional; a criação de uma mina inteiramente administrada por 
mineiros (e os perigos envolvidos, sobretudo as explosões àcgrisou — que compara 
ao “bafejo assolador de Moloch” e relata, quase à maneira do conto homônimo, 
escrito anos mais tarde, o terror dos poucos sobreviventes, que “contaram que, 
estando deitados sobre a palha, entre os cavalos, viram de repente passar uma 
chama azul pelo ar, e perderam os sentidos. Todos os cavalos morreram”); 
a afluência enorme de turistas a Paris (“Paris está cheia. E a grande feira da 
vaidade. Os mendigos, os desgraçados, a quem o frio punge e a fome, esperam 
as migalhas do banquete. À porta dos teatros, dos restaurantes chies, dos salões 
em festa, esperam, para abrir portinholas de carros, os miseráveis tiritantes. 
[...] E os soldos e as moedinhas brancas passam facilmente do bolso do rico às 
mãos do pobre”); a recepção de Freycinet na Academia (na vaga de Augier) e 




684 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


o elogio moral do “escritor pornográfico” Pigault-Lebrun (avô de Augier) por 
Gréard; um baile beneficente luxuoso na Opéra, contrastado pela prisão de 40 
andarilhos pelo posto de polícia, no subsolo do mesmo prédio etc. 


De Paris (publ. 9 fev. 1892; escr. 20 jan.) 

Crônica não assinada em que se relatam as últimas brigas intestinas da câmara 
entre os governistas e os boulangistas (dessa vez, levadas aos extremos da troca 
de socos e pontapés na tribuna). 


De Paris (publ. 21 mai. 1892; escr. 30 abr.) 

Discorrendo sobre o centenário do hino nacional e sobre o da guilhotina, o 
autor ironicamente retoma o espírito democrático de execução motivador da 
criação do Dr. Guillotin (antes, obra de um obscuro Dr. Louis) e compara-o 
ao patriotismo da Marselhesa : “[...] a grosseria da nossa contemplação objetiva 
das cousas não dá para que nos extasiemos diante da nobreza de sentimentos 
que representa a guilhotina, e dá para estremecermos de entusiasmo ouvindo 
a Marselhesa. Fraquezas do espírito humano...” E aponta, ainda jocosamente, a 
incorreção do título do hino, originalmente composto em Estrasburgo. 

De maior interesse é sua breve descrição do Salon dos Campos Elíseos: “A 
gente chega à porta, dá dez francos para entrar, entra, anda duas horas entre um 
apertão imenso, por dezenas de salas, ao longo de milhares de telas, das quais 
não tem tempo para ver nem a vigésima parte, e volta para casa, cansada, de 
pernas bambas, sem poder resumir impressões que não sejam as que resultam da 
contemplação de um imenso esforço para um resultado medíocre.” Para tanto, 
assinala “que a arte francesa deslocou-se da França para o resto do mundo”, 
provocando uma numerosa participação de artistas estrangeiros “entre os 1 264 
expositores”. E elogia obras de Benjamin Constant (“Paris convidando o mundo 
às suas festas”) e Detaille (“A saída da guarnição de Huningue”), dentre outros 
(Bonnat, Tattegrain, Maignan, Luc-Olivier Merson, Henri Martin). 

Demais notícias: morte do jornalista Raul Frary; suicídio do explorador Henri 
Daveyfier e do escritor Edgard le Selve (“Ou eu me engano muito, ou estes 
dous casos são bem significativos da famosa anarquia mental , que os positivistas 
andam a nos mostrar em tudo, sem que nós nos apercebamos dela. Falta do 
espírito religioso, da humildade em Deus, ou noutra cousa... [...] Se são frutos 
do tempo, tristes tempos!...”); a morte do filho de Paul de Kock; e a mudança 
da cadeira de história e de moral do Collège de France para outra de geografia 
histórica da França, assumida por Lougnon. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


685 


De Paris (publ. 7 jun. 1892; escr. 14 mai.) 

O cronista comenta com certa surpresa, dentre a profusão dos últimos 
congressos em Paris, o “congresso feminista [...]. Destina-se a verificar os esforços 
pela reivindicação dos direitos da mulher. Por isso é feminista. Feminino não seria 
bem próprio, sabendo como é a impropriedade geral dos adjetivos.” Estranha 
a mudança dos gêneros (“parece esquisito chamar uma mulher decana ”), mas 
observa a justeza das propostas (“pela boca de Maria Deraismes a gente sentia 
que aquilo vinha não do egoísmo seco, mas dos sentimentos eternos de justiça 
e de amor que se enraízam no coração humano”). 

Ademais, menciona o fim do temor geral ante aos atentados anarquistas; o 
leilão da galeria de arte de Alexandre Dumas (“rendeu 530.000 francos”); um 
incidente no Salon dos Campos Elíseos com um quadro de Vibert (cortado 
levemente a canivete); a morte de Edouard Lalo etc. 


De Paris (publ. 14 jun. 1892; escr. 20 mai.) 

Novo painel da semana: duelos; desentendimentos entre membros da Rosa- 
Cruz; preparativos para uma exposição de cães; morte do escritor Alexis Bouvier 
e do pintor e erudito Claudius Popelin etc. 


De Paris (publ. 19 jun.; escr. 20 mai.) 

Notícias menores da imprensa cotidiana, com destaque para a morte de Paul 
Brébant, conhecido do cronista. 


De Paris (publ. 24 jun. 1892; escr. 5 jun.) 

Painel de notícias as mais diversas (crise nas receitas dos teatros, por conta da 
cessão de ingressos gratuitos e da afluência crescente a ensaios; sucesso da peça 
Prince d’Aurec, de Lavedan; eleição de Ernest Lavisse à Academia; outorga de 
medalha de honra da exposição dos Campos Elíseos ao pintor Albert Magnan; 
morte trágica de um aluno da Escola de Belas Artes — “quem é pobre e tem 
vergonha, pode morrer de fome nesta cidade de luxo, em que há dispépticos 
que dão oito francos por um pêssego de Montreuil à sobremesa de um jantar 
em restaurant chic!” — etc.), com certo destaque para a chegada sintomática do 
poeta Teixeira de Mello a Paris: “Há inúmeros brasileiros assim — europeus, 
parisienses de coração — exilados entre as palmeiras que dão cocos de catarro, 




686 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


vivendo num longo suspiro pela pátria sonhada.” 


De Paris (publ. 9 jul. 1892; escr. 12 jun.) 

Notícias menores da semana, das quais apenas se destaca levemente a de um 
artigo do jornal Le Matin contra o regime político do Brasil. 


De Paris (publ. 11 jul. 1892; escr. 20 jun.) 

Sumário de notícias breves da semana, em que o cronista enumera o apelo do 
Papa aos partidos conservadores para que apoiem amplamente as instituições 
republicanas; as intrigas intestinas para a derrubada de gabinetes políticos na 
Câmara; a matança de cachorros em Paris como medida drástica de segurança 
pública sob o “calor maligno”; o processo judicial contra o redator antissemita 
do periódico Libre parole , Edouard Drumont; uma homenagem a Stendhal no 
cemitério de Montmartre; e a festa literária anual do subúrbio de Sceaux, cujo 
celebrado foi Emile Zola. 


De Paris (publ. 21 jul. 1892; escr. 27 jun.) 

Série de notícias corriqueiras, com destaque para a nova e absurda onda de 
duelos em Paris (“Conclusão: vamos ter lei contra o duelo e já não é sem tempo. 
Há uns sujeitos malcriados que abusam da sua reputação de bons atiradores 
de espada e de pistola. Fala-se muito em igualdade de direitos, e eu não sei em 
que sou tão bom como um sujeito que me diz um desaforo e eu fico caladinho 
por saber que ele é da primeira força à espada, em que eu não sei como se 
pega”) e para um discurso socialista proferido por François Coppée em um 
sarau do Bock Ideal (“Não sei bem, mas parece-me que é um fraco pregador 
de novas cruzadas esse poeta, que deu tudo de uma vez num volume e que 
sobrevive a si mesmo como um foguete de uma só resposta e de muitos arrancos. 
Há responsabilidades tão grandes na predicação de uma doutrina social, que 
impacienta-me ver um simples letrado vir também soprar na buzina que há de 
fazer tombar as muralhas de Jericó da iniquidade burguesa.”). 


De Paris (publ. 24 set. 1892; escr. 27 ago.) 

Balanço bem humorado sobre a epidemia de cólera na Europa, Estados 
Unidos e Rússia, em que se discutem ainda as últimas alterações nas dinastias 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


687 


nobiliárquicas e a viagem de Zola a Lourdes “num ivagon de segunda classe 
conversando com padres, [em que] acompanhou as procissões, rezou na basílica, 
conversou com doentes, verificou curas com os médicos” e surpreendeu-se 
com “as paralíticas histéricas e os curados pela fé”. 


De Paris (publ. 26 set. 1892) 

Notícias diversas: desdobramentos de um duelo; um episódio do imperador 
da Rússia; as viagens do presidente francês e as muitas ameaças de greve; a 
epidemia de cólera etc. 


De Paris (publ. 1 1 out. 1 892) 

De início, o autor ataca as descortesias da imprensa francesa para com 
o Brasil, sobretudo do Figaro, acerca da convenção literária entre o Brasil e 
a França, que se demora a concluir. Ao invés de aprofundar tal assunto, que 
prefere arrematar por dizer que há cada vez menos obras dramáticas francesas a 
serem “plagiadas” pelo Brasil (há uma parte do original ilegível, em que poderia 
constar mais informações, ao início), Domício ataca o que chama de “democratas 
da pena”, lançando farpas ao Figaro: “Digo que são os democratas da pena, 
porque há gente que traz para iludir a boa sociedade intelectual os hábitos e 
os sentimentos das classes inferiores, a que pertencem por nascimento ou por 
falta de condescendência social, que é o princípio da educação. Os democratas 
se traem pela incapacidade do orgulho. São os pedantes a todos os respeitos, 
que não sabem fazer uma cortesia sem mostrar o desvanecimento de a fazerem, 
a gente que se admira de ser fina. Esses, quando endomingam a linguagem e 
fazem algum artigo de gravata branca, tem sempre um ar de cabotin que estraga 
a finura de uma frase sublinhando-a demais.” 

A seguir, fala sobre o logro do Museu do Louvre em comprar um bronze 
renascentista falso, desculpando o diretor pela efusão de diversos especialistas 
e pela crescente especialização da arte dos restauradores: “A clichagem, a 
fotografia, a química, a eletricidade, concorrem para a primorosa reprodução de 
maravilhas.” No entanto, menos progressistamente, observa que o gosto pelo 
original atesta a condição de “poetas” dos amadores da arte, nos quais se inclui, 
enquanto a compra de reproduções apenas serve aos burgueses que se prendem 
à “parte concreta do gozo contemplativo”, de menor importância. 

No mais, aponta notícias menores, das quais a de maior interesse é a discussão 
entre Brunetière e diversos escritores a propósito de uma estátua a ser erigida 
em homenagem a Baudelaire. 




688 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


De Paris (publ. 25 out. 1 892; escr. 1 out.) 

Sobre a inauguração de um monumento ao Gal. Kellermann em memória da 
batalha de Valmy, sobre a qual exime-se de comentar o cronista: “Valmy foi a 
consolidação militar da República, aurora e presságio das vitórias que tornaram 
o nome francês odioso entre as populações de tanto país conquistado, do 
Niemen ao Tejo; Valmy foi o acaso feliz que decidiu da sorte da monarquia, ali 
vencida. Feliz? Nefasto acontecimento? Eles que o festejaram com monumento 
e discursos congratulatórios, lá o sabem. Para mim os problemas da história são 
complicados demais, para que me atreva a criticar a sua solução.” 

Domício noticia ainda a abstenção dos sindicatos nas comemorações 
— declaradas por eles como festas unicamente endereçadas à burguesia — , 
lamentando tal ausência. E enumera os acontecimentos políticos menores da 
semana, fazendo reservas à orientação passadista da sociedade e da política, 
quando “nós somos uma geração de modernos, que nos consideramos muito 
pouco, para termos os olhos sempre postos no passado...” 

Em uma última nota, que considera “muito menos séria”, relativiza a novidade 
da República no Brasil, tomada entre nós como modelo de modernidade, 
apesar de sua contestação na Europa: “[...] nós os brasileiros nos metemos em 
república e adotamos o 14 de julho por festa nacional, quando já a República 
não se apresenta aos pensadores como a primeira das preocupações, como a 
forma essencial dos governos liberais, e quando a crítica histórica contesta a 
utilidade e a necessidade da Revolução, e o proletariado, bem ou mal doutrinado, 
considera-se espoliado por ela. E caso para não ficarmos contentes com os 
diretores do nosso capital social (e moral, um pouco), se, mudando as cousas 
por cá, nós continuarmos a usar as da moda velha em ideias e representações.” 

Ressalve-se, obviamente, a adoção de ideias e modelos políticos europeus 
no Brasil por pura “moda”, bem como a posição política do escritor, jamais 
expressa em termos definitivos como republicana. 


De Paris (publ. 4 nov. 1 892; escr. 1 1 out.) 

Velório e enterro de Renan (avaliado em sua individualidade na crônica “A 
morte de Renan”): “Não há grandeza contemporânea que não seja azedamente 
contestada. As apoteoses aos mortos do dia carecem da unanimidade do respeito 
nacional. Depois, quando o povo se acostumou a repetir um nome ligado a uma 
grande obra, então sim...” 

Fala-se ainda da morte de Xavier Marmier (em termos negativos, como 
autor de obras “pouco interessantes [...]. Nem ideia nem relevo”) e do fim dos 
duelos (“São atos de conservatismo de uma sociedade que se dá por liberal e 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


689 


destituída de preconceitos. Mas pouco a pouco vai esmorecendo o prestígio 
dos costumes ilógicos, e a imitação dos vizinhos mais práticos acabará por 
modificar inteiramente o modo de viver em sociedade, e as próprias paixões 
terão manifestações menos violentas. Talvez venha um tempo em que uma 
espada seja objeto de contemplações arqueológicas nos museus. Muita gente 
não saberá para o que terão servido facas tão grandes... Será então o reino dos 
mansos, que possuirão a terra”). 


De Paris (publ. 1 1 nov. 1 892; escr. 20 out.) 

Registro das preparações da cidade para a volta do outono, ao qual se seguem 
novos ataques às “reclamações, justas ou ilegítimas, dos operários contra a 
má distribuições dos quinhões de bem-estar social”. Atribui isso à influência 
negativa “dos comunistas” e à bonança econômica aparente da França, que 
permitem haver um governo dado “ao protecionismo em matéria comercial e 
[a] o socialismo em matéria de organização do trabalho.” 

Cita como exemplo uma greve de operários da mina de Carmaux, que, em 
seu parecer, é mais um exemplo da “tirania dos proletários que começa. [...] 
Assim vamos caminhando para a desorganização da disciplina, da ordem e da 
justiça.” 


De Paris (publ. 28 nov. 1 892) 

Inventário de novidades da semana, em que trata, inicialmente, dos mineiros 
de Carmaux. Sobre a resolução do problema, diz, hostil aos operários: “Eu se 
fosse representante da Burguesia, diria que não vejo razão para que sejam os 
burgueses que paguem as despesas de representação do Proletariado sufragado 
pelo voto popular, que outra cousa não quer dizer a dispensa forçada para um 
eleito do sufrágio universal de comparecer na sua oficina, na sua loja, na sua 
mina, no lugar em que pelo seu trabalho se lhe paga um salário, enquanto dura 
o seu mandato eleitoral. E se o proletariado não tem meios de manter a sua 
representação, tanto pior para o eleitorado do quarto estado.” 

Fala ainda sobre as manobras políticas da Câmara, sobre uma mulher impune 
que matou a irmã, sobre a prisão de Eduardo Drummond, sobre a morte do 
inventor da opereta-bufa, Hervé etc. Releve- se, todavia, um comentário sobre 
o declínio da opereta em Paris: “O desprezo pelo riso vai crescendo, como 
se cada um se escutasse e se sentisse viver, dolorosamente. Todos moralisam, 
filósofos, poetas e artistas.” 




690 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


De Paris (publ. 11 dez. 1892; escr. 12 nov.) 

Novos ataques aos mineradores de Carmaux, responsáveis por deixarem 
uma bomba em frente ao escritório da companhia e causarem a morte de 
quatro pessoas. Há ainda o relato da desconfiança pública perante o governo, 
enfraquecido por ataques anarquistas como esse, e também perante a polícia, 
incapaz de descobrir os responsáveis de diversos crimes notórios. 

Por fim, tece uma comparação irônica entre a França e o Brasil, cioso de 
nosso atraso como defesa “simiesca” ante tais ameaças da “civilização”: “Deste 
espetáculo de perturbação e de desassossego eu tiro uma reflexão agradável para 
nós: é que muito tempo ainda se passará antes de nós termos uma civilização 
tão perfeita e completa, de movimentos tão serenos no maquinismo político e 
social, que a explosão inesperada de seis quilos de dinamite basta para alterar- 
lhe a marcha e fazer perder (temporariamente embora) a confiança nos seus 
destinos. [...] Nós cá temos tido o nosso no fundo tantas vezes, que parece que 
já sabemos mergulhar e tomamos gosto pela ginástica de cambalhotas da borda 
para o fundo e de ascensões do fundo para a borda. Quem fizer a história das 
nossas revoluções explicará talvez essa nossa agilidade pelo caráter simiesco que 
nos atribuem os vizinhos e bons amigos.” 


De Paris (23 dez. 1892) 

Notícias sobre a guerra da França contra o Rei Béhanzin de Daomé (hoje 
Benim), com registro da glória parcial do Gal. Dodds, motivada pelo receio de 
mais um nome de relevo às fileiras boulangistas. Breve necrológio do cardeal 
Lavigerie. Prêmios entregues na Academia Francesa, entregues por Emile 
Ollivier. 


De Paris (29 jan. 1893) 

Notícias diversas: a queda do ministério Loubet frente à questão do Panamá; 
o frio de -14° centígrados em Paris, e a morte de muitas pessoas ao relento; 
escândalos envolvendo a princesa de Sagan e o dr. Baillon; a morte de Albert 
Delpit e de Amédée Guillemin etc. 


No Chat Noir (1 mar. 1889) 

Testemunho simpático à célebre taverna parisiense, em que Domício assim 
define a harmonia invertida do local: “É um interessante museu, onde a gente 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


691 


pode descansar das reverências da imaginação clássica. Parece ao princípio 
não haver senão disparates e incongruências naquelas obras; a desordem reina 
na exuberância das expressões estéticas que roçam vagamente pela loucura. 
Mas na realidade entre todos aqueles monstros gerados em cérebros, que a 
obsessão da forma nova alucina, há como um sinal de obscuro parentesco a 
nota harmoniosa”. No entanto, observa a presença, por detrás de tal “estética 
negativista”, do “coração francês”, ligado ao “amor e [à] pátria”. 

A seguir, elenca os números representados na ocasião — o poema dramático 
A tentação de Santo Antonio, a comédia Uage d’or, um poema de Masson etc. E, 
ao gabar a liberdade inventiva dos artistas do Chat noir, que proporcionam mais 
divertimento que “qualquer excelente teatro”, lamenta a falta de originalidade 
e de forma dos brasileiros: “É isso o que não temos, nós os brasileiros, sem 
forma original e sem fundo primitivo. Nem sequer temos o elefante que nos 
prenda, para não macaquearmos demais. Ficelles sim, temos de sobra, de toda a 
sorte, para nos embaraçarmos nelas.” 

Por fim, desculpa-se por não tratar das novas boulangistas, tão somente por 
conta da neve: “A queda silenciosa dos flocos brancos pacificou-me.” 


Em Beyreuth (21 out. 1888) 

As crônicas de Domício podem ser muito representativas de seu estilo 
literário, como “Em Beyreuth”, em que descreve as impressões do Parsifal de 
Wagner na ópera de Bayreuth. A riqueza sensorial de suas descrições parece ser 
irredutível aos comentários, merecendo ser reproduzida, ainda que em trecho: 
“Para cima uma barreira de alemães, assoprando-se mutuamente amabilidades, 
num cochichar que lembra vagamente um tacho de goiabada ao fogo, as sílabas 
resfolegantes rebentando a todo instante como bolhas de vapor.” O mesmo 
pode ser dito de suas tiradas mais ou menos “filosóficas”, entremeadas às 
descrições: “Tudo visa ao efeito no teatro de Beyrenthe [sic] o efeito dos efeitos 
é a grande simbólica do músico-filósofo.” 

A seguir, o cronista tece críticas à profusão de detalhes cenográficos das 
óperas de Wagner — que considera inúteis amostras de “parnasianismo estéril” 
— e à simbologia também excessiva, para além do drama musical, que “vale por 
si”. Atribui ambas à ânsia germânica por modernidade a todo custo, e defende 
a sensibilidade na arte (ou antes, a harmonia de vibrações entre o artista e seu 
público): “Ideias, abstrações, muitas que sejam não velam o sentir; através 
da sua transparência de mica incolor passará sempre a ardência sugestiva de 
uma sensação, se o artista é poeta, se ele mesmo vibra. Mas não pode haver 
vibração uníssona, sem uma alienação de simpatia. Ora, quem poderá hoje ser 
simpático em arte, se não tiver a complicação de sensações, a agitação de ideias, 
a necessidade angustiosa de explicar o mundo, de doutrinar, de convencer aos 




692 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


outros para se convencer a si mesmo, se não tiver traços morais que sejam 
nossos, se não puder mostrar-nos, singularmente, idealmente amplificadas para 
a emoção artística, aparências novas, aspectos não revelados desse Proteu de 
mil figurações, que é a nossa alma indivisível?” 

Por fim, avalia o papel preponderante do gosto médio do público na criação 
artística, e defende o meio tom geral como parâmetro da avaliação estética, 
ao cogitar a possibilidade de pedantismo e obscuridade do público, frente à 
doutrinação das óperas de Wagner: “Mas não seremos nós os pouco perspicazes, 
os de curta vista e de alma demasiadamente clara, isto é, rara? Não, porque nós 
somos o público, a maioria. E em todos os tempos, pela força e pela fatalidade 
do número, a razão e a lei tem pertencido e pertencerão à maioria.” 


Quinze dias na Itália (publ. 20 jun. 1889) 

Série de impressões de viagem pela Europa, sobretudo pela Itália, passando 
pelas cidades de Airolo, Chiasso, Lugano, Como, Milão, Pisa, Gênova, Turim 
e Roma. Destaque para críticas ao ljohengrin no Scala de Milão; para a conversa 
com um oficial de marinha até Gênova (“Por esse mundo afora é sempre 
D. Pedro a cousa mais natural e o principal ponto de referência, quando se 
trata do Brasil. Quando outro merecimento ele não tivesse, esse ninguém lhe 
pode recusar”); “a cor barrenta e suja” dos prédios italianos; o encontro com 
dois brasileiros em Roma, o barão de Saboia e o visconde de Cavalcanti; a 
revisão das muitas impressões causadas pela arte, orientadas para fazer vibrar 
o espectador (“A luz do olhar de um retrato, o gesto indeciso de uma estátua, 
a agrupação das figuras numa pintura, a proporcionalidade das linhas de uma 
arquitetura, o brilho de um vaso de ouro, o clarão suntuoso de uma vidraça 
colorida, todos os recursos de que a arte dispõe para impressionar fundem-se 
compondo uma harmonia vaga que é como se fosse o sonho do divino”); o 
cansaço e a incapacidade de assimilar tantas impressões (“A última visita feita 
à Vila Borghese não me deixou outra impressão além de uma grande mancha 
verde nos olhos com umas brancuras vagas, que são estátuas ou edifícios. E a 
dentadura alva que num sorriso mostrou um modelo conhecido do Belmiro 
[de Almeida], que ia conosco...”; “[...] recordo-me de uma fanfarra de clarins à 
hora do crepúsculo numa grande praça em frente de um quartel, com um efeito 
peregrino da agonia do som acompanhando a agonia da lua”) etc. 


De volta (21 mai. 1893) 

Trata-se de uma longa crônica, dividida em três partes, acerca das impressões 
do regresso ao Rio, depois de cinco anos na Europa. O texto possui um narratário 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


693 


expresso — “Meu caro mestre” — que, embora não se especifique quem seja, 
evoca claramente Eça de Queirós, pela profusão de referências comuns a ambos 
(passeios com “Eduardo [Prado]”, recepção no cais com Ferreira de Araújo e 
Paulo [Prado]). De qualquer forma, o mistério se resolve na terceira parte da 
crônica, em que seu nome é enunciado no último parágrafo. 

De início, Domício confessa ser “odiosamente moderno”, apegado as coisas 
do presente, e julga ter apenas do passado o “apego ao lar doméstico, que por 
extensão é o sentimento da pátria.” A seguir, lança farpas ao “cosmopolitismo”, 
que entende por um “terrível amolecedor de rijezas nativas” a partir do aforismo 
do “ urbi bene, ibi patrid\ e confessa que o “lustro” de terras estrangeiras não 
bastou para fazê-lo menos “cônscio da minha integridade nacional.” 

No entanto, reconhece certo pavor em retornar ao Brasil (semelhante ao 
de Eduardo Prado) e diz: “Triste desembarque. Um momento duvidei se era 
ao Rio de Janeiro que tínhamos chegado. Às oito horas da noite, acabando de 
jantar em um terraço de hotel que dá para o largo do Paço, um companheiro de 
viagem declarou satisfeito que não estranhava aquilo, que o Rio de Janeiro é tal 
qual Puerto Rico. E eu, sucumbido, lastimei os infelizes que vão a Puerto Rico.” 
(p. 2) E sobre seu contato com o povo carioca, indaga: “Na barca a vapor em 
que atravessei a baía, indo para casa, não vi senão pretos e mulatos: donde me 
vinha tanta sombra ingrata?” (idem) 

Relata seu retorno à casa paterna e o gosto com que vê, em estágio 
intermediário, uma tela na varanda da entrada, como diferencial e prova do 
gosto estético de sua família. E, finalmente, aponta n’“os pobres versos de um 
carpinteiro de Cabo Frio, que nasceu poeta e morreu guarda da alfândega” 
(idem), versos a respeito da felicidade de quem jamais saiu da própria terra, a 
tradução mais acertada de seu sentimento pessoal. 


De volta (22 mai. 1 893) 

A segunda parte de sua crônica principia pela confissão sentida das perguntas 
ouvidas logo de início, todas subentendendo “o conselho de me ir embora”. 
O único que lhe fala em sentido oposto é Raul Pompéia, numa passagem 
antológica: “Do Raul Pompéia recebi uma rajada em sentido oposto: ‘- Falem- 
me num homem assim’, gritava ele, sacudindo-me os braços, depois de um 
breve exame; Vejam o que é caráter! Não conseguiu amolgar aquela civilização, 
nem tampouco se deixou amolgar por ela!’ E arrastando-me para uma livraria 
presenteou-me com um exemplar das Vestas nacionais , de Rodrigo Octávio, 
prefaciado por ele.” 

Sobre o prefácio de Pompéia, afirma ser o texto mais “intenso e grave” que 
leu após seu regresso: “E a primeira exposição sistemática da doutrina nativista, 
doutrina respeitável, logicamente rigorosa, legítima como aspiração patriótica, 




694 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


inadmissível como programa político — e isso pelo seu defeito essencial de ser 
um corpo de derradeiras consequências.” Mais especificamente, discorda de 
Pompéia em sua crítica ao elemento estrangeiro — ingleses e portugueses — como 
falsa explicação da miséria econômica brasileira, e, muito ponderadamente, 
arremata: “Fossem outros os tempos, mais apertasse ao brasileiro a crise 
política e a consequente crise econômica, e a exortação poética do Pompéia 
à manifestação construtiva do Amor levantaria por essas ruas e estradas o bárbaro 
grito antigo do mata galegol que havia de espantá-lo tanto, como a uma criança 
espanta o incêndio que ateou com um fósforo.” 

Os trechos referentes a Pompéia são dignos de figurar em sua respectiva 
fortuna crítica, como depoimento valioso de seu diálogo com Domício 
(sempre o primeiro ocupante da cadeira 33 da ABL, da qual é patrono). Assim, 
arremata o perfil de Raul: “Mas o nosso grande poeta não pensa em tal, e os 
que o qualificam de exaltado, esquecem que o Pompéia nunca viveu sem um 
entusiasmo e uma indignação convergentes, como a águia que o vento leva, bate 
as asas, num pleonasmo de atividade. [...] Fora disto, encontrei o Pompéia sem 
mudança — um belo cérebro, que um grande coração excita e manda. Trabalha 
em livros, o que corrige de trabalhar em panfletos. Ao mesmo tempo dirige 
o Diário Oficial e é professor na escola de Belas Artes. Quando diante de mim 
falarem na preguiça dos brasileiros, citarei o nome deste por prova do contrário.” 

Por sua vez, a passagem seguinte esclarece, o pensamento político de Domício, 
que se confessa horrorizado ao ser indagado por um deputado abertamente se é 
contrário ao regime republicano. Sem esboçar resposta — e num meio termo que 
revela seu aprendizado junto ao Barão do Rio Branco, simpático à Monarquia, mas 
sempre pronto a servir o Brasil republicano — diz apenas: “Quase desmontou- 
me essa questão a soberba confiança na cordialidade brasileira. Foi preciso um 
dia inteiro de conversa com um velho magistrado e filósofo para repor-me no 
caminho da adaptação ao clima moral da minha terra.” 

No mais, fala sobre encontos casuais, sobre a diversão em uma peça de Artur 
Azevedo (“o mais nacional dos nossos comediógrafos”), sobre o trato cordial 
de diversos funcionários e ministros para consigo, sobre o preço alto dos 
livros, sobre o aumento da atividade intelectual e editorial no país (“Discute- 
se, escreve-se, critica-se”), sobre as melhores roupas e hábitos dos cariocas, 
sobre o desaparecimento da boémia (“Quase todos tem mulher e cinco filhos, 
como aqueles guardas aduaneiros de que fala o Hugo nos Trabalhadores do maA), 
e sobre o efeito apaziguador do Encilhamento (“O contato temporário da 
riqueza melhorou alguns, tirando-lhes a timidez e a indecisão; a outros a ruína 
adoçou, quebrando-lhes a soberba na miséria. A vaidade ingênua sofreu um 
rude golpe”). 


De volta (25 mai. 1 893) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


695 


Conclusão das duas partes anteriores, em que se põe a narrar duas viagens 
feitas pelo Rio. A primeira, com Eduardo Prado, a Petrópolis, da qual destaca 
seu encontro com o Padre José (“E um justo, um santo, e nenhuma amizade me 
desvanece e me intimida como a sua”). A segunda, a Minas Gerais (Barbacena, 
Sabará, Caeté), da qual destaca o encontro com um italiano, empenhado no 
trabalho agrícola (“E para o nosso futuro que aquele homem, ali ressonando 
entre duas estações, trabalhava”), a beleza árida do sertão mineiro (“Houve um 
minuto de grande beleza de iluminação. O céu de uma infinita transparência 
incendiou-se, passado de luz, como numa apoteose, até a ofuscação da vista”), 
e a integridade de seu “irmão bárbaro” José (“Sobrassem-lhe ócios, e breve 
teríamos o Nietzsche de São Luís do Encantado”). 

E digna de nota a reação de Domício aos afazeres práticos do irmão, por ele 
tomados como superiores às suas preocupações estéticas: “Para o incansável 
José novas explorações se aprontam a dezenas de dias de viagem, nos sertões de 
Goiás. Diante dele senti-me pequenino, tive vergonha das minhas preocupações 
de estética pessoal e da minha vida de trabalho suave e que não rende.” 

Por fim, destaca a impressão final do Rio de Janeiro como “uma imensa cidade 
moderna e rica e progressiva”, por oposição a Minas, e declara-se contente com 
sua volta ao Brasil: “Aqui me tem, portanto, o meu caro Eça de Queiroz, melhor 
do que resignado, contente por ter voltado à minha terra.” 

Em post-scriptum , declara ter de voltar a “correr mundo”, e cita dois versos 
de Victor Hugo, tomados do poema « Uâne . »: “Nier est votre roue et croire est votre 
essieu / Hommes, et vo us tourne ^ effrqyablement viteT E confessa haver tomado como 
ex-libris a divisa “ut recte cas...’\ para que seja “uma roda que gira ao homem para 
que siga o bom caminho”. 


Na falta de ideias claras (20 nov. 1897) 

Trata-se de uma versão do ensaio “Eça de Queiroz”, compilado por Borges 
(1998, p. 429-431) em que há pequenas e importantes alterações. A começar pelo 
título, claramente diverso, ligado à dificuldade da justa avaliação do amigo, pela 
proximidade entre ambos. Outra alteração encontra-se no trecho: “E apesar do 
seu sábio descuido da crítica e por mais afetuosa e singela que seja a manifestação 
da Revista Moderna, o claro e sutil Fradique Mendes vai aqui ver- se mal explicado, 
senão mal entendido, pelos seus aclamadores, que o vestiram de ideias claras 
para o demonstrar ao público.” (p. 319). No texto compilado por Borges (1998, 
p. 430), consta: “[...] Revista Moderna, o espontâneo e claro artista vai aqui sentir- 
se mal explicado [...].” Igualmente, as linhas finais diferem entre si. No original: 
“Esse é o verdadeiro culto e devoção. O resto são variações literárias sobre o 
tema conhecido da glorificação do Mestre.” (p. 319) Em Borges (1998, p. 431): 




696 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


“Esse é o verdadeiro culto e devoção. O resto são dós de peito de tenores em 
capela.” 

Uma causa provável para tais alterações é a de que o autor tenha transcrito 
o texto a partir do manuscrito disponível na ABL. 


A sétima coluna (1 jun. 1903) 

Sobre a reabilitação da sétima coluna da Gaveta de Noticias, na qual estreou o 
próprio Domício, quando pela primeira vez falou a Ferreira de Araújo, sendo- 
lhe recomendado publicar seus contos e contribuições na referida coluna — 
imaginosa e ligeira, como a define o autor. 


O capítulo das viagens ( Revista do Brasil, dez. 1916) 

O autor faz de início um apelo à singeleza de sua literatura de viagens, 
reconhecendo-se um viajante sem grandes merecimentos: “O que as impressões 
diretas do mundo exterior acordaram em mim de ideias ou de emoções raras 
sempre me pareceu que antes de mim outros os teriam tido.” (p. 315) Antes, 
reconhece seu debruçar sobre os cenários do passado como decorrente dos 
pedidos instantes de amigos e da fatal “crise das saudades”, (p. 316) 

A seguir, após mais observações acerca da validade relativa de seu relato 
— mais ou menos compilado do material excessivo publicado esparsamente 
em jornais e revistas — , o autor recupera os primeiros sonhos de viagem do 
Domício bebê, nos braços de sua mãe, contrapostos à desilusão amadurecida do 
Domício adulto: “Este drama fremente do primeiro desarraigamento mereceria 
ser contado com arte. Acaso revelaria ele à análise dessa impressão profunda 
do horizonte mudado em torno, da iluminação diferente, dos vultos e linhas 
familiares, que nos ocupavam o ambiente e lhe definiam a fisionomia obscura, 
substituídos agora por uma figuração antipática na sua novidade, sem passado, 
sem uma ação que lhe dê prestígio e a personalize na breve e balbuciante e 
palpitante crônica dos nossos primeiros dias, acaso mostraria pela própria 
violência dessa estranheza o ressaibo pungente de toda sensação bastante nova 
e intensa bastante para que dela nos fique a marca funda na memória.” (p. 319) 

Rememora ainda sua segunda viagem “para ir ver o mar e a escola”, aos cinco 
anos (idem); sua passagem por três cidades, aos doze; e a última visão da casa 
paterna, antes de partir para a Europa, já moço. 

Finalmente, reflete sobre a impossibilidade da tradução de tantas sensações 
passadas, em um livro de viagens, ele próprio fadado à “realidade corrente e 
impessoal” (p. 321), e dá por infértil qualquer projeto nessa direção. Reconhece 
que apenas outros escritores poderiam decifrar a meada dos episódios passados, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


697 


e arremata, desculpando-se de seu silêncio: “Tanto vale deixá-lo por escrever.” 
(idem) 




698 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Crônicas sob o pseudônimo Antonio Serra 


Cartas de Itália (publ. 29 abr. 1891; escr. 8 abr. 1891) 

Notícias políticas diversas: a visita do ministro Nicotera a Turim; a continuidade 
das conferências do srs. Porter e de Rudini em Roma, acerca de uma pequena 
dissensão diplomática entre EUA e Itália na Louisiana (mais especificamente, 
em Nova Orleans); os abusos administrativos de Francesco Crispi na África; as 
últimas atividades do Papa etc. 


Cartas de Itália (publ. 18 mai. 1891; escr. 20 abr. 1891) 

Sobre as dissensões entre a Itália e a França a respeito da presença italiana 
na Abissínia, com breve sumário da pobreza do país: “O estado está pobre 
e o povo ainda mais, e sem esperanças de enriquecer, nem um nem o outro. 
A agricultura deperece; a indústria não prospera sob o peso dos impostos; a 
política italiana não acha meio de abrir novos entrepostos comerciais à atividade 
nacional. O país está coberto de ferro em baionetas e de ouro em galões; o mar, 
de navios de guerra, que não transportam, só consomem riquezas. A miséria é 
grande.” 

Serra (Gama) discorre ainda sobre a publicação de um telegrama do Marquês 
de Rudini pelo Times , em que fala sobre a necessidade de aproximar-se a Itália 
da Inglaterra; retoma os novos desdobramentos da dissensão diplomática com 
a Luisiana; aponta as amabilidades dadas entre as cidades de Génova e Sevilha 
acerca de Cristóvão Colombo; as viagens do Conde d’Eu e do Visconde de 
Ouro Preto; e os avanços de Antonio Prado, aclamado pela imprensa italiana, 
nas questões de emigração para o Brasil. 


Cartas de Itália (publ. 25 mai. 1891; escr. 30 abr. 1891) 

Relato da explosão de um depósito de pólvora no forte Bravetta e dos 
desdobramentos da tragédia, seguido das discussões parlamentares sobre o 
sistema eleitoral italiano, em que observa: “Nós no Brasil, com uma educação 
política bem inferior à da Itália e da França, ainda agora começamos a recomeçar 
a experiência do sistema que lá mesmo já achamos mau e que aqui ninguém 
mais acha bom.” 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


699 


Cartas de Itália (publ. 24 jul. 1891; escr. 3 jul. 1891) 

Crônica sobre assuntos diversos: a briga corporal entre parlamentares na última 
sessão da câmara; o retorno à Itália de missionários que faziam concorrência ao 
cardeal Lavigerie em Túnis; as doações do rei Humberto às vítimas das recentes 
tragédias; as novas direções do ministro da guerra sobre os duelos etc. 


Cartas de Itália (publ. 3 ago. 1891; escr. 10 jul. 1891) 

Novo balanço genérico do cotidiano político: as possíveis relações do ministro 
Nicotera com a extrema esquerda; explicações diversas sobre a rápida renovação 
da Tríplice Aliança; os interesses ingleses em sabotarem a aproximação entre 
a França e a Rússia; os gastos militares excessivos e a arrecadação menor de 
impostos na Itália etc. 


Cartas de Itália (publ. 18 ago. 1891; escr. 22 jul. 1891) 

Reunião de fatos, boatos e de meias notícias da imprensa sobre diversos 
assuntos, em meio às férias parlamentares: a possível retirada de tropas 
italianas na África, como forma de reequilibrar as contas nacionais e garantir a 
consolidação administrativa; um artigo de Crispi, ainda por sair; as polêmicas 
em torno de Lavigerie; a viagem do príncipe de Nápoles à Inglaterra etc. 


Cartas de Itália (publ. 24 set. 1891; escr. 27 ago. 1891) 

Notícias diversas: a inauguração de um monumento a Carlos Manoel I; a 
reformulação das loterias nacionais; a prisão do chefe de um grupo de criminosos 
de Bati; as novas discussões populares sobre a renovação da Tríplice Aliança; a 
fundação de um asilo para os emigrantes à América, em Gênova etc. 





ANEXO III 


REPRODUÇÃO DE TEXTOS INÉDITOS DO AUTOR 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


703 


ROMANCE 



;&{junda SI o *x'erça-ieira tJw do Mato de 1888 


PAflUKtNTA 


Psicose [trecho]. Gazeta de Notícias, ano XIV, n. 142, 21-22 mai. 1 888.' 


1 Trecho do romance Psicose publicado sob a forma de folhetim, na ocasião de sua primeira 
viagem à Europa na qualidade de correspondente do jornal, noticiado como “a história do- 



704 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


i 1888 


'PANíGO 

Sob uma arvore prostro-inc. Sinto o meu 
corpo como uma vestidura de chumbo, 
gelada c esmagadora, esquife que vou, vi- 
vente. A «terra, mAl ciosa, me reclama 
para o seu seio: por baixo das folhas 
scccas adivinho-lhe a ardente sucçào, o 
querer irresistível* fu pulocre reverteris 
—a lei. R que mVo fosse a lei, a fadiga de 
viver esta vida de tanto sentir nunca re- 
pousa, nunca um leve adormecer da con- 



ira 

dm 

:1a- 

Fo- 

1 

os 

ert 

sas 

>si. 


tT i 

oITi 

nit 

de' 

tos 

< 

mi 

SAI 

da 

I|U 


jç 

V( 

ía- 
po- 
>. c 
irpo 
de 
cm 
M. 

mie 

mm 

im- 

■ciai 

ium 

s de 


, rc- 
omo 
nta- 
loca, 
por 
islrc 
:nar- 


para 
I os 
jú c 
ycr. 

c, d 
rom- 
(I d» 
o Sr. 
pota 
ente, 

Icpu- 

slros 


cii 

qu 

pr 

eit 

Mi 

Ki 

!t. 


Nuvens, mivcijs passando, nuvens de 
toda fórmac toda cõr; nuvens queo vento 
leva doccmciitc c nuvens presas, faceira- 
mente rebeldes, arrufadas em arripios gra- 
ciosos, com um terror Ungido, logo desfeito 
em riso, no rir cnindo da nevou, de explo- 
sões mansas, abafados na solemnidade d*, 
procissão deslilante, fumaça de thuribu- 
los sem conta, perdidos entre a turba, ás 
cachimbadas azucntns so alteiando, dis- 
sipnndo-se lentas, preguiçosas j (loeos de 
alvura brilhante, iinmaculada, como es- 
pumas boiando sobre o mar . celeste c, 
nevou tcrnhsiroa, a nitente poeira dia- 
mantina, vèu de luz. sobre o azul *, pin- 
mns soltas, rosadas, longas, extrava- 
gantes pennachos de ciiiolamentos có- 
micos, torce iido-sc, levíssimos, no des 
locar da marcha, tlabcllos sumptuosos de 
ouro paiiido, vergados c adorativos ou 
empinados, n'uma creeçáo trcmcalo de 
respeito; largos mantos de arminho ma- 
jestosos, vestiduras hieráticas as grandes 
pregos solcmacs; vertiginosas llamiuulnx 
de guerra, nevadas, carniiiiosas, retor- 
cidas, parecendo estalar ao sopro trl— 
umplial da conquista do Espaço ; sus- 
penso sobra desmedido porlico, um vèu 
in.monso on lelando sobre o borlm- 
llinntc tropel que não tem llin, mas- 
carando longos llieorias de figuras 
cm bruma, ás túnicas de gaze, as nu- 
cas do setim, ás fartas cabclleiras onda- 
losas, tufantes, quebrando oi diade- 
mas de ambos, de opala o de pérola em 
luz, perlls gigantescos, membros rolos, 
dispersos, de titôcs, eivações larvosos, 
indecisas, rendas soltas, fnrr, pis lumi- 
nosos, joias singulares, caprichos de pa- 
Itietn como de um pintor que nio pin- 
tasse, comprazendo se na contemplação 
mais pura da degradação, da fusáo dos 
tons nos limites vagos, in efáveis, onde 
a transição se faz, symphonias dulcissi- 
inas dos binneos infinitos rondando peio 
myslcrio da l.uz, i.ceordes de dominan- 
tes instáveis notas puras, imprssavcis, 
pcrlurbaiitcs, como imiteis, mas encor- 
pamlo-so na alta harmonia que paira 
que d s c. tinindo, deltniiulo, torrente 
iiiimalerial que envolve os seres cos ar- 
rebata no turbilhão da vida, vida que r | 
o m ovimonlo eterno, ici da marahada-j 
quellis nuvens na provisão sagrada ce- 1 
iebrundo a bacanal da Korma — vi, senti, : 


o movimento eterno, ici un mareiui >■ u- , 
qin.dl is nuvens na provisão sagrada ce- 1 
lebranclb a bacanat da Kòrma-vi, senti, ! 
imaginei no céu. iiãiiu (luro entre a ra- j 
inniia verde eacurn. orlada de ouro ao 
sol do meio dia. 

.(.(.uuus olhos ardentes, deslumbrados, 
rolo-me tonto, dcsasoccgado, rccoslo-me 
ao rtigoso tronco c no deseahir da cabeça, 
volta-me o olhar dorido ao mudo impe- 
netrável céu. Nesga pura. pacifica e se- 
rena agora. Da franja da folhagem para 
baixo é uma curta facha azul recortada 
pelas grimpas do um morra entro dons 
picos.nÚH. Limpidez. Ilsnrn, quietação re- 
pousante ao principio, o olhar correndo 
ã loa, beato, como no espelho de um se- 
reno lago. linmovcl, mas vivo c firme c 
tranquillo o instável elemento, que sú na 
tòr se mostrai TranqnUlldadc, scrcni- 
dade — a conlensjo da força eonscicnt.'. 
Tudo um fundo mas sem perspectiva, su- 
perfície virtual, lisura de mero ClTeíto na 
visãc, o olhar mergulhando sempre por 
arran os como de golpes d’aza eom ca- 
rões súbitos morrendo e renascen Io cm 
orbitas de claridade, limites indecisos como 
de et ranhos horisontes novos abrindo- 
se cm altura — altracçno , fascinação 
profunda ! Bclkza muda, Impassível, di- 
vina serenidade, meu peito anedn por ti I 
A’ alma lacerada obllviscentc bálsamo, 
consolação da angustia, dn agonia escura, 
da vigilin tenebrosa, elo fundo do meu 
cárcere de sombra, cégo, aspiro por ti- 
írlrnniho— de -imi-t Paa infindiv piedosa, Jla) 


Is 


de lagrima e riso, n pagamento de odios c 
amores, gloria de não ser, absorve-mo, 
funda-mo no leu offliivio de amor, devo- 
ra-me, chamma de renuiiciaçáo, gozo aem 
par nlVoga-inc, surge, rev la-tc, Dèa su- 
prema, espbingc hcmfazoja! . . . 

— V i f . il. . T..i,lilii--i ilcvnira: as 


idas e vindas n’um querer estreito c pro- 
fundo são como uma prisão cciiulnr á 
alma indómita. Começa o espanto. 

Empallidcce, cobrc-sc de manchas lívi- 
das n face pura e radiosa do firmamento: 
descora e treme c conlraiie-.se c síia ás 
grassas gotlas, porajantes, numerosas, e 
desmaia de todo, omhaciandosc sob a 
mascara de um terror louco. Procuro as 
bellos, alegres, garbosas nuvens, n pro- 
cissão triumphantc : vejo destroços, uma 
debandada horrível , massas informes 
como achatados sob pressões monstruosas, 
estilhaços voando c vobitns de fumo. 
restos incendiados de explosão c, longe, 
npágando-sc, vultos vagos, brancuras 
fugitivas. Eiil-o, ao contagio do espanto 
das alturas, entra-me nV-lma o Pavor e 
soluçante, convulso, miserável, cotio n 
faca contra a Terra sinistra que me quer, 
sentindo por cima de mftn, cm torno d, 
mim, dentro de mim, esmagando-me, 
absorvendo-me, destruindo-me, a Tene- 
brosa Divindade, que não tem nome. 

Doxucio da Gama 


Psicose [trecho] (detalhe). 


lorosa de um espírito doentio, de uma sensibilidade exaltada incapaz de traduzir-se em atos.” 



DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


705 


CONTO 


i 

'lo gasta». antes pouco uandas. apsti- 
,’>aas da trintona I 

* Diante do perigo immlnente de um 
esprezo. quando segredava-lhe a con- 
vencia muitas vezes: — Deixa a 
iparign... que diabo tene com e*3a 
I lUlher, ia não Um* maia com que alí* 
Sentar-lhe os outos amorosos?— o de*, 
raçado debatia-ee em anelas ímposai" 
eis. e deixava-se tsmar de um doer»* 
;|ero, que muita» veias chegavs quasl 
[loucura. 

As considsrações daSalustina, com 
'■ido. em logar de animal-o, ao contra* 
f,' o, exacerbavam-no. de modo que cllc, 
pido de raiva, punha-se a experimen- 
a as peruas por instantes persuadido 
.«e lhe voltar* o vigor antigo : arfava 
jnbevecido n'um pensAiiwnto de amor 
,mivel, entumecia se todo, chamava 
(Selastine para ao pedo si e começava 
r afagar-lhe o colo, oe cabellos. as 
-’i«ias com os dedos trêmulos, cheios do 
pasmo» febris. E»se esforço sobre- 
imano esgotava-o, por fim, e o velho 
brieo. reconheeenio, contra a voa 
de, a sua decrepitude, cabia no fundo 
. rede a ranger os dentes como um 


! Salustioa, que com aro ar sorna c 

* eio de enojo igual ao que sentimos 
"itndo estamos em contacto com um 

daver, se prestava a estas cxpsrien* 
i3 Deus sabe como ; e logo qae podia, 
utava-v sorrindo malvadamonlc, 
i rquo de feito, nestes momentos, elln 
•I Impiedosa. 

.iavis mais qne motivos para os dos* 

' itos do Miguel. Salú não o soccorria. 
f iim I Elis nio íóra Uo bom em ou- 
és tempo t Qual a razão porque elln 
ora o tratava assim, a clle que, afloal 
contas, se ostsv* assim de pernas 
imbas, nío devi* se não aos seus fu - 
L*cs Juvenis. 

rapariga tinha, entretanto, rttio. 
;seu sangue borbulhava, e iojectan* 
/'■se pela pclle dava a epiderme essa 
isi stcncia macia, aveludada o ardente 
1 e aqueço o amor c o delicia. As suas 
Voos eram bastante roelstante». ti* 

^ am vida, palpitavam como palpitam 
j narõaicm terra secca. O velho, ao 
I itrario disto, e*mop*cts,e a sua pello 

* jarquilhada, cobrindo earnee flw- 
j as e p« ii lentos, era um resfriado 
I itlnuo, destilando um suor viscoso, 

| ominavel no gesto, no buhto, e na 
:!|avrvu Tndo nelle annundava a sc- 

* Kura, a negação da vids; e o amor 
Vo vive ura minuto em um meio tio 

ítll. Desta eorte, quando os braços 
, f ! paralytico enlaçavam-lhe o colo re- 
í ;ente e cheiroso do baunilha 6 lima. 
ssa-vsm lhe uns arrepios singulares; 
m vez de percorrer-lhe o sangue uma 
vama abrasadora, o que elln experí- 
, Untava era a mesma sensação quo ex* 
cimentar ia se lho encoaUssen» o couro 
i .o de um sapo ou os auneis <le uma 
1 pente. A brata atirada ao charco, 
ia /a. 

) Miguel, apesar de tndo, sabia to- 
,.r soas vinganças; e quando a trin- 
ta, orgulhosa da sua pujança, afasta- 
se zombando, tile a quem rasgavam 
tejoe de beijar, beijar aquelle colo. 
'& irtar. esmigalhar aquelles seios, 
i’ ida em toda a sua redoadeza quosi 
y glual, acabava por fazer um gesto 
5 sretno abraçando se-lhs aosbombros 
' no uma criança gasta, que implora 
■ leite maleraal. Então, per Jcndo o 
ailibtio, bombeando as pernasja com 
7 s de roldão ao barro, o mordia-a. 
^•rdlas, alá que um grito de raiva 
aba Urmo áquella sceoa tristo e 
btra&ante. 


A SEMANA 


Com o roeto humedecido pela baba, 
Salusti na erg u la-»e, deixava o Miguel 
a estorcer-se na crise de erotiemo, e ia 
lançar-ae no corrego como o ruusul* 
mano impuro. 

^ARARIPR jukior. 

(Capitulo extrabido do um romauce 
inédito). 


RIMAS 


Andei em longas excursões distantes : 
—Vi pulacios, sacrários, mouuuientos, 
loco* de industria, artísticos portentos. 
Praças aoberbas, capiteis gigantes. . . 

Em toda a parte ou lia nos semblantes 
Dores... luetas... ideulicos tormentos... 
— Onde a patri* do risoft... Desalentos 
Colhi apenas, mais erucis qus d‘antes ! 

Parei, eraãm... E o coração da terra 
Pude encoutrar I — Só júbilos eucerra : 
— EMhe u innoceuciaa uuica raiaba! 

Rides ' • U*uiraporu t Esse pau de encanto 
E* de meu lar e pequeuino canto. 

Em que alreja o leu berço, 6 úliia minha ' 

AFFOXSO CELSO JL XIOtl 


NIVELADO 


Chovia eterna, desoladameote. A 
quantos horas, a quanto» dias, u quan- 
tos séculos nio o podia dizer ou, que 
sentia-me dissolver, embebido das la- 
grimas da tristeza iuimeiisada Nuvem. 
Tristeza da Inimiga — fingida, só para 
apegar-me o fogo souto da alegria que 
acceudera om mim a cliamma luminosa, 
u quentura revigoranto do bom vinho. 
Ku tinha bebido muito. Tiveram taveja 
da rniuüa felicidade. K motteram-ine 
n'um carcero de sombra o melancolia. 
Ea séculos a chuva eahe para vencer 
este ardor indomito de viver, que sinto, 
Porque cu ia no posso da conquista, 
firme e arrogante, com o peito dilatado, 
respirando livro os aromas idyllico* e 
nos olhos respieoiorc3 celestes, enche- 
ram-me a estrada de poças lamacentas, 
desfolharam- me as flores á nja venta- 
nia, rolaram, eocliarcaram ua euxur- 
rada as folhas seccas, o tnou tapete do 
sonho, cobriram de vóus uegros, cégau- 
tes, os olhos luminosos da minha doce 
amiga a Noite. E agora quem me visse 
vocillaute e tropego diria qae eu ostava 
bêbado. Tiisto c quo ca estava. Veu* 
cu-me a magoa, «mbobiu-uie a sombra, 
n morte quebrava-me as arrogâncias 
physieas. Havia ama forçu iimneusa su- 
perior oppriinindo-me, procurando des- 
viar-me da posição vurticai, empurran- 
do-me por traz do» joelhos para do- 
bra-lua e derrubar-me. Mas eu, que 
bem eei qual è em mim o sentido da 
maior resistência, intsirlçava-ino e ca- 
minhava blrto, inflexível, anküosndo, 
como quem eegue o destino. Sabia que 
cra uuia provação aqulllo. Bem me tar- 
dava repousar, mas não na rua. Nem 
em casa. Uma modalidade pliyslca do 
Ideal iainuava-me que ndoera o melhor 
o que eu pudesse desejar, porque seria 


cousa jà sabida. Por isso eu não dese- 
java cousa alguma. Oaminhava duro, 
tezo, com o emphaliamo noa passos de 
saltimbanco em drama lyrico, com in- 
vestidos e arrancos trágicos, após 
longas pausas deliberativos, torvas d# 
decisão explosiva. E nesses impulsos 
sggressivos retomava-me a alegria he- 
roica, tmuiolivada, de soldado no as- 
salto, abrindo-me uma porta à phanU- 
sis, que entre risos e descantes longín- 
quos. vago», illuiiiinava-rae um recauto 
escuro do cerebro. Depois como uma 
cortina recahinJo cerrava-so-mo a trova 
c cu cscuuva o cabir da chuva, mono* 
tono, constante, inexorável. A quanta» 
horas, a quantos dia», a quantos sécu- 
los uáo sei, toda a iniulid longuíssima 
existência teudo se escoado transida o 
.enlameai* sob o perpetuo rortjar dos 
prantos celestes e terrestres. A loui- 
brançu dos soes, de tão apagada, era 
tnyitiica. Sempre uasim vivi ; u* solidão 
sombria, ua* lagrimas. O resto, alegria* 
e luz, ado os poetas que souUain. Maos 
poetas: fazouJo-me soffrer... Corno se 
toda ventura não festo adus sapos, quo 
aqui perto, uo alagadiço bem cheio, 
euloain a potente roncaria epilliaU- 
mica celebrou io os seus castíssimos 
autores. A chuva cabe — fecundante 
diuvu, a lhes nutrir o germen que será 
a prole futura ainda impliciu uos 
loagoa rossrios, que a amorosa femea 
vai desliaudo — ucondiu chuva! E 
porque udo sou sspo eu, que tenho as 
mios tdo lascivas, a bocca uiais lasciva, 
o corpo lodo meoos nobre que estes 
puros animaesf Entendo agora o con- 
selho sybillino do ideal — seguir o im- 
pulso quo me leva ao charco, prostrar- 
me, ossaparuede encontro a essa lama 
nioile, sisguciita, convidativa, nivobr* 
me, pobre orgulhoso impotente ! O con- 
selho cra do Ideal ou da fadiga extrema. 
Duos liCas de Vogi e do Augusto Com te 
fazium-ma nina carga terrível — u da 
loealisaçAo da lascívia baetracia, uos 
dedos e a da inutilidade lógica do ma- 
cho, da sua imtnorslidade dada a reali- 
suçáo do ideal Ja vlrgoiu-mAe. Então, 
se osiJeaes humanos me amiudavam 
naquiiio «in que eu mais julgava valer, 
na minha qualidade de macho, autv* 
sapo, que nio tem idoal, oa só tem os 
da vida— comida & farta e femeas fecun- 
das— com uma renuucisçóo quosi toys- 
lica ao* contactos amorosos. A minha 
bamauidade começava a pezar-tno de 
mais. Uma viravoiu poz-uie em freuto 
de ume vieIU estreita, entre um muro 
fazeudo esquina e uma cerca de espi- 
nhos negrejando sobre um clario vago 
niuarelleuto, algum lampoáo longe. En- 
costado ao muro, sentindo íalharoinme 
aspernas.duus bruzas por olhos e umia 
convulsão no queixo, inoiitei, hesitei 
longamente ante* ds aventurar-me pela 
viella da Bsixoza. Eu sentia que entrar 
alii era decisivo. Havia alguma cousa 
ou algeem que mo puchava para traz, 
dobrando mu pelo peito, fuligaudo-mo 
ainda mais. Mas só depois que puz-inu 
em marcha comprelxendi qus o obstá- 
culo era a flsgeilanle pbraze de Marietta 
naqtaeUa noito em que eu por bravata 
fazia o elogio da embriaguez — « O ho- 
mem que eavisso um dia embriagado 
nunca me poderia entrar no coroçâo.» 
Na pacifica e honesta sala de jantar 
entre o cálix de Madeira aityia cheio o 
a chicara de café qae olia passava-me, 
olhando-me com o sou olhar tão direito, 
tio leal, ora mais uma banalidade vir- 
tuosa quo slla pronunciava com a sua 
voz preguiçosa, syllabaodo lonumento, 
com uma quasl aflfsctaçio de oxactiJio 
e doçura, graciosissimu, só delia, da 


boa e carinhosa amiga. Mas aqnl, na 
noite escura, com os pés na Uma fria, 
lmpellido ao cbarco pela força combi- 
nada dos syllogímnos s do álcool, 
nquolla phrszo era u minha sentsnça 
antecipada. Caminhando ou tiritava ao 
frio do sen despreao » um soluço bo- 
lha va-mo no peito e desfazia-se sem es- 
talar e rofuzia-se teimoso. De repente 
tropecoi ; faltaram-me as pernas e eahi. 
com as mãos para diante. Era fufo. 
Senti frio primeiro nos joelhos o coxas 
e oncolbi a barriga á huiuidads des- 
agradavei. Depois retirei a mão direita 
enterrada na Uma e deeviei um ramo 
que me arranhava o rosto. Pensei no 
olbsr de repugnaneis e nojo de Ma- 
rietta, se me visse do cara, barba e 
bocca enUineailas, oatirado na estrada 
como um bobado, e chorei. Não digo 
coi.io chorei, porque só o entendería 
quem jà chorou assim. Acalmou-me 
por fitn o uiesmo pranto o sorri dos 
jaetos d*agua lamacenta quo asconvul* 
sões do poito, batendo arquejante, fazia 
8 d Ur. Kr a brincadeira de porco ou ds 
sapo. Famllurisava-rae com a lama. 
Estondi-me eommodaineoi# o como a 
agua me entrasse no sovaco Icrabroi-me 
d* certa, qne imzia no bolso, do tio 
Luiz, convidsndo-me para ir passar 
com elleutisJias na fazenda e do sor- 
riso da prima Oeorgina, que era uma 
caricia... Depois entrei a estudar a 
melodia de doas pingos d’agu* que, ora 
alternos ora Juntos, cabiam do am ga- 
lho d‘arvore em uma poçi perto da mi- 
nha orelha esquerda e parecem-me que 
a ilarcht depfair do Riehepin ensaiava* 
se olli para irradíur-so depois, cres- 
cente, desoladora. A cabeça rolou-mo, 
desfallecida e, com a face na Uma, es- 
pojado, adormeci som cuidar por quan- 
tas horas, por quantos dias, por quaa- 
tos séculos, acalentado pelo sussurro 
immenso da chuva. 

U <lo Fevereiro $3. 

VOilICIO DA CAMA 


AS RUGAS 

Vendo o sol de planetas já rodeado, 
Deus disse ú natureza i — • Filha u’esse 
Turbilhão de astro*, mando qae nio cesse 
Teu amor... Deixo • tem s teu cnldido...» 

Disse, o com outros mundos oeeupado 
Foi-se. A filha este globo não esquece : 
Pôe-lbo agua ; e, de agua ac* r umes. vi ve e 
cresce 

Tudo... Tudo ella pinta : os cóos, o prado... 

E a Natareza tem mais gosto e geito 
, Pondo em formosa tela 
O rosto da mulher — bello, perfeito... 

Mas todo cança • . . e um dia — acaba -o elU 
Dando a torto e a direito 
Profandas pinceladas a aquareila. 

EDMUNDO DE BARROS. 


BELLAS ARTES 

Estonde-se ainda sobre estas colam- 
nas o prestigio dViquelle que por tão 
longo tempo o tão d ceiutorossad amente 
soube lionral-as. 

Luiz Gonzaga Dnqae Estrada foi, 
desde a fundação d\t irmana, a voa* 
tzdo inabalavel qae alimentou estasec- 


Nivelado. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 161, p. 4, 18 fev. 1888. 



706 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


V 



d*ague transparente, iutei rlflO eufl 
uma peça do eryaial, JaspenUatá-aefl 
ti ma por uma cavidade da rocha * raÇ 
ta baixo om ealxòee d« alvU*l«| 
escama. O rochedo coberto do 
melo escondi lo oalro o» hervaçoel 
faci «lembrar nm grande, ma*todo'»| 


Agora entoado * trlaiixa. E" • morta, j 
E* a dispersão da individualidade que 
nlo poaao guardar a que, parcallada ao 
inünito, ioga Je mim p ira «ala* ml»h»e 
ao cabrii iudtilcaa. Sou como um corpo 
om que a libra muscular jã não vibra à 
•xciiaçiu doa nervos. A íorç* uâo tra- 
balha em io.cn, quo não reaiato. Ancelo 
como um pnsaaro baUodo aza* no 
vaeuo. Morro dlsiolvo-we na iuanida-JU 
do doaejo. incapaz, conacii» dlaao. Q uar® 
aer utu, unico e ai, e uo entanto a 
•lapiraçio moribunda agitas* coavulea 
uhtqueila pupilln negra, ultima a ÍV 
quer ia, quo entro o* lavoics de crjraUl 
conUmpU-me. Sou «u que *«u eombr.» 
enilro mo- Eomeu prí»íulal«ula*iriiu'j 
chora o passado que íol « » futuro quo 
não eoràolle. A turra qa« me otmaga 
nunca maia ae dissipar! para mim ! 

8 d» >larç>. 

VOJIICIO VA GAilá 


plraçio, étn qna chora a sau Jade. LI 
uo fondo a snperpoeiçlo doa dona »ya- 
Ucioa fez o cerrado neroelro nogro onde 
lampejam a «spaçoa Claris* Incertoa 
qao o doaejo occeuJe « que errantes eo- 
proa do duvide apagam. De mim para 


nm c*quadn»o ioniuja»o>. - - 
rolhai*. 4.. Loí« * ‘«H"™ 1 " 
rallMU ««trUouUil. 

A 4 POU. tfoi» 

Umnoo o.tf' «». «>»"««' ' 
livro. >?<'“ ln S«‘"*“ - "<?“* 
umbom à,v.„.. ««>• 

Aon*. «muni». pb** -a*“- ““ 

J<UM iiwoMOt»» MrtawJ'. enj» 
mra eontl.M «•" *« » tlu ”P“ '"* , ' ' 
„ «o h*«üo .1, Mlrolla.. • «*»*> *'•- 
tr, , n Mpollmb» J« J.*u. .««»'• 

Do nn.uín om »»« 
,loot«a*8“« , '“ lr ‘ > * l, ‘ 1 ' 

iU.bni.»». «ingfll» o P«l“ .'t»« «<>■>• 
nma violeta. 

Digo te agradeoldo peto bem q«« 
,1.0 furnlo • «0» PMMK*. P***' 
innnb> deltato**— m, • , mlnb» w.»p». 
«beira. . . . . 

E pur nlllmo, quaulu depoia do lido 

lolnoUtro, l,T.inUi- nc P«* “ Ur * r 
. riL «»«. « F" 

wmoorno polo braço . rlnJo remton mo 
...» qo. irjuh' jo lon !lrrgi 
Olha e$*a planugcni Unda 
irUformn^e*»»»»® 1 
não sentes remer» «leda 

que m«l te tn ■ P>br« ■*• • 

lembra ndo-mo do 


adormecido e mel tido n'agun ft‘.i .'J 
veotre. 

Uma delicia*» sombra projecUM 
pelo cejazdra euvolvia cm parle « 
grata plttoresca. 

Por cima. alem. o* paaanrlnlios yoij 
v.im conUiwlo n'uuj cio azul, queidt 
encurvava eobre a torra, camo a tanaa 
de uiu cofre de eam^ralda em que D«M 
gaardaeae aseuaa melborca joiaa. 


•cu ao sentir ll .. ítalo. pneUo. iudi- 
viduo; viver assim preso ao univereu 
não g viver, é reflwctir vlia. Uentil-t 
diiacU, que souUo!.., Xambeio de«te 
ideal aolfro que mo tortura como nma 
luVcja lecomiuaJâ e *jui od»0. »óJro; 
A» inatcia» autiges eramdat alegliaa 
não mintu*. Da» exciUÇÒe» ullieia* a« 
tao tocam ae dcprtfaaõe* conaequeatoa, 
o eapolio Umeutoeo daa mlaerkaaque 
furam gloruu c gilai. Deuuia resoa 
eoi mim paiWtaumuie, na corda de 
bioiixc vibrando uiuaoua com «>• ge- 
mido* doe outros *>u infinito*, a noU 
graVieaiuiA. u iwU uegra em q'»e ha 
luto « pranto o ais do maia fundo Jo M- 
ração. K quando a nlogrla cantse o eu 


llcrUm gostava d’aqu#llo banho. iW 
aroma Immldo que Impregnava o nid 
fazia Ibe um bem... 0 ruído a -iurriW 
da cuseau excitava-», o a agua liropii* 
a fresca, em entseto coua aaa P a \^H 
«lava-lhe s-inuçAos agradabiJi*«inliffl 
Rolava-ae nelU com a sciuualidade 
lagarto aquecendo-ae a3 íol. jff 

Começou Ugelrameote a Jviarperlq 
oscokétcs. e aa auaa exliuberauciíd 
e: lendo n elauicidnJe uolural. iatt 
irrou>]i«udo d'eulre aa rendas, como 
uma prbdo qno aa eonstrang f *«. D<*« 
bvitoala. delxon ia roupas cíhlreã 
p«b. formando uc 


VIA-LAC TBA • 


E eu uSo atirei 
Caçador. 

Vvilamoa. ao epir 

líU - porvift ftrabo, «» 

Ulah " r *°* p * l0 '“' 

ehutrna do raint» P«» 
canoras de paasaroe voando. 

Hoje. o men dearja unico e vo 
campo com aa Comemporoem* e a 
companheira para não matar os 


Dansjvum 


uma a nma. a seu» 

circulo alvíssimo, que lazia Umb^â 
aquollo que cingia a vngi mUl â 
deus>. 

Depois, em camisa, saliiu da ral 
prisio d<* neto a inclinando-ae O.ntdlj 
aa roupaa a atirou com allaa jiara cicnTa 
do rochedo. Deeaton oa cabcUo», c ujw 
tranças foram a recender de*enioUli| 
do-se petos hombrou, « sentou-se a'dh| 
ravalincote no lagodo para tirar àij 
I bolinas, «ine deitou junto n roupA^ 
úna o c'.asilea dvwnbaraa 


proximaçdo d >* aex<wem cio, a uíegria 
pbyaiea «lo amor cocugioso. c jui a I 
plMÚca da» figura» em grupo* t*J«o- I 
reK , a ou tioloda . dUTerentea ma.s U. 
gadss por uma semelhança obacora, 
movendo se a ua» ilüimo »ó do Um 
sentido, coicpuubam-me a harmonia | 
mra em que *o*ui>re «pt M 0,1 Y *° 0 
aturde quo use piostre uo *p«s»ao ful- 
minante. E ai» U d ceta ver u.Jo veio. 
Vaguei por cutro u* dauaas, «U«.»*l. ga- 
lantioi • ri» aempee irio. a mpro vas»» 
do emoção, como uiu castrado pschyco. 
A eierúamcuU esquiva OalatUòu ueui 
uma ponia dc (Mlea braoca mastron- 
me fugindo entre o» salgueiros doeu- 
nüo. Apenas no ar deslocada pvl» •'»* 
esquivança do uu» vago aroma, d* ca- 
bei lo» hum idos. Aroma oa lotnbrança 
, 4 a .pum». O batUnle para exUturir-oa 


Oaçocm tudo teu qome, 
U. fatigado d« calar Ua 
Qaasi o revcl» u«» H-'* 1 


A meta 

forma cagulado pequenino p*. que elj 
mio carinhosa. L< 


OLAVO BILAC 


afTagava com 

vanton a camisa até n curva, -Jasat^ 
a fita que lhe aervla de liga e foi tiranè 
devagarinho n mela, que deixava »cU« 
tado o louro pclliolo da perna. JuoV 
ao Joelho a lig» poscra uma cloU t* 
inelba, que Hortba comprimia coxa 
pontinha do dado rosado, entretendo^ 
em ver fugir a voltara onJa s angu ÍMI 
O pteinho parecia uxna joia de aacti 
o Bertha sorri» As feições miudinbMT-j 
MUS dedea corados que «Ua destendj 
para desontorpoeer. 

Levantou-se. Uma bella oatatua . $ 
camisa. Pelos horaqnlnhos ds rcod 
vis-aa-lhe n pulte rosada o fresca, sei 
dois peitos rijas brancos lmpllUl»' 
tio rondado da camisa, desafogo - 
c reação proxa.Oa braçoa roUçoac M 
nudoa erguiam-se para acommodarj 
cabe lios. 

As outras moças já se bariam lançl 
ao corrente, e, acecaaa pelaexcUaçlá 
banho, prccipttavam-sa n‘uma vozg| 
alegre para a queda <l’agua. 

A formo ta rapariga av .linho» 
d* borda. Retrahia-M pudieaenert 
tirou a camiaa : e o ao! como um i 
ibera traiçoeira. aliron-«e do Mh. 
sobra ella c W-a r«»plandearí e«| 
uma eetalus ds praU. 

A violo durou um iosUnU; A qi 
.lcsappareoe» nas aguaa e oa a»ua|| 
pri loa ealMllM derivaram pala cofM 
como veia d'oaro em fu alo. ;$9H 

uu* 

rfcnla^í.) 


\ JUVENTUDE 


ALUI MO AXr.VMPO 

mga sensação priiucira. 
ror. diluculo d» aü4«« 
tcenUt da vlrgin laJe, 
joe o da íor-U amendoeira; 

» belleoae a cosi i Jade 
etaque InvtsIvcUhcira : 
prcce-muslca íagueira- 
na mulher que m»b eg»»de 


0 BANHO 


polychromo quo eu guiava ua densa 
abandotiava-íO no* meus braços, como 
amottectda ao ardor da taba. M«.l toa- 
me nojo. quasi e tiv« vergonha por 
ella e por mim. Nlo danael ovala. 0 
ajuaUMDsato festiva mndoa-ae-me e-u 
solidão quevWu» dolorosa» uxauUu»- 
abrida tomam, «istuiei Imha» o maa- 


Aa moça* i-Mcetam para a cachoeira 
• oa bomana fteanun da parle de fòra ú 
sombra da* arvores, ao ponto de ao 
aborrecerem e procarouJo malar o 
tempo a riscar com oa de loa na areia 
flua do caminho, ou rolar pedras pelo 
despenhado. 

Berlha, mais petulante, maia viva, 
ia adiante a trincar com o* alvoa denloe 
uma folha verdo que apanhara ua 
passagem- 

Levava no* UoMbrea a toalha do 
rea Jaa. De todo o aea aer partia uma 


Tudo ncata eetaçio *• «IIU e »P«* r * 
A moça sonha e o acu *oubar fulgura 
No olhar de luz * du hvmlJade cheio ; 

Da tez lhe fulge n lansp^reneia rara, 
E, qual frueto do neve. aponta a clara 
Protuberância oljrmple* do seio. 

R AY MV M VO COÊMÉA 


velho*, earnaçõea rouadss • pergami- 
nbos aeccoa, ceperançne rulaa», aapl- 
r , H ,>s que tio encontro das draitla- 
,Aca e renanciaçôca taaUmoaa*. não re- 
signadas, chorando pela* rugss e pel* 
dí.a.uçlo J.. «rs'n 
,11,. Vi Hortí pl.il»» pel» -> 
oo, rosto, t.ilig'1»*- M» r “- 

rtindo e »*• *«!*• 0 111,1 «• 

tou t lo 4. 'UJ'8> Oo» Mlro,«M tt- 
y.roin pr.r*r pw>« “ ,m °“ l " 
rou-mo .obro o.u colrira eolro dou. 
oapoUio.. 0 ilouionio iU tfool» ..rí'- 
IU',0 o» cá.noU 4» ultiui. no»Jrm.«. 
E ,« «qu.tU rl M 4. q«0 c« CK«Mv., 
olu « n|'4., 4IU«r'n4o u vrMo, 
4' ino.tlr' « ootr«hoc'o4o oiw# 4o 
qoslcto. . »« • WS*» 1" 

tomava o baile poude mover-me. Kt- 
qnei * Burai*i*«.— Naw o u- 

gubre. •• 


fibra morta 


Doua capelbos opposto* que *e »• 
fleebím e n ellfl* Inllleirado# em pullida 
galeria interminável esmorecendo, fun- 
dindo-ae na aombral speclro* de mclun- 
cotia, o elflgie* do mUeria. doloroaaa 
iui*gena do meu eu «loloroao. A som- 
bra 1 como o passado o eomo o futuro, 
alternadamente. Eatrc oa dou* o ba- 
lanço angu*lio*o, cm que ancela a oa- 


Fibra morta. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 164, p. 3, 10 mar. 1888. 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


707 


53 


tenho horror a semelhante cargo. Aprel 
quê sido de sangue delegacia! ! D aqui 
em diante neubum cidudSo quererá 
tal incumbência com receio de que teu- 
teni explorar lbo o tecido adipóso. ou 
vetiQoar a pom-trabilidudo do seu tho- 
rux. por meio d» uma navalha, (aea, ou 
bala de revolver. 

Amos S';r padre, ..e... Acadêmico. 

Uma victima. digna de lastima, o 
Sr'. Capitão Penha. Imagino o leitor 
que o inda boje, oeste tempo, nfio mor- 
reram as manifestações 9 oleo... 

Ct Capitão Penha, uma verdadeira 
penha, 110 caracter e no coração, foi eo- 
Vi\r leuiente aggredido por uma horda 
de^ I nrbnro* que empregaram como 
arma de ataque 0 seu retrato a oleo... 
Pobre Capitão, exccllcute capitão I La- 
mento que 0 houvessem assaltada, mas., 
applaudo sinceramente a manifestação 
de' que fui alvo. 

ÓÊV£ 


ti A SERRA 


Bertha voltou-se sorrindo: 

— • Bem via que eras de minha opi- 
nião. Devemos ir ; não acua papao ? 

O velbo Rogério que não parecia 
muito satisfeito com ter que conde- 
cealer com este capricho, que o arrun 
cava nos seus commodos, apparecia 
comicamente por entre as grandes 
orfilbaa do um paciente burrinho, em 
qqã se escanchava 0 seu corpo de sexa- 
gtparin rbetiiyailco. 

A impassibilidade, de quo se revestia 
0 seu rosto pallido e pouco inteliigente 
perturbo n-se n’nm meio sorriso quando 
a fllba convidou-o para voltar ; sorriso 
que transformou-se n'uma careta mal 
di 5 {arçadé ao ouvir-lhe as ultimas 
pAlavras. 

Nio obstante, don do redoa a sua 
azemola e foi seguindo caminho da 
serra, acompanhado da cavalgada pit- 
tofesca. Ião silenciosos. A não ser, a 
longos íutervelloa. uma mnxima do 
vellto s proposito do que elle não dizia, 
nem ninguém pensava. 0 0 constante 
rui Jo .las patas dos animacs nas pedras 
do caminho, nada mais perlurbavs 0 
morno silencio da viagem, feita do- 
baixo de um sol de meio dia. 

Subião leutamente. O aspeolo gorai 
da montanha ia-se inodiBcando a cada 
ponto de vista. O que de longe, do fundo 
dcLvale, parecia um pequeno accldente 
confundido nas grande* linhas do eon- 
jUnclo, ern üe perto uma anfratuo- 
sidado escabrosa, um socavão me- 
donho, vertiginoso alcantil. 

Os viajantes s. ntião-so pequenos 30 
ps d'aquellss grandezas. O camiuho 
tortuoso serpenteava como bravia su- 
curiii. envolvendo nas suas multipli- 
cada í roscas os rochedos, as tocas, os 
precipícios; desapparecendo de súbito 
no despenhadeiro ; mergulhando no 
sombra densa do arvoredo ; repontando 
aqui e alli na fimhria da floresta, pnro 
alvejar por instantes no dorso das lom- 
badas, e perder se alem no fundo do 
valle. 

Ao chegar ao alto da montanha, uo 
coineç .’ de pequena cbapada, tiverão 
deparar uiu iustante para dar alento 
aos au-maes. A temperatara estava 
sensivelmeule outra. Soprava uma 


A SEMANA 


brisa fresca, quo acalmava as agitações j 
da penosa ascenção. Parados, volta- j 
r 3 o-se os viajantes para 0 lado de onde 
tinbSo vindo. 

Era janeiro. Apenas algumas chuvas 
havião caliiJo. A v ejetarão que co- | 
raoçsva a brotar vestis se de uus tons 
do vorle 0 cinzento, qu fazia contrasto 
com a folhagem seccn, de que se eobriA 
0 cUSo, destroços da vida quo passara. 
Andava ao ar 0 aroma doa renovos, 
sauduvel e refrigerante. 

A montanha se alongava para os 
lados como um grande arco. A' direita 
e a esquerda ostendin-so com seus pre- 
cipícios, seus despenhados, sens picos 
alcantilados, suas lombadas seme- 
lhantes ao costado do um monstro in- 
forme e desconhecido, que estacara no 
meio de sua carreira tomada de súbito 
petriftcnmento. 

Pela abertura, entre as duas extre- 
midades do arco, desenrolava-se uma 
poysagera maravilhosa. A inundação 
luminosa que enchia o valle. a mon- 
tanha, o céu, os toques de luz desiri- 
buidos por um sol de ifteio dia; a villa 
que se derramava lã baixo na planície; 
ao longe as lagoas q'assemelhão-se a 
bocados de leite cohl do sobre 0 manta 
varde da plauicio ooberta de um tcuuis- 
simo pó dj luz ,- alem as cristas relu- 
zentes dos brancos morros, a cinta uzul 
do mar.e os vastos sertões longin ]uos a 
escondorse gradualmento na sombra 
indocisa do horisonte pardo : — tudo 
isto, tocado de um caracter alpestre, 
selvagem, tinha um grandioso effeito 
imprevisto. 

Felippe ostava, junto de Bertha e 
admirava com ella a palsagom. Embor > 
crendo nas sorras, habii-ando aqueltas 
golpes de vista, sentia agora ao pé da 
formosa moça, uma sensação sadia e 
tonificante. 

Por iotervallos, uma nuvora branca 
atravessava 0 rio lançando sobre a 
montanha uma sombra fresca que se 
arrastava lentameuto para alem. 

L Alton E 


SCHERZQ 


De um cóu enliginoso entro a mono- 
tonia dos pardos tompestuosos surge 
de repente á evocação de uni accnrde 
fulgurante o divo Ariel doazns de ouro. 
Logo a sombra doa graves adoça-se 
rasgada por clarões e ao ribombar ter- 
rifico das coloras divinas soceede a can- 
tarola clara dos regatos e o gotejar dos 
pingos cry 8 tallinos e 0 incêndio das pe- 
drarias liquidas que o sol irisa nas 
frondes rorejantes. Canta Ariel pal- 
rando. A garrulice dos ninhos pupilla 
no eon canto - alleluia das alma* rtes- 
opprcseas dos terrores negros. Hymno 
ou canção, esperança e aspiração ou 
snudade.phrases de magoa e ardor.flau- 
tíis subindo dos gemidos ã vòz cantante 
doa clarins stridnlos, como uma fili- 
grana de luz sobre penumbra, encho o 
espaço intérmino a teia subtilíssima do 
sylpbo, cm notas de magia. Ha unt ir 
e vir do estr.-bllho em canto e echo que 
diz a agitação contente. 0 louco esvoa- 
çar de borboleta livro. Ar ! ha tanto ar 
e luz que 0 deiafogo da eterna, supre- 
ma libertação não serã mais beato 1 O 
abandono do espirito á delicia de goznr 
tem a recompensa da embriaguez ineffa- 
vel. Nomee cantantes, syllabns sonoras, 
infinitos de verbos do acção vaga.a inar- 
ticulaç- 3 -* do desejo gagueja-me na 
mente. Na mesma nota a alma que 
canta suspira, lia uma gaze levíssima 
de melancolia attenuando o brilho ex- 
cessivo das notas puras. A harmonia 
faz véu. Em vez da faiseação dos dia- 
mantes a brancura fosca das pérolas se- 
renas. E a luz diffusa c claridade maior. 
No resplendor infinito passam trillos 
vivos, fugaces, como sobre lagos es- 
poihando u festa luminosa dos ma- 
nhães bandos de garças, que o sol 
nascente doura. Tão ftltns.tão sem man- 
ohas, claras no céu claro, a minha as- 
piração von com ellas e funde-se no 
nirvana de luz. Sinto me menos, redu- 
zido ao presente, alijado de memórias, 
simplificado e dividido para as sensa- 
ções subtis. Sou pluma voando ao ven- 
to, voluptuosa, sou poeira doirada vo- 


ESTANCIAS PHII.OSQPHICAS 

( DO ÁLBUM DE UM PESSIMISTA ) 

IV 

A pragmatica real do despotismo culto 

prescreve, entre milhões de uormas que defino, 

que diante d'El-Rei o sublito se incline, 

porque um diminuindo, o outro assume mais vulto. 

Tu, UbcrdAde, niol Planeta sempre novo, 

tens 0 engaste no céo da consciência humana; 

por isse^ a tua luz serena e soberana 

so eleva tanto mais, quanto mais alto é um povo! 

V 

Dtsse 0 sublime Mestre (antes nunca 0 dissessol): 

«Não saiba a mão sinistra os bens que a dextra presta.» 

Veio a Phitanthropia 0 para ser modesta, 
com a mão direita occulta em publico apparece. 

Dissoste-o mal, ò Christo : a caridade ufana 
de renome melhor derrama os bene 6 cias ; 
mas quizeste riscar do nnmero doa vicios 
cm prol do bemfeitor, a ingratidão humana. 

AUGUSTO DE LIMA 


litnndo na valsa aos raios do sol, sou 
ainda menos, luz ou vibração 0 vivo na 
voz do Ariel. E para que eu viva elle 
nfio so calla 0 mago ilicma.osylplio tri- 
umpliantti. 

Anmrello palha com toques do rosa 
0 bordados arabescos om carmim vivo 
subindo da cintura ao colarinlio vcs- 
ti iido- lhe 0 pescoço esguio 6 0 cor- 
pete do pianista e d'ello nasce a seduc- 
ção da musica- As notas do piano vi- 
bram soltas o elle as liga & feição das 
suas linhas de harmonia. Quando ha 
linha e cor e relevo só o movimento 
faltã. E cada gesto da mulher qu* sen- 
te so bella é um poema. Em cada um 
d'elles a mestria que não sc ensina. 
Deixei de virar as paginas paru admi- 
ra-la. Logo a seguinte terminava em 
compassos de espera para a c-querda. 
A graça com que inoveu-sè aquslla mio 
pallida, lenta, virando e alisando n pa- 
gina esperando 0 instante do ataqno 
brusco ao fim de hnrpejos morrentes... 
Graça typica, uSo indivídua). DeGeor- 
gina adoro esse não ser bella em si mas 
evocar bellezas. Como as formosura» 
raras ella tem as grandes linhas clas- 
aicaa, correctas, impossoaes. Mas fal- 
tam-lhe os traços menores, as inflexões 
que fixam nma individualidade. Ser 
filha de artista, de um amoroso da fôr- 
ma em belleza múltipla, nascer entre 
pinturas e sonhos de plaulica ideal, 
crescer brincando com estam pas, con- 
templando estatnas, embeber-se de ro- 
mantismo esthetlco ã força do viver no- 
artirieio, talvez expliquo esta repre- 
sentação constante do mulheres que 
não são ella. Seria assim a actriz que 
cu sonhei. Piauista. ella lembraria a 
vlsiio de Cbopin moribundo. Cantora, 
declamando, 0 seu gesto variaria da 
mollezü enhiçanto dos idyllios á re- 
pulsa apavorada de Lady Macbeth. E. 
quando como agora no descanso de 
compassos fuceis cila faz os olhos re- 
dondos para fascinar-mc, nesito enlre- 
Leonnrdo de Vinci e Dalaroclie. Mas 
como te engnnas commigo, Georginal 
Musica és tu, maravilhosa sonata 1 Dsv 
ponta dos teus pes movendo- se eonti- 
nuamento em roforços e abafainoutoa 
de som aos anneis revoltos do teu ea- 
bello, onde a luz scintitla, ha ph rases 
infinitas de uma harmonia unira. Sò 
tu me facilitarias a evocação rebelde. 
Agora tecas om vão, dèmais... 

Chilros de insectos na solidão Jas es- 
pessuras sylvcstres ouvem-se mais que 
o clamor lerrivel de feridos subindo 
entre 0 estrondo dns batalhas. Um va- 
lor é uma relação. O que vale um tom- 
só pode dizel-o a opposição. Assim da 
luz. assim do som, assim om todo gra- 
duar de sensações. Em plona luz as 
brancuras opacas irradiando offuscam, 
e as transparências incolores atraves- 
sadas de claridade tornam-se iuvisi- 
veis. Ha um limite ao sontír. que eu 
attingi. D'ahi por diante 0 ouvido bal- 
; luciuado de Beetboven. Mais nma vez 
mo affligo a necessidade das sombras 
para a luz. Os nervos exhauslos vibram 
dolorosamente & volta insistente, irri- 
tante, do th«-ma em dez ou doze notas, 
todo nft e descorado, como um que volta 
daa illuaões. Em quinze paginas de 
musica as explosões (Iluminantes eea- 
sam e uma claridade crua e despoeti- 
rante moatra-me om fôrma dc morcego 
lugubre, de azas fuscas e luembrano- 
sas, 0 meu bymno do alegria e luz, 0 
ideal Ariel de azas de ouro. 

15 de Março. 

DOMICIO DA CAMA 


Scherzo. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 165, p. 58, 17 mar. 1888. 



708 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


SCKERZQ 


De um ccu caliginoso entro a mono- 
tonia dos pardo9 tempestuosos surge 
do repente A evocação de um accnrdc 
fulgurante o divo Ariel de azas de ouro. 
Logo a 9ombra dos graves adoça-se 
rasgada por clarões e ao ribombar ter- 
rífico das cóleras divinas snccede a can- 
tarola clara dos regatos e o gott*jar dos 
pingos crystallinos e o incêndio das pe- 
drarias liquidas que o sol irisa nas 
frondes rorejantes. Canta Ariel pai- 
rando. A garrulice dos ninhos pupilla 
no seu canto — alleluia das almas des- 
oppressas dos terrores negros. Hymno 
ou canção, esperança e aspiração ou 
saudade.phrases de magoa e ardor, flau- 
tas subindo dos gemidos á vòz cantante 
dos clarins stridulo9, como uma fili- 
grana de luz sobre penumbra, encho o 
espaço intérmino a teia subtilíssima do 
sylpho, cm notas de magia. Ha um ir 
e vir do estribilho em canto e echo que 
diz a agitação contente, o louco esvoa- 
çar de borboleta livro. Ar ! lia tanto ar 
e luz que o desafogo da eterna, supre- 
ma libertação não será mais beato! O 
abandono do espirito á delicia de gozar 
tem a recompensa da embriaguez ineffa- 
vel. Nomes cantantes, syllabas sonoras, 
infinitos de verbos de acção vaga, a tnar- 
ticulaçào do desejo gagueja-me na 
mente. Na mesma nota a alma que 
canta suspira. Ha uma gaze levíssima 
de melancolia attenuando o brilho ex- 
cessivo das notas puras. A harmonia 
faz véu. Em vez da faiscação dos dia- 
mantes a brancura fosca das pérolas se- 
renas. E a luz diffusa c claridade maior. 
No resplendor infinito passam trillos 
vivos, fugaces, como sobre lagos es- 
polhando a festa luminosa das ma- 
nhâes bandos de garças, que o sol 
nascente doura. Tão altas, tão sem man- 
chas, claras no céu claro, a minha as- 
piração voa com ellas e funde-se no 
nirvana de luz. Sinto me menos, redu- 
zido ao presente, alijado de memórias, 
simplificado e dividido para as sensa- 
ções subtis. Sou pluma voando ao ven- 
to, voluptuosa, sou poeira doirada vo- 


mOSQPHICAS 


litando na valsa aos raios do sol, sou 
ainda menos, luz ou vibração o vivo na 
voz do Ariel. E para que eu vivaelle 
nâo so calla o mago ihema.ò sylpho tri- 
umpltanu. 

Amnrello palha com toques dc rosa 
o bordados arabescos om carmim vivo 
subindo da cintura ao colarlnlio vcs* 
tindo-lhe o pescoço esguio d o cor- 
pete da pianista e d'ello nasce a seduc- 
çào da musica. As notas do piano vi- 
bram 9oltas e elle as liga á feição das 
suas linhas de harmonia. Quando ha 
linha e cor e relevo só o movimento 
falta. E cada gesto da mulher que sen- 
te-8^ bei l a é um poema. Em cadn um 
d’elles a mestria que não sc ensina. 
Deixei de virar as paginas para admi- 
ra-la. Logo a seguinte terminava em 
compassos de espera pnra a o>querda. 
A graça corri que moveu-sà aquella mão 
pallida, lenta, virando e alisando a pa- 
gina esperando o instante do ataque 
brusco ao fim de harpejos morrentes... 
Graça typica, tmo fridividuuj. De Geor- 
gina adoro es9e não sor bella em si mas- 
evocar bollezas. Como ag formosuras 
raras ella tem as grandes linhas clás- 
sicas, correctas, impessoaes. Mas fal- 
tam-lhe os traços menores, as inflexões- 
que lixam nma individualidade. Ser 
filha de artista, de um amo roso da fôr- 
ma em belleza múltipla, nascer entre 
pinturas e sonhos de plastica ideal, 
crescer brincando com estampas, con- 
templando estatnas, embeber-se de ro- 
mantismo esthetico á força de viver no- 
artiõeio, talvez expliquo esta repre- 
sentação constante do mulheres que 
nâo são ella. Seria assim a actriz que 
cu sonhei. Piauista, ella lembraria a 
visão de Chopin moribundo. Cantora, 
declamando, o sou gesto variaria da 
molleza enlaçante dos idyllios â re- 
pulsa apavorada de Lady Macbeth. E. 
quando como agora no descanso de 
compassos fáceis cila faz os olhos re- 
dondos para fascinar-me, nesito entre- 
Leonardo de Vinci e Dolaroche. Mas 
como te enganas commigo, Georgina! 
Musica és tu, maravilhosa sonata! Da 
ponta dos teus pés movendo- se eonti- 
nuamento em reforços e abafamentos 
de som aos annei9 revoltos do teu ca- 
bello, onde a luz scintilla, hn phrases 
infinitas de uma harm mia unica. Só- 
tu me facilitarias a evocação rebelde. 
Agora tocas ein vão, demais... 


Chilros de insectos na solidão das es- 
pessuras sylvcstres ouvem-se mais que 
o clamor terrível de feridos subindo 
entre o estrondo das batalhas. Um va- 
lor é uma relação. O que vale um tom- 
só pode clizel-o a opposição. Assim da 
luz, assim do som, assim em todo gra- 
duar de sensações. Em plena luz as 
brancuras opacas irradiando offuscam, 
e as transparências incolores atraves- 
sadas de claridade tornam-se invisí- 
veis. Ha um limite ao sentir, que eu 
attingi. D’ahi por diante o ouvido liai* 
lucinado de Beethoven. Mais nma vez 
me affligo a necessidade das sombras 
para a luz. Os nervos exhauslos vibram 
dolorosamente à volta insistente, irri- 
tante, do thnma em dez ou doze notas, 
todo m\ e descorado, como um que volta 
das illusões. Em quinze paginas de 
musica as explosões illuminautes ces- 
sam e uma claridade crua e despoeti- 
rante mostra-me ein fórma de morcego 
lugubre, de azas fuscas e membrano- 
sas, o meu bymno do alegria e luz, 0 
ideal Ariel de azas de ouro. 

15 de Março. 

DOMICIO DA GAMA 


Scherzo (detalhe) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


709 



Era o tempo de secca, pelos fins de agosto. Fumaceira azu- 
lenta envolvendo os montes, sóes vermelhos ao amanhecer, violetas 
á hora do crepúsculo, e um calor incommodo atravessado por bafo- 
radas suffocantes, como de queimadas perto, o mal-estar das brumas 
quentes dos tropicos. 

Por pouco que se trabalhasse durante o dia, no serão da prosa 
costumada havia quasi silencio agora. A mesma fadiga que que- 
brava os corpos para a acção tolhia as linguas para a palestra. 
Frases raras, espaçadas, entreabrindo a porta a scismas \agas, en- 
saiando conversas sem assumpto, passavam como um \ òo na som- 
bra, deixando no minuto seguinte a sub-memoria apenas, a realidade 

indefinível de musica imaginada em s%nho. 

E não se pensava: sentla-se, rememorava-se. Nos braços fati- 
gados um retorcimento de musculos evocava o bonito laço jogado a 
um boisinho vermelho no Campo Grande e o esticão da mula \ ol 
tando na espora, fazendo praça ao outro laçador; nas pupillas dila 
tadas na escuridão um clarão nervoso, reflexo da aza tremula de 
algum morcego que volita, de folha de palmeira que apanha a luz 
de uma cstrella ou a phosphorescencia de um vagalume errante, 
seria o vòo de garças brancas que se levantou da beirada \ er e 
barulhada dos cavalleiros atravessando o rio logo de manhanzm a. 
E a repercussão, que fica na cabeça, das longas galopadas do i< 
lida marcava a cadencia na memória do ultimo sapateado na 

d ° Ca P Íta °- TOMO XH — 1897 

21 


Moloch. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano III, t. XII, p. 321-326, out.-dez. 1897. 2 


2 O conto em questão encontra-se reproduzido (por meio de transcrição) na tese de Borges 
(1998). Dada, porém, a importância do mesmo na obra do autor, torna-se lícito reproduzir 
neste anexo sua reprodução digitalizada (extraída da Hemeroteca Digital). O mesmo caso 
ocorre com o conto incluído a seguir, “Os olhos”. Diga-se de passagem, uma razão ulterior 
para tais reproduções é a de evidenciar o diálogo de suas respectivas análises na presente 




710 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


322 REVISTA BRAZU-EIRA 

Em tudo isto nada de preciso ; era como si a Noite entras se 
com o ar quente pela alma a dentro e cortasse de sombra a clareza 
e o destino dos pensamentos em formação. I ma inquietação 
vaga, no emtanto : a expectação de coisas que se não devem 

esperar. . . 

Xaquella noite pelas sete horas ouvia-se até a mansa voz do 
mar ao longe rolando na praia, suspirando, resomnando longamente. 
Em peito sentenciou : 

— A aguado mar ’stá fria. A secca vai adiante. 

E outro commentou : 

— Deus nos guarde! Os pastos já são só palha secca. Uma 
fagulha que venha accesa entre o cinzeiro que vôa das queimadas 
lá para dentro, e o campo vai-se embora. 

Caiu de novo o silencio, como uma noite maior na noite es- 
cura. Uma coruja que uivava calou-se. Um tropel de cavallo muito 
longe abafou-se na volta do caminho. Só ficaram os rumores ima- 
ginosos do silencio, deformados por interpretações do ouvido hallu- 
cinautes : suspiros profundos, quasi gemidos, como de orgãos soando 
nas alturas ; notas perdidas de cantos que a memória recompõe; 
frases quasi inteiras moduladas num sussurro suave de aria can- 
tada a menos de meia voz, a cochichar baixinho, mas afinada como 
a imaginação sabe afinar pela harmonia interior ; cadencias joviaes 
de castanholas começadas pelas folhas seceas rolando no chão 
duro do terreiro: um curto ecomo indeciso chocalhar de guizos de 
esperança alvoraçadaao bafejar da aragem e, apagada, esmorecida, 
parecendo vir de léguas dé distancia, exhalaçáo sonora, colhida 
na aza preguiçosa do vento, uma longa e plangente nota de can- 
tiga de amor ou de trompa entoando na solidão o lamento impreciso 
da Melancolia. 

Deitado sobre uma esteira ao longo da escada e com a nuca 
apoiada no ultimo degrau eu cansava os olhos procurando no céu 
fuliginoso o lugar das estrellas costumadas. Depois fechava-os, para 
melhor sentir no rosto, ou morno ou refrescante, o hálito amoroso da 
Noite soberana. E era como um morrer suave, um gozo sem es- 
pasmb, essa imbibição voluptuosa pelo quasi esquecimento de sentir, 
pela sombra aquietante ; era, com a diminuição da percepção gros- 
seira das coisas, um enternecimento por tudo o que me fazia e me 
queria bem, qucPà&T então não percebera, pela Natureza, mãi 


Moloch (continuação) 


pesquisa com os textos originais. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


711 


MOLOCn 323 

amantíssima, pela vida daquelles peães e tropeiros, homens de outra 
lida, meus companheiros por uns tempos, meus irmãos por origens 
e destino, meus irmãos pelo sentir talvez, pelo desconhecido en- 
chendo a tréva e fazendo palpitar com a sagrada oppressão o meu 
corpo joven, torte, elástico, em que o sangue corria com o impeto 
tranquillo de uma caudal serena, dando-me pela intuição da força 
disponível o orgulho de viver. Depois eram uns eclipses iueffaveis 
da energia, alternancias de receios infundados com accessos de 
confiança que nada justifica, minutos em que nem tormentos dò 
passado, nem anciedade do futuro, nada me vinha enturvar as cla- 
ridades da alma capaz de sentir a vida intensa e pura, a essencia 
das coisas desprendida delias, a realidade fóra da materialidade do 
facto, capaz de entender a physionomia moral dos seres de menor 
vida, na contemplação quasi divinatória do Universo, e logo, no 
abaixamento dos vòos vertiginosos, a attracção, o pavor divino dos 
abysmos devoradores. Hyperesthesia, persentimento, presentimento 
— o maximum da tensão. Uma arcada mais forte me estalaria as 
cordas. 

As palmas dos coqueiros sussurraram, a encosta dos alecrins 
bravos clareou um pouco, e o vento do nordeste começou a soprar, 
mas frouxamente e sem frescura. 

Por traz do Mato Grande surgiu uma nuvem avermelhada, pa- 
recendo reflectir um clarão. 

— Será o fogo? indaguei. 

— Qual fogo, Xhosinho ? 

Não respondi. A minha pergunta completava uma creaçáo ima- 
ginaria de incêndio colossal, as chammas invadindo toda a atmos- 
phera, e nós vivendo entre ellas como salamandras contentes, ra- 
beautes, infatigáveis — suggestão da tepidez do ar, da seccura das 
matas e dos campos, dos receios de incêndio, e também de estar 
deitado muito tempo na mesma posição . 

Um cavalleiro, que vinha subindo o morro, bateu a eancella do 
terreiro e, chegaudo-se, deu as boas noites. Era o Chico Lopes, que 
mesmo antes de se apeiar noticiou : 

— O fogo já pegou lio mato da Fazenda \ ellia. 

De qm salto puz-ine em pé. 

— Vamos ver João Pedro ? 

E corremos a encilhar os animaes. 


Moloch (continuação) 




712 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


REVISTA BRAZILEIRA 

Dez minutos depois estavamos abaixo da ladeira e metíamos 
„s cavallos num meio golope de sosmntar. De lá de cima a vos do 
Chico Lopes recommendou : 

_ Pela restinga, Nhosinho ! Por dentro já não se passa. . . 
Deixamos a estrada a léste e tomámos 0 atalho para 0 sul. 
A nuvem que tinha crescido e occupava agora grande parte do ceu. 
nos clareava 0 caminho com 0 reflexo do incêndio. Ao avistar a 
lagoa tive um estremeção : nos lugares livres da sombra dos morros,, 
a oeste e para 0 mar, ella parecia suja de sangue, do sangue 
daquella batalha, cujo estrondo já nos chegava indistmctameute 

aos ouvidos. . ^ _ . 

— O foeo vem berrando, disse 0 camarada. Do Sambaquy se 


ha de ver. 

Demos redea aos cavallos. Sobre 0 chão elástico, húmido c 
sempre coberto da herva raiuda da beira dagua, as oito patas de 
ferro do Castanho e do Anum cadenciaram 0 galope que embriaga. 
Junta á quasi sem-razão da nossa sortida, começada na excitação 
de um primeiro impulso e ao fantástico do scenario illuminado 
pelo clarão vermelho, aquella corrida veloz e silenciosa acabava 
de me desvairar. Puz-me fóra de mim, para me encarnar em ca- 
valleiro heroico de legenda. E estribando-me forte, a musculatura 
preparada para 0 mando dos nervos excitados, os joelhos como te- 
nazes, apertando 0 arção, 0 tronco erecto um pouco para a frente, 
todo em peito e cabeça, queixo cerrado e olhos fixos, respirando 
curto, experimentei a rara sensação do primeiro movimento de uma 
aggressão prolongado. A imaginação deformando e multiplicando 
sons e visões fazia-me sentir a arrancada de um esquadrão me 


acompanhando. 

Corri, corremos não sei quanto tempo ; passámos 0 Sambaquy, 
costeámos a lagoa a léste, transpuzemos 0 yallado do Fundão e, 
afrouxando 0 passo, subimos a lombada, para ganhar 0 caminho da 
terra firme. De baixo já as arvores mostravam as grimpas tocadas 
de purpura, de carmim, de ouro candente, da reverberação do fogo 
proximo. No alto 0 cavallo estacou de repente, com as orelhas fitas 
e sacudimentos de espanto, querendo recuar. A luz cegava. < > que 
se via primeiro era só fumo e sombra. Depois a avançada do fogo, 
sinuosa e deslumbrante, como uma maravilhosa franja viva que 
arrastasse sobre a terra 0 manto da treva infinita. No céu entre 


Moloch (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


713 


Moi.ocii 325 

os turbilhões de fumo desappareciam as estrellas. Os lugares de 
faxina abundante se conheciam pelo alteiamento súbito, quasi 
explosivo, da chamma clara e viva. Grandes fagulhas arrebata- 
das pela tiragem do incêndio abatiam-se em elegantes parabolas, 
ateiando novos fócos mais longe. A cem passos de nós um gra- 
mado resequido ardia rapidamente aos arrancos caprichosos do fogo 
cujas linguas fuzilantes pareciam lamber a terra, encarniçando-se, 
muna ancia devoradora. Pelo grotão escuro do Palmital a labareda 
rugidora se estendia, como uma cachoeira que subisse, ardente e 
furiosa, divina de espanto. Para o liorisonte ao norte, os vultos 
sombrios dos montes escorrendo em brazidos sanguinolentos eram 
como os cadaveres de desmedidos elephantes carbonizados. E além, 
além seriam negrumes mortuários, solidões pavorosas, a desolação 
da passagem devastadora do Elemento.. . 

O meu cavallo atirou-se num salto para o lado : vi um vulto 
de animal que fugia. Outros ramalhavam na espessura. Filhotes de 
passarinhos piavam. E uns silvos curtos, que se ouviam entre a 
crepitação do incêndio como o tinir de crystaes se quebrando, se- 
riam as cobras ou a lenha verde chiando. Mas, refrescando o vento 
attraido pelo brazeiro immenso, a roncaria do mar de fogo dominou 
em breve e absorveu os rumores secundários. De envolta com as 
baforadas asphyxiautes vinham ondas de aromas singulares, pei- 
furnes exquisitos, innaturaes, lembrando outros scenariqs, exha- 
lando-se daquella infernal caçoula ás lufadas alternas de frescas 
flores dos campos com resinas inebriantes ou emanações animaes, 

mais quentes, mais pesadas ainda. 

Eu entoutecia, como entre a fumarada dos altares o levita an- 
tigo. Já olhava sem ver, já me sentia perdido, fascinado pelo ele- 
mento destruidor. Invadiu-me o espanto que determina a adoração. 
Uma contracçáo horrível estreitou-me o Intus, esmagou-me, tritu- 
rou-me, humilhou-me, o calafrio supremo quebrou-me as resis- 
tências para a morte. Vi um clarão immenso lodear-me, ou\i como 
de muito longe a voz de João Pedro, gritando, espavorido: 

— Estamos cercados! Pela vargem, emquanto é tempo, a 

t0da Larguei as redeas, levei as mãos á cabeça e me abandonando 
á disparada do cavallo. com um grito de mateiro na derrubada, ogo 
mudado em ulular de louco, grito de terror, grito de alegria, hurra i 


Moloch (continuação) 




714 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


\ 


326 REVISTA BRAZILE1RA 

modulado em lamento, ferindo-me a garganta resequida, grito que 
se niío solta duas vezes, deixei-me tragar pela estrada feita em 
guela de chamma, a bocca esfomeada de Moloch. 

Quando apanharam o cavallo d’ahi a meia legua, ainda eu es- 
tava dobrado sobre a sella e tinha as m&os crispadas á volta do 
pescoço e a cabeça collada tis crinas chamuscadas do cavallo. Dos 
cantos da bocca convulsa escorria-me a espuma ensanguentada. Os 
olhos tinham olhado . E a visão terrífica os extinguira. 

Domicio da Gama 



Moloch (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


715 


OS OLHOS 


Alguns palmos de terra escura e morta, da terra sinistra 
das sepulturas, guardam agora o corpo para sempre immovel 
daquelle a quem em vida mal bastava a largueza dos mares 
infinitos ! Lá o deixámos no ultimo abandono, entregue ao 
osculo faminto, á sucção formidável da terra recobrando a ma- 
téria que lhe roubara aquelle corpo robusto e incontentavel . . . 

Scismando na dissolução que começa do morto amado, a 
amargura da minha saudade se aggravava de uma piedade 
lancinante, de uma tristeza esmorecedora, pela expressão quei- 
xosa que tomou o seu rosto quando se desfranziu das espan- 
tosas contracções da agonia, quando se lhe fechou a bocca 
para sempre muda, quando se abaixaram os seus sobríHhos arre- 
gaçados e convergentes no espasmo desesperado das mascaras 
da Dòr na tragédia antiga. Parecia que iam desapparecer na 
serenidade augusta da morte os últimos vestígios da luta su- 
prema, mas no rosto emaciado do lidador vencido ficou a 
contracção labial e a ruga entre os olhos, expressão posthuma de 
um descontentamento doloroso. E os olhos olhavam .. . Olhavam 


Os olhos. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano IV, t. XIII, p. 72-78, jan.-mar. 1898. 




716 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


OS OLHOS ‘ a 

como vivos — fixamente, pasmos, porém vivos — pela ja- 
nella aberta olhavam a orla extrema do mar com o ceu, e 
se enchiam de luz, accendendo-lhe as pupillas sombrias um 

brilho vago de diamantes negros. 

E, reprimindo os soluços na garganta, que cerrava uma 
ancia atroz, uma Curiosidade angustiosa, insensata, me inclinara 
palpitante sobre aquelle longo e tenebroso olhar, espelho turvo 
reflectindo o horizonte inaccessivel do Mysíerio. No latejar, das 
fontes martelladas de agonia, no surdo galopar do sangue 
atravez do cerebro abrazado, no sôpro ardente de demencia 
que me inchava o craneo, eu ouvia uma voz cruel me se- 
gredando que era o apego á vida o que illuminava de sau- 
dade aquelles olhos, que era o pavor da decomposição, o 
horror sobrehumano do aniquilamento irrevogável o que pas- 
mava aquella face dolorida e convulsa, sem lhe permittir a 
serenidade da resignação . 

Tanto me embebi na contemplação desse rosto desespe- 
rado, que não pude mais evocar a grata lembrança da sua 
physionomia dos bons dias. Era então, á volta das viagens, 
o contentamento da alegria dos seus, a bocca loquaz desa- 
brochada em riso e uns olhos claros de sol, cheios de bon- 
dade e de affeição. Agora é a desolação infinita do seu 
derradeiro gesto, é a projecção terrífica daquelle olhar de 
expressão obscura, de uma profundeza temerosa, escrutando na 
morte mais que em vida, é uma obsessão torturante, a insana 
indagação do raio de luz perdido, rasgando a treva sem fim! 

Na escuridão da noite, que caira de todo sobre o humilde 
cemiterio dormindo em frente ao largo mar deserto, levan- 
tei-me por fim alquebrado e tropego e, tomando o mais longo 
caminho, desci, buscando a praia. Desceu commigo no far- 
falhante bater d'azas do delirio o meu sinistro bando de abutres 
familiares. Numa vibração profunda de todo o ser longamente 
afinado pelas horas cruéis de soffrimento desenrolou-se ante os 
olhos do meu espirito o lugubre cortejo das misérias sentidas 
ou vividas em reflexo : recordações avivadas de penas que dor- 
miam esquecidas, gemidos e suspiros de prantos sem consolo, 
paginas negras e ensanguentadas do livro da vida, imagens das 
fôrmas horríveis que reveste a Dôr para o tormento sem tregoas. 


Os olhos (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


717 


74 REVISTA BRAZILEIRA 

gestos supplicantes e trágicos olhares miseráveis, aloucados na 
Afflicção suprema, a queixa imprecisa, a fadiga da vida idealizando 
em horror os negrumes informes do não-ser. 

Para os meus sentidos allucinados começa a povoar -se a 
■solidão tenebrosa de visões fugitivas e indistinctas — sombra 
sobre sombra. Entre ellas vejo passar cabeças de suppliciados, 
lançando-me um olhar de fogo. Agora um ventre rôto, de en- 
tranhas soltas, embaraçado, n'uma agitação convulsa como de 
um pânico em ninho de serpentes e logo um esqueleto nú com 
a cabeça intacta, viva, carnuda, e os olhos fixos, attentos olhando... 
Um panno de sombra se define n'um dominó e, vasio, mas 
animado pela alma das coisas, vai dansando pelo ar em con- 
t-orsões frenéticas, jovial e sinistro. Uma cabelleira sôlta, ser- 
pentina, ondeia mollemente. Azas perpassam invisiveis. Ergo 
a cabeça de repente : uma mão monstruosa, enchendo o espaço» 
desce sobre mim, recurvada em garra desmedida. Corre-me o 
•corpo um tremor de febre, lufadas de um calor infernal dei- 
xam-me alagado em suor frio. Linguas de fogo em côres carre- 
gadas fuzilam sombriamente. Sinto-me só na treva inimiga. Por 
cima do estrondo da minha cabeça percebo um silencio esma- 
gador ; e a garganta cerrada e a bocca resequida me impedem 
a voz. Tenho os olhos como duas brazas. Debruço-me sobre o 
mar : na sombra ondulante a ardentia accende a espaços um 
clarão vago — o olhar torvo e triste do abysmo. Então me 
vence a obsessão : uma angustia sem nonje me domina e desfal- 
lecido, abandonado, morto, afundo-me na vida irreal, e me 
deixo arrastar ás regiões em que o Indefinido cambiante se 
cristalliza em sonho3 enganadores, compondo o substratum vacil- 
lante da vida, que é a instabilidade. 

Leva-me o mar sonoro, cantando o hymno eterno, de es- 
trophes infinitas. O movimento é musica — a harmonia dos 
mundo3, e dentro delia rólo, nota perdida buscando a par. Na 
immensidade do espaço, na eternidade do tempo vou colligindo a 
sciencia com que entenda a vida. As vozes sôltas, inarticuladas, 
incomponiveis, fóra dos limites das vibrações audiveis, ligam-se 
e afinam-se em mim, tornado em centro de resonancia do uni- 
verso. Desde o segredo da vaga coxixado ao ouvido até ao 
clamor dos turbilhões raivosos, escuto e entendo a voz do mar, 


Os olhos (continuação) 




718 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


OS OLHOS 75 

que é a Historia. Mas, fóra da correcção lógica do raciocinio 
commum, na anormalidade psychica em que a sensação deixa de 
ser o logarithmo da excitação para se revelar como explosão 
sensitiva, que qualquer faisca produz, ou seja esta benefica 
scentelha ou raio fulminante, mas, desapparecendo a perspe- 
ctiva interna que distribue os factos por planos graduaüvos de 
apreciação individual, achei-me embaraçado para decidir e pre- 
ferir o que mais valesse attenção. Tolhia-me a escolha a apre- 
sentação dos factos agglomerados todos no mesmo plano, pela 
falta do critério perspectivo. E, então, como todos falassem 
juntos e num mesmo tom e timbre abstractivo se revelàs3em 
de igual valor, as interferências e neutralizações mutuas me le- 
vavam a interessar-me tanto pela batalha de Actium como pela 
pescada frita que vinha no anzol de Marco Antonio. Pelos olhos 
de Cleópatra, sim, por aquelles olhos sumptuosos, pintados e 
ornados como os de um idolo, senti-me estremecer. Eram fulvos 
e oblíquos, como os da panthera, e pela expressão pareciam 
negros. O enigma da alma espiando por elles nem no abandona 
amoroso ella deixava decifrar. No fundo das pupillas tenebrosas 
ás vezes um bater d’azas convulso, uma breve luta, e logo a 
-calma, a serenidade irónica da victoria facil. A hora do áspide 
fatal ella ainda os volveu no reviramento supremo... Mas já eu 
estudava, inquieto, as luxuriosas cadencias do ventre de Salomé 
dansando em frente a Herodes. E do seu prato de prata os 
olhos mortos do Baptista também vinham olhando... 

Depois o mar de sons fingiu a grita, o estrondo, o 
clangor das buzinas dos barbaros renovadores. Ouvi os gritos 
terríveis, os clamores das matanças, os lamentos das mulheres 
violadas, o tropel do cavallo de Atila. Desdenhei de Atila, 
philosophicamente, achei miserável o flagello de Deus, e, num 
tedio olympico pela inútil renovação da face das coisas des- 
prendi-me da contemplação concreta para deixar-me fundir no 
absoluto categórico. A consciência obscura de poder explicar 
a mim mesmo o universo me distrahia delle a attenção como 
de coisa sabida ou sem interesse por muito clara. E como 
deus omnisciente e omnipotente e portanto desdenhoso do 
saber e de querer, só eu me interessava a mim mesmo 
Cerrados os sentidos ás exterioridades importunas, contemplei 


Os olhos (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


719 


70 REVISTA brazileira 

o meu umbigo virtual para me absorver no Nirvana. Só eu 
era mais profundo do que o universo, que refiectia toda sua 
vida, e mais obscuro. Tão obscuro que no interesse de bem 
me conhecer, conforme ao preceito ephesico, tirei um olho da 
orbita, para mirar-me. Deslumbrou-me o clarão que irradiava. 
Era uma chamma de ironia picante, como si a hypothese de 
Newton se verificasse e a luz emittida por aquelle foco fosse 
de agulhas dolorosas. Era vivo o olho, movia-se, viscoso e 
molle, e, escorregando entre os meus dedos, caiu no mar. 
Com elle ia metade de mim. Arrojei-me atraz delle. Mas do 
espirito de insubmissão e rebeldia também partilhava aquella 
alminha visual. Mergulhou fugindo e se afastou entre as arden- 
tias do largo até que se sumiu na escuridão sem fim, e eu, 
diminuído de energia, com lagrimas me ardendo na orbita san- 
guinolenta e vasia, assentei-me para assistir, a festa millenaria 
do mysterio da vida entre a expectação apavorada das coisas. 

Era sempre a Noite, a Noite prenhe de horrores, o 
fecundo ventre de assombros. A treva para mim era a patina 
dos séculos, a superposição de camadas infinitas do negrume 
eterno. Ao principio nada, o vasio tumular. Depois se abriu um 
dubio clarão vermelho, um reflexo talvez da minha orbita 
ensanguentada e lamentosa como uma viuva tragica. Appare- 
ceram muralhas, pylones colossaes em galeria, cantos de rocha 
cyclopicos formando base a alguma desmedida abobada, brutaes 
cadeias de bronze conjugando fustes de columnas, cujos pe- 
destaes e capiteis se perdiam na sombra e, phosphorecente, 
com eclypses e reapparições teimosas, uma inscripção lapidar, 
cuneiforme, runnica, coptica ou phenicia, que eu não queria 
entender e á qual o meu olhar voltava sempre, legenda su- 
ggestiva da Revelação suprema. Em torno o véu negro da 
sombra se adensou, tonalisando em mysterio o scenario ritual, 
pannejando solemne, religioso, como um tabemaculo infinito. 
Entre o vago borborinho como de uma multidão coxixando, 
estrondou de súbito a musica sem nome das excitações sa- 
gradas, rithmando em cadencias caprichosas o conjugar das 
formas . 

No campo de luz incerta e turva, emergindo do mar de 
treva para logo mergulhar nelle, passou primeiro o turbilhão 


Os olhos (continuação) 




720 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


OS OLHOS 77 

dos proteicos, desfilaram as theorias genesicas dos seres que só 
a fecundação fixa, desenrolou-se o tropel sem fim dos germens 
indecisos e o ar ficou saturado de vida disponível. O canto 
genethliaco das creações informes se definiu e humanizou : sob 
a furiosa celeuma dos galopes copulativos começou-se a ouvir 
a íyrica suavíssima dos amores subjectivados. A differenciação 
especifica figurou na poesii, que era aquella musica, varia- . 
dissima e una no entanto, multiplicidade de estimulo3 e destinos. 
Mas sempre um só vi eu: ao látego fatal do sàcro cio, o 
impulso irresistível para a fecundação universal, até á attracção 
e conjugação dos mundos. E o movimento vertiginoso se 
fazia com o estrondo ensurdecedor, combinação de vozes e sons 
a que o ouvido se acostuma como aos grandes rumores da natu- 
reza. De repenti calou tudo como a uma pausa súbita de orchestra, 
fez-se um longo silencio anciado, e a Grande Femea entrou. II- 
luminava-lhe a face de esphynge o clarão oblativo dos amores e 
os olhos de pedra, fixos, terríveis, chamavam. A figura gigantesca 
ainda se engrandecia com a sombra, que lhe fazia leito e véus, 
lhe prolongava o corpo, era-lhe talvez o ventre fecundo, ger- 
minante. Em torno delia dansava em ronda sinistramente ridícula 
um bando de innumeraveis olhos soltos — metades de individua- 
lidades, aloucadas, sedentas, incontentaveis . 

Um só grito, um bramido unisono resoou entre os meus 
similhantes, e todos nos arrojámos para buscar o nosso comple- 
mento, que também lá via o meu. Carreira torturante de desejos 
vencidos, em que cada passo era um tropeção, vacillava sobre o 
chão infirme calçado de ossadas, e as quédas de encontro aos 
despojos de morte eram mortaes. Muitos lá não chegavam, á 
volúpia lethal . Os outros, attrahidos, esmagados contra o seio 
de pedra da divindade insaciável davam-lhe o alento extremo e 
eram lançados fóra, expremidos, vazios, mortos. Olhei então 
para a inscripção agora flammejante e delia aprendi que para fe- 
cundar a Natureza todos os germens são reclamados e que a 
morte deve seguir a fecundação naturalmente, por causa do dua- 
lismo Mors-Amor. E vi que a treva pululava de seres e vi que 
em todas as femeas a physionomia de attracção era obscuramente 
similhante á da figura terrível, e contra ella investi num arranco 
de odio ou de amor. 


Os olhos (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


721 


73 REVISTA BRAZILEIRA 

Tombsi de bruços sobre o rochedo áspero e despertei. R 
caminhando pela praia afóra, ainda assombrado e sem poder dis- 
sipar 03 fantasmas importunos, com um terror introspectivo, 
vagamente me lembrava de ter lido algure3, em Shakespeare ou 
na inscripção ritual, que sobre a urdidura tenuíssima do sonho se. 
tece a nossa vida. 

* Domicio da Gama \J 


Os olhos (continuação) 




722 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



UM COSMOPOLITA 


extemo-nos aqui. Vamos vir passar 
os conhecidos. 

— Os seus conhecidos. 

— E os seus, talvez... Pprquc che- 
gou hontem, imagina que não co- 
nhece ninguém cm Pariz ? Vae vir 
que sim. Isto aqui é uma encruzilhada do mundo: quem 
anda pelas estradas durante annos, acalta conhecendo os 
tropeiros com quem viajou ou |iernoitou nos pousos. 
E depois, os que viajara sâo menos do que os que ficam 
em casa : a gente lhes presta attençilo, (piando mV o seja 
senão por nos virem á memória acompanhando impres- 
sões vivas de cousas únicas, de cousas raras, de cousas 
novas... Insensivelmente vamos ficando reconhecidos á 
persistência com que elles passam pelo nosso caminho, 
como para nos dar a illusáo de que o mundo é cheio de 
caras amigas... Às mais das vezes nem lhes sabemos os 
nomes... 

— E sâo conhecidos!... 

— Como os outros, como os amigos, de nomes sabidos 
c posição social c relações mundanas, que para nós têm 
sempre um canto escuro, um vcu corrido sobre a alma, 
tão pesado que só o vento das paixões o aparta... 

Deixo de attender á tirada misanthropica do meu 
companheiro e examino a sccna, nova para mim, da 
praça da Opera n’uma tarde de primavera, á hora era 
que as ruas se enchem de gente voltando para casa, á 
hora melancholica cm que nas outras cidades forçosa- 
mente nos lembramos de Pariz. 

Ainda ha muita luz. descendo do ccu claro como de 
um tecto transparente de crystat azul cinzado. O ar ó 
fresco e puro. Ma muito movimento de carros de luxo, 
de fiacres sujos, de omnibus apinhados de passageiros, 
de carros de annuncios, de veloeipedes passando rápidos. 
E nas duas calçadas do boulevard das Capuchinhas for- 
miga o povo n’um duplo cordão escuro, alegrado a es- 
paços por um vestido claro, um chapéu fiorido, uma 
blusa branca de operário, um avental de criada. 

O ruido quasi oontinuo se ensurdece e amansa, fun- 
dindo-se no ouvido, como a zoada do mar. Alli, na 
esquina do Café da Paz, tão hem como n'uma quebrada 
solitário de montanha, sente-se a harmonia dos sons, 
das fôrmas, da claridade, dos aromas. Uma mulher que 
passa, deixa um rasto de perfumes misturados, pelle e 


seda aquecidas na marcha, uma catinga vaga combinada 
de flóres seceas com a fartum acre c quente de uma 
colmeia ã hora dos enxames... Tudo isto descriminarei 
l>ara o olfacto fino de um recem-chegado dos tropicos. 
Um criado trouxe uma bandeja com bebidas. Sob o meu 
nariz levantou-se o perfume do vermuth, evocativo de 
hervas sylvestres pisadas, c logo toda a musica do bou- 
levard de Pariz entrou-me no acompanhamento dacançâo 
da viagem imaginaria. Esqueci o Dr. Sampaio durante 
cinco minutos, tempo suíficientc para que ellc concluísse 
o seu discurso sobre os conhecidos de que a gente nilo 
sabe o nome e que nao deixam por isso de ser cxccl- 
Icntcs relações. Teve um mau remate : 

— Com elles não somos obrigados sen. Vo a ser polidos, 
a amabilidade com que os tratamos c a estricta. A frieza 
nVo nas ó levada a má conta. Assim eu, queapenas cum- 
primento dc chapéu a um gentleman, que pódeserum 
bandido, mas que é talvez um par de Iiurlaterra, sou 
obrigado a custosos rapapés áquelle homem da Jurujuba 
que alli vae, com quem nâosympathiso... principalmente 
porque o conheço demais. 

O homem da Jurujuba ia de proa feita n’outro rumo 
que o do Café da Paz. Saudou dc longe e náo parou, 
não veiu obrigar o meu amigo aos taes custosos rapapés. 
Ouvi-lhe um * Ainda bem! » surdo e quasi descontente, 
No mesmo instante chegou-se a nós um cavalheiro de 
maneiras um tanto fáceis demais, que emquanto se fazia 
a troca dos cumprimentos, foi-se logo abancando e pe- 
dindo o seu aperitivo. 

Entraram os dous a conversarem franccz sobre cousas 
vagas, impessoaes, política, tempo, artigos de jornaes, 
commentarios sobre o ultimo processo nojury. 0 homem 
falava bem, n’uma linguagem fa. il, de phrases feitas o 
ideas corridas, conunum de fórma e sem relevo, mas 
tambem sem inflexões parizienses dc pronuncia. De re- 
pente dirigiu-me a palavra em portuguez, pedindo-me 
noticias dc amigos do Rio, mostrando-se pessoalmente 
informado das nossas cousas. Discorreu exuberante- 
mente sobre os encantos da vida fluminense, a nossa 
hospitalidade, a bonhomia e cordura das relações mais 
fáceis do que em qualquer outra capital. Celebrou o 
encanto d.as nossas festas familiares, a poesia dos pas- 
seios nocturnos pelos arrabaldes, a bclleza incomparável 
da paizagem dos arredores do Rio... Recordou nomes 



Um cosmopolita. Revista moderna, Paris, ano 2, n. 18, p. 576-578, 1 abr. 1898. 3 


3 Trata-se da versão original do conto “Um conhecido”, publicado em Histórias curtas (1901), 
e reproduzido neste anexo pela significativa mudança de título. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


723 


REVISTA 

prestigiosos do nuillicrcs, nacionalisou-ns, para ainda 
mais cnoarcccr a memória do sua temporada entro as 
Olhas da * Guanabara formosa. » Efalavaportugucz.com 
a mesma fluência com quo falava francez, ajuntando 
mesmo um pouco da nossa languidez carioca á pronuncia 
mais liem syltahada do que a dos portuguezes da Europa. 

Sem saber porque, desagradou-me aquillo. Parecia 
que o homem arremedava, que se afinava demais pela 
pronuncia dos seus interlocutores. Kespondi-lhe laconi- 
camente, perscrutando-lhe os olhos apagados c incertos, 
mostrando-me desconfiado. Ello sentiu a minha reserva 
ou se desinteressou do assumpto e passou a outro, 
sempre com a mesma polidez, com uma quasi bondade 
na approvação das idéas que exprimia o seu interlo- 
cutor. Por fim interpellou um grupo e separou-se de nós 
para sc aggregaraelle. 

Interroguei o Dr. Sampaio sobre aqucllc francez, que 
falava tão bem o portuguez. 

— E um inglez ou um hespanhol. Chama-se Jorge 
Eggerton Moralcs. Tem muita facilidade para as lín- 
guas. bala perfeitamente seis ou sete. Também tem 
viajado muito. Creio que é jornalista aqui em Pariz. 
Conheci-o cm Uoma. Vae a toda a parle. Vejo-o muitas 
vezes no theatro com mulheres estupendas. Toda a 
gente o conhece. 

— Ou ellc conhece toda a gente ? 

— Não é mau sujeito, com tudo isto. Tem mesmo 
algumas boas qualidades... 

— Em summa, não é senão um conhecido seu? 

— Simplesmente. 

1' oi já ha alguns annos este encontro e muitas vezes 
depois tive oceasião de conversar com o tal Morales sem 
lhe dar maior attenção do que a outro qualquer conhe- 
cido da rua. Só a sua prodigiosa adaptação A pronuncia 
das locuções particulares, dos idiotismos nacionaes, me 
faziam especie. N'uma das cartas de Fradique Mendes 
essa rara qualidade do polyglotismo vem discutida como 
um defeito, como um symptoma vehcmcnte de falta de 
caracter. Symptoma negativo, que não definia o homem. 
Nao basta chamar de còra molle o espirito que recebe 
indislinctamente as impressões do mundo exterior, para 
lhe attribuir inferioridade pessoal, falta dc persistência, 
substituição successiva de consciências ao sabor dos 
ambientes, que 6 a falta de caracter. Como se respon- 
desse a essa accusação,que ninguém certamente sc dava 
ao trabalho de lhe fazer, escreveu Morales um dia, na 
chronica bibliographica do seu jornal uma nota sentida 
sobre os livros de viagens que não dão através dos 
seus auctores a impressão dos horizontes dilTerentes : 

« O auctor levou ás terras do Extremo Oriente a sua 
maneira de vôr frauceza e, o que c peior, universitária. 
Isto é, perdeu um grande esforço em apreciar as appa- 
rencias de povos extranhos de raça c de sentimentos á 
luz da civilisaçAo greco-latina, que póde ser superior ás 
outras, mas que tem o defeito, capital na especie, dc ser 
exclusivista. As conclusões doutrinarias dos livros dc 
viagens dos francezes se resentem d'isso. Em vez de 
sentir dilatar-se a sua humanidade, o leitor acompanha 
o auctor como a um guia que lhe mostra as curiosidades 
de maravilhosas tribus animaes num museu zoologico, 
tão fóra dc contacto lhe parecem esses seres longínquos 
e exquisitos. É que o viajante nunca se deixou iniluir 
pelo desejo dc viver uns dias a vida dos povos que visita, 


MODERNA 577 

nunca experimentou no coração inteiramente absorvido 
pelo amor estreito da sua patria o concurrcncia de uma 
nova ternura ainda mais generosa pelos novos compa- 
nheiros de prisão terrestre, que acaba de conhecer. Des- 
cobrir em si novas fontes de gozo affectivo, estender a 
fraternidade além das fronteiras da lingua, da raça, da 
côr c da moral, reconhecer entre os traços dos caracteres 
exoticos alguns que em nós pareciam inexplicáveis e 
dcllcs conjccturar filiações aventurosas no correr dos 
séculos e através do turbilhão da Historia, seriam resul- 
tados meritorios das viagens dos modernos, se ellos 
soubessem viajar. Mas o homem civilisado é tão orgu- 
lhoso, que até pretende falar a sua lingua em terra 
alheia, como para escapar á suggcstâo da força e da 
bellcza das outras nacionalidades, que nos vem com a 
pratica familiar dos idiomas locaes, com o conheci- 
mento profundo da sentimentalidade, com a adopçáo 
das toadas nativas de pronuncia, que nos abrem os 
corações insuspeitosos do indígena reconhecido e encan- 
tado... > 

Era este o trecho capital do artiguinho, mal composto 
c sem estylo, muito abstractivo, cheio dc idéas obscu- 
ras, como de quem não tem o habito de escrever com 
reflexões pessoaes c originacs. Depois quo o li, acreditei 
que a falta de caracter linguístico do meu conhecido 
não correspondia a uma plasticidade moral absoluta. 
Tanto mais quanto, independente de considerações 
interesseiras, clle era reconhecido aos benefícios que 
lhe fizessem ; era antes indulgente para com as fraquezas 
alheias, como se uma longa experiencia do mundo lhe 
tivesse ensinado a precariedade da virtude e as ate- 
nuantes prováveis dos vicios sociaes. 

Também não eram aggressivos os seus vicios. Todo o 
seu esforço parecia consistir cm se fazer admittirá par- 
tilha dos gozos materiacs da vida, cuja esthetica tão 
voluptuosamente professava. Fóra iTisso vivia mysterio- 
samente, de recursos pouco precisos, dc que ninguém 
indagava, como se fossem forçosamente vergonhosos, e 
sc abrigava por traz de mentiras multiplicadas, defen- 
sivas do recato da sua pessoa verdadeira. 

Os jornaes do boulevard noticiaram um dia que, vi- 
ctima de um desastre, o bem conhecido « nosso collega » 
Moralcs saliira de um encontro de carros todo esmur- 
rado c com um braço quebrado. 

Dalii a tempos explicava elle aos amigos, isto é, a 
todo o mundo, confidencialmente, que o seu desastre 
não tinha sido mais do que uma formidável tunda que 
lhe dera o director do jornal em que trabalhava como 
secretario da redacção, por causa da commissão tirada 
por ellc de uma subvenção que obtivera para a folha, 
commissão que o duro director achou exaggerada, 
quando veiu a saher, e castigou com mão severa, como 
um roubo. 

Acharam que a revelação de Morales, feita com a 
mesma voz mansa e igual, sem exclamações, sem amar- 
gura nem odio, era um acto de cynismo. Podia ser outra 
cousa, podia ser a sublime humildade, que lhe dictava 
a confissão publica. Em todo o caso era singular. 

Morales andava muitas vezes com bonitas mulheres, 
que o procuravam, dizia-se, pelas suas relações com o 
inundo extrangeiro, na tribu nômada dos Rastaquères. 
Ninguém olhava para elle então, que assim o julgavam 
incapaz dc ser querido por uma mulher ordinaria? Era, 


Um cosmopolita (continuação) 





724 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


57S REVISTA 

senAo bonito, no menos regular do feiçOes, de bom porte, 
elegante, polido, amnvel o sorviçal : nAo raro cilas so 
contentam com isso. Evidentemente era um amoroso : 
trans(igurava-so quando dava o braço a uma mulher. 
Estando de villcggiatura cm Pierrefonds, vi-o entrar 
na sala do Ilátcl des Iiains ao lado do uma bclla crca- 
tura. Ia contente, altivo, respirando com o desafogo de 
um homem livre e digno. E no meio da turba des- 
conhecida de purizienses en ríbolt, a mulher nito tinha 
sorrisos c attençAo scnAo j)ara o seu companheiro de 
vida escura o vergonhosa. De tarde, emquanlo abria 
penosamente com o meu bote uma passagem entre os 
ncnuphnrcs do lago, ouvi os que conversavam perto sob 
as arvores da margem, com palavras de carinho e ter- 
nura. Era um casal de namorados como outro qualquer, 
aquclla rapariga de cabellos tinctos dc ruivo, aqucllc 
homem de monoculo c bigode frisado, que, escapos por 
umas horas de Pariz, alli passeavam pelas alamedas do 
parque, esperando o jantar, n’um cálido domingo de 
vento. D’ahi a dias, no Jardim dc Pariz, a mulher ia ao 
braço de outro homem c Morales ao lado conversava 
animadamente com os dous, gracejando, fazendo espi- 
rito. O casal sahiu c Morales foi anncxar-sc a outro 
grupo dc amigos. O incidente me desnorteou completa- 
mente na apreciação do seu caracter. Morales me esca- 
pava a uma classificaçAo decente. 

A mentira, que tfto facilmente descobrimos no olhar 
de um homem honesto, forçado n usar d’ella, embebia 
de alguma sorte toda a individualidade do nosso conhe- 
cido. As suas aílirmações raramente mereciam a pena 
de uma prova. Apanhado cm uma mentira, clle passava 
a outra imperturbavelmente. Assim è que desistiram dc 
saber a sua nacionalidade. Era de Cosmopolis, do 
bairro suspeito. 

Morava cm um quartinho miserável, n'um quinto 
andar da rua Grcneta, sem sol e quasi sem ar. Era a 
porteira quem lhe fazia a cama e arrumava a casa, quasi 
por caridade, por lhe querer bem, que elle invariavel- 
mente se esquecia de lhe pagar os serviços. Ainda para 
essa humilde crcaturn elle nAo tirava a sua mascara dc 
fingida alegria, não mudava da inalterável doçura de 


MODERNA 

trato. Apagada a vela, fechadas as portas, talvez pra- 
guejasse, rezasse, pensasse na lingua da sua infância, 
reintegrasse a personalidade csfarellada aos attritos 
do mundo. Mas das descidos nos misteriosos desvãos 
da sua consciência nenhum signal restava quando dc 
manha» dava os hons dias á porteira, ao descer para a 
lida da mentira. 

Um dia nAo se levantou c.a boa velha foi cncontral-o 
dc tarde, estendido na cama, tolhido dc movimentos c 
sem fala. A mulher entrou a chamar por elle, a saou- 
dil-o para que lhe dissesse o que tinha, e, compassiva- 
mento, affligindo-sc com a miséria d’aquel!e homem 
moço e forte, alli morrendo no abandono, tentava dar- 
lhe coragem, falnva-lhe carinhosaiucnte, para que fosso 
rnzoavel, nAo se deixasse ir assim entregue ao desa- 
nimo, que estava a se fazer mal pensando que ninguém 
olhava por elle... Morales mirava-a como já dc muito 
longe, com um vago sorriso penoso, de uma tristeza 
infinita, e ia esmorecendo cada vez mais. Por fim cha- 
mou a velha com um gesto e, pegando-lhe na mão com 
muito esforço, levou-a aos lábios já coloridos com a 
violeta da morte. Duas lagrimas lhe borbulharam nos 
olhos, que se moveram uma derradeira vez para as 
cxprcmer, e o desconhecido expirou. 

Os jornaes noticiaram a sua morte, sem affciçAo nem 
odio, como quando se escreve pela ultima vez sobre 
um t)po curioso. E alguns dias depois, no terraço do 
Tortoni, que Morales tanto frequentara, vindo-se a 
falar d’clle, um jornalista o classificou como simples 
cavalheiro dc industria. Mas houve reclamações c um 
dos defensores do conhecido anglo-hespanhul cosmopo- 
lita concluiu assim o seu breve discurso : 

— ... O que nAo soffre duvida é que aquelle homem 
tinha um coraçAo. E senão me expliquem como um 
canalha, ladrão dc jogo, alcoviteiro, covarde c sem 
escrúpulos pôde morrer de uma lesão cardiaca, bei- 
jando a mão da ultima creatura humana que lhe fez 
bem desinteressadamente... 

— Era um enigma, disse outro. 

— E entretanto nós todos o conhecíamos... 

Domicio ka Gama. 



Um cosmopolita (continuação) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


725 



l 

UltANTK as lerías <la 1’aschoa Pari/, 
é invadida pelos estrangeiros e 
provinciaes, e os residentes que 
não vivem em casa são perturba- 
dos nos seus hábitos, acham com 
difliculdade um liacrc, encontrara os seus logares 
no restaurant oocupados por figuras extranhas e 
desistem de passar pelos thentros depois do jantar, 
se não tomaram bilhete do véspera. As pessoas 
para quem o teuqio não existo |>odem mesmo sc 
apercebei- por osso atropelamento poriodico das 
migrações annuaes que õ tempo do ■ olhai- |>ara 
um ccu novo com olhos envelhecidos, • de bocejar 
ú monotonia da vida que sc rci>ctc, ou do festejar 
a perpetua novidade das horas que so succodem, 
maruviihosaiiienlo várias. 

As festas da Paschoa. Irouxeram-mc á casa este 
atino um amigo, um inglez com quem já vivi sob 
outros ccus e que me náo esqueceu. Com elle 
recapitulei os annos passados, renovei conheci- 
mento com a sentimentalidade, a educação da 
outra raça, eru/.oi modos de vôr e arejei a curiosi- 
dade das outras existências, que a cultura exclusiva 
da nossa nos faz perder. Andei por fora, andando 
com dle, e o meu espirito, como as ruas, os restau- 
rants o os thcairos de Pariz pela Paschoa. lambem 
foi invadido jkii- uma multidão de sensações senão 
novas pelo menos renovadas e o meu caderno do 
endereços se encheu de nomes novos. Fiz muitos 
conhecimentos, o, como estava na criso da curio- 
sidade, cheguei a aprender a vida dc pessoas que 
não giram no meu circulo. 

Um d’esscs conhecidos da Paschoa foi o inglcz 
que chega tardo ao jantar, no Vinil. 

O \ ian é um pequeno restaurant da rua Dau- 
nou, defronte da rua Volney, soccgado o quasi 
familiar, com um vago ar do tablc d/iúcc ameri- 
cana. muito frequentado por estrangeiros, inglezcs 
e americanos pela maior parte, Tem Ires mesas 


em baixo e em cima duas salas e vários gabinetes. 
Na sala maior, á esquerda da escada quasi a pique, 
ha duas ou Ires mesas habitualmente occupadas 
pelos jornalistas inglezes, correspondentes do 
Times , do Daily Tclcgrap/i, de agencias ameri- 
canas : um escoeez muito velho, |icqucno e tro- 
pego, muito vermelho, do cara rapada, bocca liua o 
forte nariz adunco, que bebe ichisky e falia sem- 
pre o ri como so soprasse para dentro de um gar- 
rafão; um homem som idade, sem voz, sem ale- 
gria, de oculos, grande barba castanha, que ainda 
mais lho atina o rosto c que, com as suas mãos 
pequenas e o largo lombo curvado e triste era- 
quanto lé, faz pensar n um archiduque repórter; 
um typo á Stanley, de bigode grisalho, bocca firme 
c olhos duros; um moço londrino, alto, bonito, 
claro, olhos c cabellos negros, ingênuo eaffectado, 
falhando como se tivesse febre ou se se levantasse 
para saliir pelo frio ás cinco da madrugada; o 
resto e mocidade sem bigode, que véni irregular- 
mente e come ás pressas, continuando as con- 
versas ou as scismas lá de fora. 

Com toda essa gente M. I.ôon trata cm francez 
entremeiado de palavras inglezas; com o inglez 
que chega tarde falia rigorosamente a sua lingua, 
como convem a um reccm-chegado. 

No domingo de Paschoa, de volta de Saint-Cor- 
main com o meu hospede, também chegámos 
tardo para achar lugar nas salas do Vian, c nos 
deram um triste gabinete reservado, a que deixá- 
mos a porta aberta. Ainda não tínhamos combi- 
nado a lista, ouvimos o gerento explicando no 
corredor ao inglez que chega tai-dc a afllucncia 
anormal dos dias de Paschoa, c, como o outro res- 
pondesso resignadnmenle, o meu amigo reconhe- 
ceu-lhe a voz o me pediu licença para o convidar 
a jantar comnosco. 

Foi buseal-o e trouxe-o, de mão pelo honibro, 
alTeetUosamonte. Cumprimentos, discussão da 
composição do jantar, considerações sobre a inva- 



A força do nome. Revista Moderna, Paris, ano I, n. 5, p. 145-152, 5 set 1895. 4 


4 Tanto “A força do nome” quanto “Miss Epaminondas” possuem material visual inédito 
em suas respectivas publicações pela Revista Moderna (aliás, toda ela marcada por um arrojado 




726 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


REVISTA MODERNA 


HG 

siio <le Pnriz pelos cslrungoiros, e veio a sopa. 
Cum o primeiro eopo de vinho a suggcstão dos 
nomes abriu o eapilulo da gcographia gastronó- 
mica. D'ahi se escorrega facilmente para jis via- 
gens e aventuras pessonos, e flea estragado um 
jantar. Mas M. Fabius Bcnnetl fallou levemente e 
impessoalmente, sem parecer dirigir a conversa, 
mas facilitando a escolha dos assumptos em 'pie 
não ha lhese a defender nem convicções a expri- 
mir. Como todos os inglezcs, pendia |»nra o htt- 
mour, os contrastes comicos, a caricatura sem 
satyra, isto é, sem odio e sem depressão «la huma- 
nidade que ha nos e reatoras mais ridículas. A 
ancdocta vinha a proposito o caracteristicamonte ; 
fazia de illustração psychologiea. E o quo havia 
de informação sceca no quo dizia tinha o vigor 
c a nitidez dos algarismos do uma noticia hem 
dada. 

Do sorte quo, som fallar do si, esse homem im- 
pressionava como uma força intélligcntc. A força 
intclligcntc é triste. Ello tinha o ar do <|Uom acaba 
de fazer o giro das cousas e não encontrou o que 
esperava atraz dYllas. Era de fadiga ou desencanto 
a sua expressão, não de amargura. D’ahi vinha 
«|ue, sendo superior, era sympathico. Também 
linha o physieo que predispunha cm seu favor : 
alto e tino, porte sem abandono, olhar direito e 
manso, corrigindo a expressão um pouco durada 
bocca e queixo fortes. K a testa era alta, branca, 
lisa, como a testa dos que pensam muito e sem 
violência. Sem esforço lambem lhe vinham as 
phrases inteiras, curtas e frisailtes. de bom cunho, 
facilitando a emissão da voz calma e do timbre um 
pouco surdo, mas sempre atinado nas inllexòos — 
uma eloquência que se poderia chamar do bom 
estylo de chronista. A uma sentença sua particu- 
larmcnle feliz, precisa o cheia de vibrações, tiz 
um gesto para intcrrompel-o c ello parou : 

— Eslava a pensar na idade que o Sr. terá... 

Ello sorriu, comprchcndendo, e sem insistir : 

— Vinte o oito... Antes do jornalismo fui se- 
cretario de mou pao. hl o que me envelhece a 
prosa. 

N'essa noite foi tudo o que disso de si. Estava 
do gravata branca. Tinha de ir a um sarau mun- 
dano, c nos separámos á porta, já quasi ás onze 
horas. 

— Como está mudado o Fabius... disso o meu 
amigo, quando nos achámos sós no boulevard des 
Capucines. 

— Exquisito nome para um inglez — Fabius I 

— O pae era um lettrado clássico... Se havia 
de chamar o filho Barney, Algernon, ou Trove- 


lyan... O quo não comprchendo ó porque veio ello 
trabalhar em Pariz, quando em Londres o sou 
nome do jornalista estava leito. E já 0 a segunda 
sortida que faz... 

A noite estava linda c, andando pelo meio da 
multidão festiva, deixámos caliir a «tonvorsa para 
os espectáculos variados do rua franceza, láo dif- 
forenle «la rua itigleza, soturna mesmo nos dias do 
festa. K não falíamos mais de M. Fabius Henuoll 
e no dia seguinte o mou amigo voltou pira a In- 
glaterra. 

Mas eu continuei a frequentar o Vinn o a con- 
versar com o inglez que chega tardo. 

Uma noite em quo já ia sahir quando elle en- 
trou lamentei quo o seu trabalho diário o obri- 
gasse a vir jantar quando já a posta do roastbecf 
estava no fim o as salas tresandavam a tabaco, de 
mistura com o cheiro dos molhos fortes, na me- 
lancolia das mesas abandonadas e desfeitas. 

Elle sacudiu a cabeça, sorrindo constrangido c 
com alguma ennervação na voz replicou : 

— Não é o trabalho, que eu sempre acabo cedo. 
lí a própria relaxação á suggestâo do nome quo 
me infelicita. Nas circunstancias em que só eu 
posso solTrer com o chegar atrazado abaudono-ine 
á fatalidade, com uni vago sentimento de que a 
cultivo e lhe dou prestigio. Ás vozes mesmo penso 
que o meu caso é o dos negros da África que fabri- 
cam um fetiche e depois tremem «leante d'elle. 
Mas toda a gente carece do um fetiche. Imagine, 
sc puder, a trova sem phantasmas... 

Fabius Rcnnctt ostava nervoso. Percebi que ia 
ter a historia o esporei quo m a contasse ú sobre- 
mesa. 

11 

O pae do Fabio era diplomata. Rolando pelas 
capitães dosdous mundos, ao acaso das combina- 
ções «hi Carreiro, o menino cresceu e se educou 
sob as vistas do pao. Educação anormal, exces- 
siva, deformante, imperfeita. Já a froquonto mu- 
dança do horizontes predispõe para a inattonção 
ao mundo exterior. Os rostos diflerentes e sempre 
extranhos, as vozes, linguas e maneiras das aias, 
dos p receptores, dos amigos, o embotamento das 
sensações de novidade, erearam no pe«|ueno a 
indilTerença |>elas i«essoas «|ue o rodeavam. 

Cedo entrou na vida séria do espirito, e quando 
começou a pensar com Uns determinados o seu 
raciocínio não solTrcu a perturbação dos sentimen- 
tos. As gcncralisaçõcs lhe foram fáceis, a falta «lo 


A força do nome (cont.) 


projeto gráfico), que se perdeu na edição de Histórias curtas. Por esse motivo, julgamos válido 
incluir a reprodução digital desses dois contos, para que se possa avaliar os limites da “visua- 
lidade” nos contos de Domício. 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


727 


REVISTA 

sympnthm pelas cousas tomiuln^ isoladamente cla- 
reando-lhe ns linhas do formarão dos lypos abstrae- 
los. ( > pne, quo lho ilnva a rõplioa nas discussões, 
se desvanecia do vol-n pcloticnr com palavras cnr- 
rogadns do nlistracção o som so esquecer do seu 
significado » Fabío rasga um sophisma com a 
segurança do um cirurgião abrindo um abcesso •, 
dizia ollo. No corpo de uma argumentação ata- 


MODERNA i j7 

do um Iro. u expresso, fugitiva, desinteressante. 

Nem sabia para ondo assim corria nessa desen- 
cantada jornada. la o pacoo pao lho era razão 

o fim da vida, prosonlc c futuro, ternura e religião. 
K mu dia o jiae morreu. Tinha ollo vinte annos. 
O primeiro momento foi de estupor, como do quem 
sobrevivesse á explosão de um mundo o se achnsso 
de pã entre os destroços, apavorado o solitário. 



viada c florida o menino percebia sempre o esque- 
leto da boa ou ma doutrina : sabia lógica como um 
bom cirurgião sabe anatomia, por necessidade, não 
por curiosidade ou presumpão. Nem satisfacçOos 
do orgulho por comparações de sabor — vivia 
sósinho ou tratava com pssoas acima da sua 
idade, nem alegrias de descobrir campos novos do 
conhecimento — a vida lhe passava por demite 
dos olhos como uma paizagem vista pelas janellas 


Depois veio uma grande miséria moral — a incer- 
teza dos destinos, a necessidade de agir e a falta 
de objoclivo, de ambição que o estimulasse. Üe 
grisalho que era tornou-se negro o seu horizonto. 
l’or felicidade os nervi >s lhe obedeciam. Kabio não 
desatinou, deixou-se licar quieto, dando tempo ao 
tempo. 

« Única vez em que o meu nome me protegeu • 
explicou elle. « Meu pe. que ás vozes mo cha- 


A força do nome (cont.) 





728 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


H* REVISTA 

niiivji de Cunetator, não sc impacientava com n 
meu (lesdcm das horas, dos dias, dns estacões, 
quo me mio a flertavam desde que para mim nSo 
havia obrigações de prazos, o, niidaudo quo era 
confiança, dizia que « il Tempo r galanluomo •. 
Nas grandes oceasiõos, sim. Mas hem so engana 
quem se reclama d'clle para as Imgatellas da vida. 
Alii cllc õ mesquinliamcnte lyrannico. E como 
quasi toda a vida é feita de bagatollas e pequenos 
prazos, o martyrio que me tem sido a lyrunnia do 
tempo!... 

— E escolheu a profissão em que a contagem 
do tempo entra por metade no suceesso das carrei- 
ras... Pois no jornalismo chegar a teriqa) ntlo ó 
metade do talento 1 

— Para um repórter, disse quasi orgulhosamente 
o inglez. Com esses corlamcnto ntlo concorro eu. 
Mas mesmo |>ara os artigos do critica e de previ- 
são politica ou social a antecipação não me tira a 
agonia de os fazer dentro do prazo. Só a dignidade 
profissional... Ccrlamcntr não escolheria esta pro- 
fissão, se pudesse... 

Não trabalhara para ser jornalista. Quando o 
pac morreu Fábio estava no Chile. Era em IKiMi 
e, senhor dos elementos jml iticos representados na 
luta entre Rrhnaeeda e o Congresso, ellc escrevera 
a um tio resumindo a situação, « estabelecendo a 
partida », como dizia, r > tio comrnuniroti a carta ao 
Mornitifj Pont e o jornal conservador fez uma ponto 
de ouro ao joven collaborador. 

Quando terminou a guerra civil do Chile estava 
elle feito jornalista politico. l eio para Londres c 
annos inteiros resumiu o mundo para os leitores 
do seu jornal, l ambem annos inteiros, como uma 
machina do vibração continua, não desamparou o 
seu posto e duas vezos por dia a lama eterna de 
Floot Street o do Strnnd. o nevoeiro o o tisne das 
ruas tristes do bairro da imprensa á sombra do 
campanário de Santa Maria o viram passar rapi- 
damente, portador do informações e noticias 
graves, conselheiro desinteressado c sem cmhu- 
siasnio, juiz de qucrellas c apreciador de culpas 
communs. 

Nascido c criado em cidades, o rumor e o tu- 
multo das cidades eia favoravel .i expansão das 
suas faculdades naluraes. No meio das ruas api- 
nhadas de povo elle se sentia no seu elemento 
como o marinheiro entre o marulho das ondas, o 
emquanto abria caminho por entre a humanidade 
sombria do Norte no seu espirito se ia compondo 
a exposição dos problemas políticos, das aspira- 
ções nacionaes, das ambições possoaes quo se agi- 
tam perennemente nos longínquos paizes do sol. 


M ODE II N A 

Sómente, para sustentar cm boa altura a pro- 
dtteção jomalistica nVssns condições 6 necessária 
uma existnçno febril, quo continuada gasta o corpo. 
Quando uma noite, antes de acabar o seu artigo 
sobre as pescarias do Horing, começaram a lho 
zunir os ouvidos o a balcr-lhc as fontes mais cedo 
quo de costumo, Fabio levantou-se da sua banca 
do escripla o foi mirar-se ao espelho da chaminó 
om cuja lareira ardia um fogo Icrrivel de carvão. 
Ms reflexos do fogo combinados com a claridade 
mais forte das lampadas eléctricas lhe escaveirn- 
vam o rosto descorado, aceusavam-lhe o pisado 
dos olhos, criavam-lhe rugas, mostravam-no enve- 
lhecido c com uni ar de fadiga immcnsa. Já de 
manhan o amargor da bocea e, longos minutos 
depois de abrir os olhos, a sensação pungente da 
inutilidade do esforço para viver eram um mau 
symptomu. 0 eontemporisador rcreiou que já fosse 
muito tarde. Entretanto lembrou-se da proposta 
que lhe fizera o dircctor de dar-lho um substituto 
por um moz, emquanto elle ia escurecer um 
pouco pelo continente o telographou a um amigo 
em Florença, anmmciando-lho que aceeitava o seu 
convite de ir passar com ollo as suas primeiras 
férias, e que chegaria dalii a Ires dias. 

O amigo do Florença era Lcllo Mãlliey, o ro- 
mancista, filho do um collcga e amigo do pac de 
Fabio. Tinham vivido juntos cm Bucarest c Fabio 
poz-se a pensar quo em dez annos as duas 
irmanzinhas de Lcllo estariam de certo umas 
lindas moças c quo Mrs. Mulhcy, já tão apa- 
gada 11 'aqucllc tempo, devia ser uma sombra 
agora. 

Os Malhcys moravam fóra da cidade, n'uma 
villa ilo lado dc San Miniato. 0 sol de Dezembro 
já ia muito baixo quando elle chegou, e quasi toda 
a banda do Ollrarno eslava em sombra. Entre- 
tanto nos altos as oliveiras cinzentas se douravam 
nos derradeiros raios do crepúsculo e os eyprostcs 
pareciam mais negros do encontro à tela relul- 
gento do ccu. As casas semeadas pela encosta o 
todo o vallo do Arno jaziam n'uma leve bruma 
transparente e fina como uma luz azulada, como 
soapaizagem fosso vista atravez de um immcnso 
cryslal colorido dc violeta pallido. O carro tinha 
vindo á disparada atravez da famosa Porta 
Romana e pelas avenidas melancólicas que foram 
a expansão da cidade no tempo em que ora a ca- 
pital da Italia, ha trinta annos. Mas |>aru subir as 
ladeiras o cocheiro moderou o passo aos cavallos 
e Fabio teve lompo dc se embeber do encanto da 
paizagem, dc se amollecer para o repouso, senão 
para as sensações suaves. Já de antemão lhe 


A força do nome (cont.) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


729 


REVISTA 

agradava quo a morada ins-o longo da cidado o 
das suas festas. 

A família doscou Ioda a reeobcl-o quando o carro 
parou ú porta dg jardim. L(i estavam os olhos 
conhecidos, os sorrisos amigos, ms palavras cor- 


MODERNA lüi 

não assentava, não dizia com a expressão amena 
o qiiasi simplória do rosto largo, dos olhos pe- 
quenos o soccgados. 

Itosa dera o que promettia a menina bonita o 
forte, do aspem eabcllcira revoltu, parecendo 



diaes e as mãos estendidas do Lello, de Rosa, de 
Mila e no quadro do uma janella emmoldumda 
de vinha a touca branca e os oculos o o rosto 
pallido c murcho de Mrs. Mathoy. 

Lello tinha engrossado, alargado do hombros c 
deixado crescer uma barba á italiana, que lho 


sempre prompta para um salto, como um animal 
arisco contido a custo. Amansara ficando moça e 
os cabellos de tinta mais escura agora se sujei- 
tavam ao penteado, apenas mais infante, desequi- 
librado logo quo a gesticulação se exagerava. Os 
olhos eram os mesmos, mais seguros do expressão, 

20 


A força do nome (cont.) 




730 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


150 REVISTA 

mas sempre atrevidos, muito claros o direitos, 
olhando com uma segurança do quem entendo tudo 
o nào vô sombras na vida. 

Mila 6 que mudara. 0 que cllo viu primeiro foi 
o nimbo luminoso dos seus cubcllos do ouro. No 
jardim em sombra clles brilhavam como se rcllee- 
tissem o sol. Depois, no rosto do belleza quasi 
severa, do tilo puras linhas, os olhos do um a/.ul 
escuro o profundo lovcmcnto quebrados, se ado- 
çavam ainda mais com a eòr dos cílios que os 
franjavam dc ouro, e a bocca altiva c quasi dura 
cm repouso tinha o sorriso captivantc, irresistível, 
era pnthctica de cxpressilo. E os movimentos do 
seu corpo esbelto, bem talhado em todas as 
linhas, eram dc uma harmonia graciosa e tina. 

Entre os apertos do mio, os cumprimentos do 
boa vinda, os gracejos cordiaes entre gente fami- 
liar que se torna a ver ao cabo do longos nnnos, 
Eabio começou a sentii-formai -.se era si um estado 
d'alma que lho nio era habitual, uma mistura de 
admiração pelo que via do novo. do saudado do 
tempo em que viveram juntos.de interesso mais 
forte do que a simples svmpathia pela vida serena 
d’aquelle ainavei grupo. Pola primeira voz n'essa 
noito foi distraindo á conversa no salão onde 
outras pessoas se reuniram em visita depois do 
jantar. Os outros atlribuirara a sua absorpção i 
fadiga da viagem. Elle estudava as causas da sua 
perturbação e cmquanto animava com uma fingida 
e polida attençâo a conferencia do um fclloic 
rccem-chegado a Florença e que não perdeu 
tempo em dizer o que sabia sobre os .Medieis, 
Savonarola e Miguel Angelo, acabou por concluir 
que o interesse que tomava por aqtiella gente 
provinha de a ter conhecido n’um periodo anterior 
do seu desenvolvimento. \ 7-r sempre cousas novas 
fatiga; as cousas velhas immovois, monotonas, 
acabam por escapar i attençâo. U que interessa 
6 o que se transforma sob os nossos olhos, o o 
comparação dos vários estados do uma transfor- 
mação, de accordo com as provisões que sobro 
cila fizemos ou as contrariando, é a determinante 
do nosso sentimento c seu critério. A theoria 
explicava polo menos provisoriamente o seu caso. 
A jornada da vida deixava de sor para olle uma 
corrida sem rumo atravez de paizagons anonymas 
entrevistas fugitivamente pelas vidraças de um 
trem expresso. 

Fabio pediu que lhe mostrassem o seu quarto e 
loi dormir. 

Dormindo sonhou com os cabcllos de Mila, 
com o clarão dos seus olhos, um sonho em ouro 
e azul. No outro dia, pelo alvoroço e o meio cons- 


M ODE RN A 

tmngimcnto ,quo sentiu quando a encontrou no 
jardim, verificou quo estava onnamorado. Con- 
versaram passeando |tcla estrada ao sol elaro da 
«loco manhã do inverno, mas as palavras não 
pegavam. Ao cabo de dez nnnos de silencio 
parecem extranhas as vozes mais amigas. Os 
topicos antigos de conversa se desfaziam do 
inconsistência e votustez. E da vida nova ambos 
roeeiavam tratar, ainda sem pontos de partida 
para coimncnlarios e allirmaçtios inconsequentes. 
A chegada do Rosa e de IaIIo, descendo para o 
ptisseio. foi um allivio para clles. 

III 

1 1 que acontecou depois ú mais facil de contar o 
sc diz rapidamente. Fabio passou o sou mez do 
férias n'um completo enlevo, amoroso, doscuidoso, 
feliz. Mas nunca lhe passou pela cabeça fullur a 
Mila em casamento. Nem mesmo em sentimento. 
Se cila o percebera e lhe correspondia era espon- 
taneamente. < I resto lhe parecia que seria tratar a 
cousa como um negocio. A idoa de posso era 
absurda, pensava elle. Aquclla planície ridente 
que vejo do alto da montanha, á distancia, dc- 
sapparcce quando desço e d'ella me npproximo. 
t) sou amor por Mila era um sonho dc poesia c 
•lo holleza. Não era cousa quo os prendesse por 
outros laços. Tanto quo ao lnd> > da sua paixão 
começou a cortejar uma honiln mulher que co- 
nhecera cm Londres, cantora no Corcnl Ganlcn o 
quo estava morando n'uma villa fóra do Porta San 
(iiorgio. Era uma creatura alogre c intclligontu. 
Fabio gostava dc encontral-a c um dia lhe pediu 
licença para a visitar. A cantora deu-lho oalrevisla 
para o dia seguinte. Fabio saliiu a passeio com os 
Malhcys e esqueceu a entrevista. Trcs ou quatro 
dias depois montou a cuvallo c dirigiu-se para a 
casa da cantora. Ainda bem não linha posto pé 
om terra defronte da entrada, cila desceu a escada 
correndo e muita assustada. 

— Yi-o de longe que chegava e vim pedir-lho 
que se vii embora... Enganou-se de dia. Agora 0 
tarde. Está eá o meu amigo! 

Fabio pensou na fatalidade do nome, mas ahi 
se achou ridículo e fez frente ao destino. 

— Não é razão para que mo enxote da porta... 
E a chicara de chá que me prometteu? 

A mulher levantou a voz involuntariamente e 
n'uma afflieçáo. 

— Pelo amor de Deus, vá-se embora I Não 
quero uma desgraça por minha causa... 


A força do nome (cont.) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


731 


HKYFSTA MOHKRNA 


t’ma jnnolla nkríu-so cm cima c iimn bonita 
rnlvn o uns grnndcs bigodes fullamm de cima : 

— Clmmn o jardineiro. Lena, e deita fóra esse 
pelintra... Que tens tu a eonver- 


I inhnm chegado aos degraus da igreja de San 
Miniato e foram dcbinçnr-sc no parapeito que cir- 
ciintda a pequena praça dedicada a Miguel Angelo. 



. sar com um vagabundo? 

A tcnçAo era injuriosa, o 
homem era ura marque/, sici- 
linno que conhecia o outro por 
lho fazer n còrlc ú amiga. Fábio 
atirou-lhe uma pilhéria e o ita- 
liano lhe atirou um pote de 
llõros que quasi o mala. 

Quasi o matou lambem uma 
estocada de tlorete d’ahi a dons 
dias no duello que terminou 
essa ridícula aventura. 

Lello foi uma das testemu- 
nhas e passou uus dias muito 
infeliz em quanto se nào certi- 
ficou de que a ferida do Fahio 
nAo era mortal. 

Outra infeliz foi Mila. Entro 
traição o loucura preferiu nllri- 
Imir a aventura do amado a 
uma perturbação momcntanca 
da razão. K quando ellc se le- 
vantou em fins de Janeiro deu- 
lhe o braço para os primeiros 
passos da convalescença, espe- 
rando que ellc n'um minuto de 
abandono se excusasse, se ex- 
plicasse, se declarasse. 

Fahio fallou sem vergonha da 
eslrallada que fòra assumpto 
dos mexericos de Florença du- 
rante um mez, como se a cousa 
lhe não fosse pessoal. F termi- 
nou por communicar ã deso- 
lada menina um tclegnimma 
da direcção tio seu jornal que 
lhe propunha uma excursão á 
America, como npecial para dar 
noticias da revolta de Cuba. 

— « Você agora não pôde 
viajar... • disse a menina an- 
ciosamente. 

— Ha um transporte de guerra 
que parte dc Barcelona levando 
tropas daqui a quinze dias. A 
minha passagem está arranjada nVlle por favor 
do embaixador de Hcspanha que conheço. De 
Gênova saho um vapor para Barcelona a tempo. 
Porque nào hei de partir ? 


Km baixo a cidade se alastrava cobrindo a varzea 
com a sua casaria branca, cinzenta, rosada, de um 
lado e d'outro da facha espelhenta do Arno pos- 
lejado pela sua meia duzia de pontes. O Duomo e 


A força do nome (cont.) 





732 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


152 REVISTA 

o Pnlazzo Vccchio se destacavam da massa rom 
uma grandeza o vastidão quo a distancia ainda 
mais parecia ncccntuar. Ao Norte oram os picos 
nevados dos Aponninos o mais perto ns encostas 
escuras das collinas quo rodeiam o maravilhoso 
vallc apparcciam salpicadas do villas c aldeias, 
atô aos confins do horizonte violáceo. Uma infinita 
doçura descia do cou puro ou subia da paizogom 
aos sous pés. 

Mila tinha o coração pesado, a bocca so lhe 
apertava pailieticamente, e nos olhos lho dansnva 
a lagrima propicia, que segundo as circnms- 
laneias ô de ternura ou de amargura. Olhava para 
Fabio. E Fabio discorria sobre a grandeza e a do- 
çura da paizagem tlorentina. Rosa, que chegava 
inapereebida, commentnu : 

— Ai I o desastrado Cunclator... Sc ao menos 
perdesse o vapor ! 

Não perdeu o vapor, porque as malas para a 
America do Sul chegaram tardo a bordo do lir- 
!/ina Marghcritta que o devia levar. Emborcou 
na lancha do correio, já á sabida do porto de (íe- 
nova, e o conimandante, quo sabia que era um 
jornalista o rctardatario, lastimou os assignantes 
do seu jornal . 

Entretanto cm campanha Fabio so conservava 
nas primeiras linhas da informação, por saber 
escolher as suas fontes. Em Cuba passou doas 
anuas, interessado no primeiro c captivo do dever 
no segundo. Quando percebeu que a revolta não 
revelaria mais nenhum aspecto novo, pediu a sua 
retirada. Tinha perdido de vista os Matheys. sem 
os ter esquecido, sem ter esquecido Mila. 

E no mesmo dia cm que chegou a Londres, vol- 
tando da City, o seu haiisom cruzou-se deantede 


MODE11N \ 

Clmring Crosscom outro em quo vinha Mila. Elln 
gritou-lho um ondoreço, om Kcnsington. Lá foi 
n'cssa mesma tarde. A eivada respondeu quo 
Mrs. Malhoy não eslava, mas que Mrs. Puniam 
recebia. 

Entrou. Mila, sentada no |>é de um biombo 
japonez que a resguardava da reverberação do 
fogo, levantou-se a meio para lho apertar a mão 
c fleou olhando para clle com um livro no re- 
gaço. Fabio levantou o livro. 

— Pensei quo Vocé já tinha lido Swinburno... 

Um homem entrava na sala nesse momento e 
Mila apresentou : 

— Mr. Pulnam. Cá temos de volta o nosso 
amigo, caro... 

Fabio reconheceu no marido de Mila o fellow 
da noite da sua chegada a Florença. E quando o 
homem se distmhiu um momônto, indo buscar 
uns papeis para lhe mostrar, o seu despeito de 
intcllcctual se manifestou mesquinhamente : 

— Mila. logo o homem dos Medieis c de Navo- 
narola ! Aposto que c por causa d'clle que Vocô 
está esUulando Sw inburno ! 

Mila corou muito o não respondeu. 

Fabio criou odio a Londres o veio para 1’ariz, 
onde além das clironiras políticas para o Morning 
Posl, o seu principal oflicio era cultivar o leticlic 
do seu nome, não lendo pressa, quo é como ollc 
chama o chegar atrazado. Um dia me fez uma cx- 
|Hisicão das obrigações fctichistas, substitutivas 
dos cultos, na irreligião do futuro. 

Alt ! não é um louco. Nem um massante, |*jr- 
que a gente nunca o encontra quando chega cedo. 

Domicio i»a Gama 



A força do nome (cont.) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


733 


t éÈi- :iM :l :% x M t & X t ^ .4. ;% x v. #: V 'i' ,*% v í v f 


MISS EPA M INONDAS 



E ka grande c graciosa c muito linda a loura Annic. Mas, alta 
e viçosa como era e apezar dos seus dezoitoanm», nfln pas- 
sava de uma menina de cabeça pequena c coração ingênuo, 
propensa ás illusõcs, Até na boquinha de rosa sempre entreaberta 
como n uma expressão admirativa c nos olhos a/ues muito apar> 
tados. cheios de «cisma, era visível a sua alma innocente, vivendo 
na serenidade da ignorância. A ignorância da gente inquieta e 
curiosa é cheia de suspeita» c conjectura», que 06 como a» frestas 
incertas por onde entra na alma a claridade do saber. Annic nâo 
era curiosa c o» seus olhos tâo limpidos c claros como dous lagos 
azuessó rc flectiam oceu vazio 
c calmo. Como quem mal aca- 
bou de ser creança, gostava 
de ser alta c bella, para vestir- 
se c fazer de dama. Os senti- 
mentos da cdade lhe faltavam 
e com elles os seus tormentos. 

Apenas uma sombra cn tur- 
vava por vezes o luzimento 
dos seus dias de moça : achava 
fria a deferenda oortez com 
que a tratavam mesmo os que 
a conheciam dos tempos de 
menina; parecia-lhe dema- 
siada a reserva das formulas c 
maneiras do respeito mun- 
dano. Só a mie ainda a tinha 
por menina, ralhando com 
cila quando a cabecinha inex- 
perta lhe desajudava a tenção 
de bem fazer, ou, nos bons 
momentos, pegando-a ao collo 
c amimando-a.com as mesmas 
palavras c as mesnus caricias 
das cffusõcs antigas, 

Da outra gente : as mu- 
lheres tinham ido gradual- 
mente diminuindo de familia- 
ridade, com esse receio vago 
de ofFcndcr os adolescentes 
nos seus melindres de grandes 
pessoas ; os homens, unifor- 
mizados n’uma amabilidade 
exagerada, que a constrangia, 
tentavam fazel-a rir com toli- 
ces, ou entio lhe falavam com 
descabida gravidade de cousas 

profundas e obscuras, que cila mil podia perceber que tinham 
subentendidos; todos lhe pareciam desafinados c ext ranhos, muito 
longe da sua sympathia. Com as creanças era cila quem desafinava, 
se ainda as procurava para brincar, Com o crescimento tinha mu- 
dado de gosto» c já lhe Mio interessavam as peripecia> simples e 
fáceis de prever dos jogos, nem mesmo a violência dos que ou tr 'ora 
nui» lhe davam a febre do movimento. Sómente, desses guardara 
a excitaçio quando dansava. A cadencia c o rythmo ainda a embru- 
gavam, quando náo era um homem que a pegava pela cintura. As 
precauções ceremonioms do» seus pares masculinos Use desagrada- 
vam; faziam-lhe cócegas aquellas rnâos sem firmeza. Ainda n*iao 
preferia a decisão brutal das creanças. E com e*a facilidade de 
generalisaçáo própria dos ignorantes, concluiu que na verdade náo 
valia muito a vida da gente grande. 


continuando a mnini vida d« p.rs«*>io«.. 


Como era saudável e robusta, dcsprcnccupada de reflexões, pouco 
llie alterou o modo de ver as cousas essa conclusão pessimista. Nem 
mesmo a concltisáo foi bem formulada. Continuou a sua vida de»- 
cuidosa de futuros, resumida de aspirações. agazalhada entre a 
aflciçâo Mitficieute da família. 

Unu tarde, entrando de sopetâo na sala que suppunha vazia, 
encontrou a máe conversando com um estrangeiro « Minha filha. 
Sr. Campos ». Essas quatro palavras de apresentação ficaram na 
memória de Annic para sempre. O estrangeiro levantou-se c, cor- 
tejando, disse palavras amaveis, ph rases galantes que cila náo 
entendeu, desat tenta do seu 
sentido para só lhes gostar o 
som. Ellc falava lenta c cui- 
dadosamente, com essa esco- 
lha de expressão que têm os 
que nâo sáo familiares com a 
língua. A pronunda rigorosa 
tinha um sotaque estranho, 
ao mesmo tempo surdo c 
forte, comn voluntariamente 
constrangido. Mas em certas 
réplicas mais calorous a cm- 
phase, que devia ser o fundo 
da sua língua natal, soprava- 
lhe na garganta em syllabas 
rugidoras c prolongadas, em 
notas de buzina de caçador 
perdido, retumbantes c doces. 
Annie olhava para ellc e para 
a máe altcrnativaraente c co- 
rava c sorria, cheia de confu- 
são, c por fim sentou-se de- 
fronte delle e bebeu-lhe a* 
palavras, já captiva. 

O estrangeiro dizia as suas 
impressões de rcccmchcgado. 
com a viveza e a justeza de 
quem traz na memória ainda 
fresca o vulto nítido das cou- 
sas lá familiares c aqui ext ra- 
nhas. A Sra. Brooks.quctinha 
viajado, ouvia-o com indul- 
gência, ria nos parallclos pit- 
torescoj, acccntuava as diffe- 
renças da* cousas que o via- 
jante achara novas e que a 
Annic pareciam tâo naturacs 
c universa» como o sol brilhando de dia e os bicos de gaz durante 
a noite. De outro cll.i facilmente tornaria por injuria nu irreve- 
rência a critica dos <eus usos c costumes ; náo d’aquella bocca sonora 
c varonil, cm que o rivi náo podia ser de cscarnco: Era grande c 
forte c tinha as mâns brancas e finas. Tinha o gesto sobrio e apro- 
priado, sem hesitações, c o olhar direito c franco dava a imprcssâô 
de que fossem claros os seus olhos pretos profundos c sotnhrcados, 
como olhos de aguia. 

Terminou a visita, o estrangeiro despediu-se, emprazado para 
logo, pois era um recommendado da família na Europa; e mal 
atraz delle fecharam a porta da entrada, Annie dizia para a máe, 
tuinu explosão de enthusiasmo : 

— Que homem encantador, maman ! 

A Sra. Brooks poz-se a rir : 


Miss Epaminondas. Revista Moderna, Paris, ano II, n. 26, p. 65-69, dez. 1898. 





734 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


REVISTA 

Ora graça»! que .1 minha Annic começa a cnamnnir.se. 

K que a itençAo da filha ale lio urde a aíttigia como um signal 
de estupidez mais do que de reserva de eomçflo. NW ponto pre- 
feria ler de ralhar com cila e reprimir-lhe os desmandos de senti- 
mento a vèl-a perpetua mente crcança de vestidos compridos c 
olhos innoccntes. 

^ estrangeiro voltou, fez-se de casa, acompanhou as senhoras 
ao theatro e a festas na sociedade, onde cilas o apresentavam. Para 
a gente de fóra que os via frequentemente juntos olle era o beau 
de Annie. Esta mesma para considerar-se d 'elle nem sequer pen- 
- ava que jimiii tinham conversado senão de cousas divertidas ou 
sem interesse, nunca sériamente pcssoacs, tratando d ellcs dire- 
ctamenlc. Campos, porque nAo era fatuo c nao via na menina 
nenhum signal de affciçflo mais terna do que a simples amizade c 
imaginava que 0 abandono confiado em que cila vivia fosse usual 
entre a gente da sua nnçflo, nunca pensou em se rctrahir nem em 
levar a um desfecho aquelta situaçAo deliciosa. Sómente, um dia 
veio cm que, tendo conversado longamcntc sobre um concurso 
hippico e as mulheres elegantes c as modas novas da próxima 
cttaçAo mundana, que alli se estreiava, foi preciso falar na seju* 
raçAo breve, na sua volta á terra, e, gracejando imprudentemente, 
ellc perguntou se, para se nAo separarem, Annic quereria casar 
com elle. 

Annie respondeu ‘'Quero” como se dissesse "Naturalmentc". 
Campos, que ia sahir c nflo se lhe dava de ter a sua companhia 
até a regiAo das lojas de modas e armazéns de luxo, pegou no 
chapeu : 

— Pois ha uma egrejacatholica alli no canto da rua 21. Venha 
commigo. 

A menina nâo pareceu entender a brincadeira. Muito séria 
cmpallidcccndo c corando, c sem se mover da cadeira, declarou : 

— Agora nâo, que nAo estou prompta. 

Campo* sahiu e nâo pensou mais n isso. Nao assim a Sra. 
Brooks, a quem a filha contou nessa noite que o seu namorado 
era tAo impaciente que já a queria levar á egreja, sem prevenir 
ninguém. O gracejo, sem importância para qualquer outra rapariga 
experta, lhe pareceu imprudente para aquella, que era tAo sensível 
e lhe parecia em caminho de se apaixonar sériamente, como a sério 
tudo fazia. Mas logo se tranquillisou quando os viu juntos conti- 
nuando a mesma vida de passeios c festas, sem mais apparcncias 
de ternura que a natural entre amigas de sexos differentes. Só 
quando, passado o inverno, veio o momento cm que Campos nAo 
poude mais adiar a sua partida e tomou passagem n'um pequeno 
vapor da linha hollandcza, lhe voltaram as apprchcnsóes, sendo a 
filha diminuir de alegria e mais frequentemente se lhe escurece- 
rem os olhos claros com a sombra das reflexões penosas. Depois, na 
manhan do mau dia, a menina, muito pallida c fatigada da sua 
noite deinsomnia, disse : 

— E' bem preciso que a gente sofTra pelo» que ama. 

Era a resignação salutar. 

O estrangeiro partiu c Annie ficou pensando nellc « Toda a 
vida *, ella dissera no aperto de mAo da despedida, que foi muito 
rimplc*, sem choro nem juramentos 

Foi cm Hoboken, na Gamboa de New Jersey, que Annie viu 
entrar o seu sol. quando puxaram a prancha de coinmunicaçAodo 
barco ao caes c a espia da proa veio açoutar a agua suja da doca, 
onde a helicc do Maauiam começava as suas rotações, que só ces- 
sariam dahi a dez dias, no outro lado do mar. EntTe a longa fila 
de cabeças arrumadas sobre a amurada já cila nlo poude distinguir 
de terra os olhos negros que lhe tinham trazido a luz e agora lha 
tiravam. 0 supor dobrou a ponta do molhe, pequenino contra os 
immcnsos paquetes allcmlcs entrados de manhan ou tambem se 
preparando para sahir, e a Sra. Brooks notou a diferença. Annie 
disse entáo a sua grande phrasc de paixAo : 

— Pequenino como c, ainda assim cabem nelle as minhas ale- 
grias c todas as minhas esperanças. 

E como a mie. sem rcprochar-lhe a amargura do lamento, se 
inclinasse para bcijal-a. a rapariga colhcu-a pelo pescoço c, com o 
rosto escondido no peito materno, chorou longamcntc. 

Voltaram para casa Icntamcnte. através das ruas estreitas c 


MODERNA. 

*ujas de Hoboken, opprím idas entre a fumaceira das fabricas c a 
lama negra das targetat, sob o mormaço já ardente de Maio, sem 
falar ou falando de cousas indifferentes. Na barca fcrry uma cigana 
leu nas rnAos de Annie uma fortuna brilhante de rainha, longas 
viagens e longos tormentos de amor, de que sahirtn afinal trium- 
phante. A Sra. Brooks aceitou a boa prcdicçáo como um pretexto 
para *© desafogar do desgosto da filha. Mas esta continuou amor- 
tecida, de olho» j)crdidos, scismando profundamente. Tinham um 
convite para jantar c theatro n’cssa noite. Annie conversou sem 
tristeza, mas ouviu a peça distrahidamente c ao abrir a porta da 
cisa, á meia noite, declarou como conclusAo das suas reflexões : 

— E’ preciso fazer alguma cousa por mim, melhorar minha sorte. 

A mAe sorriu : 

— Melhora-te primeiro, filhinha. Assim em t» mesma encon- 
trará» consolo. 

No dia seguinte a menina entrou para um curso de linguns c 
trouxe para casa uma lista de livros cm que todas ou quasi todas 
as sdendas se achavam representadas. Annic explicou aos amigos 
e parentes que ia estudar littcratura c com tanta seriedade o disse 
que ninguém escarneceu de seu proposito. A Sra. Brooks approvou 
o projecto, como uma diversAo salutar, c pensou que, cm vindo o 
ver Ao, os diverti mentos da beira-mar e da montanha substituiriam 
c acabariam a cura começada pelos livros. Era mal conhecer o 
caracter da filha. Esta puzera os olhos n'um objcctivo longínquo e 
para lá caminhava através da enrediça das grammatico» c das mon- 
tanhas de noções scientificas. que por vezes a fatigaram sem desa* 
nimal-a. Houve desordem no seu trabalho cmquanto nlo perce- 
beu — era preciso que percebesse por si mesma — que nâo 
basta adquirir noções, c preciso fazei-as render. E no dia em que 
ambiciosamente architcctou o seu primeiros lystcma do universo, 
cm que fez a primeira general isaçAo c sentiu o prazer do estudo 
productivo, concluiu que estava no bom caminho para se melhorar. 
Essa segurança lhe tirou um pouco da sua graça submissa de 
menina ignorante. Ella passou a ser muitas vezes affirmuliva, para 
discutir c aprender com agente sábia. Ainda n.V> sabia o que era 
uma convençAo política, ji discutia o» programinas dos punidos em 
luta. Apenas um professor lhe deu os primeiros lineamentos da 
ctymologia, aventurou a unidade das línguas, conduzindo A 
affirmaçáo da origem commum das raças. Passava facilmente do 
particular para o geral, como é de costume entre os a|>r«idizes de 
philosophia. Mas a cada rebatimento das sua» ambiciosas gencrali- 
mçiIcs, a cada facto novo que lhe era revelado cm conversa ou cm 
ücçfto, Annic alargava o seu programma de estudos, ate que, con- 
sultando a matéria dos cursos, descobriu com terror que estaria 
velha antes de os ter completado. Foi ísío na occasiáo de partir 
para a montanha, e entre a fadiga da arrumação das malas e 0 
cnncrvamcnto do calor intenso de Junho .1 pequena philosopha 
teve uma crise de desalento e cedeu ao conselho da mác de que 
deixasse os livros na cidade. 

I-á cm cima, porem, os pic-nic», o tennis, as dansai do hotel c a 
conversa rasa c repousante dos veranistas lhe pareceram insuppor- 
taveis. E menos supportavel ainda a córte que entrou a lhe fazer 
um rapaz elegante e iniclligentc, mas presumido. Annic maltra- 
tou-o quando elle, sentado no chio junto da ritie cm que ella se 
aninhava sob os carvalhas á beira da torrente, chegou á declaração, 
que suppunha esperada c aceita de antcmlo. 

Era uma noite linda de luar e da sombra das arvores parecia 
ainda mais mysteriosa a claridade phosphorca que lavava os relva- 
dos pertos e as florestas ao longe, e fundia as montanhas na leve 
bruma azulada subindo das grotas c embebendo toda a paizagem 
no ambiente magico dos sonhos de encanto. Annie pensava no 
Sotifr tia noite d' estio, no canto de Aricl, na voz de Campos, repas- 
sava 0 seu sonho de poesia noeoraçào túmido de suspiros de sau- 
dade, quando o companheiro lhe dirigiu uma phrasc galante, que lhe 
liareceu já sua conhecida. Deixou-o continuar Era uma tirada de 
romance franccz, que provavelmente o moço pensava que ella nAo 
lera. Preparava-se para se divertir i custa da sua eloquência de 
segunda mAo quando o sentiu que pontuava o discurso com um 
beijo na máocsqucrda que ella deixara pender. Ievantou-sc brusca- 
mente c. pondo os pés no cháo, disse encolerisada : 


Miss Epaminondas (cont.) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


735 


REVISTA MODERNA. 


67 



Kii me «timo demais |uu consentir cm ouvir declarações 
que nflo sejam feitos pela minha medida. Certa mente nflo me ser- 
vem a* que assentam ás heroina» de Octave Fcuíllct. 

O moço também se pos de pê, embaraçado. 

Peço perdão, a situação c a mesma... As palavras... 

— Nflo sflo as palavras que me oflendem, c a comédia de senti- 
mento, que nflo admitto que se queira representar com migo ! 

O tom era desabrido ; o namorado repcllido balbuciou, resmun- 
gou uma explicação c por fim retirou-se. 

Annie tornou a se recostar na rede, perturbada, irritada contra 
si mesma, por ter dado tanta importância ao incidente insi- 
gnificante e commutn no* namoros de verflo. Mas de 
repente a scnsaçflo do beijo na mio. do beijo falsa 
mente rcsjvitoso, porque era um simples 
gesto obrigado da comédia, feriu -a de novo 
nos seus melindres, nas suas repugnan 
ciasde virgem, e cila sentiu a misé- 
ria do primeiro contacto con- 
sciente com a mentira e a mal- 
dade. O grito que entflo deu 
pela mie foi real mente um 
grito de soccorro. A Sn 
Brooks, que conversava 
n'um grupo de senhoras 
sob a varanda do hotel, 
respondeu inquieta, e a 
rapariga, cahindo cm 
si, nlo soube se nflo 
propôr-lhe que se fos- 
sem deitar. E no quar- 
to. ainda muito exci- 
tada c commovida, re- 
feri uá infle o incidente 
da declaração. 

A simples senhora 
começou se divertindo 
c acabou por se assustar 
com a cxaltaçflo da filha. 

Em vflo lhe quiz explicar 
que nlo era um crime em 
matéria de sentimento ado 
ptar um namorado a tirada de 
romance que lhe ficara na memo- 
na e que lhe parecia melhor expn- 
mil-odoquca que lhe dictassca pró- 
pria inspiraçflo. Mas que, alem d 'isso, 
mesmo admittindo que o rapaz nflo fosse 
sincero, a* mentira* na comédia do namoro fazem 
quaíi sempre parte do processo que tantas vezes 
leva .10 casamento. A nada quiz Annie attender, 
e. com a ferocidade do coraçflo cheio pela puixflo absor- 
vente. declarou que, sincero ou nflo, el la odiava esse homem 
que lhe fazia a injuria de lhe falar de amor com phrascs feitas. 

Odeio disfarces, imitações de maneiras alheias, odeio a 
mentira sob todas a* formos, seja qual fúr a tcnçflo; mas odeio 
sobretudo o homem bastante estúpido para nflo vèr que estou 
apaixonada, que dei o meu coraçflo a outro. 

— Tu cuidas que isso se vê? 

— Deve se vèr! Pois eu nflo tenlio mudado tanto desde 0 
outomno passado! E, se nflo se vê, vou começar amanhan mesmo 
a dizei -o a toda agente, paru que me deixem era paz. 

A Sra. Brooks calou-se, aterrada com aquclln explosflo do senti- 
mento, que a diversão dos estudos nflo tinha atenuado, antes pare- 
oa ir crescendo temerosamente no silencio. E só se tranquillisou 
quando viu a filha, na matihan seguinte, sentada á secretária, 
escrevendo a Campos. 

EU ® * «rteavam espaçadamente, como por simples obrigaçio 
de cortczia, para conservar as relações entre pessoas que têm de se 
tornar a vêr. Comparadas com as ela rapariga, breves c apenas noti- 
cu*a*, sem grande» mostras de ternura, a» carta* de Campos» pro- 


grcttivamcnic mais expansivas, como se fosse ganhando confiança 
com a reserva d el la, eram quasi amorosas, ca derradeira, que falava 
de ura passeio ao campo nos arredores de Pariz, parecia «cripta 
.1 sombra amorosa do» choupos de High Bridge, onde ambos 
tinham inaugurado a primavera. 

A essa. n um prolixo e confuso desabafo da aíTciçflo longamcntc 
reprimida, respondia Annie. Depois de contar o cavo da vé sp era, 
com simplicidade c tem insistência nem odio. ji acalmada pela 
reflexão c, mais ainda, pela preoccupaçflo do seu problema senti- 
mental, cila passara ao ponto essencial : 

* Meu querido, careço do seu con- 
selho, careço da sua palavra 
para serenar o meu co- 
raçflo que está in- 
quieto. Sabe que 
o amo. ainda 
que nun- 
ca lho 
disse» 


sein- 
rc vi 
nos seus 
olhos que 
o sabia desde 
os primeiros tem- 
po», quando eu ain- 
da nflo pensava que jfl 
andava táo por longe de mim 
mesma. Hoje lh’o digo, sem vergo- 
nha de ser a primeira, porque necessito de 
Anni* pmu«« n 9 •• Sonho «berse sou paga do meu amor. Isso me daria 
d* noiio cTottio ». asegurança queo miserável incidente de hon- 
tem me tirou, desde que maman me disíe que 
a mentira é de regra nas relações entre homem c mulher. Eu nflo 
posso imaginar que V. fosse capaz de mentir 1 sua Annie. Seria o 
mesmo que cu mentir á numan. Entretanto ha as brincadeiras, as 
brincadeiras imprudente* que púdem quebrar um coraçflo que crê. 
Perdoe-me a suspeita, que nflo c injuriosa e iu*cu apenas agora da 
tninlu afflicçflo. — e cu só desejo que cila seja infundada — tenho 
medo que nflo filiasse sériamente quando me propor casamento c 
me quiz levar á egrtja da rua 23. F.u de certo lhe respondi mal 
naquellc momento, se lhe respondi : devia ter ido, devia me ter 
deixado levar, que ji era sua. Mas nflo tive forças para me levantar, 
fiquei acabrunhada de ventura, c dentro da claridade que come- 
çou entflo a me rodear na rida cu só desejei ficar quietinha, immo- 
vcl como uma sinta no seu altar, ouvindo a prece, a musica da 
sua voz. Se eu tivesse morrido entflo... Sou louca! Teria perdido o 
gozo dos dia» que ainda passámos juntos, dias sem sombra, sem 
aurora nem crcpusculo, em que vivi num cUrflo. mergulhada no 


Miss Epaminondas (cont.) 





736 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


68 


REVISTA MODERNA. 



esplendor dc um mdo dia radioso. O passeio a Higli llridgc, com 
aquellcsol dc ouro nas folha* novas e a alegria dos jussaros can- 
tando c a felicidade da terra com a volta da primavera c as mon- 
tanhas longe c o mundo tio grande, que cu sentia pela primeira 
ve*-.. O vento ia c vinha, sem pressa, passeiando como nós, brin- 
cando, perfumando-se com as flòrcs, coxixando ás veres e outras 
vc/cs sussurrando alto essa* cousas que nó* náo entendemos c que 
os poetas adivinham. Você me disse as terras donde o vento vinha, 
as paizagens, as sccnas que linha visto em caminho c que, bem 
contadas, sio a poesia. E eu pensei que o vento era como o estran- 
geiro. encantador, mysterioso e vagabundo, falando em lingua des- 
conhecida, envolvido no prestigio dos céus ext ranhos, c náo podeti- 
do parar sem morrer. Foi n'csse dia que a minha alma se dilatou 
com o desejo de o aocorapanlur, de se dispersar pela terra que illu- 
minasse o claráo dos seus olhos, que povoasse o canto da sua voz. 

F. me preparei |>ara as durezas das separações, para os tormentos 
das ausências prolongadas. Mas. ó meu amor, náo podia me prepa- 
rar para o horror da mentira, e essa primeira que descubro tentando 
rne tocar hastou para me envenenar o ar que respiro. Por i»o lhe 
escrevo, jura me certificar. Tenho medo, nlo que me enganasse, 
nus que eu me enganasse, c que a sua tcnçlo nlo seja dc me tonur 
para si. Note que a palavra casamento jura mim nlo representa a 
ccrcmonia realizada c a vida dc casados, os direitos c os deveres de 
que fala o padre. Nlo, ella seria apenas uma promessa, a esperança 
inefiavcl, o signal dc que cu sou a sua escolhida, sem que cu po&sa 
reclamar jamais o cumprimento da promessa. Entretanto, por 
mais virtual que ella pareça, nlo quero que a minha esperança 
seja vane infundada. Eu tenho o culto do meu amor, c, coroado 
ou infeliz, nlo soffro que a mentira o toque. Delia sempre ficaria 
o tisne nos longos vcus, nos botões brancos da minha grinalda de 
noiva, que sua noiva hei dc ser toda a vida. » 

Quando acabou de escrever Annie tinha quasi recuperado essa 
segurança que pedia ao amado. E tanto que, vendo passar pela 
varanda o desastrado 
adaptador de Feuillct, o 
namorado da véspera, 
chamou-o com um ama- 
\cl bom dia c os ulhu* 
risonhos. O rapaz parou, 
embaraçado, depois en- 
trou na sala. dc* chapéu 
na mio e ar confuso : 

— Miss Brooks, peço- 
lhe humildemente per- 
dlo... 

— Vamos, vamos ! 
quer que fiquemos ami- 
gos? nlo falemos mais 
n'i*so... 

E deu-lhe um enér- 
gico aperto de mio, como 
de homem a homem. 

Ficaram amigos. Além 
dc intclligcntc. o homem 
era instruído : trocaram 
ideas c conceitos e ella 
estimem a honestidade c 
prccislo do seu juizo. a 
linguagem clara e firme 
do homem de estudos, 
tlodifferentcda dogalan- 
leador, e ellc conheceu 

a generosidade do seu co- Mafc 

raçlo, que Uic dominava c 

conduzia o espirito ide^oberU prompla das verdades moraes, corno 
por presentimentoou por in tu içá o poética. Uma tarde ellc resumiu 
os seus pensamentos dc moral applicadaáqucllc caso particular : 

— Na vida lu duas cousas sempre novas, sempre interessantes, 
dc que a gente se nlo fatiga nunca, porque nlo slo um fim, *4" 
ura modo de ser, o gesto familiar de um caracter : slo cilas o amor 


e a lida pela verdade. 1 ma nlo excluc a outra, mas 6 raro que *c 
P ms * accutnular. Ha os santos, mas sem duvida nlo convem que 
haja muitos sinto», pira nlo desanimar a gente modesta ou nul 
aquinhoada em virtudes. Nlo se case, Miss Brooks : nlo encontrará 
de certo o homem que a ame corno deve c que mereça o seu amor. 
Mas funde um jornal, para exercer o apostolado de cuja vocaçlo 
eu fui o primeiro a conhecer o ardor, quando Uto duramente repcl* 
liu a minha infeliz declaração. Funde um jornal par.» a defesa d.i 
cmsi única c multiforme da revclaçio da verdade. O» seus olhos 
claros saírem vcl-a melhor do que muitos que parecem bem prepa- 
rados para doscobril-a sob os disfarces. O material, cm breve adqui- 
rirá pelo estudo, que a armará para a lida. () estimulo, se d tile 
precisasse, encontraria no trabalho dc cada dia. que lhe parecerá 
afinal a sua unica razão de ser. Agora, uma ohservaçáo : náo faz 
objccçáo ao* oculos? clles sáo fatae.t Eu vejo-a encantadora assim ; 
nus |xkle ser que essa lhe seja a provaçáo mais dura... 

O joven conselheiro se enganava : o que mais ia custar a Annie 
era a sua esperança de amor. 

Posto á vontade pela sttuaçáo que se lhe fazia, deante da lar- 
gueza illimitada do pmzo c encorajado pela distancia, Campos 
respondeu A carta da que se dizia sua noiva com uma carta inflam- 
mada c sem OOmmodinieiUo. Depois passou ellc a ser o que falava 
de amor, variando de formulas e phrases ardentes e ternas, como 
u: lhe quizesse entreter e avivar a puxão. A falta dc sinceridade o 
fazia deshonesto. Mas a menina, cégumente confiada nlo mudava 
de tom. Esc revia-lhe simplesmente, breve meo te, sem phrases, 
dando noticias, mesmo dos estudos, que a absorveram, desde que 
voltaram para cidade, durante ooutomno c todo o inverno. Apenas 
uma vez ou outra lhe falava nos oculos dc professora que usaria 
quando tivesse um diploma, uns oculos redondos c pesados, dc 
vidros fortes. d’es$cs que consomem o» olhos a pretexto de o» aju- 
dar e acabam por ser os jurasitas do rosto, addkJos |>erinanentes á 
physionomia. 


de repente olhou para a mãe... 

Antes porém, que fosse obrigada u usal-os, a exacerbação ner- 
vo» dos excessos de estudo lhe impoz um repouso forçado. Os 
médicos lhe aconselharam a diversáo da* viagens pur mar, a mu- 
dança de clima c dc vida e a Sra Brooks propoz a viagem á 
Europa 

Annie aceitou com a condiçáo de irem primeiro fazer uma 


Miss Epaminondas (cont.) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


737 


RH VISTA MODERNA. 


69 


surpresi a Campo», que se instai Iara cm Pari*, como agente de 
negocie» incerto» com a llcspanha c u» duas America*, c. 110 per* 
|K't uo provi sorio tia nu vida, tomara uma companheira tombem 
provisória. A viagem lltc pareceu interminável e cada ve* mal» 
lenta A medida que se approximava do fim. O trem expresso do 
lla*re a Pari/ se arrastava pesadamente, cm ve/ de voar como o»cu 
desejo. K apenas chegadas ao Intel, depois de um leve almoço, para 
tiram A procura de Campo». Elle morava n‘uma rua triste c pouc- 
transitada, nas faldas de Montmartre. A escuda era ingreme, escuro 
e sem tapete. No quarto andar tocaram varias vezes a campainha. 
Por fim veio uma crcnda abrir. 

Mora aqui o Sr. Campo»? 

Sim, senhora. Mas nio estio cm casa. Foram almoçar a 
Saint-Germain... 

- - Elle mais quem ? 

— Elle c a senhora. 

* - O Sr. Campo» é casado ? 

— E’ casado... 

Annic recebeu o golpe cm cheio no peito, no seu peito de vir- 
gem robusta, e ficou um momento calada, meio atordoada, pen* 
vindo que se podia ter enganado de casa c que moraria alli outro 
Campos. Mas o olhar vagando pela pobre «atinha de visitas, 
que também serviu de cscriptorio, deu com o seu retrato ao lado 
do do sen Campos, feito num photographo da Quinta Avenida. 

Teve uma ancia, que logo reprimiu. E procurando na carteira 
o bilhete de visita da mie escreveu 11’clle o seu nome, a data c um 
P. P. C. bem claro. Depois, cntiegando-o a creada r 

Pois diga ao Sr. Campos que aqui estiveram as suas amigas 
da America, que o vieram ver entre dous trens c ralham muito 
com elle por se ter esquecido de lhes dar parte do seu casamento. 

Conservou a firmeza até ao quarto do hotel. Ahi desatinou, 


u um grande pranto, chorou a sua miséria, quiz morrer. Mas de 
repente olhou para a mie, que nâo mbia como a consolaste, intei- 
ramente desamparada na terra estrangeira, demite de um soffri- 
mento que ella bem comprchcndia c avaliava. Annic teve remor- 
sos. Ixmbrou-sc enUo da prodicçlo da dgana c dos conselhos do 
moço que plagiava Feuilkt. E « inteiriçando contra a clòr dilacc- 
rante, fez ao seu futuro de apostola e i sua dignidade de mulher o 
sacnficio do amor incompatível : 

Vamos auunlun para a Italia, mamai). Na volta cu lhe 
promettoque estou curada. Depois, 11 'este outoinno. iremos para 
Boston. \ ou estudar com ordem e moderação. Em dous anno* 
quero estar jornalista. 

Cumpriu a promessa. O tír^Às Wcekty, fundado e dirigido 
por ella.é um dos mais massadorc* jornacs para familiasquc ha u.i 
America. I*. austero, intransigente e secco. 'Prata muito de educa- 
va 0 ' de religião, de hygicnc c de grandes questOes insolúveis do 
desequilíbrio necessário das massas sociaes, da desigualdade na 
repartição da riqueza, do* destinos dos raça» c das nações. Tem 
uma secção amena confiada ao homem que plagiara Feuillet, o 
qual se quiz associar d empreza de Annie Brooks, diz elle que para 
assistir ã inauguração dos oculoí. Ella, porém, ainda nâo se decidiu 
a passar d ofocc-ò-motn c isso mesmo no theatro ou tus e.xpunçócs 
de tellas-arte», por impostura de critica. Por vingança da sua rude 
sinceridade de apreciação entre o inundo das lettras e artes a 
chamaram de Miss Kpaminondas Mas vó a rale se offcndc com 
isso. Durante a ultima guerra Annic falou em conferencias publi- 
cas, fez parte de comités patrióticos, deu combate à iniquidade e á 
mentira hespanholas. 

Esqueceu-me dizer que Campos era hespanhol. 

Domicio da Gama. 

Parix, 7 de Deicea bro ibjt. 


1*1 


8 » 



E.xtraordmana Jrota, 
Pouco lhe importa o mar, 
Seguindo igual derrota 
Por terra ou pelo ar. 


Emquanto marinheiros, 
Das minhas /rogeis ruins, 
Brincais, sois sobranceiros 
.tos pensamentos mdus. 


As vezes, minha mesa 
Transformo cm arsenal 
E me consagro à empreza 
Da cons/rucçifo naval. 

Fabrico lindas naves 
Cuja tripulando, 

Mais teve do que as aves. 
Tem singular condão. 


Vai ter a qualquer plaga. 
Si m vt'la e sem vapor 
E fica, si naufraga. 
Murcha, como uma flòr. 

K para wís. meus filhos, 
Que assim tanto batel 
Consinto. .. Tombadilhos 
E 0 mais, tudo frafiel. 


Quisera que arredios 
Do mundo sempre, em paz 
Vogásseis nos navios 
Que o vosso pai vos faz. 

Bem haja quem navega 
Xessas embarcardes, 

Da vida na refrega 
Mantendo as illusões ! 


Villa Petiote-PctropoHs. 


AFFOSSO CELSO. 


Miss Epaminondas (cont.) 





738 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


CRÍTICA 


que foram. •* , r n partida. 0\i- 

gona-me « jieito r»tn esperança: lu*i 
de v«i r, em breve, uinn grande Intel- 
lig**nria «1«* amigo, aceitada para a 
lutn, <* então, clb> ini oomninuro, com 
«•>*1» esplendida geração hoje, r«t»i 
Irtlru tia sublime, qu« faz |i‘t(niN I 
ntlVuiitnr u iiidiflVrenra dihcernnte 
doa «pie nn* vim passar. 

Entretanto, o seu sentimentalismo 
ainda a.. o serenou.. . Mas... ar muito 
nú«> posso *ym|mtliisar com o escri- 
ptor, nuda iijr iui|H'dirn de ter |Kir 
amigo n Case caracter resistente, rm* 
quebmntavel, furte, «pio nó* conhe- 
cemos na* hdtru* |Ho nonr lo : O. 
Nlémcyer, c nn vida iiitinm j»or: 
01 cm pio, simplesmente. 

Vem aaeaso; mais duas linha» : 


Oi: AN A RARA 


CANCIONEIRO 


Al) SEM PER 

Ah ! que sc não te vira, não te umãra. 

E melhor fora nunca tcr-ie visto. 

Pois que este amor que sinto de imprevisto. 
Por certo dc sentil-o hoje evitara. 

Tu fazcs-me sentir a vida cura... 

K sabe Deus como eu <í dòr resisto; 

Como 1 meo trabalho, c cm vão insisto 
Vencer esta paixão tamanha c rára. 

Dissipa dc minhalma esta tristeza, 

Ras^çi esse véu sombrio de frieza 
E volve a mim teus olhos luminosos. 


( ‘ouiocon victo jhwUi lyrico N icmnyer 
édr uma iliipressionabdidade <!•*! i<*n- 
dtasima, nina tanto ú* flores como á* 
mulheres como á* crianças; c, estas 
trea entidades, são n trilogia oórd<* 
rosa das nua*» scismas profundas. 

I.. (tOSXAOA l>UpK KsTIIADA . 

1 ‘ IóIíiymiu' sóm«'iili- »*>« bofnruiii>t, 
mu* «jm» mia c*crwoti» |*«r pii*»nt«m|»o. 


O JUSTO MEIO 

Foi um syjstrma (sditico quoattra- 
hiu sobre I.tiix 1’lirlippc «s cliufas e 
oa dichoteg; dos theóristn» românti- 
cos, mais symp:ithico- á multidão que 
nVlles viu a oppotiçia arder*'* dos 
demolidores do idolo da autoridade. 
K esses *arra«mna.«-spiritiiosos tive- 
ram maior poder dissolvente sobre a 
monarchia da Julho que a m«smn 
tio proclamada indignação popular, 
porque essa *6 se manifesta, quando 
o regímen que se desmorona nào 
offrrecc mais garantiu* <le estabilidade 


O' scismadora c paüida criança. 
Desata a negra c avclludada tranca. 
Ao calor dos meus beijos amorosos. 


João Rarho/a 


e, cofiarguintcmcntv. de reprcssSn 
da* revolta*. 

Kn t reta nto.o» sy »te m n » ex t rv» in nd< 
que tanto mal Um feito ao deaenvol- 
vimento social, começam hoje n nào 
agradar ú grande massa parai n r 
eominndista da» ptipulaçõi'*. K* qu< 
as reacçôc» violentas que succrdein ás 
Crises wieiaes já hoje jKxIem ser ana- 
lyandas friaw-nt*' por quem quer que 
dispõe de algum senso critico dn 
Í.Í'tiTÍsíí Al t. "Vw. ’ , 

élmpreainonista.rxpcrimentndn |>elaa 
deimlfifOe* que lheeausou aconflanen 
nos sonhadores políticos, pede garan* 
tias a todos os reformadores ou che- 
fes dc escola, exige que lhe demon- 
strem as vantagens da mudança. K 
se a nfio persuadem, o balde <ragun 
do ridieulo vem apagar os fogo* de 


pnllm dos cntliusiasmos inluiuhnlo: 
•• elU torna no seu trabalho ineon 
seiente dn contribuirão jmra n capita 
j «oeinl.que t«»los querem gerir. De|»oi: 

muito difHeil arraiteal-a A sua in 
j dílTerenea |»e|oj; novo* Hvstcmas, s< 
j esten lhe n&o fazem coneeasões, tem* 
| porarias embora, dexacriíleio ás suas 
I alfriçfte», aos H eus gostos actuae», qui 
I mais tarde se Irão ntodlfienndo ac 
j eontacto dos principio»^ moderno* 
y. n.ee , ....HJrnirx úO-de Úm *slemtr.V 
. novo na obra eomnrmm n j 0 £ 

I quando o elemento é explosivo ou des 
conhecido, e é esse o caracter dos sys 
ternas revolucionários. O* contraste, 
violentos assustam, porque produz ir 
um dexeqiiilibrio physico o U Intel 
leetual, da sensaeáo ou dn sentimcii 
tnlidnile. 


rae a mulher / teto «wer lõutuit e 
aubtruhi-n n tod» compnnliin nociva 
o á todo meio dcletcrio, elevando-n 
«cmprfl at<5 vosso caracter. Kst<* ul- 
timo era o caso dc que nos occu- 
pamos. 

Ambos tom razão, mas em parte 
admente. O exclusivismo em qual- 
qucrdVufsitftdoutrina* acearreta grn- 
ves |icrigoM. K', porém, mais grave 
ainda qunndn *e conHa na nattinv.a 
f- se abstmhe dn educarão o do meio 
social... 

Aos últimos eu direi: herdam-sr 
qualidades morse» como propri«*da- 
dea physicas. A virtude, s*.* iinplniita-se 
li 'alma pela educação, e pelo exemplo, 
também já ahi ac acha por descendên- 
cia Cac desenvolve espontaneamente o 
germen ahi lanendo |K»r gerações ante- 
riores ; como o vírus inociiln-so no 
sangue por herança e por trniiafiisio. 
Oa excinplosabunUani para contlrmar 
casa aaaerção. 

K para responder aos primeiro* — 


contra o casto poucocomtnum de ha- 
verem filhos d,* mios que são bons r 
de haverem verdadeiro* herdes que 
vencem a influencia dn mrio— apre- 
sentarei o caso muito mais gemi. que 
pode ser expresso por este roneeito e 
de que o caso de que nos oceupnmns 
é um exemplo frisa ii te: ■ n'um plano 
inclinado r escorregadio não ha se- 
gurança do pernas que baste. ■ 

O melhor portanto, neste assumpto, 
ó uma escolha moral e racional c a 
suhtraeçãoá intluencin do meio ruim. 
R‘ a doutrina da sensatez e da pru- 
dência. 

Mas é isso sempre jiossivel? 

Nfio, do certo ! Mas, quando o fosse, 
isso mesmo teria limites muito aper- 
tado*. 

A concentração extrema traz o iso- 
lamento, conveniente jwra n lua 
de mel c depois mO siipportnvel, se 
bem que nceessario, para as horas do 
cãtudoeda phitosopbia... A solidão, 
neccssarai em certo» momento» «la 


vida,qnnudo prol«mga«la, exacerlm a* 
«lores daqnelles que a procurara... 

K n escolha? 

— Kscolhe-se |,or ventura uma lei 
natural ? A lei do amor é uum lei na- 
tural ; ó portanto tilo fatal como a «la 
gravitação universnl. Nós ob«lecemos 
A «*lla ; não lhe int|»omo>i a nossa von- 
tade.náo nos sen«lo «Imlosos pr«*dicn- 
dos dos heró«*s da Riblin. 

— Mas, se ha positivamrnte erro 
na família? l*ma ve* o erro «ln«ln 
como proceit«*r-se então? pni» erro já 
havia na fnmilia da ineiiiun e erro 
grave... 

Discutamos n questão <Io erro... 

— O erro «In euposu nSo, que não o 
admitto para rlln... O |irincÍpio da 
família, que ella syntbflthisa. 6 sa- 
grado; éa pislrnnngulardasocieilni)** 
e o pudor está pcirn n esposa como a 
probidade jwira o marido. A mulher 
sem pudor, disse -o Sr. Viltela Caval- 
canti, ò Modla faha : não t«*m valor. 



:* 


| ° 'l'*" '“•'»nt«ve em poljticn tem 

I F ,n,,, 'le npplicnefio em litteratum, 
porque a litterntiirn acom|Kinlta passo 
a |>a*4o a « voluçlo social, espelhando 
<>s clarõi*» mui» fuga*.*» q U r s ,.s,,*c,*n- 
•b*n» nu cembru «lo boinem, ílbirni- 
nando n eidnida do progn<sso. 

' ' " t* philo.Hophicoa 
K,> “‘ Ib-ctido na litteratura : vio- 

b neiiis «lo» reformistas, terrorc* co- 
v *rilc* do* Hiistentiidores das iusti- 
tui.;í.«« dncadentoa e enfermas, 
P * bj atei ii do Ji rcrníaa irtipo^ 
t | ' | it.'* «• |»-s»imisln*. nebulosidadca 
confusas d«* visionário» i|u«* doutri- 

phantasias.tpdu 
!i» convieçb * ainsenut a jnalaa, a jiar 
de todas ms nevrwwa contagiosas o 
dalcterciui, m t£m manifcaludo « «li- 

pda Iitt. rnturn, «,u«- f„ 1 1 a 
melhor no espirito popular pelo reves- 
*"..-tito es th «'ti co «In idêa, do que o« 
doutrinários do offleio que a npreatn- 
,r *n* despida das brillmntesrou])agens 
arti.Hticn*. 

I*«'la intuição, gi*neralisn«la hoje, 
caracter «la littoratura, é que 
‘õu mal recehidn» as escolas que 
apresentam um progrnmmado tnins- 
farmaçAo radical, sem respeitar as 
instituições vigente». Além dn im- 
prrssuo violenta <lo contraste, própria 
da nossa unininlídadc, acnlitnos «ea- 
tranheza .dvqiroccdimrnto brutal de 
quem, ao n r m>|a primeira ve* em 

II04SH- -:«, ^ n0BMfl 

er.uiçio «* as UOUM trauiçw». A po- 
bd«'* dv> maneira» é uma Cons«juencia 
■In iieceaaidade «lo convívio social : a 
briit.dtdado protluz um retrahimento 
iucoinpéttvel com o espirito moderno. 
,>or * Sx<) '* que t«'iideino» n nos igua- 
Fir, subi ruiu tudo* á aristocracia do 
maneiraa, que não descendo á bruta- 
lidade llc VlIlõCM. 


K n fnmilia c n verdade e nVIla tudo 
deve ser verdadeiro... 

— Ü erro «la noiva ta m bom nilo i 
adinisxivel pura o homem honrado... 
KU » deve »er moral o physicantenU 
pura e »eu passado deve ser limpo, 
Miesuirj dc leviandades; do contrario 
»*»«■ a tomeis jámais porcompanhei- 
m... e mrsmoque vossa palavra já 
"*t«'ja dada, rrcunc... desligao-a, 
desilc que rcconhcccrdea a má fé, 
pois que a boa fé é n base de to<loo 
contracto o dc toda associação, mes- 
mo temporária, quanto mais d'uma 
união que devo sor indissolúvel a 
perjx tu idade .* 

-Se, porém, sois missionário. »«• não 
temei» o martyrio ou cuhiçae» nuas 
jwlma» con ver tento peccadoras... en- 
tão faz«*i o que entenderdes... Tereis 
a gloria dos Santos, ao não naufra- 
gardes nn dilficil empresa, singrando , 
com contrários ventos; um mar tão 
cheio dVscolhas !... 

I CoNiintai. 


O justo meio. Guanabara, Rio de Janeiro, ano I, n. 4, p. 2-3, 14 jun. 1883. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


739 


flVAXAIURA 


Hii, porém, muitn maneira eortci 
de díxcr a* TonlmliK mni* brutne* 
■em oflrnder Hiixreptihilides, nem 
ferir melindre* fidalgos; lm muito 
véu discreto pura encobrir coloridos* 
ofluHcnntes riinuicm; lm muito tem- 
po na existência socinl puro *e cfiT.*- 
ctuar unm ovoluçftu lenta, ma* sega- 
m, nas crenças e opiniões, sem que 
sejam neccssariasn» crises |*nvoro*ns 
que têm n balado a sociedade «té os 
seus fundamentos. 

A escola naturalista é chamada ti 
representar o papel de mediadora en- 
tre a aridez da «ciência enthedratien 
e olRcinl r a igooranrin 'popular su- 
jeita a preconceito* e abusões degra- 
dantes. O realismo pnrainente psvebo* 
logiro de Stendlinl precedeu mesmo 
a ardente reneçio romantira contra c 
convencionalismo intolerante <!a es- 
cola clássica. Mas, nssim como o 
romantismo, desde tanto tempo mani- 
festado na obra inimitável de Rhnke*- 
peure, careceu de uma revolm-Ao so- 
cial para triumpbar da rotina elns- 
sica, tnmbcm o realismo professado 
por Hal/.ac. Flnubert e Chainplleury, 
nunca foi tomndo a sério enu|uanto o 
romantismo nfto se afogou no pie- 
guismo enervmlor dos escriptores da 
decadência. Mentiam lodosa necessi- 
dade do gd vento de uma escola lit- 
terarin que acoinpnnhatfte c guiasse 
a innrchn,niuis apprc** *- tgora, do 
espirito do *** * '' nito 

pooia «a MMiao a naturalista . 


Os moradores do Ho ta fogo foram | 
ante-hontem sor prchend idos por um 
ilICendio na rua de S. Clemente 
n. 11, cousa raríssima n'nquelle arra- 1 
I silde. 

Dcn origem ao fogo o pax de um 1 
imlfto que ealiiu no telhado, eateiou- | 
se an madeiramento. 

A*s "I 1/2 da noite, já o fogo ardia 
devorador, levantando altas Inlmrcda* 
OilC lambiam dainrmdarnente n parede 
rln casa próxima ein que estava rst*. 
brleçido uru bilhar, chegando a in- 
flnmmnr-lho uma Ixm parte da cu- 
tnicira. 

A multidão aeeorreu de todos os 
|M»ntos, sequiosa, avida e impotente, 
contemplam o monstro que devorava 
em contorsões pavorosas. 

A anciedade palpitava, quando ' 
rompeu o corpo de bombeiros, |»ouen 
tempo depois do aviso. O serviço da 
extinccAo foi rapidamente feito, tra- 
balhando duns mnchinas a vapor. 

Compareceu instantes dr|*>ia a 
lmmba da escola militar que nfto pre- 
cisou íunecionar. Alguns alumnos 
d>sta escola prestaram denodada- 
mente seu auxilio. 

() prédio de propriedade da viuva 
de Daniel K. Ribeiro llcou em cinxa* 
e os contíguos Koflreram mais ou 
menos. 

Agora, uma coisa. O arrabalde é 
grande e tende todos os dia* a nug- 
mentar. lbircce-no* que uma estaçfio 
de liomlieiros no largo dos I-e.Vs, que 
podesse prestnr com promptidâo os 
primeiros soccorrns indispensáveis, 
seria de grande utilidade nestes canoa 
era que a presteza é tudo. Si o in- 
cêndio, em vex de ser na rua de 
S. Clemente, fosse no Jardim Rota- 
nico, c bem possível que o corpo de 
bombeiros, anexar de rapidíssimo 
como é, quando lã chegasse fosse en- 
contrar ardido itquillo a que elle ora 
chamado para acudir. 

R é isto qque sc pretende evitar. 


I Acha-se no loiirro. tendo i*bega>to 
de S. Paulo, onde í lente sulistituto 
da fiiciildnile de direito, o Sr. Dr.Ji.ilo 
j Mentciro e sun Kxma. senhora. S. S. 
| ve in piis-ar as feetas cornsunfainilin. 


SECÇÃO PARA TODOS 


A H* DISTKinnÇÂO 

dos vinte riquíssimo* prêmios senirs- 
traes a distribuir pelos dignos fre- 
gnexes d'esta Imp-rinl Alfaiataria, 
que devia ter lognr com n 1* loteria 
de JOiOOOj de Maio, da rôrte, terá !<•- 
gar com n primeira de Junho, dn 
cõrtc, ou quando andar, oquewní 
proximamente, visto que no mex de 
Maio. do córte. neiiliuimi correu. 

Como todoa sabem, nVstas distrl- 
ImieiVs ftcmestmes, todos os annos, 
em Mnioc Novembro, temo* cumprido 
flelmente o que temos promettido e 
sem n menor reclamarão, tudo isto n 
pardo* nossos resumidissimo* preços 
sem competidor. 

0 freguez, possuidor do 7W<fo- Rf- 
r /Ai» co iii os respectivos numeros, no- 
mes, datas p quantia*, que duo direito 
noa vinte ricos premi»* aemeatraes e 
nos 200;(Kinj da loteria do Ypirnngn. 
perdendo-o mio perde o direito, pois 
que tcmoH rrn nosso poder a* dupli- 
catas n» que poderão ser exi- 

gidas por cópia, ou exnminadaa á 
vontade. 

Kis anui, poi*, o tiio afamado e in- 
vejado Snbhntf Sgstemn Ja/ec/envo. 
só estabelecido endoptado desde 1870 
na nossa afamada Imperial Alfaiata- 
ria Aguia de Ouro. á run do Hospi- 
cio, ncimr. da rue. doa Ourives. 

Km frente ii Garrafa Grande. 

P. A. PirititKiRA i»k Mki.i.o. 


Entretanto, ao grito de investida de 
Zola, acudiram cm defesa do roman- 
tismo arruinado oa conservadores 
das velhas instituições, reunido* nos 
melindrosos de sentimentos, que 
chocou a brutalidade doattaque. E' 
que Zola, assumindo a responsabili- 
dade de chefe, saltou por eiinn das 
convenções litternria* de polidex e 
brandura, sem cuidar de ladear obsta- 


A N NÚNCIOS 




4 4 4 


culos, nem de escolher caminho* que 
nfio f Assem direito ao seu Hm. Além 


A. J. MACHADO 


d’isso a escolha pouco artística do* 
assumptos das thescs e a crueza dos 
processos littemrio* alienarnrn dc 
Zola e de seus discípulo* mais fieis 
as svmpnthlas dos espirito* delicados, 
que nalitteratura procuram assump- 
to* attrahentes tratados por forma 
elegante e amena. 

Alphonse Daudet, temperamento 
mais deliwulamente artístico, pootn 
e contador elegante, in»imia-se no 
gosto popular sem encontrar uma op- 
posição séria, ante* npplaudido e vi- 
ctoriado desde o principio da sua 
carreira e chega a defender tlie*.** «]«• 
combate, sem que possam contestar- 
lhe o direito de analvse das questões 
anciães mais espinhosa*. I” que o 
opportunuraio tem grande appliea. íioj 
nos syateinu* litt-rarios, qu • t-inil»'in ‘ 
nfto ailmittem tatrerno* vieb-nt.m. 

Domii to pa Gama. 


250 PIIAIA 013 BOTAFOGO 250 

iK**|tiina da ma dos Voluntário* iln Patri.i.J 


Doces dc todas ns qualidade*, nmendoas, xaropes refri^rant-s, pasti- 
lhas peitoracs, vinhos e licôres tinos, etc. 

Caixinhas para amêndoas, fruetns sreeas e cm calda, chocolate* finos, con- 
servas alimentares o comestíveis, etc. 

Guia do Viajante 

NO 

RIO DE JANEIRO 

acompanhado dc duas pequenas cartas topogmphicas dc nmn I */■/« •Im 
D ons /nifdor. In. 8* pw|. de 510 pp. 

Tn»x discripçõc* dos arrabalde* de Bv(afo$<i, S. CUurti(r, (\ytcitbit»», 
JurttiM ll<>la*in> c outro*. 

Vende-se nas livraria* I.nemiiiert. tíarnier, Faroêc I.ino, Axevctlo, Cruz I 
Coutinho, v na casa l/Mixinger, run do Ouvidor u. :i»I. 

1‘POÇO 25000. 


Ha Cirúrgica 

O Du. s. (‘ui timio, medico pcln* 
ruculdades ih lhliin •• de IVirix, tem 
o seu ronsultorío ú run ilo fieiiernl 
(ninara n. 2fi c resida n ma do Se- 
nador Vergueiro n. 2. 

< irurgin > -n geral e es|iecialmente 
o tratamento racional da* moléstia* 
d l* vias iiriiiarias e do utero. Km- 
pn’gn rrn suas operações uh mctho- 
•Imh mais recentcnierita usado* na* 
melhore* elimeas aliem fies. (irntis 
nos jsilires. 

PEDRO DA SILVEIRA 

Retrato* em |M>rer||ana n 5^000 n 
duxin ; run dn* Ourives tt|. 


_('artóe* im|MTiiii'K em |iorrelliina n 
lãjinno * duxia; nn pliotogrnphia dn 
run do* Ourives n. 10 . 

lMiotogrupbias inalteráveis; rua do* 
Ourives n. 3-1. 


PHOTOCRAPHO 

. Dara cartões annuneios, retratos a 
55 OOO o cento ; rua dos Ourives n. 31 . 


Nn photograpliia de Pedro da Sil- 
veira. ã run <!•** Ourives n. 3l, trn- 
balha-ne twlos o* dias e com qualquer 
tempo. 

Retratos cm porrellann a 5$00rt a 
duxia; rua do* Ourives n.34. 


RUA DOS OURIVES 34 



DO 


COLLEGIO ABÍLIO 

D.\ 

CORTE I*: DE BARBACENA 

A impiTial alfaiataria — Aguia do 
Ouro— os fnx dc panno superior, jh-Ios 
preço* seguintes: 

Para alumiin* menores dc 13nnnos, 
com ftmletn 05^000 

l*nni alumnos maiores de 13 
annos, com sobre-ens.nen. . 8&J000 
Os uniformes completos constAo de 
tanleta ou sobre- casaca, calça, col- 
letc c bonet. com l»otões especiaes, 
tudo superior. 


■ ia Kl A DO HOSPÍCIO oa 

;Em frenlí- A Garrnfii (Srandei 



DX 


Alfredo de Vasconcellos 

PUOtUCTOS CIIIMICOS K MIABUACXU- 

ncox 

..2 RUA DES. CLEMENTE Ô2 

nuTAKouo) 

tmI Mililar 

l>K 

COSTA & SANTOS 

Í3CQ 

RUA DO HOSPÍCIO 

Kliearregi»-*e e|e todo e iiinlqucr 
trabalho. 

To-bi-» os trnbalhí < «In commcrcio 
sfin feitos com esniero e n pr-eos mo- 
dicos. 


Typ. Mii.itwi, nua. d» iliMpieio a. 20C 


O justo meio (continuação) 



740 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



5 Transcrito da Gaveta do Povo de 1 1 de set. 1886, 


-rll« 








DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 741 


GAZETA DE NOTICIAS — SabJi 


a O iliiigiic tio Vlzcu radas românticas d‘essa peça, qua ditem ** 

Trazida não sei por que impulso do »» a molhor poça do tjicatro J 
lo amor da arto ou do ospeculação linan- portngmoz. E Isso jA é um defeito CO ( 

ceiia, uma quadrilha dram.itica, a com. dcrsvol, que ainda ac .*ÍL“L- P do 
* pauhiado V. Maria lí, o lheatro normal quoni conhoco a P^osa bellíasima < lo 
” portoguez, aqui chegou para olevar o f rf ‘ l u ! : rft TT iÁ Sim?/,! «I^iÍims f 
>- espirito d'csta trlsto colonia, orphii da ">»'<> Íííffí 'TS,? 1 »?» «traçar um cOi 
, arte materna. Magnifica, patriótica e do M-ndonça qne ofra «W 1 «« 
lucrativa cmprczal as noltos do Jtccreio assumpto de tão protunda udiaçao his- na 

0 8&o do fosla para oa luzos cultores da lorle». , , . .... 

ar to de Thalia, que alli se apinham soí- Mae o coipico dfl L d ÇJ lina jjiíSníf.j* 0 
r frocos uor ouvir a vo>. da pátrio o da empenho» forno ofío ha a flexibilidade 
£ rnusque traduz ô aqucwoS Sardous o tilíl »’aquelles g 

1 m n> mm dos, os actores •© íutclriçam dentro dos ter 

'« Esta cidado barbara o brutal não so sons PM«ls. hirtos J '."i] ,l0 | 

m decido ao silencio duraoto os roprosen- ciilos, dizendo as phrascs como se repo 
e i tações lheatraes ; 03 nossos thoatros silo tis-nm »« m c " nvlc í l, o uma lição ap >ren- 
' sompro bullicntos ; aldm do quo a dpoca dida, o fatotldo os íezto* «» ? , 

10 annual ffessas bollas festas da iutelli- na turalldade I amda. Lembi ro no c ml:« a 
I- geacia d a estação húmida, o tempo dos o desempenho do fldomrn, quo >» • J ; 
ts Bronchites o c.itarrcir.is iocommodus. traça do principio ao flm, tão idsUlir 
“ Pois vão ao Jtccreio c verão qua ulu- cados pareciam o. actores com os se. s d 

, guom tosse quando a Virgínia clioro ou papeis, c. por opposiç.io de caso. , , co q 

o João ltosa ruge. Quaodo muito uns clul que, sc os hous sctoics do tlioat 
i- fuiigaiiicntos limídos do algum uariz <>• liana II nao apresentam Bem 0 
m cheio dc lagrimas de emoção, ou umes- Puoue de I i*eu, i qot ias almas duras do 

talar do cadeira que uão resisto a uma bojo nao ciiconti.ini nlll as suas »' 0 . 

>• contracção ou diateneão muscular -o (Jos. c qua, portanto, o primeiro > drWM 
a- sangue do raça heroica que referve— c do moderno thcilro poitugucz não vale «. 

es una hriieo f braco I curtos e scccos, a que nada. 

ci> i iilofj m nlii-IoAilos nela visinlian.\a da POMICIO DA («AMA. 0 


m RC julgam obrigados pola vlainhança da 
acena, oa espectadores pelintras das pri» 
10 melras fllas. 

i- Ao cabo das tiradas valentes, no flm 
to dos netos boitf. 6 quo rebenta o cnthu- 
sinsmootu palmas infindáveis. mudado o 
ingênuo foral das pinicas d'alóm-mar, 


4 “«“» “ Utna,MÍ - dores darua do D. Caroilnj o. 13. foram 


Rio, 33 dc agosto do ISSn. 

(Tr inserlnto da Cnzcta do Poro do 
11 de setembro.) 

pT «la l.agun “ 

TIontcm, ás 8 horas da noite, os mora» ui 


rante, frenético. 

E tudo isso por peças estrangeiras, 


assaltados pelos gatunos, que já iam car-la 


poçMnicequiníias do uni thoatro frio. eni g» 

: h»yr&'."vs« l 

" Krandlf^ifM^consogídndo-^mcsmo; ™uga uuollnl.a »o*onqninlal. Nanu o, 
rtS só uSo conseguindo oc^uc mais fnci! sem f .,!? 'o J -rlixeira * ro ubar am -lhes todas r 

” sBSBS HSift 

mento raiana alma ingênua do e^ceU ru;ig d - es i 0 bairro, fazendo os gatunos p 

- %fe».~jsa-s: “faayuaa- : 


de roupa, o os visi- qi 
, pediram soccorro, •*! 


representaram peça- portugneMs. nem g>. VuglrU. Ui. 3o retirado ií 

mosmo ao adaplnçOcs dtsagclt.id.«s do i,or sua causa, ci 

tlio.itro íranccz do «.«la ao palco por- tf Ir 4 d 

Insoez, ha» moemow Sapnlmhoz de ^ docidídãos alta noito, quando « 

sclnn e os Lenços branc >. C3 t;,o dormindo, nccordal-os e tiral-os n 

lia alguns mexes representou-se cm parft (j ra ( | n S uns cassa e lcv«al*os para n 
Portugal nm drama liistorico, quo pola J xadrez, põnflo-oa incommunicavcis. e 
iranrensa lisboeta foi declarado a mais n r l0 satisfeito com isso, proressa-os para d 
vali .sa proilucçío do thçatro portuguez ( i C s po j.ar as bols«as dos pobres liv.ba- d 
moderno. 0 Duque dc Vitcu parece que || lft( i 0 ,. cs . (Quom tem telhado dc vidro n 

é a estrda draraatica de um sobrinho do pan (|U0 A tir.a pedras .aos do vlsinho?) ii 

ameno fcllictinhta Lopes de Mendonça, j> 0 b,. e freguezia a que havias clicgar I jt 


roqui8itou para a sua n 


ho tiic.itro francoz ilo».«!a ao palco por- 

tr- *•» ,Z a bVn^l v casa *10 cidadãos alta noito, quando 

do sclnn e os Lenços branc >. C3 t-,o dormindo, accordal-os e tiral-os 


e e n*eMe parentesco, vendo a continuação Sr. che'c de policia, m.anlelo 

fCS do uma evolução lilteraria. a critica XV ndi'*ar eni toda a freguozia, qnem do 
xo nortuLMieza. adiantada e s.ibia, viu mais \S„„,o u.> e»h« r.» v 


do uma evoiuçno iiuerana. a cnnc» svndl -ar cm toda a freguozia, quer 
portngueza, adiantada e sibia, viu mais ^ aPO lcão de sebo c 3‘ v. 
tio que devia ver. A ohr.a foi declarada * r ri>l , nnilhll 

i-.iM-frtitn DAía nu* llit» n^In flzoram a * ■ * 


lio perfeita, pois quo llic oão il/.oram a 

aualyse ; os plis I c os abs ! admira- Ao „ ni ., am «„to ' 

te. tivoa suhstiUiiiam-ns 1 ........... 

|'CS Ficamos todos pensando que Portugal ao evm. su. ministiío i«a maiiimia 
do possuía o seu Kchegaray e coniavamos Ao lermos conhecimento, pela im* v 
coo) (i Dii'pr dc Fiaeit pára desforra dc proosa, do nma represei' taçáo coitra o c 
tanto oitrnngcirismo. Poior nos saliiu o rcgiilamonto do Monte-, do doa Operários 
d c duque: deram-uos ouro franco/, pelo do do Arsenal dc Marinlia di Crtrie. que so ,, 
lei, quo nos deviam. Esperavamos uma diz s ibscriplada por r ><9 operários, ciim- . 
iles peça valente, que rcssnseiiasso a dra pro-nos revelar simplesmente a V. Ea., 
gloriosa de Portugal formado e conccn- que, depois do saneclonada iirr. i lei ir- , 
. fraudo a energia nacional dispersa, para gisialiva, convcnieiitomeiito corrigida. 

depois o.nprehrnder a conquista tios t e« manifestações, surgidas repentina- ( 
ido mares o a descoberta doa mundos, e monte, antas de sua execução e da vo- , 
sos saliin-nos o drama do Sr. Lopes de rilleaçã 1 de seus olTeitos. constiliiein , 
uso Mendonça um trabailio de marchetaria, I] m :\ alVronia á dignidade da autonomia 


cures ricanios tonos pensanuo que i-unugai * ■ 
stndo possuía o seu Ecíiegaray e contavamos Ao I 
com 0 fiiiqii- de Vhcn pára desforra de prensa. 
8. tanto estrangeirismo. Peior nos saliin o rrgniaii 
n dc duque: deram-nos ouro francoz pelo de do Arsi 
lei, qne nos deviam. Esperavamos uma diz sub 
'i-cilcs peça valente, que rcssnseiiasso a dra pro-nm 
gloriosa de Portugal formado c conccn- que, de 
trando a energia nacional dispersa, para gislatia 
depois o.nprohcnder n conquista dos t es m 
içado mares o a descoberta doa mundos, c monto, 
o-aos sahiu-nos o drama do Sr. Lopes de rilleaçã 
o uso Mendonça um trabailio de marchetaria, u ma ai 
G de muito valioso sem duvida como exeava- parlam 
liaci- ç~o romantic.i, mas muito chilro como qn.ilqn 
otieia obra d'arto, em vida, originalidade e mandai 
(quer verdade. Ninguém aprendo com aqtiiilo 
con- mais do quo o que sabo da historia por- 
sem tugueza, senão quo o drama está muito 
s nos abaixo do simples verdade histórica, 
isto c 0 duque á um manequim puxado a J 
cor, iões românticos, soltando a sua ti- } 

•mhro rada o tempo presfnadoo seu juramento nq d 
do traidor na sombra, dizendo bom a _ 
'Icurii sua parte no ducllo do amor, e não sa- 
bondo por flm nem fugir í morto por 
onscca simplts instincto do conservação, nem 

morrer como um homem ou como um ,V' Ç0 

0 sua animal ao monos. Impessoal o vasio phnos 

(Palma— c 6 o protognnisla I D. João II orpo ic 
idciYfl d um damuado ambicioso o abstrado. tajnos 
A rainha, o personagem mais bem tra- or líl'; u< 
rciKKi tn«lo e o mais bem representado, d uma "j' 0 
* ' elioramiiu-ns, que so agita muito na «rn J 
I. peça, dizendo cousas bonitas para con- joilo i 
ciliar amor fraterno c dever dc ospnsa «■")". 1 
iimerosa c do rainha, lia mais uma In* lorotr 
fanta. que so parece com as velhas (1- lV -° 
za lia j :l igas hcspanbolas de Ofcrota. c um suas v 
10 lu- bispo nnüo como creaçlo dranwtica. Os 
titulo, demais são adlioroncias apparatosas ou 
ininas verbos do encher. A mesma amorosa, a SSotc 
irollos, ,) nce j( u-jarid», d um simples centro do 
ülcial, intriga, não í um personagem vivo. por m 
Q ic afinal, a vida ií o quo fnltn a tudo q,. cl . | 
podem aquill». As sccnas sc succedcm muito m-ímil 
ifllccis bem nm rradinlias. com um desfilar so- p Ur jn 
araçio t e mne dc alexandrinos cangados á fran- ,,i,r C n: 
ire sua coza. muito bem feitos mas muito vasios cravo: 
f trnn- f a ] SO s ; o grande João II, o portugnoz ccia s 
aedos, dc ferro, a nlmi violenta e indómita juntas 
fo, ao abafanilo-so em dísticos cquililirados c i m «ioi 
omo- symctricos, fali .ndo lingiia snbicbonn e lei em 
r toda» modonia, adjoctivando cuidadosa inenlc. 0 j C|V 

1 unien graduando a pliraso c apurando o oITuito , lerão 
dc pro- romântico, como sc tivesse uma oduca- niluln 

a cõr çAo iiitoraria de trinta ninioa dc Victor 
na ma- n„g 0 | lic0 i 

isita c Não sei so d por falta de afinação que c i ara . 

me snccode mnilas vezos ofiliglr-me com 
— as parelhos alexandrinas: puiigo-me a p 
constante ancicdade da rima obrigada, o 
• ncasa diante (Possa prcoccnpação puorii, ma- i 10 ' 
100,000 terial, fogo o at tenção do assumpto. na< > c 
f Quantos estão no men caso ouvindo as ti- 


O duque de Viseu (detalhe) 



FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A SE MAMA 


quebrada* a Í6ra, vergava, contorci V 
derrubava os arvores que tlohio as- 
Ç<ct<> do epilocpllen». A» aguas arras- 
tada* pela impetuosidade do declive, 
abriam fundos sulcos que .*» tornavam 
regatos. f 

Aa poJro* deslocavlo-** e rolavío 
polos dospenhalelro* como nm taplr 
endrmoniitdo. Os ntninbo» alagados 
repercutiam a pancada dm palas dos 
cavaltos, gallopsndo com o, poecoço • 
rstenlido s a eabeça incliaada para 
;> cháo. 

A montanha, ooberta de vapores, 
faria o céu o a terra confundidos.. . 


EM PASSEIO 

* Armando « Leonor, nos doces laços 
v Que t*:e o «Sim* quo n* almas enamora, 
, Xoma tarde de abril deram so os braços 
K forsm Junctos pela estrada cm fòra... 

| Armando vai dizendo-lhe que faça 
f Com que cito goze mais de sen amor, 

- Que todo o encanto seu, que toda a gr aça 
Lhe seja o doce nectvr de uma dor. 

1 . Etla desprende a harmoniosa falia 
E diz-lhe presa om tremulo recato i 
' i Faz mal nqnelle qne aoua males cala... 

• Etu.Armando és simplesmente ingrato 

t 

Juras do amor etcruo.immcnso^irdente 
11 Seguecn-se após em mágicos idyllios : 

' .^jSaltn-líiise d'alma o riso transparente 
j ! Somo il« estrclla esplendorosos brilhos. 

^ Havia em tulo um marrou rio orando 
Naqnollo doce e divinal ensejo. . . 

Quer fosse um beijo dado por Armando 
I Quer fone • maça quem lho desse o beijo 

| E ella presa Je um subtil rcsabio 
, . Vla-se «alão n um mudo paraíso... 

V Tremo-lhe o rito quando sae do labio, 

' A Trcnte-lho o Ublo quando solta o riso. 

il Achnm-so sempre d hora costuma Jn 
j No ponto eu que revoltam seu* desejos... 
Ea Trocam beijou lembrando-ao da estrada 
' k a eelrida está ikes recordando os beijos i 
1893, Abril. 

aSOR 10 DUQUE ESTRADA 


ROMANCITE 


« i/Xudri aqui uai alvoroço litlerario 
\ se exprimirá em innnruoros ro- 

êi yihance». 

J Digo inauT.eros, porquo ji passam 
do viote os annuociaJos na roda em 
que todos miíla ou úvenoa se conhecem. 
ME i preciso crér qne mesmo íóru da 
i ‘.roda, tambcii» ha quem penso e tenha 
. ! ardores « Utiihn juventude ociosa; tanto 
} | ( que; apexar das deserçOo-i o das pro- 
i* , moções frequentes, oa claros das filei- 
l« ( rus dos litterotos militantes sdo 
* 'k*ea\preencbi Jo*. São os irregular ■ 
j íflqe vem aioxtrar-se sob a disciplina 
Àftoe veteranos e nprunier a msnobr* 
* ■ luob aa rírtaa do* chefes.que galardoam 


e pnnem. Gamo para a admissão 
agora i exigido peio menos um ro- 
mance, muito romaucc devo estar e.n 
fabricaçlo para n« próximas matricu- 
las. 

Nio façamos c»w «Tensas primeira* 
provsseoiiilieionaee, qne são conio as 
iLeses de doutorando, rarainento liou* 
rosas para os candidatos. 0 tiubnlho 
dos que já tem gitltos e honr.u ó bas- 
lauto significativo como casj de catado 
para quem analyaa er.tliusiasmoe fria- 
mente. 

Nóe também temos corr.o as nações 
civilUalaa poetas que fazem verso» ü 
poetas qce fazem prosa. Km pequeno 
numero, é corto ; utoe temos. Somente 
entro nóe a vario laJe maior cabe ao« 
versejadores. Sio cite» o» capszea do 
fazer poomns em um vergo— paitsoso»! 
e poemas om lie* mil — illegfvoi*. .. 
Os prosadores. náo. Scnli sm com um 
Cbarpentier fluminense que o* Inritoire 
a todos em volumes le trezentas pu- 
glnas sob a monotonia da* capa* ama- 
rei!»», a Ia moda do Pnriz. 

Eau eoiicrttisaçdo nuiforiuo da as- 
piração poética, quo teria do sor vario* 
dissima, so inlopondonie fos<e o mio 
ditcijdlnadt, è um »ign.il csracUristieo 
dos tempo*. Ji\ houve tempo em quo a 
mocidade heroica eo expandia cm 
gelpos de espada e cautos de amor. 
Havia a monotonia da in ima lidada 
dominante. A exuberância d« soiva 
juvenil tinha os teu* escoamento* os- 
turaes. E. purgado o animal «loa seus 
elementos explosivos, restava o homem 
capaz. Seriit es*o então o poeta, o Dain j, 

0 Camões ou o Ce r vante* — a rrrtexio 
a pez u noção. 

A incapacidade para a .vvilo n(lr*-R<>« 
para a eonieinpiaçáu. E o m valido 

1 lealtaaasbot*lhasom quventr.-n. Mas 
qno batalhas pode contar quem n»«o«u 
invalido f Qno amurei pude cauUr 
quem te coasomo imputeuio ? A vida 
corro liso silenciosa o npatbica, lugii. 
bremeute. Em outro*, porom. a soiva 
vital transformada em puiulencia desa- 
brocha om romancus, pio ado coma n 
florescência da sanle. Di to eniilo um 
facto que so estndsrá ua historii litts- 
raria depois do estudado ua patholúgia 
corcbrnl— a morbidez particular, in II- 
viJual, toma n feiçáo geral, dominante 
e uffocta a forma cpidcmica. 

Rutnaagoru, gravíssima, a roinnncile 
devastadora. 

DOillCIO DA CA Alt 

íl do Março. 


ÜM OPTIMiSTA 


Bem fazia Epicuro explicando o 
mundo pelo nesse. Boia nioõquo um 
dia dcsparou-se-mc o autipoJa do per 
NMgM qa« *« tl»« a subida honra da 
executar rio meu altimo artigo t 
A verdado i que ^antoca era Ido 
oplimUta quáo pessimisu /Ora Macedo. 
Almn grande scoraç lo vasto. Um !*o 
riMM. lá ííso eia. 

Aquella faco unclnosa, jucunda o cx- 
pansiva í prova de fogo, era um at Un- 
tado solemr .0 ao huvavel intuito d« 
t«yd.»a aa nocic-Jades de temperança 
existentes e por rxistir. Aquello tronco 
oleoso e nédio, pacatamonU especado 


eiu duns furtei uianivoins do animal 
bJpe>Jo, era um poderoso eorJáo sani- 
tário contra u respeitável inv.uio do 
um t carga Je ossos. 

Abi Ueci lid imtnlo Santoca desco- 
brira a potvorn .to genero bomiveii- 
tunugj 1 Era Itoinaai para o quo d-xsio 
e viesse. 

AiravoHara uma louga. peiv:sa o 
honrada exisicacie do trinta bons Ja- 
neiros nn-lsiido sempre e i» gordura o 
cm mar do ro*ao. Eru nquiiio quo »o 
via. KvidonUnacnto om« s-ijeilo chorara 
nabjrrigu materna. Er.» dar um p «ato o 
esborrachar o nariz • iu algum p iço do 
felicidade. 

Mas ucn Uollo dia a do*grne« en- 
trou-llM) seriamente «Je cisa a doutro. 
Um caixa «Tagu i peapcgou-l<:o um 
ji/oímAjío, Em o pnlpiít, amanliá an- 
daria n rola. Proço da casu. Um ovo 
l»or um real ! 0 aosso homem puxou a 
pclicpo. eaonrrou o cuspiu coino con- 
vinha a um excellentc burguez. pagou 
so tMiiis-lurguras « fui rodando. No dia 
seguinte, mi lia-se em surto grande !. . . 
K, por sigoal, Ure dc fugir a uma im- 
ponente manif st iç.lu aoleu |>r»jcctada 
n promovida. p*ir 8e«s iiamerusus ami- 
gos e ndsnlr.1 lures. 

Era por casos o outras qu» o desal- 
ma lo se AY0X4r* ao nvtavel dosc.ir.i- 
iniinte «le ver tudo dolr.ide, como o 
ictérico vo tudo amarei lo. A* cousas lho 
corriam As mH iiiar.ivitii.is.N io aleitava 
no cérebro nei.liutu;. legião de ,i*pi- 
raç<‘<*; em inateria do ctopios itilo 
pc»-uia de louça um caco ; rosnavam 
atá que elle uil i sabia que tinha o nariz 
nseim; mas tudo i**o era po»iliva- 
mento falso. A morpbiun do bont senso 
injoctiva-itie organicamente leda a 
iiiiiui Jo sangue « to<lo o tecido 
adiposo. 

ái /;»>< phitoioplio* seria Leibnit?, 
fiin inria o syslema do opliniiamoabso- 
luto; o se fo*>e poeta, scri » Pope, p.ir.i 
cantol-o *, ui as | or ftiiiciilaJo <õ «ra mulo 
I liiiutopli j o meio povta. Dis<u, |>orem. 
ô que ndu u (iravjrt, nein á mio i* 
Deus Pa lre. O >ea pliilosnpUino era 
ccuio o Sul, não apiMlreci» iianca. Paru 
doirar ama piluh, para ferrar ama 
insxUauswbrt «iicinlàesclurcciJ.i atten- 
çuo do proxinio, para rolar oCt-rcovado 
a golpea do patuvr.i*. a- preclau fosse, 
alli eslava elle. oEautoca. imperterríto. 
impávido. Xom mossnu pcrguntarii 
qu*m cutava de guarda. Ver para crer. 

Mas a sua paiUp.it.ee Jo homem de 
barriga cheia *ò subi» invi-jivul al- 
iai» dc uma congestão cerebral quando 
o acaso lhe deparava um pessimista, 
um lamuriento. 

— Ora adros, viola ! Poistii nilo ví», 
ilibo! K’ preciso que haje dur para que 
liaj.i prazer, fome par» que liajaappetite 
a »4Je pura que b»ja eeecur.i? Oü 
homem ! NVm o p.vJra santo !... 

K nr.i uni pratiaho delicioso vel*o 
então discorrer a trote largo sobras 
dlvir.a prori lsncla, sobro a harmonia 
do uaiverao c sobro quanta pomndu 
tem (elizmenta apodrecido nos alforjes 
ds todos os honra los moralistas «lesto 
bello mundo sublimar. 

Enisua hamtUe o ob>cur.t opiaiãi 
tinha um alto e justo alcance esta aigni- 
fleitiva o feliz expressáo-babilar o 
inucio da lua. Quo a imiraasemoe b^m 
a betleca d.a mulher, a gr.inicz» do 
homem, o perfumo dia flore», o azul 
turqueza do lirmamealo, a vastidão do 
oceano, o rosno pérola das nuvens, e 
nlo eei que mais, aU vir deeetnboccsr 
no doce romanso da famiiia e na paz 
armada da sociedade. E terminava sem- 
pre o invariavelmente por esta mas- 


cavada e estoiMa cantiga: Dizia Denton 
au.iaclse maiittudacía 1 mst digo «a, 
autor em.i t amor! 

Em aamina, e para concluir, aceres- 
eentarci sóuiente qu* <*«• bemaven- 
lurado vetava á existência o mesmo 
odio pr-ifanda s iuetinetivo que o rato 
se digna do consagrar ao queijo. 

CA.SUIDO JUCÁ 


So&cto Mvtkologico 


Proximo.o Ingoem que so lança a fonte 
Onite Cause*» ii fraiitu rudcescuiA, 
t> »e lhe iiu quo o irmio <le meigt rioete 
Páuuo vencéru na p jrlbuia tuta. 

Propícia c a Noite ojo niauto enluta 
ttt Hora o rd no |o«to-o Imique, o mente. 
Pórii.n cauipi ua.» intérmina lionzunto. 
Dentro,o Mysterio na encanta Ja gruta. 

O Segredo a «^epreiiar. à vu«*urr»nte 
Az» pisst «!«» Amor. No | oiro s<>lo 
De musgo o leito o bera verdejante. 

E emquanto fora oa ventos salta Eólo 
Ei di'Dti ’0 o fllbo. tremnto, AMuejante, 
Beija Ja i ra» A o Incestuoso <4liu. 

Ba* Urirnicttt. 

Emito dk umnts 


SIRYNX-0 IDEAL 

( a ncqirxxiXA coaniajA uutur ) 

Nn lerra do ujrrtho verde e dos la- 
ranjncs doira loa por uma madrugada 
fc«lival o fresca, o capripeio Pau, deus 
Jo» patlore*, o primeiro quo siprou 
u.t avo*iA — o puo do» Riadrigae* riu eu- 
Ire o» jencos. n formosa Sirjnx. 

Via-* e afl-i teve aia is o cor» c.lo ca- 
lado. 

Entrou a siispiraren per»cguil-n,g«- 
roendo noite o dia o proeunuJo doter a 
linda moça fugitiva. 

Kanuus, vendo-o a chorar, riu do eeu 
choro ous egypana e os Htjrros capri- 
nos eogiiiratn os passos «1* comuto 
nmante por entre aa moutas do tourei- 
ro*. 

l>«baldú Pan, o pvbro Puo chamava. 

Debalde Pan, opobru Pan gemia. 

A moça, c .iihcco b.ra de todos o* me- 
nndros, fugiu-lhe dos p <»aoa. 

S-j a* huuindryada» o as oreadat dos 
moote* »itblramein soccorro do nu mo- 
rado trist j — me*, de súbito, a formosa 
fugitiva.desfuita cu lagrimae/)uaudo ia 
n ser raptada, transfornioa-iie em ea- 
niço gemente o sussurrante. 

Aur.tc que voiv.ua reputinm o der- 
rtuUiro suspiro «lo Sirynx. 

Pan, dcacousolado, foz um» flaotv Jo 
caniço verde e sabia pela floresta to 
canJo a arla icniiiuontai do een per- 
dido amor. 

0 poeta ó como Pan— o namorado 
vivo a seguir um sonho o a persegui! o: 

Perdo nones e dias vagruando Nunca 
te cança do clmmal-o. . .nunca í Um dia 
em.i.-n,qnan lo pensa tel-o, eahnrrv com 
o lorido juncai do desengau j. 

O poeta foz d'ewa iltuedo ttnada um 
motivo de caoti e <le • poema — e, 
como o deus caprino nunca mais 
abandona, deliciando a to lo* com a sua 
magna rythinad», com a sua lagrima 
triste poeta om musica. 

E como Pan, eoe pelos bosques, on- 
tre os cypahsos, dizendo a todos a en- 
doixa saudosa do sou amor perdido. 

COELHO XETTO 


Romancite. A semana, Rio de Janeiro, ano IV, v. IV, n. 166, p. 8, 25 mar. 1888. 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


743 



Germinie Lacerteux. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 63, p. 2, 4 mar. 1889 






744 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


GERMINIE LACERTEUX 

Com a publicação de Chrrie Edmundo 
dc Goncourt fechou a sua carreira dc 
romancista. Justificando essn abdicação, 
que nenhum dcsfallccimento justificava 
ainda, cila disse que na profissão litlcra- 
ria, como nas mais que dependem prin- 
cipalmente do cerebro o exigem integri- 
dade physica, convcra saber retirar-so a 
tempo. 

A representação de Germinie Lactrtcux 
no Odcon parece estar era contradicçào 
com essa disciplina salutar. Abandonar o 
romance o não o theatro ò um erre ainda 
mais lastimável quando ó um velho artista 
de grande nome, respeitável e responsavol, 
queo commette. Não é depois dos sessenta 
annos que se recomeça. E depois de lfen- 
rktte Maréchal, quo não foi um succetso, 
depois de Germinie Lacerteux, que foi 
um fiasco, seria preciso refazer a. sub es- 
thetlca, renovar o seu modo do expressão 
dramatica para poder dissipar a mi im- 
pressão d'cssa ultima obra. 

No Rio de Janeiro uma peça que tenha 
mau acolhimento, mas~continue a repre- 
scntar-sc c com casas cheias, seria con- 
siderada obra discutida apenas, honrosa 
o proveitosa para seu auctor. Aqui, 
1 apezar de cm oito noites a peça rcndtr 
quarenta mil francos, ninguem se illude 
acerca do seu valor. E se na primeira 
representação houve uma pequena bata- 
lha entro os que applaudiam c os quo 
apupavam, hojo nem mais isso ha. Só a 
exploração do successo de curlosidado 
cançada pelas discussões da peça nos 
jornnes o ató no senado ptJJe justificar a 
continuação das representações, diante 
de assistências não sympathicas e mesmo 
hostis. 

Não ú que não se reconheçam alli as qua- 
lidades raras, a phrase pittorescac viva 
e o realismo pungonte dos Goncourt. E' 
por isso mesmo. E* porquo o theatro não 
admitte innovações, que lhe venham 
quebrar o tradicioualismo, as linhas con- 
voncionaes cm quo elle se movo. Ora, as 
obras naturalistas tõiu o defeito do não 
accomodarem-so em moldes feitos ; cilas 
tem ou pretendem ter a Infinita diversi- 
dade do expressões c apresentações da na- 
tiiroza. Porém, se no romance o natura- 
lismo triumpha (c ainda c bem contes- 
tado esso triumpho), no theatro — consi- 
derada a arte dramatica como foi no seu 
esplendor o 6 hojo na sua dccadoncia — 
nunca elle entrará dominador. 

No theatro o publico quer assistir a 
peças de theatro. Em Germinie Lacer- 
teux ha elementos dramalicos o não 
drama foito. Nem podia scr do outro 
modo. O drama foi extrahido do romance 
pelo proprio romancista, quo não soube 
mutilar, deformar, theatrisar bastante a 
aua obra. E cm cousas dc arte dramatica 
quando nâo sc pódc fazer bastante, 6 
melhor não fazer absolutaincntc. A apre- 
ciação grosseira do publico pouco re- 
finado cm subtilezas, intònçõcs c suben- 
tendidos não accoita como obra feita 
esboços nem ensaios. Fique no alclicr o 
ensaio o sd sc apresentem innovações cm 
fôrmas definidas c trabalhos completos. 

Germinie Lacerteux b um dos mais 


demore- — resume o sentir geral cm ma- 
téria dramatica e quasi que direi, em 
matéria dc ficção littcraria qualquer. 

Entretanto, no romance ha a longa pre- 
paração das bcllas paginas expositivas, 
cm quç sob a protecção da boa prosa a 
humanidade dos personagens, por humil- 
des e mesquinhos que sejam, se rocom- 
menda à nossa. No correr da leitura vai 
se formando no nosso espirito uma como 
atmosphcra de sympathia, que nos leva a 
entender e sentir melhoras casos que nos 
expõem. Se os caracteres não são bem 
claros, sc a expressão da verdade por 
muito verdadeira caho no caso particular 
pouco intelligivcl e obscuro, nós já nos 
affeiçoàmos a distinguir entre a profusão 
de pormenores o accessorios inúteis as 
relações principa.es de causa a cffcito, 
como uma pessoa acostumada a andar 
pelo escuro distingue os objcctos, ondo 
outros que veem de fòra mal vislumbram 
massas confusas. 

Mas no theatro toda a gente vem de 
fóra ; todos querem que as cousas lhes 
estojam entrando pelos olhos, para não 
tomar o trabalho de procural-as. 

E' por isso que 6 preciso illuminar vio- 
lentamente situações o caracteres, dar- 
lhes um forte relevo, tratal-os quasi como 
siluettas, tão viv&mentc devem elles rc- 
cortar-se na memória do espectador, que 
ha de tol-os sempre presentes, inteiros 
c definidos. E‘ preciso simplificar portanto 

Simplificar não è cousa facil, hojo. E 
sobretudo simplificar sem reduzir o objccto 
ao typo especifico c exemplar, sem repe- 
tir, som cahir na banalidade 6 raro. No 
theatro 6 quasi impossivol. A simplici- 
dade è dos primeiros tempos das civiliza- 
ções — largueza o espontaneidade — na 
visão das cousas, vivesa o novidade de 
impressões, virgindade de nervos. O auge 
d’cllas, que por uma das fatalidades das 
cousas também lhes marca o começo da 
decadência, asslgnala-so pela multiplici- 
dade, complexidade, o falta do nitidez 
nas sensações. E' a massa nervosa quo o 
trabalho excessivo sem refeições suíli- 
ciontcs cxhaurc ; slo os .plexos ccrcbraes 
que recebem o transmittem confundidas 
noções obscuras de sensações- original- 
mente diversas ; é o orgar.ismo mori- 
bundo alirandoso à' fogueira sardanapa- 
lesca dc que a sensualidade c a chamma. 

Nós estamos om um tempo cm quo 
artista quer dizer nevrotico. Ora, os ar- 
tistas, dando sompre a sentimentalidade 
do seu tompo, na sua expressão mais 
elevada ombora, c Edmundo de Goncourt, 
sendo um artista sem superior no ro- 
mance, por quo então a sua peça sd faz rir 
ou encolher os bombros aos parizicnsca 
quo olle quiz fázcr estremecer c chorar ? 
Parece que ô porque o theatro não admitte 
obras modernas, o que quer dizer que 
morreu ou está para morrer essa arte 
que, sem valer mais do que as outras, 
tanto estropiava a verdade o deformava 
a noção das cousas. Reduzido ú comedia 
amavcl o sem pretenções, o theatro não 
fará mais concurreneia ao livro, concur- 
renda desigual, pois que elle tem todas 
as prisõos da convenção, ao passo que o 
livro tem todas as liberdades. 


nl. •• A.AM 


iormas aenmuas c trabalhos completos. 

Germinie Laccrtcux b um dos, mais 
pungentes entre os dolorosos romances 
dos Goncourts. Talvez mesmo o njais do- 
loroso, porquo 6 o moif ,Y«vmildc c des- 
consolado. E' a distorla do uma croatura 
p.çwan foi dada, por nníco legado do 
miscria, uma dósc excessiva dc afíecti- 
veuess. No animal bruto isso 6 um in- 
stincto do approximação, amparo c de- 
fesa, corollario ou manifestação do in- 
stincto da conservação individual ou 
cspccillca. No homem, o instincto trans- 
formado enrseotimento, actuacm bem da 
cspccie, prejudicando o indivíduo. Amar 
ó viver cm outrem ou por outrem. Porim 
quom vive demais cm outrem, vive menos 
cm si. O amor nfloctando essa agudeza 
de manifestação chanm-se paixão, 6 um 
desequilíbrio c constituo um estado pa- 
thologicj. 

Em Gorminie o mal toma a fôrma 
perigosa do sodrimento vago, de diagnos- 
tico incorto. Mas a sede, fòco c estimulo 
a um tempo (1'ossc nervozissimo devas- 
tador, 6 a maternidade, que cada mulher 
possuo implícita ou oxplicitamcnte. N’clla 
o hystorismo è a fôrma tyrannica por que 
sc revela nas croaluras fracas a imposi- 
ção da lei da reproduetividade especifica. 
As condições particulares da sua exis- 
tência humilde, a passividade e a incon- 
sciência d’ossa Santa Thcrcza sem Jesus, 
as decepções sentimcntacs, as lactas entre 
a bacchantc o a mulher honesta vivendo 
no mesmo corpo o a destruição final, 
conclusiva c concludente, d'cssc miserável 
corpo á corrosão do nmor, são a tenção 
do romance dos Goncourts, tenção que 
cllcs rcalisaram admiravelmente, como 
pensadores, como Imaginadores, como ar- 
tistas criadores, èm summa. 

Germinie b uma desequilibrada, por- 
tanto. Do pequena já solfria essa ancia 
de affcição, que havia do matai-a. Mor- 
rcram-lhc a mãi, o pai o o irmão, e cila, 
vendo-se sôslnha cm casa estranha, fugia 
para ir assentar-se á poria da casa antiga, 
como um cão afTciçondo aos lugares onde 
viveu o dono perdido. Depois, criada dc 
serviço põc-sc a adorar a ama, uma sol- 
teirona fidalga, boa, porém resmungona c 
rispida. A pobre villã carecia do carinhos 
mas positivos cm res|»sta aos seus. 
Ado piou o filho da fructeira visinha. E 
o pequeno quando crcsccu o lornou-sc 
homem fez d’clla sua amante. 

Então revelou-se o objccüvou-so o ero- 
tismo que até nhi latente, implícito, era 
o verdadeiro caracter da mulher. E por- 
que nem o seu physico ingmlo, nem a 
sua posição social humillima pcrmiUinm 
que cila fosse uma d'essas grandes c 
sublimes amorosas, que a humanidade 
admira, dentro em pouco foi seu leito dc 
amor a cama do hospiüil. c logo depois n 
valia do cemitério, onde 'nem ao menos 
lhe foi dada uma cruz por memória, para 
que rezassem sobro cila. 

Isto ó o livro, amargo c escuro, tão 
doloroso que lcl-o segunda vez custa. 
0 drama quiz scr isto ao vivo c não pôde. 
Dar acção exterior, movimento tbcatral, 
oxpressão dc evidencia, vida dc palco 
espectaculosa c intensa a esta longa 
agonia tenebrosa, não ora obra para o 
homem do consciência c o delicado artista 
que ô Edmundo de Goncourt. 

\ sua peça cahiu por muitas rasões — 
por seu assumpto iugubre, pelos sous 
diálogos longos, pelas suas palavras sujas, 
por sua falta de arranjo dc intriga, do que 
unicamente constituo theatro para muita 
gente, pelo esforço para entender e apre- 
ciar qs subentendidos, que fazem a vida da 
lingua fallada dos Goncourts, pela falta 
dc preparação sympathica que permit- 
tisse aos mais Indulgentes reunir os ele- 
mentos dramáticos alli contidos c com 
cllcs formar a peça, peia representação 
não convicta c inharmonica... Cada um 
apontou-lhe defeitos segundo o seu cri- 
tério e quasi todos tiveram razão. 

0 que, porém, mais concorreu jura o 
desagrado publico é o excesso dc vcnJath 
c dc individualidade na sua expressão 
que c a maior qualidade ou o maior 
defeito de Germinie Lacerteur. 

Sobro o excesso dc verdade calrri; 
aqui citar longos artigos dos jurnacs que 
durante um.i semana discutiram i» acon- 
leciinento— pois qtle Germinie foi Uru 
acontecimento no seu qonefO. Mas a phrase 
de Kmilio ftagvi a*, o calibait do/Veuiv 
— no |M>eo i»u tfWriMimuite min o in- 
siinDOrtavcl por pouco que cl!» abl se, 


livro tem todas os liberdades. 

Mas cm França não querem conven- 
cer- so d’isso os cscriptores. Ate Rcnan 
faz theatro. 

«íui.Ydb o'ú • indo Germinie, o pufoV.<Y> 
impaciontava-so o achava mnssantcs c 
inúteis, justamento os diálogos c os mo- j 
noiogos quo oxplicavam o personagem c o 
drama, cu cm vez do indignar -mc ficava 
satisfeito, por ver que apezar de todas as 
concessões, snpprcssõcs o alterações a 
peça não podia agrada. Se agradasse, la 
so ia a theoria da arte moderna, que para 
bem desenvolver-se exige o campo livro 
•m logar onde foi theatro. 

Domicio na Gama. 

Pariz, 31 dc dezembro do ISS8- 


Tivcmos hontem o prazer dc reccW o 
visita do nosso distincto collega do Li- 
bertador, do Ceará, Sr. João Lopes, que 
sc acho hospedado no hotel VilleMoreau. 

Nossos comprimentos. 


©BSTUAiaiO 

Sepullaram-w do dia S do corrente a$ seguintes 
pessoas, fallecidas do : 

Acento pernicioso.— 0 Hom. Iracy,- filho do Lan- 
renlino Scrcrino dos Santos, 8 meses, rts. o tal. i 
r. Martins t.opcv n. <8, Engenho Novo; a Oom. F.r- 
1101 'ns, filha do Dr. Ernesto da (lanha Aranjo 
Yiinna. 1 nono, r s. á r. do lladdoek Lobo n. 70 ; 
o porl. Marianno <1* Aranjo. 46 annos. ca»., roj. 
fai. r.o liospiclo do S. Joio Itaplisi.i. (Total 3.) 

Il-oncliilo capitlar. — A liam. Dulce, filha de 
Rmilia da Conceição Cnslm, 19 dias, ras. e fal. 1 
r. do Santa Tb«ma n. 09; aflnm. Sarali. filha <lo 
José Jo.iqpim Pires da Silra, 2 annos, res. o fal. 
ár. do Cunsdbelro Pereira da Silra n. S8 D, La- 
ranjeiras. (Total!) 

Itroncho pneumonia.— 0 num. Gnillihaldo, filho 
de Alexandre Rangel Abren. 4 meies incompletos, 
rn. 0 fid. á r. do Rlarbnelo D. 50 ; o Dum. Tan- 
eredo, filho de Pedro da Silra Maia Torre», 7 me- 
xei. res. e fal. ir. da Providencia n. 03. (Tolal 5.) 

CoojancUvlle. -A flnm. Maria, eiposla da Santa 
Ca», n. 41317, rot. a fal. na casa dos Expostos. 

Congestão cerebral.— O cearense Albino, filho do 
Pedro Ferreira Linhares, 0 annos, rrt. e fal. na 
ilha de Santa Uart-ara. 

Carcinoma.— A flnm. Maria Joaquim da Con. 
ceição, SO annor, sol., res. em llambjr c f>l. no 
hospital da Sanla Casa. 

Calharro pulmonar.— O padre Francisco José da 
Costa, 40 annos, na. a fal. A r. do General Cal- 
dwell n. 90. 

Enleritc.— A flnm. Ma- Ia, filha de Albino Ho- 
drlaoes da Cosia, 5 meies, res. o fal. i r. da Ame- 
riea n. <8! 

Frbre amarella.— O flnm. Ranl CòHe*, filho do 
João IJaplista do Arrllar Cértcs, 5 annos, rr». o 
fal. A r. de S. Carlos n. 38 ; a franreta Nathalla 
1'ra lon Cliorillon, 37 annos, res. o Tal. A r. da Al- 
«embli-a n. 33; o porl. Aulouio José Rodrigues, <3 
anno\ res. e fal. A r. do Santo Henrique n. I ; o 
port. Manoel Gonçalvos de Medeiros. 40 annos, 
rai., re«. e fal. A r. de S. Pedro n. 211 ; o porl. 
Marcelllno de A ranjo, 33 annos, c.is., res. o fal. Ar. 
Fonseca Uma n.3; opirt. Francisco Tarares Fra- 
lân. 31 annos. soll.. rw s fal. A r. do Conde d'En 
n. 387 ; o dum. Jos*, fillw de Jnlianno Pereira, 3 
annos, res. o fal. A r. do D. Carolini RayJncr 
n, 31 F ; opotl. Antonlo Aires Ferreira, 55 annos, 
mi., rea. n fal. a r. da Piedade n. 7; n jsponei 
Jims Jorro. 33 annos, sol., fal. na essa de snirte 
doi l)r.s. CalU Prrta dt Wcrneck; o flnm. Álvaro, 
filho de JoSo Maria do Amaral, 2 l/í annos, rw. e 
fal. A r. >!o Panlliio Fernandes n. 3i. (Total Ifl.) 

Krhrr perniciosa.— A pnrlnntera Emilia Soares 
Cabral. 31 annos, sol.. re«. e fal. A praia de Rola- 
fogo n. t%; n p.-inllitr Joio, filho do Bernardino 
Tcli ira Mendes. 58 mura, res. e fal. i r. da R».sl 
Crandeja ». 104 ; o fiiirn. Aulouio, filho de Anlo- 
nio lloiirlqnei Re-ls, 5 l/í mr»e«. res. o fal. A r. 
do General Cansara n. 158; a flum. Prisca Ca ro- 
tina Ladr, M annos, sol., bl. no hospital da Sacia 
Cm. (Total 4.) 

Febre remiltonlo biliosa.— O porl. Anlonio Ca*- 
tino do Resende, 55 annos, res. e fal. no Itosplefo 
de S. João DapllsU : o liras. João Baplida Drum, 
|t annos. res. a fal. A r. de Estado da SA n. 53. 
(Tolal 1.) 

Il morrhajla cerebral.— Um homem dosconhe- 
eido. de rdr tiranea. recolhido ao Necrotério, ondo 
foi otamlnado pelo medico Dr. Quadras i requi- 
sição do chefe do polida. 

Ilemorrhajlado cordão umbilical.— A fium. Ma- 
ria Carmella, filha do Dosar Allileo, 3 dias de nas- 
cida e fal. A r. dos Inválidos n. 60. 

Ilrpalile inilerstielal.— 0 llom. Manuel José RI- 


Germinie Lacerteux (detalhe) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 745 


JLuüo XVIXJ 

c - «3 

Mtfiin hMAFttm 

o 1U *• BIVIM» T* 


Rio do* Janeiro — 3c»ta f elm Q do Mn .o dc 1993 

GAZETA DE NOTICIAS 


RURCIIO AVULSO to RS. 


SMrvotypMU • lajiítM gy n rstaUrM de M*rinoml, u »ypo*r»p!dA iU f 

imi^u « Gazeta do Noticias » 


•WA «li Bk «n 

■UPMO AVULSO (0 RS. 


Itfi Maptt 

?frr.'. companhia ccaal 






SSff SSu 


LOTI NA ACADEMIA;; 


IAXCS IA r«AÇl I gí* _ T~“ 

«B. i y^H. a »*»;.:;;. yjBStLjS 1 TttfE M BAIO 




"riT Á Ghronica do dia 






oupicnos omciâEs . 




E5L»<£2sS. 




*ZKI~ " 








fouiltim » : 

BOSA E NIMM 1 A ; 

■ 


A rmiid» 


Loti na Academia. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 127, p. 1, 6 mai. 

1892. 



746 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Pierrô l«otl 4 o leio «lo dia— o lato mais 
■IrtCJiiíj ost ) i|uo Jamais t»o viu. tiara* 
imrIi a exalIaçAo académica da um ea- 
orlj tui* proluz um (al carandalo. 

A culpa rui dVllr, ou foi doí que núo 
' souberam eiitiuar-lhe coiuo sc faz. um 
discursa do recepção para ser lido -<‘l> a 
cu|>ola solem no. Daudct, que dlloi-lho a 
carta cnl qnc cl lo declarou-se caiidiJato. 
podia ter -lho ensinado a formula dan o a- 
çfe* académicas. Deixaram n nnrujo fii/ur 
como entendia, o o resultado f«d um toile 
geral contra a sua fianqucu, a sua in- 
genuidade excessiva. 

O discurso dc I.oti devia «cr o elogio do 
Octava Fcuiliut, a quem sucecdU. Km 
rez disso acham oi Jornnlistai que foi 

0 proprlo elogio que elle fez, e, lacldcule- 
rooatc, o do autor do Montleur ríc Ca - 

! mors, O proprlo Mc/ièrcs, que o rccobln, 

I disso espirituosa mento que Loli lhe havia 
tirado o melhor do prazer da sua tarefa, 
que era dizer bom d'cllc. K |da primeira 
vez, foliando de sí, o encantador poeta 
marinlieiro desagradou aos amadores do 
seu talento tio pessoal. 

K* que, tendo faltado muito sympathl- 
. camcntc de si, do Fcutllct e de alguma* 

, |4Moaa da sua amisado, Lotl teve uu 
desdens e urnas brutalidades para com os 

■ everiptores que oio escrevem como elle, 
<ptc foram julgadas como puras inconvc- 

1 nivnclas. Zola assistia ã festa aeadomtca, 
Z»!a tinlia sido derrotado por Loti na 
elelçào jura a vaga deixada por PeiilMct. 

1'oÍh o marujo -lettr ado nito so lembrou 
de injuriar o uaturaliMiio al II roprcaen- 
tado pelo seu ehefo I Fnllou d« grosseria 
absoluta, de eyulsmo qnc de tudo escar- 
nece, do monstruoso talento de alguns 
cscriptores dessa escola... 

Zola qnclxou-so d'isso nos reporters 

• umargaineatc; queixou-sc da (alta do cor- 
! lezia dc .«eucx-coneurrecte, que n4o Usvc 

generosidade no soa triumpho. Tanto 

• mais quanto, na sua opinião, ua academia 
não so vota por alguém, c aim contra al - 

i guem. LcÜ foi o romancista escolhido 
para tspar o porta ao anctor do Attom- 
moir. Se Zola uào se tl vosso apresentado, 
a candidatura do Pierre Lotl. apadri- 
nhado pelo condo ddlausionville, nem 
| seria tomada cm coala. 

No seu discurso, tingindo uma aristo- 
crática IndJlfcrcnça pelai» obras dos seu* 

• contem porancos, o autor do Péekeur rf'/r- 
lande disse : 

i « Por preguiça do espirito, por um in- 

• explicável rcccio do pensamento cscripto, 

| ou por náo sei que fadiga ante* de ter 
. comçado, cu nunca leio. * 

■ E adir ma que só hl alguns ainos, íor- 
- çado por Alphonse Daudct, foi que leu 
| Mm /ame Uovary. 

I • Entretanto, diz Zola, o discurso ln- 

• t-jlru do Sr. !.otl 6 uma critica da lll to- 
rnlura contemporânea, na qual, para com 

' as obras dos outros, para com as minha* 
, cm particular, elle >o mostra dc uma du- 

• re/a que toca â injuria. 

' |J« Púde ser que lhe assente essa atti- 

1 jUW» Am im— n-v* 

i da influencia dos outros; mas, se nâo leu, 

• foi ells buscar os elementos para o 

• seu j ui/o 7 

f • Para com Bourgct a os romancistas 
l paychologo*, que severidade I o em poucas 
Hnhas... 

’ - Mas entito o Sr. I.oti se contradtz, 

. .H, n/*A •ftirin, /iiia nln 1* . 


•**«* ilr cutttttc « i|ii, 

tl«u Ju.uru d.) liitl, 
da lAitimot qitd o j n < n acddalMoll. 
vewc ptwfnftio fazendo n nrmMo eta*l»\ 
elle dl» 

« Vou» ave» anui (uilr hetirmemenl 
et nohlcnu Mi de llM*ut«. «vdraiit AUqiwl 
rou« stic:Mc/ - 

K eonUMa 4 * aemelhançsf quo I *i 
cnenntMu na obra do FtiailM eonqia; dt 
coai n sua. mo^trx o lii.iiemliuno evi- 
dente d:n íuas d-vripjiVa ci>mj’ar.d n 
•vin a» simples In licaçôn pv im-y-, a 
dcsprvoecupaçfto dc . iriHsiiuiui livros 
dc Fcuiilct. K eoiicluc (iumliiicute : 

•• A nova rteota, im .nu» a stm, uio 
conhecem escmpulos liltci arlcs que ator- 
mcntAvnni a vida e |vr1urlur»n» a • >:»- 
•ciência de Feuillet « 

U honesto acaJcuiU*/ l,> (mlia a* sua* 
ra/àc* para fallar dc fidu do escriipuloi 
Jit tora rios. 

0 verdadeiro dlscm***, w^o c.rpttr-jmlo, 
que a casa CainiAiiu IX*» I p.tbUeou n*eaM 
mesmo dia, veiu provar que a Academia 
ainda podou muito ramo jolva.cm da 
exulvemito piosa de Loli, q jo deu um 
folheio de 91 pagina ». 

D. O. 

Pnrlz. H dc bImII. 


0 Sr. luiubdiv da justi;A vifiloit hon- 
teiu n (M d.* Dvtençjm c, rtc,»oU do per- 
cerrer o estuUdccuncnU* c d.* ouvir aos 
detentos retirou «e, decUranto ter cn- 
enntrado tinta cm ÜM ordem o com a 
limjHí/a procia, 


SAH£AK£NT0 DA C10A0E 

l endo 0 De. Pires <h* Alm> ida rtspau- 
dido nos s- is primeiros quci.Us dos quiu/c 
formulados p.irn conlice* i -:-»* das medidas 
BgfresalVAS nnit argente s que cumpro 
tomai- contra as epidemias, entro n«s, 
sulracltcii os ú apreciarão dj 2>r. Dr. 
Crulls, paia cwittir jutze, na parto quo 

lbc CompclC. 

Ao Sr. Dr, Agostinho VfdaU chefe do 
policia, (oi hontem oiT« » •cid.> o seu re- 
trnto cm poulo graiido, |»clo artístp Ar- 
tliur do Plnbu, ptii<tOgraplio da mesma 
icnartidb. 

O trabalho è perfeito. 


Chronica do dia 

O menor Mariano Alexandrino, morador 
i rua Carlos (í ornes n. 7, ante-houtem, a 
tarde, nuerendo npear-w dc um bond, nn 
rua de Visconde do lUiina, cabiu, llcando 
com diverso* feri mentos j«lo corpo. 

— PiTOWMeondoctona de carrinhos do 
mão que ci>t.icioriAm na* mas da frcguc/ia 
da Cnnüelarin, contrariado» eom a prohi- 
biçdo da intendência iminiripal, relativa 
ao trafego dos carrinho*» sobr n os trilhos 
dos bonds, constituiram -*c cm grive. 
ante- hontem e Impediam que os carrinhos 
d« casas commcrcine; trAbailiotaeni, tra- 
zendo coro Uso serio» embaraços aos ne- 
gociantes. 

Alguns d'cstei rcctam&mm providencias 
ao subdelegado respectivo, que, para re- 
stnbelccer a ordem, teve do faz-r recolher 
ao xadrez sete dVsses conductorcs, que 
so mostravam mais oxaltado*. 

— O Dr. GoldschatMi, 3* delegado de 
policia, hontem. ói 2 horas da madrugadn. 
deu búaea nas cawis dc jogo da rua do 
Visconde do Rio Branco n. 8 u do Senhor 
dos P.isjos I». 13. O* donos o os jogado- 

... •, . AAfOnbAltA». r-o— — * - 

Tdpediv» «imI»-. 

— Ante-houtem. A« 9 1/2 horns da 
noite, o Hahileleçttdo do 2* d-strieto de 
SanfAnna deu uuaca na cava de tavo- 
bveem da travessa daa PartUlsa» n. C, 
omlo apanas apprcltemlcii todos os mo- 
veis e oujectos concernentes ao Jogo, por 
terem os vicie soa quo alli « achavam-se, 
io evadido pelos fundos da caaa. 

Veriliennao a mesma ^aucWuJailo que • 




mIc 

•H 

Lrc, 




quando afllnna que uio M..,« 

Loti deíondeu-so d' essa argui; Ao, de- 
clarando a um repórter , quo ha cerca do 
um anno, desde que tencionou entrar 
para a academia, começou a lêr a littcra- 
lura contemporânea, c qnc nos longos I fm 
ocios dc bordo tom li lo enormemente. |dii 

Mas, então, |M»ra que vir (a/cr n de- 
claração de isençfto litlermrla iicrante a 
lllustre asseuiblcafOs lettrados poderiam 
responder-lhe quo, por nito viver em 
contacto com a vida cerebral do »ou 
tempo, k5o tto mesquinhas e contestá- 
veis ae idéas geracs quo mal guarnecera 
o bcu dUcurso de recopçio académica. 

A opinião do Maurieo Barre»— um manto 
em matéria dc critica- c que Lotl n&o 
póde tozer obra scm\o dc aensAçòes flnts, 
estudada» do leve, de um ponto de vista 
intciramcnle pessoal. 

• Quando quer doutrinar, a sua fnm- 
flicieiicia ii rita-nos. O seu valor provim 
da justa noUiçfto do traço sensual, do ar- 
repio lascivo. C bontem veiu blasonar de 
cavaltcirodo Ideal. Algumas leituras for- , 
tc» lho teriam poupado esse ridículo. • 

O discurso, que a principio Unha admi- 
rado por asperezas o rancores de crinnra 
que se vioga, acabou loruando-sc inad- 
missível polo excessivo desazo do» racio- 
cínios. 

• Loli no» sous livro» con^ervou-se 
sempre cm pliilosopbia pelas alturas do 
pequeno mater!«llsroo dos principiantes 
de medicina, o svucerebro nàn adquiriu 
força desde o dln cm que, cm AslyatU, 
elle co;ãava chorando a Confestion tf une 

té j enfant tlu tíóele. Coutiauou a sor uoi 
elegíaco, que salva umas moxlmaainhas 
sobre a morte e o nada por teiiioçfes da 
natureza c tristezas nervosos de primeira 
ordem. 

- Era. poi tanto, uma primeira contra- 
dicçno vir-no» hontem dissertar sobre o 
ideal. 

• Será trazer ura ldóal qualquer aos 
seus contemporâneos vir descrevcr-lhcs, 
como elle fez. nos seus livros nostálgicos 
(e de uma maneira tAo contagiosa), o sa- 
bor que as diversas latitude* coramuni- 
cam à bttca das mulheres 7 •* 

O pobre Loti nunca pensou n’isso pro- 
vavelmente. Como a sua sensualidade 6 
extrema mente fina e poderosa, c a absor- 
ve e pnsiue tyrannicameute, elh imagi- 
nou qnc e*9A dominaçáo nio podia provir 
senuo do ideal. E inexperto em dialcctiea 
(cousa que acontece a quem nio li, fa- 
talmentc), cmbrulhou-sc na terminologia 
e eapicliou-se redoudameote. 

De noite, na recepçfto que Mme. Adam 
deu cm houra d*elle, cmqaanto Loü com 
o seu marinheiro cantor de neloJia» 
bretãs fazia o gyr© dos sslôea, as mu- 
Ihere» trepavam uas cadeiras para ver o 
grande homem do dia, o viuvo de tanU» 
mulheres, o Don Juan das negras, como 
disse Alguém. Ma» a maiur parte do? 
bu;ucna que alli se achavam, indignado*' 
com a cxcmíta saas çtne do triumplia 
dor, declirsuta que oquillo cra um. 
TCtgOaha para .x academia fran;« za, que 
um homem pode sor *inctro,K*m ser mal- 
criado. ete. 

ZVa. esso |»roinc to q«ie. m Loti morre 
de uma lu*a ou «1c uuia íeb:e p)r CSIC* 
n»ari> longe, cllc se aprc*c:jtn ã Con»v 
| etr.dldato a sw» succravro, e que. p w 
| Tiugnnça, fara o reti elxgio magnifica 
hume. iCoht c um liorn homem... 

<>>n:o píÇt d^ rheto.-tcv fltia, etpln- 
tuu.*, acalcmiii, tão La CAcriptcr que 


Loti na Academia (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


747 




748 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


1 r\ 1 |mi ii to rnuii • cnnu»nwu« «» >*• » n*» 

k morte de Rcnan I I berne. n n» Mltmenh»...) 0 pid» coa- 

NIC foi ... ■«* ZrZZZmXX 

M mel* U«l» Em pai morreu, »em psalmoJla, tc« 

| 6 r»nd. P*»«. O* *° r “‘" J<iMmh em lor«o do «o MH 4* 

!»r<ie derem-n o remo ^ » odccle- morte. Leio XIII dl« que luo provo nu» 

(ermo, ee «lo domingo do elU foi sincero o quo, pele proome IrlU 

rerera rcrdldo. E j.eoi botncne de bo» voulado. o «o» eloe*. 

1 pelee «ele liorei. elle eiplrou, r° I r| ^ scJ( lt|e wr g contede oo dl» d» duU». 
ume «uri» »*o«iU. 0l cM |kiMcoi mele ortbodoioe do <l«e 0 

Nlotero e morle H»»*» h iiJ pene. |ornell.l»« mel» eecrupuloeoe per» 
clon.ve— ume bele do mU» ^ , vide reco od eloe» do profoieor de Uebree. 

» e.Uqe n u« «Mf. <• “St ere ndo- que mmce Injuriou ninguém. cwre roa- 
luheldeum perUderlo 7 '”u. ,, lUra „ oportunidade d» lameoegem 
lhe o peito de ernedor »■.. » 1»U ff • **2. por occ.ello doe .eu. 

tire. » mor lo do bordo quo o «eron £ penúltimo doe greodee bo- 

looopbo **•»-«« mcni d. rJ» MM»* EJi ee pdd» 

do qoe qunel * htr * *“ 1*"" uregoror que ne eeeU-folr» bnrcri um» 

1 tio cg lo oommood. •““““J'**' w . roer»ít.rtMU de vitupérios eontr» » 

Diam que lUnen morreu de um» “ # ( m obrl . 

g«tJopulmon»rrontplle»d» de c»che b .mg» nlo tiverem 

cerdlec». Eu pcn» que .»-•"» u tempo 4. »ppe««r. Me. pMe-» prever 
I Ur sceb.dc » ene obre. 1 ' l0 M r „|, to . eitreugclrei u qn 

K»- j dretloo- A —e obre I I bllario eom mole com^teocl» . meU 

c»r»clorhtlc»doum»bell»ejl*e»« 0 ' “ wUlB1 jeeepeUouede do penonegera U- 
,»T peeM—" 10 J * moctdide rc d01 luelre e todo» o» rcapciloa o Uo ejmp*- 
‘ I Mede m»dur»-0 eetudo do Llc.menle moderno, ,u» eeugurou que 

impnrunte, («dor»» 4» tu»»» vldemw^l o 005M , ctu io nlo trrl eido o melor, 
t udtl. » bletori» do roT0 ^ ,r “' J, 0l0 mee eer* «em duvide 0 meU divertido de 
*—■ 

eemlnerlo de S. Solpldo e o llberellemo 4 j s oulubro do HM. 

de loUrprtU^o eoleoUde» do» texto» »»- 1 

A 0*0 OE LOUCURA, 

°WU,‘o bretlo peoeetlvo e «ff****! ISOSSUl t IWlMll# 

2 , q^^up^^*'”»*'" 4 * "7” „ "g!sv ,‘0,00.7, 

. Am rhtfea 1 Procurando indagar o motj 


>!• 

1 a 
0 

to. 

Ira 

er- 

ri- 

da 

alio 
ria, 
lo 6 
por 

•CA- 


nol- 
qne 
1 d» 

RO- 

;c 

ia ai 

®bo- 

v*ht- 

fralo 

mfra- 

oobo- 

coen- 

ctfle/A 

■epon- 
Uo no 

à Iri- 
ila voz 
a pro- 

antlda 

MrUJa 

la. 

a poli 
i ln»c- 

moç.lo 
rcceipi- 
» a nic- 


as e 10 


lurprebendidoepor ferteW »r 

|. r 7 ren,l^nd« 1 |a^molltO ( Vlj« teu 

ZX! veelldo dllece.edo, que pe- 
*.'‘ u . Hireudo uue um preto d« 


0, tendo 

a. 

>fere um 
d outro 
)% occor- 

Lijecto d* 
K»ra em 
a Clice 
0 pro- 
0 e claa» 

0 admitte 
da dreu- 
a mon.tr- 
M) forçado 

1 0 curto 
•noa dam- 
Jalado do 
compaçiio 
do coito 
orçamento 

lertçCca e 
do autitU- 
1 unlco do 

que 0 U»o* 

, ouro, que 
el moeda e 
VO crnlsalo 

I 

ubsUtutlro, 
de atliogir 

ufiss par* 
mara quo 6 
liaauaa con- 

1, pedindo n 

..nnm nrlâ 


lier » Divio» Leqcod». - — -- 
* irlne doe crente*. »* meldlçbet 777 

rellgiMon. . deedem 

irianci» o» remoque» do 
' d "„ ; c do vulgo. » .ntlpelbl» que 

«ntem »» mnIU.15« P»b> <1 '‘ c C * 

minhe »o contrerlo du corrente» R«r»«* 

cumpriu » »u» lenqJo. pr«nchru e ^ «tOlrer • »|»iu»“»” - 

C *Tto*fÍrii,» cr» o mu propoallo d* nlo f,^7ompUm«t». 

J“ 5Ti ~ Ix&ttíSíSÍ 


euuM com o veecldo dlleccreuo, qu« w- 
•dKe^.idKcndo qu. um jnto J. 
nome Bento qucrl» meler » wwoi u. 

1 jFtyssfí íssmsi^S 

J “7:,rí°ra e dínm|S.nn.r:í 

«°d.“çj rl0 SSsí 

itmou-o » deiter equcll» »rm». 

llrTelís "o d* *• clrcum- 
«•Siii.2t-ju.SiM» coro perece» 


4«. r ílST; SfesdfiSaW» 


Tgo .0 meio do uwnpto, 
tratou de Jeeua Chrlrto -ta* J^ Cf * T * f 
»bro o, mu. precedente, bt» o ■ 

O livre, que (ex eecendulo. tej-lb» » 

pnlerfdede uni”— 1 ' 3 * ' ^ it 

eoruecedo ncU HMorii do Povo « 
^r. brutalidade do eUqur P»re«rie 

I SS-CtSSKS 

' LSTSw-o . eeretedo fore». « 


eeomp.nbe.lo ue K.^ueelli 

'.on^.ueuw Jcl'^ * “““ ^ b 

SSASPÍç' ^ reeldlnd. 

c «npinhelre de m.m« ennw.^tp.^ ^ 

«»"»i «o mrelno Meuull 

ru ile scU nnno» incotnpirloa. 

Ülaa da .Silva. je seve Amparo 

Bento, »da Idade òo 

qaapenaUaaíja. J u0 inspiram 


rrael^p.renjn^ontem» 

^«"«‘qVvemo celebre 

coneciencl» pblloeophleo. 1“ n » oceeelio. tlf ti.. n to Une» 

s^sssOTÊBsas 


Fíff?i=í:= 

'rí2T,“.rr,^.°i r 


inU0t0i ' 0 

nue critteer d« no cHIico Mm ,y«Um». 
o- ?«e£T.l I. .uggrelUw da» propHe. 

I”' como dev ctrnnhe, MueSc», d» um vle- 
^ t.nle neneetivo o eltonlo, que .eonlado 
íl". n.ÍncrexUb»de doe eamlnboe, eecuU oe 
7 rumore, qu« vêm de todos o. ponlo, do 

rirenlo-tlco^Uo elmplce que tc 
.mrrnec prove Mn.»vt-o<*»*«»^ 

em drixar de arr verdadeira, exaela, 
modlUcada pri»* dilTcrcnle* poriç5«* Jo 

Mt» mcemo^obaeireedor per» «m 

oiK een: liever iMnlir», h» neeoeert» 
mente deOcienef» de verdade w» F» 

.Içürt que »A eonnderem um objectn d 
um unlco ponlo do vlet». 

K porque, per. muder <le ponto, de 
ri>U elle endou tento * roda de» coimu, 

. * ' Ahtlo.opbt* ndo põd. cheger. 

rrctJdlo albrmettv.de. «)»t.m»Llcoe' m e. 

chegou * experimentado prudenel» 

‘"^LlUmouJhe o orguüio. S*o «» 

.■». » I r. r-rtuir eegredo» sobre o mundo, 

.eopo- fc W me^ri. e .gude,, de inlelllgmde 
^'rtèdUdede, nlHCrectlvo, pera . e 

eaçfto dosfectoe. M»« um ««d»* « W-j 
homem que «nto-.e cap«x de r«u rawo 

STT-i- u rT«'-»r 

lemno e que. 1«"5' de w 
pn«, *X d« sue. tilai#»», derler» q«' 4 
rle * I Líefcncla que Ibe (oi deda ecro elle e 
m "° r u, , J um grande beeeitóo. que. m 
'^■T eo^recrJmdo no, o. e,„ . eccet- 

Urla reconhecido, ogradreondo i causa 
. t « 0 0 \ )t m o encantador passeio que 
TT* t foi dadorlTecUiar atravrzda rvalldadc. 

«.elV por t,n desdenhou d. Mbioe < M"" 
tre» d*' -bo, ,ne não ajunlarem ecmVo bi PO 

8JE hx preTe #0 prtnclpelmcnle . -C» 

»-.o d«E ..,7,li<a . conUiucliv» de hmuo- 
rendn n I imeit éou.Uereva Derwln nem • 

vendo a I uhlaJo. Nio ooneteerev. n(Jm l 

uocurmi I K MuCc r como pblh-ophne. nem pe I iro , 
íTeendo ^*^, “ , es , ud nr Sehopenhnner e e , 
«r feito d' 0 . ^ .... ,, tiveeM de convoreaí cood 

jl ar innui nvr^rrrii lolcira-l ►! in0 


eom elicuo 
correndo < 
guindo Gr 
AUcri-or 

porta c *fl 
a rua, ind 
vislnba. 
Qrimalu 

corageni c 

ie detarn 
que Bent' 
t caluu st 
sobre os | 
nri-ft. 

G ritual 
do seu al 
foriu-ae l 
camlo-lh 
por um 
enoscír"i 
«fugiu r 

Nào sa 

paru a o 
o menor 
precipita 
dc um 
flbmu -1 
de xandi 
0 mH 
Bento 
delrgadt 
rcsident 
ctnn<u i 
pela doi 
coniluii 
cura eli 


tiç.io r 
que en' 
Ias Irai 
ri no. < 
Bpot 

•ervav 

rogato 

embar 
0 Sr 
f.*/ Uv 
prisão 
KaUre 

Sab 
blie.H 
Ctnsn 
nilad 
0 r 
Deou 


mWraçAn. 
i, (Içando 
frsntC* e 


por sl e 

Drildca c 
i sentido 


llartmaoo. 7„ , ir . 

com elite, com rertexe XW** 
mente d, eceõrdo eom o. ..... pn« pi». 

ferro dc j, tÇi dft^moa cousa* dilTercntc* > 

^*7 * |,e 7õreJd.o.a, serenament. orguthovo. 

0 , quando hniorquuK» . h 4 m »mo 

enes luU* «.p.numc*- j 

era trenieo e elle ere poli o. l'or.d»ej 

1crft dftr.*Ma» respondia duramente ^ 

. _ .ta fnttfl fl Mt 


anno 

ções 

dezei 

. P 
d'e*s 
lado 
Uccc 
e »c 
uhei 
M.« 
de|X 

0 

cap 


rctnmcnlo 
llqo. dU- 
cõnsti na o 
exigindo» 
leri »*los O' 
dcdüde à\ 
Ulo de da- 
na rua. re- 
iiiicrior ao 

Hci|uil. que 
r»i >r«s, I 
ida c^íJn»* 
nos lornuH 


auanuo p üi*v».u.#ve- m . — — L ag 

S3!- q... »«» '»«'"> ** i,ni ’A^ate 

l-atadn. que. cobriu d. b" "rM «u< eeo»te^ 

I. do .eu pm*™mm»dujfflgB£^le! 

I 4 ú*** »»• 'ft 4 eSEB 3 K 


ioem -U»; Lue 

nem .* q«WT ^ 

t iilclitAi. etu 

. C'U'»ÍM 

l<nv» 

U*/ a s ui. 


Obiçiu |i>'S ca^dírp .1 

tiraram 

Vj, la il' cif W 1 

sit ucp*n wíilquilWsiV 
Vim. (eh-, treb^cd... oeet. 
que au. wtredn-, vefip-» l#» w "‘ 

?i» w ad«m» tmal. « «"»’ 0 . . 

I), J..x»l-« ceaM‘lete- ®*®t*** | 


ler. v. M* mel. ile «« n,f w ' ' r " ■ 

í, U rí-a 1 1 o quiul® nitumo 4> *> r i 

i Qyubc flv»E i,n \ [, ilctt o cHiiual» D«t» ' l ' ct l 


A morte de Renan (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


749 



A exposição que se encerra no dia em que forem publicadas 
estas linhas, reduzida em numero e modesta de apparcncin como 
foi, não falhou o seu alvo, nem atraiçoou o esforço dos que a pro- 
moveram : provou que no Brazil as artes do desenho têm cultores que 
resistem á depressão nervosa do clima e (pie trabalham com moi itoi ia 
pertinácia e progresso sensível. Não tive a fortuna de ver a exposição 
do anuo passado, cujo confronto com a deste anuo parece ter pre- 
judicado á estima por esta ultima no conceito dos críticos de arte. 
Entretanto, eu trazia a memória ainda fresca dos salons de New- 
York e de Pariz e poderia ser tentado pelas comparações de generos 


e valores, si fosse critico de arte. Não o sou, porém, c sinto que 
para o oilicio me faltem a educação teclmica c a conveniente cul- 
tura iutclleetual, que dão autoridade para censurar ou approvar, 


para assignalar qualidades e defeitos, descobrir filiações o ten- 
dências, para classificar e apreciar com um rigor relativo os pro- 
duetos de um trabalho que muitas vezes o simples empirismo e 
inclinações sentimentacs dirigem. E’ deveras lamentável que os 
(pie podiam tomar a si essa tarefa, aspera e dura embora, de pre- 
parar o futuro da arte entre nós pela critica da obra dos seus cultores 
actuaes, não façam o sacrifício da commodidade do elogio vago e 
insignificativo ou do vitupério generalizado até a negação de todo 
merecimento, para acompanharem com a benignidade severa do 


A exposição de Bellas Artes. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano I, t. IV, p. 96-100, 

out.-dez. 1895. 




750 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A EXPOSIÇÃO liE líELl.AS- AllTES 


mostre paru como discípulo a obra de oadu artista n» sea desen- 
volvimento. Si alguma coisa faltou á aetual exposição do Bollas 
Artes, não foi tanto a completa representação do todos os artistas 
brazileiros nesse concurso animal, foi sim a manifestação do inter- 
esse por ella, mas interesso real e efficaz, como devo ser o da 
critica. A exposição esteve aberta um rnez e meio. .Vparte algumas 
paginas lyricas ou satyricas, em que o ontlmsiasino subjectivo e 
impreciso ou a tenção maligna prejudicavam ao senso critico, 
apenas algumas notas nos jornaes disseram ao publico que os 
artistas do desenho reuniram algumas das suas obras novas cm 
duas salas da Escola do Bellas-Artes e que entre as obras expostas 
algumas tinham grande valor. E como o publico está acostumado 
a ver livros escriptos sobre um livro ou polemicas sobre bagatellas. 
fazendo o desconto da exageração normal dos nossos costumes 
literários, julgou que o pouco que se escrevia sobre matéria tão 
elastica era signal de que cila pouco tinha dado de si, e lá 


não foi. 

Entretanto, a própria exiguidade da exposição tornava-a mais 
amável, facilitando o exame dos quadros melhores entre os infe- 
riores, sem a fadiga das repetições de generos c de assumptos 
em composição e tons differentes, como nos grandes mlons. Desde 
o anno de 1884 eu não tornara a ver trabalhos dos nossos artistas, 
sinão em exposições estrangeiras ou dispersos por casas parti- 
culares. Assim isolados ou cm parallelos offuscantes, mal sc pre- 
stavam a uma apreciação conveniente. Aqui todos ou quasi todos 
reunidos, elles dão a impressão do um progresso considerável tanto 
na technica como na producção. A exposição de 18*4 resumia tra- 
balhos de muitos annos ; a deste anno veiu depois da mais rica 
que se fez desde então, dizem os que viram a do anno passado. 
Ordinariamente, como depois das grandes fructificações são mais 
escassas as colheitas, uma boa exposição aconselhava ao artista 
um longo repouso. Tal não é o caso aetualmonto. Artistas que 
mandaram muitos quadros á ultima exposição se apresentam agora 
com trabalhos numerosos, como o Sr. Henrique Bcrnardc h que 
expoz vinte e oito quadros, retratos e paizagons, o Sr. Aurélio 
de Figueiredo que figurou com onze telas e o Sr Brocoscom dez 
nenhum sendo pocheuk ou simples estudo de atelier. A activ idade 

maior é visível. T0S0 IV -i80 5 


A exposição de Bellas Artes (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


751 


<18 


revista brazileira 


o proervsso indivi, lunl do cada artista é dilBcfl do expbonr 
„„m simples ardco rapido o leve, sein tonçdo ontioa. A mo, ha, 
da ,m„lucc*o ali representada mçstra osso proarosso bem 
rlaramonte na iadependonoia das maneiras, na emano, paç, to dos 
i, recessos, na liberdade do colorido em coral, epio da tonalidade 
eseura do Sr. Bernnrdclli ao ar.nl cinzado do Sr. Belmiro, passando 
pola camma ehromatica ,1o Sr. Amoedo, póde contentar as ext- 
cenctas de ,,„al,|Uer visito o satisfazer a todas as esthehca». 1 ara 
õ„c,„ sabe ver Ita tanta sngeestilo esthotiea na iritw 'h l-Ur 
Xwiwil/ro como nos painéis decorativos do Sr. Atirei, o de Hcne,- 

redo. 

Tilo sinceras são a nitida Praia dc lcarahi/ do Sr. baechmetti. 
lavada do claridade verde, de ouro e de carmim e as vistas da 
Sr a. D. Maria Forneiro, sua discípula, como a vigorosa Serna da 
roça do Sr. Almeida Junior c as paizagens do Sr. Belmiro, cheias 
de melancolia, envolvidas muna bruma nostalgita. 

Agora quem levasse para casa e reunisse na sua galeria a 
Scena da roça ou a Cai fira pitando do Sr. Almeida Junior, os Peia < v 
do Sr. Alexandrino Borges, uma paizagem sem sol da Sra. D. Atina 
Teixeira, as Más noticias do Sr. Amoedo, que pintando um retrato 
fez um excellente quadro luminoso e vivo, o pequeno poema que 
é o Bailio da condia do Sr. Aurélio de Figueiredo, o Pilado da Boa 
Vista c a Lida do Sr. Belmiro, o Ma ralai e o Repouso do Sr. H. Ber- 
nardelli, a Veneza do Sr. Lix.Bernardelli, a Feiticeira do Sr. Brocos, 
a paizagem do Sr. Facchinetti, um retrato da Sra. D. Diana Cid. 
outro do Sr. Delphim da Camara e outro do Sr. Weingartncr, tendo 
escolhido entre as obras mais significativas a meu ver na actual ex- 
posição poderia acaso encontrar entre ellas o traço de similhança, 
por obscuro que fosse, servindo para estabelecer o caracter da nacio- 
nalidade na arte brazileira? 

Parece-me que não. Ha arte no Brazil, não lia arte brazileira . 
Cuntentemo-nos com o que nos dão artistas estrangeiros de nasci- 
mento ou de educação, emquunto os seus discípulos brazileiros de 
sangue e de sentimento nos não revelam o caracter da arte na- 
cional. 

Essa revelação não é ainda bem seguro que elles façam. O 
derradeiro traço característico de uma escola de arte é a nacionali- 
dade, si por nacionalidade entendermos essa classificação política 


A exposição de Bellas Artes (continuação) 




752 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A EXPOSIÇÃO D 15 HELLAS- ARTES 9í) 


convencional c prccaria, que a natureza rompe qimndo chega a 
hora do grito da paixao ou da manifestação poética ou artística. Mas 
ainda mesmo para com a nacionalidade que traduz a coinuiuiihãn 
de sentimentos e maneiras de ver, (pie se define nos traços de cos- 
tumes, a arte conserva a sua independência de sensação e de ideal. 
Aos artistas brazileiros não deve preoccupar sinão a expressão do 
que lhes suggere o assumpto escolhido, que seja hrazileiro ou estran- 
geiro: a apuração de escolas só se faz com o tempo. E' porventura 
um indianista o Sr. Rodolpho llernardelli ? A Faceira e .1 forma pode- 
riam levar-nos a elassifical-o assim. E no emtanto Morna é mais do 
que uma Cabocla afogada, é o Amor trucido. Entre Leandro e Mocrna 
o esculptor escolheu a forma mais hella da mulher, que a onda veste 
a meio, 


El la [< m mc cl la imr itnissaid leitr hcaufi. 

E’ uma imagem que faz scismar. 

Não sei si a evocação do nome entra principalmente na admi- 
ração dessa contemplação, sei que entre os nossos olhos e o corpo 
da morta sempre se mette um véu prestigioso de poesia, que é 
talvez simplesmente a suggestão do sonho de belleza ali represen- 
tado. 


E’ balda de critico sentir a falta de imaginação nos pintores. 
Estes lhe podem responder que nem a Gioconda nem o Angelas tem 
imaginação. O que nos não impede de pensar (pie os cultores da 
imagem devem ser imaginosos. Seria talvez necessário para com- 
pletar o artista que ao pintor se ajuntasse um poeta entendendo o 
mundo e sentindo a suggestão clara ou obscura das coisas. Mas, 
não sendo muito communs esses exemplares de humanidade, seria 
conveniente, e isso é infinitamente mais facil, que o artista fosse 
educado na veneração da idéa e no seu culto esthetico, que sentisse 
a intellectunlidade do seu oílicio social. Isso lhe traria certamente a 
imaginação e pela imaginação, a affectividade provocada pelas 
formas e horizontes familiares agindo sobre elle, o caracter nacional 
da sua obra poderia apparecer. Infelizmente, porém, a dispers.vidade 
do trabalho de cada artista parece-me um symptoma bem grave 
da falta de fé. Não provirá isso de serem feitos avulsamente todos 
esses trabalhos, sem destino preciso e sem certeza de aprovei- 
tamento? A decoração de um palacio ou de um templo, occupatu o 
pintores e esculptores numa obra systematica, não fana mais pela 


A exposição de Bellas Artes (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


753 


REVISTA HRAZILEIRA 

arte do que a snu.dc quantidade de quadros de cavallotc e de pe- 
; 1 Á.1S0»; que dão a impressão de fragmentos, magnttieos 
emhora do vários livros desunido» e incompletos? Ou este ...aca- 
tamento c esta dispêndio silo proprios da arte, largue luuu.u.a, 
inquieta e tacteante, aitdosa, forcada, ..ente completa . estues 
abertas, a discutir sinito a resolver por saldos ou poetas, por 

competentes. 


Domk'10 da Gama 


A exposição de Bellas Artes (continuação) 




754 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O SflüOH DOS CAmPOS EüYSEOS 


DERRADEIRO Sftloil dos Ciini- 
l»os Elyscos não bastaria 
por si só pni'a justificar a 
nnciedade e as apreheiiSÕÇs 
dos que ainda nAo desco- 
briram o local em que se 
instnllará o do anno que 
vóin. Talvez não fosse um 
inal para a urlô francezn que não houvesse ex|) 0 - 
sieau geral do Uellas-Arles antes da grande e.\- 
jiosieão de 1000. 'Talvez no intervallo tivessem 
tempo os artistas dc talento de preparar a obra 
mestra que cada um sonha fazer e que nãopódc 
realisar nas poucas semanas de trabalho util que 
precedem a cada salon. E os que têm a celebri- 
dade e nome sustentado artifieialmente à custa 
de reclamo se cxgoíariam na producção apres- 
sada e vazia, que faz dinheiro einquanio c moda. 
mas que desprestigia uma escola do arte. Em iodo 
caso, havendo para as necessidades conimcr- 
ciaes do ofiicio as exposições patviaes e as lojas 
constantemente abarrota* las de quadres, a aocu- 
mulação durante tres ou quatro annos de um 
numero considerável de obras sérias permitliria 
maior rigor c um aliciamento de bitola na es- 
colha paia a admissão. O «juo hoje constituo 
cnc/umcnto para os bons quadros e as hellas es- 
eulpturas, que sfio em pequeno numere, seria 
forçosunente excluído. Só ficariam os trabalhos 
significativos e de valor. E o visitante, que com 



A* cattnnkiB. 



Som-Pnro. No prailo. 


a fatiga da mediocridade dominante ganha o 
desrespeito pelo conjuneio da exposição, «lc*i xn— 
ria de passar distrahidamente por deante das 
obras em que dc qualquer maneira se acha re- 
presentada a Belleza pela lórma ou pela idéa. 

< *s milhares de télas. de estatuas, de gravu- 
ras, de óbjectos de arte decorativa, recebidos 
cada anno dão logar n contentamentos de mui- 
tas ambições illegitimas. As mediocridades se 
chamam. K ex|>òr no salon passa a sor, não mais 
uma honra, porém uma obrigação para os artis- 
tas que carecem de viver do seu trabalho. Muitos 
delles mandam um quadro para a exposição 
como, se fossem industriacs ou omprezarios, 
mandariam cartazes para os muros das casas o 
as tapagens dos terrenos vagos. Este anno um 
pintor mandou uma téla dc cinco melros sobre 
trez e meio, representando uma mulher que leva 
a vacea a beber ao rio. o assumpto dava mira 
ser tratado sobre um décimo d uquclln vasta su- 
pcrficie. Mas poderiam não olhar paraelle. E por 
«ssr» o homem brochou a larga al manjari a, com 
tinta barata, e tão crúamcnte que parece ter sido 
tudo feito de uma assentada. E o cartaz seeno- 
graphico, que violenta a attenção fio publico. 
Porque muitos se abandonam a este despenhei o 
dc tóla e tintas 6 que a superfície «las obras ex- 
postas cada anno requer enormes palacios de 
exposição, tão grandes que já se não acha no 
centro de Pariz um local de eajvicidade sufíi- 
çiente para os futures salons. 



O Salão dos Campos Elíseos. Revista moderna, Paris, ano I, n. 1, p. 22-25, 1897. 6 


6 Há duas crônicas de 1893, não assinadas, publicadas na Gaveta de Notícias com o mesmo 
nome do texto acima (“O Salon dos Campos Elíseos”, ano XIX n. 153, p. 1, 3 jun. 1893; e 
“O Salon dos Campos Elíseos (conclusão)”, ano XIX n. 159, p. 1, 9 jun. 1893). Pelo pelo 
assunto abordado, são provavelmente de autoria de Domício da Gama, que à época estava 
de volta ao Rio pela primeira vez após cinco anos de viagem e não contribuía regularmente 
para a Gaveta há algum tempo (seu retomo ao Brasil e ao jornalismo é indicado na crônica 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


755 


RR VISTA M 0 1) RH NA 





J. limo». — Ellçlto <10 c rcpusculo. 


Esias relloxOos mo foram stiggeri- 
«las polo numero l> a inferioridade da 
exposição da Socjcrçadc dos Ailistas 
Krancezes, em que os mosliTs da pri- 
meira escola de pintura contempo- 
rânea se abstiveram, ou apenas são 
representados por trabalhos insignifi- 
cantes ou mesmo maus. jiorquc já 
uáo carecem de se annunciar. porque 
o anuo de tral>albo ulil é insiimricntc 
para a execução de uma obra valiosa, 
ou )H>rquo a gente nào tem geiiio cada 
anuo que Deus dá. 

Desde a primeira sala o visitante 
entrando 6 mal impressionado por 
uma immensa paizagem escura, baia, 
antipatbica, sem ar nem luz, que re- 
presenta oseamiiosdc lavoura cio Lau- 
raguais c que J.-P. Laurens pintou. 

Na parede que faz angulo com essa. 
ã direita, vè-se o svmbolismo d’ este 
anuo — o \ '(ts l-abimo, cm que Henri 
Martin faz litteratura banal e vaga, e uma pin- 
tura ainda mais vaga, senão banal. Aos tram- 
bolhões pela encosta de uma montanha árida, 
mia e sombria, desce ou róla uma turba lamentosa 
em seguimento de uma mulher velada em gazes 
negras, coroada e cingida de papoulas vermelhas, 
a qual com um mau sorriso nos olhos perversos e 
o aceno de um ramodeordiideasamarailnsque traz 
na mão esquerda, irresistivelmente os attralie para 
o abvsmo. A figura de mulher é a luxuria, a gloria 
de mandar, a ambição em geral, o sonho que nos 
leva para fóra das estradas trilhadas, a curiosidade 
inconlentavel que leva ã loucura, ou 0 tudo isso 
junto / Como idéa o quadro é confuso, conto pin- 
tura é mau. sem desenho e sem còr, pintado para 
ser eplietnero. com apenas o movimento trágico o 
a incursão impertinente no dominio da cogitação 
moralista e improvável e da poesia symboliea. 


Xa terceira parede outra grande tèla parece uni 
tapeçaria tecida para adorno de algum pàlacio da 
renascença ingleza. Representa a illnsào de l ita- 
nia. na comédia magica de Shãkespeare, lo/npcs- 
tade. Tem lindas figuras de mulheres mias, é 
pintada eom vóresjhias, a paizagem é t boa trai, de 
eropusculo suavissiuio. a comjíosição é boa e deco- 
rativa, como pretendeu o autor. Paul Cervais. 

Depois d'essa grande téla sõ uma attrahe a 
atlenção |»or seu merecimento. É ma SuuccUuje 
en plane lUçr, por Tultcgrain. K uma bella ma- 
rinha, um alto mar furioso em que so passa o 
drama de um naufrágio, com a claridade difTusa, 
a luz velada das tempestades, o movimento for- 
midável das vagas feitas como nionianiias que 
mtam ca agonia dos que lutam >obre tilas e contra 
cilas. 

D abi por deante os mestre- lY.mcvzes dcv>ap- 



Cmtiu-Auit ,1. Duelo Intci rompido 


O Salão dos Campos Elíseos (continuação) 


“De volta”). De fato, suas últimas contribuições haviam sido algo “desordenadas”: para além 
de sua coluna cativa “De Paris”, que trazia alguns textos não assinados esporadicamente, pu- 
blicou textos em 1892 assinados apenas “D.G.” na coluna genérica “Colaboração europeia”, 
dividida com outros autores. A data de composição dos anônimos “O Salon dos Campos 
Elíseos”, cinco de maio, parece mais ou menos ajustada ao período de sua viagem ao Rio. 
No entanto, em se tratando de textos não assinado s e publicados fora da coluna usual do autor, 
optamos por não incluí-lo no presente anexo. 




756 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


liK VISTA M ( ) I ) K 1 1 \ \ 



l*oituA\ . Mnrceau. 


parecem ou ap|>urpUon) mal entro a uuillidão 
ilos estrangeires. i(iio pouco a pouco vào inva- 
dindo o salon. 0 impcecuvol Botigueroau expõe 
a mesma seena elassiea ile syinlxdismo galante, 
uma rapariga ás voltas eom eupiilos. Geròme, pin- 
tou uma entrada de Chrislo em Jerusdem, que me 
fez saudades do quadre analogo do auto da Paixão 
entre os ilidires campónios de Obcmmmcrgau. 
K duro e desgracioso e falso de còr e de desenho. 
Boimut ligumcom um retrato de Josepli Berlmnd, 
da Academia Kmnccza, feioeomo um bicho, mas 
muito engraçado. Benjumin Constam teve dons 
insuceesso-. nos dons retratos do Duque d Aumalu 
e do Sr. Chauehard, proprietário dos grandes 
armazéns do Loitvre. 0 já grande Bunjamin 
Constam foz o Duque apear-se de algum eavallo, 
sentar-se para descançar sobre um banco de pedra 
do parque de Olmntilly (« um banro do tempo do 
grande Condé, » explicou elle á Kainha Amélia 

de Portugal) e tirai Iiapeu redondo para arejar 

o seu pobre eraneo despi judo e triste. A paizagem 

maisbclla que a ligura, que é no 

entanto tão bella em si, historicamente, pessoal- 
mente. Tocac com tal descuido n’uina gloriosa 
reliquia das grandezas nacibuaes é como aincs- 
qiiinhal-a. Um quadro d'osses importa a respon- 
sabilidade do artista. 0 retrato do Sr. Chaueliard 
é menos mau. 

Itoutigny pintou ttm Maireau ferido de morte e 
confiado pelos seusá generosidade dos inimigos, que 
6 uma hoa seona militar. Edouanl Delaille fez ace- 
remonia ofljeial dos Funcrars de l‘asteur, Ião seera 
e iiiliarnioniea conto as tantas telas, igualincntu 
oflieiacs, em que é commeinorada a visita do Tzar, 
desde as marinhas do desemhaique em (.'horhurgo 
alô aos quadros militares da revista de Uhnlons, 
passando pelos Invididos c pela Academia Fran- 
eeza. Uma linda pintura é a batalha de flores 


figurada pnrArli- 
gttu no. seu quadro 
íleurs de Prín- 
tcm/is, seena de 
unta graça volup- 
Itiosa, vaga de da- 
la, como os qua- 
dros que os [tootas 
imaginam. 

CnniFanlin-Lu- 
lottr, que expõe 
dons pauteis deco- 
rativos, .1 Noite 
e a Tentarão de 
Santo -Antouio, 
(juesáoduiusohius 
<ie pintura séria, 
eom Uoybol — ma 
porta- estandarte, 
truculento o gar- 
boso, — J tiles Bre- 
ton — coifadoras 
no prado, — Jo- 
seph Btiil — sce- 
nas de cosinba, 
divortidas como 
assumpto e mara- 
vilhosamcnlo fei- 
tas como tivmj/e- 
— eom Hcn- 
ner. Hcborl, Dan- 
lan, Dcbat-Ponsnn, Demont. Collin, Jtilos Lelèvre 
— um magnifico retrato do conde. Bonitáre do 
Castellane, soberbo de faetura e reproduzindo eom 
tuna intensidade caricatural a pliysionomia de 
tidalguia moderna do modelo, — e com llurni- 
gnies á frente dos paizagistas, exgota-se a lista dos 
mestres francezes. 

Ueslam, para encher o Salon o dar-lhe inte- 
resse. os pintores estrangeiros, que são legião. 
Damos estrangeires a seleeçáo ú mais verdadeira 
e é isso o que dá valor ás suas exposições, listo 

uni eritieos de arte notaram que havia lies/m- 

nhoes em demasia. Kntre os liospanhoes lia dous 
lirazileiros, o Sr. Podre Woingarlner, ruja Briga 
de gallos , pequena pintura graciosa, clara, de 
effoitos prodigiosos de perspectiva e bom modelada 
em figuras, foi declarada por um casal de inglezes 
a meu lado « a cousa mais hem pintada de Ioda a 
exposição », o o Sr. Pedro Luiz vauthicr, de Per- 
nambuco, ijito expõe a « Inauguração da ponte 
Alexandre lll * — ainda as festas fralico-russas — 
e uma seena de terça-feira do carnaval. 

tt Sr. Simões da Fonseca expõe um pequeno 
estudo, li um americano que peto nome é hrazi- 
leim, Florian Peixotlo, expõe uma Sombra eterna, 
que não entendi, porque pensei que fosse o 
« Chrislo no Jardim das Oliveiras », mas vi depois 
que não tinha oliveiras. 

Do Sr. Souza-Pinto, outro h espanhol porluguez. 
ha um pequeno aimnlmdor do eastanlios, que é 
uma ohm prima de desenho cerrado e sem see- 
cura, de perspectiva e do luz, de harmonia e do 
expressão e uma pequena canqionia debruçada a 
uma cerca, que impressionou o velho Rocheforl. 
Náo se faz melhor em seenas rústicas. Do Sr. 
Salgado, iloits retratos prestigiosos, um muito 
simples e original do tuna bonita senhora, que 
parece viva, e outro do orador Antouio Cândido, 


O Salão dos Campos Elíseos (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


757 



II lí VISTA M OI) KM NA 




'lo ar, do reflexos no. espelho il" lago, do 
limas fundidas na harmonia do jioi-iitu. 

1)" Sr. Garnclo. quo conheci ainda rios 
sons principies na Aradcmia do 1 1 es- 
panlia, Oln Komn, lia sois annos, lia nni 
grarido quadro do gonoro, t'm duel/o in- 
terrompido , quo já rovôla » mostre, Com- 
posição, desenho, cor, nada alli falia. 

t'm alsaciano oliamado Gaglinrdini 
pinlaá espnluln marinhas oITusounlos do 
claridade o do uma porspooiiva prodi- 
giosa. I m aiisti-iaci) por nome Doulsoli 
(Lnidwig), discípulo do Joan-Paid Lau- 

rons. mandou uma pintura do >- 

iro de largura e trinta centímetros do 
llltura, quo lho terli oustadn muitos mo/.os 
do trabalho assíduo. Mas sahiu obra que 
liquo o duro. São portadores do tributos 
á porta do palacio do um sultão. As rou- 
pas, volludos, sodas, lans, os bordados, 
os couros estampados, as armas tauxin- 
das, os mármores, a pedra lavrada, os 
azulejos da arehitoclum. os rolloxos dos 
ouros faiscantes o da pollo dos negri is, dão 
a impressão do quo osso ê o pintor iucom- 
paravol dos estofos o da natureza morta, nutro do 
igual relevo o correcçào de linha, embora com 
menos intensidade de execução (• o sou com pa- 
triota viennense Hudolph Krnst , quo expõe um 
grupo do boduinos do volta da caçada, trazendo 
um tigre morto sobro uma padiola. Cães precedem 
o cortejo. O sol poente como uma bola do fogo 
iliuniilia a scona pedregosa eospóra. O ar o secco, 
as sombras nítidas o tanto a poizagem como as 
liguras parecem animadas do uma energia bar- 
bara. 

Assim ha muitos outras quadras de estrangeiros, 
cm que a arte 6 primorosa quando a idea falta. 
t»ra o que se quer de um quadra 6 que elle seja 
bem pintado, prinripnlmente. Do sorte quo o 
salon de pintura da Sociedade do Artistas Kmn- 
oozes encerra as suas exposições nos Campos 
Klyscos com o triumplio dos artistas estrangeiras. 

Domicio da Gama. 


UittreN I.. , O Tributo 


E*x»r K. O real vencido. 


quo tem a boroa fechada, escutando, mas que já 
\ ao fallar. I tutro retraio excollcnte foi o quo pintou 
o Sr. Malliqa. quo lanihoni oxpoz um grtnio magis- 
tral do Olnros tralialhaiido ont Caldas da Rainha 
quadro quo honra a arte |>orltigtieza. t) Sr. Juliò 
bamos expõe nm E (Lnto de crepuscalo, paizagem 
monos original que a sna Entrada <lns bano*, ma- 
rinha colorida o çspelbenla, Ixia tela de estudo. K 
o Sr. Aiitouio Ifibciro tem mu quadro do genein. 
Depois ilo trabalho , ainda pouco forte em figura] 
mas com efieilos curiosos ,|o estudo de interior] 
em somlira o penumbra. I alvez se estime menos o 
quadro do Sr. Ribeira por trazer ainda nos olhos 
a impressão do um quadro pintado por um belga 
do nome Alexandre Siruijs. quo tom por titulo 
' onsolar os afjlictos, o quo ó obra do mostre, lí 
li uma pobre rasa uma mulher quo chora e um 
padre que a consola. As duas liguras estão senta- 
das. a scona ó simples o natural o pungente, o a 
pintura ô extraordinária. Como drama, bclleza do 
gosto, grandeza moral do assumpto, su- 
perior a esta tela só vejo, dooscoccz ( ; corgo 
Marcou rt, a Mulher do Leproso, quo re- 
presenta. n'mna clareira do floresta, uma 
figura do homem, envolto num grande 
roupão pardo, com o rosto escondido sob 
o capuz, do manto e fugindo no abraço da 
mulher, quo caminha para olle. de braços 
abertos, amorosa o supplicanle. Por epi- 
graplie explicativa o ire, -lio do texto do 
Teimy.son. 

• ... Km nome do Deus sempiterno, 
beija-mo c dá quo cu viva o morra eom- 
ligo 

A figura da mulher 6 sublimo. E toda 
a pintura tom o aspecto grandioso das 
obras dramáticas c sentidas. 

O pintor americano Ridgway-Kniglit 
expõe um Crrpusculo ile cerdo, com duas 
liguras no primeira plano, as liguras fa- 
miliares] dos seus quadros, graciosas e 
tinas, um idyllio riistieo, respirando a 
poesia da hora, n’unm paizagem elieia 



O Salão dos Campos Elíseos (continuação) 





758 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Armo XX Til 



Rio de Janeiro — Sexta-foira 5 do l^evomfro ca 1897 



MI BE NOTICIAS 


TT. 63 


isac' 


riSiUlNTO iüIA-NTXDO 
TTPOCIUPHU 

RUA SETK DK SETEMBRO 10 



Guilherme Moniz Barreto. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XXIII, n. 63, p. 1, 5 

fev. 1897. 7 


7 O presente estudo de Moniz Barreto consta do levantamento de Borges (1998). No en- 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


759 



tanto, como há presença de material visual inédito, torna-se válida sua inclusão no presente 
anexo. Ainda mais em se tratando de desenho feito por “Belmiro” [de Almeida], pintor estu- 
dado e apreciado por Domício em ensaio reproduzido mais abaixo. 






FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


GUILHERME BHOHIZ E3AF8REY© o 

' 0 
<« No dia 29 do dezembro morreu n’um Velho como no Novo mundo cllo sc afns- ver as linhas mercenárias de noticias para •». 

ar|o (1 „ pospilal em Parte o oscripior lava da disciplina philosopliiea «pio ensina um jornal tuslava-llic uma tal fadiga que d 

1 noilugucz (iullhcnno Monlz Barreto, que a oliedeeor ao irremissível sem proleslo In- aos dias de correspondência seguiam-se r 

nasceu em Roa ha 33 anuos e que, lendo ulil, a não exhalar p-ua nem odio, fazendo duas ou Ires uolles torturadas pela In- á 

uina exlraordinaria cullura Inlellectual e reclamações cm nome de direitos sem sen- somnla. » 

‘ um lalenlodo primeira ordem, não chegou cção. Não lho era possível emprcliender o livro 11 

• a produzir ohra que o collocasse no logar Mas nVssas ocasiões fallava o porlu- ou ohra de íolego, que requermuilo mais u 

- i uuc l.-Uimam-nle podia aspirar cnlre os guez humilhado e cheio de rancor contra a | on go o aturado esforço. 

. som conloni|ioraiu-os. • ilomlnadon do mundo, fallava o pomo c jj 0 »lx DaçMo sc cxlonuou na pr-pu- , 

!*sla simples uola de chrohbla por secei o fraco que sentiu mais agudamente o ração .wt«d r.eai exercer a funccüo social 

I breve nfio deixará de sor txada para ospinlio da Insolem ia dos ricos, (|UO curliu ,]„ crilico. A penurin, o orgulho,' a solidão , 

■ ou, - 1.1 cm cada existência humana procura om lougos anuos do trabalho vllmcnlc aliccliva uão podiam senão lavor, -ecr a , 

, sua acllvWado individual o do cada pago odesprezo potas paivnes conscnali- uevrose ,|iio so apoderou ,io seu inlscrav"! 

! 1C IÍ, idade indaga os resultados. O ira- vas o baixas do eapilalisla ignaro. Tra- organismo o o desequilibrou. A molcslla ° 

‘ Uieiiso o longo eslorçu empregado por laudo do oulros assumptos, cllc readquiria aguda que o inalou precipllou apenas o 

Sloniz llanvio na sua preparação para a a serenidade qaasl Jovial do Ireqilenlador desíecho dc uma agonia que ia ser lameli- ' 

-, profissão lideraria deixou-o evbauslo das Leis. Em cerlas discussões a sua voz |osa. 

II quando rte -oii ú liora da acção ollicaz vibrara, segura c conlcnlc, com o ardor Um Iraço dolorom da sua morle i que ‘ 

r ' , ra | lra dc quem aflinua liellas cousas. Ura eolão cllc sc lenira seniido morrer c que visse 1 

Os reiullados dc uma lelividade iinica o que ,-ra Miz, liumildemcnle feliz, por com os sem olhos pcnelraulcs e escru- 

- .-vclusivainetile appllcada 4 s Wlrus lotam mlir-se obseuramcnle invadido pelo In- Indoros nus olhos dos amigos a desospe- J 

0 proiiorcionalmeule diminutos. Como oliva llu.vo do Vovlio. rança do salval-o. Já a pom as horas da 

^ i| iro Ucivou artigos sollos, embora si- Eoi ccrtamculn nura íiiomeulo dVsses morte, depois de um discurso lcnlo e 

1 -niilealivoi do seu alio valor, c como arle que cllc concebeu a Cari» ,i el-rei de pausado, entrecortado pela losse, sobre a 

âiiida III nus-versos avulsos, Iragmenlos l’orl»j«l rnbrca lilmiria dopais, e oeseiu grandeza da llussia e a polilica do üalha- 

o de poemas, eslioços admiráveis de livros remediut. Essa brochura de Irlnla e lanlas rina li, o piiilosopho moriiiundo (alloll-mc 

e , 1U0 ]., .| 20 ,’ a uillguem mais escreverá. paginas lica sendo n obra de Mouiz üar- nos perigos de uma iironcliiie capillar para 
i, n | S | 0 o que lonia inconsolável o rclo, lircvc e iuieiisa. li' o pamplilclo na um organismo onlruquecido como o seu. 
luto das letlras porluguezas pela perda que SU a i.irma mais nobre, ardenle e Iniagi- nc oulros des|ieiliu-se mesmo, screna- 

acalia de soilrer. Os livros que Mouiz. nosa, do nina eloquência violeula c quasi inonle, gravomcalc, como um liomein que 

s iiarn-lo quiz. iaz.er ucnhmn outro poderá iuiimaliva, rei, assada de civismo, elevada sabe morrer 

0 I-, alisar. Si-rlam obras ca|iilacs, necessa- por vezes ao grilo do vldeiUe llluminado. Enlre os seus papeis eneoniráraos, ra- 

C r i; ls manib-slação da sua individualidade, E' peça ocadamlra o lica como documenta biscada a lapis, uma Oraria para ajudar a 

I, r lu - 1(J irabalbos resultando da exploração de uma alma porllguoza locada pelo es- l,tm morrer, que diz: 

■ iiiereaulil de um eseripior produclivo. pcctaculo ida i decadenem da palria. Eu nascl, o vivi, o morn. «ora- 

K como bies só elle pudera escrever. Ao lado d «se os .eus outra «criptar Najl „„ u ^ 

0 No Brasil dous gomos |»oolÍcos lambem desmerecem. Arligos dc critica ou com- „ crcpusculo e a no a e ap-i* a aurora. 

>• nssiin fotlirani ao seu destino: RaslroAlves mcnlarios dc aclos iieüHros, um estudo 

.• Itaul Ponipoia. Mas numa Icrraonde as mais cxlcnso sobre Oliveira Mm Hns ' a , ’! 1 ^ u s ^ ino,n ’ j 1 a dii • 

i ii.iiu iu.ii| . , , , . , t,*u« hjz a Morto o a \ it t o dcti-nic a v iLi 

a nplitínês tnhrllccluacs são naturalmcnlc sua «hra, versos lyrieos avulsos ou per- ^ tjrou-nTa depois— Abençoada ' 

" dislrahidns da vida especulativa para a loiiconlcs à collccçào das Odes tbenou 

0 esnedalisaeão dos ollioios ou para a arle podem dar uma Idéa da inleitsidada da sua •' , anlos astros do céo, vós conhocois 

Moiiiica, os dous podas brasileiros vida cerebral mas não rcalisain nenhum queixei de cousa alguma, 

puderam mais farilmenle deslacar-se dos dos seus grandes projectos de obra crilica ‘ q ' ‘ L IUI u 0 ,u,u ’ Vo< ü s3bt ‘ is - 

- jjpjjj C011 iciiipor;meos o, ainda qw itroni- e de invenção. Nos ullimos Ires nnnos.cm Mosmo na dõr, que é cousa íusuppoiiaxcl, 1 

Ic 0 i, ra i|uc deixaram uvulla e brilha j que monos produziu, o seu espirito se aí- N;, ° blaspbcmel: 6 madre Natureza, 

11 oiilre a escassa u descorada producção j lirmou ineslre, dotuinaudo os assumptos x ' n, P ro aJo, ' c ‘ ,eu bra '.'° inoxoravel. 

0 cornmle. ; C0IU uma graudo largueza dc linhas, em <’-otn entranhado amor o revoroncia 

). q eseripior norlttgtiez lu.dou com obsla- j que os pormenores episodlcos c dacumcn- l^rvom o; caminhos que tu tra-.as : 
canos que lhe d-morarain a carreira c que, ! Ialivos eulravam, em perspediva cxacla, Vai c,,wo do humildade o paeioncia... 

0 talvez, o impediram do complelal-a. l’or- j maravilhosameiili'. 

r. | ugal não é. cotão o Brasil, uma lerra de K* preciso lol-o ouvido de improviso, no j.y possivclquo enlre as cogila.-ões anpus- 

vida lacil, ondo o applauso é i»romplo o a j abandono de uma conversa inliina, uo seu liosns dos seus derradeiro* momentos essa 

>r auspiciosa celebridade v. m cedo para os • quartinho do liairro I.aliiio ou das I.nran- resignação c humildade viessem minorar- 

f* ! lellrados. Mouiz Barreio leve de ganhar a . jeiras, diante do mar na Copacabana ou ||, c a infinita aUlicção. Mas para os ami- 

ta vida •• de se impor ao apreço da gente j uj meio da multidão parteieiise, desenvol- „ os i n0O nsulaveis a sua memória andará 
profissional das Miras, que (oi desde o ver, com a clareza r a precisão de quem ,,‘uipre associada á idea de um grande 
1° principio c continuou depois a ser quasi exime um estudo maduramente pensado, dusaslro, a perda de um immenso calk-dal 
iã cxclusivsnicalc o seu publico. liliaç.Vs histéricas e criticas de aconteci- de saber c de nobres aspirações, como o 

te Mão publico esse, que discute os mere- mentòs de aclualidado que a leitura dc nauirngio lamentável de uma expedição 
0 rimentos, que applaudc com reslricções >• um lelcgratnma de jorual ou umn rc- ,. m que $o houvessem embarcado a moci- 
nttttea se embriaga do onllmsiasmo.puiiliro ferencia incidenlo provocava no seu cc- dade e a esperança, 
n". •‘xperlente que, sgm desdçnt, descrido rebro sempre acordado (•. alerb. Por vozes, pariz, 5 do janeiro dc ls97. 

"• estorço alheio na empreza em qtteo seu foi desaUenlo do assumpto menos interi s- Dosnoooi rim 

vão e em falso. Diante Jd esses desallenlos santo, acompanhei-lhe a formação dos jte- 
u e sem syinpalltia è preciso que o eseripior riodos, redondos e leehndos, lecidos d 11 “ ** 

a- lonha muita tó em >i mesmo, tnuila per- phrnso de andamento vario, vilhmados Ouvimos que o Lloyd Brasileiro não 
s - soMliilsíc |ora não ilvsiiiiiiiiav. «rlisUcanifulo v láo barmoniosamente quv, Jg 1 ^ f 

sa Moaiz Barreto tinha a conliança em si. co,nu nos l»ons versos, não sc cifontra- ;ls j orías h-deraes. À|ienas será rcc>‘!iida a’ 
or a aulo-consideraçâo, que, primeiro compa- riam do promplo nem lora* io dillereule importância das despezas da viagem. 

raliva, sc trnnsíormara thialmenle em or- do phrases nem synonymta substitutiva vende-os o tiuimarães 

?! gulho. X própria escolha da protissão de para o seu rocahulario proprio e justo. JUCODOS ' nd os o huimarae». 

' critico foi caraclerisltca da consciência do Unia noite, subindo o boulevard Saint ücr- o Sr. ministro da industria lerá hoje 
*eu valor. No crilico um arlisla collatiora maiu, elle discorria sobro a infltieucia imjiorianle eotif-ren 'ia com o Sr. vice- 

i» .•mu um saiiiu Vnlcs d' 1 começar a julgar exercida pela InfanUiria hespanhola sobro presidente da Republica, na qual >. hv. 
te. eomumsamu.zvnit.au lumuoi apí. i , cotniimara a solução de vario* assumpios 

o- a obra vária dos pensadores e pastores de a polltira europãa no, séculos \\ 1 e Mil. urfe .,. n | os j a sUa t:nb:illio.-a pasta. 

do 1H)V0S nos seus resultados dellnitlvos, o l^ra um capitulo de historia militar tão 

■J* homem de letlras tem do gastar longo* cleganteinenlo rontigido quo não pude dei- Quereis 200 contos í Visitai a casa Gui- 

n- ! nnnos a aprender o como e o.porquedas xar de lastimar quo só os meus ouvidos mar;K ’- ‘wsario AJ. 

• :I - ••ousas humanas na historia e na pliilo- pudessem gozal-o e que não fosse rc- Fnir - os pass-s gratuitos quo (oram 
sonhia duzido o oxripta. sujiprimidos pela diredoria da estrada de 

£ Mouiz n .m lo empresou a stn proJÍ- «ooU B«rrel« l,-z um g.-.lo vogo com n ^ yjiTÜ? !!!. "Jr^nrSS 5 lia 

}•*• naeão etu di-Minvolver •■ guarneceras bi- desdeni, e como «'he-,-a;--mos :;o eáes ( ii-, ( J i eiuihliilidade.iia seerelaiiada indiis- 
Idiotherasdi» seu cT -liro I'. nos últimos d'Orsay ooSctia cm cle ia rumorejasse d» li ia e do da illui nitiaçáo p ublica. 

•ta anuos Ja -uz curta vblaa sua coim-rsiição ' aM *> |wob- ,1a fio-ror- - (|( ,, . toBonriu szliaJ- .- - -,. 

de era amais aprazivdmcnte instrurtiva : dia, di>ii.tlilii->e n , dl.ir do> giati-1 > rios r s j,,.; i, nt-- mt rino da eni- r- 

■•oiieejtuosa. Iirilhantc e vária, tinha a hblorlcos e do seu |»apel na vija humana marta tu.hlar da l.apa no Paraua. 

?- allracção profunda ilos iicnsamcntos gra- c ni lormaçSo Jas nações. I vvi „o nlK1 j 0 naTTTrêh-.-r lulcri 11 :.i, i • 


Ouvimos que o Lloyd Brasileiro não 


Quereis 200 contus Visilai a casa Uui- 
marãc.i. ilosario :u. 

Fulr os passas graluilos quo íoram 
sujiprimidos p. la diredoria da edrnda de 
ferro Leulral liguratn os dos mi nibrosda 


:ão vi > . o encanto da fôrma honesta o cor- Pouco tempo depois live a > \plie.i;.' • 
am i-.-z-ta e o prestigio da sinceridade na ex- 1 d‘e>se seu appar*. ui • il sonido d- es iever. 

jwmsão das suas paixões Intellecluaes. I Fallando de um liomem - m Ldi iilu, ma> 
,j tl I:it ll-rlual quasi ■xdudv.tmenle foi o e\Pid|onlo operário jontali t.i. tpie vivia 


Foi nomeado pira evr.vr luierintim •; ’ 


Guilherme Moniz Barreto (detalhe) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


761 


PUVIS DE CHAVANNES 


A justiça egualitaria, niveladora dos merecimentos aos ravorcs 
da cega o caprichosa Fortuna, nfto se applica aos artistas 
de gcnio. A gloria nio é paga do esforço e sim do resultado. 
Para o revelador da força suberba da forma, vis sufierbn forma, 
}»ra o descobridor das terras novas do sonho, dia significa appro- 
vaçáo, applauso, nada mais. Só os exaltados pela sorte, os premiados 
na loteria do succcsso se deixam illudir c edificam sobre a areia 
movediça, que é a admiraçAo precaria dos contemporâneos. O fim 
d'csscs é fazer obra que 
agrade e lhes traga louvor 
e proveito. É a modéstia 
dos objectivos proximos e 
acccssiveis. Os outros, os 
grandes, sâo mais ambicio- 
sos, embora nâo seja o or- 
gulho o que os anima, 
escravos que sâo do Ideal, 
creador da bclleza. Para o 
que elles pretendem rea- 
lizar nAo basta muitas ve- 
zes uma vida inteira de 
trabalho. Que importa? 

Morrem contentes, se na 
sua obra fica a indicação 
segura do pensamento dc 
poesia que quizeram expri- 
mir com simplicidade c 
sinceridade. 

Picrrc Puvis de Cha- 
vanncs.que acaba de mor- 
rer cheio dc annos c de 
gloria, foi um dos maiores 
pintores que tem existido. 

O apreço dos contempo- 
râneos lhe veio lentamcnte 
e a custo, c, ainda mesmo 
deante das suas obras ca- 
pitães e definitivas, ilftO foi 
unanime. Mais seguia será 
a estima da posteridade. 

Nascido em Lyon em 
Dezembro de iSíqe tendo 
feito cm Pariz os estudos 
universitários correntes, a 
sua vocaçáo artistica se de- 
cidiu durante as viagens que fez ã Italia, dos vinte aos vinte c 
quatro annos. O pac era engenheiro em chçfe de minas e rico : 
Picrrc Puvis poude frequentar successivaméntc os ateliers de 
Henry Scheffer, de Delacroix e de Couture. Em nenhum d'clles se 
demorou tempo bastante para adquirir as qualidades e os defeitos 
das escolas d'arte. Nâo poude adquirir nesse tempo a habilidade 
da mâo, a practica do officio, o saber dc cór, que mata em tantos 
aprendizes a individualidade do futuro artista. E o desenho 
que aprendeu, e a sua traducçAo dos movimentos, das formas e 
das córes foi adquirida penosamente, pacientemente, fóra das for- 
mulas de escola, das altitudes classicas dos modelos profissio- 
nacs, da uniformidade convencional, que mata a invenção. Du- 
rante dez annos, dc 1849 a 1859, mandou ao Salon quadros que 
eram invariavelmente recusados, e dizia elle que com justiça. N.lo 
eram quadros de cavalietc c ainda nAo eram télas de decoração 
mural cnsis pinturas em que o artista se ensaiava, trabalhava para 
si, para o futuro. Tinha adquirido por si mesmo os elementos do 


officio ; nílo sabia ainda a que os havia dc applicar. Um dia empre- 
hendou a dccoraçilo dc uma cavl dc campo do irmJo. nos arredores 
dc Lyon, c dc um dos paincis compostos sobre o therna repisado 
das EstafOtt fc 1. uma Volta da caça, que foi recebido 110 Salon c se 
acha hoje no museu dc Marselha. Foi isso cm 1859; 0 pintor tinha 
quarenta c cinto annos quando, segundo a sua expressão de con- 
tentamento, começou a sentir em torno de si « agiu para nadar ». 
Tendências espirituaes, modo de vir individual c raro, technica 
ao mesmo tempo restricta 
e alta na sua singeleza, 
independência de vida e 
capacidade de trabalho o 
designavam para a pin- 
tura monumental. Mas os 
pintores pittorescos absor- 
viam n’e$se tempo a at- 
tençAo dos dispensadores 
de encomniendas : Baii- 
dry, Chasscriau, Chena- 
vard, Elie Dclaunay occu- 
pavam Pariz. A iniciativa 
da municipalidade de 
Amicns veio em auxilio de 
Puvis dc Chavannes no 
momento preciso em que 
este carecia de trabalho. 
Em 1861 deu elle Bell um 
e Concórdia para a museu 
da Picardia. 

Dizem que até entào a 
inspiração, a imitaçio de 
um artista genial - em- 
quanto nio vem a segu- 
rança que dá a indepen- 
dência, o artista trabalha 
sob a guia do mestre que 
lhe é attim — a influencia 
de Poussin prejudicara os 
trabalhosdo pintorde 
Santa Genovcva. Poussin 
pintou quadros decorati- 
vos, mas que se bastavam 
a si mesmos ; frio decorou 
monumentos. Acompa- 
nhandoccgamenteaesthe- 
tica do grande mestre francez, Puvis de Chavannes estreitava a 
sua composição dentro dos limites do quadro, uâo podia attingir 
a essa arte dos agrupamentos e equilíbrio das massas cm que 
mais tarde ninguém o egualou. Mas assim que viu as suas télas 
collocadas, na severa moldura de pedra, sob a luz prestigiosa que 
nenhum atelier pôde dar, o artista percebeu que, vindo completar 
a architcctura, a pintura tem de se accommodar ás suas linhas, de 
atenuar o brilho das suas còres até se harmonisar com a pedra 
pardacenta e fria, com a claridade reduzida, com a penumbra cm 
que se embebem os reflexos. Dahi a imposibilidade para o pintor 
decorador de dar por meio d 'cl la uma exacta representação da vida 
real. 

N;lo quer isto dizer que a composição decorativa seja forçosa- 
mente symbolica. Sem os attributos clássicos das allcgorias antigas, 
sem as complicadas e obscuras intenções da pintura liucraria dos 
nossos tempos, Puvis dc Chavannes conseguiu fazer nas suas obras 
a traducçAo clara das ideas que lhe inspiravam as scenas ou espe- 



PUVIS DE CHAVANNES 

(Remito feito pelo rr.es ruo Artista)* 


Puvis de Chavannes. Revista Moderna, Paris, ano II, n. 25, p. 5-6, nov. 1898. 




762 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


6 


REVISTA MODERNA. 


ctaculos da vida. Elle costumava dizer que « a todas as ideas claras 
corresponde um pensamento plástico que as traduz ». As suas ideas 
claras eram <>s pensamento» de belleza elevados e serenos, que 
requerem uma grande simplicidade de representação. Isso o levou 
a reduzir o desenho e a côr até á pura indicação do movimento, A 
silueta do gesto, dentro da cinza luminosa, da claridade elysiaca dos 
sonhos. Simplificar a visão das cousas, para a tornar mais solemne 
e impressionante pela pureza da contemplação, foi o principio da 
sua esthctica. Os seusdetractorcs disseram que isso era desculpa de 
nílo saber desenho nem colorido. Mas uma exposição de estudos 
para differentes grandes quadros mostrou, ha alguns annos, no 
palado do Campo de Marte, que o mestre Puvis desenhava a 
academia como qualquer prémio dc Roma. 

O que os prémios de Roma geralmentc não sabem como elle 
é a arte da composição ; o que nenhum ainda dera antes d'elle foi 
essa harmonia encantadora das figuras com as paizagens, concor- 
rendo para um efleito de conjuncto, que os detalhes pittorescos de 
representação não vém amesquinhar. Postas nos seus logares, as 
pinturas de Puvis de Chavannes produzem a impressão mais pres- 
tigiosa que pôde dar a obra de um pintor decorador. Sem furar as 
par tdes, como os quadros pittorescos de grande relevo c realidade 
physica que lhes ficam ao pé, as soenas da vida de Santa Genovcva 
no Pantheon attrahem irresistivelmente os olhares. O espirito sc 
prende iqueltas figuras de humanidade humilde, simples notações 
de sentimentos, de movimentos d’alma, e vive com ellas na 
atmosphera em que o artista ascollocou e que passa a ser a da nossa 
contemplação. Sem preoccupações de mystieismo, nem de doutrina 
esthetica fóra do campo da sua actividade. a elevação da obra dc 
Puvis de Chavannes resulta da sua sinceridade. Frescura perenne 
de sentimento, graça ingénua da expressão limitada nos effeitos , 
grandeza dos scenarios em que os personagens vivem desafogada- 
mente da vida das sombras felizes, equilíbrio, harmonia dos grupos 
e das massas e adaptação do desenho e do colorido ás linhas dc 
architectura cao ambiente em que tem de ser vistas as suas pintu- 
ras são as qualidades principaesdo mestre que a arte franceza acaba 
de perder, c que, depois dc enriquecer os museus de província 
com os seus painéis, rcalisou na decoração da Sorbonne c do Hòtcl 
dc Villc dc Pariz e da Bibliothcca dc Boston o seu sonho de 
artista creador e poeta. 

Ni colas Poussin dizia que inventar n’uma arte era descobrir 
harmonias que lhe são próprias. Puvis de Chavannes foi um 
grande inventor. Por lhe ter vindo tarde, já na velhice, o pré- 
mio do seu longo esforço, não foi elle menos feliz. A sua for- 
tuna inveiavcl e rara foi ter emprehendido uma grande obra c 



realisal-a e morrer sobre ella, sem ter conhecido as misérias do 
declinio, nem a saciedade da gloria, nem os tormentos dos reco- 
meços. Essa é a belleza da sua vida de cultor da Belleza. 

Domicio da Gama. 



O Bosque Sagrado. 

Pairwl decorando o grande amphiiealro da Sorlwme, 


Puvis de Chavannes (continuação) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


763 



0 DUQUE DE CAXIAS 



L uiz Alves de Lima e Silva, Duque ilc Caxias, Senador do 
Irnpcrioc Marechal do Exercito Brazilciro, nasceu a 25 de 
Agosto de 1803 na Estreita (Estado do Rio de Janeiro), c 
fallcccu a 7 de Maio de 1880 em Santa Monica, no mesmo Estado. 

Pertencia a uma illustre família militar, abundante cm gene- 
raes. Seu pac, que era 
o general Francisco 
de 1 .ima e Silva, BarAo 
da Barra Grande, e 
filho de general, com* 
mandava cm 1824 as 
tropas que tomaram a 
cidade do Recife e des- 
truiram a Confedera- 
ção do Equador ; de- 
pois da abdicação dc 
Pedro I foi, desde 1831 
a 1835, um dos Re- 
gentes do Império; 
durante oito annos 
teve assento no Sena- 
do ao mesmo tempo 
que o filho, facto que 
nunca mais se re- 
petiu. Um irmílo dc 
Caxias, o coronel José 
Joaquim de Lima e 
Silva, Conde de To- 
cantins, servio nas 
campanhas da lnde- 
jK-ndcncia e de Mon- 
tevideo, c teve parte 
brilhante c decisiva 
na batalha de Santa 
Luzia em 1842. Dos 
seus tios : o general 
José Joaquim de Lima 
e Silva, Visconde de 
Magé, durante a guer- 
ra da Independência 
commandou o exer- 
cito brazilciro que 
sitiou a cidade da Ba- 
hia, até que a 2 de 
Julho de 1823 poude 
fazer a sua entrada 
nessa cidade; o ge- 
neral Manoel da Fon- 
seca Lima e Silva, BarAo dc Suruhy, foi commandante do celebre 
Batalhão do Imperador nas linhas dc Montevideo ; c 0 general Luiz 
Manoel dc Lima e Silva se distinguiu nas campanhas do Rio 
Grande do Sul desde 1826 até 1845. 

Em todas as campanhas do Império apparccem com brilho e 
pagam o seu tributo dc sangue os Lima c Silva. Ainda na guerra 
do Paraguay dois officiacs desse nome foram mortos cm combate : 
o tenente Carlos Miguel de Lima e Silva no combate da Confluên- 


cia, a t6 de Abril de 1866, e o tenente-coronel Francisco de Lima 
e Silva, commandante do *>• de infantaria, na batalha dc Avahy, 4 
1 J dc Dezembro dc 1868. 

E, como te fosse preciso ajuntar ao lustre dessa casa histórica, 
o casamento do avo de Caxias com uma Fonseca Costa associou 

aos Lima e Silva a no 
bre e antiga familia 
fluminense donde sa- 
hiu o Marechal Mar- 
quez da Gavca c o 
Marechal Joio de 
Souza da Fonseca 
Costa. Visconde da 
Penha, que foi chefe 
do estado-maior de 
Caxias durante a 
guerra do Paraguay. 

Bem nascido c ro- 
deado, o que devia ser 
o unico Duque brazi- 
leiro ainda aproveitou 
os privilégios que por 
esse nascimento lhe 
conferia a monarchia 
absoluta. Assentaram- 
lhe praça de cadete no 
I o de infantaria de 
linha, regimento do 
avó, aos cinco annos 
de edade e o Príncipe 
Regente concedeu que 
se lhe contasse anti- 
guidade desde aqucltc 
dia, 22 de Novembro 
dc 180S. Acompanhan- 
do-o a mesma graça, 
dez annos depois era 
alferes. 

Da Real Acade- 
mia Militar sahiu 
com o posto de te- 
nente para ir servir 
como ajudante no Ba- 
talhAo do Imperador, 
distinguindo-se por 
actos dc bravura na 
campanha da Inde- 
pendência na Bahia, 
contra as tropas do general Madeira, em 1823. Deli voltou capi- 
no. condecorado com a ordem do Cruzeiro, rccentcmcnte crcada 
c indicado para a medalha commemorativa d'cssa guerra. 

Na campanha da Cisplatina.de 1825 a 1828, ganhou, em Mon- 
tevideo, por brilhantes e audazes sortidas, o posto de major e a 
commcuda da ordem dc S. Bento de Aviz que o Rei dc Portugal 
concedera ao seu avó por tres vidas. Ojovcn major mostrou, pela 
sua bravura c intclligencia. que merecia a cruz de honra que lhe 

*4 


O MARECHAL DUQUE DE CAXIAS 

Segundo um retrato a oleo executado em l$6:, quando o euiio Marqucz de Caxias en pela segunda 
vez Presidente do Conselho d< Ministros e Ministro dx Guerra . 


O Duque de Caxias. Revista moderna, Paris, ano III, n. 27, p. 101-107, jan. 1899. 




764 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


io2 REVISTA 

ia caber por herança, c. premiando o soldado da Independência, 
o Imperador do Hray.il pagou antes do vencimento a divida do Rei 
de Portugal, 

De volta ao Rio de Janeiro, em 1829, deram-lhe a commcnda 
da Rosa c o segundo cominando do Batalhão do Imperador. Alii 
0 colheu em 1831 a revolução de 7 de Abril. Caxias esteve ate o 
último momento 
ao lado do Impe- 
rador ,e oficreceo-se 
até para acompa- 
nhai -o ao interior 
onde deveria ser 
organizada a resis- 
tência. Foi preciso 
ordem expressa de 
D. Pedro I a Caxias 
e aos officiacs que 
o rodeavam de que 
se fossem reunir ao 
povo c aos compa- 
nheiros revoltados, 
para que 0 7 de 
Abril não fosse uma 
revolução talvez 
afogada cm san- 
gue, como as anteriores. Entretanto, na embriaguez da revolução 
triumphante, alastrou-se a indisciplina pelo exemplo dos chefes 
através das tropas de guarnição na capital, e a população pacifica 
correu o risco da desordem c do saque. Acudiu então o civismo 
d’aquelíes que tinham a responsabilidade da ordem publica e os 
officiacs da guarnição se reuniram em batalhão patriótico para po- 
liciarem a parte commcrctal da cidade, principalmentc ameaçada 
pela rapina dos desordeiros e da soldadesca insubordinada. 

O batalhão de officiaes cm numero de quatrocentos, entre os 
quacs se contavam coronéis e brigadeiros, passou a fazer o serviço 
deguarniçâo, patrulhandoas ruas, reprimindo desordens, ajudando 
o Governo a dissolver os corpos indisciplinados. 0 major Luiz 
Alves de Lima c Silva foi escolhido por seus camaradas para 


MODERNA. 

uma defesa contra oi excessos d.i força militar. Foi bem posta no 
filho do Regente Lima c Silva a confiança do Governo. A' testa 
d'cMe corpo dissipou o joven commandantc os receios que ainda 
existiam sobre as alterações da ordem publica c abafou duas sedi- 
ções militares. No Campo da Acclaiuação, a 3 de Abril de 1832, 
debandou os revoltosos, tomando-lhes uma peça de artilharia, e 

cm Mataporcos, a 
17 do mesmo mez, 
aprisionou a maior 
parte dos insurgi- 
dos c se apoderou 
de duas peças que 
ainda tinham. 

Foi por esse 
tempo (6 de Janeiro 
de 1833) o casa- 
mento do defensor 
da legalidade com 
D. Anna Luiíta 
Carneiro Vianna, 
filhado conselheiro 
Paulo Fernandes 
Vianna, Conde de 
S. Simao, inten- 
dente de policia no 
tempo de D. João VI. De todos os bens gozados na sua longa c 
gloriosa existência foi esse o que lhe encheu o coração, que lhe com- 
pletou a felicidade, se a não formou de todo. Faz (Písío fé um tre- 
cho de carta do já velho Duque de Caxias annunciando a um 
amigo a morte da mulher : * Perdi o maior bem que n’este 
mundo gozava, a minha virtuosa companheira de quarenta c um 
aunos, no dia 23 de Março de 1S74 *. 

Em 1837 o tenente-coronel Lima c Si Iva acompanhou o Ministro 
da Guerra Sebastião do Rego Barros ao Rio Grande do Sul, onde a 
guerra civil augmentara de gravidade com a defecção do comman* 
dante das armas Bento Manoel. Mas como se prolongasse com desi- 
guaes successo» essa ingrata luta contra irmãos c fossem recla- 
mados com mais urgência os seus serviços no Norte, onde reben- 



Mednlhn cle*Ui»iuln n commomorar n Innugurnçuo da Estalu.i do Duque de Caxlnt. 
Trabalho de Girardet, Proíettor de granira de medalha* im EteoU de Ikllai An« do Rio de Janeiro. 
K xrov.VO ccM«r runulor fieieiar IVxiia T»xt 



Um doa bnixo* rolovos de R. Bornardolll no pedeat.il da EetaUia do Duque de Caxiae. 


segundo commandante c coube-lhe em taes condições dar ordens 
a muitos officiacs mais antigos c de mais elevada patente no exer- 
cito. O Batalhão de Oíficiaes só foi dissolvido cm 1833. 

Já a elle não pertencia o major Lima c Silva, a quem fora con- 
fiada pelo ministro da justiça, Diogo Antonio Feijó, a organização 
do corpo de Munidpaes Permanentes, força policial e civil desti- 
nada a garantir a segurança individual e a prestar ao Governo 


tara no Maranhão a revolta de Raymundo Gomes, foi Lima c Silva 
promovido a coronel (2 de Dezembro de 1839) e nomeado Presi- 
dente e Commandante das armas na provinda devastada pela guerra 
civil. 

Ao militar ajuntou-se o político conciliador c prudente. O exer- 
cito do restaurador da ordem no Maranhão clamou-se Divisão 
pacificadora do Norte, o que valia um programma. Foi ardua c 


O Duque de Caxias (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


765 


REVISTA MODERNA. 


"M 



fatigante cmpreza essa de lutar com mrça* reduzidas ciivsciHitontcs 
contra um inimigo fugitivo, difficil de encontrarem massa, c refa- 
zcmlo-se em outro ponto á medida que era batido. For falta de 
pagamento do soldo, sublevou-se cm Junho a guarniçAo de I tapi- 
curu-mirim, desarmando e prendendo os soldados aos officiaes, que 
todavia sc evadiram. I*oi preciso reprimir severameute o motim, 
com prejuízo do prestigio soba* <* rebeldes atrevidos. Os tiroteios 
eram quasi diários, as acções decisivas mais raras. Itapicurú, Fas- 
tos Bons, Mirítiba, Brejo. Ribeira, MaUo Grande, $Ao os nomes 
prindpacs que se poderiam gravar no escudo especial da cam- 
panha pacificadora do Maranhão. O administrador esteve A altura 
do commandantc das 
armas. Obras publicas, 
viação, agricultura, 
culto, levantamento 
de plantas, «ria da 
Frovincia, organiza- 
do do correio e da 
policia, nada escapou 
A attcnçAo do coronel - 
presidente. As pro- 
messas de amnistia e 
palavras de paz res- 
ponderam os rebeldes 
depondo as armas cm 
mas». E quando, de 
volta ao Rio dc Janei- 
ro, onde o nomearam 
brigadeiro e comman- 
dante das armas. lhe 
offereccram cm 1*41 
um baronato, clle 
escolheu Caxias para 
o seu titulo. Caxias 
symbolizava para elle 
arcvoluçAosubjugada, 
pelas armas primeiro, 
pela persuasio final- 
mente, que alli sc ba- 
tnlhara renhidamente 
e alli sc aceitara a ren- 
diçAo dc rebeldes em 
massa. Magalhães, de- 
pois Visconte de Ara- 
guaya, seu secretario 
na presidência do Ma- 
ranhAo, escreveu a his- 
toria d ‘essa campanha. 

Continuava a agitação revolucionaria nas provindas. A dccla- 
raçAo da maioridade dc D. Pedro II nio bastou para acalmal-a. 
Chegou a vez de S. Paulo revoltar-se. Rebentou a insurreição em 
Sorocaba. O Marquez dc Montc-Alegre, Presidente da Frovincia, 
nAo tinha forças para lhe oppór ; corria antes 0 risco dc ser deposto 
e aprisionado. Ao pacificador do MaranhAo confiou, poi*, o 
Governo a missAo de ir restabelecer a ordem n'aquella parte do 
Império, c, com a iiomcaçAo de vice-presidente c o cominando 
das armas, entregou-lhe quatrocentos homens, recrutas pela 
maior parte. 

Autonio Carlos zombou desse mesquinho exercito, destinado a 
« combater homens da pátria dc Amador Bueno, a subjugar Pau- 
listas. * Sob u commando do BarAo de Caxias, esses quatrocentos 
soldados novos, reforçados pelos guardas-nacionacs e volontarios 
paulistas, puderam dar conta da tarefa. A campanha rapida, com 
os dous recontros dc Pinheiros, adeante da capital, e da Venda 


(í rande,pro.\inuideI.imcira,ilesmorali>andoaiiiMi rreição ( .v> durou 

dois me/es. 

Ao mesmo tempo rebentava a revolução cm Barbaeena. A revo- 
luçAo liberal mineira, organizada e bem preparada, era mais «-ria 
que a paulista. O Governo nomeou o BarAo de Caxias, ainda em 
operações cm S. Paulo, eommandantc em chefe do exercito paçi- 
ficador dc Minas Gemes (Decreto dc 10 dc Julho de 1*421. 

Chegando ao Rio dc Janeiro a zx dc Julho, o BarAo dc Caxias 
partia dois dias depois jura Ouro- Preto, ponto objcctivo das forças 
revolucionarias, que já sc tinham ajxxlcrado dc Oucluz. Conse- 
guindo chegar á capital mineira antes dos rebeldes, deu o primeiro 

golpe na insurreição, 
que foi esmagada cm 
batalha formal nos 
campos dc Santa Lu- 
zia, a 2o de Agosto 
de 1*42. Eram dimi- 
nutas as forças de que 
dispunha Caxias, com- 
postas pela maior 
parte de guardas na- 
cionacs do Rio de Ja- 
neiro c Minas, e qua- 
tro vezes superiores 
cm numero as do 
inimigo. A taotica c 

0 valor venceram 
n'es$c jornada o nu- 
mero. Uma carga ã 
baioneta commanda- 
da pelo general cm 
chefe decidiu do suc- 
ccsso. Mais tarde em 

1 tororó, na ponte dc 
Arcole pnraguaya. <1 
sexagenário general 
liaria de lembrar-se 
da carga ã baioneta 
de Santa-Luzia. 

Vencida a insur- 
reiçAo c aprisionada s 
os seus chefes mais 
notáveis (Thcophilo 
Ottoni , I.inipo dc 
Abreu, Dias dc Car- 
valho, eonego Mari- 
nho c outros), o pri- 
meiro cuidado dc 
Caxias foi garantir-lhes a vida e impedir que a victoria legal se 
manchasse com actcs de vinganças pessoaes. Xao é preciso enca- 
recer a importância que para a uniAo política brazileira c para a 
defesa da monarchia teve a suffocaçAo da revoluçAo mineira, vindo 
logo depois da paulista. As honras de marechal de campo graduado, 
attribuidas ao commandantc em chefe das forças legae-s. 11A0 foram 
eertamente recompensa exagerada para os serviços que acabava de 
prestar o general de ;<> annos. E logo o mandaram para os campos 
dc» Sul, a cnncgrcccr ao fumo dos combates as suas divisas novas, 
a ganhar mais. bordados para as suas mangas já j>csadas dc ouro. 
mais titulos A gratidão dos seus compatriotas. Com effeito, os que 
V» viram em Caxias uma espada afortunada c toda dedicada ao 
serviço da dynastia nio consideraram de certo nem o> resultados 
da pacificação das provindas revoltadas nem <* meios de que sc 
servia o jucificador . N.is campanhas cm que tomou parte o grande 
capitão nunca vencido nAo interessam somente as victorias. mas 


A Eltntua do Duque do CnxlA» *cgundo uma photogrAphla do modelo 
om go**o no ateller do R Bornardolll. 


O Duque de Caxias (continuação) 





766 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


104 


REVISTA MODERNA. 



tambcm a maneira de vencer. O Brazil nAo c uaçAo militar; teve 
a fortuna de crescer entre vizinhas mais fracas, embora nAo pouco 
bellicosas. Mas quem sabe se a própria rcpressA» das primeiras 
guerras civis 11A0 foi para cila a educaçAo dc paz e de concordia, 
que lhe deu força e prestigio entre as irmans divididas c agitadas? 
I*. se assim foi, se o triumpho definitivo da legalidade aproveitou 
ao progresso da Patria Bmzileira, dando aos seus filhos a paz e a 
uniio ncecssarias para os trabalhos fecundos da civilisaçAo, quem 
mais do que Caxias trabalhou para a grandeza da sua uaçAo? Dis- 
scm,-òe$ intestinas elle apaziguou cont mAo firme e prudente ; ini* 
migos cxternoscllc combateu c venceu comegual fortuna 
e gloria para todos os Brazileiros congraçados. 

A campanha do Rio Grande foi a mais 
longa das anteriores commissõcs militares 
de Caxias. Tendo tomado posse do cargo 
dc Presidente e Commandantc das 
Armas a 12 de Novembro de 1842, 
só no f de Março dc 1845 poude 
considerar-se pacificada a pro- 
víncia rvbellada desde 1835. E' 
que os dissidentes tinham 
chefes dc valor, o prestigia 
de algumas victorias sobre 
as tropas do Governo, ca- 
valhada sufficiente para 
a guerra de guerrilhas, a 
que a tropa de linha 
immobilisada nas guar- 
nições 11 Ao podia arris- 
car-se. Caxias adaptou a 
sua tactica ás condições 
e$]>cciacs do terreno das 
operações c ao modo de 
combater dos inimigos : 
por movimentos simula- 
dos, por contramarchas 
rapidas, appareccndo ines- 
poradamente cm pontos 
mais fracos ou enviando con- 
tra elles os brilhantes chefes 
<la nossa eavallaria d'e$$c tempo, 

— 0 BarAo de Jacuhy, Marques 
dc Souza (Conde de Porto-Alegre). 

J0A0 Propicio Mentia Barreto, Jok 
Joaquim de Andrade Neves, — multipli- 
cando ataque de modo que a má imprcssAo 
dorevés de um dia fosse modificada pela vic- 
toria do dia seguinte, fatigando e desmorali- 
sandooinim igo su r prezo, consegu i u el lc tazer 
perder aos insurgentes a confiança amiga do 
gtiasat que vale dez òahitirios. K com qucclevado patriotismo, com 
que intelligencia do verdadeiro dever do vencedor cm guerra civil, 
proseguiu o pacificador do Maranhão, de S. Paulo c dc Minas a sua 
campanha de coociliaçAo mnisdo que de rcpressAo ! Logo ao assumir 

o commando declarara aos chefes eoíficiaes do seu exercito : « Pri- 

sioneiros, quero vcl-os; mortos, como os nAo vejo, nAo registro. * 
O efleito d esta declaração foi diminuir a mortandade inútil nas 
perseguições. Depois, já na ultima phase da guerra, a sua resposta 
ao vigário de Bagé, que lhe perguntava para que horas ordenava 
o Tc Dcum em acçAo de graças pela vieteria parti cu larmcnte san- 
guinolenta dc Porongos, merece ficar assignalada entre os discur- 
sos dos heroes de todos os tempos : « NAo conto como trophéus 
desgraças de concidadAos meus. Guerreio dissidentes, mas sinto 
as suas desditas, e choro pelas victimas como um pac por seus 


O MARECHAL DUQUE DE CAXIAS. 
Segundo um 

rotMto a oIqo íelio «m l«7« 


filhos. Vi, Reverendo, vá! e em logur de Tc Dana celebre missa 
dc defuntos, que cu, com o meu estado-maior e a tropa que na 
sua egreja couber, irei amanha» ouvir-lha, por alma dos nossos 
irinAos illiulidos que morreram cm combate. » 

Tal brandura de sentimentos revelada n 'esses e em outros actos 
de mais minuciosa generosidade, como a distribuiçAo dc soccorros 
á» famílias dos proprios dissidentes e a amnistia ofTcrecida con- 
fiadaniento aos que se rendiam, cooperou grandemente para apres- 
sar a paeifieaçAo. Imaginando qüe muitos dos insurgentes pelejas- 
sem por uma falsa noçAo do dever patriótico, appcllou para o 
mesmo sentimento fazendo dizer aos prinripaes chefes 
d’essa revoluçAo separatista : * Lembrac-vos que a 
poucos passos dc vós esti o natural inimigo 
de todos nós, o inimigo dc raça c de tra- 
diçAo. NAo pódc tardar que nos meça- 
mos com os soldados dc Rosas u de 
Oríbc ; guardemos para ciHAo nos- 
sas espadas e nosso sangue. Vede 
que esse estrangeiro exulta com 
esta triste guerra, com que 
nós mesmos nos estamos en- 
fraquecendo e destruindo. 
Abracemo-nos c unamo- 
nos, para marcharmos, 
nAo peito a peito, mas 
hombro a hombro, etn 
defesa da patria que é 
nossa tnAe comtmim. * 
A exhortaçAo patriótica 
foi ouvida por muitos, 
que logo desarmaram, e 
se repercutiu na procla- 
inaçAo de Caiuvarro em 
Ponche Verde declaran- 
do acabada a guerra, a 
28 de Fevereiro de 1845 : 
* U m jxxJer estranho amea- 
ça a integridade do Império 
c tâo estólida ousadia jamais 
deixaria dc cchoar.cm nossos 
corações brazileiros. O Rio 
Grande nAo será theatro dc suas 
iniquidades, e nós partilharemos a 
gloria de sacrificar os reseiitimentos 
crcados no furor dos partidos au bem geral 
do Brazil ». 

Sc a linguagem é emphatica, o sentimento é ge- 
neroso. Caxias nAo se enganara falando ao cora- 
çAo de Brazileiros. Por isso na guerra seguinte 
Caiuvarro e outros chefcsda revoluçAocomman- 
daram divisões c regimentos dc eavallaria da guarda nacional no 
exercito imperial em operações contra 09 tyramios do Prata. 

O titulo de Conde, a grau-cruz dc Aviz, e uma cadeira no 
Senado foram a recompensa da patria reconhecida ao restaurador da 
uniAo brazileira. Dc 1845 a 1851 fruiu elle,fórade todo cominan- 
do activo, de um repouso que bem tiniu merecido. 

Depois veio a guerra de 1851-1852 entre 0 Brazil, os governos 
. de Montevideo, Entre Rios c Corricntcs, de um lado, e 0 dictador 
de Buenos Ayrcs, Rosas, eo seu preposto uruguayo, Oribc, do outro 
lado. Caxias teve o commando dos vinte mil homens do exercito 
brazileiro, cuja intervenção, assignalada em marchas triumphaes c 
na victoria dc Monte Cascros, muito contribuiu para a quéda dos 
dois dictadores. Promovido a tenente-general c elevado ao titulo dc 
Marqucz, foi a 14 dc Junho de 1855 nomeado Ministro da Guerra 


O Duque de Caxias (continuação) 





DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


REVISTA MODERNA 


no Gabinete tio Marque/ de Paraná. Falleccudocsle estadista {3 de 
Setembro de 1 856), foi Caxias seu successor na Presidência do 
Conselho c contiiiuoft a sua politica larga e conciliadora até 4 de 
Maio de 1S57. A - de Manjo de 1861 organizou novo gabinete, que 
cahiu a 24 de Maio de 1802 dcanlc da 
liga dos liberaes com a dissidência con- 
servadora. Km 1865, acompanhou, como 
ajudante de campo, o Imperador durante 
a campanha do Rio Grande do Sul e as- 
sistiu á rendiçAo de Uruguayuna, onde 
tw Paraguayo* tinham sido obrigados a 
enccrrar-se. Algum tempo depois, o re- 
vés dos Alliados desmtc de Curupaity 
(22 de Setembrode l866)c o dcsaceordo 
dos gencracs levaram o gabinete liberal 
de Zacarias de Vasconccltos a confiar ao 
velho marechal o com mando em chefe 
dos exerci tos de terra c mar concentra- 
dos pelo Brazil na parte meridional do 
Paraguay. Chegado ao acampamento dos 
Alliados cm Novembro de 1866, primei- 
ramente a necessidade de instruir c disci- 
plinar os voluntários que se apresenta- 
vam iodos os dias c depois a epidemia do 
cholera que devastou as tropas obrigaram 
o novo genaralissimo a manter-se inacti- 
vo até Julho de 1 867. Só então poudo to- 
mar a ofiensiva, dando começo, com a 
marcha de Tuyutya Tuyu Cué, ás ope- 
rações que acabaram por isolar as linhas 
de fortificação que protegiam 0 campo entrincheirado de Humaytá. 
Abriu-se entío a série de victorias, cctrc as quacs se contam a do 
Pilar {20 de Setembro), Pare Cué (3 de Outubro), Tatayibá (21 de 
Outubro), Potrero Obclla (29 de Outubro), Tayi (2 de Novembro), 


Tuyuty (3 de Novembro de 1HÓ7). A 10 de Fevereiro de i*»>\ 
Caxias ordenava aos enoouraçados que forçassem a paragem <le 
Humaytá esc apoderava das trincheiras de Laguna Cierva. Km 2 
de Março, ficava senhor de todas as linhas exteriores de*dc Curu- 
paity e Saucc até Kspinillo e começava 
o assedio de Humaytá. Km Julho os Pa- 
^ Mjv. raguayos evacuavam esse campo entriii- 

cheirado c tentavam operar a sua reti- 
’ rada pela margem direita do Paraguay; 
porém Caxias, que tinha previsto o mo- 
— jlKf vimento. reforçou as tropas que havia 

zk > disposto nessa margem, e, ao cabo de 

de combate, <> inimigo depu- 
nha a> armas em Isla-Poy, na Ijguna 
Verá. Vencido esse obstáculo. Caxias 
• I I 1/ marchou para o Norte, apoderou-se das 

' I I li trinchcirasdoTebicuarye chegou deante 

M j.i }l jil 1 das novas linhas de defesa que Lopez 

A H I l\ construira em Pikysyry, cm posiçáo qua- 

■ÉjÜj si inexpugnável. Mandando então abrir 

5 |jjJ I ' "l)||[tm|ÍM ,to t un S° margem direita do Paraguay, 

uo Chaco, uma estrada através das ilores- 
, t jf j tas inundadas pelas aguas do rio, e to- 

[W| // mando dezoito mil homens das 


suas me- 
lhores tropas, levou-as por esse caminho 
ao Norte das posições occu padas por 
Lopez. Caballcro, o melhor dos gencracs 
paraguayos, foi incumbido de disputar 
aos Brazileiros a passagem da ponte <ic 
Itororõ. Uma batalha sangrenta feriu-se 
nesse logar no dia 6 de Dezembro. A ponte, tomada c retomada 
varias vezes, ficou finalmcntc cm poder dos Brazileiros. tendo 
Caxias de pôr-se á frente da investida final e de combater cm pessoa. 
No dia 1 1 foram completamentc destruídas cm Avahy as forças de 


Brazão do Marecti.nl Duque de Caxi.ii 


BATALHA DE AVAHY (II do Dezembro do 1868) 

l}mU* dr IVAô Aecito fu R*»U <lr 1WAU. Alte» d> Rio de lu*itu. 


O Duque de Caxias (continuação) 




768 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


106 


REVISTA MODERNA. 



Caballcro, e u<> 
du 2 1 Caxias 
atacava as altu- 
ras de Lo mas 
Valeutinas oc- 
cupadaspor Lu- 
pez. Toda a li- 
nha do Pikysy- 
ry foi tomada. 

Apczar de per- 
das enormes, 
sendo destruí- 
dos batalhões 
inteiros, Caxias 
conservou as 
posições con- 
quistadas e se 
apoderou do 
quartel-general 
inimigo no dia 
27. Lo pez, obri- 
gado a fugir, 
acompanhado 
por cincoenta 
homens apenas, 
foi refazer um 

novo exercito no interior. Caxias ainda tomou a fortaleza dc Au- 
gostura c entrou na cidade dc Assumpção, que tinha sido abando- 


nada pelos habi- 
tantes (Janeiro 
de 1 I-sta- 
vamos senhores 
de toda a parte 
Occidental do 
Paraguay, des- 
de Corrieutcs 
até Ma t to Gros- 
so, e eram tro- 
pheus das vic- 
torias de Caxias 
32b canhões e 
51 bandeiras c 
estandartes ini- 
migos. Quatro 
canhoneiras, 
um transporte 
e duas cliatas 
tinham sidodes- 
truidos n'essc 
tempo. A gran- 
de guerra esta- 
va acabada. O 
que restava a 
fazer, a 'por.se- 

guiçáo através das florestas do interior, cra tarefa sem duvida dif- 
ficil.nus que melhor cabia a um general ainda no vigor dos annos. 


Prnça do Duque do Caxlne, no Rio de Janeiro, onde deve eer erigida a Estatua equestre. 


f.vivmnrra WI — r«i*« A- O forwrcwí «I E«uUn.>aVsi.i. Ir 19 Ktrki iM (D,.,;. UI1 ,j >{. p,, tv 

TOMADA DAS TRINCHEIRAS DE LAGUNA CIERVA PELO MARECHAL CAXIAS 
(19 do Fevcroiro d© 1868 ) 

« F*.- <u um» k*muu -U ///*•"'■* ,.l.< fi.it, .1, M «»« .\l«il J. i*m. -«ubL 'im IUiAo.|.> Kío-Duik». » 



O Duque de Caxias (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


769 


REVISTA 

Tendo adoecido mirar em Auunipçlo, Coxias obteve 
liceina I«ra ir ao Rio de Janeiro e pouco depoix a sua exoneração 
docomrnandoem chefe, que passou a ser exercido pelo Conde d'Eu. 


MODERNA. 107 

A %ura do Duque do Caxias, cavalspmdo o seu cavallo de 
guerra c immobilisado pelo artista na altitude por assim dizer 
symbol ica do homem dcacçáo que foi prompto para comman- 



JOSÊ JOAQUIM DF. UMA 
1 E SILVA 
CONDE DE TOCANTINS. 

(Irmlo «k> Du(oc ,Vr Caí Lia.) 

Xitcislo r>> RL> .lc la»*. IO d 7 ,lr Oxtiixo <W t «Uxy r 
f *1 A *n*to «J* 


O GENERAL FRANCISCO DE LIMA 
E SILVA. 

um do* Regente* do lmp«rlo (1831-1839) 
íl*ar tln D»juc Ite Ca»l»«.) 

JC*kí!.s m Rm ilr Jwwirn a t Ar JitVi de 17*5. 
f » í dc DrermUn de iXjJ. 




O GENERAL JOSÊ JOAQUIM DE UMA 
E SILVA 

VISCONDE DE MAGÉ 
(Tio lio Dkjw <te C*imO 
NckúIo x f6 óe JulHa do 17*7. 

| «•> Rh> de Jintiro a jj AgiXo dc i*}j. 


Foi entáo elevado á dignidade dc Duque (unico titulo dessa cathc- 
goria conferido a uni Brazilciro) c agraciado com a gnm-cruz da 
Ordem dc Pedro I, condecoraçlo reservada aos Soberanos c que 
nenhum outro Brazilciro recebeu. Pela terceira vez exerceu os 
cargos dc Presidente do Conselho c Minis- 
l ro da Guerra, de 25 de Junho de 1875 a 6 
de Janeiro dc 1878. A enfermidade dc que 
veto a morrer obrigou-o a deixar o poder. 

O seu corpo, transportado de Santa Moni- 
ca ao Rio de Janeiro, foi levado ao cemi- 
tério por simples soldados, segundo as 
instrucções do seu testamento, em que re- 
nunciava ás honras devidas ao seu posto - 
Uma sufacripçâo popular para crigir-lhc 
uma estatua no Rio dc Janeiro produziu 
mais de duzentos contos de réis. A exccu- 
çáo do monumento, confiada a Rodolpho 
Bernardelli, alumno c hoje dircctor da Es- 
cola dc Bei las Artes, foi obra considerável e 
de cuja demora só resultou maior proveito 
para a arte nacional c para a representação 
plastica do maior vulto da historia militar 
brazileira. 

Tal é, extrahida e copiada de extensas e 
ainda assim incompletas memórias c bio- 
graphias, a resenha descorada e imperfeita 
dos factos mais relevantes que assignalam a 
longa e bem cheia vida dc um dos maiores 
gcncraes americanos. Dc uma biographia 
como esta nâo se tiram conclusões doutri- 
narias e ambiciosamente interpretai ivas: a critica desharmonisaos 
gestos dos heroes. Ouando c bem contada, a historia de uma bella 
vida vale pela sua bcllcza, para a admiraçáo dos contemporâneos, 
para 0 culto da posteridade, que nella busca um exemplo de vir- 
tudes exaltadas até ao heroísmo c o amparo moral da contemplação 
dc utna grandeza humana. 



O GENERAL JOAO DE SOUZA 
DA FONSECA COSTA, 
VISCONDE DA PENHA, 

H0J0 Marochnl «-«formiulo tio Exercito. 
(Cheíc dn HiudoMiLur de Cu.» m 


dar. prompto para servir — se alteiará entre as palmeiras dc uma 
praça publica no Rio dc Janeiro como um monumento evocativo 
de memórias gloriosas de um largo c capíivantc tracto da historia 
nacional. Guerra da Independência, guerras dc pacificação, guerras 
dc libertação c dc defesa, nenhuma guerra 
criminosa dc conquista, aquella espada afor- 
tunada pelejou pelo Throno, pela Lei c pela 
Patria, com tal succcsso que 0 sangue der- 
ramado náo chamou sangue a vingal-o e o 
Braxil vencedor náo conheceu os gritos de 
maldicçio c as recriminações amargas dos 
vencidos. Foi sorte singular a sua, que nem 
permitte a comparaçáocom outros homens 
dc espada cujo nome enche o mundo. Ape- 
nas com Wcllington, os privilégios do nas- 
cimento c a progressáo crescente c rapida, 
o prompto reconhecimento e prêmio do seu 
mérito, os favores incessantes da fortuna das 
armas, traços dc caracter pessoal c civico, a 
calma c dccisáo dos com mandos, dos conse- 
lhos, a clarividência que unida á bravura é 
0 genio militar, a lealdade e nobreza do ver- 
dadeiro soldado,a magnanimidade ou antes 
a confiança intelligente, que é 0 fundo da 
bondade, e a modéstia simples, que no ge- 
neral é o orgulho do dever cumprido, justi- 
ficariam uma tentativa de parallelo. Mas 
nem 05 elementos militares, nem o logar da 
acção, nem sobretudo o inimigo que Arthur 
Wellesley combateu admittiriam uma pro- 
longada approxiinaçáo dos dous Duques gloriosos. E assim pódc o 
Brazil orgulhar-se de possuir em Luiz Alves de Lima e Silva uma 
figura eminentemente nacional c tanto mais admiravcl quanto nâo 
desmerece por anteposiçáo a grandes homens dc outras nações. 


Janeiro de 1S99. 


Domicio da Gama. 


O Duque de Caxias (continuação) 




770 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



BELMIRO DE ALMEIDA 


N u (lia cm que iiicdivcram que o Bclmiro u.isccu no Scrru 
twlo o determinismo Ciei! dos critico» de origen» e am- 
biente» me acudiu n’un» lindo» verso» nostálgicos de 
Iaucio de Mendonça 

Coroo a Allcinanha legendária e fria 
.Minas c a terra das nwnhnns brumosas 

|wra explicar u grisalha luminosa cm que se embebem as figuras c 
o> objcclo* nus quadros ao ar livre do autor das Nuverisefa Ij n . 
cobridortx. Mas logo fui levado a considerar que dos quarenta ann<» 
do pintor bem poucos foram <» que cllc viveu «o Serro 
natal, c que antes de embrumar de azul "a sua 
visão de artista de meias tintas elle a ti 
lungamente enlutado em bitumes baços 
sarapintado de coloridos barbaros, 
tinha feito pintura forte , segundo 
tradiçAo classica. K abandonando 
a « th cor ia dos meios ». mais util 
em estudos inferiores, cheguei 
ã conclusAo deter sido o aper- 
feiçoamento do desenho o 
que levou este artista a pin- 
tar claro. 

NAo quer isto dizer que 
Rembraiidt, Ri bera, Dcla- 
croix e outros mestres do es- 
curo nAo soubessem desenho. 

Apenas o que na obra desses, 

|>or çficito da sinceridade da visão, 
era o ambiente prestigioso, en- 
volvendo figuras graves ou dra- 
máticas, pareceu aos proiessores 
ser a fórmula que se impunha, 
universal c segura, característica 
das té Ias fortes. O romantismo, 
que trouxe á arte a abolição das 
fórmulas, tiAo conseguiu supprimir 
os banhos de bit ume do * colorido 
vigoroso. * Entre as mais bellas 
obras da pintura franceza contem* 

POranea figuram télas de Ribot e 

lie Courbct, de H. Kegnault, Paul Baudry, J.-P. laurcns, Henner, 
Iiomiat, Aimc Morot. Roybvt, ile trinta outros mortos ou vivos 
1|UC pintaram carregado. K esses grandes mestres sao autoridade 
o exemplo nio só (ara os seu» discípulos como para os críticos. 
Entretanto, sem recordar a velha disputa entre o» partidários 
da Imita c o» da cór, que resurgiu mais violenta no tempo de Dcla- 
eroixe Ingres, com osseusargimientosemfavordodcscnho puro.ri- 
S oroso « bonestocontra os disfarces artificiosos da cdr.que perturba 
e engana, nlo i preciso grande força de theorias csthcticas para nos 
convencermos de que a tonalidade ciara e discreta, dominante hoje 
nas exposições de pintura, é mais favoravel aos progressos do 
desenho do que os fogos de artificio e os negrumes dramáticos dos 
quadros theatraes. Renunciando aos elementos violentos de emo- 
ção, o artista estuda a sua representação minuciosa e cuidadosa- 
mente no perfil, no agrupamento e no movimento da tomposiçAo, 
na» quantidades c valores das figuras nos seus planos, nos effeitos dc 
illumiuaçJo - mais complicado» c difficeis quando o» reflexos seeii- 


O Pintor Brasllolro 
BEI. MIRO OE ALMEIDA 


tremiam e contrariam, escapando á disciplina da*/«.vj familiar c» e 
complacente» do atelier, - na harmoniíaçAo e integração do» tons 
que o olhocscrutador e sincero diíferenciou nas dominantes. 

Ouandoc feito conscienciosameti te, esse exercido, que lera mui- 
t' 1 ' v CZCS * producçAo de obras intensas e originacs, proporciona 
ao» artistas estudiosos maior som ma dc contentamentos sob a for- 
ma de descobertas, dc variações da vislo, de contemplações imle- 
(tendentes, do que a marcha j>cla estrada batida da tradiçAo. Era, 
poi>. natural a mudança na maneira de Belmiro por íorça da >ua 
mestria no desenho, annunciada desde o» princípios da sua carreira, 
adquirida e generusaniente manifestada nos quadros que 
tem produzido nestes últimos dez annos. 

Bclmiro Barbosa de Almeida Juinor nasceu 
na cidade do Serro, província dc Minas 
Oeraes, ha perto de quarenta annos. 
Veio pequeno para o Rio de Ja- 
neiro c ahi fez os seus otudos pri* 
manos no externato do mos- 
teirodcS. Bento. Entrando para 
a Academia de Bellas-Artcs, 
completou em dons annos o 
curso de desenho, que se fazia 
em quatro, obtendo no con- 
curso do primeiro atino a 
medalha de prata c no segun 
do a grande medalha de ouro. 
Foram seu» mestres Agostinho 
da Moita, o pai/agista, o csculp- 
tor Chaves Pinheiro, Victor Mci- 
rellcs de Lima e JoAo /efirino da 
Costa. 

Em 1884 fez uma primeira via- 
gem a Pariz e por cá se demorou 
até 1885. K* natural que por esse 
tempo se dissipasse em desenhos 
leves e pinturas fáceis. Fez retra- 
tos c desenhou caricaturas em 
jornacs illustrados do Rio. Antes 
de partir pintou cm duas horas 
um tempestuoso Naufragio do 
Afonstrralt, com um mar sujo c 
revolto, de ondas altas e escumosas, ondas loucas, esverdeadas de 
espanto, sob a oppressio de um ©cu trágico, baixo, negro, carre- 
gado de temporal, c o vulto lamentoso do navio desarvorado e 
perdido tu tormenta — que era uma UlustraçAo a córes segundo a 
composiçAo clássica. porem tiniu vigor, movimento drama. Era o 
tcmjx) cm que Emílio Kouèdc pintava marinhas em seis minuto», 
sobre o palco, nas representações de caridade. Mas 0 que o amador 
fazia por exercício de velocidade e sem tcnçAo maligna o artista 
nio podia imitar sem dilinquir. Já cllc sabia desenho bastante para 
ter consciência do indiseiplinamento, da mcorrccçAo que essas 
phantasias trazem ao cstylo de um pintor. Entre os quadros hoje 
numerosos dc Bclmiro nio figuram outras télas de dous metros 
brochadas em duas horas. Ao contrario, os amadores de boa pin- 
tura se queixam da lentidão da sua producçAo, escassa pura a 
impaciência dos que tu obra excutada nâo consideram o trabalho 
de invençAo. os progressos realizados. 

E todavia .1 gente infoimada sabe que, ou seja pot gy tunas- 



Belmiro de Almeida. Revista moderna, Paris, ano III, n. 28, p. 153-156, fev. 1899. 8 


8 O presente estudo biográfico encontra-se reproduzido na tese de Borges (1998). Não 
obstante, como em seu texto encontra-se apenas uma transcrição do manuscrito presente 
na ABL, é recomendado reproduzir também o mesmo texto, conforme publicado na Revista 
moderna (acrescido de fotos, estudos e pinturas de Belmiro). 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


771 


REVISTA MODERNA. 


<54 

tica cstlielica, |K>r exercido de estudo ou por pico de amor proprio, 
»» artistas andam sempre buscando dificuldade» a vencer. K con- 
forme a elevação do ideal pessoal, essa» africas do pincel, do esco- 
pro ou do buril, essas tentativas jx>r crear o novo ou fazer o ainda 
nAo feito dAo cm resul- 
tado a obra estupenda de 
Miguel Angelo ou as ma- 
ravilhas de execuçAo gra- 
phica de Denner e dos 
mestres japonezes, com as 
gradações intermedias dos 
que Iscaram em caminho 
ou nAo visaram tio longe. 
Todas representam um 
esforço meritório, de que 
a arte aproveitou. O tem- 
po empregado em reali- 
sal-as nunca 0 perdido, se 
a tençAo 6 sincera e bem 
guiada. li tanto podia set 
tirada da historia heroica 
da arte como das campa- 
nhas pela independência 
nacional a divisa sober- 
bamente estoica de Gui- 
lherme oTaciturno : Am/ 
rícsl besoin (f espérer foiir 
entreprendre ui de reunir 
fiour persévérer . Apenas 
pôde acontecer que o ar- 
tista morra j>obrc ou dc 
jtobreza ; mas a possibili- 
dade dos accidcntes fu- 
nestos nunca deteve 
inventores nem descobri- 
dores. 

Este nAo é o caso com 
Belmiro de Almeida, que 
sc impoz á attençáo dos 
seos compatriotas c c hoje 
um nome, representa unta individualidade, com credito seguro e 
rendimento artístico cm consequência. Os que ajudaram ao seu 
desenvolvimento, rnandando-o para Roma quando, em 1887, foi 
annullado o concurso dc viagem — Rodolpho Bcrnardclli, o pro- 
motor da idea, coraçAo fraternal c generoso; Ferreira dc Araújo, 
impulsivo da bondade, um Bispo Myrtcl leigo, ganhando fortuna», 
repartindo fortunas pelos que julgava merecedores dc auxilio, 
enganando-se muitas vezes, acertando algumas e dando-se por pago 
com essas, chegando lenta e penosamente A conclusAo melancólica 
de que no fim tudo da certo e persistindo, apezar das philosophias 
e dos desconsolo» e soffrimentos. Luiz de Rezende, Manoel Viscentc 
Lisboa, Alfredo Rocha, o Dr. Cruz Tamandaré, grupo sympathico 
de antigos intclligente» e dedicados — sabiam que bem cqlípc&vam 
a sua confiança, que da sua viagem de estudos o aliimrio voltaria 
mestre. 

E nAo se enganaram. Esse foi o período mais fecundo da sua 
producçAo. Dos trabalho» anteriores de Belmiro sú me lembramos 
Arrufos — um antipathico quadro dc genero que está na Galeria 
da Escola de Bellas Artes a docabcllada marinha do Mouser- 
ratc e a Fhgellaçâu, do concurso de viagem. O resto foram 
retratos c des .'íihos apressado». De Roma mandou ellc o quadro 
das Xttvens, que pertence ao Dr. Ferreira de Araújo, o fíoui 
tempo, que é fautant d’aquclk*. A tagarclla, Effeito de sol, Vaso 
de flores, que cs.ão na Galeria da Escola. Vendedora de bbo$phorox f 


Um dia iufe/is, A Céga de Xanii, Depois da patroa, en .. e vistas 
da Cantpagna c estudos de ciociaros e de linha e de còr na paira- 
gom, na severa e prestigiosa paizagcm romana, exhibiu-sc em 
obras diversa» em tamanho e importância, desde a taboinha portá- 
til em que se fixam impressões até á té la monumental da Aurora 
do 1 $ de Xwembro , alntaujarra piltoresca de mais difticil colloca- 
çlo que unta collecçAo dc animaes ferozes. E mesmo esse quadro 
decorativo, ent que o artista consumira um anuo de trabalho e que 
postcriormcntc o fez crear cabellos branco» por dentro, ainda lhe 
fui util, |K>rque, sem falar nos estudo» que teve de fazer para o 
executar, a Aurora matou cm Belmiro a gana que tem todo pin- 
tor de pintar o seu quadro grande, que é como a tragédia ou o 
poema épico para o principiante cm litlcrutura. As rcalisaçóes im- 
perfeitas sâo as melhores neste caso. O desdeni dos artistas pelos 
pequeno» pedaços, - a tendência a fazer grande é originaria de 
um bom sentimento, mas é praticamente desastrosa. Está bem 
claro que sc, em vez de sc lançar á téla que dá para uma véla 
grande, ellc tivesse pintado um modesto painel de uns seis metros 
quadrados, ainda hoje teríamos o Belmiro a pintar obras niunu- 
mcittacs, pois que do seu primeiro tclAu só o descontentou a diffi- 
culdadc quasi toda material da sua collocaç&o. E* natural que che- 
gasse á perfciçAo no genero, como adquiriu a mestria nos frag- 
mentos e aneedotas poéticas dos quadros dc cavaltcte. Mas numa 
terra em que os palacio» nâo sAo construídos para a decoraçAo 
mural, os quadros dc cavalletc, portáteis c acomniodatictos sAo 
muito mais bem recebidos, Além de que sAo mais variados, depen- 
dem de outra esthetica; sâo dispersivos e partilháveis... 

Em 1889 e em 1891 fez Belmiro duas excursões de Roma a 
Pariz, que lhe transformaram o cstylo. Estudou as exposições <le 
Pu vis de Chavannes c, como soubesse desenho bastante para nAo 
receiar a claridade, começou a pintar claro. Se houve melhoria de 
maneira poderAo dizel-o os que compararem as suas té las fortes 



O» descobridora» 

E*iuA/ ik 


com as cinzentas. As diffieuldades vencidas n ‘estas ultimas demons- 
tram o artista sincero e decidido a nAo abusar da sombra thcatral, 
a nAo correr cortinas artificiosas sobre as bellezas da vida. Entre- 
tanto, cm Roma primeiro, cntie o grupo conservador dos seus 
amigos e col legas, e depois nu Rio de Janeiro, entre a gente da 



O» descobridores. 

tvluAj lie Kiinsi. 


Belmiro de Almeida (continuação) 





772 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Belmiro de Almeida (continuação) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


773 


■ 5 <> 


R KV I ST A MO DIv RN A. 


visão romantica, o seu colorido desmaiado c fino na» foi aceito 
H-m dictissAne passou mesmo pnr pretenctosa adaptação da moda 
JWrizitMVH*. 

Em w/ de discutir, « artista respondeu á* criticas conto 
assenta a um pintor — pintando novas telas em que a sua onits- 



O» descrobldorot 
Kktxlo il r ma|u{mv 


ciência tcchnica c sinceridade de visar» se impuxeram irrecusavel- 
mente. K quando, daqui a dezenas de annos, o tempo houver 
reduzido a maior parte dos quadros contemporâneos a uns negru- 
mes vagos em que boiam figuras perdidas, a pintura solidamente 
desenhada de Bclmiro ainda conservará a harmonia das suas 
tonalidades tiaras, com a justa relação dos valores nos planos 
pcrspcctivos. 

Ha tres annos estabelecido em Pariz, depois de ter sido por tres 
annos professor na Escola d’onde sahiu para Roma, vae o artista 
mineiro trabalhando assiduamente em quadros de minucioso 
estudo. Foi primeiro a Má noticia, que lhe comprou o Estado de 
Minas, depois o Ref/òuso do artista, que figurou no Sa/ou dc 1898 
c Prompta para a festa e retratos e desenhos e ultimamcntc o 
painel decorativo dos Descobridores, que os fluminenses terão a 
fortuna dc ver na sua luz e do qual a Revista Moderna dá uma 
rcproducção, com alguns estudos das figuras. 

E‘ este um quadro de mestre, obra intensa e simples, dc Sym- 
bol ismo facíl, que o sentimento gerado pela contemplação basta 
para explicar. Sob a ramagem desguarnecida c ingrata dc uma 
grande arvore coroando um montículo, no meio dc uma longa, 
larga paizagem de linhas fugintes, desoladoras, fechada ao fundo 


pelo mar im mento, estão dou* homens parados. Um delle>, já 
entrado em annos, alquebrado e ferido, deixou-se cahir por terra 
entre a* raizes da arvore e de cabeça pendida, bocca amargurada c 
olhar perdido, prestado de fadiga e dc miséria, «cisma desalenta* 
damente. O outro, moço e inquebrantado, mostrando no corpo m‘i 
a musculatura athletica do homem da grande activklade physica, 
conserva-sc dc pé, em postura crccta e firme, correndo o olhar 
indagador pelo horizonte. SflO os Descobridores da terra incógnita 
os inquietos, os corajosos, os ainda mais curiosos que ambiciosos 
aventureiros antigos, os vagabundos heroicos do mar mystcrioíO 
que sempre, acossados pelos Destinos erravam longos annos sobre 
as aguas infinitas : 

... mui tosque |>cr annos 
Ivrmhaul, acti factis mnría omrttt circtim. 


Como dos seus navegantes di/. o sonoro Mantuano. São os 
antepassados do perindo legendário, os reveladores da terra ame- 
ricana á çivilisação, os iniciadores da c reação de um mundo, for 
isso, sobre aquclle montículo descarnado c inhospito, entre a pai- 
zagem erma e desolada edcfrontrctla vastidão do oceano, as figuras 
dos companheiros perdidos dcjCabra! ou dc Martim AÍTonso cres- 
cem de vulto c se impõem á memória visual como representações 
dc personnages typos nos poemas épicos. K só agora me occorrc 
que, para scr bem feita esta noticia, seria preciso estudar na obra 
pittoresca de Bei miro a sua tenção poética c analysal-a c criticar o 
artista con» 0 poeta. Fica 0 ensaio para mais tarde quando clle 
tiver ajuntado 
mais cantos ao 
seu poema gra- 
phico e defini- 
do complcta- 
mente o estylo 
das suas crca- 
Ções. Até lá já 
se póilo affirmar 
que o mestre 
dos Descobri- 
dores é um pin- 
tor formado, a 
quem só faltará 
oceasião dc se 
manifestar li- 
vremente em 
composições 
decorativas, se 
a penúria pu- 
blica entre nós 
chegar ao ponto 

de seccarcm as tintas na palheta dos nossos artistas. Essa aprchcn* 
são sombriamente pessimista desapparcccrá, porém, deante da luz 
clara e serena das telas do amavel e sempre alegre c esperançado 
mineiro do Serro. 



Ví* * ' ** 


O s dencobridoroê. 

F.tfuA» ife cakxx 


!*«!#. Mu..» (Ir |M<1 


Dontcio i»a Gama. 



Belmiro de Almeida (continuação) 




774 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


«?. ====== « 

uoüupt-s uuir-iN, 


Rio do Janeiro — Sabbado 16 de A bril de 18 93 

GAZETA DE NOTICIAS 



La Nature de Rollinat. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 107, p. 1, 16 abr. 

1892. 










DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


LA N ATURE 


ft 

es 

ca 

BS 

li- 

de 

o- 

a- 

,os 
ila 
fi- 
do 
m- 
i o 
|ue 

CCS 

ato 

>o- 

ois 

IUC 


DB ROLLINAT 

Foi | atl/Ienso estopoe(in'ouliúi tempos, 
lia uni ilozo annos, quando S a rali Bor- 
nardl io apaixonava pelas Nivroia o 
fatia do mu auctorum io&odaaua rodado 
arlUta* o lo tirados. Bnláo era Maurício 
Rollinat ura aatanlco à moda do Daudé- 
lalre. fazondo versos d« unis oxlraord- 
naria sonoridade, renovando na compll- 
cada postiça moderna o archalamo doa 
rondeis, das vlllanollas o das terçns ri- 
mas, so exercitando na arte. cmquanto 
nflto tinha o ideal. Preoccupava-so tanto 
com a musica dos t'.us poomas, que com* 
punha clle mesmo acompanhamentos para 
os cantar, para lhes dar prestigio na re- 
citaçio. Os caféa e tavernas do bairro 
latino, frequentados peln ioda hojo celebre 
dos poetas bohemlos do entáo, foram lhe.v 
tro do rcprC*ont«çõís do rhapsodo Uol- 
linat. que nbi cantava, oni a sua voz 
estranhamento timbrada, escura, rouca o 
caridosa, os versos retumbantes cm que 
celebrava as glorias da carnalidadc, os 
espasmos do gozo, ns convulsões da sen- 
sualidade, os vorsos sohiçanlcs das uiar- 
rhas f une br a o dos mitereret, os versos 
om quo estrebuchara toda a byporesthesia 
das Ntvrotet. 

O volumo trazia o retrato do auctor— 
por cima do uma pclliça, uma cabeça do 
feições enérgicas, coroada por uma cabel- 
íelra negra e revolta. Assim era o livro 
— excessivo, sombrio, desordenado. Havia 
muitos bellascousas n'clle; n.Vo havia um 
estylo do poeta. I«ao deram-lho o estudo, 
o tempo quo passa, c, mais que tudo, a 
solidão da aua aldeia do Berri, para 
onde foi viver, desgostoso de Parir 
O sou segundo volume, Dant la Bran- 
da, foi como uma primeira cdlçáo do 
livro quo acaba do sor publicado. N’um 
c n*outro, a w th e ti ca ó a mesma c a arte 
maravilhosa. Somente, n*e»to o caracter 
do poeta se aecentua n'unia visito muito 
especial da natureza rústica. São obser- 
vações muito agudas c subtis das cousas 
Inanimadas, dos seres inferiores, das acli- 
vidailcs inconscientes, que nos communica 
n*uma língua precisa, nitída e dura um 
vagabundo solitário o triste. 

A claridade das psizagens diminue, 
enturvada peia contemplação demasia- 
damento oitenta, apavorada quasl, do 
poeta. A linU escura de uma alma der 
ramou-se por tudo aquillo. Não se pôde 
dizer que aquellas minuciosissimas do 
scripçõea náoíejam verdadeiras, mas são 
de uma verdade especial, quo 6 a sinceri- 
dade do visionário. Descr ovondo a zoada 
do vonto n'uraa casa velba no cumpo : 

laseiuihtee^ent, par IJIel* 

Piaiatui, sateriéi, msi;releta. 

Lo veol sIím t enlre In voleU 
Kl mus I» portes ; 

Kt i'ea*»ulJrani sui corriO-iri, 

II |éoit aínsi qno de* morts 
Oui rir oíraknl plwircr tearr remordi 
Air ■ dei raerics. 

elle nov communiea o sep pavor do que 
segredam entro si as cousas Inanimadas 
A gente acostumada ao silencio desco- 
bre essas faltas nas vozes inartlculadas 
da natureza. O Uolamcoto dos homens 
facilita essa communhão com as cousas 
sem vida, sem íntclligencla ou sam con 
sciencia. A physlonoroia d’cllas ò assim 


Sombra sobro sombra, mancha luctuoia 
nas solidões desoladas, 6 a humauldado 
diante da Naturoza no livro do Bolllnat. 
Na ultima oxposlç&o dos aquarellUlas ha 
uma pnliagom verdejante, clara o cheia do 
sol, com uma alameda ondo passeia um 
padre lendo um livro ao fundo. Aquella 
sotaina negra, aquella meditação sob as 
arvorei, defronto do mar azul, oscu- 
rcco o mclancolUa a palzogem riso- 
nha o luminosa, la Sature dc ÍJau- 
rlclo Holiinat, podia tcrciia paizagom por 
frontispício symbollco. A mancha escura 
a sotaina do poeta. Como nlo ha melo 
dc ellmlnal-a do livro, toda a natureza 
fica para o leitor contaminada d'aqucllo 
negrume. E’ uma esthetlcâ de sombra, 
mas tAo respeitarei como qualquer outra 
que seja sincera. 

DOMicto da Uama. 
Parta, 10 do março. 

A’ prochüo do Senhor Morto, hontem, 
no morro do Csstcllo, coocorrou extraor- 
dinário numero dc lieis. 


CASOS POLICIAES E ACCIOENTES 

Hontem, ás 8 horas da manhã, fallccen, 
no hoipltal da Mlserieordla, Eduarda 
Beatriz Paula, a qual nlli dera entrada, 
no dia M do correnlc, aprcsenUudo quei- 
maduras pelo corpo, acompanhada de 
guia dc um insnector dc quarteirão da 
fregueria dc S. Jo*ò. 

— Foi multado om 308 o dono do bote 
quim da rua de S. Leopoldo n. 52, por 
conseullr desordem em seu cstabelccl- 
mento. , . ... 

— Deu hontem entrada no hospital da 
Misericórdia, apreaentaudo um ferimento 
nas costas, produxido por uma facada 
quo recebera, o hcspanhol Francisco Es- 
posandino. 

— Os mcdicos da policia verificaram 
hontem o obito do africano Bonediçto 
Pereira da Silvo, que falleceu som assis- 
tência medico na casa n. 309 da rua de 
. Pedro. 

— O subdelegado do 2* dlsLricto do 
Sacramento mandou lavrar auto de fla- 
grante contra Domingos Balths/ar, por 
teroíTendido pbyslcamente a José Mon- 
teiro Bens», cm quem fez corpo de delict 
Dr. Kogo Bsrros, medico ds policia. 
— Hontem. ás 2 horas da madrugada, 
da casa n, 31 da rua do Senhor dos Pas- 
sos, foram arremessadas algumas garra- 
fas i\ patrulhado polícia quealll rondava. 

Communicado o facto ao subdelegado 
do 2* dislriclo do Sacramento, essa anelo 
rldadc deu cerco á casa. que verificou 
ser de tavolagem, c ahl prendeu Joáo 
Francisco da Silva Junior. João Marínno. 
Josó UapliaU Pereira, Joaquim Disse 
Manuel Moreira, que citavam jogando .*» 
dinheiro. O dono da casa evadtu-so pelos 
fundos da mesma. 

Foram apprchcndidoj todos os objoetoí 
concernentes no jogo. 

Foram proso» aatc-hontcm : 

Jos6 Antonio ds Paiva, por oITeoder 
physicamento a Relnaldo Borgos. 

Francisco Corrêa Caçador, cocheiro dn 
bond n. 134, chapa 17, por ter, com 
uma chave dc abrir trllhot, fraclurodo o 
craneo dc Rodoplano Alves dc Andrade 
Breve*. 

Antonio Frauclsco dos Santos, por ser 
encontrado na rua a dai* vivas à mo- 
nsrchla. Ar - “ -W 

— O subdelegado ds Gaven prendeu, á 
disposição do Kxra. Sr. vico-presidento 
da Republica, osindividuos Antonio Fru 
ctuoso da Costa o Alfredo Marcollno ds 
Costa. 

— O subdelegado do 1 * dlstricfo de Sáo 
Joxfc remetteu. ante-hontcm,á noite, pan» 
o hospital da Misericórdia, P°, r , *?„ 


segredam entro si as cousas inanimadas. 

A gente acostumada ao silencio desco- 
bro essas faltas nas vozes inartlculadas 
da natureza. O isolamento dos homens 
facilita essa communhão com as cousas 
sem vida, sem íntclligencla ou sam con- 
sciência. A physionoraia d'ollas è assim 
puramento subjectiva. Itollinatè um me- 
lancólico; por isso ollo oncontra tão de- 
pressa o traço melancólico das cousas 
sem caracter moral. Uma fonte que 
chora, filtrando da rocha. 

Cora dm Jm pleufi furtifi d« jeoi. 

uma charrua largada no meio do um 
campo, trazendo ã mente a ídéa luetuosa 
dos culturas abandonadas ; as mesuras de 
uma cortezia excessiva que fazem as her- 
vas humildes, balançando ao vento e rc- 
petiado sem cessar 
C* |rsod ulut 

Dam («avrasM ou iTaoo fone ; 

os céus ensanguentados na* agonias cro- 
puscularss e as Ave-Marias badalando 
em dobres dc finados; as nuvens tempes- 
tuosas devorando a lua. n'um céu feito 
em mor de naufrágio e a* misérias do 
homem abandonado em frente do myste- 
rro da noite— sio os assumptos habltuaes 
das suas contemplações. O leitor, que não 
conhecesse o campo, a terra solitária, 
o céa e ss «aas feições, seria tentado, 
depois de ler o livro dc Rolllnat, pelo 
ideal de Da Esuinten viver n'um recinto 
illumiaado artíflcialmcnto, om que a mão 
do homem ss sentisse em todas as cousas 
o nenhum vaslo se achasse para scr 
occupado pe!o Mysterio. E* dizer que 
para Rollinat o homem ô mais araavcl c 
trsnquDUsadoc do que a Natureea ? Não, 
porque o s«u penúltimo livro, que ao In- 
titulo VAbime, começa no primeira pagina 
por estes versos : 

ItofiMfcCT ckwrw fawri de la leods. 


Tnaiparail iMcheaeat dtat Ia visafi hvmtiii ; 

— lei m ètaof smatre aa hwy doa t leux cheoila 
DisúmaJe u bosee au oiro» do *oo oiklv. 

B to âo o encMraento do volume, qac 
trata do interesse, da colcra, ds suspeita^ 
da hypocriaía, da luxuria, do tédio, do 
va dade. do dinheiro, d* vergonha, do 
desprezo, da humildade, do prescaü- 
mento, das paixões, das quo deprimem, 
j não das que exaltam, não se occupa so- 
^ : nio com os estados d’almn, em que o hp- 
:tncni ó roAu ou soffre miseravelmente. 

| Nãp admira, pois, quo uma tal pre- 
íoccupaçáQ do ma» ensombre as visões d» 
natureza mais ssrena, o quo as gloria» 
: apotbeosicas do aol poente so transfor- 
mem para o poeta das Xevroses cm cn- 
ismguentamcntos de matança, atè que 
'noite beba todo o sangue da vida. 

A triste humanidado que passa pelas 
paizagens desoladas que Rollinat descreve, 
.constitue openas ura movimento que 
dramatiao » sombra. Sio britsdores de 
pedra cnrmdos sobre a faina ingrata á 
beira das estradas poeirentas, sáo guar- 
dadoras dc cabras sentadas entro pe- 
nhascos selvagens, sáo cretinos que o 
poeta considera 

La Pir Kspvil du p*TȒ*. 
são os velhos mendigos vagabundos, a 
miséria movente sobre a escura terra, io- 
hospita e surda. 

La folie ó o titulo de um dos mais bellos 
po;mas n’eas-3 genero, que vèm no volume. 
A louca perece representada nos verso j: 

Vetua da U Rsiton qni depute- te» choxt - 
Ka y nellanl sa peur, n pi# et *on faiai. 

Kl to ctf la |«r íauinct qol warde drnnt NI, 
Ateagle an en mt «et«iuofp!icíe<. 

Mas sio sempre as angustias do poeta 
j que afiligem o ccrebro vasto da dosazisada 
f ! vagabunda, espet ando X vinda incerta do 

J j Etre i!í«^aru 

) ' Dofll fon !.-3rsH*-al fit I» J.iír acivtl. 

i tfa-curi en vaia fec -’v;< ca^t-rllc. 


de 


775 


La Nature de Rollinat (detalhe) 


776 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Rose et Ninette. Gazeta de Notícias [Suplemento literário], Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 

116, p. 11,26 abr. 1892. 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


oa byatorlooi, oi myallcoa, ox religioso» 
cm dlaponlbllldade, oa artíata» do futuro, 
oa Columbos do mondo moral, quo aa 
oovaa pinturas têm fmpteaalonado, afllul- 
rAo, commovlcloa, 4s toiréei da Rota 
Crui. Maa a aata doa concerto» cncher- 
se-ha prlnclpolmente, aem duvida, com 
todo o tento-commum da F>ança o todo 
o Mtuo-commum estrangeiro, do passa- 
gem |>or Parir, quo rirá abundantomente 
daa prodlgloaaa extraraganclaa quo io vfto 
oxccutar. 

4 . Manco» 


LIVROS NOVOS 


ROSE ET NINETTE 

£ J nm mlmoaoa alllclaata titulo o do 
~ ” novo livro dc Daudot. Podla-aa 
Snaar vando o voluma coa a sua capa tio 
bam compoata— o titulo om tinta violeta o 
abaixo, Impranaa era blatra, duas caba- 
ças de moçaa, gracloaaa e llaaa— podla-ae 
pensar que Rose «( Ninette íaase uma obra 
do repouso do oacrlptor nevrálgico, uma 
nota clara no aombrio quadro que ha tanto» 
aanos «lie no» pinta da bumanidado fran- 
cexa. Iníolizmente, porém, quaal dlaíar- 
çada com oa carlcloaoa nome», vera logo 
abaixo a temeroaa menção — Mceurs du 
Jour. Quem não eabe que acmpro os coa- 
tumea do tempo alo reprehensivela para 
o contemporâneo peaalmlata? 

Não aão máos coatumaaoa do que trata 
este romance, aio mesmo costume» re- 
gularei, honeatos e aerapre dentro da lei 
o das conveniências soclaea. À trlstcxa 
doa poetas parece que vero prlnclpal- 
roeito d’essas prlsCe» em quo pena a 
faotasla. Mal andaria, porém, a sociedade 
ae, obedtcendo eempre 4a reclamaçõe* 
chorosas d‘ossas criaoça» grande», modi- 
ficas»* a cada inatante o regulamento e o 
codlgo da* relaçíes entre ae gentea. 

E’ verdado que os poetai de hoje não 

reclamam couaa alguma: apenas laatl- 
roam as misérias dos que erraram contra 
sl nos cálculos da vida. Os livros de 
Daudet tratam quaal excluslvamenté de 
desenganos. A aua atrlc podia intltnlãr- 
se, como o romance de Balzac, As illu - 
sões perdidas. E Isto espalha-so pelo 
mundo Inteiro, ás centenas «le mil volumes 
— aó a tiragem da edição Guilherme com 
figuras dá novecentos mil exemplares até 
aqui — entornando a acidez do pessimismo 
mal baseado, de puro sentimento pessoal, 
cm tanto coração desprevenido, escure- 
cendo a vlaào das cousas mais simples 
da vida, confirmando, a euapeita da infe- 
licidade humana irrevogável, quo cada 
um dc nô», Já presentla, mal formulada 
embora, entre as queixas das nossas nf- 
fllcç&ca. Perante o absoluto ninguém é 
responsável ; perante a sociedade aio oa 
poetas negativistas os prlnclpaea respon- 
sáveis da dlasoluçio nas crenças. Entre 
os negativista», disfarçando a sua Inca- 
pacidade constructlva sob o pretexto de 
fnzer arte de pura expressão— arte por 
arte, um dos cacriptore» mais diloentcaé 
Alpbonsc Daudet. 0 menor conto d'elle 
tera mais amargura ç mais queixas do 
que um treno do Jeremias. 

Rose et Ninette ii um pequeno romance 
da situação falsa cm que se acha um ho- 
mem de letras — dizem que o fundo do 
livro ò a historia do Adolpba Belot— pe- 
rante a sua ex esposa, por causa das duo» 
fllbaa, quo. cllc não pôde conservar no 
divorcio e de quem não pôde separar-se 
deflnitivamente. 0 divorcio, quo devia ser 
o Hm do seu tormento, recomcça-o sob 
outra fôrma mais dolorosa talvez, porque 
agora Já não ba remedio. Mas cu conto 
a historio, que parcco íclln para se tirar 
«1’ella uma poça do theatro. • 


quebrado pela Incansável maldade da ox- 
madamo Kagan, quo )he revèla cousa» 
dcMonsoladorns sobre a ostra. 

Tudo termino por uma» reflexBea que 
o desgraçado inspira t 

• Toda a folicidado aerla a Integridade 
do matrimonio... Dizer oscolbendo a es- 
poau: quando ou morrer, 6 n‘csto collo 
quo dcacançnrel a cabeça par* dormir, 
aão estes oa labloa quo mo fecharão oa 
olhos. Por Isso quero quo este collo seja 
multo doco o muito puro, quo os labloa 
icjam frcscoa o para mim aômonto... 
Assim 6 quo ou tinha ontemlldo o caia- 
mento.» 

Apezar do trecho» deliciosos, o livro 6 
desolador. As phrases mais bem feitas são 
na malévolas o. perfldns. As entrevista» 
doa dous divorciados, na avenida do Obser- 
vatório, são ennorvanto». Quando a mu- 
lher pede ao ox-mnrldo que acompanhe o 11- 
Iha 4 Igreja no 01» docniamonto, nftodclxa 
de dlter que a nionlna fazempenhoem su- 
bir oa degráos da Magdalena pelo braço do 
pal celebro. Isto bem apoiado por nm sor- 
riso, dando a entender que o sentimento da 
Rose ô de valdado o não do affelção. E 
outras acenas mais odiosas, quasl dramá- 
tica», so a maldade alll não fosso tão 
meaqolaha.E' um livro para fazer agente 
pensar quo o coração das froncezas 6 
ilngularmentefrlo eduro, para nos fazer 
odiar a clvlllsação, quo requinta o mol- 
dado na polidez. Nds outros faríamos 
cousa mais brutal e menos peçonhenta— 
mais tragica. Sd n&o seria tão bem feito. 
Talvez. . . 

Doineto da Oaiu. 

Pariz, 5 de março. 


ás Iltteraturas estrangeiras 
em Inglaterra 

ÃO ba paro utn critico, ou para um 
simples estudioso mais Interessante 
Investigação de que aquella que 
versa sobre os livros que, de pre- 
ferencia, são lidos n’uma nação. 

Essa verificação é fácil a respeito dos 
livros naclonae*:— mala.laborlosa e didlcil 
a respeito dos livros estrangeiros. Qune* 
são os cscrlptores estrangeiros mais lidos 
«apreciados em França, ou na Allemanha f 
Não ao pôde responder com exactidâo, 
sobretudo a respeito de grandes nações 
lltterarlas, como eataa, de culturas muito 
espalhadaa e muito complexas. Em pahes 
como o Brasil ou Tortuga), formados pela 
educação franeexo, e que só n’c»tes últi- 
mos annoa, e a custo, so começara a na- 
cionalisar intellcctualmente, desde logo 
sc pôdo declarar com afTouteza quo os 
eacriptorcs estrangeiros mais populares 
são oa francezes. Mas relativamente a 
nações que aão ellaa mesma» fortes edu- 
cadoras, o quo possuem magnificas litte- 
raturas nativas, nào se torna tão facil 
apreciar quaea aão oa elemento» intelle- 
ctuaes estrangeiros de qua cilas se deixam 
penetrar e influenciar. 

Consideramos, pola, superlorraonte ln- 
struetivas algumas informações, muito 
precisas e explicitas, que pudemos obter, 
n’uma conversação com o grande livreiro 
ing tz, o Sr. Alfredo Nutt, acerca dos 


){« - 1 


.1. .«...mA 


■ Divorciado ha quinze dias, e todo en- 
tregue á obriedade do flm da sua pena, 
Rcgis de Fagan espreitava n'aque!la ma- 
nhã, pelas jancllas abertas do seu apo- 
sento de solteiro, a apparlção das filhas, 
que o tribunal Ibe concedera duas veze» 
por mez. Era o sen primeiro domingo e 
na massa do cartas de mulheres de- 
postas durante vinte annos sobre a sua 
mesa de voudovlllista d.\ moda, bem 
poucas lhe tinham sacudido o coração 
como aquelle simples bilhete recebido na 
vespera : 

'Meu caro pai.— Amanhã do manhã, pelo 
trem daa dez horas cataremos cm Passy. 
Madcmoisclle nos deixará defronte do 37, 
boulevard Bcauscjour c virá buscar-no» 
dc noite ás nove em ponto. 

■Tua filha respeitosa e multo affciçoado. 
—Rose de Fagan.» 

Por baixo a letra ainda um pouco 
hesitante da irmã maia nova assignaro— 
Ninette . 

E agora, na aocledade da espera, 
olle perguntava a sl mesmo se ellas 
viriam, se á ultima hora, a mui mali- 
ciosa e astuta ou a impenetrável raadc- 
molsellc, não Inventariam qualquer pre- 
texto para as guardar.. Nào que elle 
duvidasse da ternura das suas filhas. 
Mas scntia-as tão novas, Rosa com deze- 
seis annos apena», Nina nem doze ainda, 
tão fracas ambas para resistirem a uma 
Influencia hostil, ainda mais tendo sabido 
do convento desde o divorcio para ficarem 
entregues à màl e 4 governante. O 
advogado bem lb'o tinha dito: «A partida 
não è igual, meu pobro Régis ; vocc sô 
terá dous dias no mez para so fazer amar.» 
Quo importa, com os seus dous dias bem 
empregados, o pai sentia-se íorto bas- 
tante para guardar o coração dos suas 
queridas, etc., etc. » 

Os dous dias nào bastaram para eu» 
dilDcil tarefa; quinze dias talvez ainda 
n&o bastassem. De volta 4 casa, a mnl 
ciumenta desfazia no coração das peque- 
nas o trabalho do amor paterno. E scr- 
via-sc d’cllas para atormontal-o ainda, 
para obter um accreecimo dc pensão para 
vestido» das meninas, para tirar-lhe s 
paz dos seus dous dias do alegria. Tudo 
isso feito com a maldade tranqutlla das 
mulheres que. sem no* odiar, n&o nos 
querem mais bem. Ellc odiava-a. Nem 
lhe fez mossa a noticia que as meninas 
lhe trouxeram um dia dc casamento da 
m&i com um primo, ae não pelo receio de 
0 que Ibe levassem as filhas para longe de 
t, Pariz. E foi o que aconteceu apezar dos 
•I trato». 

O primo foi nomeado prefeito para a 
Corsoga e levou a fnmilia. 

O pobro Fngan, ralado de saudades, lá 
foi ter, para poder ver as filhas furtiva- 
mente. Ê foram cilas mesmas que o des- 
pediram, que o Azeram partir, mansa- 
mente, pcrsuaslvamentc, com a feroci- 
dade inconsciente dos pequenos corações 
egoístas. São sconaa pungentes e adral- 
ravclmcnto compostas. 

De volta a Pariz, elle encontrou nos 
jornnes a noticia, vinda dc Ajaccio, dc que 
o Ulustre Rcgis dc Fagan tiuba enlou- 
quecido. Era uma vingança da mãi dc 
suxs tilbas, peio seu atrevimento cm ir a 
mu baile mascarado na prefeitura, dis- 
farçado era Rigoletto, mas rcconbecivcl 
pala cila. 

Depois ha o casamento dc Roso, que 
ellc tem de acompanhar a Magdalena, ao 
lado da cx esposa, diante do segundo 
marido, um espectáculo ridículo, do que 
elle terá de fazer parte outra vez ainda, 
quando Ninette se casar. E um vago pro- 
«Jjccto dc rcyooto na alleicão Ue uma amiga, 


in 


n’ 


d< 


777 


Rose et Ninette (detalhe) 








DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


779 


Perguntem n essas «nliorei •uImm. 
que Inundam lo-los o» niercadoe ao 
mundo comonoui qualrlnlio». plnUdoi 
no tela, no tebololro do meslnlm», noa 
calondarloa, na» mlaula» do nogueira, etc. 
e cilas llieadlrâo, com a maior ilngelera, 
quo com laao ouotonlam o amparam pala 
ou Mlioa. 

Mos. ao por aeaao lemoa a (ollcldado do 
poaaulr' uma flllm com talento para o 
pintura, meamo quo nJo aeja ur a Joao- 
pha d'Ayala ou uma Roaa Bonheur, 
quanto nâo poderá cila ganhar pela aua 
arto dando liçüea, pintando quadroa e 
vendondo-oa, no noaao mercado ou meamo 
noa conlroa artlallcoa de Parla. l.ondrc», 
Vlenna? porque nSo ha roído, para que 
uma brasileira n»o possa IA chegar. 

Centenas, milhares, contoado rtlal 

Ma» lato 6 uma dlgroaalo alt certo ponto 
Ora do assumpto; porquo nio quoremo» 
occupar-noa com esccpcõe», mas sim com 
generalidades. 

Ha um principio, que nos pareço neces- 
sário arraigar na monto do brasileiro: o 
de noa dirigirmos por nós proprlo», lato *, 
o desejo do adquirirmos Indivldualldado 
cm todo» os nosso» aclos e recebermos 
apenas, do estrangeiro, os preceitos oecom- 
modarcls ao nosso futuro modo do viver, 
Uma moça brasileira devo ter uma edu 
caçüo á brasileira 1 

Deve prepnrar-50 para as noesas neces- 
sidade», para o tioaso clima, para o nosso 
temperamento, para a nosaa persona 
lidado collccltva. 

{■'açamos, das nossas mulheres, um ar- 
busto que viva no ar livro o nr. o uma 
planta, quo vegete n’uma estufa. 

Alvuuoo RiAXcno. 


JOHíí IrEBÜOINNE 


:m 


A renovação da Academia Francczn vai 
se fniendo ropidamento. Antes do fim do 
outono quatro cadeira» ostão vaga» sob 
a cupol» solomne. Dcpoi» de Rtnan, de 
Msrmícr, de Uoussct, coube a vci do 
morrer a John Lcmotnne, um dos mais 
illuatres da casa. 

Era um grande o puro jornalista 
como tal fura recebido cm março do 187G 
no selo da douta assembléa, ondo suece- 
deu a Julcs Janin, príncipe dos critico» 

« Mais do uma voz, disse cllc no seu 
discurso dc recepção, o» que me auggc- 
rlam a ambição dc tomar assento no melo 
de vós me disseram quo flzcase um livro. 
O meu Hvro, senhores, ou o At todos o* 
dias, durante trinta annos e dou-vos gra- 
ças do o terdes descoberto, 
a Toda a minha vida ou fui o que 
toda a sua vida foi o meu predecessor. 
JSu Unha começado muitos nono* de- 
pois d’eUe, o, cm tempos como os nossos, 
uma dúzia dc annos podem-sc tornar como 
ura.grando l^pso da- viflkhumana. Qnan- 
do os homens do meu tempo entra- 
ram na vida publica, na vldacommum, 
a escola moderna, fecundo, dosordena- 
da, luxuriante como n terra virgem, JA 
tinha produzido as grandes arvores que 
nos oncobriam com as suas vastas som- 
bras. Quando nós ainda fazíamos tb. 'mas 
e versões, ouvíamos, escutavamos, com 
curiosidade a principio o depois com ar 
rebatamento, os cchos da bustna do ller- 
nanl o das harmonias dc Lamartine, quo 
transpunham os muros dos colleglos éomo 
gonios encantados; dcpoi», nomeio desta 
! i:.. m Anin«q o tumultuosa symphonia 


respeito esto prlmoiro dos noiso», que se 
vai, som quo um ataquo, som quo uma 
censura, sem qus uma d’estas nlluiDcs 
msltívolai, que, na triste hora nclual, so 
prodigallsnin tAo facilmente, tenha Jamais 
empanado o brilho da sua reputnçlo 
Immnculada. 

« Senador escutado o acadêmico lllus- 
tre, John Lomoinno foi sobretudo c antes 
do tudo, um dos maiores entro oi Jorna- 
listas do uma época em que o Jornal 
absorveu qunsi toda a selva Intcllcctunl 
do palz. » 

.John Lomoinno nasceu na Inglaterra, 
do pis francezcs, om 1815, c lá fez a sua 
primeira cducnçAo. Armado do recursos 
articulares polo seu conhecimento, pouco 
vulgar n*csso lompo, de língua» estran- 
geiras, cllc preparou-so para a carreira 
diplomática, cm que o graúdo ministro 
Qulzoto patrocinaria, Foi mesmo apre- 
sentado por cllc quo o Jovcn ambicioso 
entrou cm 1840 para o Journal da Dc- 
batt, vestíbulo da diplomacia cmquanto 
nio ora escala obrigada para a Aca- 
demia, 

Para a Academia o poueo afortunado 
John Lemolnne entrou afinal. Da diplo- 
macia dcsvlou-o o exlllo UoGulzot, depois 
de 1818, o o poslo dc ministro em Bru- 
xeltns, que lho deram cm 1880, Jcgo em 
seguida A sua olelçAo senatorial, cllo mal 
o pôde supportar quinze dias. 

O Journal des JJebats rotomou-o, até 
agora* 

Morreu de uma plcurlzla, complicada 
com uma moléstia dos rins. Morreu dc 
cansaço o pobro velho que n&o ha muito 
tempo ainda exclamava n’um artigo to- 
luçante por um amigo quo acabava de 
morrer; « Jo suis las do aurvivre, las 
d'onterrerl » Era contcmporanoo e amigo 
dos Bertin, dos Sacy, dos Próvost-Pnradol* 
dos Sslnt-Marc Glrardin, dos Wclss: quo 
camiterlo lho seria o coraçAol 

Douicto d k G AUA. 
Farlz, 15 de dezembro de 1892. 


Escreve- nos o Sr. condo Sebastião 
Pinho: 

Quartel de Barbonos. 6 de Janeiro 
dc 1893. 

Sr. redaelor da Gazela de NoUcias.— 
Entre os capitulo» de accusação que con- 
tra mim se tem levantado, e quo n&o pudo 
ainda aniquilar, por nAo ter chegado n 
vez do dcfendcr-mc, ha um que, rcpoüflo 
aliás por quem tinha ohrlgaçAo dc dizer 
verdadn tal qual é, me tom prejudicado. 
E’ cllo o seguinte: — aíllrma-se que a 
segunda denuncia contra mim dada pelo 
Dr. sub-procurador do dUtricto contótn 
factos diversos dos guc determinaram a 
minha primeira prisão preventiva, e 
sobre os quacs versava a discussão, depois 
da qual obtive ordem dc habeas-corpus 
do-Egccgio Tribunal Federal ;*E' isto sim- 
plesmente uma inverdade. 

Desde que para convencor d’isto não 
basta a discussão, sd ha um moio; 6 ma- 
tcrlidisar n verdado. E’ o que faço nc 
mappa que tenho a honra de.oíTcrocer a V. 

Piizo tanto o Juízo da opIniAo, quo c 
imprensa represento, penso tanto que ai 
vicllmas lem o direito de vèr a vordadí 
restabelecida, que n&o hesito cm afllrmai 
que cllo ficará conhecida por V., dcpoi 
da leitura d> mappa junto. •* 

Em outro logar publicamos c mappa i 
que so rcícrc o Sr. conde no sua carta 


l- 


in- 

nto 

da- 


das 


po- 

ulto 


do 

quo 


leva 

Iccr 

relia 
anl- 
i de 
tdo e 
edas 


tudo 

ÍSUl 

esses 

tinas 


mil 

U 

;con- 


que 
is pu 

ia nr- 
uaoto 


ouvíamos também o clarim cstnttuio, so- 
noro c agudo de Julcs Janin . . . 

« EUe estava pois no pleno goso c 
posse da sua gloria quando cu o conheci, 
quando o cncontrol n*esla casa antiga c 
tradicional que, creio podor dizel-o como 
sc a cila cu nio pertencesse o recordando 
unicamente a memória dos que se forom. 

foi o berço o a escola do jornalismo 
franccz ». 

O jornalismo o que John Lcmomne 
pertencia nAo cra o novo, o quo so qua- 
llüca pomposamente dc sacerdócio e que 
nio c Senão uma odiosa cxhibiçAo de 
personalidades cubiçosas; era o dos que 
náo pretendem encontrar na tribuna d» 
imprensa senão o melo do dizer bem alto 
o bem claramente, com liberdade o con- 
victamente, o que pensa das cousas do 
seu tempo o homom de bem quo se acua 
em poílção para as apreciar. 

Na expressão do seu pensamento o sou 
maior cuidado cra n fôrma, o bem dizer, 
depois da rigorosa sinceridade da argu- 
incntaçAo. O que isso lho trazia pcssoal- 
mente como consequências não lhe im- 
portava. Por isso, por ser sincero e 
honesto, tevo dc contradizer-se, isto c, 
teve dc mudar do doutrina á feição dos 
tempos políticos que mudaram. Nem 
admira que nos cincocata annos quo du- 
rou o seu lidar pela verdade (quo tantas 
vezes ò a verdado de occaslão, unicamente), 
pelo direito, pelo melhor o pelo mais 
justo, mudasse-lhe algumas vezos a visão 
das cousas. 

E assim fo! succcssivamente monar- 
chista constitucional da escola de Guizot, 
republicano conservador, lcgltlmista com 
Chambord o senador republicano para 
prêmio da sua volta aos antigos amores. 

Ha quem por menos tenha sido violenta- 
mente injuriado e accusado dc tralçAo. A 
sinceridade o a pureza do vistas do cri- 
tico político eram, porém, tão evidentes, 
que ba muito tempo não morre um homem 
publico de memória tão unanimemente 
respeitada. Todos insistem sobre a per- 
feita honorabilidade do homem que a vida 
publica n&o teve força para corromper. 

« O quo so deve ajuntar em honra da 
sua memória, concluo ura artigo leve- 
mente critico, 6 quo Jonh Lcmomne 
morro pobre, depois do ler locado cm 
muitas cousas na sua longa carreira, c 
depois de ter passado pela casa Botbl- 

diild cm cujos escriploriosoccupou muitos 

annos funeções bem elevadai. No fundo 
clle cra uma alma altiva, um pouco des- 
denhosa e que so consolava na amarei 
intimidade do seu lar dos esquecimentos 
da fortuna.» 

Outro chronlsta indiíTercnle termina : 

« Cincocnta annos de probidade política 
são ura mérito bastante raro para os 
tempos quo correra ; c t a única fortuna 
quo lega aos seus o letrado severo c altivo 
que, por núo sabor a quem dar seu co- 
ração, ílzera com a Republica parlamon- 
tar um melancólico casamento de razão.» 

Edmond Lcpelícller, um amargo e ag- 
gressivo contra toda reputação injusta, 
diz quo «>na sua penna, qué nâo devia 
ser metallica, havia sempre uma lem- 
brança da aza». E termina o artigo : 

« John Lcmoione, que serviu tão bem 
o seu palz com a penna, c cujo mandato 
representativo foi cumprido sem compro- 
mcllimcntos, nem vergonhas, deve so- 
bretudo flear na memória dos que lhe 
sobrevivem como a própria honra do jçr- 
aaU.smè clUiaMiunn Saudamos com 


IIo 
En 
tida 
Agor 
Comi 
leira 
O 
nicij 
hont 
rccu 
do S 
laçA 
S. 
dc ( 
bort 
pari 
dide 
A 
fciti 
pro 
tlw 
ap 
a 

mu 
I 
poi 
set 
de 
pal 

1 

bll 

Ja 


John Lemoinne (detalhe) 


780 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 










DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


HASMlES BE AZEREDO 

0 mais moto dos nossos escriplorcs 
laureados acaba do publicar um livro do 
versos. 

Deu ao volumo o noino do ProttUariat, 
quo são as avos das lempostadas no mar, 
porque, diz cllo ; 

No mar do século dispersos, 

Como as lunlidus pnaullarias. 

Sob vós também, meus pobres versos ! 

Podia dar-lbc muitos oulros nomes, so 
não qufzesso oscrcvcr ua capa do livro a 
simples ind Irarão Ferro», como tez o des- 
confiado Maupassanl, ou Potiius, como so 
[azia oulr'ora por presumpção ou por se- 
guir as dcnIQçõcs lillerarias. Preteriu osso, 
quo laz Imagem, o Imagem Iyrica, Ululo 
auspicioso, quo valo uma symphouii. 

A genlo quo 10 versos irum eslado 
d'alma adequado, parle d'cllc para tinia 
lunda o soleir.no contemplação poellca. 
São-as oudas do mar em turia, verde-sujas 
o baças, manchadas do espuma, tisnados 
da sombra das nuvens baixas, cavadas em 
obysmos, erguidas em montanhas, rolando 
por liteiras lormldavcis ou desfeitas n’tim 
borrito lraraenso, dispersas cm debandada 
louca de panlco, tugindo diante do Vento 
devastador. 

E’ a taco tcrrlflra de cólera do cóo, dc 
composto em manchas lívidas o negras. 
Invisível o clamoroso, sihlllando, rugindo, 
atroando, onclieudo o Espaço com o es- 
trondo da sua voz espantosa. E' a convul- 
são, o espasmo da Força desordenada o 
Indómita, a corrida desvairada dos barcos 
sob as relegas da procella, os naufrágios, 
as tragédias do esmagamento c destruição 
dos Iracos arrastados no turbilhão dos ele- 
mentos. E sobre o lundo sombrio das 
nuvens da tormenta e entro as monlnnlias 
liquidas quo o venlo rola c o vcnlo des- 
morona, mais brancas do que a espuma, 
mais leves do quo O venlo, perpassam 
azas— as procellarias. Driticando descul- 
dosas enlre a agitação o as cóleras dos 
dons elementos, não as pôdo vencer n 
torça iinmensa do cóo tempestuoso, do 
mar cncnpellado. Enlre dous elmos de 
onda desgrenhados pelo tufão cilas pousam 
tranquillas o em socogo, como na agua 
serena do um lago. E quando se entregam 
por momcnlos ao arrebatamento de tuna 
relega, o golpe d'aza seguro aproveita a 
letnpo o impulso Irresistível c lbcs mudo 
5 1 o rumo á feição. 

j| As Idas o vindas caprichosas, Inccr- 
u j las, os mergulhos o adejos Insistentes, ln- 
j lorrogallvos, como andosos de penetrar 
5 o segredo da vaga arquejanlo o convulsa, 
„ | o logo a disparada insensata, catre pios 

tade, (usem das Proulla rim como um 
canto do notas altas e claras sobro um 
acompanhamento tumultuoso e prohtndo, 
n’uui trecho desymphonia dcscrlptiva. 

As contemplações poctleas, porém, não 
duram sobro uma simples, embora ma- 
gnlllea, imagem. «Um liello Ululo valo 
nm livro», quando deDne ou syoUicUsa o 
quo cllo encerro, ou quando do Ululo 
passa a sor o nomz do livro sublime, facha 
da resplandecente Poesia rompendo através 
da nollo escuro dos séculos. Aid o nome 

A nwA«<>ll«n n?n itacnrlnllvrt UlM /íftcL 


— e ainda dous annos depois, blaspho- 

mando, geme: 

«Tédio, nojo é meu mal . sor feliz é sAinonto 
Morrer, salilrcnillm iTeiU pos-dga imnuinda.. 
Para Deus ? para o Naja J Embora ! è indlt) 
fereuto...' 

— ji om 1897 vi de loag ; esse passado 

lias d« crér qu' nosla Piado 
Já lenha relhas icemirias V 


Airoraquosou íoiiz, 
Treias plangentes roteio, 

S uo em srnnui io devaneio 
os dias de aulanh > Uz. 
Parcccm-inc Lm antigas I 


Versus do uma ardência rara, 

KxtonumUes piemas, 

Km pura diainma fundidas, 

Ueixam-me hoje indiitcrealo, 

Oospirito apenas wni.> 

Assombro de os ler crendo. . . 

A libertação dos vãos desejos, dos Insq» 
nos amores e das sitas misérias, dos torv 
rores c ongusllas da solidão, troujea f 
grande amor, o deilnitivo. 

Saltes quo desde cs -o dia. 

Em que encontrei len olhar 
Ouiz esquecer o acabar 
O mal quo me consumia. 

Tuilo — enganosa alogria, 

Feita do incutia e iUusáu, 

AITccIo do phaolasia, 

Uuc niu chega au coração, 

Febre lonca, breroeatma: 

Séde dc itnpuiu prazer. . . 

Tudo tol-se. K eu á mml-álnn 
Disso : começa a viver I 

Dos meteoros errantos, 

Ouo em loatas noites deinvcru- 
Itrilbavnm só por instantes, 

K uvlioclo u tatuo fulgor : 

Virilha, em pleno fio, o ciente 
Sol Uo verdadeiro Amue I 

Assim, pois, o doloroso passado era dç 
Imaginarias penas, do que hom restaria 
vesUgio, se não tossem os versos. « Das 
minhas grandes penas Uz pequeninas can- 
ções «, disse o pocla ironleo. Este, joven 
demais para a irouia, lez das suas (icque- 
uliias popas mlsereres cm ceutenas do 
versos iteogrcssivamenlc mais Urines n 
mais perleitos. As pequeninas peitas serv 
viram n arte, ao menos .. 

Mas seriam cilas (fcquenmas ? Se as quei- 
xas de amores sem ohjerto nu mal olijc- 
rtivadas, se os suspiros de aspirações va- 
gas c indefinidas, se os grilos da Indigna, 
çio lugenua contra as misérias e importei- ’ 
çóes do mundo, sãu familiares a quem l<\ 
os primeiros versos de um porta, tia além 
disso nas Proccllnriai gcmid03 de solTrl- 
mentos que não sãoimagiuarlos, que sãa 
pessoacs o pungentes como gritos do dõtr 
physlea. 

Os tormentns da expressão ideal inattlngivci : 
Sentimos bem a nota oriam .1 — imana 
Tortura, o caro aniordi artista, que se nfan» 
Por toinal-a poema, estatua ou utclodia... . 

-Mas a nossa voz, fraca o tim ida, se cansa 
reunia inualiaaae-uu. se ntiti ; titliuo alcança, 
Como lingua infantil ae enreda e balbucia...» 

— o os terrores e as angustias da Insomnia 

Unto ás portas do íomno... 


P. é fechado a palacio. onde. no encanto 
Uns minurens, se esqueço este enfadonho 
Mundo... O somno me foge, c cu sogro tantol 

E, an clarão do relnmp.vM mnlonho, 

Vejo, transido de terror u e-nnntn, 

U sonho horrível que accoidado eu sonho... 

—abrem as portas aos espantoso pavores dt 
nevrasu altucinauto : 


781 


Magalhães de Azeredo (detalhe) 




782 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


10- 

lão 

.10 

MS 


duram soorc uma simpies, cinuora ma- 
gnifica, imagem. « Um licito Ululo valo 
um livro», quando define ou synlhetlsa o 
quo cllo encerra, ou quando do Ululo 
passa a ser o nomz do livro sublime, tacha 
da resplandecente Poesia rompendo através 
da noite escura dos séculos. Aid o nome 
ô ovocalivo, nüo doscrlpUvo. Para dcsl- 
gnarc» poemas 
Homero, Danto o Gootlie, como a /liada, o 
Inferno 0 Fauito. 

Nüo é provável que no luluro o nome de 
Magalhães do Azeredo signifique Proulla- 
nVit, o um substitua o oulro. Eslo é o pri- 
meiro livro do um moço poola, o livro dos 
ensaios o dos primeiros cantos, que já sno 

0 passado, do mlsluracora as composlçõos 
mais graves da nova phase sentlmonlal u 
iutelleclual. 0 proprio poeta o diz n'uma 
das suas poesias votivas, quo concluo o.x- 
pllcllamoulc : 

1 Dirás, meus versos lendo : Uma alma oxiric I 

aqui! 

| Porquo eslo livro, Mcslro, 6 a vida que eu «vi ! 

Brovo trecho do vida, que corro dos so- 
nhos a desejos vagos dos quluzo annos ás 
prtmoiras meditações calmas c trlas dos 
vlnto o cinco 1 VUa da aspiração ardente, 
vida da contemplação, serena o pura. toda 
rodoslva, som choques directos quo en- 
rijem o temperem a alma e lhe ensinem a 
amar o mundo pelo quo d’ello solTrou 
sem a curiosidade vertiginosa do Mal. sem 
o tervor das paixões mís que lho dèm o 
goso pungente da Culpa, vida toda passada 
na segurança monotona da Crença— não é 
ainda d’esta que so Ura o Lia-o. 

Porque este é sincero e honesto, as suas 
Proeellariae Irrequietas tomam por vezes 
ares do gaivotas mansas, do ibls phlloso- 
phicos, de garças setsmarentas, quitndo não 
dão para arrolar como pombas lascivas, 
longe dos inaros tormentosos, na intimidado 
o aconchego egoísta dos nintios amorosos. 
So fica prejudicada com Isto n propriedade 
o precisão do Ululo, ganha era compensa-, 
ção o livro em variedade de senlimentos, 
em posturas dUIcrcntes da alma que n'cllc 
se retrata. 

Alma encantadora dc pureza o doçura, 
mais valo adivinhai a, conhecei-a através 
dos seus arroubos lyrlcos, das suas inve- 
cllvas, e dos seus lamentos vãos, do que 
analysar-lho a Intrnsldade das visões, a 
finura o olovaçáo Ha esthellca, a verdade 
o targueza das conclusões philosophicas. 
As aspirações c os contentamentos, os ge- 
midos andosos c os liymnos de graças o 
de adoração, os suspiros magoados e os 
cqntos trlumphaes succcdcm-se sem con- 
tradleção, porque rada pagina do livro 
conta um dia que a alma viveu do amor, 
dc desespero, do tédio ou de alegrlo. 0 
mesmo homem que em !S92, aos vinte 
annos, se qnetxa n’nm fim de soneto. 


Pns miricen», 5» c»quero eito enfadonho 
Mundo... 0 somno me foge, c ou sotfro tanlol 

E, ao clarão do relampago medonho, 

Vejo, transido de Urror u e-ivinln, 

0 sonho liorrivcl que accoulado eu sonho... 

—abrem as portas aos espantos e pavores dt 
nevrosu allucinaule: 

Na treva claramenlo oeonIO 

-RVíiVun' rjsaUafer naM: 

A treva. paviilo. perscruto 
— E os risos crescem ntais o maií... 

Em vão, ront mal Ungida eajiiia, 

Nlim tom ligclr» de dcsileni. 

Exclamo : Aquietado. timiliVdma ! 

E' uma iUusáo. Nào ba ni:i r :uc,n... 

Ps risos crcarem pouco a pouco 
No sen frenético furor 1 
Ktsoê erucis, riso» do iouro. 

Quo o sanguo gelam do pavor... 

nisos mais lúgubres qrto o grilo 
Pa rum, horrivol afiieeão, 
lllsos do insiro ou de precito, 

Quo mo cortacs o coraçáol 


•Jamais Uvo, por multo que soffresso. 

Um rnracão que só por mim vivesse, 

Ura moiro othar, quo só pousasso cm mim • 


Na vossa irnivnrencia fria 
Descubro a voz do Satanaz... 

Cessão! iá bastado arrrmia I 
Cessão, por lim! Deixai-me ent pazl 

Ouo a propria marte, aqui passando, 

Menos lormr rarisar-me vem 
Po quo taes risos rariiinando 
Na trova, onde não ha mjiytiem I 

Estas torturas o agotiins da novrose.quo 
deram um caracter do originalidade, in- 
tensa á obra de Poe c dc Matipassant, rjuo 
foram o friuou noucam do» poemas de fiau- 
debiiri' o Ilollinat, Unliooi para esse* a jus- 
tificaliva do serem provorados, a titulo do 
sensações d’arle. No honesto c simples o 
bem equilibrado Magalhães de Azeredo a 
nevrosu é uma dolorosi provação, é o 
«pasmo da senslhllidado exagerada num 
corpo Iranzluo e dclrtl ; voto roin a fadiga 
do cslurlo, rias buscas nucioMS da vcrrlmleo 
da helleza, nu lol trazldn pelas decepções 
que, nos espíritos ainda pooco excrcilados, 
causa a mesqulnhoza do resultado dianlo 
da grandeza do estorço. 

Além de que 03 aitiores excessivas no 
culto da arlc são punidos com a mesma 
desordem- nervosa que atliiqo os myslieo? 
rcHglosm r nem os nrroutros estáticos 
são calmos, que logo se mudam em «Ra- 
das recriminações da consciência, ou no 
Ireuesi das obsessões c dos pavores, Assim 
são para; os eapllvos da religião da arti- as 
misérias do ineontenlamento e n perpetua 
o extenuante vibração desordenada des 
nervos c a inquietação de não íioder e o 
escrúpulo dc dccabir. .. 

Felizmente, passadas as violências da 
crise juvenil, os horisonlrsdo vida se alar- 
gando diante der diplomata, do critico, do 
ttiaijila (elte que ira laitla frieriCdlzia que 
• 0 oltjhr é" vasto e o horísonto é es- 
treito!»), a hygiene, a gymnasttca do 
corpa c a multiplicidade das occupaçôej 
inlelleeluiu-s, qne é a gymnastiea rio espi- 
rito, vão niramto, corrigindo trelle os des- 
regramentos da sensibiliilade. E breco, 
como das suas penas de amor perdidas s6 



restam versos lyrlcos, das suas hypores- 
ihesias nlluciuanies só lho restará a afina- 
ção maior paia as sensações obscuras o 
subtis, o eonheeimento pratico da treva 
interior, onde as s isões da viria se con- 
Jensam em iiléas. Ao moralista e ao sen- 
yilivo se ajuntando o psychologo, o poeta 
irará completo. 

K nós toilos aqui para o admirar c 
Wlaudir us que o amamos, aiiula mais 
ao que pelas oliras já (cilas e pelas pro- 
messas do seu gramlo talento, pola sua 
nobreza de coração c peregrina pureza de 
alma eleita... 

Falta escolher das Proeellarini, que esta 
simples noticia não pretende examinar e 
classificar, as duas iweslas mais significa- 
tivas da píiysionomla moral do seu auclor. 
Elle proprio as escolheu, que assim as 
collocou, uma no Um do livro o a outra 
abrindo. 

A Ultima pagina é obra do Itóiueiu leito, 
Integro e seguro dos destinos. Xem mesmo 
o temor da morte, que as claridades da 
«Ima são eternas... 

As e.»l retia» dc Deus, no seu clornn asylo, 
Eternas brilharão, lán meigas o la» bulas! 
Oquo eu tinba de luz foi cinbcbw-se iiellas! 
li ainda, r-cíf folum avante, n» pengrim» 

Lhe lião dc abençoar us dariw» diamantinos! 

E a Musa descobre ao Poeta os lhesouros 
das recompensas do liem lazer : 

Então— antes que, gaste o ten corpo doseanso 
Na terra matcin.il— tuedlfldn num relance 
A estrada feita desde o pnnlo de partida, 

Tu poderás dizer que incmccsl* a Vida ! 

A primeira pagina õ votiva, é um cân- 
tico dc devoção filial, um liymuo de gra- 
tidão c dc amor : 

Antes que, num rumor dc rnnlicns « prçees, 
Klhu» vão conquistar o seu proprio doslino, 
Dá-lho» tu, nimba Mài, qual »e a mim mesmo 
a desses, 

Tua benção, penhor o talisman divino. 

E adorativamente : 

Teu é tudo o que bom o nobreem mim existo: i 
Tudo teni para mim tua voz e teu vulto: 

K nesse (oiuplo, que tu prepria construíste. 
Com pcrjH-tuo caniilio ou celebro o teu cullo. 

Quando lindou da infancia a quadra doce c 
• estreita, 

E, cedo homem, audaz roteiro dia a dia 
Segui ; aventurando ã toiini-iila desfeita 
0 hioj frágil baixel quii a vaga sacudia, 

Nau mo disseste : — vai I — Pissoste : Eu vou 

ruintigu ! — 

E 

E’ Ioda a ternura humilde de um cora- 
ção do lillio amoroso, que lalln nessas 
oslrophes ohlallvas o coucliie magnltica- 
menle : 

Assim te devo. além da sida contingente, 

A VKla nue Immorlal no psniriln ixtruuta; 

Kis pornut! hm? contoso uflicriMtidanioitle 
Duas vezos teu llllio o tua crcalura ! 

Assim, logo depois da justificação do 
titulo se abre pledosamonle este liv ro em 
quo não se encontra uma palavra de odlo 
ou de roitrór. 

Pariz, agosto de lSht. 

Dom teto b.v Gama. 


Magalhães de Azeredo (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


783 


6 


— Biseis moldes ijtipnoim' engra- 
çado ! 

— Estas sAo as caçarolas que ser- 
vem para coser a porcellana; feitas 
dc terra rcfrarlana. leem por lim 
preservar os frágeis objectos da 
acçAo muito directa do fogo... Apres- 
semo-nos a passar a outra usina alin 
de nAo faltarmos o •oleiro». 

• 

• ■ 

Em dous saltos ellcs se reunirão 
a scos companheiros que se apres- 
savAo para se aproximar da roda. 0 
obreiro estava ainda a amassar a 
pasta, a pondo em bola. de|H>is es- 
tendendo com um rolo para a reu- 
nir de novo em bola apertando for- 
temenlepara fazer lodo o ar. ..igual- 
mente como um |iastelleiro amas- 
sando um hiscoilinlio : é certo que 
dc tudo deve resultar o «bisciiil» ! 

A massa, branca, fina. posta em 
bola pela terceira vez. linha sido 
collocada sobre uma base dc gesso 
(o gesso tem a propriedade de ab- 
sorver a agua). O oleiro com uma 
esponja molhada na mJn.poz a roda 
cm movimento com os pés e duran- 
te um quarto de hora elle teve a so- 
ciedade sob o encanto pelas múlti- 
plas transformações que fez subir a 
este informe pedaço tle massa com a 
mais maravilhosa rapidez ; apenas 
o olhar linha o tempo de perceber o 
momento em que a amphoradc lon- 
go pescoço lornava-se uma taça de- 
licada... 

Isto é apenas o esboço, quando 
os vasos começAo a seccar, o olei- 
ro os torna a collocar sobre a rotla 
c substituindo a esponja por um 
debaslador de ferro os tornea, ou 
cm outros lermos os pole. 

Passando depois a outro estabele- 
cimento o artista lhes mostrou os 
processos do modello ; mós em 
gesso recebem a pasta, absorvem a 
agua c lhes deixáo sua forma. Para 
as peças redondas, como os canla- 
ros, as colutnnas, os bustos, etc ; 
servem-sc de mós divididas cm duas 
partes igtiacs que recebem cada 
uma metade da peça, approximan- 
doas mós opera-se a solda. Elle 
lhes fez egualmcntcumadcmonsira- 
çAo das sobras, mas Dagmar conhe- 
cia a operaçAo graças a descripçáo 
que André lhe tinha feito d elias ao 
«five oclock» cm que se linha com- 
binado esta cxcursAo .«cientifica. 
Ella extasiou-se diante de uma pe- 

uena taca semelhante as de >1.”“ 

e Sommerville, o frágil objccto 
linha sua dcssoldadura, mas ainda 
»Jo seu Insiro, em lermos de pro- 
fissão : «capa ou operaçAo dc lus- 
trar.» 

— Que falta a esta laça? diz ella. 


CI.UU CORITIBANO 


— Que eu a ponha nesta terrina j 
cheia de esmalte, responde o artista 1 
mergulhando a no rcecpienle don- 
de ella saliio toda brilhante. Agora 
cil-a prestes a coser. 

— Se ii.lo a mcllesseis no esmal- 
te que aconteceria ? 

—Ficaria porosa, de uma rftr 
embaciada, seria o «biscitil.» E' as- 
sim que se fazem os medalhões, c 
os bustos. 

—Oh ! como gostaria de ler uma 
taça como esta ! exclama a joven 
animada. 

Dagmar sentpre cm contempla- 
ção deanle da taça tinha deixado 
partir todo o mundo, voltando-se 
avistou André que a esperava. 

— Esta laça fez decididamente 
| vossa conquista? perguntou-lhe elle 
com umaexnressJode doce malícia. 

— Eu a ileseio ! respontlco ella 
com esforço ; do|>ois abaixando a 
cabeça tonou um ar confuso que a 
tornava mil vezes mais sedutora. 

(Continua) 


Clironioa 

Raymundo. um licsreiilttratlo, 
um triste, feio como um macacúo, 
vivia burguezmenlc apaixonado. 
Alta noite, quando a respiraçAo lc- 

B ida do somno lhe acariciava a mor- 
idez do espirito, nevrolisado pelas 
impressões do dia, começava de 
sonhar, via passar pelo cosmorama 
da sua alIuctnaçAo amorosa, 

«Loura dos olhos azues 
Branca do jaspe mais fino,» 

a imagem candida da sua amada, 
pisando altiva c indillerente cora- 
ções sangrados pelas (lcxadas dos 
seos olhos dc rainha déspota ; por- 
que incontestavelmente ella linha 
uns olhos onde o travesso Cupido 
das seducções cxhibia-sc magistral- 
mente. 

Raymundo. um ilrsrrntiiriulo, 
um triste, feio como um maca alo, 
debatia-se no leito, como um croco- 
dilo ferido : e, ao despertar, louco 
dc sobrcsallo.vio-se dentro do «cir- 
culo de ouro» da realidade que o 
estreitava n um amplexo conjugal, 
i fazendo-o balbuciar, n um somnam- 
hulisino de alTIicções : 

«Um Oco*. St-ftlior am Ih-n«. o ^u- ba no nnii.f., 
Ouc MO sejj MJlIrer 

1’obrc Raymundo!.. .A realidade, 
ás vezes, é a mais dolorosa decepção 
da vida. 

A propostlo do «circulo de ouro.» 
O Léo-Lino. na Cliroiiii/iicta da 
«A Arte», mostra ignorar o que si- 


gnifica o «circulo dc ouro» : parece 
mesmo viver intrigado com a tal 
historio . Eu me proponho explical- 
a, mesmo som ser professor. 

O Silveira Nrtlo, certa vez, afa- 
gando a alliança que traz ao dedo, 
pronunciou este senlenrioso pensa- 
mento que foi publicado nesta «Re- 
vista» : «o casamento t um circulo 
de (erro, representado por um cir- 
culo de ouro.» 

Rabi a tal historio do «circulo do 
ouro,» Léo-Lino, que, quantas ve- 
zes nAo te appareccrá como um es- 
pectro de desilIusAo, estreitando-te 
nos seos braços de ferro, fazemlo-le 
conjugar o verbo arrcpniilcr. 

Quantas vezes, meo velho Léo- 
Lino !... 

Agora, permitle que te diga, fós- 
te muito injusto para com o Cenácu- 
lo na lua Chnmiqucta, principal- 
mente |tara rommigo. quando me 
chamas dc frio como um mocaeito. 

Sabes ?... o efleito dessa tua re- 
volta de ciúmes foi o aponlar-mc a 
estrada aspérrima, por onde minha 
vaidade ainda nAo me deixara pal- 
milhar. 

Hoje, meo velho Léo-Lino, por 
tua causa, sou uma d'essas almas 
desilludidas ; mas cheia de illusõcs. 
Desilludida porque o vento tempes- 
tuoso do teo despeito me fez tom- 
bardo pedestal tle mármore do tneo 
orgulho de rapaz sympathico : cheia 
de illusõcs, porque sou moço e ei- 
las florescem exnontancamente na 
alma da mocidade. 

Tu, meo velho Léo-Lino, que já 
chegaste aos 42 inccniailos ,a quem 
o abacate já é improfícuo ; nAo po- 
des falar como cu.. . 0 que mais as- 
piras, desventurado velho ? 

Yac mastigar canjica, para osteos 
nctlos; se é que ainda tensdentes... 

Deixa dc andar caducando, rabu- 
jento velho de cem annos ; vae mas- 
tigar canjica para os leos nettos. 

Adeos, decrépito Léo-Lino, duen- 
de de uma geraçAo quasi extincta. 

Vae.desapparece lambem :esque- 
ceas Dulcinéas. porque ellas riem-se 
dc ti; vae, desventurado velho!.. . 

Juno Pkrxetta 


Os simples 

í I 802 ) 

E' o livro novo, o maravilhoso li- 
vro dc Guerra Junqueira. Numa 
nota final, que é datada de (ide 
Maio ultimo, diz o poeta que o seo 
livro, só agora dado ao publico, é 
já ode ha muito conhecido entre ho- 
mens de lellras e poetas. » Felizes 
os que frequentam as rodas em que 


Os simples. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 5, p. 6-7, 15 mar. 1895. 



784 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


se mostra o maior dos lyriros pen- 
insulares ! .Nós, os de" longe, li- 
nhamos ficado no Guerra Junquoi- 
ro antigo— antigo, o moderníssimo 
Ijrrico! — que levava todo o tempo a 
embasbacar a gente com jogos de 
(orça métrica, com imagens 1 la 
Hugo e a desconsolar-nos com umas 
blaspliemias que cheiravam a ran- 
çosas profissóes de fé de um libe- 
ralismo burguet.com que nada tôrn 
que ver poetas. Da l forte //<• //. JmUt 
ii Mim rm f fria * tínhamos notado 
um progresso no Junqueira. K.logo 
após, uma queda redonda na \ rlhi- 
rriln frulrr Ktrnio. livro inoppor- 
tuno, alra/ado. que ilava ao leitor a 
fadiga reflexa de quem ví dar gol- 
pes de espada nagua. Foi entre os 
moços que esperarão lauto do 
poeta porluguet uma grande des- 
consolação. Correu até no llrasil a 
legenda do Guerra Junqueira doen- 
te do coração, «prohibido de ter 
inspiração» e ocrupando-se unica- 
mente em desenterrar cousas pas- 
sadas, obras da primeira mocidade, 
que os editores davam por novas, 
quando nãoera cousa política du seo 
circulo eleitoral que elle se oreupa- 
ra— trabalhos fáceis para os quaos 
não se requerem poetas. K. no en- 
tanto, havia entes privilegiados iiue 
acompanhavam a preparação du- 
rante annos. do volume que agora 
apparece c que o auclor. em uma 
dedicatória alTectuosa. declara ser 
portmqiianlo o seo melhor livro. 

Sem duvida que é ! Nem é orgu- 
lho infundado do seo auclor o de- 
clarar que. ainda inédito. elle «exer- 
ceu aqui c além uma certa influen- 
cia, que. embora leve. é innega- 
vel». Ha livros publicados antes 
dclle, que quasi lhe apanharão a 
toada. Dizem que o auclor irritou- 
se contra os que lhe defloraram a 
novidade dos rillmios e da estheli- 
ca lyrica. e por isso publicou (li 
ximplcs com as datas de cada poe- 
meto, para assegurar procedências. 
Modestiade quem não conhece todo 
o seo valor... 

Modéstia ainda maior prova a 
nota final em que o poeta pretende 
estabelecer fihaçOcs, explicar, ra- 
ciocinar com os seos poemas. Diz 
que, depois de muito estudo sobre 
o problema da morte, que é o pro- 
blema da vida, de resolver no cere- 
bro cscandecido todos os enigmas 
torturantes, de questionar a razão, 
de ouvir a consciência, de dar ba- 
lanço a si proprio, consoguio o que 
desejava : «ter da vida, ler do uni- 
verso uma idéa methodica e defini- 
tiva. » 

K’ balda antiga de poetas o pliilo- 
sophar sobre emoções. Este não se 


CLUB CORITIBANO 


digna de nos revelar a sua idéa me- 1 
thodica e definitiva do universo. 

Kelizmcnlr, que seria um mio I 
trabalho... Os versos nada perde- ! 
rião da poesia peregrina que enrer- 
râo : mas quem sabe o que perde- 
ria o poeta, mudado em pedante ? 

0 peior é que elle nos ameaça 
para o pmximo volume— sem du- 
vida o das f/omrfe hlrnl. «No pre- 
facio de outro livro explanarei com 
vagar as conclusões ultimas do meo 
exame de consciência, não pelo seo 
mérito intrínseco, repilo, mas como 
ulilcommentariodaminhaobra poé- 
tica, de que ellas são verdadeira- 
mente a alma essencial o gera- 
dora.» 

Não, mas os senhores estio vendo 
d aqui, a se esforçar por nos per- 
suadir de que a alma essencial e 
geradora da sua obra poética é um 
rosário de conclusões ultimas, que 
elle tirou de seo derradeiro e dilini- 
livo exame de consciência, a pati- 
nhar e a arrastamos comsigo para 
o atoleiro das metapbysicas incon- 
sistentes, o robusto õ são poeta, 
alma vibrante e cantante, a quem os 
problemas especulativos da vida até 
aqui não tolheram com as peias da 
incerteza ? 

Já elle quer. n'uma impenitencia 
orgulhosa de philosopho. defender 
a conlradicçâo que porventura exis- 
ta entre este volume de Ivricas e as 
salyrasda Vrlhirr ilti 1'iuirc Elrrno. 

K para isso antepõe o chrislianismo 
dos simples, «o meigo», o innocen- 
le chrislianismo popular, feito com 
a inluiçãohumana dos Evangelhos», 
á ii cgreja ralholica, grosseira for- I 
mula malerialisada do trascendente 
o divino espirito de Jesus !» Depois 
de ler isto, já a gente começa a des- 
confiar de que o estudo da historia 
natural (nnica historia verdadeira, 
diz elle) não adiantou grande cousa 
ao poeta, e que o seo «corpo de 
doutrina raciocinada e lógica» a 
sua idéa methodica e definitiva do 1 
universo» hem pódem desmante- 
lar-se á primeira occasião que ne- 
cessite um novo exame de consciên- 
cia philosophica. E então... para 
que, não é? Jà ha tanta discussão 
por esse mundo... As philosophias 
todas se valem. Eu estou aqui. mí- 
sero verme. prompto para daragua 
pela barba ao maior poeta da pe- 
nínsula. em se tratando de sysle- 
mas, e não posso lér os seos versos I 
incomparáveis, senão com os olhos 
turvos d’agua c a garganta cerrada 
de emoção 

Não sei se é um poema o livro. 
Lm poemaéomundo...Sei que são 
poemas, cada qual mais bcllo. E’ 


preciso lél-os lodos, aprendel-os do 
cór, como as cousas que se cantam 
por musica que ca nos fica dentro. 
Não ha srstema, não ha symbolo, 
não ha inctapliysica, nem tenção 
de philosophica que uos desfaça a 
emoção pura dos versos puríssimos 
e simples. 

K o auclor nos explica quo o seo 
livro «é muito mais uma aulobiogra- 
pliia psychologiea que uma sério de 
quadros campestres c bucolicos», o 
que «quem vir n’elle sómcnlo o lado 
externo c lilterario, a fôrma, a pai- 
sagem. a pintura rústica, não o en- 
tendeu. nem o soube lér». 

f.eiatn os senhores o livro, desde 
os primeiros versos, em que um la- 
vrador de noventa annos, om man- 
gas de camisa, a lavrar uma terra, 
pergunta ao peregrino : 

O Hidi-r tfci iwivrt. 4 «d lio* drtprjiKi, 

I4r* 4c rJiiilti piM »lgiv Uijir * 

até á ultima peça, em ipie o pere- 
grino, de volta ao lar, chagado c do- 
lorido, pede consolo c paz á velha 
ama : 

Ik* Mit nara »<• fr.«i\c*: >1.» ninho. 
lVdnn.it fMlrat, 

TutUi mr Mohiri». rí, priorimiiil» 

Mwlu tcIIii ama, mo um pnhrrtial»... 

Caata-mc ontig** <l« Uwr chnrar i... 

Como juügaiHf mr. no antaiu. 

, Vealio morto, morto èi\HW 4 nlar ! 

Aè ! M trn wctiiao rumo e*»a mu-Udv! 

Minha relha ama. ntrnn r> ta muila.l . ! 

Canla-lbe cantiga* 4c iWmir.toahir 

Caata-me rantig»» m«au». meíM bmm.« 

Trtilfr. muito triMc-.. rmoe a boi Ir n mar... 
CanlJ-mr cm hxn pira rír «c akto.>i 
O* a minha aliaadu mi. Imlu par. dcvai**, 
V«a*4o a Morte e» hrete m a »i«-r tnwar 

Doxicto dx Gana. 

(Continuai 


NOTICIÁRIO 


KalIccinicnloH — Após pro- 
longada enfermidade fallcceo, no 
dia 8 e sepultou-se no dia 9 do cor- 
rente, o nosso prestimoso consocio 
e distincto cidadão Dr. Agostinho 
Antonio Gonçalves A’arella. 

Sinceramente enlutados, apresen- 
tamos nossos pezames á desolada 
família. 

— No dia 10 desto mez deixou de 
existir a Exma. Sra. D. Maria da 
Gloria Motta Guimarães, joven e 


Os simples (cont.) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


785 


CLUB COR1TIBANO 


que tilo mccoccineiile paramentou- 
se para fazer côro rom o congela- 
mento da morte, Lyeio leve lia- 
rio á cabeceira dedicado e solicito, 
amalgamando em lagrimas os seos 
cuidados extremos. 

foi limo baque de alegrias para >uu«-inc « pimosopuia, e admirar 
Dar o a morte prematura do moço lhe a pura poesia unicamente fer 
poeta e mais uma lita de escumilha vorosamente 

Kn“if Bnde ° n ° S ,IÍÍS dP SUa I Dotiicin <; AMA 

Km 1880 resolveu continuar 

os estudos de humanidades, matri- Nutmofta 

miando se no 1'arllieuon 1'aranaen- 


porlitgueza ». Para se conrencerde 
'pie tem diante de si uma obra « ab- 
solulamenle individual e vasta e 
lundamentalmentc humana #, éque 
seriam precisas tantas dilTerencia- 
çOes . . . Pur isso mais vale uJo es- 
tudar-lhe a pbilosopliia, e admirar- 


• (HHU II- 

se. adiantado estabelecimento de 
islrucçio secundaria ipie existia 
em (!oriliba. 

(Conlimia.) 

Silveira Netto 

Os simples 

(18021 
iConclusiol 


NOTICIÁRIO 


v 

A um canto da sala fulgurante, 
eu via, indilfereiite, scinlillações 
ile joias finas, pares enlaçados, 
olhares crepitantes, segredos de mo- 
ças. cochichar de velhos... 

Qoe tinha, que pensava, nem 
mesmo sei. Estaria triste ? .Mo. 
Meo coraçSo pulsava, e porque 
pulsava '? Mysterio. 

Korte ironia me encrespava os 
lábios num sorriso frio. secco, im- 


K digam se ha n essas ipiatorzc l ,l ' r ) l, ienle 

:H Comecei a perceber minha agita 

*o. 

Kra revolta, revolta de ser lio 


pequenas maravilhas cousa que so 
pareça de longe com autobiographi- ç 
as psvchologicas ! Ha estrophes de 


— \ I!) ,|„ J) ar . 

çofalleceo.emS. José dos Pinbaes o 

nosso digno consocio Major José 
(Craveiro de Si, que exerceo por al- 
gum tempo na dírecloriado I hb o 
cargo de 2.° Secretario. 

Sinceramenln sentidos, apresen- 
tamos a sua Kxma. familia os nos- 
sos pezatnes. 

s«riio._ -para acompanhar as 
tradições religiosas dos antepassa- 
dos, ii3o haverá sarAo nos domin- 
gos da Pai.vSo, e de Itainos, ficando 
destinado o sahbado de alleluia pa- 
ra um saráo. phantasiado. 

Consta-nos que, para isso, a Di- 
recloria tem feito convites. 

(■rcillio ilns Violi-liix. — Es- 
ta encantadora associação prepara- 
se para. no dia ide Abril, realizar 
nos salões do 1 'luli. um esplendido 
concerto, que finalizará rom mag- 
nifico baile. 


<•5 psjcnoiogicas : Ha estroplies de lc, uiu. revona oe ser iao | , * u a ! ° <‘s<|i-imn. — Tem 

uma bêlleza estrondosa, como as do P^juenino. tâo ignorado. Foge!— Wjjeionado com regularidade, nes- 
casianheiro morto • dizia-me a consciência. Fica! — |e (.liip, a aula de esgrima mantida 

‘ 1 ‘ por diversos socios da qual é pro- 

fessor oSr. Montgruel. 


Castanheiro morto, qu«i ódn vida estranha 
no ovfirio mí^uo «lo umn flór r.Ascco, 
" criou raiz**, .• xr fvz Utnanlin, 
yuc trozenlos aimos sobnr num montnnlit 
oco* trexento* biuços «lecoloaso crjjuco?!.. 


dizia-me a consciência. Fica ! — 
bradava-me o orgulho. Fiquei. 


Tímido, medroso, procurei um 
par. 

jeii oo cm m, . rua aetwkrin, raaauie Todos me olharam... que des- 

^^.*'1';::::;;: i2çr2s.“- ' ,lcm aicrlw : E ' ,ar - a p° brc 

ora-tje i imj » leu,. „ ^ o , l0 moça, corou... deo-iiie o braço, 
Que fctis etdaver, qno ats cbalra bem i .. contrariada, mordendo os lábios 
como as da velhinha que reza junto pequeninos, 
á lareira, ao serão : t inem o_ 


Quem és ?— pergunlou-me gela- 
damente. Tremi. .Ninguém m’aprc- 
sentãra : fóra de mais, fóra loucura 
me atrever a tanto. 

Emfim, lhe disse : Moça. escuta, 
a minha historia é triste... Sou 
mais que um verme o menos que 
um condor, menos que um vivo c 
mais do quo um catlaver... 

— K’s louco ?!... 

— Adivinhaste. Sabes de onde 
.j,,,, non<- cuttira me veio a loucura ? Fm aniocnmo 
nÍo £■" ,i ! onÁÁÍT. JÁ:.Á ura - lu ,' le olhos formosos, de sorriso 

, . ardente, disse-me um dia esta ne- 

lomoo deuma harmonia peregri- quena pbrase : Eu amo-le !— A- 
na, tinal do ( nrnpo Sanlo : creditei... sonhei! Depois... 


Dentro d nlinn d « lln, triplo campo junto, 
•Muitas nlmas vívc.n mortas de sonhar !... i 
A iwm iwirt*. amla* n um dorido puouIa 
oo' se» o mato. - 

Mos seos lábios roxo* phosphorcce o luar.- - 

K r«*« «Inu* ÜQidas qtc Hla |m rnatigo. 

- Tamwiin ile rrrnçj, nigtro podrr • - 

rrias como n nove vem du seolaxitro 
>tm sentar-se todias no lujpir unllgo, 

A chorar u roda do binzeiro a arder !... 

Pois, velhinha branca, tna crença pura. 

Tua reza «ntiga, que mu íuz chorar, 

K c^ual ao> ct-^os. que n.t noit.* escura 


l 


Dormi, dormi, sem dór, sem penos... 

Dormi, dormi f... 
h em vossos leitos florescentes, 

Do rosas brancas o nçuccuns, 

. Ctiinm dormentes 

Ctiinin exan-mes, trementes, 

Graças do bapttsmo do luar alvissimo! 
Beijoi do noivado do lunr puríssimo ' 
Lagrima* <Ia morto do lunr tristíssimo! 
Cânticos d exequiss, orsçòcs dolentes 
Do luar anntlssJmo ! 

Concluída a leitura do livro, a 
gente sente que gosou uma obra 
rara, obra d' arte « ingenitamente 


sonhei _ r 

Moça tudo é mentira, tudo é vae 
dade. Chamaram-me de louco, 
porque o pobre é louco ! Eu ama- 
va muito, eu amava muito. Knláo 
ri-me de tudo. fiquei demente, bem 
vès, fiquei demente. 

Hoje cila tem dú, cila tem 
pena,., mas eu sou louco, porque 
o pobre é louco, bem vês, fiquei 
demente, bem vês, rindo de 
tudo ! 

Axtosio Braga. 


Botequim. —Em sessão extra- 
ordinária da Dircctoria, de 23 tle 
Março ultimo, foi deliberado ficar o 
botequim do Club. arrendado ao 
Sr. Pedro José de Queiroz. 

l-.pi/.iMli». — Por mito do nosso 
companheiro de rcdacçao Joâo Fer- 
reira Leite recebemos o conto lit- 
terario sob a epigraphe acima. 

l'V«'<|iiriiciu — A media da 
frequência diaria de socios e 
convidados nos salões doClub, 
duranteesta quinzena, foi de so 
pessoas. 

■lilili»(liei-ii — . O movi- 
mento da bibliotheca, durante a 
quinzena, foi o seguinte: 

Volumes sahidos — :o8 
Ditos entrados — rj í 
Obras consultadas 12 


Avisos 

A distribuição da Revista do 
Club será feita aos Srs. socios, 
na secretaria do mesmo Club. 

As sessões ordinárias da Oi- 
rectoria do Club terão logar no 
dia 5 de cada mez, ás 8 horas 
da noite. 


Os simples — conclusão. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 6, p. 8, 31 mar. 1895. 



786 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Cl.ri» CORITIBANO 


3 


sacão de existência que as pessoas 
nervosas sofTreui, quando os senti 
dos estão mielinonle viliraleis e 
exrilados, e as fanililailes do espi- 
rilo entorpecidas e (ristes. Ksiua- 
gava-nos peso mortal. Kxtcndia-se 
por nossos membros, — pela mobí- 
lia da sala. — por sobre os ropos 
em que bebíamos : e os objeclos 
lodos pareciam opprímidose pros- 
tados nesse languor.— Ilido, excep 
lo a i liamiua das sele lampadas de 
ferro que alumiavam a orgia. A- 
loii|(amlo- se em esguios cordões de 
luz, licavam Iodas assim, ardendo 
lívidas e imniovcis; (• na mesa re 
douda, de ébano, em lurno a qual 
eslavamos assentados, e que o re 
llexo transformava em espelho, 
cada um dos convivas contemplava 
apallide/. do pnqirio rosto e o fui 
gor inquieto dos olhos nostálgicos 
dos camaradas. Knlretanlo riamos, 
eeslavamos alegres a nosso modo,— 
de um modo hv sterico;e cantavamos 
as cam;ões de tnacbreonte. -diapa 
zonadas pela loiicura:e bebiamo^ co- 
piosameiite. — coinqnanlo a purpu- 
ra do v ilibo nos relembrasse a pur- 
pura do sangue. K havia no apo- 
zenlo um oitavo personagem, — u 
joven Zoilos. Morto, estendido ao 
comprido e amortalhado, era o gé- 
nio eo dcmonio da sccna. Alt ! ndo 
compartilhava nosso prazer, se 
bem que a physionomia. convulsio- 
nada pelo mãl, e scos olhos, nos 
quaes a Morte linha extinclo sú- 
menle a tnoio a labareda da peste, 
pareciam compartilhar tanto a nos- 
sa alegria, quanto os mortos são 
capazes de o fazer de lá pelos que 
devem morrer. Porem,— comquan- 
lo eu.— Oinos, — sentisse os olhos 
do cadarcr lixados cm mim, — me 
esforçava por nlo comprchcnder a 
severidade de sua expressão, e, 
olhando nerlinazmcnte no abysiuo 
do espelho de ébano, cantava em 
vòz alta e sonora as canções do po- 
eta de Teos. Gradativamente, po- 
rem, cessou meo canto, e os echos, 
rolando ao longe por entre as tape- 
çarias, enfraqueceram, indistineli 
zaram-se. cxlinguiram-se. K eis 
que do fundo das tapeçarias ne- 
gras, onde ia morrer o ocho das 
canções, surgio uma sombra, som- 
bria, indefinida, — uma sombra se- 
melhante a une alua, quando ain- 
da baixa no horisonte, desenha no 
solo, batendo em corpo de homem ; 
porem essa não era nem a sombra 
de um homem, nem a de um Iteos. 
nem a de nenhum sér conhecido 
Eslremeceo um instante entre as 
tapeçarias, projcclando-se emfim. 
visivel e crocta, na superfície da 
porta de bronze. K a sombra era I 


| vaga. sem forma, indefinida : não' 
era a sombra de um homem, nem a 
de um Iteos, — nem a de um Iteos 
da Grécia, nem ade um da Ghaldea, 
nem a de nenhum iteos egvpcio. 
Ka sombra lá eslava sobre a gran- 
de porta de bronze esoba cornija 
rimhrada. e não movia, e não faia- 
va. lixando se mais e mais. sempre 
imtiiovel. K a porta, na qual se es- 
batia a sombra, ficava, se bem me 
lembro, fronteira aos pés do Joven 
Zollus amortalhado. K nós, — os se 
te companheiros. — mal demos com 
a sombra ao saltir de entre os reps 
negros, não ousavamos sequer li 
tal a. olhando sempre para o alivs- 
uio do espelho de ébano. K. por 
lim. eu, — Oinos. — tne aventurei a 
balbuciar algumas palavras e (ter 
gunlei á sombra o sen nome e mo 
rada. K a sombra me respondeu : 

— Sou SoNMiv. e minha morada é 
ao lado das Catacumbas de Plole 
ntals. e bem junto das aspérrimas 
planícies infernaes que apertam o 
impuro canal de Charoute 1 

K. então, todos sele. ergiieino- 
nos horrorisados. trémulos, lirilau 
les. allucinados : porque o timbre 
da voz da sombra não era o timbre 
de um só indivíduo, mas de mui- 
tos séres : e essa vòz, variando as 
inflexões de syllahaem sv Malta, ca - 
bia confusamenle em nossos ouvi- 
dos. emilando o sotaque conhecido I 
e familiar de mil e mil amigos des- 
appareridos. 

Kdgar I’ok. 


i.a m ti vci.i: 

K" um desses livros que a gente 
lé com os cabellos em pé. eriçados 
em desordem, como um sapésal 
cerrado por onde nassa um rebojo 
de nordeste. 4 pelle do craneotem 
as vibrações violentas dos calafrios 
do Sublime. Itas paginas, dasphra- 
ses sopra iinpetuosamenlo uma 
ventania de paixões, de recorda- 
ções imprecativas, de convulsões 
tragieas, ollato da epopéa. ,\áo ha 
n elle trecho que diminua a Verda- 
de. aspreoccupaçõesda arte lide- 
raria lendo desapparecido perante 
o sentimento quasi de terror sa 
rado da grande cousa a contar. [ 
a Guerra, da ruina de um império I 
e devastação de um povo. 

Tanto qnc o livro é defeituoso, 
grande de mais ou pequeno de 
mais, informe, desequilibrado. , 
sem cstylo. Sente-se que o aitclor, i 
esmagado sob o peso do assumpto, 
não poude trabalhar n’cllc á von- 
tade . As paginas, os capítulos se- I 


gnom-se n uma enrediça de fartos, 
interessantes todos, porém não 
egualmente interessantes. Os epi- 
zodios se alropellam na confusão 
imitaliva das scenasde guerra, não 
classificados por ordem de r/frilot, 
mas ligue. indo como quadros de 
uma realidade maravilhosa, á força 
de sinceridade, |n'ipieuas scenas 
de um relevo esrulplural, grandes 
painéis heroicos, a que a altenção 
seapplira siiccessivamente, simiil 
laneamenle. como se o leitor esli- 
vesse enfrente de um gigantesco 
diorania. 

V precipitação da esrripla é v i- 
sind no repisamenlo descripUvo. 
Mas isso mesmo produz uma im- 
pressão de cansaço angustioso, une 
favoreceu eITeilo. Somente, pódc- 
se dizer qiii' o rcpisamcnlc lam- 
bem engrossa o volume, com pre- 
juízo da altenção, que se fatiga, 

I ma escolha impunha o- entre o 
acervo de episódios, para facilitar 
a composição da obra. a que um 
nexo falta, nexo arlislico. não a 
sequência real dos factos como a 
historia conta rhmnolopiramonle. 
Knlre Knesrhvviller e Seilan (dons 
terços do v olume, que têm (sPI pa- 
ginas cerradas) move-se a figura 
desolada, lastimosa, do imperador 
Napoleão III, como a personilica- 
çAo da desordem nocoiiimando. 

Nas marchas e contramarchas 
forçadas, nos movimentos hesitan- 
tes. halooçaoles e desordenados, 
como da agua do mar. nas corridas 
loucas de um exercito de cem mil 
homens de Mulhouso altclfort e a 
fteimse a Ghalons eaSedan, pela 
Alsacia. pela Lorena, pela Champa- 
nha. entre a confusão, o tumulto 
das ordens desencontradas de che- 
fes que se substituem com inter- 
vallos de horas, a suspeita cheia de 
odio e de agonia, de iraiçõese de 
abandono ao inimigo, as marchas 
estafantes sob o sol que mata, e as 
immobilidadcsforçadas. mais ener- 
vantes ainda, a fuga louca diante 
de inimigos imaginários e o ataque 
ainda mais louco de forças imrnen- 
sainenlesuperiores.no que se po- 
deriachamar — o livro de Scdan — 
que é o melhor ou o mais palpitan- 
te do volume. Napoleáo III é cen- 
tro c anparece a espaços como o 
estribilho lugubre de tuna unção 
funoraria. 

Zola mostra-o como um martyr 
do sco destino, resignado, c de 
uma desolação infinita. 

Doxtcio nç Gani. 

(Continua). 


La Débacle. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 10, p. 3, 31 mai. 1895. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


787 


CLUB CORITIBANO 3 


I.A DI IIACI.i: 

(Conclusão) 

0 imperador <|ik* já iián governa- 
va, d general em chefe <|iie cedera 
u sen cominando a llazaine, passa 
levado na onda da derrola, como n 
svmliolo vivo do império morihnn- 
ifo. Ilianle de Iteims é como nm pe- 
queno hurguez aquecendo ao solas 
snas ma zollas, sentado n uma cadeira 
á beira de nm rampodo Irigo; em 
llanconrl e um jaular solilarío em 
i|ue o imperador náo loca, ao passo 
ijuc cuibaixoosajudaulesdo ordens, 
o pessoal da casa imperial co- 
mem n' um grande alarido, comen- 
tes com a volta anuunciada, para 
Pari/.; depois, em Sedan, é a ago- 
nia das cólicas ncplirilicas. uma noi- 
te inteira passada a gemer, sem que 
ninguém lhe valha. eno dia scgum 
te um passeio a cavalloá frente do 
estado-maior, pelo campo de bata- 
llia, com carmim no rosto, paraipte 
lhe náo vejam a pallide/ terrosa, e 
os bigodes forlemeutc encerados e 
a procura da morte entre as balas 
<i marchando lenlamente entre as 
« balas o ohuzes, com o mesmo ar 
i( morno e indifTcrenlc, caminhando 
ii para o seo destino ». As crinas do 
cavallo, se crivavam. Ioda a pelle 
estremecendo dianleda morte, que, 
a cada segundo, passava, sem que- 
rer o homem nem a besta, n Kntáo, 
* depois de uma espera infinita, o 
d imperador, com o seo fatalismo 
ii resignado, compreliendendo que 
ii náo estava alli o seo destino, vol- 
« lou tranquillameute para o meio 
<i do seo estado-maior, como se náo 
ii tivesse querido mais do que reco- 
« nlieccr a posição das baterias al- 
« lemás.i) 

Ainda em Sedan. já basteada a 
bandeira branca darcndiçáo o a ba- 
talha continuando, o canhão troan- 
do sempre, o imperador agitado, 
com a face emmagrcrida. cadavéri- 
ca. a bocca repuxada de amargura, 
murmura como uma queixa supre- 
ma contra o canhão que ensurdece, 
0 canhão que não se cala, estron- 
dando desde a manhã ... K, linal- 
menle, os últimos apupos dos pri- 
sioneiros que parlem para as forta- 
lezas da Allemanha, rebanho de mi- 
seráveis com que se encontra a car- 
ruagem do imperador prisioneiro, 
etnbrulecidodo moléstia c de ma- 
goa, fumando machinalmenlc um 
cigarro, insensível á injuria que 
contra ellc vomitam os desespera- 
dos. 

A appariçio do imperador como 
que marea os cantos do poema nos 
seos episodios culminantes. Tam- 


bém, quando ellc desapparece, que- 
bra-se o Interesse e a sequência do 
livro. Iiypcrtrophiado pela descrip- 
ção da batalha colossal. 

Ksse é o mais sério defeito da 
composição. Outro é aaccumulaçlo 
de episodios sem escolha, a recor- 
dar na mente dos personagens as 
cousas que os nomes trazem á me- 
mória. fazer um soldado scismar 

Marengo. Ausierlitz, Kylao, 

Kriedlaud, dissipar Ires paginas no 
ementário de uma inscrijição sobre 
um muro « Viva .Napoleão ! » 

Ka pmposilo vem a aceusaçáo de 
invcrosimilhança a que a fórmula 
naturalista dá logar, quanto a psy- 
citologia dos personagens. Para ex- 
plicar e dramalisar a indisciplina e 
a desordem das tropas francezas. 
Znla mostra os soldados entenden- 
do muito melhor as manobras, as 
marchas e movimentos dos exérci- 
tos do que os propri (Ttciaes. Ku- 

lão, pela conversa d elle. o leitor 
tem a sensação do desastre imini- 
nenlc. Mas não é isto um artilirio 
indispensável n'um livro tão since- 
ro? Os soldadinhos que conversam 
entre si no grande romance I llurr- 
riiru l‘n:, deTolsloi, náo são me- 
nos naluraes do ipte os licróes da 
Itrlmrlr, sendo mais simples. K a 
preoccupaçáo do explicar os erros 
militares impede o auctor da Wéfw- 
rlr de chegará elevação philosophi- 
ca cm que paira o espirito creador 
da Hitrmi r l‘nz. 

0 eslylo é oantigo. escripta forte, 
enérgica c bruta, procedendo por 
massas, aqui um pouco tolhida na 
quantidade de historia queé preci- 
so revolver para construir um effei- 
lo. A raiva, a fadiga, a fome e a 
séde. a peste e o desespero, o hor- 
ror da animalidade baixa revelada 
[ nas Ittrlas ferozes entre homens ar- 
mados, constituem um fundo de har- 
monia escura, de que náo é faril ti- 
rar efleitos variados. Mas, com ser 
inonolona, a impressão do livro 
náo perde de intensidade. Kmquan- 
to a gente lé os episotlios secundá- 
rios da vida mais serena, descrip- 
çOes dos remansos que se encon- 
tram ao lado dos remoinhos da 
[ guerra, sente no ouvido a trovoada 
tios canhOcs, o tropel confuso dos 
excrcitos em marcha, e no coração 
n aperto da contemplação de toda a 
miséria cm torno. Talvez d’ ahi ve- 
nha o relevo maior d’cssas sccnas, 
que se succedem como nas paginas 
de um álbum desenhos reunidos, 
mas sem nexo. 

São ha um lypo novo, um traba- 
lho lilicrario novo. Publicando o 
seo livro mais imperfeito lilleraria- 


meuto, Zola vae talvez persuadir-se 
ptdo siirrcsso retumbante da llftm- 
rlr de tpte em lilteralura ainda é o 
assumpto o que mais capliva o pu- 
blico. e que não ha psyrhnlogias 
que vençam em interesse o drama 
ilc duas nações, duas raças que se 
balem, deslindando contendas se- 
culares. 

Doviicto daRaua 


l'!veer|ilos «- |m>iis;iiih*iiIoh 

O lí m da critica é apenas revelar 
e explicar, e náo julgar. 

Para veripianto o trabalho critico 
é complexo e delicado basta allen- 
der : aque acrílica é já hoje uma 
veriladetra scieucia: a que, como 
seirneia. é das mais coniprehensi- 
vas e a que. por outro lado. se en- 
contra ainda em via tle formação. 

Aquellc que tiver de cxerrel-a 
deverá serum psychologo, capaz de 
conhccertoda a essencial o normal 
estrurtura do apparelho mental, e 
de ver e representar-se Iodos os 
arridentes e perturbações, que ellc 
soffra. e que constituam os casos 
interessantes, individuaes, caracte- 
rísticos. 

Os phenomenos sociaes de 

caracter litterario c artístico, ou 
vistos segundo Tainc. á luz da llieo- 
ria dos (Hc/oj, ou vistos com Iteu- 
neiptin segundo u que chamarei lei 
ilr imiliirilo. têm, como todo ocon- 
junctode phenomenos acluacs. uma 
serie de antecedentes e causas. Uma 
litlcratura como uma sociedade, um 
escriptor como um homemde acção, 
lém de ser considerados náo só 
n um momento ilailo. mas na sua 
evolução: aipiellas atravez de sécu- 
los. eslesatravez deauuos.be modo 
que o estudo de taes aggregados é 
ao mesmo tempo um largo capitulo 
da historia, geral e lideraria, ile um 
povo. ou um cerrado estudo bio- 
graphico.um estudo de iullucncias, 
acções oreacções moraes. 

Os dados de uma biographia são 
preciosos elementos da Critica. 

0 temperamentoe a vida do ho- 
mem explicam os produetos do es- 
criptor. 

A virtude c o sacrifício têm pu- 
dores. 

Manoel ha Silva Cavo 


La Débacle — conclusão. Club curitybano, Curitiba, ano VI, n. 11, p. 3, 31 mai. 1895. 



788 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


2 


as plumas do» deslunilbriintcsflhnpco* 
dc vvlliitlo. 

Tudo concorrerá, pois, para qnc 
essa festa «•']», com» sempre, esplen- 
dorosa, vi*tu i|ur* é unn iiji-iiuh nn- 
nunluvnte. 

A lí li», e nr-MKimr Iciltlfft. 

a.rn Kic viJDO wwonkr 

ll-nlixi-*- hoje nVütr rlub n par- 
tida do corr-mt • m**x. 

O concerto, n jnltfir p«d» >n>rhiln 
WiNilln «]«i-o p •oas qu" » mmj*Vin, 
dw xcr um dos todhorc* «ln dis* 
tilirta SoricJnd*. 

HII*-CÍ'UHlCTI,t’M 

Rcixa-no» i*i» 1*r.*v * a rMÜmavcl 
companhia Ivjui*strn Muroj-a <|U«* 
|r:n r««e tt'*i» \ airmilià •• 

e*p"Ctarnh» i!>* f| i.l -i ; líni jwvr» 
tanto aiiMinlii os hnbitnnt/s •I-hI** »r- 
raljdlM- mii* uma OC.'a*íih>dc tusatli- 
frstnra sua admirarão (edoHtokrprcrn- 
dent*** trabalhe.* priuunstico* com 
qu* npprax-m de no* maravilhar 
o» svmjvdhico* artistas que n cons- 
tituem . 

Orynm dn bairro «I •» U.*tiifo"i», o 
(i*<M‘itKtra uào |> k| * deixar de nnni- 
f-star o praarque sente, nn 

vè.* an* *nli ■-*•• i|' entre nó* r*.»n 
çnnipanlti » qu * fax n* delicia* i!<* 
quanto* Km» » fcliridade dc fr»*«|«i , *ii- 
tsl-a. 

'Hir fnlty d‘* r5t»"»po fira fi 


T^oi »i I irri .m 

ANTONIO 7.AI.I AU 


PHT\r :tha pami\*a 

I 

Tinham nonhido de eh-pnr. Ou- 
via-se ainda o roln.* nbnfndn d« carro 
que Hc afasta va, aoft solavancos, pelo» 

buraco* da rstrn la. 

1). Joviina, s» dona «In cava, »rn:i 
s«*nhor* gorda c Inixn. movia-»*, 
azafitmndn, de um lado pura outro, 
recebendo dn* mio* do crca«lo o» 
embrulho* I«?t8 da lapigrin dn* 
duas Seu marido, d*- p*' t 

junto d** uma n\‘ % *si oval, rjuasi no 
centro da tutla, fallnvn com as rcccrn- 
ch^gada-*, su«trntftndo a conversa 
cm (| ii r * 1>. Jonnnn njH-nas punha 
uma ou outra plimsed" passagem. 

Pçpois, foi preciso abrir o outro 
lado da jtortn pan» entrar uma ca- 
na«tra maior, qu» dou* pr tos carre- 
gavam. 

1). Jnnnnn tentou ahril-a, force- 
jando. á pressa, por levantar o ferro- 
lho; marido, porem, interrompeu 
n conversa, indo a eJh, rapidamente, 
a dix r : 


CRÔNICA 


<;l \N\ B.\K\ 


GREGORIO D1-: MATfOS 

1‘RRXIt. | tTTKUAUIO 

III 

lí-f^re o lii*encindo Manuel 1'ercin» 
H**Im*IIo a «••jruiute annlocta, <|U" 
ponstitu'* um solido ponto d'* |«art;'la 
jnrn n «ppivliensiLo do tnup* enracte- 
ri •»! íi*«» <|e tíreporio de Mattos, n>’o 
conto p<i"tn, ir.ua como limitem, como 
particular. 

1 >;X O Itiòpraplut— lendo O po dl 
Itpndft a sua sorte d de uma senhora 
d" perito um tanto impaciente, auc- 
c •d* , u ijH” um dia, torsula pe|a« i»c. 
e^idud-K c |e*lo ilistrnhimcuto do 
marido • cuja •lescnvoHum sf.o |ta- 
tenfos d* 1 surts (dtnts •«, >••• n | i n 
ermrrnemente rnfadnda e «ahiti t|c 
ca d . 

ll«*eeb»it-n um tio, «pm, não <ih<- 
tnnt** COIlheeer nnlie iíi f|e «iissnhores 
por a(|U-lh tilmn simples e paiien af* 
fei.mada n fot.vn ijuntidiaita, rejire- 
|ieiiil*M»-n com ripnr. 

K. porque ni*ha\*n qn” uma Kc»v»rn* 
cfto ns«iin, K«m motivos jdau«ivcis, 
«■►rill ohjecto dn risota e cseainliilo 
dos vixmlins, f>d-se até o sohrinho, n 
convencei -o pr>m t«*<la n rlictorim de 
ritual, que deverift rceclicr a mulher 
out^a \'Tt, com»» quem tinha ohripa- 
cAo d** dar o exemplo de prudcncia c 
i|c maia larpo juixo. 

(•reporio d" Matto», porém, nüi es- 
teve |K*tn« nulos. A raiva nssntt-r* 


— I\s|r»p:i, .Toannn, capem. . . 

Mas cila nâo consentiu. 

Nilo queria que cll** ll/. rt ««c fnp-n 
— (1 is.se. Pditno ns dons pretos depo- 
xcram a cannst-n qu»* conacrvnvtiin 
Rii«j>*i»!‘a, c um d>ll*a, njocllimlo, 
pox-ac a l«nt *r o fcrrollto emperrado 
j«o- uma npathia nntipa. 

0 prnj*» tinha s * (|esf a ito. As duna 
«cnlioma npj»rnxiimram-ae da porta 
cm que o martello hntia. 1). Ade- 
linn, i» mais velha, conhecido nnlipa 
dos donos d a cmci, clicpou-ac ntaia c : 

— Oh! 0. .toannn, (pmntnsenvom- 
modos!... Que rcvoluçRo por nossa 
cnima!... — di«sc, com a Yozdoccmont^ 
vexada. 

Allttnl nitri ti-so a porta. Afastnrnm- 
*c todos p tra deixar entrar a canas- 
tra. 

— IVmhnrn ahi i»"S»no, apressou- 
se n dixer I>. Jonnna, up* das os pre- 
to* deram alpuua passos. 

Tinha arrastado urn çn|>ncho sohm 
o qual descançaram a canastra mi>- 
Ilíada, jHim não olfendcr a ednra que 
e liria o ft/>allio. K oh p-vfos sahiram, 
dtdxnndo impres.-a no cliâ •, ajwtar 
di* toilnsas prerniiçiVs «le 1». Jonnua, 
a forma espalmada des^us pé.* enla- 
meados. 


cara metade, j. do nu nos mostrou 
que nttapavn mais a *ua liupiebrau- 
livd veia de witvrico. 

Ní.o, rcnpondcu cllc. Minha mu- 
lher fiipiit de ca*a comoqimlquerca- 
crava. Pois l»*m : »<'. ha um melo dc 
consentir i»n sua reentrada. Que ve- 
nha amarrada cu» cordas c por mão 
cniil|»etcntc dc um capitão dc mattu. 

Comp-cliend -u n tio n resolução 
inalmlnvrl dl» pneli», r jtelo mo.l« 
• mais decoroso •, refere n chituiica, 
tratou de faxcl-a regressar no lar do- 
mestico. cumprin«lo-sc assim a capri- 
çhosn im]»o"içAn do rspoao oflendido. 

O eapítão de imtto fexo seu dever, 
c em teinjR» pajroo-Ke-lhe n « tomn- 
dia do rcjfi mento. * 

Ora, cis um fncto qu* não revela 
■«ô o espirito alegre, jrilltofeiro do au- 
tor das .I/#ir/((fr(»/irx. tírc^roin de 
Mu! tos . rã, no fundo, mm tntnr< y.a 
lualipnn, um »*oração maltaxejo. I ín- 
via sempre no* se»* dix-re», IU'S 
s -tjs netos mais despretendosos, uma 
tendência incoercível para o n^rravo 
alheio, pnrn o au^m*‘nto das despra- 

e«s do provi mo. 

^ItAUIfK j« XIOB. 

(CtHti **' r . 


INCITAM KNTO 

(> estudo da llislorin entre mi* é 
um puro cvercicio dc memória. Ao* 
queella nflio íavorcçc acodem cm au- 
xílio ('h proe-svi.s mneinonitv)», mai* 


Chovia. Cm ventinho húmido so- 
prava p*’la jmrta nVrta, hnlouçando 
n« bamhiiicllns. Ap"iiasos prctiw sn- 
hiratn, fcchou-*en porta. 

Houve uma rapida mudança dc 
tcmporatuni ede son*. 

A chuva não produzia ruído, ern 
um chuvisco miúdo, duo mas conti- 
nuo: a|v*nas no vão de duas plirnse* 
ouvia-se emtnrno o pottejar monoto»»o 
dos heiraes do telhado. Tinham dado 
seis hora*. Cm crepúsculo ncvtvento 
caliin. pel a * vidraças feehadns, vit.in- 
sc os ImrizontcH muito proximos, co- 
ti-rtos dc uma cerraríio pardacenta. 

A mucama trouxe lux. 1). Jimnnn 
ordenou-lhe que ncccndcase tnmhcin 
ns velas dos quartos r, mais haixo, 
que trouxesse nui panno par» enxu- 
par n canastra que escorria, c limpar 
n lama que cahtra dos pcá. 

Kseurecin. A chridade l>aea do 
crepn^ulo chuvoso, desmaiava n lux 
do Iam peão. Os moveis tinham con- 
tornos ind»visos, esfumados, perdhlo* 
nos nnpulos somhrios ila sala. A mu 
dos cantos, via-se o vulto escuro da 
canastra luxidin, n*um amontoamento 
confuso de cmhrulho» p-quenos, ma- 
la*, saecos dc viapem. 

Sobre a me*a, rrntomo da qual 


professores embutem na céra rnollo 
doseort broa juvenis n tnhelln rnfn- 
donlui da* dnta* históricas, núa e nbs- 
traetn como uma cu numeração inn- 
thematica. 

P<ir isso. muitos do* homens fei- 
tos, dos doutores nflleialmente ha- 
biütndo* para reper c diripir os 
I»»ho* vacillanti-s «lo nosso llrazil, 
*p>e ainda entorpecido pelo frio da 
lonpn dominaefin colonial, começa a 
**e aquecer prepuiç(»*ai»rnt" ao nuli- 
wnt«* sol da liltenlnde, lião lhe snl*'in 
precisar n* t -udeneia* nem definir <> 

se» temperamento social, uiih w a-.- 
scritam sem motivo, conllam outros 
deinasindnment 1 * no seu futuro ; tudo 
isso por inéras presuinj*;-!,-* <*eutl- 
mentars rm que i»ã'» entra neiihurna 
previsão «cémtiliea, 

K* qu • do pravíssimo r*tudo da 
Ili*torin. que ú o fundamento da 
Soriolnpia, ní.o lhe* llcnu senão 
uma reconlm-Ao confusa, cm (pie ú 
vupa sensação ile cansaço de uma ta- 
refa material e forçada se associa o 
tropel desordenado dc uu* nomea 
Imrbarnn de mistura com uma* datas 
sem nevo nem Bipnitlcaç-ãn. A lipação 
histórica, o fio lupico que encadeia 
o* facto* C puiu n espirito philnso- 
phicii no sepiiimento dc uma lei so- 
em!. quebrou-se-lhr* ao p-*o do» nu- 
mi»n(iso» incidentes secundários e «ta* 
minuciosiiUdes pueris, amontoadas 
pejos chronista* no vasto accrv«i, qtié 
forma o cnpilal hístorico do mundo. 

•1'e.Hso '•ra^eíí’. * 


cstnvam sentados, ns duns senhoras 
nn divan c o doutor e 1). Jonnna cm 
cadeira», unia multidão dc caramu- 
jo*, conchas, tc teias, arripiava n su- 
pcrfieíç envernisada c lisa onde n lux 
sc reflcetia. Ao ln«lo, sobre uma Ca- 
deira, jnuto dos chaj>éoH de chuva c 
dc um cliale atirado, um ci-stinho de 
cainhncia dealncnva entre o vurde 
luxidin das folhas, a côr amnrclliula 
dos fructos. 

Adeliin.ao Indo de Oljrmpia, com as 
fitas do cliapéo desatada», conversava, 
r«*s|iondei»do ás jicrpimtas dos dono* 
da ensaqu” *»* interessavam muito por 
seu* parente». Conheciam-iEa linvia 
já muito* ânuos. O l)r. Teixeira, ns- 
Rcvcrava tel-a carrcpido nncdlo. l>c- 
jKíis, tiveram estr«*ita* rclaçOc* com 
j i d 'dia, homem a quem o doutor 
dera muito dinheiro a pnuhnr, mn 
sujeito activo, muito trabalhador, 
•i mas muito caipora. • 

— Que ern feito dVII-? jicrpuntou 
o llr. Teixeira. 

Kl!» diss* * *p»c estava bom, que 
continuava na còrte, sempre muito 
alar.-fadu, muitos nepocio». . . • 

(Con!i/tu«.) 


Incitamento. Guanabara, Rio de Janeiro, ano I, n. 9, p. 2-3, 21 jul. 1883. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


789 


fit AN MíAlí A 


ntrnvcz do* baldios esptnhoao* do 
[nanado, do» cncontrõeacom » fnbula i 
e a legemln popular, «In* iniptvnsões 
violenta» e penivcis causadas pelo es- 
pectáculo «In gloriosa lula «la libcr- 
dad«i c Mitra n oj*prc«*fio, da razão con- 
tra urrro, «la luz contra a trcva cspi- 
ritunl. d* leitura palpitante «Tcmh 
sublime rpujK-a «lo progrc**o w» re- 
sulta um profundo s«*ntiin«*nto do 
terror, otorror do «leaconheeldo, uma 
impressão d« pavor Íinn»cn*o, ijuo 
não conseguem vou ror nunca »«*ecs- 
sidadc» pusteriorr* «lo uma nova in- 
vestigação do pixsado. 

IValil provém a incerteza nn argn- 
tnrntnçã", toda cila p.ilnvro*n r fúfa, 
<jun«i fominil, que wiraetrrisa o fundo 
acientifleo reservado p ira a* frrawh 
©pcnsiu oh momentos solfiiinw «*in 
hue a Datria «o contorce na» convnl- 
ftÇic* d" uma crise social, judos nossos 
lcgidadore.», qnc, embriagados [Ho 
vinho quente da eloquência tropical, 
pnstum cm formular a medittiçiio o 
tempo qm* dura a crise. K*tn se ro- 
*nlv«, atinai, natural mente, o que é 
talvez, melhor e n nirtio recmnpcnan 
os *eus impotentes servidor»'» com a 
ploria e n gratidão publica, «piando 
não com posto» e honrarias rendosas. 

IVomc» não lia maia progresso iit- 
tcllectual a c*p*rnr, porque elle» jmt- 
tenccin á claaac dos que yuanto mais 
f ma urnas apreudna, nn esprcsaSo 
de Brficke. São os mednllióes olA< 
eiars c mapestoaos, para quem a sei- 
«‘i . « uV, tom seírredo». mas q -c nfi 
ae’«lignntn desvendni-os ao profano 
vulgo, jiorqn" prulcm ser tommloscm 
falso, c n fallil)iiidn<le é o começo do 
desmoronamento doa idolo* milagrei- 
ro». Depoi», a pontoridndc ri «rellca, 
mas já ftira de tempo o o exemplo im- 
moral predispõe n imitação. 

Todos se supporiii com rnpn-idnde 
para nssnmir a responsabilidade «le 
«lirectore» do capital social : «l'alii a 


CANCIONEIRO 


d<> sol envolto nas brumas do 


AZAS HfMlDAS 

Melhor, muito melhor, anjo. tc fora 
Não roonre», brincando, ns leves plumas 
Das tuas azns — brancas corno espumas — 
Pela minha cabeça pcecadora... 

Não ha cm mim a pa/a prntcct»ra 
Ha< rosas frescas onde oá rés perfumas ! 
Nem o macio cindido .las brumas 
Onde poreja o carmc/im daurora ! 

Arfa teu seio nn delicia '•xtrem i 
Como o peito sclvaecm de Iracémi 
N‘aqucllc sonho olympico da réde... 

Vieste rompendo as castas madrugadas. 
Ouc ainda tens as pennas salpicadas 
Dc crvstallino orvalho... c cu tenho s‘*de ! 


II. Ix»ri:s. 


i» cnrncfto c eorrcr-llie pHo corjK» o 
calafrio rb-eteirn «In «•ntlmsin*inn, nn 
n««i«tir ú» se«*nn» glorio*»» 

<ln c qiqiii-tn «1 a innndn jHe Iwnv-m. 
tíntfin ngitn*«e cm nó* o fiurnno senti- 


luta ineaquinha «• aviltante do» int* 1 - j qu"m não ai ata pu!»ar-Hi«» mai» vii 
ri**»es [►«■•.•tones prejudicando a cauna 
du Píitriu, «Valii a degrailnefio «lo* ca- 
ractere* [Ho cx» , rcirio «loa abaixo» 
sentimento» «lr* egnjsmo. 

Or»,dACHpcetacii|oi , Antri.»tador«l"«H'’| 

aviltamento do indivi«ltM> na luta ma- dn mento ne*«n individualidade, ri- 
teria! p-la c\i»toncia »<• ha dou» b-ando iiiiíhoiia eom o briodo» nonao» 
meio» «h* «nliir : [Ho embevecimento mjtep'i«*ado», SAoa» nobre», n» miii- 
no mv»tii*i»mo r»*!ij?ini*©. e paH». f«iga tnaeommoeiV» dn Historia, qim He. 

eovard«*do mnndoe «laaquestíie» qii» vvm o hom-rn acima «la» mia-' ria» 

tiYllc H«i»gif»m, n pretexto de proen- da vida e o ^("mperam no «l^nejrt de 
rar paz e pureza em um inundo im- , imitar exemplm» sublime». O «p»e 
lior e deaeonheeido, não se condnml '•\i*t*' «lentmdn m‘»«. o no««to iu/H.t. 
com o» deveres civico* decadaum; ou imprime-no» uma tal vitalidade que, 
-ante.*>;«ai*-' In dVnnd^.^o bo- 1 V.s dn .birnrfln rH-eniera d" ■ 
mem en HerseRo do espirito noeultoi nr>««i vida animal. Iiiiaeamns reviver 
da Humanidade, e es»e remédio só inrn a» gencôeR vindoura». í‘nntri- 
rnrontmiia Hsi*torin. buir para n grande ohm. ligando o 

]la prnmlexn «lo bomem, disse mi. j ho«ío nome n um florão do rdiflrio 
enfio nlhriiiniii nutra coimua» e»tr«i- 1 aVial, «'• o inHn mai» aegnro d" eonir- 
nhes heroica» «IVswi poema grandioso j gulr em ímmortnlidade. 
que canta os triumpho» do espirito Além d‘i»»o,c do futuro que espera - 
anltre u matéria, da liluinlade nobre a mo« t«Hloa a nossa completa rodem p- 
fatalidade, do bomem aobrea natureza ; cão. 

hnitiil, feroz, indomada. K nfio lm . Não (• tfln faeil, porém, lobrigar o 


! luiaocntc, como dcarortinar-llm o re- 
flexo na» montanha* qmr tlcain no 
piMuitef). HerodotO «o* conta que 
mV» a*i qral [kjvo »la A*ia tendo 
|«ronii'tti<lo n eorôa n quem primeir. 
vix*e ajKMitnr <• «li», todo* utt Mitos, 
ancioso», olhnvnm para o levante; um 
só, iiuiíh cxjwrto, voltou-sepnrn <> lado 
op|>o»tu ; i-, eom «dlVito, em«|ii!into o 
oriente estava aindn mergiilhndo nas 
Htinibra*,c||r «listinguiu jnira n* ban- 
«la» do jKH iit** os dardes «la alvorada 
que já branqueavam o nlto do uma 
torre J 

K' ú lii»tori:i que nós devemos rc* 
.•orrer, é o furto que «levemos interro- 
gar, quando 8 ide;» vucilla o foge aos 
UOWiOHolliOa. l>irijamo-no»a«>* séculos 
ant«»riorc.* ; soletremos, interprete- 
ino* estas propinada* «lo passado 0 
talvez entre elln* distingamos um 
raio matinal «lo porvir. 

Domício p* Ga xi a. 


Mieblvt. 


iOninrriM 


L. Gonz.voa !>i «vvk-Ksth.xpa. 


KI.OU DA nOIIEMIA 

A t.. (IWUOA ncqVB-RKTRADA) 

[Miuro uri «piem c, tu Habc* menos. 
qa<* uüo *abc* nnda »'• «lo qnc sinlo 
<^ii:nido n iinagliM», n cor|Kiriitw a pinto, 
iV»mo •*» rugi. «le mu lopioM »ersno*... 
Almuite iiM'l com pingo* «le nh-yntl 
i » corpo nnlente »to» poilts moreno 
r.‘ i ibKrttw.eJ. 

Termo», ii pintn o editor 1‘ilint»». 

Flor que cntuntieo c serpe qnr rimpja. 
Aqui, ulll, além, lii.lo perfuma... 

Tudo envenena o »pie sou lnldo beija.., 
S"o nnunle iPlioje. n rir-se, d dirnnlo. 
D. v "Mba a», illnsôas, nuu por «mm, 

Que >'ll;i arraneára »o dermdciro a manto. 


111 

0 MAJOR I.lll KR ATO 
No dm seguinte, depois dn minha 
chegada á cidade de H . . n primeira 

|m*sv,-.i» a quem mo «lirigi f»>i uo jr.ii' 

jor l.*l>-r:it«». 

Km um homem nlto e completo. 

Parecia fúto cm ninn só linha que, 

partindo <b> alto «la cabeça, ter mina vn 

no tacão «la 1 >,! vesto, suj«it«> 

earmnemlo, partiripand«i ainda dn 

di<:'iplinn da caserna, e vicioso para 

«» fumo, como um chim para o opio. 

Dcsüfe n* cinco horas «la iiiiiiihã até ás 

oito da noite, o major l.iberatn. mor- 

dia charuto*, r rst<- vicio, jirovnvel- 
ínent'* grang«'a«lo «!«• ha muito* an- 

no.«, eniprrgimvn »► seu hálito «le um 

olor eujoativo dc fumo ordinário, pnr- 

<jur o» charuto» que o major monlia 

eram «le preeo tmixo. 

O major habitava o quarto n. fl, no 


corredor ú e*<|uer«la, do //.»/c/ íufjlrr. | 

iá haviam tres anno*. •' eu n n. b «lo , 

mesmo rornxlor, i»toé, o meu quarto ! 

fleíivn dc ris i» ris eom o d'elic. 

IvMtnva n<» jardim, e«|M*ramlo o café, 

quando chegou n velho ofllci-*d eom o 

sen passo firme e |«e«ado, sobretu«lo 

prosso e bonct «le seda rnt«'rrado até 

o pavilhão «In* orelhas. 

- -Hem dia, doutor, disse- meelle. 
—Rnm din. Sr. Jiar.lo. respomli eu, 

pnrrju*' neliei-lho assim uns tons dc 

titul.ir. 

— Perdão. V. S. engana-sc; não 

tivenimlan honra dn imperial graça 

do baronato. . . 

— Pcrfcitamente. meu «^ro scnlinr. 

nem e*j tão pouco fiz jtiz ao perga- 

minho. . . 

Klle ralou-se, cuspimlo a saliva 

»nnr«*lta«la por musa «lo charuto que 

já ardia no conto da lxieca. Arras- 

tou-se n um «lo* canteiro* proximo», 
colheu iima rosa Stlinn Fcrrstier *•. 

extraordinariamente dclimdo, não 

desfazendo cointmto a carranca reu- 

|«citnvc| «me H»e servia de rnrncteris- 

tico: - V. S. não ama a- flores ? 


— Muito. Tenho alguma coii*o dc 

Mphnnse Korr. e. *e n* não cultivo. 

«'• porque outro* nflUzcrcK toinam-mc 
n ntteneflo. 

— Ah! V. S.. segundo ouvi «liz*'r 
liontem á n«*it-. é dn» lettra» !... ex- 

clamou o major, muito eurioso «1» 
niinlia profissão — ma» V. S. nmla n 

jmsscio, não é assim ?. .. 

— 1“ facto... 

V»*«-ta «wvnsífio «Sua* elegante* se- 

nhora» passaram pHn nossa frente. 
Cumprimentaram-no* «le leve, e se. 

giiíram. em meneio» *cduc toros, para 

o lad° o[»posto «to Hotel, 

— Vão, A «lneJia. disse o major. 

—lí são «|o Mofei ? p<Tgunt«'i. 
Moradoras «lo quarto n. 10. A mai* 

moça. a dc rntHto» louro*, é filha 

.«)•»* um diplomata estrangeiro; » 

• aquella nltn, é sobrinha «lo natnra 

I li*ta Ilofon, sábio liollamtez qtiecslá 

ba tre* annos entre n«i*. Duns meni- 

nas bem educada*... 

lí conclui, fietninio-as d*' longe : — e 
amavel». 

S* havia curiosidade n<» major cm 
saltcr «> que cu era, mai» havia cm 


Asrroxio /.u.c»n. 


mim cm saber qual a sua importan- 

i i.i, A v-utnrei-riic. pi»i«, ó p-rgunta: 

— Queira «le*culj»or-mp n curiosi- 

dade, porém noto no meu nmnvrl co- 
iilovido, tcsln ii «listineeáo de um fi- 

dalgo... 

Klle não me deixou rom-luir a 

pbrase. tir«>u de uma enrteira de 

couro dn ltUHsin o sc«i enrtão frisndo 

«Pouro, com monograinmn azul fer- 

rete, «• entregou -me com pnrlapa- 
tonada* dc rdn«'itçfto finissimn. 

Dixia o cartão: 

I.IKKKATU MAKQllíS 
major urfouviauq 
C umprinicntci-o cm um eoujt t U 

uai* mo»I«»rn«>, e troquei o meu car- 

tão, muito simple* c sem titulo «le 
rrcoininctidn«;ão. 

Desde este’ momento ficámos in- 
separaveis- 

Todn* a* manhã*, á« cinco horas, 
«lescinmo» ao janlitn, iamosn dovcha^ 

«Icjioi* espernvanion ocafée »ahiuuio* 

n i-av*llo até* á primeira pnnt$ dn es- 

trada que vern á paupérrima e poe- 
Jtica cidaile «1«* 11... 

Continua . 




E 






790 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Rio do Jaaciro — Sexta-folr a 33 do Novembro de 18 38 

GAZETA DE NOTICIAS 


MUKCnO AVULSO 40 RS. 


ÍWvja i *rva ■ u» ncer» fe Iraiiawigtotito * *ao * «ribfcilníHi 

Tlmsoiu J4.LXJO •■•mplkrn 


NUlCftO AVULSO 40 RS 


MBIME TWPILLE 


rVSC: oi PAMtz tolhas de hera 


«U-REI o. uutx 


MrucTiuinno 




I1IS UM ITSTIIN 




1==.- 


AVCMIOA ACnXA 








mtMiU iwtaou 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 327, p. 1, 23 nov. 1888. 9 


9 Trata-se da primeira contribuição de Domício da Gama para com o jornal no papel de 
correspondente internacional, bem como o testemunho de suas primeiras impressões na “ca- 
pital do mundo civilizado” (como noticiado na mesma página, junto a elogios à sua pessoa, 
à esquerda.) 



DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


791 


DE PARIZ 

Snmcnario.— Nota Bmiicio. Cansos imuglnitlvoj. 

Nomes por Uéai. A Imprensa contra a Queslura 

da canura. Doulang»r-Kokcnplor. Pepa. Cabo- 

tlniwno. Da comedia moderna. Questão a dis- 

callr. 

Pariz chama-sc indifTerentemcntc Ba- 
bylonia moderna ou Athenas, conforme 
querem achnl-a a mais corrompida ou a 
mais artista das cidades modernas. 

Byzancio ninguém diz que cila 6. By- 
zancio é uma especic de nome sujo, que 
traz logo á memória dos bacharéis dis- 
cussões pueris entre rhetoricos, uma im- 
peratriz sem savoir-viore, um circo tão 
grande que podiam matar dentro d’ellc 
trinta mil pessoas de pancada, Belisario 
cégo c mendigo c as apoquentações dos 
barbaros devastando as provindas do im- 
pério e amençaudo a própria capital. 

Entre estas cousas ha algumas que o 
nosso tempo não permitte: a magestude 
das alturas o o terror do ridículo impõe 
a circumsnecção e o respeito dc si mesmo 
aos quccstáoclc cima, nos circos só morre 
quem cahc do cavallo na carreira ou de- 
saba do trapesio ao chio c os gcncràes 
da republica são aposentados com orde- 
nado inteiro, mesmo antes dc ficar 
cégos. 

Mas os dois ílngcllos mais graves, que 
são as discussões entre os rhetoricos c n 
ameaça constante dos barbaros, persistem 
sempre. 

A França acha-se completamentc iso- 
lada no meio da Europa inimiga e n 
Europa é inimiga da França por causa 
dos seus rhetoricos— dos seus homens de 
estado, dos seus jornalistas, dos seus 
homens-de-estado— jornalistas. 

Basta ler seguidamento meia duzfa de 
iornaes e revistas para ficar convencido do 
byzantiuisiuo iuíreno que por aqui vai. 
Faz-se um tal alarido a proposi to dc cousas 
frívolas que não se ouve mais a vdz dos 
que são razoáveis c tem bom ccnsò pra- 
tico. A gente delicada, que se fatiga fa- 
cilmente, torna-se indifTorcntc ás questões 
mais graves da cansa publica, ouQ os- 
deveriam prcoccupar cxclusivamcfitc. Cf 
rmdo que fazem os intrigantes convence 
aos de boa fô qno o capitolio está bem 
vigiado, pois que os gausos não cessam 
de grasnar. 

Esse grasnido impertinente ê o que 
mais irrita c incita os barbaros contra a 
republica. (Não 6 preciso explicar qitc 
barbaro 6 tudo 0 que não 6 franco/.). Esta 
nova cspccio dc gansos tem imaginação, 
o que 6 um defeito n’cste casq. Ellcs inven- 
tam e vêm inimigos imaginários, mesmo - 
entre si. D'ahi a possibilidade dc um pâ- 
nico na hora do perigo. Bem sabemos 
que o franccz 6 a personificação dá cora- 
gem c do patriotisqio. Mas sem direcção., 
e sem ordem dc que val^a&pcrgia cívica? 

Toda agitação ?ocial que riflo e. feita cm 
torno dc uma idea é improflcha c vã. 
Aqni entre os partidos polificos naò ha 
uma idôa que so imponha doufioante, nem 
mesmo duas quo se debatam nOs espíri- 
tos. Ila nomes. 

Mas entro um norao que corresponde a 
uma pura abstraeçáo para esta sociedade 
aristocratica e perdida de vaidade c os 
nomes quo têm apenas o prestigio da 
legenda, a ingênua clnsso média hesita 
um pouco e por fim escolhe o médio, 
termo, para enn representada no nome 
do general burguez, ideal dc transição 
entre a monarchia vexatória e oppressiva 
e a republica demasiadamente lassa e não 
formai ista. O povo tem a intenção da 
unidRde política necessária e pára esse fim 
faz a sna escolha cLeste ou d’aqucllc'noiiic, 


mesmo quando ellcs vivem em uma civi- 
lisação complicada. 

E' a mim, 6 ao vizinho, 6 a todos n6s 
quo a operettn espreita, a todos os não 
sinceros, cuju apparcncia nâo diz com 
o espirito, a todos os que por ambições 
mesquinhas ou por iniutclligenda do seu 
valor condcmnaram-so a uma desafinação 
irremissível. Mas não é aqui mesmo, 
n'esta bella c harmoniosa cidade, que se 
encontram os mais bellos exemplares, as 
fôrmas inais variadas ou dolorosas ou 
cômicas da vaidade humana, que è a 
desharmonia do querer com o poder? 
Ridículos nào sei se são os impoteutes ; 
para mim são lamentosos. 

E lamentáveis. Nas horas de depressão 
causada polo esforço empregado em 
apparcntar uma energia quo nao temas, 
nas occasiões cm quo so despe as roupa do 
personagem que figuramos, nós nos acha- 
mos bem tristes e abatidos e miseráveis. 
Cada um pódc sentir em si vinte vezes 
por dia a afilicçào dc D. Quixotto sensato 
e moribundo. E, como não temos a hu- 
mildade. christã que dá n paciência c a 
resignação, soílrcmos ainda mais. Mais 
quo a cavallciro da bondade c do amor, 
mais que o symbolo sublime do ideal 
combateute. Promctheu vencido tinha o I 
abutre, o renascimento perenno das en- 
tranhas devoradas, a luta eterna c a es- 
perança . Nós temos o abutre do ridículo, 
a gargalhada escarninha cm vez do cêro 
das Occnnidcs c o terror indizível da 
morte para sempre. 

Soílrcmos mais, aflirmo. Não ha quem 
não tenha tido o agonia das pequenas 
miscrins ouc fazem ranger os dentes, 
accendcm lagrimas de íngo nos olhos que 
não sabem chorar e apertam o coração 
n’uma ancia de vinganças baixas e, 
com a fadiga dos golpes cm vão, nos mul- 
tiplicam na cabeça os cabcllos brancos, 
precocemcnte. Ha comedia ahi? para os 
espíritos grosseiros, sim ; para os exte- 
riores á significação das cousas, qne só 
abula a brutalidade, o impulso quasi me- 
cânico do fado material, crú o palpavel. 
Essas, que têm a emoção rudimentar 
quasi animal ainda, são os que no thea- 
tro riem do Mcrcadct em apuros, como 
no circo ririam do palhaço que leva pon- 
tapés c bofetadas. 

Ila mesmo ahi ainda um resto da’mal- 
dade do homem primitivo. Mas não é 
esse o fundo do caracter que o theatro 
procura desenvolver lisongeandp-o. Se o 
drama nos sacode violcntamcnlc c pelo 
espectáculo da desordem nos inspira o 
desejo da ordem c da calma o dissuade de 
velleidadcs possíveis de rebeldias c des- 
concertos, a comedia não deve sor sqnão 
o espectáculo amável dc uitfti intriga 
qualquer em que não possa entrar o irre- 
parável sob a fôrma do crime ou da dõr 
que esmaga. A comedia devo scr IjJtni- 
nosa c amena; nenhuma sombra dc^jlies- 
tõ:s profundas deve cnturval-a. Umá Uis- 
tovieta dialogada e ao vivo, eis tudo. 

Mas a litteratura dramalica toma muito 
a serio o seu papel, hoje anachrorfico, 
dc doutrinaria. Parece quo é isto um 
defeito inherente no facto dc scr o palco 
superior à pia 1 6a. Seja pelo que for. o 
theatro hoje ô horrivelmente moralista.- 
Não fatiando de Dumas Filho, em cujas 
comedias ha sempre um personagem quo 
nréga, qualquer obra mesmo dc um fn- 
ijricnntc dconcrcttas como Mcilhac, tem 
uma grande uósede moralidade para. im- 
pressionar as senhoras c os folhetinis- 
tas. A's vezes, mesmo a preoecupaçâo da 
doutrina faz descuidar-se o anctor da 
verdade c propriedade do typo. Na Pepa. 
por. exemplo, a protogonista (?), quo 6 


unidade política ncccssaria e pára esse fim 
faz a sim escolha díeste on d’aqucllo'noinc, 
a quo attribue valores arbitrários. 15 os 
‘directo rexMntelloqtuaes da nação, cm vez 
,de csclarccer-llie a eleição ^ensinando-lhe 
o verdadeiro valor de uma idéa, defl- 
nindo-lhc mais a fôrma uni pouco vaga 
•da Republica, vivem occupados couisigo, 
sonhando polittcas anachronicns c im- 
possíveis ou discutindo questões de pura 
formalidade, byzantinas. 

A questão agora na camará dos depu- 
tados não é a revisão, nom o imposto so- 
bre a renda, nem os orçamontos esmaga- 
dores da guerra o da marinha ; é saber 
quem vence na luta travada entro a mesa 
da caniara c as jornalistas que importu- 
nam os deputadas, entre os qunes ellcs 
têm muitos collcgas dc imprensa. Ma- 
dier dc Montjan vai perdendo o apoio dos 
seus; a imprensa ferve contra ellc. ..Mas 
6 byznntino isto ou não 6? 

E o povo vai-sc preparando para eleger 
Boulangcr, novo Heradio que lia dc ir 
contra os barbaros de leste e destruil-os. 
Na volta fal-o-hão imperador ou qual- 
ner outra cousa assim. Então os aeca- 
entes, que ainda vivem um pouco en- 
vergonhados, mudarão os oscriptorios das 
suas revistas das ruas transrersaes para 
o grande boukvard . 

Entrou o frio ofiidalmcntc. No ultimo 
dia de outubro vieram do lado da Ingla- 
terra umas nuvens feias que agazallia- 
ram cm crepe negro a magua do céu de 
outono. Começou a chover dc rijo. 'co- 
meçaram a apparccer-mc respingos de 
lama até nas pontas do collarinho, reco- 
meçaram ascoryzas c bronchitcs agudas, 
o Theatro Franccz deu a sua primeira 
peça nova: estamos no inverno. 

Bem fraquinha a tal peça nova I Tão 
fraca e ordiuaria ouc a gente sabe triste 
do theatro. considerando a pobreza dc 
invenção iLtqucllo produeto imaginativo 
c a humildade nas exigências esthcticas 
dos espectadores que applaudem áquillo. 
E' obra de um comcdiographo de nome c 
de espirito—' Ilen ri Mcilhac c dc um cri- 
tico dramático cheio de tah*nto e de fama, 
qno sc chama Louis Gauderax e que 
está destinado a substituir Halévy junto 
de Mcilhac. que parece não poder viver 
senio em concubinato Jitt erário. Pois 
saliiu chôcho o primeiro frueto dos seus 
novos ninores ! 

A comediasinha, que sc chama Pepa 
simplesmente porque ha lá uma menina 
com cs«c nome, è a historia banal dos 
descarados que tornam n querer-se dr- 
pois da separação. E' a quarta comedir, 
que ouço em Pariz sobre este assumpto <• 
nán ha dois mezes que aqui estou. K ha 
muitas assim. Ora a pobreza cias acções 
moraes nas peças do sou theatro que é 
no entanto o unico theatro ainda vivo 
no mundo inteiro, devia fazer pensar esta 
gente. Mas nào. Faz-se aqui em cada 
canto dc jornal, de revista, dc café ou de 
cenáculo (ainda ha cenáculos) uma es- 
thctica furiosamente diílicil. alta. intran- 
sigente e dura para as obras primas cm 
qualquer ramo dc arte c dc noite applau- 
ile-se a pilhéria mais safada no theatro. 
com os pés, com ns mãos. com o e'est 
charmant ou o cV*f drôlc , çà, quando nào 
c com o c'esl rigolo ! Sào assim os fran- 
cezes: capazes dc pensar com alteza ed« 
impôr no* outros a mais liella cstheticn. 
mas deixando-so Jevar pela scducçào es- 
pecial do cabotin. E afinal de contas o 
cabotinismo é qne 6 sincero. 

Na peça de Mcilhac c Granderax ha 
ura bom typo de cx-presidcnte dc repu- 
blica do Sul da America, quo corrijc-st a 
todo o instante n si c aos seus das exage- 
rações espectaculosas com o terror da 
operetta que os espreita— 1'operette nou* 
guette ! 0 rastar/uouére 6 um cabule de 
ridículos e. quasi tanto como a sogra, 
um elemento de succcsso na baixa co- 
media pariz-iense. Os comcdiographos 
atinun-lhes ás costas todos os defeitos 
que a circumstancia do exotismo do per- 
sonagem pôde justificar da sua exagera- 
ção ue mascara. Egoísmo, imprudência , 
basofla, descaramento em questões de 
moral, uma quasi inconsciência do bem 
e do mal, que facilita os maiores destem- 
peros em materia de sentimento, tudo 
adoçado por muita bonbomia tornando 
imavcl o personagem, cada um dos es- 
pectadoras acha n ‘ellc um pouco de si ou 
antes um pouco dos amigos c conhecidos 
e interessa sc ror essa psycologia fácil, 
transparente, toda de primeiros movi- 
mentos, que enrneterisa os tvpos simples, 


verdade c propriedade do typo. Na Pepa. 
por. exemplo, a protogonista (?), quo 6 
uma americana do sul, ardente c cnpri- 
chosa, fumando cignrras, roendo choco- 
late e batendo na criada (côr local), a so- 
brinha do cx-prestdcnte da republica dc 
Tiorras Calicntcs, tem a linguagem e os 
sentimentos da menina franceza bem edu- 
cada. figura exemplar de romanco ho- 
nesto. 

0 typo 6 tão contraditorío c falso que 
a Rcichcnbcrg, uma actriz dc muito ta- 
lento, admiravcl cm outros papeis (na 
adoravcl Souris dc Paillcron, por exem- 
plo) c complctamcnte nulla n'esta. Na 
peça que e muito curta ha tres tiradas 
moralistas, bem som graça. 

0 publico applaudia. 0 publico applau- 
do sempre os ar.torcs que sabem portar-se 
bem cm srena e são commcdidos cm 
gestos c dicção. Ora no Theatro Franccz 
cada sccna de comedia ou drama mun- 
dano é uma lição de clcgancia e corrcc- 
çáo do maneiras. 

Mas, se lia actores dc talento c aucto- 
res o publico, por que o theatro vne em 
tão rnpida decadência aqui mesmo em 
França ? 

0 franccz embaraçado por uma per- 
gunta responde ns vezes: «Ah ! voilà...» 
Eu respondo ordinariamente que seria 
preciso um longo discurso explicativo. 
Como agora: falta-me o espaço o o tempo, 
dois elementos csscnciacs dc qualquer 
actividade. Mas cu bem sei a causa das 
causas. 0 leitor ignora que sc mo seguir 
n’cste curso dc Pariziologia tlcarà um 
sabio por fim. Mas com tempo. 

J). dá Gama. 

Pariz, 5 de novembro. 


0 bond n. 3 da companhia dc Carris 
Urbanos foi ante-hontrm, na rua da Al- 
fândega, de encontro á carrorinha de 
mão n. 171, que era conduzida por Anto- 
nio Gonçalves Pereira. 

A carrocinha ficou com a lança partida, 
e solTrcu também estragos a parede da 
casa n. 325. Foi o prejuízo indenmisado. 


A policia começou ante-hnnfem a pôr 
cm execução a postura municipal que 
obriga os donos dc tavernas n fecharem- 
n’as ás 10 horas da noite. 


SKSSÃO 011DINAK1A 

Presidiu a sessão o Sr. desembargador 
Serafim Muni/. 

Foram julgados hontem c absolvidos 
por unanimidade dc votos Augusto Ger- 
mano da Fonseca Costa c João Caetano 
Martins, accnsacios de terem espancado 
José Manuel dc Carvalho, ferindo-o gra- 
veincute. 

Foram defendidos pelo Dr. Carlos Au- 
gusto de Carvalho.* 

Serão apresentados hoje, mais os se- 
gui n tas processos de réus presos: 

José Gregnrin da Silva, prisão dc 3 do 
julho c pronuncia dc 25 de setembro do 
1SSS. — Oircnsas pbysicas leves. 

Claudlno José da Silva, prisão de 21 
julho e pronuncia Hc2G de setembro de 
1888.— Tentativa dc roubo. 

Luigi Raymundo. prisão dc 17 do ou- 
tubro c pronuncia dc 13 dc setembro de 
1888.— OfTensas pbysicas leves. 

José Alves da Silveira, ausente.— Of- 
fensas pbysicas por imprudência. 

K serão julgados os tres primeiros d’esta 
lista. 

SESSÃO KXTKAORDINARIA 

Comnarcecrani 38 jurados. Foi julgado 
o réu Damasio José dc Freitas, accusado 
dc ter ferido levcincnle José Antonio Gal- 

ai„n 


De Paris (detalhe) 




792 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


( 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 13, 13 jan. 1889. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 793 


OE PAKS2 

Dopois do um dia do chuva o dois de 
nevoeiro, a volta do sol claro trouxo o 
frio deveras. ç 
Gela. 

De noite os lampcões da praça da Con- 
córdia rcflectcm-se no chio, tornado cm 
immcnso espelho. Os carros vflo muito do 
vagar, os cavaltos tacteando a calçada es- 
corregadia c sonora. O vento do norte dóa 
nas orelhas. Passa toda a gente a correr, 
do mãos nos bolsos, ngazalhadas nosrz- 
gatos ou nas trouxas quo carregara. Os 
escriptorios do omnibus são um abrigo 
temporário. .Nas primeiras horas da noite 
ha ahi o morimento de um formigeiro. 
Mas á meia-uollc Paris-turlilhdo resu- 
me-se na sahida*dos theatros ; o movi- 
mento 6 nos boulevards. E às duas ho- 
ras ahi mesmo é lugubre. A praça então, 
deserta e silonciosa, tem a apparcncia 
cheia do mngestade o graça dos logares 
que so imagina como seriam nalonia ou 
na Hcllade — arredores do templos ou 
cidades monumentaes, com archilccturas 
vagas no horisonte e perto columnatas, 
quo o luar sereno e frio destaca da som- 
bra das fachadas. A camará dos deputa- 
dos ao sul, os terraços das Tulherlasa 
lòste, o ministério da marinha e a Mogda- 
lena ao norte, íavorcccm a illusão. No 
centro o obelisco nostálgico parece vaga- 
mento rosado, do cucõntio aoflQjulo azul- 
escurodo céu multo limpo, onde as estrol- 
los scintillam. As duas- bcllas fontes 
não jorram, ' caladas. A avenida dos 
Campos Elysios, com os seus rosários 
de lam peões unindo-se para os lados 
do Arco do Triumpho, parece abrir-se 
na sombra á passagem do olguma 
cousa obscuramente solcmnc. Do meio 
da ponte o amphllheatro luzento do Tro- 
cadcro de um lado, o do outro as linhas 
dos cacs para o Louvre e o Instituto, esfu- 
mados a léste, augmentam com os refle- 
xos trementes na agua negra o brilho da 
illuminaçào. A cidade 6 então como um 
palácio cm festo, onde as luzes brilham 
mais nas salas vasias, após a partida dos 
últimos convidados. Ha um adormeci- 
mento ou uma expectação, conforme se- 
jam cansados ou excitados os nervos do 
que contempla, pois que está sempre cn 
nós mesmos a suggcstão das cousas 
Pariz dclxa-se ver melhor assim, i 
horas mortas, no silencio c na sombra, 
do que entre o tropel atarefado dos quo 
andam lidando pela vida. Quo n'cstes 
dias do frio nem a cspccic flaneur ol ’gra 
mais as ruas. 

O flaneur flno, isto 6, o rico dcsoccu- 
pado acha sempre abrigo o palestra cm 
qualquer café, atelier ou casa do amigo. 
O t>obro, isto 6, o vagabundo triste fre- 
quenta os museus c galorias publicas, 
que são aquecidas. Como os bancos não 
H silo muitos, alguns cochilam do .pé! Ku- 
i I costado ao parapeito do ferro e parecendo 
mirar com uttenção um quadro do flores 
Uo Huyzum, no Louvre, vi hontem um 
^ ol hosfocliÇkdqSjT i u ha<) mUorjccido^ 


agora os 22.000 autos c os processos con- 
sequentes do Sr. Wilson. 

O procosso cm divorcio do general 
Boulanger não é um cscandalo. A recep- 
ção do Sr. d^Iaussouvilio na academia 
não ò um acontecimento. Só a morte da 
duqueza de Gallicra ó um luto para 
muitos. Foi uma santa fidalga, qucachou 
meio do distribuir cerca do cem rnilbõca 
ela sua fortuna em donativos, obras pi&se 
de interesso publico. E era imniensa a 
quantidade de pobres soccorridos por cila. 

Na Faculdade de Pariz II zc ram -se mui- 
tos comprimentos a uma moça polaca de il 
turnos, Mllc. Carolina Schultzc, que do- 
fendeu theso de doutoramento. Dissertou 
sobro A mulher medica tio século XIX . 
Charcot fez-lho uns ologios ironicos ; os 
estudantes, que iam para rir-se d'clla, 
deram-lhe um ramo de flores, c as suai 
collcgas um banquete. 

Tão feliz não foi hlllo. Popolin, uma 
doutora cm Direito a quem recusaram a 
inscripção no quadro dos advogados do 
Bruxcllas. Não ú moderna, a judicatura 
belga I 

Nos thoatros houve duas ou tres pri- 
meiras representações sem brilho algum. 

Não ó quo o espirito francez seja in- 
ferior; ó que o publico exige sensaçõoa 
novas. A mesma phrasa de espirito repo- 
tlda enjoa. O bom é o melhor ou o peb*r. 

Quaudo so diz que uma cousa é ruim, 4 
porque cila não 6 nova. 

Esto é o crltcrio da gente que se di- 
verte. 

Os livros novos, que são muitos n'eato 
tempo, também não . são bem nova* 
parece. Ao menos, faliam tão pouco 
d’clles... ' 

Interessa-nos um, recentemente publi- 
cado. E' O Folk-Lore llrésilien do Sr. 
SanFAnnaNcry. E* obra para critica do 
especialistas. O príncipe ltolando Bona- 
parlc, quo 6 um forte no assumpto, fez-lho 
um prefacio critico. Depois do fallar nos 
numerosos factorcs cthnographicoa diflfo- 
rentes, que ainda não acabaram (nem já- 
mais acabarão) de constituir o typo brad- 
leiro, cito concluc:«Um paiz formado ^co- 
tas condições devo possuir cvid*ntement9 
tradições populares tão variadas quanto 
originaes .» Eu pensava que era o con- 
trario. O que 6 não entender das cousas! 
O livro tem cerca de 300 paginas e dà 
gosto lel-o, porque 6 clcgautcmcntc ct- 
eriplo c bem impresso. No Am ha um 
pedaços de musicas populares, que ao 
prlucipo ltolando pareceram Wune savettr 
é frange. Entre cilas o Bltú. 

O acontecimento que dá a nota mali 
triste, a dominante da semana, é a cu- 
Irada cm liquidação da companhia d* 
Canal do Panamá. Foi hontem votada na 
camara a urgcncia para discutir-st a 
proposta de autorisação do governo pwra 
quo cila suspenda por tres mezes o paga- 
mento dos seus coiQJOiu. Ha tanta pe- 
quena economia alli empenhada e era 
risco, quo essa questão commcrcial par- 
ticular constituo uma questão financeira 
c pubUi-a. H-\ c v 

o cncampamcnto s* 


costado ao parapeito do ferro c parecendo 
mirar com uttenção um quadro do flores 
llimum, no Louvre, vi hontem um 
olhos foc.Ur^os. Tintu-o ciUoraccido 
I a qatliiuraoilíaia «' 
rido (l’nquclla primavera em pintura, 
talvez. 

Os guardas são indulgentes para a 
pobra gente. Quando algum está paro 
conversa, admiram juntos us pinturas 
dos mestres, discutindo-as. 

17 sempre o pittoresco o quo faz suc- 
cesso. As pequenas telas sympalhicas sio 
mais mirados quo os quadros solcmnos. 

Um Ribera ou um Carrache faz frio, 
mas um interior do Teniers, uma bambo- 
chata flameuga tem calor c vida. 

Examinando o publico do uma galeria 
de arte, pódc-sc fazer uma lição de cs- 
lliclica, da sua evolução histórica. Não 
ha logar para cila aqui: sò uma menção 
curiosa. Na sala, quo chamarei da Gio- 
conda, havia um homem estudando um 
grupo do um Ticiano e cinco mulheres 
copiando quadros. D'essas, uma.moça feia 
c triste pintava para um leque uma sccnn 
de pastoral galante do' Watteau, e das 
outras quatro, velhas, algumas dcoculos, 
uma copiava um Terburg c tres copinYam 
Corregios. Achei dolorosamentc signill- 
cativo o contraste c a sclccção d'aquollas 
pobres creaturas. D'abi, talvez fossem 
cnconnncndas. . . 

Das visitas nos museus, ás salas de bl- 
bliothccas, uos gabinetes do sábios c es- 
críptores, aos ateliers de artistas, aos 
cantinhos soccgados da cidade, traz-se 
uma impressão bem dilíerente da imagi- 
nação que se fazia desse turbilhão que 
chama Paris. A's vezes entra-me 
em casa, á 1 hora da noite, um ho- 
mom encasacado, enluvado c engra- 
vatado de cerimonia. Ycm do algum 
baile ou saràu mundano, bocejando. 

E cm vez do contar rotlellat c mexe- 
ricos. cm vez de fallar-mo da festa, do 
vaidades o mundanismo, conversar sobre 
o acontecimento político do dia, sobro o j 
livro, sobre a questão social urgente ou 
sobro civilisoçõcs desapparccidas. longín- 
quas ou por vir, com problemas de mo- 
ral, c csthetica consequentes. Tal qual 
n’uma tediosa republica cm S. Paulo, 
■rum banco do jardim no Rio. om es- 
criptoil > de advogatío sem constituintes, 
ou cm cafc de jornalistas lheoricos. Uma i 
questão de csthetica allcinã, discutida I 
um dia sentados no meio do inatto, en- 
tre o som cadenciado do machado o a 
cantiga dos escravos serradores n) es- 
taleiro ao pé, dá uma impressão ex- 
quise do exotismo, renovada assim entre 
o resonar da grande cidade, ouvindo a 
espaços o tropel do cavallo c o roJar lar- 
donho de um carro quo se recolhe, ou a 
cantiga lamentosa, entrecortada de so- 
luços, de algum bêbado quo lá vai 1 Si- 
lencio o quietação que provam que ao 
lado do turbilhão sempre ha remansos, 
quando nãoc o mesmo turbilhão que pára 
ita I sem causa assignalavcl. 
de ] Agora ha um quasl amortecimento, 
apezar de ser plena estação para a grande 
vida parizicnsc. 

ei- 1 Os jornaes distrahiram-se da política, 
do. I onde as mesmas questões tornam-se mo- 
■t .tonas. Ahi sú ha o fiasco final do Sr. 
Numa Gilly, que, assustado cem a perspe- 
ctiva de lautos processos que lhe cabiram 
cm cima, renega o seu livro, diz que não 
leu os seus Doniert, que toda a responsa- 
bilidade da obra cabe aos seus compadres, 
que lhe Impuzcram a oollaboração c to- 
:::arnm a assigoatura, e finalmcntc, io- 
pidiando o painphlcto c aceusações iTelIe I 
contidas, faz aeto do contricçâo. Tem I 
esta sabida do sendeiro o rompante leo- 
nino do tanoeiro justiceiro. Aos seus col- 
laboradores (um dos quacs, o Sr. Chirac, 
lem a mancha infamante do julgamento 1 
do um tribunal de Marselha, retirando- 
lhe por indignidade a tutoria dos seus 
illlios), aos roussoeiosnVsso trabalho in- 
gente de puriib .v.ào da patria, já a opi- 


quena economia am emponnaua o ei* 
risco, quo essa questão commcrcial par- 
ticular constituo uma questão financeira 
c pública, II* c *■ 

0 cncampamcnto j* 

companhia pelo Estado.' 

O abalo ó enorme. 

DoMtcto da Gxux. ** 


Pariz 15 de dezembro. 


Na fortaleza de Santa Cruz festeja hoje 
a irmandade militar do Santa Barbara a 
sua padroeiro com missa cantada, &s 
111/Z horas. 

CÂMARA EtiUNICflPAL 

Effcctuou-sc hontem a sessão extraor- 
dinária fla Camara Municipal, para eleição 
das commissões. 

Approvada a acta da sessão de 7 do 
corrente, proccdcu-sc á eleição das corn- 
missões, que ficaram assim constituídas: 

Fazenda. — Leonardo Gomes, Rosário 

.Souto Carvalho. 

Justiça. — Alexandre Fontes, Bone- 
dicto llypolito c Thomaz Rabcllo. 

Obras. — Torauato Couto, Firmo d* 
Moura o Souto Carvalho. 

Saude c praças. — Nabuco de Freitas, 
Gonçalves e Cândido de Carvalho. 

Matadouro. — Cândido do Carvalho, 
Torqnaío Couto c Jardim. 

Instrucção.— Rosário, Alexandre Fontes 
o Patrocínio. 

Patrimônio.— Nabuco de Freitas, Leal 
e Silva Veiga. 

Redacção. — Fontes, Rabcllo o Patro- 
cínio. „ .. . 

Os Srs. José do Patrocuno o Cândido 
Leal pediram dispensa dos lugares par* 
que loram eleitos, mas submettendo o 
Sr. presidente esse pedido ã camara. veri- 
ficou que não havia numero e suspendeu 
a sessão. 

No começo da sessão o Sr. Dr. Ferreira 
Nobre compareceu para agradecer aos 
seus collcgas a sua eleição para presi- 
dente. Em seguida retirou-se allegando 
motivos de moléstia. 


Foram concedidos dous mezes de licença 
a D. Eugenia do Oliveira, professora da 
escola do S. Sebastião 'lo Alto, cm Santa 
Maria Magdulcna, paro tratar do sua 
saude. 

Esli publicado o 1* fascículo do im- 
portante trabalho financeiro, o llan- 
i/ueiro, do Sr. Scrzedcllo Junior, c do 
que já nos occupámcs om anterior no- 
tícia. 

O lUuiqueiro 0 um novo o completo 
[ratado theorico e pratico de câmbios, se- 
guido do histórico da instituição dos 
bancos de emissão, c do systoina mone- 
tário dos nrfricipacs pnizes, e com grande 
desenvolvimento quanto ao Brazil c l*or- 
tugal. 

O nome do anctor o a sua longa pra- 
tica de guarda-livros cfn ensas impor- 
tantes c estabelecimentos bancários, é a 
maior rccommendaçào para a obra, quo 
• editada pela ca<a Laemmcrt & C. 


Assumiu o commando da guarnição t ^ 
fronteira de Jnguarão o coronel Carlos 
Machado do Bittencourt, commandantc do 
2* regimento de cavallaria. 


Rcalisa-sc hoie, com todo o explcndor, 
a festividade do Senhor Bom Jesus do 
Calvario da Via Sacra, cm sua venerarei 
ordem, havendo missa solcmnc ás 11 • 
horas da manhã c sermão pelo Sr. vigário 
geral monsenhor Raymuudo Brito. A’s 7 
noras da tardo será entoado o Te-Jkum. 
Estio encarregados da parte musical os 
professores Raphacl Filho o Guilherme 
de Oliveira. Antes da missa, proccdcr-sc- 
ha ao sorteio dos donativos legados a 
viuvas c orphãos pe!os bomfeitorcs: 
Rvd. Dr. Miguel AÍTonso. Dr. Jacintho 


De Paris (trecho) 




794 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 33, p. 1, 2 de fev. 1889 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


795 


, A sessão do s.'nado, hontcm, foi um 

• acontecimento político e uma cspccio »ic 
1 festa parlamentar. 

1 Fallou Challemcl-Lacour, e o sou dls- 
s curso cic uma alta. eloquência, persuasi- 
1 vo, lógica e vibrante, foi um resumo do 
\ processo do |X>1 i tica-rad ical . 

Como já lin alguns nunes, o senador por 
) Bouchos-du-Rhôthc consorvavn-sç ãrre- 

• dndo do política militante ; n sua rcon- 
’ trado na liça fazia n grande aUracçào da 

sessão. 

j Para arrostar de frente o assalto, lá cs- 
i tavam os membros do gobincto, que no 
i actunl regimon primeiro rep^senta estd 
j polilica. Stíjá dito do-passageni qUe, ntasta 
terra em que à corngom o a valentia nilo 
admiram mais a ninguém, o menos que 
i Floquct terá adquirido, deixando o poder, 

> será a iuslissima reputação do um Bayard 
da éra nova. Força do convicções, língua 
, amestrada e um bom punho de espnda, 
tudo o que clic põo ao serviço do seu par- 
tido c da França, faz d’ello um campoào 
bi/nrro e de respeito. 

No entanto bem precária 6 a sua po- 
sição. O orador opposicionisla mostrou 
< bem vivamente isto. 

Depois de expor o programma republi- 
ca o que muito louvavelmente quer dar 
satisfação ás principacs c mais urgentes 
necessidades publicas Challemcl-Lacour 
assignala o singular dcscoutentanionto 
que a execução d'csse programma causa. 

Programma c o.\pcuç'o são cousas dif- 
ferentes. E’ a execução que merece cri- 
tica. 

« Não creio que entre os adversários 
das grandes cinprczos de que acabo de; 
fallnr, entre os que a combateram desde 
o começo c os que nilo cessavam de crili- 
cal-ns depois, não creio que boja alguém 
que lhes conteste a utilidade c mesmo n 
grandeza. 

Ainda ma : s. Não lm um partido, um 
governo, mesmo sem oxccptuar o partido 
co governo realistas, que possa terapro- 
tenção dò kc ter ocetipodo tanto cm me- 
lhorar o armamento industrial da França, 
cm aperfeiçoar o ensino popular,, cm 
sunvisara sorte dos pequenos empregados. 

Mus a Republica quiz fazer de uma sò 
vez mais que todos o.i outros regimens 
juntos. 

For que, então, estes projectos, de que 
tanto se esperava, não uorain depois de 
dez nnnos senão estas consequências 
desastrosas ? » 

A esta questão o orador vai responder 
impondo silencio aos seus preconceitos 
partidários, cm pura consciência. Ellc 
estuda o espirito das classes conserva- 
doras, mostra o perigo das conclusões 
extremas tiradas do ideas absolutas, cen- 
sura a deplorável confusão de leisobstra- 
ctas com leis de política. 

Perdeu-se de vista, diz ellc, a conside- 
ração de que os princípios absolutos são 
bcllos de ouvir-se, mas que è perigoso, 
não direi, assustar as crenças— ninguém 
aqui pensou n'isso— mas inquietar os 
hábitos c tradições das populações. 

Havia em França um partido não 
conquistado, talvez lrrcductivcl, poderoso 
ccrtamcntc, terrível quando falln, peri- 
goso quando so calaj havia íobretndo 
oonulacõcs immensns alfoicoadás a cren- 


«j Mas. senhores, a França não se acha 
icuuzitln a esta vergonhosa ronflssâo. 
5*0 o governo parlamentar perdeu n co.t- 
llançn de um eerio numero de fran rezes, 
não o sua a culpa, mas sim d.« Iiomcns 
quo desconheceram as condtcòea «Icsio 
governo o que ignoraram a sua ua- 
Tureza. » 


Pareceu -mo quo i»lo ô o moxmo qua 
dizer que a luz do uma véln é ruim, não 
|x>r culpa da luz mas por culpa «!a vélo: 
Para a gento de gro«so Imt scuso (co- 
meça a ser respeitada, etaa geaU* 1) õ a 

éln nccesa, quo mão dã boa !uz, o quo 
deve ser substituído. Nlnghc.n quer saber 
do luz sem ob.ccto illuuiiit uile, nem do 
parlamentarismo «cm parlamentara. So 
os fraiicezcs náo pódein ser bons parla- 
men tares, p lurlánicntprismp não pôde 
dar senão maus resultados cm França. 
E n este tempo oin quo. todos se resigeam 
tão facilmente ã perda das illusõcs, quo 
muito ó perder mais esta conquista da 
ròvolução? 

Para todas as nações latinas, tão des- 
asadns om matéria parlamentar, a questão 
ó interessante o merecedora de estudos 
urgentes. So a França tem perdido osso 
tempo com o regimeu parlamentar, 
quanto mais na outras I • 

E' provável, porém, que os tacteiamoq- 
tos governativos persistam durante lon- 
gos annos ainda. Porque ha um cousof*- 
vatismo mnis forrnnho quo o que defendo 
as instituições sagrados pelos séculos: é 
o das conquistas .'evolucionarias, é o con- 
scrvfttismo progressista o liberal. 

Dnlil vorn o uucloritarixmo de novos 
regimens políticos, que carecem do so 
impor e do manifestações visíveis, sensí- 
veis, de poder. Dalii vóm nas nações 
novas, como no nosso admlnislratlvisslmo 
Brnzil, a intervenção constante de (odoo 
apparalo da ordem superior para a r.xo- 
cuçáo de medidas o detalhes miuimos, E 
á falta de prestigio da ordem jazem sem 
tradição, nem garantias de duração o 
cohercncio. • 

Perorando, Challcmcl loteou r põz om 
fronte da política radical uma polilica 
benigna, honesta o razoa voÍ,‘ nms de pro- 
grammas vagos, vagos, como o purlnraon- 
tarismo quo exige . cm primeiro logar 
homens capazes. Quando ellc descou da 
tribuna, Léon Soy propoz que o seu dis- 
curso impresso fosse distribuído por todas 
as com munas do França. A proposta 
discutida não foi votada por falta do 
numero. 

Floquct respondeu valcn temente. -N4© 
é dcllo a culpa, se ha dcscontoutamonto. 
0 seu programma, que nada tom dc myà- 
terioso por isso que 6 o mosmo que o iki 
Challcmcl Lacour seguiu por tantos au- 
nos,nuo é posto ora pratica com n rigidw 
myptica que dizom. A prova c o abandono 
do scrutinio do lista, que n opinião pn- 
blica manifestado por esses quatrocentos 
o tantos jornacs pede. E concluo : 

«Quizeramos dar A nação armas xcgurtf 
pnrn que cila se defendo contfti o volta 
nefasta dos salvadores providcnciacs. •* 


hábitos e tradições das populações. 

Havia em França um partido nilo 
conquistado, talvez lrrcductivcl, poderoso 
*• ccrtamcntc, terrível quando falln, peri- 
goso quando so caln; havia robrotndo 
populações immensns airolçoadns a cren- 
ças, que se podiam suppor adormecidas, 

< mos que são sujeitas a rocrudoscondos 
pasinosas e que tomam na vida da famí- 
lia mais logar do quo n polilica occu- 
pará jamais. 

Esta precipitação nas cmprczns o 
estes ataques a opiniões que tem diroilo 
a todos os respeitos foram um duplo 
, erro. 

Foi n primeira voz que ouvi um repu- 
blicano fazer a critica da intolerância ro* 
publlcana, ainda que mal a proposito 
n’esto caso, porque defender-se dos par- 
tidos, que para conquistar o poder impor- 
tam-se pouco com n segurança do listado, 
náo é fazor política vexatória c opprcs- 
sivn. 

Mas o facto 6 que no governo absoluta- 
mente impessoal da republica ha como 
que uma necessidade de fazer sentir viva- 
mente, energicamente, continua c inces-, 
sanlcmcnlc a actiridade governativa do 
que se chama vontade do povo. 

Caprichosa vontade que dá motes ás 
bandeiras de todos os partidos c que já 
deu n lição de sccpticismo nos homens de 
Estado I Ninguém mnijç a toma a sério, 
inlimamonto. Mas em seu nome ínz-sc 
tudo c cada candidato a piloto da náu do 
Estado aponta. para a sua ventoinha di- 
rigida para um rumo diifercntc. Iiacada 
salto de vento, quo mais parece um so- 
pro de loucura. 

Agora a consulta feita por Floquot 
sobre o modo do eleição responderam 376 
(tresentos o setenta c seis) jornacs pro- 
nuncinndo-sc a íafor da moda antiga c 
00 sustentando o scrutinio de lista. E lá 
so vai um dos títulos de gloria de Gam- 
bettil 

No discurso do Challemcl-Lacour lm, 
|*orém,' cousas mais graves. 

Depois de fnllar do descontentamento 
que seguiu-se ú subida do radicalismo ao 
poder, ellc diz : 

« Alem d'isso, derrubando succcssivn- 
mente os ministarins e ram quo nuxiiios I 
com que nlliauçns ! o radicalismo levou 
a Franca a dcsconflar, senão a dozgos- 
tar-íeuo regimon parlamentar. 

Desde quo este descontentamento tor- 
nou-se uma preoccupação publica, assis- 
timos a este csrc.-taculo inesperado c 
curioso. He um lado os quo fomentaram 
c exploram o descontentamento dizem 
que, se tudo vai mal. a culpa é da Con- 
stituição; c os que tem a missão de 
defender esta Constituição como um der- 
radeiro baluarte, repetem como um òco: 
a culpa é da Constituição. B de outro 
lado os partidário? da dietndura, os an- 
tigos c os novos cesaristas, partidários do 
sabre ou da nnarcbin, dizem igualmcnlc: 
a culpa 6 do regímen parlamentar.» 

O orador defende mollcmcntc esse re- 
gímen, que todos começam a julgar planta 
Oxotica, inaclimavel. que só na Ingla- 
terra medra c dá bons fruetos, mas a es- 
pécie de cxbortaçáo, que a este respeito 
faz, indica bem os seus receios, a duvida 
do seu espirito sobre a profieuldade do 
parlamentarismo. 

« Mas se por acaso estivesse averiguado 
que o regimon parlamentar é impossível 
ac ncc liinar -80 n'csto paiz, que os seus 
homens mio incapazes disto, que eliisrnso 
possuem j»ra o prulienr nem bom senso 
nem o desinteresse necessários, as conv- 
queneias dessa ndirmnçâo seriam terrí- 
veis. porque isso equivaleria a convir que 
tudo qin a França soíTreu foi cm pura 
perda; •• que. d<';x>isde ter prosoguido du- 
rante tantos séculos a roalisaçio da liber- 
dade. depois de tòi-a obtido, cila a viu 
«fundar-se em lUin derradeiro naufrágio. 
Teríamos de dizer que, depois de ter roni- 
pidn. lm um século, com uma farnilh de 
grandeza sem igna!. a França con- 
domnada a cabír aos pi‘s do ultimo dos 
aventureiros !.. . •• 


pnrn que cila se defenda contVa n “volta 
nefasta dos salvadores providcnciacs. •» 

Depois, respondendo n uma pergunta 
precisa do Sr. Tolain, sobre o boulnQ* 
gisnio. cllg.t|iz caUiegoricamentc: ■ ^ 

« Sim, so as leis forem violadas, sebers»' 
mos fazei-as respeitar; ss forem insuffids 
entes, nffo hesituremos cm jjedir novas.*' 

Foi um importante aeontccimonto osse, 
mas foi o unico. O ducllo Clcmcnceauh* 
Morei, que acabou por uma estocada ná 
celebre ducIlisU, não vivou senão um dia 
nos jornacs. • 

A primeira representação, bontem, èo 
flnsco de Germinie Lacerteux^ do Edmua- 
do de Goncurt, noOdcon, merece uma nC' 
ticia n pnrtc. 

Ha o nevoeiro, uma cousa curiosa, qut 
faz de endn encruzilhada de ruas ou pra* 
ras de muito transilo um conto de theatro 
de sombrínlmsT 

De noite, com o luar, quo dá á bruma 
opaca uma pliosphorcsccncia magica, 
andando pola rua está-se sempre ne 
centro de um circo branco, tela moventa 
cm quo surgem o dosappafeccm sombra» 

O ruido ó menor, as appuriçõos são sú- 
bitas, capríchosamcntc distribuídas áa 
vezos o ou tias vezes como orcliestrnda# 
por imprecisas cadencias compostas na 
visão. Parece quo se está fóra do mundo. 

Em Londres o nevoeiro é amarcllo, sujo, 
cm 1’ariz c branco. DiíTcrcnçn da fumaça 
do carvão para a da lenha. Mus dizem quo 
cada anno o nevoeiro do Pariz escurcco 
mnis. Pariz dccabc, então. Ou a leaba 
torna-se cara. 

Douteto da Gama. 

Pariz, 20 de dezembro. 


A pedido da Congregação do Meniao 
Jesus c Nossa Senhora ela Conceição, o 
Sr. Dr. Domingos Freire presta-se a vnc- 
cinar contra a febre amarclln, os mo- 
radores do bairro da Saudo. Para essa 
fltn nchar-sc-hn na sachristin da capella 
de Nossa .Senhora da Saude, amanhã ás 
1 1 horas da manhã. 


Ha na rua Tlicrcsina, no morro de Santa 
Thcrczn, uma sargeta, quo vem de uma 
chncara da visinhança, c que, cm tempos 
de sccca. constitue-so um fúco d» pestes, 
porque n’clla se demoram dctriclos orgâ- 
nicos cm decomposição. 

Já tem havido n'cssa rua casos fataea 
do febres, muitos moradores so tem mu- 
dado, c os outros vivem aterrados. 

Chamamos para o coso a nttenção da 
Inspcctoria de Ilygicne, e a do fiscal da 
fri*guezía. A causa do mal é conhecida, 
não deve ser difllcil coinbatci-a. 


No anno de 18S8 as receitas da câmara 
municipal de Lisboa eicvarain-sc a 3,134 
contas íorlos. 


IMMIGRAÇÃO 

Chegam hojcpclo paquete francez Vtll» 

Í 'e S.Nicolas, 2a famílias do colonos por- 
nguezes, compondo o lotai de 2ÍG indi- 
víduos, senta 11 famtlios do contracto 
Lusitano Andrade c H do contracto An*- 
gelo Fiorita. 

No dia 27 do mez proximo findo salda 
do Genova o paquete Mndostan, condu- 
zindo 30 familins italianas destinadas á 
lavoura da província do leio de Janeiro. 

Amanhã ou depois d'amanh& devem se* 
conduzidos rara Macahé c Campos oa 
cearenses utlimamente chegados a pro- 
víncia do Itio de Janeiro. 


Depois, respondendo n uma pergunta Aqui o estrondar das palmas e appl.m- 

procisa do Sr. Tolain, sobre o houlan- s I»’*« «tútiiu ao orador tomar f..l ; , , 

.gismo. cllQ.tjiz cathcgoricamcntc: n. :irr3n i a: ' ,,n * l 1 ""''" 'I'' bálsamo (mi a a 

» sr«. ca .. J. V"’' 1 , df i ii l.'iiiu'iilarisuio. 


De Paris (trecho) 


796 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Kjmço OE EWQTO 


1 












DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


797 



ftúo fica bem ao viajante {o sobretudo 
ao quo vém de terras barbaras) a frieza 
nnte os espectáculos e cousas do enthu- 
siasmos consagrados. 

0 sabio critério do consenso unanime 
dos povos dá livre curso As maiores fal- 
sidades e principalmcnto As expansões 
menos sinceras dc sentimentos, cointanto 
quo sc apresentem com etiquetas co- 
nhecidas. As phrascs feitas triumpham, 
são honestas, tôm credito. Impressões 
pessoacs, discordantes dc sontir geral, 
por explicadas e justificadas que sejam, 
sào sempre impostura dc modornismo c 
scepticismo do máugosto. Que me importa 
a mim, leitor ou ouvinte sem pretenções, 
que um senhor que escrova ou falia tenha 
a alma Ana o sensitividade afinada por 
este ou por aquello tom, se não 6 por 
min» que ellc se atina o se não tenho va- 
gares nem disposição para me afinar por 
|Clle? Não tenho interesse algum cm 
, admiltir a verdade saíc psc v pvcl que me 
não esteja nas cordas, isto é, que não ' 
! seja do meu sontimento, dado quo ella 
não seja necessária. Fallem-mc cm cousas 
sabidas quando mc quizerem interessar 
sentimcntalmcnto. Classificadas como 
n’um stcreoscopio aperfeiçoado, estão cd 
dentro as figurações quasi symbolicas, o 
apparelhamento de CAda substantivo com 
o seu adjectivo legitimo c attributos con- 
sagrados a cousas -que at6 já dosapparc- 
ceiam, cultos persistentes de religiões 
mortas. 

Mortas para outros, nilo para mim que 
careço d’ellas, pelo sou cíTeito decorativo 
e clássico. Porque eu, o loftor ou o ou- 
vinte sem pretenções, sou no fundo con- 
servador e clássico. Pois quo nSo sou 
artista, nem contemplador activo, para 
quo fatigar*me em desfazer e recrear 
contrucçõesestheticas de cujo valor nunca 
mo passou pela mente indagar? 

E’ de efieito decorativo para mim a 
concepção quo tenho do Pariz como uma 
cidade cujos habitantes, bellos o intclli- 
gentissimos, só vivem para os prazeroso 
a alegria. Os primeiros numeros da II- 
farfratfen, que mc mostraram em menino, 
occupavam-se de bailes imperiaes, dc filés 
dc Longchamps, caçadas em Compiègne, 
festas da alta sociedade o festas do 15 de 
agosto, a alta e a baixa alegria cantando 
em toda parto perennemente. 

Não eram bons os desenhos em geral, 
c a gravura era péssima ; mas aquelles 
lustres resplandecentes das Tulherias, 
aquellas fardas bordadas o adornadas e 
os decotes das mulheres em gala, aquelles 
cavallciros hirtos e correctos, especles dc 
S. Jorges rciour du Bois, aquellas pban- 
nsiosas kerxnesses populares no Campo 
do Marte pela festa de seu amado sobe- 
rano, aquellas perspectivas infinitas dos 
boulevards e avenidas, que Haussmann 
rasgava na cidade antiga, dilatavam-me 
o coração, como um bom sonho. Castellos, 
que eu porventura fizesse, d’cm archl- 
tcctura se Inspirariam e seriam habitados 
portal gente. Fazendo companhia a uma 
Nossa Senhora do Amparo, vagamente 
murillesoa. viria no saerario da minhn 



a competente Inmsmisdio da machina a 
vapor qnc trabalha no subsolo o pOo a 
soa forca dc 200 ou .100 cavnllos á dls- 
posiçio da casa inteira, pódo julpar-so' 
dos progressos do indlvidnallsaçilo da in- 
dustria em Parir. Pensaram cm desviar 
a familia operaria da corrupção moral,' 
que traz a promiscuidade ca solidão nile- 
cliva das grandes fabricas, os emprera- 
rlos d'esses alojamentos. Nem tudo i 
seccnra do coração c pura ambição 04 
pnnho entre os homens do dinheiro, por- 
tanto; o isso c outra opinião corrente a" 
modificar. 

Outra observação a quo um passeio no 
ugar das barraqninhas pódo servir dc 
verificação, 6 quo não c tão gorai o con- 
stante, como sc diz, a jovialidade o o boui 
humor francozes. Dentro doa lojas ha 
muita physlonomia revelando cuidados 
c npprehcnsõcs • sobre o resultado da 
venda quo não corro bem e ameaça dee- 
pezas c o proprio capital, pois que ob- 1- 
jectos do moda não pódem ficar da venda 
do anno, sem se tornarem alcaides. E 
•Wra das lojas especulando , ba a gente 
triste, obrlgnda a economlsar nos ma- 
gros orçamentos para comprar mes- 
quinhos presentes de festas que bnmi- 
lh«m ao que dá e não são agradareis ao 
que recebe. E ha o frio que cóiia, a 
chuvinha miúda que cria e aggrava as 
corizas e os bronchites e a lama repu- 
gnante que parece salpicar-nos até o co- 
ração... 

Mas como dizor istó.com a phrnseologia 
antiga c consagrado, como fazer sentir 
aos quo tanto como eu são conservadores 
cm matéria litteraria. que Parir hoje nào 
c mais a capital do prazer, porém uma 
vasta ofllcina, um laboratorio c um mer- 
cado onde se rir e o cantar são recreações 
do trabalho o nuo gargalhadas e canções 
dc saturnaoa. 

Não posso correr os riscos do inno- 
vações porigosas. Melhor ò passar por 
cima d'isto e dar noticias, o qoe quer 
dizer — terminar acarta. Porquo nada 
houve de nota cm política, nada em litte- 
ratura (tudo são livros d'ctrcnncs • o que 
ha) c, aparte suicídios, noticias do in- 
teresse local, dramas domésticos que ao 
desenlaçam violentamento, aparte a fuga 
co suicídio do um corrector da praça 
(Bex) que jogou e perdeu o dinheiro dos 
outros e fcz-sc livre pela morte da pu- 
nição das leis. aparte a execução do 
Llnska de Castillon (Prado) que teve lugar 
bontem e dá-mc ares do um verdadeiro 
assassinato judiciário, núo houve na se- 
mana cousa quo mereça a preciosa atten- 
çio do leitor o o trabalho do uma adje- 
ctóvação cuidadosa e ceremoniosa para 
ser contada. 

Sim, houve : Uma reunião de cerca de 
quatro mil accionistas da companhia do 
Panamá, quo deliberaram fornecer os 
fundos necessários ú conclusão das obras 
(faltnm apenas 400 milbõés I) e continuar 
a depor cm I.esscps a confiança quo sem- 
pre lhes mereceu, as considerações finan- 
ceiras cadcndo o passoj A importância 
patriótica da obra. Dinheiro cntbusi&s- 
mado é outra cousa moderna. Quando 
lhes digo QUC 6 nreciso mudar a nhraiMv. 


S. Jorges rciour du Bois, aquellas pban- 

nsiosas kermesses populares no Campo 

- do Mnrto pela festa dc sou amado sobe- 
° rano, aquellas perspectivas infinitas dos 
t . boulevards e avenidas, que Haussmann 
a rasgava na cidade antiga, dilatavam-me 
“ o coração, como um bom sonho. Castellos, 

quo eu porventura fizesse, d'cssa archl- 
tcctura so inspirariam e seriam habitados 
portal genlc. Fazendo companhia a uma 
“ Nossa Senhora do Amparo, vagamente 
_ murillesca, viria no sacrario da minha 
veneração a Imperatriz Eugenia. Uma no 

- céu c outra na torra. .. Ê o povo do Pariz 
q e do resto da França era apenas a nume- 
r rosa comparsaria, que guarnece o fundo 

- o os lados do palco, emquanto no pro- 
j sccnio os principacs jjapeíj fazem bravuras. 

Concepções assim pbantasistns estão 
a condemnadns a desmerecer e a modiflear- 

• se ao attrito das realidades o informações 
J diárias. Os tempos mudaram, as cousas 
. e as pessoas tendo mudado. O império 

- morreu afogado na lama das traições e 
[ no sangue das batalhas, a santa dc olhos 
l moigos vivo no luto c no exílio como uma 

- rainha shakespcareana, as Tulherias ar- 

• deram como uma fogueira de alegria do 
l povo c a comparsaria avançou ao pri- 
5 moiro plano no alarido ensurdecedor dos 

fins de acto. Até os desenhos dos Jornaes 
illustrados ficaram melhores, mais ar- 
i tistos. Mos não tão deslumbrantes. En- 

• contro n’cllcs agora o chic, a maneira, 

’ a execução o não o assumpto. Importa- 

me pouco o povo, a canalha que não é 
pittorcsca, porque embora mudado su- 
perflcialmcntc ficou sempro em mim cora 
o romantismo indclevel, a admiração ser- 
vil pelos cousas quo não posso ser— rei, 
artista imperial, fidalgo dc sangue ou 
nome historico. (Digo isto com franqueza, 
publicamente, porque sei que tenho mui- 
tos confrades nVsta religião do snobismo.) 
Pariz democralisadn, sem côrtc, dissi- 
pada e sem corrupção explcndida, è para 
mim como um templo vasio dos seus 
deuses. Não posso sentil-a assim. t - 
Por isso não me bateu mais forte 
o coração qnando penetrei nos seus 
muros, por isso vago por ella morno 
c triste como por uma casa cujos donos 
estão ausentes. Não acho mais emprego 
para as minhas queridas phrascs feitas ; a 
cxhibição dos cnthusíasmos consagrados 
c dos grandes sentimentos seria ridicula- 
mente fóra de proposllo. E’ preciso dar 
fóms c crcditos litterarios a sentenças c 
qualificativos novos c apropriados. Ardtm 
o penosa cropre/a, quo seria mal aco- 
lhida pelos outros conservadores n.cujos 
insuccessis não encontrariam indolgcn- 
cia. 

Entretanto è preciso, desistir de procu- 
rar o interesso da Pariz quo sc diverte. 
Acha-se abi a monotonia do prazer c a 
impressão deprimente do todas as pan- 
degas. Basta estudar um pouco a adjecti- 
vaçào das noticias das festas semi-sérias 
ou orgiasticas. A hypocrisia e a bonne 
tênue corrigem a expansibilidade dos 
sentidos e cortam as azai ás imaginações 
em delirio. O vicio permanece vil, sem 
expansões de grandeza babylonica. A tri- 
vialidade arrasa a pandega 
Pariz que sofTre, trabalha o estudn, 
Pariz que lida na lueta escura para vi- 
ver c fazer viver, 6 hoje o campo aborto 
ás contemplações mais profundas. &J- 
mente aqui é preciso mudar as lentes 
dos appnrelhos opticos que tenham de 
examinar, isto c 1 para fazer investiga- 
ções sérias, analysnr altentamcnle, mi- 
croscopisar um pouco. 

As barraqninhas do Natnl, a immcnsn 
feira, que todos os fins dc anno funcciomi 
sobro os boulevards c certas praças o 
ruas larga®, seria uma suggcstão actunl 
de estudo mil a fazer. Muitas d'essas lo- 
jas volantes expõem à vcutia unicamente 
os produetos dc trabalho industrial dc 
uma familia inteira durante o anno. 
Brinquedos, bugigangas, oljcctos utris 
ou tio utilidade contestável, quo muitos 
lios operários transformados oecoslonal- 
meiitc cm vendilhões apregoam persa* 
sivamente— cncontrn-sc alli tudo o que 
j/.dc produzir a iuduMrlarfí ennura. 

K ®c ajuntar->' . como explicação an\- 
' plhtiva, quo já h:'. alojamentos dc epo 
' rarlv'. -.c - .da : tv v 


ser contada. 

Sim, houve : Uma reunião de cerca d< 
quatro mil accionistas da companhia da 
Panamá, quo deliberaram fornecer oa 
fundos necessários á conclusão das obras 
(faltam apenas 400 milbõés I) e continuar 
a depor cm Lcsscps a confiança quo sem- 
pre lhes mereceu, as considerações finan- 
ceiras cedendo o passoj á importância 
patriótica da obra. Dinheiro enlhusias- 
mado é outra cousa moderna. Quando 
lhes digo que ú preciso mudar a pbraaeo- 
logia, c que para a mobília nova do nosso 
cercbro não podemos aproveitar as capas 
antigas... 

Domicio da Gama. 

Pariz, 30 do dezembro do 1888. 

A’s 6 horas dn tarde do hontem o car- 
regador João Cnbo-Vcrdo, já conhecido 
pelas suas façanhas, deu tão tremendo 
socco cm um pobre homem que passava 
embriagado, que o atirou por terra. Com 
o rosto ensanguentado, foi o pobre bomem 
recolhido a uma estação policial. O ollcu- 
sor evadiu-sc. 


08 BONDS 

E* digno de estudo o caso que passamos 
a expor : o Sr. J. M. F. ia do passagem 
em um bond da companhia Carris Urba- 
nos, c ao chegar cm frente á estação 
marítima da Gamboa teve, por indicação 
do conductor, de passar para outro, com 
os demais passageiros. Essa passagem 
fez-se com algum atropcllo, porquo cno- 
via, e as cortinas do bond estavam arria- 
das ; c ainda não estava concluída, qnando 
o conductor do primeiro bond fez com 
que este partisse, de modo que o Sr. F. 
quasi fui osmngndo entro os doas bonds, 
perdeu papeis que trazia no bolso, e ficou 
com o paletot imiti llaado. 

Não tendo o Sr. F. tido culpa alguma 
n’esse arcidentc, pediu ú companhia in- 
demnísação pelo prejuizo soíTrido, mas a 
companhia não o attendeu. 

O caso è novo aqui, mos em toda a 
parte quem cansa estes prejuizos, paga-os. 
Scrà mesmo o meio do evitar moitas 
desastres, so as companhias, ou quem 
cilas verificarem ter culpa, pagaram 
perdas e damnos pelos acciacnteà a quo 
dão lugar os carros. 

O interessante ó que ns companhias, 
que núo attendem a pedidos justos eoaio 
nquello n quo nos referimos, tem para ai 
lei diversa: quando um do seus carros 
sofTre avario, o cocheiro o o conductor 
sào responsáveis por cila, c como as 
companhias tOm a faca c o queijo na 
mão, isto é, os ordenados o as fianças, 
todos os estragos lhes são pagos. 

Isto que serve para estimular o xalo 
dos empregados, em favor do material 
d'cssas cm prezas, não deveria tambcin 
servir para 03 estimular em favor dos 
interesses e da vida dos passageiros? 


r oi nomeado por decreto de hontem, 
para continuar a servir como substituto 
do juiz de direito dn comarca da Queluz, 
cm Minus'Gcrnes, o-jniz municipal do an- 
tigo termo, Dr. Autoiilo Carlos Soam 
dc Albergaria. 

ROUBO 

Hontem pela manhã foi encontrada 
aberta a porta da casa commercial doa. 
Srs. Mcdcllcton & Lanccrter, á rua do 
Visconde de Inhaúma n. 48. 

Yoriílcou-sc que uma grado quo dá in- 
gresso para o cscriptorio linha sido for- 
çada, c que havia dcsanparecido uma 
>cquena caixa contendo 50 libras eoter- 
inns, uma caixa dc prata para rapé, uma 
nota do valor de 200, <j, um nnne* do ouro 
com esmeralda, com as iniciaes G. M. 
A. C.. um cordão de prata de metro • 
meio dc comprimento, e diversos do- 


De Paris (trecho) 


•| V #1 


798 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Armo XV 


Rio «o Jaãolro — Quarta-felr* 6 do Março do 1880 


S 


GAZETA DE NOTICIAS 


NUBCRO AVULSO 40 RS 


,wa»BUi itr.ni R trmumrmà «pi a Mup > r?t* IW » «E* 

Tir<Mi*in'M.OOU M«inpl»r«» 


NUBERO AVULSO 40 RS 


à UfcU « . 


ca RCTR900US 


IB(>nUOCMCIA 




A 


CARNAVAL 


jsra 


-•V — ■-**■** 


ÜT* JLrüj OMVR OCCuARCaCIA JJ^,SrS!íSIS 


jr*»—* * 








I íT ** 


ASSASSINATO 


z.r2srz 


aouno 


FOLHETIM “| 

0 COLUR OE áHBAR 

StCNCC RNAML P 

HHW »un 


CASABCNTO CIVIL 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 65, p. 1, 6 mar. 1889. 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


799 


dueto, proximo aos Segundos Dous Irmãos, 
cm Santa Theroza. 

Novamente pedimos providencias c cha- 
mamos para aquello ídeo de febres a 
attenção do zeloso delegado do hygiene 
do 2* districto do S. Josõ. 


O Diário rio Commercio não da lioje 
folha por se ter partido o eixo da ma- 
china de impressão, e ter sido impossível 
ató á ultima hora remediar o mál do 
fórma a sor publicado bojo o jornal. Já o 
resto da cdicção de hontem foi impresso 
uas oQiclnas da Tribuna Liberal. 


Foi preso anto-hontem em Villa Isabel 
e recolhido á casa de detenção Agostinho 
Coelho de Mello, por se acU^-pronunciado 


no art. 201 do codjgocric 
juiz de direito do 10'-<" 


,pclo Sr. Dr. 
to 'criminal. 


DE PAUIZ 

A política diminuiu do ardor; ô como 
uma fogueira que ardeu o á qual 6 pre- 
ciso ajuntar lenha para roanimal-a. Anda 

0 gento política ajuntando lenha ; o bravo 
general lá está para o sul dm pnssoio 
c em campanha, tomando ares, mos- 
trandosc aos seus povoa e conquistando 
adhcsões com a sua simples presen- 
ça ; doce Floquet, contento e com a 
sua victorla de cincoonta votos na ca 
mara, sacrificou um manojo da campa- 
nha, alijou o honesto Fcrrouillot o en- 
gajou o Sr. Guzot-Dcssaigno para mi 
nistro da justiça ; este na primeira in- 
terpo Ilação a que respondeu prometteu 
que ha de sor um magistrado integro 
cousa 
se destina 

desilo menino, e todos aproveitam a oc- 
cisifio para descançar ura pouco. 

Todos, menos os jorr.aes ultra, quo 
esses, coitados I são condcmnados a so- 
prar sempre nos carvões mesmo apaga- 
dos. São uma cspecic do folies de indi- 
gnação, pelo machinalismo o monotonia 
das suas criticas desaforadas c pilhéricas, 
mas feitas a torto c a direito o falhas 
por isso. A leitura do Intransigeant, 
por exemplo, fatiga c irrita como o espe- 
iclaculo de um sujeito esbofando-so a 

1 querer fazer fogo com lenha verde. Dcs- 
’ aforamento contra o governo nem sempre 
I è gracioso o espirituoso, o a proposito 
I houve um homem chamado Ilenri Ro- 

“ ! chcfort que o tinha todos os dias, no seu 
1 bom tempo, e animava com elle os pam- 
phletos estrondosos o os jornacs opposi 


50 


«lAnlnfiili /II 


i/X rs nAMi 


nrvmVúrt ÍApnnvn wm* 


ções civilisadas vào deixando, unico que 
se não esbanja o que se augmenta c se 
transmitto accumulado. 

Para obsfnr.a essa raassante capitali- 
sação da incapacidade muscular, insti- 
tuiu-se ha tempos (4 ou úniezes) uma Liga 
d* Educação Phyaicn, a que adheriram 
todos os homens notavria da França. Já 
estão marrados logoivs que serão campos 
de jogos athleticos, impõe-se a gyraDas- 
tira ubrigatoria, etc. Espora-se d'«hi a 
rcdempr.üo. Mas não acontecerá á Edu- 
cação 1’hysicá o mesmo que aconteceu ao 
melhoramento da rnça cavallar pelas cor- 
ridas? Entro nós já hduvo jogos athlc- 
ticas, gymnastica, etc. A preguiçosa e 
morna Nictheroy chegou a ter dous 
clubs olynrpicos, Mas, depois de ura 
tempo rnzoavcl.de experiências, conven 
coram-sc do que nquillo fazia suar muito, 
não tinha grandes attractivos como plás- 
tica o graço, era monotouo, c ás vezes 
escalavrava os concurrentcs. A cousa era 
artificial : deixaram-so d'isso. 

A liga da Educação Physica em França 
é bem dirigido, tem bonfe patronos c 
apoio dos poderes públicos. Mas não será 
artificial essa volta á Natureeal Já 
concessão do logar onde foram as Tulhe- 
rias, para campo do jogos, tem uns ares 
de sòlcmnldndo, do mau agouro 
A moda estragaria essa boa empreza, 
porquo 6 proprio da moda o ser opbe- 
mero. Também no século passado J. J 

Natu- 
ca 

hiram na moda. A volta á Natureta, 
eram os idyli03 pastoris A la Ho 
rian e à la (VVrfc, Maria Antoniotta 
era pastora no Trianon c as damas davam 
de mamar aos filhos nos saloes... E de- 
pois d’isso ainda houve voltas e revoltas 
contraia Natureza, que se invoca sempre 
como regeneradora das gentes cm perigo 
de morto, mas quo ainda hoje não sabe-se 
bem o quo vem a sor 
O facto ó que, segundo todas as appa 
rcncias, o povo franccz cada vez mais 
d’elln so alfasta. Um excesso do intelli 
gencia ou de nmlicia, um desenvolvimento 
geral do egoismo pelo dilcttnntismo, pelo 
maior apego nos gozos matcriacs, produz 
aqui uma cspccio do hypertrophia do 
indivíduo cm prejuizo da cspecic. O atlas 
tamento da nnturoza já é tão grande que 
n« CiimiHns frnncczas não têm a prolo 


de sor um magistrado integro, mero. lambem no sccuio passauou. 
quo no Brazil toda a gento que Rousscnu inventou uma volta iW 
tina á magistratura começa a ser «-*« 5 « clltt , com ,° ? ' 


De Paris (detalhe) 



800 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


i flOUíC um nomem cnnmaao iienri iwj- 
| chcfort que o tinha todos os dias, no seu 
> bom tempo, e animava com elle os pam- 
phlctos estrondosos o os jormics opposi- 
‘ cionistas, que a perseguição tornava sym- 
' pathicos. Hojo esse político sentimental, 
c caprichosa c systcmaticamcnto destrui- 
dor de governos, não ô senão um nome 
que vive das suas rendas. 

I 0 seu topete embranquecido ainda tem 
petulância, mas 6 como os velhos gai- 
, teiros o pelintras, que túm modos o gestos 
jovenis, contrastando com o qucbrndo e a 
tremura da voz o a lentidão senil dos 
movimentos. O seu artigo do fundo, diário, 
pago á vista, tem 4s vezes a razura o o 
vasio de dma moílna dos bons tempos 
d'ellas no Jornal do Commercio. 15 6 
monotono, monotono, que nem sei como 
03 aturam estes nervosos francozos, cher- 
cheurs dn nouveau ! 

Sim, sei : elle ô uma ruina, mas re- 
presenta a grandeza que foi o estes 
poetas ( que os lia mesmo cnlrc os leitores 
de jornaes políticos) veneram, n'o)lc o 
polemista cançado e enfraquecido, assim 
como nos jogos athleticos antigos oram 
acolhidos o acclamados os velhos luta- 
dores legendários. 

Pariz está cheio dVstas sombras vene- 
randas, d'cstcs inválidos gloriosos. 15 6 
uma cousa que entristece duplamcnto 
esto ospoctaculo das decadências vivns 
que não se rcconhcssem como tal e, ex- 
plorando a gloria o o nomo que tiveram 
c a veneração a quo nem sempre tern 
direito, tomam o lugar dos novos. Du- 
plamcnlc por isto : os novos, se fossem 
bem novos o fortes, 6c tivessem o /alento, 
não esperariam que estívesso o lugar 
vasio, empurrariam os velhos e fenfra- 
quccidos para os archivos, para as suas 
prateleiras funorarias e nem dariam logar 
a quo cllcs fossom lembrados. Mas parece 
queos novos— decadentes, symbolistas, pes- 
simistas, dcliqucscontcs ou immobilistas, 
incohcrcutos ou positivistas— são, antes de 
tudo, negativistas. Analystas— psycholo- 
gos, impressionistas, individualistas, dis- 
persivistas, budhistus novos, tudo isso é 
gente que arvora a incapacidade cm sys- 
tema e tenta instituir a csthctica da mi- 
séria. Miséria da vontade, miscriu orgâ- 
nica. legado de impotenein que as gera- 


lliaivi uva r 

aqui uma cspccio do hyportrophia do 
indivíduo cm prejuízo da cspccio. Oaflas- 
tamento da naturoza já ó tão grande que 
as famílias francczas não têm a prole 
numerosa, quo i: uma das mais segura 
garantias da vitalidado das nações. Isto 
não acontece sómento nas grandes ci- 
dades, onde a vida é mais custosa o mais 
artificial; mos no ermpo ha igualmcnto 
esse terror dos filhos a parir primeiro o 
a aliroeutar depois. 

Ila cerca de quinze dias, um processo 
na Nornmndia revelou a existência na 
província de um ollicio novo, modernís- 
simo, característico do tompo— o do abor- 
tador, isto é, um sujeito quo ajudava as 
mulheres a livrnrcm-so dns dôres do 
pnrlo c dos cuidados de mão. Os maridos 
c os amantes lcvavam-lbc as mulheres, 
as visinhns ou as que se tinham dado 
bom com o sou tratamento, faziam-lhe 
reclame para longe, como se se tratasso 
de um bom medico quo so rocommonda. 

Parece que na instrucção do processo 
os juizes foram obrigados a recusar tes- 
temunhas e cúmplices, isto é, a não in- 
vestigar minuciosamente a cousa, pára 
não fazer passar pelo jury metade do um 
departamento. 15 os culpados explicavam 
os factos tão ingenuamente, mostravam- 
se tão admirados de quo fossem apoquen- 
tnl-os por tnes ninharias, que ou, mem- 
bro do jury, não os condcmnaria, atton- 
dendo á inconsciência do dolicto. 

liste significativo terror da materni- 
dade, que alguns cscriptorcs de curiosl 
dado doentia começavam a oxplorar, 
será talvez objccto de estudo especial 
para a historia d'cstc tempo por algum 
Micholct do futuro. Mas a consolação phi- 
losophlen, que so pódo lovar ao espirito 
dos que lamentam a perda promntura 
d'csscs candidatos a cidadãos livres, ó 
que cllcs seriam talvez maus filhos, rnans 
cidadãos, maus philosophos mesmo, maus 
poetas ccrtamcntç, pessimistas, dcliques- 
centcs, com um aleijão qualquer no co- 
rebro, causado pela. má vontade dos seus 
progenitores em vêl-o vir sentar-se ao 
seu Indojconviva importuno, no banquete 
da vida, banquete que para muitos é 
indigesto, mas quo pnrn ninguém ú opí- 
paro. Quero crêr quo Schopenhaucr foi 


1 


um dos tács, gerado c dado á luz de má 
vontade. 

Paliei acima om Rousscau : crigiram- 
lbc a estátua ha dias, ao pé do Pantheon. 
Lá não fui. São sempre do aportõjsjessas 
festas o parecidas com as outras que já 
vimos. K* outro ruim e antipathico esse 
moralista immoral, ú outro que, se cu 
fosse pai d’elle, me faria arrepender 
bem... d'isio. 

- 

Chove, venla, cahe neve, gela, degela, 
ha lama^ faz frio, faz escuro 'jio céu e 
n’alma, Veem noticias lamentosas de todo 
o mundo, naufrágios, desastres de trens, 
tuicidios imperiaes, agonias do povos... 
A cidadef jovial tem para mim alguma 
cousa daj .câmaras em que se vèlam ago- 
nisanteaj - 

i*r ■ Douicio da Gama. 

Pariz, # de fevereiro 89. 


De Paris (detalhe) 





DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


801 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 69, p. 1, 10 mar. 1889 






802 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


VotQU-so hontem no senado x lei sobre 
•i escrutínio uninoniinal, isto é, decidiu- 
se que o escrutínio de lista não deu bnnr 
resultados con>o experiencia política. Eiu- 
Ire 282 votantes, só 54 pronunciaram-se 
contra o' projecto. A enorme maioria que 
obteve a novn lei eleitoral, prova, senão a. 
favor d’cllo, ao menos contra a outra. O 
relator do projecto diásc: *Raramcntí- 
tem sido reclamada uma reforma com tal 
energia, com tal espontaneidade. O es- 
crutínio dc districlo permitia ao eleitor 
apreciar melhor os títulos dos que aspi- 
ram a representar o seu pai/.: 6 um es- 
crutínio ae verificação c dc boa fé.* 
Todos o tem sido, na occasião em que 
são propostos e ndoptados. Sfas ha sem- 
pre quem os desrie dos seus bons des- 
tinos. A boa Í6 serve assim á ma fé do» 
interessados. 

O que, parece-me, prova melhor esta' à 
dcsconsolaclora renuncia ao escrutínio de 
lista, é que a nação ainda não tem, nem 
terá jámals, a convoniente eduenção po- 
liticn para saber haver-se com o regímen 
parlamentar. Um das sona-Jores que cri- 
ticaram o projecto, no seu caracter do 
defesa contra os perigos que aclualmente 
ameaçam n republica, chegou a dizer que 
o presidente do conselho desconfia du 
suffragio universal edo pni/..Não é a eleição 
por districlo que convém agora. A eleição 
por districlo é própria dos períodos do 
calma. E a França atravessa agora um 
período de tal perturbação, de tão grande 
desconcerto moral, de tanto desconcerto 
na direcção política, quo não è o cscni- 
tinio do dislricto, com todas as suas mes- 
quinhezasde política local, o que pódc ex- 
primir no parlamento as verdadeiras o 
grandes correntes da opinião nacional. 

A nova lei eleitoral è. um pobre expe- 
diente, inventado para obstar a fallcnciu 
do regimon parlamentar. Mas o adia- 
mento (1’essa fallencia não cxclue a des- 
muralisação d’essa instituição exótica. A 
raoralisação das assem bléas deve fazer-se 
pela dosindlviduo» que a compõem, quando 
a representação nacional fúr uma tuneção, 
c não uma posição. 

Começa hoje na camara dos deputados 
a discussão do projecto de revisão consti- 
tucional. O governo faz da sua passagem 
questão de confiança. Passará. Ho onze 
oradores inscriplos contra qualquer re- 
visão cm geral, quatro contra o projecto 
do governo cspccialmento, e apenas cinco 
o defendem. Mas a organisação actual da 
camara não pomitte duvidar do resul- 
tado da votação, sojam quaes forem as 
razoes adduzidas contra a mudança da 
constituição. Com Floijuet ou sem ello, 
vai haver novidade tif» política francezn. 

Fazer um appello á nação será fazer- 
Ibe o balanço político. A liquidação d’cste 
fim de século não será. lisongcira para os 
jultimos administradores ; mas, pela im- 
portância da massa, que resiste a todos 
os esbanjamentos, será uma garantia dc 
seu valor c prosperidade quand mime. 

A França, depois- dos Estados Unidos, 
nos ensina quo não 6 o governo o que 
felicita uma nação ; quo isto dc ín- 


parte do seu tempo c fniitJlUom muito 
esforço em tem ativas para lá chegar. Sá&i 
os menos capazes os quo tentam IssotDWu - 
a quantidade de obras cxquisilaá, monv-' [ 
truosas, cntristecedorns, que em Todas* 
na artes, mas sobretudo em lUtcraturn, , 
aqui se produz. Verso, presa, romance, i 
conto, invenção ou mesmo critica, todaisas 
obr.-is quo têm a p retenção do ser novis, 
isto é. origioaes. fsto j, .^pjá^.^odSí ; 
chegar a ser curiosas par*' o Vmador * 
do quedas do p&u do cebo da Gloria; roas . 
para quem se interessa pefo esforço/são 1 
deprimentes ou horrivelmente fatigantes. 

Eu mo tinha disposto afallardc al- 
guns livros cm prosa e verso, o dé ojgüiis 
auetores nWas condições. Mift Vtanguçl- 
me de mais na preparação «Jp catujo* 
1’ara outra vez será e com mais jrftocisío. 


Domicio da 

Tariz, 14 de fevereiro <• 18*>., * 

-i já’ 5 , 

P03 PARTIDAS DOBRADA^ t 

E muito vulgar seduzir um ganoenffoÀ 
uma dama, raptal-ajr a Jovnl-a dmiaWe 
nara o sou tugurio, convartido om: niahoS 
de pombinluw. Kdsa vahraridado JU 
serviu a José Antoóio GottÇMres BantSwl 
gala que sentia na» veias correr 0'tfngiib ' 
ic D. Juaii, mas dc ura D. Juãn élerâdtí' 
ao quadrado, um D. Juan homeeopa- 
Uiienmrntc dosado, em quinta eWncifti 
dynaniisado de modo a envenenar 'todas 

ulj iccntc? 15 d ° SCU l)ai, r0 M«»rjfiWes 
Preparado para os grandes aconteci- 
mentos, sentindo dentro de si aqnello 

• fogo que arde sem soror», do porta, <o 
Bastos deftou galnutcrias a duas criadas 
menores de 17 annos, da chacara n. 27 A 
da rua Harto do Mesquita.de onde o gafo 
tinha sido despedido do lugar da feitor 
que alli occupava, o conseguiu que ambas 
o amassem, enlevadas peias melurias da 
pnrase alambicada dovox- feitor, conver- 
tido em D. Juan dc criados, mas correcto 

* augmentado. 

Seduzidos as duas raparigas, levou-os 1 
o travesso e amoroso Bastos par» a casa 
n. 15 da rua de 'Paula Brito, onde foram 
encontradas ante-bontom pclò «iWolc- 
gado do 2- districlo do fcagenho-VólIUV 
cm um quarto.no qual dormiam* ambas ' 
sobro uma esteira velha e rota. •' 
Foi o perigoso c terrível B.istos 1 preso, 
apresentado ao Sr. desembargador ebefo 
dc policia, que mandou por sua Vez aore- 
sentar as menores ao Sr. Dr. iuiz,dè 
orphãos da 2‘ vara. 'Ã v , 

O que nioguem pôde pôr cm datWô 
a originalidade d’esse galanteado» quo 
seduz por partidas dobradas. 3>* 

. F<J ». » pedido, exonerado o Sr. José Hen- 
rique Lnngredor do Carmo, de 1* sup- 
plcutc da subdelegncia da freguozia de 
Santa Rita do Rio Negro, em Cantagallo, 
sendo nomeado para substiiuil-o o Sr. 
Joaquim Rodrigues Milagre.' 


Com a mesma frescata com que 'Adão 
no Paraiso se apresentava, antes da th! 
peccado que nos obrigou a usar calções, 
estava ante-hoatam a tomar banho-, na 
praia da Lapa o italiano Miguel. Trote. 
Admoestado pelo rondante que chegou a 
corar, Trote sahiu-d’Agua ocorreu a tomar 
um revólver que trazia na algibeira dof 
paletot, para as grandes occasiScs. Inju- 
riado e ameaçado, o rondante apitou, • 
d’alli foi Trote a trote para o xadrez. 


Foi concedido no professor publico da 
escola do Palmital. cm Snquarema. Car- 
los Augusto de Mariz Sarmento, um mez 

de licnnca. n rnntAi» Ha 0*1 Hn n\M n.AvI. 


A França, depois- dos Estados Unidos, 
nos ensina quo não 6 o governo o que 
felicita uma nação;. quo isto dc m- 
Utiluições que felistnenle nos regem, só 
Wa regem felizmcoto. quando jã somos 
felizes; por nós- mesmos. Eis. aqui: a 
L Fram;a;-6-rica_q_ j^jr^assantcrcstnvcl ; 

• a massa' dá nação è coWrvadòrY, i-ést£-' 
tente o forte; agitada por osta ou por 
aquella facção política, nunca 6 tão gran- 
de o abalo que a desmonto das suas. 
bases; inclina-se para- um lado o para 
outro, oscllla constantemente, mas écomo 
um bom navio ao balouço occ&nico; a 
riqueza particular, o ouro dos |>és do 
meia, como os títulos de renda dos capi- 
talistas, serve-lhe de lastro o segurança, 
para que não sossobre durante as tem- 
pestades quo o embate do correntes dc 
aspirações contrarias produz na. vida 
social. E esmiuçando bem as cousas... 
Mab não osmiucemos. 

A liquidação do íim do século, já foi 
aqui dito, assignalorá um insignificanto 
haver em espccio de grandes homens. Os 
grandes que bavia, estão se acabando. E 
cada vez quo apparecc um novo, a gento 
aeba-o pequeno, o sobretudo velbo. 

Velhos em presumpção, cra vaidade, 
em mctaphysicaa pueris ; velhos como o 
passado, esses homens do futuro : alguns 
fazem pensar quo havia mofo no ventre 
da 6enhora sua roài. 

Prova-se que havia. Na historia das 
cmlisaçõcs, os cy cios de grandes homens 
são seguidos dc períodos do repouso, ou an- 
tes de trabalho obscuro e anonymo, como 
nas arvores após a fructificaçáo. E’ entào 
que se aproveita a obra d’eUes c se vivo 
da renda do seu glorioso e opulento le- 
gado, aiigmcnt ando-o sempre, cnpitali- 
sando, preparando terreno e recursos 
aos por vir. 

Nós estamos agora n’estns condições. 
A maravilhosa colheita do século usui 
quasi a findar. Cuidemos, pois, dc arma- 
zenai-a e utillsal-a. Não pensemos nn 
nova, para a qual ainda nem trabalhá- 
mos, nem temos consumidores. E fique- 
mos contentes de sermos nós o* herdei- 
ros, os felizes para quem trabalharam 
todos esses pobres grandes homens, juntos 
com a turba obscura do passado. Sejamos 
conservadores, pois quo os nossos pais 
foram, liberacs, para quo nossos filhos 
sejam como os avós. E não nos desconso- 
lemos dc não possuirmos herdes como no 
passado houve. Um.heróc é scropro nm 
fingello, para combater outro flitgcllo,- 
embora; 6 uma especie dc medicamento 
venenoso para dcbellor um mal terrível. 
Um berõe* apparccc nas crises. A Diblía 
diz: « suscitou-lhe Deus um libertador»; 
substituída a palavra Deus pela palavra 
Necessidade, a cousa c exoeta para todas 
as misérias, iatcilectoses comosociaesc 
moraes. 

Nós não carecemos de libertador, dc 
quem nos livre c nos purgue de misérias 
c impurezas profundas : ninguém, nada 
suscita contra nós dictadurns desastrosas 
c humilhantes. Nem cm politica, nem em 
sciencia, nem cm religião, nem era arte, 
nem em lltteratura, temos dominações 
opprcssivos c absorventes. Ainda lienit 
Mos os cri ticos nào entendom assim. 
Os críticos são gente de respeito. Mas são 
respeitosos, sobretudo. Biles tratam tão 
asperamente as obras novos, porque vilas 
não são parecidas lã com os seus idéaos. 
Mas o ideal do um critico, crcatura dc 
invenção pobre ou oulla, não pódc ser 
senão alguma concepção alheia que o do- 
mina, a cslhetica, philosophia on dou- 
trina dc algum grande lionu-m, cuja au- 
ctoridade è para ellc irrecusável. D’onde 
só concilie, sem paradoxo, que o critico 
mais feroz e intransigente é no fundo uma 
alma humilde, como a dc um cantor de 
elogios de príncipes. 

E o mal que ellcs fazem t...Tão jior 
roindo dão a receita para geuios, que o* 
artistas menos bem dotados perdeni grande 


Foi concedido ao professor publico da 
escola do Palmital. cm Naquareina, Car- 
los Augusto de Mariz Sarmento, um mez 
dc liccnca, a contar do 23 do mn proxi- 
mo findo. 

AGUA ! AGUA I 

i H»jtauiuejM' moridow» .AtlmjUlj, 

.Santo Amaro câtuoserfrnmíMfotía cl'agun 
nos encanamentos. E’ o «uppMcio. da. sedo 
retinido ao do envenenamento.' peia co~' 
cheira d« vnccas que alli se-roAnlétó, a : 
despeito do clamor da visiuhança. 

Os moradores do largo dos Leões cio*.-' 
mara de novo por agua. Desconfiamos 
que clamam no deserto. 


Tumbem pedem agua. e quasi que u 

S edem pelo Amor de Deus, os mormlores 
a rua da Ralação. Serão clica ntlun- 
didos ? 


0 amor tem fogo, eé o diabo. Eodlnbo 
no amor fc o ciúme, o ciumo qua f»z ; ' 
Othelos, c que levou anto-bontem o 
Sr. Manuel de tal a dar trcmenrlinslmo 
socco cm Aiuia Augusta, moradora á tra- 
vessa do Bom Jardim o. 17. A olfendida 
foi medicada na pbnrmacia da policia. 

0 malandro deu te do Villa Dloco. 


Da repartição central dos tolegraphos - 
recebemos a seguinte communicaçãp que 
Ibe foi dirigida polo ooearregndo da es- 
tação, da cidade <h Yietorm : 

>* Foi Iwntcm Ifi) aqui observado, As 4 
horas da tarde, eurioso phonomeno me- 
toorologlco quo appareoeu ao nórto em 
fórma de cometa, apresentando, porém, 
luz aznl claro- do - uni- lado o vermelho do 
outro. 0 phenomeno dcsappareccu uo cs- 
eurecor. 

Continua a falta d'agua,o grasiaa fe* 
bre uranrclla. « 


A's 2 hora* da madrugada dc llontqm 
foi encontrado perdido, n:i rua do I.ivrit 
mento, o menor dc cór parda, FrnnciifiÓ- • 
Lopes, filho de Frii-ouilha da ('uncoiÇflò , 
dos Prazeres. Foi o menor recollildo «.* 
uma estação nollcial. 


DESASTRE 

A’s 11 1/2 horas da manhã donnto-hnn-" 
tem.no largo dò Paço, foi oSr. JonoVirgillo 
Cavalcanti do Amaral, agente da eatárifiS, 
do Paço d'Anta, da estrada de ferro lá-o— 
poldina, atropellado pelo bond chapa 174, 
da companhia Carris Urbanos. 0 Sr.Amo- • 
ral cabiu o por felicidade ficou por baixo 
do bond. sendo por este arrastado até 
grande distancia. 0 cocheiro wndiu-fe. 
c o conductor conseguiu travar o vu- 
lilculo, sendo então o paciente tirado para 
fòra o conduzido ,á estação das .barcas 
Ponfty, \d’oude seguia para a cosa dc seu 
paçy.o Sr. Alexaudrc ilagno do Amaral, 
om Nictliero.r, tendo sido antes medi- 
cado em uma phai-macia da rua da Mise- 
ricórdia, n'esta côrtc. 0 Sr, Amaral rc- 
cebeu diversas escoriações na pegna c 
no braço direitos; não sendo grave o sou 
estado. 


A alfandega da Victoria rendou no m«u 
passado 36:0328132, mais 16:ii'jy84UÓ do 
quo cm igual mez. do anuo passado. 


. Foi, a pedido, exonerado João José Pe- 
reira da -Silva, do cargo dc subdelegado 
da freguezia (fo Ipiabas. em Valcnçn. sendo 
nomeado parasubstitiiil-oo actiinl l*<rup- * 
nlontc, João Moreira da Gama. Para o ‘ 
lugar d'cste foi nomeado o 2* snpplente 
Frederico Teixeira Coutinho, occupando o 
lugar do 2* supploute, Evnristo José do 
Curvalho RamoB. Para 3* suppleiite. foi'. ' 
nomeado Octaviano Augusto Oistello 
Branco, em lugar de José Joaquim da 
Ifocba, que nào prestou juramento. 


De Paris (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


803 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 105, p. 2, 15 abr. 1889 




804 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


D£ P&RIZ 

Uma semana rica üc acontecimentos, 
cada urn dos quacs seria uma mina para 
ser explorada por um ebronista de ta- 
lento, foi esta. 

O caso da Liga dos Patrota* vem em 
primeiro lugar. Ha n’elka matéria para 
considerardes instructivas. 

A Liga dos Patriotas foi fundada em 
1582 com o fim de trabalhar pelas reivin- 
dicardes nacionacs, reconquista da Al- 
sacia-Lorcnn, etc. Mas parece que a 
cousa mais importante quo cila até boje 
tem feito foi tomar celebre o sou chefe, 
promotor, bandeira ou cousa que o valha, 
o iliustre Doroulede. 

Ate à crcaçào da tal liga sabia se ape- 
nas em uma pequena roda quo havia um 
descendente do Rigault Lebrun c sobri- 
nho de Emílio Augíer, que Unha escrípto 
um drama medíocre, raediocrcmcntc re- 
presentado na Odésse. Era um poeta 
sabendo fazer versos, sem inspirarão, 
mas por isso mesmo capaz do explorar 
um assumpto rlgorcsamcntc, um d'csscs 
tantos de que se não pódc desdenhar em 
absoluto, mas que nâo podem ser esti- 
mados pelos que sd attendem às indivi- 
dualidades acccntuâdas o sincera. As- 
sociou-se com Mme. Adam, o os dons 
crcaram para si uma ca poclal idade do 
patriotismo e de protecção á honra da 
França. 

Os jornaes {Ilustrados deram a leitura 
do sou drama La Hoabile cm casa do 
Mme. Adam. A representação da peça 
na Cornédie Françaiso foi prohibida pelo 
governo. Paul Deroulède perdeu a cabeça. 
Todo homem medíocre, quo suppõo ler 
sobre si os olbos da multidão, transfor- 
ma-se em eabotin. O cabotinisrao do 
Deroulède teve o seu primeiro successo 
por occasião dos funcracs do Gambetta. 
Atriz dos soldados, das sociedades de 
gymnaatica e dos franco-maçons, lá ia 
elle, de cabeça erguida, nariz ao vento, 
olhos luzentos de patriotismo, recebendo 
os applausoa meio ironicos, melo insen- 
satos da multidão, sentindo quo elle alli 
representava ao mesmo tempo a angustia 
o as esporanças da patria . 

A Liga dos Patriotas, que, como pro- 
motora do exercícios gymnasUcos, do es- 
grima, tiro, etc. linha toda a odhesào não 
ofiicinl do governo, começou a querer 
emancipnr.se c a fazer política. Fez elei- 
ções do Boulanger, fez opposição cscan- 
dalosamcntc, organlsou-sa de modo a mo* 
bílisnr os seus membros, o por esse modo 
acluar energicamente sobre todo o paiz; 
tornou-so perigoso, cm summa. 

Explorando as sympalbios da Ilussia 
pela Fronçn, lá foi Deroulède procuiar 
uma alUança contra a Allemanha. Todos 
riram-M do novo Pedro Eremita da cru- 
zada antigcrmanica, mas contra o fana- 
tismo n&o lm ridículo quo valha. Agora, 
ílnulmente, rebentou a historia por causa 
do AtchinofT. 

AtchinolT è uma especlo de Deroulède 
russo. Diz-so chefe, hetman ou alaman 
de trinta o tres anil cossacos, como Dc- 
roulodo diz-se chefe de todos os patriotas 
francczes, isto è, da França Inteira. A 
emphase cresce do oriento para o oecl- 
dente, cm bola do neve. Os dous conhe- 
ccm-so o admiram-se mutuamente, tro- 
caram mesmo photograph las com dedica- 
tórias épicas . 

Na Rússia, terra de crentes, a religião 
vale o patriotismo cm França. AtchinolT 
montou d ‘ esse cava 11o. Fc/.-sc ravalleiro 
em cruzada para ■ Abyssinla o organizou 
como núde a sua lano. com oones mUc-l 


pistola na cabeça. Qni/crim esconder o 
suicid.o. O prestimoso Figaro contou oom 
todos os pormenores de uma reportagem 
pasmo vi, a morte por apoplexia, bem 
motivada e fundamentada. Mas os outros 
jornaes c a própria polida deram com a 
lingua nos dentes. 

O Figuro teve de confessar que o ho- 
nesto ardil tinba falhado, o toda a gente 
que tem pouco dinheiro e que o tinha 
confiado ao Comptoir dTicoinplc correu a 
rcclamal-o. 

Felizmente o banco (evo á sua disposi- 
ção um reforço para resUMr á corrida. 
O Banco de França abriu-lhe um credito 
de 100 millifcs e a Ifante Ilarujue, Ro- 
tsehild i frente, franqueou-lhe 0) milhões. 
Os capitalistas, associações e grandes de- 
positantes não se mexeram, conhecendo 
as condições de segurança dos seus depó- 
sitos. Mas os pequenos credores, quo não 
querem brinquedo com seu rico dinheiri- 
nho, aflluiram e encheram a rua Bergere 
em caudas intermináveis. Ha quem es- 
pere pela sua vez dealo manbi atò de 
noite. E ha tnmbem quem alugue luga- 
res desde SO ccntimos atò 10 francos (pe- 
dido) • ate 3 francos (oíTortat conforme a 
distancia de entrada. 

Aproveitando a occasião, vendedores de 
merendas, carnes frias, pastéis, vinho, 
í tabaco, etc., percorrem as filas. E os que 
espernm. sem muito mão humor, nme- 
nls.ni a demori conversando pachorren- 
tamente, indo mesmo até a pilhéria, quo 
è quasl uma coasequmria necessária de 
todo ajuntamento do fnncczei. 

Esses que têm pouco dinheiro, que não 
poderiam comprar nem nicxmo uma acção 
de 5.000 francos do syndicato, não a&o os 
quo sofTrem com o krach tios mctacs, jü 
duas vezes tinto do sangue. Ha dous 
mc/es foi o corrcctor Bex, agora 6 Don- 
Ícrt-Uochcrenu que o negocio dos mctacs 
leva ao suicídio. Quantos serão ainda? 
Fallam-sc já de farailias cujos saráus 
serão interrompidos, do decadências de 
luxo, vendas, etc. Na aristocracia de 
sangue a pobreza não impoita vergonha. 
Na do dinheiro, porém, a ruína è fallcncia 
do tudo. Contra os parvenus do ouro 
accendem-sc tantos odios, que, se elies 
fraqoeiam na luta, a sociedade feroz não 
dá-lhes quartel. K* talvez essa a razão 
pela qual aqui não se refazem fortunas. . . 

A deliberação tomada pelo governo de 
ajudar a solução da criso do Comptoir 
eCKscompte, abrindo-lhes um largo cre- 
dito no Banco de Fronçn, ò mais um 
penhor de bom tenso governativo d'esta 
gcnlfl a ppa rentemente desgovernada. 

Outro lantn se lhe pódc passar pela 
revogação do dccrct) quo condcmnava ao 
exilio o duque d'Auma!e. Publleon-se 
hontera o decreto levogando o do 13 de 
julho de IMS, o todos ficaram contentes. 
Mesmo o general Boulanger, quo cm 
l&C f.vj.v parto do gabiacto quo fez votar 
as leis do oxilio, declarou a um reportei- 
do Gaulois, que scmp;e se Unha mos- 
trado hostil a essas leis. 

Na camnra houve quem quiresse se 
aproreitar da bon dUposiçâo do governo 
para fazer decretar a amnistia geral dos 
crimes e dclictos eommcltido* nxs grêvet. 
Mas força ainda restou á ordem o à au- 
ctoridade.A proprnta do Sr. Milicraud foi 
adiada. 

Do Mino d* Gaua. 

Pariz, 10 de março de 1833. 


CANHENHO 

Um velho chuva, q«»c na occasiio está 
eu ire a quarta < a meia partida, annun- 

oia Mil MPln nKlnlhA miA Vfli Irtinnr I1ITI 


carani mesmo pnowgrnpnias com ucuica- 
torias épicas. 

Na Ilussia, terra de crentes, a religião 
vale o patriotismo cm França. AtchinolT 
montou n'esso cava lio. Fez-se cavallelro 
cm cruzada para a Abyssinla o organisou 
como pôde a sua lança, com popes mise- 
ráveis, alguns fanatieos, uma guardn do 
Tchcrkenes, Georglos e Cossacos, c llnul- 
monte um punhado de aventureiros, gento 
sem fè nem lei, que o engodo do ouro, das 
' terras férteis o dos carnllos á vontade 
seduzia. Sahiu de Odessa com a sua gente 
escondidn, fretou um navio austríaco em 
Port-Said, desceu o Mar Vermelho, c foi 
' desembarcar a algumas milbas do Obock, 

' n‘um lugar chamado Lagailo, ainda cm 
terras do possessão franecza. Ahl hasteia 
elle o pavilhão russo e declara aos indí- 
genas admirados que o território perten- 
ce-lhe e que dentro cm breve Irã expulsar 
os franeczcs de Obock. 

Então vieram <w franeczcs e, depois de 
' preliminares n intimações quo. por mnis 
qucellcs digam, devem ter sido muito sue* 
cintos, dcsalnjnram-noi do forie|com dous 
ou tres tiros de canhão,(|ue mataram e fe- 
riram diuia c meia do cossacos, homens, 
mulheres e crianças (porque havia de 
' tudo na tal expedição religiosa) e fizeram 
prisioneiros AtchinolT c os seus cento e 
sessenta hornen*. Explicou-sc logo o caso 
1 ao governo russo e não se fnllaría mais 
n'itso, so Deroulède, que, alem de mono- 
’ pollsar o patiiotlsmo franccz, entendeu 
tambem ser paladino dos brios russos, 
não começasse n desculpar a Fiança pe- 
rante a Ilussia, desrespeitando a auctori* 
dado do governo franccz. 

Ma* o novo miaUterto Tirard, que co- 
meçou o seu governo por um acto de 
energia, recusando receber as delegações 
dos operários entendeu que era occasião 
de acabar com esse elemento do pertur- 
bação, mandou dar uma basca na Liga 
dos Patriotas, o faz. procurar oa tres signa- 
tários do tal protesto, ' Laguerre, Derou- 
lède e outro, que por emquanto ainda 
não foi rolado bastante parn adquirir o 
polimento e o brilho dos nomc< gloriosos. 
K o dcroulèdismo è una cousa tio arti- 
ficial c fatigante que não houve protestos 
sinceros e duráveis contra o neto do go- 
, verno, e quo talvez mesmo na Liga haja 
membros que estimem livrar-se d‘elto por 
esse desfecho. O processo será ligeiro- 
mente ruidoso, c a França afilrmará mais 
uma vez a atui tendência para n ordem, 
a respeito da aurtoridade c para a sua 
unificação política. E os doroulèdes do 
futuro terão mais trabalho para trepar 
ao pedestal da gloria. 

ConcorreranTmuito para que se não fal- 
tasse mais da Liga dos Patriotas o suicí- 
dio do director do Comptoir d’Eseompte 
e o abalo na praça e a corrida que soí- 
freu o mesmo banco em consequência 
d'esso desastrado acto de M. Denfert Ro- 
chrreau. Foi o caso que o pobre homem 
| Unha com prometi ido a sua fortuna o x 
feri una do banco que dirigia em syndi- 
. cato de metaes, um d'esses negocios col- 
lossalmcntc ruinosos, de quo nenhum 
financeiro honestamente eraprehendednr 
| deveria Jámais lembrar-se. Imagino que 
o leitor sabo mais Economia do que eu, 
e passo adiante. 

| A produeçáo do cobre não diminuiu, c 
o syndkato, tendo comprado ás grandes 

• companhias cerca do InO.OOd tonelada* 

| por anno, não tem vendido mais que 
. 10 */. c possuo boje um stock formidá- 
vel, que crescerá sempre até 1791, praso 

‘ do seu contrato. Entretanto proseguíam- 
j se negociações para diminuir a produc- 
. çio c facilitar o escoamento do metal 
■ armazenado, o duas horas depois da 

• morto do banqueiro chegava um tcle- 
’ gramma de Londres noticiando a con- 
> clusão o assignatura de um acc‘>rdo para 

• a redueçáo de S3 •/• na producção da 
União das Mina*, c demora de tres me/e» 
nas entregas ao syndicato . facihtando- 

% lhe o escoamento do stork. 

Dcnfert-Uochcrrau ja n.V> porem 
( d'c»te mando. Tinh^m^ho feito tanta* 
recriminações cuito o criminavam a- 
» «i'iri\as «ivü rph' no emtanto tinham oa- 
,r! Çlo iw nrg t-l» por livre Vüntvfc e 


Pariz, 10 de março de I8S3. 


CANHENHO 

Um velho chuva, que na occasiio está 
entre a quarta t u meia partida, anmin- 
cia rom certo orgulho quo vai tomar um 
banho. 

— Meu amigo, diz-lhe uni esllcga do 
toucas, vais fazer armei ra! Olha, apro- 
veita a njrun, deitá-lhe um poaco de a»- 
sucar c fcwatante liniáo... Afianço- te que 
terás um excellcnto gro^l 



Entre dous inimigos: 

— V. S. oITonilcu me, o cu lenho o di- 
reito do escolher as nrmas para um 
ducllo. . • Mas ccdo-lhe euu direito I 

— Multo obiigado pelo favor. Acccito. 
c escolho. . . o esquecimento das iojurtas I 

•f 

TB U r.B PKXBIZIPB 
E* Joannlnha seria, 

D'clla todos tèm irrak) ; 

Náo ndmitto unia sõ leria, 

Nem um simples galanteio. 

Passa |K>r ner gravo dama, 

Das maia sizuu.u rainha ; 

Mas querendo ter tal fama, 

Segundo di/eiii, Joannlnha, 

Qual Pcnclope valente 
Da velha niytliologia, 

Desfaz á noite, contente, 

A obra feita do dia. 

PENSA MKSTOS DK TODO O MUNDO 

— Quaai sempro com o sacramento do 
matrimonio rcccbc-so o da penitencia. 

Ph. de Varenne. 

— O maior de todos os prazeres è dal-o 
a quem se ama. 

Bou/Jterr, 

— As mulheres vêcm scm olhar, ao 
enrez dos maridos, quo quasi sempre 
olham sem vèr. 

Desnotjers. 

— O coração da mullicr vaidosa 6 uru 
bello templo ornado de bagatcllas. 

Iodo Paulo. 

QVbORA-CAnXÇA* 

Doux 

Kraux 

Jouo 

Soir 

Or 

Ni 

S 

, A 

Colloesr estai palavras e letras cm 
uma linha borisoutal, de modo quo so 
possa !cr o nome de urn poeta brazildro. I 
Jacintho Cócegas do Amaral. \ 

0s enigmai O livro e o tempo sdo os 
mestres do homem e Das males o menor 
foram decifrados pelos Srt. Luirçjoi Chi- 1 
robel, Luiz do ItosaHo, Juvenal Castilho, ] 
F. S. L., Jarintho Cócegas do Amaral. 
Adolpho Costa, D. Sinhasinlia S.. Neuè 
Guimarães, D. Josephiru U„ lleuriquc da 
Silva, D. Planito c outros. 

Caniukiu. 


REGISTRO OE ENTRADAS 

De S. Paulo recebemos o n. 3 da Re- 
vista Paulista-Fluminense, de que são 
rcdach res os Srs. Felinto de Oliveira, 
Adherbal de Karvalho e Américo da Veiga. 
Krancamente, devia S. Paulo enviar-nos 
cousa melhor. 

Para que o leifor tenha exacto juízo do 
que aqultlo é, basta que digamos que na 
secção fí/hliographia. irsignjvla por Bal- 
dltera. que c ó Sr. Adherbal de harvaibo 
(com K) cncontra-sc uma serie de dera- 
fôros (ê o termo) contra Artliur Azevedo, 
a prapo»ilo da publ íração dos Contos Pos- 
sivêis; e entre esses dessfõros diz o cri- 
tico que apezar do livro ler por sub-li- 
tulo — Prosa e terso — não encontrara, 
lendo-o ate á pagina 172, Isto é atè a<* 
fim, uma quadrinhn sequer. 17 quo o cri- 
tico só sabe que c verso aquillo que náo 
chega ao fim do pop.M. 

O livro de AiUiur Azevedo tem muitos 
contos e bcllissimov. em verso correcto, 
eomo elle os sabe fazer. O crítico c q't-j 
precisa uc i.awxulo». 

i'vllzmcnt. . par» compenfar. traz a rc- 
Vista um b*Uo trabalho de Alfenso Celso 
Junior, sobre oi mormons. »* uma inspi- 
ra la POeslx de Medrirv* % c AH»oqucn|iic. 

A íiu|«:c*mv õ pc»sbna. 

Du« Si*. R' .c!ir.a'*.n à Cuiiaarár* r - 
!. •> a pn*Jix .V!' i <r i I-‘pnriat. 
••oitr» s*:» ;-ír Monteac.uo A Oliveira. 

M .i- uma n .» idade niuiiral.e imvÍd»lo 

i ■ ' i | 

‘ Vi ‘r- • - -is - Ntrvi <4 A 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


805 


Ann o XV ~ t » 

r • -'•» 


fixo do J Ano iro — Tcrçn-fojra 7 do Maio de 1S89 


vo mvA n» otviooa vo 

NUHIRO AVULIO 40 HS 


GAZETA DE NOTICIAS 


&M*» i ajrui ■ Mea» i roi* t 1 1* 

TlrMtoiU jt-4.000 v».mpl»re» 


NUMK*0 AVULSO 40 Rt 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 127, p. 1, 7 mai. 1889 




806 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


No dia 20, as 10 horas da manhã, en- 
trou & primavera. Atmuncia-so solcmnc- 
mente quo o legeudario castanheiro das 
Tullierias tem os brotos bem turgcsccntcs 
o robustos. Vai vir o verde novo, vão vir 
as flores, a alegria e a doçura da vida 
que renasce, vão voltar as andorinhas do 
sul, vão se fazer os ninhos, vão reco- 
meçar os passeios pelo Sena, os idyllios 
ã sombra do arvoredo, vai-se oxygcnar o 
sangue de Pariz, empobrecer á sombra 
das casas, das longas noites, dos dias es- 
curos, na infecção dos aposentos aque- 
cidos e das salas do espectáculo, vai vir o 
sol bcmfazejo, distribuindo luz, calor c 
alegria a todos. 

Não a todos : os que lá estão sob a 
terra 03cura do cemitcrio, esses tem sem- 
pro frio, tanto frio quo os quo os amaram 
cm vida o os beijaram mortos nunca 
mais podem esquecer a friúra d’aqucllas 
faces, em que gelou o sanguo e que or- 
valha o suor das agonias. O desappa- 
rccimcnto dos quo jazem para sempre 
nunca 6 total ; d’cllcs flea o signal no 
luto das roupas, no luto dos olhos pi- 
sados de chorar, no acftbrunhainento das 
energias que a dôr deprimo, no desconsolo 
que causa a volta periódica das grandes 
festas da natureza/ - importunas recor- 
daçücs das alegrias mortas. Dos cemi- 
térios, que formam nma cintura de 
desolação para as cidades, voiu o* sopro 
gélido, que nenhum sol de prlmavora 
poderá jamais aquecer . 

Sem fallar dos mortos que fizeram o 
seu tempo sobre a terra, nos que tiveram 
bellos dias, glorie, nome, celebridado ou 
simplesmente felicidades domesticas e 
morreram em paz entro o amor dos seus 
o o respeito dos estranhos ; sem fallar de 
Edmond Scherer, o grande critico o jor- 
nalista, redactor do Temps e senador de 
Tamberlick, o tenor incomparável, delicia 
da geração que se extingue o quo morreu 
antes dos setenta annos, talvez da sua 
moléstia especial, que era a fama do dó 
do peito, mas quo morreu rico e feliz em 
casa do seu quasi tilo celebre genro, o 
Dr. Galezowkl ; do olmiranto Jaurès, 
ministro da marinha, cujos pomposos fu- 
neracs desenrolaram um cortejo do corca 
de dez mil homens cm armas por estas 
ruas, caminho do cemitcrio ; sem fallar 


nnn <i,ia n ít A rt *i 


gf0 

um pintor do que cincocnta artigos do 
um jornalista, que nem sempre pódo -• 
mudar á sua feição ou escolher o assum- 
pto. 

Ou então sou cu que não tenho afinação 
para entender as diflerenças subtis do 
maneiras entre dons quadros de fabri- 
cantes de eneommendas edous artigos do_ 
encomraenda. Somente parece-mo nrdtutt’ 
ingrato osíorço o que sc applicar cm con ~ * 
seguiria afinação para mediocridades. 
Será talvez mais simples fazer menção * 
das cousas d'estc generò como li^r àer- , 
cador menciona as fazendas quo lhQ'pu- ^ 
sam pelas mãos — pelas etiquetas cl^jsl- 
flcativns. E as analyscs sentimentaes, 
pessoalmente interessantes, serão reser- 
vadas para as obras de cxccpçáo, ge- 
niaes, intensas, ou, simplesmente, novas. 

DoMt:io da Gama. 

Pariz, 23 de março. 


A’s 7 lioras da noite de ante-honttem, 
mais ou meuos, chegaram ú ponte Ferry, 
em Nicthcroy, 30 immigrnntcs, quo di- 
ziam ostar sem abrigo nom recursos, a 
pediam nlimentos. O Sr. capitão Gratfcá* 
lino de Araújo Costa, ncgocianlo n’aquel- 
!a cidade, mandou dar alimontução a 
todos esses im migrantes, o pagou-lhes 
passagem para esta curte, indicaudo-lhes 
o albergue nocturno. 




Armada 

Concederam-se ao professor da escola do 
Aprendizes marinheiros do Maranhão, Fá- 
bio Gomes Belfort Mattos, dois niezes do 
licença cm prorogação da quo obteve para 
tratar de sua saude ondo lne convier. 

PermitUu-se ao imperial marinbeiro 
de 1* classe Marccllo assignar-so d’ora 
em diante Marcello Joaquim Fiel Gomes. 

Foi nomeado Alberto Figueiredo Pi- 
mentel para exercer o lopar de escre- 
vente da directoria de artilharia do arse- 
nal de marinha da côrtc. 


Foi concedida a seguintê patente : 

N. 672, a Richard Repsold, allemão, 
industrial, residente n'esta eôrto, de um 
apparelho denominado Seccador Repsold, 

S ara seccar productos vegetues, por melo 
o vacuo e vapor. 


SORTEIO DE JURADOS 

Hontem foi feito o sorteio dos -18 jura- 
dos que teoni de servir na 6* sessão ordi- 
nária do 7 de junho, peknDr.IIonorio 
Coimbra, juiz do 2* districto crimlual. 
Estiveram pesentes ao sorteio os Srs. 


\—_ ar _ 1 


A— í J.-A. J _ 


De Paris (detalhe) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


807 


nos que não nzeram mal, nos nao cui- i 
pados de morrer, ba outros cujas mortes < 
acarretaram não sómente desastres fami- j 
liares como tombem ruínas de pessoas 1 
estranhas. 

Amarrada ao cáes junto à ponte da 1 
Concordia, está ba dias a elegante ga- ‘ 
leota do recreio, que foi do Honri Bcx, o ( 
corretor quo foi a primeira victima do 1 
Syndlcato dos Uetacs c qne, arruinado, 
perdido, suicidou-sc na Suissa, para ondo ; 
fugira. Nos mastros do hiato ba flammu- 
las garridas o o sol claro da manbií scin- • 
tília nos arabescos dourados da sua proa ‘ 
avançada sobro as vagas ; mas n’aqucllc i 
lugar por onde apenas passam as barca- l 
1 çns pesadas da materiaes do construcção 
e os feios raporesinlios dos suburbios, a 
, faceira embarcação dos passeios ao longo 
das costas encantadas do Mediterrâneo 
parece envergonhada c triste como um 
cavallo de luxo amarrado á porta do um : 
ferrador de aldeia, para vonder-se. 

Na rua de Moncey n. 12 é a casa de M. ! 
Sccrctan quo possuo a mais rica collccçào \ 
i particular de quadros cm Pariz. lia alli | 
espalhados pelos salões e galerias cerca 
do duzentas telas representando um capi- 
tal do dozo milhões. Secretan foi um dos 
grandes compradores de quadros no tempo 
cm que houvo a febre da arte em Pariz, 
quando os francczcs entenderam rivallsnr 
i com os americanos em preços extrava- 
gantes pagos por obras quo boje, passada 
a voga, não valerão o terço. 

No mundo do luxo, o seu nome soava 
com um tilintar de ouro. Os seus vinte 
. c dous Mcissonier valem ainda hoje dous 
r milhões e meio. Muita gente conhcce-o 
menos como especulador e financeiro do 
que como o possuidor do Angelus, de 
Millet. Um dia recebeu da America paio 
J correio uma carta com este simples e 

- glorioso endereço. 

Pois dentro de aJgmus dias a collccçio 
I Secretan, com o hiato de recreio do Bex, 
l passará a outros donos, serà dispersa 

- entre as mãos de amadores menos ricos e 
1 menos presumpçosos quo esse rei das 

finanças, tão cruelmente ferido pela re- 
percussão da bala que matou Deufort- 
Rochercau. Como poderá Secrolan se 
aprazer d’ora por diante na contempla- 
ção da primavera na natureza, ello que 
, até aqui a vira sempre atravez dos seus 
' Carot, dos seus Rousseau, Trajou, DuprÉ, 
Millet, dos seus pintores caros y... 

Pintores caros já são poucos os auo o 


Kocnercau. urnio poaera aecrotan se 
aprazer d'ora por diante na contempla- 
ção da primavera na natureza, ello quo 
ató aqui a vira sempre atravez dos seus 
Carot, dos seus Rousseau, Trajou, Duprè, 
Millet, dos seus pintores caros?... 

Pintores caros já são poucos os quo o 
são cm vida; começam a ser razoáveis os 
amadores, o a calcular sobre a producçio 
provável de um pintor antes de fazer os 
seus preços. Os vivos de talento vão ser 
mais modestos agora, não se julgarão mais 
obrigados a ter casa no bairro dc Mon- 
ceaux, nem se arruinarão em despezas 
inúteis de representação. Vai deixar a 
moda de tyrannisar a arte, logo que os 
artistas so resignem ao abandono das 
imposturas e cbariatanices que oe dimi- 
nuem. Então ver-sc-ha o vasio o a me- 
diocridade de tanta rcpntaçâo exagerada. 

Um dos de rome feito por amigos o so- 
bretudo pela persistência do esforço o nu- 
mero das Euas obras, foi esse Feyen-Per- 
rin, cujo espolio expõe-se agora na Escola 
do Bellas-Artes. Ainda que Jule3 Brcton 
faça-lbe um necrologio enthusiaatica- 
meute admirativo, ainda que Armand 
Sylvestro (o contador lio sujo c o poeta 
tão puro) diga que: 

II portait, dans mi jeor anjoorj boi um clarlè, 

La dooce <1 rinnorltlle loi|e de iou rèi», 

L'am proíond do ciei, l'or iluot de la pite, 

Et la Ktmme et la Uér onlmnl leur beaol*. 

e que um immorlal artista sobrevive ao 
homem morto, Fezcn Perrin pareceu- 
mo simplesmente um amavcl pintor, m»s 
um artista romântico, sem diversidade c 
sem pujança, monotono e molle. Elle mes- 
mo, se visse reunida a sua obra c cortasse 
as repetições do seu pincel pouco imagi- 
nativo (digamos pouco conceptivo) talvez 
sentisse o cansaço nervoso dc um jorna- 
lista a quem lessem todas as bcllas phra- 
ses que por longos annos repisou. 

E a comparação vai mais longo do que 
sc pensa. A prodiicçSo rapida obriga o 
trabalhador do pincel como o da penna a 
repetir os seus succcssos, a reproduzir 
os seus melhores cfTeitos, a crear "para si 
lima especialidade eslerilisantç. 

Como um jornalista especialista, Fczon 
Perrin, consogrou-sc a pintar figuras 
dc mulheres á beira do mar. F.' bonito, 
porém não «alie dc estudos dc academias 
mais ou nunes hcllos sobre fundos de 
marinhas de valor incerto. Meia dúzia dc 
quadros a^-iiu dão mrlhor a medida dc 


De Paris (detalhe) 




808 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ab ’ KV 



i USTi K I5TIQA5 



Rio <fe Janeiro — Steyinda-fo r -?*7 do íCaio tle 18S© 


GAZETA DE NOTICIAS 




De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 147, p. 1, 27 mai. 1889 



DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


809 


DE PARSZ 

| 0 estado de pretendcnto— seja nm lugar 

i do amanuense, uma cadeira de sonador 
ou simplesmente um throDO. uma corta c 
um reino o que to pretende— tem-se tor- 
k nado muito penoso n 'estes últimos tempos . 

) Ha tanto exame e tanta concorrência para 
r os empregos de amanuense! ha tantas 
1 vontades, tnutas antlpathias a vencer, 

. Lautos interesses a adular, tanta pro- 
messa a fazer, tanta bonestidado a cor- 
' romper, tanta dignidade a fingir para a 
\ conquista da cu rui ou da corúal... As 
i ditlicu Idades augmeu tam na razáo do valor 
i dos resultados finaes, naturalmente. Assim 
6 que, se em outros tempos JA ora difilcil 
, estabelecer direitos a supremacias que 
t poucos eram capazes de contestar, tor- 
na-se quasi loucura pretender fundal-a 
hoje sobre o terreno instável da critica, 
do livre exame e do desrespeito aos he- 
rdes. Ha ainda uma objeççAo que os 
ingênuos oppdem ás tentativas dos mo- 
k demos tyrannos de opereta: a da igual- 

• dade do direitos civis. Mas todos os des- 1 
^ cnthusiaimados de ficções metaphysicas 

J 9ahem que isso foi uma legenda que curo- 
) pHu o sea destino, desde que a Revolução 
se fez. 

Infclizmeutc, a critica, o livre exame o 

- o ecepUcismo não têm acção eflicaz para 

• obstar ao desenvolvimento dos ambições 
illcgitimas nos corpos sociaes mal orga- 
nisados. N’estas nações exhaustas, no 

. auge das civillsações, o sceptidsroo de- 
: gencra em budbismo nas classes supe- 
' riores, 

y Sio no cmtanto estas as que, vendo as 

- cousas de alto, pódem julgal-as melhor c 
’ dirigir quanto é possível a marcha dos 
. aconteci mentos. Mas a gente das classes 

superiores tem, pela sua excessiva afl- 
naçAo nervosa, uma acçio puramente ne- 
gativa, incfllcaz, iilusorit. Quando um 
homem muito instruído, multo fino, muito 
b sabodor da razáo das cousas, .quer agir 
, sobre cilas, o resultado da sua intervcnçio 
3 6 bem differeate do que se deveria esperar 
| da sua doutrina. B' que ao phllosopbo, ao 
i pensador transformado em administrador 
, ou bomem de estado, acontece o mesmo 
’ que a um mecânico a quem fosse confiada 
, pela primoira vez uma maebina a vapor 
> em movimento, ruidosa, sibiilante, cora- 
' ficada é ameaçadora. Sd o cheiro das 
graxas e oleos aquecidos o as baforadu 
. de vapor dos escapamcntos Já lhe fazem 

■ á roda uma atmoaphcra que tonteia. Além 
disso, os sentidos |>ela primeira vez cxd- 

j tados pela raachina concreta, real, nio 
permittem a abstracçio raplda para o» 

• raciocínios, ila demoras deliberativas 
[ prejudiclaes, ha enganos desastrosos. E 
. a maehtna ás rezes estropia o machinista. 

• Nio 6, entretanto, o receio de serem 

• Engolido* peia machint social o que d'ella 
r afasta os homens mais capazes de lhe eo- 

- tender o mecanismo c de a governar: 6 o 
1 que acima qualifiquei gravomente de bu- 

fjhtano, e que aqui se qualifica brogeira- 
, mento por um neologismo obscuro para o 
% «trsr.goiro, combinação de sal ganleac c 

■ cg^fcUoaophia c/nica— a gente bèm edu- 
cada o traduz por jenun/íchitmo . A pa- 
lavra é novri, porém o estado de espirito 
a que eila corresponde, dere ter sido o do 

3 primeiro homem quo se habilitou a sentir 

- da vida prindpolracnto o bem que ella 
' nos fez, e a nio procurar por fóra com- 
x plicações com a exlstenda alheia o os 
8 males possíveis d'ahi provenientes. Ape- 
nas ba a dUZercnça de boje para outros 
tempos, na quantidade d esses sábios frui- 

0 dores do mel da existenda. Hoje elles sio 

® (intM. nnn iU mlíM Hmt«i U n/Uj«n f/tmi. 


uftcm vaticínios o prexagtos. eque, junta 
com a invuinerabilidaiie ao rnlieulo, con- 
stilue a sua maior força. 

isso ibo tem valido, isso ibe valerá os 
proximos successos até á hora da prova. 
Entào o pobre Ccsar sem talonto será 
posto de lado e esquecido, como um com- 
parsa qnc figura de rei n'um desfilar de 
opera. 

A ficçio democrática tem muita força, 
tem. A menos quo nio tenba... Entio o 
homem da barba loura será o tyranno c 
fechará o balanço do fim do século. Será 
uma éra interessante, cheia de novidades 
velhss c desenterraraentos. 

Rénan pontificará. 

Douirro da Gama. 

Parlz, 12 dc abril. 


i 

I 


il 


i 

' 


t 1 

i 

i 

i 

i 




i 

i 

I 


l 

i 

i 


( •— -* - ■ »■« |fWl IUI> WUIli- 

plicaçòes com a exlstenda alheia c os 
i males possíveis d'ahi provenientes. Apc- , 
nas ba a difiercaça de boje para outros 
tempos, na quantidade d esses sábios frui- ' 
1 dores do mel da existenda. Hoje elles sio ' 
’ tantos, quo de mãos dadas já pddem formar . 
uma cadeia disciplinar, salutarmente im- 

• mobilisadora do vão querer, doa arrancos 
‘ desregrados para Ideaes vagos e incertos. 

Ha quem os chamo positivistas, mas o 
i seu positivismo apenas actúa negativa- 
mente. Todo o trabalho d'sllce consiste 
| em arrancar do «eu caminho abervlnba 
. tenra e escorregadia do Ideal, que noe faz 

• levar tantos tombos dolorosos. Arran- 
' cam-na chorando, com um grande appa- 

rato de desconsolo e magua, para que a 
, turba ignara os lastime, e lhes não siga o 
i exemplo e lbcs não venha diminuir os 
lucros e vantagem da posição á parte. 

. Assim fazom casta e têm privilégios, contra 
a letra dos codigos modernos. B cha- 
mnm-Bc os galés do pensamento, mas 
quero os estudar um pouco, verá que*elles 
nio remara, que deixam-se ir á toa, ao 
correr da agua, mollemcnte reclinados 
nos frouxeis doe seus ninhos de egoísmo. 

E a turba qne lida e pena paru roantor- 
ihes os faustosos ocios, sollre-lhcs a do- 
minação em vida c erige-lhes monumentos 
apfc a morte. 

Paqoi concluem* que, na oomedia so- 
1 ciai, bavendo sempre enganadores e enga- 
nados, e os enganadores sendo sompre os 
I principaes papeis c os mais sympathicos, 
todas as conquistas do direito, toda a or- 
gulhosa enumeração das garantias de 
segurança publica oontra os privilégios o 
desigualdades no aquinboaraento da for- 
tuna social, sio inúteis e vis. As difte- 
renças it\justas ahi estão, flagrantes, 
paipaveis. E nem todos os livros do Dru- 
moot contra os judeus ricos, nem todas 
os queixas dos socialistas c snarchistas 
contra os argenta rios o os detoatores do 
capital social, poderiam obter que, dado o 
caso do nivelamento universal das for- 
tunas, não houvesse felizes a quem fosse 
dado maior bem estar por ou nos tra- 
balho, não houvesse aristocratas. 

Mas então, se è uma burla essa historia 
de igualdade e democracia, poia quo a 
Abolição dos prlrile/fos nunca so cum- 
priu nem se cumprirá complctaraciite, so 
»o tem feitu a claridade sobre a legenda 
dos direitos do bomem. por que c que nio 
entra tudo nos seus eixos e não acabam 
; essas agitações de gonto que aio sabe 
bem o que quer ? Ah ! c porque náo se ' 
confessa facilmente um erro que dura bs 
um século ferro conforme o aspecto sob 
•ob o qual encaramos', nem mesmo que ; 
todos fossem cajiazes de coatentar-sí com 
um negativismo s.-reno. O homem carteo 
dc illusúo para viver melhor. Dclxar- 
lh'a o dever strieto ; augmcntal-a, em- 
bellwjl-a, poctisal-a, é obra dc benc- 
mrrrncia. AKm do que, verdade v a il- 
lusão de que todos partilham. 

KailiusÂo democrática tem tanto poder, 
que por ailpa dVIU lã anda o bravo Boo- 
bflger por terras do exilio, com o rcccio 
! fr.-mprede quooíhixotein do lugar em que 
tenha feito o ninho, cmquunlo por ca i> 
senado, constituído em supremo tribuna, 
dc justiça. . . justiça-o. 

IVforo Boulangcr t Se cit«* chegar a ser 
■ o que pretende, não so poderá dizer que a 
’ França cu>tou-!bc .ipcuaaani susto • uma 
y rtirivira. não! Dizem quo eile tem uma es- 

• tirlla. que eonlla n elb para o l»>m »ue- 
r eu v> da vua cmpjv/a dict ttorial. K* uma 

4 das cousas que file tem dv l»«*roi*.*o, le an 
. ;íju,ct*a iguoraneia d-- pagão que acrc-li- 


De Paris (detalhe) 




810 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 152, p. 1, 1 jun. 1889. 


bhi Ui 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 8 1 1 


0E PARIZ 


le 


Ha trcs dias taz sol, a primavera reina, 
as arvores reverdeceram do todo, as ruas 
se enchem de gente quo passeia, as roupas 
respondem em tons claros e vivos A ale- 
gria da luz, ha flòres por toda a parte 
o nos jardins .cm Ironia .os passarinhos 
cantam ; amanhi. começam as festas olli- 
ciacs celebrando o centenário, depois será 
a inauguração- aolomnc do jubileu da in- 
dustria ; entrou o . paschoa dos boteis e 
restaurants c de tudo o quo vivo do es- 
trangeiro p. muitas das que vivem do es- 
trangeiro começam a praticar o sou inglez e 
0 acu hespanhol que aprenderam durante 

0 inverno ; em qualquer sala publica ou- 
veoi-sc phrases, trechos do conversa om 
todas as línguas o mesmo em linguas in- 
teiramoute novas, de occasiSo, os logistas 
tentam faUar-roo hcspaobol, os cocheiros 
redobram do insolência o examinam cui- 
dadosamente o dinheiro que se lhes dú, a 
circulação do carros embaraça-se cada 
vez mais c certas encruzilhadas se tornam 
perigosas, os parizlonsos mais pessimistas 
dizem que Pariz agora 6 divertido, já se 
pódo sahir sem sobretudo c ha mesmo 
gente do coragem quo deixa em casa o 

guarda-chuva.— Pariz 6 bom. . . 

Os embaixadores vão-se embora para 
não assistirem ás commcmoraçOes ropu- 

1 blicanas. mas ninguém pensa n*isso senão 
folies mesmos, os seus governos c os jor- 
nalistas potiticos, do eotÜÇfto multo baixa 
nctualmentc. 0 Figaro communica ao 
mundo inteiro a graciosíssima nova do 
primeiro ninho que uma andorinha treícga 
edifica no alto da torro EiíTcl, primeira 
consagração utilitarla «Terso esforço da 
vaidade humana. Bons augurios d’nhi . 

Encostado á torre de ferro, agasalhado 
A sombra do uma das suas quatro patas 
gigantescas,© pavilhão do Brasil moatra-sc 
todo faceiro e como contente do estar 
concluído a tompo. Por dentro vai uma 
grande uzafama para arranjar c arrumar 
a exposição, quo tencionam inaugurar a 
13 do maio. E por todos os outros pavi- 
lhões c secçõoff particulares a actividadc 
nos preparativos 6 febril. Mas parece quo 
só a secção ingleza estará prompta depois 
de amanhã. Melhor será assim. A aber- 
tura do todas as exposições ao mísmo 
tempo seria uma cousa tonlciaote. E para 
os reporters a diíllculdado dc saber por 
ondo começar ílo.a resolvida ; o mcthodo 
natural será tratar do que so fôr fazendo. 

Entretanto, apezar da balbúrdia dos úl- 
timos preparativos, já 6 muito agradavol 
um passeio por dentro do campo de Marto. 
Só a pintura exterior dos edifícios ao sol ó 
um oncanto. Os francozes arranjaram uns 
tons do tintas para pintar paredes, ma 
deiramentos, mastros de bandeiras, ba 
laustradas, olc., quo não são vulgaros, 
que dão notas vivas, mas quo não gritam, 
tons ricos dc purpura o dc vermelhos 
apagados, do azul celeste o do ultramar 
cinzentos c violotas, com escalas dc va 
lorcs dados com a pintura a fosco o 
pintura a vcmiz, artama pintura dooaéas 
Se u I.uli Fernandes da Motgadinha co- 
nhecesse c fizesse a piot«ra,a*sim, talvez 
se não oíTendosso com a idóa dc pintar do 
.,,- 1 /. « nArUiniU «minta do capitão- mór 


a maioria dos visitantes olha para as 
composições dramáticas. E' quo cilas 
são falsas pela maior parte, o quo 6 na- 
tural, o franccz não possuindo o senti- 
mento dodrama. UtuaMoó* dc um pintor 
ingloz — Solomon — quo figurou na ex- 
posição da Royal Acadcmy no anno pas- 
sado, está agora fazendo figura dntro as 
pobres composições francezas. 

Diante de uma pintura representando 
uma linda figura de mulher sentada, cs- 
pecic do musa moderna da pintura, uma 
illustro senhora brasileira, patrícia pela 
posição social c pelo espirito, disso quo 6 
um quadro aqucllo para estar n'um salão 
dc bom gosto. Talvez ficasse humilhado o 
artista so ouvisse a reflexão. Mas na rea- 
lidade as prcforcncins vüo para ahi, c tem- 
po virá em quo a gcntéhão corra mais o 
o de ver pelas priscaredos das salas sccnas 
dosagradavois ou horripilantes a pretexto - 
do que são .bera representadas. Em que 
peso á memória do Gauticr... 

0 pobre Gauticr ficaria bem triste so 
assistisse n esta invasão das boas medias. 

E talvez oão fosso capaz dc ouvir com 
paciência a conferencia quo hontom fez 
naSalle dos Capucincs Af. Ilcnrl dc La- 
pommoraye. Alli tinha ou ouvido Sarcçy 
debulhar Le Itêve doZola. Sarcey parcèo- 
ra-me slngularmcnto espesso e enfadonho: 
o conferente de hontem era porfeitamente • 
chato. Fallava sobro Iievoltie do. Juléa . 
Lemaitrc, quo sc represontn agora no 
Odôon, e tomando o simples titulo |>or pre- 
texto, amontuou sobro ollecsobre nós que 
o não leriamos por tal proço (2 francos 
a entrada), tudo o quo so pódo dizer cm 
folhetim do quo só a assignatura espanta 
o leitor. 0 auditorio applatidia, ou es- 
Judava o auditorio. Irei muitas vozes ao 
Sivlon o às conferencias como esta, e 
quando tiver entendido bem a esthetie» 
popular, começarei a escrever sobre a arte 
democrática. Provavelmente os homens 
do talento mo desprezarão; mas o quo 
são humilhações do amor proprio quando 
so tem a missão dc propagar a democracia 
cm todas as cousas? 


Domicio da Gama. 


Pariz, 4 do maio. 


Foi exonorado Alfredo Augusto Pi- 
mentol, do cargo do 1* supplento do 
subdelegado da íregnezia da Conceição da 
Ribeira, cm Angra dos Reis, por haver 
mudado do resinencia, sendo nomeado cm 
seu lugar Henrique Carlos Gachet. 


A's 9 horas da manhã do hontem dou- 
se um começo do incêndio no prédio 
pertencente n Joaquim Lopes, em Nic- 
tlioroy, na run da Engenhoca, frcgticzia 
dc S. Louroncq. FM o fogo cxtiuelo-* 
|vclns pessoas «la casa o da vixinhnnça. 

Foi, a podido, exonerado do cargo do 
promotor publico da comarca de Campos, 
o bacharel Bento Luiz dc Toledo Lisboa. 


0 Sr. Joaquim José dc Freitas, actual- 
mente residindo na Europa, deu uma 
honrosa prova da sua dedicação A Socie- 
dade Portugucza de ÜenoUcenela, assu- 
mindo gcncrosamcnto as desnezas da 
mordomia dos hospitncs c Asylo dc En- 
sino Profissional, mantidos pela mesma, 
no. corrente mez de junho. 

Nomoou para mm adjunto o concei- 
tuado iiego.-iauíe J'esta praça Sr. Ri- 
cardo Ramos. 


U- 


do 


Foram nomeados para os r.irgos vagos 


sc não ofTcndcssc com a moa uc pmiui uu 
verde o portão da quinta do capitão- mór. 

0 palaeio das Bollns-Artos visto dc fóra, 

6 uma joia dò.òrnanxmtação. c colorido. 

13 quando os - olhos , consooíoni om aban- 
donar tão grato cspêdaculq o so levantam 
para o céu, n'um dia ebraw^oió - o céu é 
azul, de um azul manso e cheio de fres- 
cura, sem sol maligno, com repousos do 
nuvons brancas, cm que o espirito pousa, 
sem pasmos de infinitos. 

Parece quo ó este céu o que inspira o 
amabilidade do arte franceza. Amabilidade 
quando n’clla sentc-sc a alma do artista, 
sincera, luimnna. Não são todos assim ; 
muitos querem fingir cxriUsmos dc csthc- 
licas, sensibilidades o emoções quo não 
possuem, quo não são da alma franceza. 
Espicham-sc então. E a dominante da arte 
franceza fica sendo sempre a nota amavcl, 
clara c serena quo inspiram as contem- 
plações tranquillas, do uma sensualidade 
fina, mas sempre equilibrada c saudável, 
sem inorbide/as nem nervosismo exces- 
sivo, na afinação média a quo a maioria 
attlngc. Este 6 o successo das pinturas 
medíocres, esto 6 o motivo pelo qual cada 
Salon annual apresenta uma diminuição 
dc obras dc arte absolutamonte ruins ao 
mesmo tempo que do obras primas, 6 a 
razão do augmento progressivo das boas 
médias, quo desejava o burguez presidente 
Grévy. Do Saio» d'cste anuo (que tambem 
abriu-se ha trcs dias, como uma fiòr ao 
sol) disseram os critleos da arto que cllc 
assignala uma diminuição geral do talento 
ao mesmo tompo quo um augmento de 
habilidade manual, quo cm graúdo nu- 
moro dc pinturas sento-so quo a arte vai 
cedendo o lugar ao ofllcio, etc. Como não 
sou critico d'nrtc não lastimo isto. E 
sempre consequente com a minha idòa do 
que a òra ideal i>ara a humanidade será 
aquolla om que não possam mais nascor 
nem Césares nem Michelangolos, já con- 
tenta-mc bem a certeza dc que o advento 
da aristocracia do pincel e do escopro não 
terá lugar. Além d'isto uma idén escan- 
dalosa o quo não tem nqui lugar para 
descnvolvcr-ac, é a que. contesta a utili- 
dade, os dirchos do ser da arte individual . 
D'ondc: arte democrática (oillcio. so qni- 
zerem,) boas mídias, suppressão conse- 
quente dos críticos d'nrtc, melhor utili- 
sação dc actividades disponíveis, elevação 
do espirito nas contemplações abstracta», 
educação da imaginação livre da mate- 
rialidade na íórma plaslica, uma mul- 
tidão dc cousas insensatas, como são sem- 
pre as derradeiras consequências da idéa 
mais razoavcl de accordo com a Lgica. 

Mas, cmquanto não vem a opportuni- 
dade c a auetoridade para allirmar dou- 
trina tio esquisita, vou me deleitando 
com idea de que toda obra d’arto honesta 
habilmente realisada, sem rangidos do 
dentes, estremeções de nervos nem furlas 
imchcUmgcUcos, 6 signal do quo o seu 
nuctor é uma bca alma. capaz do idéalí- 
sação, mas sem vGos olympieos que nos 
íaçam vertigens o que nos deixem depois 
exhaustos, com a marca para sempre das 
suns garras de aguiade talento. 

O Salon «Teste anno está cheio dc obras 
d’cstas, defronte das quacs a gente pára 
dc bom grado, mas que esquece depois na 
monotonia dos assumpto» repetidos o das 
maneiras semelhantes, inconveniente Im- 
possível de eVltar-sc iTuma tão grande 
renniâo do discípulos das mesmas escolas 
c muitos dos mesmos pintores. Puiwgens, 
marinhas, naturezas mortas, flores, re- 
tratos, pintura sacra, pinturas dc genero 
c de historia, gravuras em todos os gêne- 
ros e esculpturas é muita cousa- para se 
examinar depressa e sinto-me feliz por uto 
ser obrigado a dfeer o qne mais mo im- 
pressionou na oxposição annual das artes 
do desenho. 

Sim, impressionou-mc a claridade geral 
,lo tom das ninturas e o desdem com quel 


Foram nomeados para os cargos vagos 
dc 2* c 3‘ supnlontcs do juiz municipal 
c dc orphãos do termo de Pctropqlis 0 
tcnentc-coronol José Cândido Mouteiro do 
Barros c Mnnuul Autonio Dorgcs. 

Hontem, ás 9 1/2 horas da manhã, o 
pardo dc nome Custodio Folix Monteiro, 
trabalhador dn estação marilinm da 
Gamlión, rccolhcu-sc nn hospital da Mi- 
sericórdia, oom fractura dn tíbia direito, 
declarando quo fora viclima de um de- 
sastre, quando trabalhava na reforidu es- 
tação. 

Com a sabida do illustro cscriptor 
Dr. Valeu tim Magalhães c do seu irmão 
Hoiii-iquo do Magalhães, n redacção do 
AíkMvÓ Contem jioruneo I Ilustrado, foi 
substituída pelos Srs. Guimarães 1’assos, 
como redoctor principal, o Emiliodc Faria, 
como secretario. 

Exercito 

0 superior de dia à guarnição dacidado 
hoje é o major do 2 2* batalhão Francisco 
Agostinho do Mello Souza Menezes. 

Foram nomeados: 

Escripturarios da repartição de ajudante 
general, os tonentes do corpo de estado 
maior no 2‘ classe Manuel Joaquim de 
SanVAnna e Alfonso rcilro da Fonseca 
Lcssn, oste interino o mmollc eCTooUvo* 
Dircctor da oolonia Militar do Jalahy, 
nn província do Paraná, o tenente ho- 
norário do exercito João Gonçalves da 
Silva; escrivão da mesma colonia, o ul- 
fcivs, tambem honorário do exercito, 
Autonio Chrispim do Olivoira Fernandes. 

Quartcl-incslic do Imporitil Collcgio 
Militar, o alferes de cavallaria Cândido 
DulcidlO Pereira, sendo exonerado, con- 
forme podiu. o tenente dc infantaria An- 
tonio Bcncdicto de Araújo. 

Sob a presidência do Sr. visconde do 
Maracajá, njuihntc-çencrnl , reuniu-se 
iiontcm a commissáo de promoções, com- 
posta dos Srs. brigadeiros PortncArrcro o 
José Simcão, allm dc organlsarem a lista 
para prehenchl mento das vagas existen- 
tes dc olliciacs. 

Foram transferidos: para o 2* regi- 
mento de artilharia, os 2“ tenentes Ivo 
do Prado Monte Piros da Franca o 
Francisco Xavier de Aloantara Araújo; 
para o 29* «le infantaria, o alferes do 27* 
Paulitio Fclippo Simcão, c daquclle para 
esto batalhão 0 alferes nddido do 24*, Au- 
toaio Augusto do Alaydo; para o l* re- 
gimento do cavallaria. o 2* cadotc do 13* 
batalhão do infantaria, Adolpbo Ferreira 
jtai-ros Fontoura, c para o 9* regimeuto 
dc cavallaria o 2* cadete do 2* regimento 
de cavallaria Manuel Pedreira Franco. 

Foi classificado no 4‘ regimento de 
.artilharia o 2* tenente Graciano Pacheco 
dc Assis Filho. 

0 Sr. barão de Corumbá, ajudante-ge- 
neral da armada, mandou apresentar ao 
Sr. conselheiro cheio do policia o indi- 
víduo de nomo BJtimar Fernandes Vi- 
eira do Barros, que, tendo ido volun- 
tariamente assentar praça no batalhão 
naval, no acto dc sc fazer o respectivo 
assentamento dc praça declarou auo era 
criminoso na provinda de S. Paulo. 

Sendo interrogado, declarou Barros 
que, ao anoitecer do dia 2 do corrente 
mez, no lugar denominado « Ponte da 
Preta ", na freguezia do Braz, fora ferido 
com facada» um indivíduo de cor preta. 

ouc, ottrlbuindo-soa ello declarantc a 
auctoria do tal facto, embarcara no dia 18 
com destino a esta córtc, no firme pro- 
posito «le assentar praça, mas que. tendo- 
sc arrependido do passo que ia dar, dç- 
elurára ser criminoso na provinda do 
S. Paulo. „ , . 

Disse mais, quo no «lia em que íol es- 
/ — ...j n n aitA iniltvíftiiA dllft iiedaranto 


De Paris (detalhe) 


812 



FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


813 


i 

n 

t 

D 

0 

c 

e 

». 

c 

a 

DE PARIZ 

Por mais que -digam os da geração dc 
67, í diflicil imaginar Pariz com mais 
divertimentos do que agora. As festas 
succedcm-sc ás fesba diariamente, com 
intervaiios de horas ou mesmo fazem-sc 
concurrcncio, a municipalidade rivali- 
sando com o governo e os particulares na 
cniprc/a amavcl dc divertir por todos 
os modos os convidados da grande cele- 
bração do progresso. 

Para nàofallar senão do um din, houve 
bontem no campo do .Morte a inauguração 
do Pavilhão Norueguez e a do Pavilhão 
Anuzonico. cm que o conselheiro Ladisláu 
Netto faz a sua exposição ethnograpbica 
e nnlhropologiea; rvo Trocadero, grande 
concerto e primeira reunião do Congresso 
Internacional dos Homens dc Letras, festa 
colonial n& esplanada dos Inválidos, jantar 
e recepção no Elyseu, festa commemora- 
tiva do Juramento do Jogo da Pclla cm 
Yersaillcs e festa no parque Monccaux, 
dada em honra aos expositores, com lu- 
minárias o fogos de artifleio. 

Digo quo não é occasião para divertir-se 
a gente o que falta cm Pariz, mas não sei 
bem quero è que se' diverte. Ru não íou. 

G como cu ha muitos, quo ainda hontcm 
encontrei por vários d'csscs lugares dc 
festa com o ar fatigado e morno de sol- 
dados nos iutenrallo* das evoluções dc 
uma pirada. 

Parada mesmo ê o quo isto 6 c não 
podia ser dc outro modo, dado o caracter 
celebmti vo, cultual da exposição. Mas do 
contacto diar o com os celebrantes, os oíh- 
ciantes do enthusiasmo a longo jacto, ga- 
nha-se a fadiga reflexa, pcior ainda que 
a directa, porque não ha estímulos, nem 
applnusos que reajam sobre cila. N'cstax 
alegrias republicanas, dcmocraticai, so- 
cialistas, humanitárias, fraternacs, etc., 
c sempre para alguém que se alegram os 
festeiros. Para alguém que não sabe-sc 
bem quem 6, alguém abstracto, povo, hu- 
manidade, mundo, oauditorio sympathico 
que cada orador fabrica para o sou uso, 
que engole complacente as maiores araras 
empalhadas que existem nos armazéns 
'da rhctoriea prctcnciosa e vá. Ainda 
hontcm pensei n 'isso, ouvindo os discursos 
dos vários delegados da Internacional na 
Sociedade dos Homens de Letras. 

Em uma sala do segundo andar do Tro- 
cadero, ás 2 horas da tarde, rcuniram-tc 
muito graves e muito suados cerca dc 
cento c meio de homens vindes dc vários 
pontos do mundo, para accordarcm nos 
meios dc dar-se ás obras liltcrarias c ar- 
tísticas um caracter de propriedade,- que 
garanta ao cscriptor, ao artista, o justo 
prêmio do »cu merecimento. isto c, o sa- 
lario clozorrffãbalho. A cousa era muito 
simplts: Jules Simon a explicou n'um 
encantador discurso, cheio dc bom senso 
c dc boas phrascs, com a eloqucncla sen- 
tida dc um bom e simples de coração e dc 
espirito que ellc ò. Pois logo apôs o dis- 
curso dc Julca Simon, quo necoidou urn 
proloiigadi&aimo cco de palmas na assis- 
tência, começaram os discursos vasios e 
chatos, gaguejados e tropegos, adubados 
dc chavões, dc imagens safadas, gastas, 
sem a menor originalidade dc expressão, 
que revelasse a correspondente originali- 
dade no espirito, começou o que sc poderia 
chamar a confratornisaçâo da bestice 

irá aprender a scr socialista o doutri- 
nário, quem sabe 7 Para estudar, dis>c- 
ram-lhe... 

Estudando tem agora o Brasil muitos 
dos seus filhos por aqui. Que lhe apro- j 
veite o estudo da metade d'eltes, ea ex- c 
posição dc 69 não terá satiafeito apenaa o 
amor-proprio dos francezes que visitam o < 
campo do Marte, o regalado os olhos dos 
estrangeiros que de todo o mundo afiluem ^ 
a esta cidade bella entre todaa as bollaa. t 

Afortunadamente para os leitores da j 
Gazeta, entre os peregrinos do grande 
jubileu da arte e da industria jã chegou é 
o chronista competente d'esLas festas,— r 
homem que sabe vér e descrever de modo c 
a persuadir- nos que temos pelos acus 
olhos. Ramalho Ortigfto está em Pariz. 

Jã tomou o cheiro do boulevard, já pas- f 
seiou a pé pelos Campos Klyscos, já con- f 
versou com as velhas que cllc gosta dc 1 
encontrar no seu caminho, jà viu alguns 
dos acus amigos, applaudui Jules Simon, 
visitou os pastellistaa e aquatelllstas, [ 
admirou a torre Eil1el...Jà tomou notas 
para tratar da exposição brasileira 1 K eu, 
contentíssimo por não metter-mo em ca- 
misas dc onze varas, nem mesmo conto o t 
bom eíTcito quo produz a exposição an- J 
thropologiea de quo o bom do Quatrcíages f 
faz tantos elogios no Sr. Ladlsláu Netto. 

0 venerando anthropologista ficava mi- 
nutos esquecidos a «cismar diante d’a- f 
quclles artefactos da nossa cerâmica 
primitiva. 0 que 6 aaberl e cu entrando 
no pavilhão deslocar, a unica suggcstào 
que sollro è a d’aquclla cantiga popular . 
entre oa garolns do Rio, cm que nariz tfe 
Ô 0 f( 0 '/uc rima iníanlilmcnlo com Chico 
chicote e caco <fo pofe...Que o illus trado ; 
c amavcl dircctor do Museu do Rio dc * 
Janeiro me perdoe, mas o unieo congrrs*'» 
dc que eu não poderia fazer parte c o de 
anthropologin, em quo o Brasil vai scr • 
representado pelo mais auctorisado dos ( 
teus especialistas. Entre as scicncias quo | 
não tinto está a anthropologia. 

Mas o melhor dos correspondentes da 
Oatcta sente a anthropologia e outras ( 
cousas ainda, o que faz com que os nossos i 
leitores náo percam nada do que por aqui 1 
bnja do Interessante, que sc possa contar 1 
honeslamcnlc. Desde já ilcom sabendo que 
pouco perdem náo lendo o que eu cscrover 
cm grandes paragrapbos (c è quoai tudo). j 
Mas os largos paragrnphoi de Ramalho s 
Ortigão são justamente os melhore» (c são 
qunsj todos). 

p icani prevenidos. 

DOMIOO dâDáma. < 

Pariz, 21 dc Junho. , 

Ha mais cio n dias que não ha agua na < 

eiua n. 114 P da ma das bnrangeiras. 

Ja sabemos que nada adiantamos com a 
reclamação ; entretanto, ella ahrflca cm 
satisfação ao pedido que nos foi feito. 

1 

PARA QUE LHE HAVIA DE DAR... 

0 lllisatro Sr. Dr. Santos Marques, 
subdelegado «lo 2* districto do Sacramcn- i 
to, quando se zanga, /.nngn-sc a valer, • i 
não t para graças. KelizmenU, aquillo 
da-lhe poucas vezes, mas quando lhe ua * 
vai tudo razo. 

Hontcm, á noite, a Irritadiça repre- t 
xeatante da a< ctoridade. eslava com o* ' 
seus blue (Ituils, c znngou-se. K para « 
que lhe havia de dár a zaugaf Para sal» r 
para o meio da rua acompanhado por 
praças de policia e ir prendendo a torto e i 
a direito a» peiaiu* que encontrava. 

s 

a 

s 

n genuíno, que são os homens dc letras. 
Apenas dous rápidos discursos de Jules 
Claretie e do filho do Mickicviez c uma 
arenga de um hespanhtfl chegado hontcm 
mesmo de Madrid para derramar sobre n 

Kilou nada menu» *»« qúiiiz» «iiJíuuuo*. 
c nlirou -os ans ferros d 'El- Rd. E sc 
n‘elks não es lá a estas borns um ronhe- 
cido aslvogado c ex-dclc^ado de policia, é 
porque fugiu a bom fugir. 

Náo tendo mais a quem prender, o 
Sr. Santos Marques prendeu aa praça* j 


arenga de um hespanhdl chegado hontcm 
mesmo dc Madrid para derramar sobre n 
memória de llugo (nunca 6 tarde na Hcs- 
panlia I) uma lagrima cm que sentia-se a 
nrdcnrin do sòJ ibérico, apenas tres ora- 
dores estiveram na altura do que deveria 
ser o mais inldlectual dos congressos sem 
conta que n’este nnno se reunirão cm 
Pariz. Eu comecei por cnvcrgonhar-me 
pela figura triste que tuia o resto da hu- 
manidade diante da França, sem eompre- 
hender as razões que levaram aquelles 
homens, alguns dos quacs mal faltavam 
o franrez, a arrostar o ridiculo das al- 
locuçücs desafinados e grotescas n*um con- 
gresso cm que sem duvida se achariam 
reunidos os príncipes do bem dizer. E a 
uniea bypothcsc explicativa que encontrei 
foi a d 'esse publico abstracto, que nó- 
criámos cá dentro, que nos é sympathico, 
que nos applnude c nos entende sempn- 
mesmo quando Jià» não nos entendenio* 
bem, que crè no que dizemos mesmo 
quando a mentira i llagrantc, que no.«| 
defende, nos honra c nos consola quando i 
o nosso merecimento e o nosso amor- pró- 
prio de pequeninos gênios são reduzido* 
ás suas justas proporções c humilhados 
pelos que tem força o valor. Para ess? 
publico bastante fino c sagaz para en- 
tender os subentendidos c as lacunas da 
nossa expressão defeituosa e bastante In- 
gênua para acceitar confladomcnto as 
imposições da nossa Interessada Interpre- 
tação do imiodo, è que so escrevem os 
Urros e os jornaes cm quo ningnem acre- 
dita e so fabricam as obras de arte intet- 
ligivels ou rasas, a que ás vezes n moda 
altribuo capricho*amento valias, profun- 
dezas e sentidos puramçnte arbitrários. 
E— cousa singular, que até certo ponto dá 
razão nos metaphysicos crentes I— esta 
criação subjectiva tem isto de concreta- 
mente real: a força de trabalharem, de 
viverem sobro esta convenção, ella tomou 
corpo e vive e dá manifestações da sua 
existência e toma o lugar da rcalidmjc 
real. 

Isto é o que nos perturba o desorienta, 
á nós outros contempladorcs simples, que 
não temos segundas vistas na nossa In- 
dagação das relações entre cantil e cITci- 
tos, e que entretanto só muito raramente 
encontramos directancntc applicadas ás 
cousas soctaei as leis da lógica. A nossa 
simplicidade perde-se 



la 


icWntiflcas, com- 
c interpretações, para d'ahi con- 
cluir-te ás vezes a simples afllrmaçAo de 
uma verdade corrente e popular, não se 
met teria n’esscs trabalhos de Ião pouco 
lucro pai a tanto c&forço. Mas não sc pensa: 
sempre o flm da viagem nos parece facil 
antes de começai-a, e, uma vez a caminho, 
não vale parar antes do flm ou do esfal- 
fa aen to. 

Cincoenta c oito congressos estio an 
nuncialoi, que sc vâo reunir em Pariz 
para discutir precisamente taes c taes 
questões sobre assumptos determinados e 
dc programmts organísados e publicados. 

E de doze outros prcparam-sc os pro- 
grammas. Ha congressos de hygicne, de 
finanças, de direito commcrcial, de agri- 
cultura, dc scicncias infinitas e dc indus- 
tria, dc associações protee toras c previ- 
dentes. de colorobophilovde bombeiros, 
de artistas, dc letrados, de legistas— Tai- 
, se estatuir universalmente e o anno da 
Exposição Universal será o da regula- 
I mentação universal. Só por pensar na* 

I aUecuçõcs c mensagens dirigidas a esse 
f Miblico, e«a humanidade que ninguém 
conhece e que todos pretendem dirigir, 

| anda-me a cabeça á roda. 

I Parece que ha falta dc gente para di- 
I rigtr CSta pobre humanidade, porque em | 
um dos ta« congressos de economia j«lt- 
I Uca mctterani o mais humilde do» cor* 

I reuponitenieu que a Oastia >U Noticias 

• ... U ^ 


De Paris (detalhe) 





814 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 209, p. 2, 28 jul. 1889 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


815 


©g PAFS 8 S 

«... K pelo mar sem flm, duramente 
nzul, serenamente màu, sob a fuiscaçào 
do sol passam os vapores velozes, como 
galhndns seceas boiando na corrente, vi- 
são evocativa de saudades, da nostalgia de 
outros tiorisontis. 

« O mundo 6 pequenino, mas o mar é 
largo c a miseriu do homem que dci>òc â 
beira d’clle todos os seus desejos chora 
na lamentaçiio secular das suas vagas 
contra a penedia. Dir-sc-hia que a zoada 
confusa faz-sc dos qteixumes dc tanta 
aspiraçAovan, a que a brancura das arcas 
marinhas serve de mortalha. Desejos do 
infinito para ns almas ambiciosas, dese- 
jos de repouso para os humildes, desejo 
dc melhor paro todos quebram-se tantas 
vezes dc encontro a essa barreira I... 

« O meu sonho scrla agora levantar-mc 
no võo d’cstas gaivotas que a onda embala 
e ir pousar na antenna oscilUnta d’aquclla 
barca, que lá na aresta viva do mar des- 
taca-sc como um ponto escuro esmore- 
cendo, diminuindo, sumindo-se... Depois 
d’nquclla, mais longe, ha outra ; dopois 
outra, depois outrn, perdidas na solidão 
do mar. Mas a gaivota do sonho tem o 
vôo incansavcl. E, depois do anil do mar 
profundo, npparece por flm a agua esver- 
deada quo assignala a costa, como tin- 
. gidw <1« (Kiwiwinr.nln rlieratln. esnnlliando 
o céu benigno, o céu familiar da pai/agem 
serena. Depois, a aza batendo rnpida, 
frechando o espaço, por cima dos campos, 
por cima das cidades, o tiro direito n 
torre de mysteriosos prestigioso cuja 
bandeira estalando ao vento acena-nos dc 
longe. E ahi, beatamente, scutir Parte I...» 

Diz-me isto uma carta vinda de lá, cia 
nossa costa desolada como uma terra dc 
degredo para quem tem sonhos fóra d’clla, 
o são tantos os que os tém I Ha hoje na 
alma humana, apezar das accusações dc 
materialismo c falta do ideal que lbc fa- 
zem, uma necessidade de expansão, uma 
ancia de que hem se podería chamar ele- 
vaçáo para os lados. Em vez dc mysticís- 
mo 6 um sentimento mais pratico, mais 
humano. O protesto do vinjanto são as 
curiosidades mntcriaes; o seu estimulo 
real éa communháo necessária com as 
provas que lhe ensinom a vida, a goznl-n, 
a sentü-ubem, a ser feliz, por comparação. 
De sorte que os brasiloiros que por aqui 
so encontram hoje, aos magote; 1 , das 
Folies- Btrgirc, nas Montanhas Russas, 
no Jardim de Parir, nos cafés cm que 
ba ceia até amanhecer o dia, andam fa- 
zendo pandega apparcntemcntc, mas, na 
realidade, andam fazendo sociologia, nem 
mais nem menos. Sociologia pratica, está 
claro : a theorien aprende-so cm casa. 
nos romances dc um franco e vinte e cinco 
a tres e cir.cocuta o volume c nos folhe- 
tins amenamente profundos dos jornacs 
dc Ires vinténs. E’ digna dc ver-se n 
seriedade com que um brasileiro diverte-se, 
isto é, estuda o prazer, aproveitando n 
occasiáopara divulgar-nos, propngar-nos, 
relacionnndo-nos. Já tenho tido a sor- 
preza dc ouvir dc pessoas habitualmcnte 
pouco conhecedoras dc cousas politicas 
explicações pasmosns da quòda do minis- 
tério João Alfredo. E hoic. miando no rw» 


está ao lado dc outro, sem dizer ao que 
veio, só para intrigar-nos c nos dar volta 
ao miolo. 

Em que pese ás almas ílnas... Que, 
isto aqui para nós, alma flna é couss 
que não ha. Pelo menos cilas são tão 
taras que não entram cm linha do conta 
para o succcsso. 

0 quo ha, sim, para fortuna dos fabri- 
cantes honestos, regulares e trabalha- 
dores, c uma esthesia democrática, salu- 
tar c conveniente. Tenho percebido ns 
suas manifestações nos thestros, nos con- 
certos, nas exposições artislicas do toda a 
sorte e ando a redigir as notas da nora 
doutrino, que seria a csthctica do con- 
senso unanime dos povos, emproa inutil- 
mente heroica ou heroicamente inútil na 
sua difliculdade. 

0 meu amigo que tem a prcoccupação 
da verdade na arte, toma notas sem- 
pre sobre os cataloges, umas a torto c a 
direito, outras myatci iosa*. 

Do catalogo das 143 t u as de Claudc 
Monct, cxlrahi algumas. 

« 19— Uoulevard des Capuanes. Man- 
cha nmarclla á direita, mancha violcln ã 
esquerda, a sombra e o sol, e sobre ns 
duas a agitação formigante do boulevard 
com as manchas dos vestidos das mulhe- 
res, vernizes sciiitillantcs dos carros c 
arroios c a atmosphora em bruni ada ía- 
zendo harmonia. 

« 24 —Pont d’ Argcutntil . Agun, refle- 
xos; reflexos vivíssimos dos barcos bran- 
cos; reflexos dc uma ponte pardacenta c 
azul-roxo á direita, do arvoredo verde 
sujo ao fundo, do céu transparente com 
placas do nuvens claras. E' a pbysiono- 
mia das cousas quietos. 

« 40— Vethcuil dans le broxtillard. Um 
lago, bruma, um barco a vapor, casas, 
uma aldeia, igreja, castello, espelha- 
incntos, luz dilfusa, o ambiente incerto 
^do sonho, qnc parece sor carcctcristico 
d'cste artista. 

Engana-se o critico. Os grandes apuros 
dc sinceridade tocam os conflns do irreal, i 
Mos passemos. 

■ 40 — Les Glaçons. Embrumado ainda, 
sento-se a gente deslocada, como sob uma 
alluclnaçáo da visão. O verde cadarcr do 
rio dá um grando prestigio ã teia. . 

«SC— I.a maison dit pecheur. Uma ca- 
sinha no oito dc um rnorio maninho, 
nniarcllcnto, destacando-se cm silueta 
sobre o mar verde-azul em que passam 
brancuras errantes longe. A melancolia 
das solidões. 

« GJ— A llordighera. Um pomar, um 
jardim italiano. Flórea c fruetas, gri- 
tando cm còrcs; céu verde, marazul, uma 
convulsão chromat ca. 

« IH— Sons les pias. Antibes. Pingos 
de cádmio, figurando a vermelhidão dn 
i-rcpusculo entre a folhagem dos altos pi- 
nheiros escuros ; ao fundo um nzul vago 
do montanhas na turvaçáo da hora. Relevo 
valente. 

K outras. Dclxci -0 a ver a csculptnrn 
d.- Augusto Rodin, que prometteu cxpll- 
oar-mc. Não ha como ser brasileiro e 
chegar do Brasil paia entender as cousas 
c cxpHcal-aa. . . 

Agora para a Exposição já 6 muito 

. — i- t.*tK mIa. IA hn tnnt’1 


pouco conhecedoras de cousas políticas 
explicações pnsmosas dn quòda do minis- 
tério João Alfredo. E hoje, quando no pó 
dc arroz de certas frontes vejo o vinco que 
deixam as rugas meditativas, desconfio 
logo que por n 11 i andou brasileiro político, 
partidário, patriota e. .. sociologo. Por 
isso, quando os encontro, saúdo-os com 
toda a altura do braço: são beneméritos. 

E circumspcclos. Não sc abandonam i-, 
emoção das impressões novas. Convcr- 
snndo-se com cllcs, nota-se n reserva dc 
quem não quer parecer inferior, domi- 
nado pelo espectáculo novo. L»inbram-mc 
uma velha da minha terra que, pas- 
seinndo commigo pelo Rio, ntto querir. 
olhar parn os lados, nem parar a ver a> 
cousas, para não se mostrar embasbacada, 
gente da roça. A um, que encontrei ha 
dias no pnnoraitlA da companhia Trans- 
ntlanticn, li, com toda a emoção que pude 
ajuntar na voz para o cl feito conveniente. 
a carta cujo fragmento dou c que cllc 
pudòra tcr-mc cscripto muito bem. Mas 
a illusão d'aquolla ponte de commando dc 
um transatlântico snhindo do llavrc não 
comniovcu ao meu illustro compatriota: 
cllc poz do parte o lado sentimental da 
sccna para contestar a veracidade d< 
todos os vapores de umn mesma com- 
panhia rounidos n’um porto ao mesmo 
tempo. 

Então, admirando-lhe a argúcia criticn 
o a frua prcoccupação dc verdade na arte, 
levei-o n vir a exposição das pinturas (h 
Claudc Monct o dascsculpturas do Rodin. 
na galeria Pctit, á rua dc Stoc. 

Monct 6 um dos impressionistas cuja 
estbetlcn ainda sc discute, mas cujo ta- 
lento já ninguem contesta. Como lodo ( 
artista que tem uma idea, cllc corncç:. 
impressionando-nos pela sua convicção r 
acaba por nos persuadir do qúc a sua con 
ccpção também i verdadeira. Ellc en- 
bMUlcu quo não ò impossível fazer vivei 
as cousas p0". uma das suas exteriori- 
dades npparcntcs mais rchUyaso nini- 
precárias,— a cór. E fez-sc d'clla culto?' 
apaixonado, frenético. E em toda a su; 
obra, que não é definitiva, como genuína 
obra dc flm do século que ò, ha como vos 
tigios da passagem d 'esse galope furiosi 
da caçada á cór physionomica. 

O artista estã sob n possessão da có 
na sua apparcncla Irrcprescntavcl, inex- 
primível, que é a da luz natural. A agu- 
deza da sua visão, exacerbada pela ann- 
lysc c diflcrenciação constantes das còre> 
principacs, transformou-sc cm nevroso. 
A sinceridade fanatica da rcprescntaçã( 
dos aspectos dc luz rapidamente cam- 
biantes, a orgulhosa honestidade dc ar- 
tista intransigente obriga-o a umn rapi- 
dez dc trabalho, que impressiona mal a» 
cspeclador profano. Com as placas dt 
tinta juxtapostas, com os seus toques du- 
ros, os borrões que realçam c contrastam 
asperamente, o seu uspecto eriçado e es- 
cabroso, o despreso da linha c a única 
prcoccupação do tom pliysionomico, que 
è ‘preciso sentir para entender, a pintura 
de Cláudio Monct lembra umn constru- 
cçào incompleta, muito bclla parn os en- 
tendidos, que sabem apreciar uma ar- 
chitectura ainda coberta com os seus an- 
daimes, 

Nds, porém, o publico pouco imagina- 
tivo c constructivo, não temos olho para 
sso. Queremos ter a obra comp'cta, 
prompta, bem lustrosa e lisa, pintura 
que se possa ver dc longe como de perto : 
mas sobretudo dc perto, porque nós 
somos gcralmcnte myopes, dos olhos ou 
do espirito. Não basta-nos a suggestão : 
queremos a sensação directa c precisa. 
Uma facha rosaJa por cima dc uma zona 
escura com cspelhanicntos vagos pódc 
representar perfeitamente a alvorada sobre 
um ligo ; mas é pouca cousa para nós. 
que go.-timos de ver as cousas clara- 
mente. mesmo na noite ncutt torvem - 
nos melhor os clássicos ( lícitos dc luar. 
E* quo a arte para o publico- tem -«lo 
siibmettcr-se ás imposi Ç*' ejf.ôá ycaél&a^cS 
necessárias. • mbora Í.Vsai, , O exeaiplo 
rrals frlsante são as j>cen.n.de tlicatro cm 
que ns plirasos a meia vox Xèm dq -ser 
entendidas pelosultimos ouvintes dastior- 
rinhi*.*, quo também pagam èom"ç£ , *ta 
dinheiro para ouvirem t idd ,^ '«■ 

Este c que é ocaso: (jdí.n piRa ten 
dir s dc exigir. O p ilíufd *fjué paga 
exige do saltimbanco em ^ÉjJá.Vtjue ty. 
revele as intenções do,.pçraífin 

vem representado, c-jino «uge-dri btor.v 
d.-r d,i felaque lhe r* a!^'ásHrt{giíÇ\j- 
um «U^uoCnf qp« V 


0 cxplical-as. . . 

Agr.ra para a Exposição jã 6 muito 
tarde. Faz tanto calor lã dentro; ha tanta 
cousa para ver-so e tanU gente a 
vcl-n I. . . 

Fica para amanhã. 

Dom ico da Gama. 

Pnriz, 5 de julho de ISS9. 

Foram nomeados: paia senir no ar- 
senal dc guerra da córto o nharmami- 
lico alferes José Uaxilio da (ritma Villas 
llnas, c no hospital militar o phnrma- 
ceutico contractndo Augusto da França 
Ferreira. 

ESTADO ORIENTAL 

MiMitovIilóii 27, (ã noite) 

1 Continuam com actiridaJc as deli- 
Lcncins judiciues; os jornacs approvain 
| a atli tude assumida pelo governo, c sus- 
1 tcnlam-n’o energicamente. 

Monte, vl .léu» 

Descobriu-se na alfnudoga outra caixa 
,-oiitcudo niacliiuas explosivas. 

Foram piesns varias pessoas quo sc 
s-ipptwm tomaram parle na conspiração. 

[Agenda llaoas.) 

Na igreja de S. Francisco de Paula 1..- 
nmunliã, as 81/2, unia mi*» cm acção c c 
graças, por ter sido preservada a viu., 
dc S. M. o Imnwadur. 

0 despacho imperial realisa-M amanhã 
ao paço da cidade depois docorle o. 

Consta-nos quo será aposentado no 
iogar de desembargador da relação do lte 
•ife o desembargador Victorinodo Rcg. 
1‘uscano dc Brito. 

0 ministério rcnnc-sc hoje ao meio dL 
em conferencia na secretaria do i perio. 

rUADO VIU. A ISAnSt. 

Ila hoje corrida nn l’ra-!o Vllla Isabel, 
com um programma magniflro e lanfu 
Hiais interessante pela duvida que oITcre 
pareôs üa previsão da vi- 


li-.Irimlo nu"' 5 «nlrtlri corri lati 

■.ué 

nin um couvito M Icilor i«n 1101 
ucoiiipnliar,,. çon»»0VM6Uiri rtoes 

S*guilltcs I«\lpití s: 

l* parco— 1* turma— Tcnorino — Od«- 
Üsc». \ 

—2* turma— Tf’ t n i or “* , P- 

2* parco— Misl^lba—Syrius. 

3* parco— Ouvidor— Djjc. 

4* parco— Fcnj?|' il ~ ‘ 

5* pawo-CIcogirt^-Alaitor. 

Seguiram hontem' para a fazenda d 
Monto Alegre as eg'|M Phrynca e Lily 
cocavallo Butt, fl 1 ' 0 , , ser , 1 r iuozu‘ 
prodiictores n’aq;iell. A • n 'j*ortante 
Je criação. ..i , . 

Nu proxintii qmrtW» “S*™" P” 
■1 mtinio dctlno [,«lns u opuus ropru- 
iiictivM compradas idumanicntc ao Sr. 
barão da Vista Alegf®- , 

Nu mesmo .li» t’"' 1 »!! í^" 1 

: Monte Alojírc « »■ Xav ! t; 

Jo It.irrOi, coilllcci.lt' Ç Mtimauo tp.ru- 
.mu, ecrento d'a,|.>llo.impurtaiitlsslmr. 
estabelecimento dc ortação. 

4— 

Recebemos o n. ■IWdo Sportsman, < 
querido periódica spOrtivo da corte. 

Não desfazendo noS anteriores numeros 
somos forçados a fl 110 f#tc c ' 

melhor que nos tejn cabido nas mãos. 


São curiosissimas 


nichcusc» dc correr , 
2.2C0 metros corrji 


sf-rio de circumstas 


ias que quasl impèfiram a cgua«Plcur- 


Jo Prix des Terlre. 
jlo ultimamente cm 


IPariz, c que foi ganlfoçm 19 de maio pc:.l 
referida cgua, venerado ror Ires corpos. 

M. Siebcr comc^Jú «l^cnlchcnse<» m 
dia lò dc maio c\na ausência do seu en 
traineur cncarrfS 0U a um crla,| ° d l 
estrebaria a ceii*u£» Ja gtS» P'™ ' ' 

|cl.i manhã ehe^o 0 alauó. a T^is^. ; - 
lém ú noite regiam a Salnf^oWnaln. | 
•I-v-.iiMudo ai l 

podido Mcttar cltt ;ívv 
No dia scguuA V 
pioprictano íiWlf. 
iessi-.il mente prwçujáríA*® T 
acabni por rm>:£Ç a . , ;* cm ?& C0 K ‘ r ' J 

1 • ' 


tM’ 



De Paris (detalhe) 




816 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 231, p. 2, 19 ago. 1889 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


817 


DE PARiZ 

13 do julho 

Uma collecçno muito interessante s«:rl* 
a formada com o* cartões c bilhetes de 
convite para as festas sem conta, que 
n’cste momento at traem a multidão dos 
ociosos, e mesmo dos que o não são, de 
um para outro lado tTcsU cidado tomada 
de um frenesi de colebraçbes, inaugura- 
ções, confraternizações, do tudo o que 
consiste cm fazer discursos diante de 
estatuas, ouvir a Marsclhcsa de chapéu 
na mão, agitar bandeiras, gastar vivas a 
Carnot o ú Republico, applaudlr os regi- 
mentos cm evoluções e os exercidos das 
sociedades de gymnostica, receber depu- 
tações estrangeiras, dar banquetes, dansar 
e suar, mostrar-se fórte, rico o grande ao 
ihesmo tempo que amavel, persuadir, ao 
seu povo* de que na republica enupiy 
tamhem ha njegriá’ e prazer o esptorfflõc, 
como no tempo da monarchia, com o orj- 
gulho do ser livre, e de cada um pagar a 
sua parlo- a mais. Fazer a collecçdo dojç 
convites c náo ir ás fçstns seria o melhor 
poro qiiem não tivesse grondo empenho 
em adquirir a convicção de que no diver- 
timento mais popular c menos oiltcial ha 
agora sempre esta pote do bem estar e dc 
segurança publica. Para os quo ainda 
náo têm o sentimento inteiramonto mo- 
derno do reclame isto desprestigia a re- 
publica. E* o programma do ministério 
Tirnrd rcalisndo a (orlo c a direito embora 
com a mais louvável intenção. 

Da festa da inauguração da estatua do 
Liberdade que os francczcs dc Nova-York 
ofTcrcceram á cidade dc Pari/, c que foi 
credo na ilha dos Cysncs em Grcncl *• 
sd mc chegou o èco dc umas bofetadas 
que um jornalista estrangeiro deu em 
outro por questões do convites. São mdus 
c ferozes aqui os jornalistas: o cxcrcicir 
perenne da mentira, a visão constante da 
trama grosseira em que sc bordam a 
bcllas fantasias pootiens dessecam -lhes « 
alma. Ellcs vivem n*uma perpetua irri- 
tação contra o mundo, quo nãó c bom 
pérque flzeram-n ’0 máu, c o seu m.iter 
prgulho ê fazerem sc temer. Os quo são 
mais íflrlcs physicamcntc são os mal 
malcriados: esbofeteiam os outros o es- 
crevem logo uma circular communicando 
A facto odioso a todos us que nenhum- Inr 
toresse tem om saber d‘isso. Esta ò a ter- 
ceira que recebo, duas dç um nuanió 
sujeito, que não conheço. Só tenho visto 
os jornalistas em banquetes, cm que o 
presidente com toda a prudência abrevia 
as sobremesas a os discursos, ou então cm 
vnlas em que os corpo -a-corpo não são 
permittidos. Mas se tívosso de tratar com 
ellcs diariamente, faria a despeza dc 
mandar vir do Rio um capanga, que es- 
tiipasse immediatamente o homem que 
mo injuriasse. E por caminho dilTcrontc 
a Ga: ela dc NolWas chegaria a ter o seu 
Cassagnac em Pariz. Como estou do fdra. 
scismo n'osta singular volta da natureza 
hmnnnn cxcessivamcntc clvUisada ao« 
meios brutacs «la conquista, como se fosv 
uma prova cm favor da lheoria rovolu- 
tiva dc Vico. 

Ainda hontem na carnarn dos deputado?: 
um deputado por Argel, M. Thomson. 


fatigam os que as organtsam como os que 
são convidados obrigados tTellas. 

O presidente da republica é um homem 
bem occupado n’este tempo. Passa dias in- 
teiros na exposição, bisbilhotando cousas, 
na temperatura tórrida das galerias, entre 
um continuo apertão de gente quo o quer 
ver e acclamar insaciavelmente, inaugura 
duas estatuas por semana (hontem foi a 
de Camillo Desiuoulios no jardim do Ta- 
lais Royal), assiste aos exercícios gymnus- 
tlcos nas Tulhcrias, vai aos bailes, nunca 
janta sósfnho, aperta milhares do mãos 
nas noutes do recepçio no Klyscu e na 
infinidade de movimentos repetidos d'essa 
representação continua os seus gestos 
vão tomando uma eiprcsaão de automa- 
tismo dolorosa. O seu sorriso amavcl ar- 
ma-te correctamente como um claque do 
boas mòlas.’ O pnico inçonveniente ò que 
clle esquece-se às vezes do’ desarmal-o c 
defronto do uma exposição de produetos 
brutos, mineraes, làs.ou -madeiras, .os 
fagueiros pés de gallinha nos cantos dos 
olhos o os déntinhos .brancos continuam 
q sòrrisó ameno da nova etiqueta presi- 
dencial. 

Ante-honlem no baile dos expositores 
no Palacio do Industria, olhando da varanda 
do lodo dos Campos Elysios para a tribuna 
ofücial, por entro a turvaçào do calor 
terrível que entornavam naimmcnsa sala 
os 6,500 bicos do gaz e a luz electrica cm 
festões, em lampadarios- e em lustres 
equivalendo a 5,000 velas cada um, entro 
d vapor do todas as respirações de quinze 
a vinte mil possoas reunidas, uma man- 
cha encarnada, que era o fltáo da grnn- 
cruz da Legião de Honra, c uma brancura 
vnga, que eram uns dentes a sorrir, as- 
signalnvam a presença do presidente da 
republica. Ouviu as cántt^as dos estu- 
dantes flnlnndczcs, applaudid; levantou-rc. 
leu o passeio do rigor pola sala entro o 
alarido das acclamaçõcs o saluu á mclo- 
noute. 

K amanhã será o mais terrível dia, o 
passeio a Longchamps pelo sói, em carro 
descoberto, horas inteiras do pé na tri- 
buna, as co:tezins,o jantar, um horror!. . . 

‘E um dii ellc viverá nq seu canto co:n 
saudado do bom tempo cm quo solTri.. 
lauto como presidente. : . 

Douufto DA Gama. 

Assicnsianj termo de bom viver ni« 
subdc.ogaciã da fieguc/.ia do Espirito 
San lo, por sorem ébrias o vagabundas 
Amélia Justina da Conceição e Feliciana 
Ma tliias Dm-bo/a. • 


DERBY CLUB 

ORANDK PUKMIO KXTIU 

Com a habitual concurrcncia, sempre 
namoro*;), rcalison-se hontem no prado 
•'o Dcrby Club uma coriidj, om cujo pro- 
gramnia figura o grande prêmio poi nni- 
maca estrangei os dc 3 aneos, um dos 
mais importantes, justamente i>or serem 
aniumes novos, c cm cujo oortnmcii co- 
meçam a revelar a sua superioridadü c 
lisongeir as promessas . 

Os demais parcos dc que sc compunh < 
•> programma, cqmquaiitOjbcutinte inte- 
ressantes, ioda via são frcqitculcs o esta- 
mes propensos a acreditar uuc duas lo.* 
..as partes dos assistenies do hontem í«- 



Ainda hontem no cornara «tos deputados 1 
um deputado por Argel, M. Thomson. * 
injuriado por um boulangista, M. Lanr. . 
rahiu-lhc om cima c deu-lhe uma sova r 
ponlai*ès e a soecns. Depois trocaram | 
duas balas de 'pistola no plateau do Çha- 
tillon e o assobio dn quo passou por perto 
do ouvido do -Sr. Laur deve tel-o eonw»- 1 
lado dos sopapos que tinha recebido dua>- , 
horas antes. Tanto qnc cllc deu-se por 
satisfeito e não .qulz bater-so com outm 
collega, M. Letellicr, quetambem tom.in 
a si a injuria collectiva c mandou «lesa , 1 
flalsn. Não ft bom brincar com pistolas... • 

São as ultimas sessSes da caninra c ellr ‘ 
não quer morrer sem dar que fallrtr «l« 
si. Osopposicionistas. invocando a liber- 
dade da tribuna, immunidadcs parlamen- 
tares, clc., dizem quanta injuria, atiram 
quanta calumnia querem contra o govorm- 
c depois gloriflcam-sc com as piiniçõo* 
que solfrem, comosc fossem outras tantas 
cortas dc martyrio pela santa causa pu- ( 
blica. Outro dia foi um Sr. Lcjeunc qm 
sc fez expulsar da sala por chamar o- i 
ropuhlicanos de canalhas. Anto-hontcm 1 
foi o Sr. Lagucrre, boulnnglstn, tamben» j 
excluído do recinto das sessões, por inju- ] 
rlar o Supremo Tribunal' da Justiça qn 
tem *lc julgar Boulauger A C., e isto com ( 
grande resistência, escândalo, susponsã • 
da sessão, ctc. Hontem foi o Sr. Laur. , 
boulangista, obrigado a retirar uma pa- 
lavra injuriosa contra a deputação dn - 
Algeria que votava contra a amnistia dos 
chcfçsarabcs venchlos na ultima insnr- 
rciçüo. Nos dias do sessão quem tiver 
pressn não deve passar pelo cães d’Ors.«y 
cm frente ú camará dos deputados. Além 
do movimento «le carros que vem e vão 
para a exposição por esse lado, ha scmpiv 
alli um poviléu immcnso esperando o éc • 
do derradeiro escândalo lá dentro. E do ( 
noite, nos cafés em que ain«la a massa 
estrangeira não afoga as conversações do- j 
parizienses, commcntam-sc longamcnto os j 
succcssos do dia, faxem-se prognostico*, » 
saborciam-se as peripécias das liictas po- 
líticas, com um sybaritismo do quem ( 
reduziu os seus circenses às pegas de 
cara o mais sortes parlamentares. 

Depois de encerradas as camnras.serà o 
verão morno e deprimente, sem mais in- 
teresse que prenda cm Pariz a gente quo 
ahi vive habitualmcntc. Serão as férias 
para os sedentários, será a invasão com- ( 
pleta pelo estrangeiro, o demonlo absoluto { 
da exposição. E’ o tempo cm que estudam 
os muudanos, que no inverno c na pri- < 
mavera as festas absorvem. Na exposição ’ 
ha toda a sorte de assumptos de estudo. | 
A brevidade do tempo c a confusão das i 
impressões são o maior embaraço para òs ( 
qne só têm da industria e da arte conhc- | 
cimentos geraes. Mas os especialistas, os , 
pouco imaginativos acham logo ahi o 
material das suas investigações em coi- - 
lccçõcs tão completas como rarameute 
se encontram. 

O Brasil tem cín Pariz uma commissâo 
dc estudos encarregada de relatar o que 
Jc mais importante, mais novu c mais 
util para nós se encontra na cxposl«;Ao 
universal dc 1889— tarefa heroica confiada 
a trinta e tantos brasileiros .do toda a , 
competência, mais um que nunca se viu ; 
cm taes apuros. E todas as festas termi- ' 
nadas depois de amanhã, começarão a sc . 
encontrar todas as manhãs peias galerias . 
do campo dc Marte, do Trocadero c dos : 
Inválidos as tlguras sisudas dos relatores 
estudiosos trabalhando pela patria amada. ' 
Tanto peior para quem tem curas dc 
aguas e villegiaturas a fazer ; é preci o • 
que o relatorio da exposição seja impresso 
antes que o governo dictatorial do Sr. 
Silva Jardim, esse tcrrivcl tombeur et 
faiseur de rois que agora temos, possa 
submettel-o ã sua rigorosa censura. 

Quando digo que depois dc amanhã es- 
tarão terminadas as festas, enuncio uma 
esperança, uma aspiração illusoria talvez. 

A festa dc 14 dc julho serão auge, não o 
termo d’esta colossal kermesse da expo- 
sição. Se o voto do povo, mesmo n'csta 
terra de liberdade e luz, fosse um voto 
esclarecido c livre, um voto ideal ccmo o 
sonham os parlamentaristas the-.Tioos 
poderia parecer quo o governo actual 
quer embriagar o povo c pcrturbar-lhe o 
critério elcctivo dando-lhe prazer à farta 
até a hora C-m que as urnas derramarão 
sobre a França a onda pacillea c serena j 
ou a torrente de lava que incendiará a 
Kuixipa. Mas não è provável «|ue pcnseegj : 
nisto os que dão estas fcntas, que tanto 1 


De Paris (detalhe) 




818 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anuo XV Rio do jtmoiro — Terça-ieira Mt? de Ago-Jto de 188fa 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 239, p. 1, 27 ago. 1889. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


819 


SS P&RSg 

Houve muita decepção com a festa do 
U de julho d’«tc nnno. Na tarde de 13 
Pnriz encheu se extraordinariamente. Nos 
boulcvards a circularão era diUlcil ; no 
recinto da exposição era o movimento dos 
dias do grande festa. Audava-sc lenta- 
monte, obrigado a seguir as correntes que 
>:e formavam cm um ou outro sentido, 
ondulando a imniensa ngglonic ração do 
povo. Os restaurantes tinham f regue/es 
bem singulares: a provinda dava a maior 
aíUnciicia. Nos theatros, no« cafés-con- 
certos, em todos os logarcs aonde vc vai 
buscar divertimento, era impossível achar 
Jogar depois das 0 horas. E ale alta noito 
as ruas Acaram cheias, ruidosas, animadas 
•jxccpcionalmento nVsta cidade que já nào 
tem mais horas mortas. 

Por iss*> os aguaceiros, que começaram 
a caliir no dia 14, por voltado meio-dia, á 
hora cm que lotlcs os que nào so achavam 
cm Longchainps estavam em caminho 
para lá, foram acolhidos com os cpithe- 
tos mais ou menos Injuriosos, quo toda 
a gente quo so quer divertir dirigo no 
tempo que lhe serve mal. Mas a chivya nào 
dissuadiu ninguém do ir à revista militar, 
cujo grande attractivo seria a carga de 
cnvallnria ensaiada nas vésperas a vista 
do general Laussier, commandantc das 
armas de Pnriz. Tudo foi bem, a parte a 
chuva, o frio, a lama, o atropollo, as dispu- 
tas de legar. as longas esperas, os fani- 
quitos das mulheres no meio do apert&o, 
os inconvenientes Inhercntes ãs desloca- 
ções indisciplinadas dc uma população ln- 
i leira do um logar para o outro. 

A revista era de 32,000 homens e nào 
durou duns horas. As bcllas linhas das 
tropas, as evoluções correctas, a parte bi- 
zarra da milícia territorial das tropas 

• colo» {tés com o« seus soldados do todas 
‘ ns còres, das escolas de Saint Cyr c Poly- 
: tcclmíca, artilharia passando n'um movi- 
L mento tão regular quo dir-sc-hia que as 

• carretas em linha tinham os eixos das 
' rodas unidos, prolongados, da cavallaria. 

dragilcs, caçadores, coura*clrns, relam- 

• pagos dc rcllcxos quando o sol abria uma 

• estiada rapida, galopadas furiosas outras 
vezes, afundando-se na turvnção dos chu- 
veiros cerrados coroo vintes de batalhas es- 
candinavas— o «pcclaculo para quem nào 

1 esperou longas horas cm pé, «'uma tri- 
buna, era real mente bello. K cm toda a 
immensn linha dc espectadores a passagem 

• das tropas acccndia um rastilho de ap- 
‘ plaiisos intermináveis. 

! K* interessante, estando no meio do 
: povo, ouvir ás ronvdbsaçõcs, os coiumcn- 

• ta rios. as predilecções, as opiniões, as pi- 
’ lherias. as asneiras, as manifestações das 

• bons almas quo o bom bumor revela, 
i Na Inglaterra nào é facil jicrcclici* no meio 
] do povo estas gradações pessnaes dos sen- 
1 timentos que um espectáculo qualquer 
i acorda em cada um ; talvez Isto seja 
- porque os ínglezes nào são bastante uu- 

ancês—o franccz o é inllnilamente c nas 
horas dc maior expansão é um prazer 
r ouvil-o c vcl-o. Durante a passagem das 
o tropas cada um applaudia o regimento a 
u que tinha pertencido ou oiule tinha pa- 


Encerrou-se a sessão parlamentar o a 
cainara partiu ontre as maldições dc todos, 

Sd o Journal tlcs I)< l»,it< mostrou a in- 
consequência do lac:» injurias, de tal ingra- 
tidão para com uma cnmara que satisfez 
successiva ou conjnnctaniento as ambi- 
ções dc todos os jar tidos. Mas isto, quo 
aiuda não ò historia, aiuJa c política: . 
pãlscmos. 

A publicação do nulo d-' necusaçSo do 
Boulangor, Rochcfort c Dillon foi o maior 
acontecimento da semana e outra prova 
do que jà lutjca exaltação dos ânimos nào a 
so mostra cm violências, lia um o lio ter- 3 
rivcl do governo contra esse partido novoff 
que sõb.'conio a escuma suja «lo ambições Á 
baixas, mas o espirito <k ordem exige o 
formalismo ncccsaario à repressão dos 
maiores crimw. Os boiilangistas lindem 
uma traiiqnillidado e uma segurança quo 
nào têm. Agora dizem quo têm dez mi- 
lhões no Banco de França para as despem 
das eleições, que vão ser renhidas c ar- 
ruinarão muito candidato s * nas cartazes 
de proclamações dc fé poli li, ca c proiisíõcs 
cleitoraes. K nlliimam allnal que o di- 
nheiro que Boulattjfft|%asta*ó fornecido 
pelo barão de Muckau. Bem itial parada 
tem a sua em preza csao grande especula- 
dor da que chamam aventura buulnugista. 
.Sc ns cousas caminharem sempre «rdcl- 
ramente como vão, sd uma revoluçào po- 
derá dar ganho de causa ao atrevido 
aventureiro. E revoluções agora parecem 
diliiccis em França. 

Domicio da Gama. 

19 de julho dcSD. 


Os oflicincs do 2d batalhão, os que es- 
tiveram cm serviço na Mirra do Tingui 
comoSr. major daquclle b.tallião, Pedro 
Niiucs Baptista Ferreira Tamarindo,- of- 
feitaram. hoiiU.ui, a esse oílieial um 
nlbmn tino, no qual se lc uma signill- 
cativa iuscriprào cm letras douradas. 


EPE-ÜE®!2FS?É3JMAS 

27 DC AGOSTO. 

•fr Nasceu n’e.sta data. em 1795, o na 
cidade de Ouro Preto, Bernardo Pereira 
dc Yascuncellos, grande pofUlco, estadista 
acima da craveira comiiitim, notável ü- 
iiauceiro, parlamentar adestrado e, tlnal- 
niente, luzeiro do partido liberal. 

Ja disse que cia dc Ouro Preto... Será 
a sorte dc todos ou Ouro Prelos, tacs 
ntlribiitos possuírem t 

Nesta data, cm 1319, fallcccu no 
Rio (iraude du Sul o general João dc Deus 
Monna Barreto, visconde dcS. Gabriel, 
gloria militar brasileira. 

•fr N este dia, em 1833, o Sr. senador 
Correia pediu no senado informações ao 
governo acerca das rachas no reserva- 
tório do Pedregulho. Ainda não era mi- 
nistro da agricultura o Sr. Rodrigo Silva; 
o por isso nào liou ve informações ú apenas 
ficou decidido que e/rectiva mento existem 
ns taca ractiaa uo lufortunado reserva- 
tório. 

A 27 de agosto dc 1831 scpultoii-so 
n’csta corte João dc Almeida, o creador 
da reportagem flumiuenae. 

Sabia do offleio por intutçào; furtava 
origitiacs, illudia amigo*, sonegava in- 
formacões. cornava u:i ualuiu das mãos 


quo tinha pertencido ou ornle tinlio pa- 
rentes, amigos, ralações. Davnm-sc vivas 
«os coronéis c mesmo aos capitães sym- 
pathicos, tal qual no Rio á porta do Cníé 
dc Londres applnudem-sc os amigos á 
passagem das manifestações civicas. Uma 
moça cnthusinsinada achava lindas até ás 
cabmnhas dos cavai los, uns brutaes ca- 
vallões do couraceiros. Depois sentou-se 
na lama, n’um desmaio, desfallccida de 
fadiga. 

A’ volta, pela Avenida do Bosque, e 
pela dos C.ini|K>s ElysoM, o espectáculo 
dos soldados cnlamtados até o pescoço 
nào - era muito alegre. Mas applnudia-sc 
ainda. O alto do Arco do Triumpho tinha 
uma criação de cogumellos pretos da 
mesma família dos quo esmaltavam ns 
tribunas c as cercas dc Longchitmps-— os 
terriveia guardas-chuva com que rada um 
se incumbo dc molhar os pescoços de dons 
ou Ires. Mas ás C horas tudo isso desap- 
parecr.u. A chuva cessou dc todo; as 
ruas nsphultadas enchugamm-se ; ns lâm- 
padas eléctricas, os bicos do gnz. os co- 
pinhos dc sebo, as lanternas do curas 
acccnderam por toda a cidade o grande 
clarão, cujo reflexo no céu asvignala Pariz 
de muito longe. 

A partir das 8 horas interrompen se n 
circulação dos carros, os músicos subiram 
para os coretos enfeitados dc folhagens e 
bandeiras, armados nn* encruzilhadas, 
nos largos, nos cantos mais socepados dc 
cada quarteirão: os bailes começaram. 
Notei que nos quarteirões populares elles 
eram mais limpos do «pie junto da 
Opera, na praça «ia Bolsa, na do Palnis 
Royal, onde eram os mais importantes. 
Na encruzilhada «las ruas La Fouillade, 
Potits Chain ps et La Vrillicre, Imvl.i um 
quosi familiar. Dançavam valsas, sclio- 
iisches,niaxiirkas. Os visinhos desciam sem 
chapéu a dançar com j«r vbinlms. Casaes 
liiupaiiientc vestidos, que passavam, pa- 
ravam alguns minutos c dando-se as mãos 
entravam na roda alegremente. O liuRct 
eram as nxius ,!e pau «lc uma bodúga da 
esquina, cobertas de hi^coilos e cop«.*s de 
cerveja. H:a Intimo nquillo. 

Do Campo •!« Marto á Bastilha estron- 
davam por t«nia a parte »>s realejos dos 
cavntliiiitos «!e os tiros mm pombos. 
*>s soccos nas cabeças de turcos, os mil 
rumores dos jugos e divertimentos do feira, 
<|iio faziam dc Pariz inteira uma im- 
m« usa kermesse n’cssa noute. O centro «la 
á-sta era a praça da Conroruia, ponto de 
paisagem dos (|Ue iam |*ara o Bois 
| Boulognc ou para o de Yinccuncs as illu- 
niina«/ie8 o aos fogos. O povo de Pariz 
angincntudo com «>s visitantes da provín- 
cia e do estrangeiro dava uma impressão 
, vertiginosa pelo movimento o polo nu- 
mero. Mas a inultidú«j aqui não inspira 
1 receio como no Rio. As rixas muit' 
raras. Ninguém sahe p^ra a rua disposto 
a fazer rúlu, como entre nós acontece. A 
■ maioria ò gente dc bons in>linctos o ajut- 
’ /ada. Faz gosto conversar com uma fa- 
mília de operari *s, pequenos ne^ocianlts 
ou empregados em passeio: fora «l«z balcão. 

• do cscriplorio, das questões do dinheiro, 
la lucta pela vida, elle» são bondosos, 
«niuveis, alegres, cmanta«!or«;s. Os dc- 

• feitos de vaidado u chauvinismo mesmo 
tranjfonnnm-jcem qualidades. Esta con- 
sideração faz o in ib -r la«!o das festas 
pO|lUliUCS aqui. 

Mas a imaginação lio^ que vinham 
primeira vez.(inh.vlbe« dissipado «»s nervos 
cm nào sei que r.iarav.f !r,»a> fantasias «T 

fotos •»:»«:. Ti o t»> dc luz, es;:;.i mlo.as «! • 
r ii silo. de eipleoüor, dc fausto ollicial. E 
; • : I festo, plesi fei ■ 

i: > Jli. s C..t l;duU, •Svsilllt- 

ilr.f». lío ive «,'iom vi *. -ví a Pariz ou 

quem nhi llr.i- • M de julh" para I 


f 

i 

t 

«I 


d 

c 


<1 

«’ 

J 


I 


I 


I 


l 


De Paris (detalhe) 




820 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 244, p. 1, 1 set. 1889 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 821 


OE PARIS 


i? 


sal 


Tudo vai bem. em grande calma, wnr 
da política Os icrnaes discutem os resul- 
tados prováveis das eleições pare conse- 
lheiro municipal nas quaes Boulanyer. 
apesar de inelegível, aprcsMita sc candi- 
dato cm SO ou 113 cantões. 0 Hatin dã 
cúpias cm íac-siiullo do cartas que cllo 
escreveu a um Sr. Burel, que tem andado 
ás voltas com a justiça c que dcclarou-sc 
seu cúmplice. Essas cartas, se não provam 
judiclalmcutc contra o seu signatário, 
provam moral mente contra o partido qu 
assiiu faz flecha do qualquer pàu c que 
nom sequer tem a dignidade da colic- 
rencia bem flngida. Um slgnal bem ovi- 
dente da grandeza moral do nosso tempo, 
são os embaraços quo na opinião publica 
encontra um ambicioso que não seja ho- 
nesto por si ou peias suas relações. 

Os stru>jgle-fürlifistas,u± que doutrinam 
e argumentam com a immoralidade, não 
querem vèr as provas em contrario que 
encerra um caso (Testes. Todo o formidável 
apparclho da propaganda boulangista tem 
sido impotente para supprir o prestigio 
que lho falta c que n má reputação dos 
seus chefes nunca lhe permiUirá adquirir. 

E* o dite-me com quem andas. . .opposlo 
sentença que nlDrnii que o mundo 6 
dos que não têm vergonha. E* tão pequeno 
o mundo dos desavergonhado®.. • 

A exposição também serenou. Não ha 
mais balbúrdia lá dentro. A multidão 
distribuc-so com toda a regularidade c 
mesmo nos apertões ha uma certa ordem. 
Isto não quer dizer que seja agradavcl an- 
dar por nlli em certas horas. Tara subir á 
torre è preciso fazer cauda ordinariamente. 
B* preciso fazer cauda para almoçar ou 
jantar cm qualquer dos tres Bouillons 
Duval, para tomar o caminho de ferro De- 
cauvillc, que agora já vai da Porta d’Oreay 
á Galeria das Machines, para niettcr nos 
ouvidos as pcraslnhas do vidro dos phe- 
nographos Edison, para obter um numero 
do Fiçaro ou do Pelit Journal, impressos 
nas Marinonis á vista do publico, para 
entrar no pavilhão da companhia tolopho- 1 
nica c ouvir a Sanderson cantar Esclar- 
r.wnde na Opera Cômica ou a Escalais no 
Romeu c Julieta na Grande Opera, è pre- 
ciso fazer cauda para poder ver, ouvir c 
sentir os succcssos da exposição. 

Mas não é preciso aportar-se a gente 
para ouvir a musica nos quatro grandes 
coretos do Campo do Marte, cm que as 
bandas dos regimentos tocam trechos es- 
colhidos c variados, na secção dos pianos 
c orgãos cm que executantes de nomeada 
fazem valer os instrumentos de Erard, 
Herz, Plcyol, Bord, etc., nos restaurante 
chies cm que orchestras de tziganes, lau- 
taris, mulheres húngaras, solistas o con- 
j u netos do todos os paizes fazem alar-se a 
imaginação do freguez n'um sonho feito 
da fumaça de vinhos singulares c da sug- 
grstào das musicas exóticas. 

Exótica 6 um adjcctivo que já vai sendo 
escusado para a musica cm Pariz. O que 
ha de musica francczâ aqui está nos cafés- 
conccrtos. Assalasdoboulcvard de Stras- 
burgo c os jardins dos cantantes dos Cam- 
pos Elyscos são os templos cm que se 
celebra a cançoneta, cm que se expande n 


lo caderno de notas de um corrrspondento 
do jornal de Texas uma apreciação muito 
riginal da vida parizionse. 

O rude c singelo americano chega a 
Pariz nos bcllos primeiros dias de maio, 
m tempo de festas c escreve logo: 

« Bm Pariz o céu sempre é azul ; nunca 
thovo ; mas é tal a inclinrç \o dos fran- 
:c/es para o paradoxo que a cidade está 
cheia de casas em que se vendem guarda- 
chuva. De noite, os pari/ienses penduram 
dns jnucllas lanternas do còrcs, como os 
•hinezes ; nos quarteirões ricos ha arcos 
lc triumpho com lustres docrystal. Os 
parizienses não fazem senão comer c beber; 
•>s que são sobrios estão sempre a fumar 
tomando sorvetes. 

A cidade de Pariz compõe-se de dout 
elementos muito distinctos: casas que 
estão sondo demolidas o casos que estão 
sendo construídas. Os parizionses moram 
nas que ainda não foram demolidas o nhl 
vivem apertados como dominós cm sua 
caixa. 

Por toda a parte só se vêm restaurante, 
cafés c theatros. Nos Campos Elyseoa, 
indo se toma café ao ar livre, os especta- 
dores são tão alegres, quo de vez cm 
quando um se levanta, sóbc para um palco 
e canta ou grita alguma cousa, dizendo 
que é feliz, do improvisos. 

lia theatros muito agradaveis onde se 
representam sccnas da vida real. Mas do 
repente, quando estamos mais captivo) 
da ilhisúo, começa a musica a tocar o 


vem um bando de gente cantando: A la 
fUe, Qui s'apprite, Aceourons, AccouZ 
rons, Aceourons, etc. E o dono da casa 
replica: A la file, Qui s'apprite, Aecou - 
m, Accourer, Accoures. ele., etc. Do- 
poís, quaudo estes ücaiu cauçados, a peça 
vai para diante c ás vozes no flra, o rapas 
mais bonito faz saltar os miolos ou so en- 
venena. Fica-se desconsolado por não' 
entender cousa alguma. Entretanto o di- 
verti monto 6 tão apreciado que ha uma 
dúzia de theatros a representarem isto a 
um cyclo inteiro de poetas em numere 
superior a trezentos não fazem outra 
cousa todo o anuo senão escrever versos 
A la fite, qui Pappréle, aceourons, etc.» 

O correspondente do jornal de Man- 
ehcstcrdizquc Coppcrtint.o auctor destas 
observações engana-se, porem que c uma 
alma caudida o um critico 6cm precon- 
ceitos. 

E* a primeira vez que vejo uma boa sa- 
lyra a respeito do Uicatro franccz. 

Douicio da Gama. 

27 de julho. 

Os chefes das casas exportadoras norto- 
americauas estabelecidas iTosta côrto, o 
alguns outros cidadãos d'essc palz, vão 
oITcrccer ao Sr. general Armstrong, cx- 
consul dos Estados Unidos, a venera da 
ordem da Bosa, ricainontc cravejada do 
brilhantes. 


MAnliflnn 


EPHIESIEFÍEDÍMAS 

1 DK SXTKHimO 

Ú N’tíslc dia, cin 1808, foi abolido o 
uso de correr 0 ouro cm pó como moeda 
cm ditTorentes províncias do Brasil, apo- 
nns pormilUndo-sc que circulassem moo- 
das de prata, ouro e cobre. 

KIT cti vam ente era precisa essa medida, 

..nU Avnnlnliiw a . d normiil.t Mm nnlim 


ia 


I 


pos Elyscos são os templos cm ipic so 
celebra a cançoneta, cm quo se expande a 
alma tvrim^ fr yfranc». 1’nulus pontitlca. 
ajudado ile ouuos menos veneráveis, mais 
rnlnas qnc clle: Dcballloul, tenor sem 
dentes c sem voz, assoprando as canções 
d la Nndaud, com uma melancolia suspi- 
rosa, ciitorucccdora ; Clovis, disendo o 
monologo salgado o porco, entre dons es- 
tribilhos nullos ; Subbac, massante, im- 
becil, a caricatura do bobo; Paula Bròblon, 
gorda, grande, torna c bregeirn ; Aminti, 
■inana, Valti, Bloeb, mulheres com pouco 
voz, pouca afinação o muita arte para oc- 
cintuarc sublinhar a malícia innoccntc 
de unia phrase tola de cançoneta, rí- 
tbinaila n’uma musica qualquer. 

Ha sempre uma concurrencia numerosa 
para ouvir essa gente c não são os es- 
trangeiros que mais atBuem a taes espe- 
ctáculos. São os francezes de Pariz c da 
provinda, que pódem entender o aprecinr 
bem as cambiantes de Inflexões impcrcc- 
plivcls para gente do outras raças o de 
educações csthctieas dilicrcntcs. No El- 
dorado ha recitas de cançonetas classicas: 
Vam ant d’Amanda, La fetnmc d barbe, 
CVsí daits lues qu\a >nz chatouille, são 
peças classicas, que mostram a relativi- 
dade do classicismo. 

Canções de quartel, cheias de fanfarrices 
e rufos do tambores e canções innocenles, 
cheias de cantos do passarinhos, amores 
puros c pieguices, pnlria c amor voltando 
frequentemente n'um estribilho rápido, 
sem altura, sem elevação musical, são cm 
resumo a musica popular que os francezes 
mais finos proferem a qualquer outra 
cujo gosto tenham adquirido por edueaçao- 
E cuidam que Massenet, Saint-Saens, 
Gmtnod, Berlioz são músicos francezes c 
mão se convencem de que na Buropa não 
ha lognr senão para a musica allcmã 
para a italiana. 

Depois de ouvir Etclarmonde, llomcu 
, julieia, Henrique Vlll ou Hamlelo, a 
impressão das dUIerenças secundarias não 
apaga na memória os traços de seme- 
lhança vivíssima com as duas musicas 
mestras. E as s.vmphonias, o toda a mu- 
ien instrumental na Europa l> da Alle- 
innnha que vem. 

Os concertos intornaeionacs do Troca- 
dero mostram bem isso. Executaram-se 
nlli oratorios de Hteadei, sympiionias 
russas, rhapsodias scandínavas, marchas 
lieroicas, quadros musleaa, fizeram -se 
concursos de instrumentos populares desde 
a gaita de folio da Escócia atò o machete 
da ilha da Madeira, o sô ficou provado quo 
existe uma musica, que õ a allemá. da 
mesma sorte que existo uma esculpturo, 
que h grega. Ecomo tanto os cseulptoros 
gregos como os músicos allemãcs ostão 
impossibilitados do llics fazer concurrencia 
efiicaz, commereial, os francezes reconhe- 
cem sem dUBcutdade n superioridade de 
outros povos n estas artes cujo apogeu Já 
foi. A consciência da sua superioridade na 
prosa litteraria, na pintura, na decoração 
cm geral, nas artes cm quo o sentimento 
fino, a estbetica dos uuances predomina, 
dã aos francezes ura certo descuido por 
essas questões de rivalidades mesquinhas 
eomtnutis entra goules de pouco mereci- 
mento, dá-lhes uma tranquillidado de 
fidalgo seguro dos seus brazões. 

(1 franccz está tão certo de que o seu 
gosto, a sua csttwlica, ns suas niauelrsio 
costumes são ns únicos razoaTcí» e «dnus- 
siveis, que nunca toma o trabalho de cx- 
idicai-os aos estrangeiros: espera quo o 
estrangeiro os sinta cndopte.lstoé, aprenda 
a sentir c a viver como homem civilisado. 
O que acontece é que ha muita gente q,.e 
não tcm|lcn»po)para a adaptação o coiucc- 
desde logo a julgar as cousas sol) o 
ponto de vista pessoal, siacero, — 
ridículo. l’ma corrcspondcncli 


da; 

1 

l« 

oir 


De Paris (detalhe) 




822 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Rio <le Janeiro — Terça-feira 3 de Setembro de 1889 


GAZETA DE NOTICIAS 


■uecNO *miK> «o *» 


n ft dea U Mae fe nr** # irm » * 

lin.ooo *x*Dipl«rat 


nueceo AWtso «o et 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 246, p. 1, 3 set. 1889 






DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


823 


l BS PARIZ 

Uma cançoneta de Paulus adlrmava ar- 
rogant emente que, apesar da reserva em 
que os reis se conservaram, quaudo se 
a tratou da grando rotnmenioração nepu- 
" blicana, o espectáculo incomparável <U 
s c.xposiçio de 39 não ficaria sem reis que 
o o r[mtm vòr. 

•* Paulus, que è poeta e cantor, como os 
® vates antigos, vaticina certo is rezes. Os 
reis vieram. Cá cativaram o príncipe ele 
o Galles e o rei da Grécia, cá estio o Schah , 
c da 1’orsia o uns rcisinhos pretos da África. 

“ O rei da Grccia, que nada tem de exotlco, 
que nem ao menos è grego, que tem todas 
c as rceomtnendaçõcs da grandeza do uas- 
“ eimento, das allianças políticas e do uma 
l- perfeita afinação pela civilisaçJo Occiden- 
tal, entre a qual nasceu, viajava incognito. 
e Assim divertiu-se mais, como se diverte 
’ qualquer particular a quem se possam 
\ dar jantares e representações intimas no 
Blyscu e captivou a todos os que o coobe- 
a erram pelas suas maneiras aliáveis e 
Jj polidas e humor expansivo, que moslravs | 
_ era quaiquer occasJio. A sua hilaridade, 
o ouvindo as pilhérias c raicagens de Co- 
quclin Cndct, distendia atè a reserva cc- 
'* remoniosa do presidente. Mas partiu pars 
$ a Inglaterra a assistir ao casamento da 

- sobrinha, sem que o povo franeer se aba- 

* lasse por ellc, sempre como um verdadeiro 
0 rei moderno, que dá pouco que íallar 

ds si. 

O Schah da Persis, esse é ura rri antigo 
q devera* e como t«l tem o mais completo 
d- scuido peio que seja cortezia eattençáo 
pelos que •> rodeiam, que sejam sess mi- 

0 nistros ou funcdonarfot.estrangclros. Não 
j sabe nada, não se senta paia comer, come 
a com os dedo* e como um alarve e atro- 
B polia o alto pcatoal da oxposiçáo que tem 
® mais que fazer do que seguir a um bomem 
ô que passoia sem destino, comprando bu- 

- gigangas como uma criança, olhando par* 
■ as cousas mais interessantes como um 

1 boi olha para um palacio. Não é pontual, 
a não tem maneiras: é o rei dos reis c não 
» viaja incognito ; tem conducçio e aloja- 
is mento grátis paru ai o quarenta pessoas de 
„ comitiva. Deveriam dizer-lhe que elle 
o píd ■ muito bem ser rei dos reis da sua 
' terra, mas que, cm terra ejrtranba, os reis 
, não tem tão alta cotarão como elle |>ensa. 

0 e que esse titulo ainda não (oi registrado 

1 pura a dispensa de civilidade para com es 

* outros. 

d Entretanto vai elle recebendo todas os 
a finezas que lhe fazem como se tudo lhe 

• fosse devido. Divertcm-n’o desde a manhã 

0 ate a noite. Pagam-lbe almoços ua torre 

1 Eiflel. cm que ellc come oito aza* de gal- 

> linha, roendo os ossos c atirando os depois 
I pela janollu do restaurant c elle dispàr* 

[, sen» se dotpcdir de ninguém, liou tem 
i j deram-lhe festa cm YrrsalUes, de din, e 
e de noite conceito de 1,200 músicos no pa- 
j lado de Induslría, cora hymiio persa 

- obrigado no repertório. Na sexta-feira foi 

> festa de noite, na exposição, uma daqucl- 
“ ! las festas cm que muita gente se alropclla, 

pcnle os filhos, aa joias, as carteiros c 
t ao cnbo de alguns dias, no socego da ca-^a 
‘ dix que era muito bonita e interessante. 

1 E, quando o rei dos reis voltar para a sua 
3 terra, que está destinada a ser absorvida 

- pola Kussia, pe usará que a sua moges- 
1 tade deslumbrou todas as populações 
’ o-'cidcntacs. E* que os franeexes não rega- 
3 toiam Tiras em occasiões de festa. Quaudo 

- nfto dão vivas a Caroot, ou ao .Sebsh dio-j 
' nos a Dinah Snllfou, que b ura preto dei 
| Senegal que anda por ei dr passeio. O; 

> Schah quix que lh'o apresentassem no bailej 

• do ministro do commordo c tratou-o por' 

’ primo. Dopois mandou-lhe um sabre rico, 

» no mesmo dia cm que o governo francez 
) lhe maiidira a legião de Honra. 

O rei preto repetiu sem o saber a phrase 
! de M. Prudhomme guarda-nacional: que 
, • aqucilc sabie era o maU bei lo dia da 
sua vida ». 

liV>l hAnlom • n<rMU\nl« «la Inniilu 


fossem susceptíveis de cnlbuaiauno a me* 
liudiosa flõr da* i Ilusões sobre ervnçaa^ 
dedicações, Mcrífldús pro pütria... De poli 
dr ouril o* (aliar ó bom ler os nríigoa 
d esses homens, para adquirir o calle- 
j:\iucnto necessário contra a mentir» 
Kroniie, que è a vida da impreusa cm 
França. 

Dopois dos discursos foi o desfilar eus 
tropas. Dez regimentos passaram, infan- 
taria. cavallarla, artilharia, os olhciaes 
saudando com a espada, as bandeiras an 
abatendo na coulincncia aos herúes, entre 
o alarido marcial dos clarins em fanfarras 
alternadas. Dcjwls, organizou-se o cortejo 
c fez-se a transladação para as eryptas 
fn nora ria» so som da marcha funebre d* 
Cliopin . Dentro da nave o serviço do ordem 
era feito por Inválidos com as bandeirolas 
das lanças envoltas em crepe negro. 

Voltando do subterrâneo, o presidente 
collocou a primeira pedra do monvmeat» 
que no trausepto da direita vai ser erigido 
■ memória de llocho e d* Klcbcr. lb- 
pol», ao som da Marselheza. a asai «tenda 
escorou-se, os militares e os funedonarioo 
foram despir o* seus graados uniformeq, 
a* suas fardas bordadas, as suas beca* 
(ci molhas e os seus arminhos e os clri* 
mudar os casacas pelas jaquetas sem ce- 
rimonia. E entre a voscría da multidi^ 

0 tropel dos cavai los, o rodar dos 

as cadencias das marchas militares, os 
ouvidos aUcntos dos que escutam c es- 
tendem altas cousas, ouviram aem duvida 

01 primeiros golpes do buril da Histari» 
cavando n'uma pagina do bronze o mo- 
numento da inlrodseçáo dos quatro berõe* 
ã gloria do Pantheon. 

— As manifestações republicanas o» 
Brasil são inintelligiveis aqui. A qucler- 
uiiuou pelo faclo absurdo, que os joraaea 
todos deram como uni at tentado jgnobd 
contra o imperador, deu a todos uma tris- 
te idfa do que são os nossos reroiucitM»- 
rios. Kol um acto de estúpida fcrociiaJ* 
qur, sem explicações por emquanto, fsfi 
muita gente pensar na possibilidade dà 
extinguir-se o Brasil polillco e ds ua» 
nação florescente e de altos destinos nft 
restar mais que a designarão gcograpbiea^ 
um panuo de mundo eiu que se guerrei- 
assem longaniente um pimbsdo de repa- 
bliquetas mesquinhas. 

D. Pedro é o que mais na Kurop» s* 
conhece do Brasil e por esse motivo o «a 
garanlidor moral. Todos o admiram, todo* 
o veneram . Emquanto não cresce c mostra 
para o quo rale cmo nora geração tão 
pensativa quo possuímos, seria um òo- 
aastre tcrrirol o desaparecimento d* 
único fiador idoneo, que podemos apre- 
sentar ao vo'ho mundo, cuja confiança 
tanto nos esforçamos por merecer. 

Um erudito rabhino de Avignon, o Sr, 
B. Motaé. ollieial da iustrucção publica, 
publicou, ao tempo mesmo em que noa 
chegava a desagradável nova, tuna bie- 
grapbla do imporador, que, pela granis 
quantidade de informações inéditas, ordem 
o clareza da exposição c apreciação des- 
apaixonada, imparcial dos factos, consti- 
tuc uma verdadeira historia do reinada. 
Aos que se mostram admirados da pas- 
mosa erudição de um estrangeiro^ «n 
a*snmpto (io pouco conhecido, icspond* 
modestsmente o. Sr. Hosié que ás infor- 
mações dc um lllustre braaifoíro, o Sr. 
liarão do Rio Branco, devo ellc o poder 
iva Usar em tio boas condições, de niliui- 
ciosidade c rigor hirtorico, uma emproam 
que sem esse auxilio seria Impossível» 
uni estrangeiro* 

F* assim que facilila-se aos do rclbo 
inundo o conhecimento do nosso obscuro 
canto o que n'csse livro ]>odoinos nòs en- 
contrar, discutidas por um bomem des- 
interessado d'ellas, questões nacionaes da 
maior importanela. A ultima parte do 
rviuado dn D. Pedro II, a mais brilbantt 
pelos resultados da sua política. c tratada 
dcsonvolvldamontc. Mesmo jwra os r.ossofc 
políticos (se me fosse j«rndttido, cu diri» 


De Paris (detalhe) 




824 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


D 

0 


l 


] 


0 

0 

I) 

0 

0 

0 

0 

0 

0 


— KOI liónlcm a eercmonla da traiuvln- 
dnção aolomnt dos reato» <Jr Baiidin, Car- 
uot, ha Tour d'Auvergne e Marecau. para 
li crypta» do 1’antlieon, logar fresco c 
soeegado, onde a palrin franccza ar mostra 
mais cfllcazincntc rccnnhrdda aos soa» 
filhos, grandes liomcos. 

Tiraram ai|uelles pobre» ono» de ven- 
cidos por uma rei na terrível batalha da 
vida do repouso, que elles tio bom Unham 
ganhado, submetterarn de novo aquelhu 
cinzas á anal yse. & discussão dos mereci- 
mentos que dejiois da morte slo a mais 
cruel irreverência, para os emparedarem 
ua adega mortuaria de uni monumento 
eivico. sobre o qual ainda pesa uma 
grande cruz. ameaça de transformações fu- 
turas, de perturlnçõrs ds paz dos orno» 
que alll jazem. Nos seus floridas lunmlos 
da Alh-manha. no sen mnnumenlo de 
Mnntmarlrc. Cnrnot, I.a Tour d'Auvergne 
e Baiidln eslnram ao abrigo das futiins 
revisTies dn gratidão naci-nal. Quantos 
Marccsii. o impriiuitimo ;;»mnVo da 
Maixclhr.za, enterrado cm Cohlrntz em 
im reduzido a cinza* em ITP7. einza* 
qne ladrões profanaram mais lardc. que- 
brando a urna em que se inscrevia a 
liella divisa— Uie eh to-cr. Hhiçne nnin-it 
e mtidadn nma qnarta vez de l >gar. quando 
se rnnslruiram as novas fmtiflcaçüea dc 
Krcnbreltstrin, parece que já era tempo 
de deixar em paz o que resta do |iobre 
grande homem, cujo destino foi fazer a 
guerra em vida. 

A cerimonia foi muito simples e liella. 
Sob o perislylo havia um grande cataf.ileo 
com tropbrus de bandeiras o as muitas 
conVns que cada asaociaçio republicana, 
socialista ou patriótica manda sempre aos 
funeraes nacionaes. A' roda havia pol- 
tronas c banquetas para o presidente da 
republica, famílias dos hertes, ministros, 
parlamento, tribnnaes, grandes corpora- 
ções do Kstado, etc. O cltcito era muito 
dicoratÍTO. A praça do Psntbron e a rua 
Soufllot em toda a sua extensão mostravam, 
par trás do uma dupla lUa de guarda» 
rcpubliaaiios, a multidão rcmpicta. mur- 
murante, tostando-se ao ml quente das 
10 horas para virem multo pouco e não 
ouvirem quasi nada. As janella», os tectos 
das casa», da escola de Direito, da iriar- 
rir, estavam negros. Os discuron foram 
pnbres c pouro ouvidos, Ires apenas. Da 
logar rrservndo á imprensa, ningirrm o» 
ouviu. 1’hrases entreejrtsdi», gitriilração 
do» mortos, culto dos herdes. cott*a* 
vagas, multo sabidas, era o que nos che- 
gava do» discurso» dos Sr*. T.rard e Alaze. 
i 1 ) Sr. NoM 1’aifait recitou a pie»ia de 
j Hugo. Oloire <i mire Kisrnce tininor- 
ref/e/Kstav» lio perturbado, que, não 
sabendo eomo haver-se ifulta dc en aio). 
t voltou ri* e> ita* ao pro-iJente e ao cata- 
í.il.o e dirigi usí ã multidão, que o ap- 
phndiit rumo se aquiilo não lo»ie uma 
j 1 leiili.i. a gravo t - uva;-.;. K, em juanto 
i v. funcci b.a.i » da i.'puUiea itrue inii- 
\i-.i iiavauj |> ia ■ .a gljiis. n» grupo 
do. jornalistas a bvh» i.s mslelieçaeiá c 
. da calnui.M i< d. •»;: u;„ Ir iw qu- alfld» 


—sobretudo para elles) não b sem utili- 
dade o conhecimento da maaeirapor qoa 
estudam a nossa pollticn na Kuropa. | 

— 1’ai-te hoje para o Kio de Janeiro o 
Sr. ltodolpho ds Souza Dantas, outro bra- 
sileiro que todo o tempo da sua estada na 
Kuropa empregou cm prepararas» para 
melhor servir o Brasil na sua volta. 
Quando cllc foi ministro do imperio em 
um dos mais llluslrados ministro»;— aqnl 
conhccl-o estudando como um alumno do 
escola. Foi cllc quem me mostrou o col- 
legio de França e a Sorbonno. Sentado 
n um d'agucllca Ineomniodos banquinhos 
de páu, estreite*, sem encosto, vi-o multa* 
vezes assistindo «os cursns de economia, 
«ciências nalnraes, litteraturm, rom uma 
appiicação tle adolesrcntc estudioso. Ko 
cmtanto os cabellot vão llie branqueando 
prccraeemrjite. 

De ÍK,mens a*sim pôde a Patria fiar. 
Sin os de bua vontade e não usam traztr 
pistolas nos bolsos contra os reis. 

Ihirir. S de agosto. 

lVungio ua Cauo, 


RZvílSTINHA 

Ni-, fui eu qne a chamei, e çlln rria. 
Cbcgnn-vr lenl.-imrntf, com pés de li, 
a-ra-tiuidn *e, temmi-me a mão direita 
qur *t- e*t unira para u |wnna, e, acari- 
ciando-me. paralyv>a-me o braço. De- 
pus. eomo w uma serpente me ti vexa 
mordido. senti que um torpordoce, suave, 
me invadia o enrpo inteiro, e, embora a 
consciência protestasse, embora procu- 
rasse fazer-se ouvir a voz do dever, coa- 
Msn que nrhnva encantos no mal a qn* 
me abandonei. 

0‘ delicia que os deusas inventaram, 
sabqrosissfmo pcccado, embora te cha- 
mem mortal, deve ser doce morrer por U 
c comtigo. Mb o ultimo momento, ati 
cerrar os olhos ao somno, — o deve ser 
assim mesmoquo contigo se adormeça parm 
n somno ultimo, d pcccado I — o espirita 
llca livre, assiste aos gosos qne tu dás e 
òcumplkc dclles. e divaga pelos mundos 
que Deus creou na segunda semana, de- 
pois do seu domingo dc descanço, os mun- 
dos imaginários, onde cada um de nís 
cdlflca templr.s que fariam morrer de 
inveja os arcliltcrtns de Karnack, c f*> 
toa-os de estatuas que fariam des- 
c-r de seus pedestaes a» dos csenlpto- 
res gregos, * orna-lho a* paredes de 
frescos como os núo pintou o divino 
ííapbael. K os sastos porticos, as salas 
sem Hm em qne acotovollam-se nmiheren 
capazes de fazer fechar o Paraíso de Ma* 
linniet, por fail.» de fregnezia. e que ao 
morem ao som de uma musica, que nln- 
«alie de onde vem, e qne faz rrsur- 
g;r d i . agua» do i.igo » sombra rtlonita 

■ j rei l.u;/. que morreu doudo do har- 
monia. 

Ku tião te rliamd, o tu vitste. K.o 
queria trabalhar, « tu me seduziste. 
Agora sou tolo Ua; odeio-lc. mal 
nio consinto que te vá»; o teu veneno è 

1 i ruo tio 

fcltr. lio alheio do inundo, que ;or tl 
lulo, O dever, o interesse, o dia 
d- ar.iihã, a tiragem, o Hasloy, para 

r teu. teu sd emquanto me qnirerea. 

■ em quanto m wrtsrt* 4o diliria* 
vu *4 emquanto me lran»fornin 
creatur* em creador, teu ui 

i d , emente eruel. 6 r< ue'- 
tzra Prejutr». 

e. 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


825 


Anno XV 

::r— ;:r.“ ■*: 



Rio do Janoiro — Qtiinta-f«ím O dm Setomoro da 18S0 


GAZETA DE NOTICIAS 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 248, p. 1, 5 set. 1889 





826 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



mais mal t:in feito á França, foi mos- 
trado odiento, medroso c louco. 

0 trecho do artigo cm que ello Inju- 
riara o exercito francos foi lido entre as 
exclamações de oojo e do índignaçào do 
nodiiorio. -Dillon, o falso condo, perdeu 
sua legenda. O amarei general apnarcccu 
balxnmcute intrigante, rodeado do rèu* 
de (ívKcía, de inulhcics do má vida, inve- 
joso «ntra os seus col legas do exercito, 
contra os sons superiores, mesquinho 
0 ... c deso/ado. 

um adjeetivo fraco contra 


f*i.-ào. Atüi IVrrrtn» Hirtou rom Anm Fraari«a 
A* lli-Ufi, ll«*lç»»* Fcfrrfc» iV* Ainorint rmn Maria 
•U Omí* IVr^ira, Siii<miUi (.aliainl** «lo» SaiiUtt i«ro 
AokIU d<> Jcsj% Wira. Albiui >la Feíj*’» c«n 
AimU N" a >1’ SaoTAmn, ilanuH MnrtaJo «lê Brito) 
ram I acra lêu.iii 4a Cottoi, J«m« i>* Sma cvm lk- 
.. . - * Sc\utoUo «m Maria 

Macki.k COm .Mnri.> 


rum delegações das universidades mais 
novas, porém nào menos venerandas, 
veiu geqtc do casas de ensipo de que raro 
so quvo falSur. IV>r tmzdos professoras, 
todos de beca, 04-£stj»ndartc* da\ depu- 
tações estrangeiras cobriam as oargdcsdo 
fundo* « 


Vnto:ia JüJi) Asl — — 

Aup.lt Ji» Sira, Md «Ir Snutn Uirtiut fM Alaria 
11*14 «loa-.mlr MiniH I .iik.ro ,Lt S J v* cum US)M- 
|>aUãri»4.i Conr*l;t«\ JuUiiu Aalmiki L*' ««n 
VarlvJ wtt rmm* J«m i An Koftf.i 

iWf.sba.Mam al» .Cnaartftn. I.oup-iko Ikro- 
IbiilM d» noi Ida. Jcov.vwn «U S*ha Ara «do 
ruo Mr.rtlu Mífli «J.t Cottt*vão, Aiiinnin Marti-») 


Desazndo 

um liomcm que (orem risco a segurança 
da nação |»ra salrtí.r/er ambições illcgi- 
timas, porém' o insuccosso da sua aveu- 
tura só do seu <ksa:o proveio. E* preciso 
mais finura c sobretudo mais prestigio 
para apanhar a França* 

A condem fiação dos neeuAado» ádepor- 
Inçáo pm*a um presidio só causou im- 
prcvsit» nq estrangeiro. No pau cila era 
esperada e, como a pena não será prova- 
velmente applicada, a chamada aventura 
boulnngista continuará ainda a OCCtipar 
n altcnçâo da na;ào até As eleições d<* 
outubro. N csjae tempo :y cjeiçno dos revi- 
rdoniaUs ou n aua rejeiç&o durã novo im- 
pulso ou terminam osta irritante disputa. 

Mas ate lá Boulangcr, llochefort c Dillon 
núo terúo visto a Exposição. E a menos 
que mais tarde, quando clles forem o 
poder, não mandem fazer uma de encom- 
menda. 

A Exposição agora es Ei completa. Já 
lui engraxadores IA dentro, para nào 
saliir a gente Co«n o* pé* indecentes de 
lama ou de poeira. 0 que cllci mais me 
fazem ò saudado dos nossos da rua Di- 
reita, que dào gosto sd na maneira de 
pegar nas escovas; esd'aqui sáo unscles- 
ogeiUdos c engraxam mal; nào têm 
brio no puxar da escova. 

As publicações sobre a Exposição estio 
quasl todas proniptas. Púde-co encher um 
(piarto com cs volumes de catálogos, no- 
ticias, memórias, relatórios, guias, etc. 
Cada exposição parcial, muitos exposito- 
res particulares deram que fazer â im- 
prensa. De M)rtc que c uru horror pensar 
cm ler tudo o que so escreveu sobro a 
Exposição, sobre os palzcs que a cllacou- 
corremm . . . 

0 Brasil flgura nessa biüliolhcca com 
tres volumes, o ultimo dos quacs,J> Brtsil 
en JtiNlt, is. Uo grosso, que não me en- 
vergonho do dizer que ainda nno li d'c!lc 
senão alguus artigos. Tem 700 paginas ln- 
8*, 23 capítulos, oito dos qtiars escriptos pelo 
organisador da obra o Sr. Sunl Aima Nery 
c os outros por cseríptorvs da maior com- 
petência em cousasdoRrasil. Dousartigos 
sobre Arte c sobre liumigraçao do Sr. 
Eduardo Prado, um artigo nobre a Im- ' 
prensa, do Sr. Ferreira do Araújo, um , 
artigo rcsuiuiudo a historia do Brasil 
l>clo barão do Rio Branco e um sobre cs- ] 
trados de ferro pelo Sr. Fernandes Pi- , 
nhciro:è tudo que por ora conheço d'cssa 
obra. . 

Nào sou com)>etcntc para julgal-a ; para 
sentir-lhe o valer, sim. lia ulli informa- 
ções que mesmo no Brasil nào se obtem. 
Tem me pa:*ceido que é preciso sahlr a 
gente da soa terra para aprender a aiml-a 
c a conhecei- a. 

Para ahi embarca no dia 20 de agosto 
en» Doixleuux um dos biasilciros quo mais 
nos fa/eni honra no estrangeiro. O Sr. 
Heitor Cordeiro ó um magiiitlco exemplar 
do brasileiro bem crcado o fino. Basta 
'\cl-o c conversar com cilc cinco minuto» 
para convcnccr-se a gente de que o pão 
do ospirilo aproveita lhe Canto como o 
pão do corpo. Tem a gravidade natural 


litolka lie l.Tt Figaciralo. Cario» 

(W >aitl«t 1'joUaliJia com Eilma. Anprh-a èn 
Vallf. k^(.-’rtoulaSíl»a Trleiww Akiia 
Xati-c Ju2i» Sil-Uulm 1’irln «\wn U*yr- 

,l tu <U C.xwp«.>». Aiilvno Orn^Hix A? A/tmr 
Oawlina fU-iuloia Jr IfdU, Fninríico Jok Alt#» 
CidIpm omi Alai is MMirUm 4a Mn, Jommím 4a 
Cs (ta llami». Joio Xfac^nUo 

•Ifl A\.*n-riHO iamv «k J^u* l/mklro * 1Im«I 
tiuiauftto Utuif.M com lukl Hiluirs de Sosu. 


DE PARS 2 


Será na-Tsrdadc um rico inventario o 
d'citc «mm 'do 1ÍÍO ua capital dos povos 
latinos. Os orgnnisadoi*es do festival de 
cinco mezes devem sentir cada dia um 
arrepio de contentamento, táo bem wie- 
cedidos tem sido todos os actoA aolcmnes 
ou nio da grande celebração da repu- 
biicA-* " 

>7 que à ‘festa nàoé W» da repnbUca. é 
pi ijiçijmlmcnlc a glurilleaçào do genío 
françuz, imkjHíndcntc de considerações 
política». Agora, n’csta conciirreneia das 
aptidões de toda a sorte, ellc revela-se cm 
toda a sua grandnzo. Nào ha tuna appli- 
eaçÃo, uma manifestação dA intelligencia, 
ou pratica o:i contemplativa, om que n 
França nio so apresente, nào com um ou 
dou? homens de génio, dictadorcs íntcl- 
lectuaes, sóes que weureçnm o brilho 
df^s. astros menores, mas com plêiades 
brilhando |nr todas its partes «lo céu da 
intellígcnelo, sem clarões oíTuseantra. 
contribuindo para a elariJadc serena, 
quo allumin o caminha aos que querem 
saber por onde pisam na marcha irre- 
missível aos Destinos. 

N*o è sd aos de casa, aos da mesma 
familip ’$ocial, da mesma raça, mesmo 
sangue. c mesma civilisaçan, que a França 
ensina v atlnr.tin o* passos. O mundo in- 
teiro vive do «ou pão espiritual, que cila 
tempera, co/e o prepara, quando o nào 
fornece inteiramente, desde o grão sub- 
>tancial até o wragtto com quo o amassa. 
E* assim que toda Idêa que a França i:ào 
ndoptou, nío c uma idéa sympathlca, não 
é humana, nào c practiea. Todos os povos 
a n'coiiheecflj, todos lhe sào gratos por 
isK>, imlilka á parte. E cm França mesmo, 
onde o prestigio das grandes coutas feitas 
assim' á vista nào è tamanlto, hn esqnc- 
ri mentos tcm|K>rarw« das dissenções po- 
líticas, quando lo tralft doi gratides in- 
teresses soeiae«, humanos. . v 

A festa da inauguração fio nora edifício 
da Sorbonae foi un»ad’estas solcmnidade* 
podeo daiennaiitCA como jwrmenores, 
uas. profundãniònl comiiw vente* como 
aymboUea...... . 

Oa (dumnoode Pari/ tinham convidndo 
os cstudaht» das universidades e escolas 
estrangeira»; estes por dologoções edm- 
pnreeernrn c no dia õde agosto uma das 
mai* brilhante* n»JwmWêas que 6 dado a 
um homem ver, rcunla-JO no grandoam- 
phithcatro do templo novo. 

K' unia sala para 3,00») ouvinte», dis- 
posta cm heinicyclo. de uma architectura 
imponente, illuininada por eima, pintado, 
I ornada de maneira que a impressão geral 


Estavam alli as r.açòet Kntra a 

confusão de bandeiroM bordadas, tnulti- 
eôres, notnvam-sc a cruz vermelha da 
Noruoga. o leão indga. timbrado do«pcris 
tylo de Liége- c emmoMurado rm Ivin- 
deina do* estudantes do Gand pclorollnr 
do -Tosão de 0»»ru, as ermas do Meus no 
Cktandarte-da escola provincial do llat- 
uant, as fachas branco c preto da *Zotln- 
gia da BasiK a, a auri- (lamina verdo de 
Florença, os emblemas e ascõres-de Edim- 
burgo com ab.dln divisa : aViVi Dominur 
frustra. 


Junto dos estudantes de Oxford c de 
Cambridgc.com o *cn gorro quadrado c 
envoltus na sua goicn, entre us delega- 
ções do llelsingfords. de .Salamanca, de 
Yicnna, de Lcydc. de L treeht, de Cope- 
nhngcn; do liaria, de Bokmha, notava-se 
a cbupka preta de pluma branca, o dól- 
man justo c a capa talar dos cstndantc* 
de Dudapcst* 


De Paris (detalhe) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


imponente, (Iluminada por cima, pintado, 
ornada de maneira que a impressão gernl 
édo ótima c recolhimento sem enfado. 

A sdcndáalli appareec sem ruga*, nem 
mau humor; faz-se acolhedora, liou pita- 
Mra c ao mesmo tempo seria e aniavcl— 
c a -scicm-i.i f rance/a. 

Simplieidadr, clcgancia 0 flrmo/a do 
linhas; lu /. o harmonia. diz um critico de 
arte, v. bem aqui quo cila oocupa os seus 
estados. 

Mas o destino d’«sto nmpliiiheatro * 
solem nc. Não è uma sala ordinária »le 
boa forene Lis. Alli se debaterão os mais 
aitos interesses do espirito humano ; alli 
so com montarão os poemas immoríacx ; os 
systemns phflotophico-s serão analysados 
c discutidos. 17 necessário, pois, que desde 
a entrada 0 espirito do ouvinte prepare-se 
contem piando as estatuas de Descartes, 
Tascai, Kollin, Lavoislcr* Robert de Sor- 
bou o Richclicu, os fundadores, os errado, 
res, testemunhas c guardas dos raetluxios 
tão fecundos, das fortes tradições o das 
grandes memórias... K era frente do 
auditorio, occnpando toda a vasta parede 
do fundo, unia immcit&a composição rc- 
uinv c ovuea todos os altos pcmamcnlo* j 
a que o logar c consagrado. 

Pintou-a Puvu do Chavannc* com a | 
sua maneira simples c grandiosa, a sua 
pintura abstractiva, profunda ma* não 
confusa, cm que os personagens brllos, 
de uma bclleza ao mesmo tempo épica c 
singela, vivem n'um ambiente sereno c 



luminoso de sonho bom. A coraposirão 
symbol ka representa a clareira de um j 
bosque sagrado cm (|ue num alto as- 
scnla-«ea antiga Sorbooe. tendo aos la- 
do* doia gênios com palmas e COrOts, ho- 
menagem aos vivos illustres, aos mortos j 
gloriosos. Junto e do pé, a Eloquência 
celebra as luetas e as conquista* do es- 
pirito humano. A* direita e á esquerda ' 
aggrupam-sc figuras altcutas represai- j 
tando as diítcrcntes poesia*. Dp rochedo 
cm que cila» estão, corre a /ente vivifi- 
cante ; a Mocidade bebe, avidamente, a 
Velhice haure nclla noras forra?. A His- 
toria a a.TiuJosophia, gertos de aspirarão, 
gestos de convicção, flõrcs syrubolysauJ > 
a vida ephemora, a transformação conti- 
nua da inateria. contemplações de dm- 
troços do passado, pesqui/as da adenda 
nova, votos de consagração ao trabalho 
intcllectual, que c a religião do futuro.ha 
de tudo n essa comporíçâo que represada 
a poesia alta, a poesia do estudo. A pai- 
sagem é uma floresta clysoa banhada 
pela luz serena de cm céu por onde a 
alma vai, batendo as aza-, pairando... 
Pude ser ma;*anto o professor que dou- 
trinar da caddru quo fira emliaixo : p »r 
cima da kiia caWça humilde c mesquinha 

0 olhar do alumno ir j ú* bcllas figuras 
«la composição de Puvis de Cii&tauac* «• 
a alma uâo »olIrera a depressão que re- 
sulta do> co*»>trangfmcnt-«s t«Mí >; • . 

Mas ».■ a lição do professor fòr a!ta c 
slbraUc. quanta ha: la rciultarâ da 

impulsão dos grande* pensamentos n - 
m.»nd> da^ b.días í“rtbi«, do cí-.i sereno 
ittllnilo vai que a aima > • dilfandc na 
vida Cz cs picador! 1'. a clr.ri.hde d«» t.-n 
«la pintura >c banin*:*i-a tã«« bem cnn a 
claridade que ao r»j irito trazem os altos 

1 «eu sai es... 

Como na ndío da Madr M*. lb. que não 
'oi fà* ri**?*- di/, * *■' > l->t«uc do 

t:««Je •* u cettinurá a eci un phaiot do 

espirtP». 

! iv. » t iniu 2 ara:’o Ca c ■ • :t 


K todos applaudiam os disenrsos do 
ministro da Instnicç&o publica, M. Fal- 
liêrcf, do reitor da Universidade, M. 
Gréard, de M. Chuutemps, presidente da 
camará municipal, c to los davam Imrrahs 
pela França, aeclamavam Caraot e I^s- 
teur c ao desfilarem abatiam as bandei- 
ras diante dcllcs. 

Depois houve feria no ministério da 
instrucçãc publica, depois nos dias se- 
guirdes, passeio peia Exposição, asccji- 
çào ã torre, representação de gala na 
Opera, representação no theatro Pranccz. 
passeio a Meudon, recepção no palacio 
presidoneqd, nova reunião na Sorbonna 
para a troca das cortczia* de. rigor cutro 
os estudantes convidados e os que os con- 
vidaram... E durante todo esse tempo 
Pariz liucpcdou. alimentou, divertiu, In- 
struiu quem sab: quantos Dantes c quan- 
tos I/tyola* do futuro J 

Aqui não 85 presta mais attençAo ás 
realezas do presente, quanto mais às do 
porvir. Ha um galope de príncipes pelas 
ruas «la cidade. alegre. Partiu o Schah, 
partiu Dinnh Salífou, vieram os príncipes 
de Tunis o nio sei mais que régulos que 
a Exposição attrahc. 

Veiu lambem Edison, o rei da electri- 
cidade, o homem muito trabalhador, 
muito invootivo, muito rico, muito occu- 
pado. condemnado & não («arar. obrigado 
a recusar -as festas q »ie lho quor:ni dar. 
porque mal teci tempo para visitar Pariz 
o um potlto da Europa c voltar muito 
depressa («ura a America, ao seu copo de 
gloria c de estudo. 

Antes de paiür. o Seiuih teve a curlo- 
friiiadc lie assistir a unia «la» «1.» 

proecfio UMilanger no senado. Era n«» 
s.gur.do dia da accusaçáo «lo procurador 
geral da ItcpuUIca. M. Que^nny de 
Ikaurcpaíre. O Schah não entendeu nada 
d aquílto, mas jsatxce quo achou muita 
form.i!i«hle para enridemnar um homem. 
Na lVr>in a cousa « maixcxpciita. 

Não .'-.via multo correcto judicial mente 

0 projo* » Coulan^cr no supremo tribu- 

nal, cias o resultado q»:e o governo pro- 
curou— a dcsmoralbação do« accutados— 
(«d plcnamrtite con •.«:l«3o. T<xla a fatura 
*• *!•» prHendcnte í« i n»o«trnJa j-do 

1 CTi-svdor j iil»li.*o no v i TerJadeim va- 
lActe-, na v;i intimidade nr!* bnisa . 
t\tKigt:a»tc. !«• •!*. « . t, o i- raliata que 


)-•" VVHIWKVI-» m gVlll» UV l|Uli U |MV 

do ospirílo aproveita lhe tanto como o 
p «0 do eorpo. Tem a grnvidade natural 
t?3 kilo?) c um espirito levíssimo, unm 
agnde/a singular de percepção ao mesmo 
tempo que muito scumj pratico. Apren- 
deu muito na sua viagem c gaba-se de 
que cramagrocou: as inblaa do* Ulburys 
no Rio o sentirão. Eu só sinio que não 
srja maior entre nós o numero de homens 
cumo clle. A fachada do novso edifício so- 
cial potleria ccntar com bei las c seguras 
cariatidcs. 

Domo io da Gama* 

10 de agosto. 

O subdelegado «lo curato de Santa Cruz 
comtluiii e itiMtlw hontcni ao Sr. Dr. 
juiz de direito do I a districto criminal, 
o inqiKríto a que procedeu rclativamente 
ao fcrimcnt '1 praticado cm Alexandre «.'o - , 
do Oliveira, por um soa companheiro, no 
dia St) do mrz Iludo, «piando nmbo* tra- 
balhavam no matadouro publico, llcando 
provado ter sido o facto casual. 


FANFRELUCHE8 

A* Moim; db Aiirutit qonçalvc] 

Tréguas ao riso, que agora 
Feriu-nos a desventuro! 

Sobre aberta sepultura, 

O' Musa, curva te... c chorai 

Dc«i* t Destino I c pois verdade 
Que a vida c estrada sombria* 
Onde levanta a agonia 
A negra cruz da saudade ? t 

K que o viajor n'cssa estrada* 
Nos triste*, errante* passos, 

Vai deixando a alma cm pedaços, 
A' morte, loba esfaimada 7 1 

So um momento a vida encanta. 
Em outro o riso fenece ! 

Um companheiro lú desce, 

E uma cruz lã te levanta I 

Tréguas ao riso, quo agora 
Feriu-nos a desventura ! 

Ante a aberta sepultura. 

O' Musa, curva-tc...c chorai 






teruw Malaiarie. 


A Republica Argentina ailh^riu â con- 
venção d«? 13 «Us uianpi de ISSti. ctmcer- 
nenlo ã troca iiitcrnnrional de documen- 
to* ofliciac* o de publicações sclcnütlcai 
c littcrarias. 


DEUS ASSIM QUER! 

Ksciovcm-uos da .So«âcdudc Central de 
immigniçáo: 

- Tão inconveniente o desabrida é. c 
conltnóna ser, a linguagem «lu Ay**n>to 
contra «* Sr. suutlor Tauu.ty c a S- -io- 
dado Ontr.il de IminigrarAo. imerlh deve 
t- r. p m vetts, CKamUubado oa p&dm 
MnccrxK «i moderaihzs o os próprias ultra- 
nimitiwas. 

E tudo por que/ 

Porque nrezaaioev a Igualdade torc* 
peito ft i«xlas a» ercn«;a* perante n l«i. 
j<U decretação do uto civil obrí- 

nilorio. 

* porque pedlmo» a liberdade «le eanscícn- 
da «n nume da sublime c angélica doti- 

1 1 

I -):ipje •!« «« 'amos ver re.ili*r»«h x l»c!- ' j 
lissima parabohdo bom «amaiitanu pola / 
secular isaç.io doí ecoillern»*. I J 

rq.-q tc qtier-’tn^i «lefcndet* o f/-bre, o i 
huii.ild*', o r.roknrto contra u rVo, r. ! 
jv»dcro**.>. o riagnata, pelas leis do /\e ... -J 

■ | ; 

•ri;’i«j b t-i*ut»i«.%f*!o imjcKtu teriito- ij 


1*. 


rial, «‘crerar - 
tu al-> alisai» 


al» is«», ;v preguiça e r» «l »- 
ter;a* iaunrn«as d?! r 


827 


De Paris (detalhe) 




828 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 







DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


829 


H 


DE PARSZ 

Embora pareça ocioso fallar de bellos 
artigos publicados pçla Imprensa pari- 
riense, quando se pÃlc ter a impressão 
f-dirccta dos cousas, encontro no inventario 
da semana dou* artigos particularmente 
Interessantes, mcrcccmlo menção e*pe- 
cfal. 

Um 6 o do Temjis de hontem, que se 
occupa do Brasil e da exposição brasileira 
no Campo dc Marte. Nís. que agora atra- 
vessamos um pcrkxlo doentio de effer- 
rcsccncta política, cm quo convêm is 
ambições cm esmpo mostrar tudo miu o 
sombrio no futuro, nós chegámos a nos 
persuadir de que somos o poro mais atra- 
indo e mais mal governado do mundo d- 
vilisado. E como isto 6 uma persuasão 
pouco fundada, como não percebemos bem 
o que noa falta, a nossa irritação ainda 
mais se aggrava com a pipriltdade das 
nossas queixas. Queixamo-nos de nio 
*er Ião felizes quanto desejaríamos como 
sc para o ser bastasse qusrcr ragameute, 
sem dizer o modo. 

Queremos ser o que somos, mais o que 
outros são c do nosso desejo, inctürax c mn 
um capricho de criança, resulta esse fre- 
nesi doentio, prurido de querer sem sabor 
querer, knlrctanto o estrangeiro que 
compara, diz-nos que vamos bem, que 
vamos melhor dc que muitos outros, ao 
irirnos. Dirão que o estrangeiro, não co- 
nhecendo bem o palz sobre o qual escreve, 
nào tem acctoridado para ntlirmar, para 
concluir a respeito do nosso movimento 
social. K quantos são os brasileiros que 
conhecem o Brasil ? Nós temos o defeito 
das general isações proraptas demais e das 
particu bridados cxcmívns, do ver as 
cousas muito pcU rama ou muito pelo 
anagb. Oestrangclrr t csse vê os r. saltados 
geraos c por clles conclue. 

Concluc como o articulista do Tempt 
om louvor nosso. Do aug.nento Ineestnnte 
dos nossos recursos ceonomicos clle deduz 
as mais , lisongriras consequências, elo- 
gia-nos o trabalho calmo e sem perturba- 
ções políticas. Não sabe que as queremos 
ter, para não obrigarmos os historiadores 
do futuro a nos estudarem diíTercntcfrtrnto 
dos outros povos. Sc ha macaquice odiosa 
é essa do roroliicionarismo fura dc pro- 
posito. Mus felizmcnto nós somos tào 
pouco nctivosqne mesmo para ns revolu- 
ções falta-nos energia. O nosso desenvol- 
vi monto se fará fatalmcnte.a perir nono. 
Crescemos entre a benevolência e a sym- 
pnthia dos nações a quo não podemos 
fazer sombra, e das que nos não võem rom 
lK>ns olho», quo nos importa r má von- 
tade? A hora da peleja entre os irmãos 
inimigos ainda tarda muito. . . 

I.ivroscm que os estrangeiros aprendam 
a nr.s conhecer, jã não faltam hoje. O anuo 
da Exposição prestou-nos o grande serviço 
dc estimular a boa vontade dos que são 
capnzcs de nos fazer valer. Depois do ar- 
tigo da O rand' Encj/cfojxdia, cm que 
i tudo 0 que do essencial foi possível reunir 
sob o titulo lirftU, vem exposto rom a 
clareza e a concisão da linguagem de di- 
ccionario, o fírtsil en Í880, obra pro- 
movida o cm grande parte feita pelo Sr. 
K. doSànCAnn» Nc rjr, dá em largas roe- 
morba ou cm artigos substancines a in- 
formação mais completa que se púde obtor 
d» nosso estado econorako e da nossa 
vida intcllcctnal. Do qualquer d‘easea li- 
vros a consequência a tirar nSo t para 
nos envergonhar: longe cTfsvo, quando em 
algum mau do banquete, ou era confe- 
rencia publica, como ainda ante-hontrm 

i4it m.iilii nA hmihIa UiaaIaa iIa Vv aaaiaIa 


agindo, nito è mais do que o homem da li- 
berdade praticada. Kocivill*ado,quc pro- 
meltia », dcscouraçado da velha ferragem 
das tradições e allíviado de tbcorias. E* o 
rccomcçador ingênuo c sem mestres, a 
qus% a natureza parece inexplorada e que, 
ignorante de tudo, tudo «ousa. Tarece-sa 
rom o presdamitft. que, tendo a coragem 
do seu espaolo diante do sol a da lua, 
descobre-os. Na sua infantilidade seienti- 
flea está talvez sua força. Gloria a eilo 
c que seja bem vindo entre o« povos <in 
nfllicção.que sabem demais para indagarem 
ainda. Porque nàoc da Duvida que surge 
o Futuro, e quando o cavâllo tem os olhos 
meio desvendados nào quer maljirodar a 
mó. » 

Sào pois os povoft novos, os ignorante* 
som pretenções de sabedoria, que rflo ti- 
rar a prova, farer o grande ensaio do 
acerro philosopbico dos séculos, que vlo 
sopamr o bom do inútil o do máu e jul- 
gar-nos, a nós, os orgulhosos de previ- 
sões, dc dciluições, do exeavaçõea, quo 
produzem a certeza!.., • 

E os povos novos no mais proximo. fa- 
turo acrão os americanos, os colonfaes, 
os que, nào tendo solar de avós para se 
aga ralhar, nem braxões fidalgos para 
estampilhar a presumpçosa indolência, 
andarão lidando ao sol, sem pensamento* 
escuros, nem scismas absurdas. K, entre 
os povos novos, aqucllc cm que o trabalho 
lento do progresso wm convulsões melhor 
■e consolidará, aqucllc que se apresentará 
mais forte e mais seguro da sua força, 
sem tisne de odios dc raças, sem rcwnll- 
mentos internos de regimens proscriptoi 
cm dissensões clris, não vejo por que nio 
seria o Brasil... 

Mas, se è forçoso ser como todo* 0* 
outros povos e sc convêm, mais quo a 
historia resumida dc um regimen pacato 
e sem aventuras, um legendário de atro- 
cidades heroicas o dc golpes d'armas 
obsoletos, entio tamhcm nós teremos uma 
historia bonita como a da índia antiga. 
Nó os nomes serão mais feios, menos 
musica*. mau ditliccU de. reter na me- 
mória. \ erdade è que assim lambera 
nunca chegaremos á grandeza da IruJi* 
antiga. 

Douicio da Gama. 

5 de setembro dc 1889. 


O Sr. Dr. chefe de policia mandou re- 
colher hontem ao nsyfo dc mendicidade, 
para nlti Itcar cm ofacrvnçáo, Maria na 
Maria de Jesus, que apresentava sympto- 
«»a* de alicnaçAo mental. 


OS CRIMES OE LONDRES 

Na madrugada dc 10, a |x>licfa lon 
dilua encontrou em Whltecliapel mai 
uma mulher assassinada r mutilada ct 
dieunxlaucias idcnUciu n s dm rrime 
precedentes. O cadavcr ratara ambru 
Ihudo em um sacro, uns fiiluvant-lhe 
cabeça, ns pernas e os braços. 

Como das outras vrzes, a poliria aind 
nio havia descoberto o auctor do crime 


tol nomeada D. Maria Xavier para o 
Cargo dc ngeiit* do correio do logar de- 
nominado lUipú, província do Itio dc Ja« 
nclro. 


Foram npprovados os eatudos «Ufirit 
tiyos, apresentados pela Oompasaie Q« 
n«*n»lo de Cbcmins d« Ker íu-cslhcns, rc 
fativos no trecho do prolnrigamcnto d 
rslrnda dc ferro do 1'jrartn, rompruhon 
dulo entre Coritiba c o ponto onde dev 
come-nr o ramal que, passando por Lapa 
tera do dirigir-se para o Rio Negro c a 
ramal de Morretcs a Antonina. 

A garantia dc juros ê concedida sobr 
o capital que elTcctiramrntc fòr empre 
gado. nio excedendo dc ÜUtQOtfl por kt 
lometro. 


| uva u iAiu»n|uuu.M ■ umr ii.v c |>ai* 

- nos envergonhar: longe d';SK>, quando em 
algum mau do banquete, ou era confc- 
. rcncia publica, como ainda ante-liontrm 
dc manliA no grande theatro da Exposição, 
o Sr. SanlMnna Nery (alfa com uma certa 
jactanria meridional da sua immcnsa 
1 Amazônia, do nosso grande Brasil, cu 
' evito encontrar os olhos dos outros 'para 
| quo não percebam nos meus o vaidoso 
contentamento do elogio, que me toca. K* 
que cada vez mais se propaga a sympa- 
' th ia por nós, 6 quo começamos a sempre 
appaivccr bem, que o typo do Brasileiro 
de Mcilhac, como o dc Bal/ac, como os de 
' Cas(cllO'I3ranro. sáo tidos afinal por con- 
| rcncionncs e falsos, tanto como os lieróes 
i antigos nas tragédias do século dczcscie, 
tanto conto os românticos dc 183). Não 
snmos nuis rattaquotret, que delidas t 
não usamos mais diamantes nos dedos e 
1 no peito da camba, nüo trazemos cor- 
. rentes dc ouro com casaca, nào usamos 
t gravatas de espantar... Alguns mesmo 
' chegam a não ser da cór da catda do ta- 
’ baro. K quando o são, são-no tão discre- 
i Lamente qil.t tingem de hespanhóes, de 

* rumairos, do turcos. Só o vagaroso da 
1 falia, a falta dc fanfarricc na lingungent, 

| a preocctipação de eortezfa e rorrccção 
. distinguem-nos dos barbaras do Sul . . . 

» Hsrbaro ó uma palavra de significação 
‘ relativa e não exprime Inferioridade abso- 
luta. Os* barbaros sSo os povos Jtovose 
i fortes, do quem ó o futuro. 

* Os cansad< s <ío$ excessos da ci vilisação, 

| os que tentem a approximaçáo da* morte 

entre as vertigens do turbilhão da vida.c 
' para clles quo voltara os olbos, d’cllcs è 
t que esperam a regeneração das raças cm- 

I pobreeidas. 1*7 d'isso que trata o segundo 
artigo a qnr acima me referi, que se in- 
[ I titula Vhomtnt nouveau e que è assl- 
■ trnado por Calihan, pelo fino jornalista e 
; [cregrino escriptor que é Emílio Bcrgcrat. ' 

O lhema do srinUllantc rctlactor do êi- 
<wro, c a entrada tríumphal de Edison 
cm r.iri7, ao mesmo tempo que ahi mor- 
, ria o condo dc Yllliers de risle-Adani. 

. que foi o seu primeiro cantor na liva 
i Futura. 

,| • Tara quem conhece o Edtfir IV 
franeez, a coincidcnria da sua morte com 
a vinda do grande homem novo, equivale 
a um Are. Ctrtar uwrUuri te salutaut 
das hJras de Sonho á Idêa de Facto, é a 
saudação suprema des vencidos ao ven- 
cedor. 

E’ natnral que Edison ntinca tenha lido 
a Kva FUtura c sem duvida o nome do 
seu poela é-lbe totalmente estianho. Que 
o aprenda por «te artigo c saiba que du- 
rante a sua estada cm 1‘ariz pa*sou a cem 
liasse* do bosfdcKt em que agonUava o seu 
I prophita. 

j Não pertenço, como o pobre Ytlller*, a 
essa pliilosophiu, cheia dc >obcrba, alfas, 
que oppõe o crucifixo erguido á invasão 
da barbaria sclcntiflca, e ha muito» 
annos já desaprendi o emprego dV*s» 
arma innocento de defera. Mu. 
homem das rac«^ «meaçoda#, a prescnç.i | 
d* Americano, que sc parece rom o Na- 
; poleio e que è surdo como Bcclliorcn, 
cnche-rar de uma nulancolia indfaivel, I 
porque bem i>e» taiub>:rn quo cllc ttaz nos • r 
• seus ttolsoa o futuro.» 

I E dUcorre o vhrooísta. triste com a I a 
•••'nstdcra dr nã<* %*t dado .i Europa ol J 
appli.* ir as conuv|t»enrLis das giandrs i J 
I conquistas do c j.infoe virem os i^no- íj 
ranb i dc pbiIovq<bio* turrai enxinar-llie f 
« sida r.o;a. a pratica das liberdades que « 
rifa ronqulstou. 

e» . l n 

r j-aJimui, Ii iikoi A-*ru T®flM''s, ma-Jji 


De Paris (detalhe) 




830 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


' ' 9 

2 QAgBTA DE NOTTCTAS — g ^exta-teira 4 de Ontubro áe 1889 

TEL^aaiMAS í ~ OE PARIZ ZZ.". -'TT.T- ■ 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 277, p. 2, 4 out. 1889. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 831 


sã 


que no lado dVII • chupava il-iijm atiça- h e 
mente o casii.» «I % mu bcn.jalinha rA/f. jo* 

i M aute-honlem a ume mWé* gcril do 11 * e»lrangdn> por la a |»aitr ; c> 

I jiiry soporiftc di> recompensa:. ams evp«>- l** 1 * ‘ -* l** 1 *'' M vem-a* dialogo* **0( 

«ilirtf.M I iiiRkv. Iieapunbol r inc.iuo cm porluguct, | 

Kvse jury superior foi uota r»p*du dc j |»r:ujst!« do Foríugal e <• outro MS*, | 
supremo tribunal pira a. irtiM do» í l ,l ° *' crianro» franc.vat p*Rnm <|uc r 
jury* 4e datar* c d? grupos. A wviào dc J oma üngua diffrrrnl**. 

Se ms paiÍMcii<t*K cuida.** un em outra 


antc-honlcm foi consagrada a apresenta 
ç*<> do rclalorio da sub-conimis-io en- 
carregada dc estudar as questões lUigMixa*, 
reclamações. etc., que levantaram nu- 
mcrosoí cxpOaUurvs, á niedida (pie iam 
va do conhecidas as ikdtòn do* jury* 
inferiores. Ai rivelarôe* extemporânea* 
das recompensas concedidas occaparam 
frequentemente n imprensa com rccii*:i* 
escnndatotas dc medalhas, ikrllMçíiM de 
competência, desalufos da» vaidades of- 
femJid is. cm summa. Foram cs artistas os 
que mais barulho Ibcrram— oaitiataêpor 
indole c |»or educação c»sencialmen(t* vai- 
dosa— mas foram os inventores meeaniros, 
oa macbioUUs e os mclallurgistas que 
maior iiumero dc tecurao* intorpuzerani 


cousa que não fov a via publica, seria 
agora a ncrosiào para ellc* aprenderem 
grographiapr.ilic.vnienlcpara não fazerem 
mais injiirioias confusões do narionali- 
«bules. No nutro dia uma senhora cuidava 
que cd era doHurliarns*. I ni homem (cai- 
xeiro viajante, esse) perguntou se era 
uma lingua nricnt.il n quo cu fa!lava, 
turro, IpspanUiil, Jtalhuo; sempro ba 
qirm xupponhn que são todo* os tnes- 
ra*»i os morenos, magras, com bigodes 
|>ret(H e uma r-uuiria na vo/. Agora os 
uur.vdhoíes conhecm cllox ás léguas. 
K’ quo o mais -lhe/ tão difibrvntO '... 

— I! nqiianto Pari/ cobre s.* e tveobre- 
m de eartn/es mullicôm, apresentando 
candidaturas clvtlocaes a« mais nmeana- 


Tudo convicção dos merecimentos pró- 
prio» e ardor dc riigrandretr a bwwmi- dmas para o governo ftctuil; emquanto 
dade por meio dos seus inveulo», pela 


•brario do espirito na contemplação das 

Mlc/Jsde arte. tl raso foi que a aub-com- 
oiiaaão tero dc estudar setecentas ie •la- 
marões e ga dou qsinre sesuVs. até que 
0 r.-latorio do» seus troballm* pudCMC *er 
apresentado. 

Uesuludo: os Jury* de grupo* pediam 
3Í.4M recompensas e n aub-suuiimiBsáo 
reritora reclama üô.ldS— sioül" de mais. 
Kcli/íueote para * Kspaaiçioa» medalha* 
do ouro c de prata sfto platônica*, vir- 
IMK, hooorariaa, não ain do OUrO nem 
dc prata. Nó» vivemos h'nm tempo de 
fazer do conta, de «yinlieh» e abstre- 
cçõw... 

A Gazeia de AVrYntf ji dou |ior tele- 
grvnma o numera de recompensas que n 
Brasil obteve na KxpSSiçlu ds US)> Nm- 
guem |rtrã em duriJa a extrema amabi- 
lidade do jury para cotnnweo. Nó* não 
mereciamo* tanto. A Cxpa»içfio brasi- 
leira, se Mãu foi pobre e mesquinha, eomo 
tantos pensavam (e ainda ha (piem prn*e!i 


Ilouiaiigcr anuuneia que as prodnms 
eh-b-iV-* Mtrâe a grande varrediini i»»li- 
tiea, vio 0 « que por emquanto kCriain dc 
rima •;loriilran>l<> se eom o esplendor das 
festns nacionaes. 

O que nrlio do prior na republica é 
que ainda ejtejam a f.i/er a mi a propa- 
gemia. 1” o que ha «1c mais irhlante nos 
UÍNCur.Mjs |iolil k*os— a banal nl tdc d; s van- 
tagens que a Kcpuldira e »«» a Itepul l.< - a 
traz ais fraiKV/es. Mas agora a propa- 
ganda nqiubticana revestiu uma fórma 
que diminuiu-lhe, senão s'ip|>rimiu-lhc 
l«r.to n riJinlo. l'ma Jsiven comjswi- 
t>ra de muito talento es.uwcii uma nde 
triumplial, uma npoihcnoe da Itepublica. 
e »obre uns versos muito sim pies e muito 
mtadeacs escreveu uma musica Mem. 
Dcposa fUoram-lhe na ealrerai-fndo Irsâc 
d<) | aten do 1'alacii d:t Imlustiia uni 
grande theatro. de cincoenU e cineo nve- 
tjv* «!vs alto. quarenta e cinco de pmfiln- 
i idade, e um |umno iln fundo de v»si-nla 
e rinea metro* do largo, pintaram-lhe 
aconarúi c decorações gnvndioso*, re- 


«,!<■« um. ivunUju*. Ow no»» u t„v.’»lu. 

rtcunu, osturau*. í|uu- m.t,ntliu . cou- , , 11( , „ 


currvfiria com o* produeto* nalurae* dr; 
regiões mais ricas dn inundo, não deu 
catre tanto bom testemunho da no>*i in 
telligeneia. 

Ora, n'uma exposição aidialica. arien- 
liflca e industrial, os premb* são roufe- 
ridur. ao estorço inlelligenle. yuando ouço , 
algum senhor üe eu.eiho di/T «pie na» 
term* d a elte n cann» de as-uear (//•'(", 
alevanta, torna a deitar e torna <i le- 
vantar e comparo o acu jviwir c„m o d- 
qmlqui-r colouia irigi.-za, hidlandrua ou 
lics[i.iuho!a. lamento (pie tant » viço pra- 
iIum tal rapadura. A maior boa vonta- 
de do Jmy de reeooi pensa» nã.i |*«le «l»r 
mais de sei* mnlalhas de ottfft na» 
ao* oxaucares. O no»»a lalrvrO oiilío *(• 
obteve unia iiieiUvIlia de ouro- .’ o t;»l>.in> 
cngriualda-iio» as arma* nari»nars ! Ma* 
c mal cultivado c mal prejiarado, prrpa- 
railo mWiiIc (wnv g.i«lo de nai; ui" 
Mip|>vrta a eompanie.io rom n* laloc» d*' 
pi i/<-. quo até aqui nem apiureciam no* 
merrados, como o Mcxlco. por exemplo. 

o cote. ea^e sim. obteve urniids** pre- 
miois de lioiira e medalbas dc ouro em 
proftu.ui. 0 nosso eafé é rei. No cmlanlo 
mi a muito ciuto obteve ;t riumiiuio 
cea Irai do Itio café pura capòr e. uma 
c.vvjv iiu|iorladoin d * I lavre cuniplelou a 
rK|iosiçôo que rar»*s bivwluiv» J® b** 
vontade ftieram. o rnesmo a expo- 
liçAo do Imrraebn tinila. que oliteve um 
grande prêmio cr-tTcrido ao uuleo expo- 
sitor-uma ertss do ibvriz! 


vii pr^ran musical diante dc vinte mil 
espcdatl-re* maravilhadas* 

Kr* primeiro o a»p vlj da sal* em (|ue 
se conservou :» ornuncuUção do* baile* 
aos rxpindtonv, o do bauqurtr sln* nirres, 
iiitiiK'ii*A. seiulillaiite dc lu/rt, com a* 
«•ias tapn^rias de tlobdin*. os d- 

louro, o imraeiiH» vrlar.o cobrindo o po- 
viléo Mi*Mirrmtr ennio uma llorota ae 
vento. r».*poi* a niusiev larga, sirnple*. 
rliegansto par» PmUv, ás nirSa». como um 
niir dn liaminnii. liepiis o srenarlo — 
uma paisagem vreiw. extensa, clrraad*- 
*.* em ciin»!a assa ve emu mis altar da 
palria n » alio. IlepHs os elemento* lyri- 
/•«, do umn *yuilt*di.M fácil, aecessive! 
i* iuteltigrurias biiiiiitdi*/, («vaiite aa* 
riiraçOe* simples — glorillraçío da agri- 
cultura pelsw rúros do vinho e do trig». 
d » industr ia jn-hit eórw» dos compai/Miu 
d it tonr de Franco, da dc'e*a nacional 
• c|«.s soldad-i*. do eoinmcreio prlos mn- 
rinheiros.da morida leeibanwr um Idyllia 
a dons p'me, que foi !i sido. da infância 

a quem a* ave* da* ilorestas enninarai* 
que é p»(Vío» viver e morrer |>"l:» França, 
d** artistas preredúlo* pelo tSenin, Ui- 
sábios guindo* pela !!a/ão. Ca la uma da’ 
(heorias é sequela de atlributo* 0 de 
peiuonag.uis allesnrira*, n defida do can- 
garem as tó»s e*.lr*phea di*p»'rm-se en 
jmphilh -atro á roda do altar. Ifa unia 
Invocação, uma pre-*o geral para que i 
ib-iua It. -publica Fraoce/a appareq* • 
ilneiteanl ir uma r, gura .somb.in de mu 
ilier veatida do luto e acorrentada (Al 
t sana nti Itepublica l’ni versai .') quo alli 


A má vontade ro.itra n cx|»>*içio e tn 
Rít foi grande até .pio o eomparccimenln 
do Brasil fosse rewdvldo. sabvse. Mas « 
quo admira è que dejuiis dlne dia lenhs 
licRtUido c que grau des indnatriies. 
icramka eullivadore*. importante» i"*»i- 
tuiçõe* iwicntifVcx*. gente A- valor qm* 
CMMOrrerin valiasamcntr para moa: nr ao 
mundo <» dementas soelaes (te (pw dis- 
pomoi. tenha recusado mandar ao Campa 
dc Marte a saaeontribuiçV.. lí ves *á«a» 
que maia duvidam do oosvo s;iree*ao. m- 
turalmrnle, e os que váoarharexagtrmb o 
numero de quinhenKm r tan’o« v.i emios i*.. 
produeto* cx postos ni|*avillii(» Bras loiro. ( 
K' rordade que o» membro* da r nnniissAn 
ram lirwiWra. ,»» *>*• l«*« J “’ | 

jucys. trabalharam multo j-nra er*e re- , 
sultulo; mas os prêmios eonredhha a- 
asaucarc*. tabaros. tecidos e outro* p» 

| duelo* d» nossa industria inferior mostram 
que mio houve e»ee*alra pnreialidade en 
favor nosso. N«a connarri*»»» frarament 
com * melhor da poducção A> mundo 
inteiro, ma* os jury# tomavam em conta 
a» condições da noi«a prolnreio c pre- 
m ia vam -no* equltatlvamente. i-oi* que 
em Um eomplta» r. prêmio env.drc sem- 
pre uma animaçá-s uma inauiftülaçãr 
de aympalbia pelo eafurçu feito p»M n,r 
Ihorâr. 0 principal Invbiilbo sl»s mH*o 
rcprr»cnlnntrK nos jury* foi moslror-llie 
isso. Ko resultado do* s us esforçra t< 
o maia liaongclro pura elles n t-ara n •*. 


* ap. essa em vir ve|-a. o numero de en - 1 
Iradas diarian o dc nio desce do mais <le 
I1t),a)il. Nos domingo* * geulr «ew **»b ir- ; 
bio* c o» provioeiaiii» lawndan» I’.» i® •>< j 
entrada* «•ibcni então a 3’*i),u»iU mais. 

A» rua* *:lo rio* deevrros. «»«av*lU« do- 
11 arre* estio na espinha c os c.*-d:eiros 
viKaiU |ior cima dn» tarifas c ajustam a» 
corridas; ás horas d«* tnhld» da Kxpo- 
Jçio hn quem o» adiib paro »® fio»r 
t.ansportar a quarteirões mais Imir.- que 
meia hora de t ute. 

Pura ter pa«**g.*m je‘o; omi.ibn*. 
Irara wajrs o« baic f, n.» Sena. é piteis» 
tor parieucia e |daler |»ers!er tempo. t> | 
mais simples é ira {r. Corre *e ap nas o _ 
j r I risco de **r atrope|la«lo ou esmaga!*». A j ' 
dr I praça da Cwconliâ é a grande cuccul- j 
iluda. Quando a rua Itoyalu j • d:« p*"** i 1m 
x rua de Bivoli des;vja-l!»e ainda cairo» ; 
xía borbo:Ge»..relo Císirs-la-Bein*-. r-b- j d- 
struido em parte H 0 «vra-hi da* * x ( o . 
lifV* de porco*. b»*i*. cavalln*. etc., o 
jacto £ continuo. Belas poule.s da fou- 
enrdia e de l Alma, ba quatro IUa< itain- 
terrompida*. Km fo.li a rxleaião do* 
grande* boulerard* de Mmdmartre á Ma- 1 !3 
daWne o* passeio* th um e dc oulro bdo 
estio negros A<- pov » e » ■••ntr » di rua •• 
p.'rigoso de atrave»sir. Isto ê smíqi *••• 
is hora* chamada* morta*. 

N»i« logats-s de divertimenlo enr.ii- 


ilacr 


saci 


vem 


••o*. 


.spp 


grm 


•om 


fun* 


sub 


í ^ 



, 

. ti.* 


jn. 


Í o 

>| 

* 

*1 

! q"* 

v 1 

! roa 

J 

i". 


0 

1 

• p 

.1 

era 

tl 

nw 

j 

n 

«lo 

r» 

o 

mc 


lo 


Ice 


fjl 


Pa 

o 

A 




.nlc 

•# 

•la 


I * 



l.sita K. -publica Fninrer* appurc;r s 
deaetvrant-sr um.t ,; gura amubria »lo iru 


vem. que faz eaíarem-ss os raiitis* 
cn*, que s «para o* pires amoraa». K elU 
appareee. a redemptara, flgur.v<ln por unu 
grande mulher «** /✓/*/»»*( tf a 3 Nr c canta 
•oiii uma grando vu/ que rluçja até cá ao 
fundo as estrnpliro Inrlvrlantes dn utopia 
mblUne. 

K irtiMj amutrada llnal. drUrmle, •• 
povo cauta: 

lu*qriKoa|uiW |m|('wi rirav anndiomo!. 

I/Byinnc A* .loie ct dc \ Icíoric ! 
t; loiro i t*d. Illl<a do la (íloircl 
tüi.iio :» tol, l.iberté. mleil d'univer*l 

K o pniiiiM dc buccn fecha-**, c to.tc.* 
q uri em ver a Metara, e ficam muito 
ronlcutee. porque M. Alphand dú-llie um 
lrijo alli ;• boeea da acena, e depois vão- 
c cmh ,r.i. satisfeito» pela noit- frttta 
c pmpte aã*» houve desastre algum. con>« 
era de rvccinr-*-. em taramlw ajunta- 
mento a portas fechada*. 

Mais IHIo ilo qu • a musica, mal* bollu 
«lo «pie rã vemos animado* de um senti- 
nirnto viril c patrioia. era o «Ifaito geral 
lo quadro l:armoni«a lo n'nm tom arnor- 
t crido de tapc;*ria antiga, a quo nem 
faltava « moldura »umptun««a da MSei». 
I*are»*la uma m.-ommrnda An llabclin». 
A comparação teve sureesso a'uma |* 
qiinia roda de fniaeezr*. um po ; » po i rt * 
riicos, que /nmb.wnmdo pe/tlum ifa:nr, 
!,i MnthiM ' Bom*, raiva ficavam palliJo» 
I c do rospiraçâo pr.**a em certo* trecho» 
i maia vlbnwtua dc sriititnento cívico. 
i S*uj a*»im *»* h-anccze* . . . 

I) .VIPJO Kl A dUU» 


IS 


I I* 


j |»ari/. U de setembro. 


:Pi 

lt). 


tram-sc typos d.» raças c earadere» o* . d 
mais opp^tos. t u» tioule n«s M )Ma».’.n • 
Bnvus. sentado entltmodaiu-nt»! »• «•*» I 
cadeira de braço*, s m um olhar |ur.»o 
rvbanho dc mulben*» que !!•«• pa»«a.aiu v. , \ 
irem Impaciência J»c1a« suin dan da»|j| 
«pir fingem **»u«tar *- e». .« r vsnd\ um J (] 
velha|mulW*.a*tig-»inqriroeik-.- | 

Jc anima!», contava a • -Tr» i«« j» 
p-;ije-:a< da sua prlnidr* via^ui» roí. 1 
uma tropa de mil - luz-uita* mula* A» ; t 
Vacaria a Sorocaba. p d«q - i« “« » • « 1 1 

mc/e> d- valia;»" »* 1 I 

as fttiiv-e .i* o que •:«ulia».» ■••• u »• 
M.W..VS- . .Ni" v i *- ».* grau- í.<* ••••;*•'»-». 

5 nm i'|i» *11 * b-.ni ••«. »|'i- :ío'm »il» »* 

1 «TV- tnc» tempo luq»u <•. am «:.!•• •!* I U'*' • 
ol enrijo d«* Tnmb rUcb. alli rera-ml» ■ 
C r U»,Vse 1*1- - • ‘ ; * 

«! ?-**q'“* "'***' 1 : - 


: 


De Paris (detalhe) 




832 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


f 

Anão XV 



H Cl A M OI VIÇOU ? O 


_ Rio do Janeiro — Quarta-feira 30 de Outubro de 1889 

cazetTdeTotícias 


N. 303 




De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 303, p. 1, 30 out. 1889 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


833 


DE S*ÂR1Z 

Foi um resultado curioso o das eleições 
de domingo 2! : lodos ficai um coutemos 
com cilas” B isto pela razão muito sim- 
ples do, náoseudo esse resultado decisivo, 
não correspondendo nem ãnictadcdns es- 
peranças ou das npprelicnsões dos par- 
tidos cm campo, prestar-se clic a toda a 
sorte do interpretações que possam servir 
ás previsões tios jornalistas partidários 

Os boulàngistas, revisionistas indepen- 
dentes, radicaes revisionistas, Korciona- 
rios, socialistas, possibilistns, a legião 
oppoglcionista, contavam varrer o opixir- 
tunismo conservador que 6 a guarda (lei 
do poder c cm seguida disputar n preza 
da campanha. Seria longa a disputa, 
longa c funesta. Os máus governos que 
duram tem a vantagem da estabilidade. 

Costumam chaflinr máus governos 
àqmdirs que uão admittcln na gerencia 
do estado a intervenção de todos os go- 
i vernantes ou espiritou governativos em 
disponibilidade. 

I Bons são os que não prestam par# nada. 
mas que deixam fazer da administração 
da cousa publica uma panclla cm que 
todos mecliem. 

O governo actiial da França 6 um niáii 
, governo npparenteincnte, sem o prestigio 
que lbc devia dar a confiança da nação. 

1 Mas governa, resiste o dura. Tem um 
1 programam que está nos casos de cum- 
prir, porque para isso tom a primeira 
condição iieccssaria, que £ n de dispor do 
(loder. Os outros, os melhores, mais sa- 
I gazes, mais |iatriotns, mais honrados, só 
têm o defeito de não ollcrcccrem garan- 
i tias. Nem mesmo estão seguros de ven- 
i (cri K o eleitorado prefero os qnc, cm- 
. bnra governando mal, governam, aos que 
. talvez n:'n tcnliam occasiáo de moiliwr 
as suas habilidades. 

, Fm «exumo : mesmo na culta Fiança, 

, onde cila entra mais ou menos no conhe- 
cimento de todos, são os políticos que 
fazem a política c que declaram os go- 
vernos bons ou máus. O povo, esse não 
1 discute cousas finas, sacode fóra os go- 
' vornos que lhe não sorvem e ntura com 
1 paciência os quo lhe servem mal, com a 
esperança de que aprendam c melhorem . 
E* o espirito conservador deduzido dn 
, lição dn historia. 

, Das eleições de 22 o único resultado 
. posilivo ale agora foi a constituição do 
. partido boulangisla com duas dúzias de 
v deputados eleitos cm primeiro escrutínio. 

( Os MO outros opposicionistas —realistas e 
, bonapnrtistas — não tem n imporlanria 
5 d‘cssè bniido de lurbuleiitos que negra» 
varão na cnnntra a agitação das dimus- 
c sues. Os uionarchistas qund todos são 
) homens do escrúpulo; piolcstnni, mas 
, sempre são commcdidos (Cassagnac apar- 
, te, (pie o jornalismo viciou), Dorím os 
boulaiigistas são aventureiros para quem 
o fim justifica os meios. Vai ser uma 
8 sessão suja ada nova cantara . 

Hm Uariz muita gente, estrangeira 
’ priiicipalinonte, contava com barulhos; 
o.i jornaes entretinham esse rcccioc houve 
quem não sahisse á rua de noite por 
medo das cangas de cavallaria. Houve ca- 
vailaria no bouicvnrd, mas m a como se 
e tosse cavallaria descarregada. Iam n passo 
„ os dragões, com um ar mais aborrecido 
do que feroz. 

Os que vi maio liem empregados esta- 
vam trepados sobre o passeio do boiile- 
, vnrd dos Italianos, do lado ila rua Drouot 
' o obrigavam o povo a descer para o meio 
„ dn rua. onde a continua passagem de enr- 
“ tos, muito numerosos até depois do uma 
0 hora da noite, impedia os ajuntamentos. 
15’ quo o (.'mi ÍOÍí, aproveitando a situação 
favoravcl da sua nova casa de esquina, 
a tinha armado nus transparentes tiingni- 
n flcos, parn publicar as victorias dos seus 
o pnrüdarios. Mas n (lolicia acliou que, 
cinboraos transparentes fossem imiltobrm 
arranjados, não havia razão para con- 
sentir ao Gaiiloir. inonarclilstn o boii- 
" langisla, o que não se permitte nos outros 
" jor:iac.i por simples medida de ordem. 
‘ Mesmo assim, de tempos a tempos, como 


arraigados, nao liavin razão para euii- i 
sciiiir ao Gaulois, monarcliista o bon- i 
langisla, o que não se permitte aos outros | 
joranca por simples medida do ordem. ( 
Mesmo assim, de tempos n tempos. como i 
para experimentar a indulgência da au- « 
ctoridade, IA fimccioniiva o transparente | 
anniiiicinndo o l/alloluge do Hochefort. 
a eleição de Bergerot, n d»rrotn de ( 
Jules Ferry... U mu commissnrin no tio- < 
licia niniló pachorrento mandou apagar i 
a lanteriin do anniincio luminoso. Assim | 
o Gaulois iierden tcm|io e feitio. ( 

Na rua Mniumartre, onde estão os jor- ( 
nacs mais barulhentos, cstabolcccram-sc I 
cordões de agentes de policia que os iso- I 
lavam do povo. Privados do recurso dos t 
tran-parenles. alguns i-cditcturcs tenla- 
vam satisfazer a curiosidade publica atu e- i 
geando os rcsullados das eiciçõci. .Mas 
ciirouqueciara logo entro a algazarra dos | 
que pediam que fallnsso mais alto, des 
que diziam que dessem um porta-voz alli 
ao Sr. Fulano, mal se ouviam uns nu- i 
meros quebrados c umas syllabas mais J 
roueentes de aUocuções trliimphaes. Um • 
sujeito com uma veia na mão queria fazer * 
ler os algarismos que escrevia n’um I 
cartaz. ; mas a falta de pratica fazia- ' 
lhe falhar o sophisin» dos transparentes. ' 
Tiveram miiilo trabalho para pequeno 
resultado. E i.o dia seguinte já os jor- , 
nacs estrangeiros davam contentes a no- j 
tlcia do triiimpbo da ltepubliea, d'esta < 
vez sem musica, nem versos de Augusta j 
ilolmôs. Das eleições franeczas não virão } 
rlurbaçõcs da paz da Europa. Ainda ' 
tu, quo anda um prurido de guerra lá 
por fóra I. .. 

— A ludo chamam triumplio da He- , 
publica os rcpnhliranns, a tudo o que ó 
triumplio do esforço deste povo perseve- 
rante c industrioso como lunilumi outro. ' 
K são odes (riumphaes, cortejos eivh-os, 
estatuas nllcgorlca«. iiiomimenlos de toda , 
a sorte. Ainda tio dia 21 foi a inaugura- , 
çâo do grupo allcgorico de Daloii, o ; 
cscriptor comniunista, cuja fuga pain , 
I /imites no tempo dá-llie boje uma , 
certa aureola de ninrtyr pola causa social, 
muito interessante. 0 grupo, symbolieo , 
a valer, como Indo o que súu imtnisfrs- , 
taçf. s socialistas, é provisorio, de gesso , 
pintado, ennio obra em que o inulcrial , 
vale ivaimeiite menos que o esplendor dn , 
idéa. Deram-lhe a roseta de nllicinl da , 
fj-gião de Honra em |tagn e os jm-naes 
illustrailos piiblicaraiu o seu retrato cm , 
mangas de camisu, d la Courhe l. 

— Ainda será trluinpho republicano 
o festival da distribuição das recompensas , 
da Exposição no 1’alaeio da Industria, , 
que rc fará no dia 29 d’csto mcz. Cumpro . 
o grato dever de commtinicar aos leitores | 
que a ordem de colloraçAo no grande 
cortejo das iioçõi-s, sendo alphnhelicn, o , 
Brasil virá representudo entre as pri- 
meiras o. o losango de ouro, a espbcra , 
arniillar, as vinte cstivllas, a coma. o 
café c o tabaco das suas bandeiras 1 
ferirão primeiro a vista das dezenas de ! 
milhares de espectadores presentes, 

— Começa a diminuir a nftliioncia de , 
visitantes á Exposição e de dias cm dias ' 
adianta-se de uni- quarto do hora o fe- ; 
cliamciito das galerias de tarde, o fecha- 
mento geral de noite. Os dias são mais 
curtos, chegam os frios, as viagens de 
noite nos enrros abertos da Dccauville co- 1 
meçam a ser desagradáveis. Mas dimi- ' 
nuíçáo de afliiieiioin não quer dizer que ! 
já se anda á vontade lá por dcnlro. 1 
Unia agglomeraçáo constanlc do mais de ' 
cem mil pessoas em superfície de pouco ! 
mais de $!3,0W metros quadrados não 
é cousa para tranqnillisar a quem não 
gosta de apertos c de emulas. A conso- 
lação um pouco amarga de tão ruidoso ' 
siiceesso £ que talvez nos iiltimos dias 
encha o vasto das immcnsas galerias 
desertas, chore nn eelio das abobadas 
sonoras a melancolia dos lognrcs cm que 
foram alegrias o tentas, liepois a caliça 
das demolições sepultará saudades c me- 
mórias importunas, e Uariz, menos c illos- 
salmcnte hospitaleira, será de novo a 
aniavel c amena Uariz sem febre nem 
tumultos de fcstns babylonieas. 

Domkio na (taua. 


De Paris (detalhe) 


834 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 308, p. 2, 3 nov. 1889 









DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


835 


A festa da distribulçilo das recompen- 
sas da Exposição foi, como lodos espera- 
Yam, uma bcllo solcmnidade. 

Dous dias antes jã a Agencia liavas 
declarava pela administração que os 
convites estavam feitos, isto ê, que todos 
os cartões estavam distribuidôs. Foi uma 
desolação geral. Havia cerca de vinte e 
cloco mil eleitos, entre os contos de mi- 
lhares que nutriam a ambição de nssistir 
i festa. Talvez fosse o despeito dos não 
«onicntcs, o que tez enfarruscar-se o dia. 
um frosco domingo de outomno. 

A’ 1 hora da tarde começaram a for- 
mar-se longas caudas de convidados de- 
tonto de cada uma das j orlas do palácio 
da industria que dão para os Campos 
Elyscos. Avançava-se quatro ou cinco 
metros por minuto ; cu levei vinte mi- 
nutos a entrar, outros esperaram tres 
nuartos de hora. Mas ninguem se impaci- 
entava apezar do vento frio c da chuva 
tominente. Contavam todos com os seus 
Jogares marcados c com elTeito desde o 
vestíbulo começava a repartição para os 
fcribetnaes, para o amphithcatro, para a 
gaTa. E á direita c ã esquerda, cartazes 
indicavam os togares das corporações, 
magistratura, ensino superior, ndmmís- 
Iraçáo, conselho de estudo, academias, Im- 
prensa, commissuriados. i\03 que tarda- 
vam em encontrar a sua classificação um 
Àtssjal muito pratico c escolhido guiava 
promptamente. Em pouco tempo a vasta 
nave do palacu*das festas atopetou-se e a 
frchestrn composta de oitocentos oxecu- 
tintís sob a batuta do regente dos con- 
certos do conscrvatorio começou o pro- 

K amrna com a Marcha heroica do Saint- 
eus. , . 

A’s duas horas justas uma formidável 
Marselheza entoada por orchcstra, coros c 
modas militares atinunciavam a checada 
oô presidente da Republica. Acclamaçôes 
otrondosas. vivas a Carnot. um grande 
th I de admiração pela sccna magmflca 
jte as cortinas do theatro ao fundo, nbnn- 
Jõ-se deixam ver. E’ uma paizagcm de 
ifiontanhas graduando-se, fugindo n uma 
bruma levíssima, azulcnta, para o lion- 
lontc longe. A claridade do dia que vem 
do alto. por traz. banha aquillo de um 
•«plcndor mais vivo, mais magico do que 
as illuminaçõesda mais bolla magica. 

No centro om um ! planalto Hgnram 
B’um pittorcsco grupo os negros do .Se- 
negal o de outras colonias, cabeças de 
azeviche, reluzentes, mantos brancos, 
fachas de rúres vivas, Iturbnntcs armas 
Bingulares c enfileirados de um e de outro 
lado até o proscênio os porta-bandeiras 
das secções, ím moveis. 0 theatro nao re- 
presenta mais um palco do sessenta mo- 
iros de fundo : cabo Mli o mundo, desde 
os bosques de Meudon ate n* 

Himalaia e a humanidade trabalhadora 
acha-se alli representada tão bem i* o 
pintor de leques, como pelo fundidor de 
canhões, pelo selvagem de cara lavrada 
Como pelo typoafluado;das civllisações 

€ *Soailí' S fân farras. Nas escadas, no outro 
èx tremo da «ala appareeem bandeiras : e 
o cortejo das nações. Allt vem todas cilas, 
menos a inimiga c menos a pobre esma- 

Ê ada pela ultima guerra da America, 
las não ha tempo para fazer contagens, 
nem para lastimar ausências. Anplaude- 
bc, com os pés, com as mãos, applaude-so. 
acclama-sc a gente amiga, os represen- 
tantes dos 1 - 0 r os longínquos, por svm- 

Í athia nacional ou simplesmente as bnn* 
eiras mais decorativas. Em jorna- 
lista tomando notas pergunta a ouTO 
Quacs são as tverde c amarcllo. com 
0 escudo, quo vem atraz das da Bélgica. 

R á resposta cllc associa provavelmente 
na idea — Brasil, diamantes, calor, 

D Pedro c ordem da Rosa. Outras rc- 
cè’ 3 cin applausos por assim dizer políticos. 
Faz-se. uma ovação á agula russa da 
bandeira da Finlandia. Os applnusos rc- , 
benta m na saiu, nas tribunas, por toda a 
parte caprichosamente, por explosões iwr- , 
líL.... i„, «m í^ndfiwraeJies formidáveis. 1 


f»chàV'(ÍÒ PõVcs ' vivris, íturüantos armas 
Bingulares c etilileirados de um e de outro 
l«do até o proscênio os porta-bandeiras 
das secções, immovcls. 0 theatro nao re- 
presenta niais um palco do sessenta me- 
lros de fundo : cabo alli o mundo, desde 
os bosques de Meudon ate as alturas do 
Himalaia e a humanidade trabalhadora 
aclm-se alli representada tão bem pc o 
pintor de leques, como pelo fundidor de 
Milhões, pelo selvagem do cara lavrada 
tomo pelo typo afiaado^das civilisaço.s 

* X &ain fanfarras. Nas escada,, na outro 
èxtremo da Sala apparerem bandeiras: v 
o cortejo das nações. Alli vem todas cilas, 
menos a inimiga c menos a pobre esmn- 

Ê ada pela ultima guerra da America. 

las não lia tempo para fazer contagens, 
nem para lastimar ausências. Applaudo- 
bc, com os pés, com as mãos, applaiidese. 
acclama-sc a gente amiga, os represen- 
tantes dos povos longínquos, por svm- 

5 a th ia nacional ou simplesmente a_s ban- 
eiras mais decorativas. Em jorna- 
lista tomando notas pergunta a ou ro 
quacs são as tverde c amarcllo. com 
o escudo, quo vem atraz das da Bélgica. 

E á resposta cllc associa provavelmente 
da idea — Brasil, diamantes, calor, 

D. Pedro c ordem da Rosa. Outras re- 
(è‘jcin applausos por assim dizer políticos. 
Faz-se uma ovação á aguia russa da 
bandeira da Finlandia. Os applausos re- 
bentam na sala, nas tribunas, por toda a 
parte caprichosamcntc, por explosões par- 
eJaes ou em conflagrações formidáveis. 

Eninuanto o cortejo desfila, cada ban- 
deira abatendo-se corte/, ao passar poi 
diante do presidente, que sauda, a orelies- 
trn, os coros executam tres a quatro pe- 
ças do programma musical que ninguem 
escuta. E quando toda» as bandeiras es- 
tão nos seus togares sobre o palco, rodea 
das petos respectivas guardas, e todos os 
commissarios que as acompanhavam, es- 
tio sentados nas suas cadeiras em frente 
do estrado olllctol. o presidente levanta- 
tc c lê um discurso. A acústica da sala 
favorece tanto a audição como se se rsti- 
vesse ao ar livre; mas lia silencio (vinte 
c Untas rnil pessoa*!), a voz é forte e a 
dicção clara. Ouve-se, entende-se. faz-se 
um fecho de palmas a cada paragrapho. 
E no fim dura longas minutos o clamor 
enthusiaslico. V ...... 

Depois falia T. Tirard. presidente do 
conselho. mmtstro do cnmmoreio e dos 
tnlial**ni nublicos. Klomiv.ivia pouco 
nbysit-, «iiioo aiidivo!. Depois de al- 
guns esforços para entender o ronroí i. 
tnlrccorfado de gritos e arrancos em- 
phalieos, que vem da estrada oílícia! 
como tinta musica amortecida na dis- 
tancia, os qtte não estão mmto perto 
põe io -se aconvorsar o a ajuntar de boa 
Mtilado os seus applausos aos dos que 
Ho mais felizes que ouvem. 

Durou trinta c cinco minutos o dis- 
enrso de M. Tirard c a proclamação das 
recompensas feita cm seguida por M. Ber- 
ecr (menos voz ainda, sala completa- 
nionte surda desta vez, alguns começam 
nsahir) c atesta toda, pouca mais de duas 
fiorss. Não foi estopada, foi bonita, foi| 

""{'sabida não (oi agradavei. A poeira 
quede manhã cegava a gente nosÇaropO! 
Elyscos e na praça da Cpneordi# linha-st 
mudado cni lama. Chovia de rijo c ven- 
Sva c fada frio. Seria então um (toste 
para os que não obtiveram convites \or - 
chusma de peitos brancos se amo.lccou- 
ás chicotadas do vento húmido uo teni- 
poral c o tropel de botas tinas patinhan it 
ía lama fria, cncharcaudo-sc na agn: 
das enxurradas. Mas foi bonito... h*>‘v»t 
dia, que era domingo ainda, houte mai. 
do trezentas mil entradas na hxf • v! J 5 * 0 
D- 1 noite os restaurantes não tiniinir 
mais comida i não tinham mais ! • " ; 

Aex|. í • ’ varhciaroniosenipr.; 

N . dia fd publicada i lisut 
Slírtl prcmtade! na nairle l ;1 ' , a l! 

tiaba.lt > tiilelVate. Ma 


alli mencionadas todas a» recompensas 
que o governo franco/, entendeu dever 
reservar como distincçõft* cspeciaes áquel- 
Ics que mais concorreram para a magni- 
ficência da grande festa social • 0 visconde 
de Cavalcanti, que djjvc ter embarcado 
hoje em Bordcaux para o Rio de Janeiro, 
foi o primeiro, por ordem de data. entre 
os partí cu tormento agraciados. Tinham 
se reunido ante-honUni em um salão do 
Café Voisin para um jàntar de adeus 
dado cm honra do eniwenle orgapisador 
da exposição brasilefra cerca de 50 bra- 
sileiros, franceses e portuguezes. c cMs- 
punham-sc a pásapr para a sala do bau- 

3 uete, qunndo o cohde d Ormesson, intro- 
uctbr de embaixadores, declarou que era 
encarregado nelo ministro dos negodos 
estrangeiros de entregar ao commissario 
do Brasil as insígnias de grande ofllcíat 
da Legião de Honra, com que o governo 
da Republica entendera dever agmcial-o. 
Foi uma surpreza c uma satisfação geral, 
tanto mais que a parto olü.ial da mani- 
festação particular em nada quebrava a 
intimidade da festo. 

Achavam-se presentes muitos nome? 
il lustres entre os representantes da arte, 
das lettrns. das aclencias. das flnanç;is, 
dos tres naizese a cordialidade necessária 
dos brindes não carecia do Aquecimento 
dos vinhos generosos para nianifcstar-so 
exubernnte, lhana o sentida. Entrn os 
numero<o< discursos um recado de Char- 
co t para o Imperador e um brinde de Pi- 
nheiro Chagas mereceram especial alten-. 
çno. Ha tonto tempo não ouviomns a elo- 
qucncia meridional, as imagens que brotão 
como fagulhas ao choque das palavras, 
as phrascs ardentes, a convicção momen- 
tânea embora dos sentimentos que se ex- 
primem por cilas, isso que enthusiusma 
c arrasta por mais esquecido que se es- 
teja da musica... Acclamnmos o poeta, 
que, ha uma semana apenas, pisava peto 
primeira vez o sólo da França e já alli 
rendia-lhe o seu primeiro preito. 0 vis- 
conde de Cavalcanti não podia ter mais 
bclla despedida. 

— Foi iiojc na igreja de Magdalena o 
serviço fúnebre pelo barão do Rio Doce, 
morto subitamente a 2G de setembro. Fez 
os convites c representava a familia au- 
sente do finado o digno cônsul geral do 
Brasil cm Pariz. Achavam-se presentes 
muitos brasileiros, alguns que conhece- 
ram o morto. 

A cereraonia foi imponente e solemne. 

Domicio da Gama. 
Pariz, 5 de out ibro. 


De Paris (detalhe) 




836 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 318, p. 1, 14 nov. 1889 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


837 



tc 


un 

)S, 

u- 

ÍÇO 


i a 
•tc 


A Exposição está nos seus u 
ll.i pelos jornaes uns lliiginie 
saudades antecipadas, mas na reaiioi 
estio todos desejosos de vel a encerrad 
Dos rufos de tambores c das famarras 
glorillcantes, llcnu em os jornaes uma cs- 
iiccic dc convulsão admirativa, que se 
manifesta pela desordem dos ndjcctjvos,' 
todos fora dos seus locares c com valores 
depreciados polos excessos laudativos. 
Vai lovar tempo agora a curar-sc do 
exageros quem nio era cxagcraao antes. 

Mas quem mais pressa tem de ver ter- 
minnda a festa, são os fu6lelros. Os fes- 
teiros são os expositores. Hem tedos 
foram recompensados dos seus esforços 
nara apparecor bem, pois que apenas 
fjram distribuídos 33,000 prêmios. E o 
uma tristeza não ser premiado, como os 
outros. Tristeza para uns, raiva pnfa 
outros. Houve. expositores que ailxaram 
cartazes com cousas injuriosas paru qs 
jurys, o a administração da Exposição 
mandou rctiral-os. Suiiprimtram os rar-, 
tazes, mas não o despeito ca má vontade. 

A gente que passa seiite o ar malévolo 
das exposições não premiadas. Ha des- 
cuido. quasi abandono, as machjnas trn- 
bsllmm a sccco ; os agentes não fazem 
mais demonstrações praticas, estão para 
alli como empregados mal pago#, espe- 
rando que. o tempo passe para se irem 
embora. Nas premiadas lia mais calor, 
porém o cansaço dos seis inezcs dc guarda 
o bem visível. , , 

Também a inllucncia vat diminuindo 
sempre. O frio veio mais cedo do que se 
esperava. Cimeçam a recolher as laran- 
jeiras do jardim das Tulherlas, os foga- 
reiros dos vendedores dc castanhas ja sc 
installaram nas esquinas c:n que ha casas 
de bebidas. Os nmgustos com o petit Meu 
de Pari/, otlcrcccm-so a cada canto. Os 
ventos frios do norte apressam a quedadas 
folhas. Já se vê mais longe atra vez das 
arvores quasi mias dos parques, r. nas 
alamedas menos frequentadas, com uni 
sussurro melancólico, torvelinho a rouda 
das folhas morins. 

O outono vai adiantado e os que podem 
preparam-se para o inverno. Nu rua de 
ia 1’aix, e em outros logares cm que ha 
modistas c costureiras elegantes esta- 
ciouam longas horas cm dupla o tríplice 
dia as equipagens luxuosas das mun- 
danas. Junto das portas da Exposição já 
são mais numerosos os carros particulares, 
o que fez um redactor do figuro dizer 
que os visitantes ucluucs são nmis uteis 
aos expositores, porque sio cs que com- 
pram. Mas ha dias um sujeito queixava-se 
de não encontrar nenhum objecto que 
lhe agradasse, que já não estivesse ven- 
dido. Com isso ratlisavn ellc uma economia 
virtual de algumas dezenas do milhares 
de francos, com a cousoluçáo a mais dc 
ter querido comprar objectos quo já es- 
tavam vendidos uo duque dWumalc, e a 
outros amadores dc reconhecido bom gosto 
c de muito dinheiio para satisfazel-o. 
A muitos acontece isso, o desejo só sc 
accendendo pela dilliciildade ou impossi- 
bilidade da posse, e sendo poucas as cousas 
venacs e accessivcis que tenham valor. 

A Exposição que da as suas derradeiras 
festas vai deixur os jornaes se occiiparcm 
inteiramente com as discussões políticas. 
As eleições complementares do dia C in- 
troduziam mais 27 boulaugistas na ca- 
iiiura. São pois 49 au todo os represen- 
tantes de um partido, cujo chefe vai ii’up- 
rápido derJinio de popularidade. Al'" 
dos o' 


escrever, pensando o cscre- 

iiitos estrangeiros illus- 
.ibiriz pela primeira vez, 
„,-s o grande |»rluguez Pi- 
ís. Pnssdii aqui quinze, dias 
f que sem duvida foi a cidade 
^nlio de mocidade, que clle tio 
noiu-wtla que for por longos aiiiios um 
dos raros transmissores da sua vida intcl- 
lectual á nossa pobro civilisação. Yiu-s 
tarde, mas viu-a bom, em todo.o esplen- 
dor de uma festa rara nos séculos. E 
achou-se bem, no meio dc amigos, no 
meio dos sons admlrndores que são todo» 
quantos o conhecerem de o viir ou dc o ler 
e, upezar dos frios do outono, n'um té- 
pido agaz.ilho, do sympalhia e de estima. 
Achou-se Lcm e mostrou-o cm discursos de 
uma eloquência om mie a exuberância do 
fúrina ainda não traduzia bastante a exu- 
berância do sentimento qnc sc prcscntU 
nas suas palavras vibrantes. 


Domicio nx Gama. 


Pariz, 11 dc outubro. 


Foi nomeado 1* supplentc do subde- 
legado dc S. João do Paraíso, em S. Fi- 
dcliâ, Francisco José de Bragança Junior. 


REVÍST9NHA 

O baile da illin Fiscal . . . Pois ainda t 
Ainda c sempre. Foi um esplendor, mas 
teve os defeitos inlicrcntcs á natureza das 
cousas na nossa terra. Um d'cllcs é a 
classira má criação dc grande numero d# 
typos que se fazem convidar para estas» 
festas, e de alguns que tem o topete de 
ir mesmo sem convite. Acutovollnm as 
senhoras, fumam á vista d’cllas, atiram 
ao chão restos dc comida, entornam vi- 
nho, faliam alto coinu se estivessem nos 
touros. 

O outro são os criados. Quando^ou digo 
criados, é para que o publico me entenda, 
porque os personagens encarregados do 
serviço em banquetes o bailes não se 
consideram criados. A gente tem dc fallar- 
Ihes com todas as attenções, pedir-lhes por 
favor um prato e quasi pelo amor de 
Deus uma garrafa de vinho, c os me- 
lhores digiiam-se responder com um 
aceno ou nina phrase rapida, c, so lhes 
parece, d'alilaum quarto dc hora trazem 
o que se lhes pediu. Estou convencido de 
qiio.se alguém sc lembrasse de dizer a nm 
personagem d'cxtes:— O' criado, traze vi- 
nho !— levava com um prato n» cara. 

E’ preciso tratnl-os nor senhor, c ellos 
servem as pessoas conhecidas, dc prefe- 
rencia os que occupani alias posições. 
A’ mesa, se têm dc apresentar a um* 
senhora a travessa para que cila se 
sirvo, abalrôa-a, a cllac á visinha, c se, 
emqiianto ahi está, alguma cousa lho 
chama a attençáo, clle volta-se para vêr 
o que 6, c deixa cablr o molho sobre os 
vestidos. 

De quantos andam por ahi, lia dois ou 
tres que têm consciência do seu dever ; 
os outros, os convidados das festas é quo 
têm dc estar ás ordciiB «Tclles. 

Li» 


I.uiz Teixeira Soares c Antouio Vaz 
Corrêa de Aguiar foram presos, ante-bop- 
tem, por serem encont rodos cm luta, no 
interior da casa n. II da rua dc S. Jose, 
estando ambos ferid^í levemente 

i. • 


De Paris (detalhe) 


838 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 














DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


839 


-B OS 

Ódio 

Coqttelin cntr* do novo n ara n Tlraxlro 
lun- ^ r * nfw * «londc tinha uiliíJo brigado o 
contra cuja sociedade ia pôr ura n demanda 
a h$ Ctarctlç quem arranjou a cousa, com 
■evi- halMlidadc, vencendo a opposiçA«i 

pri- do* outro* sorivtirios, que, por ciúmes do 
(vílicial do mo.«mo oQicio e outras rarita 
■idos U'uaimcnic fortes, nán «loxgoxUvani do 
ma- \ tr crra f I** a sombra importuna 
uo grande coitico. 

ida- um acontecimento sem Importân- 

cia cm .qualquer parte cm toiuç&o de 
uma questio entro acinte i. Mas cm Paiu 
Oque só pa»M na caia de Molierc, assim 
cumo cm outras mais ou menos de vidro 
tem uma Mpercu^âo 'nacional . A ílbra 
çalMUiM df cada coraçJo parizlensa vibra 
longamenl* aos ècoí dramáticos, lyricos. 
Coqrcogranbífos q«o cada jornal c obri- 
gado a dar diariamente , minuciosa e 
abundantineiU. lia quinze dias. com a 
visita do c/sr.ao imperador da AUciiiaiiha, 
o resfriamento cada voz mais acccntusdo 
do cntliiislasmo bnulanqixta o o proxirno 
encerramento da 1'xposiçâo, a entrada de 
Coqnclin corro pendônUta ds Cum*Jia 
Francesa « assumpto dos jornacs oio 
exclusiramcnlQ nartldario». 

K* melhor fiatii». As intricas de tbea- 
(ros &Ao bem mais intcresasntm que as 
Intricas politicas. Valem sobretudo rvlo 
tom Aiiia\el, a blayue disfarçando c xt- 
tenuando o que possa haver do ridtcu o 
cm cntbiisiasmos... by&antinox. Só a 
política ò que pódo levar o ftancvz a 
excessos de uma ferocidade que lhe n3« * 
nitural. Sd a politira torna grosseiro o 
jornalista mais tino. Nem hxlitter.it ura 
quo valha contra o Incêndio dss pjlxfra 
partidarla*. fuixGet mais ou menos gw- 
trkas, mais ou menos siru^lcíorliiUtu. 

A altura de tom c o azedume das palc- 
na micas politlra*. os desmandos de lingua- 
çao gem dos iornxlhtas miliuutcs c a imm.i- 
rali da 1c dos recursos vis dó incutira c da 
n wlumnia, cotno arnns de box taoerra na 
5110 imprensa frsiicc/a, já fazem muitos dese* , 
]* rcin «*cp|»*Cs»loda lei especial paru a 
l«C imprenix c q ie c.stasubmctta-icao dirtito 
comonim. So eu cluimar de ladrlo a um * 
cr * homem c o nio provar, clle incUe-me na 
cadeia ; se cu fiV jornalista e fizer a rnes- j 
CA “ ma co .sa, depois de um procc»so com- 
plicado cm que acharia meio do pelo l 
menos insinuar coutas mais feias *obrc a " 
reputa :ôo do queixoso, quem vai para a 
cadeia ó o perento do jornal: é um xys* J 
ide t !' n,a subslitttlçáo, que faz do jorux- 
«ii »»U jvssoa privilegiada n*uma sociodadc « 
i2o ? U ® A SC l, * r «ppHmldo oi privi- • 

ia, « P o chsic ba um acctilo. * 

>s- Na próxima xêulo da cxmara, um J 

|ro 'IcpntAdo jornalista, o Sr. José Heinacli, . 
ir- 'ai propor a almnlcn volta á nuda ai.iigx. ] 
,j. da liberdade da imprensa eom a respoa- 
ta. ^Wihladó plena «to jornalista e a soa r 
,j a MbmUsJfo ao direito c xnnuim aos denui* * 
,i- wjiMM. K assim, como tanta* outras, 
ey cuja rcvogaçto exprime que para o pozn , 
■s- Hbordadei nAo 6 bastante a aspiraçuo, j 
%. « neemario o mcrrvieiento, será revogada i 
n a Ict quo o l>om da pai Orcvjr, anncclo- 

10 , nxnJo enr IWI o voto das esmaras, r!>»- l ' 
raara *a Ki da tyrannia da imprensa.- " 

lia v i*iljs do c/ar a Oerllm o quo mais í 

0 Agradem aox írancszcs foi quo o russo tl- 
veaso feito em írance/. o briaJe ao al- \ 
Icmáo. u 

lia tun tal fervor, tanta esperança na * 
alli.xnça com a lliiuia, que tudo c lYni- 
pt »ma. Indicio faroravcl, Ison» n M vuro * 
cm para o futuro camajpamcnlo da Ocrmaniã c 
d- mater, «té essa simples lembrança da d 

11. tradiçAo diplomática, que estabelece o 

írt franecz para Jingna «nrcij^a cm congressos i> 
o, Ajuntamontos internavionaes. e. 

Í- Km quanto o imjoalor da ltusiia as- x 

o, sistia na IVusiia a jantares, revistas e - 
m cagadas, sem rnthuiiaJ!n lPt ò,Auma visita 
In ; jc purá íòrtrJÍa. .ly.rinco/a Th^dora da 
i C Slesxvig-flolstein. irm.l d.\ Imp rvV*z ds “ 
Mlpnunba, audavA |/>r Pari/. vPiMii^ 
a K\|W'i.;ô*i, di vrrtm do-SC de UJ.t-.* a 
as fontes himinoxas ee abraiáw G.' 

A lArm <Ia >lu .4. .....U -G ru 


.alavi 
jrnnlc, 
r«mol*hai 
xlu/iuilo pl 
«eis de vi 
>1 farflrar 

.uidm os fui 
• t.uctj, coni|Miidi 
.u.t das coufusVi. Mjj 
.. rs (uuui. 

.. •ulls.içlo pelo opírto e f 
..oiro. Oli! o cheiro da liununidstl 
c f una eoisa Urrivel... 

ÍJ, Sd. outros s.lvsjeni tropieses que 
Isvsinos frequentemente nin d.r r 
mi*."»,|w Riais almiscorinJi qiietonlur 
» pelle, uma iil -s do cheiro da (jonte i 
mais re/es se rndiuga do que ie I» 
ide ou que níu se Uva racsnMakviduUnieii 
da Isto |wr cspirüoconsoi iador. nersislen 
nio 4s IradiçV) tuellrv*. qiH fnels do m 
jtertí! r nam nado ravalleln um f ico 
um tnffetfla. Nos oilli orias do MksIm fr.m 
lo- os nari/ct aluis lúo eiviiiiailai disl 
Ituem liem cJirvni. nto o que no com 
eiichsmavo io^enusmcn'e -almjj. N 
os portu^ueees nte entendiam... A l 
doeçAo franceís seris i»r um rxali 
Krnnile iteinaia, qussí uhlie.\ que mu 
ds ousei empregar. Mas o rase c que nos 
t°* piritus cm que o. ide», ss sisoci 
“• sempre com senviqõ-M ndo c agrada 
J,n andarem juntos tKtip Uai cmn a n > 
vsote recordaria de suor velho c pel 
d* rançosas. tinosstvrUvs populsrr., ent 
h» uma cffosãú fraternal, * eipsntdo 
M > «legrl» nbjrtletv. caloroai o treseaUn 
-1 Que« frcqurnloil lilleraturas afttlj 
1,0 vote alll defilru «rrlpios de terror i 
ue grado... 

d, PensanJo qne se pnMongari o sucee 
(A t quireram o-llar n encerranirnU) da t 

q. posíçAo, e inerrarom.n o para o dia d 
norembro. o que foe kí« metes justos 

rt< duraçio. Oepoia, apagannio u lumir 

r, rias e ut llcario a Torre ÜfTel, a tiulc 

10, lai Machiou, o Zlmkorio Cestral coit 
ler mlcrlo de 30 ractroa o os. doo. pai s; 
i U . da. licitas Aries e dw Artes Uhcraca 

losar rm qne (oi a Kapoelçin. 
a . Coqtam fa/er alll nmi Mus snnual 
9 . Feira de Parir, qus uão «rm um dos in 

110 nores allra tiros da eucaotadora ciJad 
0 . K durante o laseroo valse fa/er u 

pouco mais do putitlca, om pouco mi 
i n de litlr-ratura, um pouco menos do ral 
dus para inalei vor, s sl-ae ser Parii k 
< 1^ Ksp/siç.t.). lliirni que a moJaaris sJi v, 
Ur /e cada um |air sua couta, cultivar 

11. espirituoso ijniw de qi;c no ouüiuaif 
mo das confralrrnlsarOes eom a hum 

o. nidade Um quasi »« esquecendo os (rm 
de/ea. • 

— 0 vnpor das Messagerioi que sa 
i e hoje Je Uurdeauí leva |ora o l.io de J 
nelro o raquife com o corpo euiha!» 
inadu do Dr. Joia hlsrtlna da Sitva Co. 
linho. 

A'* tuas evrqnias celebradas na igre 
de St. Piurre is Chaillot coaovrju uuj 
, toda a rolou u bradirtra e6 Pari/, oo 
IO foi multo ssntila a tua pe. Js. Krtn-e/. 

rstr.nçuirv i <*si maia rly. afac |., i ,1 
'? aocs.vj a.»si>tia<n as rdji á» funcl.e. I.n 
*' for;a da Hl* regimento Js linha 1 nhii 
° 'J* eaisio prestou a.» aort.. a< lios. 
• que llio eram devldar .como caiilliei 
", da f/ipáo Jellonra. ' 

11 1 r 

o Pari/, í.-díajlio Jc lw>. 


Ihimiao os Csus. 

ds* • pnli.-i 


t) eonis nn !.nv J,» • ..«a.-v, polirl 
msnJ.nt ir/V n ipi 't/f. ir as Sr. 1) 
•c di poiicU PmVu i j , v i , a. ii .u 


De Paris (detalhe) 




840 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


841 


A* 
roalis 
lõcs ■ 


Entro os mortos que o oatnuo levou 
comsfKO. ha muitos illnstra* ha trcs que 
mcroccm especial irfnçSo, trcs que w- 
cuparam o seu logor na momorta já tto 
descuulosa dos seus contomporaucos— Ui- 
cord. Melra o Augier. 

llirord, que nasceu no ultimo dta de 
im foi um legado característico do 18 
século ao 19*. N'clle reuniam -se tom hu- 
mor, trabalho intclligcnto ç deoicaçao. 

A velhice uno o tornou tioenlo do cs- 

!\cspcctalidado do sua clinica fel-o phi- 
iosonho, mas não o tornou cynico — era 
bregeiro. apenas, não mau. íioslava da 
pilhe ri a, c a melancolia dos seus clientes 
nahituacs, abatidos do nervos, arrasados 
jicla dissipação carnal, dava-sc bem com 

Curou gente c fez amigos cm todas as 
classes sociacs, cobrlu-sc dc çomleep- 
laeuos de gratidão, foz trocadilhos a 
farta, c morreu deixando um nome illu*- 
tre sem herdeiros « uma fortuna. 

Quando adoeceu, levo noticia dc ouc. 
Melra estava muito mal o fez uma roilc- 
xão desolada : «Quem fara daiuar agora 
os meus doentes? •» K Metra. ignorante 
da sua morto próxima, indagava pelo seu 
lado : « Qacm ha de curar os meus bni- 
lantcs, agora ? » Morreram ao mesmo 
termo. llm cortejo immenso dc amigos 
c dc amigas saudosas, gento das leUras, 
das artes, do theatro. eommovida. calada, 
desfilou por diante da sua cova aberta, o 
cm vez das colheradas dc cal encheu-a de 
ramos dc violetas c dc rosas. A beira 
do tumulo dc Uieord fi/crani-xe discursos; 
mais KOlomnidode. menos emoção real. 

Dc um ficam fórmulas c prestu IjKoe» 
thcrapcuticAs, ineuioHasdecllnica medica; 
do outro ficam a saudade das suas mu- 
sicas, La vague, Lex roses, Le lour iln 
monde, ns suas valsas cnluçaiites. ine- 
briantes, a memória dc uma cabeuoira 
loura arropiada, sacndimlo-sc |>or cima no 
uma orchcátra estrondosa o de um braço 
com uma batuta martcllando as cadencias 
furiosas dos galopes, nos balir* da Optra. 

Do outro morto, do Kmilio Augier, 
ficou alguma cousa umls, ficou a sua 
obra dramática» a collocçòo mais valiosa 
de pecas do theatro contemporâneo, a re- 
presentação ao vivo dc muita cousa da 
alma social moderna. Não cabo aqui 
fazer a cfttioa de tamanha obras Dasla 
dizer, pãra resumir, que depois d clle 
ninguém mais areou no theatro fratxez, o 
quo "o seu theatro tem a feição mais íjo- 
rtuina do theatro saly rico -critica lógica 
o emoção bumaim. ,, , _ 

Em Maitre Guérin. cm .Wamtf Ca- 
verlet e nus Kflrofetês Im mms theatro, 
e, sobretudo, ba mais humanidade que 
em todo Dumas Filho. 

1511c poz em scena, vivondo artí 
mente, mas animados por patxoet ~ 
dsdcir&s, paixões do tempo, bom dollntau, 
bem generalisadas, bem interessantes, 
typos que todos reconhecem sem esforço 
entre as suas rvlaçôos. , , , 

A vida das peças de theatro 6 toda 
feita da vida do® espectadores, do publico, 
por syinpathin com a acção dramatica o 
intclíigencia dos personagens represou- 
tados. As peças nova» tem o defeito ra- 
dical do nSo serem originacs, isto e, no 
não despertarem uma emoção nova ou de 
nerom ucmaslndamentc orlginacs, isto (•. 
tratarem dc questões particulares, do 
casos nnormaes, pouco sympatbicos a 
multidão. Dara quo viva cduie, a poça dc 
theatro devo ser uma ohm prima, cm 
-summa. B parece que não o fncil con- 
ceber c realisar obras primas li uma arto 
que exige o maxinuim do artificio das 
representações concretas. 

Augier assim o pensou quando ap«>s o 
succcsso dos Fourthambault. terminou a 
sua brilhante carreira de dramaturgo. r.llc 
explicou n'uin pivfncio que foi por ter visto 
um dia um dircclor dc. theatro recusar-se 
a receber o velho Scribo.dceifitido ao ponto 
de ser um auctor importuno, quo fez tenção 

... .. .... .... ...... n • 1 1 1 *0 (Tm 


condecorado* da Exposição dc mostrar a 
meio mundo as suas fitas e rosetas ver- 
melhas. Do terraço do catt de La l\ux 
ccn uma deliria ver o desfilar de carros 
com homens rovstatlos, do cabeça bom 
a!t:%. sobretudo desabotoado, e na casa do 
sobretudo e na casa do palçtot a fitinha 
gloriosa, fiammejnnte, novinhn, linda. 
Couberam algumas a b madeiros. Nós não 
estimamos lauto casas cousas. Tenho cer- 
teza dc que, s<» lhes fosse dado. passar 
adiante as suas cruzes, muitos dos nossos 
cavai leiros o olUciaea da legião do Honra 
tostariam dc fazer felizes aos seus amigos 
fran ce/es, quo vivem suspirando por uma 
condecoração. E' o numero dos dcsilludi 
dos, elos não contemplados nu ultima dis 
tribtilçdo, quo entristeço o encerramento 
da Exposição, pareço. 

E’ amanhã o encerramento. Que delicia I 
Domicio da Gama 


id 


ra, 


do- 

ina 

•Is 

ria 

IOS, 

Al 

dia 


do 

3ÍtC 

do 

dc 

foi 

S 

por 

•aco 


mi- 


No Conservatório do Musica o resultado 
dos exames cm 29 do novembro foi o se- 
guinte: 

Aula do rudimentos e solfejo* para o 
sexo feminino.— 2* anno.— Approvoda: 
I). Zephia dc Aguiar o Silva; 3* anno, 
anprovadas com distineção: DD. Atnbro- 
sina Thomazb Ferreira, Amelia Kibeiro 
Alves Cadies. Maria Elisa Perdigão o 
Ormindo Uibeiro Alves Casaes: plcir.- 
mepte: Dl). I.uciiida Moreira BaptlsU, 
Luf/a Uibeiro do Pinho. Maria da Con- 
tvfçâo Costa. Maria da Gloria e Silva, 
Maria Oliva Maítos, Maria Uibeiro Alves 
Casaes e There/a do Lima Coiilinho ; ap- 
pmvndas: DD. Albertinada Costa Pratos. 
Al/ira Snlonic Billio. Gabriclla de Abreu 
c llcrmolinda Teixeira da Costa Houv* 
duas inhabilitadas. 


José 

acbi 

va) ; 
Alíi 
2* 
vil 
DM 
com 
A 
-A 
min 
Toli 
L 
_o 
dm 
va 
Um 


F 

C 

Mn 

Anl 

do 

Kri 

8 

oxe 

Ari 


gel 


FANFRELUCMES 

(jUKM NÃO T8U CÃO.... 

I.citor. so dc historias gostas,^ 
Embora ouvindo-ns me atures, 

Àn cacete oiTrece ns costas, 

- E v òuvo esta que cu li algures : 

D. Ba/ilio c Michacla 
. Casal formavam de amantes: 

Etlc, velho ; porém olla, 

Menina das mais chibcinles. 

Puro, terno c ardente Uyllio 
Aos pés da dama prendia 
O velhote Dom Daziliy, 

Dia o noite, noite c dia. 

A pequena, triste, cm pranto, 

Dc ImlIlTorcnça o are usava ; 

E Dpni Baxilio, entretanto, 

. .Extremos do amor mostrava ! 

Ella tini dia. cm voz vibrante, 
Disse irada, u ingrata o injusta: 

— Se mo adoras, n‘cstc instante 
Prova quero mais robusta t 
— Que mais provas posso dar-to 1 
Disse clle, enrj indo o fado ; 

Não posso ã igreja levar-to... 
Bem sabes quo soú casado... 

« Faço o que posso, fllhinhs, 

Dc amor mostramlo a eloquência ; 
Desejos de mais cu tinha... 

Mas quo queres... tem paciência I 

« Não me ponhas tonto o miolo, 

15 vô quo o provérbio é exacto : 

Dc quem mio tem alo, consolo 
E* mesmo caçar com gato 1 

Pkduo Mai.axakth 


A* S. Propagadora das Bcllns Aries 
ivalisa hoje, ás !) horas dajioíte, nos 


iu 

vigil 
dclai 
que 
liavli 
Av 
recci 
0 fos 
O 
n;( c 
send 
quo 
roup 
0 
tul>0 
ficai 


Ni 

Deu 

L.it; 

Feri 

gj» 
nlo 
•J osi 
pele 
par; 
o D? 


R 

ínii 


um dia um dlròctor de tlicatn* recusar-se 
a receber o velho Scribo.accRliido ao pomo 
de ser um auctor importuno, quo foz tonçiio 
dc retirar-se a tciupo.rwra quo nao so re- 
tirassem d’ellc. Na realidade, porem, sorta ()| 
a sua consciência ptiilosopbica p que l e au| - . 
impoz a abstenção pela .inulilidêdo do fj 
esforço para invenUr. Os typos do Cjira- j |o (|j 
cleros significativos, gemes, dc.lniuosc 
humanos, quo so possam apresentar so- se||d 
bre mu palco, vivendo n uma acçao inlu- Ks ^l 
ressante, estAo todós crcndos. JoAo 1 

As crenças actuacs seriam de nu<trt<;f< 

— c o theatro tem uma óptica especial 
para a qual as mianccs são impcrcapfi- 
veis— ou seriam muito indlvMi •os, muito 

analvlicas, novas dcmnis—lrrcprcson ta- 
reis, iiortanto. Aos que pwem um thea- 
tro moderno, isto r.ctual . novo. com 
personagens ainda iiãu aprontados, ca- 
racteres modernos e acções modernas, eu 
diria, se para isso tivesse ii.ictoridade. 
ue estudassem esses caractere» coai um 
ti pio llm: verificar a sua modernidade 
rimeiramente, c a possibilidade da sua 
representação thcatral, dejiois d isso. 

Augier rolirou-se a tempo, rotirando-so 
io fim, consciente, doliberadamentc, 
uondu os outros pensavam ono clle ma- 
t a poderia fazer muito, Os discursos quo 
Ülarcliu, Coppee o Creard fizeram a beira 
da sua cova, foram mate ou menos para 
lamentar a perda para o theali-o, do sou 
melhor fornecedor, que ainda nao tinha 
setenta aniios. Hoqiieccrani-sc de. quo na 
mais de dez clle não trabalhava et jwirr 

L * A^mòrte de Augier não é sensível naia 
o theatro francez. para quem trnhaihani 
(menos clllcazmeiue, •• certo) tantos lio- 
mens de espirito. Ainda agora começou 
a representar-se uma peça de Daudet. 
com um titulo muito oiitípalmco c um 
assumpto idem. , .. , , 

. n Nos cartazes o titulo o La lutte pour la 
f u/c.com uma explicação entre paPcntljesis. 
Stamle for llfe, para que lodos saibam 
que c dc Darwln mesmo quo se trata- 
Quem acreditar nos cartazes e tiver fe na 
consciência do auctor paia a lawolha do 
titulo, ficará logrado. Do Dprwm o qne 
ha na peça, è uma comparaçao im|x:rtt- 
neiitc, que se rcjidc no fim. mal a |>ro- 

^ drama c uma continuarão do Jmmor- 
tfl. O auctor leva Paul Astier para ( i- 
juite. apresenta-o como o homem forte, 
moderno, senhor de si, sem eserupiilos. 
"jlgando posições, vencendo, devastando 
á roda de- si. abrindo caminho paran sua 
individualidade através dos ob* neulo* 
sociacs de justiço, dc sentimento» do bon- 
dade. ele. 

Mas quem sabe de ver a peça. s ü se 
'lembra do quo viu um canalha, capaz do 
más acções, incapaz de crime, sem gran- 
deza no cgoisnio.pouco iulclligouto mesmo, 
ignorante, vulgar cm summa. indigno 
que bala |>or file um coração. N.t veirn 
Hi\o muitos a bater por ehc.dc amor uns 
do «lio outros, (lí admiração quasi to.Ios. 

H não se vê razão para isso c os nutre 
personagens desmerecem logo no n«-«o 
conceito— mesquinhos, j»is que um fraco 
ns domina. A ncçáO 6 descosida, a peça 
não se tem em jm senào pelo. accesso- 
íoi. que. esses sim, são ima-orncs. 

Mo-lcriios e perversas. Daudot e imi 
ornem feliz appnrciitemcute : bomlo. 
rico. adulado m mundo c naiiiliaildade... 
p-tivcc que a sua concejição da vida não 
deveria sertão triste. K. uo entanto, atra- 
vés das suas lunetas do myopc, o mundo 
annarcce-lhe doloroso c mau, a rcahdnde 
amarga. Comprehoiido-so o.acnUf 'wlo, 
s.io impressões |k*«wocs. etc., etc. Mas 
fatiando serio c sem littor.rtum : la pn-- 
que um senhor selfre de dyspepsia o tem 
repugnâncias uOrvo>as. deixa de ser um 
desaforo que ello cuspa na nossa feijoada 1 
Pois até aqui eram os romancistas, o- 
iwellisttts que nos estragavam a nossa 
realidade, a vida em qiio vivemos, de que 
vivemos, quo nos ê indispensável, pois 
que não ha meio de arranjar outra. 

A gente dc bm» senso não Üa os ro- 
^ mianccs. porque, perder teinp.* cm leituras, 

% só com livros txms, dizem os entendido-. 

'* Mas agora o theatro. que era mu locar 
de divertimento, vai nos distribiiir ;K‘!S.'i- 
misuio u contemplações deprimentes. Víui 
vir os moi phinista*. os depravados de 
«infidos e de rspirito. os impotentes, 
ivsiduos das civilisaçücs adiaiiuidas, quo 
andores festejado* nos darão por e:.-m. ti- 
les c factores d'cssa* civiliv>ço.*s; vão r.ns 
ealiimniar tanto cm sccna. que nós não 
quereremos mais ser modernos, quo co- 
meçaremos a de.s*onfiar das formulas 
novas, das in novações cm qualquer ma- 
|,.iia q;ic seja. e nos transforinare.:io< em 
me -ionarios furiosos. Dará n isto o pes- 
simismo litterario. i 

Não conto a iz?;j. que ha dc -cr r-.q*:«: ( 
sentada no Uia; mal reprr"ii?a..'a. vèo 
ivêrj peior do que no r«ymnn*io r.-m 
I certeza, qne é o segundo thratio Franeet 
I na realidade. Alli as i- ças mo rept e - 
sentadas ipiasi ao natural, t <« vi. a* v’o 
1 u* Kqdi-as, justa* as inlbwLw. Ião *ein 
I a tf, •darão •>- grsfra. desde o primeira aié | 
o ultimo act*T. Mas também fiau- • 
n* qne (srrevem nara.lhs. rara { 

’ os n >.'M* .se'»"' • . que :ral sabun e\: : : nr 
as cm ••»! s correntes no theatçnaXL"'. i 
na" tiveram (•‘«•da «t- ■! «•!»*> j.. .> 
S)‘ntetii o tom ju-t«. • a nataraii J .«!.• 
:ral. unia i.e.-a : 'n d » lia ' 
vra mm. ;• a- u.,:.- • 

>mto muito mra n* ne'*o< oiral- > 
oi«’s lura •» in oi(ve>»(i »la* íncj» j :a - I 
Jllcruas. te»r »-*■• ta lo está o ilw i ( 
garautálo »!o pcva:ti3*iii.*. 

C.|\..ve nnuto cm l’si«' ha ntvi n- 
|i,s. |.vi i • j.-i- «!•• arutec deem... •'••* , 


•I"' 

não 


fâ:: 


De Paris (detalhe) 


842 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


843 


©£ PARIZ 

Decididamente ramos um» aclualtlaile. 
'Continuamos sempre na primeira Unta 
|dss qutslõo» intcrc««n(e», que o» jornaes 
estudam ou fingem estudar, questão múl- 
tipla, multiforme esta, rom as suas faces 
e facetas Infindas de problema social cm 
via de solução - 

Além da vulgar cuilosidade que a 
nossa revolução desperta, resurgem os 
problemas do raça o nacionalidades o 
predomínios, as questões políticas de 
unidade e federação, questões (ceonoml- 
ca», questões soeiologicas, questões de 
principio, de fórni», do destinos, interes- 
sando a Europa pensante, que acompa- 
nha anciosamentc a* pbaset rTcsia eape. 
riencia polillca feita em grande, cm vis- 
tas da lição que d'ah! Uro. 

Ainda não chegaram pormenores sobre 
o caio, ignora-se o espirito o a tenção do 
movimento, assim coroo o sentimento de 
quo a nação se acha animada, as resis- 
tências, as adhesões, os enthusiasinos, os 
'desalentos, os echos da opinião nncional 
livremente manifestada, faltam elementos 
para julgar, e no cmtanlo jã começam a 
tirar da nossa originnlldade, elo nosso caso 
singular dcducçücs e argumentos cm favor 
de quanta theoria de política moderna, 
[úJem defender os homens de estado. . . 
ihcorisla». E mesmo os não Ihcorlntas. 
Ainda nnte-bontem, n'um fuisr/i que lhe 
foi oltereeido pelo mefre de Uaoeheskr, 
Glailslone, fazendo a apologia das insti- 
tuições municlpao», mostrava que a calma 
com que se fez a revolução brasileira era 
devida i sua Influencia beneflea. 

Sc o grande estadista nos conhecesse 
um ponvo e conhecesse, portanto, as nos 
sas instituições municipacs, não pensa 
Ha em faltar de nòs para tal ilm. Valha- 
nos, pois, para este como para outros 
muitos casos o não sermos por cmquanto 
hem conhecidos. E quando o formes, que 
o sejamos vantajosamente, segundo a 
formula contigrada. E* agora o momento. 

Aproveitemos o movimento de ayropa- 
thiis c façaiiior-nos bcmquistof. E’ raro 
quo haja tamanha benevolência cm torno 
das originalidades, mesmo políticas, O 
bem que nos tez essa gentileza, essa ear- 
lezia com quo foi feita a deposição do 
único Imperador amado do mundo ln 
Icirol O liem que nos faz o quo nos far.i 
a moderação na organização do regiiucn 
novo I 

Como era natural, dada a dreumsUn- 
cia di jornalislas ignorantes do que so- 
mos nds o carecendo de se mostrarem 
informados sobre n questão do dia, appa- 
reecn muita tolice eseripla sobre o Brasil. 
Houve brasileiros quo se prestaram a 
cuspir sobro o radaver da nionarcbia 
brasileira' e outros que tentaram embai 
samal-a cm louvores. 

K houve gente do fdra que insinuou 
influencias absurdas sobro o que no» 
aconteceu. Rclir;-me aos argentinos. Uma 
nota publicada no JVm/u o um artigo 
apparcejdo no 1/ufiii dodtasrguintc (2 do 
dezcinbru) indicam assas os sentimentos 
do cordialidade e insinuam as esperanças 
dos nossos troes vlsintios. Nús zonioso 
seremos nações rivacs pelas raças inimigas 
(digo ruf.r, sabendo o tntor do lenno) c 
pelos Interesses naeionacs dentro e ftirr. 


Mn 

f 

10 


ra 


dr< 


nci 


cxl 

a 

pn 


la 

de 


pn 

r * 

mi 

A 

Ui 


0C< 

lo 

] 

O 

dir 

!• 

(• 

1 

de 

IS 

iê 

1- 

d’í 

10 

1- 


s. 

1 


n: 

i- 

ln 


de 

s- 

(l.i 

V 

CO 

lc 


Jc 


e 

0 • 

i- 

ul 

Sú 

1 u 

as 

CO 

li- 

tí< 

es 


OS 


l>S 


*»- 


u- 

CO 

0* 

lll 

> c 

J. 

«II 

11- 

6 


il: 

rl- 

m 

de 

s 

if- 

ec 

ees 

U 

m* 

rc 

•os 

.!< 

do 

la 

SC 

c 

o- 

si 

;ào 

CJ 

*- 

m 

SS. 

A 

CP- 

Pi 

) 0 
los 

M 

de 

di 

la. 

Oi 

«to 


as. 

do 

s 

dos 

de 

era 

ver 


lea 

vu- 

icn 

I 40 

a ri 

etn 

snte 

ies- 

Has 

ico, 

rs o 

a de 

mas 


pelos interesses naeionacs dentro 'e fnrr. I tem 
do território americano, lias éramos ri- 
vacs sem odio, até aqui . 

Agora a approxlninção. que n igual- 
dade ile regímen político tra/, os conta- 
cto» mais frequentes o os attritus conse- 
quentes nas questões de posse, de repar- 
tição e do primaria sul-americana», 
abrem a nova era do» odtos seculares 
passando do velho no novo mundo c nhi 
acirrando-se. ferve cs. Odtos moderno», 
astuciosos, disfarçando-se, mas tão pro- 
fundos, tão sinceros como os antigos, que 
se estralavam em grande* golpe» dãrmas 
façanhas heroicos nas batalha». 

Nõs faremos a guerra, talvez, ma» da 
guerra cm rampo aberto não nos virá o 
maior damno ; sim da guerrilha, contra n 
qual não valem estratégias nem bravura 
militar. E como somos ml» o» f mude», 
os superiores cm credttn, em fortuna, é 
natural que sejamos nós os /oji-udot, os 
vencidos, quem sabe mesmo se os des- 
truídos no disputa do território da Ame- 
rica do Sul pelas trmis inimigas. . . 

Tanta largueza |ura hypotliesr» fantn- 
riosas sobre o» nossos destinos, abro essa 
porta escancarada dn» revoluções I 
K só dentro de alguns dias, quando 
ameaçarem a chegar os juraars brasi- 
leiro», cessará a Incerteza sobic muita 
noticia mluda que o telographo tem trn 
zido, como de propmrito parn desorientar 
o* que pretendem julgar com segurança 
a obra potitlca do novo regimen. 

Ainda mais, que por tantos dias so disse 
que, o lelegraplio criando em poder do» 
rebeldes (chamam-io rebeldes todos os 
revolucionários cmquanto não reconhe- 
cidos vencedores), st noticies para a Eu- 
ropa eram submellidas a uma censura r. 
portanto, suspeita». A cteassezdc infor- 
mações, a principio, o » declaração pos- 
terior do quo achavam-se novamintc 
franqueadas ao publico a» linhas ter- 
restres, confirmaram a realidade dVssa 
medida jusltfleavcl. porém de máu ctlelto 
aqui. 

O primeiro correio quo Stanley rece- 
beu em rpwapwa. chegando do interior 
onde pasrara (res anues sem noticias do 
mundo, deu-lho noticias da revolução 
brasileira. Parece qne entre os muitos 
que c»»e acontecimento positivam nte sur- 
prendeu os dois a quem eito mais 
admiração causou foram Stanley c o Im- 
perador. E Emin-Paehã quebrou a ca 
beca cahtndo de uma janvtla abaiao, não 
sei se pov Uso» 

— P; Parir me»mo : temperatura de 
alguns graus abaiao de zero conalante 
mente, tempo sccco, ceo limpo, fontes 
geladas, patinação no Bois do Boulfno, 
mendigos cantando no fundo dos palco» 
cantigas amorosas que fucem vontade de 
chorar, vendedoras de jornac.» e de viole- 
las ora as mãos rosa» c gretadas do frici 
ras. Paz em Patlzcna Europa. Ser e cm 
Vtenn», cm Madrid. E Coqaelia ivcnd-r 
amanhã noThcalro Eraneez... 

Pariz, 3 do dezembro de ÍSSS. 


do» 

13- 

Kre 

tall 

va! 

& 

cap 

con 

(ihc 

CM 

mu 

lo 

Ihil 

loii 

(lo 

/ 

Vii 

Sai 


Dnviao r.\ Gama. 


De Paris (detalhe) 





844 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 26, p. 2, 26 jan. 1890 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


845 


Da ÍPÂÍ88£ 

Corre a Kuropa,de S. Pctcrsburgo a Ma- 
drid. unm epidemia dc constipações violen- 
tos. a que dão os nomes cxquisitos de febre 
dengue, influensa c outras. Dizem queécon. 
tagioso o mal c que o tempo frio c húmido 
íavorece-o. Começa por uma febre violenta, 
dôr dc cabeça, quebramento dc to<lo o 
corpo, grande prostração c não passa 
d'is.*o. Mas obriga no repouso. Isso fa/. 
que nos internatos, collcgios, lyceus, es- 
colas militarcsc quartéis, as enfermarias 
estando cheias, dào-sc férias extraordiná- 
rias ate que diminua o numero dos doentes. 

Em Pari/, a cousa manifestou-se pri- 
meiro nos armazéns do Louvre, c a coin- 
cidência com a abertura dos tordos de 
tipetes vindos do Oriente para as grandes 
exposições do flm do anno, fez logo pen- 
sar n’uraa invasão da peste. Os freguc- 
zes fugiram e, apezar dc n'um s<J dia 
faltarem 000 empregados, os restantes bas- 
taram amplainontc para servir aos raros 
clientes que arrostáramos pcrigosd*aquctlc 
fóco de infecção. Mas logo os médicos 
definiram o mal myslcrioso, c hoje que 
ellc se alastra por toda a cidade, sem ter 
coDFcqwcncias fatacs, rcsignamsc todos a 
contrahil-n mais cedo ou mais tarde, como 
quem sc arrisca a apanhar chuva ou res- 
pingos dc lama andando pela rua nVstc 
tempo. Levantaram-se os intordicto.%dissi- 
pados os terrores da peste rob a influencia 
tranquillisadora dos médicos e dos jorna- 
listas bcmtozcjos c bem informados. Houve 
unrtjue levou a sua erudição sobre a epi- 
demia ao ponto de dar ns nomes que ella 
tem cm varias partes do mundo. Assim 
no Drasil cila chama-sc febre palha . . . 
E’ extraordinário o saber dos jornalistas 
francezcs I 

Seria paraadmiiar que não fallas-.cmos 
do Drasil, mesmo tratando-sc do um sim- 
ples andaço de febres sem valor, tão na 
moda conUoúa clle. Quando não é o ar- 
tigo especial e bem informado, são as re- 
ferencias a no*?* gloriosa, dando a nota 
da actualidadc ao artigo. Ate os jornacs 
financeiros encarecem o nosso credito c, 
n'um cstylo grandíloquo, dizem as nos- 
sas pasmosas riquezas, a força prodigiosa 
da nossa nacionalidade, faliam da nossa 
honestidade civica, c não sei quo mais, só 
para defender ou fazir reclame a estabele- 
cimentos bancarios que jogam com os 
nossos títulos e valores. A» considerações 
políticas essas são sempre muito claras 
c simples, illuminam a nossa situação 
com um clarão optimista, grntiilatorío. j 
Logo que chegou o primeiro correio com 
os jornacs do Brasil, trazendo pormenores ' 

i 


Depois que Cl anipfleury ganhou nome 
e fortuna, Chicn-Caiilou, que era umtypo 
de verdade, agarrou-se a ellc sob o pre- 
texto dc ter feito a celebridade do roman- 
cista. K súgava-o. Chainpflcqry eriou- 
Ihc, odio do morte c limcntou muita* 
vezes a realidade viva th sua creaçáo, 
tornada em parasita odioso, Galathéa ãs 
avessas. 

Ha muitos annos já Champfleury vi- 
via esquecido no seu emprego na fa- 
brica de porcellana do Sêvres, onde sc 
comprazia a sua paixão pilas louças his- 
tóricas. As suas obras dc collcccionador 
erudito ficaram: a collccçào de faianças 
revolucionarias e a historia da carica- 
tura farão mais pelo seu nome do que 
Les Ilourgeois de Molimhart cas Aven- 
tures de Mlle. Mariette, com que ellc 
pretendia ter creadoo realismo. Clle o os 
Gouncom t sc dcsprozaramriciprocamcnte. 
linhani razões para i->so. Os Gouncourt 
crearam o século XVIII, o japonlsmo 
o o documento humano. Champfleury 
creou o realismo, Gustavo Courbet c Ri- 
cardo Wagner. Entre os creadores dc 
cousas creadas bem póde bwcr questões 
dc [tosse, contestações do direito «lo que 
faltou primeiro pelo que filiou melhor. 
Casos dc legislação difflcil são estes de 
compita dc procedências liderarias. Do 
um c dc outro Indo ha boa fé na invo- 
cação do direito: em creaçícs d’c&taa ha 
sempre o que sc imagina ser o que não 
é visível aos mais, aos pnfanos e não 
interessados— a parte uão creuda da 
crcação. 

— Em política ha calma, tonto na in- 
terior como na exterior. Sc § precursora 
do tempestade, terrível scri ella, pois 
nem uma nuvem tolda a pureza dos hori- 
rontes políticos. Nenhuma questão ra- 
cional nova aclia-so cm discussão c o 
ardor dos artigos tom diminuído sensi- 
velmente. Nas camnras francaa* cm voz 
dc disputar, legislam, o que óadmiravel. 

Tareco qnc a gencralisaçáo ii\ tnfluen- 
:a, harmonisa c pacifica a Europa. 

Domicio ra Guia. 

Parto, !4 dc dezembro dc 1S89. 

Tlieatros e... 


do acontecimento, publicaram os jornacs 
frnnce/.cs cartas dos seus correspondentes 
no Rio dc Janeiro, contando as cousas ' 
bem pelo miudo, á brasileira. K, no cm- 
tnnto, esses mesmos correspondentes tão 
bem informados desde as vesperas da nossa 
grande jornada histórica, não souberam 
valer com tclegrnmmas aos seus jornacs, 
anciosos por noticias c condcmnndos ãs 
magras, lacônicas e coutroversns in- 
formações da liavas c aos tclegrammas 
c intervieux com brasileiros illustics, 
redigidos na mesa do café, á hora 


CATO rRKTO 

Hoje 6 noite do Variedades estar cheio 
que nem um ovo, o que no flm de contas 
não tem nada dc extraordinário, pus na* 
*2 1 apresentações da famosa magica ainda 
não houve uma s 6 em que o feliz theatro 
do Guilherme da .Silveira não licisso á 
cunha. 

Todos aquclles que qui/.crem regala r- 
sc com bonita musica, deslumbrantes 
seenarios, h-llos fatos o boa-» pilhérias, 
tem dc procurar cedo a billicteria do 
theatro, porque os retardarios podem ler 
a certeza que não encontram Ioga 

| O nKKDKUÔ 

A roneurrencla honteni ao Recreio foi 
tão numerosa, que o Dias Braga vê-se 
obrigado a repetir hoje o espectáculo dc 
liontcm ; isto ê, o Itendegó com a snn 


c iniervteux cum ur«i>iiuuu* iiiusucs, 
redigidos na mesa do café, à hora 
da cerveja ou do absiutho. Dc tudo isto 
resulta que estão todos com os olhos so- 
bre nós c que é preciso que acompanhe 
aos organisadores do novo regimen a 
mesma boa fortuna que os njudon na 
dissolução do antigo, para qnc os peque- 
nos erros possíveis sem importância nãu pa- 
reçam faltas irreparáveis, infirmando as 
bases dc um novo cdillcio político. K' que, 
ainda mais do que entre nós para confe- 
rir diplomas de capacidade c meteei- 
mento, c facil a opinião curopca cm rc- 
i tirar n sua confiança aos que erram unia 
vez, embora acertando muitas outras. 

' Assim nos circos a multidão apupa e vaia 
o saltimbanco que falha uma sorte infe- 
rior, embora já o tenha npplatidido em 
outras mais difliccis c valiosas. 

Esgotadas as fontes dc informações do 
Brasil mesmo, ha quem se divirta com j 
combinações restaurntivas da dynaslia! 
exilada. Jã inventaram varias, dc uma ' 
fantasia pouco divertida, inonotona. O 
peior c se alguein toma isso ao sério. I 

— Morreu Champtleury, um roman- j 
cisto que teve gloria c nome para fingir! 
dc realista no tempo em que Eugênio 
Stic, Dumas c muitos outros soltavam nos 
ecos retumbantes da imprensa dlaria o 
alarido jovial das suas orgias de imagi- 
nação nos romances de aventuras român- 
ticas. 

Champfleury escreveu Chien-Caillou , 
Victor Hugo mandou chamal-o á sun 
casa para conversarem sobre os que 
soffrem , mas, como Hugo tinha um pnt> 
ir.uit.» bonito c Champfleury adorava os ' 
gatos, pas*oti-sc o scráo cm nneedotos c 
historias do animal muito engraçado, 
mas pouco rolacionado com os artistas 
miseráveis. i 


De Paris (detalhe) 


846 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anuo XVI 


Rio do Janeiro — Domingo 2 do Fevereiro ae ití90 



GAZETA DE NOTICIAS 


NUHCflO AVULSO *0 


Tlrnuom 88,000 o*omplnro» 


MUHinO AVULSO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 33, p. 


N. 33 

- 43 



1, 2 fev. 1890. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


0 E PAR 33 

Ain«i va la vie ot va la fartum*. 

Dos chwoa* nus piem*. An pleura aai batvm: 
Voot r„ib croyez iuoiU ou mrlyrkft 
Kl prêb i Uni souífir quo vou» faido rancone 
Aui «>|-air» lirivs. 

Cl pui». u la vle et va la loiluuc... 

I.a lenl-ur «Ves jntir* vou* svmblí* importune, 

HaU «|ii ua venl ilamour pa«íe od mi* pa**ex, 
Voilá UhiI a tfoup lo» c«*ur» apai»***, 
l!t cV>l uno ftatuun qui Jaiuc au ilalr dc lune 
Kalir «Fui baivMi. 

K’ sol)ro estos versos syllabmlos c sus- 
pirado* pela graciosa Uêjane que cai o 
pailtiu no ultimo aclo da comedia que se 
representou nntc-liontom pela primeira 
vez no Odóon. For eltes o sobre clloa p<4e 
a imaginação dos poetas archítcctar peças 
sem conta, variadas cio ncçâo o de scc- 
nario, que nenhuma valerá mais cm gen- 
iieza cgrnç.t do que o amavcl Ma catlor 
dc Veneta. E* do Sr. Edmundo ilarau- 
court a tradueçuo. ou antes imitação pri 
morosa, porque lia quem diga (pie Sb.v 
kespeare é intraduzível. Mas, Iradiicçáo 
ou imitarão, ha na peça nova do Udcon 
toda a poesia necessária para que uma 
mulher suspire o sorria. 

A intriga c de arnor.e a* adoraveis ba- 
gatellas do grande sentimento occupnm 
quiisl todo o tempo a lingiia dos perso- 
; nagens, entre os quacs ba tres pares de 
namorado*. No thoatro, a* mulheres dão 
sírnpro preferencia ás peças em que cilas 
sorriam de ternura c estremeçam de ter- 
. ror. O elemento terrível o execrável í* o 
5 judou. Mas apenas um poito so descobre 
1 diante da sua faca aliada, c a lei e 
, a fantasia humorística do poeta desar- 
mam o. K o arrullar dos namorados no 
• ultimo neto canta a victoiia da mocidade 
‘ e do amor sobre a maldade o a dureza 
, da vida. 

i A comedia tem 300 annos o parece 
‘ nova. Não tem destemperos nem aíTccta- 
’ çuos. Tem esta grandeza Shakespearc, do 
j arrastar tudo o que é menos provável na 
- torrente da sua prodigiosa intuição de 
" poeta. E’ assim, que todos os seus enra- 
l cteres são verdadeiros. Nas suas peças 
ha personagens que são alegres sem sa- 
!t ber por que, que são assim physicamcntc, 
** ao passo que outros são tristes, o sem ax- 
' pllear dizem que o seu estado d’alnm 
o consiste em não serem alegres, simplcs- 
s mente. A vida jovial, clara o simples 
ü para uns ; a sombra das cogitações amar- 
“ gns, a complicação dos sonhos irrcalisa- 
. veis, as ambições latentes, quo são um 
° martyrio, a luta interior antes da bata- 
lha social, para os outros. 
t „ Dados os elementos comicos ou trágicos, 
a a comedia ou a tragédia está feita e vor- 
" dadeirn, exhalanilo-so d'elles como a nota 
musical aguda ou grave, segundo a corda 
o vibrada. O que produz a sympathía que 
a elles nos inspiram, é a sua sinceridade e 
'• simplicidade. Nó* hoje somos pouco cla- 
ros, porquo nos cnturvnmos dc propo- 
•_ sito com explicações que nada adiantam á 
In verdade dos nossos caracteres. Um ho- 
1 » nicm que 6 triste o sympaUlIco, torna-re 
aiitlpatbico, sc explica com multas finu- 
j. | ias vaidosas o estado de sua alma. A do- 


Os no toros fraucezos não entendem o 
natural das pli rases mesmo em prosa, e, 
qtmndo têm uma tirada cm verso, em 
vez de «lizel-a, metii(lcaui-na, cantam-na 
quasi. Su a Ueiane, com a sua cara des- 
consolada o ares de doente, mas ac triz 
como poucas, faz valer o* bcllos versos, 
ao mesmo tempo que as intenções do 
poeta. Appiaudin-se pouco ; como sc tra- 
tava de Shakespearc, estavam todos meio 
desconfiados procurando o galo... 

Nis outr<* t hc.it ros reprexootam-se ro 
vistas du anno. cheias do ruas do Cairo, 
fontes luminosas, dansas do ventre etc., 
ou operetas antigas ou dramalliõo». No 
Thentro Kranccz prohiblram a represen- 
tação de um aclosinho do Coppée, intitu- 
lado Pattr. que ia ser representado poi 
estes dias. Klle ju protestou multo Ini- 
tsdo, como todo o auetor interdicto, por 
mais lyrieo que seja. 

Em arte s » lia mais um escandahi. 
uma briga entre membros do jury de 
Hei las- Artes, que deu em resultado a de- 
missão (retirada) de Meíssonier, Honuat, 
Duez. Cazii), Dagnan, Cicrvex, Uoll, cie. 
Contestações por vaidades não contentes. 

Faz geral no resto. Uma execução na 
praça da lloquette, um assassinato dc unt 
empregado superior na prefeitura doSona 
por um louco, poucos jantares, menos 
bailes, muita tosse, muita queixa do 
tempo húmido e frio, quo pro luz uma 
recrudescência da in/tuenm. 

Na câmara dos deputados, invalidações 
dc deputados opposidonistas, a depuração 
implacável do boulangismo. A maioria, 
cônscia da sua força, chega a abusar 
delia. Emquanto isso, os monarchislas 
se organisain... não sei para que. Fara 
se cortarem... 

Continua o Drasil a interessar ã im- 
prensa franceza. Já cs<o resultado Iwne- 
fleo produziu a revolução. Agora é o 
Tanps quo manda um correspondente ao 
Rio de Janeiro, para estudar de perlo os 
acontecimentos da nossa crise política o 
communic.n-llios. Koi um brasileiro, o 
Sr. Oscar de Araújo, o correspondente es- 
colhido pelo Tenijts, que ó o jornal cuja 
opinião mais pesa na imprensa franccza. 

O Sr. Oscar de Araújo, conhcco bem o Rio 
d«* Janeiro, de onde ê Ilibo; c na Europa, 
cm Fariz. unde viveu dez annos estudando 
e trabalhando na imprensa, preparou-so 
para o estudo das nossas cousas. Ser.i 
cito o segundo interpreto das nossas ne- 
cessidades e aspirações, o trailuclor para 
a Huro|*a das expressões um tanto ob- 
scuras ainda da nossa vontade nacional. . 

Douiciq i>.\ Gama. 

Fariz, 50 de dezembro dc D$9- 


Foi exonerado do cargo de delegado do 
•1* dislrlcto policial dVsta capital o Dr. 
Joaquim Jo?o de Almeida Femnmbuco, 
por assim o haver pedido. 


GAPOESRílS 

O Anfon/a Pamnado, que vem a serem 
liugua Ue gente o Antonlo Gonçalves da 
Silvo, capoeira emérito e capaz de ferrar 
uma cab e ada cm duis tompon, quaiolo 
outros o fazem em tres, foi nnlu-hfiiitcin 
li lado, o lá ira para onde paguro que nós 
uáo lizcmOd. 


silo com explicações que nada adiantam à 1 1 | 
verdade dos nossos caracter-is. Um ho- | s 
mem quo è triste e sympatliico, torna- «e 
antipalliico, se explica com muitas finu- 
ras vaidosas o estado dc sim alma. A de- 
cadência romautica, todas as producções 
da escola psycbologica ac t uai, estão eiva- 
das d‘essc narcisismo lamentoso. 

Os personagens do tbentro do Shakes- 
pearc nio são assim. O mais contempla- 
tivo d’clles, Hamlct, não c para >i que 
olha, c jara o mundo, quo cllo n»o en- 
tende, que cllc não explica, como o faze- 
mos nós outro6, igUAlmcnto ignorantes c 
tão mais prcsumpçososl Demais, ê homem 
de acção, vive o seu sonho, c, sendo pie- 
doso, sabe ser cruel c matar c morrer. 
Esse tem a tragedia em si, como outros 
têm a comedia, como outros sâo a corda 
idyllica da lyra do poeta. 

Sao tão amorosos os namorados de Shn- 
kespenre 1 São graves c abandonados nas 
traíjedias, e nas comedias são joviaes, ma- 
liciosos, cheios dc espirito c caprichos, 
como uma seducçfio mais. A differença 
é que nas tragédias elles sc entregam, 
dão-se todos resignadamente, sacrlflcani- 
bc ao sentimento fatal, « nns comedias 
disputam-so, pro íurmula, fazem-sc querer. 

E á hora da cessão, da rendição, não são 
esses os menos tornoí. 0 ultimo acto do 
Mercador de Venesa eomeça por um 
dialogo que tem tala a musica subenten- 
dida dos duettos dc amor sobre os terraços 
de um jardim dorido, ao luftr: 


Le tfphir (li»*' M o»*» J*a» U- t-nillrt dw «bre* 

De courü bii«« d ar<enl qm n« l>ruií»eiit p»s 
msiCA 

Lc íllíOí/' «t *i I*r qu -n cr.iit nuir lej j«í 
D e qutlq:<r xni|>UlD qui nutib-. sur dei lu*ci. 
LOfttSlO 

c>‘t pw nou* que UkMi fil la voluplé «1 •*» ebox- ; 
Oit p»ur Im Mil» d amour qu il lil la |«»* d«- 
[cieai, 

Et nouslrt fil «I l*aoi i>8iir wu» »Oir ptui 
*'»m 6uhm) 

... Sor oca épaute li... \>««... H-Eve lr« roilef 
El je le btreerai sou* le* yeui de» .^oíIk... 

Lr» «ois-lu tcialilltr, leia. daa, l anr »jíi« foodf 
|»r»-s «I* leor lauurrf. Ivrr» d tlic. rllr* mnl 
CliaulaaJ, cliantant laoiiur. tlianinnl li anil l*.ií*, 
El cba<oer «il un clianl dae» I iraiuen«e harova:. 1 . 
EHr* «jat k ihfrcbanl. laloaot. tnwr-ni»aol 
Et cliaione, dVu haul ver-r au moa.le VbaBt 
Lu coated dèlre htmeux tl d'tue a:iuc conuat elles. 

Ji»n 

J'ea tri* doai le refard me iil Ja»< le* |fuaelle« 
Evito e vão... Defttis, ouvindo unia 
musica *0 louge, diz 

ias» KA 

La raa.iqje. • • J'«» 1 “ n 'l u ' oou* Mil. . . 

lor.tNM 

i;>U u «*rur «lu »ilí'iC'' el nua la ‘«íiir «lu brnit: 
Senvlo. qu:«nd -a »jii tUaoir rl «• «Ur a la n»Ue, 
«ju « :i t-lu* loin du SMivIe «t |'l« t-tv» l on el 
[lauln 1 ... 

itlflCA 

Oui, ca IU'1 dr* Iwi.-rr.» 3U t-ind «l«i «'WUi... Ilrn. - ". 
Lu tuUMqtw, t e«l i uva - nu l«t. , 'iain-* un benrau. 
«> Ir-ur... UII ne -ail |4u»... Ua c»t n>w;<-... II 
I-ííhM'- 

ij, m |' wn ,9udra«» -«nitrir «l i.r* l«^il euKmlrte. 

Aime-flwi.-. 

UUiCSW 


Tvujoai* I 

JUfKA 

Uni, luiijuor» I 

musica c i 1 á.i o amor. Tuda a 
- um suspiro ou iitii.i ciuiçà", utu 
• amavcl cont.»«!o to vivo, dialoga h*. 
ido e com M-cn.irios. 
rl!««* \c.sti ]«M,bdlos >»ouarlos, cm quo 


u.':K»uac« u-, in 

upvlcs, fazem 
ifa.cl. «lc 


ult 


n tpndiox do cotoriilo i 
:i,j,..-'«,i.i artística, ora 
ii ilOuili. o.i uma i/oiui- 1 
,i mi i to'.» -ia Wfiijioso, j 
"ui qtiar;o «lu prln- 
|/ ; . u ii, io— a imaginação j 
c-.tu unt :pn*i dcv«'jo ! 


847 


De Paris (detalhe) 




848 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Aon o XVI tO» d« Janeifro — T erça-feira 4 de Fevereiro de 1890 TT. 3P» 

mi GAZETA DE NOTICIAS S 

nm mm u b w««« q >rouo *o H 

*• **T "»«*» ■ -<-> ■«» — **» afc ifc wtm fã fato Tlr«R*m nr.,OOOexempli>ra« | i^lnaiaahtafiikaiMMi 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 35, p. 1, 4 fev. 1890. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


849 


X P&R32 

A semana do Natal corro calma c sem 
aconteci mcnfth, ftâo chove, nào faz multo 
frio, clioga a haver sol do tempos a 
tempos, um sol do amostra, que *o esconde 
logo par traz da cortina opaca dos ne- 
voeiros. As vezos ajuntam-se nuvens, c 
do cmi escuro começa a peneirar uma 
farinha fina de neve, que nào dura. 

Por baixo d'esto céu azul pallido ou 
pardacento pareço dar-se por estes dias 
uma interrupção no trabalho para a His- 
toria. Os imperadores, reis e chefes de 
Kstado constipados espirram c tossem 
em curo com os seus ministros. E o mão- 
estar dos governantes permitto aos 
governados um repouso político, de que 
todos carecem para festejar o Natal e 
para cuidar das constipações c bronzbitcs. 

Já começa a perder o seu caracter de 
benignidade a singular epidemia que reina 
sobre a Europa inteira. Na escola militar 
de Saint Cyr morreram dous alumnos c 
alguns criados, e pelo inundo morreram 
alguns velhos eatarrhentos, alguns tisicos, 
fracos do peito, o outros para quem toJo^ 
o mal 6 dc morte. Bastou isso para que a 
i u/f uenaa servisse de pretexto njquantos se 
querem esquivar a tarefas importunas, a 
todas as preguiças que só a falta dc uma 
justificação razoavel, verosímil, impede 
de manifostar-sc. 

Os thoatros, por exomplo, não fizeram 
rehlche, mas as mudanças do espectáculo 
á ultima hora são frequentes, ila alguns 
dias ainda*, no Theatro Francez duu-se 
uma representação cm que certos papeis 
foram lidos por adores requisitados á 
pressa, por falta de comparcdmento dos 
competentes. 

E no Intcrvallo das tiradas longas, ò 
um côro dc tosses cmjlodos os tons, que 
faz rir quando não impacienta. A’s vezes 
, è o proprio octor que se interrompe 
para tossir. Mas como tedos estilo mais 
ou menos doentes o mal dispostos, não ó 
muito sensível a falta do divertimentos 
scenieos. 

Uma das mais illuslrcs entro as der- 
radeiras vidimas da inflitensa, foi Jules 
Garnicr, o auctor do quadro representando 
a sessão da assembléu de Yoreaillcs, era que 
Tliiers foi declarado libertador do territo- 
| rio, c de entras pinturas que a reproducção 
pela gravura, oleographia e pbotograpliia 
tornou populares. Eia um homem froco, 
rachitico ; um desvio da eolumna verto- 
bral impedia lhe o perfeito funccionamcnto 
, dos pulmões. Foi o quo fez com que a 
‘ simples hronchlto se transformasse n’elle 
cm congestão pulmonar, que o levou para 
. a outra vida, ao cabo dc uma noite de sof- 
5 fri mento. I*ois caso liomcm fraco, feio e 
; triste de corpo, illustrou pela pintura, em 
lõO telas mais ou menos bem tratadas, 
i aquclla cpnpòa do carnal idade juvenil e 
i triumphante, quo é obra dc Kabclais. 
j 1’arece que o seu sonho de impotente c 
disforme ac comprazia na realisaçào plas- 
, tica do poema do cura Mondou. Que uào 
1 ba só comcsninas c brutalidades alli 
ç dentro. Faginas dramaticas, sombrio*, 
o ternuras idyllicas, golpes dc arma heroi- 
cos. noinnas dc corteios magcstaticos, de 


de injurias o nos salgam dc ironia, cm 
artigoi longos, longos... K os artigos do 
Times, altemativamcnto malévolos c opü- 
mistas. fnzeni pensar n’«ima amiga datn- 
nuda quo no dois beijos nos dòsse uraa 
dentada. 

Domicio ua Gama. / 
Pariz, 23 de dezombro. 


O Sr. Dr. Sampaio Ferraz, chefe do 
policia d'esta capital dirigiu a seguiutè 
circuhr aos delegados e subdelegados : 

•< Saudo frequente* as reclamações fei- 
tas pela imprensa sobre o facto que por 
outro meio já chegou ao meu conheci- 
mento, de haver u 'cs la cídade quem esteia 
monopolisando generos alimentícios do 
primeira necessidade e grande consumo^ 
com o llm de os explorar com {/t ossas pau* 
tagnu em detrimento das classes pro' 
leia rias, c com atTroiita aos nmis come* 
sinhos principies da honestidade eominer- 
cial, reconimendo-vos que, pelos ineio^ 
ao vosso alcance syudiqueísda veraridadd 
de semelhante inerepaçào, prestando-mo 
urgente informação e indicando os no- 
mes de quem por aquelle modo osteja 
procedendo.'* 


Na enfermaria militar do Andarah' 
inaugurou-se hontem, em logar de honra 
da sala de seu expediente, o retrato do 
marechal Manuel Deudoro da Fonseca, 
chefe do governo provisorio. 

As 10 horas da manhã, cm presença de 
muitas pessoas gradas e empregados, qué 
jhuico antes haviam ouvido missa, elTcc- 
tuou-sc a ccreuionia. orando o chefe do 
estabelecimento, I)r. N. Guedes, que, ao 
terminar, com uma saudação a S. Ex., 
descerrou as cortinas quo occnltavam o 
quadro. Foram, cm seguida, oITeivcidos 
aos convidados alguns doces c refrescos. 
Tocou durante a ecremonia, como depoii 
d'ella, uma banda de musica marcial. 


Foi nomeado o cidadão Eloy Guaranv 
dc Sampaio Góes para o cargo de archí- 
vista da Secretaria dc Estado dos Negó- 
cios da Justiça, com a cathcgorla c os 
vencimentos dc segundo ollirial da mes- 
ma sccrelnríadc estado, na fdrma doart.' 
2*. § 4* do decreto u. ISi de 2 janeiro 
ultimo. 


Deram-se a* ordens necessária* para 
uu m adiante ao engenheiro Adolplic 
osé Del Vccchic a quantia de 15:00 - 3 , para 
occorrer ás despezas de nroinpto paga- 
mento do pessoal cm prcgaao nas obras da 
restaiiracàu e ruconstrucçito da cathedral 
«lo bispado do Uio do Janeiro, no exercí- 
cio de ÍSÍK), vcrillcnda previamente a 
restituição da de 7: 000®, por* cl lo recebida 
em virtude dos avisos de 10 dc maio c 19 
de sclotnbro últimos. 


Depois de amanhã uma praiuto com mis- 
são, composta de empregados «le todas as 
categorias da estrada do forro central 
do Brasil, irã ao dircctor da referida es- 
trada e ao governo provisorio pedir-lhes 
que lhes sejam concedidos os fóros do 
empregado» públicos, dc que injustamento 
eslao privados. 


Alguns empregados do eserlptorlo da 
locomoção e desenhistas da estrada do 
ferro central do Brasil, foram hontem 
cumprimentar o seu «ilguo cx-chcfe, Dr. 
Niemeycr, c oITcrcccram-lhc um mimo 
como prova do apreço e estima cm quo 
è tido pelos manifestantes. 

Em nome dos seus collegns fallou o 
Sr. Epiphaulo de Oliveira Freitas, que 
entregou ao Sr. Dr. Niemeycr uma linda 
cigarreira dc tartaruga coin um mono- 
i gramma. , 

j O Sr. Dr. Niemeycr, agradecendo, con^ 

I wf.lnn a* cm nmifi.ic nam um n*»niiAnn 


ternuras idyllicas, golpes dc arma heroi- 
cos, pompas dc cortejos raageslaticos, dc 
tudo se encontra na exposição mal visi- 
tada do boulevard da Magdalcna. 

D da palheta do pintor todos os tons do 
colorido deram harmonia c vida áquellas 
sccnas, tratadas largnmcnte, mais pela 
composição, pelos grupos c pola luz, do 
que pela perfeição dos pormenores pitto- 
rescos. E' a mais rica (Ilustração que se 
tem feito para um livro que jà conta 
tantas valiosas. 

Era principalmcntc um illustrador, Jules 
Garnicr ; e isso não amcsquinlia-o como 
artista, tanto tem subido n illustração 
n 'estes iiltlmos tempos. Já são raros os 
pontitlcantcs «ta grande arte que desde- 
nham do trabalho para illustração de um 
livro, ou simplesmente dc uma publicação 
avulsa ou periódica qualquer. Ainda bojo 
o supplcmcnto especial do Figaro com- 
pue-so de oito paginas com um conto dc 
Natal c largas ilhistrações de Jean Paul 
Laurens, um dos grandes mostres da 
actual escola do pintura íranccza. 

Lucra o artista por dous modos : popu- 
larisa o seu nome c vende duas vezes os 
seus desenhos, originacs e reproducção. 
Os coHoccion adores têm orgulho de pos- 
suir originacs de Illustraçõcs dcsuccesso. 
E’ o que faz que os editores de publica- 
ções artísticas tenham hoje ã sua dispo- 
sição, não sd os Uluslradorcs populares c 
especialistas, como lambem os pintores 
do imaginação e producção íacil. Isso 
produz por intermédio’ da livraria c da 
imprensa iUustrada uma cspccie dc dyna- 
misação da arte, dc consequências incal- 
culáveis para a afinação esthctica d'estc 
povo c dos que com clle tem commcrcio 
littcrario. 

Não são sdmcnte o livro c o jornal que 
se adornam com arte. Os cartazcs-annun- 
cios, as illustraçõcs cphcmcras que previ- 
nem o bom povo dc Pariz o os seus nu- 
merosos hospedes da abertura de um café- 
concerto, de um bailo publico, do um 
livro escandaloso ou simplesmente da in- 
venção do um medicamento contra as 
mazcllas reinantes, são objccto dc uma 
arte especial. 

E' preciso saber compor uma figuração 
nova, original do cada vez, arranjar braços 
e pernas de dansarlnas o dc clowns ébrios 
cm movimentos graciosos com verosimi- 
lhança (que 6 dada apenas pelo equilíbrio 
c proporções no desenho) ; e com azues 
vertiginosos, amarellos mais dourados do 
que o ouro e vermelhos berrantes, pintar 
phnuUsias que possam parecer ao mesmo 
tempo representações reacs e symbolos.que 
façam scismar depois dc nos terem cha- 
mado violentamente a atlençio, como cer- 
tas phrasc8 exp'osivas dc symphonias, 
que nos fazem estremecer primeiro, que 
nos fazem chorar depois, quando se lhes 
saboreia o echo incffavel. K' preciso fa- 
zer-se ver, fazer-se lembrar, sustentar a 
concurrenda com as mil distracções da 
rua, que disputam a alteução do trans- 
eunte. Os cartazes de Chérct conseguem 
isto. 

Jules Chérct è o mestre dos reclames 
illustrados. Fizeram agora uma exposi- 
ção de alguns dos seus cartazes coloridos, 
o uma petição assfgnada por nomes dos 
mais illusfres eutre »* artistas *» lettrados 
reclama do governo da republica para 
rlle a cruz da Legião de Honra. Se as 
ilistincçÕes honorificas conferidas aos ar- 
tistas só coubessem aos demais talento 
inventivo, imaginativo, crcador, muitos 
«los iiltimnmonte agraciados, muitos dos 
desdenhosos «los pobres broihadores de 
chrumo-lithographlas nào veriam flores- 
ccndo-lhcs ã casa «lo palctot a prestigiosa 
roseta vermelha. E Chérct, esse seria o 
Meissonnicr do cartaz. 

Chegam noticias tristes «lo Brasil. 
Cada noile, por sohttuu-**, tenho a |.-i- 
Ittra dos jurnacs ingisze», que nos lanlr r 1 


De Paris (detalhe) 




850 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Rio de Janeiro — Qnnrta-io lra 36 de Fevereii-o de 18 90 

GAZETA DE NOTICIAS 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 57, p. 1, 26 fev. 1890 


ííifi» í;l » («iaMl* ii> * iíílíiiíliiiliüiíí * “ 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


851 


BB PAFãag 

Um flm de anno sem acontecimentos 
que sahissom da vulgaridade da vida 
diaria, veiu a ponto para estudos do anno 
indo nos jornaea que têm pessoal ido- 
nco para tal flm. Nas horas de inteiro ocio 
é bom olhar para traz no passado, recapi- 
tulando a lição do IcmiM) que passa, 
•lando balanço ao movimento do anno, 
examinando o calculando as perdas em 
vista dos lucros, que se tora por certos, 
logo utilisados e rendendo c capltalisan- 
do-se indeflnidanicnie. 

Infcli/monto, porém, para o jornalismo, 
o retrospecto d'cste anno não trouxe sor- 
prezas aos seus organisadores. As pre- 
visilcs mais oplimistas, quo hoje cm dia 
só 6 licito fazer com provas c documentos 
á vista, não se acharam, uem prodigiosa- 
mente excedidas, nem vergonhosamente 
cerceadas. O dominio do imprevisto que 
so restringe, è urn bom signa! dos tempos 
— desenvolvimento do senso pralieo A 
custa dc ambições phaslasiosas, orgnni- 
saçio cada vez mais ordenada do trabalho 
sereno, que fc o progresso sem convulsões 
socíacs, sem crises reveladas dc sen- 
timentos barbares dc destruição c re- 
sistências heroicas, primitivas. Sente- 
se— c 6 talvez essa a principal razão 
do amortecimento da poesia volltiva, as- 
piraliva— que tudo o que se póde querer 
i razoavelmente, honestamente, nos voi 
i sendo dado aos poucos, para que pos- 
' samos sentir o maior bom, o nouo, por 
. comparação com o que nos era dado o 
i quo já nos fazia felizes. E oa conlcnta- 

• mentos do bem-estar physico vão ador- 
| mccondo ambições dc conquista, odios 
. de classes já não fechadas orgulhosa- 

• mento como castas vão adoçando a aspe- 
' roza dos desejos pela facilidade da posso, 

serenando os sentimentos, que só as re- 
sistências transformam em paixões. 

As necessidades consideradas como falta 
do quo é indispensável à existência phj - 
slca, slo quasi tão urgentes como antos, 
como sempre foram. Mas as necessidades 
moraes, reacs ou fletidas, são mais fa- 
cilmente satisfeitas, real ou flcticlamcntc. 
Cresce sem cessar o numero de satisfa- 
ções do amor proprio, que 6 o principal 
elemento do resistência da individuali- 
dade. 0 miserável escriba, o empregado 
csquelctico c maltrapilho não troca a sua 
posição littevaria com o gordo lacaio bem 
vestido, que da almofada >le um carro 
fidalgo contempla a multidão pedestre 
com um olhar desdenhoso. E o der- 
radeiro dos foguistas dos haieaux mou- 
chts do Sena, ao passar por diante da 
camara dos deputados, poderá dizer 
comsigo mesmo que um dos legisladores 
da nação carccou do seu concurso, da sna 
humildo e obscura adhesão, para que 
pudesse alli entrar c concorrer também 
para o engrandecimento da patria, cn- 
grandocendo-sc. Se o deputado 6 um es- 
tadista, um grande espirito, um vulto 
eminente — o são tão raros hoje os qnc 
o não são I —o proletário obaenro. quo den 
o seu voto para c!ogel-o, considora-so asso* j 
ciado n sua fortuna, sonlo que para aquelln 1 
grandeza, nqnclla gloria, para elevação 

«• si- < J. .... n»la)« z)« em I 


etuuo a sua loruuui, acme «|i»u •* 

grandeza, nqnclla gloria, para elevação 
daqnellc luminar da sua patria, da sua 
raça, da humanidade inteira, contribuiu 

0 seu esforço, a sua opinião, a sua vun- 
ladc, quo. por sor menos esclarecida, não 
c menus necessária no andamento dos ne- 
gocio* do Estado. Esse sontir-sc alguém 
perante a nação não levantará muitas 
vezes o espirito do prelotaruv que a vida 
dillicil, a misoria abato? Não é isso um 
adoçamenlo, uma pequeno consolação nl- 
tribuida aos mal aquinhoados na fatal- 
mentu desigual distribuição da fortuna 
social? 

Bstrcitam-se mais os laços entro a so- 
ciedade e o indivíduo. E até a consi- 
deração dos males incalculáveis, que a 
desordem pédc trazer ao corpo social e 
indirectumente ao indivíduo quo d'ella 
faz parto, aclúa como correctivo ã ex- 
pansão das reclamações menos legitimas. 

A submissão ãs leis mais injustas não é 
signat dc impotência nem dc servilismo : 

6 symptoma do grande desenvolvimento 
que tom tomado a vida moral no homem 
do nosso tempo, accusado no cmtanto dc 
immoralidade e materialismo. 

Taes são as considerações que podem 
provocar, o as conclusões que sc podem 
tirar da leitura dos breves retrospectos 
publicados por alguns jornaes n'cstcs dias. 

• 0 leitor dcsconflado, oncalmado c maf- 
humormlo, poderá dizer que muitas ou- 
tras se iwdein tirar, o bem dlITcrentcs 

1 como espirito ; poderá argumenlar com 
' os gemidos que so fazem ouvir sunla- 
' mente através do alarido triumphal das 

civilisaçõcs cm marcha, com as grit es, 

’ com ns rclxriliões contra a Anctorldado 
injusta, com os crimes reveladores da 
animalidade incoercível. 

A discussão interminável assentaria 
sempre sobre estados dc espirito, inter- 
pretações dos factos tão sinceras quanto 
pessoaes. c viciosas portanto. Mas o pre- 
opinante oplimtsta teria sempre uma 
justiileaçào pouco philosophica, ou philo- 
sopbica demais. Seria cila uma prova 
pessoal por absurdo: 

. Pois sim ! o d'ahi ?. . . Quando mesmo 
ver as cousas pelo melhor quizesse dizei 
descuido c iiidifTcrença egoísta (oqnoè 
bem ocaso dos pessimistas ). náoè prefe- 
rível a deformação para melhor, que não 
traz perigo algum comsigo. pois que não 
é d'ahi que a seienefa deduz os seus prin- 
cípios, etn voz das cogitações amargas 
reveladoras dc hepatites, dyspepsias c 
hypnchondrias, que pela suggestâo atu- 
rada embebem o espirito alheio de fel e de 
fuligem ? Não é preferível notar que o 
homem é capaz dc se eximir ás importu- 
nações ambientes e compor um mundo 
mais amavel que o da realidade ? Não lhe 
agradece isto o leitor?... Muito fel pro- 
duziu esse mau ligado para assim azedar- 
j lhe o coração!...» 

. Doutcto na Gama. 

Parts. 5 dc fevereiro de lsíO. 


De Paris (detalhe) 


852 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 75, p. 1, 16 mar. 1890. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


DE PA538Z 


0 mais sério inconveniente que os bra- 
sileiros poderiam achar para a sua resi- 
dência em Parir, que era a falta de 
noticias, da terra, vai dosapparccondo. Os 
jornaes faliam de nós frequentemente. 
Não foliam bem, mas faliam. Di/cm 
muita tolice engraçada, mettem-nos á bu- 
lha n proposito de qjialquor aconteci- 
mento c, como gernlmcnto não enten- 
dem o que Azemos c o que fazemos, di- 
vcrtcm-sc á nossa custo. Chegam a in- 
ventar contra revoluções, não sabendo que 
os brasileiros são incapazes do fazer re- 
voluções, quanto maia contra-revoluções ! 

E dão pormenores horríveis a respeito doa 
actos de roprcssnodo novo regímen contra 
•)s que tentam restaurar o antigo. Vamos 
l>ouco a pouco adquirindo a reputação do 
tio da Papa, que so tmpuzera a veneração 
dos seus governados pelo terror. Entre- 
tanto, como entre as mentiras o phan- 
tasias sompre appareco uma ou outra 
erdade, (lcamos contentes com as noti- 
cias frescas, quo por via da Agoncia liavas 
ou dos correspondentes no Rio de Janeiro 
publicam os jornaes aqui. N’outro tempo 
era preciso que se libertassem os escravos 
ou que so atirasse sobro o imperador, 
para quo a imprensa so importosso com 
u Brasil. Hoje, a suppressão de um jor- 
nal dc opposiçào no Rio c a partida de 
um enviado do governo ao Rio da Prata, 
são communicados por tolegramma 
fazem o gyro da Europa, lí' um grande 
passo, no ponto dc visto jorr^iistico 

Os decretos do govorno provisorlo sào le- 
vados ã conta de cxpcrionciaspoliticas, cujos 

resultados a nssembléa constituinte, expri- 
mindo regularmontoa opinião o a vontade 
nacional, verificara. Ninguém pódc nttri- 
buir caracter definitivo ás ordens indis- 
cutíveis de um poder arbitrário, provi- 
soriamente necessário, mas provisorlo, 
dm suiuma. 

K nem ó estr&nbavel o silencio da im- 
prensa brasileira porante os decretos que 
parecem querer poupar á constituinte » 
trabalho de estudar c preparar as bases 
sobre as quacs a nação ac asscntaiíi.Osquo 
já atravessaram crisco polit ícas como a que 
agora sotTrcmos, sabem quo a submissão 
c a disciplina são cm tacs occaslõcs as 
condições essonciacs para a. salvação publi- 
ca. As constituições são feitas para serem 
reformadas, quanto mais os decretos, 
para abolir-so umdocroto nãoba nada como 
provar que clle não presta. Ora, até á 
reunião da Constituinte ba tempo de 
sobra para reconhecer o acolhimento quo 
o povo fez aos primeiros actos do governo 
rVíblicaoo. 80 foi bom, 80 M mnu 0 
ftcolhink-nt *, a imprensa, livre das peias 
que um regímen ilo cxcepção lhe impõe, 
dil-o-ha desafronta Jamen te o prestará 
com isso maior serviço ã noção do que 
fazendo muito barulho antes de conhecer 
a orientação do espirito nacional. A dis- 
cussão dos netos do novo governo seria 
ocensião do mostrar-sc a independência 
do jornalismo brazileiro ; mas por essa 
satisfação moral, do tio pouco valor auto 
os interesses mais graves do naçao, 
quanto embaraço traria ao goverao 
arírumcntaçào sobre os seus actos, come- 


ilarbosa ás informações calumuiosas qur 
por aqui correm a respeito da nova po 
lltica brasileira. Desde que um jorna 
publica uma dessas mentiras os oulrv 
reproduzem-n'a. Ficam então os brasi- 
leiros esperando auclosamcntc o desincn 
tido que nunca vem cedo dc mais para 
dissipar a má impressão da falta dc no- 
ticias oUicIncs. 

Vai sendo dinicit fazer carreira pela 
(tolitica militante cm França. Os mom- 
bros do partido boulangista sabem d'isto 
um i^aucô : clles são persoguidos e 
persígrom-se entre si. Ha cinco ou 
sei* dias foram expulsos temporaria- 
mente da cantara dos deputados os 
Srs. Dcroulcde, I .aguerre o Millevoye, 
po/ não quererem deixar quo fat- 
iasse o Sr. JoíTrin, concurronto feliz do 
general Boulangor no districto do CU- 
gnancourt. lia dous dias o Sr. Marlincau, 
deputado que foi boulanglsta, foi chama- 
do a explicar perante os seus eleitores do 
19* districto de Parte a sua renegação. 

Mas desde o começo da reunião, ainda 
bem o Sr. Mártlncau não tinha acabsdo 
de ler um tclcgramma do general, acon- 
selhando nos seus partidários que infli- 
gissem uma correcçAo exemplar ao seu 
amigo inflei, cahlram-lho em cima os 
boulangistas o sem querer executal-o, 
obrigaram-no a dar a sua demissão d* 
deputado. 

E deram-lhe muito socco, cuspiram-lh# 
tia cara, rasgaram-lho a roupa. 

0 pobre horaom foi feliz om escapar 
com vida das mãos dos seus da ninados 
eleitores. O presidente da contara ni» 
aceitará uma demissão imposta pela vio- 
lência. Mas pódc-se pensar, á vista d’csU 
facto, que ent certos círculos clcitoraca t 
mandato imperativo ò uma realidade. 

As costas da França são açoutadas por 
uni temporal terrível, dc uma violência 
rara. E dc muitos {tontos da província 
vêm noticias dc desastres que o tufão e 
chuva causam. Etn Pariz só dc ves 
cm qunudo ealie uma chaminé velha ua 
afaeça do algum cocheiro que possa. A 
humanidade não solTrc com isso. E aio 
gradáveis as alternativas de um céu 
azul com os negrumes da tormenta fu- 
riosa que o rento arrasta 

DoMicio na Gama. 
Pariz, 25 do janeiro do 1890. 


llontcm, ás 7 horas da manhã, unt cão 
perteurento a António Joaquim A Ivan 
morador á rua do Senhor «los Puasos n. 
12. atacou o niordoti no pé esquerdo ao 
menor Manuel dos Santos. Foi esto me- 
dicado por couta da policia, sondo o cão 
justiçado. 

HOSPITAL DA IISBIICOBDU 

Escreve-nos o Sr. l.uiz Colonna : 
a Prezado amigo Sr. rcdactor da (!a:atã 
( if A' mirias. 

Ent vossa conceituada folha de bote 
siticulais um facto com relação n esti 
hospital, q«ie. ex^v«»to crua mente como 
foi, |«rG4w que, som escrúpulo algum, 
cmc estabelecimento humilha a quem [>or 
caridade a clle recorre, ou mesmo pa- 
gando. 

° Apontastes a conveniência d*csta adrnl- 
iiiistração Ui ar o caso a limpo, c, pro- 
cii > cAtiufiUur, aerçdllr» jHim 11 ÇA- 


do jornalismo ura/aiviru w« i~i v— « 
satisfação moral, do tio pouco valor note 
os interesses mais graves da nação, 
quanto embaraço traria ao governo a 
argumentação sobre os seus actos, come- 
çando pela sua utilidade c terminando 
pela sua autoridade ! 

Nas crises sociaos, quando lia muita 
cousa urgente a attender, o poder discri- 
cionário é não só admiravcl como neces- 
sário muitas vezes. A incompatibilidade 
da liberdade da imprensa coro a segu- 
rança do atado não c pois um paradoxo, 
mesmo quando isso é alUrmado por unt 
governo composto dc vários jornalistas 
dc espirito mais liberal quo possuímos. 

A imprensa livre tem uns excessos dc 
analysc mais proprios para perturbar 
ideas do governadores do que para es- 
clarecel-as e os seus conselhos, mesmo 
não sondo interesseiros, suo raraniente 
opportunos. Assim, aqui estuo todos con- 
veucidos dc quo o governo Unha mais 
que fazer - do quo se occttpar cora substi- 
tuições das armas nacionaes, e da ban- 
deira o que foram os jornalistas (essen- 
cialmcnte ignorantes do especialidades, 
conto c natural) que compttzerom a nov, 
bandeira, dc unta csthetica tão pre- 
caria e desenharam as armas nacionaes, 
quo sào como hcraldica um escandalo. 

Não hA no mundo inteiro noção civili- 
zada, cuja bandeira c cujas armas não 
posiam ser lidas c desenhadas sem mo- 
delo, pela simples descripção hcraldica. 
Nós sahimos da regra, ainda nisto. Não 
c um escudo d'armau o quo o Brasil tem: 
ê uma marca, um rotulo bem combinado 
cerno geometria, mas absurdo conto bra- 
são. Quem contpoz até pensou quo em 
hcraldica n ouroò ditferento do amarello. R 
» bandeira, de um deplorarsl efTeiro decora- 
tivo, põe cm embaraços heraldistaa e astro- 
noitws, igual mento. Um astronomo do 
Observatório disse que fizemos mal em 
estpndcr a nosea revolução até ãs re- 
giões celestes e que a arrumação d:ts 
conste Unções na bola azul cintada do or- 
dem e progrewo da boma bandeira nova 
e prctcuciOM,deaooocerU aos que suppu- 
nham ter uma Wí-a exacta do como bri- 
lham para os brazlletros. 

\j 0 Cruzeiro do Sul o« lumes dc ouro. 
Se a coHocnqto das estreitos uo nosso 
bcllo Armamento »bordtnou-se ao bol- 
piazer doa nossos compositores de pendões 
e escudos d* arma*, por que não distri- 
buiram logo as 21 no fundo azai, como 
no* céus dc papel pintado? 

Aos que me fazem tos* questões res- 
pondo que niOM pótle exigir inteira cor- 
recção nas cousas feitas i* pressa», que 
em toes cbcunwUncias tòo sempre os 
mais ignorantes que são na mais audazes 
cm apresentares secs bonvottkios e que 
a decoração externa d» Republica foi 
confiada a pessoas pouco entendidas, a 
gente que os sapateiros chamam du 
barbeiros •; o« barbeiros dc sapateiro» 
Replicsm-tce qne não era talvez muit 
urgente a substituição dos moveis no 
campo dos escudo* nacionaes e a isso não 
i que objector, pois que nunca senti 
necessidade dos symboloe o divisas. 
Foi a da Ordem e Progresso rotulando 
o nosso ecu azul e encabeçando cnmmuni- 
caçoes e otttdos no Diário Qffioial e fo- 
ram umas dal a* redigidas poritivistica 
monte q-.c deram corpo .* fizeram propa 
gar-se r.a Europa o boato de haver < 
Brasil substituído a religião eathnlir* 
. t :.-» positivi-ta. Então i no»sa sympathic.» 
•i iginalidade revolucionaria pareceu t-> 
mar um carácter *xtrav.v <iitc. A opereta 
,tnv« comi»M-v«-. As obronicai humo- 
: jstiea*. os nrti,-".« -h-- jornaes, que foram 
•' -ietitvrrar «[as bibltótli ^ •> - 'lendário 
p<.**iti\i>ta p:«a « vplic.iI -0 aos povos pnv 
. , .i-.if-, i • '-titam-Qo.' ic ridículo, aiit- .' 

. .. . .. . . • . nthlo do Sr. Uu.v Bar 

i ai. !<* Ih ui iiiit faz-.-m |.erauto a culta 
ruc-.bL' . * ^ feitas p:io Sr. 


jnif 

CMI 

rei 

cc 

J 

tat 

W| 

pci 

>pi 

1*. 


ni 


.r 


853 


De Paris (detalhe) 


854 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 76, p. 1, 17 mar. 1890 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


855 


A imrrra*a livrv-- Ri-hiV.r.tto» c In:.— Gctnraria 

a prazo. -0 «rKgnirat.— Tmgtdfai c curns- 

dfa o.act.Tci (nnccxes 

Fi' uma exeellcnte cousa a imprensa 
livre. Sorvo pira injuriar os governos, 
ns tulnúuistrações, os outros que não 
pensam como nós. nus sorro tambor.» c 
prindpalnienlc para os governos, as ad- 
ministrações o o» outros que não pensam 
, como n*’s, tomando as médias razoáveis o 
fazendo a redttcção n&vssnria da etn- 
phisc rlvotorica c dos elfcito* 1 literário-, 
saberem o quo quer a gent • dc que a 
imprensa 6 a voz, quo ò tud.v a gente 
quando a impivtisa 6 livro. 

Assim aqui llcou o governo perfciía- 
nicnto informado do quo a crean.nJa do 
duque dVrlcans, vindo entregar-se á po- 
lida para ser condemnado a dou* atino, $ 
Jé prisão o deportação consecutiva, com 
j a simi 1 s desculpa de ser franco/ e qtic- 
í ror servir ao seu pai/, no exercito, não 
I sõ não leve Intenções políticas como tam 
! bem não teve repercussão política. Os 
[jorr.a.s reali-t-.s c bonaparUstns, I.c 
! Suliil, /.«; Gaulois, 1.' Autoriíà o outras 
1 jornacs de opposição flzcrain um grande 
alarido de descomposturas contia as leis 
j dc exccpção ferindo os lilhoa da França 
i o outros arrazoados mais oti metms sen- 
( timeataes, mais ou monos indignados, 
porém nenhum chegou a descobrir uma 
ix.' ’ o razoa vol, que se po lesse Invocar cm 
dtfcza do príncipe preso na Conciergeria 
e julgadp cm polida correccion.nl, não 
l*or delicio mns por infracção do.lcl es- 
pecial, quasi uma postura da Republica. 
Nenhum clic/o i a traiiir conlicclmcnto 
dc tenções mais altas do que um simples 
ras^n cavalheiresco do principo adolcs- 
ccutc. a quem o exílio c o siletieio em 
torno do seu notno pesam ; ninguém fan- 
tasiou conspiraçõ's contra a segurança 
da Rç publica, nem mesmo os demagogos, 
os ultra-dcmocralas, quo são como os 
cães de Mia da Kcpublien, que a defen- 
dem, mas quo a isolam tnmboni. 

Sc ninguém faltou cm conspiração, é 
quo tal não havia real monte e todos Mea- 
ram tranquillos a esse respeita. Mas 
houvesse uma censura para a imprensa, 
não |>odessem <m joruacs encher durante 
quatro ou cinco dias a sua primeira pa- 
gina com uma reportagem desetiírdada, 
em que tudo passava, desde os ukuus 
das rofelções do p-isloiioiro alé os br..;:' • 
das carruagens que passavam pelo caes 
por baixo das jatmllas da prisão c donde 
sabiam niãodtilis tinas fazendo ao heroico 
encarcerado n< acenos mais expressivos e 
atíectuosos, desde os intervieics eont tl- 
dalgas . ate os mexericos dc criados de 
ruitaurant e serventes do tribunuos, não 
sc houvesse esmiuçado cnearuiçadatncnte 1 
pata as necessidades da copia c da cu- 
riosidade publica cmso oxcandalo Ião sim- 
ples, do quo w* não ponde fazer um acon- 
tecimento político c pairaria talvez' hoje • 
sobre o espirito publico a suspeita «le que ! 
a l: -publica tinha sido atacada, de que 
cottus graves sc oeeultavnm e estavam , 
|*ôr acontecer, petisar-sc-liia que um | 
grande exemplo seria necessário c quem I 
sabe quacs seriam ns consequências «la i 


ção. sem l.lenti icaçào thcatral, senti- 
mentos e personagens, quo eridentemento 
não com prebendem. È' assim quo no 
drama «le licctlic (não conto a peça quo 
tem um século) entram como peraona* 
geus principies Margarida do P&rraa, 
Miuddavel, o duque d’Alba, üultbcrmo 
«FOrange, o con.le d'Egmont c nenhum 
d’< - tt tá o vivos na Historia 

vivo para o espectador sobre o palco do 
0 ! mais Immanamenle, m.«i< inlcn- 
samento c!o que os Imnccos do pãu dos 
I ilie.itrinhas au ar livre noa Campos Kly- 
seos. Saltc-se d » soturno theatro ten- 
do visto uma mulher, vestida «lo branco 
como dc rigor, cnwncnar-se, tendo 
visto as paredes transparentes de uma 
priÁo abrirem-se em visões dc patria 
livre e amante rediviva fundidas ii'um s 6 
vulto, tendo ouvido sentenças anodinas 
para us tempos que Correm do cx-astuto 
iflftciiiawl e rugidos do duque d’Alba a 
phrasrs de amor c caniigas por musica 
de Heethoven, e «lo tudo isso o que se 
achou de mais interessante foi a musica 
de Hrctlioven, talvez porque já a tives- 
sC!::««s ouvido nVdguni concerto clássico. 

K’ pouco isto como rcsultmlo <le um 
drama, que a musica apenas orna o siJ 
d .ve •ervir-ihede moldura. Aon «lirecto- 
ivs «íe theatro eabe a responsabilidade do 
taes iusttecvss s. que acabam por des- 
pvisüei.u* oi actorcs aos olhos do pu- 
b:íeo quo não queira ver na incapacidade 
dramática dos netores falta de ilcxibili- 
dado para totlos os generos e sim fhlta 
de talento. 

Forque para outros gene roa thoalracs, 
para a tragédia clássica, por exemplo, 
tanto conio paia a comedia «lo clialnçn, o 
acíor frrnre/ 6 inexredirel. Faia a tra- 
ge Jh. quanto mais artlllcial, mais cm- 
plia.i 'a. mais nntsieatlu é a doel.imaçAo, 
mais artística parece, na sà tradição dos 
>cr d cm que se enfeitou a arte classica 
|-ira adaptai-a á leveza c graciosidado 
«lo i t irito* francez. E ê uma delicia ou- 
vir tirr. lns herouns e ducltos amorosos 
assim idiantasiados n’cssa linguagem do 
bom.toin dos tempos que foram. Os pro- 
prloj netores que pronunciam bem os 
ver. es soiior«'s e<cutam-se, eomo os sa- 
biás «1.» mnlt:» escutam o eco ,do seu canto 
nas quebrada?. K a dôr o o annjr, os 
í laad.-s rasgou do graúdos sentimentos, 
alii u:V» são mais do quo lhemas para va- 
rtaçV. para dar eoiqw e fundo á musii! 
dos versos. 

Nu comediu de chalaça o francez entii 
dc arpo o .«Ima. Kllo eiitemlo e nina 
tantrt aqitiüo quo a pilhéria mais batida 

a situ «ção cômica mais «•onhoclda fazem 
s:mp:e o rtkito esperado aqui. A razão 
«• a mesma porque a gent«í se, ri com as 
gta.a «ias crianças: a comedia francez? 
tem o K*m humor, a alegria saudável «le 
que ê sempre novo. Oquo Ua de «le.vagra* 
dav*?l no comedia «lo (inuras, «le Para- 
dox*^. iiacoir.edia d. primcnle, pessimista 
e immoial. é logo percebido pelo publico, 
«;«:« nàe pordtM aos pivtcneiosat dc ta- 
l^nto o não serem sympathicos, isto'é, 
bana rapa/ es ovino «dlc, pouco Uno, porem 
alegre sein segundas tenções, lí, quanto 
m.iL insensata é uma peça, mais á von* 
tado se acha o publico para rirdesafoga- 


sabe quacs seriam ns «wiisevjucndjs da 
iguoraneía c «lo nvnio vago, «pie imitiu 
vezes tornam o homem feroz c os gover- 
nos odiosas. 

Ao passo que fazcmlo-so n cousa «-orno 
su fc/, ã grande claridade da imprensa 
dlaria. noticiosa, informante, n qm» cada 
roporter mais atrevido ou mais imari- 
noso contribuiu com a sua vclinba do 
bhliülicticc, Uca o publico trnnqtiiüo á 
espeta «leque Ilude o prn/o «I«j «!ez dias 
para quo a presidencial clemência pop«a 
so exercer e o principo seja reconduziu o 
à fronteira, com recomnicmlação dc que 
nio volte, para quo lhe não aconteça 
peior, conforme a ordem cinda dc magna- 
nimidade «pie «li o c undc JUígmpnt n'uin 
dos iutcnniraveis dialogo» qn« eoiUpôvin 
a peça que so está representando no 
Odton. 

Foi o unico trecho sinceramente, es- 
pontancanientc appl.«u lido da represen- 
tação do drama de G<eÜtc, n que assistia 
um publico silencioso c enjoado. Não ó 
que a i«c«;a não preste— dc («cctlio, ima- 
ginem— ô que os netores frun rezes são 
dramáticos iiomiualineiite. Falta-lhes a 
quasi todos a libra nceessaria para que 
n'ellcs rcs«fl com flngiiueiito intenso o 
sentimento das situações graves e «l«»lu- 
rosamente interessantes. Não so lhos 
deve cilpar por nào possiiircm-n'»: seria 
querer Impor-Ibes substitui jôes frequen- 
te?, um verdadeiro cosmopolitismo do 
caracter (que o verdadeiro aetor deve 
jfj.-siiir, por Uni de contas). Mas deve-se 
tnm.ir-lhes conta «lo delicto estlietico que 
coinmettem «piando Ungem som convic- 

A' luz baça e fedorenta dos candidros 
qno raniiim nas correntes, oftegnva 
agora o liniito quente «las revoluções, 
k— Qual D. Pedro! Mandam as cortes. 
E.dlc ba «le partir para abater a errvi/ 
•Je vocês outros, canalhas «U* brasileiros! 
rosnou o horaeni-pipa que dera origem á 
contenda. 

Os fregiie/cs dividiram-se cm dons 
grupos. (Jc um paru outro voaram im- 
mciljAtBinciite cs copos o as garrafas. E 
L». bias, quo sc fleára no mesmo logar. 
entre os conu-ndore*. a nio perceber 
mais nnda.-do nogoeio, levou o me.Mior d*> 
primeiro arremesso. 

Rolou até |h*Io chão quando o Carniça 
investiu manhoso para lomur-lhe a du- 
rindaoa. 

E la do balcão, o Trancoso, abrindo 
uma larga e forte navalha catalã, veiu 
para o meio do barulho n'oma neutrali- 
dade aggrcsdvn de quem queria p-Ir no 
ollw da rua toda aquella comitiva bri- 
gall.ona de ébrios esbodegados. 

— Que fossem se haver iã para a !a::.u 
do Piolho! 

N"ísto, vfu d« lã de fóra um retinir dc 
. armas. Oaviu-s: um grito de agonia, t 
1 mais outro, e mais outro ainda. 

Co.TCiatn todos para a porta. 

Matava-se a!li perto. 

E 0. líias. muito hmbesado «ie po-i; 

« vini.v lu) »eu ruup '0 de velludo ser.; 
p-*ll«'. erg*mi-9e e foi para o fundi» «ia 

!.:•> ;.ar.« e-<v:.«lcr 0 eboui iço p.r de- 
baixo >iu camisa. 


tado se acha o publico para rir desafoga- 
nionte, s-.>:n suspeita de quo se esteja a 
rir dc qunl«|uer cousa séria e respeitável. 

IVça, publico e actorcs synipat liisani, 
aliiiani-so e compõe n alegria «liiTuss 
n'iaiia (Pessas |ier|uenas salas «le espectá- 
culo. donde s*» sai cansado de rir e scra 
pensar, divertido. 

UoMicio da Gàjia. 

1’cri/, 14 «le fevereiro. 


Reunlram-?e hontem nn theatro Phcnlt 
bjainnlica muitas cigarrciros e charntci- 
f «•• janEririPi um centro auxiliador 
«la ••!•«*•• -. Foi eleita A dircctoria prori- 
í iri ', que flwu n«»im composta: presi- 
«Íírito. .tonquim Leite Gonçalves; I* se- 
ci ari ' Nogueira de Xouza; 2* dHb, 
ífnilherrm? .l«»sé do Rogo; procurador, 
J-íáo Jtivardo.Norberlo Ferreira. 


IMi exposto na galeria Glace FJàjantc, 
ã rua «!«* Ouvíd«>r. o retrato a oleo «lo 
Sr. ■ apit;'"- dc frr.gita Francisco Augusto 
dc Paiva liueno Brandão, ex-director dns 
o.licinas de maebinas do arsenal do ma- 
rinha. Esse retrato, trabalho do artista 
IVrcs, vai ser ollcrceído aquellc digno 
i»:li i «1 pelos operários das citadas olli- 
einas. 

0 Sr. Dr. Knnes dc Souza realisou 
hontrui no Lyoeu de Artes e OlHciosuma 
iiniortaiii»: preleção sobre a protecção as 
imíuklija» do i-aiz. 

Assistiram a prelecçào grande numero 
de operários; empregados da cax» da 
movia, o um iq.ii-sintanto «los operários 
«l.t fabrjea «lo tecidos «b .Maeacos, o qiiul 
voto á capital expressomeuto iwra «ase 


Para t^r dtfslino, foi hontem aprasen- 
tr.da ao Dr. Agostinho Vldat, cliufu de 
policia interino, a menor Ciaudiqa, cujos 
pais estão cm Yalcoça. 


se defendia dc todos os oulio.q com uma 
coragem de leão. 

Oi freguezes do Francoso ficaram sem 
movimento, contemplando n lueta. E 
Tranco<o onculheii c.-s honibros e vultou 
para o >uu posto no bjjjcão, rosnando cn- 
t;\ d r.t -s que cra nfelhor que se matas- 
s un todes uns aos outros aquclics vaga- 
I •undos quo tiravam a espada por qualquer 
patifaria. 

Os outros Acaram, sem intervir. OC.u- 
nlça entbusijisniou-se: um dos comba- 
tentes acabava dc rahir, varado por um 
l»ote «lo qm? «c defendia. E o mulato, 
diante d tPjuoNc espectáculo delicioso para 
o «ou temperamento dc gatb «te briga, 
berrou, batendo palmas: 

— Ahi. bravo ! 

Os dous aggressores jierdiam terreno, 
j Aespãila do desconhecido gyrava luulti- 
I pticaud» os botes, e pondu-liic diante do 
! p« itv um muro do aço cm q«n? vmiiam 
. l.nter in 'ITcnaivas as armas dos outros 
I «L . .. Mais um fi-rido. E o ultimo rodou 
: ca!cr.n!ir.rc-, fugindo, seguido do 

I peito peto inimigo. 

i N"«sse momento, D. Uinx indignoii-so 
■!i o- :■ ern que estavam tocos, vendo 
Um bater-se contra tantos. 

— Caramba! nio se dirá que u :i fl- 
♦Julgo dc ü.ipauha deixou de irem au- 
\t!fj cic um fraco ! 

E :.!. <!.,!.! . :;.a !'.:ia cm p«m!io para 

Jado L'i:t que o ucMíoidiccido pcr«igi.ia 


De Paris (detalhe) 


856 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 83, p. 1, 24 mar. 1890 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


857 



A rUtflfo •!•• A mru.-tia ã fCuHj.— * 0 

n«*uil»mtiJt du l'<(i|.«OCunii\ai. -fui Um» d- 

Gpppée. 

Os astrónomos nnnuneium a volta pró- 
xima da estreita do Messias, a mosimi 
qtto apparcceu aos magos na nolto que 
separou a idade antiga das novas êrn*. 

Diz a legenda que, quando a boa nova 
foi sabida, a estrclla mensageira, depois 
do demorar alguns dias por sobre o es- 
tábulo, dosapparcccu para os olhos do 
mundo. Tornaram a vê la no auno 378, 
tuas deram-lhe jiourn attonçào. Kcappa- 
receu om 75d. Depois duas vezes ainda, 
sempre ccm 373 suínos do imervallo. A 
derradeira vez quo cila fulgiu no céu, 
para os astrólogos. já quasi astronomos 
então, foi em 1513. &iudantta>n'a desdv 
então comua estrclla do Mw<ias. 

Uecunheccu-se no astro errante a es- 
trelln viajante da legenda clirisU, a c- 
trella promissora da rod erupção, que ílla- 
initiou a sombria humanidade e encheu 
de Alegria c cou&õlou nos ailUctO» c aos 
humildes. 

Kniiel&nto um |M;'.a pessimista pôde 
dar voz á estrclla c ínzel-u dizer, melan- 
colicamente: 

« Quando deix d H.tliFoin, caminho doi 
meus destinos, *si ia acivdíundo ao porvir 
dc csiptíuiçj, c.ija vinda animncicl. Mas 
quando passei de novo. a barbaria ainda 
i.tzin os Itomens yv. dilacerarem entre si. 
A cscravi lào persistia ; a vi la era aspera 
aos fracos; a forç.i dict.va leis. 17 até a 
mim subiam palavras do imprecarão e 
gritos de odio. Ainda não so haviam roa- 
lisado as pronic&u do Messias. 

Voltei c tornei a ver o mesmo quadr^ 
lastimoso. As cruzes eram mais nume- 
rosas ; os chrisliXos liAvhm vencido. Mas 
o mnl eru sempre (rttttnphaiite. D pro- 
prío IVdro empunhava a espada que o 
Divino Mws.ro lhe tiuh.i feito embainhar. 
A promessa do Messias uão se cumprira 
ainda. 

Quando reappareci, cm tempos mais 
tormentosos, espíritos o corações jaziam 
envoltos em trèvar, que por vozes relâm- 
pagos de claridades nlIiicinatWe* atraves- 
savam dolorosa mente. Os que viviam 
••egos. nn sombra ahsolnfn. xó tinham a 
íc na salvação, comp recompensa nega- 
tiva* da profunda miséria de vivçr. Mas 
•is outros que pungiam miragens do mun- 
dos nu vo.*, a cala* vi. sã o de abertas sobro 
os campos iiillnitus que o céu negro es- 
conde, espelhnmentos du Immonsidndc 
dentro doi cercbrms mesquinhos, os outros 
que arquejavam na agonia do inr»ntcnt.v 
mento eram corno o encarcerado a quem 
penetra pui uma porta aberta nn sombrio, 
masmorra uma Ilsgn de céu azul c um 
bafejo du llòres dos campos na prima- 
vera. 

As promessas do Chi isto não só n;\o bo 
haviam cumprido ninda como haviam 
crendo mais aspirações, mais anheies. 
mais necessidades n contontar, haviam 
recuado os limites do doloroso ideal. As 
promcAsas do Christo uão ao cumprirão 
jamais... i* 

. Os desesperados para sempre c os des- 
esperados de uma hora acolherão cie bom 


Idrode Míliet em movimento. K logo a 
I legião dos miseráveis, dos estropiados, 
ulos leprosos, recortando sobre o fundo 
claro do céu as siiucttas incompletas 
estranhas os seus corpos contorcidos c 
deformados, os pcrll* agudos, o entre- 
; causaoicnto das muletas c os rasgões c 
| as franjas dos seus andrajos. 

I Depois é a multidão d« escravos, que 
arrastam grlFiíris quebrados; depois a 1 
queixosa theorta de mulheres de corpo» | 
1 ilexiveis. com os tongus cabei los solto* j 
j sobre roupas csculpíurses, estendendo; 
. para a estrclla os bellos braços srnppU- 
' cantes; dotx>ls os rei* msg-s, sumptuo- 
sos como bisjioa bysantiuos, com um 
cortejo dc servos multicores, e de elc- 
*"phnnfn rítriTfi doí com as riqueza* da 
I terra. Depois, c>*mo sc o universo inteiro 
tivesse estremecido ri'w]'iclln nofte. e como 
sc o fluxo do oceano rolasse na direcção 
da CAtrella, cá vem sobre o mar calmo 
! barcos de pescadores, orientados por si 
para c presepe, invisível, com os homens 
ajoelhado* ã prõa, n luz uccuirna atra- 
vessando «s malhas das redes suspen- 
sas... 

! Pr*li» ’r • tuas çu' jtwt j '« .r •! *» 

0»ifl M.utJ- iiiaUrstln j-.t.iIí.» ves IrlsacU* »ní<m? 
óurt IM inyrtrriínt v»uu et vnin rot.lnii 
Ver* cel a»trc r.uutean. q>ii britla daas ta nnil ? 

K njora é o ertabnto divino, o menino 
aurcolxdo que repousa na manjedoura, 
Maiia c Joí», o boi c o nano c^m um 
recorte dc figuras du vidraça dc cathcdral» 

1 luzentes como pedraria*; c, tudo n roda, 

I cm t'xios os planos, nté ao» confins <K» 

1 horizonte, cheio da ínimejisa multidão 
eu» prece. E, flnu!u:inl<\ é o Golgotbn: :i 
J coliiiirt, ao iȎ da qual so agita um for- 
migueiro do cubras» inniinicravcis, d<s 
taca sobro o céu cór dc aatiguc n Mia 
crista sombria cm que *c erguo n Cruz 
solitária... « 

K* grande, simples c commorcntc. A 
musica d*>s verso» cantados tem uma 
poesia inexprimível e não o preciso es- 1 
forço para n’aquclle b regei ro thoatro <ie 
L iubriidiss os corações se elevarem até 
á religiosidade. São dVstns ás vezes ns 
sor[»r»vas quo nos reterva a bdnmia Ir-' 
reverente. 

— Dariz artista occupa-sc com o appare- ! 
cimento do um quadro vendido om Jcílr.o 
ha dias por quatro mil c tantos francos, c 
no qual se attribuo um valor cie centos! 
do milhares, na idé.i do que seja u:nj 
Ucinbrandt original. Ronnat, (Jenune.Daiil i 
Mantz, conservador do I.ouvre, Walliter, 
gravador da Honda dc noite e dc ontrns 
obras do moittv, alürm.vn que a obra 6 
original. Tony-Uobcrt rionry, mais outro 
gravador e vario* pertos são de opinião 
que é uma obra do escola, uma imitação, 
uma inspiração cie Kcmbraiidt, apenas. 
A discussão vai cerrada e não deixa do 
sor interessante como comedia na justi- 
!l cação de cada opinião vaidusamonte fun- 
damentada com muito pur.nenor tcclinico 
pelos competentes ou tidos por ínvs. 

0 maia engraçado é quo »s herdeiro* 
do quadro qnoivui fazer annullar a 
venda por Ic/ào enorme, desde quo a 
rcclamc dcu-llic graúdo valor. Feliz- 
mento para o comprador o quadro não 


mesma. Minha uni di/U-mc quo os rios 
vão ler ao mar, c que a agua do Sena 
vai correndo sempre, ruas ou rc|>eilÍA essa 
idea por excessivaincnte triste. .N’isto eu 
mostrava talvez pjuco espirito scieutí- 
ilco, mos era jK>r não abandonar unia 
ilIusSo querida, pds que no meio dos 
males da vida nada 6 mais dolóroso do 
que o escoamento universal das cousas. 

* I! assim o graças ao seu livro, meu 
aro Cop[H*e. que cu me revejo peque- 
nino nu cães Voltairc. olhando os barcos 
que a agua levava e respirando a vida 
com delicias ; e é por isso ejue digo quo 
esto é um cxcellcnto livro.» 

E’ jwbto, mas ju‘to 6 «3 por isto. Ha 
no livro interesse mesmo para os que uão 
acham nVllo iwordaçocs da infanda, 
mas muitos outros livros podem valer 
mais do que os romances de Conpre, quo 
é um Rioile, sem originalidade, desde o 
s n u primei it) volume do versos, om que so 
esgotou . 

Furte, SO dc fevereiro. 

Domicio da Gama. 

Escreve-nos o Sr. Dr. Joáo N. Ba 
ptUta. digno diretor dos tclegraphos: 

■ Ná<i havia necessidade do prot^to quo 
ns empregado* da repj.rtiçãõ que dirijo 
fazem p*r íntermelio dc sua conceituaria 
folha, norque salvndo eu com l».islante 
Mjtecct.ouwun des bmtos que corriam, dei- 
lhes tanta imporiancin como tenho dado 
*. t* ilos os quo diartamento c prop wital- 
mente apparcem n’esia repartição, tendo 
unicamente pur iiiii diUicultar a minha 
administração. 

Náu dei imporlancia, porque sendo os 

meus M 'l(iS l.i< netl nniv C..i-.«i.a .\l*_ 


De Paris (detalhe) 



858 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


firiwli» u pro|ih««'t'.. uri -«* (lrji- 

obriga ile velar u misorla da sua impo- 
tência c que lhes permitto Itnarlr a der- 
radeira das euragens, n renuncia a uma 
posse d. sasli iw t, quo s õ lhes rendou mi- 
séria, n posso de viver. Os outros com- 
pararão a cxlslcucia social dos novos 
tempos com o mundo miserável que e 
Verbo rcdimicc c. assignaiando as molho- 
rins c acompanhando no decorrer dos so- 
culos n marcha du humanidade para a 
frente, não verão motivo do desolação nas 
balanços seculares que a volta |toriodicn 
da estreita do Itatiilom possa inspirar. 
Verão antes razões para nl-grias c rego- 
sijos: a sublime promessa será >::mprida 
e foi o Verbo divino que propiq n o pen- 
samento aflcclivo pelo mundo, n; -Ihorando 
os homens c congregando-os para a obra 
conimiim da rcdernpçfto universal. Foi o 
Verbo, «sni o Verbo: não maisu Verbo 
feito carne, porém o Verbo íolto força, 
que illuniina c que mostra, a um tempo 
lampada c lente. 

Não pensam om theses phtlosophican, 
os artistas do ceuaculo do Cfutí Koir, 
senão quando cilas se prestam a «.'fiei tos 
csthcticos. A legenda da cstrclla do Mes- 
sias vale por si só, poeticamente, sem cn* 
cadciamcnt s dcJuciivus nem contrihui- 
1 ções n sys&mas. K o theatro do Chat 
' A vir faz com isso um tão belio c original 
espectáculo que os chefes da critica 
Julos Lemaitre c f.arccy n fronte, subiram 
, ns ruas ladeirentns de Muitmartre para 
• ir ver as poéticas sombrinha* da taverna 
1 littcraria. Deixem. •$ faltar Lemaitre, que 
c o mestre das criticas littorarias, littora- 
rinmcntc f.-ii s. 

« Dos ta vez verses cantados acompa- 
nhavam e explicavam a fuga lenia dns 
sombras. A Marcha tsttrlla è ainda um 
mysterio. Idea simples o grande. Primei- 
ro cra o espaço, o céu, uma clara noite 
c estreitada. Nohorisonto um astro novo 
surge. E parodio caminham todos a q ad- 
ies a quem o Ckrfcto traz a salvnçãoou 
a esperauça. Pastores acompanhados 
polos seus longos rebanhos vêm primeiro 
atra vez da planície. Pir-sc-hin um <p:a- 

não go lava do f>aiaaas. K riiiham-iiw 
agora receios «lc ver a fortuna esboroar-se* 
lhe no momuulo mesmo cm que suppunlu 
alcançal-a. 

— Em todo en*o. disse como que me* 
ditando, cm todo ca^o agora não p d“ 
ser, porquo o príncipe c o ínfunu; pur- 
tiram esta madrugada para Santos. 

— Caramba I resfolegou D. Bias com 
a noticia do estar longe o homem de 
qneni tinha meta. Caramba! porque $• 
aqui estivesse, cra cu quem o ia matar! 

EU a nem sorriu dVssa fanfnrrouada. 

Ui • pote: 

— yucro rw mulher! Q«.cro a amante 
de Satanasl Duu-t: niii cruzado*, v.- .i 
trouxcrc'1 

K. do i OfTcgantc, cc-in u::» gesto d* 1 
rnin * 

— Vá! 

D. Hias sahiu. 

Carniul.-ci pel.v* ruas. nltlvo c mnl- 
.vtailo, reitnln !•• a durln tan.*. {/•l.n pc- 
drr.i. coita:*. !o o bigode provofr.dora- 
mente. 

IMin I.-t.rj o .Vufvtn-.*-*. o «Ilc :: r *o ti- 
nha medo. 

p.»r Í*h i nn iou o c<>r: i i cM.v! k * in- 
t ira. S -ubí ’v ’ ii’AL i;ts «ta draMA da 
riu d » \' n le. Vkr.MH-1!: . c;.!aíii*-*. 
n ti. » '»»«*• iuj V.» ’0 | »•! V 1 » que correra. 
*! .% do:. ii: •■.••• 11* ' I 'di" «:i •* ' ' 

tilé.i » mil ci '-*.■» •* que !'>,• ta-v.iu 

rW.p»»a:c‘*Motf.:-ar.i.. «\t • 


taiir «iiri-iixões quo o porerm classificar 
entre os inwiocais, propnoüaucs a qu« 
na legi dação frauceza póio-sc npplicnr 
esse caso dc miniillação de venda. 

— O Uonibraudt do Pivq cccupa mais 
as attençõe* d* quo n pulitica. No en- 
tanto os deputados bmilangistai invali- 
dados cm Pari/, foram reeleitos no do- 
mingo de carnaval. Mas ninguém se 
abalou com isso. Pari/, ainda é a oppo- 
siçfio, mas jã não será as barricadas. . . 

— Os tros dias de carnaval foram cla- 
ros. serenos o alegres. Para ar de pri- 
mavera só faltavam as folhas nns arvo- 
res. A multidão enchia **s b<>ulctmrds c 
desde as 3 horas d.i tarde alc que horas 
da noite interrompia a circulação dos 
carros, para ver meia «luzia de mascaras, 
apparcntcniente; é mais dc crêr. porém, 
que fosso jiar* scr ntropoltada. Ha gente 
que sabe de cosa cm dir.s do festa para 
furar povo, no Kto. Aqui também... 

— Publlcou-sc um volum: novo de Cap- 
pòe. um romance — Tome «ac jcuness--:. 

E' um livro triste, como todos os que con- 
tam desIllusiVs «• dfto batanç n inocida- 
dadrs intavuiutas, Mas como tem muita 
saudade, fel ta d’cssa sentimentalidade i>c- 
culinreo pv.ln dos JIítutiMts o das Inti- 
midades, «pio vive na pni/agem pari- 
siense c que se inspira das pequeninas 
cousas familiares o encantadoras quando 
recordara, como é um livro fie poeta qn«* 
envelhece, a sua leitura n2o è ura fati- 
gante nem desagrada vel. 

U amistoso envoi que «la noticia «ta 
romance Auntolo France. o primoroso 
litterato, faz ao seu auctor diz bera o qu«* j 
eile vale: 

— Crici-mc pelos cá'*?, on«!e os livros 
velhos mhturam-sc cora a paiugem. <> 
Sena que corria ao yó de mim cncan- , 
♦a va m** par « a graça natural «ias aguas, 
principio da* eonsar. e fontes da vida. 
Eu admirava ingenuamente o milagre 
eapíivante do rio que leva de dia os bar- 
cos» re.lcctludo o céu, c dc noite ?c ador- 
na de Hnrvs luminosas c de pedrarias. 

« E, porque nmava-a, m queria quo 
aquetln agua «lo encarto ftuc sempre a 

.T-r-..--. *r — f rr-jx^rrgaoi 

dos a'giiazis amigos, que andavam cni| c- 
nhadnsem desvendar o mysterio «la morto 
de Paulo «lo Andrade, faltavam apenas em 
8U*|«eíta& dc que n'aquclla casa rciidissc 
uma moça, quo «levia ter fugido. 

Fugido com qnein f 
I.cval-a-hia I>. IV ’■ > para .-.3s«m mys- 
teriovj antro d«. ainore . ? 

Ou o àaiaaaj tcl-a-liin posto a segure, 
em a!;;um cscondrijo desses que aúello 
conhecia ? 

D. Bta e estava nn incerteza. Nfio aabia 
-pie jv.iiti'!o tomar. E pensava a’< em 
: nroveitar a filha «!«< carpinteiro Cn*l‘»di >. 
que llie residin em casa, para fazel-a j»as- 1 
snr como amante «lo italiano. 

O (tonto psra elle em receta r o di- 
nliiMr» -la l .imitílta « íiiun : lia- . 

lamente para qualqnar terra longiuqnr. 
omle n:uj ch«jgAS>c o braço vingativo do 
seu ex-coinjauliciro das bodegas do Man* 
fitttiares. 

vm.ui.Io negnta. Fr ~- íw 

ainttUcT, i**Ia rua da \ «'hnr.nran*.- 

n’o !é dentro «h ;• ns:V* jjr i\*:»'-na ; 

havii. e oni-* «ram cs v • ; a- 

bumios noctívago^. 

Err. um que «’!!•: i ' *• «-: "M 1 

tnci.i c ' ’ n ia do: c-o-E., qu«: II, 

• v . ml *. : • j 

A lllh.i > Pal!rrvj;t)'. for» 1 
1 m:s • í ar'i ’ '«» poi. jae pttaia-ie »b;v 
, : «I i i»:lQ d Au traí* . Atam. 


! 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


859 


Anno XVI 


mo <0 Jutfro — Qaintn-* íurço do 1890 

GAZETA DE NOTICIAS 


N. 86 




De Paris. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, ano XVI, n. 86, p. 1, 27 mar. 1890 


liiiiii! 



860 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


B3>E PARIS 

Semana varia dc acontecimentos poli- 
tieos do nota ou de novidades mundanas 
interessante*. Cansados do espremer c 
crime (iouflè c os íntcrrogatorlns «em flm 
de Cabriclla Dompar I, o* jornae* tenta- 
ram ctqitcnlar um beato de crise minis- 
terial, vacamente fundado cm desintcUi- 
genrias entre alguns dos membros do 
gabinete Tirard sobre pormenores na 
execução do programma Constans* A 
cousa caliiu |K>r si de inane. 

— No domingo houve utn ducilo a pis- 
tola. muito sítio, entre um deputado jor- 
nalista, CamiUo Droyfus e o marquez de 
Morta. Dou motivo ã briga um artigo 
do Sr. CamiUo Dreyfus, ua Sallo*, de 
que elle 6 dirvetor, injurioso, ao que 
parece, contra o fidalgo, a proposito da 
questão judia. Como o lldnlgo catholico 
se chama Antonlo de YrJlombrosa. mar- 
quez do Morta, cx- tenente de couracelrc», 
cx-plantadar nos KxUdos Unidos, onde 
fez exercícios de tiro com os eo» c-Ooys 
do UulTalo-üill. o como cra elle o inju- 
riado, ns condições do ducilo foram ckcc- 
pcioualnicntc graves. Seis balas, a vinte 
metros, tiroao commando. Partiram para 
a frooteitn belga no sabbado á noite os 
ilous adversarioa, ns quatro testemunhas 
os doas medico*. oito homens ao lodo o 
no domingo de manhã, com toda aquelle 
frio, lá foram parti o meio do campo cele- 
brar rsse singular sacrifício ú honra que, 
quando os atiradores são bens e se que- 
rem n.»!, ê uma jogada cm e,ue so em- 
barra a vida. Xfediii-se rigorwumcntc a 
distancia, n rorto favôiTceu para a esco- 
lha do logar as testemunhai do marque/ 
Jc Mores, ícz-se um cotaio para experi- 
mentar a precisão «to commando, as tos- 
tcmunliax de chapéu na mão collooarnm 
os adversari a c puzeram-sc do rada lado 
á direita o á esquerda dos combatentes, 

[ dcsiiados oito metro 3. commandou-sr o 
fogo c o Sr. CamiUo Droyfus teve o braço 
• direito esburacado pola primeira bala do 
■ adversário. Tudo sc passea com a msior 
corrocçâo possível. Uma das condições 
ilo processo verbal mencionava a doçura 
ilc ntúla das pistolas. Se o Sr. Caraillo 
Drryfus não tivesse o braço erguido ã 
altura do p ito, na occasiáo em que recc- 
beu a bala, haveria hoje mais uma eleição 
a pleitear para deputado. Não havia cu 
riosos no logar. Mas, escondido alráz de 
uma arvore, uni correspondente «lo .Ví» 
York IkraUl, com uma camara-cscura 
portátil, tomava photographtas instan- 
tasuai das phases do ducilo. 

H’ suggcsiiro, «* fim do século o repór- 
ter |4iotogmpbo omiireqado nVsles rc*i- 
dnos medievos de juízos de Doas e com- 
pitas de valentias sujeitas â fortuna de 
gatilhos msit on menos doces e ou- 
\ idos nnis ou menos attentos ao coai- 
mando. 17 itm pouco cntrWreedor tam- 
bém. quando so penca «o dcsenvolvl- 
mento «pie vai tomando a imagem noi 
jomaes c üvrtw. ca imprensa cm geral, 
quar.do se relkcto no barateamento da 
iiiustraráo com prrjul/o da expressão 
lilteraria. Hsgotam-ro rapi.lamer.tc cm 
I rarli edições de livros, rujo uaico valor 
! está nos ilhu trações que c.i ornam, que oi 
1 compõe quasi Intrimmeblo. K«ms pro- 
ductos de Urraria sào comparareis ns 
rô opcrr.s c ojxreitas cm que a musica é 
n * tudo o o libretto é nada. Quem f.*r nma 
l*‘ dor da f«‘irma lideraria nito pAJe deixar 
►o de augurar mal dos mipriUrmenit da 
imagem pluslica no terreno da expressão 
1 verbal. Slo eoneeoõis feitas n preguiça 


outro tíraves (Sais c uma tenção de fazer 
roinnueo de bom humor. Contra wmc- 
lh antes perversidades liderarias não ha 
eenscra possível. lx Cailet é nra liorncm 
ingrato e desnaturado, que odeia o ir mio 
roais velho que ê seu heinfritor, c quo 
acaba por matai o. Depois NBpru-sccn 
cm fazer-se chamar de aoatsjno jwlos 
gandoa da aldeia c pela relia criada da 
casa que conhecia a Instaria c acaba mor- 
rendo como um li.bishomcin, n‘um der- 
radeiro abraço licstia! contra a terra quo 
fòra o seu único amor. Ao chegar A ulti- 
ma parto do litro, que seria o mais 
interessante, o cscriptor eslava cnnçado 
cora o iluxo psychoiogicoda paito vulgar 
do caracter do seu personagem, c o livro 
ficou manante e chocho do principio ao 
flm. Sem coutar que é do uma cbsceni- 
d.vio completa. 

— Um Urro Ir.tcrcssanto publicado 
nVatet ultimas dias í* J.et pisont tis 
Parh. O auctor c M. A. (íulllot, juiz de 
ir.slnic*;ão no tribunal dottnu, o mesmo 
cuja sagacidod .» fez caliir as cabeças do 
Prado, IVanzini, Camahut, etc. F.” um 
livro para Lizcr pensar instruindo. O 
scepticismo do criminnlixtn o do magis- 
trado. que ha quinze anno« rebusca em 
consciências como outro* f dlJoUm autos, 
não nega que a criminalidade cresco como 
uma enchente do destruição. 11, deixando 
de lado a s» Iheorios vãs c incoru lu lcntcs 
dos criniinalbtas italiano». M. GniUot 
vai buscar as origens cio mal aterrador, 
que c o maior perigo para as sociedades 
futuras, no começo «la existência moral 
dada pela família, que se desmorona, na 
lei do divorcio, na falta de crenças supe- 
riores, que subdiluam a religiosidade 
(IsvtnRuccUa, ctc. Vax peruar que os 
maiores crlmmoiüi ■?::£ Iwj-’ os hhv<í,V 05- 
a penas ailoicseontcs; que a falta do cscru- 
pulo moral • uma nppliraçàu í.«l<a das 
theorias sciontillcas mal entendidas e 
que a vida moderna tem assim uns ardo- 
res doentios, como se fo-so a febre do 
civscimcQto dos novas ramadas socioes. 

• DoMicto b.v OaMA* 




Foi exonerado a soa ) c.lúlo o tenente- 
romncl Aulonio Adolpn» «la Ko.«t*' , ii , a 
M.mia Itaircto ilo nmimm lo do corpo 
de ca vaJInria do regimento policinl o mau- 
Judo louvar jiclos aervlçoi pre»iad»s. 

n tcncnte-corobd Menu.» Danclo deve 
aprcacntar-se ao «linuurioda gucita* 

[coKRsao 

F. oreve-nos o Sr. Dr. Miguel Vieira 
Ferreiro: 

•ÜAoébom legislar de «ais. F. da mala 
tem ima lido não m o caracter hrasüclfo 

como «► do uutrat nncionaliJadcs. 

U nosso rt.nvfc» traz i.o tt r**7tila- 
m?nto um ■itígoqucãdhoiitein conheci. 
T«*:»do posto o >*dlo o fecito «lo iiniA 
cart-*, i* i iupregado exigiu, no ivg.-fro, 
qno pcigasaecu mais «>utrose1!o, inutill- 
sandoo rp.ic. scguuJo t ilo. cn havia pre- 
gado fúra «lo logar mar.-ad.) \. 1 • rcgula- 
mento, que mo luostrvu com «lellcailozn. 
IVvia pzsgar segunda ve/, km* Ignorar a 
cxirencift rogulamcatar. Não cousrati 
em pí.r outro »*Uo, i^'r.'i.iant*>. a bem d » 
jv.iidi.-o. convinha vcotilar o aocatio, • 
ía/cr acabar com r*.«n iniqnidnio entro- 
pelío. ü impoato «“tava pago, qualquer 
que fosse o logar da cart* rm que «-.' 11 - 
h-rsv «niMo •» adlicMvo. < > a*»unn4o 
|7bt levmlo «o cfoticcimcnto dos:ipcri<>r, 
que mandou registrar a carta «cm inuti- 
lUar o rcllo jã nrc aJo. Foi i*b»oqulo. 
Vejamos qual O lugar inaU propriu para 
cmJocar «i scllo. ..... 

lista palavra origuia-se de siqillin*, 
sigülo, Kcgredo, c tanto sínre d? .-ignat 
de iin|K*ato pngo garantido * remessa da 
carta, como «bi .Mia iavtotaWlblade. 

Aquclla estampa, reguad.» exprimo o 
prrnrio nome. garante lambem o scgmlo; 
CS> |or nlu V ve que o *-ti logar nala- 


è 


l 

d.i» intelligeoclas quo »» a tórma mate- 
rial, brutolmcnto scmuvcl, saco-le. Verão 
. que isso cansnrá por 11 m uma «legradação 
) do espirito incalculável. lVrquo perde-x; 

* o habito de imaginar, quando não se tem 
jl mais do quo o trabalho do rer. II nem 

i senipro o qw se vê, definido por linhas « 

- sombras o côres, tom corrccçio c di- 

• nnhhde plastica quo compensem a falta 
’ da nmplidlo, da riqueza, do povoamento 
3 de Mfaft. que são apanagio da arte da 

escripta. quo pareça tal, ft fúrru 
J ! plastica tem nma seccura, um llmita- 
1 mento cxcíSii vos. Os melliores desenho* 
a são expressões attenuadas dc viste rx- 
5 ccxsivamcnlc lr.dlriduars. Senlc-se dc- 
£ mais a maneira, qr.o «• a deformação 

ii pessoal doobjccto a rcpretcnlar, c a nosia 
•> contemplação solTro a opprcsxão, a oIjvs- 
n | ião u*.squella marca da pcrionslúla-lc 
5 de artista. A consequência é admirar-sc 

mais o artista do qnc a obra d .ute. Dá 
se pois um desvio da omoçáo e^belica a 
sentir, cousa quo não aennteco com a 
linguagem abstraeta das palavras. Ahi 
a expressão vcrbsl, quando é imaginosa, 
tem a larguçz* dos sym bolos, n’u«a atrno- 
pbera de sonho— todo o movimento, toJns 
nsligaçôss dos fúrraas poética»; c, quando 
c precisa o nominativa, tem toda a com- 
prchcnráo de uma synthcse, na exactidão 
dc uma cifra. 

Ainda se o desenho fone sempre uma 
obra d'artc !... Mas o pcior é quo, non 
livros e jontoos illustradoi, os d cunhos 
extáo lon-e d« poder supprir a falta da 
Uttcratnra. Geralmente a pbotegraphia é 
o azente da reproducção «los desenhos 
para a jsiprens*. O» inglczes vão mesmo 
r.o sou má u gosto a darem simples pro- 
vas pbotograplitos colladas, faz-mlo «!*• 
estampa ã porte. Assim, o que seria ar:e 
dodescnU, s gravura, a interpretação 
artística do uma obra «Farte, fica também 
excluída. D* sorte que o que antiga ov ntc 
aeria um producto dupiamcnln artístico, 
que era o lirro «y>m gravuras, passa a 
scr simplesoento uma pubficaçAo illus- 
trada com a qual o jviMlco* o piecd-vltl- 
tor dc tal cousa, não aprende a l J r nem 
aprendo « vêr. lí, quando o» atgarUmo* 

, übalc ds ; tiragens d.j faturas pubi:- 
!*|ca..‘rM chamadas ar tistl ms, flccrem crer 
aos ingenu s quo o uivei girai «!:% ^lu- 
esção esthitiea tim subido muito, ©n 
amadores vorvla«kiroi dc bMlas lettrax c 
dc licllas figura» provarão facilmente q ie 
ainda n'tue temmo a proporção das 
cbssei privilegiadas para a mas a inln- 
telQgentoo inferior coãscrra**e aristocra- 
ticamente. O publico mal il lustrado, que 
já faz tio gran le concurno «le ohjcctos de 
arte d s picotillta* coatlmmá a suppor 
que a sua alimentação mtbctiea c cxctl- 
!:nte, pe.rq :JC f i Jomam lha dão supple- 
ir.cntes illuslra lwcm quo v'm retratado» 
iatendetrj cysn gene.acs F! ’strv»M 
dnrile* «lc t 'r.wtc* d? cvuracciios com 
;■ f :.nli't2s*«>!‘-u*..« 

- i ui liiohcpin. 

i fí»« 


À 


de 


dií r\ 
li ; « 

lelntltuladj 

:• i..i 


caba »! 
/. r C i 


vjU 


Jmlravcl porta 
iftis Caretsi 
ar^fii roman- 
. e nA a reva- 
I 1 SvV.M l 


De Paris, (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 861 


> xvx 


> 0 d« Abril do 1890 


5E: cazeta de noticias 










~~z?3iz 
^ ^ ^ rr ^jiy s: 









; , 

- . fc*** r • I — «— > j.. 
















) : ' 




De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 96, p. 1-2, 6 abr. 1890 


862 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DB-MRIZ 

Oi iliiui - Safons.4— Açnardlbla*. ~D.>uU'l de Moa- 

•cl c IbM-Mr.l. 

Abriram-se as exposições dc pintura o 
csculptura que precedem a abertura do 
Salon aiinual. 

liste anno é preciso di/cr Jos Salons 
porque serão dous em vez dc uni, esmo 
era «Tanlcs. Haverá O' Saton Douguo 
rean no Talacio da Industria, c o Salort 
Meissonnier, que é o dos dissidentes, no 
Talado das Bcllas-Artcx, quo licou dc pó 
(e que será conservado) no Campo do 
Marte. Vaidades, luctas dc amor proprio, 
birras, a intrigas de atelier o de acndo- 
miais, a proposito das reeom pensas cou- 
ccdid. s pelo jury da Exposição Untvcr* 
.sal do 1880, que a maioria do comitê dos 
CO da Sociedade dos Artistas não quiz rc- 
conbcccr, c ílnalinentc um voto mat pen- 
sado n’unm reunião tumultuosa da mesma 
socicdndc, recusando aos medalhados da 
Exposição as honras c privilégios de en- 
trada hors-concoios nos Salons an nunes, 
detorminaram a retirada de Meissonnier o 
cento o vinte e tantos dos seus partidá- 
rios. Como era natural, trataram logo os 
protestantes de assentar as bases do uma 
nova associação, apezar dos esforços fel-, 
tos pelos críticos d'arto, homens dc let- 
tras, ministro das Bcllas Artes c ontroí 
personagens importantes n’essc curioso 
mundo da plástica, allm de evitar as ca- 
lamidades dc uma guerra intestina entro 
a gente do pincel c do escopro. Mas 
Douguereau, nào querendo ccdor a priu- 
cipio, Meissonnier tornando-se inflexível 
depois c trabalhando rijo, a Sodcdada 
Nacional achou-so fundada, com regula- 
mento assente c local concedido para as 
exposições. Local vasto bastante para re- 
ceber cagazalhar todas as victimas das 
exclusões do rojmVJ-Bougucrcau, que o 
co Jiiif «‘-Meissonnier julguo digno dc en- 
trar. Porque no Salon - -Meissonnier não 
ha medalhas, nem recompensas que im- 
portem regalias de entrada franca. Nem 
será um Salon livre, pois que os artistas 
que fizeram parte do outro, nào {«odcrãO 
figurar iTellc. Mas, cm todo caso, dle es- 
tabelece uma diversão á dep?iidcneia o 
sujeição do antigo Salon, cm que o me- 
recimento do artista que sc apresentava 
ú admissão, valia menos quo o nome do 
mostre ou do atelier n que dle pertencia. 
Nào haverú ns>im mais talentos rcaes quo 
escapem á attracçáo dc um dos dous £a- 
lons. E a legenda, já hoje muito desmere- 
cida, dos talentos, dos génios que m per- 
seguições abafam c annullam, desappa- 
rccerâ dc todo. 

O caso é que lodos se queixavam do au- 
gmcnlo anniiul da quantidade dc produc- 
ções dc menor valor (ou mesmo do nen- 
hum) que nas exposições annuaes do pa- 
lacio da Industria ufogavam litteral- 
mente o pequeno numero das pequenas 
telas de merecimento. Agora que 0 Salon 
desdubrou-sc, rcproduziadò-fiC por flssipa- 
ridado, como certos organismo?, inferiores, 
rachando-se ao melo c scparando-sc, 6 boa 
secasiáo para ambos encolherem entre os 
trabalhos novos apresentados á admissão 
-•» • -'»*•* -acruurm mais diguamento 

os bons lagares na exposição. O püblTrõ 
não sc fatigaria tanto a correr os olhos 
por cima dc telas que não dizem i.ada de 
novo, nem corno invenção, nem como 
execução, antes do descobrir alguma quo 
lho interesso por uma ou por outra cousa, 
pois que a reunião das duas c quasi im- 
possível n’eslo llm de scculo, que pareço 
ser a cra dos talentos artísticos Incom- 
pletos. 


A verdndo, porém, c quo na enormõ 
quantidade de pintores que ha eni Trança, 
c quo vai crescendo rapidamente, a pro^ 
porção dos quo tiveram a vocação, dos 
predestinado-, dos possuídos da obsessão 
representativa da fórma das cousas por 
linbas c córcs, para os que exercem essa 
profissão como exerceriam outra qualquer, 1 
honestamente o nada mais, mantcui-so 
sem alteração. A Trança 6 a principal 
fornecedora dos mercados d'artc do mundo 
inteiro, c a sua immcnsa publicidade as- 
signala á procura dc lodos os amadores 
que os põJcin disputar, os géneros do 
valor real, dc mistura com aquellcs quo 
um capricho da moda c a intriga dósrpia 
dispensam honras o cream reputações ar- 
tísticas, elevaram artillcialmcntc a cola- 
ções respeitáveis. Vendo os successos fan» 
t a? ticos «lo alguns pintores hábeis c as 
pagas mais que justas das obras dc mc 4 - 
redmento, nào ba homem capaz dc pôr 
uma figura com relevo sobro um plano, 
quese não julgue com direitos a competir 
para a gloria c o proveito faccis aos mais. 
E vão lá dizer a esses que a cubiç.i não 
ó vocação, c que para ser pintor é preciso 
não scr outra cousa!... 

Os Salons serão dous esto anno, mas 
não so (Tido esperar que cites exponham 
o dobro das obras dc valór dos outros nn- 
nos, a julgar polas exposições parciacs 
dos ccrcles da rua Boissy «TAuglas c d.i 
rua Volncy c pela dos aquarol listas da 
rua dc Sc/c. Deixando as exposições do 
pinturas a oleo para a revista dos .Salons 
de maio, c analysando a exposição dos 
aquarcl listas, sósc encontram duas per- 
sonalidades artísticas novas, ou agora 
cvidencia»!as, que são Boutct dc Motivei o 
Desnard. Os outros são os conhecidos de 
todos os anno*, quo pintam sempre a 
mesma cousa da mesma maneira, que são 
ui especialistas: Adrien Moreati c Dclart, 
com as suas romanzas c galanterias ; 
Vibcrt.eom os sus cardcacs purpurinos; 
Worms, com as sccnas hcspnnholas; do 
Tcnne. com os cães; Lambcrt,com os ga« 
tos; Ciacomclli, com os passaros; Cazin, 
Duez, Zuber, Dctaille, Lewis-Brov?n,ctc. 

Boutct de Motivei é illustrador dc li- 
vros infantis, e adquiriu ntesa especia- 
lidade unia reputação como Kale Grvcn- 
avvay. Exj<õ: asaquarelhs para illustrar 
um livro dc Ferdinand Tabrc, que são 
primores do dcsonlio. Ellc não ó um 
aquarcllista ; apenas são coloridos os tra- 
balhos, levemente, como aguadas dc ar- 
chitoctura. Mas a pureza do seu dese- 
nho, firme, limpo c correcto. !»mbra tam- 
bém a precisão e a harmonia das linhas 
nrchictcctonicas. Ellc faz a >ímplificação 
do simples, e as suas figuras dcstacam-so 
com um relevo perspectivo irreprebenst» 
vel. Entretanto as physionomias são in- 
tensamente expressivas, como mascaras, 
inolvidáveis. .Sáo rostos do meninos, do 
gento simples, do padres, c!:a rTcIles uma 
humanidade iiupicMÍouante, commovc- 
dora. 

Bcsnard, esse é o aquarcÜUta da aqux- 
reli.», c-c -la p.>;;e) s guid.t, imU diítlciU 
E. > tom a r.llucinação da c*»r, brinca com 
cila, corre o -calas, hnrpoja, faz hnrnvma, 
improvisa. K. coma tèm a Inspiração li- 
ire, utsua* inv * t'ni uma graça 
unira do «ju. :u vive £0 natur.il no seu 
clfv.*: nto. Não i- : \ e:\vbc esforço no sií / 

• rab..l:. • ’ aa g .. de WYõCl 


brancos, tuna fôrmr. branca dc mulher en- 
tre plumas, quasi identificada com o seu 
rebanho, pavão cila lambem com o pes- 
coço inclinado, o corpo torcido, com a 
ondulação rojanlc dos aves sumptuosas. 
K sobre cstctlicma variações incfTavcis «lo 
rolorido transparente dc tinta d'agua, 
uma festa. 

Outra mulher qticsc transforma em pa- 
vão, uns espelhamentos que são conslras- 
tes c harmonia do tons c reflexos oppos- 
losc reconciliados, como n'unm embria- 
guez dc eóres, assignalain a Bcsnard um 
Jogar eminente entre os pintores moder- 
uos. Já é uma satisfação descobrir um 
artista novo n’urna exposição. SóPariz 
pwic oircrcccr d'csias sorprezas <t plutót 
'deu# fols qu‘une . 

Domicio da Gama. 

Fevereiro. 


De Paris (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


863 



Anno XVT 


Rio de Janeiro — Terca-felra 8 de Abril de 1800 


FflOCUSO UKl 


o ctgotirro 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 98, p. 1, 8 abr. 1890. 



864 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PAF5B2 

4 Mea Jc rafabtmJGri* bfratc.— Kf» lhra.-Trii- 
t*ra das alfjrm.— Ti« luwt.» unificai lu*.— 
ha bfa humaiDí.— La dmmw batailfc -Ne»í * 
ciilw. 

Mouro uma briga no constlho de nü- 
nistrus, entro o presidenta do conselho o 
o ministro do interior, este deu a sua de- 
niUsão ao Sr. Carnoi, por cima da ca- 
beça do Sr. Tirard. 0 pretexto da sepa- 
. ração, foi a nomeação política de um ma- 
% gistrado, contra o voto do Sr. Conslans 
1 caquasi accusação'dc trahiçl©, que o 
Sr. Tirard llic fez por cssaoccasiâo. I ma 
s cousa feia. Mas as causas já vinham de 
L * longe. Por muitos erros políticos, por ía- 
^ diga das maiorias, pclxdcsnggrcga-fto ir- 
n resistirei dos corpos l arlaincntarcs, que 
x tantas forçai dispersivas agitam, o ml- 
nisterio Tirard, jà não inspirava grande 
confiança ao Sr. Constam. A sua sabida 
o foi como os dos ratos que abandonam os 
~ navios quo vão naufragar: eile sentiu a 

* agua que subia no porão da eamvella. 

0 Substituiram-no pelo Sr. Lvon Bmirgeoís, 

- um antigo funccionario, auxiliar do Sr. 
" Kloquet, que ihe dn conselhos. A sua 
J apresentação como ministro na camara, 

- foi-lhe um trinmpho pessoal, para fazer 
*• birra ao Sr. Tirard, ouvido em silencio c 

sem npplausos. Os apptausosaoSr. Dour- 
geois não podiam ser sinceros. O seu pro- 
!* gramma insignirleante, apenas ifumafór- 

1 roa mais elegante, tinha o vazio e a im- 

- precisão dos nossos discursos académicos. 
" Nem podia ser por moaos: uma apresenta- 
ção da noite para odia a unm camamdiJUcil 
de dirigir, n’um tempo (touco seguro, só 
pijdc ser feita com palavras sonoras, com 
phrascs bonitas, mas não eompromettedo- 
ras. E ninguém se engoda com a marche 

w en arant, e as reformas urgentes c neces- 
sárias que por fim de contas não são, nem 
urgentes, nem nccemrias. Todos sentem 
as cousas mal paradas, pois que a pró- 
pria imprensa ofliciora abandona o go- 
c verno, que por tão longo teropa (longo 
’ pnra a vida cphcmcra dos ministérios 
r írauce/es)deícndeu-o a todo o transe. l*or 

- todo o mar da publicidade, cm torno só 
0 se veem os ratos fugindo do navio cm pe- 
r rigo. 

o — l’m pequeno cscandalo a que se 
acha ligado o nome dogrando poeta. I>ous 
J] usurários, um costureiro de iwme e um 
0 architccto, foram chamados nos tritai- 
imen, por terem emprestado bO.OOO frnn- 
** cu* a Georget Hugo e reclamarem iTellc 

* 240,000. Quando contractou esMcroprcs- 
í, timo, que lho era necessário para lovar 

avante certas cm prezas galantes, o neta 
do poeta era ainda menor. O* usurário* 
. não pensaram que a família « negasse no 
r pagamento, para evitar um escândalo. 

* Mas o Sr. Lockroy não so importou com 
isso o os interesses financeiros prcvalo- 

o ccram. 

i* E’ um nome esmagador esse de Hugo. 
’» Então para quem como o gentil George* 
x roíax as Contempiaçòet i\ sua moda, sendo 
à contemplativo, chega ser incommodo para 
os seus amigos... o at «• para os reporters 
Jj 5 dos jornaes mundanos. Um nome que 
|! obriga a deveres, que não dá direitos, k 
um nome cocravisador tyranulco. A aris- 

* tocracia do talento encontra para se fun- 

0 dar esse embaraço Irremissível, que c a 
c impossibilidade de trnnsmitlir o genio a 

herdeiros naturaes por succc&sâo directa. 

1 — A vida parisiense tem agora o teu 
s maximun» de agitação. Tor toda a parte 
o sáo festas de grande representação mun- 

itfin» nprtnlM»inw*ntft« nrli«lf<*A« aIIIIi*». 


historia do theatro, essas quedas sáo si- 
gnificativas. Elias exprimem cm defini- 
tiro este facto, tão simples e natural que 
todos os simples de espirito o compre- 
hrudem, da ncees&klado de uma cultura 
especial para cada generode arte. da im- 
possibilidade de estender-se indeflnlda- 
monte uma formula feliz por todol) vasta 
campo da csthctiea. Significam tambsni, 
menos dircetamente embora, porém não 
menos rigorosamente, que uma obrad’arta 
nâo resulta unicamente do uma fórmula 
dirigindo um trabalho perseverante. O ta- 
lento artístico eontinúa a ser ucccssario 
e independente. 

— Publicou se h ontem o novo romanco 
d e Zola, da coltccção dos Uougon Mac- 
quart — La liete límnaine. Trata de ca- 
minhos de forro objcctivamcutc e .sub- 
jectivamente de criminologia. 

Estudado como pocnin, tom sempro o 
grande sopro épico do mestre. Aualysado 
littcrariamcntc acccnUáa cada vez mais 
os dofoitos de linguagem, de sentimen- 
tos cte.p a profundo mau gasto do nuctor. 
Tem capítulos, paginas, situações sober- 
bas, nunca um período que se passa cha- 
mar de cstyluta, de artista. 

— Publicou-sc também a DernUre Da- 
taille da campanha antisemliica do Sr. 
lvl. Drumont. Devia-se dizer o ultimo 
tiro c de polvora sccca desta vez. Kc piza 
c esfalfa. Mais um pamphlcto â apua. 

— Cltcgou liojc h M o Visconde do 
Ouro lYeto com a família. Cabia a novo 
furlosanicivtc e a entrada dos banidos não 
podia tor uma min+ntcéne mais ade- 
quada. K* assim que a gente pensa no 
Ilrasíl quando lê historias do exílios o 
proscripções... t 

Dosucto n\ Gama. 

Parta, 5 de março. 

O Aulidelfgado do 2* dtalrieta de Santa 
Amui mandou lavrar auto de fiapranto 
contra Alexandre üa Chuta Carvalho o 
Antonio Augusto do Mattos Caminha, por 
terem se frrwlo rcclproeainenta. O Ur. 
Amanelo de Carvalho, medico da poliria, 
fez exame de corpo de delicto ç/n ambos. 


EPIDEMIA 

Ilecrolo, 7 

Tta nm mez grassam n’csta loca lidado 
febres de mão caracter. Ultimamento 
todo» os casos têm sido fatacs, muitos por 
obsotula falta do recursos. 

Nâo temos médicos, nem enfermeiros. 
Solkitc providencias do Sr. ministro do 
interior c do governo d este Estado para 
nâo ficar dizimada a população d‘csto 

logar. 

{Ga:eta de Noticias) 


O» negociantes J. de Souza A C., rc* 
mctlcram ante-hontem para o hospital 
da Misericórdia, onde, cm quarto parti- 
cular. «s ncliaom tratamento, o argentino 
Eulogio Snlomnn, quo fnru victlmn do 
um desastre quando trabalhara a bordo 
do vapor Dordoqne. Ú paciente apre- 
senta esmagamento do grande artelho; 


O Grémio ‘los Internos dos IfospUacs 
reuniu-se, aotc-hoiitcw, cm sessão ordi- 
nária. 

O oxpedirnto constou da oíferta de um 
livro elo I)r. Freire sobre as vaccinaçòes 
da febre nmarolla o da proposta de rnj- 
trada dos Sis. Andrade Dotillia, Molcher 
Serzcdcllo, Guilherme da Silva o Garcia 
Leão. na classe dos soeios cfTcvllraa. Em 
seguida occupar.m a attcução da cava 
os Srs. Dr. Regia Rodrigues, quo disser- 
tou sobro um novo nyatoma de thera* 
peutiea, c o soeio Azevedo Junior quo 
refutou o parecer, da conunlsxão de ci- 

— 1- ..I... . «... 


ilnna, jconlccimcntos «rllilicM o liltcra- 
rios, do quo os joreiscs oponasddoos , 
cchos o do quo cu nem o ccho po^so dar. 
Ou autos, o õeho qi» ou d'olUs jindossc 
dar. uria como do uma lamentosa deso- ' 
lartio, tanto nrabrunltn o espirito a con- 
tompln<ao dolorosa d'csaa furla ilognlar i 
do« matar o temi», quo tem a vida tilo 
dura, do accclcrar a vida, que so escoa 
tão lentamcnte.. l*or pouco quo ao dete- 
nha a gcute a gorar, sahorci.tnd j um bem, 
quo para ser melhor deve ser ephemcro. 
vem lego ao espirito n to ttbra com a ln- 
dngãqão inquieta, to será o incontenta- 
mento, se será a raeiedado quo nos con- 
diu á moite, pcior do que á morte, á nn- 
cia do viver sem sabor por que. K então. | 
pela ideatídade dos destinos, lauto uos , 
fax uma reeopeáij no Klyscu ou um sa- | 
riu n‘tim sumptuoso ptl.vcio do bairro de l 
Moncraux ou de l*ÈtoUc, como uma re- i 
doure do Continentnl, um baüarlco n'um j 
terceiro andar em IlalignoUcs ou um vau- I 
dcrillc n'um theatro doboulovard. Loga- j 
res eoceasiõos do matar o tempo Imraor- 
tal. Ilnos quo passam a vida a matal-o, c : 
eilo é esmo o veado da legenda germa- I 
nica, da car.vla phantastiea, quo durou ‘ 
uma noite de cem nnuos. Depois a funda 
melancolia da velhice i monos daa ru- i 
gas, que amarguram a bocca c desbrinm ‘ 
os olhos, do quo da imperdoável culpado 
ter vivido cm vão. Esses quo inalaram, 
ná. o tempo, mas 'os seus dias parecem 
assim iraxrl-os, amortalhados em saudade, 
utn por nm contados, Itora a hora dos j 
prazeres que foram, na sepultura das ru- , 
gas lamentosas... I 

— Muitas peças novas pçlos thcalros, 
Ires ou quatro livros por dia, mais duas 
exposições do pintura, esraudaios, meie- | 
l ricos, assumptos graves o leres: sò ha o ] 
embaraço da «colha para o menos noti- < 
cioso dos chronistas. 

AsMgnalemos primeiro o flaseo do ires ; 
peças naturalistas cai irestheatros dif- j 
ferenlM. Foi primeiro no theatro Livre 
Isj frirtt HttngtnM, tirada do romanco 
do Ed. tíoneoort. Quem lou o livro en. 
cantador púdo logo julgar da reprcscnla- 
hilidado srcnica d’aqnello poema melan- 
cólico. Adores sd podiam despoetiear a ■ 
melancólica phantasia do artista Ciudoto, ; 
A poça cahiu. I 

Depois foi no Odfon, uma eipocio do < 
comeJia azeda, intitulada f!ra mfilirt, 
onde so vê um homem mngado, porque , 
a mil r.ik> delia que cllc se occupe com I 
o nlbo que acaba do nascer lhc. A peça ’ 
tem troa ados, e todo o tempo vive oito- J 
ntem xangad. com a a ví do pequeno, que I 
nio i a sogra, mas a proprla mil. E‘ la- ■ 
supportard . O andor da peça, que na ’ 
regttnda reprcscnUçio rendou d?2 fran- ( 
cot. chama-se (Seorges Ancey. 

Finalmente, no l'.tWeíd#, uma comedia 1 
de Paul Alasis, tirada de uma das suas | 
novelas intitulada Xonsieitr Jlctsy. Os s 
naturalistas que se earaderiram pela < 
falta de ímagina-io coutructira. conje- ! 
gnem ecrtoí elfiútos litlorarios, mas as , 
suas obras não podem resistir ás presdVs t 
theatrnes. nio coixegatm vencer a falta * 
de S.vmpatlua de um publico dc.ooiitlado, | 
ç albor a lienevolcnto. Uontícnr llrtty e 
traía da relha histoiiado m/rtttgeA troll, 
II) flnainento tratai, por licnry Uee<|ue ' 
ns «tta /•or/íf.-uue. Ma. : i-ça de Paul , 
Aleals i gre.tcira, baixa, ineondudenle. r 
A tiéjane foi multo appiaudida, assim 
como Dupuis e Ff nn; ntas a t ■ ;a rshiu. . 
l'.ua qarai acowpanlta oro ‘ntctcise a 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


865 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 107, p. 1, 17 abr. 1890 


LÍnílh ÍÍÍU illllfllU?, iírí 



866 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


nr wrj Bc . otte jVTM^^v~a ~>fcv j »yjnr » > ' J iaig pjyiEg: i-' 

E3£ 5»ARSS 

O ministério está reorganisndo, accello/f 
apresentado á câmara sem incidentes, 
apoiado n’mna moção do confiança vo- 
tada por mm» maioria de 318 votos contra 1 
"S. Diz-se que nnt gabinete que tem 
Froycliict como prcsidnute do consellio c 
ministro dn guerra, Constans como mi- 
nistro do inferior, o Ribot na pasta do es- 
trangeiro?, uni 2-1 bine to que nào dcsvia-io 
da política liberal mas prudente, que ò n 
)>olitíca do iom|>o de paz e calma que a 
França tão \*..;»rosamenle atravessa, 
diz a opiuUft tirúntcrcssada que longos 
mezes se passarão, antes que a acção 
combinada da« forças políticas interiores 
o derrubem. Kol ainda anlc-li ontem a 
sua npresonlaeiin n camara, e já parece- 
uma velharia jornalística a discussão da 
sua declaração qunsi pro-formula. 

Um acontecimento de uma gravidade 
extraordinária enche de tal modo os cs- 
-jíifmu- -n-V-ícs - -dous- -»lins,_qi!e sontç-sç_ 
como o envelhecimento dos minutos com 
vezes vividos na apitarão dos grandes 
dias. O ptineipe de Bismarck abandona 
o sen posto de diroclor da política Ifnpe- 
píal da Allemanha, c o abalo que a sua 
retirada produz io mundo inteiro, re- 
volve de novo todâi questões sociacs 
ligadas ã sua longa « inigualável exis- 
tência política. Sento** que a partida do 
Chanccller do Ferro * maia crise do que 
todas as crises interiores dos Kslados. 
Rcceia-sc que a era das didiculdadcs reco- 
meco para a Allemanha nova. forneça-se 
a pensar que mesmo com povos da mesma 
raça os impérios militares vão sendo ab- 
surdos. que Sadowa o Sedan não basta- 
ram para trnnsíormnf Berlim em uri», 
que o ferro se compra com oure, o que o 
ouro c o sangue da França nào aprovei- 
taram nos que a sangraram cruolmcntc 
no peito generoso cincxbaurivel... Pensa- 
se, pensn-so... Pensa-se no mal que 
trazem á humanidade, ás nações, ás civí- 
lisaçõcs que os produziram,, esses homens 
de genio dominador, que presentes são 
uma opprcssào afllicliva,o ausentes sáo a. 
desolarão dos edifício* grandiosos des- 
moronados. 

Mas no que mais se pensa, é no perigo 
que ba para a Europa na emancipação 
completa d’essc moro ambicioso que é 
Guilherme II. Dizem que Bismarck reti- 
rou-se, porque o joven imperador quiz 
ser o seu proprio chanccller. E c sueces- 
sor de Bismarck não precisa ser um 
homem do genio, pois que não lhe dei- 
xarão locar na política com o estrangeiro, 
nem alterar as grandes linhas do pro- 
granuna do augusto amo. Nem alterar, 
nem mesmo discutir ; nrc nas lhe incum- 
birá a anposiçiío dn referenda sol) os im- j 
períacs rescriptos, regulamentando as 
horas de trabalho, ns relações dos palrÕes 
com os operários nas oflfcihas, os trnta- 
mentos de cercmonias. a fórmn dos bor- 
dados na gola das fardas dos funcciona- 
rios do império, o eslylo dos artigo i dos 
k jornaes c do nvnus doa banquetes ofli- 
ciacs. as inversões da sequência lógica e 
a disposição das pregas cllipticas da 
, «oncricucia publica — o disctplin.»:ii>.*nio 
• imp'acavcl do espirito da lioncsu» e livre 
{ Gerinnnia. 

Houve um grande c bcllo rei ; esse mal- 
logrado Afonso XII, cujo filho 6 hoje a 
esperança inquieta da Ilcxpanliá c o tor- 
mento da jobre mãi c dos seus médicos, 
houve um herdeiro do Imperador Carlos V, 
que utilifou os longos ocio!», que llic dei- 
xava a sua irresponsahilidftdo governa- 
tiva , cm legislar sobre o numero de vi- 
brações que conviria marcar ao Iti do 
diapazão normal, o decretou atinai quo 
para o uso nacional do todas os lieapa- 
nhns o ld não contaria mais que MO. pal- 
pitações da aza sonora do sylplio daliar- 
monia. 


já estará 'o mundo acautelado contra o 
•Jcseneadoiarãln nmb çào militar qtio com- 
põa o sou- velho fundo germânico, e que de 
tem|Ki« a tempos ro deixa entrever nos 
»ciis discursos singulares, em .guc, n'unia 
«alada nsperrina, o oleo do mystiei>nio ó 
cortado por uma.abuiuiniUc doso de vi- 
nagre marcial, sob a fôrma de espada dos 
líchemollern, Deus tios exércitos , et»'. 

Hoje da tripiicc alliaiiça bismaickiana, 
só resta o*Sr. Crispi por clianeeiler. Fo- 
rce* pouco... 

— Kmquanto na Allemanha o Deus dos 
exércitos tem um culto mais ardente c fer- 
voroso do.quc nunca, cm Fariz absolvo s; 
cm jury um Sr. (aicien Dcscavcs, quo 
aproveitou o tempo cm que foi sargento 
para escrever um romance em que pouco 
,llca de- pé do respeito devido a essa on‘Í- 
dado terrível, que ò na ívainiatle o cão de 
guarda dos robanlios humanos, mas que 
todos nós rniYcemos t’c considerar como 

0 corpo de levitas armados da icligiào 

da pntriu. 0 livro, que se intitula Sons 
Vfti, tsous-oilicicrsj^senào iimmescri- 
[ilor pouco conhecido, tinha siJo publicado 
a 5 ou G.COO exemplares : o processo ele- 
vou a publicação a c deu nome c 

dinheiro no sou auctor, c uma tal ou qual 
dcsntoralisarào á nobre carreirh d.it 
armas. 

Quem lê SóUS-O/ft, c lè depois aquellcs 
bcllos poemas da S^rvitude et graniteur 
milUairc,- tlc Alfredo de Yigny, pôde pen- 
sar que de 1830 para cá a visão moral dos 
cscri piores francezcs tem hnixado muito. 
K nào torh. A necessidade do csfciflwr 
alguma cousa de forte. que aUraia a at- 
tenção nó meio do borborinho cpsurdcco- 
dor da producçfio littoiaria nctual. obriga 
os cscriptorcj a estes destemperos de 
arte. 

No anno passado publicaram-se mais 
de quatorze mil volumes cm Fariz. qua- 
renta por dia em média. Faro ser lido o 
fazer dinheiro no meio de tal acervo de 
imprensa, é preciso ser processado ou 
chamar-se Zoln, Daiidcl, Ohnet, etc. 

1 K Znla que também escreverá sobre o 
.Ãu.silo.'.. 

IVomicio da Gama. 

| fA. 1 % 20 de março. 


Foi removido o juiz de direito Tliomé 
Afonso de Moura da comarca do Macapá, 
de 1 * entram-in, fora a vara da prçve- 
doria da capital, do 3* entranm, no Es- 
tado do Fará, ficando sem i lícito n sua 
dcsignacoa para juiz dos casamentos do 
mesmo Estado. 


foram nomeados: 

0 bacharel Joio Marciano Oliveira da 
Silrh. para servir d«* oflicial da dlrecloria 
gera’ ao contcnrio doTIienouro Naci ml. 
cmquanlo estiver licenciado o bacharel 
IVdrn Teixeira Soares. 

6 fiscal da emissão do -Banco do Brasil, 
barão de Farnnn, iacaba, paro fiscal do 
serviço de cmprediinos á lavoura no Ban- 
co dos F.»tados Unidos do Bro«il. • 

0 (Iscai dos empréstimo* á lavoura no 
Banco dos Estados Unidos do Brasil, 
Ur. Sylvio Romoro, para fiscal da emissão 
do mesmo Banco. 

0 fiscal da emissão <lo Banco dos Ixs- 
tados Unidos do Brasil, Dr. Antonio do 
A ranjo Ferreira -Tacobina, oara Idêntico 
logar tio Banco do Brasil. 

João Antonio de Amorlm. contra quem 
mandou o subdelegado do 1* districto do 
,S. José lavrar auto do lligrautc, foi 


Depois dessa graris-stma resolução, tic 
consequências incalculáveis para o fuluro 
lyrico da raça dos Gayarrcs, pouca hui-j 
sica hcspanbola ouvi: as zar/ucla* qilc se 
cantavam no Rio, ainda pertenciam no 1 
regimem antigo de menos ou mais de 910, 
c a Grau Via, quo tanto me atormentou ' 
os últimos dias que ahi passei, foi arra- 
nhada * soprada pelas orcheslras dos 
:aíés da rua dô Ouvidor, assobiada pelos 
moleques, marlcllnda nos pianos c bim- 
balhada nos sinos da Lapa dos Mercado- 
res, que a conheci. Perdi de vista a llcs- 
panha e suas cantigas, c a voz aspem ma 
dos caixeiros-viajantes liospanhócs que 
de Edimburgo a Ruma tenho encontrado 
no meu catniiilio.não poderia suscitar-mc 
scismas sobre a nova cslhctica musical, j 
sobre a renovação ly rica que o grande rei j 
promoveu. Utlimamente, porém. n’u ma 
redoute dada pelo Gil Dias. ouvi a Hc-| 
lena Sana cantor. K ouvindo a qnc dizem 
ter nulo collaboradora activa c pre.-timosn 
do lyrico succes«or de PhUIppc II. com- 
prehendi que não havia para reis ompre- 
zas mesquinhas e de menor valor. 

Habancras e peças sérias, musica ligeira 
o grande musica, o canto da Sar.z tem 
uma graça, um encanto especial, que cu, 
cm as ’.er contado rigorosamente, atlri- 
biio por sympathia ás 910 vibrações do 
/<i. E a passci.ir pelo campo das scis- 
mas, induzindo, deduzindo e concluindo, o 
desdém rehliro quo cu tinha pela llcs- 
panha atra/ada c inculta, acocorada a 
um canto do mundo, roidi de orgulho 
como de piolhos históricos, eiwjuanto a 
Europa proseguc m» sua marcha gloriosa 
para a Luz; esse desdem da ignorarei» 
mal batida, que 6 como um resto da po*ira 
das batalhas, dos odios seculares entre as 
raças irmãs, ia-se-me dissipando pouco a 
pouco oo vergastar dulcíssimo c subtil 
das vibrações do ld afTonsino. Desde en- 
tão já não me é antiplialica a Wèa de an- 
dar um dia pelas terras dos últimos mouros 
europeus, c quem sabe s? mesmo trocar 
língua com hespanhóes. Já nto impa- 
cienta-me ouvir tratar-me por tal. e ainda 
hoje um hcspanliol. meu visinho de mesa 
no restaurant, ourinêo-me fallar portu- 
gitez, veio apertar-me .. mão. declarar 
quo ellc também tinha a alma brasileira. 
<*, aproveitando a occasião. perguntar-nv 
so o cambio mV» descerá muito abaixo 
do 20, sem que ou me ollcndcsse per tal 
familnridadc. Vejam os senhores como um 
rei conquista amigos para a sua pátria, 
brincando. 

Imaginem agora > gloria que provirá 
para Guilhcrum lí. d.i infinita regula- 
mentação das comas aÜcmács a que elie 
se entrega de corpo c alma, e que v) o 
Clianeeiler de Ferro impedia de pôr em 
pratica. 

Assim, f«s<a conferencia internacional 
operaria, reunida em Herlitn a conviU* 
seu, cm qtie so vai prescrever o repouso 
dominical, a int .Tdicção do trabalho aos 
meninos de menos de lá anno s, etc., ete 
será trabalho de outros, porém gloria de 
Guilherme II. E quando a sacieJade d^s- 
w f- r \~j s ? humxnitarias vier. 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 867 


GAZSTA DE NOTICIAS — Quarto-'»! ra 14 do Maio do 1800' 


TUEouaaAs 


dz papiiz NMm m M imu ffizsr » * 

tt lmm m w l<i l~ *. »•?* t "*" < 

U» » -■ • — Sür |ís?rk5f^SK*y?ter*i mcocacrm, 


i 


EKSS 5 * 3 ^ 


fc^-Ver--- 

tsr— 1 


Ef- 


■ UfCU RACIONAI 


É& 

fiSb 




L= 


PONTÜOAU 


AVíSOS 


B» 

pãe s 

Ny » . 

•cít 


CAXA \fn T 7 


SM 


fftUCUHES 1 hMKi 


A VOLTA 00 BUNM 


mt 


ejz 

Er 

s 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 134, p. 2, 14 mai. 1890, 



868 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Fft Bf DAniV rfnifl», nn r.bcilta IndKTcrcnç» para eem 

XDiAm “CA fil Q Cm a agltaçAo doa quo mAo entenderam • 

A cninaradoidppiitniloi trabalha multo. ^n Trihn natureza, (pio en*lna a 
M nl no i Ato InifiAr iiotn do ipio cila faz. Inaiiblado de ledo o ei foiço paro rae.ipnr 
Hil o orçamento tem nn >im iIUoiimAd, nu- * abiorpçAo MaI, A dctlmlçAo, qim t a 
torla p#ro volume» de clironlen» enerlpUi rwompoil^A*,.. A» lel« mdlgai no» b»*- 
|u>r outro» qiionlto uh, Oi ndnlilrrlos d.i hrlA • Ho» oa contemplativo», a» lei» 
ítuorrn o dn niArlnlio, pop exemplo, que *I ,M ^ u< dlclou no alto do Sinal e (pio o» 
«bwrvom o mclUr doa rumina naciooac», «<rlÜA» hebroua «cisiveram na lira de 
o l«»oein nome do meda da AHutnanha, I orjjnuilul o cnrolmln dm dum ponto», 
(que ò a fôrma «Ingulnr qne revesto o pa- Wo comprida quo n'clla caberiam lodn» 
trlntUmo dc certos pollticra), forneceriam rogltai.x'» - » o outra» ccni ifzci mnla 
rleiiiento» para umn brlln pagina d In oampllcodaa utortiiAsaa.qtioiiqtil alo Vío 
GniYra Juinpinlro— npniU fonnldandn do l lC *' > rc»poito A paciência do leitor. 


canhão cngidlndo a riqueza, abiorvendo 
a vida do halo nni povo, olc., etc. 


— P.niqnaato Israel celebra a Intlallaçllo 
do «eu BrAo-robblno, o» ont -veniltn» pro- 


Ku Intilmo nlio saber f.i/cr d*oat«a eon- ,, ü llc ' n o 1 ' ,l| a cnmpnnlin furiosa contrn 
•n», o «cn obrigado n illm chnlnmcnte a» 0 l 1 ** rile» cliamani Uczerro de Ouro. 


noticia* ma!» relcvantn, II n trouxe* 
mouxe, alndn mal». 

— A«»lgualo cimo um doa traçoa pn- 


rnra o» c Metei do eomclho muiilcl* * 
pai do Pari/, qnp xo realbnrõo no dia 27 ' 
(1’ovlo me/, npreacntnm*ie algun» candl- ( 


rlwimo» dn paasaqcmda raran nlnia» lio- datoacom caio iinlco titulo— anil-toHliit. I 
no«tn» pelo nmo n u ulo Intilrnnicnle l^"Xnlo flrumont A frenle. Mn» n movi- j 
convertido á dmhoneatMade^ddilwneaU- mento contra oi Judeu* cm Kiarçi nAo „ 
da lo do coxlnme». do consciência, da ca- *■' nft Rn*»ln, an AHcnianlin, | 

plrlto, aiiwn/l.i dc cxcriipuloa moracmqn* na Áustria, ondo ainda lia tre» dia», oni r 
a rcprodneçAo frequentíssima do fortunas \ lcnnn,iiin ajuntamento dc cerca do 20,000 f 
(Ilegítima» parece ncoawlhar— audgnalo P 8 H Are * inradln e xaqueou variaa Ha» dc d 
eonin uni ea»n dc eonielc icta, quo n opl- negoelnntc* judeu», rem quo a pdlcla o s 
n Uo /T/i He $ AVfo qimlldea de Imieurn, o r"'dcivo Impedir. Socialismo, nnll-mml- • 
«nlcldlo do um pobre aImcIaiio (oi frnn- ^ ,mo ' nlldllimo, gcnerallsmo, lltiera- 
core» cli.iimun de aNaclano* noi allrmic» republicanismo, tanto nomo para 

com qiicni xympatlibum), empregado cm **prl n 'lr um «ú fundo de Ovacoatenta- z 
uma casa do mvticAre», que não tonllii-se nlí " 101 coni ° roncaria do mar con- ' 
na altura da aituarAo, que o pátrio, con- M pojma — uma fatalidade, lnfell* e 
tente enni os icus xerviço*, Ibo fiula na ‘^ c v “ n * wo nwla do qne nm liello, 
casa. Ksplrilo bunilldr, da humildade mi ,,n ' lncom[x>ravcl espccLiculo, que A o dn e 
blioie quo mJi, o» orgullw/o» o dcnhoncj- ®P* ( *Ç i 'o dn vldn hnin.inn e hcIaU 0 


to», nAo compteiieiidemo», nem mesmo 1’arlx, 12 de abril dc ItOO. 
qiiamln leino» na» | a^ina.» do Fios Snnrlo- lVmicio ox (Ixux . 

mui n« nnccditvx dm nlmas peregrina» 

q..c .Ao a pocila do cbristúmlrun, con- ,, c| . ncs ri „ |AlJo „ „ , do da 

Nioncla erystnllnadaom cncrupnlo e que Bmp„/a <le Obra* Puldlcn» no límall. 
oi vapore» dn .mibiçào nio puderam cn - <!!••• tratn do cataliclcciiupiitidciimac-.- 
turvar, c»»c lediro e grande Seliwob furou ,fala '!" melropolllniin de viação 

I. I».»» K Pulo n miln 


a cabeça com uinn liala dc revólver, lal- 
vex para quo o estrondo da ma morte 
noi/anidn do lorpor moral que noi trai. 
a todo» perdidos dc valJadr, do nmblçAu, 
•le inveja, do mama dc Inconsciência, que 


Avrea n'c«ta cipitnl. 

ESCOLA BAnÀO 00 RIO OOCE 

O eonuclliclro Manuel Kiancbco CorriM 
aelador do petrimonio d'e»!i o «colo, re- 


n» reze» k‘m deqicrtnmcntoi tio criic.t. »o'reii conceder u picmio dc j«^t a ipirm !*, 
Alma» pura», gentes que nAo tende» na enerevír o melhor tralmllio .obrceale d( 
voaáa limpidez dc coraeio, nem «uor de l 01,10 • Como tUvc /ar ai i/iuiisaihi entre 
i. |. . a melhor erro ia tirmtaria, viter 

e»cra»e, nem l»K.imn» de orphflo c dc „ UíUl txciutltm % ra A, 0 . 

viuva, nem c<r-c»li:hamciilo dc amor pro- o pra»> man ado para n apreaonlaçAo , n 
prio alheio, nlmn» lioncstnsc sem pcccado, do trabalho ú do Ire* nirzc*. a cantar, do . lf ' 

nral pol-i nobre rollnador donssuear, iinc '* ' lo i" nl,ü provinio. de modo ipic po». J, 

, „ . >0111 Cc ocorrer liinillcni a» pcitoas do» o, 

nno julgou-', rapaz de tcc dircrtor, ellc diverso» H» adus que o dczrjarciv. 


que Wo bem soubera s^r dlilgido ! 

— No dia 2Õ de maiYO foi a InslalIaçAn 
do novo gião r.diljino de França, o Sr. 
Zader-Khnn. Aeeremonla foi n» syna- 


0 traballio deve ser nprcumlwlo ao re- .q, 
ferido eoasellici ro, sem indlcaçAo do non c dc 
(l a amo r , u i|Ux l li f.i. a ' ou Mnr »e pai **- l «— -já 
men'eciu carta fechada. 

Para adiantar n dccitfio, o trabalho f 


gofja da rua ile la Vicioire, com a assit- ai»im que lór entregue »crá sujcilo A T | a 
tcticia dc todo o clero isiaolda francez. jpmmhaâo jolgadorn eompoiU do» Sr». ^ 

wrh- m c, 

beu o novo di-nltario judeu ; liouvc quim Josc de Menezes Vieira. Ml 

dlxciimx, canto* «apradoí (eõiosoorche». ói 

tr.v da (irande Opera) c o te/iher foi deveu- Recebemos um evcmnlar .da Pa/taral 
rolado. O aepiicrca taboa dali» biklica, Colleeiiva aiAicaada nefo epirco<ui|.i bra- í0 
cieripta »em poulos nem virgulas, nem «rielro c dirigida ao cloro o acs liei». ^ 
vogact (dizem), sobra um pergaminlio cn- (■:• 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


869 


roiuio uns uiim |<on[M, quo lera ccr.i 
metros de comprido, sobro setenta e cinco 
centímetros du largo- Dcscnrolaram-im 
lodo c cxpuzcram-i» aos olhos «la nume- 
rosíssima assistência. Fu confesso que I 
nfto sei ler aquillo (por humildade pura o 
confesso, quo ngera «lei n‘isto), niM sei o 
pouco mnis ou menos que alli vem prohi- í 
hiçOes da parte do Senhor Deus, «lo furtar. J 
:lc Inatar o etc cíiblçnr a’ mulher do pro- | 
timo, c que tãocidni as tres cousas que t 
mais ao fazem neste tmimlo. Kax isto pen- 1 
sar que Moysés não enteinlcn bem o que ' 
o -Senhor lhe disse no alto «lo Sinai, quando p 
roncara nquclla trovoada Ião forte, que >1 
todos sabem. Também parceo um ináo 
costume este que tem Deus, «te só fatiar 
quando ronca trovoada. Acabarão por 1 
pensar qul cite è gngO. O eazo é que hoje 
já se trabalha para syslematisar a lei 
biologica do egoísmo, para dar tira no 
dcsnccordo que suppõc-sc existir entro o 
mundo physicú e o mundo meral. Fu con- 
fesso hiimildomcnlc que n;lo sou judeu, 
nem lenho os corinis luniiuosos de Morses, 
mas acho que, « Deiispensar* assim n’a- 
quelte tompo, cllc já pensava bem. Nós 
somos mda duila a pensar d esta ma- 
neira, pmmptos a defender Dons sabre 
este ponto, aqui e no Drasil, por esse 
mundo. K quando formos para o céu, nós 
lhe prestaremos o grande Mrviço dednr- 
Ihc informações sobre muita cousa qur 
por aqui se tem feito do novo, que cllc 
ignora, por niaís que-digam os seus ami- 
gos íntimos c dedicados. 

Fxplicár-lhc-hemos Darvvin, a phlloso- 
pliia nova, o socialismo o o nihilisrt.o, nn- 
thropologia (isso cu ainda nãosol), a ele- 
ctricidade, o magnetismo e a historia e n 
Tratado do Verbo, Mas..scrà p/cclso que 
nfio morramos colo, para haver tompo 
do aprender tanta cousa, para que, postos 
no limiar doa Novos Tempo», possamos 
julgar o definir os' Antigos. Assim, porn 
o Tratado do Verbo, já o Pompcla tem 
quaii concluído o seu csttnlu sobro a Vi- 
bração Sonora. D'abi para a instituição 
philosnphiea do symbolo do Verbo Creador, 
só faliam as lheoriasdas articulações, dos 
signos, da vontade amorvsi e gestativa, 
a recomposição da mctapbyska c a theo- 
lia dosDeslians. Pouca rousa como veem, 
se quizer polantear simplesmente, escre- 
ver ou fallar como jornalista, por pre- 
sumpções, sem provas, ou com provas nn 
ar, não verificadas. Mas pira oxplienr ao 
&uhor a necessidade da concentração de 
todo o esforço, toda a Vontade Divina nn 
conservação da cascuda das leia por forra 
ineamo da transformação da sua exprev 
são— transformação salutar, quo dá a il- 
lusíodo novo nos volitlvos inconscientes— 
para pertnadil-o «te quo o renovação dor, 
symbolos e das formu'as só exprimiria 
tuna coma— a immoncncla do Absoluto, 
provada pelas variações— seria preciso 
um trabalho sério. Uma existência inteira 
não è demais. K ainda é preciso qne cila 
seja consagrada unicamente á observação, 
á experimentação', ao estudo Incessante 
da Imagem da Voz c do Signo. 


Coube-nos por Isso, ao Pofliptln c a mim. 
esta funeçãO qnasi levitiea de não escrever 
para o Jornal <lo Coinintrcio , e para a 
Gastia (U Xoliciat, que são o mais claro 
exemplo das cousas sempre as mesmas c 
sempre dilTerentes. Dtm ntbit huc oita 
fecil...t aoCapistrano. Não escrever, n&o 
quer dizer não trabalhar. Ao contrario 
—no maior numero das vezes escrevendo 
dcstrabalha-sc. 0 budhismo explica esta 
proposição aos fine», para quem escrevo 
tilo grosseiramente, tão ImmoJestnmente. 
O budhismo é a tbooria da preguiça su- 
blimada. Tempo virá em que todo o Ura 
til, tão profundamente predisposto para 
sentil-a, adopte-a, cultive-a com venera- 
ção, rceeba-a como religião. Da nossa 
bandeira prctcnciosa caslrar-se-ha então 
a palavra prOtfrtttt o nos eslngnareinoi 
nawutan. Seremos a índia Americana. 
Uma Inglaterra qualquer tomará conta 
de nó j, no» fará trabalhar para elln, ao 
superporá á nossa raça iUusHsalma, mas 
nos ficaremos sempre os mesmos, brasi- 
clros, preguiçosos, ilesprc.-ando os con- 
quistadores, os trabalhadores, os miserá- 
veis calcetas do seu estomago, pungidos 
por não sei que aguilhão mystenVso de 
idea!, oeçrimidnsMbaeargn dai soai chi - 
meras.camo ou viajantes dn sonho no poria. ] 
que vinham não «shiam de onde e iam a 
alguns destino, pois que uma ínvcr.ctxi 
ncccr, «idade de marchar os impcllia, ris- 
durecen>lo-os |ara retUlir aO|a-so da sua 
carga' esmagadora de sonho. Kmquantn 
nfs nes Unmolillsarenses. nos Idcratisa- , 


De Paris (detalhe) 




870 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Armo XT7T 


7* ir* •• 


Rio do Janeiro — Qmtnta-faira 80 do Maio do 1800 


N. 148 


GAZETA DE NOTICIAS 



(imu ufliui mu 


t. **"***"*• nweulMti 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 142, p. 1, 22 mai. 1890. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1 


CD SE PARBZ 


«i 

> ú 
|UC 

ny 

M)P 

lho 


Pnrlztem andado morno. 0< tcmpo- 
rac* dcscm a-Jcbidos lá |«clo sul, quo tanto 
tom amargurado n viagem presidencial 
enchondo, espoclolmcfllo par a clle, üo 
chuva o do sombra os plana» encantado», 
doí aóos de ouro o dos cèua do nntl, aqui 
chegaram a >b a fórmade nuvcus pardos, 
que nos peneiram cinza n’almn, quo noa 
enlameiam o caminho, quo noulralltam 
|«rft nós a* alegrias tia primavera. Com 
o Uillo lcni|M) dos ultimo» dia» da março 
o do» |u lmeiros de abril cila chegou toda 
faceira, vestida, ornada o perfumada de 
verdura o do flora novas. Apagou-se o 
fogo ma lnrciraa do inverno, nbrirani-so 
as jmiclh». Inauguraram-se ns roupa* 
frc<c**, começaram as excurwíi nos 
arredore», o bypodromo o o circo «lo Vedo 
abriram as portas o os tlicatros a pres- 
sa ram-oe cm annunciar os ultima» pri- 
meiras repmenUKflea tfa eslaçfto quasl 
a findar. Depois, destemperou-se de re- 
pente o tempo pclis llcspanbn», talvez 
para apagar cs ardores dos generaes II- 
berne*, que i*>r lá querem mudar de 
moda, política o ficámoi nó* do novo ás 
voltas com os defiuxoa hybernaea o com 
a trlitez» do céu rente com ns casas 
Nos retia uranla Já ao comem espar- 
go* c morangos tem|K>ràos, mos ò com o 
mesmo gosto cam quo »e comem uras de 
estufa em I.ondrcs, vendo sl rates da vi- 
draça cnturvnda pelo frio o céu cinzento, 
que s i desfaz em chuva e contemplando 
a iufiuita desolação da cttndo sombria, 
com a Interminável passagem da w»a mi- 
séria patinhando lugubremente no negro 
lamaçal das suas ru:ui negra*. Ha mo- 
mentos de uma lurvnçAo crepuscular, que 
| Oo vcuadocrcpo naa coatemplaçOea mais 
ritonbaa. As conversas travadas pela» 
cinco do tardo, quando ainda l»a duas 
bocas de sol por Iraz das nuvens c não 
se ousa accendcr ns lampada», tomam a 
ttota da boro descoosolad.i. K se ús vezes 
o que se diz tem relevo, f o relevo da 
sombra ambiente que dà vulto c valor, 
avivando a aresta das cousas. D*scc-se 
escavando n sombra, buscando o profundo 
enraizamento das cousas socíaes no pas- 
sado c no ainda menos claro «nUtroctum 
da Intclllgcncia c da* aspirações contem- 
porâneas. O que nos düi* claros consUUe 

uma simples otaerviçto pittorcK», a no- 
tação das exterior idades visíveis, em que 
mal a attenção pouso un» minuto, no* dias 
escuros ccmo este* represeota um slgnal 
dds tempos, traço caraclorístico, sym- 
bolo, que sei cu l-o rabo do gato. da 
questão soclologicft que slil ac escondo... 
lia dias cm que a gente sabe de casa com 
o ouvWo alngularmcnlo afinado p;»ra 
ouvir queixas do miseráveis, suppltcas 
do mendigos, disputai ü meia voz, que 
revelam dramas il&mesticos, com o olho 
desconfiado imaginando oxisUnelas ator- 
mentadas, reveladas péla mascara de 
physionomini communs, com unn |>cr- 
cojiçáo agudamcnle pessimista, quo coin- 
p9e um fundo do pMlosopUia,' Interpreta- 
Uva, lempèrnrln embora, i\lo menos sin- 
cera do que as que, paro se docunu n- 
tarem, e.xigcp chIuU-ocios Inteiras. N esses 
dias o que se oncolbe para oceupsçlo do 
espirito slo as questões mais compli- 
cadas, mas rcpcrcuticat, ms se póde 
Miiin dizer,- aquellús que nos levam mais 
longe pelas suas relações com o assumpto 
favorito das nossas cogitares. 

E Lvso n’um tom pedsntesco, que quanto 
mais se esforça por desprender •» c se 
fazer leve, mnis desgracioso parece pelo 
esforço c pela aíTcclaçJVo do so jnostmr 
superior no assumpto* 
vin.tn ,ia mareem esnuerda. encontrei 


os oiithu»la*mo» r.tphlo», paro u embria- 
guez norvou.i o mostra um brasileiro ou* 
vindo um dincur»'), do olhos molhados, 
euptlvo, auapeuso do. Inblos de um ora- 
dor. «I.evom-no dulll, dl/ 0 iicrlptir, * 
aquclle fogo ao apaga do repento o cllo 
lhos (lirõ que o qtto Miava 6 um homem 
sem valor.» 

Somos nòs mesmos, poio não somo* T 
K clrUlo que sejamos uòe... Kell -mento 
não somos só Isso. 

OSr. I.eclorc reunirá em voluino at 
suas cariando llratll. AMiuupti do medi* 
tnçáo proveito»* encontrarão nlli nem du- 
vida o» noaso» bonven» de espirito, que pu- 
zerern o Interesso nacional acima d, té 
susceptibilidades do nmor-|iroprio ferido 
por nprcciaçAoo não cógumcule elogiosas. 

— No «Pa 31 de ai»ril poc Iniciativa e sob 
a direcção do !)r. Uib.iuo Marcondes um 
grupo de brasileiros celebrou o nniiiver- 
sario da execução do Tlnulcnteo. l’ul no 
restaurnnt LApcyrovM, á beira d‘agua 
c i 1*1 ra do bairro lallno, n festa quoal 
Intima, um Jantar de vinte o tantos ta- 
lheres. A Cauta tlt Solidai levo a sua 
parte nos brindes da sobremesa . 0 seu 
correspondente representava a imprenia 
brasileira, embora cllo pcssoalmenlc fosso 
suspeito de monarrlilomo, 

Mas o Dr. Lop» TrOfJiO acabrunhou* 
do magnanlmldsJc ebamando-o de mm 
tthjno armou e nenhuma sombra de d %ln- 
tclligcneia enturvou n* claridades da f«! ; t4^ 
republicana c pairhtica» 

Tail/, 21 do abril. 

Doutcio na Gauaj 


Heunem- w boje no í.jrcen do Ar las o 
onieio* os clvcfca lalcrnos da Federação 
Upvraria* 


O 


(KO VI A XC lí OU Al.UIZIO AZUVUOO) 

1 

K* hem triste, In falllvel moa te bom tristo 
a M»rte dos vencedores (|ue continuam a 
batalhar. Parece que diminuem. 

Nu conto de iilusno óptica so pMO ter 
nto um certo ponto esto pbciiomcno. por 
i»so mesmo quo venccriun, que Vào su- 
blndo. galgando o c»|uço c distauciaado-» 
se da niultbláo. íasem-sc menores como o 
pnrr.no que vôn. 

Mas, piem do concurso do somelbantes 
ciicuinsbiiicin*, duas outras Cautas inci- 
dem tiara aUcrnr-lbes o valor liuurativo. 
São; ilc uma parte o acere jcI mo do exigên- 
cias que todo o mundo tem o direito da 
faier-lhcs. c de outro parte o cançnç» 
que induvUavclmcnto os deve invadir* 

Vencedor, o Alulxlo nío nodla furtar-se 
a esl a trUlc fatalidade. Parece que di- 
mlnúe, cada livro seu jiarccc inferior ao* 
primogênito*. 

Hem corto qi 
a|«r fcl‘;oa o 
mancUta br 


zam os bra . 
lie* do ti-alMl 
amor á ar to • 
parA'dcsj»erdl<i 

nridaéo tropi-ortcuad . 

dlanto de espelhos; aòbra-lho resulto Indi- 
vidualismo C muita combatividade par* 
* inação preguiçosa de quem *c deixa ir 
ao i^iuanso da coerente. 

Mas. u aperfcfcoamentn quo m) lhe nol* 
de trabalho jxira trabalho, consiste txlo 
no modo do fazer. Kevcla-se primei ra- 
mchlc no Ima elaboraçim do conlimclo 
an qual presido »m melhor wiulubrio o 
uma melhor distribuição de partes. K re- 
vela so depois rui linguagem, conslantc- 
mcnic acamitiUando-se para a simplici- 
dade que óo supr.i»ummo do ideal. 

AÍóm d ‘esse progresso, muito natural o 
logiro cm quem trobaHl* conscicncioía- 
mento c prozura, por cxmspgitlntc. conhe- 
cer todos os segredos do sen uflieio, nada 
mals.»c encontra par*’ nulhor nos livro» 
(jue -vai publicando com a mui eterna per- 
severança de grande obralro. 

Incontestavelmente o preconceito de es- 
cola. é um dos «eúa maiores defeitos. 


ia- 



am 

;fto 

in- 

do 

ra. 

im 

fc- 


assiin duter,* aqiwnos que m»s «v«m *»-.» 
longe pelas sua» relancei com o assumpto . 
favorito das nossas eogitaçOes. 

E UsoA’um tom pedantesco, queqnanto 
mais se esforça iw desprender-» c m 
fazer leve, mnis dc»gracioso psrtcc pelo 
esforço c pela atTcctaçAo do sejnosUar 
superior no astumpto. 

Vindo da margem esquerda, encontrei 
hoje o meu mendigo da ponto do Car* 
roussol com «m nr do sollrcr do mais 
com os aguaceiros tocados do vmlo que 
lhe fustigavam as faces. Estava ientado 
nocliáo, na lama, cncortsdo ao j>sropcUo 
c Unha uma grande miséria no olhar o 
na voz tremula. 

As sombra* vsgss quo mo andavam 
rondando, condcnsaram-sc c mo Inva- 
diram então. Achei uma ironia o soberbo 
Apollo de Mereió, qus orna a fachada do 
Louvre, em freute. 0 galope alado do 
Pêgsso, a elevação divina do poeta, coma 
entenderá isso o mendigo assapado na 
lama, llrllonlo andando pelos vinténs 
d>* transeuntes menos absortos ou menos 
pobres ? 

Kd sbl para pensar cm destinos da arte 
cm dcjlgualdadca forçadas, ari*tocratis- 
mos falsos nn vida social, cm cousas que 
n5o cabem n*uma cbronica de 1’atiz não 
foi preciso mais (empo do que o que so 
gav.a para ir do Louvro á Ilibliothcca 
Nacional. 

A Ribliothcca Nacional lera um matiza- 
do rodapé do cartazes eleitoraes, de can- 
didatos so conselho municipal quo fazem- 
lhe uma barra de profusões do fé política, 
instruetivas p-arn a historia de Pariz mu- 
nicipal como ns InscripçOcs encontradas 
nas ruinat, quo mostram aspectos par- 
ticulares da vida de civilisaçõcs moi tas 
Nio tratarei das cleiç3cs mnnicipacs tam- 
pouco, que ú assumpto largo domais o 
quo nem ao menos nos póde servir de 
licçâo, porqno o nosso Município nada 
tem de Município europeu, senáo o nome. 

Em ensò, no Jonrnaf tlts Dtbalt o 
comoço de um estudo do Sr. Max Leclerc 
sobre 0 ctpirito publico, o ettado social, 
ot costumes t as inttltuíçOc» do Brasil. 
OSr. Max Lcclero esteve no Rio de Ja- 
neiro multo pouco tempo para poder do- 
cumentar profuínmento a sua opinião 
sobre nós c as nossas cousas c os quenio 
pensam como cllo podem valer-se d isso 
para contestar-lbo a auctoridade e a pro- 
cedência das apreciações, ibs os que 
pensam como clle, os que conhecem senio 
o Brasil, ao menos os brasileiros bastante 
para sentir sonüo definir 0 caracter na- 
cionsl ainda pouco acccntusdo, esses 
acham qnc o Sr. Leclerc viu mais em 
quarenta dias de residência entre nós do 
que tantos homens de espirito, estran- 
geiros que alil viveram longo tempo ou 
dos nossos que nos dirigem que no* que- 
rem emprestar qualidades c defeitos qnc 
não temos. 

Severo, sem dureza malevolente, inle 
restado por n«'»s como por um coso svmp.v 
th ico na ví-.la das naçTxs, o joven red actor 
d.vi Mali escreve como quem fa/. un» 
estudo com a maior Independência de ©»- 
pirilo. Ivso fjz quo no seu artigo derta- 
quero-te, no alto d * paragraplioj, pra- 
poiiçôes de gravidade d'c.'U>: <> NaJa 
mais raro do que i:m caracter n este pai/. 
«Por uma consequenela fatal da csc:.v 
vidáo* a família não «a a ccllula • 1 ckl.* 
Para a ilocuRKti{}*> de cada unrt] 
dcllat seria necessário um artigo de re- 
vista. PvP i'SO o Sr. Leclerc nüo discute. 
•íBnna. E qucradirciitir, coms-’go m?*ov> 
verá que clle tvia razão, t ni sí traço de 
nofso taf.clcr, que clle fx^nnlítl-a. 
flcau-ae, da nossa IsdUiaic 


l 

log 

me 

cer 

me 

n« 

sc\ 


de 


f 


871 


De Paris (detalhe) 



872 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 







? 2 . 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


873 


DE PARIZ 

A Kranito manlfrslavan lnleina«!o"»l 
•oe|«ll«ta gorou, Au tiiçarani lauto *«nt 
rll.n. Ilacr»m Unto ruído em tiomo <loao- 
rlalUino, da rvtlnmftçõM do proletariado 
qur A Infamo capito) ««plori, prepararam 
Uo lulnnclorame.ilo tllvi/tu, bandeira» 
niArcniAin rom tanta pr«»'U'o o que ileto 
rlnm ÍA/i-r o» (entea do mllliarva dn ma 
nlfndaçõe» na graúdo Jornada da rcdem 
pção do trabalho, quo a maiilfcstiçAo ficou 
«m programnia. Ila cortna festo» cm que 
o» progranmiM são o quo ha do melhor 
No dia I' do nulo o que houve do molhor, 
foi um elemento com quo oa manifestou» 
te» parcco quo não engraçam— a tropa 
chegou prlmelio noa logarcs onde osanar- 
chUUu poderíam hrllliar o Impediit-lhet 
o caminho. Ouno havia multa tropa e 
multa poeira (ín/la um aol llndlMlmo, e, 
para quo a (avaliaria não csooi regara, 
não Irrigaram av ruaa n’e*«a manhã), oe 
manifestante» foram pa* selar pelo» arre 
dorv», quo Ja estão multo bonito* n’e»to 
tempo. NAn foram muitos o* opera ri»» quo 
tomaram folga n'me dia o, mesmo quo 
todos ic reuuiaram na praça da Coneor 
eia, vinte mil homci* dtwiniudos não po* 
«leriam resistir ao prlmrlro encontrão da 
CAVAlIarla. Dcsnppartcldu a e»| «rança da 
manifestação operaria, contentai nm-sc o» 
curiosos com a manifestarão militar— mais 
de sessenta mil homens armados (trinta 
o quatro mil da guarnição de Parlz c vinte 
o sote mil emprestados polas guarnições 
vUlnhaa), contra a curiorídodo do pari- 
siense dcsoccnpaJo. Os que ic approxl- 
maram de mais, levavam do vez em 
quando um pescoção, um pontapé ou um» 
pranchada... da policia civil . A tropa 
apenas impunha respeito, e do tempos a 
tempos a cavallaria dava um passeio pura 
OHpoIrcccr c para augmcntnr a poeira 
Houve ainda assim cerca do trezentas 
prisões, tiros do revólver, punhaladas c 
outras cousas mínimas. Mas para uma ma- 
nifestação que só pela ameaça fez com* quo 
as ruas ficassem desertas, »s lojas fecha- 
das, os omnibu* vasios, (c Deus sabe se è 
cominum, um omnibua voslu cm Pari/!) 
uma manTostaçãe que obrigou as donas dc 
casa a so surtirem dc véspera, que fez 
tanta gente sabir de Pari/, que fechou os 
Ihcatios c logaresdc ronnião, quo poz a 
cidade u’um melo estudo dc sitio, foi pouca 
cousa. 

0 quo não foi pouca «musa, foi a npre- 
scnt.içAo n eam.ua dos deputados, dn pe- 
tição socialista pura a decretação das oito 
horas dc trabalho diário aos operários. 

A delegação operniia compunha-se dc al- 
guns deputados c dc delegados das câma- 
ras syndicacs dos vários grupos de olll- 
cios. Mas, para que cllea entrassem pacifl- 
canjente na secretaria da câmara, foi pre- 
ciso pôr dc promptídlo c cm armas, ses- 
senta mil soldados. Jato dá grande valór 
moral ao acto. Subindo os degráus do pa- 
lácio Dourbon aqucMe punhado do homens 
obscuros c quaai ; unnymos pensaria tal- 
vez que a sua ascençãocra a do socialismo 
triumphnntc. Ainda não, mas perto está. 

K os clubmtn, representantes da moci- 
dade rica por herança, que guarneciam 
as sacadas e os terraços dos clubs que dão 
.vibre a praça, bem po»linm cuidar da de- 
fesa da sociedade antiga, gnrantidorn dos 
seus fcli/ca ocios, estudando a cxacfa fei- 


InuUIMade ou uatorvo. Ku snu por iho- 
noa volante», nm» raijionM.el».. 

0 Nr. iMimnlo IVn.io imo «uivara a 
patrlai acra uma •'»« soas honras o mu 
dm «ou» uo ii» adviijudos no «itraugelro 
A »ua longa deiuoin por cã, uAo deihra 
»ilolrou-o. Todo» na quo lhe nitram 
ca»», pâdcm ver pel «a livro* do quu «tão 
ehcla» av »uas •»l»iilca, quo o llranll ó 
principal objocln dos acua eitudo». Haro» 
•ãooa que na tdro em tão gramlo numoro, 
raroa conhecem tão mluda c tão larga- 
nu nto a» cousas da nua torra. K irv> 
uoia cultura ogniata »*»sn do mu essplrlto; 
não aão Rom» solitário», de pura contem- 
plação, aa leitura» do Sr. Prado. 0» quo 
a «lio recorrem para InformsçV», para cs- 
ludoa a fa/er miíjio «sue» assumpto», pri- 
dem dar testemunho da »ua dodlcnção por 
tudo o quo nua Interessa— patriotismo a 
»ou modo; dlsereto o ruidoso, 

ma» tão tinem» como o quo toma outra» 
fôrma». 

No Braall os homens a» dm cultivados, 
são meiam dircctauiunto utilizáveis. Ku- 
ta-ac mesmo que, quiunio postos oni netl- 
vldad.-, , lios nno juittiilcani a conilauçn 
depositada no seu saber, na sua aptidão 
tiicorlca. Goicoirom pnratnc» llnscos vu 
rias drcuuiNinncias: o principal 6 a pouca 
idndo do Hrnsil corno uaçÜO. 0 espirito 
publico não eatá arroteado; cala Idéa 
para marchar cnroco do abrir plcndn, 
perdendo ti-mpo, dando voltas desanima- 
iloraa, qiinal desorientada ús rates o á» 
vezes abando a !a cm caminho. Ila além 
d'ÍMO a natural indisciplina dos povus 
novos, cnnlra n qual os homens do espi- 
rito, doutrlimrlos o conservadores nn 
fundo, não tèm roeu rans. 0 nphoiismo 
iPeste caso «'•ria: para gado novo, tropeiro 
velho. Velho, isto ó, não llieor iMa, in as 
versado prntlcumento nas in.mh.is o ardis 
da burrada, quo lho tocou dirigir. Um 
bom coiuliictor do foiir-in-huwl pelas 
alamedas do.s parques da Inglaterra ou 
daFrançn, perderia a cabeça, te lhe de* 
vem para guiar um troly pelas eapanta- 
doras estradas da Minas Ueraes. Com a 
estrada má, o gado lndo.il c a traquitana 
ingovernável, ia tudo psiar cm pouco 
tompo ao fundo du uinn barraca. Descon- 
tada a exugg.-raçáo do si mi lo, ó este n 
nosso caso. 

Dizem do llratil, que grande numero 
do homens Unos, d'.U|iielles que chamamos 
mais Unos do que uds, prcpai ani as mias 
malas para partir. Alogir-me essa noti- 
cia: quumlo tiverom partido lodo*, c o 
Sr. Kduardo IVndo estiver de volta com o 
penúltimo d'cltes, irei ou então para o Ulo, 
a vêr se faço llgiira. .. Mas verão que 
nunca so saberá qual c o p.-nultimo: ha 
tanto brasileiro tino e rttstincto ! 


Domicio da Gama. 


Pari/, 3 de maio. 


Koquo Oorrca da Trindade foi hontem 
apresentado ao .Sr. Dr. cheio do policia, 
com recomvn-iutacúi) do subdelegado do 
1* districto do Kngcnho Novo, que o 
prendeu anto-lmntoni, |n>r ter, na noite 
do 27 do corrente, penetrado na casa do 
residência do agentn da estação do Sam- 
paio o subtraindo diversas joias e pedras 
preciosas. 


FANFRELUCHEQ 

Ó CUVVA I . . . 

K' do mais I irra I estou vendo 


seus felizes odo«, estudando a caneta fei- 
ção da sociedade que aquclles homens fun- 
dam virtunlmcntc. 

— Para acompanhar o movimento da 
livraria frnncozn,c preciso uáo lôr inlci- 
ramente os livros quo são feitos por capí- 
tulos. D'cstcs hn sempre alguns que sáo 
csocnciaes ou que uáo sao mais Interes- 
santes para nós. Do Précis <U- yiogru- 
phie économit/ue do Sr. Marcei Dubois, 
rccentemcnlc publicado, o cnpitulo mais 
interessaiito pnra um brasileiro, 6 natu- 
rnlincidc o que trata da gcograpliia eco- 
nomica do Br vii I. I.ida e-sa parto de uma 
obra, que deveria ser feitn com informa- 
ções e documentos ollkiacs, verídicos 
e não verosiuu-is, ó licito dcscontlac do 
resto d 'cl la. 

0 resto d’clla se occupa com o resto do 
mundo. Mas, quem tiver lido o capitulo 
s* bre o Drasil, onde vôm informações per- 
fcitanicnti- phnntasistas, fatiando da colo- 
nÍ9açáo chine/a, c^mo dc um fado con- 
su minado, dc iue.v piora bi lidado da iiinior 
parte «hs nassas riquezas naturacs, das 
minas dc dininnntcs nos terrenos gran> 
ticos dc Minas Gcrncs, das cento c tantas 
refinações do assucar franoc/as na pra- 
vincla da Daliia «r nus rcgiúcs v sinhas, 
dos 0,000 kilometros dc caminhos dc 
ferro em eonstrucfilo, do chn do Parn- 
guay que exportamos, da, má qualidade 
do nosso café, que o* plantadores (o sabio 
professor da Faculdade dc Lcttras dc 
Parlz chama-os dc cafcleirot) desdenham 
dc melhorar, das más condições do nosso 
desenvolvimento tconomico cm geral, 
quem tiver lido esse capitulo descosido c 
falso, púde di/.cr que, a respeito do Drn- 
kil ao menos, em geogrnphin cconomica 
o Sr. ãlnrccl Dubois ouviu cnnlnr ogallo, 
mas nno sabo onde. 

Ku apenas posso altirnmr isto c passar 
a outras leituras mais dignas de confian- 
ça. O Sr. Eduardo Prado, porem, fez 
cousa mais positiva: escreveu uma recti- 
llcnçáo das infurmaçücs vagas do Sr. Du- 
bois, e poz algarismos precisos c docu- 
mentou ofllclacs no logar das falsas hypo- 
llicscs, dc pura analogia com outras re- 
giões tropicae», que os francezcs. mesmo 
da seienein oflicial, se habituaram a con- 
siderar como a expressão da verdade so- 
bre os nossas cousas. 

Representa isto um bom serviço pres- 
Uxlo â causa do Brasil na Europa caos 
fucturos estudos sobre es*a parte tão mal 
sabida da Gvographiu Economiea, ao mes- 
mo tempo. Não é, porém, esta a primeira 
vez que o Sr. Eduardo Prado mostra oc- 
enpar-sc com perfeito conheci mento dc 
causa d’aquiIlo quo mais nos interessa no 
estrangeiro: a substituição da incerteza c 
da legenda sobre os longínquos Iírasis, 
pela certeza c pela historia do quo temos 
feito c fazemos para representar digna- 
mente de povo civilizado. Nem será n ul- 
tima. Uma longa preparação pelas via- 
gens, que lhe predis>puzeram o espirito 
para o estudo mais facil das questões so- 
ciais, políticas c cconomicas por compa- 
ração, que lhe iriistrarnm as noçócs tini 
cousa», como as vinhetas fazem aos voca- 
bulários modernos, c depois um período 
dc repouso necessário para o assentamento 
das ideas o a sua npplicaçâo nn crítica dos 
acontecimentos contemporâneos, fizeram 
’o-Sr. Prado uin dos brasileiros, ei j.i pre- 
sença c hoje indispensável... no estran- 
geiro. Nós carecemos dc ter representan- 
h s da nessa intclkciualid.vJe nos centros 
civilisados, cm exposição permanente. 
Ora, ás cxposriçCk i concorrem sempre os 
melhores proiluetes. K eom o Sr. Prado 
dá-se ft circumstanciaconsidcr.i .âl de ser 
um protlucto gt-nuiitt. mente bnuik-iro. Os 
que o conhciMam cm .S. Paulo, pódem 
altetdar n |KT>i»tenri.« das sua* qnalida 
des iiitellcctnaes rcvrladaS d«-s-lc então. 
Aprrfciç-oii-as, porem, vivcnJo em terra 
estranha. */. 

H«je llie '0/(111 censura da longa auspi- 
cia e dizem que «-lie jwrtc. roinjr-hcn- 
dc-se a ii::(>uck;u-in di.s amigos-, a d.*< 
cm patriotas mV. Mais valeria que cllv 
|W cá «e demora*'»* ain.la. >l:i ti-mc-s bm- 
s.i* iios llt.o* »’.c sobra lio Uiavl, para que 
m-s*os i.ego; i .. (« r.-ain bem. Ma*, uma 
i •’>* no (.i, it.i'0 *cra »:i.l \»lo sinq Ki- 
j incide ou sei a uma (qiuiáo u.ot.v.ua.j 


De Paris (detalhe) 


874 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 154, p. 2, 3 jun. 1890. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


DE PARIZ 


tm 


A reoaca que Acou d» manlfcsUçAo 
operaria abortada, lol * gràn qnaal ge- 
norallatOa entro as populações opcrarlax 
ilot dopartamentto* do norto da França» 
a do alguma* cidade* da lleapanha • da 
AuslrU-llungria. O trabalho ln*urg«-M 
contra a txplovatfo do capital. 

0 polor do tudo tolo ò quo nOo são aa 
massas operarlni Intelllgcntca quo rocla- 
mnm n sua emancipação, n&oafto oa mala 
capnxca que protestam contra a oppwoalo 
du capital estúpido o tyranno. NAoi 0 
capital Intelllgonte aproveita aa apÜdSco 
quo oo dUUnguetn, pagaudo-as melhor, 
lufollzmcnlc, poròm, a Industria não p<Mo 
dispensar por enquanto a maaaa miserá- 
vel doa operarloe brntoa. K «obro esse* 
pobre» enganados da fortuna é quo oe 
agitadores nnarcblataa trabalbam para a 
perturbação da dnlomr 
A prceàáo contra o direito pela força e 
petoa rccoloa do prejuízos maloroa nfto r«- 
prvtcnta a vontade do operário. No en- 
tanto. na ínvaa&ci socialista* contra o dl 
rol to do propriedade vlo fazendo o aeu 
caminho, o quando a aoclcdado moderna 
Uver »ldo dtatrulda antea de ee conhecer 
meamo o ecu deatlno, dlrAo que foi a 
vonlado aoberana do povo quem detormi- 
noua mudança. A vonlado aoberana do 
povo, quo é tão iwüco voluntário e tAo 
pouco aoberano... 

— Haciiicoonta annoi, Fraoçoto Arago 
annunclava A Academia da» Sclcnclaa a 
dnciibcrta da pbotojrapblu.por Nlceplioro 
Nlepeo. 

A bjclcdnJe Franccza dc photogmpnla 
obteve da dlrcclori* daa Delia* Artoa, quo 
uma medalha commciuomtlva foa*o gra- 
vada c cunhada em honra do inventor 
d'cssa maravilha donoaao tempo. O pri- 
meiro exemplar d*caea medalha que aahlu 
daaotllcinaa da Casa da Moeda, foi entra* 
giio a Mllc. NUpce, bisneta do inventor, 
no dia do acu casamento. 

Do ha eineoonla annoi para .cá, a photo- 
graphia tem feito caminho. Oe aperfei- 
çoamentos d'c*aa Industria especial, quo 
toca oa llmltce da arte, pcrmitlom hoje 
conservar para or. mala varladoe destino» 
o eípcclaculo dc tudo o que um ralo do 
luz natural ou artificial toma vlalvol. 
A» placa» esmaltadas do aaea sonsibilUa- 
vela *Ao hoje para a aclenda, como para 
n nrte, onu.tllio maia precioso. A poeira 
catdlifcra das nebulosa* no fundo azul 
negro do* céu» nocturnos, o adejo da an 
(lorlnha frechando o capaço na suprema 
graça do voo, a manobra do hiatc airoso 
deitado sobre a vaga á pressão do vento o 
levantado a um golpe do leme como um 
cavallo adestrado que a redea guio, oe 
contornos de uma palzagem que a memória 
vai colorir á fciçSodns claridades de den- 
tro, o vulto harmonioso dc uma estatua, 
um movimento do massas populares toca- 
das pelo contagio do» eathustMtno* col- 
lectivos, a dcconqmslçáo de um organismo 
na podrhlAo vcrmlnoso, os forma» matc- 
rinc» c o mundo visível, *áo do domínio 
Ida photographia. Mas o intcre»*o »u- 
premoda photographia 6 o retrato humano, 
com as considerações que cllc suggcrc ao 
espirito dc quem anda em busca do que 
é mentira e do que h verdade. A falta de 
physionomia e a apparoncla inortade uma 
prova bruta dos retratos assim feltre 
desconsolam da realidade. Diante de uma 
photographia de artista amador, «ento-sc 
vivamento a necessidade da sympatbU 
que o traballio do artista coramunica á 
sua prodiicçáo. Foi entá) um reforço que 
a invenção dc Nlcpcc veiu trazer á arte 
cm vez de uma concurrcncJa perigosa. 
Quando nio fosie senão por isto, gtoria 


— Oe progroeeoa das Investigações 
•cientifica» tlm repervusaAea Improvle- 
ta». Quem diria que a legislação secular 
havia de cuidar do desenvolvimento da» 
exper lene las do bypnotlsiao o mngno- 
Uamo como de um perigo eoclal 1 A Itol- 
glca eomeçou a propôr medidas repressi- 
vas da curiosidade quasl viciosa que 
taei exporlenclas Inaplrnm. O tululstroda 
Justiça apresentou áa camaraa belgas um 
projecto de Icl, prohlülndo aos profanos a 
apresentação em publico de pessoas n»a- 
gaetlsadas ou hypiMjltoada». O hypno- 
tlerao do saláo flea prohibldo o a entrada 
doa ociosos nas clinicas dos hotpltars 
ospeclacs. 0 maU lutercssanto 6 que foi 
a academia de Medicina quem solicitou 
a decretação de taee inodldae. O charla- 
tanismo do feira vai sotfror multo, c cer- 
tos salOes ficam sem a sua dlstracç&o 
«•nadai. 

— Murreu o pintor Uubert-Floury cnm 
04 annos. Kra um dos derradeiros roman- 
ticos da pintura. Pintor dramático, do 
sceoas históricas violentas, do arrepiar, 
as gravuras dos seus quadros enclnamm 
do pesadelos os aomnos do multo p»bio 
vlnjnnU», que, antes de adormecer iTuin 
quarto dc hotel, Unha a contcn>p'nçãn 
d'aqncll.u co lus lugiibros, sliiUlras. O 
flllio Tony tom tanto talento coiuo o pai. 
K t moderno. 

Paria, 8 do inalo. 

DO VII CIO DA ti AUA. 


Deixou do seguir honlem para a fiu- 
ropa. como pretendia, o Sr. Manuel da 
Silvo Ponirs, cônsul do urastlem l-oiidrc*. 

O mnlivo dc adiamento da viagem foi 
enfermidade du Kxma. esposa do Sr. 
Silva Pontes. 

0 BRASIL NO CHILE 

No dia £0 do abril, o Sr. Henrique oe 
Barro» Cavalcanti, mlntalro do Brasil no 
Chile, foi alvo cm Santiago das mal* cor- 
ctir.es c cnlbunluaticas duntonstraçõc* de 
apreço por parto da população d'nquolU 
capital. 

A' 1 1/2 da tardo, umo commto»fto de 
cadetes rol saudai -o em nome da Kscola 
Militar, orando cm nome dc seus collega» 
D. Alberto Valdcrrama Pcrcz. 

A's2 hora» reuniram-se o» membros do 
partido dcmocrstko. junto â «tatua de 
San Martin, e o. Sr. Mnlarhias Cunha leu 
n rarta dirigida pelo dircctorlo no ma- 
reehal Dcodoro, chcfc do nosso governo ; 
trilaram em seguida o» Sr*. Antonlo 
Poupin, Avelino Conlnrdo c Curloe Alberto 
Cruz. 

Findo os diacurvo*, dlrigiu-íC o preaüto 
psra a rua do Ahumnda c destilou diante 
do hotel Oddo, onde se achava hoapídado 
o Ministro brasileiro ; não poucml-» Cite. 
por enformo, apparecer á jaiiclU, foi 
representado por sua scuhora * par seu» 
dou» secretario* que responderam As 
manifestações. 

J.a Epoca, de Santiago, dá na Integra 
O discurso proferido n'e«a fo*U pelo 
Sr. Cruz. ITel|f o ora»lor se congratula 
cala rosam ente com o Brn»ii, amigo liei e 
iiiicparuvd do Chile, pela revolução in- 
cruenta c gloriosa do 15 dc novembro, 
que classifica *o maior acontecimento do 
«cenlo, o evento de maior transcendência 
par» as conquistas do direito e da liber- 
dade.» 

O orador terminou com c»las palavras: 

• O poro brasileiro c seus prcecrcs 
moreeiam a liberdade c a republica, iwr- 
quo souberam conquUtal-ns eora sti» 
abmcaçÃo c seu patriotismo. 

- Democratas chilenos I Saudemos os 
Estados Unidos do Brasil, a republica de- 
mocrática que acaba do Icvaular-sc. se- 
rena c magc.sto*a. fazendo tremular num 
jramo dc oliveira a bandeira d» demo- 
cracia. c proponha mo-noj a cone.r.istor a 
nossa Uberdade olelloral durante a perma- 
nência aqui do ministro brasileiro, assim 
,como cllc» conquistaram sua indepen- 
dência, quando nossoj>avilbAo no ma#- 
laréo do Cochrane fiuctuava n f Rio dc 
Janeiro- Terminarei pedlndo-ro* um 
viva nara o Brnril o outro para o marc 
chal Dcodoro da Fonseca.» 

. Vm itAnnt ,1a mMfflA ministro braal- 


n l- 


Wj 
( I 
m 

7 . 
dos 


teto 

>rs. 

'ra- 


os 


Quando nio fosso senão por Isto, gtoria 
lhe seja I 

— Um actor do Odéon, o Sr. Nnmn, 
encheu a impreosa pariziense com as 
suas queixas, a pioposito de uma arbitra- 
riedade que commcltcram para com cllc 
no exercito. 

O Sr. Numa 6 um honrado cabottn, que, 
tondo feito um anuo dc serviço militar 
em que se distinguiu , aspirava a»or ofli- 
| ciai da reserva, paro o que submetteu-sc 
ao exame do rigor. Andava muito espe- 
rançado, contando |á com os acus galbc», 
quando recebeu a communiençào dc que 
a sua proflasio tornava-o •incompatível 
com o estado d* onicial». Percebem os 
senhores o abysino classificai i vo? pro/lt- 
táo de saltimbanco, tilado de oflicial-. 

E para chegar a estes rctullados dcscon 
certnntcs, correram tantos rios de sangue 
de Unta de S9 para cã I 
Felizmente, deputo de empregados mato 
i alguns litros de linta, depois do parecer 
da commlssfto de Inquérito, nomeada pelo 
Sr. Freyclnet, para estudar o eav», o 
Sr. Numa será alferes, como o Sr. Balllet, 
seu collega do tbcatro Fraucoz, ê tenente 
da reserva. 

— O negocio do syndicato dos mcUes, 
que fez Unto barulho quando o dlrector 
do Comploir rCEicornptc suicldou-se, e 
que produziu uma pequena crise bancaria 
na praça do Pariz ha pouco mais dc um 
anno, tom ogora o seu desfecho no tribu 
nal da policia corrccional . Os Sr». Secrétan 
HonUch, Laveyasièrc, Jouberl e mali 
trinta c tantos alminlstradorcs e accionis 
tas da companhia dos meta cs compare- 
cem á barra do tribunal, accusados de 
abuso de confiança, { dlstribuiçAo de divl 
dcmks fictícios), colUgnçào coramo clal 
monopolio. 

0 prceesso será longo c os accusados 
não serio mal defendidos. Tanto mais 
quanto a unica cousa que faltou ao seu for- 
midável syndieato, poro scr uma empreza 
verdadciramcnlc honesta, foi o bom exilo 
(Telia. O Sr. Sccrclan, para attenuar a ac- 
cusaçAo de ter querido concentrar nas 
mãos de uma companhia toda a produc- 
çAo de cobre das minas do mundo inteiro, 
disse que a sua tençio era deslocar de 
Londres para Pariz o mercado dos metacs. 
Ello podorin ainda dizer quo essa tenta- 
tiva do monopolio nfio fez mal senão aos 
que a promoveram, e quo o bem que ella 
produziu não *o pòdecalcular. Com e (lei to, 
pelos cento e tantos milhOes que alguns 
capitalistas es peculadores perderam n'otsa 
empreza, quanta eompsnhla de minera- 
ção em rui na levantou-se, e quanta gente 
viveu com a elevação do preço do metal 
Que o defeito do plano de Secrétan es- 
tava no seu proprio objcctlvo— a melhoria 
do preço. Quando ello começou a eontra- 
clarcom as companhias de mineração, a 
libra de cobre custava 70 ou 80 cêntimos. 

E jogando com as acçües das primeiras 
companhias, enja producçio eito mono- 
polisava, ainda ganhou 12 milhões, dizem 
uns, oito milhões confessa cllc mesmo. 
Mas» quando cllc chegou a firmar con- 
tracto com 37 companhias e a dlspôr de 
ISO milhões d» toneladas dc cobre sobre 
£20 que produz o mundo inteiro annual- 
mciitc, o preço da libra do metal sc havia 
elevado a dois c meio francos. 

Secrétan perecia jogar contra Sccrclan, 
v Secrétan rebentou, o Denfcrt-llochcrcau 
quebrou a cab.va com umtliro, e o Fiçaro 
mentiu dcscaradamcntc, para esconder 
esse sniddio desastroso, e o Comploir Ut 
EzcoMipfe.compromettido por 175 milhões, 

| foi assediado muitos dias por longas filas 
dc depositários, quo iam buscar o seu di 
nheinç e o Augtlui, de Millct, foi ven 

1 dido, para a America, por 6UJ.OOO francos, 
cm kltoo que Interessou no mundo in- 
teiio, o hoje o Sr. SccréUn, que tiuha 
tudo 0 que (4>ie ter um rcl da finança, 
mal tern com que pague o advogado que 
lhe assiste na ultima setoa do drama dc 
uma ccpccntoçào infeliz. 


leli 

ftS 

c 

mli 

chi 

um 

pal 

gu> 

Bi 


875 


De Paris (detalhe) 




876 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 167, p. 1, 16 jun. 1890 








DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


877 


DE PAE3BZ 

0 projecto <!o lei eontra a Imprensa foi 
rogoltado na cnmara Um dopulados, por 
317 voto* contra 180. lira um resultado 
previsto, o a <11 «emulo, qiiast pm formula, 
n&o llnlia o Interesse da* questões poll- 
tlean do solução parlamentar Incerta. 

Apeuaa um on outro dlicurio em qu§ o 
orador «o desviava do assumpto vorda- 
dclro, para rsludal-o do mala longo nas 
suas filiações o consequências. 

O discurso do Sr. Paulo Deschaoel, logo 
no primeiro dia da discussão, foi o mais 
Interessante J o todos. O joven deputado 
foi alumuo da Escola Normal, ondo lavra 
a Irrevcrenda critica destruidora da lo- 
gonda liberal do 1880. 

O ponto mais intereasanU do acu dis- 
curso foi o quo mostrou o corpo das Insti- 
tuições republicanas fundadas pela grande 
roYOluçio, como sendo o mais proprlo pnr.i 
servir á tyraimia do primeiro avonturelio 
feliz, quo so aproveite do uma criso do 
descontentamento popular para, dentro 
da logalldado, satisfazer as suas ambições 
pessoaoa. 

Dlzom que o Sr. Paulo Deschanel, ex- 1 
tremsraonte estudioso c consciencioso, (ó 
illtio do instituto) não faz mais do quo 
um discurso por anno. Mas um discurso 
do valor do seu a proposlto da lei da im- 
prensa valo mais do que uma campanha 
inteira do leade i* de partido. 

— O comitê republicano nacional (leiam 
—o partido boulangistn) na sua sessão de 
21 de maio do 181)0 pronunciou a sua dis- 1 
solução. A der rota uns ultimas eleições 
para o conselho municiai de Pariz foi 
decisiva. O exilado de Jcrscy mandou 
dispensar os seus fidos o o boulaugismo 
começou a cnirar na Historia. AtUndendo, 
i porém, & circumitancla do que nas ulti- 
mas eleições ainda restavam ao malto- 
grado partido ccrca de 1-44.000 votos só 
cm Parlz, funda-sc uma Alliança repu- 
blicana, socialista, revisionista para rc- 
colhw-lhe a succcss&Q- 

Entretanto, da aventura, baulangistA 
llca uma conclusão pesada de cogitações 
graves. O ultimo livro de Eduardo Dru- 
mout tem umas bcllas paginas melancó- 
licas a icspoito d‘c*sa timidez da acção, 
contrastando com todas as violências da 
linguagem, do medo da morte, do amor 
obstinado da vida, da voluptuosidade dc 
sentir-se vivo sobre a terra, que é o 
grande sentimento das civilisaçõcs muito 
adiantadas. 

« Nlo é mais a explosão, o transbor- 1 
daraento de vitalidade que caractorisa as 
raças novas, sempro promptas, com a fa- 
| cilidadc de um prodigo que suppõe pos- 
suir urn thesouro incxgotavel, a gastar a 
larga, a dcspcsdlçar a vida. Em vez 
d isso, é um vitalismo dc ente cansado o 
gasto, um vitalismo sensualista, amol- 
lentado cm requintes, qualquer cousa dc 
parecida com a impressão do homem que 
se acorda dc manhã n’uma boa cama, 
contente por estar no mundo o rcccioso 
mesmo dc expôr-seao ar do fórac tomando 
tempo antes de so metter no banho frio. 

I Nas massas populares 6 puro instincto 
dc creaturas sem crenças superiores, 
animalisadas, amando a vida mesmo do- 
lorosa. Nas classes superiores, o instincto 
reveste se de um raciocínio mais compli- ] 
cado. Ondo quer quo entre a analyse, a 
faculdade de acção vai se destruindo aos 
poucos ; o habito dc considerar tudo no 
ponto de vista da vantagem ou do pre- 
juízo que d’ahi pôde tirar a nossa indivi- 
dualidado produz a impotência flnal. 


tom Inclinação, K a proposlto ilVxse 
caractor especial do espectador parlzlenio, 
um Jornalista obiorva que, quando n'um 
circo um domador molte n cabeça dentro 
da bocca de um leão, o publico arrepiado 
reclama, applaudo, tom gritos tio cxpnnto; 
mas, so o domador repelir multas ve sos a 
proeza, n&o faltará uuem dfcra nuc o leão 
é ompalhado 

— As nmlliercs pintoras obtiveram o 
dirWtn d« frequentar os cursos da Es- 
cola do Dcllas-Artoi o do concorrer 
para o premiu do Ruma. Não tardari 
multo (empo em que vejamos a Academia 
Invadida peloclcinenlo feminino, que sobe 
irrsslitlvoltnente. A transformação suciai 
talvez tenha ahl o seu futuro— nos ho- 
mens a Industria, a vida mais dlíllctl ; às 
mulheres o trato das cousas anuveis, a 
poesia, a arte, a fantasia, a contem plaç&o 
osthctlca, par.v quo tudo as predispõe. 
Mesmo nos estu los mais profundos, menos 
nmavolH, escrevem -so por essa» rovUUt 
artigos de luulliorca, quo muito liomeoi 
illustro gostaria deaasignnr, e conversam 
por esses salões mulheres diante de cuja 
intenigoocia sun pedantismo, sincera- 
monto elevada, desmerecem muitos dos 
espl-Ho» que são n admiração publica. 
Talvez seja a classificação das attribuiçõea 
da mulher na sociedade intclleclual o qu* 
nos fslts para a Instituição da nora ordem 
do cousas. E a experimentação, cada ves 
mais largamcnlo feita do elemento femi- 
nino nos trabalhos do espirito, parece que 
vai estabelecendo as bases d'cssá classi- 
ficação. 

— Ha quatro exposições abertas ca 
Pariz aclualmentc: dous salons de pin- 
tura c osculptura. uma exposição de es- 
tampas e gravuras japonezas na escola 
do Delias Artes o uma exposição de hor- 
ticultura. Do anno passado fleou-me ao 
tremor cada vez quo vou escrover de ex- 
posições. Acho melhor nio fatigsl-os, fa- 
tigando-me primeiro. Pôde scr que lhes 
faça um salon, quando tiver a cxprcsala 
do certas cousas um pouco cxquisiUs, 
quo quoro dizer sem escaudalisar nin- 
guém. 

— O Figaro de hoje publica uma tra- 
ducção cm portuguez do um inedioert 
soneto francez sobre a Beatriz do Danta, 
feita por i>. M. o Sr. D. Podro dc Alcaa- 
tara. Todos sabem o quo 6 um poeta 
amador, lias os estrangeiros bão dc cui- 
dar que é uma torrivel lingua essa em 
que n'um mesmo soneto pôde entrar ua 
verso. 

Tm dia fcllo, ÍMllro, na mantil «la vida. 
a par do outro 

Para o tnorle é oorlilha do M.bjnea mie louçã. 

Oi amigos do venerando imperador de- 
viam ser menos indiscretos sobre as suy 
faotasias littorarias ou então exigir 
dos jornaes a que coramunicarero os seus 
trabalhos uma rigorosa corrccçio da 
provas. 

— Foi preso em Havana o assassino Mi- 
clvcl Byraud. Vai scr o processo o regalo 
da imprensa cm Julho, quando a política 
c todos os acontecimentos de mais vulto 
se dão férias. E* verdado que os crime» 
multiplicam-se. A linha dos boulevarda 
exteriores é a cintura sinistra dc Pnriz. 
Jí não ha dia cm quo os jornaes não tra- 
gam o seu desfecho de drama, cada qual 
nwis terrível. São explosões da animali- 
dade sob as abobadas da civilisaçào— o 
horror são os echos c resonancias infi- 
nitas... 

Doutcio da Gama. 

Pariz, 24 de maio. 


Aquclle eterno interrogador de si mesmo, 
quo era Hamict, disse: "As còres nãtu- 
raca da resolução descoram aos pallidos 
reflexos do pensamento.» 

Considerando assim, este flm de Bou- 
langcr impressiona como o quarto acto dc 
um drama bem foito. No diá 27 dc ja- 
neiro clle era senhor de Pariz. Tropa c 
povo eram por elle. Todos os funcciona- 
rios estavam promptos a voltar-sc para o 
homem dc amanhã... E o governo ia ca- 
bir. Bem succedido, vencedor, esse fllbo 
do um homem do negocios, esse ofiQeial- 
zinho, que por tanto tempo viveu neces- 
sitando, poderia escolher o Jogar que mais 
lhe agradasse. Seria presidente da Re- 
publica ou grande condostavcl de uma 
monarebia; snbirla mais alto ainda se 
quizosse, caminharia a par dos ilapsburg, 
dos RomanofT e dos Hobenzollern ; teria 
mna situação que nunca tcveNapoleio III, 
porque, por uma cspecle dc prodígio, 
todos os pArtidos e todas as classes se 
reconciliaram sobra o sen nome ; susten- 
tado pelos conservadores e acclamodo 
pelos rorolucionarios, clle era abençoado 
nos presbyterios e applaudido nas oili- 
cinas. 

E o general pensou um minuto cm 
estender a mão para apoderar-se d’csse 
soberano poder, quo lhe estava pertinho... 
c teve medo. 

| Soussicr poderia decidir alguns regi- 
mentos a marchar c Gallifet ; cheio de 
odio, podia pôr alguns esquadrões cm 
movimento. Elle se via vencido, pernnto 
um conselho do guerra, e uma madrugada, 
ao romper d’alra, quando faz frio, viriam 
acordal-o, dizendo como a Rossel: « Meu 
general, é para boje ; ©pelotão 'espera-o.. .»• 

— Parece jgntf as toa rada», que tinham 
recomeçado ‘com grando espavento, irâo 
criarão raizes em Pariz. As ultimas cor- 
ridas dc quinta-feira já foram dadaa xkv- 
baixo de uma pateada formidável. A* ul- 
tima hora a policia tiuha probíbido a 
©ntrada dos picadores na arena e o pu- 
blico consWeitMS-se roubado, porque ver 
um cavallo atirado ao chão com o cavai- 
leiro, pela marrada de um loüro, 6 para 
multa gente o melhor do divertimento. 
Que afinal do contas as farpas doTinoco 
e os passee dos capinhas, para quem não 
têm aeducaçdo tauroroachica precisa para 
uprccial-oa, não são mais do que a- mesma 
.«turfe (os jornaes jã dizem asstm) repe- 
tida dezenas de vezes na mesma tarde. E 
0 parizienso, que pagou vinte francos para 
justar troe horas magoando as nadegas 
sobre as rogtiinhas estreitas c angulosas 
da que são feitas as bancadas, sem vêr 
nhigncm matar nem morrer, não póde 
contentar*«e com a vista do corteje c das 
reopas dos toureadores quo cila já riu 
tâlvee mais luxuosos na ópera Cômica on 
no Novo Circo e por menos dinheiro. 

Resumindo a cousa : feitas a sério, as 
touradas representariam uma aberração 
do gosto francez, qne em nada se parccc 
com o hcapanhòl ; como simulacro, basta 
um quarto dc hora para que o enfado 
venha. Os emprezarios das touradas não 
consideraram, antes dc arriscar tantos 
milhões, qne para o francez os divcrtl- 
mentok evotteos po^lem ter um aitractív-.') 
de curiosidade momentânea, iras nunca 
fnzendo concurrencia... aw f«at*efos ao 
campo, por exemplo. Parn tudo o que não 
• natural ou nã-» representa um esforço 
dc IiununiJadc iutclligeole, o fiauccznã-j 


De Paris (detalhe) 




878 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 









DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 879 


DE SPAfQIZ 

ftrasia»- lia pmyrto ta UI: a ta» entrslturte. 
Uaheiis: • Kito orlrasl*». IMs tines Ale» o 
o llraUI. A Arnu U úi W, 
r&m os ho<,*üorcâ do Uóm i um o»- 
tuJo-utll o. do progresso do algumas na 
conquistado espirito pnhllrn. Ennlnslsso 
o melhor csmlnlio a seguir para n propa- 
K»nd» ilu reformai que, por multo radl- 
“**• storegoltadaa uu es» me, como ab- 
•ordai. f. rnthi» lebretudo aoi loipaclcu- 
leac Tlilwtoi.OíiUuioi apostolo» de pouca 
fc. quo a menor contrariedade desanima 
o faz descrer da ana causa, aeonlar com 
o elemento tempo pira a formação doa 
eorrentei do asplraçõea, qao arrutani 
n um aenlido ou n'outro a mama fluida e 
Inerte cia pente humana que nlo proaa e 
quo obedeoei enalna aoi pensadores, que o 
tenUmanto soca! IncIU, n lavrar a terra 
o lançar n'illa a aemento dai aearaa, quo 
hlo do vlr colher ai geraç&es. 

Entra ao aooiodadea roguUt menta con- 
stituídas, em que todoa oa elemento»' 
aoeiaea aio dlterlmlnarela a funcclonam. 
noi nialminte, 6 quo ao pôde furor melhor 
etie oaludo o com mala árgumnça. 

Em Fran;a começa a Iraniparcecr naa 
prooccaipapSu doa progressistas, quo tio 
0 » quo nlo ao qiieiaaai a que agem, a ln- 
teaclo do deacenlraltaar a admlnlatraçlo, 
a governação nacional. 

lá no outro dia, tratando da discussão 
da lei nobre a Imprcnaa na camara do» 
deputado», roforl-mic a um loplco do dla- 
corao do Sr. Paulo Deicbaurl, cm qua 
10 auignalava a rontradlcqlo da ,Umo- 
eraria franccra vivendo aob o regímen da 
um» ceotrolisaçlo opprosslva, deapotlca, 
legado fatal da reteção quo fez o 18 Bru- 
mário. 

Agora t ulh projecto do lai, qao o 
Sr. llovelaaque, deputado paio Sena, 
envia á mesa da camain, para a reorga- 
nlaaçlo doa dapartamentos c doa muni- 
cípios da Franca. 

Na fundamentação do seu projecto o 
Sr. Huvelarquo cxpOe a neteaaldade de 
uma almpllflcaçlo da vida departameat»]. 
para que a autonomia municipal ao des- 
envolva pela rodnoclo Crescente dae In- 
tervenções da admlnlstraclo Central, 

Oa 87 departamentos (numero quo nem 
ai antigas dlfllculdadca de rommnnl- 
caçno, nem a necessidade revolucionaria 
de doatrulr vastlgloa do antigo regímen, 
destruindo aa províncias, justificam mala) 
oa 87 departamentos serão reduzido» a 17 
d» Franq» o um da Argolla. 

Ksars departamento», que aerlo desi- 
gnados polo nome das suas capllacs 
— lálle, Rouen, Rsnnas, Nantea, Bor- 
Jeaoa, Toulotise, lIontpolHer, MaraelIIe, 
I.yon, Dijón, Nsnry, ltolma, Pari», I.e 
llani, Toora, Umogc», Clcrmont— For- 
rand o Algor— terilo pouco mala da dou» 
milbSe» do habitante» cada nm, exeepçlo 
feita de Parla o Lllle, quo lem porto do 
trea milhões. 

Para • nora dlrislo departamental 
»ttendeu-se a troa cousas:'! popolaclo, 
A importoncla da» capitao» e ao systema 

^tó*mnit í , ^pEÃH?.^ i 2Pr.ffu^rIõ 
corpos 4’axèrello, indicara csaa dlviilo 
aoa estudos 'do uma rcorgaaUaçio admi- 
nistrativa, 

E' preciso qno „ Oig» qne a oppoitçito 
a osso projecto vlr! em primeiro Ingsr da 
adrolnlstraçlo quo ello modifica profun- 
daincnto, por excessiva. Assim os pre- 
feitos o snb prefeitos desapparoccm. Em 
eada departamento nlo flea senso um 
acento do oader executivo central, ouc 


de restaurações lin|ziailrrta puder» ui». 
|drar pola bandeira branca, rujo aban- 
dono do nada llioa serviu. fl aum, ao- 
monda de h/tl ilo ouro, uma vlalo do al- * 
vura o do oapUndor, quo sonha para 
morrer iiellol 

— .tenho do rocelur dona lirros aobr» 
o Brasil : at cartas quo o Sr. Xlna |js- 
clorc vaoroveu de lá paia o Journal da ■■ 
lMaii s a que mula do uma vez me lenho 
referido e uma viagem, qne atravoz daa 
noasaa vlnlo oi-provlnolas fez o Sr. Al- 
fredo Uarc, redactor do UrHH. K' um It-ro 
em dons volumes, ao lodo 1,081 paginai 
cerradas de Informações, qne nlo tenho 
tempo nem compoloncia para criticar. 

0 Sr. Alfredo llare, precioso collabo- 
rador do Sr. Argnllo Ferrfo n'esa» me- 
ritória ompreza do osorover um Jornal do 
Brasil para a deaattonla Europa, ò vlco- 
prcaidentc da 3* arrçâo da Socledailo do 
flcographla— títulos no meu respeito o 4 
minha eonflanca para o trato de aasiim- 
ptoe como rale. Diz o auclor no prefacio 
qne o aen llrro reenmiu-sj a esluilar do 
perlo o miudamoab) oa elementos d» vida 
econorolca do nosao palz. Aqtiellos o ’ 
quem Isto Interessa poderio vorlDcar ao 
alie o fez com vigor c acerto. Oa anuam», 
clsdorei do livro», que aio oa Jornalistas, .. 
s6 podem applaudjr empresas d'e»la 4 
que Já nlo alo tio rarai entro nds, maa 
quo por mnlto tempo alada nlo aerlo 
«ufllclmtetuonfa frequentes nem rocoui- 
mendada» demais. 

- Desde alguns dias acha-ae atracado 

ao olea Juoto A ponta da Ooneordla na 
barco que arrora o parlthlo hritannlco i 
liopa. No topa doa doue maitroa aa ban- 
deira» franccra a norte nmc rica na des- 
fraldam-se la hrlaaa do Sena o uma longo 
Ammula azul dracnrola as palarrna : • 0 
Bom Uenaagolro «. Na barda do stoop 
que tem o nome de llrralri cf Aferry, 
1’drtamoulb, lê-ao a Inscripção: » hllaalo 
Mac AU ». Um paaaadlco vai dovcáca ao 
barco. Na eamam preparou-ao uma sala 
com cadeira», bancos, um harmonlum. 
Versículos da Blbll», sentença» evangé- 
licas em francoz e iogloz cobrem as pa- 
radas. AU1 a* faiem confera notai todos 00 
dias is 4 horas o At 8 da saette para oo ' 
marinheiros c os pescadores’#»* diversas 
naçõe» o de tados oi portos, diz a bro- 
chura, seguidas da sllocuçõe» chrlstls 
com acompanhamento - da^ cânticos. 9 
outro KxercUo da SahaftK), de fúrm» 
aquaUco, quo bem aa poderia chama* j. 
da Armada da Salvaftlo. • :' 

Domcto na Qaau. • ' 

rartr, 14 de Junho. 


O Sr. I>r. Llm» Drummond, 1* promo- 
tor publico, lendo obtido por ccrtidio o 
teor daa nceessarisa peça» do respectivo 
Inquorlld policisl . apresentou qualao.. 
acompanhada d'asta certidão, perante 0 
Julto competente contra Domingos de OU- 
valra llenna Barreio, como fsicurao no 
nrt. no do codlgo crimioal, por ser • ' 
auclor do defloramento de uma orphi, 
menor da 17 annos, qno ao w-hnva -oh 
san guarda em um collegto do qus ell» 
se dizia director. 

IIUULKJ IMil Ull IJtls.s b 

Ante-honlcm, ás 4 1/2 hora» da InHe. 
um guarda d» atfandsga d'catn Capital 
apresentou aa 8r. Dr. llnnlolro Manso» 
5* delegado de policia, nma aanhom cs- 
trangi-irn. quo acabava do drscmkaroaf 
de bordo do uni vapor franosz, dliendo quo 
n mesma nenhor» pracissvi dor umfc 
queixa áaucloridarte policial. 

Declarou a queixosa quo se chamava 
Elvíra F.slcvlo de Fern«nde«,o qne rovidio 
om Montevidéu onde liquidou seus bens, 
ouc consistiam om ixodlos, os quact por 


sgonto do poder executivo contrai, quo 
tom o nome do oommisssrlo nsoionsl. 

• Eatc ngonte requer e, sendo necessá- 
rio, promovo a exccnçlo das leis da Re- 
publica, porém nlo toma parle nas doll- 
bíraçOos nem na execuçáo das deolsOes do 
conselho geral. D'etlo conulho cllo nlo 
poder! receber nenhuma Indemnbacto 
on subsidio, sob qnalquer fôrma ou pre- 
texto. As. suas relações com o conselho 
serio pôr Intermedie do presidente. Nlo 
lerá entrada |<ara assistir tis scssSen o 
tem a Obrlgaqlo do responder a todas as 
convocações que, para Informações, lho 
pqssam ser dirigidas pela mesa, junla 
exocutivaecommlssSéa do conselho. (Art. 

4 do projecto.)» 

Depois o auctor do projecto deace ás 
attrlbulções dos conselhos grrae», com- 
postos da membros eleitos na proporqáo 
do 1 para cada 12.000 hablUufles e que 
sd um acto emanado da metade mala um 
do» seus clcitorea poderá dorailtlr. Os 
conselhos geram seriam entio vordadelras 
eamarts departamentaes, dacldlndo do 
tudo o quo nlo seja de Interesse geral 
nacional c fazendo que, pela administra- 
ção quasl directa dos negoeios loca es, o 
cldadle complete facilmente a ana edu- 
caçie política c cconomica 

Para que fosse objecto de dlscosslo, 
seria necessário (jue case projecto fosse 
spresentado por nm partido o nlo por 
um deputado, per maia talento e mere- 
cimento que cllo tenha. A França forma- 
lista o rotlnrlra nlo se more ao Impulso 
de um sú homem. Eotralanto cllo nhi 
flea fazendo bela de neva ao espirito (los 
qne começam a achaT estranho que a 
Republica moderna continue a mo- 
ver-so a custo entre aa peias e òtpen- 
denclas anachronleaa de um podar cen- 
tral excessivo, mhidamento auctorltarie. 
Depois, da doaccatralisoçio á fodaraçlo, a 
distancia será mulki menor. K sd antlo, 
d'aqul a muito tempo, desappareczrá de 
todo o perigo da possibilidade de sos 
concentra de poder nas mios de nm sd 
homem, em prrjulao da naçlo franccra. 

O que lava a concluir qne os defeitos de 
fdrma alo em carteo casos tão prtjudi- 
riacs como os vicies de fundo. Em polí- 
tica, etitio, que todo» oa erros são da 
fdrma. . . 

— Ainda bem não chaga a Londrea o 
dnqoe de Orleana, íirve do sen caplivelro 
de troo mazas em Cleirvaux, jè correm 
boatos de q*e os jovens realistas querem 
recomeçar um» eapecio de lic>ulang1»nio 
com elle, oppondo a sua poIRiea c a sua 
pessoa ã do conde de Fariz. tilo beatos 
para experimentar terreno. Nenhum ren 
lista sério Iria seguir u pretendente con 1 - 
acrípto m> pela conaideraçSo da hvpotho- 
tka lupsdnrMade quo cila levantou em 
torno * st. como umo poeira da esean- 
dakt. 

Bauaa cousas, q>M so fazem entra Na- 
poleOM, n.to silo adntsaalvcls tratando-se 
le fltlios da casa de França. OsNapolcõei 
sio Imperadores de fbrtvna (como ror ca 
se dlzt, reis do avaro e da aventura, que 
jogam pouco para ganhar ludo. E. se 
no partido IwoapartüUa Vivlor poude 
leranUf-«c outra Jerwirmo, no r»r- 
lidn realista Os-W-aus não se loraataría 
r, nitra l*arl/, som desuierecer da flde- 
ItO-sIo des »--uí. Os rrsIMat ainda alo 
liomcns da tradiçAo e do n v>-ito . Quando 
o partido extin^iir-sc — C não edá I -ngc 
o «»n llm — n il. i railciro d»» saahadur s I 


De Paris (detalhe) 




880 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


«t'« M «iflM* 


Rio de Janeiro — Quarta-feira 83 de Julho de 1890 


GAZETA DE NOTICIAS 









* 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 204, p. 1, 23 jul. 1890. 







DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


881 


DE RARIZ 

^0 Oi trlMi piuhu' 1 . - Cuvia» Jo tlruj. 

u _ UHImimeolo oi Iribonaci do Jnry em 
Frinç», o em 1’arlz caperlelmente, ao 
mi »trira d« ume iadulgeiuiie jringular, 
exagerado, per» com o» accuiadc» do 
i» erlmee chamado» pnailonaoa, se prolcn- 
" rios» pbraseelogia moderna. N*o ate oe 
lo delicio# moí IraporUocla, que nào vaibant 
•- * *no»H»çlo de ame creelure humana, 
M,n *Ao »' explorações traglcai, d'ci«nt 
ê *"* R u ' 0 niaUdor Uca Uu oiorlo como e 

Ir tlvllma, o que, por ceoaldoraqüM larga- 

lo nirtito Intcrpretailvaa da ld mlrlcU. 
U kv * « Jurado» a alllvlar a penahdado 
» ou a desculpai de toJo o» accuaadoi. 
i- A» aluuUIçOoa, que tb um «caudato 
para a ld r para o ciplrlle do Justiça quo 
j. dero governar a sociedade, bendiriam a 

0 creaturai do todo o ponto indigna» da cl- 
i- cei^io que u lhes abre. Na uolte da 

* ml-cardin» (dia da feate daa laradetra»), 
a um * lo, *drfro e<qiiere-ae por fdra decaia 
a l)c bondo e pagodeando aem cuWadoj, 
A como quem te livrou por uma» lixai do 
s peio da mtierla de cada d ia, ootrando em 
» o marido duraooto tira-lhe » vida 

1 Ai faeadu; alguma» aomaáú depol» o 

• J«ry abaolre o aiuulno. 

a t ma proitliuta, furiosa por s< vir aban- 
| donada pio sou muniu dt enr, eape- 
ra-o aot> uma porta-cochdra e atlra-lhe 
. A cara uma tlgelada de vltrtole ; o ho- 

- roem, rt jm do» dona ollioi. cora o roalo 
j ora um ch '« !l MU pel» corroído do actdo 

0 ,crrlvtl ' morro alguns dia» depol», um 
a uma agonia Internai, que o» Jxnae» dea- 

- creveni : o Jurjr nbiolvo a crimino,». 

1 1"» prorardroenlo agora Um melbor 
i trcgueila. 

Um operário perdoa A aua amante im 
«lho prolcqtor, mas quando ao velho aem 
consequência rlla dá como addldo um 
moço qui Jxipmí di ta yrtoatu, aeeor- 
, 0 eluinc no raacho, que mala-a a 

llrot do revftlver: o clurae o uma bala 
quo cllc mettru cauleloaomcntc na pclle 
| da eabeqa tão attenuantci dc »obra |iara 
quo o Jur/ lho reconheça ura rafoimum 
i l '° cl *lpa o lhe Iníllja unia l«ve pena. 

. ura anno de prisAo ilmplea. 

Pelas provindas ha monos casos d'estcs 
I porque a província nio está Uo adtan- 
, tada cm criminologia como Parir. Mo 
■ tó i,a crime» são cruomeote ferorns e o» 
criminoso» aio o quo derem aor, aem dia- 
tarrea de motives uobres. eorao oi tribii- 
eaea Uo Inspirado» polo antigo espirito 
da punlçio, por honra da sociedade e po> 
defesa sua. 

Em Parir rarlas causa» impellom o Jis- 
rn-lo á indulgência. A impossibilidade ,|o 
homens ntrvoao e singelo, que o |i»Uictico 
do diee.urso da defesa e o terror miserá- 
vel do arcusndo commovcm— rtm era pri- 
meiro lugar. 

Depois, concorrendo com o egoísmo 
Inveterado ouevai araorieccnd» . -<-u 
«•«»• « i 'ft»*»at Ktixue » %<■•> (SCTll Jirc- 

ciso explicar isto), o medo da raspoasa. 
billdrd: dessa missão do jiiaUcciro a 
serio, que pido farer rolar doa bombtos 
do um homem a sua cabeça criminosa 
ou nio. 

Ela aqui a qiiratão: a incertera do di- 
reito do punir. Lorabroso. a escola ita- 
liana. Mausdcley, a pycMogia, a paiho- 
lugia criminal — thcorlas modernas atuo- 
lutamcnlo antipraliraa — concorrem prin- 
dpalmenlc para madiilrar n» nossas 
idóas nntigai aobre a ctilne. 


ahreiniontoe. Talvea nio soja a ingl» 
lona » derradeira,.. 

A promelgaçio da consUlulçAú foi 
aniiuoclada aqui pio» Jornar» com arli. 
goi exj,und».a wm cvijiu,. ,. .,,,. dcio- 
gradavv I», como lambem sem enthiiilssmo. 
Acharam-na.,, cenattiulçAo e, como sl 
diiJi. niuilo suaccpti, cl do rctonua». (daa 
por Itro do comas rog iilameah» • carta* 
coastilucionac» para serem reformado» 6 
qur ao tarem. Ino dia o mptlciigso Jor» 
nalistico, quo tom feito buctia de tanta 
carta Jurada ou accJaroad.v. 

Una artigo» asAio» e inexplicavelmente 
beitli do OauleU c de Libtrtt tiro pro- 
vocado rcprotaUaa em outro» Joruact, 
Im llaiullh- publicou um artigo do fundo 
cm que, para sor agrtdavol ao PrariJ 
aovo o republicano, iujuri» s nono vcn*. 
raodo cx-ltnpcrador. Ulzcm quo silo lira- 
silelroí ot Inspiradores d‘eaaas dxstoa 
contra o velho dcstbronadq. Ky sernprj 
pensei que respdul-o fa<U-B0l honrg. 
NAu ao bale em boroom cabido... 

Demão o» tiiiia. 
rarlr, ?8 dr Junho do 1890. 

Theatroc e... 

e iiuuio.l 

0 Sartl Ap, a engraçada c apparato» 
rcvtata quo o Dias Draga acaba de lavar 
A acessa, vai seguiu aa pAgadia if 
firm/epd, de gloriosa memorls. 

Como cllo lomon a poola, o Ioda» aS 
noilet o Decreto regorglto de oapectad}- 
m, que epplaudem com eolhqslaeoo. d* 
primeiro ao ulllrao quadro. 

Hoje repele-ae o Sarilho I 

uitao 

O aelor Norelll deu-nos ante-hontens, 
no I.yrtco, , Vero, a peça do Pedro Ciaty, 
«cripta em formosíssimos versos, 

A peça JA aqui foi rcpreaenlads, o que 
torna escusada qualquer aprcciaçlo. D»»- 
lar» recordar que o seu auctor revelia 
«pccbil empenho cm applicar aoihtalró 
aa moderuas Iheoría»^ y;\Q|adsi A tila- 
torla. 

Sob este ponto de viata, a peça pode-e* 
clianaar revolucionaria. 

O seu prntogonlata c apresentado cem 
as convenções, sem as fleções cora que 
costumam apparecor no palco o, grande» 
vullos da bisinria. 

A Iradioçio que anda agarrada ao nome 
dc Ncro sollro na peças rudes o pro- 
fundo, golpes. 

Vc «« alll o homem de preferencia ao 
iro|>rrador. o artista dc preferencia ai 
déspota sanguinário. 

Noveltl dá ao papel dc Ncro uma ln- 
Ixprrtaçio de primeira ordem. O» va- 
riados mati/ea de nm peramagam Uo 
cnaipUxo n ao mesmo trropo tio luglco, 
sio postes em relevo coro grandt bri- 
Uianlismo. A sceiia da morto t um tra- 
balho de grande obsenraçãb c «tudo g. 
de graúdo cITcilo. 

n «...111.. . rl I..AI . — — 

o notarei artista, ctiamaudo-o A acena 
repetida» veres. 

Os outro» artista» dcsrinpeoharatq 
multo regularmente os teus papel». 

O espectáculo terminou com uma co- 
media. que agradou bastante. 

IloJc— Ktan. 

s aa-umuca 

Msisuma ver sorã hojareprssentqts nõ 
Poljrtliesma a rovisla A llqmbli <• 
tanto tara’ agradado. 


ÍJA.ss nntigas aobre a culpe. 

Moa emlisra o determinismo nio foaie 
! bojo a pliilosqphla roíuanir. Ioda e sorto 
i do cscrupuloa rooiac» a rc»pcllode texto* 
du Icta, espirito de tela. deveres bumanos 
e competência axial, assaltariam a ccu- 
’ sckuicla do hnmcra cbamada n Julgar o 
! sou semelhante srgun.lo os pri aci]óu, de 
uma justiça que elle nào irnte. K‘quc 
■ nós vivemos n'um mán tempo pars a con- 
sciência: o (empo da reforma ou -Ia sub- 
; xtltulçio dos critérios, sm to>la a escala 
i das cousa» doutrináveis do Bem ao Bcllo. 

0 Hem aloda 6 menos Inteltlglrel do 
I que o Boi to entro a poeirada c o rslroude, 
a desordam das dcmollçOr» c roeonslni- 
eçio» da ira nova, qn» é pra desorientar 
mesmo o» espíritos bem oocamloliados. 
. 0 critério da Justice fot deslocado, e uns 
| dizem que cllo eslA de um lado. outros 
dc outro. E‘ mala provável que cllc et- 
, teje ao centro, como um cubo dc roda — 
xigem c apoio dos ralos todos. Ohede- 
' condo ao csqarite da eomparaçlo, é pre- 
cí-vo diapir todos os elemcnUn da vida 
• soelnl em iorho d'«»»e centro» por bem da 
{ dignidade e da ceoatrvaçAo da aocieladr. 

A corroeçAs dos deevio» d» linha a sc- 
. guir. a repressão das tentativas de des- 
truição individual On collcctlra, as puni- 
ções decorram d‘ahl (iomniaquuiUoianta 
como as multas por tofracçSes de conlra- 
tsx feitos por mutuo accArilo. 


Atlendendo A conalderaçAn da ronserra- 
ÇnO social, maia importante do que a da 
cousertaçAn de um Indivíduo, os Justicei- 
ros dos Iribunaes do crime não derem 
hesitar cm pronunciar a suppreasio JV.ro 
elemento periurbadx. Re um aentimento 
religioso 6 ncressario para descarregar 
n elle a rcspoasabilidadada annnllaçio de 
um liomem, o amor do uu proilmn. o 
respeito da exbriencla anelai, o culto da 
Humanidade A mats quo luiKúentc. 

A dcsculpde que o crime rui commet- 
tüo n'um movimento de pixlo Irrnia- 
tlrel nio procedo. Uni liomem ú uma 
vonlado aervida pw orglos. Tanto prior 
pra quem lüo sabe querer ou nio póde 
ieminar os sena nervos c a tua aaima- 
lldadc. As lelx aociaca devem ttr tão 
faiac* como a» naturaes. P. ninguém r«- 
^Uyia coniro o barril de polvora qucqjAlqt 




m- 

pretrntmtcs das classe* m.Vlíns qur r 
põem os jurys dss grandes cidades. 0 
resultado ê uma indulgência estúpida, 
que quasi premeia n brutalidade doa ln- 
s ti neto» animara a pretexto de lrresponaq- 
Wlidadc pssional. Se este estado de 
coutai pndtaso durar a volta & feroci- 
dade dos primeiros tempo» do boracm, mio 
tardaria mais do duas gerações. 

— Dout aeonieeimento» que só podem 
alegrar os corações brasileiros seguiram- 
se um aqui e outro lá com poucos dias 
dc intervalle : o reconhecimento da Itcpu- 
1,11o dos Balado* Unida* do Hrasil pela 
Kr.inçn e a promulgação da nova con- 
alitnição sob a qual viveremos d'ora 
avsnte. 0 rcconlicvimeuto da nova rvpu- 
bilra foi uma flncu dc n.içA , gecerose 
que a França nos fez. mesmo saltando 
pnr einu das praxe» e usos da plitfca 
■ ertuec ml. Mas agora que cila deu n| 


De Paris (detalhe) 



882 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anno XVI 


Rio do Janeiro — Boymnda-íelra 11 do Ayoato do IdOC 


W. 223 


CAZETA DE NOTICIAS 


cr* 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 223, p. 1, 11 ago. 1890, 


!i s niiiiir mm u 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 883 


los 

[QC 

tc, 

d« 

do 

l/r 

:Ho 

ide 

il- 

dc 

ntc 

ou, 

)— 

trs, 

est, 

m- 

lm- 

Ad, 

toa 

ing 

nos 

«lo 

lis- 

os. 

nta 


Dos 

116. 


DE PAR3Z 

Ilrionas ds «sntcrlMAl.— A profHsrfsd# 
frap&lcs.— Al lâdl»cTlçfl«» d» lk»;*icQM. —Si. 
Gailtera»*. 

Um projecto delel tendendo ao estabe- 
lecimento do Jury cm matéria correc- 
clonal foi mandado A mr*l da camara 
dos rioputados ha alpina dias. 

Asslguaro o proposta muitos nomes 
lllustrc* dos rarlos partidos o entro clica 
o barão do Mnrkaii. Paulo do Castagnac, 
o socialista DoUluye, etc., quo se Inspi- 
raram pi inclpaliiicnfo no sysfoma susteu* 
lado desde 1701 pelos mais eminentes erl- 
minalUtax. A fdèa foi adaptada no 
aiino 111 da ropubllea por Cdinbacèrós, 
deson volvida em 1830 por Odillon-Uarrot, 
accvita pela commUsAo rodactora da 
constituído do I848.revlsta a 13 de ni.tlo 
do 1003 por Jutes Kavre, Kmlle Ollvler, 
Darlinon, llênon e 1’icanl o Oimlmcutu 
reconhecida como sondo ds maior oppor- 
lunldadc polo gorernoom 1883. Fumla-so 
na aptidão maior do Jury para apreciar 
dclictos do que para Julgar crimes 

E coro cITeilo, um grande uumero de 
factos recentes mostram o juiz, pelado 
pela letra eslrella da lei. mtonMrto 
delinquentes quo a opinião publka ara^ 
oUtlarla e com razão, ao mesmo tempo 
que Jurys senti m entalis tas absolvem cri- 
mes, provados, a pretexta do circum- 
stancUs desculpatlvax, c Mo com evi- 
dente postergação doe princípios da Jus- 
tlça.* 

No Brasil, onde tudo está cm reforma 
ou vai ser reformado, peJe-so lis multo 
tempo a criação de trlbunaes de polida 
cornocclonal. Havia para justificar esse 
pedido farias razões, práticas ou não 
Entro ai praticas a principal era o tra- 
balho excessivo que dava ao jury o julga 
mento do delidos mínimos, que não con- 
stituem uma Rrave oITenaa social: era 
uma razão commodista. Entre as «Ao 
praticas, das quo mais calam no nosso 
espirito, estava o caracter europeu— 
marca de clvl Usarão— da Instituição da 
polida eorrecclonal. 

E' preciso que se diga- quo nom tudo 
o quo 6 altameato dosado de ctvilisação 
pddo nos sor utll. Torquo somos um povo 
quo nada tem do modesto, e qie que- 
remos logo tudo do maU flno, à meda de 
ParU e Londres, sera cuidar da prepa 
ração Indispensável a que, para a adopçao 
de instituições exóticas, 6 preciso sub- 
metter o espirito nacional. O que acon 
tece depois è aebarrao-nos mal a von- 
tade com «lias ou ellas deslocadas entre 
nós. Alada se ellts se pudessem manter 
a com o tempo ímpor-se c so accllmar . . 
Mas nós somos csscncialmenU reformistas, 
um povo ertaaça; que-.ao enfada rapida 
mente, porque não sabe pensar, nem 
amar, nem querer, * senAo por caprichos, 
de pouca dura. Por longo tempo aluda 
ensaiaremos Instituições, como um olurnno 
de musica muda da instrumentos, cui- 
dando qne encontrará um cm que toque 
sera aprender, sem uma longa educação 
da mão, do ouvido, da bocca... 

Entretanto não deveriamos onsalar 
aqulllo que os outros povos já começam 
a achar nàu antes do nós. A polida oor 
recdonal, como Untas outras instituições, 
fora da livro Inglaterra nio dA Uo bous 
resultados como cra dc esperar. Entre 
nós, que, sendo tão democráticos, somos 
tão autoritários, cila transformar-so-hia 
necessariamente cm Instrumento político, 
nrma de perseguições mesquinhas. O 
que a Uberdade Individual o conseguia 


inem, um trabdho quo guarda it sua 
marca, que lho garanto o direito á posse. 

Hn Nlómd‘Í4»o o trabalho, ns diligencias, 
esforço ompregadu para obter • perniü 
»âo ou as condições favoravcl» pua pho* 
tographar alguém ou algum i conta. NI» 
do Juatlça quo outros vonham so 
utlllsar da obra feita s-*m IndsmnUar 
trabalho quo ella Mitos. Os legis- 
lador** devem eontar lambem com o 
futuro da pbotographla. A*slm como 
está, cita não ó uma arto especial ; mas 
acima ilaa outras Industrias om progresso 
náo .v dlfllell predizer as enndiçõr* cm 
que ella o será I acrá um bello tempo 
aquelle em que os Nadar o os Pachecoq 
ligorarera nas collecções dos amadores 
como oo precursores da arto que então 
terá ns seus Ihnnsts c os seus MeNsoo- 
nlersl 

— Sempre peta cantara lu um roque* 
rliuonto da Sr. Kmtnattucl Aròne, Jorna- 
tlsta, rcdactor do Ptu-i* e coita borador dê 
outros jnrnaes o deputado peta Córsega, 
para que o sogredo da Inslrurç-to dos 
proeesM» crimes seja mais respeitado 
pcls imprensa. 

Isto a proposito deste Insupportavol • 
processo GouíTó. de que ba onze inczee 
traiam os Jornaes, com um luxo do infor- 
mações desolador. Ha aqui uma queitlo 
dos inconvenientes e das vantagens dê 
publicidade. • 

Parece questão ociosa. Aos lnt*rcsssdoi 
cabe o serem discretos ; aoi dl. -rotores de 
jornaes a repressão dos destemperos da 
ac portagem. 

O mais acrla coarctsr a livre acçlê 
da Imprensa, que 6 um doa inals uteis 
instrumentos da clrilissçáo, náo Unta 
pela sua aoçâo real, como paio seu pro- 
atiglo de legenda, terrlflco. 

— O Sr. Guillaurec, do Instituto da 
Frunça, acaba do ser nomeado direclor 
da Academia do Bellas Artes em Uorna. 
Todos conhecem o grande csculplor quo 
desde 1SÒ3 era membro do Instituto a 
professor na Escola dc Oellas Artaa ouds 
mats tardo «uccedea a Robert Fleury na 
direcção. Ultimanicnte dirigia os estudos 
artísticos as Escola roly tcchnlca c oc 
cipava no collegio de França a cadeira 
de estlietlca e historia da arte quo era ds 
Chsrles Blane. Publicou ulti mamente um 
bclio livro de ostudos do arto sntiga ca 
que nio flea abaixo do seu antecessor 
como critico de arte e em quo lh« è *u pe- 
rlo r em forma litlersrie. Talvez aáo caiba 
a outro a tuecestfto de Aujrler na Aca- 
demia Froaceta. 

E* dVIle o bello^ busto em mármore do 
Imperador do Brasil que Agurou oa ex- 
posição. No anno passa !o tivcmol-o 4 ' 
mesa no Voisln fazendo um brinde ao Tu*. , 
turo do Brasil artista. -'fy, 

— O céu sc desfaz em chuva ba trsé./ 
semanas. A parada dsde|K>ls de amanhl 
em Longcbamps repetir* o seu aspectK 
de visão de legenda açsndlnava/ bruma e 
blarõcs do couraças e relâmpagos de ca- 
pados e galopadas formidáveis passando 
entre vfrusde sguscelros cerrados. 4 

O progrsmma das festas do 14 de julho 
é o mesmo do ánno passado. 

Parlz, 12 do julho do 1890. 


Gs Srs. baráo da Vista Alegro e SilvV 
dnc Santos Psiva, fazenduiros ns cidada 
do Valonça. requereram ao Sr. governa- 
dor do Estudo do Kío de Janriro oa fa- 
vores concedidos pelo regulamento de 
IS de Julho, para execução do decreto 
n. 3074 de 1SSS. 


os títulos dos «'eitores do Nictheroy 
entrepara-se aos domingos, na lulcudcn- 


tao auioruarios, ena usuuvoinh^n-umi 
nccessariamento em instrumento político, 
arma do perseguições mesquinhos. O 
que a Uberdodo Individual o conseguin- 
temente a dignidade nacional perderiam 
com Uso é incalculável. 

Pareço que as coinmodidadcs c o bom 
estar dos jurados não podem compelir 
com considerações d'csta gravidade. Alóm 
do que, é predso reflcctir que não vale a 
pent», quo è mesmo ridículo adoptar uma 
moda quando já cila csU cm vespera» 
do scr mudada... 

— Outro projecto dc lei apresentado à 
câmara pelo Sr. Plitllpun sobro a pro- 
priedade artística encerra ura paragrapbo 
qne ò digno dó i-eflcxão. 

Kefcrc-sc cUo a uma parto da questão 
da propriedade artística que só agora co- 
meça a interessar aoe brasileiros, mas 
que nio seria mau regulamentar om- 
quanto náo ha interesses em Jogo (sou 
dc opinião que as legislações prtsvla- 
mente feitas são as melhores, no estado 
aclual das cousas, isto não 6 uma ber 
nardicej. c a da propriedade das repro- 
ducçôcs photograpliicas. 

E’ sabido quo a propriedade artística é 
a mais sagrada das propriedades, pois 
quo todos os outros bens são exteriores 
ao possuidor, ao pano que a obra d’arte ( 
creaçáo de um indivíduo, reverte sobro 
clle, crcando-o, isto ò, dando-lbc renome, 
(azendo-o tftlcr pela forma, distinguiu 
do-o da mais geote obscura. Os proveitos 
uiateriaes sio consoquenics. A obra de 
arte, onUo, 6 o artista representado, um 
pouco d VI lo, mesmo que está fora 
d VI lo, uma das suas múltiplas ima- 
gens, cm que clle existe como Deus 
existe nVllêyCrealura humilde. Ninguém, 
pois, pódo apossar-so dVlla sem deliu 
qulr • gravoineuto: o quo gerou o cero* 
brode um Iromcni .só póJo ser proprie- 
dade d« outrem por cessão voluntária 
Kttas ideas tdo claras do' propriedade 
artística lovaram muito tempo a abrir 
caminho entre as maU.preoccupaçõcs dos 
legisladores. 0 íoeto explica-se pela sim- 
plicidade da vida o das rrlaçõci entro 
artistas eo publico... no tempo em que 
havia menos artistas o menos possibili- 
dade de especulações com o seu trabalho . 
Hoje, que o commorcio de obras do arte 
vai a par do commcrclo do joias pelo 
mundo inteiro, ji se chogon qoasl á 
perfeição na leglslaçAo correapondento. .0 
UigritiM est operaHut mn cede tua 6 rl 
gorosamente npplícado. Náo fox muito 
tompo, om imitador de desenhos do Do- 
i .ii 11c foi* ntettido na cadoia c 
gravuras dos quadros cm cxpoeiçto 
uào (áo feitas sem próíio consen 
timento do pintor. Tara a esculptura e 
mais artes de deaciiiio, jura a musica, 
para o tlrcatro, para os livros, rara os 
artigos dc Jornaes e revistas, a lei c a 
mesma. E ha sociedades que Vclatu pela 
appIicAçào, para que o direito aejn res- 
peitado e a justlçnse cumpra. O direito 
da propriedade, a roai» intensa manifea 
çioüa individualtdado humana o dvili- 
sida. nio aolTre conlMlaçOes *cnAo cm 
mnuHa dc forma. 

Kdrma, íoinulidaJci para o seu r^o- 
nhreimento. K' do que trata iu agora os 
photügrxplw*. Querem que sc liai** r«c- 
nho.a a pru^tolaiic dos acus c<íJiu. I*or 
rnnis que digam w» pr fcnvs qne a pho- 
tographfa n;tb »• mais do ,us uni cs*m> 
ihacvento da reafoiade. que so lixou c que i j 
lauto vai; querer ap : vptiar -C algiK-m j I 
da rlsáo dx*. cvusa<, mpro e:»trc :» 1 1 

e a sua Uxação ha um tralolba dc ho- , 


De Paris (detalhe) 


884 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anno XVI 


Rio do Janeiro — Quinta-feira 14 de Agoeto de 1800 


h. s«e 


*• 


GAZETA DE NOTICIAS 




t 




De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 226, p. 1, 14 ago. 1890 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


885 



DE PARIZ 


r Contlnfiam osjornati a fallar d i Drasll, 
] bem, ida', mii» quantidade* iguacs tic 
verdade, segundo a convicção do auctor 
i do artigo. São aempro brasileiros o* ins* 
j plradore* d'oaara artfgoa pro ou contra o 
, nevo estado de r ousas ua noiaa torra. Tem* 
i *0 notado quo oi arilgossympatblcoi aão 

* nxjooa habilmente folio* do que o* o itrra, 

\ Mtnos ccriot so ni»im u púdo dl/cr, pnrm 

•er Imparcial. A dofe/a da nova republica 

* nio seria diíücil de ínwr em França p ir 
J H l,om to**® capa/ do mmlcraçlo, do que 
. *® P*^e chamar moJcstU do oepiiita, 

> di argumentar sem pcrsonallaar o de 
1 reconhecer dcfeltaa ou faltai Inhcrentei a 
I l °la crcnçAo do um novo regímen. Uma 
j habilidade seria pôr fòrn de queaUo a 

* família lmpcrt.il, despcrsonalisar a rovo- 

* luçAo nflm de engrandecei -a. Traio* qual* 
. *»* do paço para oxpllcar o que deveria 

- scr um unanimo movimento nacional 
» provocado por nccetaldado* de outra or- 
' dem. 6 faz*r suspeitar ao estrangeiro que 
, tacs nceesildtdcs nio existiam, quo inl 

movimento não houve, que o que houve 

* fot uma revolta parcial do quartel que 

* triumphou o gcocnillsou-so pela natural 
i inditrcrcnçA do povo o quo consolidou* 

* sc pola neccsridadc quo tiveram os usur- 

* pudores do poder do se Impór pels 
. força. E' preciso que se diga que esto 6 o 
» sentimento geral na Europa acercada 

nos«a revolução. Conviria explicar-lhe as 
„ camas, catão; mas sem palxlo, sem 
9 fallar aas personalidades do antigo nem 
’ do novo regímen, sem procurar desf.rts- 
) tiglar o venerando velho que foi nosso 
■ t Imperador tà o longos annos, que não lis 
® entro nós velho que 0 não stipponba mais 
1 velho c quo o foi sempre com tanta dlgnl- 
d dado nos tempos dlfllceis da nossa historia, 
a com tanta bondade, com lauta longani- 

* midado nos tcm|>os serenos ; conviria não 
0 fallar mal dc D. l*cdro, que para o mun* 
c do inteiro era o reproontanto muito dc- 
s coralivo c multo sympallilco do Brasil e 
‘ nio oppòr á sua indivldualitladc forçosa- 
s mente msgcslosa os nomes ainda hontem 

0 desconhecidos dos sous adversários trium- 

* phantes. Deixar que os acontecimentos 

* fsJlem, que as transformações naeionaca 

1 so imponham à atlcnção do mundo ; só 
I, então os nomes que representam tdéas c 
' princípios não serio antipathicoa, não 
l serão do simples ambiciosos som cscru- 

- pulos a quem a fortuna sorHu. 

® Os defensores c propagandistas ds no- 
n va republica, porém, mais parecem iwlvo- 
o gados ofliciotos ditcolindo psrtonalidadcs 
polilicas. Uso os toroa suspeitos, toruan- 
0 do impelia a republica; isso sbsixa o 

* nível das discussões, abafa mesmo avos 
i, dos homens do bom conselho quo nào 
° querem compromettcr-ao pcssoalmcntc. 

* Do sorte quo o regímen da mala larga 
liberdade o o governa dos princípios fm- 
pcssoacs fundam-so sob os auspícios do 
maior personalismo o da consequente 

* cuacçftona expressão das oplniOcs. F. o 
i- peior ò quo o estrangeiro ô informado 

deis* contradlcçáo que fc interpretada 
? dosfnr ona vel manto para uós. * 

! t So ulu fosso parecer rccahir ao erro 
r antigo, imitando a excessiva tolcranda do 

* Imj>crador, o Governo Dictatorial deveria 
praticar uma philosopbla, que ao rolho 

c pastor do poros dictsram a cxpericucla c 

0 o seu l>om coração de brasileiro : ser in- 
c dulgento para com a opposIrAo, dar 
n largiic/a ás recrimioaçCcs o queixas, 
d para poder distinguir as legitimas das 

infund.-dii, não corcclar do modo al- 
gum (nem mesmo supprimlndo o ga- 

* nhapão o fechando carreiras aos me- 

1 uos submisso») a cx|>ressAo das consci- 
s encias nae a crise social sacode, ainda 


mm mim m «» q 

O nrllgo, csrripto |mr um braatlulrw ca- 
turalmentc, foi omiado ao Troifu, queo 
rccusjti nnluraliucnto. E o llrüil o aecol* 
tou. Fo| um raãu serviço qn* o prcitl- 
moso jornal pre«to*j np desenvolvimento 
da* rclaçOc* entre n* duas tvpubltea*. 

0 governo do llrasll dam niandir 
satU fações A França pela Injuria que Ibe 
fe/ o Sr. IVreirn. escrevendo um artigo 
fvrfeltomonle ocioso (o que nem tem a 
desculpa do *cr cneomme.idado), n'um 
frnneez que elle reni duvidn aprendeu do 
ouvido. Ksaot cscrlpto*, quo oschronNiaa 
|»aH/fc*D*ea dl/em folio* cm franctj <U 
**0 •*! vão difilcullnndo o recebimento 
uos j«»rnaes d.is publIcsçSea dc toda sirtn 
quo tenham origem brasileira. Dc *orte 
quo a rolmbilitação do franco/ dos brasi- 
leiros se rã o trabalho prupamlorio doe 
que tiverem conimUslo pnr.i alguma pro- 
paganda sôria e pratica cm França. 

Unjo mesmo jã não pedem maia artigos 
aos brasileiro* notavcli que por oqut 
chegam : |»edeni-lhci inttrrUirt, por 
cautela. A tato chegara m os discipulo* de 
Kalbout e dé Sevonno I . . , 

— Nio choveu nos dias 13 e U do 
julho. Assim os varka niimoros do pro- 
gramma dsa fetlividadoa foram cxecu- 
tados rigorosamcnlo no melo do conten- 
tamento geral. 

Isto è : dizem muitos que nio havia 
tanto contentamento a*»lm. Parece que 
o* 14 dc julho do agor.v estio multo mu- 
dados dos primclroi. Dl/cm quo no outro 
tempo, alli |ior 1678 entrava na ale- 
gria popular um elemento dc protesto 
o do revolta quo falta A» festas pa- 
cificas de agora. O governo nio era 
lá multo republicano; regateava um 
poueo para a* lllumlnaçOcs c parcela 
pedir perdio á Europa de ser o quo era: 
O povo, então dcsfãrin-se em ontbusUs- 
mo, por birra, enchia do luminárias aa 
janellaa para pregar peçã ao Kiyseu. 
Era a Fronde das lanternas, llojc, po- 
rvm, quo nio ha contra qnern an»- 
f estar, o povo vai esfriando c deixando ao 
governo e á municipalldado o cnidndodos 
rogos ij os públicos. E assim a dccaJcncIa 
do 14 do Jullio attesta o quasl desappa- 
red mento do* partidos do opposiçâo o a 
calma proveniente da pacificação que trai 
n posse das coutas desejada*. 

Isso dizem os quo viram aa festas de 
1878. Eu, porém, que vejo Pari/ trans- 
formada n’um immento baile n’cssa noite, 
cm que até o céu acccnde as suas lao* 
torna* do cstrcllas, c ouço rolar o povo 
como ura mar dc cantos, dc risiulas, de 
uivos, dc fanfarras n'uma passeinta boio 
fim. penso que, ao as nossas alegrias 
populares fossem capa/cs dc subir n es se 
tom, oa brasileiros seriara muito feli/es. 

Mas não são. Nem tém um ideal aó. 
Ha muitas bandeiras brasileiras ador- 
uando as casas, e essas são do troa t&pc- 
det : as imperiacs antigas, mais nume- 
ixsas, porquo são rasis decorativas, M 
republicanas do tempo da monarchla 
(losango amareUo cru cami>o rorde, sem 
cjcudo) c as positivistas, com a bola es- 
treitada o o letreiro. Aos franreres, que 
perguntam qual 6 a autbentlca, res- 
ponde-sc : «K* a da bola, mas vai-se mo- 
dar.- E fiea-ss triste. 

O mais curioso é quo no ministério de 
estrangeiros esteva hasteada a bandeira 
imperial, quo o ministro pcnvtva quo 
fosso a da republica brasildra, ditsc-mo 
um francex que lã jantou n'caso dia. 

Da illuminjçáo da ddado na iroito de 
14, uma imprcssòodo alto da Tour Saint- 
Jacquca. 

l^riz apparcce cortado cm dons pcl* 
linha deslumbrante das pontes (Ilumi- 
nadas. Os monumento* da beira do rio 
formam um* sério do porticos, do hotel 


De Paris (detalhe) 


886 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


dulgcnta p*ra com a opposlrflo, dar 
largueza ás recriralouç5c« o queixas, 
l>ara poder distinguir na legitimas das 
Infunclrcljs, nilo eereeiar do modo al- 
gum (nem mesmo supprimlmlo o ga- 
nliapâo o fechando carreira» »o» me- 
■los submissos) a expressio das consci- 
ências quo a crise social sacode, ainda 
quando essas consciências não se lllu- 
minem senão aos reflexos das consciências 
alheias, deixar que se queixem os quo se 
suppiem sedemos o famintos dc justiça, 
delsnr-se discutir 0 os seus netos. Koila 
tiabil e seria um bem publico. As quelsas 
rararoonle aio nggrrsaisns | qnom ac 
queixa 6 como quem pede ; o maior dos- 
ahrimcnto de uma recriminação 6 sempre 
adoçado pjr uma lagrima implorstlra, 
para quo llie seja melhorada a sorte. Não 
tio OI pessimistas que fszcm si revoluções, 
quo clles nlo silo capares do outro querer 
que não seja a asplraçio lnactlra. 

Deixar que os pessimistas ftUcm é, 
portanto, «Urir caminho ás nspIrsçOes 
Imprecisas da maua social que so foi 
ciiamado a dirigir. Nos tempos antigos 
eram os poetas os maiores pcssimittni e 
os mais intensos reveladores dus curren 
tesde nspiraçües nacionncs, hnmanns, de 
raças ou de classes. 

Hoje em dia os poetas andam fóra do 
movimento o fornm substituídos pelos jor- 
nalistas: deitar que os Jornalistas fallcm i 
E todo o brasileiro è nm jornalista cm 
disponibilidade: deixar quo todos os bra- 
sileiros fallom, embora sem tomsl-os 
multo ao sírio. . . Mas não deixar que a 
discussão transponha as fronteiras, pelo 
prestigio nacional, pela boa educação, 
pelo respeito so resto do mundo. 

Com offclto, desde que nós todos nos 
(Iremos jornalista», fleou .dispensada a 
joslllleaçln das qualidades csscncises ao 
exercido d’esaa funcçllo : ssber escrever 
priniciramcutei ter idías cm segundo 
logsr, e flnslincnU, ser bem educado. 
Aqui pela Europa pode-se dispensar a 
segunda d'cress cendiçüe», c, Hgorota- 
meote a tcrceirn, ta a primeira 6 ex- 
cepelonalm^nto bem preenchida ; nunon 
porém, ns tres como è geralmente ad- 
mitido no Brasil. 

N*o digo quo seja Isso um msu eestu- 
mo — o taccidoclo da Imprensa não me 
obriga a policiar os costumes — mas, por 
scr um costume unicamente brasileiro, 
o» europeus, gente conservadora e aferra- 
da ás relhsa tradições Imlorentas de for- 
ma lilterarla, respeito á língua eá lógica 
natural c cortesia de maneiras, àeham-no 
pelo menos... singular. Debalde ss lhes 
explica que no Bràsil tudo isso tit ba 
burelrax, quo os brasileiros têm mais 
quo fazer do qne estarem n aprender 
litteratura o civilidade c n adquirir Idías 
para cscreror, quo tilei são assim por- 
que não são de outra maneira e que as 
sim c-itán muito bem. Os franeízes — são 
sobretudo ox franreres que não percebem 
essas cousas I — respondem que, se estão 
muito bem, flquem na sna casa, que 
quem entra na igreja tira o chapéu c 
ontrns impertinências assim. 

Por flm de contas cu acho quo clica lem 
razlo. Vá que os brasileiros deslindem 
os seus negocios pelos jornacs sem preci- 
sar de graminalica, dc l»m «uso e de 
certezia: talvoz isto faça bom efleito em 
portugoez. 

Em franccz ú qne não. E disso tive 
linda hoje exemplo e prava n’um artigo 
quo pretende refutir o manifesto folilico 
di Sr. Joaq iim Nabucoc qne veiu ouhli- 
a Jo to Brtitt. 


uni irnnccz quo ia jsniou n esse uta. 

l>a ÜlumiiuçAo da cldado tua nolto dê 
14, uma impressão do alto da Tour Saint- 
Jacqucs. 

Pari* npparccc cortado cm dotts pela 
linha dcslumbr.antc das ponlcs llluml- 
nadas. Os monumentos da beira do rio 
forniam unis sério de portlcos, do hotel 
dc Vàllc ao Troca lero. Não c que n di- 
reita na massa mura dst casas nâo haja 
Ufflbcm monumentos abr.i/cndos, mas a 
disposição das ruas nâo deixa ver ae nAo 
alguns que emergem. Ua alll estudos do 
nrchitcclum, perfis, secções bnitcamaite 
interrompidas qualquer cousa como ura 
esboço dc cpuro Indicada cm poucas li- 
nhas do fogo n'uma loura immcnia. 

Lindo ó o Sou A r com as suas barca* 
ilianitnadas, ctcorrognndo sobre a agua, 
esmaltada dc reflexos infinitos, coui as 
suas musicas a bordo do qne o vento 
mo trai, fragmentos dei Idosa mente cari- 
dosos. lín umas pequeninas como brin- 
quedos. Outra* cujas linhas gmcioeas re- 
cordam as gondolas que vogam cm Ve- 
nera com uma estrolla na frente. Outra* 
são snrças ardentes que a corrente kvju 
K tudo isao vnc sem pressa, n’uma ado- 
rável preguiça, impei lida pela brisa té- 
pida quo parece um bocejo do céu se- 
reno. 

Mas Montsourls abre o fogo... de ar- 
tificio, depois c da ponte Nova quo aa 
espigas douro so levantam o simultanea- 
mente 'do pé da Torro Eiflcl, que pa- 
rece martcllada por algum ferreiro gi- 
gante espargindo turbilhões de faíscas a 
cada golpo. 

E alll ao fundo o Panlhoon : fogos d* 
bengala vermelhos o brancos a (ilumina- 
rem por dentro fazendo destacar os co- 
Inmnat do zlmborh. Aquello clarão quo 
domina Parizò como nlrradiaç&o paci&ca 
dos grandes mortos quo là repousam..* 

Dciiiao na Gama. 

Parla. 20 dc julho dc 1890. 


Por decreto n. 649 dc do agosto da 
!80), foram cx li netos os logarcs de enge- 
nheiro lãnitarlo da Inspvcioria Gorai do 
Uyglcnc, os dc ajudante»' c 'auxliah do 
mesmo engenhei ru co do desenhista, pas- 
sando o respectivo serviço a scr desem- 
penhado cumulativamentc peto engenhei- 
ro encarregado das obras do ministério 
do interior, auxiliado por dois ajudantes* 

A' thesouraria dc fazenda do Estado 
do Espirito Santo foi concedido um cj%- 
dito do lOüjt.OS P«ra a execução dê 
obras na fortaleza de Piratinioga. 


Foram nomeados: delegados de poli- 
cia, 1* e 3* supplcntes do termo de Man- 
ga'at>ba, João Francisco da Silva Santos, 
Antonio dos Santos Guimarães c Joaquim 
José Custodio; subdelegado. 1* e 3* sup- 
plcntes da frcguezla da Villa, José Gon- 
çalves Marques. Agostinho José Pacheco e 
t rhnno dc Lupa c Seida; snl>lclegad<v 
o 1* supplctitedn fregne/in do llacumtsá, 
Pedro Antonio flrnsil Coelho c Agostinho 
da Silveira Mattos; subdelegado c I* *'ip-> 
lálcnlti da frcguezU do Içara hy, _ Joro 
llvpolif.i C*i*siano c Manoel Ju-JAo da 
Siira Olirclrs. 

Foi concedida a nensio menui! de $*>§ 
a D. Prcscllfana i>c Lamare IVrcira 
ISnto. viuva do capitão do fragata Fran- 
d*co Felix da Fonseca Pereira Pinto, ro- 
partida mente com seus dous filhos Alico 
ú EMstario# 

IXi 91 filhos do i:$'ado dc Minai, resi- 
dentes r.o município tk Bartacvna. rece- 
beu o Sr. I)r. Alexandre Stockler um 
ibaixo oxsignxrio cm tino dão t f, dos os 
poderes paia advogar a ídéa d » nmdança 
da capital dc Minas, dc Ouro F roto para 
ponto mais cou9K*icnte c central do 
Estado. 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


887 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n.259, p. 1, 16 set. 1890 






888 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARI* 

Ftác&ufis as aartiorns, nfTo hour»jnnis _ 
emTaririssumnto do aciuaiidodò par» 
a impronsa diarta. Oz JorpaJhU» tomam 
férias; na- provinda* ó. beirau-roiir,. nas 
cidades dlaguas do AuYWgna. (quacstc 
oono o* Pyreneb» nflu Insniram con- 
llançnl, m todn a.parte, ouc. nüo *el» o 
jogar ondo. *o penou trcs quartas partes 
do nnno,. estragando o fljpdoo ns nerros 
ara. mcllwrar a humanidade. E (Tesses 
arares. dõ* repouso, iroproprin» paca a 
. ida cerebral, alguns mandara uns arti- 
go». que aqpl so cbomoia artigos, dt 
verilo l- cousas- que por so poderem dl- 
,rcr cra todos os tempos,, perdem- cotn. * 
data o valor qpo tem o« eicrlptos desti- 
nndos o. prorar quolqucc cousa ;; artigos 
feitos paio- so lhes por o ooma cm Uai xo. 
para quo o leitor oucalhiodo a pregui- 
çoso nao se. esqueça de quo l&.Iangc, en- 
tro a. verdura, dos. pradbs novos ou a 
beira do msr azul .ímnjjulo da prato,, o.. 
10111 escriptor fu vorita repousa da lhbo- 
ric»o inverno, dizer Jò toHiras sem. eonsc- 
quenciacerao lodosas mais* rngplandb-M 
com casa libertação dá. copie dlaria.. 

A; copie dlsrifiuÃquo os outros,, os manos 
íaJlzcs,, continuam conlfcm nados* a’fisle 
ítempoonvquo 6 pradão o estimulo cons- 
tantí dosaeontccimsDU» para mie umjpr- 
milista esvasiádb o gasto trsballtc com. 
posto, prodiiK uroa.cnncrvsçA° aao-Rum 
JUr» o- sentimento da justa moiida Jlitc- 
raria. ou. mesma- de cortesia- a. o* lo va. a 
commelUsr destemperos. 0 calor abaJtulo 
das- s M a » do rodacçSo combiuda cam a 
xerveja o.o absintho» dhs. paiostraa. dissol- 
vente* ‘ao terraço dos cafòs. produz, 
tranibordarnontoa. de bilis, sob a fôrma 
da axÜfeo» nggpessbo»,, injuriosas.. & 
ent&a bs. sempro um ou outro dhcQo, 
.que occujjaum pequena aspsçoi nau no- 
tidas varia * sob afórmado sctas.ou.pio- 
!ccMO*rV, rbaes- lavrados ou. seoc» c xo- 
'lcmn rn-nto pelas testemunhas, mas que 
servo nara d bis dias do cemmontarios entre 
os aollogtra- 

0 1 ultimo foi entra vmr redacior do 


um artigo- do liataillc, a o Sr. dc -Saiu te 
Croi* anetor do. dito? artigov. Âl oapade;. 


terminou». 

K um» folga, forçada* que vat tea o 
Jorfooo jornalista o quo ello nOn-dev* 
estimar pouco. b'as Unta. preguiç» diluir 
esta ja «O- agitada Hnt*d»«-ti£ 0 »llho» 
.qw, ado a wpocialidado ft o caetigo db 
v -certos oscrifetorest' 

Ha na. impronsa. parJdfin» uns dosgra. 
çados, quo tom d» escrever com ospmto 
'o jocosuufiontc. mesmo quo. nio. tenham, 
nem assumpto, nem humor, nem boas 
condlçOca do producçlo, ro/quo c preciro 
nàü <lar o braço a torcer, ndo- confessar, 
que tnmbem ha uma morte-saiton psrs o' 
coimnorcio de papol Impresso, cunopan* 
o do polliças do invorno o do hiooculos dc 
thestro. SAo' o» cbronistas de dia certo ou 
do.todbs os dltra, peçsslKas d» maqWhv 
do. jornaL d» uno iouiro» s*o, peça* de 
muda o que aiii Ücam alô so cqpsu- 
~iram. | ' r 

Oi reportor» sdo- mal» feliz*,. 8e ha 
ama rxnlosio de mfos c se urnjrcommis 
sBOpSrlhl - m~ w - BMÉ 


imeatnr vai ao togsn ístudtr m 

xondlçõeadoi trabalho. mineirtz so o pn» 
sidento ds Eepublica anda em vlsgem 
Inaugurandoi portos * caminhos de ferro, 
ito-un>a romaria, det jwotas q do vadios 
.anda.» celebrar glqríss mcrldlõnaes e a. 
inaugurar estatuo* o monur~*" J - 


tafc a fascinaçfltr dtrluar lovan- 
táadp-se entro «ssnlaohas. transfutntáadB^' 
a rÃlcigesr n Um gçsntrio de- euoant»- v 
mento., acaedendo, os- r\evw;ír.os dss valia» 
cm phosphorenciss raps, velando a ru- 
deza das pcnHias alcandoradas sobra 
grutas sem fúmfi» cnnthndb qtrasi, como' 
uma musica aque só falttrasc o som.... 

ChogAmos A casa & mel» noite o As 5 
horas, da monliíV seguinte rstarnmos a 
caminlto„cafnihho d» f.unogra d’Ntn. vezf 
La fomos- tor om trinta, e duo* horas ds t 
viagem com oito do pouso no ISTont-DorÕ. 

Aa iirlraciims. ld dò carro fòram. a» 
ulthns.ombriagncz da psizagens.c viitos. 
singuiares-- o lagO'navTn..uina-\-nsta.cra* 
tóra cheia d’ngits azul - que d’Clle tran- 
sbords. cm, essenta c rodesdo de plnliei- 
ravs negros; a cidAdo.d«.Qtsic» com ss 
tuas. casas ibrn.ida.vurs. can st ruídas ds 
,polixtk.lavji.a batalto* velila dc séculos* 
tccilaiLa calo-i» enecra*s psikagoip con- 
ívulsionsda de'Jf. Victor c db Mutols, tor— 
ronto» do lavas escorridas dos cratòrai do 
alto : as minai melancodcits do cistolU. 
dixllurals, o. risonho lagQdaChsmbon, » 
jintarjaUiAVcLaubido. pm-a oCol do Dlane* 
aa pú da ideo do Üaucj-.. cora. s viiSa, <10 
•ama aldeui chsmnds BrossoulleilO» c!u- 
zenta-ooirc a vuaiurx das uMiagcns « 
defondlda somo- um burgn rórta c poe 
Hm. do- ai lo, a LMO'^ metros;, aitnmeiial-, 
|dsílfe do vallè esfhtnado na. Ibz. crepus- 
cuJso. 

. lvcbogan te a. Honh-Dorc., &*. 9' t/2'ds. ' 
inoito,. o primeiro bioo. dtx gazd'.. .. 

‘ CI>c~»mos a Citnoges t horas antas 
ds. al^rtucsudo Guugreaao* quase ccsliaút 
na. talado lheatro. » 

Discursos longos, que s Revue Rote po* 

• blicou. por exlcoiov .Siunmidadrs seienti- 
flaas,. nenhuma idáa t»v» a um carta 
oattonimo da exprasslo^que daaaoralisott- 
psra.mim oasab os^ 

Dn nolto nio.ím it rseepçío n»munlN. 
cipalkinda.. Fiquei fôra» antrft- » miiltidAo. 
a ouvir as »’ro«>a^»eae. criticas, do des- 
íllar do cortojo. 0 Hmotieo é mono» 
amsvcl qns o suvaenher. Mcrd»ds,ó que 
Limogcs òt um». Unportsntojcidkde-db 70 


Oauloiiy Q.Sr..do rorricres* odoodido.por ;nilljíuÚiantovmniLa mudÊrnlsadn, mutto 


oomivercial, industriosa como poucos, 

- — , — 7 w- u w- i ^ 1 cfvai*Adis. <5'lTM'«on dc <*“»- 

logo ao primeiro assalto o Sr. da Satnfo- ' KS ,j%o, dã uma Idóa do centro intelle- 
Croix foi forido na- mio dlreit? *í»**»uu. aM ^n a 6 L'fosdxittUWAm)iU|fedas.'S 0 ts 


«•L-isl quo cila fc. Trabalhavam; 
ihcc^Oai ao mrsmo tempo. .A mísií apoucas 

■ « «a»- H-. m, tj- kJiSOUMSÕOè. 

glorioso jornalista o quo ello nfl». dsvo- . jp acihncias meditas, ourf. 

M .i.n l.->w ItnlA. nwiiiilf.n Hlliiln . iV. .1 ; .11. It. rih . . _ 


unis das. caiomniiicaçüra dü. Ur- 0;wo~ 
.dlio n que- cxmiiriin msuiMiianelr» do 
'traatur a» dliataçítos. do «stomngo. pela fta- 
iradisaçúo Intm-vtnmacBh dsscníortn qur 
levantou uma <H*cti»sü0 mai» db- suLqirez» 
do- que do.olljficçjk* aidos- 

Maft nma- commnnieoçlto. dtu flmos» 
oculista Dr. Galszowikl, qiie expoz o seu 
Mvste.ua de tnU*r. o astigmatisrap ine- 
Lrolsr por meio dbs vitiívr comcor: Mu o. 
Gulczoivakii qpo ô fllha do grando Tam- 
ücrEck,. frtUou-me do. DrailL ondo esto ve. 

Oi Ur.. Tcralsr. do Lyon* expo* o, seo. 
ibraínmento da febrô typho:3è peltr ns-_; 
phlsl ik-o- hn. DeUhil o tratamento da 
,ttip4torla. N4o ouvi msls nsda dc impor- 
'Uníe/nicqBifl p,»rquo nSôllquei só nos- 
sa tsolg.- 1 hxrf» mala dc 1C sccçOei, 
ondo w finava pelos co.tnrelloo. Mad« 
•rnlncrntogta, o Dr. Gorcri.r, quo- * d«v LP- 
imoges ialica. li. chama n-n'o o brasileiro^ 
ipara dlstingniPo dos irmioi), fci uma 
r «mui»iin»fcaqãa aobrq.oartornsnoa diaroaar- 


tino» do MinasiGorno». Nado gcographúa. 
;coBtaram viigeo»o-ospion*qVaqu»emjfc^ 


poctiu» ttmcüu 0 proooocae*, 

: nllts aíizia» d» jornalistas, qu» 
ipílo miudo ã cidWq adormcctd* 
thlca. oppreosa sob o» pobres trinta 
d» caJor quo fXrcm o hssío nos a 
rsnts feouadoa.. contam as festoa 
<lio ofcretfo.tU.ÇraiHia,, comuo 
siasmo quo chega a nao parecer s 
Talvoz porquo haja muito provinoial on- 
Iro oajqrnabstas psricisnxci... 

K ainda maia oo congressos., H.v oito 
dias funceionavajn um dc medicina cm 
Berlim, um dc crlminalogia cm Berna, 
um d» psjrchtatri» em Kouen. » ua» <ie 
todas a»’ icienclas c cousas annexas cm 
Limogea. Foi esso qoc eu. eoeqjhi ra;n 
tor um sortimento maú variado e sbuji- 
dante de impressões scieaUllcas *''' 
nem por liso] 



Er» mu gui» a Dr- Ikmduc, twn 
üico quo toda » oalonf» brssi.dr» d» . 
Paris vst ooaboeondò aos pou»- (<Us«m. 
meaoio qa» eacspoir d» sac eundeçorail* ; t 
com a asas, pvr occasiia Ja.axpositjlalJ 
k R>rqiie mojiromeitera verdura o fraacusa* 

'Po tlvln Isto ttro i faria e mais uma» 

Í irtM da ol*srx-Adto-|rtsoal: a des» 
ria dé uma gonU. que ju pa»vcuk 
ha conhecida db foagns snnos, M» 

" ■ * “ tkx pauco. tingiJs, 

Ira, (Ao nidemeats amavol, 

‘qaTralw^ilnSSSS^nal?* S5ldí?S 

prttnrlr». aldria era que parrt ao cabo d» 

■íO Hora» db lornoa» ( JA ca dormia 
ao aoLna-carretinb» ooporritas qus no» 
vascolojou. duronUx Uuigas IJoras pelas, 
a erirndna aaapeandò atra*« das serrao) 
arntUmo cc/na n'tun sccuarib de Julla 
•Dfnl>, 

VI oa valha psUida. deitada aum* 
-sina» qpa 6 ums oineria de isnlior moraL 
<lo burgo, ande as rtixam procoâ publica» 

'q isodh dia adoece mais gravoment» » 
■sntrpcls primeira vex <rqnc vem s scr 
rAls.au aiuóa.. 0 cura*, tyiarao emprestai 
a snaogiux para m puiclha uuis Ibngv 
■ foi unvamlgp-quádAQM fldou. AJowA- 
mo» r coioemoa o bdiamos o dls» 

oatlmos noUUca o UVo a folldUhdodo nia • 
CKSndiil nal-o . 

ã nriiasir»cous» qiui olfo m» peryui- • 
(ou* logp quo lhe na sprenentadb, íbir 
•E quo flxararo caUo.ns senhores do not»9 , . 
Imperador db Brasil ?i» CntcaclMlftt • cen- 
«ura.nfassa extoosAo dc lmpcrta de D. Pe« 
dro ILaotcoraçõfe* dos quo n Ao eram sons 
jiublltose respondi que drm*of\»ijV) tluns 
: pcrmiUldo aa imperador d» lejjondaett- 
ropf-»scfttrsd»paraaililsO*nih molsccdo,. 
eque ex» talvez ctse. a mal .baliu (Dn dò 
relao que pôde ter na monarche. Elli 
apnlsudiu.poc espirita aa poe castcsJ* 
fr*rtiflcou-i» ds qiu? aa nior ora msqpa.» 

. Pmnndbu.buacac cervcfo » rtpnct. 

Dauma-oxcursio da caça. a peses a uar 
lsgp<pcnflda has alíuras. db ssrrs Arou» 
mo- um rosaria <fb iopreuÉfca vh-ttaimajt 
Primeira utn» merca JS quo nos. afut 
rcceram uns. pobres pcscalnres ns eu» 
unira safa, que 6 corinha e nusrto dò 
dormir ao mesmo tempo. DepoU oa tirar 
7 som patas, bravos e ás nsreaja*, uma. coa» 
r iveras do aseumpto» lòcsra «ntre o taber- 
li&o » aa das. senhora» do lago, um no 
** '•mcm.dUro o. fbib. dé sotgss c olntr «fl» 

** igsvUto..dh blus» o sdcTos, mas IWIaoda 
m ,como riho. E nm crepúsculo de magta 
; sobro, a toalha, d ajun espcliiânlA, cofltíc^ 

®7 : tindò as osplbndom. do c£u. Depois na 

’mrsmschoupaa»dèb» pouco umonRlnh» 
tT ‘triitcitobrâ. » mesa» um fogo scccrj à 
J0 l M fira. iorgor pannea do sombra, ma 
u 'flgeunaraeata de r*ssoa* cam cxçrcssOea 
*■ 'penailMpJfcs a na meia nma-rouihcr q»ie 
, cMara.cam.um.ir.ua nas braços, porqM 
a medica tirou -Dl n. n. cspci ança. dc vc 1-q 
T* 1 Wspof ««m am olha perdido. 

Niia-sriiso porqjto apn u>it da Aurcr* 

8 'gne ó cheia Jh.pufarr.oB latinas, parecra» 
mora todò. instante qua aquclIA mulher la 
. lamenUtr-so cm i«rtugu:z. Eilx porria 
*" ‘chirara-oa». írancr» a.dc>srftyv dc vtròri» 
'som lindo rapas «sttoorado narxsorapn'. 

“•* ; Depois » descida a» montsnQ». pe‘» 
^[naiU,. peio flio„ um»*ombr5t ebalccane^ 

ST reana* ora atrsvosda.BMtogcns Kfmeaon 
I;* dò bois vermelho e-enro; or» por Odiho* 

*7 Mtppossivaià aliufo mais sombrios, oadèr < » 

® cavai los tacteavam, a passagem- por vür- 
'lotas adormecidas á sombra da sua IgW- 
. 'jfnha sem campsnariò, com os sinos a . . 
zi* umilhtfb, sob- utn cEu- nzcP-negro^ risead» • 
*• -ff cada Instante- nelõs rastilhos fulguran- 
tes dar estrclla» carfcottef* rasgnlftcM. 

hrwte -A 


Pois 


Verdade ò quo ct|, já sabendo qro, poue 
o que sAo congressos (d'ontra as dc/enss 
d'cllcs, que se rouoiram rm Parte dursnU 
a c.xposiçAp tinha a*slst : docomo delegado 
do líraail ao colonial o a um dc cconomlft 
soclalji ' tomei o caminho mais comprido 
raminho do menino do escola, psrs tr lã 


h Tit as. o eu. aproveitei o tempo para visitar* 
s ciüado soilnho. Depois, tendo visto a 
cathodpal, ignoja». museu, cscola.pc mo- 
dicipa. etc., achei quo 'fciraogea era 
Lio quento conio o Kngonho, Novo. por 
um mormaço dc janeiro, e cansado dò 
adialrar o roko do enfo do PUHivarty ond» 
rtra o noaso quqrtcl gcocroj, abandonei ® 
môu òOvocoi<>p.v»l»oirQ<le excursão o diò- 
1 parei para 1'arlz, ondo entrei como noz 
carvoeiro suado» o oooanlado. lloic dig% 
a todo » mundo, eom malta basolla, qu» 
venft o d • tomar parte no Gongretro (K. 
Umom v***. 0 apunçamento da ic/rn- 
c ia. K brtvcmcntp começarei a. espalhar 
quo iiio fui cu talvez quem lho deu me- 
nos empurrões para que cila avan- 
çasse. . . 

— Mn! tenho tempo A nUima hora, 
Iparp desejar ao Dr. Dcrmcva! da Fonseca 
uxr.jv feliz volta A patria, ondo os seus o 
csjkcrain, contentes |>or xôl o voIIat tàa. 
depressa, tendo cuinj-rMo cm cinco mezra 
a dupla, mi^$Ao dc quo o incnnihiram, 
pV-sc l»m primeiramepte c estudar dc« 
pois a org.\nis.yio do octino primário naa 
nrinclpaoa c*wlas da Allcmanba, liol- 
íanda, Suisso, ItuHa e França. 

Do urio t>\ G.\uz, 

Parir, 19 dc agosto dc lbl<0. 


De Paris (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


889 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 300, p. 1, 27 out. 1890. 










890 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 

l*unmet dt oa aatlco ■nrta.—frM • boate.— 
JruiM S»IU»fjr. IIJAUlldid* ««AtJiUw. -Ü4 
pcarrçBN de Owptlnu 

Morreu AlphonocKarr lia troo oa quatro 
dias, e a noticia do sua morto foi roccblda 
com grande admlraçAo por alguns dl>- 
traliUloi, que o auppnnhom morto ha 
ntnli tempo, lia multo tempo. Era Uo 
velliol Unha 8? annos o uma gcraçüo liU 
tcrarla por cima, sepultando-o. . . Como 
Armand do 1'oiitmartln, morto hanlgunt 
mozes, eomo Champfloury. morto Ua um 
anno, como Arsenlo llououy *, quo ainda 
vive melancolicamente para as suas sauda* 
dos, Alphonso Karr sobrevivia-te. lima 
triste sobrovlvcncia a d'es ses velhos da 
Rcraçfto do 1830, amigos o collcgn* de 
llugo, dc Dumas, de Mussot o do Vlgoy, 
de Ual/sc e dc Mory, do GauUilor o Uo 
llclnrlch llelne, que n&o tiveram a gloria 
fulgurante dos outros, mas quo coroc- 
çarnm a ser considerados ainda em vida 
como oi lavores csculpturacs, accossorios 
decorativos do monumento do um eyclo 
lltterarlo. Vivos, clica so pctrlflcaram 
it roda do pedestal d'oqucllcs mortos il- 
lustrcs, monos mortos do quo clica . 
E na fortuna de aahlr codo da vida, 
quando ainda o mundo nAo estA can- 
sado o espera do nds transíormaçOos, 
cousas inéditas, faces novas de «m 
í alento, ft qualquer cousa do novo 
que a humanidade vivo a esperar lodos 
os dias e que Io 7. a raocídado mais sympa- 
thlca, essa fortuna relativa nAo a pos- 
suem os velhos saltimbancos dos tablados 
ou das columnas dos joruaes, que dAo ao 
publico o espectáculo deprimente da sua 
decadcncia inconfcssada, da sua preten- 
ciosa Impotência. E quando a fraqueza 
da velhice os desvia da lida, como 6 triste 
' ter um homem do confessar que perdeu 
duas vezes a sua virilidade l 
AÍphonsc Karr ainda escrevia para ga- 
1 nhar a vida. como fazia bouquets para 
vender na sua Alaison Clote do Salnt 
! Raphael, perto do Nice, como pescava na 
1 agua azul do Mediterrâneo. Desculpava- 
se do ainda »or cscrlptor com o «cr 
pobre. Um trecho da ultima carta que 
t escreveu a Arsonlo lloussayo, datada dc 
i 21 do setembro, dizia : 

, «Todos os nossos amigos o contcra- 
1 porancos passaram adianto de ntí*. Nlo 
J somos mais d'cato século, nem d'csto 
, palz. No entanto, eo devo temor a morte. 

A mtnba família carece do mim. Eu 
1 nunca soube ganhar dinheiro 0 ê bom 
í a custo quo consigo ganhar algom 
para ella. Por mim mramo nlo tenho 
despezas pessoaes. «| 

Mais longe accrcsccntava: 

1 «Parece quo nào ha mais nlngucm, 
! senüo nós dou», do noaso tempo. » 

, E por ílm, om port «críprum : 

«Tendo seis anuo. monos do qoo eu, 
vocô já so quelaa dos seu* olhos I • 
s Foi como pescador qno «lie morreu, 
' apanhando no mar um resfriamento com 
s os últimos aguaceiro» do furioso tom- 
o pornl, que andou arrasando tudo lá para 
‘ o sul da França. Como cscrlptor o 
° Fiff.ro, de quo cllo era o mala aa- 
o tigo collaborador, fez-lho um funeral 
0 do primeira classe, pagina inteira o 
muito pezar. O resto da imprensa esfor- 
çou-ic por tenlir muilo, mas niopoude. 
[ 0 morto fez barulho demais noa acua 


os seus amigos o clicf > t izrai vlucos. Oiriv 
elonou-io parllculnrmciilo a hourslIUadl 
ro bom procedimento da aua rida prk 
voda. Bastava vil a u'um camarelo d( 
Opera com n família, ou n'um vtrnituiffl 
do Salon do pintura a conversar com ar* 
Ustaa, ou no Pri Catolan a psuenr coa 
os lllhlnhos... 

Km pailzlenie o moderna (sem foliar 
noa seus 33 annos) o ern n melhor dai 
Interpretei do Mnllrrc. No dia dotou en- 
terro, qno reuniu cm um Immcnto cotejo 
desolado tudo o quo Pari* conta do bri- 
lhante o lllutlro nas lottras e artes, om 
moco. pensariam na quo a vai substituir 
na Pa risUnns e na Kllncells, mas oa ve- 
lhos lamentavam a pmla (rrepnrarel da 
|'etulajite Tolnon, do Malmlc imapinairs, 
da Mariiictlo do Depil amoureux, com ar 
•uas facelriccs amorosas o a sua risada 
alegre como um canto do gaturamo, da 
s oubretlc classIca quo ella ora. 

— Oa tlioatros reabriram a cstaçilo coo 
pecas velhas e duas ou tres novidades, 
mal succedldas. As pecas do resistência 
denioram-to um pouco. Ainda agora li 
peto Porte Salnt Martin parece quo de- 
ram uns pcicoçOci na pobre Sarah Ber- 
nhardt, o o Sardou, Indignado, abandono» 
os ensaios da CUopatre, quo estava para 
ser representada dentro de uns dez dias. 
Mesmo com cales atrazos já nlo ha melo 
de obter promeua de uma cadeira para 
a noite da primeira representação. Sás 
quarenta mil pessoa» a pretender en- 
trar nbiniaaala, em que cabem daa* mil. 
E, cm se aabendo doa iwjcoçües na Cleó- 
patra, sorfto oitenta mil, provavelmente. 
N&o será por culpa da Sarah sc a peça nic 
tiver freguesia. Ella já tem uma crlaçl* 
dc aspldea do verdade, convenicntomcnti 
ensaiadas para a scena elasslca. Será 
uma succcsslo traiçoeira a d’esso papel 
com vcciaorloa sibilantes o mordente*. 
Alím da representação difijcil d'esso per- 
sonagem tio mal sabido da bistorla... 

Dosucto d\ Oásis. 

Parlz, 4 do outubro. 


Do um andaimo das obras da quinta d. 
Boa Vista cahlii hontem o operário Fria 
cisco do Aquino Junior. Recolhido mo 
hospital de Misericórdia, com gula da 
inspector do 0‘ quartolrlo da freguesia da 
Engeuho VcUio.alli falleceuhoras depota. 


Ao Diário dc Santos, enviou 0 eml 
nente homem de lettras Jiiilo Ribeiro » 
carta que cm seguida transcrevemos: 

« Roga ás pessoas zelosas pelo meu ca- 
tado de saudo c pecuniário que modeixere 
morrer cm paz e quo não tragam mal» 
para a Imprensa as minhas condtçSeada 
pobreza . 

« Eu nlo peço nada a ninguém e sop- 
ponho que t o que a sociedade esige para 
quo cu possa dizer que nlo lhe sou pe- 
zsdo. • 

« Os Jornses quo transcreverem este ar- 
ttguete pcntiorar-me-liáo immenso. 

• Santos, 23 de outubro do 1830.— Jwfi» 
Ribeiro. « 


Teve provimento para celebrar, con- 
fessar e pregar por um anno o padre 
Josl Lnlz do Almeida Martins. 

Pelo tribunal do tbesouro naeonal 
foram Indeferidos os recursos interpostos: 

Por Manuel Fortunato de Araújo Costa, 
da doclslo da recebedoria d'csta capital, 
quo nlo atteodeu a sua pretençlo de ser 
relevado do pagamento do Imposto pre- 
dial, lançado no exercício de 1890, sobre 
a sua casa da ladeira doa Ouararepea 
n. 13; 


Ò morto fez barulho demais noa a«u» c 
princípios para a obr» quo dclxoo. Jul- 
gado IlUerarlamonto 6 um aatyrico n>- J 
mantico. O grande aucceaso oblido peia 
petulância do su» critica desviou-o d» I, 
verdadeira llttoratur», do qus cllo não » 
deu sen lo algumas amostras, cada vez ^ 
mala fracaa. Pode-se admlttlr que Mire- ( 
court tluha razlo quando o classificava [ 
como poseur. Er» um defeito vulgar de j 
cabotinagem littcraria do tempo a { 
preoccupaçlo unlca o absolvento de cx- a 
bibir da maneira roais espectáculos» a J 
sua pessoa & admiração publica. Alfonse j 
Karr adoptou a impostura roenoi »yro- 
pathtca do homem que não gosta da re- 
clame, mas que, fazendo a critica da vai- j 
dade alheia, nlo perde oceaslio de fallar 
de sl. Fugia da sociedade, para quo es- 
tranhassem 0 commentassera essa caqui- c 
vança. E, como o nlo fizessem a seu < 
gosto, cUe criUeou-se larga, profusa e ( 
longamente. Que afinal de conta», o que j 
mais se vS na obra de Alfonse Karr fc & 

; su» personalidade princtpalmcnte. 

Se aind» fosse uma peraonalidade ge- , 
nlal — o que t quast um contrasonso, i 
porque oi gouios, aendo syntbests men- j 
taes, mal so comprimem n'uma perso- 
nalidade— ou se fosse uma boa alma 
’ transparecendo por baixo das arrogan- , 
. cias próprias do apparato da represen- i 
1 taçio publica, como mostram tantos do» 1 
seu» mais Impertinentes s mais glorto- 
1 sos contemporâneos. . . Mss a boa alma i 
do auetor daa «Guêpcs» parcos quo se . 
i esgotou antes da sua estréa littcraria, 

■ porque todos os seus livros slo eivados , 
' de um fel, dc uma amnrgnr» Incxpll- 

J cavei. Não alo sympatbicos. Ha n’eile» ] 

: comu um proposito de pessimismo mosqui- , 

'■ nho, rancorossmente pessoal. Um moço , 
; de bons sentimentos, que User lido o 
! Sous Jts tilleuls, o Uneheurc trop tard : 

> c o Chcmin te p/k. courí nlo se anlraa . 
ler ootro romance de AÍphonsc Karr. 

\ Ante 3 dos naturalistas o sem a visão 
. artista d’cstes, ello tinha visto a htimn- 

- oldado cora garras d» tigre • fooelnht 
J de porei». E passou a aua loaga vida 

> a dlzd -o esplrltuosamente, remo «m- 

- tente do o haver descoberto. .. 

1 O que aconteceu foi julgarem-no multo 
} forte, porque ora irónica, o deixa- 
ram-no ds lado, como olle tingia qoerer 

■ viver. Foi um fim de vida solitário, 
r pobre c um afleiçltoa, um exemplo para 

- quem tiver tendência» a ser palmatória 

> do mundo. 

Bem dlíTcronlcs dos dc Alphonso 

S Karr foram os íunezaes jornalísticos dc 

0 Jeanne Samary. A noticia da «o» morte 
• correu pcl» cidade como um Immenso 
; murmurio de piedade. E foi p* Imprensa 
t toda d» França om sentimento imanlme, 

artigos em que á eon.ldéraçlo da perda 
que sotrria a Comidic Franpalse, privada 

1 assim da ana primeira o insubstituível 
á íoubretts, so ajuntava 0 sentimento pea- 
r soai de sandade d'aquclla figure t*o 

0 aympatblea. Jeanne Samary era a graça 
era pessoa e a alegria, a expressão mais 

, artMa do espirito francei, amavd, ape- 
nsa malicioso, sem fel de peeslmisnios 
| germaoicos. 

DiaDte d'clla s gente se senti» contento, 

| como quando se falta core pessoas felizes 
. e «udaveis. Ella tluha a vfbraUlldade 

1 nervosa de artiata, nu» «» muito bem 
! equilibrada e delsav» aempre no tbeotro 
' com as suas roupas do actriz a llbertl- 
I nagem do modo» o costumes. Foi mesmo 

uma cousa par» oon»id«r»çSes triatoa a 

1 insistência cora quo á beira da soa cova, 
em lodos oa discursos tremulos da lagri- 
mas represai com que lhe disseram adeus 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


891 


Anno XVI 


• a v - * 7 - 4 

Rio d* Janoiro — OmrU»ftlr* 20 do Wovtmbro 4o 1800 


CAZETA DE NOTICIAS 










892 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 

lnar?r*TirAM d* «lUtasi. — f.iMirlU» qc» rMfirt» . 

-OuiUU I MrikMilmi. — ftmJ«?ÍA • rrf.mr.— 

PuH I •.-UitafflrtoWM.— U IffsM L«»«u 

A semana fct de In angu ração de eita- 
ftui o liomensgraa n morto* franccM*. 
dí»o(ro o fóra da França, cm Mscoo, ona 
«'•bIw, cm Ntrarlno, a Lamartlnc, *Ca- 
wlll© Desmoulins, aos marinheiros íran- 
cwei que mOfréram polujaiido pela lodo- 
l endencla da O rocia— pagamento d'essas 
dividas de gratldlò qae n8o proscrevem. 

A* fe»ta* ild centenário de Lamartlne 
na »ua cidade natal foram magnifica*. 
Acudiu a «lisa ura poro Invmenso. houve 
romaria* i caia ora que olln naieoo, cm 
Ms«m, ao csstello da Salnt Polnt, houve 
vm*o aolemne d« aciulemln local, de que 
c poeta foi um doa prfmolro* laurcadoa 
em 181 1, com o concurso do toda* a* 
•Clilontlat do França, rcprra*ntaçAô dai 
Camiitft Frnnçaftt, banquete*, otüdos 
rolliitoaoa, poesias, dl ictirw, quatro dh» 
de glorificação do ff rand« esquecido d® 
geração presente. 

Menos esquecido doa moçns de bojo que 
do* de Montem . A religiosidade de Lamar- 
Clvie começa s ser syvnpathlca ao espirito 
noto, om que o niystlclsmo se ral ln»l- 
1 nua mio . A própria felçlo simples e aban- 
donada dos seus versos tem artifícios. 

crlllfiidi peto* piirnadinoi, lymdn mil* 
no* cansados do rimas torturantes e so- 
noridade* subtis. 0 vento sopra das ban- 
da* do IJeaüamo e I.amnrtine 6 um dos 
maiores idealistas franrezes, talvez o 
malnr, porque é o menos individualista 
d*cllcs. A sua vida o prova. qae foi un* 
como borboletear sem destino, com o des- 
tino obscuro dos poetas, só depois dc 
morta conhecido — mostrar a vida em 
bailo, em grande, como devia ser, qbc 
cito wntetn. 

De cada rcz.porqm, que oTls parou para 
agir, alguma bella' c grande obra resul- 
tou. Ellc fct o politleo pocta r dc quem 
o mundo nlo escarneceu. Teve n dom 
dn sympaihia Irresistível. Defwls dc 
ter sido nrn ccntcmplalivo, foi bomoni 
dc acção e a atTectuosa admiração d*> 
povo fez-lhe cortejo como a um rei 
Houve um momento em que Lamartlnc*, 
representando a França, estore em face 
da Europa ç faUou-lbft d foi ouvido. 

Depois cabiu ns velhioe, na pobreza 
Tiumildem«Dt* laboriosa, áofTrou o cscar- 
neo dos sega contemporâneos, «'elle qn« 
era Incapaz do achar bella uma satyra . 
elie que Hnfca sido grande e magnifico 
como om rajab. Houve tempos om qnr 
Jamart£nean<f cra slnonyrao d» chrn- 
ralngns. *Fra a moda do realismo, do 
naturalismo, ~do satsnismo, Mo Lxnpasslbt- 
lismo, dos friston t neue«i*.r. Hoje está 
Terlflcado r qnc os calafrios novos nJo sAo 
essenclaeso, diminuídos os exa^geros da* 
apreciações posaow% os grande* poolasi 
Tfto subindo todos para os pedostaes qti* 
lhes origiram a gratidão o o* amor do-s 
que já porá cllcs sito posteridade. 

A inauguração dü estatua de Camillo 
Desmoiilln*, cm Guise, teve menos reper- 
cussão. . Os fcomcía da Revolução tèon 
•ido uni pouco diminuídos pela critico, e 
o povo, esse nllo santo multo bem a no- 
cctsidade <lo commcraorar-sc cm broi» 2 « 
a figura de segundo plano, embora muit*: 
Kympathfm. rio primeiro jornalista demo- 
crático de Pnriz. Se j;i ha Unta gent« 
convencida do quo a Rcvoloçüo foi uan 
engano hlstorico, ongano coloaaal, que o 
tempo vai provando I... Dlz-sc que a re- 
volução foi feita om favor da burgitezia ■ 
Agora resta que n façam para o povo- 
E’ natural, porém, quo os Deimoulins 
d essa nlo ganhem estatuas. 

— A reabertura dai camarás fez-se 


peça nora, U ilepuié Leve**, de Julei 
Léraaitrr. K’ tim® peja nova devéraa* 
intcroainto como poucas lia no theslf* 
coatemporanco. Atò admira qoc um cri- 
tico thcatral posas fa/cr uma peça de 
theatrf? com lautos elementos de drama 
moderno, A peça 6 satyrica, ntfciral- 
monie, e tom alliuhes, ou antes lera ç®- 
daços 'tirados da comedia ^•.ílanglatâ, 
ILis ha li QiM ílgnra de-^b^a senhor% 
dc mMIa cdiiCAçAo,dc r.irJIÍk^|6lllgcnrl% 
franec/a o burguesa n alm», quo Imprc» 
alona profunda monto* .IS* uma actrlt do 
Odfon, lime. Maríq tâwary qac a rejyo* 
senta, uma actrlz om quo^lnguom ftl^A 
fclie repero atè aqui, ••que jMjfflnSb 
priBonAgoni. Qaando se labe do tUoi Wr 
peais-se n.n ò<V qne alto t j£ç*trAI, quê» 
é mesmo ridícula % o fd^iriQ < d^o-tBV not 
por isso. .. 

— Na Porte Si * Marti* reprettpkKÇOt 
hontçm pela primeira vez fli^CWopeirr, d® 
Sardóu. E* uma peça de grande espectá- 
culo pnra a exportaçXo, diz a critica. 
Sarsh Oernhnrdt mnltc decorativa e Gbi<. 
nier Mero Idero o multo gritlo, farern de 
Cleópatra o Marco Antonlo . 

Fariz, 21 do outubro. 


Foram nomeados agentes do rorrstoi di 
rstaçáo do S. Domtnco* ns estrada de 
forra do Carangola, Gaudonelo Laurcs; 
da eataçflo do BarAo do Aqulno, Joio Tel- 
heira da Silvai da cs taçfco do Flnh«lro» 
-str.vda de ferro Ceatrsl, Joaquln Paes 
Ilibe Iro Navarro^ 


0 NONO MANDAMENTO 

Não, decididamente ntol 

O dcmonlo do Antonlo de Azevedo nÜ 
pn«lln conlêr-se, cm rendo mulher pepi‘ 
tenccnto ao pmximo. 

Por mais quo lhe dissciscm, % elle, ata 
cra religioso o temente a Deus : 

— Olha o nono mandamento!... 

O diacho do rapaz não ac continha! 

Kstava-lhp nquillo na massa do sangue. 

Levado por aquclln irrcsisiirol tendoa* 
cia. de roujmr o íructo do qtilntal do vl- 
»inho, no vera Marhnnn dc Je*as, os- 
i-osa dra JosA Maria Noancira, piscou- Ibs 
cite um olho, «tn seguida o outro, e. cm 
menos tempo do quo o quo leva o diabo 
| x esfregar o dito, couqulstou a rapariga. 

Estavam as cousas n'cste pé, quando 
ante-hontem foi elle pilhado em lutiros 
colloqulo com dia, pelo ciumento marido 
i|uo. não aostsndú da graça, arrcmcUM 
contra n infiel «rosa. rio cacrte cm po- 
nho, c pqz-so a vibrai o nascostellas dg 

iiUA COA tollO. 

Movido por Imncto dc pavalheirO me- 
dieval, que os dc noie n Ao dfto para lsao^ 
aprvscnton-sc Azevedo enn doíeza da doná, 
travando-se então renhida lucta entro ol 
dois. 

Acudiu a policia, qno não *A flloia os 
contcndore*. bem como o indtviduo ds 
nome Francisco Vidra, que, pelos modos, 
fora o lago d'aquclU traftcdla conjucraL 

Foram os trcscondemaidos pela polida» 
que os considera na classo^dos turbu- 
lentos conhecidos, a assignarom termo de 
bem -vi ver. 

Dcm-vlvcr pretende 0 lai Azevedo, con- 
quistando m mulher do proxímo o Infrin- 
gindo o nono mandamento das divinal 
posturas. 

Foi prorogate por 90 dias a llccoc». 
rora vencimento na fòrma da lei, em qos 
xo ncha o cidadão Josò Lnfz de Barrot, 

1 r.Uicante da 3* divisAo da*Kstrsda de 
Morro Ou trai do Drnsil, para tratar de 
«ca aawde ou£> lhe convier, 

Ante-hóntjm, *i 11 horas da tr.anbl 
Antnnio dos Santos Darid, quo lambeR 
dá o nome do.Dami.io, empregado de ^oiO 
Garcia Fialho, residento na rngnczl* do 
Ira>% aproveitando-se da ausência do 
seu jpatrio o da flunUla deste, penetro* 
por*nma jnnella dos aposentos de Kislho, 
o, arrombando um cofro do msrielra, rou- 
bou a qunntin do 30$ cm prata, cinco 
leiras <£o Banco Predial c duas do Banco 
do Uraxil. que, juntamento com o. cofre, 
estavam dentro dc um guaniA vestidos. 
O gnturo rol preso cm flagrante, na oc ca- 
stão em que tentnra cambiar os letras. 
A aucloridado local rometten o larapio 
para a policia allm dc ter eonvonlentc- rlcs- 


convencida dc quo a Rcvolnção foi nm 
engano histérico, ongano coloaaal, que o 
tempo vai provando I... Dfas-tt que a re- 
volução foi feita om favor da burgueda. 
Agora resta que a façam para o poro. 
E’ natural, porém, quo os Dosmoulins 
d'c3sa nlo ganhem estatuas. 

— A reabertura das camams íez-s* 
tranquillamentc, embora nio sem inci- 
dentes. Houve pedidos de urgmcla para 
certas propeatas slngnlares pelo menos, 
quo foram rogoitadas. Um boulangista 
quo pedia um nova processo dos sens 
correligionários doa logar 4 resppariçüo 
do Sr. Paul Déroalède, que do alto da 
tribnna atiron cm podaçot, n’um grande 
geito dramático, a csrta cm quo la pedir 
ao presidente da camsra a sua demissão 
e dccIaroQ que continuara ao parlamen- 
tarismo a guerra feita em nome do seu 
amigo Boulanger. E’ nm litterato apro- 
veitável que se perdo o um mau político 
mais que flea. Do tuda isso rcsnftou um 
ducllo entre clls eoSr. Rdnacli. Nlo 
bouve feridos. 

0 segundo dia de sessão *A teva dc par- 
ticular uma Interpellaçio do Sr. Maurlce 
Dàrrès, ura cacriptor muito original e 
pre te ocioso, transformado cm político 
pelo boulangitmo. O Sr. Barrès pedia 
libenlule para a venda de todos os livros 
na* criações dos caminhos de ferro da 
França e que o monopolio fosac retirado 
da casa Hachctte. A discussão Hgetra- 
menlo Iittersría terminou por ama decla- 
ração do Sr. Ivea Guyot de que o ajuste 
pnra a venda do livros nas estações dos 
caminhos d« ferro foi feito entre a casa 
Haebetto s as companhias de caminhos 
de ferro. 

O governo nada tena qno vêr com o 
famoso monopolio que tanto irrita sos 
litteratos cujas obras s£o excluídas d'es&e 
mercado considerarei. H uma ordem do 
dia pura e simples foi votada. 0 govereo, 
apesar dos ombaraços quo a com mi Mio 
do orçamento oppõe ás medidas flo&n- 
ociras do Sr. Rouvier, continua fórte e 
scgiTro. 

—O Congresso dos Americanlsta* re- 
unido ultimamente cm Pariz, não fez tra- 
balho que valesse. Notou-se a abstenção 
de muitos de seus membros mais illustres 
Discutiram-se questões muito bypotbc- 
tiess de geogrsphia pre-columbians, !o- 
eallsaçio de tribus a raçaa. origens ainda 
multo menos predase dos povo* ameri- 
canos. 

N uma discussão sobre o logsr cm que 
param as cinzas de Colombo, o Imperador 
D. Pedro, que estava presente, pro- 
neociou-so pela ilha dc Cuba. Mas parece 
que a maior parte dos que se interessam 
per essas cousas inclinam-se a crèr que 
o corpo de Colombo tivesse ficado na illia 
de S. Domingos. 

Uni incidente da ultima sessão foi 
proposta apresentada pelo Sr. ds Mes- 
tre y Amsbilc, om cubano ao serviço da 
Venezuela, para que o futuro cnogresso 
que so reunirá na ITespsnha om 1 
ponha no aeu programma a questão dos 
limites entre as varias repablieas da 
America do Sul. 0 Sr. F. de Saota Aona 
Nery oppoz-se a essa proposta, ponde- 
rando qoe o coogrtsio dos ameriesnistas 
nio podia fi«r poütica. Por flm assen- 
tou-se que a questão dos limites entraria 
pragrsmma, mas que seriam os limi- 
tes das raças antiga* e das tribus iadiat 
— qualquer cousa diflici! como preCbar 
as zonas de repercussão das deslocações 
aerns. 

— No VsudeviUe representa-sc oms 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


893 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n. 335, p. 2, 1 dez. 1890 








894 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARÍZ 

Tudo corro om pn*. A marcha do» ne- 
go Mos publico* não encontro grande* 
Impoçoi da parlo da opiioaíção, mullo 
doomorallMila Irnjo cm dia polo falta do 
programmoí sério» e prallcoa o pela ver- 
gonha da» uUltnns derrotai. 

O» Jornalista* polltleoi vCm-ao om 
sfxlon rinbar.tço» jura soprar na* bolhas 
do sabão do um arll^o bem folio o onlhu- 
slnsmo ou a indignação quo dcspnrlam 
M bellâ» nhr.au ou na Infnmla* «lusnntlgfts 
uii dos ndvcrknrioi. Não lm nada quo 
inorcça a penn do uma exlilblção com- 
pleta dn* plirase* rl&ia, dos períodos de 
grando gala quo ».\o apparalo dos mo- 
mentos solciitnei do Jornalismo. 

K* agora quo os quo «ái> coparoa do 
outra» coutos sAo foll/os. 

O* artistas, os poens, oa trabalhadores 
fcUtliclutos sentem a allençAo publica 
vidtar-so pira elloa. A*«lm n'uma ofll- 
clna, quando calam-»o as grandes mn- 
clilnas barullicnlas c importuna», pixlo-so 
ouvir a vox doa engenhos monoros, cujo 
trabalho não 6 monos Imporlauto |K>r ser 
monos ruidosa. Na lida social ba umas 
pcquonai maebinas prcMlmosns, que 
nunca descansam o n quo aponas so 
nttondo quando to.las ns mala c*lão ca- 
ladas ou então quando, sentlndo-llns a 
falto, val-so dar balanço á r.un obra. Sá» 
os sábios modestos, os artiünx não dn 
ntodn, os |tonsadorrs humildes do coraçAo 
quo alguma grande Idvn dirijo e elova 
com o resplendor c o prestigio de unta 
cslrctla do destinos. 

Um prazer quo tom quem vive cm 
Parii 6 sonllr quo entro tanta frivolidade 
turbulenta 0 escandalosa ha logar para 
existências consagradas a grandes obras, 
a obras que polo monos ao mngnldcnntin 
pelo sacrifício «los seus obreiros, c sentir 
que 6 no melo d'csto immonso egoísmo 
npparciitc quo ba maior numero de exom- 
pios do tacs dcdlcaçbcs.Uo vez cm quando 
uma descoberta apparcce, um li vr»» ó pti- 
blicndo, que dão tignal dográu de avanço 
do trabalhos d'esxcs. 

K os trabalhadores a jornal sentem-se 
jtri.-lcs comparando o resultado do seu 
esforço cspeelaculoso com a obra silen- 
ciosa d'eKsea cmprtfhdros de obra para n 
pvslcrldndo. Quando appnroco um vo- 
lume da obra histórica de T.iine ou ele 
RJmnè que mais ao sento a esmagadora 
supt-rinridndu desses prodnctos d«t grandes 
espíritos sobre a fugitiva c iurtrmopro- 
ducçSo da liitidligencia contemporânea. 
Parecem trabalhos do outros tempos, 
liadas, cyclopicas do construcções, qqo 
mal surge ui do solo sobre os alicerces 
jà impressionam pela fortaleza o polo 
desmedido das proporções. O livro d'esta 
semana c do annoó o terceiro volume da 
Ilrsioria do povo (f Israel, de Itónau o 
peuultimo da série que, terminada, (u cl lc 
já agora espera vivaincnlo quo essa for- 
tuna lho seja dnJa), será a justificação 
dos seus esforços c o premio d’cllcs. Ainda 
um volume, que jà vai bem adiantado, 
o os prophet&s pensadores do Israel, por 
cima dos séculos o das formulas diífc- 
rentes, dar Ao a mão a Jesus. 

A critica séria da obra de Rénnn, do 
quo cila represonta como avanço da in- 
telllgcncia da historia atravez do pe- 
queno mundo mal sabhlo. quo foi o fóco 


IO o contentamonln do ir pciunudt com 
a leitura, como quem trabalha par* dan- 
do. K* vordado quo Anatolo Franco é um 
poeta dostacndo no hililliAo do* críticos. 
As sua* crlttuai no 7 mips rcsetilom ao 
mesmo d'eshA usclIlaçAo «uggcail.A doa 
comparadnrca Infatigável* quo são os 
poetas borboleteia nle*. 

— Diuilct dou o terceiro volume dn 
opopéa do Tarlarln» O bordo morro. O 
poot» dovla chorar ao descrevor-lho o 
fim da vida, como Cervantoi oscre.ondo 
a mortífera volta dn razão qtio melan- 
colias o flm do pnema do l). Qul;olc. 

O m.d d'csle tempo para asllttoraturaa 
6 nio ser mais possível escrever obras 
unlvoisacs. .Senão, Tartirln seria um 
typo comparável n 1). Qutxoto. Com cato 
pareci lamento infinitesimal do Idéss cllo 
ficará sondo S|ena« urn reflexo caricato 
do quo de heroico tom cada crennça 
grande, quo é o homem cxhubcranlo o 
espectáculos». Outros crcnráo outra* fei- 
ções dn comodla do individualismo. Os 
fragmentos Juntos formarão uma collcc- 
çfio muis ou monos completa. Só a obre 
una c inteira, producto da concepção do 
um sé contemplador, nunca se podei n 
compôr em tempos do refusão do credos, 
de csvnsinmcnto d* altares. 

— O palro Didon publicou uma Vida 
do Jesus, obra nuclGrlxnria por congre- 
gações religiosas. E* uma tentativa sem 
originalidade pura conciliar a scicncla 
com o ciUiolicismo. 

— Morreu I.ui/. J.icoillol, um csorlpUtr 
do volumes ln-8* multo respeitados no 
Brasil. Aproveitou do cslar mis tempos 
em 1’ondlcltéry para oxplnrar a índia nn 
Rtiropa cm livros para a exportação. O 
quo cllo escreveu do viagens ao pais das 
bayadCrts, ao pal: des cUy.hawies, ao 
pais das pérolas, ò enorme como quan- 
tidade. A qualidadú ò desprezível. Até 
escreveu estudos sobre origens do Citrls- 
tianhmo nn lodis. Rrs para exportação... 

O quo provava o seu suobismo lltte- 
rario era o apreço quo olla ligava so seu 
titulo do homem de letras, lírx iiiatro 
dn sua commnna, mss punha essa ItOitra 
abaixo «la de liltrraUur. 

. — Publicou-s^ Inmltcm o Annuario 
dos ducllos. Como documento do unta 
épnen 6 uni titulo significativo. 

Paris, 5 de novembro «lo 1900. 

Dom mo da Gama. 


VOa MOLTKE 

O IMehsansewer do ?8 de outubro pu- 
blicou o texto da nUoctiç-ào pronunriída 
pelo imperador da Allomnnua, quxtuio 
.saudou cm pessoa u celebre tnaricbnl. 
Kl l-o cm sua integro: 

*« Meu caro fcld-ntorcciial. 

Aqui esiou com os pnuci|*ns c com ns 
chefes de ;neu exercito para attrescnUir-vns 
nossos mais cortliaos ciunpnniculos. K-tc 
dia é ptra nós «lo recordação c «lu agra- 
dceimcnlo. Ag»a Icço-vos, primei nt cm 
nomo d'aqiicllcs com qiieot trabalhastes o 
rontbalcsiCM, quo já hoje não cxfctoin, <* 
do qticnt fosLs o servidor mais dei o 
dudic ido. Agradeço vos tudo qtut fizeste* 
por minha casa. pela grandeza da pnlrta. 

Km vós saudamos nàn só o general 
prussiano que deu so nos* o exercito a 
uma de invonchcl, mas ainda o homem 
quo fundou nosso imperio. Aqui viornnt 
príncipes «lo tndni as regiões da AHcma- 
nha, o á írento «rdlea o rei de Saxonia 
quo ílcl allindo de mou avô. quiz trszcr- 
vos cm pessoa seus votos. TuJo. nas re- 
corda o (emito ent mus c!L« c.intibale t 


A critica séria ds obra de Rénan, do 
quo cila represonU como avanço da itt- 
telllgoncla da historia atravez do pe- 
queno mundo mal sabido, quo foi o fóco 
da claridade moral para todo oOceidentc 
o o estudo da influencia da sua philoso- 
pliia sobro o espirito dos setis contempo- 
râneos ainda não foram feitos. A ultima 
parle, sobretudo, a dlBcriminsçào da sua 
influencia outro a de tantos demolidores 
constructivüs, que tem trabalhado no 
ediflein dn historia, ba longos annos, itío 
ó tarefa para qaalqucr. Talvez mesmo 
não seja trabalho iilil o opportuno. .. 

| Pouco perdemos cm ignorar quem foi ao 
i certo que. outro o alarido dos «loutrlna- 
! rios furinsame.nto convencidos, nos asso- 
prou a formula conveniente, o preoeit» 
mais largo e mais aympnthico. Até d’essa 
meia ignorância resulta uma duvida va- 
1 gamente caridosa para a nosss vaidade 
de intelWtuacs : se seriamos nós mesmos 
os rfoscobridor«»8 da formula, so cila não 
nos é ntais aympathica por esse persona- 
lismo mesmo? NAo ka rosl seusivel pro- 
vindo d’e»si presutopçAo ihiiocento. que 
j estimula m«r* do que se pensa os traba- 
lhadores da iiléa. 

Que importa cntlo quo s^ja mais ou 
menos forte a dosagem ele Taine ou de. 
Réunn na chimtcs cerebral cnnbmno- 
ranca ? 

O que importa, aiut, i mostrar como a 
persistência do esforço guiado por uma 
ídèa engrandece um homem. 

E' possível que a obra d’cllo* nào srjn 1 
boa, nào seja 'u til— pois que todos virem { 
á espera da boa, da verdadeira, da que 
soni consolação c luz o força— mas nin- 
guém poderá contestar que cila c sincera. 
O 8scrit1cio de uma vida inteira consa- 
; grada a servii-a provs-o. B bem so sabe 
: que a sincondnde 6 o maxlnmm do ver- 
dade... individual. 

— Outro livro acolhido amavolmente 
pela critica e so qua! o publico faz um 
pequeno successo de livraria «1 um ro- 
mance de Anntolc Franco intitulado 
Ihais. F.' obra de ironia— a expressão 
impertlnentoniente aristocratica do espi- 
rito novo— i o de flua liltcratura. A his- 
toria é entre monges da Thebnidn, phl- 
• losophos c cortezAs d^lcxandria, mas 
, t.\o graciosa c habilmente feita, que cap- 
tiva o leit-tr dosde ss primeiras paginas. 
E sem sentir o pesadumo rias questões 
phüosophlras brutslmcnlc propostas, tem 


De Paris (detalhe) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 895 





896 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


trina* cu da* galfrin» Interiores, a «n» r 
DE rAnl£ wllc^l» do Uwls-Ilrown) mal u |WWo Jj 
«Uar um, «|«io alo v.nliam lo»» outro. 

iU r»u iiaiicp, .lo i.umirn, tini do r*rt*.-o «Jlnpuliir-Ilio n prlm«tm niv momoria. e 

«'« »r» como ««•. ««rrlpwr*. .|..o nfto jj 
que uiaiâ, fl/crarn uma *'• «mulo obra Irjlada r ,| 

No iomIIo ila Nothvlmlo do GooRraplila abaorv-nU, . <|ur ,1 

Comino, clnl de 18 do novembro o Nr. Dr. f«m" r»M ,1 

floreei», illrcctor dn «cola <le rol,,»» do «In», o p»R na» o I>hr».o. prcclo«. e „ 
Ouro Prelo, te um» multo loloreunlc conceito» profundos, no dcscuMoio des- » 
conferencia sobro » »n Ir» provlncl.de pordlclo dlarlo do. rl<|UOr»* do «plrlto. .1 
' ' Uwl.-lliown cr» um colorlsla o um * 

Deool. do tor leito o rotrato phy.lro, o bom compositor. No* mui «uonoro. <pm- c , 
orador contou n hl.torl», dowovou o. dro. sempre h» um oe udo *«wnr*- « 
Rodou e producto», cnnumoron a. rl<|unt»> Ç«o, um movimento » ““ „ 

: st ?, 

; ^ nrriüzkTra daperflodoamaxona. elesnulM... B». 

1 f,, ‘ ur0 'l"° * 8 ? rd , J "* í «ua» patepen», Indicada. inrgamcnto «oh ' 

! ZMSSZjr* m! fala- a clftrldado do «te. multo flno..tran.pa- j* 

I meiiop pru «>.> u rente», focem n liarmonloda «ona, locn- 

! “tecranTila d» 8ocled.de do Goo- «o .« ^.on^cn., faccndo-o. I| 
croiihla. apinhada de brasileiros o de re *P lrar » viver. t 1’ 

fn, ce/c» par» ouvir ». palavra» do »u- Um gonera runo foi amnliiaato ante- p 
’ torUndo profouor, certo, algarismos ca- *• ,» ''«». do mnnhS, num 

i WtaUcoa raalam correr um murmurlo hotel do Iloulevard do. Italiano., por um 

maravilhado, mt.tura.lo de mel. lucre- "IhllWn. 0 »»•»»» n»d» chamovn-uo So- 

d d iln le. Ilouvo me.mo u„. bomen..,- HvcntolT, l„ha «Ido ajudante dc campo 

> ó. nua acharam que o panrgyrlco devia do czar, o dizem que gabarão do quando c 
\ ver atenuado, parando parecer exagerado «leve cm functfte ttoncçCes ,1o polida c 
. In ir.mrrrr.r nor l«». ferozmente discricionária). ter mandado , 

» ir o defeito doa elgnriimoi batendobrn- para n Sibéria mal. do vinto mil nllilll.- c 

• lalmcntc .obro «plrlto» pouco habitua- la.. DVa*ea vlnlo mH drama» angiiatteo. >' 
doaarcceher-lhcs u» choque». Ninguém nJo tran.poz »e quer o echo do um «u.- , 

s pousa que un, algarismo 6 a exprwão do |dro n cadela do tirai. e 

factos na.ua derradeira .ImplIllcaçAo e A i«qiienlna ba o do revolver, que J 
ono esse» facto», sendo explicados o llg.dos furou o erauco endurecido do carrasco e 
como circllo. na suas causo., Jh nSo tem dc .oraenta annos, essa slnl, for. baru ho. . 

- inala om si motivo para adnilraçio. K' Nilo tanto que so apanhasse o assassino, c 
? mal. fácil e expedito duvidar da voracl- Mna baslanto para que cnmcqa.se logo n o 
1 dado ilcllcs c dc quem os apresenta ; lodo policia franccz». Interessada om «crvlr n 
i o mundo cstit disposto a reduzir montai- A» vingança, da grande amiga, a proa- t 

• mente a presumida liyperbolo. enmo .o der os russos da colonla suspeitos de , d- J 

I fnr. o desconto da oxagcraçlto do quem. hlllsmo. , _ l 

para dir.cr que já tem repelido uma cousn, 0 inalador, depois do (or disparado o , 

e exclama' «Já tinha dito Isso com mil ve- sou lho. omqunnto ooutro llr. uma caria, r 

i n sahlu do liolol tranqnlllamonto, »om que 1 

Enlrelanlo certos algarismos iinpros- nlnguom «iispollasso d« quo ollo acabava { 

s Slonaram vlvamcnto o audllorlo e, mais de fazer. Mela hora depois, quando entra- , 

• do quo nsprojceçücs luminosas retratando ram, encontraram o general sentado na i 

ü ns naiangens e lllustrandoa.sdcscripi;fios, sua poltronn, silencioso, ogonlsaiite. E, f 
S n mínima proporcionalidade dos crimes mudo, ao cabo do algumas horas, morreu , 
c c dellctos para n massa collectlva da po- a duro caçador dc homens. i 

- milaçAo dou-nos uma avantajada Idía das Ilouvo quem dlsscsc quo o general ■ 
condições da existência do povo mineiro, morreu do um Inurvitw... que dc umas ( 

5 Um crlmc ou dolicto para com mil confidencias por cllc feita» a um repor- , 
o pessoa», oito rmilio» averiguados n'um ler, por occaslão do processo dos nlbl- I 
0 anuo, doz infanticídios cm quarenta an- lista», concluiram estes quo elle conli- 
" aos baldado do ouro para a espantosa miava om Pnrlz no oxcrelclo sccrcto das ^ 

- criminalidade destas clvilisaçOes adian- fimerões quo Unha cm S. Peteraburgo. , 
' tndns. E certos traços do eostumra, a hosph Quando uma intermollnria entre os al- 

;■ lalldadc.n falta dc apprchonsDes dos chefe* hlllsta* da ltu*sln c os refugiados cm 
dc lamlha polo futuro da prole numeroso Partí, Sopliia Gunsbaurg, foi prosa, rc- 
(niiando aqui om França algum brasileiro solveram cllos que, logo quo fosso conlic- 
,! diz quo tem sala ouoltoirmfu)*, perguntara- cida a noticia da sua eondetarmqto na 
lho logo so oni (lo o |>ao t muito rico...) Rnssln, o acu denunciador seria morto, 
e o moralidade superior d'essa gonto, quo No dia mesmo c,n quo os jo, naco puühoa- 
!: o orador adoptou por compatriota tilo de vam, por telegrama,», a sentença dc 
coração, completam a dcscrlpçAo phy- morto contra Sophia Uinsbourg, o gone- 
slco, ccoiiomiea o moral da terra quo o ral SclIvcratoíT era aasassl mdo. 
u Sr Gorcctx terminando chamou «cniur Até aqui os intcrviows eram ridirutos. 
lê ebnbrcux du Bibsil, daas uno poltrine mas o mais que matavam eram amisn- 
m ® . «los. Agora come^nm n kop mortíferos <le- 

i ; L cr ' > * _ vòras. 0 jornAliswo vai se lornamlo um 

r * 1 . fn5 , A periíjo serio narn os p:irlículnrcs, como 

,e Alguns Joraaes írancezes udo aq „illo dc que « abusa.. . 

’* multo barulho a proposdo dc um ompres- 4 , leno 

S, 1 . timo do -ã milhões cm ouro quo o Itaneo Tanz, £0 do novembro de 1890. 

ns Jc França fez ao üc Inglaterra, por occa- DoMicto da Gaua. 

Í- •«. I. iu..tJ.»«A «4<s isfi«n IVnr no Bro- I 


I silo da llqiddavio d» tas» unring uro- 
Iher». E sinda ante-hontem na camaro . 
dos deputados esse empréstimo foi 
nssnmplo para uma cseandolosa intcrpol- 
IbçJo do Sr. Latir ao ministro das (hum- 
L as . Ksscs financeiros amadores pensam 
que o deslocamento dc 75 milhões pódc 
pôr n descoberto o Banco dc França e N 
fazem valer demais o serviço prestado nd ^ 
Banco dMnglatcrrrt como sc fosso um vcr-V nn j 
dadeiro sacrldcio e nio uma opcuçü* teu 
commcrcial. Nenhum quer rcflcctir no «* 
mal quo resultaria para todas as praças 
do mundo, sc ado Londres sc achasse om , JcP 
crise mondaria c solTrcssc a depress*o dea 
do um krach proporcionalmcnto conside- ^ 
ravcl. „ cn> 

Na camnra a discussão d.a intcrpcllaçao v ftc 
foi adiado para. d'nqni n utn mcz. Ma- eon 
entro os jorniies inglczcs, quo encaram a « 

! coura pratlcamontc c 0, francercs qoc 
1 parecem querer fazer do uma cousa séria nín 
: uma criançada, a mcsqntnha qtlesUo con- «l 
• tinúa. .-Oc 

H* nisto, por (lm de contas, uma prova | 
do ignorância dos que sc vangloriam df vej 
poder emprestar dinheiro á opulenta In- ^ 
glalcrra como um jaobre quando em- pj s | 
presta a um rico. Tudo bem averiguado, cio 
n França nilo ô pobre, mesmo diante da 
Inglaterra o pôdo fazer com dia transa- for 
cçòcs de igual para igual. Quando nfm ^ 
fosse senilo pelo espirito de economia, ce qu 
poupança, quo os inglezes geralmcnlc ^ 
nilo possuem, c que nesta terra do pouca „„ 
aclivldado mcrc«antll crea tüo grande |jc 
numero dc pequenas fortunas, apoio da 
auetoridade, defesa da ordem estabele- 
cida... ^ 

NSo faltou quem qulzcsse explicar a -a 
I liquidaç&o da casa Baring pelas suas JJ 
transacçôcs com títulos c valores argen- ít 
tinos e... brasileiros. Ha sempre uma rc 
tendcncia a englobar-nos na gcographia nj 
financeira da Republica Argentina, cada ^ 
vez mais dosacrcditada na Europa. Feliz- .j, 
mento m\o temos derramada por cã 
mesma quantidade dc titulos o dc acç&es J 
I do emprezas fabulosas. 7 

Mas até quo os limites da nossa palrin 0 j 
I como os da nossa solvabilidade c honosli- » t 
dado fluancí iras, sejam conhecidas, serc- J; 
mos envolvidos no anspclçflo cm que viver.; 
ns republicas do extremo sul da Ame- s; 
rica, desmorallsadns pela jogatina des- * 
enfreada dos seus espectadores. t l 

i 

I N’um banquete dado aos oíTimes da >i 
esquadra do Mediterrâneo, commandadn 
pelo almirante Duporré, 0 grande cardeal t . 
Lavigcric foz um discurso em que prôgn .1 
a união dos partidos da França na Repu 
bllca como uma necessidade nacional. ^ 
Elle disse cm substancia: « A união ô r. ■ 
principal aspiração da Igreja c do* seus 1 
pastores, em todos os graus da hicrar- 1 
chia. Sem duvida, cila não nos pedo que j 
renunciemos aos sentimentos de fideli- 
dade c dc gratidão quo fazem honra a < 
lodos os homens. Mas quando a fórrr.» J 
I de um governo nada tem cm si que seja 
contrario aos princípios que, únicos, 1 
rodem fazer viver as nações christfts e 1 
civilizadas, chega 0 momento de sacri- 
I ficar tudo 0 que a consciência e a honra 
permitlcm, ordenam a cada um de uiE 
’ sacrificar pelo bem da patria.» 

’ Esto discurso, que 6 um convlle aos 
(partidos monarchlcos para que renunciem 
1 á sua obra estoril, tomando a Republica 
como um pis-alUr necessário, leve um 
Uucccsso extraordinário. 0 numero dos 
intransigentes monarchistas diminuindo 
agora que 0 apoio mor al da Igreja lhes 
falta, a França terá cm Frevo a calma 
’ resultante da morte do 0 ioso jacobi- 
: uismo radical. 

• I _ I>c;ois de uma cruel ag.M.ia de mui- 
‘ tas semanas, morreu 0 grande pintor da: 

• elegâncias hippicas. John Lewis-BruVb.i. 

■ Tinha 0 nome iuglcz c pintava como um 

• I artista ingloz, tovemente dosado dc fi- 
> I n ura ír.mccza, as scenas de caçadns, dr 

corridas, de acampamento c da vida mi- 
n I fitar ; mas era um france* de. n veimento 
L de coração, nascido cm Bordei ux cm 
0 I 1 S:í», muito trabalhador c niulto estimado 
j entre os mtUtas paridenses. 

Re* seu» quadros muito numerosos, 
íimra é o vendedor de pintur.-s que não 
icxt-Cc ac -ira- uo iiom lo_'ar dü suas vi- 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


897 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVI, n.360, p. 1, 26 dez. 1890 




898 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARflZ 

1 * I Taiti d* Koch — 0 • OuU'* 

J .Klivbsrt 

i 0 grsude scnnloolrooiUo da Mrasnn 
j oontlnü» a Mr o ««««o da semsn» pss- 
‘ *»d», o momo do lia 10 diao, o pirwo que 
continuai* ainda ftitenn por vnulfns dia» 
' 'o fogo 'da curlooldado. srceso cm torno 
. d'olU. A grande prsoccnpaçio da publi- 
cidade pariílcnw nlo A parkfenio : 6 o- 
r «gredo da conijoiiçio da lympha dr 
1 Koch, mcdlco do Uorllm. Uma repor 
I togem detonirelada aualla dlirimonto 
todoi squelle» quo tom posfQào scleutl- 
(Ica na eopcolilldida ou na generalidade 
lodoi 00 modlcoi notavíU, lodo» oi ri- 
rão» prorarel», todo» o» critica» de «elori - 
cia» o vulgarlsadorea de deacobert»», sflm 
do obter o detalho noto, o cpleodlo de 
uma experlencl» quo pareça Inralldar 
> ou qu» conflrnft o valor do novo roo- 
1 dlcamento, especifico contra a luber- 
| euloio. E como pooca gento t capsz 
I do r»»l»Ur & tontaqAo da riclamt, vim 
r iodo» o» dia» o» Jornne» chttoa de artigo» 

' liilormitlvo» «obro um» doecobert» de que 
. tá «o podem conhecer por emqotnto o» 
r resultado» II n sos. Oongrtçodo d« hltlorl» 
é que o» dltcurap» explicativo» do lodo» 

[ os medico» e professores» msUgentcbcm 

Irilormada b»«el»m-»e unlcamonlo nu 

1 magras Informnçõssquootmesmosjornsos 

' lhe» fornecem, ou enfio na communlca - 1 
. rio multo modesta ou reservada do pro- 
i prlo dono do Mgredo, qu» 6 o Dr. Koch . 

1 Chamou e»te » attençlo do corpo me- 
[ dlco, prlmelramcnto para a qualidade 
reveladora que tom o seu eipeclOco. Sc. 
I n’ura doente, quo »e «ntpella quo »ej» om 
tuberculoso, se lar. a lunoculaçdo c nào 
3 «o msnlfeitam n'clIo ro»U do quo leve* 
perturbações, dòrcs no» membro», a fs- 
1 diga da InjecçHo- aubentano». pédo-sc 
1 afflrmar que nlo * d'e»i» molcilla 
. quo ollo sogro No tuberculoso, olnd» 
quo no começo d» molesll», » do»o 
' mlnlm» de um contigramma da lym- 
5 pita produx uma reacçLo violenta, cn- 
) racterlsada por • febre Intensa, quevai 
às vezes a 41', esforço» de toiac, nsuscas, 
j etc. K*te facto 6 d» maior importanda, 
i tr»t»ndo-»o do c»»o» do diagnostico lo- 
ccrto. Assim, quando se beslln entro 
1 um lupua o um cancro, ontre um» altcc- 
, çio tubercüloss, ou cancero»» dolaryngo, 

- » lojecçlo dà um» resposta decisiva: se 
1 se produz u rtnç&o característico, 4 om 
3 Jupus, um» «ffccção tubérculos»; »« nào 

- ba reacçio, 6 um cançro- 

No caio do lupua q»e 4 >'">* affccçào, 
’ local, a reaoçào »ó ; «V produz nalparto 
atacada pelo mal rapugninle. Em tres 
s ou quatro «cnianda as crostai que so 

- formaram têm cabido, e no lugar OCA 
uqe cicatriz lisa o rosada. Resultados 

I análogos ptri as tubérculo»»» gsnglto- 
nsriss, otscas ou articulem. 

Pars os orgào» quo «capam i vista, 
J pAdc-to anppor que c trabatho d» roscqOo 
o bsterfologlca 6 Idêntica. Ma» o proprto 
jtoch «o afllrm» os resultados, sím lmit- 
" glnar a pbyslologla do processo. Quando- 
multo, elle explica n tolerancla progres- 
siva do» dose», que ncnbam por ser 
f enormes (comparadas com a dosa de 
lf um cenligrammn dn peimelm innocnln- 
» çllo) pela diminuição progressiva do tc- 

- cldo tuberculoso vivo. .Dapols de çada 
0 tnjeecio, dk elle, uma certa parlo 
a do tecido que ainda reagia -morre e 
I- sd augmontando as dosei se tibtem 
s ruaoçücs intensas.» A concluslo ê que 

quando o rcmcdlo nüo produz mais dTcito 


1'lrrro Coruelllo ergue-scaohrouma lljfS 
bnlro duoi ponlea, dominando o - 
nvsnlo », Joanuo d'Aro ucgrrjn no lagar 
fm quo oa Inglcze» a cremaram vln, 
•ha séculos, Napolelo monta um 
vallo plnuifirto «abro utt-pe^pat^jM . 
tanto .00 Hotel do Ylllo 0 oo l*do d» 
Iiiagninca Igrrjn ‘gothlca do Solnl-Oap»., 
Armnnd Cnrn-I domina um campo 94 
telra; onJo comprámos brinquedo» o ob- 
ras da llshln para brhorJIies a segn a, 
l.ouls lloulilct calA cncarapUado- síbfq 
uma fonto ao Isdo d» biblioteca. Abl 
lavou o Dilac o ctiapdo, que o veahs Usara 
rolar pela lama. 

Ao pi da cotbodrsl, quo ò a mala deli- 
ciosa Joio golblco, aorraan da o romaoaqw 
lenho visto, com os seus crivos negros 
dc pedra, quo o tempo escureceu, que 0 
niosmo (empo retocou do branco nasardb- 
Iss, liiofavolmpnle, A rodo da solha li 
prestigiosa nlnds, ha umas ruas escuras, 
cslrelloa s torl .idjiõ^. fetus do casos cujos 
fachadas qnasl so tocam no alio, oo seda- 
rei fazendo saliência. Por nlll nào qutz • 
gula quo fossemos, s pretexto do qu 
cheirara mal. 

0 honrado homem nào sabia que nbs 
Unhamos ntrarrasndo rsrlss vezesa Praça 
do Mercado do Rio, o que t um» provs- 
çlo para narizes quo oo prezam. Um» 
visita no Pslacio da Justiça o ao polacl» 
cm cujo potro da honra catAo oelebradaa 
cm paginas de pedra mludnmente cxcul- 
plda» ns magnificências da entrevista da 
llcnrlqus VRIdlagUterra e dc Francisco 
I dc França, no campo do Drap d'Or, eom- 
plcton-nos» llçio gcogrnphlca o orchtol^ 
glea sobro a patris do Flsubejt. ' 

A inauguraçllo om sl foi pobre da 
npparato o de concumnela do issIOsnlea. 
Os tornara parlzlonsc» foliaram d'ella com 
uma prcsslo continua de cnlliusiismo, 
qu» fazia ponsar n'uira festa a que a ci- 
dade Inteira so associasse. Tal nlo hou-rt. 
So no» contassomoi, quando isa» rounl- 
nw» no pequeno museu de pintura a*, 
nexo A blbllotheea, nlto aerlnmos mata 
do ISO os admiradores de Flaubert pre- 
sente» 4 sua glorlBcaçío pelo mármore • 
polos discurso» oITertnrlo». E d esses cento 
c dncocnts seriamos 'todo» admiradores 
«Ineoroí e »om rraervai f liaria om janota 
do logar que atroz de mim dizia cooft- 
dondalmenlo a outro: • Au fond, Flas- 
he rt m'emb4to... ». 

A' hora dos diaeursoa, todo» reunidos 
no jardim da preç» Solfertr.o. era freot» 
do monomento ninds coberto com oras 
cortina rerde, que o vento do temporal 
sscudla vlolcntamcntc, o velho Goncmvl 
foi o primeiro que redtoo o seu. Nsdl 
de particular ; o escrlptor dc llnia cousas 
nilo tem a vibração do orador» Usa sua 
bonita Ogurs, dc olhos mansos, e a boesa 
nlfcctiroa» sol) olbhgo bigode branco qu 
o vento agitara, como sy lbe qulasoa» 
arrancar ns palavras da tace», .fatia basi 
offeito na palssgcm, corao-aõ dk COS 
gíria. - 

0 mairt de Rouen rupendca-ahim dlsc 
rarso ilno e cb^io dcúplrtto, era qu 
contratara n ilrcerítado-do-odlo que pa- 
recia haver. entre FIeul>ert e os seua coo- 
tciToneos. Depois, um presidonto da oea- 
dcmla local lou um discurso comprido, 
chsto, nmsesnto, para que nem mesmo 
no dia do sen trtumpbo Flaubert se vlsu 
livre d» solcmnhdsdc «sl» dos. pedante». 

Defronta do carrasco Iftterarlo. 7/M, 
multo magro e cansado, ancolhfa-ss ooa 
frio. E o vento, soprando 0» rajadas fn- 
i-tosa», dlycrtta-se em arrlpfsr o-pdllo ds 
clispío de Maupansnt. 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


899 


quando o rancdto nlo produz mau «Truo 
' o doeoto eaUt eurndo. Na tbampoullca 

» antigh coithraavnhmr o contrario: quando 
o* medicamentos nlo faziam mal» nada, 

I oa modicoa mandavam os doentes tomar 
arca por clitnai mtlhor»$. Oa bacíllos la 
c lam Um bom o, muito entratldoa na «ua 
‘ .Yaina de abrir buracoa noa pulmSct, nem 
’ percebiam qua andarao a-posseUl-os. 

O phyalco berilnez faz uma grande det- 
’ coborta, come guindo obter um medlco- 
) mento que reTela um catado pathologlco 
j e que o corrige, aUcando-o dtrectamcntc, 
acdtrallaando a sua seçáo ou deetrulndo 

* oa tecidos corrompidos, nlo ao sabe ainda 
’ bem da quo maneira. lato nlo quor dizer 

- que todos os tuborculoaos podem «eaalvar,: 

nno; qosndo lis muitos tecidos mortos, 

'' que nlo pddcm scr resbtorvidos, elimina- 
dos, substituídos (ou diria quando já se, 
está meto podre) s reacçlo violentíssima 
1 até apressa morta. Agora, os doentes 
( curareis, easca euram-se... E já é alguma 
i couta para quem nlo è tnlmoao. Nós todos 
5 conhecemos lysícos perto do arrebentar 
j que dizem que tèm uma bronchile chzo- 
nlca, quando nio 6 uron constipação que 
s se repele. Nlngucm (alie n esses n'uma 
1 acringaçio, quo traz febre do 40* c clasai- 
l üca logo um bomem. E um amigo quo te 

- pordo o quem sabo se um homem que «e 
'fez morrer um wcz entee do eeu tempo 

| msrctdo. 

j Itobcrl Koch oceupa todae ei allonçJos, 
j Paatcur, eeu mestro e Inspirador pnira 
1 nlo sei cm qno alturas olympicai, todos 
esses creadores de baeilioe maaeoe, pera 
i icrvlrem de madrinha ou darom caga aos 

* mlcrobtoa feroz» quo nes róem sto bojo de 

* grande moda selentillcJ... E os homcco- 
j pothoit Por que 6 quo nlo faliam d'cllcaf 
e O quo pároco a» profunos è quo em toda 

essa therapeutlea do bocillos attcnnadoe 
° ha um cbolro dc simWa tlmitlbvs, que, 
s tresanda... 

No domingo 23 do «orembro, foi em 

* itouoo a Inauguração do monumento á 

0 memória do Gustavo FIniberL Quatro 

- brasileiros, homens dt letirai, tinham 
15 sido convidados por uma carta dc Ooy 
! dc Maupaasant n assistir á eeremonfa. 

Entre esse» quatro CU o quo basta para 
a conjug.-c os verbos nsi primeira do plural. 
|I No trem das oito horas da manhl, que 

1 nos levou A Roetti, foram Sdguaa jorna- 

- listas e escrlptorea fraeeezaa. Entre ellci 
0 gols, Ed. de Goucoart, Gby de Mnupsa- 
0 sant, Henri Ghvrd, Oelavo Mirbcan, Tf. 

flauer, o editor Cbarpenller, o esonlptor 

- chapo. Pouea gonte. Goroava o fazia frio 
jj quando cheglmos. 

t Era hora de almoçar. Um guia tomou- 

- nos na cstaçlo e levou-nos ao Hotel de 
D Inglaterra, á beira do rio, Vam logar em 

* que Roticn, sob a bruma, com os eeu* 
cees enlameados e desertos, ao iongo doo 

* qniet parecem dormir niguns navios 
11 quietos, parece uma cidade da Inglaterra, 
_ vo domingo. Nem lho faltam as fabricas 
n da outra bando, oa afamadas teeelageoi, 

* nem o* letreiros ingleses «obre e. porta». 

A dUTercnçaéqucas casos nlosáo doti- 

- joio c quo oo oalés e lojas não se fecham 
c no dia do repouso. 0 Paulo fez notar qoe 

* P.oucn rstà n’esse ponto mith otrazido 
. que Campinas. 

Depois do almoço andámos a võr a oi- 
r dsde, ninifo monumentoss c curioso, lio 
~ multa estatua de routnezes celebres ou 
. personagem iiluitres, quo o bronze foz 
dloJlos da capital uonnanda, 


cbapeo demisupaasant. 

Fóra das grados algumas Jezszzss dt 
curiosos estacionavam, esperando a hora 
de entrar .para Completar a obra de ortt 
do Cbapu, 

Tinham tirado a cortina t oaeulptora 
embutida cm uma pnrte fingida do edi- 
fício do Musou. A composição ropreaenta a 
ligara da verdade, que senta-se Abeirada 
aeu poço para escrever em um livro, n'uma 
postura o com um movlmonto mult» 
graciosos. Ao fundo o medalbio oom a 
retrato do Kiaubort, osculpldo cm urnzraé 
ebodo, cm que, por entro a rama dc uA 
loureiro, leom-so os títulos das obras dt 
mestre. 

Kr. Feliz acabou o aeu discurso e n5* 
nos viemos embora, tem mais emoção dt 
qoe isto. E' possivol, entretanto, que pa>4 
o faturo, t idotlliaçAo do tempo coneora 
rondo, so nos tOigurc quo foi umt festa 
commovenlo, cm quo os prlnclpa» bo» 
mona dt llUorainn de raunlram, teia- 
brando a apotheose do nrtlsta Incompa- 
rável, entra as aeclamaçüos da onorttM 
mullldáo onlbuaiasmoda. 

0 que me pareceu mala original da 
ceremonla foi o ciúme manifesto quo ed 
rooanozes sentiram por vlrom oa porlrioa» 
sei gtoriflcar-lhoa cm eoaa o grande ho- 
mem. quo oliea nlo so deram pressa ta 
descobrir. Em Roncn todoe conhecem * 
nome do Flanbert, por causa do valbil 
medico, qna era muito eatimido. Mo* 
quando ae pergunta pelo filho, raspo» 
dem quosi desdenhosamente : « Ah I tio, 
lambom... Era um rapaz um tanto In- 
lolllgonta. Mu pradaria pouco t coa', 
muito osforço. Passava annoa inteiros a . 
I.vzzr um pequeno livro, que mal ao voa- 
dia...* 

Ora o quo querem os senhores qno diga 
um liomem quo gosta do trabalho qut 
avulta o rende ? A deslntolllgcncia entra 
o artista do Verbo o o teeolào ora fataL 

Mas lá está Flauhcrt na praça, mar» 
merco, monumental. E por diante d'efld 
voe agora desfilar perpeKiamento a bat- 
Uca hnmana, omnímoda o sem limito* 
o exercito Innumerarel dos tourtsUt. 

DosnetoOA O suo. 

Pariz, Z9 do novembro do 1890. 

Na casa n. RI da lsdcira do Birtnoa, 
nnte-hnntem ás 11 Imru da solta. o ita- 
liano Domingos Porrota fot ferido coa 
uma punhalada nas costas pelo tat 
compatriota Lnlz Ligllano, que cm so- 
gulda cvadlu-so. 0 oilendido foi transpor- 
tado para o hospital da Misericórdia • 
sobre o facto procedo nu tormon legou* 
subdelegado no Z* dtntrlcto da fregiiozf* 
de Sani'Anna. 


Appsreccu ante-honlcm morto, em tflr» 
ranos do Deposito Pnbllco da fregned» 
da Lagoa, um indivíduo de nome Rodo- 
pia no. 

Foi o codaver removido pnra o N» 
croterio. procedendo a corno dc dclleto • 
Sr. Dr. Amando dc Carvalho. 


Na ms do Senhor doa Passos, ante-ha» 
tom, Saturnino Krncsto da Silva feriu cora 
uma facada no peito a RuAno Manuel 
Henrique dn Cruz. que (oi rocolhido ao 
lioipital de Misericórdia. O Sr. Dr. Aman- 
cio do Carvalho, modioo da pnlioia, pro- 
cedeu a exame do coepo do delicio. 

John Monro Kcilh, obteve permlstlo 
para ovplcrar ouro o outros mlncraas, no 
município de lgnapc, Estado do S. Paulo. 


Fnllrceu c foi bontem sepultado o Dtv 
Erntato Augusto Amurini do Vollc. , 


De Paris (detalhe) 




900 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



U ANHO POLÍTICO 
1800 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 19, p. 1, 19 jan. 1891. 










DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


901 


DS PARIZ 

I 0 rtttIMiitili # n rnrolkluunlA n»lo (|U,— fnj- 
iIb#I ni Aral.nli, - lt*mo ? tmn.Muil. - A rfr.- 
mtMn« K«ih, -Au» Klili Unli du llró.tl.— (I 
1 Uismif limo, 

> 0 vento frio «lo norl* eusurdeee i surdo, 
\ attiade-io mal* ao que nos vai por den- 
j tro, que o ospoctaculo do mando craa o 
5 qua eoomi.enhenios na eue carreira épica, 

* do sombra n sombra, desde o ralar do 
] Utri ate oapagaminto pela absorpção no 
, errado. 

i Mai o voato frio do norte entorpeça s 

* o oapirila taailiem to eoroupa c selmaio- 
. blllia, puchaudo nU os olhai um rarhe- 
) n «j oicnro de (ódio o da egoísmo. Podam 

agora panar vUle* |«rtgrlnai par fóra 
daijanellas da vldroí cobertos de arborl- 

* «areies na galo : a vUio que maia mo lu- 
l teressa, a ralo» frlereato o apathlco, 6 a 

> tempestade ltimluain que as correntes de 

> ar produzem pastando atravez das grutas 

* do ouro em braza no fuodo da lareira. 
Aqullloó calada o suggeatlvo ; tem tudo o 

. quo se pódo senbar dacòr o do movimento, 

■ o o sopro que alll consome a braza n'uma 
1 caricia ò o lialtito do sol. 

. 60 no soniiu 4* *ot o pensamento não 

* ao agita ; absorve se i tom» prostração 

> adorativa da aspiração. K o tempo ca* 
| coa-se, sem qua lhe sintamos a urgoncia, 
i sem que ns pulsações do coração nos so- 
i jam mais do quo o rhythmo Impreciso do 

uma ombslnddra que nos suspira cm canto 
, as dollcias do semno. . . 

lí’ a htbornaçío, sem tirar nem pôr, 
' Pois se ha mais de quinze dlos entrou o 
5 Inverno, com a neve, com o gele, com o 
vento dciesperader que arranca á gente 
mais calarias do que podamos fabricar, 
p Um polu o tropical, criado sob um re- 
- gimen amável do pequenas variações 

■ tbermometrlcas, não pôde resistir a estas 
' passagens bruscas de uma temperatura 
. do 20 grãos do Interior das casas bem 
' aquecidas para a de 0 a 8 grãos abaixo de 

* zero, que a rua lho olfereco. Sio muitas 
. duchas per dia em vez do uma, que olle 

acostumou-se a tomar. E o que desmo- 
ralisa, o que ainda mais diminuo a reac- 
, tividade, ô pensar nos quatro mezes que 
e ainda faliam para quo o inverno entre c 
. acabe e o sei nos volte do outro bemls- 
o pherio. 

Ante essa desoladora perspectiva de 
dias sombrles, de passeios tiritantes, de 
e resfriamentos de pés e de cólicas ou caim- 

* bras hybcrnaes, nio t o desespero morno 
s do poeta oque nos invade, é a raiva fria... 
z Chego a não comprcheudcr per que razão 


llucliard e Peler ú freule, declarou qua 
ú »m |vrigo publico o emprego de um mo* 
dlcAMfiito dú composição secreta. Agora, 
»e o «ogredn fuste dVllrs, o roimvllo con- 
tinuaria n ser unin maravilha, n maior 
descoberta inrJlca do tcculn, o outras exa- 
gerações com quo ío| recebida n princi- 
pio a communlcaçào tio modesta do Koch. 
Msi os scuborcs bem sabem quo cm alio* 
mães não ha que liar... 

Assistimos ngora a contestação, som 
prevas, do mcreciuieulo do uma cousa 
cujo valor Unha Nldo exaltado, também 
sem prorts. 

— Entro as publicações do llm do anno 
jpresentes de festas, livros do luxo, etc.) 
da casa Delsgraru apparece nmls um 
livra sobre ollr.ssll, cscrlplo pelo Sr. Santa 
Anna Nery. E‘ uma vingem quo ao pala 
do cafó o dos geiieros c iloiiiacs, em cujo 
comoiorclo ollo curlqiiec*u, faz um bom 
homem d« negociante retira lo dt Nnntci. 
A profunda Iguorancln do honrado com* 
mlsiarlo forneço nos sous inloi-lociitorcs 
occasiOfls frequentes para lições sobro as 
uossns comias, historia política o natural, 
coitumos, administração, elementos ma- 
terlaes o Inlollectiiaos do nosso pro- 
gresso, ote. . E n sua tr.snqntllldado.da 
liomom de bom 0 nuern n vida 

correu bem o quo nio sc acostumou . 
fazer passar o seu csplriio por llclras' da 
prova, dá a toda a parte inventada do 
livro um tom faceto o pilhorlco, da pi- 
lhéria facll, d quo faz rir quanii mimt. 
Como processo dc viilgsrlsação ó um bom 
achado c como documentação não pódo 
haver escriptor mais competente cm fraa- 
cez sobre cousas do Drnsll. O livro, pro- 
fusaaienle (Ilustrado com retratos do bra- 
sileiros lllnstrcs c com scenas o paisagens 
características, tem por titulo— /I hx Etati 
Unis rfn Brésil. 

— Na sexta-feira, 5 de dezembro, al- 
guns sul-americanos, francczcs o liespo- 
ulióes, renniram-se no Hotel Continental 
em um banquete cm homenagem ao gene- 
ral Mitro. Éramos talvez umas setenU 
pessoas o d'cntro cilas talvez quatro sou- 
Uossem precisnmonteo papel representado 
porMttre na vida política c no movimento 
intcllectual do seu paiz o da America la- 
tina. Eu nio estava entre essas quatra, 
mas entre os que pronunciaram discursos 
havia certamcnte duas que estavam — o 
pioprio Mitro o o Sr. SanCAnna Nery. 
Esto ultimo, sabendo certumente menos, 
pareceu mesmo o mais entendido no as- 
sumpto. Questão dccloqucncia ede fran- 
ccz. Faz pena ouvir um orador hespanhol 
exnrimir-se cm francez, que ô a lingu» 


De Paris (detalhe) 





902 


e resfriamentos de pês e de cólicas ou calm- 
“ bras liyhcrnaes, dIo 6 o desespero morno 
s do poeta o que nos invade, ú a raiva iria... 
z Chego a não coniprekeudcr par qoc razão 

* não augmeata a criminalidade na razão 
s da marcha descendente do mercúrio ou 
s do álcool nos thermometras. De crimes 

passionacs, entendamo-nos. As distensões 
musculares, que uma rajada do vento frio 
produz em mim, têm um caracter vio- 
lento, uma brutalidade que, convenlen- 
temente explorada, deixaria entrever a 

• possibilidade de um crime anima), locons- 
ciente. 

Assim, quando abaixo a cabeça o cerro 
os queixos, para furar cincoenta metros 
de frio sobre o boulcvard, é raro que peça 
a perdão ás pessoas cm quem abalrõo ou 
lo tropeço. .Ti ó uma diminuição do senti- 
mento social— caminho aberio ás violen- 
o cios, ao crime... 

.- Sendo ao crime, ao desprezo— fôrma 
biliosa dos maus sentimentos que a cólera 
■o desperta. Estando tão longe das eiTusões 
,o exuberantes de enthusiasmo, necessá- 
rias a quem precisa de interessar a dla- 
c trahidos, o que 6 que me podem parecer 
o os assumptos da chronica pariziense 
^1'cstcs últimos dias, senão mesquinhezas, 
banalidades, canções rebatidas do estri- 
bilhos irritantes, que relevo podem ter 
5 _ acontecimentos mal uVsrnhados sobre 
n um fundo do tedio, grisalbu, necíra- 

0 iisante? 

— Houve a eleição do Sr. de Freycinet, 
j presidente do conselho de ministros o mi- 
nistro da guerra, para a cadeira da Aca- 
demia Eranccza, vaga pela morte de Emi- 
r- lio Augicr, desde o anno passado. Nem 
■n foi isso um escândalo litterariol Sabia-se 
l" de antemão que o presidente do conselho 
seria eleito. Rénan ' lho promettera po- 
te blicamentc seu voto... a menos que o 
*» prcsldento da Republica também se apre- 
° sentasse candidato I Entretanto foram 

1 precisos tres escrutínios para que o eleito 
prévio obtivesso os vinte votos da strieta 

b maioria cm trinta o oito votantes. Dizem 
quo a posição assumida pelo ministro 
lo candidato na questão das congregações 
io retirou-lhe muitos votos da gente «bem 
J" pensante» da Casa. Zola, quo era um dos 
i. candidatos mais celebres, senão o mais 
escandaloso, obtevo tres votos no pri- 
meiro cscrutinio, o d'csscs só conservou 
le dous até o ultimo. 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


UUi:ilU| 3KUUIIUW vos tumente ■■iciivay 

pareceu mesmo o mais entendido no as- 
sumpto. Questão de eloquência ede fran- 
ccz. Faz pena ouvir um orador Iiespanbol 
exprimir-se em francez, que 6 a llngu» 
destibradorn do tecidos do palavras úca* 
e seduetora de imagens. Além do caracter 
differeote da rhetorlea, ha a pronuncia • 
as inflexões de uma difliculdade inven- 
cível para os nossos Irmãos latinos. 

0 discurso do venerando general IfcU 
por outra possoa seria uma peça ora- 
tória.' 0 do Sr. Nery pronunciado de im- 
proviso, facil o simples, dizendo justo na 
pbrase franceza, sem ompolas tropicaeo, 
produziu o cifeito onthusiasmante da elo- 
quência natural. E todos sabem que o ora- 
dor ê nosso compatriota. 

Quem não é orador é o Sr. Heredla, ex- 
ministro de estado, mulato o não conven- 
cido. Disse asneiras históricas e faihou 
todos os seus cfTeitos oratorios. 

Mais flno, espirituoso e cm bom francai 
ao menos foliou o Dr. Bctanois, uma sy«- 
pathica figura de hespanhol parlzien** 
cabeça de artista c coração do mesmo. 

0 pobre Jiitre deve ter achado que • 
festa cm sua homenagem só provo» 
quanto os maiores nomes são ignoradfH 
mesmo dos seus admiradores! 

Douiao da Gaba. 

Pariz, 13 de dezembro de 1890. 


A. in tendência de Cabo Frio, tende da 
inaugurar o' .ociratO' do Dr. Franciae» 
Portella, na sua sala d» henra, era ho- 
menagem á sua admlnf^paçáo. convi- 
dou-o a assistir á kOleninidade e n.imcud 
uma commtssão de distinctos cidadàoo 
para acompanbal-o. 

A viagem de ida foi no vapor Ceret, 
que partiu deste porto ás 4 horas da 
tarde do dia 9, e chegou no dia 10 ás 9 
horas da manhã. 

A recepção foi boa sendo S, Ex. acla- 
mado pela população, havendo granóaa 
festas, musicas pelas ruas que cslavam 
enfeitadas, e illuniinnçã á noite. 

No dia 11 realisoa-seja inauguração da 
retrato. 

Presidio a sessão o tonente-ccrone! Fe- 
licíssimo Vieira do - Almeida, queesnltod 
os méritos da administração i‘on<-|ia. 

Oraram os Drs. F. Portella, Carlos d» 
Almeida, Vaz Pinto o Jardim. 

A' noite I ouve baile. 

O Dr. Francisco Portella no dia 12, vi- 
sitou todos os estabelecimentos civis • 
industrio» do Cabo Frio, tomou miuua 
ciosa Informação do projecto Palmer para 
abertura da barra, afim de lornuroporl» 
fraiieo a navegação, foi á Salincira Lin* 
dcnbeiY, cau arraial do Cabo, onde existo 


— Houve também uma pequena rusga 
publica entro Rénan o Goncoart. Foi a 
proposíto da inserção no « Jornal do Com- 
mercio • do uma opinião pliilosopliica, 
cmlttida n’um fim de jantar no Brcbaut, 
durante o cerco do Pariz. Fallnva-se da 
guerra, naturalmcntc, o o philosopho 
aflirmavn quo os Allemães venceriam, pois 
que cllcs tinbnni a força o o prestigio dos 
princípios do direito c a da justiça social. 
Como llic contestassem a doutrina, o ho- 
mem calmo csquciitou-sc c disse que 
porccesso a patria, embora, mas que ven- 
cessem o direito c n justiça na humani- 
dade. Conclusões d'cstns tem o defeito de 
sorem levadas muito ao extremo: são 
como as claridades muito intensas, que 
OlTnscatn. Os espíritos simples, quo são 
os cspirltos curtos, os sentimentalistas, 
não podem acceitar doutrina quo ponha 
alguma cousa acima da patria. Os 
inimigos do Rénan exploraram a opi- 
nião escandalosa contra a sua posição 
oflicial o pubiica. Elle então negou que 
tivesse dito tal cousa por taes termos. 
E ceasurou a indiscrlpção do cscriptor, 
qne põe a sinceridade das suas observa- 
ções pessoacs acima dos deveres de re- 
serva para com os seus amigos, simples 
obrigação de cortezia, que a furia do do- 
cumento do n facto vivido» venceu no 
derradeiro dos Goncourt. Cbronistas sem 
assumpto tornaram partido pro ou contra 
Goncourt. O que prova que n’clle consi- 
dera-se sempre o fidalgo: tratasse-so de 
algum repórter c essa falta do cscrupulo 
nem seria notada. A lição quo disto se 
tira, velha qunsi como uma moralidade 
de fabula 6 que as opiniões devem ser 
sinceras, para que possam ser sustentadas 
ou explicadas — é o bom remedio para 
não ler medo dos fins do jantar cotre 
litieratos caçadores de documentos hu- 
manos. 

— 0 Dr. Valcriano Ramos, qne partiu 
boatem pari o Rio do Janeiro, leva o 
primeiro frasco do remedio dc lvoch con- 
tra a tuberculose q ic sahiu.para a Ame- 
rica, do laboratorlo do illustre sabio. No 
Rio de Janeiro isso vai ser uma novidade. 
Aqui em Pariz começam a espalhar que 
já é uma cousa mofenta. 0 corpo medico, 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


903 




Armo XVT1 


•* \ 
31 de Jkfiel 


Jtio <J« Jamlro — Sobbado 31 do Jànelro do 1Ô01 


GAZETA DE NOTICIAS 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n.31, p. 1, 31 jan. 1891 


initiiiT Ifilil rHIUItJ ivitlfifloiytl 





904 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIS 

Chega o anuo ao teu llm, um laiilo 
d.scoisdo.o murcho. Oa 6 fadiga Ui 
«llançáo do* escrutadore* Uo nrontcci- 
montoa grnve», quo Uo o« Jornalista» Uo 
I roiliUo notJdiMA. ou alo lia aconteci- 
mento* gravei A vlala. A gente plilloao- 
pha o asiistdn folgaria de ver n'nlo um 
bom atinai do» tempos, *e mo*mo esta 
c1a«*s bem joiuanto e sjui/aln nio pn«- 
Umo tualo do lar o noticiário doa jor- 
naea. 

O noticiário doa jornsca, depel» do fo- 
llictlin-roinanee, distribuo hojo Ai Intel» 
liganciaa bnrgue/a* a cmoçlo cm dose* 
mala forte*, a notlrla do d#%n»tre, do 
crime, da mlicria, do inclJcfits laatlms- 
v.U da vida, om que a creaturn humana 
■agiu, |miea, morreu. Vai lodo o mundo 
aendo Intelllgcncla burguera para cale 
cfYcIto. O lomltado da Incootcnlavel ne- 
cooidado do casos novo», que allllgo o 
IHtor do Jornae.i, è... o apparoclmrnto 
de ca«oa novoa. Novoa do dia, nio na 
clironlc» dos crimes e iniscríns, nem 
mesmo na memorto doa quo 10 ■) assa/ 
vivido para poder dl/er « outriora 

Tara olíom repórter de jornal popular, 
um a Imo bem conlado, bem explorado, 
desle o dia do teu drsiobrimento alô A 
hora om que o a<sas*lno transpõe a ai- 
nUlra porlirdia da KtqueUe, e, tiritando, 
de pe.^o;o mi ao vento glacial da manhã, 
CMn aa feições deformadas paio supremo 
espanto, dl na pequena praça oa pouco» 
pauto* que o arparam da gallhotlrfa ; utn 
crime bem compoato, com prologo, çlnco 
actoa e epílogo, ô como uma peç* rendosa 
do tbeatro. 

Ila os que aproveitam da maioria com- 
posta dia a dia, com que façam um livro, 
q*io se vendo mais do qno podemos 
pmsar. A gente quo fatigou a Imagina- 
do em combinar detalhes horrivels dc 
crimes fantásticos, nio fat pouco caso 
da litteralura dos Jurya crtmlnaes. A* 
peripécias da perseguição do criminoso, 
quando clle sc defendo Inm. Interessam 
como uma partida liem jogada interessa 
á galeria. Chega a haver quem t*nw par- 
tido pelo accusado. wm p?nrar cm oulia 
cousa alfa) do desfecho. Outro», pessi- 
mistas, esmiuçam na psyehologladoscrl* 
miimsna sob o poder da jusliçn traço* «le 
semelhança com a rodedade a que cllc» 
pertenceram, cm cujo seio cllcs viveram 


do linguagem quo mostrava a ma cúm- 
plice. 

Kyraud, encarniçando-*» em nio subir 
soiluho ao cadafalso, fa/^\ penur ii'o- 
quollo bandido monlpncgrluu, que, •«- 
Ulndo ao (Kitlbiilu^ pediu como *H|>rema 
graça que lho foiso dado ilost*dfr-»o da 
formoiUsIma mulbor i|ue deixava, o u'utn 
beijo foros arrancoii-llm o nsrli e o beiço 
superior. U homem, dando o |>e»eoço A 
corda do carrasco, explicara a atroriJadei 

Assim desfigurada, mais dilllcilmcnto 
olla encontrará quem a queira e me será 
talvea flol.» A palvio do Kyraud, quo 
patecla udio ao publico das audiências, 
nio seria antes o cliiino foros r Sjrla etso 
o drama raro no drama bancl. 

O outro processo, ainda atiçado pela 
exagerada lagarclllcc da .imprensa, foi 
o das pisoai corapmmetthin» na evasie 
do 1'adlexvskl, o nisiubio do general 
nisso SrlIvcrstolT. O artigo do EcLUr, 
em que o Sr. («corgo» do Ijtbniyers 
contava por mludo como ellc fez evadir- 
io o assassino, que clle tdnia em consi- 
derar como um criminoso politlco, fci 
um siuretso enormo. 

A polida francc/n n&o quli acro- •* 
ditar primeiro; mas, quando rcriflcou 
quo i cal mento Unha sido burlada, 
/atigou-w e levou á barra do tribunal 
eorreccional o. Sr. kxbruyôro c Mine. Duc- 
Qitqrcy, cm cuja casa Pudlovr*kl tinha 
adiado refugio depois do crime. 

K, classillcado To delicio, a 9* camara 
dc pojicla eorreccional commlnou as pena» 
de trozo mezes do prUAo |iara o Sr. ka- 
bruyôrc, oito para pm Sr. (lrcgoir.% quo . 
agora mesmo foi expulso de Pnlormot 
onde fazia reuniões revolucionarias, o 
dous mezes para Alme. Duc-Qticrcy, a 
quem foram reconhecidas circuinstanclaa 
altcnuantcs. 

RA imprensa nco*i embasbacada. Os Jor- 
nalistas andavum espalhando, fundados 
em nio scl quo aueloridade jurídica, quo 
dar escapula a um criminoso era ura 
acto quo entrava na reportagem, na 
grande reportagem, c que a lei não | <«lia 
punir o jornalista desabusado. FoUs» 
mente, forra vai restando á lei. K ò bom 
quo a severidade da» repressões omo 
esta Impressionem. 

A lição ú tanto mais proveitosa, quanU 
mah dynanmada pela imnicnsa publi- 
cidade da imprensa dlariu. 

Doun io nx Gaua. 


r- 

n- 

> 5 . 


r 

es 

«• 

In* 

nu 

lie 

rsí- 

na 

li- 

ou 

da 


m 

IH- 

im 

dc. 

rc- 

rco 

irs, 

»RO 

rco 

ra. 

Icu 

re* 

;io 

- 

um 

rio 

via 

b, 


norniulmente, alô que um incidente, .o 
acaso dc um golpe mal dirigido, os reve- 
la»s:, o» fizesse saltar. 

A contestaçio d'«la doutrina jâ os .se- 
nhores e»táo rondo: 0 homem vivo na 
sociedade cmquanlo está dc accordo com 
a» suas leia ; n transgrebáo d Vilas im- 
porta na exclusão dVlle, temporária ou 
dctiiiiUva. 

Ora, enquanto nio ha rs» irnrnri*es- 
sâo, nio ha criminoso, polo qnal se |x^ssa 
acenar n snriolade. Isto em princitdo: 
a pintira tom impedimento* materlncs.* 
que o nAo dcstrAeni . O grande mal 6 'a 
suspeita malovolchte, quo paira robre 
certos eapiritex, de que a criminalidade 
AugmcnU proporclonalnienlo no desen- 
volvimento do indivíduo nn sociedade. 

M d*esso mal lí*m a culpa prlnclpal o* 
fa/.odoivs »k escandah». os cciw>rn n*cr- 
cenaríoa(A tanto por linha), que, tomando 
um papel que lhes nio cnbc, íazüm orxll- 
naríamento do um nrgudra um earal- 
k-iro. pnra quo nuiU lliea renda. Sú a isto 
qtieria chc- ar o meu aranzcl, que se 
refere a «*0 ultimo pxcíiw Ião sujo c 
tão r;\ scasaçAo-, cm que llguram um 
r.llirial de justiça renal, como victima, o 
uma prostituta c um especulador dc ne- 
godos su*ivito*, como culpado*, de assas- 


Pariz. Dczcm brade 1S90. 


Foi removido o sgrimentor JemnymA 
Haptista Pereiro, do logarde ajudante di 
coiunds*5o dc torras do miiuiei|iio do Tu- 
lar.Vj rara a do ['aranapaiicibs, em SAo 
Paulo. 


A Associarão PldbAtropVa liio-ltea- 
taur.viora elegeu hontem n sua dire- 
rtoria, que Ikon composta dos seguintes 
Sn*.: preskiente, l)r. 4osô Isnrtnço do 
Magalnãcs; vice-prc^Ulenre e tliesnurelro 
interino. I>r. A ntonio Martins de Azeredo 
iqmenleh secretario, l*r. Domingo»' Al- 
Iterto JCiobey ; encarregado do movimento 
»* da propaganda, l)r. Joaè Itkãnlo INret 
do Almeida. Na inr«ni« iciinüo fui a cris- 
mado presiilcute liouororio o Hr. general 
|»r. Joia Soverinuo «taKonscca. Sabemos 
que* o Sr. \iseoiHlc da l.eofvddiiia, tendo 
em «carde conta os resultados desta 
auspiciosa associação, que se destina a 
|.»*oi*ofv»Oíi-ir :»* cla«M>s muno» favorecida* 
iratamento adequado o gratniln. com o 
litii do restaurar as for»;»* p!iy.í.'as, .pre- 
purando nxaioi uma nova «crjç.F> mais 
lobiikia c s), otfcreceu á nsqtecllva dí- 
rcctqrb o.* seus préstimo*, fs^udo ím- 
ptrtomo dartntivo em seu nome e i:o do 
sua Kxran. èsposa, abrindo nwim um 
exemplo que. par rerlo, vna ser sejuido 
|«r muito» cavalheiro* da nossa *o- 
clcdado 


O gorernntlor do Fitado cio Uio do 


«lo 


10 


| siqal». 

Foi a imprensa dlarla que entreteve a 
curiosidade publica sobre wss crime vul - 
gar u obrigou n policia n uqi trabalho 
enorme e a daspcxn* eonsnleravels para 
[«inll-O. Na reálidode, nlngucm se eom- 
padcccu da victima, ninguém se indignou 
com o alteutado que a axricJndc soffriu 
nu pessoa de im do» seus men.b os me- 
nos nobre». Mas empenhou-se todo o 
mundo em punir cwe ralicravet Kyraud, 
qun lovou lio mal á» suas derradeira» 
rnnscqucncias A Icl da htvta pela exis- 
Icncia. Kllo cra feio. antipnthico, nada 
interessante: condemnanun-o A morte. 

A sua cúmplice cra mulher, gracSoto, 
picante, meio doida s marcaram-lho .20 
pnnm dc prisão por castigo ele ter sido a 
isea da ratoeira a que foi AtraWdÒ.Oouflê, 
do ter cosido o sacco cm qup clle devia 
scr amortalhado, do ter emprestado n 
cinta do roupão que devia estrangulai -o, 
de lh a l> v r passado ao petcoço, como por 
brinquedo, cniquanth estava sentada i) 0 » 
joelhos dVlle, «lo ser a mresiaria cum- 
|4lco do crime, em suuufhi. K ainda 
iiotivo quem Invocasse cm defesa d’olln 
o argumento da irrespomabilidado men- 
tal, nervosa, c houve disputa entro mJ 
«colas do Xancy c da Sslpètriêrp. pntre 
liègCoU e Droimrdcl, a rcspfflo de Pousas 
Improvarei» da consciência mirai, dn 
moralidade de OabrieUo IVompsrd. 

O tribunal dlvcrliu-so com esse e com 
alguns o*itro» pequenos inddenlo» oceor- 
ridus durartte os debates. Do desfecho 
dVfttca rstavnm qnnsi to<lo* certa» do 
antemão. 8cl do uma posoa quo dous 
dias ante* do fim apostou pelo* vinte 
.nnnos a Uabrlellu c o morte a livra ud, c 
pulou «lo contento quando cu lhe disso^ 
que tinha ganho. » * 

lima mulUdiio palpitante de curiosi- 
dade carhla a grande sala do tribunal e 
assediava ns por tis para entrar, durante 
os cinco «lia» quo duraram os «lohatcsdo 
processo. &* entrava quem ac linha mu- 
nido a tempo do unia permissão assígnoda 
pelo prchidcnto do tribunal. Mas, por 
fim, nem mesmo císcs entravam, sc não 
chegavam uma ou duas horas antes do se 
abrir a audiência. VI muita gente no- 
tável ficar ã porta pelo capricho do ofil- 
cial dc gcmlarmcrlo que dirigia o ser- 
viço do ordem e que fazia entrar o* seus 
amigos ou os p: snas cspecialmcntc rc- 
comniendalas. 

Com uni joraaliitas mais preguiçoso* 
vi alguns homens políticos, o entre clica 
o Sr. Duguc do 1* Fauconnerie, fazendo 
porta durante horas, para não conseguir 
entrar. 

Todo» qnci iam ter a sensação da sal.* 
era qr.o sç condcmnariamdna* mfccravci* 
crealnras. Dksüâi, a mais interessante 
era ainda MSira Michcl Kyraud, um caso 
dc paixão levada ao auge. Kllo sc perdera 
«•or c.iusa dc GabrieUa o fazia pouco 
apreço da propila cabeça. Mas o quo uão 
lhe poJia entrar na Uía, è que a sua 
amante niio nrompanha<se-o ao cadafalto. 
K, todo entregue ã s ia tarefa sinistra dc 
impedir que a rarto delia sj sepa- 
rasse da sua. consultara notas, rocUflcava 
depoimentos com parando- o» com Inter- 
rogatórios anteriores, apparciãav* uoa 
calma Imnreviionante diante dot ataques 
•le nervos c dos destempervi do l o^lcx c j 


Jor 
tu n 
Sji 
doí 
Ila 
cor 
c*i 


pa 


De Paris (detalhe) 






906 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIS 

KktfM dst nmi'l<7l*> -llMltta .1» ' (ktiir 

KmIIM. I Jirn. I >ii« fir, MlTli-l, MotilAláÕJ, 

IUiimuUIIi, ruflilma lUriSl. - I) Initrau. 

A chrnnlen Aê Pailz vnl nltlrnniucnib 
descnhlndu nn nc:rt>h>gln. Nfto c cm- o 
• cu malar defeito. Chrnnle.i» »* fnn-in 
com faeío» — nmuimpto* — o quo facto ha 
•|>io «cja mnU Interessante do que a 
morto V A morto tuin pnra o chroiiUtn, 
dmlro iln qual sempre esconde tira pltl- 
losoplio, o valor «los facto* definitivo» : (• 
nrortiva nmxinta. Tom niiidn oulnt con- 
•cqmuicla Iniportnnlo : faz-nos julgar «m 
quo viviam entre no», tem que lhes tlcs- 
temo» grando alteriçã-r o »uppilmc n 
desdém ncMe jiilcninontn rm «jim en- 
tro quasl sempre uma parcclla do pie- 
dado. 

Kmquanto um honicin vive, por grande 
homem que seja, pnrccc-noi que cile nfio 
far. mal» do quu a nun obrigação, c «5 
terno* vo* paia a censuro du» mm» de- 
frltoa c do» seu* erros. Ma r, < m morrendo 
nó* »entlmo«, pelo claro <|iio deixa, o 
logar que ello oceupavn na no**« vida, 
nn vida do nesvo tempo, Dopoi»,'»» erro» 
n •lofclto* do porsotingem vAo »o csqnc- 
cendo, o d'cllo *4 llca, resumida pela 
Morto quo timpliflea, pela Morte que 
pociiva, pelo Morto que >• a /«■,/;«•» <Wi-« 
Irresistível, a mo ohrn, que um uomr 
evoca, logo brllhanto de prestigio da» 
cousas que foram. 

Annl.vi.tndo devidamente o desdém boa- 
til o it» vezes mesmo a guerra a|M-ita quo 
em vida solTrem ca homens do vnlor. 
Isto t, actlvameulc domlnnd.ue», não *v 
cneonfro nhl outra coum alòmde um n • - 
vimento de dcf.at multo natural. Nunca 
so sabe o Cesar quo pó.! c wltir de um 
cencntl vletnrloso, o aenlior lyrannleo em 
quo ro pódo mudar um companheiro n 
quem m ajuda. Mas tomhado o ambicioso 
—honra no glorioso vencido.. . E npro- 
veltcmos-llie os despojos, chorando. Sob 
os prantos da piedado ba um olho que 
conta e avalia. Deixou-no» tanto... bem- 
dito sejn o illustrc morto I 

Outras crcaluras de menor valor, que 
nos não faziam sombra, contrariam-nos 
morrendo. Ha gente que soate perder 
um criado, nào por i-crdel-o. mas por 
ter de se Incornmodar cm dar-lhe unt 
substituto. Certos mortos lucommodnin- 
nos assim. .Sentimos nno pod.-l os ohrl- 
gal-oi n nos pagar uma ladomnisaçàu 
1*1* falta quo nos fazem. Oulros, nquelles 
a quem queríamos de p-rto ou de longe, 
ferem-nos quando cc arrancam dos no&os 
braços, magoam-nos quando sc somem 
dos nossos olho», para irem dormir na 
terra escura, elcrnnmente. Oa mortos 
toilos nos amigem. Nós cuidamos mais 
daquilli) que no» nlttige. Faliemos, poír, 
•los mortos. 

O primeiro nn II»ta, nflo sol rc cru 
ordem chronologlca, pela profunda im- 
pressão deixada |<clo t-ett dcsapparcci- 
rnento, em todo caso, c Octavc Fcuillct. 
•JA nlngncm mais fatiava rTeltc sjnío 
corno xo falia das cousar. passadas, quo 
sfio significativas, exemplos e lição para 
os novos, documentação de criticas Im- 
pertinentes, oporias, ja cllc tinha «ido 
[rosto do lado na contagem tão conipllea- 
da e diflidl dos escriptores n’este Pmpo. 
Entretanto, quando sobre a suacova aberta 
estndou-sc rapldamcnlc n ol>rn quo cllc 
deixava, verilicou-xe que csU valia mais 
do quo um estudo rápido. Nào basta cha- 
mar um homem de «littcrato da moda no 
segundo império ', para deí1nil-o. A moda 
Fcuillct pro!ongou-*c pela Republica n 
dentro c ainda hoje Ilanrl Ifab;ts r on c 
Robort do Boiivicrcs qjcoptinvnfn nr. /U-- 
Vitlet ilos Jioitt Muittlor. 

Mais baixo, niait laatelramentc, 0 que í- 
o aucccsso colossal dos livros dc Olmo:, 
senão a exploração mercantil, isto c, cm 
grosso c barato, do dramatismo artiflcml 
de Fcuillct ? 

Dizem quo no collogio os companheiro», 
criticando n sua sensibilidade poctica, 
dclicadamcntc nmargn, 0 sou sccplicismo 
dc bom tom, chamavam-no Mademoitcllt 
ilutset. Depois, na hora do trtumphn, 
os rivacs littcrnrios nào puderam al- 
cunhal-o senfio dc Miissct das famílias. 
Entretanto, a sua obra núo tem msls do 
que um ponto de contacto com ado grande 
poeta das noites : a compostura fidalga 
da forma litternrín. 

Na obra dc 1'cuillet nào sc encontra a 
vchcmcncfn apaixonada, nem n immor.v 
lidade desconsolada dc Alfredo dc Miissct. 
As altcnuaçúcs necessárias da sua lingua- 
gem polida ainda mais lhe enfraqueciam 
a vela salyríca, já dc si pouco violonla. 
Os sins personagens nào mostram nuuci 
a* baixezas anininex do homem em quem 
a bcsla domina por instantes. Ha soni|ro 
n'cllcs acorrecçào c a disciplina dc quern 
sc movo sob os olhares do um salão nt- 
tento. Quem escreve para ser lido por 
grandes damas está sujeito a defeitos 
dVstcs. Defeitos para a concepção artística 
actunl: para a d’aqucllc tempo não eram. 

Quem leu a WsMire rle Sybtlle mV* 
pódc esquecer as bonitos discursos que lá 
vêm, pronunciados por velhos fidalgos 


como a Virt/fM do l.f/rli), têm a morra 
da uiMa [ersnualldado e do uma vontade, 
quo o muito sabem sua arte auxiliou. 

Almé Mlllet, morto aos ’■{ nuno*. cra 
mtnrs um csculptor que um estatuário, 
um giande cuinpukitur dramático. Uscn- 
temtldo», quando o roinpai aia, nebam-uo 
um >0111/01 »yni|>atlilco- . Era um sakdor 
perfeito, Iwurn, senão gloria, dn escola de 
eiculptura fronee/a, em quo ello tanto 
trabalhou. A estatua colossal de Veicln- 
"gclorlx «ohie n colllna de Aleita 6 d'olle. 
K* d VI lo 0 Apolto que, soerguendo n lyra 
d 'ouro, timbra Ião symlolicnnicnte 0 edi- 
delo Imiinonloiio da (irando 0|icra, 

Morreu mal» uma oxccllciilc netrlz. 
das que mais vida davam ás sccuas de 
comedia 110 Thentio Frnncez. Celina Mon- 
talnud, que tinha 47 mino», era a mal» 
nova c a inaix graciosa das velha» 
nctrl/cs. daa tluét/net. Eiitretnnto tinha 
começado multo cedo n pisar 0 palco, 
dv.vle os dneo nnnos, com» crcança pro- 
dígio o o seu retrato gentilíssimo figura 
na frisa Thcspicn que n<kunn o talão 
do thentro do Palals Itoyal. Depol», 
quando civsccu, e de pequena prodígio, 
fez-se netrlz encantadora, eis o que n pro- 
posito da sua estrén no Paluls-Koyol 
dí«se delia o príncipe da critica drama- 
tira, Jitlcs Jnnlu : 

- Procurcm-mc nm olhar que interro- 
gue mala habilmente, nm sorriso que 
mais h»bi!mento responda; Imaginem, »e 
pndòrein, um gceto mais vcidadeiro, uma 
voz mais justa. uma si rle mais cspeita de 
intcnçít* llnas; palavras tã» bem ditas! 
graças tão l*om achadas I uma ingénua ! 
uma maliciosa ! 0 faceira! e espirituosa ! 
Ello canta bem, dnnsa om cadencia, falia 
a proposito, sabe executar, sabe estar 
calada ! E* verdadeira , è natural , é 
instruída! > 

Ixngos nnnos, depois, feito 0 desconto 
da graciosidade menos juvenil quo os im- 
peis lhe impunham, não cra diiiicll, ven- 
do-a, achar que Jnles danin nào sc tinha 
euthuslnsmado a frio. A boca c cs olhos, 
os olhos sempre novos do Celina, di/lnn: 
0 que cüa fòrn como graça physira. A en- 
carnação perfeita nos seus novos papeis 
di/i.wn 0 talento encantador da artista. 

Morreu 0 barão Haussninnn, 0 griDdo 
barão imperial, que ha trinta nnnos 
mudou o aspecto dc Parir, como outro 
mudaria n fachada dc uma casa. Chc,.ou 
á Idu-le dc Sá nnnos c deixa memória», 
que são do uma leitura muito interessante 
c a mris cabal defesa que em fuucciouario 
de rcginicn decabido possa apresentar 
dos acto» da sua administração, tonta» 
veros c táo violonUuncntc accusada. Toilos 
as pari/ienses estuo hoje de accãirdo que 
a el!c devem n satisfação orgulhosa de 
viverem na chiado mais bcüa do miindr. 
Os miüiCcs que isco custou outra cousa 
os levaria, tale* sabem. 

O barão llaussnraiiD conscrvon-fc lie! 
á memória querida c admirada de seu 
augusto amo. 

No seu funeral, na camnrn mortuária, 
c no templo da rua Cbnuchnt, desfi.x!da- 
inm-K Inndelrnn imperínes. Era gran- 
em z da legião de honra, teve 0 apparato 
raro da» grandes honras militares. 

E Parir guardara a memória do seu 
antigo prefeito benemérito que não en- 
riqueceu com os milliõe.x que lhe passaram 
pc!a» mãos durante tantos a nno», que n 
cobriu dc palacios e que mV> adquiriu 
um i>nra ui. 

Morreram, morreram... Morrcn uma 
das mais llluslres, sinfto a msis illustrc 
brasiteira da colonia dc França, a Sra. 
condessa de Harral, antiga aia e profes- 
sora das prlucezas imperlacs do Cràtil. 

To-Joa os que se approximavam delia 
trlbn(avam-!hc 0 respeito e a vcncraçfto 
devidos a uma grande dama 0 a uma 
santa mulher. 

Chamavam -n’n do vice - imperatriz : 
morreu depois da outra um anno. 

E tantas mortes è 0 duro inverno que 
as causa, ihivcr titcur des pauvret gens, 
como lhe chama o Riclicpin . 1’obro gente, 
porque morre. . . O duque de IJcdford, que 
morreu cm Londres, deixa uma fortuna 
de seis n sete milhões de renda nnnunl. E 
foi o frio que 0 matou. 

Já apavora 0 rigoroso inverno. Vlvo-sc 
sobre 0 geio, entre 0 gele, sob 0 gelo, lm 
longos dias. O Sena gelou, 0 Loiro gelou, 
0 Khodano gelou, a neve cahc c endurece 
nas ruas, 0 vento sopra desabrido daa 
bandas do norte 0 nordeste, como para 
tirar ’à gente as ullireas colorias com 
lantq custo armazenadas. K os hcspilacs 
se enchem c as aguas furtadas despejam 
mortos inlcirlçados. mortos dc forno c de 
frio c polas estradas se encontram cadá- 
veres, que não podem apodrecer, duros c 
frios, c a pobre gente dos campos já pc'de 
trabalho com a comida por único snlnrio 
o ainda faltam dons mo/cs pat a que a 
gente escape a este longo pesadelo gla- 
cial I... 

Ao passo que nhl no llio do Janeiro ha 
quem sue 24 horas por dinl E faliam 
ainda cm fraternidade latina.... 

DoMicio OA Gama. 

Parir, 15 dc janeiro dc 1801 . 


Quem leu a llitl-nrc de Sybillc mV» 
póde esquecer os bonitos discursos que lá 
vêm, pronunciados por velhos fidalgos 
muito nobres 0 muito rcopcitavcls, muito 
dilllccis do cncontmr-sc na vida dinrin, 
ccrtamenlc, mas que nos dariam muito 
prazer, sc os cncoutrassomos. E a gente 
alli, encantada pela litteraturn, esquece as | 
necessidades da »‘crJadc rigorosa que anda > 
hoje ent dia a nos dessecar a arte. Não 
é já bem melhor viver algumas horas dc 
leitura na ficção melhor que a realidade 
dolorosa ? A gente da cürfc da Impera- 
triz. Eugenia assim cn lo ml ia 0 collo- f 
cava logo ao lado do sarcasmo c da j 
ironia dc Merlnne a amargura do sceptl- 
cismo disfarçada sob 0 assucar das f 
bcllns pbrases polidas, que cra alittc- 
raluia dc Fcuillct. Parece que a fidal- 
guia do ambos entrou por muito no 
grande suecosso quo cllcs tiveram rm ( 
vida no meio dc uma curte dc parvenus. , 
Mas a continuação da estima publico de- í 
pois da niotle c quando o regimen trans- 1 
formou-so n'um táo dilTcrontc, prova que ! 
ha na boa Httcratura alguma cousa que 
vale i>or si, que ò a verdade pessoal, a | 
honestidade artística. 

Outro artista que foi dVssc tempo, que 
psrccc ter sido do lodos os tempos, foi 0 < 
celebre aquarcllista Eugènc Lami, que I 
morreu aos 9J anno», tendo atravessado j 
tantos regimens ditrerentes, sem que 0 1 
seu talento dc pintor insigne variasse 
com as mutações políticas. Ainda cllc foi ] 
um dos illústriviorcs das festas desium- '■ 
brantes de Compiêgnc c das Tulbcria*, 
quo são hoje a saudade dos velhos mun- 
danos do tempo. As aqunrcllas de Lami 
são preciosidades nascollccçõcs artísticas. 
Antes mesmo que os francezcs as esti- 
massem tanto, deram 01 inglczcs n'cllas. 

E 0 pintor morreu trabalhando para con- 
tentar tanto desejo dc possuir um retalho 
dc wnlmanu com a assignatura dc Lami 
por baixo de umas figuras coloridas. 

Abda da grande faqiilia dos artistas do 
uctcuho morreram os csculplorcs Dcla- 
planchc c Millel. 

Eiigènc Dclaplancho, morto aos clnco- 
enta e quatro nnnos, apenas já cra como 
um precursor d'csse movimento que im- 
pcllc a (sculptura franceza para 0 natu- 
ralismo, para 0 naturalismo possível na 
catatuaría, cm que não sc sappirlr 
com audacia revolucionaria a falta dc 
estudo. Ellc cra companheiro c coliega 
bem á altura dc Paul Daboi*. dc íiaint 
Marccaux.de Mercié c dc Falgnlêre.ToJas 
as suas obras, as antigas c as nova», 0 
Pecccrara coaio a -iur.ut Jçut:, a CiVce 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


907 


Anno XVTT 


Rio do Janeiro — Babbado B8 do Mju-ço da 18*1 


g te gu 4 » 


GAZETA DE NOTICIAS 


ftUMM) AVULSO 40 U. 


8(erootyp«44 « aiyr tw i um uekiu« ro ultra» 0* Mnriboai, m typojraj»' 
ttxA&Uáa «Boofma «O -i*tu d* NoOclui 


T np. »« ^luçO n ^ 


Cousas do dia 


JT dTm*. *- -- aét . V- 
*«. 1 —T ». -«*»»«■ *» 

Isfci— 


RKSSÜSi: 


CS.I MTTinCAÇiO 




■ ■ HOTàS SClENTiriCAS 


COITO 00 VICÁRIO 




sarrxteE-s 


HEi 


EH 




5 ££rr 

}£££ 














FOLHETIM «IJLrr. 


0 FAGULHA fcr«i:d 


• a Tm C 










jHHSjgr*- 

Í l&.*SL.~:?r :::" • KEi'*" - 

rgjt . - 

Bw£ 53 : ã.£' 
-I.l: 


numero avulso ao as 


-\*i 


Lrtsirssri» 


Mwe m n"ua 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n.87, p. 1, 28 mar. 1891. 



908 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


OE PARRZ 

I \ luprtnw c i« |«UU,u*.-A «ipenlili «U AtU- 

naiiln cai PMtl.-PafMVMU •'»» ftpu«U« lie 

ctfiUa*.-l'w Jucwm «U Jukt 

Um oillclal general ullemão, com quem 
travei conhecimento no verão [ amdo no 
excesso Jo Yiciinn a Innsbruck, disse- 
me que na Allemanlia era lio graiido a 
precccuração do n&o fsrer a guerra, que 
havia qunsl um nrrepeudimento do terem 
I batido &a framv/es : « A guerra è umn 
i triíte roiiiA. diria o cxcvlhnlo barlo ; oj 
vencedores, mesmo querendo, n.V> podem 
esquecer an suas vktoria*, que os venci- 
dos lh\i» rcconlam sempre. Sáoaggravos 
de sanguo, que ondas do langue não 
bailam para lavar, quo reclamam sempre 
píla bocca das Jc ridas abertas, alô que 
por cilas ic esOnquo a vida des povos. - 

K, como eu Um declarasse quo toda 
a niiUu.*DnçAo da Françi parecia ser 
| apvoas, coiuo na Allcnianba, uma pro- 
! cura de paz, o quo s*í nas canções dos 
1 cafés -concertes a cópia | «trlotiCA da re- 
! vindicta sacudia a libra chuuvinica dos 
ouvintes, cite abanou a cabeça •’* Som pre 
haverá quem cante cópias patrióticas, 
dbso, o sempro baverá quem estremeça, 
ouvindo-as. 

R* natural e respeitável o desejo o a 
esperança da desforra cm França o nós 
farlzmo* sacritlclcs para abrandar o 
odio dos fruacczcs, se cites não exigissem 
tanto ( ara nos daram a mão. 

A imprensa «liaria em vez do acalmar 
os animes sustenta o fo^o do odk' na- 
cional. Ahl se oito fosse a iraprens. ...» 

Sc não fosra a Imprensa de aquém e de 
alem Rheno, estariam n esta hora os duas 
nações inimigas om vias do trocar os 
penhores do desejo do esquecer o aggravo 
sangrento de Sedan. Guilherme U, depois 
de haver «cripto um bitlietc de pezames 
pela morte do Mciuonnior, convidou par- 
Ücularmcnte os artistas frunce/cs, pin- 
tores e csculptorcs, a concorrer á Expo- 
sição do Berlim, onda uma saia especial 
lhes era reservada pelos cuidados impc- 
rlaes. 

Alguns pintores prometteram logo o 
»c:i concirno. Detaillc, Bougucrcau, Bon- 
n:.t, Madeleioo Lemalrc, Tony, Robert, 
Flcury, B. Constant, Lbermilte, etc. 

K o movimento sympalhko se gcuerali- 
snria, se nho fosse a campanha começada 
contra cllo por uma certa imprensa ex- 
ploradora de escaudalos o lançadora de 
interricvvs do sen nação. 

Houve pintores que, nfto tencionando 
comparecer na Exposição, acharam bou 
a oceasiáo para exbibiscm os seus grandes 
sentimentos. 

Fez-se muita phrase em nome dos sol- 
dadinhos de Detaillc. vencidos duas vezes 
se fossem a Berlim recebo r o premio da 
rcprcscuta<;io artística da sua derrota, 
failou-sc em llenri Itegnnult, morto cm 
Bougivai, no campo da honra, puzeram 
coroas novas ao pé do seu monumento na 
Escola do Delias Artes ; deputados mette- 
raet-M na historia. Derouléde começou a 
so agitar, a legalmcnte exlincta Liga dav| 
Patriotas entrou a distribuir bilhetes de 
relrth com o nome de fttgfaQjcra a data 
cononuda batalha cm que os balas 
prussianas o mataram. 

Os artistas, quo tiveram receio de serem 
acc usado* de falta do patriotismo, decla- 
rar am -mo pela abstenção, os resolvidos a 
expor sentiram-se pouco numerosos para 
representarem a pintura francezne resol- 
veram também abster-se. A compauha 
anll-gernunica terminou com nm recuo 
pouco corte* ao cabo do uma iaimenaa 
agitação ridícula. E os allcmles (içaram 
d esn contados. 


mututlu oi • aqui aueto:.'»aJas, nos c*nt* 
pos «li corridas d? cavado* cm França. 
Fui a cansara dos d«\*.«i!jJoi quom tomou 
a Iniciativa «Tma medida, cm n«)rao da 
.lK>raltdad>i publica. c p r muitos outras 
r#A*« expostas ra tribuna parlamentar. 
O ininifttro do interior linha profoito 
quo ai aposta* de corrJai tosem conrt- 
deradas como Istcrijf. para quo o Estado 
pudesse taxal-as correcta mea to o perceber 
os Impoitos d*ahl resuknntcs. tini a pro- 
posta mlnistc.Ulcahbi dlaote da morali- 
dade multo superior da asicmblca legisla- 
Ura.quo votou a sup prersio pura c simples 
do Jogo I mm oral. Earaaabicra Auteullco 
reunirá multa gente para ver w baver^ 
book-makcrs bastantes tnpctudos para 
resistirem aci* gtndirm#*. E«pcrsm-to 
barulhos grave», váomnlar mais trofeu 
para o policiamento d> liíppodromo: será 
ura direrli mento para quem anda a pro- 
cura de cqioçCcs, 

Ma* nào se poderá tjyJstar senfio par- 
(IciiSnrinentc. o que dá na mesma. 
Verdade «* quo so pó«tc apelar quo so- 
rto os book-makcrs ' os vencedores na 
contenda. Mas «cria com certeza do per* 
der, porque n>sta terra, cm que a ordem 
domina, sempre é a lei quem vence, poi 
Impopular *;ue seis. 

Agora. n'cstc poeto a imprensa está 
eom a Immorali lsdi do Jogo, & pretexto 
de que o Pari-mutiul é uma Imtltnt- 
ç&o consuetueínarla o que a sua Mip- 
prcAiAo acarretará eonscqucnela* 6cm 
mais gravei do que tua tolerância. 
(Note-se que elle oÜLo era sómente tole- 
rado. era legitimado, por Uso quo ainda 
no anno passado o E*t.vlo recolheu aos 
seus cofre* quatro milhSes liquido», pro- 
ducto do imposto do S */• da* apostas, 
o que eleva a duzentos mlltíjrs o alga- 
rismo dai apostas reriileadas.) Una 
faliam do melhoramento da raça car. illar, 
da necessidade d'etw.i conearsos públicos 
para a sustcnUçio dos bons exemplares 
das coudelarias que 'oraacem á defeza 
nacional a :«ua boa cavallaila; outros 
argumentam com a eonomla e a juris- 
prudência da quostác, orno outros tantos 
advogados dos acclonlslu deblppedromos, 
cujos interesses a sopnrctsáo das casas 
de apostas sacrhka. 

A vcrtlade é que a medida Inopportnna 
será rcconiiJcrnda. logo que io descubra 
um meio desalrarai a ppi rendas d mo 
ralidade do Estado na que* tio. Mc;mo 
quando se dlspOe do prestigio e da força 
de uma situação política ilrmc. não se 
pódc raai* ser anctoritarh cm Urrai ctvi- 
lisada*. Tanto pcior para o publico, se 
elle reclama com insistência, com imper- 
tinência. a suppressão de medidas toma- 
das em proveito seu . Mesmo que não 
houvesse. um parluneuio responsável, a 
imprensa abl esti para justificar todos o» 
actos menos bjm funda los do poder exe- 
cutivo. E. como a triste hnmanidado viro 
e ro alenta principnlmonicdo ficçOcs, nio 
c muito que lhe seja dada a autonomia 
fletida da sua existonria tcdal. Quando 
não se é um ladivtJuo. mas uma socie- 
dade,* não ha vergonha cm emendar a 
r nlQxS qq. erro® collecít roí pcnlêtn muito 
íásui gravidade. reparlinUò-so. 

— No senado ha a assignalar a reen- 
trada de Jules Ferry com um bello dis- 
curso sabre a cobnisaçjo da Algeria. 
Ainda houve quem o quízesse fazer calar 
com o insuccesso do Tonkim. Em política 
n&o s-s esquecem os erros dos politleos. 
Só os da política se esquecem todos os 
dias. Esses não têm auetor. 

DoMiao D.\ Gxuz. 

Pariz, 7 de março. 


desapontados. 

Coincidiu com a discussio pela im- r 
> prenso, de lr ou não ir a OtrHm em pin- ^ 
. tura, a visita a Pari/, da imperatriz, mài J 
r de Guilherme II. Rcccbcram-im bem, 

; contentes mesmo com mais essa prova de d 
fascinação que a Cidade-Luz exerce sobro 
o mundo inteiro, o os chronistas escreve- 
ram com as sua* molhorc» pennas o " 
r elogio du viuva do Frederico o Nobre. ’ 
. Mas a imperatriz começou a visitar do n 
j preferencia os aulicrt dos pintores cujos 
. nomes mais frequentemente transpõem as d 
c fcootoiras o viu-se n'isso, mais do quo t 
um simples interesso da amadora d*arte, c 
. a continuação da política feminina, quo e 
. tanto inccnimodava a BismareJe no seu n 
j tempo. a 

A gonto quo não queria quo os pintores c 
franeaes fossem a Ikrllm (a fflcsma que l 
ralhou quando os inodicos lá foram ao 1 
t Congresso de Medicina) entendeu ncccs- d 
sariodar um grande golpe: os reporte rs d 
' dcicobriram que a imperatriz, roál do f« 
' Inimigo, Unha ido a Saint-Cloud rér as 
roiius causadas polas bombas pruasia- F 
nas c que dqiois fôra almoçar em Ver- i 
saillcs e visitar o palacio, onde Gui- 
Hwrmo I recebeu a acclanuiçüo do seu 
c exercito, como imperador da Allemaiha. j 
x Falloii-to em espcsiuharocnto do brio » 
s nacional, ccnsurou-sc amargamento a ‘ 
9 falta do delicadeza imperial em andar 1 
e assim boUado em chagas mal fechadas c 
o disseram-se couins dctugradarcis aos joc- 
nacs allcmães, quo contestaram aos fran- i 
cczcs o direito do criUcar os actos da snn 3 
Imperatriz. Kez-so Unto barulho que até f 
c o enterrado Boulangcr deu a sua opinião. \ 
c de Bruxclias. A imperatriz apressou pru- 
dcnwiucntc a sua partida para a Ingla- 
terra e chegando lá declarou quo nio 1 
e julgara fazer mal visitando Saiot-Ckiud 1 
9 o Ycnnftles, como tinha vãitadooPan- c 
u theon e os Inválidos. E, Ui Ia min da po- t 
pularão parisiense, não teve elogios de ( 
«obra para qualificar n suo attituds cor- 
o recta o cheia do tacto, durante lodo o 

0 (empo da sua estada em Parir. 

l * Dizem mesmo que, em sigiul de agra- \ 
detrimento priivmancira porque lhe trata- * 
'• ram a ílilia, a, Rainha Vic torta, faz te içáo , 
de demorar-se quarenta e oito boras aqui, 
na sua próxima passtgtm pira Grasse, ( 
onde vat residir algumas semanas. a 

9 Ainda uma vtz os orgãos da opinião d 
■ # publica foram orgúos de opíniOcs multo 
s parliculat-cs, muito coUcsfcivei?, mesmo 
discutimio-as sentimcotulmente. Privar ^ 
os kus artistas de mais um triaropbo no d 
c estraiigcl* » (triumpho («fUrisi, quo partí- 3 
cülarmcüie clles sáo medalhados todos os r 
A aonos nes expoifçbcs de Stuttgart, Mu- 
okli. rtc.K perdei uma occaaiáo de ouvir . 

| palavras airnvcts vindas da AUemaaha, 
j | responder cuui rtma 'íxciiia injuriosa r 
• . aos avanços, curtczes ícilus pelo lm- j 
; perad«jr. que neste momento tinha uiu.i 

1 queda pela França, fot fazer obra de má 
pciiilic;:, [ r l:ni <2o CCiiLu. Ale na Itália, ^ 

'tu-ltí ; ; ! avia uma certa ^pj rvl:i*iis-u. { ' 
0 .n!o iíi tur.ucritn-s*» as i\ía««*cs ltos:.;J s 
j. iiUM a 1 rançv u a taionga, iram -se ■ •* 
t- %.« s : J q iOAdo . * C ou- s t- v* - 

' ra:n o mau can.inlio c a kJml.uúo i...uv- ’ 
i . i- N-sa dura e es* in benta coa:'* Vanti-s. 1 c 
— t r má quextio v*j:.i3rnt*, gra« t. :'ra-, v 
illa.li . • *V;nda> «ceai*- i—v . : , a** 

4 -- ; ;rc. A> ... a ú; ojUi Autuas 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 909 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n.115, p. 1, 26 abr. 1891 






910 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 

Com um me* do aiitceodoncla, f»IU*»e 
Já multo da rnanifeiUçlo aociallitado 
1* do maio pioxlmo. 

A do anno Ando tilo passou do uma 
nma;a,ou antoa, toro umcanclor moral, 
•Ignlileallvo, mai nSo executivo. A dVato 
aimo, pelo que dlx o 7 V>njw, orglo bem 
Informado, aerá mala aérla. Deputados 
e conselheiros munlclpae», pertencendo ao 
partido novo.sceollocarãoá frente doa ma* 
nlfcstantca e serán onrcrregado* do intimar 
aoa poderca publlcoa aa reivindicações do 
povo operário. 

I Ia uma proclamação do parlldo soela- 
llaln que convida oa o^rarlos a abando- 
narem aa oAlcInas no dia 1 * do inalo, que 
será do feata quo ao encerrará i-or ba Uca 
noa vario* quarteirões do* bairro* popu- 
lares, como na festa burguesa do 14 do 
julho. I»io ò um booi slgn.il daa Intenções 
paclflcaa doa n.anlfcstanlc». 

I’or outro lado, o conselho mtinlclpil 
do Parir, solicitado a adhcrfr oflleinl* 
mente à manifestação, limitou-se pru- 
denlcmento n declnrar-se partidário dc 
uma legislação do trabalho: ••fim a que 
tchdc a manlfc&lnçãn do 1* de maio.» 

K*o antl-rerolucionarlsmo qno vai to- 
mando conta dc todoa oa espirito#. Hoje 
quorem-to reforma*, nAo demolições. 
Bali lodo o mundo convencido do quo 
não ha crcaçfu) nova que seja nova, pri- 
ineiranientc, qno aeja perfeita cm de- 
ilnltivn. O aperfeiçoamento 6 condi- 
çV> de existência ; o aperfeiçoamento ú 
reforma: dc que valeerear, ac tudo que já 
eatá errado, 6 moJillcavel? O socialismo 
lusinuou-s# entro todaa oa prcoccupaçôcs 
mai* graves doa pensadores c homens de 
Ratado. 

N.to lia quem nAo pense rcllc diaria- 
mente, quem o nuo faça entrar como ele- 
mento Irremissível na solução de lodos 
o* problemas da existenein social. 0 so- 
eialismo na Europa, como ha pouco 
tempo o Abolicionismo entre nós, tornou- 
se cm quotáo do primaxia, cm qurstòo 
única, como dlxia Joaquim Nabuco. Hoje 
clln v como um carro puxado até uma 
altura, com esforço, que 6 preciso nio 
deixar dcspenbar.se pelo outro pendor. 
Ifa tropeços o obstáculos pelo caminho 
das reformas precipitadas. IXs vagar se 
chegará no fim. como s« chegou i me- 
tade da Jornada, Um defeito dc reforma- 
dores 6 considerarem menos praticamente 
n Interesse dftColIccUiIdadc para que Ira 
b ditam, do que a ana natural Imjn Meneia 
do obrarias, que nilo se resignam a náo 
ver erigido o edil Ido cm que trabalharam 
desde os fundamentos. Outros, os mais 
directa mente interessados nas reformas, 
tom a urgência dos soíTHmcntos pessoae», 
aggravados pola esperança da melhoria 
prorima. Na questão social sáo oa pro- 
letários, massa lluida de desejos, quo 
; qualquer pressão desloca cm motlmon- 
| tos loucos, Ineoercivois. 

: Pela lição da historia, os quo hojo sc 

forrn. chefes de moriroentos Roclaes, evi- 
tam quanto podem as perigosas dcsloca- 
| ções oas rnnesas. 

E* assim quo o Congresso Internacional 
dos Mineiros, que durante cinco dias 
reuniu-so cm Parix na sala da lio Ira do 
Trabalho, nilo ao encerrou sobre n moção 
ameaçadora da grêv«* geral, que tinha «ido 
1 proposta. Uma grande maioria dos con- 
\ grossistas votou peia suppressáo do para- 
i grapho quo dizia : • O Congresso encar- 
rega a com missão internacional de tomar 
t as medida* necessários para fazer rebentar 
i a greve gorai no mais curto prazo.» E a 
: asscmblòa separou-»;, depois do baver 
votado a moção seguinte : 

1 «0 Congresso Internacional dos ml- 

í nciro*. reunido no d|$ 31 de mareo c dias 


tre, foi fracamcnte eomtnenudo, pola : 
que não f.>l mais do quo um longo np- 
pello ao congrnçnnvnto doa partidos re- 
publicanos durante o |friodo nrcntMrlo 
A justa sprcctaçto das posições d.is ques- 
l«V* políticas. Como que tufo* sen In» no 
fundo quo ha multa contestação InfuiiJoda 
e que a* cabo de algum tein|io do lacta 
no mesmo Irrrcnoõ ncrrssnrta pirar para 
ver o quo »e ganhou. IVmniv, n revisão 
da# programmns ImpiW-ae. Já ha multo 
rotulo antigo, disfarçando Ideas novr*. lí 
lia uma fadiga do |»ollllrar, que aluda 
mal* nugmenta o desejo do administrar o 
acrrcscentar a caust puhtlra. 

— A alIUbÇ* franco-russa ea minha 
suppõem o» crentes. 0 c/ar mandou en* 
lirg.tr ao Sr. Carnot as Insígnia* do ca* 
vallelrq da ordem suprema do Santo 
André, quo confere ao mesmo tempo as 
outras quatro ordens ruttuvi. 

— Morreu Jos&phln Soulury. poeta 
lyon*»/, sonetlsts. que tevo a sua época o 
quo ílgura nas anthologla*. Era de Lyon, 
hureaucrata c muito apreciado pela sua 
habilidade do verslsta, pelo seu talento, 
quo não fnzla sombra a ostes Invejoso# 
parlzlentcs. 

— Jean-Paul Lanrrns entrou para o 
Instituto, no logar do Meliaannicr. 

— Abrlu-sc a exposição dos pastrlINUs 
na rua de Séxc. Nenhum nrlUta novo. 

1 ‘ariz, 5 dc abril do t$ 9 «. 


Foi nomeado promotor publico da co- 
marca do Ite/snde o h acharei tSonçalo 
Marinho do Albuquerque Uma. 


CHILE 

Alá á ultima data dos Joenaes recebi- 
dos. c em conflmiaçAo aos lelcgrammaa 
já publicados, contlauava lndeci-a a sorto 
da revolução chilena, na cspcctatlva do 
um combale definitivo. 

De uma pertlnncla c telmoiia, que se- 
riam pnr» admirar se tio raro náo cstl- 
wrsom custando n ma pai ria. o vresi- 
dcnle Bilmaccda continuava Inabalavel 
c firmo na sua tenção do nilo capitular, 
empenhando lodos os esforços cm orga- 
nisar tropas contra os revolucionários e 
náo trmondo dc assumir os compromissos 
financeiros dc compras de munições o de 
marhinas do guerra no estrangrlro. 

Já agora a situação estava deflnitiva- 
menU definida na obrigação dc trium- 
phor ou do morrer. Qualquer conccsaác 
da sua parte não alcançaria satisfazer o» 
cspir.li* os mais concillntorio* c daria 
como improfícuo, c por conseguinte coroo 
mal* hediondo o espectaculoso quadro 
apovoranle quo boje apresenta a cx-flo- 
rcscento republica do Chite. 

São estas pelo menos ás ideas expendidas 
cm a sua nula rcccnto mensagem. 

— Milltarmcnfc a nota culminante das 
noticias recebidas esta na expedição do 
coronel Hermogeocs Camus que preten- 
diam farer actuar sobro os revolucioná- 
rio* atravessando o departamento argen- 
tino do Salta. 

Initrucçuca do presidente Balmacodi 
rce»mmen< 1 avnm no coronel Camus do 
nio ímprobo ndrr Itotnlha alguma »e»áo 

S m obter multado Immedlatoc seguro. 

sou ubjcctivo cra AntofugasU o Tnra- 
pará; e. no CASO de insuereav». devlA o 
commandanto proceder a uma prompta 
retirada, procurando salvar homens o 
munições e tratando dc reunir-se sam 
demora ao centro do exercito gover- 
nlsta. 

0* revolucionário», porém, não deram 
tempo e apportnnidade iiom mesmo para 
u execução preparatória de semclltantci 
projectos. Com o auxilio dc alguns na- 
vios quo desembarcaram tropas, chega 
ram ató Calama onde se faria s cor» oco 
tração da divisão Camus • ahi travaram 
cooihatrit do avaaçsdas. 0 coroo cl com* 
mandante tevo então do retirarse cra 
vista das mesmas instmeções recebidas o 
da superioridade incontestável dc forças 
com que linha de arcar. 

— Rato Insuccccso da* tropa» gover- 
nlatas vein ainda maU prestigiar as força* 
i evolucionaria» quo nngmcntam de dia 
para dia conquistando afò a ndbesão das 
con'rnrins como em Talca, Acoiicagua 0 
.Santo Antonio. 

S>í i»os departamentos do norte, que 

mIIa inliilNin*nlA li»K A u*il llftniinlA. 


«0 Congresso intortiaeioaal dos ml- * 
t nciro*, reunido no dia 31 dc março c dias ^ 

> seguintes na Ilolsa do Trabalho cm Parix, p 
' cotcndc que uma greve geral dos mioci- P 

ros do França, Inglaterra, Allcmanha e 41 
f Áustria poderia tomar-se necessária para c , 

* conquistar a joroada do trabalho de oito v 

ltor.ís. J* 

• Convida por conscguiuto os governos ^ 

* c os Icglsladorea d estes paize* a ac pilrcm 
dc accurdo para adopUr uma convenção 
Internacional, tendo por Am applicar uma n 

' legislação internacional a todos oa opc- 11 
f rarii/s mineiros.» 

N’essa importante assemblõa socialista, 

3 dissolvida hontem, verificou -*e quo os J 
’ operários inglezea, que suppomos serem 0 
I os mais infelUc*, aio na realidade os mai» p 

* bem ofganisodos na lucla contra o capi- c 
} tal, ao mosmo tempo quo sào os menos D 
, violentos. 

« A vlolcnela das propostas revoludo- v 
narias do operário coutiocntal » dix o d 

> Standard de Londres, tratando do Con- 

* g reavo, «provem da sua impotoncia real, 
da sua falta de orgunlsação.cm contraste a 

- com a calma do operário inglez, quo n ^ 
° sente forte da força Immcnsa dos Trartc t 
i Uniont.» 0 facto c que feram os desgra- r 
. çados mineiros belga* e atlcmãcs ot que 

’ quo propuzerara a gróveg#raJ, cuja op- 
J portunidado) foi contestada mio* ioglozes, € 
que entretanto oíTereecrani o seu con* 

0 curso moral e material, quando belga* 
r se qulzerem colllgar contra as companhias. - 
Euu promessa de auxilio da parte dos t 
inglczcs determinou compromisso ideu- '• 
tico das outras nacionalidades, para n J 

0 próxima gròro nacional da Dolgics, o que | 

- já éqm resultado enorme. E foram ainda r 

4 os delegado# inglc/e», sensatos c onten- ^ 
® d idos, quo propuzeram o adiamento dc ^ 

questões roais complicados, ainda não snf* ( 
(Icicntcmcnto estudadas, ps rs um proximo g 

- congresso, cm que sc discutirá cspcc/al- ^ 

* mente o projecto de constituição da fede- fl 

1 ração iutcroadonal operaria. 

Um objcclo dc meditação a deduzir do f 
om resumo d*cstc Congresso c a previsão £ 
do uma guerra europèa d‘aqui a alguns 4 
anaos, quando a Federação Operaria cs- 
. tiver funccionaodo regularmente. 11a 
0 gente presumpçosa, qno prc»è acontc- c 

* clmcnlos do polilica curopca. Itesolver c 
questões om quo entram dado# (ndefl- c 

0 eidos parccc fsutasis pura. s 

0 — As férias parlamentares puzersm os c 
’ jornalista» cm uma tal ponuria dc ns- c 

suroptos interessastes, que, para agradar * 

1 aos leitores, ollos não veem mais outro | 
r meio além dos plebiscitos sobre a ques- ( 

- tio ou as questões de actanlidndc. 0 as- «1 

* signanto de jornaes foi chamado a dar f 
a sua opinião sobre casos bem graves, J 

i quo cccupam á» vezes por uns minutos t 
x 0 espirito largamente comprehcnsiro 

* dos parizienses. Logo que um jornal £ 

3 lançou a Uca, outros a tomaram e r 

desenvolveram. Plcbiscitou-se a qoes- L 

* tão colonial dò Toukim, a maneira dc 

% dar 0 braço a uma senhora, a sup- 1 

^ presvão da censura no tlvcatro, a cLissi- 
e fleação ordinal do herdeiro do herdeiro c 
Jo Napolcâo ni. . . Ma» n Jo sc conseguiu i 
encher dc altraetlvos as folbas políticas. J 
privadas da polilica. 0 discurso do Julio 1 
a Fcrry no banquete da Associação P.epu- { 
Lbikoija que se deu ao Elyseu Montmar- l 


De Paris (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


911 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n.132, p. 1, 13 mai. 1891 





FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


■vR»r oc vciav 


borrOei d* Clovl» lloguci, que descrov 


B’um soneto e aue obre i 

Tolle de dlx : uo psyssga 
De tkins-ct-Marne avcc de l'ato. 

J'el aupprUnò i'eau, car 1* itge 
UrtdouU, mime cn tablsau. 

LDerbe sal verte, aelon 1'ungs, 

, Mela Jo l'ai foulAo eu rouleeu | 

Et e’est dfjà per mal d'ouvrago 
Pour un falbte enfant d'Apollo I 

Tolla de huli \ un coln ehemplire 
Que J’ei croquè de ma fsnétrc, 

Rn plrln MoiUmertrc un Jourdélè. 

Lea mslions font le plrouctts... 

Dah I pulsqtfon denao à le Oatettc, 

II feutblfn^tlW^danae á càtèl 

Ume <Ua ama tilai, representando 
Jôrea n*um raio, Ifto mel pintada* qua 


d» rrlauen quo [un , «nguí 

• Ml gonlo d* liopnou, Uo tolm» o 
Wâ boblluolmnlo. Atolo umo dl.pul» 
fiirloM onlro oo raloetorro do tnijorniti 
UJour, U XIX SIM, . Ij p„i, j 0 ur- 
, tm qtio u Injorlu mali grooMln. 

1 voom do pario o porl», como u foiíin 
ooclitlroo do /focrt qu. brlftuom . Ilon- 
tom hottvo un dtitllo 0 plilolo onlro 
Julu LornoHro o F.llc.n Cboapoour por 


N T i 

nal, r ... 

voom do pario • parir, como u foioini 
cocheiro» do doer» quo brl(twm. Iloo- 
•orí ',*7 ^'vo j 1 » duollo 4 plilolo onlro 

eouu do durou» n-um» põímkãda ui- 
Ure dremettee. 

Jla dtae, em pleno Cstt de le relx, á 
*>ri 4° “peritlvo, um joroellate Inglex, 
iilo, correapondeqte do T>*ity Mtgraph, bo- 
lia- mem muito calmo e polido, diuo ae ulU- 
da mae a um confredo da impreme ingleza. 

' , Nm ^•‘•Htaa entre jomaliatea a olUma 
réo Injurie ò dizer que o outro 6 csplAo ao 
nda aervtco di Allemanha ou da Iialla) o 
penultiine t chamais de ellemlo d.Var- 
d* Çftdo. O »Sr. CHford-MItlago arraiou o 
collrga com amba» E o pobre correapon- 


de vendida a llmco Fould. outra pintora 
quo escrevo com o plncol. Qto um doa 
Ideaca dos le: radas ptntoroí d e venda 
daa susiobrar Anine Ilouaaeyn, Mellliec, 
.Sardo ii, Jonn Ramcaii, Raul Ponchon, 
Cerolllo Lemonulcr.Octare Mlrbeau, Oyp, 
d llerrilly, Ifarencourt, toda essa gento 
pinta ou desenha. O mala engraçado ò a 
imllaçfto dos artlstaa que cilas aitmirare. 
I.cmonn!er imite o Impressionismo de 
I.curat. Mlrbfau ao approxlme de Cleudo 
Monet, Kd. do Üoncourt faz A le Ge- 
vernl, Joan Ramcau, o mualcel poeta, 
fez uma palxagcnt, por baixo de qual o 
gramíe pintor Qenrcx escreveu uma qua* 
driuba i 

Lea blés frluonnent sous lo rlel, 

Un arbro cn 1’eir cbnud ■extash... 
Si Jenn Itarneau fale du pastel, 

Mol je faia do la poésie. 

Do llarancourt, (Ilustrador doa proprios 
versos piimoroioa, ba pasteis que Já tòin 
merrcJmonto. 

E. McUndrl nlo ò máu aqnnrellUta. De 
Gaston Ikrardl.o riquKhinio proprietário, j 
rrdaclor o correspondente em Pariz da 
IiuUi>tnttanc4 Jlehjc, ha duas estatuetas 
bens boas. Parece quo os cfcriplorv% que- 


IXk) dado mundana faz-lhe bem. E* possível 
m quo o acu prestigio de ©ptrariu titânico 
100 da grande obra Httcrarla 


- ----- diminua, mas o 

)00 homem social ganha cm frequentar os 
)00 MUa semelhantes. Pa reco qac 6 um bom 
— homem, Zela. 0$ maliciosos dl/cm mesmo 
W *l uo é llm ingénuo, uru cont-mplador qnc 
engrandece .*» suas viíAc* no emMltmcnt 
da plirase latina 1 0 bem como o mal tem 

, P| paraelledMConmedimcntoidt fdrmaedr 
dó grandeza. 0 acu pinthcisino dd-lbe para, 
na \iv«r no |>erenne espanto da huraanldndr, 
cm vez acntil-a aympaUilcamentc, 
como os outros. E'um Danto á modeme, 
.| â negativista. Km taes condões de senür. 
da realidade, q'.Ks elle tanto apura na 
do documentação dos se ia poemas, fica «xn- 
«• radamente deformada no seu lido da» 
liutiasque mais o (mprcaslonam. 0 mesmo 
í.izom os caricaturistas, com a unlca 
iliílcrença dc, pio havendo systema qnc 
n.i fl * S"k. IniprceMonarem-so estes pelo traço 
ro dominante da» phytinnomlâf, senslvd 
>*, í I^^IXAo vulgar. Na obra-toefn dc 
dé, ainda ngora no seu ujlimo 

lio volume Ér.brc O-Dlojjri», a erQiít>m dc 
* dracobrif' o traço ou a cxpttt^ exage- 

s _ rada para exwalar svbpe*clla^èducçán 

nj -íccessarja c aprcdár-lh? cntto o aves* 


iYin ter muitos ofllcloa para todaa as 
cmergincias da vida, ou so preparam 
['ara fazer .critica como o Pompda que- 
ria que se l)zc»se— nmtrando pratica- 
mento rosno a obra devo ter feita. Moa a 
multlphcaçáo dut . olílcios t unifSouho.' 
Sompro um pinior faz melhor que uni 
ivttiadn. 

=» Acabn dn chegar á Pariz o Dr. Fer- 
reira de Araujn. Para lhe scr ngradavel, o 
cío nevoento o frio fr/.-sc azul, c nos prl- 
moiros dias do aol claro 


A Bienoaquo nlo seja a IrrltaçSo jícla 
falta de acontecimentos sobro ov qb.xs n» 
pennas laboriosas passam trabalhur icn- 
iJosaracnle. A política em férias ó n 
moru-taiion para a mnlor parte do» 
Jornacs. A plebiscita gjo dc qucs(i>cs mal; 
ou menos Interessante», mais ou nicno» 
urgentes, a dlacussAo dç desfechos morar» 
dc peças dc thea t ro. oscommcn (nrlos arcrca 
dc fu cios <U poliiica internaclonol, »i 
marcaçSo dos pjsso, d*,i w p,,]* ai|| an ^ 
franco-russa -esperança a mais carn das 


as arvores co* 
ineçaiaai a »c cobrir com a verdura lenra 
da primavera. As andorinhas chrgatn. Ha 
uma aUgiia no ar. 

Dovucio OA Gaua. 

Pariz, 20 dc Abril do 1891. 


I i ara se aiverurem da falia dc cousa* 
divertidas, arranjaram alguns rscriplorci. 
nma cxposiçio de desenhos, pinturas c 
cscuJpturas de littcratoa vivos • nwrtos. 
A idea foi do BmIU Rergersl que, tendo 
feito nma grande quantidade de aqnnrel- 
Ins posai. mas de que os amigos xiunbivauí, 
qulz mostral-aa cm comparaçáo com os 
trabalhos dos coUcgas. E 1 uma collecçAo j 
do horrores a tal cxtosfcAo dc Pmna «• I 


Rentlson-so nnlr-liontrm, nos MWJevdo 
l.yccu do Aries e u.iiríos a kcssAo solomne 
da distribiilçAodc prcmlot aos niuiunos c 


alumn.is ÚV>io fMaljckciincnlo. 


ocira <ie rtvos ò outra cousa. Entre 
Bários, (-no Louvro* diz o catalogo, quo o 
niullo chic c cheio de vtrso* e pilhérias) 
figuram obras do grande Hu-o, feitas 
com born>'s dc linta de c*er«.- cr, espa- 
lhada a palito cm visõci ro au tiras, pin- 
Uiras a sèrlo de Thropliilo Gauticr, cari- 
caturas <ie Ocrard dc Nerval, do Baudc- 
lahc, dc Muucl, dcscalMs d^ Mcrimre e 
do JiiIm ilc Goncouit. Entre os vires, 
*W*»* da iiumonw quantidade de aq Un . I 
rall.v dc Ikvgcot, que cllc imi.-na «Ai.i- ! 
Un quaedo lhe uarooem menos Um, ha 


■ q|BÉ 

K ranceis. Adi 
claçAo, jjnla i*t 

•o Rcii i rtaiflfl 


Mfi 

' 

n DF 

HF?* n.io |K»;Iia 

Dpyuhdn da sei ;<• 
Rn k* sabido que 

t do queo homem 
bundo lho dfo 
u cesto todo dc 


roitn n arquisiçAo dss mcintlus dn ouroj 
cluitiauilo depois os alui imos premiados. 


Estio, expnsiás na conhecida «un Cos- 
Ircjcan as | lanba dns ob:«s que vio scr 
'cila* |-c;lrt Omijunliiji Melhora mrnloi da 
L- goa Uodrigu de Freitas o Uolahgo. 


Zola tem »éi ias esperanças do entrar 
para a Academia no logar de Octavc 
Fcnllljt. Os sriis coocurrrnles tnals Irrm 

Ufkiimlm »Al ll—flrl ilo no...!». . ....o.- 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


913 



De Paris: o Salon do Campo de Marte. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, 

n.161, p. 1, lOjun. 1891. 


th i! jilélvttiíH! 





914 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Ju 


In! 


do 

& 

ct 

AU 

w*» 

ia 

re: 

cl- 

du 

it 

K>r» 

m- 

U 

igo 


DE PARIZ 

O SALON DO CAMPO DE MARTfl 

Oi dou» laloni estAo «Ixrloi. Foi hon- 
tem a vmxUtagê do do Campo do Mario, 
o mal» cliíc para o goilo |<urÍ*lcn»o do 
momento. Trinta e quatro mil o oitocen- 
tas e setenta o cinco pessoas ondnrnm 
por IA hontem, da» dez liorat da monb& 

A» elnco da tarde, n'um aportâo quo 
lembrava os mal» terrtvd» dia» da E.\|»o- 
siçfto, empurradas para a frente ou para 
traz, nos movimento* caprichoso» que 
têm as mullidôc», »cm poder chegar nos 
*—♦ ou comprimidas contra elles 
e Igualraento impa ... «t* qj xcr, 
compktamcntti tora das cundlçOca niv*. 
sarUs para a contem pl»«;Ao do pinturas 
ou estatuas. 

B* verdade quo ú Inaugurado do uma 
exposição dc U-llo»-artci nko se vae |>ela 
pintura, mas pelos visitantes, pelai visi- 
tantes, sobretudo. Mus quando as visi- 
tantes srttuein em tSo grande numero, 
as atlenç&rs rcpsrtindo-se • distruhln- 
dc-sc, o eíTelto das toilcUes cspcclats flea 
prejudicado. Fel o puo Uontem aconte- 
ceu. Os cbronUta» mundanos ficaram 
mudos a respeito dos trajos das rainhas 
da inodn, das mói» bdlas mulheres dc 
I*ariz, que lá estiveram. Só fatiaram do 
aperto, do calor Mjirocante nas galciias 
illuminadas poc cima c mal ventiladas, e 
do hello espectáculo do de»fllnr das car- 
ruagens pelos aricdorcs do palacio das 
Iklbs Artes. Do vestidos mesmo só uma 
ou outra sclriz mandou u reclamo da 
rhoditla pnra o Jornal amigo. 

K um repórter improsionavcl c gene- 
ralisador dlsie que predominavam os tons 
claros do azul e do roxo, em cinzas ncu- 
trss» CSi violetas dc-*roaía<l»s, cm cõres 
descorada», como se o col da primavera 
já an tivesse comido. Será a moda um 
reflexo do desnudamento geral da pin- 
tura. com a illuiniraç&o exccasiva des 
ohjccUn por muitas claridades, |*la gran- 
de luz do ar livro em que tudo imnierpe? 

* E* crso o tom que dá a nota ultra-mo- 
derna aos quadivs do Salon do Campo de 
Marte, n nota azai ou lilar, harmonizada 
em cima, bruma lmnu.oiu como a da 
viaáo imperfeita dc quem náo está Ix-m 
acorJado. Parece que 6 d’isto mesmo 
que provém o caracter especial d*cs(as 
pintura* turva*: oa pinlcre* vivem so- 
nhando com a expressão dc uma reali- 
diHc. quo nüo éa dos profanos. São 
uns viciosos, uns bêbedos dc eúres, que 
querem quo nós vejamos através da 
sua turbação, da embriaguez da luz 
de que sc MtesUram. Ha no Campo dc 
Uai to um Carriére, um Dosnard, um 
Deschampf, uni Gaudara, que confundem 
as noçle» quo a gente simples tem 
sobro a loucura: são as talentos liberti- 
nos, qno já não liberaes, quo produzem 
essas derradeiros consequência» da liber- 
dade no ponto de vista. Carriére pinta a» 
sua» figura» envulvendo-o» n\uu nevoeiro 
louro ; Bcsiiard pinta por dfcomposhjáo 
de cúrea nas auaa tinta» componente», 
deixando quo o espectador cllectue a fri- 
legraqáo ; DctJtiMpp» põ. em evidencia 
placas lumbOSO» doa ef-res quo o Imprca- 
tionarrim, o resto fieaado apenas indi- 
cado ; Gnitdam parece o homem proprio 
para II lustrar as obras dc Maurício Mao- 
tcrlinck, faz a sombra, mudada em fôrma, 
mover- &o oni gestos subtis, reveladores. 

Disparatado» como tiles, ba muitos 
outros de menor tuleuto, mais pintores 
A « mnir 11 'imiM í.i sathfittea dc Poc 


por cllcs que |ióde ostudar uma das fei- 
ções da sensualidade esthetíca dc urna 
dvllisaç&o no seu auge. 

A milor pirte ȇo symbollstai, Inlcn- 
donses, sublnlolllgcntci. Sem foliar nos 
muilraUorti de concepções alheia», l.n 
os quo eream philo»o|»llUs no simples 
modo do uniforml»ar (clica di/em barmo- 
alar) o colorido dns suas pintura». Com 
esse» a critica d*arto perdo o «cu tempo: 
«lies c*táo tora do nlcaneo dVHa, sflo UH- 
mllmlo» o llvrtf, ua derradeira acccpçáo 
do termo. 

O publico não pôde chamar as »ua« 
têlas tnlntclllglvelo do Ooiat : aâo »ys- 
tema» pbitosopbleo» pintados a oiro. A 
gente ifrlx jussa por defronte, calada c 


sem procurar entender, mas «cm 
Irrcvcíx... 


/ 

*inj 

«esl 

pai 

em! 

COII 

pie 

mo 

pia 

»»» 

do. 

me 

rir. 

i|it< 

vbl 

ult 


O Campo de Mtri» u... ^ dí f0 t>«a» 
nislm o dc bellns cousas clara* . 
glvel» o dc tetélas, q«« Já prarem ve,, 
d Ida» do antemio. 11a, alíin doa plntii- 
rinbai propilas de salões c VcwbUrt. 
como a» de Dolart.FIrmln-C.lrard, Frappn. 
etc., na lòlnt wlldtade Dagnan-Bouvcrct, 
do Lbertnlttc, do lloll, de Cailm. do Stc- 
vens. do Gorvcx, de Jean Héraml. de 
psUngistM, do naturamortlsta*, dc deco- 
radores do todo gencro. 

Uma tola de ►antidade, que Impressiona 
mesmo depois dc Unto quadro sacro que 
n gente tem visto por ahi fdra, é uma 
iu'ja para o ligypto, do Dorollo: .uma 
palzageni dosertn A hora do erepusculo 
com a Sacra Fnmllla «m marcha e um fôo 
de anjos acompanhando-a pelo ar, uma 
musica osciHanU c vaga que devo scr a 
harmonia d.i tardewiavissima. Um belga. 
Uon Bruni n, pinta á nntlga. n'uns ton» 
de bronze, com um modelado e um deve- 
nho Incxccdlvels. Dagnan-Bonverct lem 
os seus consortti, tilo verdadeiro» de lm- 
prciiio 0 Wovimcnto qu€ um pintor aiüi- 
mou-mo quo aquillo foi tomado por pbo- 
tograpbia Instantanca. 

Os quadro» mais faltados »io cs*e« 
do 1’uvli de Cluvonne» e • M»gd,l«n.i 
Je Jcan-Qcrnud. Um» onuarclln do Molí- 
M)HÍer, uo lojor de lionr», ornodo com 
uma P»lma de ouro, não «t« nlll «»») 
por ser a unlca cousa disponltcl que 
lieria do mestre lncom|U«r»rel. 

K esculplura não ó superior k d. Ex- 
posição dos Campos Eljrseos. Uas una 
novidade t a exposição dos ebjectos d'arlo 
i!ecorativos. ou do ulltldade, quo so an 
neson á da. belM-arte». 

Desde os moveia e porcellanas alã àx 
encadcrnaçõea, dosdo Clrãrel c Gjillè dc 
Nancy alã Dqrld o «ncaderaador, ha nlli 
exemplares dai arle» ntels «i dc luxo que 
dão uma alia Wfa do que «o íai *n> 
França, íôrs do domínio da jrande orle 
que procura a crillca. 

Domicio dá Gasií. 

Tlieatros e...« 


Jã não hu que dlier a respeito do Frei 
Satanus. Ello Já (catejou o ccnlennrio.c 
coolinúa a dar onclieiiies. K'Ulo esta o 
maior elogio da popularíssimo 1»C». <!»' 
dlsrena* qualquer outr» rtclamt, e por 
Isso limitamo-nos • noUelàr qno elle te 
representa no Variedades. 

o rarirr: no caior 
A qui esta um natlfe qno se nóde elm 
mar honrado. Não engaaa ninguém t 
cumpre religiosamcnto o wu uever: m*- 
cIm» to^n» a» noitra o SanlAnn», onde 
hoje mais uma vet a« rcpresenla. 


% «* 


O t 

n*u 

( 

aos 

MUI 

«ki 

mi 

l £ 

.!n 

Ju 


outro» de menor taleuto, lassa piniorr» 
on mais litleralos (a esthetíca dc Poc 
Irlumpha em Ioda a linha), que so pre- 
stam ao esearneo do publico, por saldrem 
doa trilhos batidos da pintura estabele- 
cida. Lembro-me de um quo pintou uma 
mulher ao ptano. para mostrar uma ex- 
pecsxin de mios. Ü plano õ antigo, de 
uma madrira c.-ura o som lustro, os 
teclas amarelleiiloa. A mulher i uma 
d'osaas croaturas sem idade, som sangue, 
quasl sem corpo e sem xlda: t- ,1 o tare 
melo encoberta pelos cabcllos.-csalados 
c com os olho. baixos, quasi fechados 
more as mãos sobro o loclado, n'um mo 
tlmcolo lento de quem desíla as derro. 
doiras notas suspirosas dc uma rtveric 
0'jem soisolsc concentra sobre squelle 
qnsdrolque lembra OJ poemetos dc Ocorgoi 
Itodenbseh) ehega a sdirlnltar no gesto 
d aquollas mios magras c (talüdae, allss. 
tadas, a musica das dúres quo aócnne 
cem com a fadiga dos soluços iolimos 
Espcra-se que quando a sombra do cre- 
pusculo to fechar de todo sobre o plano, 
a mulher vire para uús seus olhos som 
lui o a bocca amargurada, atirando n'um 
gosto machlnal os para oe. liom 

Infell/im nte. aquIlK'/ ^fntura o a gente 
tom de deixar o qual e “de Ürlrenu para 
ir ver as contanaa Jc outra» quo ainda 
faltam. 

Começando pelo» grande* nome» é pre 
cUo vêr os plDtfOre», cuja» obra» nio 
podem mal» movtrar progre»» nem no- 
vidade: o grande painel decorativo do 
Ktlio, de Pnvis cie Cliavannet, um largo 
campo vcrdo-azulcoto om qua alguma» 
figura» se espaçam, pescando, banhando- 
%e, ceifando ou repousando á «ombro, 
«ma composiçAo larga e um trabalho 
simplificado dc pintura de vidraça ou a 
fresco primitivo. Puvls dc Chavanne* 
tem imitaflorca, o . quo prova que entre 
os plntbrca nem todos tóo intelligcntca. 

Ha télas n'aquelle tom, como *e a pin- 
tura decorativa pudeste acr tratada do 
mesmo modo que os quadro» dc ca- 
vai lote. 

Depois do Pnvis dc Chavanne» vem Cn 
rolus Daran.qut expõ: nove télas. alguma^ 
das quacs admira rala, n»«« nAo «iperl 
ores ás que d ellc já conhecemos. E* larga 
moote plnUdo, com um colorido estron- 
doso c cflciias do quem saba ousar. Um 
retrato de Gounod, outro do paizagista 
Bellotc. cm preto obrnneoaobrc um fundo 
escuro avermelhado, sft* duas joias d arle. 

E dois grandes retratos cm corpo in- 
teiro dc atncrlcsna» ou Inglozas sáo »u- 
periormente coloridos, estudada* dc phy- 
slonomia e de composição. Como retra- 
tistas scgucm-sc Boldini e Blancbe. 
Boldini. sobretudo, que npens» coloro 
para dar relevo, nào para dar còr. 

E’ um atravido que deve fazer os re- 
tralos. núo ao gosto de quem os encora- 
menda, mas ao aen capricho. Nào tem 
muita cortezia com as mulheres que re- 
trata : pinla-a» durarnente, aceentuaadu 
as (diysionomias como nm cariraturltla ; 
mas agente «ente que aquillo deve acr 
parecido. E pinta 1». go, como quem snbe 
j^uc oa rapida {vassagem através dc uma 
galcrto, o visitante nãop>dc reler wai* 
do que a» linha» peroes o n impressão 
domiiiante dc uma pintura. Per isso c 
que cu acho moleriti» c*tc* pintores : 
pintam paia a t-N.le »U( trexcitada. In- 
quieta c iivcnaia do nc*só tempo, que 
tem lc«. jfna n.a* tpis n*» t:m l*z:- 
• ^ o paia uikVM\o*\c»-a » uj ^Kal-a L * 


do 
llA 
no 
tr- 
no 
Io» 
Sr. 
Sr 
rte 
do 
ín»> 
e o 

»do 

lia, 

ma 

\\r.- 

na- 

da 


• «lo 
A 
ado 


do 

oite 

MTO 


me- 

do 


Dr. 
r de 


cno ' 
hoje 


To- 

Piicn 

ntvíl 

mari 

qucH, 

appli 


O 1 
uma 
r/f S 

do J 


Ca 

oper 

Sra*. 

Nf 

Soii 

que 

Ar 

Cau 

pcnl 

F« 
do E 
mDc 
Anj 

N 

etac 

A 

reza 

attr 

O 


E 

COIV 

Luc 

veli 

Nu 

Ma, 

A 

con 

peli 

rep 

rei» 

Sai 

feit 

C<i I 

tlw 

do 

c 

ver 

sou 

Du 

foz 

íei 

mn 


vl 


De Paris: o Salon do Campo de Marte (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


915 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n.192, p. 2, 12 jul. 1891 









916 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 

’ aOOIALiaMO DO IMVâDO 

Oa psislmlitae podem continuar a achar 
J mau» oa tempo» em que vivemoa a a de* 
, aaaparar do futuro moral da nosea etvlll- 
laçAot a tondcncla 4 para a confralernl- 
| snção necetsarla, a extensão da airoclivi- 
) dado humana ao nianifcnta |»>r lodn a 
•orlo do fncto» da vida soclnl, da vida po- 
lltlca da» nar&oa. 

t Nunca a humanidade teve tanta voi, 

* nunca o homem »e queixou tanto, (porque 
a voa noa foldnda paraquo noa qiielaonioa 
prlnclpnlmcnto), nunca ao preitou tanta 
' attcnçlo áa queixa». O»tcni|io«do dureza 
' de coração pa««ornm. O» govomoa Impei- 
. »ooe» pcrsoitnllsain-ao para nttender ao» 
i reclamo» da» closso» mono» favorecida» 
iln distribuição do» quInhCêe» da fortuna 
1 anelai. 

Nlngiiem »e excuia da tarefa de mo- 
Ihonr a »orto doa mlaoravel». I' Istd sem 
espirito evangélico, sem Impulso de corpo 
de doutrina, «cm esperança do paga, por- 
que hoje oa pcniadore» »Ao «ceptlco», 
porque hoje os mlsoiavola nfio a.'o htimll- 
dea e porque por vladc regra o fnmlnto a 
quem sccirehu o ostomago ú uru Ingrato. 
Mas Ira na enrldade com quo o» homena 
do Estado se prcoccupain hojo com o» 
proletário» um como que éco interior 
reflexo obscuro da flbin do coraçAo que 
o miséria do lioiucni nosso vizinho o nesro 
soclo do existência faz vibrar e que passa 
atravèz das parede» coda vez menos es- 
pessas do individualismo. 1'nz-sc socia- 
lismo por bondade, cousa n'oiitros tempo» 
se foz rovoluçAo por pldlosopliin. 

Hn qiiont penso que os homens pollll- 
cos prcoccupanwo com n questAo sicl il 
porquo cila tem a urgência atnoaçndonr 
dos motimentoa revolucionários. lí’ um 
engano. A nttençAo que n’cste momento 
historlco dispensa- só ás rcclanioçJVw vagas 
dos plebeu» modernos não ú forçi.lu, é 
prova de um inUrcsso sincero. S) o *o- 
cinllamo fosse uma ameaça c nào uma 
queixa, bavcrlii tanto nulo de rcpriml- 
lal... Toda a força c todo o prestigio 
dts liiatltuirOcssecu^eesestarlmn' contra 
olle, em vez dc ratarem com elle. K hoje 
cm dia todf », o lm|>erin Allomfto, a Santa 
Sé, n Inglaterra liberal, a França autori- 
tária, n gente que pensa por sl c a que h 
obrigada a pensar, todos se occupam 
com n questão dn satisfarão n dar aos 
reclamos dos que pcrcolwrnm vlrnmrnt-' 

• a rlnalmioMiiilon n.ll/ci.. h na nnn» 


tlvameate a proposta» sua» para a v»nda 
do a»u Invento. 

l‘or lato acrnaador • accuaado» com- 
parecem perante o tribunal. I' natural 
que sejam abiolvldo», Tnrpln o»pecUI- 
m«nU, que beneficiará do» favoraa da lei 
para com o» denunciante». Ma» a cousa 
nfto deixa de aor uma ecena triste do 
drama da» cublçne da fçrtpna, que mer- 
cadejam mesrno com oa tegredun da ie- 
gurança da pntrla. 

A audiência do tribunal para ei»e pio- 
e«»ao corro secreta. Isso dá Ingar a boato» 
phant»slstA». Ainda honteiu dizia-se que 
uma das testemunhas, o general f.advneat 
linha sido proso cm plcnn audiência, boato 
logo desmentido, qiiodáuina idéa da ima- 
ginarão dos Jorqallsta», excitada por csm 
o\vsi«rlo .em termo do.. um. processo pri- 
viamento julgado, embora mal conhecido 
pó» seus pormenores. 

Ai testemunhas sjo numerosa» o por* 
tciicom anjornalltmo, no pessoal da admi- 
nistrado da guerra , 'm mundo industrial 
e sAo goneráaj, 'deputados, dlrectnré» de 
grandes omprezaa: o processo tem uma 
rcptreuasilo incalculável. Um dos resul- 
tados será o acautelamento dos segredos 
•los minlstcrlos contrnjos sons empregados 
deshonestos. Sabo-sc, entreUnto, que nem 
o «enredo d» fabricação das bonrlui» nem 
u fnrninla dns pnlvorxsscm fumara c ou- 
tras substanciai cxplo»lvaa ompregadas 
pelo exercito francoz corrom o risco dc 
serem divulgado». Dlrcm mesmo qus a 
MHinito do Sr. Turpin depois que per- 
tence no ministério da guerra Já soffrcu 
modiileaçõcs que o seu inventor ignora, 
o que poria o exercito franrex dc rea- 
gunrdo contra uma traição mais positiva 
do quo o.rsn simples tonlnti va dc cliantnge. 

o nnocesso no panahA 

Annuncin-so, no mcio.do rima impressão 
irofuiida, que um processo vnl ser ln- 
-itAurndo contra us principacs administra- 
dores da Cumpanbin do Panamá. 0 pre- | 
cesso visará pai Fcrilnrmentc o Sr. de i 
Ixsscpa e seus dons illlios Carlos e Victoi- 
e ris Npi. Cnttu, Fonlauo, baráo Poisson, j 
Allavino e Daubréo. 

0 Sr. IíilTcl escapa por não fazer parle < 
do conselho da administrarão, embora os * 
trabalhos realizados |)or cllc tomassem 
graças no kc-ii nome, uma importância 
extr aordinária para os ncelonlstus deses- ( 
pecados. * 

I" no dia 20 dc junho quo dn decisão 


De Paris (detalhe) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


917 


*» deslguoldades odiosuH na repartição 
dos moius dc viver cm sociedade. 

A» grtves, os condidos do trabalho 
com o capital já acabam ordinariamente 
pela victoria do primeiro c não é que o 
Pirei lo esteja cnni clle, 

O Uiroilo antigo, entende-se: do novo 
as formulas se estão redigindo, c, presen- 
llndo-a», conicça-so a legislar dc Imrnio- 
niii com cilas. Or ricos vão ao encontro 
dos mondigos : o I-NUdo vnl legitimar c 
rcgulnrisar as reclamações dos socialistas. 

A' camara do* deputados foi apremn- 
tiulo polo governo um projecto de lei, 
com o fim dc crear uma caixa dc pensões 
para os trabalhadores, com a partici- 
parão do Estudo e dos patrões. 

As graudos linhas do projecto são pouco 
mais ou menos ns seguintes : 

A contar dos vinto o cinco aunos todo 
n operário ganhando menos dc tl.OOO fran- 
cos nnnunl mente será obrigado, a menos 
que faça uma declaração em contrario, 
a depositar cinco cêntimos do seu solário 
quotidiano. 

Dm vlntcin...ono cubo do trinta annns 
uma rendo, multo modesta, mas tão ga- 
rantida como a aposentadoria do funccio- 
nnrio c a reforma do soldado. 

O que caruclcrisa o projecto do Hr. 
Coustnns è que o patrão ú obrigidn a 
entrar com um dcpndto equivalente ao 
do operaria. Kstn trabalhando ‘.'90 dias 
por anno, em média, n renda proveniente 
do duplo deposito no fim dc trinta annos 
será do 180 francos. 

Como cela somina não c suüiclciito e 
o operário mais modesto não pôde sub- 
sistir com monos dc 800 francos, o lis- 
lado intervirá então para p refaze r u 
dlITerença dc ISO francos. 

O operário que qiiizer ter uma renda 
de 000 fiaucoa olfcctuará um deposito ele 
dez cêntimos por dín c, como o patrão é 
obrigado o fazer a mesma cousa, o Hs- 
tadocievnrá n suacotis.içào nl-10 francos, 

A contribuição do Estado parece muito 
pequena, mas dudo o algarismo das pen- 
sões n oslabelccer o o modo do seu paga- 
mento, que só começai á a ser feito dentro 
dc trinta annos, ulla chegou a cem mi- 
lhões para cada cinco milhões de pen- 
sões. 

listo aggravamenlo colossal dos orça-, 
mentos do futuro, a questão dc principio 
do socialismo do Iüstnrlo c muitas outras 
dc detalhe que a discussão revelará, dão 
a maior importância a esta primeira 
concessão feita pelo governo do tercei im 

An nviTraitnlna d-s nhasln nctniln nne. 


.. .... ...» * w »»c j ■ i ii ii u ijiio an (iccisuo 
da camara vão os accionistas decidir se o 
ministro da justiça chamará a si n 
questão da apresentação da sua queixa c 
da intimação do Sr. dc Lessepx e conso- 
cius para comparecerem perante a policia 
correerional. 

A queixa resume-se n’isto: gastaram-se 
mil o qui,ilicnt'>(> milhões em Panamá e só 
apparereni seiscentos e noventa milhões 
do trabalhos feitos ; ciu que é que se em- 
pregou a diircrcnçn colossal ? 

A sessão de 20 do junho, na camara, 
será palpitante de Interesse ; n'uma se- 
mana a imprensa remexerá toda n po- 
driquoha dVaxa Immcnsa exploração dos 
pequenns capitalistas que hoje choram a 
sua excessiva confiança no geniodo grande 
cortador de isthnms. 

Ja espalhou-se limitem que Lesseps se 
tiniia suicidado. Seria tão pequeno adian- 
tamento à moí ' c I... o grande engenheiro 
íranccz tem S7 a unos do idade. 

* IIASII.ICA 00 (SACUK-ecK.UK 

Inaugurou-se alluaj, 0 derradeiro e 
grande monumento da piedade cntliollca, 
erigido cm pleno coração dc Pariz, no alto 
de Munlmarlro, no qiiartoit-Ao popular c 
incrédulo, na vizinhança doClial-Nniiçdn 
Moiilln Itougo, do Moulin do la Gaicltcc 
das briuteriti obscenas. 

Inaugurou-se com uma giniide solc- 
mnidado religiosa, oni que houve sermão 
do padro Mousubré (uma peça extraordi- 
nária de cloquciicin c dc accusnção ntre- 
viila contra a dissolução moral da França, 
que a Republica radical vai activando 
inconseicntcmonte) no meio, uma im- 
monsa concurrencia de lieis ede curiosos. 

Xa mesma imite houve reunião de pro- 
testação promovida por muitos rndieaei, 
depulados o membros do conselho muni- 
cipal, cm que so reclamou contra a ma- 
nifestação clerical o pediu-se que a ba- 
sílica do Sacratíssimo Coração de Jesus 
fosso dcralfcctada c transformada n'um 
usylo ou n'uma casado ensino publico... 
leigo. 

K um desses deputado, o Sr. Boudin, 
foz. na camara dos deputados, uma intor- 
iwllaçáo ao governo sobre o assumpto. 0 
radicalismo republicano nãoadmlUc ecr- 
Ins liberdades na sua lista liberal. As 
manifestações religiosas irritam-no par- 
licularmente. Não se sabe bemporquo. 

Parjz, 14 de junho. 

Dositctd da Gaua . 


íih c.m^ciiciub u.j 411ÍUIU vaiauu nus- 

(6. 4o. 

Desde a sua apresentação á mesa da ( 
camara 0 projecto levantou barulho. Foi , 
ofogo-o Paul Deroulédequem 0 piovocou, | 
requerendo a urgência para o projecto do 1 
Sr. Constans, sob pena dc não passar 
clle do mnis um acto de charlatanismo 
governamental. 

A maioria reclamou, quizerain impedir 
0 ministro do responder, elinin»rai»-n'o 1 
dc charlatão também ede luenío do Dou- 1 
langor, clle respondeu chamando-os dc ' 
maioria infame c dc servidores dc Con- 
slans. Quizeram expulsai-o, mas, depois j 
do tres ou quatro votações para a censura. • 

0 resultado sendo sempre duvidoso (ern 1 

por contagem do mãos), acamara deixou- 
se d'lsso 0 passou á votação do reque- . 
rimento dc urgência, que obteve grande 1 
mulnii.i. | 

Se. depois d'islo, pelo 14 de julh» Con- , 
stnns não t i ver uma ovação nu revista , 
em Longchauipa, ò que 0 povo franco.: já 1 
está muito descoufindo ou cif.ilfou-se de | 
cntliusiasmn com as acclamaçõos ao ge- 
neral Boulnngcr. * 1 

1 

0 PROCESSO DA MEUNITE 

Um prcecsso contrislador. Foi um ho- 
mem cngciilioso c habll, um chhnico in- 
ventor que 0 provocou escrevendo um 
livro cm que denunciara ao publico a . 
venda no estrangeiro dc segredos da do* 
fo/n nacional por empregados do minis- 
tério dn guerra. O denuncinntc c os de- , 
minciados — Turpin, Triponé. Fasslcr 0 
Fetivrier compareceram boutein perante 1 
a 10* camara dc policia corrcccionnl para 
responderem pelas accusações dc trahieão 
no listado c abuso dc conllança. 

0 Sr. Turpin é 0 inventor da Meiinilc, 
explosivo empregado pelo ministério da 
guerra para a carga dc bombas c outros 
engenhos do guerrn, que tendo recebido 
pola sua invenção 2Õ0-0UÚ froucos c a 
Legião dc Hnnrn, não pôde conleiilnr-jc : 
com es>-a quantia e tentou vender 0 seu 

1 invvnlo n outros governos estrangeiros, 

I dqiois de ler solinitndo em vão uma venda 

deUnitiva e mais vantajosa no governo 
I fianeex. 

I Mn: um agente do miaietciio da guerra 
, ! precedeu-o nas propostas á cusa Aritis- 
t trong, da Inglaterra, c eile, sentindo-se 
' rujbado, pubiicon 0 livro — Como fui 

■ roubada a iíolfniU, cm que divulgava 

; as traricaneias dos empregados d-.slio- j 

■ ; nestos do ministério e-ml os segredos da 

ih-fe/n nacional, lnfi-lizmcntc pata elle I 
_ | toiani encontradas m sua casa cartas du j 
j c-ia b- maior aiiemão respondendo nega- 1 


De Paris (detalhe) 


918 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 203, p. 2, 22 jul. 1891 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


919 


DE PAMZ 

UUA VOLTA AO fAUADO 

Foft «onde Alberto do Mnn, amo dai 
floriu do eloqusnela parlamentar frtn- 
oeiA, quem encerrou (Tosta vsx 90 traba- 
lhos do e**«mblóa feral doo circulo* ca- 
itiollcoi, no domingo passado. 

No correr do mu etoqueuto discurso, 
em que sstudava M prof reuoo feito* em 
França pelo aoclallsmo cbrlitAo, ello as- 
slgnalou um facto d» maior Iroportanela 
para a política do noaao tempo. 

■ Ha cinoo annos, dia |>or dlo, a 14 de 
junho da 1191 , á asscmblfa nacional con- 
stituinte volava um decreto prolilblndo 
ao* cidadãos do um mesmo eilado om 
prpflsf jo ; 0 Msoc|*r#m*se . • lne|llujf#fp, 
ref ulameotd* para 0* aeue auppoiloi fn- 
(oressea communs. 

• A 14 de (unho de 1891 , diante doe pa- 
trões e operários, . reunido* n'c*to ban- 
quole fraternal, tenbo a satisfação de po- 
<lerem nume d'elle* proclamar queo di- 
reito de associação proflsslnnal 6 dlflnltl 
vamente reconquistado pelo* trabalhado* 
re», tendo entrado do novo noa coeturoei 
oaendn reconhecido pelo* poderei publi- 
co*. £’ eue 0 centenário que nOa hoje ce- 
I lebramoa.» 

Bstaa palavras, que ato um grito dc 

triumpho de um Inimigo dii rovuluçõo 
que aislato 00 progresso doa resultados 
coutrarios A* Idòos revolucionarias, aail- 
•pifllam um 1 das curiosas conlrodlcçOcs 
ontro os derradeiras consequências de 
uma doutrina e o* mus principio*. 

Ha dou* annas slnda gloriticavn-so q 
centenário dn revolução; princlpla-se 
agora 0 trabnlho da domollçáo da aua obra. 

£ nto so pôde dizer quo haja n'isso uma 
vontado deliberada 0 flrmo dc destruil-a. 
Ninguém formula 0 prograinroa da revi- 
do do «grande erro» que tem eido 0 
ideal de tantos gerações. No cmtanto cada 
dln que passu trax A monto dos quo pen- 
sam umu provei nrva do quo ha grandes 
desvios entro o espirito dn* formula* 0 os 
suas appllcaçócs, da innnldndo dnsfor- 
miilas abandonada* a si mesmas ; cndadln 
que passa vai confirmando a idòa antiga 
da impotência dos princípios quando não 
ha homens quo os appliquom. 

Os homens capazes d'isso silo os espo- 
eiii is as, isto è, os propsrados para n 
fu no; 4 o govornalivn. 

0 advento das democracias trouxe ás 
fOdcdndcs modernas o mal funesto da 
confusão do* oflidos, dos desconbccimcn- 
los d 03 valores proprios, da deslocação de 
emprego do aptidões mal apreciadas, da 
legitimação de ambições infundadas por 
comparação com os dirolto* precários de 
outras semelhantes; nttribucm-seá massa 
governada a faculdade de se governar, 
como se 0 trabalho estivesse feito da des- 
erim Inação dos oflidos quo trouxesse n 
‘•«da indivíduo a consciência dos limites da 
«unesphera de acção ; considerou-sc rea- 
lidade 0 que era 0 ideal. 

A desordem scguln-sc como umn eonso- 
quencla.c tâo complicada, c por tto longo 
tempo, quo desanimuram todos do querer 
uma cousa só do cAda vez e com pre- 
cisão. 

As energias lutelllgentes relaxaram-sc. 
os espirito» so abulxaram «o aproveita- 
mento dos bens ao nlcnnee, dcsnpparc- 


K por fim de contas, a França »*« 
perde grand* cousa perdendo a* mlnni 
da Awa, de uma rlqucsa hypothtllca. 
NAo é para aqiiella* bandas que trnds « 
expansão- oolonlal d'esta nsçAo tto (touca 
colonlsadora roramo *m melhores cllmsi, 

0 fKOCSSIO PA NKMNITM 

Arabou do uma msuelrt mais sei era 
do quo as pbninv* esta triste historia ds 
cubiços • de ambições pouco escrupulosa», 

Turpln foi condcmnade a cinco snoos 
do prlsto, rinco de perde de direitos civis 
e cinco do expulsão do território franca. 
Era 0 denunciante, que cuidava btncfl- 
ciar do seu napcl odioso, para escapar é 
acção da 1*1 I . ; . . , ... , . 

. .Tidpon*lere.»meama,peBs, «gravada 
com a ds expulsão por drx anuo» e multa 
■le 3,000 ff*nêo«. Essa chorava quando os 
gendermes a levaram ao cabo da audiên- 
cia. 

Os outfo* donq, Fcpler e Fcnrrler ti- 
veram penas de cinco e Ires aniios do 
prislo • multa* do dotis e do rnll fran- 
cos. 

Foi tio severa a II* camará dc pullcla 
correclonnl como so so tratasse dc cri- 
minosos políticos. 

As circuinslunciss dos debato* do Jul- 
gsmeuto terem corrido cm audlnida se- 
creta, Junta á severidade da pena que fe- 
riu os accuaadoa, (lzeram pensar na re- 
velação de factos multo graves do quo 0 
processo não 6 senão a capn. E nn srsito 
ds hoje de câmara dos deputados os mi- 
nistro* da guorra e da Justiça terão dc 
dar explicações, de traitfuUllsar 0 espi- 
rito publico, prcoccupado com a Idèa de 
quo os segredos da ilofosa nacional este- 
jam em poder dos governos estrangeiros, 

Apesar de qno Já 0 Sr. de Frc.vclnct de- 
clarou quo 0 primeiro cuidado do corpo 
de estado-maior francez quando odquire 
qualquer invenção para 0 serviço dn exer- 
cito, ó modlflcal-n, npcrfclçonl-a, tran- 
*formsl-a. de modo quo 0 proprio inven- 
tor não conheceria mais 0 seu Invento 0 
que. p 'essas condições, a mrlinite do Sr. 
Turpln já soffrcu (áes modificações na 
«na formula chlmloa e no sou emprego 
queo segredo communleado por elle 0 
por Trlponó não poria a Françn cm risco 
do possuir um cxplosiroem Igualdade dc 
circuinstancias com a Allemanha ou ou- 
tro qualquer pslr. 

A má Impressão produslds pela amlicn- 
cia secreta om policia correcclonal recablu 
um pouco sobre 0 mintstrrio da guerra. B 
vol so pedir quo os franceses acciieados de 
traição sejam julgados por conselho do 
guerra ou perante 0 tribunal do jury. 

uu comi; ms * mo isquismoa 

Fez-se grande barulho nos jornses 
com 0 caso de uma i*obro crcada de ser- 
vir, que foi presa por ter furtado um 
anncl cm ama casa oodo cila la pela pri- 
meira vezprocnrnr emprego. A nccusada 
tfnha confessado 0 furto, e e tavn cm 
Santa Pelagía para ser julgada, quando a 
queixosa encontrou 0 seu annel, quo nio 
guem tinha tinha furtado. 

Indagou-se então das razões quo tinham 
levado Françoiso Chato a confessor um 
dclícto que não commcttcra c voilllcouse 
‘que 0 eommissnrlo dc policia, perante • 
qual a dona do anncl tinha dàdo a sua 


mento doa bens ao nlcnnee. dcsnppnrc- 
rcram as correntes idcolog.i s que tinham 
mfto ao materialismo orrazador— a socie- 
dade nbnndonou-so á fluctuaçAo dos flui- 
dos, aos movimentos incertos c sem des- 
tino das massas incohorontea. 

O movimento, de agora leva umn parte 
iTclla para a recomposição dc uma orga - 
nlsaçáo destruída ha um século; os ope- 
rários sc * congregam em ayndícatos, 0 
corporações para a luetn contra 0 capital, 
0 contra 0 Estado, se este não ceder ás 
Mias exigências. Mas este cedo, pois que 
uma falsa comprehcnsáo dos doveres dos 
governantes leva-os a fazer concessões 
irracionacs e absurdas. 

A abolição das mestrias e corporações 
profissionacs pela Conititninto em 1791 
•lava ao operário, ao homom dc oíllclo, 
0 direito do 6cr independente, de traba- 
lhar 0 emprogar-se como bom lhe pare- 
cesse. A liberdade individual tlnba nhi 
uma das suas mais bellas mantfcstoçõcs. 
li sentiam lodos tão bem a legitimidade 
d esse direito, que umn vez inscrlpto nos 
codigns, ninguém, nenhum governo ousou 
mais tocar-lhe, para modificnl-o, atte- 
nual o ou põr-ihe qualquer obstáculo. 

Hoje não são os governos, não são os 
chefes que pedem a reconsideração do 
direito do operário ser livro: é 0 operário 
mesmo. Em todns as reuniões de co- 
cheiros, padeiros, carniceiros, barbeiros 
e marinheiros do Sena, roclnran-seo sj*n- 
dlcato obrigatório, osyndicato sem oqual 
não poderú mais haver existência possível 
l»ora 0 trabalhador nem para 0 patrão. 
Uma das ultimas assemhlcas d’essc gc- 
noro resolveu que : 

« As decisões do um syndicato profis- 
sional composto da melado c mais um 
dos membros da corporação, habitando n 
communa ou a região cm que elle 6 
constituído, terão força dc let em toda & 
csphera de acllvidado do syndicato. >» 

Isto é a volta á corporação medieva, 
rcanscitada cm toda a sua tyrannia. Já 
certos ayndícatos começam a so oppõr á 
admissão de mulheres, ao engajamento 
de aprendizes, para diminuir a concur- 
rencla nas oflicinas. E a cousa se esten- 
derá: quando os ayndícatos proflsslonaes 
se tiverem desenvolvido pela obtenção de 
todos os privilégios ambicionados, ellcs 
hão de comprehender que quanto menos 
numeros mais bem aquinhoado* serão os 
privilegiados, e começará a blerarchi- 
saçAo, 0 fechamento das corporações pela 
dilHculdade das prova* á admissão, como 
110 outro tempo. 

Como no outro tempo, antes da grande 
crise... Valia & penn sofTrcI-a para re- 
trogradar n’uma questão tão capital? O 
conde do Muo, catbolico 0 aristocrata, 
prova facilmente que uão valia. R parece 
que vai sendo a tendcucia geral acreditar 
quo a revolução não era ncccssari*. Ha 
quem diga mesmo que rovoluções não 
silo necessárias, do uma maneira geral. 
Apenas a intelllgencia das liberdades, 
para a muntença da* conquistas do di- 
reito sob qualquer regimen... 

A QUESTÃO DB CU VA NA 

Como è sabido, a França 0 a Hollanda 
em dcsaccordo ha muito tempo sobre a 
delimitação das suas possesões respecti- 
vas na Guyána, tinham submctltdo a aua 
auestão 4 arbitragem do Imneradnr dn 


qual a dona do anncl tinha dado a &ua 
queixa, apcrlòu tanto a pobre innoccnt* 
ameaçando-a com penas mais severas, 
que esta dc cabeça perdida confessara 0 
quo não fez. Mas não nssignou 0 in- 
terrogatório c depois nào quiz repelir a 
sna conflssÁo ao advogado que lhe deram, 
quo também queiia ter a certeza do de- 
fender uma ladra dcvòras. 

Sarcey escreveu um artigo multo ju- 
dicioso a respeito dos calos proflsslonaes 
que, assim como fazem dura a mão dc 
operário manual, fazem duro c suspeitosa 
0 coração do magistrado 0 do indagador 
de delidos. 

Entretanto, parece que esse Sr. Fouquet 
6 useiro e veseirod^ssas proezas do man- 
dar a gente para a cadeia com uma con- 
fissão do ter dclinquido, confissão arran- 
cada com ameaças e violências particu- 
lares. Seria 0 caso de uma revivisccncift 
n'um coração do burguez dn YilletU 
dos sentimentos anochronicos de um in- 
quisidor hespanho). Mos isso são osjor- 
naesinhos qucdP.cm, pura fazer sensação... 

A Flt.HA DA IMPBRATmZ 

À passagem da ex-imperatriz Eugenia 
viuva do Napoleão UI, por Parlz deu Ir-gar 
a Incidente, que foi explorado pelos des- 
cobridores do escândalos. 

Um dia, quinta-feira passada, uma mu- 
lher dirigia -se ao Sr. -de La Londc, "com- 
mlssatlo de policia, 0 pedia-lho a sua in- 
tervençáo para po :er ver a sua mál, quo 
sc achava de viagem no Hotel Continental 
e que não era outra sonto a Imperatriz 
Eugenia. O quo essa mulher qiieria cr» 
vencer as barreiras que lho oppunha a 
còrto da ox -imperatriz para quo cila pu- 
desse chegar atè 0 coração d* sua mâi. O 
commissario de policia despediu polida- 
mente a pobre empregada do restaurant, 
a quem suggerlrarn cssaldòa, a propoiilo 
do manchas vagas quo cila tom no feito, 
uma corôa imperial no queixo, uma flór 
do Uz, uma nguia sobre oscio, na perna, 
quo sabemos nós. 

E 0 Matin mandou logo um repórter 
ao restaurant do foubourgo Salnt Denis, 
onde servo a filha da Imperatriz, a inda- 
gar das orlgons da bastar<l& imperial , 
Folizmcnto 0 quo cila coutou das suas 
origens não chegou para fazor avultar • 
dar corpo a um escandalo tão bem cnscc- 
nado. 

O BAOOARA SCAN DAL 

Nilo foi sdmonte na Inglnterra c no 
Canadá que 0 princlpo de Galles soiTrcu 
a* admoestações do cloro protestante. 

N'uma dss numerosos capcllas iuglczas 
de Pariz, domingo passado, depois da lei- 
tura de um trecho da Diblla e da prec* 
pela rainha, o ministro disso: 

« RogaaDous por Alberto Eduardo, prln 
cipo do Galles, como homem e como filho 
da minha graciosa soberaua, mas não 
como futuro rei do Reino Unido. Elis 
acaba do renunciar para sempre As tret 
corõas da Inglaterra, Escossia 0 Irlanda.» 

A ossislcncla parccou opplaudir 0 
speecbo. 

E* 0 fim da despopularisaçio dc um 
príncipe, que nunca aspirou ao amor doa 
seus súbditos. 

Parlz, 20 de junho dc 1891 . 

Doutcio da Gaka. 


De Paris, (detalhe) 


920 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 









DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


921 


DE PARIZ 


0 MOVIMKMTO itndical 


Depois das griva d'o*tos últimos dlos, 
grivti do padulroa, de mcrclelros, do bar- 
bdroa* do empregado* de camtnhoa do 
forro, temoi a grívt doa carregadores do 
dofunctoa, empregados doa sorvlços das 
pompaa funobros quo o publico appolllda 
do gato» pingado». 

Gróvea do Intençflo, naturalmonte. Ne- 
nhum dofunolo apodreceu em caia, nem 
apodrecerá, porquo os carregadores oitáo 
resolvidos a oxlglr da administração um 
saUrlo do 0 francos, cm voz dos 4,50, quo 
roecbom al6 aqui. Ainda ha ahl margem 
para a concurroncla largulaalma n'csso 
trabalho quo nAo 6 dos mala pouoaoa o 
ondo as gorgetaa compensam as cami- 
nhadas mais longas. 

K a formação doa ayndlcatos proseguo 
Incessante. Cada dia doscobro so mais uma 
corporaçflo quo so constituo para a qnolxa 
permito oa podorea públicos. E a oppro- 
vaçflo tácita quo so faz a esta o-ilosa co- 
media das reivindicações lllcgitlmns, vel 
começando a assustar a gonto, quo pensa 
na dllllculdado do regulamentar no futuro 
o movlmonto e de atteudor ãs oxlgonclus 
o reclamações, do prova dura o dlIlIculLosn 
do classificar cm direito. 

Pódo-so dizer quo a culjia das compli- 
cações vindouras do governo perante as 
corporações proflssionac* caberá a esto 
governo nclual, quo náo flsealisa n for- 
mação dos syndlcatos, nem Impodo a 
Instllulçáo do direitos absurdos. 

O prefeito do Sena Impediu que os tra- 
balhadores doa esgotos do Pártz s*> con- 
stituíssem cm syndicnto, porquo disse 
cllc: « Esses operários são como oa func- 
cionarlos papos mcnsalmcnto c gosnm do 
beneficio de uma aposentadoria. Ora, cu 
não posso admitlir na minlia adminis 
tração outro poder tratando do Igual para 
Igual commigi', porque Isso seria c m- 
scnllr que cs enipregodos se tornassem 
senhores da administração. ■ 

Esta declaração dc principio tem 
grande merecimento do se oppúr ã tncrcla 
do governo n'osta questão, da maior Im- 
portância. Com eíTdto, se certas clasxs* 
do fnncclonarlos so constituírem em syn- 
dientos, como Impedir que os outras pro- 
cedam do mesmo modo ? K estendendo 
principio da liberdade do direito syndieal, 
comoproliibir a formação das assoelaçõer 
syndlcacsdos empregados dos ministérios, 
do todas as administrações, até d'nquclla* 
cm que a liicrarchia c a disciplina su- 
prema são Indispensáveis, até as da ma- 
rinha e do exercito, indo »U- ao xyndicalo 
dos inferiores reclamando contra a du- 
reza das ordens superiores ? 

A lhese def mdlda pelo prefeito do Sena 
é do direito publico c de interesse geral 
Contra as invasões revolucionarias c des- 
arrazoadas do Conselho Municipal dc Pa- 
rlx n 'esta como n 'outras questões publicas, 
sociacs o nacionn?*,è quo o governo devln 
agir. 

A formaçáo dos syndlcatos sem um cri- 
tério sti|»crlor quo os justifique, nutorisc 
e legitime, c uma ameaça da volta do um 
feudulismo Jc nova capcclc, desenvolven- 
do se cm detrimento das Uberdades Indi- 
viduacs, c chegando a destruir ou pelo 


Missões Kstrangolras, quo fundou no so- 
eulo passado a congrcgaçflo dos Irmflos da 
Provldonclst muitos martyros d*os»a so- 
ciedade, entro os quaos o venerável Cuéoot, 
bispo de Metollopolli ; N6ol, Nôron o 
Vònard, morto cm serviço da crença 
eathollea por torras do Extremo Orlonto, 
Cochinchina, Tonkln o China. 

Kit quem pouso quo a octlvldado da 
Igreja do Roma está adormecida. Vojam, 
no omtanto, a rolnuelosldado o o rigor 
com quo, no llm do scculo Irrevcronto o 
■coptlco, proccdo-so á beatificação dos 
servidores da patrla do eleição. E o 
concurso do todos os flcls, quo ro ro- 
clomo... 


O Sr. Sccrtton, antigo dlrcctor da So- 
clcdado dos Mctacs, quo to vo uma quebra 
c dou logttr a processo tilo folludo, ucaba 
| do scr agrnclndo, depois do ter solTHdo 
sois soninnando prlsáo na Satth'. A sim 
condomiiaçáo fòra a sois mozes do prlsáo, 
por coparllclpaçfto cm netos Ilnancclros e 
commciclaes llllcitos. 

Sahlndo da cadela o ox-mllllonario, riu 
I do Justiça, poderá vfir pelos livreiros n 
catalogo em tres volumes ln-íolb da suo 
maravilhosa collccçfio artística, quo hoje 
resta por momorla aos blblloplillo» bas- 
ti nto ricos para pagar n enumeração 
llluslrada a ngiins-foi tos, dos esplendores 
do um museu particular dc doze milhões. 

Grandezas do mundo o bons dc sa- 
cristão... I la provérbios o dlctados quo 
tratara do casos como esto... 

A commlssio da exposição do Chicago 
rcunlii-so sabbodo no mhilstcrto docom- 
morclo, para tomar conhecimento das 
respostas dadas pelo comnilssnriado ame- 
ricano ás questões quo olla resolvera 
fazor-llio ii’mna sessão preccdento o o- 
xiiinliinr asdospezasquo a França terá de 
faater para n sua participação na Exposi- 
ção Colombiana do 1892. 

E’ provável qcc a sommii a pedir ás 
cnmaras não seja inferior a Ires milhões. 
Nos créditos a abrir para esse llm será 
especificado um especial de 300,000 fran- 
cos, pata a participação na exposição dos 
mulheres. 

Essa exposição das inulliorcscm Chicago 
será uma orlglnalhlado para provar n 
capacidade das mulheres cm çonrurren- 
cin com o trabalho do homem, E orgn- 
nisadft por uma comniissão feminina, que 
fez construir um palácio especial <lo vas- 
tíssimas projorções o comnrchciidcndo 
..dan o» divbOcs quo comporta o plano 
geral das expo ições: bcllns-nrto*, indus- 
tria, commsrclo, horticultura, educação, 
ensino profissional, estabelecimentos hos- 
pitalarios, etc. etc. 

A presidenta do com mlssar lado central, 
Mrs. 1’almcr, que so acha dc passagem 
cm Pari/, cuida da organísação dc com- 
mlfsnrfculos particulares cm todos os 
paizes da Europa. 

Para essa mesma exposição dc Chlmgo, 
dc que jã tanto se falia, vae «cr moldado 
o celebre baixo relevo representando a 
Morsídhczo, obra do cscnlptor Rwlc. que 
orna o Arco dc TYiuinphu da IN! relia. 
E' r Saciedade das Artes dc New- York 
quem em prebendo essa c outras cópias dc 
monnmcRtos da esculptura francc/a. 

Nós. nnan-Jo poderemos começar a nos 


viduacs, c chegando a destruir ou pelo 
menos a perturbar seriamente toda a or- 
g.uiisaçúo política do paiz. 

No melo de tantas reuniões paro n for- 
mação dc syndicatos proflssionaes houve 
uraa que teve uma feição melancólica 
muito particular. Foi a dos quo escre- 
vem os endereços das publicações, perio- 
dicos, prospcclos, ctc., a mandar pelo 
correio, a gente que se chama banrfit- 
tes, escriptores dc cinta dc jornaes. 
i quo são pagos miseravelmente o que só 
' querem trator dircclameuie com as pes- 
soas quo os empregam, para que o inter- 
. mediario não lhes rôa ainda uns cên- 
timos do minguado salário. Esses não 
' chegaram a formnr-se cm xyndicato: seria 
preciso dar dinheiro, e quem passa doze 
: ou quatorze horas por dia sentado c cur- 
■ vado sobre a mesa da oscripln, para ga- 
nhar um mnximum do tres francos, não 
i tem sobras para manter um cscriptorio 
1 .yndlcal. E, depois, os datadores não 
tão prolissionnes definidos. Essa é uma 
profissão do ileciassà, que espera no 
Ira ba lho desolador que não se estima c que 
mal mata a fomc.ila entre ellcs advoga- 
dos sem causas, notários que prevarica- 
ram, homens dc ncgocios afogados por 
ellcs, poetas incomprchcndidos, professo- 
res sem niumnos, gento quo brntalha a 
'Penna como so fosse enxada com quo so 
cava o pio. 

Nenhum quer ficar com aquillo como 
ofliclo. Muda todo o dia o pessoal lamen- 
tável. A corporação 6 impor si vel. Não lia 
d , iilli quo reccinr complicações, como da 
gento quo ganho com quo viva o ainda 
pague os syndicos redamndores das suas 
melhora*. O que faz pensar que na soclc- 
dade o homem c como a ffern na jaula dos 
domadoros s ó preciso cnfrnquccel-o pelo 
forno, para que cllc se deixe governar 
docilmente c não faça mal. VI ainda no 
outro dia na feira dc Ncullly um leão 
que iam deixar tres dias sem comer, 
porque estava muito violento c indócil. 
As p i*o fissões que engordam, fazem nas- 
cer ambições por ahl alòinl... 


UlOltUIIIVUiui» ria vov... 

Nó*, quando poderemos começar a nos 
occupar com essas brincadeiras clvillsa- 
dorns, que os rudes yankee: nto des- 
prezam ?... 

Sempre foi A viuva do Fustcl do Cms- 
langes que foi entregue o prêmio bíen- 
nnl da academia, de 20,030 fiuncas, con- 
ferido ao auclur da melhor obra do as- 
sumpto histórico ou íociologlco. o que 
tanla contestarão levantou, que alô fez. o 
conde de llaussonvlllc rctlrar-sodo pleito 
,ura não lho allilbuircm baixas cublças. 

Domicio da Gama. 


e 

n 

d 

r 


t 

i 


a nr-ATincAçÃo 

O cardo.il Itichard, arcebispo dc Pariz, 
acaba dc dirigir uma carta ao clero e aos 
fleis da sun diocese, para nvis.il-os.de 
que ellcs são obrigados, sob pena do In- 
correrem na censura da Igreja, a com- 
municar c fazer conhcridos d» arcebispo, 
todos os cscriptos, cartas, notas o mais 
documentos omanados dos servidores da 
Igreja, cujos nomes so seguem e cujos 
processos do beatificação so instruem pre- 
sentemonte. 

São ollcs : o padre Olier, fundador da 
Companhia do 8. Sulpiclo, o venerável 
servidor dc Dicu Mnye, do seminário das 


De Paris (detalhe) 














DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


923 


10 - 


o* 

<e- 

or 

d» 

•o 


n- 

ca 

ao 

do 

U 


m- 

ido 

ei- 

do 

fO- 


im 

IU 

0 

ln- 

la- 


itl- 

rac 


eo, 

da 


ter 

bi- 

ne- 


do 

ral 
rdo 
na- 
>. A 
pu- 

lm- 

i°» 


DE PARIZ 

0 BANQUETE AO BK. PARTAS 

No oumptuoio aaJlo daa feita» do Grand 
Ctrcle, altoaoboulovard Mootmarlro, reu- 
nlram-ao oodla S8 do Julho cerca de eem 
braallclroa o amlgoi do Braoil, om torno 
da meia do um banqueta dado ore honra 
ao Br. eoniolbolro Manuel Pinto do Souia 
Dantai, pcroccuUo da aua partida para 
o Draail . 

0» convite*, quo vinham aiilgnadoo polo 
Sr. bardo da 8ant’Anna Nery era nome 
doo brasileiro», o peto Sr. Sorerlano do 
IIArédln, ex-minlitro de Eitado o pro- 
•Idento da Unido Latina Frencfl-Amo- 
rlrann, quo te auoclAra A manlfeitaqdo 
do apreço, diriam quo eata dlrlgla-oo era 
principio lambem ao Sr. Antouto Prado. 
Ao ti-tatoi noticiai quo eito recobla 
dlariamenlo do 3. Paulo »obro a aaudo do 
mu Tonerando pal.o quo termloaram por 
uma tio doloroia, lmpedlram-no, por Am, 
do compareeor a ona reunido. 0» mui 
amigo» preientea cotliaram-M entdo para 
olleroeer-lbo um objcclo d‘arlo, quo lho 
roeordo acitlma e o apreço dot quo aqui 
ficam, maguadoa com o rudo golpo quo 
lhe toIu aihlglr oo ultimo» dlaa da tua 
eitada na Europa. 

0 callo JA multo adiantado o ai flrli», 
quo deapovoam Parla oQlclalmonto e real- 
mente, produziram multo» claroa na llita 
Io» quo dorlare concorror para apinhar 
ainda malorea que a» do Grand 
xlt. Entretanto, o operar do grando 
numero do cartao do oacuaa, entro ai 
quaea barla de Julei Slmon, almirante 
Uoucher, Albert Qrandldler o tanto» ou- 
tro», a etcolba ainda ora grande de nota 
bllldadc» cm toda» ai earrolrai Mclaei, 
om política, iciencla», coremcrclo, lottraa, 
Induotrla a arte» 

0 logar do honra ora occupado pelo 
eontelhelro Dantai, tendo A tua direita o 
Sr. Paul Leroy-Beaullcu, • A oequorda o 
Sr.do llercdla. 8ogul»m-»e o* Sr». Dr. Oe. 
brlel de Pila, nono mlotitro om Parla, 
Hurard, deputado pela Martlolca (e In- 
ventor do uma eaohaçn queimada de eír, 
que dizem aer multa boa, o rhum flu- 
rard), ongonhelro3 Villard o Durlcux, ie- 
nador Devia, Cbarlca Dclagrhve, Dr. Fau- 
toI, bário do Nouflix», bário Qotakowalcl, 
Dr. Botancca.Max Lcclcrc.Araedfro Prince, 
Raymundo d'Etlveaud, Paul Rouoseau, 
Alexandra Wagner, E. Allaln, Boa ( Rap- 
ftl), R. Crawford [Daily Noei), Euzeblo 
Bliaco (FVjaro) .Dr». M . J . Barbosa (conaul 
geral do Brasil om Parlz) e Rodrigues rel- 
xoto, José do Patrocínio o Angelo Agostlnl 
Joio Dantas Sobrinho, major Goma o 


IÃonCra o colorida a quo Já noa acostumou, 
recordou aclci dot cldedlcs precla- 
ra a quom Janto» ae tencionava dor 
aquella feata, e rccoiqmendou i attenqio 
daa naçfos latinas da Europa, o da França 
om particular, o estiado doa eoodlçftoa ao 
elaea, eeonomieos, agrtoolaa e Induatrlaea 



du anu Irmka do Novo Muado, das na 
çOea do futuro, du quoee tudo a? espera, 
quo tudo promettom, preparadas como 
estio para receber o fazer ronder a «ue- 
cesiio dos latinos do velho continente. 

Tomou depolt a palajr* o Dr. Orbflcl 
do Piza, quo brindou n» peaaoa do oonsc- 
lholro Dantai o homtm quo om todoi ei 
actoi da tua vida publica umpro pro- 
cedeu animado polo amor da família, da 
cidade, da patrla o da humanidade, aon- 
tlmentoe tuperloroo, que aquilatam o 
valor moral de um homom de Ratado. 

E, por fim, querendo dar uma expll- 
copio do mal entendido qne o Sr. Santa 
Aonn Nery dluo existir entro a Europa 
latina o u oaçOei latlno-amorlcanao, o 
Sr. Paul Leroy-Deaulleu dou-no» occa- 
ilio do o aproe larmoi, fôra du ula» do 
conforenclu o livro dat pola» doo pro- 
grammatdoi curto» ocleullflcoo, em todo 
o oeu talento de orador dlocroto, ooplrl- 
tuoeo o Ono, leremonto Ironlco, quo lm- 
prmlona polo balanço du Idéto, um 
opprlmlr o eoplrlto coo o peio du afllr- 
maçOca doutrinarlu. 

Fez na pessoa do lllustro Sr. Dantas o 
elogio dot bomena quo dirigem u tendên- 
cia» do» povoo, o eom o exemplo da nboll- 
çlo da etcravldio no Bratll provou a 
grandeza oeutlmental da raça latina, quo 
nio procede da caboqa, mis do eoraçío, 
ondo ot calculo» do plitrlultmo nto pro- 
valecera. AIDrmou quo o deoconhecl- 
monto du nouaicouuoJA nAoi verdado 
entre a gente quo oituda na Europa o, 
para prova, dltcorreu eobro o» nosoo» 
recunos explorado» o exploráveis, oobro 
a» noiut grandeza» naturaeo o rcae», e 
rvalluvele ou futurar, 

Mb», como por uma IntdnoUva rcacçio 
contra a fanfafriec tul-amerlcana do dl» 
curto do Sr. do Santa Anna Nery, o que 
olgariimo» do cotatUUca o prova» da 
Klcnela cconomtca davam corpo, o colmo 
profcoior do Collcgio de França nílo teve 
mio em ot que nio diiacsio o que terá n 
França no tempo da próxima futura gran- 
deza dos enxames republicanos da Aracrka 
Latina, com u auu centenas de mllhfcs 
do habitantes e aa aua.» maravilhosas ri- 
quezas, o estrondo triunipbal du auaa 
pompas industriacs, brutaoa 

E, com um mal contido tremor na voz 
descançada do orador de cadeira, em 


d 


Coata (um doa deportados do Pari), condo P° uc “ P f hr «« ? #,lía 

trA <la Arizvitqva Xn.rimnnin Vrliasa. Monto- 1 nJOftal, do quo Ji ac entretevo Jiilio | 


De Paris (detalhe) 




T O 


924 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


1 


i 

t 

* 


> 

* 

> 


i 

j 


9 

► 

a 

» 

o 

i* 


u 

>r 

ta 

M 

»• 


negro e Bruno Chaves (os quatro guapos 
secretários da Legoção Brasileira), Emílio 
de Barro?, Dolllvaes Nunes, Magalhães 
Uma (o dlrcctor do Século, de Lisboa) d 
Xavier de Carvalho (seu correspondente 
em Pariz), Teixeira Lopes, Eduardo Fer- 
reira Cardoso c outros muitos,dlstribuidos 
por escolha própria. 

A' bora dos brindes, qutm propos o 
primeiro foi o Sr. de Hèrtdla, que, sau- 
dando o homem d’Kslado brasileiro a 
quem tanto deve a causa da humanidade, 
assignalou o desenvolvimento das rela- 
ções entre as nações da raça latina, quo 
festas como sqnella mais aceentuain pelo 
conhecimento das pessoas, pela cordiali- 
dade dos expansões fraternaes. 

Levantou-se depois o Sr. conselheiro 
Dantas, que, agradecendo a manifestação 
de apreço, em quo olio não queria ver 
uma homenagem directa & sua pessoa o 
sim ao Brasil, cujo pensamento nllt fazia 
bater todos os corsçBes, pronunciou um 
discurso, quo sentimos não poder repro- 
duzir integralmente, tio eloquente do 
linguagem, tio sincero o elevado do íca- 
timonto no* pareceu. 

Com a sua auctoridado dc antigo ser- 
vidor do patria, do político experiente 
quo passou a vida a praticar Mèav quo o 
desejo de ver grande o seu palz lhe sug- 
geriu, o orador, oxplicando a sua posição 
perante o actual regímen, para o qual 
elle não contribuiu, mas quo nfio entendo 
dever guerrear, se o povo brasileiro Ibo 
deu a suo spprovoçâo, expende a sua 
opinião quanto a questões nscionacs do 
urgência maior. 

Insltte sobro a necestldado vital de 
manter-so a integridade nacional, com a 
dcseentrslúnçio administrativa, represen- 
tada pelo principio federal, o faz votos 
para que a Republica zele o engrandeça 
o espolio do regimea passado, quo, pros- 
pero e florescente e prestigioso, lh’o 
abandonou. 

B aquelles mesmos que, entro os bra- 
sileiros, nío approvem a actual fórma 
de governo, nio devem recusar o «eu con- 
curso, nem deixar de trabalhar pelo bera 
e pela grandeza da patria. 

Fallou em seguida o Sr. do SanfAnna 
Nery, que, com a eloquência imaginosa, 


Ccsar, do que failario sempre os vindou- 
ros como da maravilha do mundo hu- 
mano, de quo os amigos do segunda 
categoria como o Sr. Crispl dizem que b 
o sorriso da civilisaçito, o que na rcall- 
dado terá lido mais do quo isso, terá 
fornecido ao mundo os formulas da Li- 
berdade e st suas leis de appllcaçáo, e 
contribuído com um quinhão larguíssimo 
para a fortuna social, em grandes ho- 
mens, cm grandes cousas c em exemplo 
ás gerações por vir. 

Achou uma imagem feliz para explicar 
a admiração quo aqui causam as nossas 
empreras heroicas. Comparou a França, 
já quo lho queremos dar o nome ama- 
bilíssimo de mál-la(ina, a uma geradora 
do gigantes, que se espantasse com as 
pernardasgigahtoicai que dessem os seus 
filhos colossaes, dezenas do vezes mniores 
do que ella. «Vão cahlr o » crianças I gri- 
taria ella assustada. VAo quebrar o pes- 
coço, correndo d’csta maneira t * Assim, 
uma gnllinha quo chocou ovos dc pato, 
não coinprchcndo porquo i quo os fllbos 
adoptivos so atiram á agua c... nio sc 
anima a seguil-os o ralha e chama por 
clica, nio sabendo nad.ir. 

A festa terminou ás 11 1/2 horas, e 
os membros franee/e* da União Latina 
Franco-Americana dcclararam-na tris- 
jotie, tris-rtunie. Quando eu lhes digo 
quo com pouco perderemos aqui o quali- 
ficativo do ratiaquouc. I 

A' sabida, o majqc.Gama o Cosia, que 
todo bonito, com a sua farda trançada du 
Cosdõcs do ouro (alamares, creio que se 
diz) o as suas condecorações e medalhas 
ganhas no Paraguay, altrahla multo a 
attençâo da assistência, explicou-me por 
mludo a causa da sua catada na Rtiropa, 
estada que j& não 6 forçada, felizmente. 
Bu, porAm.quonão acompanho do traz os 
motins do PurA, nfto mo sinto capaz de os 
expAr aqui. Tanto mais quanto o bravo 
major está escrevendo o manifesto om 
que vai pôr tudo cm pratos limpos. 0 Sr. 
lluet Baccllar que so aguente... 

Ps rir, 31 do julho. 

A exposição do panorama da cidade do 
Rio dc Janeiro foi hontem visitada por 
227 pessoas. 


De Paris (detalhe) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 925 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, 241, p. 2, 29 ago. 1891. 















926 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 


01 UbTIMOl WCJDKNTKI HA CAMARA 

A mmKo orJInarla da camara • do •«- 
nado encerrou*»» no dl» 18 do Julho. Pá- 
roco quo Já eilavam todo* multo canu- 
do» o dcsattcntoi, porquo noi ultlmoi dl»» 
do iomIo o» deputado» andaram » f»«r 
um»» qu»»l tolice», que flzerara recear 
para o governo ura» crUe *b»oluUraonto 
Injustificada. 

No prlmolro dl» dopol» dn tonta nacloaaJ, 
um deputado boulangUtajOSr.Laur/oalro 
Yoxclro do Intcrpollaçõe», aprc»on*vi a** 
ao ministro doleatraiiRClro», podtn-U ex- 
pllcaçõo» sobro o facto do Uavor a onibut- 
xftda da Allcmanha om França rccuiudo 
o» paaiaportc» ao» reprosontanto» do la- 
gumai c»»a» commorclao», quo costuma- 
vam por cito tempo Ir á Aliaela e Lorcno 
fazer propaganda do» »eu» generot. 

0 ministro do estrangeiro» pediu á ca- 
mará o adiamento Indelluldo d’o»»a que»- 
tRo ln|>ortun» o Inconvonloule, quo ufto 
tinha outro fundamonto «enfio boato» quo 
circulavam pela Imprcnia novellotra. Ria» 

» maioria do» deputado» qulz conhecer n 
questRo partlcularmonle o votou n ur- 
gência da inlcrpullnçfio. Foi um cliequo 
Involuntariamente dado pola camarr. ao 
govorno, oll» tRo obediente ntá aqui. No 
dia legulntc, o Sr. Rlbot expoz o que 
bavla na legislação allemá desdo 1WJÍ 
(antes da guorra I) a rcipeito dc patente» 
a negodaatea commUsIonarlo» de qual- 
quer nacionalidade (a legislação alIoraR 
nunca ««peclallsa), mostrou a inconvc- 
nlencla do tra/.ei-so u trlbuim uma dla- 
cussão pueril e Infundada aobre política 
oxlcrlor, c, fazendo d‘isso quostfio de 
confiança, pediu o adiamento lndetorr.il- 
imdo da intcrpellaçfto Uur. 

E a camara, por 311 votos contra 99. 
apezar das lonUtlvn» do obslrncçfto do 
Sr. Doronlfcde, quo qulz, injuriando o mi- 
nistro, provocar tumulto, votou o adia- 
mento, deixando mesmo multo» dos do- 
pulados de dar a sua opiulio por voto 
n\tma tão mesquinha quesláo. 

Explícou-so o caso da suspensio dos 
pasta portes a cortos commissienailos na 
Alsacla-Í.orena, por fa/.crem eitos. al(uo 
da iiutorlsndn propaganda commcrcial los 
sou» genoros írancezc», propaganda poA- 
tlca antl-gerinanlsta. 

Explicou-ae a vqtação n^lcrior da câ- 
mara franeexa, oppoudo so ao deiejo * 
mlnlitro para discutir uma intcrpel!a;áo 
apresentada por um membro da oppori- 
çào, pela inattenção geral durante o roto, 
descuido e Ignorancln do assumpto. 

Parecia então tndo tranquillo, e a n»»era- 
blci lacr.cirrar os acus trabalhoso toiusr 
as suas semanas do férias em santa paz. 
quando á ultima hora surgiu novo Inci- 
dente. Recusou-so ura credito de 600.000 
francos para melhoramentos c obras no 
edifício da escola Polytechuica, o o mi- 
nistro da guerra, presidente do conselho, 
levantou-se enfadado do sco banco c 
sahin. Os deputados assustaram-se c 
foram ver o quo havia. Era o Sr. Frey- 
clnet que, enervado pelo* Incidentes an- 
teriores, achava que a recusa do um cre- 
dito ao seu ministério cra nm desaforo, c 
ia apresentar a sua demissão ao presi- 
dente da republica. 

A pobre gente legUtotivu pw as mios 
na cabeça. Pois eulfio, por causado umas 
paredes rolhas a derrubar na morada do» 
Cosenos o dos Intcgracs, la-»c ficar alli 
mais tantos dias ou perder o socego das 
tSo bem ganhas férias com as eventuali- 
dades dc eleições Incerta» 1 

Fez.-so uma pressão geral cm torno do 
ureaidente do conselho, mie, depois do 
multo engainbeUd.Uò muito *utó /o» pm 
querer, consentiu em engolir a recusa 
dos seus 000,000 francos, o o presidente 
da camara pouio omllm declarar encer- 
rada a sessão. 

Fol um nlllvío geral. Foram todos fe- 
char as suas malas, conteullssimos com o 
descanço quo lhes deu a magnanimidade 
do Sr. Freyclnot. 

E’ de esperar que ns férias acali; cm a 
excitação nervosa em que já pareciam 
tiver desde algum tempo o» ministro* o 
os doputados. 


lsnger. E quando velu o declínio d» w- 
trolla fatal do popular general, ella 
fez coroo o» eonipauhelro» do afoga- 
mento, que no» tiram o» derradeiro» 
melo» do no» salvar, tolhendo-noa oa mo- 
vimentos: obrlgou-o a ter raodo, deleve-o 
no eetrangolro emquanto viva, e, morren- 
do, delxa-o na ultima da» decadencla», 
do coragem, do amigo», do recuno» 
pecuniário». 

Kr» d*ella o rendimento de que o» do!» 
viviam, que lhe» dava par» terem bon» 
trena de ca«a, para quo o general gunr- 
ainda na»aua» cavnllarlça» o Temi*, 
o legendário cavallo negro dn» parada», 
decantado por Paulu», popularUado pela» 
llthographla» colorida», que havia de »or 
o fogoso corcel da entrada trlumphal do 
vencedor na «ua bella cidade dc Parlz. 

Pobre aventureiro encalpornaol pobre 
cavallo do «ella, quo o» Jornae» Já dáo 
como vencido o puxando um carro 
em Tarlz • que nRo eatá talvez longe 
d'l»*o I... 


UM IXOACO ASTr.0N0U.C0 

Uma velha bearneza acaba de morrer, 
deixando no sou testamento um legado 
de cem mil francos á Academia de Scien- 
clns, como prémio n quem deicobrir, den- 
tro de dez nnno», um melo do communl- 
caçáo da terra par* a lpa,ou outro qual- 
quer astro ou planeta. 

Os herdeiros da defunta preparara-»» 
para contestar a validade do tc»tamonto, 
dando a velha como uma victlma da lei- 
tura dos romances astronorolcos do Ca- 
mlllo Flammnrion. 

O polor 6 que, *e a Academia do Sclen- 
clas de França não nccoltar o legado 
phanlasista, o Instituto de Milão põdo 
acceilal-o, ou|entáo o do New-York, porquo 
a velha proviu recusa» possível». E »c 
nãoso provar quo Mmc. Gcorgct, de Pau, 
eslava maluca, quando exprimiu d'c»»a 
manolr» oloqucnto o »cu desejo do ver a 
terra entnbolar relações interplano- 
tarla», os herdeiros te.fio do esporar que 
om dez annos »e nfio realizo esse sonho. 

Aviso aos dcícobrldorcs, para o concur- 
rencia ao prémio.». 


«UICIDA PATRIOTA 

Enconlrou-so enforcado cm uma ar- 
vore do bosque de Viuccnnes um homem 
que tinha, pendentes de cada hombro, do 
peito e dus costos, lanternas venezianas 
com as tres côres nscionae*. Foi a clari- 
dade dn» lanternas aceesas no bosque 
sombrio que toz que o descobrissem. 

Esse suicida faceto ou lugubremente 
ironlco era uro cocheiro desempregado. 

desastre km CAMixno de PEnno 

A um kilometro da gare du Kord o 
trem dc luxo que vem do Calais esbarrou 
n’um trem quo vinha de Llllc, c que 
estava parado á e*pera quo lhe abrissem 
a linha para entrar na estação. Foi por 
engano do guarda-chavcs, que, já tendo 
dado passagem a dons trens iguacs e da 
mesma proveniência, pensou que dovia 
esperar que houvesse logar na estação 
para aquolle com que cllo não contava. 

I n fel I /.mente, o Club-train, do Londrc», 
vinha atrnz,* S todo vapor. 

O choque, ainda que diminuído pelo 
machlnisla do Club-train, foi violento 
bastante para esmigalhar dou» carros do 
trem de I.tllo e ferir quatorze pessoas, 
algumas das quaes mortnlmente. Era 
gento que vtnha a Parlz assistir ás festas 

>U U iiillin. _ f _» 

Já vai sendo perigoso deveras vln-ar 
n'cstc tempo em qno ec lançam expressos 
sobre expressos, a toda a carreira, em 
linhas de convergência dc tantas dire- 
cções. Torna-so cada vez mais dinicll para 
as administrações dos caminhos dc ferro 
combinar* horários e espaçar convenien- 
u-mento os trena, dc modo a prevenir os 
desastres resultantes de enganos como o 
do guarda-chaves da entrada da gare du 


Nord. 


Do sucio da Gama, 


dente dn ropuoiic*. 

A pobre gento legUlallvu poz as mios 
nacAbcçA. Pois cutão, por causa dc umas 
paredes rolha# a derrubar nu morada dos 
Cosenos o dos Intcgrac*, ia-»c ficar alli 
mais tantos dias ou perder o socego das 
tSo bem ganbaa férias com as eventuali- 
dade* de eleições Incertas ? 

Fez-se uma pressão geral em torno do 
uresidento do c oiuollio . que, dopois do 
muito eugaiii Del 16,^30 muito tuto /oi por 
querer, consentiu em engolir a recusa 
dos seus 000,000 francos, o o presidente 
da cornara poudo omllm declarar encer- 
rada n sessão. 

Fol nm nlllvío geral. Foram todos ío- 
char as suas malas, conteullssimos com o 
descanço que lhes deu a magnanimidade 
do Sr. Freyclnot. 

E' de esperar que ns férias acalr cm a 
excitação nervosa em que já pareciam 
viver desdo algum tempo o» ministro* o 
os doputados. 

Uma crise ministerial i»’cstc momento 
poderia fazer mui ao pnlz. Já não são 
pequenas ns prooccupações com este mo- 
vimento de gròvc», que, depois do tor 
percorrido todos os corpos dc ofllciaos c 
proflssõo» proleturias, chegou nos empre- 
gados dos caminhos de ferro, funccio- 
narios para todo» o* cffleitos, até para a 
rudeza com quo tratam os quo d'elles 
precisam. Grosclatide, o incomparável 
humorista, já disse que, dc todos es es- 
tados o profissões, o proletário parece 
vlsivelmcnto núo querer aenão o quarto 
ettado, quo n’e*to momento 6 o de gre- 
vista. 

Não sSo todos os empregados dos ca- 
minhos do forro francezcs que catão om 
greve: longe disso. 

A proporção 6 pequena, o systema 6 que 
6 grave. Ha 10,000 grõvistas para 360,000 
homens que vivem na poeiro doa cami- 
nhos, no calor das oniclna», no negrume 
das carvoarias, na solklão forçada da» vi- 
gias aos trens quo vôm, nos trens quo 
vão... Mas esses dez mil fazem roais ba- 
rulho através das chronlca9 da imprensa, 
do que os outro*, da hfctoria, através 
dos séculos o da prosa do Xonophonto, 
Com o ministério flimc, prestigioso i 
fnrle, a auctoridade fazendo -sc sentir e o 
innnldado das reclamações menos urgen- 
tes, cada dia quo passa, diminuo o numero 
o a fanfan-lcc doB pretensos bloqucadorcs 
do capital. 

As companhias rcadmittem todos os 
dias dezenas o centenas d'ol>es, que do- 
sertam à bandoira do socialismo antipra- 
tlco e antipatriótico, que lança manUoslos 
ao estrangeiro, pedindo-lhe o soeborro 
quo não encontra cm casa. 

Os directores e os propagandistas das 
gréuet so Impopularísam o perdem ter- 
reno, na provincia primeiro, om Pariz 
afinal. Mas, houvesso uma crise política, 
um interregno governamental, e quem 
sabe se os pnrtidarios ambiciosos uio 
utilisariam a ameaça de desordem, incl- 
tando-a, o so o movimento anarchista 
nfio se propagaria atõ ás camadas innls 
quietas e mais conservadoras da massa 
proletarla, por transmissão deondulaçõcs, 
como no seio das massna fluidas? 

E tudo Isto quando a Europa toda tem 
posto a França qnasi do quarentena, in- 
vejosa ; quando as allianças pacificas se 
renovam, cha um imperador possuído do 
phreaesi dos gestos decorativos da mão no 
punho da espada ancestral, gestos quo 
acabam por se rcalisar um dia, ou lovam 
um homem para o hospício... Tudo isto 
porque o Sr. do Freycinct acha que não 
devo aturar um pequenino desaforo sem 
importância... 

0 FIM DB UM UOMANCB 

Madame de Bonnemains, a companheira 
de cxilio do general Boulanger, acaba de 
succumbir cm Bruxellas á tysica pulmo 
nar que a minava, c paia cujo progresos 
rápido o clima do Londres primeiro, c o da 
ilha de Jersey o de BroxclUs depois, não 
contribuiram pouco. 

E' o fim do romance* eomeçado a 14 dc 
julho dc 1888, pela estocada de Floqucl 
nu guéla do bravo general. Xkulame 
Bonnemains, roa»vciwio ealio cera todas 
as conveniências, fol postar-se á eahr- 
ccira do seu amado, pr ater indo »s dbtiios 
dc esposa que aluda tinha Mad.xuc Bou- 


De Paris (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


927 



Rio Aslanaíro -^Bsgiiyda-felra 31 de Agosto ae ícfOl 


Gazeta de Noticias > 


O SEBASTIANISMO 


A TUBERCULOSE 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 243, p. 1, 31 ago. 1891. 





'TY8? STV r53o-‘3 rj*Co 


928 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 

k F.«|»«tçl* TnWIVo.— 0 dlK.no A* 

á‘IUuiMQilli«.— u Munu > V 14 UC IMlr.- 

fia «tu irètc*. 

0 ministro do caramcrclo, Industrtn o 
colonlas Inaugurou hontem a Bxposlçlo 
do Trabalho, InsUllada no Palaclo da 
Industria. 

Como toda exporão qua m Inaugura, 
cata aluda não Um completos oa mui 
trabalho* de Inatallaçào. Mu JA ae fddo 
Julgar, polo quo estA feito, do que acrâ o 
napecto geral da oxpoalçAo dcflnltijra. 

No rez do chio, aa caaaa do Joolherln. 

1 objectoa d*arte, oi a«gH roa, os caldeireiros , 
fabricante* do crystaes, do pequenos 
uUoaUlos dqmoRllcoa etc., dlspur.eram as 
iuaa exposições com um goito admirarei. 

Na galeria das machlnas (tem apenas 
150 metro* do oxtenalo cstn),in*talla-fc a 
exposição da cxtracçio e ructallurcla *lo 
ferro, desdo a clovnç&o do mlncrlo da sua 
Jazida atò a fabricação do prtgo Indis- 
pensável. E* o trabalbo cm acção: o ma- 
terial «odrondo a* suas uausíormagvva 
Induatrlaea no alto-forno, no marUllo- 
pilAo, no laminador, oa forja, coiitC que 
impressiona e Interessa mais vlvamc&tc 
do que quanta mntaa de ferro ae posa» 
exhiblr como resultado d'ell«. 5erá uma 
da* attracçõos da exposição. 

Nas £ aleriu do primeiro andar.que dio 
a volta ao pateo, estio as cxblblçõcs mais 
lntcrcsaantca. 

A tala onde ha oito dias ainda estava 
a tela colossal da Morte de ttahyhnia. 
de Rochcgrotsc, aeba-so transformada 
n'ura parque Inglez com os teus primei- 
ros planos, continuados por um Immcnso 
panno do fundo e se estendendo atò As 
colllnas azuladas na distancia. Quem to- 
mar A direita, encontrará uma habitado 
moderna disposta cm todas aa suas pecas 
da cozinha A capella, arranjo, ornamen- 
tado e mobiliai das principies casas do 
Psrtz. 

Depois vem uma reconstrucção ofll- 
clna nas forjas de Crcusot, trea habitarei 
doAuvergne, da Bretanha e da Normadia; 
ao grande sal. to quadrado, uma choça 
africana, outra çanaea, um pagode com 
os seus budd is dourados, um kampong ja- 
vanez, etc. Personagens de eira povoam 
cada uma (fossas habitações, no meio 
dos seu a utensílios, nas suai altitudes e 
occupaçSn habitates. Abt também a 
cnsccnaçio complcta-so cora pannos de 
fundo, prolongando para horizontes lon- 
gínquos as adustaa planícies africanas i 
as paizageos da índia. 

Na sala cooligua ao grtnda aalio está 
uma curiosa exposiçlo de assentos, desde 
a cadeira austríaca ou a poltrona mero- 
viogla até á poltrona imperial .IneraxUd* 
do cblmcrat de ouro • marcada com a 
inicial napoleonlea. 

A necejsidado de attrahir • d« rvtcA o 
visitante que vom como almples curioso, 
nio faz esquecer aos organisadnres o ver- 
dadeiro objcctlvo d'esta exposição : enco- 
rajar o operário, dar assim uma sancçio 
á obra dc educação profissional, pela qujyl 
o Estado faz tamanhos ascrMcãus. .Oic^q 
o conferencias serão f«dto*, dUnte doz 
machlnas o apparelboa fuoccionando, sos 
aprendizes das escolas especlaes, pelos 
mostres d’esoss escolas. fâfr? - 

Além d'lsto, comités nomeados cm cada 
Industria pelos cnldados do director da 
exposição, o Sr. Ducret, orgautsaram con- 
cursos dc mio d'obra. Os operários adrnit- 
tldos a concorrer (rlnte de cada Industria) 
serio escolhidos om casas dlíferent -s, e, 
tanto quanto fôr possível , designados 


Victor Nolr continuasse a provocar des- 
ordena, mesmo depois do enterrado ha 
83 annos. 

Depois de terem orado Vsequaríe, Pascal m 
Orouaael o Loiils Nolr (Irmào do commo- pi 
morado), foram obrigados a expulsar a lo 
posooçOcs um orador cnthualaimodo, et 
Dr. Lutlnl, que qusria fazer d'aqulllo P 
manlfestaçio política s fnllar de Four- qi 
mie* a prepoalto da morte do Victor Notr. 

K pela primara vez oa revolucionários e hl 
anU-auetcrttsrios applaodlram os agentes II 
de polida que vloram llvml-os do poloii- dt 
quclro Importuno, que queria fazer do um di 
tumulo thbnna de arengas ineendlaria*. D 

O monumento, esculpido por Augusto •< 
Hodln, representa o homem cabido, com a st 
sua grossa mio piebéa que estala a luva b 
apertando o peito dolo rosam ente. 

— A gròvo dos empregados doa camt- di 
nbos de ferro terminou, ronunclando oa 
ebefes a uma reslstcncla tornada Impos- ir 
ilvel com o pequeno numero de grèvlstas p 
que JA eram os pobres coitados retu/ndt- n 
c adores. U 

Os ompregsdos que fazem gréva e £ 
pressão contra oa interesses doa patrões, 
para pedir uma cousa a quo normal- D 
mento nio Um direito, dizem quo sio jj 
rcl v Indicadores. Na realldado cllcs sio „ 
uns pedintes Insolentes. A massa popu- d, 
lar sentd tanto a lllcgillmtdsd* das ro- 
clamações socialistas, que já ulo apoia o a 
movimento das grioes a contribuo para j, 
dcamorsIUxr o movimento d’em cru- ^ 
zad* injusta, contra o capital epparonto- 
mente, contra o trabalho o a fortuna pu- <j 
blica, b:m examinadas as contas. Em- q 
quanto a eoncurrtncia nio flrer baixar w 
excesslvsmente a cifra dos solários nos p 
emprego* relatlvamcnto bem remunera- p 
dos dos vários oaictos e profissões ln- r , 
dustrlaeft orn França, nio se sentirá a 
justiçadas reclameis do proletário coo- 
Ira o rico. 0 trabalhador da terra nAo n 
está com ellcs, quo ganha muito menos. j, 
0 estrangeiro, por mais afiliado qoe «Js ^ 
Aa associações socialistas latarnaclonaes, w 
nio dará de boa vontade os magros rin- f, 
tens das suas economias dilRcilinoas para ^ 
sustentar o operado francez gut rtivln- q 
dica , e o omprcllclro de grioes que tem 
todo o interesse em que ellas durem. 0 
vivando como vive á cuata das «caixas s 
do resistência ». \ 

Os cocheiros de praça tumb.*m qulzersro n 
protestar contra qualquer couaa quo ae 
cbama o contador kilometrico, e pedir . 
um salário de 7 francoe por dia e a Jor- p 
nada do 12 horas de trabalho, reali a li- n 
herdade de escolher, de acceltar ou re- ft 
cmro fregucx, mal* um horror do cousas. ^ 
Os Srs. Lockroy e llèrèdi», antigos mi- # 
□istros (ba gente para tudo aqut) flze- c 
raro-se patronos d’eosa retvlndlcoçlo, qoc 
também nâo fo! avante. g 

E com essa ameaça fechou-se o período p 
calamitoso das grfcvcs que tanto apo- d 
quentaiu a todo o mundo, a começar § 
pelos operários que querem trabalhar so- ( 

óegadamente. t 

DoMiao oa Gana. f 

Psrlz. 20 de Julho de lROl. i 


ínauscna pcios cuionaos ao uirecvor aa 
exposiçlo, o Sr. Ducret, orgaulsarnm con- 
cursos dc máo d*obra. Os operários admit- 
tidos a concorrer (rtnte de cada indurtria) 
serio escolhidos om caoas dlffcrentro, e, 
tanto quanto fúr possível , designados 
pelos seus camaradas de ofDcina. Dever Ao 
executar, com a mesma ferramenta o ma- 
terial idenlieo, um trabalho do mesmo 
valor, n'ure lapso dc tempo quo nio ex- 
ceda de seis horas. 

O jury de coda concurso, composto da 
com missão organlsadora c do um ou 
muitos operários o ccntra-mcstres nomea- 
dos pela direcção, distribuirá, em recom- 
pensas, diplomas acompanhados do ca- 
dernetas da Caixa Economicn, no valor de 
200 francos para o classificado em pri- 
meiro logar em ceda industrie, de 150 
para o segundo, de 100 para o terceiro, 
do 75 para o quarto, de 50 o 25 para oa 
aegulolea atá o decimo. Nio se póde es- 
timular mais viramente a diligencia e a 
boa voatode dos operários. AExpoeiçAo 
do Trabalho reali ss completameote o sou 
programou» 

— Como respoets a uma pastoral d* 
monsenhor Fava, bispo de Grenoblc, con- 
vidando c aeu clero o o de todas as dioceses 
de França aso constituir em comités po- 
líticos eeleltoroes, o condo d'Haussonville, 
representa n ta do conde do Pariz em 
França, pronunciou em Bordeaux um 
importante dúcurso «obre o movimento 
catholieo que n‘este momento se accenlúa 
<■ França. 

O orador atacou viramenU a tentativa 
do bispo de Greuobte. Nio acredita qoe < 
a sua pastoral seja uma Inspiração feliz 1 

0 a melhor maneira de defender os Inte- 
resses do clero e da Igreja. 

«Querem— dl z ell« — oppôr ao candidato 1 
do prefeito nas próximas eletçOes o can- J 
didalo do bispo, mas esta taeties nio lerá ] 
outro effcito eeaio erear uma sita ação 
diílidl pom o candidato na veepera do ] 
escrutínio, o no dia seguinte ao da olei- ] 
çio aluda mais diílidl para o bispo. < 
Esta entrada do clero francez na arena * 
dará logar a represálias, o final mente 
te ri o pequeno clero quem pagará os 
custos da campanha.» 

Mos o phndpol perigo da tentativa, 
para o conde d Rauesonvllle, consiste om 
isolarem-to assim oa reivindicações ca- 
tholicfts do conjuneto dsa reivindicações 
conservadoras c hberaes, qoe os monar- ' 
etilstos sustentaram ainda nos ultimas 
deições. • Isto só bastaria para coodera- 
nal-a», concluo elle. 

— Continua aetivamente a arecçio de 
estatuas e monumentos As glorias naeio- 
naee da França. Depois da estatua de 
Danton, que tautos reclamações levantou 
por oecasino do 14 do Julho, inaugurou- 
so a estatua do bem honum Jcan Lafoa* 
tainr, o antípoda do revolucionário. E no 
intcrvallo, no Fere Lacbaise, inaugurou-se 
com disc unos com movidos ou revolucio- 
nários o monumento commemoraUro do 
assassinato dc Victor Nolr, o rapaz jorna- 
Mata quo calçou luvas pretas uma manhã 
dc janeiro de 18G9 para ír desafiar o 
príncipe Pedro Boas porte da porte de 
) orn collcgm de redacção na Marstillaite , 

> e desceu as csctdas da cxsa do Bont- 
partc.cm Auteuil, cambaleando com uma 
bala no peito, para cahir morto na rus. 

1 E«sa bala de revolver, que, provocada ou 
não (a qucslio ficou incerta), matando 
c um Insignificante repórter de Jornal, 

* matara o segundo império, ainda na 
1 Inauguração do monucKnU>tumulard’czsa 
Ti-*- > ii.\ vua mocidade t irt> 4 je«lac 

1 L.waJU biuuu a iazu barulho. co.*ou » 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


929 




,-RfO fle Jtoelro Babtftfiftr tB do gaterabro de 1891 


*• «r* M tVTIM» ■ 


GAZETA DE NOTICIAS 


NUH(M AWLSO 40 M 


Suroí-ffpodA • im y r »iw Ma maoklMa rotatiraa da Mariaoai, aa typocrapM» da 
aociadada aaooy** « GoxOttt de Notidaa • 


NtiaCM AVULSO 40 K 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVII, n. 255, p. 1-2, 12 set. 1891 



930 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


QE PARIZ > 

P.nwo que a Republica Fiancc/u o»!', i 
tlcflnUlvAniotiCc eccclla ua Europa: os rril » 
o«Iím frequentando*:» (Ao a nilmlo, que J» 
nA « te p<Wo ülior quo elta n&o ó scn&n 
(dera is no concorto das nações* 

Ni(o hn semana cm quo nAo pa*m por 
csls cMndo uma (esla coroada, ou quo o \ 
foi, ou quo o ha do sor* 

Na semana patiAdn, Parta hospedou os 
reis da Greda o da ücnla, o ox-rclda 1 
Sorria o o futuro rd da Inglaterra, «cm * 
contar o futuro bcy do Tunls o outros 
príncipes do menor grandeza c mageatâ- s 
de, quo vêm todos aqui ter, attralildoa " 
pela aniabilldado da cidade sem pir, ] 
pelo torrito t/u eluilituçdo do quo foliou ’ 
o Crtspi • , 

A metioa que seja slmplesmeutc porque | 
Parlx ó a encruzilhada do mundo. Mas os 
reis JA aqut vêm As darfll. sem reservas » 
nem Incógnitos, o vfio cumpri meutar o * 
presidenta com um certo imprtgtcuHHl , 
qre encho do desvanecimento os tiemo- 
cr.»'as rndlcncs. > 

te quanto cites se ochnm pagos com 1 
uma eorttufa real feita no preridento 
Carnot. clAo testemunho os artigos dos i 
Jornncs do um *oldo, em que os actos o 
gestos doí augustos hospedes da França » 
vêm relatados minuciosamente e com um ■ 
fornialiinio rigor do tratamento, como » 
%c cada repórter fosso um oestro do cc- e 
rimoiilas palacianas. 

Agora que o Tento sopra ps rs as h.indas 
do Norte, reccbc-se o rol da Grecb com o • 
hynmo russo, o A entrada do rririnho da 1 
.Servia gritaio na eitaçio de L4st% v/va 
Alexaiu/ra (õ o norao d’clle) c irivu •« 
Rutsiu, como so tudo foase a mesma * 
cotiss. lambem o pequeno tnonarcha do ! 
do/o sntios ficou admirado do que atô cllo » 
chegassem respingos doentbusiasmonMso* * 
philo. Lembraram-lhe que ello ê afilhado 
do Czar e que, ainda mais, antes do vir * 
Jantar com o pai na rarandn do concerto I 
dos Ambassadeurs, cllo tere a boa Idèa 1 
de Ir fn/er uma visita ao seu poderoso ? 
pidrinho. BslAo explicadas as acclama- 1 
çOa» populares. 

Quem n&o ganltn vivas c a Inglaterra, qoe • 

•sta agora fazendo tantos gastos de ama- ! 
billdade para cora a França. Ha cortas 
pssíoas quo nos convidam para jantarás * | 
quocs «tio agradecemos a fineza. A frio/a [ i 
eora qoo «Ao recebidas cm França as 
cortezias feitas om Portsmonth ii eiqua- * 
dra do almirante Gcrvaiv, dò volta do * I 
Cronsladt. o oi artigos amaveis dos Jor- ! I 
nacs inglc/ea fazem pensar nos convíteè 
acccitoi do má vontade. Os Jornaes pro- 1 
tendem explicar essa frieza pela des- [ 
confiança de quo mto haja esponUoel- * 
dado i) essa manlfcslaçio de sympattiia, r 
nrm mesmo dn porte da rainha, quo tio 
graciosa so tem mostrado para com os 1 
francezcs, no cminnto. Poi cila quem ex- 
primiu o desejo de pasaar uma reviato, ' 
A esquadra fmnceza cm Portwnoutb, 
como toateinunho de eua sympathbs i 
p*l» naçio que tanta. t <aes a tem «a.- ' 

eilhojr,, quo nindx no atino passado, por 1 
oecllo da ,ua cstaila cm Clrassc, r,z 
tudo pira quo a ,n> vi llegl atura em • 
França n.Io Jho ddxassc logar a taudade, 1 
do L.go-Matorou da lllvlers italiana. E, i 
vellia o já pouco forte como 6, clU n.to 
deu proeuraçAo ao príncipe de G.ilcjrti • 
outro membro da >ua família para recebe, 
«e.pccie de embaixada marítima qnc add* 
a riiiUr as costsa do norto e a contar as 

ntCuM 11 MnntMnra, > ... 1 1 . 


nsçoes as esperanças c os orgulhos da 
nosi França: do pò no tombadilho do 
real Viciorta & Alton, molhado pela 
«ilsugoin do mar encnpcllndo polo tem- 
poral violento, ello útero uma hc: », 
como so a cerimonia ac poasasao em terra, 
n'nma aala do palncio, cm tcz da ,er 
n'um recanto da Mancha, »bro o mas 
desmontado poloa roitu do cyclono povo- 
ruo que vem dos AnUlhu, rnlc andou 
destruindo cidades. Os canliüci troavam, 
m hurraha da marinhagem trepada is 
vergas das nau ajuntavam uma vez i 
ao eicareéu do vento, quo estirara 
rljomento aa boodeiroa • fUmamlarf no i 
topo dos mostre, o a relho rainha, 
que tom assistido a tantas rlelssltudes 
políticas dos acua vlriaboi, posura 
cora o seu cortejo magestoso de néos do 
ttuerra, saudando sem preconceitos a re- 
pro.cn taçAo no mnr da França, qnc so 
transforma o quo não morro. Do noite deu 
um Jantnr ao aimiranto o oOieiaos da cs- 
qundrae, sentodad mesa ontra oembaixa- 
dor e o almirante franco»», niote icrun- 
tou, quando o Grande Escudeiro do Reino 
bebeu (sem phrates) i .,idc da rainha 

0 a oreboatru tocou o Boi laix M< 
Oure», mas ouviu de pi o brinde era quo 
saudava i França na pessoa do presi- 
dente dn republica, com votos pela pros- 
peridade da noçAo amiga e cxpreasòu do 
cordielUlidade c symp,lhla. E a oretos- 
tra tocou a Marselhore. 

Au meemo tempo que se dxrom es 
grandes festoe de Oeborne e PurUmouth, 
dois ilmlrantcs das duas nações confra- 
ternisavam era Villcfrsoebe. O almirante 
Dupcrri, cura mandante da esquadra fran- 
ceza do Meditsrraneo, dava a bordo do 
Bauiin um banqueta so almirante Hoo- 
kiiu, seu amigo de mocidade. Bebeu-se 

1 aaude dos respectivos e bofes do Estado, 
as marlnbagena desceram de catsarv 
digcm a visitar Nice e Villefrencbo, e M 
dle seguinte, vestidos 4 ptizana, os dola 
almirantes jantavam Juntes n'ura rea- 
lauraat cm Nice. 

Tudo isto è ijmpstbleo ou nffo .6! Tols 
os trnaceies, que fazem um grnodo coa- . 
sumo de byrano russo a'este mimento, • 
qne ati fizeram do Imaglnnçfto o retrato 
do almirante Gervala aportaodo a raio da 
imperador da Rusaia e com oi oiboa re- 
virados, por diante de om sol nascente 
da alllança franco-ruisa, aio querem 
corresponder toe avanços amsveia d» In- 
glaterra, por prudência ou por aoberbá. 

Entretanto, preparadas como nstAo todne 
para a gtrerra - as próximas maoebrü*-. 
militam quo deaenvolrcrõo entro Vltrg o * 
Relms cento e Untos issll homens de tropas 
de todas ae armas, darioaindu uma amostra '. 

do poier militar da França actual— parece 

que a pez se manterá por muito tem po,qqe 
e guerra será cada vez mais dltUctl. Taa o.re- 
maU quanto o proletariado já começa a 
egiUr-sc contra as derliraçGea de gnce-— . 
roa Inopportunas, o o Cougrrsso s cie,'.'. . 
UsU do Bruxellas acaba de votar a iesU-‘ ‘ 
tencU do povo contra as declarações de 
1 guerra pelos caprichos da política jutt-N 
oscionat. 

— No Paris dos dias ?0 o 21 eons <-.-0 
çou-se umx companha contra a prupa- * 
ganda de emigração para o Rriuii. Os 
dous prímehos artigos publicados tratam 
da velha questão do. emigrante, polacos. 

OpportlmUade dac-.- n baãpnrte. , ois 
qrc nio lu rlsreipara— • >*rancezcs deiren, 
correra ,.: II , -rtuxacntre nós 
loque vem J;t .... .- .: do P...C — 


0 Trsfica de branco) 6 quaol tudo ver - 1 
Ande. Apense n'um ou a'oulro l sinta o 
jjrnceodpr dos documento, oo rodactor 
4b jocnal .njonou i< do propoilUi, para 

K llior dlifarçar a jrlgom brtilltira 
Informaçlç, tio mlnuc|oi» qu« nlo 
ba muitos qnb a postam dar tu com- 
(lota. 

, A luperlotondcnçla da cmlgraçlo para 
b Draifl, na Europa, tomou a si a Uqul* 
dtçlo densa carapinha, levantada por 
jornallitu icm assumpto o tom leltorei, o 
que para oa francorct 6 de um Intercalo 
multo longínquo. Eu delxil-oi Macacrover 
quinto qulMisom, n meemo calumnUr 0 
governo dn uma naçU amiga, quo Já vai 
A aeoitumando a vivor acra ai aympá- 
tblas das nuas Irmãs latinas. Aprendci- 
pemos nós eom s llçio quo ellea nos dU 
da aua pouca bcnnrolencla, o foiiomoa 
mais cautos... 

■*- Um suicídio em condlçõo. partleu- 

Ê 'mento slnl.trsi foi o ds uma moça de 
rca do 20 annos, eu|o cidaver.ba cerca 
do alto dias, uns marinheiros apanharam 
so canal 8olnt-Martln, pelai alturu do 
çaes Vatay. 

" Na algibeira do vetthlo da morta o 
CommUsario do policia do bairro oneon 
trou uma carta n 'estes termos t 

V 

• Ml Ah a mil. 

. • NAo 6 icm r**Ao quo ponho flra AM 
toem dias. Durante ura mez «otirl do 
dôro* do dento* o narA mo curar tu mo 
bâtiA* n§ caboça. Scmpro mo IUc*lc *oí- 
fror. Náo potso mali. 4 _ 

* Era pequono, qutndo o« outro* Irmãos 
6 Irmãs Uni á oicolo o recebiam urao 
boa cducAçlo, tu mo prtndUa om caia 
l*ra mo cmprogAr no* roais duro* e 
rcpuRoantc» traball»o*, o, A menor ho*l- 
taçAo, tu mo batias. Scmpro fut o teu 
wmaiom do pancadM. 

« Morro por todos os mâus tritamen- 
tos quo loiTri, o. so nito morri mais çedo, 
loa o foi culpa tus. Morro porque t6 dc- 
texto o tenho vergonha do sor tua flui». 
Todo* os tous poros transpiramos crlm#* 
fauo cu nAo rcvdo aqui, para nlo fsxer 
cqnhorida do lodos a tua desbonra. 
^Odelo-to com todas ai forças da ml 
nha alma, lú, meu pol, meus irmãos o 
Irmã*, menos Andi^, quo ou amo com 
todo o meu cornçAo. 

• N&o aislgno a minha carta para quo 
é meu corpo n6o volte & casa o ninguém 
ria sobre elle. 

Adeus, miseráveis, ou os odeio.» 

E’ do arrepiar t... 
w Outro caso triste de desgraça col- 
fcctiva 6 O do uma família inteira que 
jtnlouquece, tomadas pelo mesq»o delírio 
de perseguição, o marido, o mulher, o 
jfllbo do finto annos, a Qlhlnha do dez. 

' E* um contramestre do alfaiate, quo, 
despedido da casa ondo trabalhava cm 
Nice, começou a vêr om todos os seus In* 
Jortunloe ulteriores a InflucncU malé- 
fica, a porscgulçlo acirrada do Sr. Bor- 
irlgliono, deputado por Nice, o eacraveu 
vma corU ao prefeito de policia, pc* 
pedlndo-lho protecção contra os awas- 
hlnos quo o acu inimigo lançava contra 
Mio. O profelto de polida, suipoltando do 
«atado acatai do homem, incumbiu ao 
eqmmiisario do bsírro dê Intorrogal-o. O 
)epmmlssario, par» proceder com provas 
antecedentea e ter expUcaçflea sobre 
a loucura do pobro alfaiate, mandou vir 
Á mulher primei ramonte. A mulher tlr 
Irou cm detalhes, afflrmando a perso- 
ghlçAo que cila e o marido sofirlam da 
parto do Sr. Borriglione, deUlhe* que 
earactcrlsavam pura o slmplismente a 
loucura quo se luipeitava no marido. 
E os dous illbos revelaram o mesmo 
estado mental patbologlco, por contagio 
da loocara paterna, naturalmcnte. 
(Quando virá o descobridor do mlcroblo 
d'este contagio piychologico t 
A qnc fica reduzido o critério das ver- 
dades colloctives, m o contagio daa allu- 
clnaçCes ae desenvolver entro a gento fina 
« intoUlgente ? 

Dosttao »i Gasu. 
Pariz, 23 de agosto do 1891. 


De Paris (detalhe) 





DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


931 


j^nno XVIII 

Rio de Janeiro — Quiata-Ceirw c8 de Janeiro de 1803 


N. 08 ' 

-sí: cazeta de noticias : 

:« 

iwmn m*» too 

trMNMi 

* «n •• wwnm i H 

MUBENO AVULSO «0 Al 







•ocietete imutu < Gazeta do Noticias 

| -a 


CXPEDIENTK 

r j~™rjfx 


sSriraSHgfK 

ter 2 *âSíil" 

' ' T *^,** .*"**“ *" , "~* * .**?* 


1 I1IÍH DC I. LU 


— -* *’"**• jp- 

CHiu-»pçrrEiKwi 

7£z&z-.L. 


i;r-rr?*L— • •**‘**‘* > ^ 

poeruoAL 


— 

t -. h ,.TT*l*T‘* t 

*is 2 xsj^r*** ,N ‘ ,r 

p r *!T. 7 ? ^ 

; m.* H*n 

J 2 .^yr^Li.“ür*“ 


WlM 

a* 

. U ,------ M,-w 

llpÉ<Ssí« 

:!h^^ 

•jaarJsrSr; 

•fra^sar» 

rrr. 

gjESTiO BANCARIA 

“rtirvSr. 

GIrfiGGS 

— - 

ipSSciSs? 


■rrrr^.T.-r 





rrrnr-irnnm 

:|çr.r— 

‘TTTTitV 7 

wí^TiSSs 


rGArrTZ 

i namtiM H nmi 

jlglsgg; 

-.zrzzbzzz 

,:.rr::r. 

sf^rjsársK 

RIO GftiSDc RO SUL 

S=?“— rjss ’j 


&sSsSsSS 

— 



jjSiíSnsSS 


ÜÜ|j 

- 

“S.TJStrsã; 

r~; ""“TT: rr v ',*- -- 



* 1 . trr ,-r.T- ^ •■*"~ 

's: trr"L , 3Z‘ 

*r*- -r^ 


isi^=iLrfí; 

san-K-* 


Íj^rjíwsssa 

:prrr^.*srrrz 



- . 

SíSíãrr^ 

"“**,*.*'' -i"' 1 ^ rr— : 



y^r t .".yr,~y 


um iin ■>w7«7iã3i' M- 

:r.-j 

r^jrtriíi^ 


“IrzTzr^: 


* "o*.' >.'* *--•"" 1 



" "** " c * r *~* t _ ^ 

jfc3as/T4*iSr 


ommu hul 


•pjSSSasií 


SrríHsrSf:'- 


gggrSSSr. 


=T-ÊS£=ãr£ 

_ j , r '- '. " — - 

ítrrrissr.re 


jr.*nL^*riinirn 






— -j^-.trrG 

zp^rrrrL: 

S=^~Í5= : 


Zr-JTrr*. • r*- 

jrKSTáRsSr 

SíSSSSSÉ 


i ^-1— — _ 

S53SÉ 




■íiBSssrin 

íl^rí J *7,^ 

nirrs.i.vs: ^i-rr 

• : G.-— -=r.„ 

!* 1*^7****^ ■*»*»—»■*» 

llliifs" 

ãSgeãm 

-Gr “-Ar 


^ 555 ^ 15^5 

^ 2 =^S?r= 


ípaass-jits 


* k ^zsnni. 4 Ti47 *íim 

' 

— 





rs utr‘zj« rLiL.^Cr.. 

7 ~' .'r* — - — — 

ii-~' : — - — 

à j,*~ ~’ *’*'*'’” “*■" 


■?J*’**** y< * *— ****•' 


»i ** “** • «*• —*•* •■ — ■«- 

g r^ r "r* g ^zvS 

m ^r*. t j 


LSTaLXJ Lxj RIO 


u v4£ytr, *^r: 

:!E35S£S 

r.tnr^s ‘"“"Tt* 

ir^âTu jnnsirmi 1 

Grirr:: 

- -"A'.. u n: - A.'z 

r? -r^r 




J— t ~y= 

TNCRCZA OE JESUS 

2S^srí. , sa: 


^'^•ssâsTr 

-■— • — 

Mssssa 

,**— *** r »«^ 

:Us5^2SS 

Ej 

=s.srj;jr.rj: 





i f ‘*^^icr,-t.. ir . * nr 





De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 28, p. 1, 28 jan. 1892 





932 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


i 

I 

ira 

utc 


& 

ial 

>ro 


DE PARIZ 

S«muu : 0 t M pnlesciealaUA A nina 
<l« aluía» Ucu liptatM Jt rUon. A urt- 
diollocadj. Ostros «- 


A eamara iIm deputados dlscçllu a s<J» 
rlou o projecto do lei relativo át relações 
ceniuerclaca com o< países estrangeiro* 
cujos traladoa dc comraerdo sxplrazu no 
dia 1* da ftvoreiro prailrea. 

&lo projecto tem por fltn conferir ao 
governo o direito da prorogar por um 
anno oa traladoa existentes, excapçJo 
falta para ai clautulaa que abrem tarlfaa 
du favor paru cortaa mercadorlaa doai- 
gosdos. Ella permitia ainda maia a appll- 
dção doa novoa direitoa da tarifa mini- 
ma francesa aos palsca que em troca 
cooeedam i França tratamento do oaçio 
mala favorecida. 

A discussão a quo esse projecto deu 
logar não deixou do offereccr um certo 
interesse, sobretudo pelas deciaraçOea quo 
o Sr, Ribot, ministro do estrangeiros, foi 
obrigado a fazer ao correr doa debatas. 
Essas declarações Indicam claramente que 
0 governo, cm melhores condiçOsa do qoc 
os deputados para Julgar a situação es- 
tertor, está tongo do partilhar do furor 
piotecclonista a quo hoje se abandona o 
parlamento. Percebe-se bem que o cui- 
dado do govoruo consisto era preparar n 
transição do regímen convencional quo 
actuslinento vigora, para o das ooraa ta- 
rifas problbltlvas. 

O Sr. Ribot bom mostrou o po-igo quo 
resultaria para a economia geral da 
França, se as novas tarifas fossem Imme- 
dista e bruscamcuto appllcadas. E ò pro- 
cisameuto para evitar cala consequcucia 
da nova política quo o governo elaborou o 
projecto do que se trata. 

O Sr. Ribot roulfoatou a esperança de 
que as nações com quem a França tem 
tratados entrem na combinação quo sc 
lhes propõe. Para a Suécia, a Hollanda, 
a Bélgica a a Sulasa osso resultado parocc 
mesmo garantido doado jã. Mas para a 
llcspanlia, por exemplo, não ba romedio 
senão •desistir do ir até oade lha permit- 
lem os seus direitos», por Uso quo na 
questão dos vinhos, que tanto agita n 
opinião publica de além Pyrinens, o go- 
rerno francês tem do ceder. A Ileapanha 
se recusa a tratar sobro aa bases da tarifa 
mínima que lhe propüo a França. 

A Indicação 6 preciosíssima. K' multo na 
tural quo outras naçües exijam da França 
o tratamento de nação mais favorecida 
em reciprocidade. E as declarações do 
ministro dc estrangoiros podem ser nota* 
das como um symptoma interessante da 
incerteza, para não dtior da inquietação 
cm quo sc acham os bomens poUUcos a 
respeito do novo regimen ecooomico, pro- 
conUado e com lauto ardor defendido 
pelo Sr. Méllnc. . 

Jã a entrada em negociações com as 
nações Tlslnbas 6 uma modilleação sen- 
il ma attitudc assumida ba seis mezes. 


SP* 


A S1INA DOS SI1NKIU08 

No dia 1‘ do dezembro tckgrapbaram 
de Saint-EUaono: 

• A Sociedade stephanense da mfna 
“Cf mineiros tomou bojo posse da lavra 
Carbonífera de Moulhlaux. Começaram 
logo oa trabalhos preparatórios. Do/o 
operários desceram ao poço Marinoni, 
acompanhados solcrancmente pelos Sn. 
Girodet. deputado o inaire do Salnt 
Ellqnno. Judll, redaclor do Peiit Journal, 
um engenheiro e muitos delegados do 
syndieato- Oi arredoresdo poço Murinonl 


vlrsm dc rcpenlo paasar uma chtmma 
•sul pelo ar,, o perderam, oa sentidos. 
Todos ot.caralloa morreram. A morta 
pelo gritou t como uma cauteriaação 
pela cbsmma, interna o externameato. 
Os pubnOos ficam negros o a puUo tosta- 
sa coroo ora isilão assado. 0 calor destn- 
volrldo pela oombustãn d‘esae gaz, deve 
ser extromsmento Intenso, para quo, no 
breve lostaitle que dura a explosão, pro- 
duza taes rfsollados. 

Foi um grito de dür o de piodado om 
ioda a França, quando ae soube do al- 
nlstro caso. Os roportert mandados pelos 
oraaca do Riria a Salat-Etisnna encare- 
cansrn com pormenores lastimosos a ds- 
aolação das famílias dos mineiros, feridas 
pela perdadosseus. Promoyeram-se sub- 
terlpções paraailtouartamauha mlaeria. 
Quem mais conseguiu foi a Imprensa de 
Parir, provocando uma nmfínér na Co- 
medi» Fraiiçalse, quo rendeu cerca da 
93,000 francos, com os preços do caridade 
misturada da ostentação por que os ricos 
pagaram os seus logarcs uo Cbcatro, para 
sua fasta especial. 

E 1 agora o bom tempo para estender a 
mio aos quo lím de sobra, para que re- 
partam com os quo lõm do menos. Paris 
está cheia. E’ a grando feira da vaidade. 
Os mendigos, os desgraçados, a qurra o 
frio pungo o a fome, capeiam as mlgathsa 
do banquete. A' porta doa theatros, dos 
restaurantes chies, das taJürs cm festa, 
esperam, para abrir portinholss dc carros, 
os miseráveis tlrilantes. A gente bem 
agasalhada a torta apieda-so da penúria 
vidrei, qtiaai sensível rcllexivamcntc. Um 
corpo quo o vento glacial da nolto sacodo 
em calafrios commore mais do quo & 
choradeira do pcdlnto. E os soldos o as 
moodlnhas brancas passam faclimenlodo 
bolio do rico áa mãos do pobre. 

A recepção do M. de Freycinct na aca- 
demia francesa foi uma pobre fcsC.x litto- 
rarla. Poucos se illudlam quanto ás 
qualidades littorarísa o de cslylo do mi- 
nistro da guerra, ruas esperara-s« do 
sen discurso do recepção qualquer cousa 
quo fosso como a surpresa agradavcl quo 
tiveram os que ouviram o elogio de Lltlri, 
(eito por esse outro subio não llttereto que 
é Pastour. E' verdade que Pasleur eão 
te afastara muito do seu caminho para 
fallar do Litirr, ao passo qno 0 pobre 
ministro da guerra e malbcmstleo tinha 
do elogiar a obra do ura dramaturgo 
pouco ordinário, como era Kmlle Augtcr. 

Não ae póda díser quo o rcciplcndarlo 
flzeue o elogio dc Augicr noa qualidades 
quo 0 levaram á Academia: o Sr. de 
Frcyclnet considerou no seu discurso 
principalmente, qnasi exeluslrameute, o 
homem do Estado implicito no pensador, 
que crao grande coatediograplu. Chama- 
se isto escorregar d’um assumpto para 
outro ao lado. E' habil, mas não se ud 
mllte senão quando a formalidade não ú 
uma prova. 

Agora, como poderão continuar a dizer 
que a Academia Francesa 6 um salão de 
lollrados, ae o Sr. do Preycinct entrou 
para cila sem ro apresentar como le(- 
trsdof O discurso do Sr. Gréard, cm res- 
Jiposla, dando a boa vindn ao reclplenda- 
rio, nom seqnsr busca reconhcccr-llie essa 
qualidade. Disseque o novo socio trazia 
à casa um exemplar do • espirito do 
iniciativa temperado do prudência » na 
arto da govoruar. Quantos não se Jul- 
garão agora com direitos fundados n'easa 
qualidade essencial a um político homem 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


933 


syndleatQ. 0* arredores tio poço^Lirtnoni 
estão magnificameutc ornados; a tao- 
[ ddra do sindicato Úuctua acima do 

prefeito do Loiro prometteu assistir 
ã inauguração que lerá logar aaxtu -feira 
1 4 d'csto mcz. ■ 

\ 

i E na sexta-feira marcada Inaugurou- 

• io a mina dos mineiros com um rinho 
j de boora cm que um operário bebeu ú 
j prosperidado da en» preza, agradecendo 

aomairc, ao prefeito, oo Sr. Marinoní e 
| ao consellio municipal, a coadjuvaçioquc 
prestaram aos esforços do trabalho por 
so constituir capital o gorir-se autooo- 
micamenU. 

i 0 caso é nem mais nem menos isto : 

1 a» sindicato de oporarlos tomou a si o 
I exptoraçiodo ama mina da earrio, alun- 
i dooada pala companhia por Improductiva, 
o pretende fazei a produzir com o capital 
de 120,003 franco» aubicrlptoa cm parto 
paio governo, parlo por dlvaraaa munici- 
palidades a o reata, cerca da 50,000 íran- 
i coa, pelo Sr. Uarinoul, dlractor do Potit 

> Journal. 

!•' uma curiaaa oxperioncla caav do 
. operário Independente, trabalhando o 

> com a responsabilidade da grandes ca- 
| pltaca condados 4 sua dlUgoucla c tino 
’ administrativo. 

> A mina da Monlhisiix tim uma pro- 

* docçio da 40.000 toneladas de earvio 
J annoalmrnU.com 500 mineiros Iraballran- 

do. Serio fcllzca oa novos oapllalUlas 
operário»? Ha o receio da que oa logirea 
. na adrolnislraçlo do syndlcato sejam 

> disputado» maia ardentemenle do que os 

> do trabalho no fundo tenebroso daa ga- 
leria», a centenas da metros abaixo do 
oirel do sólo. E ta a polUica socialista 

’ »c metlar por 14, a couaa corro perigo 
sirlo... 

> Nas proalmldada» d'c»»a mina, na 
noeama regüo carbonífera, foi que se deu 

. a pavorosa explosão da gritou, qna eui- 
s tou a vida da Oi operários a triata a tan- 
tos cavados, na semana passada. 

Parece qu«, quanto melhor c o carvão 
de pedra, tanto mais rico em fritou cllc 
, i. E basta quo se latarrompa por no. 
t mentos o arejamento daa galerias de ex- 
ploração por melo do ventiladores, para 
que o terrível nas ao armaienando nos 
1 recantos a cavidades sondo não cbega 
, dlreetA o fortomonte a corrcnto da vonti- 
, lação, a menor imprudancla provoque a 
conflagração. Dizem oa engenheiras que 
4 icinpro a falia de cuidado dos operários 
I oque determinar as explosões da gritou, 

[ quer por phospharo» riscados oni plena 
mina para acceudor lanipndas quo sa aps- 
. gam ou cigarro* fumados contra a ordtm. 

> Outros aílirmani qua a simples faísca pro- 
! dttxlda pela choque da picareta contra um 
| stlexbaaU para incendiar o gsz. Corooquci 
; qna seja, aa explosões terrlreis deurdem 

• todo. os demônios de verificação da* con- 
jectura*, eemecando patos mineiras, dos 

; qnaes os raros quo escapam tem perdido 
I toda a nos' Vo do quo ta passou o só con- 
I servam a impressão ps nica do bafejo as- 
solador dc Molocb. Alguns que conseguem 
fugir por gaioriasdo cominunicaçõo abati- 

> donadas. disparara do ud «mente pelos cain- 
I pos, como animnes desvairados. ãluilos 

* enlouquecem. N'csla explosão do poço da 
Manufactura retiraram-se rom rida oito 

> operários dos setenta que liuhai» dcacldo a 
i trabalhar n'esse dls.quc era domingo. Tres 
' d'elles. qna enm incumbidos do serviço 
. daa cavjilsriçaa, custaram que, estando 

•í-itsd.s nobre a | .ilhó, entre os cavai! -,'| 


quaimaua essencial a um político homem 
do Estado, para sc apresentarem candí- 
Jntov A peimelra vaga na Academia? 

E os lcUradw, os aimplea lettrados, sem 
influencia de posição política, o que espe- 
rai ão para oa seus velhos dias como prê- 
mio honorillco que a França lhes deva 
pelo acu esforço especial na obra do en- 
grandecimento da Patria? 

Uma couaa interessante n notar n'cssa 
fria sessão da Academia foi o elogio du 
Plgault— Lçbnin, avô dó Augier, do l'i- 
gaull— Lebrirn o escrlptor pornogrs- 
plileo, que aos oitenta annos retomou a 
sua penna libertina para morsllssl-e, 
regcueral-a, escrevendo uns contos dedi- 
cados soseu- querido Emílio do onze annoe. 

O Sr. Griard inciJantemeiito fez um 
resumo da vida d'esso homem de bem, 
que as condições especlsos da sua vide 
tio rolada pelos caminhos, campos de bs- - 
talha, priaõci e eòrtss, de soldado, come- 
diante nômade, btbliothocnrlb do rei Jc- 
ronymo, que r.ão tinha livros, Ozerani um 
despreoccupado folliciilnrlo, explorador do 
eseandalo (tio pouco racrceldo jiara quem 
lõ boje os seus livros I ) que a sua vau 
libertina produzia. 

So não merece o qiialiflcativo do liberal 
e moderna unia Academia quo paia bocni 
de um dos seus membros fitz o elogio mo- 
ral do Pigaiilt-Lcbrun I... 

No sabbado, 19 de dezembro, honre um 
grande baile de benolicenda na Oporá, 
o baile dos olSclaes do terra e mar. 

A multidio em immensa nas saias, as 
. ioiUites magnificas, os ouros das fardts 
militaras luziam, a pedraria das joias 
faiscava 4 claridade da luz electrica, houve 
batalha dc flores, muitos milhares de 
francos mudaram de dono n'usn noite, 
para o prazer ephemero do luxo por al- 
gumas boros em companhia festiva . 

Emqtianto ia» ao passiva em eiras, ' 
outras acenas bem dilTcrcntcs se darem ' 
no sub-sók) do cdidcJo. onde ba um poste ' 
do policia. 

Quarenta vagabundos chim trazidos um 
a um esfomeado* tiritantes, urdidos. , 
Entre elles bavia.dous antigos tabelllies, 
Ires antigos meirinhos e um cabo do ' 
gendarmerla colonial ainda.com a Suã , 
(acha I Todos elles passaram pelo lava- 
tório o receberam umuabltiçào do phenol. 1 
Depois receberam um piodo uma libra e 1 
permlssio para doninfrem |ior terra sobre i 
o isgedo frio. i 

Em cima o bailo estava do seu apogeu. | 

i 

0 governo acxlis do podir is camaras 
um credito de 49.003 francos para cobrir 1 
as dsspezas feitas com os funeraes do 1 
Sr. Grcvy, antigo presidente da Ilcpu- j 
blica, oa quass foram foilos a custa do 
Estado. I 

Na exposição do motivos o governo 
declara quo qulz «assim prestar uma 
homenagem suprema i memória do tilas— 
Iro cidadão que consagrou toda a sua 
vida 4 defesa da Ucpublica e que, por | 
duas vezes, foi chamado a occupar a roais < 

alta maglsthaturu do Estado. « i 

Pariz, Uü dc dezembro. I 


« 

Ao tubdriffftdo do I* diitricto cio S.a- 1 
criiir.culofjucnír.Tm-Rí^ntf hontcm.Hrn- 1 
rique Boclict c Francivro ttomarty Vtlln- I 
roy, iitoi adores 4 rua do Rtgcato n. 9, < 
do que oa ^alunos haviam penetrado no 
quarto cm que residem, de onde sultra- 
iiitani toda a louja que cneout iatam e 
um rolo^ío. 

A auci .rídadrt (Wdirixl çoj ^ ? if»i fr -cr 1 
[ * ap.-rvheasào d;j éh. :t ■ rouba ! * «m * 


De Paris (detalhe) 




934 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anno XVIII 



t— «■ ■i| l i w 


EUROPA 



(ST AM M OOVAX 


Rio do Janeiro — Terçârfeira 9 de Feveroiro de 1808 

GAZETA DE NOTICIAS 


IRWMRU 


> AVULSO «0 lt 


Star«olrsMU« uifntM M«aMaUaMroUtiv»ad«l(AriMai. Mtypofrtpl 

mai*U4» Mo*pii • Ga»U de Noticias * 


NUttCIW AWLIO M M. 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 40, p. 1, 9 fev. 1892 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


935 


DE PARIZ 

0 MA Oi* DOUCIUI 

Na Camara doi deputados, hn Unto 
(«aipo adormecida om dlscussSea um 
laportxncla par* o publico, porqoo tudo 
m passava ca boa ordem o oa ropreaan- 
tanlea da naçio legislavam paelllea- 
manta, houvo bontem um aarllho memo- 
rável. 0 dia 10 da Jaudro de 1892 ficará 
eonbaelJo noa fasto» do parlamento fran- 
cu aob o nome da dia Ua$ MacJuii 
(journéo dei Rlrtea). Nunca ao viu tanta 
pancada entre gente llluatre, aam decln- 
rsçio prévia de guerra. Parece que foi 
um vento de loucura que entrou pelo 
palaelo Bourbon a dentro, porque duaa 
horaa dopola da acaaio puglliitlea oa 
propHoa aggrcaaarra catavam melo arro- 
pendldoa da aua violência. Nilo fallcmoi 
doa cipancadoa... 

A couta rebentou como uma oxplosfto 
da colara. A aossio Unha começado na 
4 horaa da (arde, porque n'eiac dta a co- 
rnara tinha de eleger multa» da» aua» 
eommlsvCcs. Nn erdem do dia havia a 
eanttnuaçílo da dlscussio «obro a censura 
dramatica e um pedido do dia para uma 
Interpellaçio. A caca catara cbda a 
oa ministros todoi oecupavam oa aeua 
togarei. 

Lida a aeta da acaaio anterior, o pre- 
sidente annuaciou quo Unha recebido um 
pedido do toterpellsç&o noi tcgulntea 
Unnoai -Tomos a honra do propor ao 
Sr. preaideato do conselho ama intcrpel- 
laçio sobra as medidas que o governo 
tcuclona tomar a respeito dna accusaçOca 
feitas |ielo Jcrnal V Jntranti jeant contra 
um doa mombroí do gabinete. — (At- 
sigoado») — CA. Lt Senne.— f. Laur. » 

F costume na camara responder a 
caaea pedidos de intcrpelIaçOca da parto 
dos sobrevivente» do boulangiamo, adian- 
do-a» por um met. Aa accuaaçüe» do 
Intransigcant visavam dlreclnmenlc o 
Sr. Conslana, ministro do taterior, que 
ate vtqui nunca tem dado resposta As In- 
jurias atroics, qoo todoa oa dia», hn mas 
de dou» annos, recebe doa acua Inimigo» 
mortaca, oa boulsngiatai. 

O presidente do conselho d'cata ver 
appcllou para a camara centra caso ataque 
odioso dos bouluagtstas: ■ O podido do 
iotrrpctlaçáo visa arügoa Injuriosos con- 
tra um d«* membro* do governo, declarou 
o Sr. de Krcyclnot, e supponho qoo o» 
Inlerpollante* ae propüem a ler cases ar- 
tigos na tribuna, para Ibes darem maior 
publicidade. Nio posso prcstar-mc do mo- 
do algum a essa maaobra, e nio respon- 
derei. A camara soberana dirAse entende 
que a tribuna deve tornar-se, aob o re- 
gímen parlamentar, cm orgio do descré- 
dito e deacODsideraçio contra o governo 
da Republica.» 

Uuitas votes reclamaram a questAo 
prévia. 

In-so proceder & voiaçSo, quando 0 
Sr. Laur lovanlou-ac o pediu a palavra 
contra a queslào prévia. O presidente 
deu-lhe a palavra, mas contra a quesléo 
prévia, unicamente. 

O deputado boulaiiglsta aublu á-trlbuna 
e, com uma modoraçAo contraatando com 
aa auaa violência» habltuae», começou: 

— Llmlto-me a lér r.s palavra» pro- 


ftestomunha, um Jornalista , pcrgnnlouTa 
I — .... .... 1 . I lU 


I». 


elle também tlnba du ir A tava 
K o Dclpecb, furloao, rogaagado, JA prom- 
pto pera saltar-lho A» gullsi, gritou- 
lho quoalm, e mala oa Unte, ou trinta ou 
quarauta, toda a aua corja que fosse 
A fava tambcml llouva gente que so lu- 
tcrpoi e ala houvo logo péga A unha. 
Resultado : tres doaslloa paraodnmnailo 
meridional, cm vo* do um, que era anlll- 
elente. Hoje de menbl JA elle teve a aua 
primeira estocada no braço.para começar. 

Haia adiante, um Joruallsla moderado e 
pacato, conversando nTim grupo, eenau- 
rava rasa ^mblrraçio do» botilançlaln» 
om nio darem algnal de rldu aenio pela 
Injuria o o earandalo. 

Um dcputailo quo passava, o Sr. Rou- 
deau, impOo-lhc silencio grosaelramente. 
RoacçAo. o deputado ameaça de bofetada 
o Sr. Wamps, e o Jornallata cabe-lho em 
dma aoi tabefe». O deputado boulan- 
gista gritou que a cousa afio ac paaaaria 
assim, quo ia dar queixa A quctlure da 
camara e aos trlbunaes... 

Fellimcntc, a campainha da presidência 
chamou oa deputado» A ar saio. Eram 
orl» horaa. 

A meia da camara nio tondo recurso 
no regimento contra o Sr. Convlana, pro- 
vocador do tnmullo, por ser c»le acnndor 
o membro do governo, o preaídenle dla- 
punha-sc a pronunciar algumas palavras 
laatlmandn ocacandaloao attcntsdo contra 
n dignidade, das dellberaçéea parlamen- 
tares, quaodo o Sr. Constans pediu a pa- 
lavra. 

— Meu» senhores.— Ha uma hora, rm 
um movimento de Irapaclcnel*. dc vio- 
lência, que a camara cnmprehcnderA c 
que otparo que mc perdoará, faltei ao 
reapdto e A defcrenrla que lhe devo. 
Vonho aprearntar-lhe a* minhas neusas, 
assim como ao Sr. presidente ; esporo quo 
a camara nSo m’»i recuse. achando- ve em 
faco de um anllgo collrga, quo durante 
dexcsetc anne» nunca mereceu uma cha- 
mada A ordem, nom unia obacrvnçiVo 
qualquer rnprehenslva, c que, auppoabo 
aouljo conquistar a aympatbia do grande 
numero dc seu» collegai. * 

Coneltuüo : a qocatào prévia foi votada 
por 33S voto» eonlra 39, havendo 167 cé- 
dulas cm branco. 

O preaideato propor, o adiamento do 
reato da ordem do dia para quinta-feira, 
c oa depntados ao diapervnram lenta- 
mente. em grupo» animado», eommcn- 
tando o Incidente cassuax consequcncln». 

Toda a gente desculpou o aclo do 
vtolcncia do ministro, jornnea mlnlste' 
riart, e meann do oppoaição. quo a cam- 
panha dc Injurias de Uochcforl contra o 
s:n Inimigo vqpeelor tem revoltado. Ma» 
o Journal du Mais aaslgnatou o aon- 
itmcnto do trlate/a o qoasl magoa com 
que so separou hontem n camara. 
sentimento que acr.i partilhado pela 
nnçlo Inteira. V. o Figaro. no artigo 
dc Era nela Magnard, dl* cousa» grave» 
para jornalista tio airudo o ponderado, 
folia cm culpas dc moeldndo que 
persignem certos homens pollilcos, cm- 
qnanfc nio aAo bem conhcdds». c qne 
mnls vale oclareoor logo, para que n ca- 
lumnia as nio exagere. 

Reflccte que oa inimigos politleos dos 
Cr. da Frevcinct. IUhol e Fnlllcre* nio 


Ik 

dfl 

CO 

Di 

Al 

Dr 

dc 

Ml 

1*1 

de 

li» 

vi 

dl 


De Paris (detalhe) 





936 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


La 


Je 


5 ° 


io. 


— Limito-me a lér u palavras pro- 
nuodadas pelo Sr. presidente dn câmara 
r/um» circunstancia recente, a proposito 
òo pedido de interpclIaçAodoSr.Hobbard. 
lobre a wparnfáo da Igreja o do Estado. 
Um dos nossos coUeges, lendo reclamado 
a questão prévio, o Sr. proiidento da ca- 
mara respoodeu-lho, o com rsilo n meu 
ver, pelas seguintes palavraa: -Eu pode- 
ria negar a palavra ao Sr. Dérouléde. por- 
que o regimento da catnara, estatuindo 
que as lotcrpcllaçôes sobre questões In- 
teriores não pôdero sor adiados a mais de 
um mez, consagra o direito pesaoal do 
[‘cada deputado a ser ouvido nos suas 
iolcrpelUções.» E o presidento aecres- 
centou que oppor a questão pròvia 
pedidos do intcrpollaçdo não seria 
uma garantia para a* mloorioi. Ora, 
eu venho associar-mc k s palavras do 
Sr. presidente da camarn, e pedir quo 
náo se prejudique o direito ú Intcr- 
pellaçio pela votação da questão pré- 
via. Que. de resto, o Sr. presidonte do 
conselho pódo se enganar, o croio que ro- 
alroento se engana, suppondo quo o Sr. 
Le Scnne tomará a palavra para lir ar- 
tigos Da tribuna. O nosso collcga tem n 
desenvolver uma theoria mais elevada, 
omn theoria do dignidade governa- 
mental. • 

Aqui houvo exclamações Irónicas c 
alguns protestos. Mas a cousa teria ílcado 
aUsso, se o orador tivesse sabido termi- 
nar ahi o sou discurso. Iníelunionto ollo 
qui7 sccentuar a nota e, antes de descer 
da tribuna, disse: 

—Náo reconhecer o direito do nosso pe- 
dido do tntcrpellaçilo, seria provar quo n 
c amara n&o hesito em sacriflear uma Uber- 
dade para proteger um membro do go- 
verno condemnado petnopiniio publica.* 

N‘csac instante, o Sr. Constau*. que, 
havia momentos, já «o mostrava enner- 
vado, levantoo-se bruscamonte c, repel- 
lindo o Sr. de Freycinot, que tonlou 
scgural-o polas abas da sobrecasaca, 
atravessou o hcmicyclo. Dous ou tres 
deputados e um continuo náo puderam 
deter a çarreira do ministro do Interior, 
qoc, agarrando o Sr. Laur pela golo arru- 
mou-lhe. uma bofetada á direita, um soeco 
á esquerda e dirom mesmo que um pon- 
tapé em certa parte.O boulanjista esbor- 
doado protestou contra aquella aggres- 
sio on lí- parlamentar. O bomicyclo en- 
chcu-se do lutadores: boulaugistas que 
descoram das suas alturas em soccorro do 
amigo, governistos que rodearam o mi- 
nistro, etc. Foi um péga gorai, que os 
questores da camarn o os continuoe c os 
própria* deputados ordeiros não puderam 
apaziguar era monos de cinco minutos. 
Um diceiouario atirado pelo Sr. Lc Scnne 
á cabeça do mlotstro foi quebrar n cara 
de urn grando deputado muito calmo, o 
Sr. Mir, que náo Unha nada com aquillo. 
O pobre bomem protestou, enxugando o 
sangue que lhe oorrta da testa ferida: 

— Qno nos lancem i cabeça os termos 
ssjos do dicc. r onario,aindA vá, mas o livro 
inteiro á demais... 

— ' Também por qoc i o senbor u n p nto 
de mira ? retpondcram-lhe. 

Quando a poeirada homérica da briga 
disslpou-sc, viram os deputados que o 
prcsidcnlo sc Unha coberto e suspendido 
a sessão, c as tribunas tinham sido cra- 
coadas. O ministro do interior, sentado 
no seu Jogar, recebia as felicitações dos 
amigos. Mas nos corredores c salões in- 
feriores do palack) a eflervcscencla con- 
tinuava. Um deputado meridional, homíra 
já velho, mas muito zangado, o Sr. Del 
peeh. mandou a fava uru coilega que 
vinha foliar lhe conto testemunha do Sr 
Caslelliii . a quem rile tinha esbnfc 


U.CJICCM3 «|Ut w» i — - 

Sr*, do Frcycínct, Illhot c Falllcre* nãoj 
pensara cm Invocar contra estes ministros, 
o que coincWcucias desagradáveis ou_ 
erros antigos permittem repelir contra o 
Sr. Constans e o sou collcga da» finanças. 
E concluo dizendo quo umci bofetada n5o 
esclarece uma situação, hnvenio tantos 
meios do esmagar cnliimnindorc*. que 
não Insinnara unicamente, quo lançam 
contra o até aqui Impassível ministro 
«cctiMçõcs formnos o precisa*. 

- O bom renome da França neba-se 
n’lsto interessado, concluc clle. c repito— 
n'um momento cm quo as biorarchias 
dcsapparccem. em que toda autorldado é 
batido om brecha, os ministros dc um 
grande palz devem poder aOlrmar, *em 
quo ningnom os desminta, que clles pra- 
ticam a política das milos limpa* -. 

O mot de la fin fc dito por Groselaudc 
uma cspccie do conselheiro Acacio bla- 
gucur. que doutrina no Oil Ma* : «* Não 
nos esqueçamos terminando, diz cllo 
senteoclosamente, que a intervenção das 
vias do ínclo nos debates parlamentares 
remonta á mais remoto antiguidade; as- 
sim náo diremos uma novidade referindo 
os mius tratnmonto* quo Thcmisloclcs 
recebeu do seu collega Eurybisdcs, ao 
qual. aliás, ello se contentou cm respon- 
der estos p*lavros.p>ojo históricas: -Bato; 
ma* escuto.* 

«E todavia o coitado do Lsur não ò 
senão um roolo Thcrolstoclcs ; batem-lhe 
e nfto o escutam. » 

Pariz. 20 de janeiro. 


GATUNOS E GATUN1CES 

Antonio Machado Itodrigne* da Silva 
queixou-to hnntom ao Dr. V delegado «lc 
que fura victima dc calunoe. que rouba- 
lam-lhe diversas joias, dous palclots e 
om dinheiro. 

— Mme. Maiihclin, proprietária dncasa 
de nensáo á rua dns Arcos ns. 0 o8, 
quoixou-se ao mesmo delegado de qno T. 
Caiuminc* lho furtara sei* cautelas dc 
COO debenturee d« estrada dc í«rro Geral. 

— A policia conseguiu deitar as unhas 
nos seguintes amigos do alheio : 

Eduaulo Mago, por ser Indigitado ootm 
membro de uma quadrilha de gatuno*. 

André Hios, por ter assaltado, para 
roubar, a Uaymundo Martins. 

João Aires Braga, por. «dTender phy- 
sicamontc a Augusto Barbosa. 

Domingos Gomes Rodrigue*. vulgo Do - 
minffot Português, vagabundo e ga- 
tuno conhecido, por ser encontrado com 
um relogio dc ouro, n. 4G.156, uma cor- 
rente c medalha do mesmo metal, tendo 
c«U a inicial A e 13 pedras brancas, não 
sabendo explicar a procedência dos mes- 
ra w objectos. 

Hontem foram investidos do titulo do 
pharmaceutico, na Knculdado do Medi- 
cina, os alumnos: Horocio de Rezende 
MdrcUcs. Adolpho Bandeira llodricues, 
Itamiro Kabello Teixeira, Isidoro da Gama 
o Amcrlco Baeta Neves. 


JURY 

2* SfSSÀO ORDtNAUA 

Sob a prtoidcncia do Sr. Dr. André I 
Cavalcante wm parece ram hontem à 1* 
scas .%0 preparatória 9 Srs. jurados. 

Foram mais sorteados os seguintes : 
Joaó Ferreira Hnto Bastos, Virgolino 
Nogueira Uma. José Luiz de Mattos. Pe- 
lagio Moadcs dc Mugalti&es. Elias Dias 
Novaes, Jorge Navlor, João Gonçalves do 
Nuscimento. Dr. Manuel da Silva Pereira, 
Ji.aiulm Veríssimo dc Si, Gralulino 
Vieira de Mello Coelho. Tlicotonio Fer- 
nandes da Costa Teixeira, Francisco Ro- 
drigues Monteiro. Jo5>» Uaymundo Gomes, 
Manuel Fernandes Ribí:ro Junior. Ma- 
nuel Jn*é Swre«. José Machado de Al- 
meida Juuior, Joio Gonçalves Rapozo, 
Dr. Alexandre RoJrigue* Barroso, Vi- 
cente Jovô de Paulo. Er nr»: o Maucclino 
!’lnlo, Antonio Ferreira f.^Jtnbo. Dr. 
Dimnzo de Atbuou-rquo Annrlio 

Pinta Leite. Dr. José Baptbts Amoroso | I 
t.lma. Augúrio Ce*ar dc Souza. Aí-m 


l^eaJo lo ardor da ÜKussão. A outra • Antonio do* Üaaijj t. a, Erac. 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 937 









938 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


CORBESPONDENCIàS 

DE PARIZ 

SrmuRto.— Doot MflUiurle»: a luIlhoUa» • t Mar* 
mIIi»i».- 0 umUticj Ik> 8*l«o. — lloiarío 
laarUvi : llaal Kr#rr, I>u«»yrl t, llrnrr d« K«cV 
—A csd«lrs de Mlelwltl.— Uio «laielro eisl- 
Uáo. 

N’csla semana, pnrtlcularmc ntc atraran- 
ciuU pelos aimrctiUl.il, como ac Ioda n 
gento llves*o ficado surda para tudo o 
que tiAo soja estourar do bombas homi- 
cida*, passaram-se dois centenários do» 
mal* «iiggestlvos para a ImoglnaçAo do-, 
poetas sclsmarentoj. 

No dia 2-1 foi o ccnlonarlo da J/urrr- 
Ihesa, o no dia 2T. o da guilhotina. NAo é 
que os doua centenários Iciiham sido Igual- 
mento festejadas. O da guilhotina Um* 
apenas a commenmraçAo de um artigo 
uoi jornae» bom Informados. 

Por um iTcUcs aprendi quo a guilhotina, 
applicoda |>olo primeira vez n'nma cxc- 
ctiçAu capital no dia 25 do abril do 17í>3f. 
nlto foi Invenção do Dr. (Julllotiu, c sim 
do Dr. I«oula, a quem a ussomblca consll* 
tilinto Incumbira de procurar • um modo 
do decapitação que nAo falhasse. rápido 
o acces.il vei » vlMa dc todo». » Isto por 
amor da humanidade c dos principio» de- 
mocrático», que estabeleciam a Igualdade 
para todos na pena do morte, até alli 
dlITercntc outro (Idalgoa o vlllCc» (foren 
para este*, cutcllo para aquelles), o a 
maior brandiu a na sua executo. 

D’onde so vò qua n guilhotina, machlim 
humanitária do cortar cabeças, qno o 
Dr. Gulllotln, relator do projecto perante 
n aasomblcn, apadrinhou para sempre, 
deriva da mesma fonlo do senlimeutos 
generosos que Inspirou u A Jarsclhesa. 

No entanto, n gos.»crÍA da nossa con- 
templação objcctiva das cousas não dít 
para quo nos tsUtsiomos dlanto da no- 
urc/a <lo sentimentos que representa a 
guilhotina, e dã para estremecermos dc 
enthusiasmo ouvindo a Marselhesa. Fra- 
quezas do espirito humano... 

Outra lncorrecção dc titulo esso dc Mar- 
selhtza dado ao canto de mia ra iln exer- 
cito Ho Jihtno, quo foi composto em 
Sirasburgu pon conselho do Dictrich. 
mairt d'essaclJade, n Kougct do Liste, 
capitão dc engenheiros, uma noito cm que 
jantavam juntos. O capitão, poeta c mu- 
sico, levou a sua cncominenda no dia 
seguinte á casa do DieMch. Uma das 
sobrinhas do maire acompanhou a can- 
ção ao plano. Quando P.ougel dc I.istc 
acabou dc cantar, todos sc precipitaram 
sobre eito aos beijos, soluçando. Estava 
meado o canto que so cantará cmquanto 
houver mundo e linguns musicaes. 

• Houvo festa por occasiàoda inauguração 
do monumento a Kcuget de Liste na 
pequena cldado do Clioisv-lc-Itoy, onde o 
nuclor da 3 lurselhesa rol fruir n’uma 
mansarda, que hoje se mtelra por di- 
nheiro aos Inglezcs viajante», os recursos 
que lho traziam á velhice solitário os 
mil o duzentos francos da pensão que a 
pairia reconhecida lhe nttribuiu como 
prémio pela sua obra immortal. Houve 
festa, bandeiras, cóitis estrondosos, dis- 
curso» de ministros. (Iluminações e ban- 
quetes. Lá ficou elln cm bronze, tmmovcl 
no seu pedestal glorioso. 

A guilhotina, essa anda por ah! dc pau 
e dr aço, laboriosa e anatem. I.evnnta-se de 
madrugada, quando solevanta*, e quando 
dorme, ha quem lhe respeite o torvo re- 
pouso. 

— E’ hoje o vermssatjc no Salon dns 
Campos Elyslos. A gente chega á porta, dã 
dez francos para entrar, cnlia, anda duss 
horas entre um apertão immcnso, por deze- 
nas de salas, ao longo de milharas dc telas, 
das qiincs não tem tempo para ver nem 
a vigésima parte, o volta para easa, can- 
sada, de peruas bambas, sem i oJcr re- 
sumir Impressões que nno scinm as que 
remitam da contemplação do um lin- 
menso esforço para um resultado me- 
díocre. 

A impressão primeira quo produz a 
grande exposição dn arte írniiccza. 6 que 
a arte francc/a deslocoti-su dn Franca 


e»»a decadrncU, sopprlmla-se com uma s 
bala. '< < 

Os guardas que sahlram em busca, , 
enconti aram o seu r.idavcr estendido sobro j 
a herva itoVft da pt unavera, com u cabeça 
rebentada por um Uro. i 

Ao lado calavam o rliapéu e o revdlvcr. 

A roseta de ofilcial da Legião de Honra, 
atirada, era oçmomala uma flor vcrraollm 
entra a venluia tenra do bosque. 

0 outro foi Kdganl I.o Sei ve, um es- 
crlptor do narrativas do viagens, um 
dtasts lettrados menores, quo so cxhau- 
rem para produzir pouco, o a quem acon- 
teço o mesmo que a« plantai humildes 
afagadas entre grandes arvores. 

Tinha quarenta o sete annos, o dons 
filhos. Sentia as stins faculdade» dimi- 
nuírem. 0 cclio do Uro quo matou Dit- 
wyrler rareee que ncon«clhou-o. «NAo 
queni calilr abaixo do mim mesmo*» es- 
creveu cite h um amiga. M foi suicidar-se 
com dons tiros na calrrçj, á juirla do cs- 
erlptorlo da Soclcdodu dos llomons de 
Lettras. 

Oueifmo engano multo, ou estea dou* 
caso* aâo bem significativos dn famosa 
unarchia mental, que os ppsltivlstni 
andam a nos mostrarem tudo, som que 
ii cs nos apergebamos d'c)la. Falta do 
espirito rollglov», da humildado cm Deus, 
ou n’outra cousa. . . 

Esse escrlptur do ‘livros de viagens, de 
recreação, que mata-se |>or não dccahir 
do seu genlo, ó um lamentoso exemplo do 
orgulho superior aos seutimciitos conser- 
vai! vos do homem. 

So são fruetns dos tempos , tristes 
tempos!... 

— Um cscrlptor multo lido no Elo de 
Janeiro em traduccbca portiiguczat, com 
Ifthographiai alliriantcs. quo sn agencias 
das livraria* do l.lshoa nos mandam, o 
filho do Paulo de Kock acaba do morrer. 

Ilemy de Kock começou n sua vldn de 
Icitrado escrvvoudo em um cartorlo. 
Depot» largou ns letlrns sérlna pelns bel- 
las-lettras, pela* lettras brcgviras mesmo, 
c publicou muitos romances, que torlnm 
tido mais successo, se nfto fosse n com- 
paração que se estabelecia fatalmentc 
entre os seus cscriptos o a obra paterna. 
Entretanto, nas suas memórias, Paulo do 
Knck conta que o filho não qulz ncccitnr 
a propostn quo lhe fizeram editores, dc 
tomar n protecção llttcraria do nal c 
continuar a sua Obra nssígiiumlo Paulo 
do Kock filbo. 0 rapaz qulz fazer uun 
própria. 

Fez. Ha livros d'cllcque são bem a gra- 
dáveis. La dame uu colher He perles, 
I.a chute d'm\ /; elit , Je mr turrai ile- 
tnaln, entre outros. Agora os outros 
livros que n gente vai ler com a tonçAo 
nu bandálheira, os tues Hvrps com litlio- 
giapliias porlugueza», esses não prestam 
p«ra nada. São pesados, tediosos o millosJ 
Supponho ntò quo a maior pnite dcllc* 
são feitas do canvgnç&o. cm LLboa mesmo. 

ilenry do Kock escreveu também mul- 
tas |>cçns do thealrn— La Maison Hn 
pont Notre-Da me, La vie en rose, I.e 
M ideei ii des volrurt, otc., cm collnbora- 
ç&ocoin os melhores fabricantes do tempo, 
Lêou Deauvallct, Tllèodcro Ü*irrla*e, 
Lambert Thiboust, Crisafulll o outros. 

Vciu a guerra, vieram os desgostos, n 
velhice. Ilemy de Kock rctirou-so para 
I.lmay, ao pò de Mantcs, e nhl consa- 
grou-se ao t^ato das suas arvores, do> 
seus cães o dos acus gatos, até o dia H 
de abril, que foi quando a morte veiu 
colhel-o, aos*!.') annos dc idade. 

— A antiga o i Ilustre cadeira dc historia 
c de moral no collcgio do França, vaga 
por morte do Alfrcd Maury, acaba de ser 
Mtpprimida. No sou locar creou-so uma 
cadeira dc ucographia histórica da França. 

Era uma snppressào indicada c pro- 
jccUda lm muitos annos, desdu que Mi- 
clielet. o seu mais illiistre titular, d‘clla 
desceu por nAo querer põr de necordo n 
sua palavra com as nccesaidudcs po- 
litii-as do momento. 

Os professores reunidos por ocessião da 
moi le (leMichelct não qulzcrum privar Al- 
frcd Maury d rasa siieccssão illiivtre. Ma» 
agora, londo de indicar ao miiiislrúo sou 
candidato, clles so aproveitaram da facul- 
dade do modificar os tilulos das cadeiras 
de que goza a congregação do CoiK*glo 
dc França, para recommeudarcm o br. 


De Paris (detalhe) 





DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


939 


A impressão primeira quo produz a 
grande exposição dn arte frnncoza. 6 que 
a arto írnnceza des!ocoti-su dn França 
paro o resto do mundo. 0 Salon d'c«tc 
anno está cheio de estrangeiros, discípu- 
los doa grande* mestre» frnnec/es.ou siin- 
plr«mcnte acompahliadorcs «la escoln. 
N'isso ganhf n frança em gloria o que 
perde cm encommemlas no» seus arllsln» . 

A concurrcncia alli cstátCmlVdPO Salon 
rios Artistas Francesas recebeu centenas 
dc obras assignndas por nomes. que nâo 
síio írnticrzcs. Ila7l americanos, -T> in- 
gle/tfs, 33 belgas, 10 allcmàes, e assim pnr 
diaiile até contar 5 lurcus ( Cum grande 
escandnlo do Bergorat). entro o» l.ífrl ex- 
positores quo se apicsonlum com 1.71-1 
pinturas. 

B o que entristece nrn pouco os pa- 
Iriolns, «'• qnu a» remessas dos otningei- 
rns mostram uma evidento superioridade 
sobro n massa das nbiM franccza*. 

Muitas silo verdadeiras revelações. Ao 
passo quo os grande» mextrea frnnce/es. 
jã sabidos c dormidos, imo npresenlnm 
nn«la dc imprevisto, fl oi se.ns discípulos 
continuam, como bons discípulos, abaixo, 
na inferioridade respeitosa. Põde-sc pre- 
ver o tempo cm que a grande escala de 
pintura frnncc/a perderá a suprcm-ici i 
que ba longos annos t;ão gloricsamente 
tem mantido. 

Não cube aqui um estudo do Salon. 
Apenas umaincnção do grande quadro do 
Ilcnjnrnin Constnul. Paris convirianrio o 
i nunrio às suas festas, uma soberba tola 
destinada ao moio do teclo da sala dns 
festas, no Hntcldo VlUe.eque valerá esto 
annoa medalhado honra ao seu auctor. 
Mais um grnmie e bello quadro dn Dctnlllc 
A sahiria ria guarnição dc 1/uningue, 
do um sentimento grandioso, de uma 
execução magistral, talvez n melhor obra 
do mestre. E o rctrnto do Rcnnn. por 
Bnnnat, o a Entraria de Lui: XI em 
Paris, por Tnttograin, o a Agonia de 
Carpeaux. por Mãignan, c a ^unuuc/u- 
çào e o Homem o a Fortuna, dc í.uc- 
Ollvior Merson, o os quadros syir.bolicos 
do Henri Martin, de que fallarci n'nm 
artigo especial, ao mesmo tempo quo 
tratar da esculptura francezu, irlunt- 
phante cm toda a linha c por longos 
nnnos ainda, deve-se esperar. 

Os estrangeiros novos careceriam do 
nmn lomruhsimn enumeração, ou, me- 
llior, dc um estudo. 

— Morreu Raul Frary, um publicista 
sòrio, do quem a gente que lõ livros, co- 
nhece os tros substanciaes volumes sobre 
a Qucstioil ria Latia, o Péril nationui e 
o Manuel riu riémagogue, em que o es- 
tudo de algumas das mais graves «iiiovlõcs 
«lo nosso tempo clerava-se acima da po- 
lilicfl. dos preconceitos o dos interesses 
dc toda a sorte. 

Os leitores de jornnes, esses se lembram 
«l«is seus artigos nu Kouuelle Revue, na 
F rance e no XIX Sicclr, clironicas de 
Pariz. artigos sobre po'Í!ÍCft exterior, 
sobre litteratura, phllosaphl», arto antiga, 
sclencias novas. Tinha a educação uni- 
versitária completa, o indispensável para 
scr um bom jornalista, quando mão ti- 
vesse «lo scr homem do Estado. Aos vinte 
nnnos. cm ISO’?, sabia elle da Escoln 
Normal, esso viveiro dc doutrinários, 
preparados para a conquista Intellcctunl 
do mundo. Mns cm vez de entrar logo na 
Inctn, levou multo tempo a formar o pulo. 
Quiz tomaras reformas sociaes do princi- 
pio, desde a educação; pretendeu reformar 
a alma cívica, para a pôr em guarda 
contra os perigos da demagogia, nssi- 
gnalando a inaterialidado degradante 
«la satisfação dos appetiles grosseiros da 
gente sem cultivo moral na dvilisaçáo 
moderna. Prooccupou no coma existenein 
«lo cidadão no liainem. E as qnost0?s de 
edncacão edn pedagogia inteiessavnm-lhc 
mais doqúons outros. Entendiaquo a Re- 
publica dcmocrntlca não podia continuar 
- no ensino publico as tradições dos regí- 
mons olignrcbicos c burguezes. 

Não leve tempo dc ver os resultados da 
sua propaganda. A sua morte c uma ver- 
dadeira perda para o grupo pouco nume- 
roso dos jornalistas «1c ideas, do» homens 
1 «lê caracter, que se consagram inteiros ã 
I defesa o sustcnla«;âo dc uma grande causa. 

> — Morreram por suicidlo. mataram -se, 

um imitando o outro, dois homens dc 
quem a chronica nâo fatiaria, se não fos- 
sem as cii cumslancins cspcciaes de agonia 
que os levaram a esse extremo. 

0 primeiro. Henri Duvcyfier, era um 
explorador celebre, presidente da Socie- 
dade dc Cícograpliia, indicador pratico, que 
desde lS59.nos vinto annos contados, nas 
suas excursões j»clo deserto argelino, re- 
conhecia caminhos para os oásis ccntincs 
c chegava ate El-Golsa, onde nunca 
pisara pé europeu; quo recebia cm 1300 
missão do governo frauccz para explorar 
o paiz dos Tuar« gs, o pelas suas relações 
i com os chefes cuja Itngua c costumes 
i conhecia, abriu caminho ás míssõc» po- 
I titicas que asseguraiam á França com- 
i muuicnçõcs com o Suilan central. 

Bm l«7ü o explorador africano sentlu-sc 
fatigado «le praticar c vclu estudar cm 
casa a gcographia th eo rica. Põde-sc di- 
) zer quo a fiicoria nâo lhe prestou. Ha 
i quatro dias Henri Duvcyricr escrevia a- 
commissarlo de policia de Sòrres iim. -1 
cart», cm que lhe dava pule da s> a r.» 

» solução tlc acabar com r. vida. torna-!: 
3 n uiti tormento dc«lo que pcicch. ra o « 
j I frarpirciniciito r.»pid«» «• progressivo «!.»' 
isuus faculdades intdlcctuncs. ParaiviLw 


«lailc «IO mOJIllcar os niuios uns caucirns 
dc que goza a congregnçáo do CoUcglo ■ 
«le França, para recom mondarem o Sr. 
Longnon, um professor dc gcographin 
histórica -nn- Escoln dos ‘Altos Estudos. 

E' que no Collegio de. França, nâo ha 
um prugrnnima do conjtfnctó: O proprio 
Ren.nn çlz que o Collcgio de França 6 o 
estabelecirnonlp.ds cusínòs niwlyttcos è 
minucioso*, para trkrismLlir p conheci- 
mento dos metbodiis «clenllflcos c formar 
sahioi, ao passo que ns Faculdades devem 
simplesmente trnusmiüir 6 di-posilo dos 
conhecimentos adquiridos, representando 
as tradições conservadoras d> ensino. 

Alli os quadros tem de variar segundo 
as necessidades do tempo e as cmlolma 
dc sc moditlcar para os seus tituhivs. 

A cadeira xuppriinhln agora tinha sido 
creada cm 17CÕ |>e!n fusão do duas— sim- 
ples difliculiluilc orçamentaria, quo por 
em modo sc resolvia, provisoriamente. 

O provisorio por motivo do economia nos 
orçainon tos dura para sempre. Esperava- 
so ped«*r separar dc novo as duas cadei- 
ras. mais tarde. U vieram os tempos ca- 
lamitosos do llm do século. Lcpols n im- 
pério Inslalluit na cadeira dc l.iAlorin e 
«le moral o venerável Daunou. «juu sc 
mostrou digno d’elln. Depois veiu Michc- 
let. c, pnr moita d 'este, Maury. 

Quando lho foram perguntar por nue 
era Mippiimida n cadeira dc Michcfel, 
Renan responden que era por não haver 
mais Mlcliclet». Em apparecendo algnnt, 
è sõ lr reclamar, que dâo-lhe essa ou ou- 
tra crcada cspccialmcntc, como sc creou 
para o Lailitc a da historia geral das 
scioncias. 

E ci eou-sc a caleira de geographla his- 
toriei dn França para dal-a no Sr. Lou- 
gnoii. que é um benemerito «In sc lenda. 

Aós vinto annos era um simples tn;a- 
teiro o Sr. Longnon, e foi nessa Idade que, 
atormentado pelo desejo do sabor, cLc 
entrou a trabalhar fora «lo oílicio para 
enriquecer a sua humanidade pensante. 
Aos tfõ annos entrava j ara a escola do-< 
Altos Estudo». .. como nlumno. Isto fot 
hn 23 annos. Hojo é professor cclobrc, 
membro do Instituto, e crea-so uma ca- 
deira para a sua especialidade uo Collegio 
do França. 

Exemplos d'cstes são um encorajamento 
para os safiatelros, que começam lendo 
a» proezas dos Dose pares de França c 
acabam... Inválidos, cambaios o embru- 
tcclilos. Porque não ha dc a bozina dc 
Rolando despertar cchos senão nas ima- 
ginações capazes!... 

DOMICIO da Gaua. 

Pariz, 30 do abril de 1392. 


De Paris (detalhe) 




940 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


CQBRESPONIinS 


DE PARU 

StHNthu. -0 ftnlnltíâ 

U Mllo.U Atoufclr» ié f*l- 

ton. - h**nuièt ro cluU.— *uo r»l •• 
riliK*.-K*Jí»rdo Uk. 

— 11a um» cpIJrml» do coigresv)»— 
Hki\ antisocial lita, proprleünoa o'ni- 
lio*, congro*» feminista.,. 

K’ o eoiigrvAíO foinlnlftiA o rnd» nirio». 
Rcunlu-so honUm pela pHrwr* vez n» 
mêhié de Halnt-Sulpko. lr*it»a-so a 
verificar o qua »o leni frito» aconcen- 
(rar oe esforço» |»la relvln^caç&o do» 
dlrelloa da mulher. For l»«o èfsmlnina. 
Feminino n&o aeria b.in proj i*o. «abldo 
eomo é a Impropriedade geral do* »<lJo- 
cllvoe. 

NA o to xnhlram pior do qi* quieaquar 
ohtrvx congressista» at oiadom d» praça 
do 8. Kiilpick). Tinham limitalo irnden- 
temente o tempo do cada dkurio a um 
quarto do hora do duraç&O. bulo falta- 
vam Codas ao Mmo tempo. Tthcx fotaa 
eomo UçAo aoo d»;mts(ks q«n> acha- 
vam prw.entes. |. 

PresWln à scss&o Mmo. MarfaDcreh- 
mea, a decana (parece exqulslio-dtawar 
uma mulher decana ; sfto Unia noto» 
da» novne Idéaa) dat luelat pelai relvln- 
dlcaçOra feministas. No acu dlsctrao de- 
clarou cila quo ha V4 anno*. dedo lWtf, 
lovantou a voz pela canta da erfcnclpa- 
cAo do aou sexo. Tambcm o» cabÃlo» que 
lhe appartccqi por baixo dc chajcotlnho 
preto do (Una verdet Já «At brancos. E 
todo o teu nr 6 do uma Ima vellia. Vra- 
tida do nrcto. com na mio* mimadas 
po«Ut touro a meia o um levo babiKfar 
do corpo, cila ngrsdcco \ nsslstcicla o 
acu concurso com um discurso luxuri- 
ando. elegante, correcto o cbc.o decousa» 
quo faiem pcnisr. 

Foliou entre outrsa do esbrço Os mu* 
llier para a confralomiiaço dos poro*, 
qu: n loantaidc uma declaraçtadr piai ra* 
aa m.Vea o at esposa* forem cuiti/ladai. 
Seria o congraçamento. ou enUi, u frater 
nidade peia defesa doa IniercaKUrfUoafi, 
de coracAo ou oulrot. o« exbfmo» dot 
moveis ua» acções humanas que ac tK*m< 
uma prova de que tudo leva a tud». um 
acervo de conarqucnrlas de iizia mtta- 
phyilca anta a, crri-;nda do ponta» e m- 
rtt, como uma coivára que mime da 
tloreata devastada d<»t prccui.c*IU4 anti- 
gos. E no entnnlo pela bocca de Maru 
IWjismes a gente tcntla que aquilo vi- 
i b i n&o do rgnirno aecoo. ma» Hoc wn»l 
mentos eternos do Jutliça c de aitor quo 
to enraizam no coraçào humano. • 

Houve muitos discursos,- da um quarto 
de horae de menos tempo. 'Ajguni eram 
aprendidos de còr, tlulinúi pbrasta com 
go»to de liòth o visavam .«a efWoa de 
pagina, n&o do auditorio. Ontivstcram 
composto» d la mfatne. sabiam md apa- 
rados embora, bem quente», do cfrnç&o 
das oradorai. Um» lime. l-oonla Rou- 
zade entre outras fc/-*e applandF pela 
quentura do aua convicção, pela cbquen- 
cia de aua oraçAo em que predi/ia avinda 
próxima da» cnmua idèave: pai entre o» 
poros, liberdade c pio para todos, o 
parair.o que ae espera nt terra. Ma* 
quem forneceu mais docuacutos In por- 
tantre foi Mmc. Aline Vaklte. uma 
miilher/inha loura, magrt, veslUa d*- 
ctaxenlo rUro e com um cliapóo ILoz 
guarnecido de rendM brancai. 

Depois de ILtai com uma vo i dar» c 
r»lma alguns dadov ratatiilcos iobro » 
numero croccnte da» mullk-m emprega 
dat na» fabricas e oillcina», stpllca-se a 
preferencia que Ibc* d&u os palrúrs d< 
eertas otUdnas em quo ae fabricam 
machfnaa que tém privilégios dc hven- 
çwp». i-ela maior reserva que a* mulheres 
guardam sobro o» «egredo da fabrka. 

Ninguém poiila esperar que fosve e*sc 
n motivo, lembrado* como todsa estamos 
de que ■ «segredo cm bocca de mulbcr, 
ete.»Maa v&o véraueé mcauwpor isso.. 
Os homens estua ficando desmoralbado» 
Ha um deputado que ae eompionctleu 
a submeller at resoluçbc» do Congresso 
ã apreciaçAo do partamonto. Núo temos 

ma»t do que esperar o tompo que ^ 

que fai tudo e‘ que tudo desfn*. ’ 

— Dc dynsmit* c do anarehblat jii 
pouco ae falia.-. II» jnnd* gente pre-s, ms» 
Jii è por facto» dc ,mct>or çravtd4do.\Dç 
vc/ eti) qu.in.io ainda aprece algumo 
'bomba perdida ou im-smo alguma explo- 
isào quebra aa vidraças das casas- lá pela 
^roviaçia ou no estrangeiro. Mas ja n 
úenta nilo preiU lUonçlo, tàiitti tem 
havido. E‘ como ae fosso msis ama revo- 
luç&o no Brasil. Sdos inlerei«süo« pres- 
tam altenc&n a rrv«i«as,*quifii\iu ■* 

repetem. 


n l»s*>.r preClio «pio »o diga quo orei 
&M.m, que J»tfA como t.m draesperado, 
tnn frequeniea fflovimmloa de Impecim- 
ria quando n&o llie eorrvui bem m caria». 
Nâo li» miiilu Umpo, a m«<uv do bacca- 
rat ellt» (tardia somais» âvultad»», n'uma 
Câlpma Urrivcl. Voltando-se um |Miico 
eilo descobriu 0 conde Lo &Jarula, que .dr 
p»’, por trai d'elle. a*a|aila á partida.— *J& 
lUorneadmliu esta caipora, disse-lhe o 
real Jogador, isngado. O senhor mo fa/ 
l»erdrr cada vci que »e itüú |»r trai d» 
minha cadeira.» Uo .^r. de l.«» Marols ro 
pllrou lik*. aorrindo:— ■ Kntietanlo eu n&o 
tfstava.atrax do aou throno, quando o te- 
ohor pi*nleu-o !- 

O outro ctcandalo foi oo cerete a o lado. 
no da rua Uola«y d'Anglat, um club 
Igiialmente rftervado o arUloorntlco- 
Dcacobrlu-ao que um dot membros do 
elub roubava ao Jogo e, examina la culta 
com mala cuidado a tqa identidade, vcrl- 
flcou-so que eilo n&o «ra aen&o um caia- 
Ihelro de Indualrla que linha tomado 
o uome illustre de um fidalgo nuo vire 
naa suas Urra», no melo dia da França. 

Oraça» a vise nome e A sua too 
apparencla tinha tido recebido honrosa- 
monte. Foi Ignomlnloiiimente expulso, v 
n&o Stfi-porquo o uio entregaram à po- 
lida. K ot ftadrlnhos foram obrlgarloe a 
dar a aua dcmlsn&u de mombros do elub. 
Isto porque o elub t uma sociedade limpa, 
qua n&o receia o eicandalo. Ili outros 
em quo m cousas parecidas com essa sc 
abafam, com medo do uma Invasio da 
policia. 

— O rei da Suod», Oscar lí, e«t& em 
França, em Menlon, deado honieut. J« 
foiam trocados entre tile e 0 presidente 
da Republica os lelegrammis corte/es da 
boa vinda. Prrparnin-se festaa na es- 
quadra do Mediterrâneo que foi l&o bem 
recebida por ette oioda no aono passado, 
em StocUolmo. 

Oscar 11 6 um rtl moderno, que fez n» 
tuas provas do bomem culto desde a pri- 
meira mocidade. Einquanto a re»pou»a- 
bl Idade do çororno nAn lho tolhln a II- 
lierdnde, publicou poesias premiadas peia 
Academia doStoekolmo, livro» apreciado» 
aohre historia, memurlu sobro arte mi- 
litar, ete. II» vinte anuos subiu ao throno. 
por morte dolrmáo Carlos XV, a 18 de Se- 
tembro do 187*, dt-acvndenlc do traidor 
Hernadolt, 6 um amigo da França. Ma* 
suppõe-so que nlo rirá Jogar nos elub*. 

— A noticia da nu-rte do Illustre com- 
lioiitor do Iloi (i li causou cm Pariz uma 
dolorosa surpresa. Depoi* do grande Co 
aar Franclc, orgulho da racou fraiima 
de musica, depois do gracioso Lfo Deli- 
be», rerJe a arte francc/a com Edouard 
Lalo um doa seus mais caros, mais foi t- a 


e podermos representante* . 

Dl. uard Lalo chegou a PaHz em 1&V> 
para estudar coroposicáo. Os seus prin« 
cipiut foram ardii«rS.'.Xs llçftcs de rnutica 
nua dava mal ihó chegavam p.m a viver. 
Tocava bom rabeeq. Fundou com oi'om- 
irps (Mar», JacquaJ-d e Türban) o celehrr 
quarietto, para o qual escreveu muitas 
cnmpulçOe*. lio elevadas de idtas, quáo 
dialinclas de factura. Entretanto, convo 
essa» obra» iô mui dillicilmente chegam 
n aprrciaçào do groxso publico. Lalo teve 
temro par» corrigiUia dctidsmenU, re- 
fundir ainda ruuilaa delia*. K’ um raro 
rxemplo de consciência artlatica qua n&o 
de»e ae deixar de lado. 

Ncsxa èjoca llgou-ae eile com George* 
üizet, que considerava-o como o seu me- 
Ihor compeaheiro de erma», com Saint 
Saèu», Msssenct. Fianck, RubinsUlt »• 
outrro nào menos famoso*. Bcrhoz, 
quem mostraiam uma cramle ouverluru 
de concerto qne Lalo acabava dc escrevor. 
•pmion a Unto que mnodou ao Jovrn 
ciun^oailura» suas |urtllurasde preveulc, 
com uma dedicatória por cima. 

Tur cima ou dentro, multo suspiclos» e 
admirativa. Foi (alves ma dedicatória o 
qu-j determinou a ereaçào do Hoi tCJt, 
uma xaropada -lo dormideiras, seja dito 
entre parciilbcsis. 

D. G 

Pari», 14 do maio de 189?. 


Exercito 

0 M per ter <!• 11» A f* ira ^io Ujt i 0 eaplUo 
Fnndieo Mt*in J« Mor»e*. 

.- O «Rkul <hd»M qasrtel {«ptral 4 o f* U 
•*•)« Jo«4 l^ll Dium. 

-ü»" f.-(iu.«U> 0< catàllari* dará o. oBrU 
fãn roàiU* 4» ti»IU. . . 

- 0 Ti* bfiallu vi d» ,(«ho<»rU d»ri p» |uw4»i 

•tó inlario Itaaamt*. ç»in 4a iw 

Ml d* 4unr». "o J(r'»»' ■»« calr\ da r»or-l3 e hot 
piul «eatrsi t o « » a* Oa-CMceM* • Uiektr* e» 

OMBl. s • ... I. • • * .1 

. — 0 tO’ h»lalhia 4» latnsUria Cari a* palra 
IUa» • *r«f ><•* Mlraordiiuria*. 

— ApraralM.tC 1 r«*|a/ln;io deajo-lantC 

o ile rsrpo tk dUito-wilor iV I* c:a»w 

IimmIii Tvki r.iuM* nivl* An U.ivdiU 


repetem. 

Dua» da* victlmas da exploxio do rc «• 
Uurante Vcry já estáo enterradas: o typu 
graplio llamuno e o proprlo Véry, que *• 
enterrou lionle.u com grande aconipunha- 
mento, discurso» do presidente do conse- 
lho do ministros, do presidente do con- 
xclho municipal, muita» lionraa para a 
carniça do nobre bodcgucíro evlraçalhadu 
leloa inimigos da aoeícdatlr actu.il. E 
Ixrachol là tW levado |wra Utnlbrlaaou 
a rc-|»ondor pel» aWualMtA do ermitn 
de Chombles. Agora ê natural que lln 
cortem o |«c#cnço. 

A liga anii-nnarchUt» rssa oáo dá 
vígiiae» de vida. Ainda bem... 

— O Iciláo do» quadro» c de«cnhos qnr 
formavam a gulena Artlatica dc Alcxandn- 
Dumas terminou honleiii, no Hotel DrouuL. 
Durou dois dia» e rendeu 530.000 francos. 

Os quadros vendei am-su relAlivamcnti 
barato. Apenas um Car.it, lançado a 3.000 
franco», subiu alè 40.000. Os Metxsonkr, 
caros como do costume, nfto fl/eraa nin- 
guém fazer loucura*. O niaior ao eai*a/- 
cit, vendido por 60.000 francus, tá *alui 
debaixo do braço do coiupiadur, eoim> 
b ma Lotu qualquer que um amador, kvs 
l>ara casa por causa da molduru. 

Dou* desenhos do mésinò mestre fwam 
l*agos por tic/e mil e lautos francos. Em 
Compeusaç&o houve Troyon que se vcedeii 
a quntroccntro? franco». Aa naturezas mor- 
Ias da VoIíob venderam -se caro, a ietc. 
oito. onze mil francoa. O melhor quidro 
de Tusaaert, A TttUaçAo dc Stmo Hilá- 
rio rendeu apena» 1 1 .000 francos. Os Cen- 
tauros, de FromeoUii, uma jula, rendeu 
17. 500, ao passo que um qtudio moderno, 
uma figura de mulher mia, de Leíeborc. 
clicgou a 85.600. E‘ verdade que umn 
puT.urinha dc Trudlion; Aniiuta, do ta- 
manlio da um cart&o do visita, foi ven- 
dida por 7.100 francoa. 

Dizem que Duma» fez comprar multo* 
quoJros.que súalli tinham mandado para 
náo npieaentar ao publico uma coliccçào 
dvs p mrrlhado. 

— No üalon doa Campos Elyseus appa- 
receu arranhailo a canni vete um quadrinho 
de Vibert ropcvsentaudo Um medico 
doente. U dnmno ò f»cll do reparares 
perda para a arte náoseria grande, mesmo 
que a dcslruiçáo fosse total, em vexdr 
limitar-sc á cora do doente. Entretanto 
fcz-sc escândalo em toruo do pequeno in- 
cidente, porque vlu-sc n‘isw n ra&o de 
algum pintor cuja obra tenha lido 
lecuanda nelo jury dc admtsao, de qne 
Vibort fa/ln parta. Eo» membro» do jury 
undam .igorn reccinaos pela» »uos obras. 

S e sessenta guardas repartidos pelas 
/enas de salas da immcuta exposiç&o 
n&o bastam para guardar. 

Se vamos entrar no recimea das vin- 
ganças contra grupos, depois dos vín 
ganças còntra classes... A desordem 
moral, assignalada nas camadas iufe 
riore» da sociedade pelus violência» do» 
anarchista», »o estendera até as profls- 
»flc» liberaes, que náo educam msis o 
homem amen*and«-lhc o coração ao tracto 
das bcllas causa» t 8áo apprebensbes só 
rias demais paru t&o pequeno assumpto 
Aquillo n&o foi senão octo de enner- 
vamento de algum vlsitauta do Solon, re- 
voltado contra a seceiirn e mesquinhez de 
tanta pintura protenciosa e preciosa que 
ha por lá. Cabio lhe o Vibert n talho de 
cannivcte e clle executou- o. Sc cm vez 
disso, o bomem pegasse n‘uma fouco o in- 
vestisse contra certas grandes telas ouc 
l& enchem dezena» de metros quadrados 
da exposiçáo. nfto prestaria pequeno acr- 
viço, mesmo aos pintores que as burra ram 
e que se v&o persuadindo de que aquillo 
valo alguma cousa. 

Sem sahir do Sa/on, urna noticia para 

a ue.n tiver dc passar som vel-o este anuo. 

ra particular, que oeculta o noftie, 
comprou para fazer d’elle nresento ao 
Estado o grande quadro dc DiLillle, que 
representa a RcnuiçAo de Huningue. O 
quadro irá em agosto para o museu de 
Luxemburgo e dez annos depois da morte 
do pintor entrará para o Louvre. Tacs 
aib as condiçOes do olTertaotc. quo, dizem, 
faz esse mimo um pouco obstruente ao 
Estado para cumprir um voto feito por 
occn«iâode molntiado uma filha querida. 

Essa intempcvtira d<-«locaç&o d» reli- 
giosidade faz hoje multa gente desejar 
longos annos dc vida e saude ao pintar 
Dctaillc, para qoe 0 seu quadro o&o icjx 
chamado tio codo a ir vl/inbur no Louvre 
com &s leias do* mestres inunortael. 

— Dous etcandalo» em clubs. No dx 
rua Royale uma briga entre 0 rol dc 
Milão da SerxU o o barão do Veaiiccs, 
quo sc admiro-i do mais da veia do seu 
parceiro ao jogo. O esquentado ex-sobc- 
r.n.o mandou os ae* s padrluhos ao joveu 
clab-mari. que reconheceu plenamentc a 
iucorrecç&o do «u procedimento e xpre- 
s í.fiv: s* «naa cvriisos. A cousa t cai 


M 


941 


De Paris (detalhe) 


942 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Amo XV LU 


Rio do Janeiro — Terca-foira 14 do Junho d© 1993 

N. U'fj 

— — 

IUMNM 

GAZETA DE NOTICIAS 

:...:' ..;:« *S 

!| NUMtiie 

* WUISO <0 st 

Sleroolypftda • 

ImprcaM MNMok(M*rM*tivâadoUBriso»i, m tjrpofrmpklaii* ■USINO AVI/lSO 

woU<U(k Moajrna « Gazeta de Noticias > » -*— • ■■*■ ■ «*» «Ti^. • u 

<0 RL 

Tn;« 40000 

EXPEDIENTE 

s^asvssj 

fSSíÊil^?- 

I^ruri-srs^ 

r? - 


COBBSSPOXCEICIAS 

ou r Aniz 

W 

Cansas do dis 



=— í^JliSr. 

pR-r 

IÍ£=H.^i=S 

feíntisM 



g^SÍSríi 

I«É!v£kÊI 

5H~~rgH 

=HpE^:ld 


-'EEESrú: 

"j * py. * V ''J, j'j*2 

r:.- - =rt m 


SipSS 



M ia IIVH-la . nli.. 

—f—irvr 

— *> — -— 5 ? 

vrHrcrr— i 


5f£rtr ri^-s 

ir.Tiysr%í;r?TSÍ 


CTAOO OlikMàL 

rJrrSHrrisü 

EEEEtEs ■ 

" •' A ‘m 1“ . u. 


lí|||pN 

* 1 ' * 

mm 


r. ,: " £ ■;■ S5S “ 

jJS£^£.J.ia 

r :::-ÍAã-.EA" 

’"T2'Pi ‘T** - **. V-" 


É5=Ü|||irÍ 

■ lt 

E||í~g™ 

SSeSH* 

“ " *T ' '_ r A 

Bcletim FarlamcnUr 



^5AS£X-A= 

P^-r^ 

OESPitHIS omciiís 

".*!*/ ~V J- 

— ; - 

Wí WMÊrZZ 




. JlV? fíjyy^r 

ISpl 

Srrj^StjS 


•.CAC: 


■Slf.SSrTX 



s^~* , r rc.vj , .*írL^r 

EE-EsHH 




ê^fgsíir 


pstarzsrrz 

Chronica do dia 


sEEEIfrSr 

FOLHETIM « 



j^uztr irt ^L3T“ 



p* *r*r.» “ •^•*r £ 

7 — -r~“i=r 

(BitiO DE BFCRE 



— 

1 N10USUCA AROCMTlNA 

fp=v=?=|l 

lisi-ssírà: 

jx^rrrrvr*- 







rr ■— »— A-»**» - 



EtsHSi 5 

*— - 



WsÊÊZÊÊ: 


EE-EEHE 



| itíh; 


1 7*** - - p 


tSSãSrsnnr 




BtóMr.ffli*» 


ngr^f=sL 7 r — .. 



^rzrr£T=E 

, : . XiEeHE 

iJSrr.is^vr: 

pSsrÊSSS 

ürírr^r: 


EXPOSIÇÃO Ct CHICAGO 

-S5-‘ 










De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 165, p. 1, 14 jun. 1892. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


943 


j CORRESPIBEliCIAS 

; DB PARIZ 

’ — A poluir»,— Um ronirs initn.— A fiou 

’ 0(1 M pnlK*» COfíPCcWMl — A «iim^kío csnt- 

ns.— AlèiU ü»i,1iu« Piípclu».— Sa* 

UiduS),— a rwUecçAo Da«pla*.-0 tropo. 

* At camarai rolUram dit féria* moilo 
| nmnm c preguiçosas. As InterpclIaçOes 
) nnaimclariis nem sequer prometiam sei- 
> escandalosas. 0 gororno moilo do Sr. Lou- 
1 bit pareço sullictente a esta gente can- 

* sada do derruhar governos. A França 

* pareço entrar no período do quo nâs ss- 

* hl mos, para oceupar-so paciilcaroonlo dc 
: produzir e de gozar como um burguez 
’ quo io sente guardado pela Icl. 

. lia bom uns jornaos quo gritam o re- 
clamam. mas 6 quasl sem convlcçdo. A 

* Libiv Parole, dó Edouard Drumont, Jã 
i tom um mcz de existência o apenas conta 
) um proccMO do sou activo do escândalos. 

Os Judeus nio lhe «dão confiança», corno 
se diz em língua do meninn do collcglo. 

E Wilson, o ox-geuro da presidência 
J Grèvy, faz-so eleger malre deLoches, cra- 
o quanto não i deputad •- 

—O acontecimento de sensação da sa- 
'* maoa foi o qoadniplo duello que teve 
» logar ante-bontem às «O» horas da manhã 

0 entre um electrlcfsta do nomo Roulez c 
“ quatro moços assignantos da Opera, lato 

1 è, mundanos conhecidos nas boas rodas 
parlzlenrcs. 

* Roulez, que, sem ser rico, tem as suas 
entradas noa bastidores da Opera, estava 
oa noite da 1* representação de 5 a- 

L fammM conversando com umadanaartna, j 
o quaedo os Sr*. Leclerc, Dumoullnc Blon 
dcl, passando, entenderem apostrophal-o 
cm termos Inconvenientes. Segula-ae 
uma altercação, troca de bengaladas c 
do cartues do vUlta. Na roanhd seguinte. 
J ia 9 Uora», Roulez, os acus adversários e 
b- ss testemunhas cnconlravam-so atra/ 
>- das tribunas do campo do corridas de 
i® Longchamps. 

j O dncllo começou com o Sr. Blonde), 
quo logo no primeiro recontro recebeu 
em pleno peito uma estocada, qno lhe 
Jj atravessou o aplce do pulmão direito. 
Logo em seguida, cruzadas as armas 
com o Sr. Dumoulin, teve calo o aute- 
U braço e o bíceps atravessados pela espada 
de Roulez, que ainda chegou a tocar-lhe o 
peito. 

J Cada um d'estea duello* pouco maia do 
® doua minutes durou, 
lo O torce Iro adversário de Roulez con- 
ic seguiu prolongar o duello duranto um 
ro quarto de hora, rompendo sempre, do 
espada estendida. Maa Roulez conseguiu 
oncostal-o a uma arvore e, obrigando-o a 
partir a fundo, fez-lhe no rosto uma dolo- 
!J /osa ferida. 

to O duello parecia terminado, mas nesse 
l« momento o Sr. Avlraguct, testemunha de 
jj Uloudcl, provocou o batalhador, ameaçan- 
do-o do eabofetcal-o, ac nio cruzassem 
armas aUl mesmo. Roulez acceitou, Ji 
cançado e zangado. 

No primeiro encontro Avlraguct foi fe- 
rido gravsmento no pescoço, ao pè da 
?a orelha. 

f Então o vencedor, virando-se para as 
'q outros testemunhas, perguntou de quem 
a, era a vez, que estava pronpto. E nio ro- 
ccbondo resposta, atirou fóra a espada. 

Mais de clncoenta pessoas, passelantes 
matinaes do Bosque, • entro cilas muitas 
i- amazonas que se tinham apelado do ca- 
j° vallo, assistiam ao combato e applaudi- 
a ram cnttiusioaticamcnte o voncedor dos 
tc quatro duolioe, quo uào duraram mala de 
lo quarenta minutos. 

Roulez 6 um homem de clncoenta e oito 


.m ■ 

o do duque de Or.immont por SS ele* 
escolhlJo* entre os mais perfeitos cxenH 
plareA de raças e cruzamentos anglo- 
vendeanos o poltevlno* ; a do mnrques 
do Leiitilhac por VI mcsllçoa pjltevlnos o 
salntangense* ; a «lo marquez do Talho* 
nl l t, por 30 mestiço* ; a do condo Ro» 
land dWrbourae, a do vtscsnds «le Mon* 
traulnln, do lloger da la Borde, «lo Mtnans 
do Corrr. e dezenas do outros llhislrva vea- 
dores do França, com *5, 30, Vt) cica, cul- 
dadosaraeute escolhidos para a capoidçlo 
annual, n que atò pintores eesculptores 
rspcelallst» concorrem. 

Na semana próxima vra o cmoirso 
do cies de senhoras, aprcseuUdus p.das 
donas cm pessoa. Os premios serio mala 
para as senhora* do quo para os cAesi» 
nlios... v ' , 

— l’m «tos ckH piores cujo nome mais 
freq«tc:itenicnto op|*ttcc no rodzpè dos 
joriues, asalgnando os romsnces-folhetlas 
do sensação, Alexlt Bouvier, acaba de 
morrer. 

Tinha rotncçaio a morrer lia doua 
annos, quando, em agosto do lsS8, um ata- 
que de paralela veiu tirar-lhe a memória 
e a força o oa meios do rrnllsar qualquer 
sorte do trabalho. Desde então estava 
enterrado vivo, na mUcria cada vez mais 
urgente. Supplanlndo na reproducção do 
romance-folhetim por outros eoncurrcn* 
tos mais actlvos. Alcali Bouvicr foi vi- 
vendo quasl unicamente do trabalho da 
mnlhrr, quo fazia chapéus. • 

Uns amigo* quo lhe flcariiq d«»t tempos 
felizes em que ello presidia aos jovlaos 
repastos da Koyot, coração c bolsa abertos 
aos necessitados, arranjaram em fevereiro 
um lcllio de quadros cm beneficio d'olio, 
quadros olferecidos pelos pintores uns, o 
tirados outros «lo modesto entresol qus 
cllc babitavr,e onde restavam como leto- 
brança Jos tempos mclhurcs. Rendeu doas 
mil francos o leilão ; apenas o necessário 
para matar algumas dividas mais azedss. 

E sem falia, estendido n'uaa coma de 
pobre, com s sua larga e pesada mascara 
do bomem beijado, cm quem a inlclligencla 
dorme, foi morrendo aos poucos Alcils 
Bouvier, o anctor de I:e, Lolotte \ C., 
de Mixriamt Olympe, da liclU C níU, do 
Fíts tfAntony. do SJariatjt d un forçút, 
o de tantos romancea e peças de theatro 
que fl/ersm barulho, que pelo mooos 
fizeram estremecer os operários de coja 
classe elle sablra. 

Bouvier era filho de operários e soa 
ofllcio era o de cinzelador dc bronze. Fot 
nas sua* horas vagas quo ello ac esforçou 
por completar s sua oduesÇio primaria 
insnfflciente. Tinha veia e imaginaçlo. 
Escreveu cançuei e operetas para come- 
çar. Depois ensaiou -se nos romances po- 
pulares o n*dles foi tfto bem succ«siidOs 
que o trabalho excessivo e desordenado, 
sustentado largos annos, sem repouso» 
acabou por mntal-o antes do tempo, antee 
da fortuna vir. 

Alcxis Bouvier lioha K annox. 

— lira artiata de uma iierrgrina cul- 
tura de espirito, Claudlns ropelin, mor- 
reu ao mesmo tcmj»o que Bouvier. A dlf- 
ferençn da cclebrálade de cada um «1‘elles 
estava rcspcctlramentc dependente da 
afinação do Bouvior pera a massa, de 
Popelln para o grupo aristocrático doa 
amadores de bcllas cousas. 

Popolin nasceu cm 1S25 o foi alumno 
de hry üchcfTcr . D'ahl a sus primeira 
proditceçio de assumptos bistoricos para 
os quadros com que figurou nos satoos 
de 1S52 a ISrV?. Dant* Untio as suas poe- 
sias a Giotto, Calvino prégando diante 
da duque: a de Ferrara, llermonytna de 
Sjxirta ensinando grego a Guilherme 
Dudi e outros, eram quadros concebidos 
no gosto cotio dominante da pintura his- 


De Paris (detalhe) 




944 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


ccbendo resposta, atirou fóra a espada. 

Mais de clneoenta pessoas, passeiantes 
matinaea do Bosque, • entre cilas muitas 
amazonas que se tinham apeiado do ca* 
rallo, assistiam ao combale e applaudi* 
ram enthusiasticamcnte o vencedor dos 
quatro duclloe, que uâo duraram maia de 
quarenta minutos. 

Roulez 6 um homem de cincoenta e oito 
aanos, ofliclal da Lcgiio de Honra por 
prémio das suas Invenções. E a comprido, 
magixv o forto como se fosse de aço. Tora 
trinta anoos de sala d’arm*s. E' ura ho- 
mem manso o estudioso, lançado de re- 
ponte a uma celebridade especial por ura 
acontecimento de que nâo ha exemplo 
nos fastos do duetlo,desde o começo d'eate 
século, quando em 1803 um prevót de re- 
gimento no exercito de occapaçáo da Hes- 
panha estendeu no campo treze outros 
collegas de regimentos ri voes. 

A justiça intermu na caso presente. 
Mas n&o 6 provável que as penas passem 
do multas, distribuídas pelos combatentes 
c suas testemunhas. 

O procedimento incorrecto da testemu- 
nha Ariraguet é mesmo escusarei pelo 
-extraordinário do caso e attenuado pela 
bravura do homem, que desafia o vencedor 
dos seus Ires amigos estendidos no campo. 

E* ura facto para (Ilustrar os annacs da 
espada. 

— A Rosa -f* Cruz veio hontem á barra 
do tribunal dc policia corrcccional. Foi 
por Injuriai proferidas na saráu dc 5 dc 
abrfl passado por Guy do la Garco, con- 
sultor cslbetico da Ordem, contra Anto- 
nio do La Rochefoucauld, archonto; in- 
jurias menos biblicas do que as do voca- 
bulário vulgar e que o archonto entendeu 
dever fazer punir pelo braço secular da 
justiça. 

O Sar Pchditn compareceu cm pessoa 
como tcatcmnnha. No tribunal, a sua 
cabollelra negra cm fdrtna de turbante, 
a sua roupa estbetlca eos amuletos sobre 

0 peito Qzcram sensação. 

Interrogado, olle expox magístrslmente 

o Hm da sua obra c as razões que o de- 
terminaram a tcparar-ie do areboote 
Antonio dc La Rochefoucauld. 

• Crcandoa Rcsa-f-Cruz, disse elle, eu 
quiz restaurar nas manifestações cslhe- 
licaso ideal. Quiz tornar ao ideal ca- 
tholico, myslico, o sobretudo ao tradicio- 
nalismo bermetico. E para isso fundei a 
Rosa-f-Crui do Templo. 

— De que o senhor 6 o p->atlilce... in- 
terrompeu o presidente do tribunal. 

— Dircctor, para fallar lingua moderna, 
replicou o Sar, cheio de condescendência. 
Quiz protestar contra o que resta doa 
Courbcts, dos Maneis e dos Zolas, voltar 
omftm á allegoria.- 

O consultor cslbetico, um moço fino e 
elegante, sentado no banco dos accusados 
livros, não tirou os olhos da imagem do 
Chrlsto ao funda da sala. to<h o tempo 
que durou a audiência. O que não impe- 
diu que fosso condem nado a ‘.*0 francos 
do multa o um franco do prejuízos, per- 
das o (iam nos, reclamados polo vingativo 
orchoote. 

O presidente do tribunal, desnort ado. 
não sabia so devia rir ou lon-sr aqnillo 
ao <rto. Nunca vira comedia tão grave. 

— A exposição canina, que todos os 
f innoj w faz tw terraço d«s Tulherias c 

• ns * 510 a que se guardam as laran- 
I melras na Invomo. es! A aberta desde lion- 
hem. Quem passa pela praça da Cone r 

' dia o » ao Iv». * cíj », Uca azoinado com ( 
J os latidos de cerca tíc mil cies aili prv>; < | 

1 para o concurso. As » atilhos n.nu c 

• 


ue nrjr ^wimcr. u am a sua pi iiucua 

predilecção de assumptos bistorícos para 
os quadros com que figurou nos aaloos 
de 1852 a 1 SB2 . Dante lendo as suas poe- 
sias a GioUOt Ca Urino prigando dian té 
da duquesa de Ferrara, Uermonyma dê 
Sjraria ensinando grego a Guilherme 
Iludi e outros, eram quadros concebidos 
no gosto cotio dominante da pintura his- 
torie», temperada com um pouco do sal 
das anccdotis. 

Mas o ccunculo de escri piores e ariúias 
que a princeza MathihJe tioha reunido era 
Orno dc si, influiu aobre o pintor dc his- 
toria, que laigou o cavallclc pelo 'orno da 
esmaltador. 

Na pintara a esmalte, elle fez-se um 
mostra sem rival, e a ponto de renosar a 
moda d'cssc gcncro dartecahldo no esque* 
cimento. Os seu* esmaltes de Julio César, 
de Pico de Mirandola, da Verdatle , da 
ttenri de ilortemart e os seus Intbxüu* 
sobre a Arte de esmalte e As velhas ar- 
fes do fbgo attrahlraai-lbc a estima geral 
e deram-lhe uma poaiçào culrainanto no 
mundo ortialico e liilerarlo. 

Popelin era um erudito: traduzia obraa 
italianas de esthctiea coai um perfeito 
conhecimento do espirito da Renascença. 
O seu prefacio da Ifypnerotomachla, do 
Francisco Columna, fez sensação no 
mundo doa letrados. E, Unaimente, doua 
volumes de sonetos, UlustraJos com gra- 
vuras em madeira, feitas por elle proprio, 
sagraram-n’o poets. 

Claudlua Popelin deixa um filho, Gus- 
tavo Popelin, que c um bom pintor. 

— Na Opera representou -se a 5a- 
lammbó, de Roycr, com immenso suc- 
cesso, o maior da estação. Só se falia, 
nas rodas musicacs, de Mllo. Caron o da 
Saleza, cantores do provinda, cslrollaa 
hoje docèo pariziense. 

E dos sccnaríos fallaso muito, diseu- 
tcm-ic multo os sccnarios. Da musica 
falla-se monos. Dizem que ò muito bem 
feita e bonita. 

Do Flaubert 6 que não se fnlia nada. 
Ainda bem . 

— Continuam os IcIMes dc coitccçOes 
artísticas. A do coado Daupiss, do Lisboa, 
foi vendida em doía dias, e rendeu um 
milbio duzentos e trinta e quatro mil 
franeos, apezar doa preços relativamentd 
baixos por qne foram rendidos alguns 
quadros. 

Houve quadros dc cem mil francos e 
bouve do trcicntos francos, grandes qua 1 - 
dros dc mestres modernos. Foi um tíie- 
souro lançado ao mar, aos punhados da 
ouro cm tela. 

— E az sol, com um vento fórta de 
oèslf, quo varro os múus cheiros da ci- 
dade, c, dobrando as folhas das arvores, 
faz parecer mais clara a verdura, mais 
lumlsoáo o dia. 

Do voz em quando, passam nuvens 
brancas, aos grandes flocos, por dUuto do 
sol .lia tanto movimento no ar como cá 
: or baixo, pelas ruas e nos peitos can» 
çados. O movimento do ar c mais serena 
c constante. Não ha resut-ncius nem 
agonias. Quem p6do pens.tr em anarchia 
no «paço? 

Parir, 20 do maio. 

D. G. 

Os Sri. J. ào dc Almeida Carvalho, -Josè 
ia Ml. a iLiiao* Arocc», Galdina J.»rô 
Jt i • licalln Mártir, z e Vkc-nte 
í’ r- da C;sia Paranbo , ac.vjnLüi 

( : :• itibia Spurtiva Lusitana, u ,s;- 

• i . • Sr. Pr. 1* dei . nio >le 

, • . :.lif I 

• - * ..ii 

", . : > 
•- 

lir ‘isasn r i.u.oiudi*'— I--- 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


945 



Oomingo itf fle Junho do 18£g 


C0EHESP0MCE5CUS 


AVISOS 


Chronica do dia 


PltUCiCM l MHH 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 170, p. 2, 19 jun. 1892 




" £ 3 ?Ç?s? ? 3 ? ? g * õ -j y y y 5 s ^ » t — yiõs-ãõ st 


946 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



CORRESPONDÊNCIAS c 


DE PARIZ J 

itaio. -NiiU m Mítica — Oi IUo*#». PJ 
r«»«« IW.iitm • lUfwMKi - l'»td UM»s» • |»« 


ftntSAOio -KiiU m MiUca — 0« IMm. •* 

0« r*t<« Ukirwi • IPf-iw.l - 1'aal UM«al » I" 
Mi4i«r ii« - U frrt» | *•**«. « 

ft 

A* festas qus Nsnc.v. prepara para re- ,|> 
cHjr r o pocaldentr <l.% Itopubllc» Irritaram n 
a Imprensa nlleisA. quo viu unta injjiria f, 
ni exrlusáo <Ls unlvordados «la Allcuia- ci 
ilha do convite frito pola mocidade M» p 
colar de Nanry, aos corpos iinlvrroftarlo* 
doa pal/es eslrangclroa. PclDinoiilc ua »< 
roíiaaa não passaram do desaforos entre |j 
jorna 1 1 at ai, c tudo acabou em santa paz. C 
A diplomacia nHo teve que nwxcr-se. n 
— O quadruplo dtirllo do Sr. Rnulot A 
«slthi uma encandnlosn mentira. Coníes- 
fe*aou-o eito proprlo «'uma carta Ulrl- 
gldai ao JV/npe, quo foi o primeiro a • 
suspelUr do .extraordinário eaao. Como 
jurnal serio o Temju maudoti Inquirir ua » 
Opera das drcumatandai da briqa no ( 
foyorc da dama, da pertnnalldade do* 
m-jcorducllhitqi, cl* ilanuHna porqupm 
se deu a briga. dc. 15 ninguém sabia de 
nada. nem a dantarina 'Indicada, que na r 
Ul noite da |irlmelia da ün/ammüii nio c 
Liuha vindo ao lheatro, nem hnrla a» i 
aigwuitca da Opera com oa nomo* doJoa c 
ikIo Roulez. I 

Rate allegmi a nreelpJtaçiodo encontra | 
como cirnaa de Ignorar a« morada* do* c 
advarsarioa, do quem nno teve mala no- i 
ticiaa. Ttatemunhns tombem nftoapparo- c 
dwii: tl iiliam sido Alugada* na rua a um 
lula por cabeça I dlaao cllo. Bata pasmou 
leviandade de um homem entendido cm 
maioria dc esgrima o de ducllo reunida a 
quImrAci da nolkl* encheu de duvidas o l 
ivportcr do ltwps. 

No din seguinte o IcJlo d.i aemnna ea- 

• crevia uma carta dizendo quo durante 4S • 
horas ao tinha divertido a cúria «ia im- 
p^-naa c quo linha inventado aquella 
liistorln Invcioslmil parn experimentar nlé 
que ponto polia Ir a furin da rrporUgom | 

i pari rico se. Ooodulâ dizendo quo tinha os ( 

» litlores por si. 

Parvce que teto deveras, oté na pró- 
pria ci«a desrespeitada por cllc. na m- ' 
crrdotal ímprena.», insuspeita, togada dc ■ 
arminhos puros. 

Um Jornal náo tem eira ; por isso ne- 
nhum ficou de eira A banda. Mas alguns 

■ I reporters mala pesv*aes, dos quo dizem 
eu o assigniun noticia?, que unham Ido 
até questionar a boa folhinha mil do 
Houlez. mostraram no dia seguinte o »ca 
mão humor, a sua Immenaa entalistra- 
çilo, diriamos nós. O palmilno ds vespora ' 
passou a ser um indigno fumista. que 
tinha abusado da oontlanc* publica ua 
sua seriedade até cutáo não desmentida 
para lançar ò ridículo sobre os pobres 
caçadores dc noticias dc estrondo. 

Depois comocaaam a aparecer artigos 
que davam a Koule» como um original 
frisando pela loocura um homem de ex- 
travagâncias legendárias, que sacriflra 
Interesses c omUades ao prazer do umn 
boa força. 

Pouco faltou que fossem consultar o , 
Charcot sobre o caso. Sempre seriam 
umas linhas mais pela occa^io do Inler- 
vicw. I 

E agora estão á eaper* da menor pmva 
do oxtrnvaganch da parle do Roulez para 
d arem -no por doido 15* o que o Impru- 
dente velho terá ganhado im divertir se 
a custa do quarto estado social. Os re- 
porters sâo rancorosos e dão- se as mãos 
paro vingaom a classe. 

O que nio Impede que a vnlenlln Ima- 
ginaria dc um homem tenha ícllo o acu 
uome correr mundo. 

— O processo Deacon teve a sua «Nação 
em Nice pela condemnsçio de Deacon n 
um nnno do prisão. 

Foi uroa sentença que surprehendeu o 
publico acostumado a ver os Jurys absol- 
verem o« criminosos passlonncs Deacon 
cra um marido cngana«lo, enganado du- 
rante muitos annos o sem querer con- 
vencer se da culpa da mulher, uinu aine- 
rlcanu viciosa, que o tratava como um 
personagem dc pouca Importância no fa- 
n»illa.Ooiuautc eça um Abcillc, homem 
rico, mundano, feio c llsico. O márido, 
nrovciildo por cartas anonymis de mti- 
[iirrea •banddtadas prio p. J'«*n, sur- 
p<ehcndcu o uma.noitc.no qn*rto do 
dormir «Já mnllicr o matou-o com dons 
Ums dc revólver. • * ' 

A Imprensa, amiga do assassinado, nio 

• poupou injurias ao assassino, do marhlo 

o complacente para baixo. Tem d^tas vi- 

• iezas a humanidade jornalista I E os Ju- 

n u.mmU«,.Iai rwitft nnlnlAo doí 


AKiira, cm* i *ii-, 

' da mata uma oinign que aurpi«jiendeii 
> em adultério com o marido. Oa jornoc» V/ 
) occiipam-sc mlnuclosanientc e synipu- 40 
) thlearaente com o caso. Madamc Rcy- 34' 

• mond será absolvida provavelmente, h 111 
) para desesperar da justiça dos tribunacs 

• do Innr. 20 

Ora a Justiça dos tribunacs especiaes 4Q 

• núa já sabemos quanto é precaria. Onde ^ 
poderi encontrar a sociedade a sua üe- j|j 

e fesn?... ... ,1 

» — Os mortos lllnstres da semana ío- * 

- ram dou s velhos: Brébaut e Madlcr dr lc " 
Montjan. . ,s n 

» Brébftnt, cognominado o rataurador 
í* das leiti as, como Fraucisco I, morreu dc 1 
uma apoplexia. 

Morreu eom seasenta e icls annos, 
quebrado de forças e dc fortuna. Tinha I 
bom cornçAo e prezava demois a amizade 16# 
ruinosa dos lettrados. Nu sua caaa davam Ira 
os seus jantares inensaes duzlas de grupos 
D litterarfos — os Avriés. oiQuaire Saitons, «- 
t oa Spartiatet, Os Critiques, os Parisiene. 

, os Rigobert, os JJceuf naiure o tanto* . 



t os Spartiates, os Critiques. M Parisiene, 

, os Rigobert , os Ratuf n ature o tanto* 
outros— que pagavam mal ou que não 
pagavam dc lodo.Asstm, o que Paul Brc 
n bani ganhava nos pequenos jantares dos 
galrfnetes particulares servia para pegar 
. a desposo com os grandes banquetes com 
quo so engordava a imprensa parisiense 1 
f ooi seus addidjs. Os amorosos furtivos 

0 que so insinuavam pela porta Indicada 
. pelo lampião azul suatido por dous go- 

riios de gesso, pagavam nas bisques ex- 
citantes e nos aiaudfroidi do deboche os . 
r preços exagerados que compensavam a 
), reducçAo nos repastos dos esfomeados da 
. penna. Em vei do cnthesourar, Brébaut 
gastou os seus lucros. Depois veiu a o3í 
^ guerra, velu o fim das ceias orgfosticaa. 1 
Pari/ ficou qeasl sério, os reslauranb tfr 
nocturnos perderam com a deslocação da * [ 
cidade elegante para oéste, do boulevard 
5 ' cios Italianos paro a Magdalena o Bró- 
hant acabou fechando a porta. Os po- { 
lires que «111 Ism à plUnça como A por- ™ 
(aria de um convento furam os que mais 
*“ sentiram. 

io Um bouilhd reabrln a casa com o I, 
, nome antigo e o antigo dono, feito adml- lOt 
ublrador, IA apparccla nos noites dc 

1 pouca gente, a conversar com os íregue- T 
zex mais assíduos uroa conversa distra- 1& 
iiida, polida e impessoal, quasl dcsanl- 

^ Kr a* um grande velho, melo penso para 23 

n esquerda por uma deformação do hom- 
bro, com uns grandes olhos azues e man- 
sos, a caro rapada como um padre e um 
„ alio topete, quo lhe foziam oa compridos 
0 cabellos brancos. No tempo da exposição, 7 
m todas as zslas, saldes c gabinetes cheios } 
de gente, n casa regorgiumdo de gente, o 10 
oerviço cra demorado e mal feito. Uma 
noite Brvbant oxnllcoa-me que aquelles 
el criados novos, -det gens qú’on rnmaate J 
3e da is la rue- não podiam senão servir jpal 1 
aos fiegue/es. Era o pajrdo antiga que 
lavava as m.\os do descalabro das InsU- 1 
tuiçõ^s reatauradorns. I 

Afinal suralo-se e nppnrecen <m Lon- 
dres, mas roa 00 dnron P° r 7 

o- ganho dc causa n’um processo «cm n com- 
i’o panhia que lho tinha comprado a casa. 
ío ía abrir um novo brebant aulhcnUc 
da quando a morte o levou. «' 

Ha muita auccdota cm torno do nome n 
desse bom velho oor cuja casa passaram 2J 
tantas gerarões dc homens lllnstres das 3! 
classes intcllectanes da França. 0 memo- 1 
«* ri»! dos Goncourt cita-o sempre, 
w. Uma medalha commcmoratlva do bom 
'Js trato da sua mesa durante o ccrco 
®° dc Pariz o assignada por Saint Vlctor, 
Ernest Rcnan, E. dc Ooncourt, Der- 
tbelpt, Cb. DLanc, SclȎrer, Beitrapd, Th. 
Gauuer, Nefttzer, Cb. Edrnond, Thuzot, 
Dunvoot, Morcy c Hfcbrafd existe no mu- 
'u seu Carnavatct. Bréb.int passará á chro- 
nica, senão grave bUtoria da secunda 

parle do XÍX «Jculo. 

101 Madier dé VIonQan, que nasceu em 
1813 , era uma velha barba, um anciâodo 
radicalismo. Surdo e Impotente, fòra do 
niorlmcnto da pojltlca e das |déas moder- 
Fe- nas, elle sobrevivia a sl mesmo desde que 
«fc- fui obrigado a deixar o cargo dc qutstor 
noz d.i cannra Um deputado*, por occariào «ie 
ictn uma briga CMOS jornalista* panzlernés „ 
vea aqui ha tre* annos. Sobrevivia a *1 a 
CU- mesmo ou á legenda crçada em torno do 
ar. seu nome como víctima do 2 de dezembro, 
ima companheiro de Baudln na barricada, 
dm cumranhciro de cxllio dos outros grandes. 

Por »i mesmo era uni medtocre, «entí- 
dia. mental c romântico, «fe altitude, dc ex- 
r*, c rrc'*Ocs c dc r.rtot. Foram a*slm tantos « 
í. r.omcn* cuja faiva rompríhen* »o d a li- 1 
nu- l -.-idade na vida publica fe/ os excíMOS M 
prio. ' lolitlfos. que umn histeria despersona- 
tllc- 1 lixida náo p.d«.ria explicar. I 

, % t ç . I _ K fã* calor, um calor «lo 30* eent. a . 

1 um xjoülu juaLi- 


quo enche d*» povlra •« casas o ceçn a 

K its nas rusl. Do noite o tinis de Itou- 
no tem mala gente quo dr «lio c «• 
mraaa d<«* reatourauls ao ar livre tXo U>* 
ni.stla» de anicteta pelos qua Janum furo. ■ 
As duchas «lc IlamiMatn tém uma frrgue* 
zia excenrioeal da gente que o cal*«r «le- « 
prime. Vieram a* roupa* fbies. o* cha- 
péus do |villia. as gravatas elaraa. 8«« ao 
repeia o Ora 0 ^ 1 1'rlx ;>nra n pnrihln. Ilnje 
fui o grande Deriry du Olirwilllly, um hnrn>r 
«ic poeira e «jI. com ulg.m» cavallo* cor- 
rendo, por amor do alguns mllbfies « ! e 
francos. Tren« da Hrlgica, Ireu* c*p«- 
claes da Inglaterra irarem hoje Aqurlle 
pequeno cnrnpu dc eorrklas rnllhaivs ilc 
que üe noite vullarào pira coas 
►em Atlontarem sequer no mnsr*tc%o pa- 
lácio que oAo aa cavallarlça* do groudo 
Conde o na letèa orchíu-rtonlci tm que 
roora o duque de Aumsle, lá mais abaixe, 

A beira do lago eapelhcnto. 

Paris, 211 de maio. 

D. 0. 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


947 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 190, p. 1, 9 jul. 1892 












948 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE PARIZ 

Stiiiiw -Ai («ui ii Niatf $ ê iMutça fn* tt- 
(MM.- A • •( ortMvru* lf |»iíU .- 0 

(Aid rcooWt^L-WO Ml*«rlnn A y* *'0 «uai» 
4Ua. -0 Dr. Piíul-0 AííIim » o o.unuo Ju 
Bmt. 

Ai festas do Nancy realUnram-M no 
moto do contentamento geral. 

IA asteve o presidente. foi acchunado, 
recebeu presentes do nroducto* locar*, 
foliou o agradou • todo o nurnJo. AU* 
os bispos no suo passagem fl/erara dls- 
cursos de disciplina republicana, segundo 
cu Instnicções do Santo Padre, o de Ver* 
dun franco e dectaradameqtr, O de Nancy 
melo constrangido, E o revisto dastro|*s 
do corpo dc exercito que avl/lntu a 
frontolra d aquelte lodo, í<d occoslüo do 
uma manlfe.itar.to patriótica cheia dera- 
thusiasmo. 0 ono os allcruios previam, 
reallsou se t falloa-io de guerr» até tm 
al locuções eplsconaes. 

A do bispo do Vrrditn terminara peita 
scg.ilntes palavra», que nio traduzo, para 
uio atlcmiurlhcs o queulura de cio |ucn- 
cla o de patriotismo: 

« Noua roulons la palx, com mo la 
Franco la veut, comme vous la voulcz 
voua-ménie; mais noua n'avont pás neur 
de la puerrr, Jc suis fler de rous le d ire. 
rcol évfque de Verdun, qui suis un peu 
soldai dcptiis que jo vii on contact quoll- 
dico avec nos breres soldais. Et ai binais 
1'hetira vcnalt á sonner. rhcitro uca «u- 
prvmes pèrils, vous vtrrlez IMftt et 
oes prõtres se mêlor aux soldats et riva- 
llvsr de brovooro avec oux. Aprés la 
baulllc, jc vcux dirc aprõa leo \ ictolrcs, 
vous notro chef, pulsque vous Hn clscf 
de F rance, vous noui dirlez : •Brtqne, 
ptrtes, soldais, je suis centcnt de vous!» 

Deputados, estudantes, homens políticos 
o homens privados, todos se esquentaram 
a fallsr de guorra. dc deiforr.% de des- 
pertar do sentimento nacional, nlll ao pò 
da fronteira inimiga, como se houvesse 
um nuui bclli no ar. Uns gymnastas 
(chequei, os Sakols, qus cm numero do 
oitenta compareceram nas festas, a con- 
vite dos estudantes do Nancy. f ram 
arelamados na sua qualidade de bui- 
gato*. aoti-permaaistas. E a germa- 
oophobia subiu no auge, quando o grio- 
duque Constantino, que se achava a 
aguas em Cantrcxeville. alli ao |x\ veiu 
comprltnenbr o presidente da Republica, 
sem quo ninguém o esperasse. Rece- 
beram-no quasl melhor do quo ao pro- 
prlo presidente e !Ucrara-lbe ovações in- 
sensatos. 

Ainda hoje, na Libre Parole, uma ode 
magnillc* dc Cloves Hugucs pergunta ao 
çrAo-duduc. 

0 grtaJ-dtic, esl-il ml Wm Irájoa d êpspét 
Siolére ta mirto rt nardo vt aelai biscas, 
Chaqee tois qoc 1 Keé« 

Ümm i'jv>if do acs (La cs 1 

FU-B ml ipis la &>(i vn hin pilo do honlo, 
Comme si moí aWoas «aH los mtam larU, 

OaaoJ aio da«Mr manto 
Do loBtoo ou Mal o*m norts ? 

E ndlrma que 

Co sara pear La jois I somou do la Irm 
Qoo aaos a orou collé d on cr* lo uercrsla 
l.« cfoiroo ntUair* 

A no* Mm» (Taiola l 

Ojjgcta- pncUko-* das eglogas santo a 
atmFierén'* . incendiar-le ao furor da 
Kflorça çápêofnpU-M como o Tyrteo dos 
norói temf>«ra celebrar os gládios, que 
sdiitillam av sol: 

Milntrasot <tu» »rsiuU« im MMI urrllro, 

La Fraaro. beilo ranv .lo (óaio oi ds M, 

A looli ujmlko 
lUsMMiUr cn toi I 

0* senhores sabem : a justiça agora 
vem da» banda» dooadoviabam n 'outros 
tempo* os ferozes tartaros, da* terras 
onda ainda hoje a vontade do c/ar 6 a 
suprema lei. F. a França generosa e li- 
vre, para nln viver só em faee da Eu- 
rop», aJulaos barbaras do Oriente. Como 
>c nào fosse mais bello dc soberba e dc 
nobreza ser a0 l 

l‘or flm verlflcou.se que a visita do 
grio-duque a Nancy nio tinba ootro 
nbiceto senio tirar toda signiQcaç&n po- 
lítica a Cntreviata do Ki#l rnlrr m Imnl- 


Fr»ram hentrai ntslgnadoi muitos do* 
cret»» para guarda nacional d 'esta capi- 
tai e dos Estados. 


dava a sensível velha na (e<tamontn j 
para »ter alguma dUtrarçlo trrAc^nlInda 
a alguma velha solteira, pontual c rtel, 
amiga destes bichos, nuo se Julgue be® 
paga do tratai -o jr>r tal preço. • 

Os aenhorrt uto ridículo t Pd*, 

para veHlleaçâo d% iden* Idade do blcbOb 
nomeou-se uma rommlMio que velara i 

poJa sua nio substituição, no raso dê a 

morto natural ou violenta. H . »» com- , 
m 1 « 0 * 9 IM? n *t'iralmente sorá por sua i 
ve* flseailsada pelos o*itm» herdeiros da 
defunta, relark poU Ik* aartde do llomlo 
e pela consenaçfto do ar ameno o b^ra » 
disposto qno a defunta lhe qulx garantir 
por (estamento. 

Agora, eu i que nio dava dmis vloteot 
por Ms mo/es »lo vida do irato... e 

— A moda d"i exercícios rorporam í 
aoaba de produzir un» aconteeinKiito n»o- ; 
moravcl nos fastos athletiooa da França. 

t m concurso de marcha a pè »ir parli 
a llclfort (ÕOO kllomctio») foi ganho por 
um empregado de eseri|»t>Ho ehama lo 
llamoge cm 101 horas o 23 minutos, dit- 0 
rnnte as quaes elle dormiu e deacançoa 
sele. t, 

O roncnrso.erganlsado pelo Peili Jour • I 

nal, tinha reunido STO candidatos aê . 

premlo do doua mil francos e da c-dcbrl- i 

dade. Entre elles havia pmllsslonara, 
corredores de frlraa e gx-mnastas, amado- 
rrs de toda a sorte, militares á palzana. 

A*s 6 horas da manhA do dia rt salitrara 
loJos da rua Lafayette, dofronte do /Vii i 
Journal, aeompanbados por bandas de 
musica e um poroimmenso, c transnuze- . 
ram as seis c mela a* f irlillcações ds Parir, 
tablado peia parta de Pnntin. Haviam sido , 
dispostos flacAes do concurso espaçados 
por todo o percurso da marcha, par* . 
asslgnalarem a pai*sgem dos coocurrea- 
tes. Os jonises da roanlil o da Urde pu* 
bl içavam as noticias com aa probibiU* . * 
d o I ca dos quo Iam na frente o as peri- 
pécias da compita. EaÜnal, ao cabo d« 
quatro dias de vinto e quatro horas malq 
um qurto, nio foram proRsaionaes o* . 
dous corredores quo chegaram primeiro^ m 
ilaruuKÓ As II e 23 da rnsnhi, Gon- 
net As 12 e 13 minutos. Com cITeiloC ’ 
o primeiro ú um ajudaolo de guar- 1 
da-livroe, o o segundo um açougueiro. ' . 
lX*to*s d'esses virram um cochoiro e ura 
(rabalhndor de enxada. NeuUuroa dcslaá 
prortisõoa partee i>rcsUr-se ao desto- 
volvimento das qualidades nccessailas a ’ 
um bom audarllho. 

0 quo prova que os dons natoraea do 
Indivíduo, elasticidade • vigor physico o 
moral, valera principalmenta n csU sorte 
de exercidos. . » 

Facto rurioso: n vereador do ooncurio 
diminuiu um centimelro na sua altura, 
quo ora de l.mGd, o [cnlcu 3,400 grotn- • 

mas de peso. Elis o o cavai Io vcnoodor 9 

do Grani Prix vôo ser oa IcOca da quin- 
zena. 

— Ura artigo do XIX Sitcle reclamava • 

contra uma apprehcnsAo do mantclça, % 

cm que havia uras quantidade excessiva » 

de acido borico, feita ahl no Rio de da- » 

neiro, por medida policial do hygiene. > 

O Mann, Jornal oggrctsivo o rarameniq > 

bem Informado em consas do Draill, i 

pabllcou sobro isto um artigo dera- a 

gndavcl contra o Brasil, fatiando cra • 

dlctadura. arbitrariedade, gratidAo que 
devemos á França, ctc. O nosso oi« , 

nistw em Parfz reclamou contra ai , • 
arguições infundadas ou mal fundadas» 

O Matín publicou- lho n carta, f.» tendo* A » 

acr.mpaolur de uma trauacripçAo de u® » 
artigo de um periódico que vive de subsl- 
d Io», uma (Icscomposlura rasgada contra 
a pratos do ministro. Ixjo sem xaail 
commentarios. Agora è esperar mais fa> > 
rinha daquelle sacco... i 

üouicto oa. Ga.au. 

Farix, 12 de junho. 


INTENDÊNCIA MUNICIPAL 

O Sr. Dr. Cândido Barata Ribeiro, pr%* 
sidente da Intendência municipal, dirigi 
boie a todes na Srt. proprietário* de fa», 
bricas dVste districio aseguioto circular > 
- Tendo a muuicipalidfada'recrUdo poi 
ordem do governo um toroeciraeata dç 
generot para soccorrer a» urgencua de 


For flm verifleou-M que a visita do 
grzo-4uque a Nancy nào tinba ootro 
dbjecto sendo tirar toda signiflcaç&o po- 
lítica n entrevista de Kiel entro os impe- 
r adores da Alemanha • dn Russla. E* ver- 
dade que também houve quem afflrmasse 
que a entrevista de Klei ( pagamento de 
uma visita antiga ) foi pura dissipar o 
ruão effelto poli tico da viafta do grào- 
duque Conataiitinõ a Nancy. 

— O doutor Pravas acaba de morrer 
em Lyon, onde dirigia ura estabeleci- 
mento ortbopedko. 

A seringa Uca de uso diário e cres- 
ce n to. Ha luminares da sciencia de nome 
menos conhecido do que esto inventor do 
instrumento que creou um vicio terrível: 
a raorphinomania. 

— A primavera oontinúa mais ardente 
o enxuta, que oa veruc* pasAadps. Tudo 
&3o flòrcs, a terra sêcca.as folhas tomam 
a cõr verde escura do pleno estio. O c*u 
azul ndo promette chuvas, os hortelAoa 
pretêm penúria de fructas para o outo- 
no. Já um ssbio meteorologista declara 
qne ha srculo e melo c esta a primavera 
mais seccn . 

Tcmn» acua rioSena para beber, com ot 
*ou» microMos »em conta. E com o calor 
Uo brando, qne no Rio seria uma delicia— 
vinte o seis. vinto o oito grios centígrado» 
A sombra— entra a nume* o*« canzoada de 
Parlx a flear dam nada. Por medida de 
precauçrto, a polícia rejnfc cra vigor uma 
postura quo obriga oa donos dos cies a 
açnimal-os ou premlel-ot. Os cães apa- 
nhsdoa ra ma xem açaimo sAo levados 
para o matadouro especial d'cll*s. lá para 
a rua de Pontoisc. no lado do Jardim das 
Plantas, o srphy&iado *em mais fo rm.il i- 
lidadra. Mntam-so assim entre tresentos 
o nuntrocentos cachorros por dia 

Esta medida salnUr levanta reclama- 
ções infindável» entre os amadores e pro- 
prietário» de cAcs. 

O parizionse ò capaz do nào ter pena do 
ml«*m*»M qne ronha para matar o fome, 
ma» sente nm abalo nas entranhas cada 
\c/. quo ta trata do misorias do côcs e do 
nutro* bichos. Foi n'csU terra qus sc 
descobriu que o cio 6 amigo do homem. 
O homem parece quo nio ó nada. A po- 
licia maltrata a» mulheres quo virem 
miseravelmente dn suor das suas frontes, 
na dura labtltaç&o do amor mercenário, 
Impondo-lhes exame» vcxaiorios. uras 
papeleta liscal, logarcs de exercido da 
(trollnilo. c a prísrto a cada Insubvibsio 
Ats caprichos do am pollríat mai» attnho. 
A pihcta c dura para o vagabundo, como 
para a nierctiiz, o ninguém toclama contra 
esta durozn nne a xegurança publica torna 
neemnria. Poi» contra rs cies igualincn- 
te, «enUo mií» perigoso*, ac ha-* o qne as 
medidas poHciaes silo cxcoraivamcnle rigu- 
NUi. As lagrimas dos donos de casa quo 
criam cAcs nos quartos andares ou nas 
agUAx-furtadaa do P.irlz, vflo pouco a 
pouco criando na impreara scaslvcl um 
movimento contrario A linposiçio do 
açriinm c da tirla aos edes na rua. E o 
Sr. Lozé, que nio teve censuras graves 
por nio descobrir os nnarchlsta» nem 
evitar as cxplo«Õe« devn»Udoras de dy- 
namit#, b capa/ de rMerrffanti do clamor 
que levanta cita nova Matança dos in- 
noetnict, o do deixar- no» expostoe ao pe- 
rigo tcrriwl dahydrophobia errante pelu 
riM da capital do mundo. 


E* verdade que a mnnidnalfdsdo d'esta 
brilhante o espirituosa capital do mando 
tem agora entro m mus Iniuimercs en- 
cargos 0 dc sustentar r.m ga»o, uue lhe 
ddxoa por legalo uma defunta de bom 
co.-açln, temperado dc malícia ou de im- 
pertinência. Foi assim o caso : 

Pi/f morte de 31me. Üubray. a escola 
mnnicipd da rua des Qnatre-Fil* recebeu 
um legado de dez mil francos, com a 
nbrijraçio, para a cidade Partz, de entre- 
ter flôits ttbre a eova da tesUdoia edo 
sustentar-lhe o gato querido. A renda do 
legiulo anda |«r quatrocentos franco». v? ic 
der um bom emprego ao capitil. O gatoc 
a cova dc Mmc. Dubrai uio |M>dera cu»tar 
men*.s de duzentos francos poraitno. Res- 
tam duzento* pint a caixa da cicolx. K* 
magro, mas c dinheiro. E. cm morrendo I 
o gato. só flea a cova por entreter, cousa 1 1 
Je se*seota franco» por anno. A grato b 
ancfáblH d.* que dependia a areestaçio, n 
latevado. Votmi. |*>rla»to, tavoravrimenie. a 
O aato do Mmo. Duhray será pcn»i >- ’ d 
l icrto 5cIatfid*Jc de Pailx cem tre» raçN*» , 
f diaria» «fo fretrtra, Tgido c coraeAo, n 

I pari o que o |4>bre bichano nio solfra p 
ailcraçio um acua baUlva* rcconuucu-** 


De Paris (detalhe) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


Anno xvirr 


RlO de J«aoíro -<8egunAa-felr> lt j| e Jnlho de 189 8 


GAZETA DE NOTICIAS 


tUUMVti UUJI.'Ü4 


NUMERO AVULSO CO RS- 


949 


hrtf, m+lml 


SlercotypnU e iapnKM a>»n>i>chiflM rouuvu d« Marlsoai, m tjrpoffrapUa d* 

«oci*j»ío rmonym» «Gazeta de Noticias* 


NUMERO AVULSO <0 RE 




950 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


CORRESPONDÊNCIAS 


de pariz 

Sr«nui> _ A («Illle». -* nntplinlí 

rrw/iinM.- I^aitani «ooin Garaol.- *' uMira 
u«« uturn . — 0 » c <n n.t riaum. — 0 

pn**.*, IUr,lp»n.- Urunonl. - liuurunrja rftf 
hHiMninciilo «, Slro lltal — Zot» , Klurita— U 
Urtacle. 


A semana política foi pobre de acouto- 
cl montas «lo maior valia. 

Na» roda» interessadas discutiu so a 
declaração feita pelos conservadores, a 
proposito do* conselhos que vêm do Vatl^ 
cano ao clero o aos munarchMjs írnnce- 
res. para que dum o seu apoio ús institui- 
Çws republicana». 

Ot conaervadorea acham que o Santo 
I adre vai muito longo un sua política, 
suppoxta do conciliação, visivelmente in- 
teresseira, c declaram que a intervenção 
«Jo chefe do catliolieismo uào devo passar 
do uqniinio espiritual no terreno da j»c#ll- 
tlca de partido* ; quo os catljoiicos fran- 
ceses devem conhecer, melhor «lo quo a 
Cúria Humana. quaes as instituições po* 
lilica* quo a França dixja c rncivec, etc., 
cte. u cardeal Kainpollii que metia esta 
1)0 SUU KQCCO... 

Ainda íóra «las cnmara» levantou-se um 
l)Oato de conspiração imlida entro o a Srs, 
Fivycinel e Cutulans, com o *|toln do Sr. 
Flomiet, para derrubarem o gnbinclo 
Loiibot, onde o Sr. Freycinet »o ncha 
n>al á vontade como simples ministro da 
guerra, c se imporem ao Sr. Carnot pela 
ameaça de uma crise presidencial. O boato 
fumla-so na frieza de relações que rxislo 
entro o presidente da ttepubilca o o mi- 
nistro da guerra, frieza ainda ullima- 
mento aceentuada pela nbstcn«;;io do Sr. 
Freycinet do tomar parto nas festa» es- 
colares e na revista militar de Nancy. 
K depois, as suas amblt^nrs mais altas à 
presidência... O boato ahi flea, bem otí 
mal fundado. Nunca 6 muu suspeitar da 
poiitica pessoal dos homens de Kvlado. 

Na camara houve, quo tivesse erho, 
unm iiitcrpcílação ou reclamaçAa do Sr. 
Lagucrrc contra a matança dos c»es pa- 
nzienscj, feita pela poliria. O dopntadoox- 
boubingista contou a visita que fez ao logar 
dc Ruppliciodos pobres animacs, descreveu 
a dúr do» donos de càcs que os sup|i5cm 
garantidos pela colleira com a inxcrtpçâo 
indicadora, e que nem assim estuo livres 
dc quo oe roubem para n matança na 
rua dc Pontolsc. Ha gente que furta cães 
para rccchcr da policia a gratificação, que 
varia de 75 cêntimos a 1 franco e 25 poí 
cabeça do dogue nuo sc leve para o açou 
guo. Sabendo d’lsso, a população part 
ziense, generalísando a suspeita, começoi 
a tomar os enes aos agentes quo os levnro 
Ha luta», pancadas, agentes feridos.gents 
rn cadeia e respondendo perante a jus- 
tiça por delidos de oolicia corrcecional.- 
Ha também episodios comicos, como 

0 do policial que, conduzindo uma ca- 
delia ao cio, entra no posto de policia 
acompanhado por umn sucia enorme do 
cães amorosos, que sem duvida pagaram 
com a vida essa louca obediência ás sog- 
gestõe* «eximes. K ha ainda o caso do cio 
perdido, que entrou no recinto das sessões 
*la augusta ossembléa legislativa, o que 
o» contínuos mataram, na persuasão de 
que estivesse hydrophobo. 

O Sr. Lspucrre explicou bem o caso 
canino, appellon para o bom coração do 
presidente «lo conselho c do ministro da 
justiça, c ílnal mento obteve do Sr. Lozò, 
chefe dc policia, a promessa do que ordens 
seriam dadas para que os cães não fossem 
mortos no dc|>osUo publico senão ao cnbo 
de 24 horas, e que os que tivessem o cn- 
«lereço do dono, teriam tres dios para 
serem reclamados. Findo esse prazo, toda 

1 biebaria restante será levada para nma 
jçmndo ciwnarn fochnda c aapbyaiada por 
meio do gnz dc lUuminaçâo. 

Tudo isto porque o calor maligno da 
Pariz não pcrmilte aos francízes satis- 
fazerem, sem perigo para a segurança pu- 
blica, essa, na app&reucia innoccntc, ma- 
nia de possuir cães, morondo em aposen- 
tos apertadíssimos, nos quartos andares 
iic casas como as quo o Sr. Silveira Mar- 
Uns qualificou de poinbaes. 


— O nrocossn instaurado noio Sr Rttr- 


— 0 processo instaurado pelo Sr. Bur- 
ilcau, deputado relator da commÍ6Büo en- 
carregada de dar parecer sobre n renova- 
ção do privilegio do Banco do França, 
contra o Sr. Edonai d Drumont, rcdactor 
da Libre Parole, jornsd anti-semita, 
que o accusa do sc ter vendido noitifo»- 
icrcases dos Rotjiachilds. terminou perante 
o jury do Sena peia condcmnaçáo de 
Drumont a Ires mc/es prisão e oitenta in- 
serções da sentença, o quo equivale, a 
mil francos por inserção no mínimo, a 
oitenta mil francos de muita. Dizem quo 
o jornal recebe subsidio» consideráveis 
«le muitas pessoas que se apaixonam por 
esta campanha contra os israelitas, que o 
íanalico Drumont promoveu cm França o 
que vai tomando uma certa importância* 

A divisa parlicuiarista do jornal ó : 
La France aux Ftançais, e n’um odio 
commiim onrolvcm-se lodos oa inimi- 
gos, allcmàcs, judeus, protestantes, 
tudo gente judaisnnlc, trabnlhando para 
a ruína da rainha do mundo catho- 
líco latino. Iv' o delírio da persegui- 
ção cm proporções épicas. Pena 6 que 
dc tudo isto não resultem como epi- 
sodios.hcrocos mais do que uns rêlcs pro- 
cessos por ditfamação e multas que talvez 
comprometiam a caixa da nova cruzada 
cm casa. 

0 processo fez barulho, sem ser escan- 
daloso. 0 proprio Drumont qtiiz defon- 
<ler-sc perante o tribunal e citou como 
testemunhos muitos dos grandes nomes 
da finança, da vida publica, do jorna- 
lismo parizienso, funccionarios o parti- 
culares. 0 proprio barão Alphonse do 
Kothschild veiu depor, daq explicações 
sobro as medidas especiacs tomadas no 
Banco de Frniiça para o lançamento do 
empréstimo russo (que foram nenhumas), 

E depois üc uns pequenos incidentes dt 
audiência, cm que a ma fó da • justiça 
vendida aos judeus»— mio ficou provador 
cm que nenhuma base material encory 
trou-sc para destruir a accnsaç&o de díf. 
fumador lançada ]ielo procurador geral 
contra Drumont, conseguiu este os tros 
iiuvcs do repouso do quo disse carecer 
paro, na prisão, redigir as suas notas ful- 
minantes contra o judaísmo invasor. 

Dizem que o erro dc Drumont foi ata- 
car um homem limpo e estimado como ó 
Burdcau, de quem ellc mesmo fez o elogio 
perante o tribunal. Isso fez a infelicidade 
«!o seu processo. Agora, os que não são 
limpos, estarão para intentar processos a 
quem lhes descubra os podres?... 

— llontcm, domingo estivo e sereno, 
na calma que faz aos cemitérios a popu- 
lação |MTizicnsc, auscntnndo-so para os 
arredores, inaugurou-se no cemiterio do 
Montniartrc o novo monumento que os 
amigos e admiradores dc Slendlml eri- 
giram ú memória do grande escriptor. 

Os ultimo* parente* do llcnn Ucyle 
lendo-se extinguido, cra bem preciso qua 
a sua família espiritual tomasse a si hon- 
ear-lhc os resto* ua tumba. A sepultura 
que lho erigira, lia nmis de cincoenta an- 
no», o seu primo Colomb, estava em in- 
teira ruína. Os stcndhalianos renniram-so 
graças a iniciativa do* Srs. Chéramy 0 Ca- 
simirSlrycnski.c por umasnbscripçúo pas- 
sada domânem itiAo, pai a obedecer ao prin- 
cipio da vida do mestre, que Unha horror 
à publicidade, conseguiram n pequena 
-ominade 2,455 francos, que foi largamculo 
sudicionlc para as despozis com o novo 
monumento á memória do autor do Iiougi 
rt Soir. Fisc monumento, para cuja sulis- 
cri|\*Ao contribuiram H*«sc Cnron, Paul 
Doiirgct, Manrice Barrõ?, a baroucza S. 
«!o Kot li»chil«l. Ludo. ie llalcry.Sarcey (quo 
Mauricc Barrès chama dc nslCndhoílsU 
desgarrado») c muitos oúlrosuomcs quo a 
gente so admira dc ver juntos cm pia 
coufraternidadi^ litieraria; o monumento 
coni|x»e-se do medalhão dc David d'Angcrs 
augmentado pelo tllho (Uoberl David 
d'Ànscrs), engastado na stela vertical do 
granito pardo que se erige â cabeceira da 
sepultura. Uma inscripção em italiano, 
composta pelo proprio Stondbal, lc-se 
abaixo do inctlnlhão, n'uma placa de 
*inarmoro: Arrigo Ha/le, Milanrse, Scris • 
xv, A mó. Viste, E a data da morto 
c u idade em que morreu (nos 23 da 
marro de 1S4? com 5t» aunos c 2 mezes). 

Aneeilutj* do discurso iiuuguraltvo de 
Sr. Cüírmny revelaram o p^eta enterne» 
eido e meigo que se occultava no áspero e 
seccarrãu (nventor do e*tylo «ios nunota- 


notas que nunca ie redigem, porque o 
publico não vaie cisa pena. 

IV sornpro liso o quo v acontcce aos ho- 
mens chdoi d«i orguiiio, que parecem 
superior* « A emoção, tanto a anatvtam. 
A gente não pensa quo ellci a analysam 
Justamente cm »l mesmo», | ara serem 
sinceros o verdadeiros, do verdade c da 
•Inccrldado |>oetlcas, que Inventa por ne- 
cesiidado creadora da Imaginação o ho- 
mem «le genlo. 

Zola r.inda acaba do dizer |s»o n’um 
discurso bastante longo, quo hontem pro- 
nunciou na festa dai fé libres, emSceaux. 

Era hontem o nrlmrlro domingo da 
lesta annuai d'aquelle r ittorcsco subúr- 
bio de Pariz e dia da peregrinação A 
caia «la arcada Florlon.A gente traiufor- 
ma-so em felihrc. por algumas horas, tema 
0 trem defronto do Leão dcUcIfort. IA para 
cima do bairro Latino, t recebido em 
Sceaux i*.la municipalidade, com o cor\>o 
de bombeiros e muilcas e morteiros, vai 
em charola A casa do fobullítn, volta á 
pequenina igreja, cm cujo cemitoilo. ú 
frente da pra.a, estão o* bustos de Fio- 
rlan o do |/Octa provcnçal Aubanel, as- 
sisto A curoaçãn dos doun (geralmentc n 

Í rlnal la, grande demali para o pequeno 
usto, llcn-lhe ao pescoço, transforma- 
da em coilar «lo rosas), c ouve nm 
dlfcurxo do scHio PicrrcLnllittc, - alln- 
eivo ao acto», tal qual no Hio. Depois 
ha na munir urna festa littcraria (jo- 
gos florão») que termina por um ban- 
quete. 0 presidente «le honra dos fe- 
libres esto anno foi Kmilio Zo!a. Foi oo 

Í sntar quo ellc saudou, na pessoa dc 
'lorlan e r.o poético costume do fcll- 
brigo, o alegria o a ternura. Contou, his- 
torias, citou trechos do* seus Contoi 
& A7rtOM,expllcou-se poeta e sentimental, 
atirou para as costas o alforge das misé- 
rias naturalistas, para sorrir A Nlnon dos 
seus dezeseis nnoos, A que o esperaria, 
poeta envelhecido, para continuar-lhe o 
sonho dos amores claros e calmos, nos 
campos encantados cm quo sc atuaram 
Bstelia e Nemorino. 

Emquanto isso, lança-re ‘por esse mundo 
bfôra, nos porões dos vapores, arrasta«io 
t>elas locomotivas, para a!astrar-sc pelo» 
coatro cantos da terra o seu novo livro 
üe odio e dc sombra, La Dsbaele, um 
grosso, formidável volume de G3A paginas 
de 35 linhas cerradas, a obra do anno do 
prodigioso operário em lettras. Pessimista 
tfoliorige — arrangom isto. 


Douicio ua Gama. 


Pariz, 20 dc junho. 


De Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


951 


Atino xv nr 


Aio fle Janeiro — Quinta- feira 21 a» Julho flo 1802 


N 202 



m.wnm UUITlM 


33 


GAZETA DE NOTICIAS 



flMRTI MUIltM 


as 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 202, p. 1, 21 jul. 1892. 





952 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


C09RESP0NDENCI4S 


DE PARI? 

JctIUM-t.— 0 «* irl|n - Incow- 

nawiM 4I.-A Irt (iiitn».|pi:>.-0 

<U l.ilta. |l M : ■« 4s dfn»m,0». — 
I'ta SUfflcUM anula. ~U al«irsni« ÜuartM.- 
ãl.iu.nWr luJtnJ • rni«(gu 

A campanha da IJkre Parole contra os 
Judous J4 trouxe como resultado a morto 
do um homem <*m du«Ko. Foi um capitilo 
de engenheiros chamado Arm.ind May cr, 
professor «lo c«grima ni Escola Folyte- 
chnlca, qoo to bateu com o marquei de 
Morll o quo fo4 po* ea:e ferido com uma 
fitorndft tão violenta quo a ripa la tendo 
atravessado o pulmàj direito foi ao cm* 
Lola.- oa omoplata. 0 ferido lanrrsii no 
mesmo «Ha • foi em todn a ctda Ic, o sem 
duvido cm todà a Fr.v.ça, um domar do 
reprovação contra cana campanha dt odio 
quo em pomo de orollmentos obsoletos « 
auarhronlcos renova a brutalidade dos 
tempos pasmados era quo pendência* s« 
ic solviam 4 espada. 

A imprensa Inteira Irrantos um lolli 
conlr.i KJouard Dnuuout o os acu* coita 
bor adores. 

E* preciso dlrcr que a Libre PaivU 
foi a primeira a lastimar a deagraça do 
capitão o a i ei der Iwuicaa^eni ao seu 
talor pessoal. Mas os inimigos de Dru- 
r.out nio qulwunni ver no que era um 
simples du*'Uo como tinham sido oa an- 
teriores a quo ninguém ;«restsr atiençào 
(porque as feridas tinham xWo leves) uma 
qucntfo pessoal em que ambos os ndver- 
»arion arriscavam a vHs. para quasi tra- 
| tarem o marqoex de Morta como um 
vulgar awissino, um homem que preme- 
dita a morte do seu inimigo e que o es* 
|«cta ó espada sem que elic se defeoda. 

Flzoram uma qu»d apothcose ao ©ÍU- 
ciai morto, o seu enterro foi uma rooui- 
fostnçio imponente, qnasi um nictiiirj 
de Indignação, o ministério foi ridicula- 
mente InlerpcTado na cainara, como so o 
Sr. do Frcycloot tiveoe de dar o acu 
laudo quanto aos pa*a.-s d'<irma* do aliás 
corrdctisfimo ducllo. e parece qno está 
todo O mundo á esperado que o matador, 
que foi preso, seja esmagado |S>r uma 
condcfnnaçfto a gaito, oa quo sei cu I 
.Sjo pasiuusos cates jornalistas I 
Aqui ba Uinpos nqitella famosa palra 
nlu dc Koulex que cosia a oloculaa sue* 
ic.^Hramente quatro adversários desco- 
nhecidos, enchia todo o munda d • jubilo 
por ver que «Ao estava extincla a raça ■ 
dos (FArinfinu. Só o Tempi se in leres - 
sou pelo estado dos fcrlJos o foi o qi.e 
descobriu a mentira. 

Dopois disso não ha dia em que nos 
cchos dos joruaes do houiovard nào re- 
aham os j<roccstoa verbperdc ura ou mais 
duellos à pistola, à capada, termiuado» 

I oc terimoutos levai ou prnves e ninguém 
>c mexe. 

Mirro agora uro professor de esgrima, 
dc uma estocada infeliz o gritam lodo» 
contra o inalador que tambem podia ser 
morto como o outro. 

Conclusão: vamos ter Ui contra o 
duello ejá nào è sem tocnpo. Ha uns su- 
jeitos malcriados que abusam da sua 
reputação de boaa a;l ratares de espada e 
do plateia. FaJla-iu uni to era igual Jade 
dc direi loa, tão bom como tilo bom e co 
ato sei em que sou tio bom como um 
sujeito que me diz um desaforo e cu fleo 
caladinlio por saber que cita è «ia primeira 
força ã espado, em que eu nem sxi como 
se peqa. 


que ci a direelor, leodo aucoedldo a L*v#r- 
rler em UTd. 

Knlrc núi e*le ó mais conhecido pelos 
seus ti-abalhus hydrograplikos nan cestas 
da America Meridional c, «speclalmcnle. 
na do Brasil. 

Mas em França o seu nome A 1 Ilustre, 
nào s4 na «detida astronómica, para a 
qual «lie desde a Rsrnla Naval trabalhou 
cjid o maior -proveito polo esforço pro- 
prlo e pela Iniciativa tta rnmoiissõcs im- 
portantes, mas tomtxra como organlsador 
cm 1T0, da defesa «lo iUvrc, do fronte 
do cujos trabalhos do foriillcaçlo parou o 
exercito ai Io mão vindo de Rouen. 

No oWrvatorto fundou a escola de 
aitronoip a, que fornece de pessoal com* 
pctenlu as est«ç3«s a^trooomicas da 
França, • promoveu, coai o inapreciável 
concurso dos frm&ns llenry e depois de 
dons congressos, em qnc forao traçadas 
as disposições do Uabalho gigantesco, 
promoveu a composição do umn carta 
completa do cou, cm quo aetualmcnto 
Uabjiham lodos os oLscrratortoo do 
globo. 

O homem qne ora ae extingue, deixa o 
nome liga lo â ebra im morredoura. 

— A* profltjões do fó socialisUs coo* 
llni.am a grassar aos banquoics o sarnoa. 
que a mocidade estudiooa dá em henra 
doo seus chefci esptrltuacs. A ultima foi 
a dc Mooscubor Ireland, arcebispo de 
S. Paulo, <Jr MíunisoU. (R.U.A.)no ban- 
quete que lho otle cceram os eotiniantes 
ratholicos do cnrle do Luxombourg. 
Uiu.‘ o inuslro prelado aoiericano que, 
se a igreja U*m dc trlumphar, n!to póde 
%er a?;iâo pelo povo o para o poro. B c 
prccl '0 ser do povo quem a quUcr Ycr 
trina phanto. 

Nio sc delo vo a comparar o estado pro- 
.sente do povo com a aaa mlscria antiga, 
|«rquanlo c in-itil comparar ou mesmo 
pengoao. AQlrioou que bojo ulo ha so- 
nho a queixa do poro a oscular ; quo nlo 
ae falia senão cm devrrto do poro, quando 
c*.le já sente, jà sabe quo lambem tem 
(lirtiios c que ba muita palavra que do 
nadavaJe. Dconetaiu: «FoJemos dizer 
no povo quo tcoha paciência, ainda por 
nas tempos, nio podemos dizer-lbe que 
leoba sempro paciência. Um escriptor 
inglex disse quo nio ba prégar o Kvan- 
gclho a estoma^tn razlos. E tomemos 
cuidado cm quo nào nos passoo á frente. 
Mais vale caminhar avante o calíir cm- 
1 ) 0 rn, do qne nio marchar. • 

Ou cu m* engano multo oa esto padre 
è um prvgador revolucionário. E* ver- 
dade que o socialismo voro bojo ta. mi >cru 
do Vaticaoo. 

No jaráo do Bock Ideal (de que Eça 
do Qicimi já fallou n'om artigo para 
o auppiemeoto europeu da Gateta), íoi 
d«ta vex Krançoia Coppéc quem, na 
qusUdads de pre.idente de honra, prtgou 
o sodallsoio, no seu discurso aoo cilu- 
dan.es das ooras camadoa ospiritiialktas, 
quo tem Lavitsc e Metahlor do Vogue 
par cnpilies. 

Nlta sei bem. mis parece-me que ó um 
fraco pregador de novos cruzados eaoe 
poeta, que deu tudo do uma vez n'um vo- 
lume e que sobrevivo a si mesmo como 
um foguete de uma só resposta t do 
muitas arrancos. Jia responsabilidade» 
Ho grandes na prclicaçio do uma dou- 
trina social, qne lmpncirnta-mo ror um 
simples lot Irado vir tambem soprar na 
btision que lia dc tae.-r tambor as mura- 
ihns da Jerichó da iniquidade burguexa. 

Farlz, S7 de Ju iho. 

Domicio ua Uaoia. 


0 Sr. vicc-preddeole da Kepublica. 


I» 

B 

d 

b 

P 

a 

T 

Q 

• 

d 

e 

b 

a 

c 

o 

n 

si 

u 

a 

sl 

o 

st 

0 

d. 

Sl 

d. 

0 
u 

p 

0! 

0 

V 

d 

P 

fi 

c 

0 

V 
a 
a 
n 
v 
a 
L 
n 
s 
a 
d 
d 
n 
n 
a 
c 
a 
d 
r 

1 

6 

r 

n 

d 

t 

d 

n 

0 
0 

1 
1 

1 

c 

0 

b 

n 
l J 


»- 

o 


« 

H 


n 

>. 

« 

o 

i- 

). 

a 

n 

b 

n 


n 


» 

, { 


c 


— Dzu-so em Uile um aronlcd mento, I 
que talrcz nio fos»o eon.prubeadido ec- | 
Ire nos. 

0 19* regimento de caçadores a cavalio, 
de guarnição u*aqaella cidads, deu uma 
fcsla equc*trc no hippodromo do Bois de 
ia Deulc. Todas as notabilidades dc Lllle 
foram convidadas pelo coronel do regi- 
mento, oxcepçào feita do prefeita do de- 
partamento. E o prefeito, otTtndido, jul- 
gaodo-se desrespeitado, puuiu o coroiu-1 
com 30 dias de prisào. 

E* natural que prefeito e coronel des- 
lindem depois n cous.i entre sl. Ma< ri s 
guem pensou sequer quo a punição do 
<br. do Bcnvist fosse uma ahroota aoc 
brios da classe militar. Os nfliciacs do 
regimento ficaram simplesmente admira- 
dos do que o esquecimento do «taroncl 
(lodesso ser levado 4 couta de injuria ú 
primeira auctandade departamental 

— Foram descoberto* os suctores da 
explosão dt dynamlto quo matou duas 
pessoas no restaurant Vcry, do boule- 
vnrd Msgcnta. 0 mesmo anarebista Bri* 
coss, que indicou & |>olieia o logar em 
que estava enterrado o resto da dynamitc 
roukida cm Solsy anus Etiotas, rcretau 
Umbcsn o nome dos tasossioos dc Vcry 
e de Hnmonod. São os ii.-diridacn denome 
Françols e Mcucier, quo já ambos foram 
presos c, aiicxar das suas insolentes de- 
clarações de nnarchismo, soltos por falta 
dc provas cHmlnnes. 

Agora que olles se acham fór n de França 
14 andam os ogentes da poílcis francesa 
a remexer a Inglaterra o a Bélgica, parn 
os encontrar. Talrcz nta alé 4 America... 

— Uro addido militar 4 legaçta dos 
Estados Uo idos em França, o capitão 
Uorup, acha-so Implicado a'um cscauda- 
loso processo do espionagem, roubo de 
documentos ioteressaudô 4 defesa naeiomtl 
«pie um empitgado do ministério da 
marinha, abusando da confiança dos seus 
clicfcs, ti-a/ia-lhe para copiar. Accusa- 
mm o capitão Borup de fazer espiona- 
gem por conta dn Allcmnnhn e da Ilalla. 
Kllc repolliu indignado a nccusaçào. Nào 
negou porem, quo recolhesse documen- 
tos secretos doa ministérios da guerra 
e da marinha em beneficio do sen pai/. 
A sua declaração vem no Neto York 
flcrald: • Nada fu do que nio possa, cotno 
tjeniieman, tomar a responsabilidade. . 
Recolhi informações para o meu paiz c 
não para outros.» A gente mais cacru- 
l«lo«a pódc düer q*tc trabir a conflançn 
da França liospltatalra roubando-lhe os 
H gredos da sr.n defesa, moita diflicil- 
mcnlo passará por aclo que um geat /<• 
maa possa conkosar, que seja em proreito 
(tas Kstados-Unldoi ou da Altamanha n 
esptan jçem . 

Agora nma seisma qne de tudo isso me 
fica 6: já m estará preparáudo a nossa 
grande innà do norte a rir 4 cooquista 
da Europa, para assim eome;ar a rennir 
J«c quanta aos melrs dc defesa 

de que a Frauça iUs|>õe no Mediterrâneo; 
ou seri o capitão Borup simplesmente um 
lonro, nm espia j or eanU própria, Ima- 
jinanta ser r.tU ao seu palz? 

— Na i Jade dc *«i ann >s morreu bon- 
trm «le manhã, do unia cougestáo pul- 
n:on.»r,*. ilmi - ite M - *hc;. Navcsp:ra 
aiuia tiulia estoio u» oUcnaUuta, dc 


I 

1 


De Paris (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


953 


Armo XVII í 

iíio d« Janeiro — Babbado 24 de £etemt>rn de ihPS 


N .267 

:x: GAZETA DE NOTICIAS ' 

pwmwi 

t A «WTV M >m>nu M 

■UHCftO AVULSO M 11 





fc «V •* ■»> p*m 

- 1 

•ocictUiie uot^at «Gazeta de Noticias» 




Tn|w 40000 MMfUru j 



r?^EttZL.*L72 

SHG0LAB CHIE! 

j^.^vgt3E 

tmmnnau 

DE PARIZ 


o estuo ii s nau 


I^mSSss: 

! S:‘£rSHr5r 

MULMCA ASSASSmâOâ 



gji^sgs 

ffiBl 

jzr£ü£jsr»iíE 

j’X?=arzts=~ r 




Boleün Piritmaitír 


' i -’ -J X*. ‘•-Zn _*r 


i £L“£ t 


tHvcrrür: 



SãvsaSwsy-* 

OH9LIRA 

. !|!“'T .‘J 

jggg 


- rrr. - jr -3 

DINHEIRO 

1 rr.T — "-T, 1 



■AJUCMAL MOOOAO 

: 


P 

km ciiosiiL 

1 ’^*rrE£i£r. Í tÍ 


-àr_ : ~íF.'“ 

fTT.** .TTTT - j.^.. 'i k "«*íi;V 

üj^ríiülicr.w-ííiüi 

. I *"-***T,"7i^r** 

iyHEri?sr£^ii , i 

:rX£LTT: 



• -t •- 7 rLr; 7 , ^- r „ „ ; 

*ry*‘^*' _ r , *,, 



3l. ÍTS SL^r*“ “*"" j 



^rT-uT-^rrl 



S^^rr^risíri: 



"** ^ l **^ > *“‘ **.^*" *■” 

Lr^r-^-— 

T-T-!*; — *-r* ,r 



sI?í£FÍ£^£: 

■prá^íS 


llffl 

bzillP^s 

ILtIÇAO «UHICíPAL 

grSrrSâSTgj 



» ,!rsajy j£~ 

jsS£^ 

luumi m isuBuir» 

|r=.trjr=x:~i 

^^rp'‘’Yr = *^i 

SSSçmm 


=gip~sgè 

mino* r« ruu 

ilSÊ—pj^d 

■j grassar '.rcr. : 

33rS* issza I 

SSi£srí3r5 




i ** r ~~— 

.|Zs^suisss| 

um ti «um m me»t* 

'** !* i c ; ■ in .~ l 7 l 

Sva^prr^ 


|vlS;=i|=|l 


iEagggs^v 


"Srr. i ££=; 

rHfrirSlrí 

MHü 




: 5~g5j3sSl 




t^ | g‘.y r TS>,V4S 


De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 267, p. 1, 24 set. 1892 



954 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


; CORRESPOMCIiS 

DE PARIZ 

S«mum. — 0 cfcsUr* - u/m — Z«U em 
t I 

Ahl T«iu o cholcra. da Santa Kui*la e 
pela (Semi tinia i nater. P. r Ar» ha ftcfaar- 
Iho portas com quarentenas edesfnfeeçtes, 

1 que a facilidade do communicaguri na 
| Europa também »c entenda com oa ml- 
rroblos. De Hamburgo e do Berlim a 
l*arl/, ou por mar ou por terra, o terrível 
flagallo noa ameaça por dlea. No llavrr. 
«m Rouen, Jã morra canta do caio» ful- 
mina ntaa, qneaaiim chamam o» da morte 
cm lioraa, na vxliaitslAo da» cólica» lerrl- 
vtU. Km Antuérpia, a quarentena da nada 
, serviu, nem a brandura doa nomea que 
puz-rvm ao mal aslalíco: d.olera nutras, 
dlarrhèa ohokrifornic, dyaenterla, ate., 
tndo Imo mnta em lioraa c corre como a 
ver ladeira peste. Km Vknna, sstignalsm- 
«4 caaoa mortaca. Em Londres, que nio 
m assusta com pouca couta e onda aa 
quarentanaa tio cx trenumente rarat. o 
••Local Qovernment Board - Já preveniu ia 
auetorUades aaoltarlaa do qua ba a íszer, 
aocaaode Londres aer invadido pela peato. 
Oa navios de guerra nio escaparão 4» 
raedidaa de precaução o isolamento, ao 
cato do ae declarar a bordo de um d‘cllca 
o chokra, morbtit ou noitrai. K que o 
algarismo da SOO cato» cora 300 ohttos, 
que o professor Kocb com mu nio dc 
Hamburgo, com a tendência a augmaotar. 
faz um (rio pelas costa». 

Até cm Chicago aqudla gouls corajosa 
1 o dc«abuaada Um receio do que agora 
lhe chega da Korop»,d'eata velha Kuropo, 
que sempre tem fome c peste, quando nâo 
tem guerra, no aeu apoJrccimculo se- 
cular... Chagas abertas sempre, fontes 
. por oodo deriva a morbidez social, para 
que tudo ae nio contamine, efto por cm- 
quanto necessárias: a fome, que incita ao 
trabalho e quebra orgulhos vãos; a pente, 
que drahasta populações Inconvenlentc- 
mente agglorocrados e mal preparada» para 
.» cxlstcuciacm commura ; a a guo.ro, que 
b ti grande póda, ao mesmo tempo qae o 
graúdo draoia, para sacudir nervoi, le- 
vantar corações deprimidos pelo goso ou 
pela Inveja, • eoograçar odios a amor*? 

> em torso de uma bandeira repreaçstando 
a patria ameaçada. Agora cesaou aguerra, 
a fome è- menos purgatira; segoem-sc 
as epidemias, a reate negra ou ariurtlla 
ou vcrmelba, eacariatinaa, bexigas, cho- 
1 leras — as perdas salutares do grande 
, corpo. 

Também os aenhorts a lerio breve- 
r mente por sni, deixem csur. ruo serão 

3 os quarentenas Mvúrs», nem aa medidas 
i> liyxienicas tomadas de improviso que oa 
i hlo do «alvar. Morrerão muitos doa pou- 
1 coa que me lèm, e cu, n'uma inditTcrrnçn 

íerotaicnu* sysUiualiea (O Standard, dc 
| Londre», dtx que nVxtas cousas o eaacn- 
y ciâl é ter sangue frio ), nem mesmo tomo 
, aqui o trabalho de copiar-ities aa receita» 
, que o Jornal doa Debates aconselha para 
; quem sentir oa primeiro» Symptomas da 
j peste. Para que? Quo lbeslmporta.se estio 
- embaraçados para viror (e geral mente oa 
t senhores se qoelxam tento 11, morrer na 

4 segunda-feira, era vez de morrer no «nb- 
I bado? E quanta quesi&o, quaota dlíBcul- 
j dade politica, financeira, senUnuMlaJ, 

, se resolveria para hem doa que ficam, com 
, a morte dos f*titcur$ tf embarrai, com a 
, |«astagetn para o outro lado, do certos 
t homens-cogmsgos, que no» tiram a »ere- 
i nidade da vida com as anta batalhas para 
< ao nio deixarem ongullr.*, 


nlo ora mala que um «mho, mas rra ' 
um bei lo e glorioso aonbo. 

K então por que reuunclar a elle t 

H«m dllTcrvnte do duque de Madrid 6 • I 
outro pretendente, o conde de Parta. Misa 
nlo tem roai» esperanças quo o Dgurboa I 
í iltvaçlo ao tiiruui) cmUm^mím^ e, no 
entsuto, apesar da» defecções, do» ithsn- 
«lonox. do amort ecimento da fé publica 
na aua cstrclla, maMfll IíImIi de par- 
tlJo o pretendente vi U Uri». 

Aqui ha lempó* D. Carlos contestou-lho 
o direito de our o escudo Integro doo 
Hourltona (trei ilores de lix dc ouro era 
c»mpo de blau), sem o IdmbH «t troit 
ptndftnti (que o Blutcao traduz cxqul- 
ftltamente por banco de pinchar, nlo sei 
purque),quo posto em chefe sobre o m?<mo 
escudo representa » es»s do Orles ns e a 
dlflerrnrn «lo* lio irbons do ramo directo, 
Ma» •> condo de Parts rrtpondcu trsnquUta* 
inenU que nio tlub.i usurpado as armaa 
doe Bourbon», e sim tomado, por direito 
de b ordeiro do throno, as arma» do 
França. 

D. Carlos te n menos confiança. A po» 
«ibiliilado ds restauração da monarchlo 
em França só podeifa vir para elle «ca 
*egui«Ja a terríveis deisstres iiartonaes. 

K juatamente para que e.ssca desastres so 
aio d cm, è preciso qno n França conti- 
nuo unida, grande o forte. Assim o en- 
tendeu Leio XU1 na sua encycUca con- 
ciliadora, sento republicana, e, por obe- 
decer ao chefo do catliolicbmo. D. Carloa 
dLpensou o príncipe do Valor! do poslo 
de seu representante em França. O duquo 
dc Madrid abdicou de um throno, do roait 
bello do mundo, di/ia-se outrora... 

— Z«»la and* por Lourdoi com os fero- 
grtnos, para oa estudos do um livro quo 
vai e ceerer depois do Doutor Pairai, 
xnnuneiado para a próxima primavera* 

Foi n’ura wagort do seguida classe con- 
versando com padres a«*ompanlu>ii aa pn>- 
clsstel, rc>ou na basílica, conversou com 
locotcs, verificou curas com os medicua» o 
quando, 4 |iauagetu dos cortejo» religio- 
«K.as paralytieaa liy»tericaa e os curados 
pola fc ao levsoiavsm das micas e doo 
catres de agonia, com cJamoras do gra- 
tiddo rnystica, o homem do <4 mo«i- 
>»oir oxclauiava enlbuslumado: •> guo 
c‘est beaut que e'oit beaut- Depoià 
(uando Ibe perguntaram o que elio coo- 
cluia de todo aquelle commovcnte e signt- 
tlcAtívo espectáculo, elle respondeu quo 
acreditava na ■ eternidade da illuaèo. » 

Ha pestiMs que faxem fortuna a desco- 
brir torrss descobertas. Em KUeratarm 
lambem..* 

Douicio oa Gâua. 

Psrtz, Z7 de agosto. 


), 


Faton aqui a brincar, ma» e*ea « purga 
çSo do corpo soe is 1 • pela peste olo m 
fss som eólicas violentas, dc coa.se- 
qttendas graves. As medidas de rigor 
contra os doentes, mais do que contra a 
doença, nlo sJo hem recebidas, nem 
mesmo na Rússia, terra «ia obediência 
Aioda ba dtas. em Kathertnoslaw , o povo 
tirou das mãos da policia uma mulher 
que era conduzida ao hospital dos cho- 
lerteos de Jouiova e sustentou a luta 
contra uma centena de coaacos, que vieram 
em soccorro da policia. Os soldados roo- 
cersm, mas perdendo vinte doa seus, o 
depois de baver duzentos bomens do poro 
fòra do combate. 

No dia seguinte os operários das fabrl 
cas visinhas vieram, em numero de dote 
mil, atacaram o quartel do» coaacoe, ex- 
pulsaram-nos depois de uma luta renhi- 
da, incendiaram as casas do quartol e do 
hospital, de oode levaram os doentes, de- 
vastaram a igreja e a Pharmacia, sa- 
quea» am aa fabrexs, destruindo tudo, 
acabaram Incendiando a cidade. Ot ha- 
bitante» fugiram espavoridos, o a cosa 
coa foram quasi todos morto», e foram 
precisos dous regimentos e combates m>- 
iíús para reprimira agitação que ae pro- 
pagava por todoo governo de Kalhcrtnos- 
law. 0 cbolera, etse nlo houve aoidado 
qne Ibe pudesse deter a carreira : alas- 
trou-se quanto quiz. 

Em S. Petor «burgo 6 prohibldo ter medo 
ou pelo meuoa moslral-o. Um ciiefe dc 
policia, ctjc elogio biographlco rém nos 
jornaes francezes (estes liberaes I ), man- 
têm a população sob o regímen hygicnlco 
do silencio. Morre*»» muito na Hussia, 
mas csladlnho, por ordem «io czar. Ate 
qae um dia os brutos desatinem e se fa- 
çam ruatar pelos soldados, em vez de 
morrer da peste. 

A fumigação o a mordaça... o medu 
«!a morte revoga o liberalismo de que esta 
toda e*ta Kuropa viciada. Soifre o com- 
mercio com as quarentenas e paraljr- 
snm-se as transacçfies. 

.Supprímiu-se o telephooe eotre Ham- 
burgo e Berlim, não sei porque. Talvcx 
prguc a molestta pelo arame... 

E‘ o tempo de desanimo, de abaudono 
de ambições, senão de convicções. O mar- 
ques de Brctoail renuocia ao seu mandato 
de deputado realista, desde que o sento 
pa/ire aconselha aos franeere» cstholicos 
que aeeritem e f»;*m botira ás institui- 
ções que os regem. Fmlle Olli vier diz 
que c<»a renuncia não significa senão um 
desengano de candidato que se sente per- 
dido diante do eleitorado, e uma sahids 
airosa do pleito dc antcmfto perdi- 
do. E D. Carlos, pretendente is coréat 
dc França e de Uc«psnh». tambem por 
obcdteaela a deutrina do VaHcann des- 
liga us seus II dos «ie França do prato 
que Ibe deviam ctlra-'hcs a ultima ca- 
I >cr anç-i «k o terem |>or soberano. Espe- 
rança l)«m vaga, dirão, c em nome ds 
iual po m fez dc («osltlvo, a parte os * 
bmqiv-t •» e manif-«?aç'» comnvmora- 1 
tivas de data» n>ui^iici.lsUs... Mas scai- j 
pre :ra uira e uma fé. 

S* c t vis*om para rtie^ar f-s tempo* 
abomináveis cn» qu< s » sr crorã no que 
w veja e toquei... A cvum d Fioaça 


De Paris (detalhe) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 955 


Anno XVir 



• XUo do Ja aoiro — 30 do Botomtaro 4 t W# 

Cazeta DENQTlCI as 



nuatao avulso ao n 


SlAnotrpad* e tapraon ui BAcfclaa» rotaBn* i* M ; l»aai, m iy po* v* A* «1* 
wcMkiit unr«* * Gazeta de K iticuu » 


NU MOO AVMUO 









956 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


I 


CÜRREPliDMS 

I Su«ji*»u.-l»fMt»lf» 4o pr»c*M Marti — 

— Aluai! UI uh 4» »l.iSre Pont» - U Um 
4« oille. 

0 grnnlc acontecimento d» semana» 
sento o unlco, tralaudo-s ■ dos quo fa/ein 
nlsrliln antr« us kriimm Os Imprensa, (ai 
o Julgamento ilo iTOCcaso Intentndo no 
marque* do Morèa o h\ lesienunlma do 
dusllo em qu* com uma forml lavei et- 
tocada o capitão Mcyor foi forldo mor» 
tatmento. 

A sentença, esperada « qunsl Imposta 
pela nplnlto) pnhllen lAim procetso d« 
pura formalidade judiciaria. absolveu o< 
cinco accjssda* fraca ukuiIq nccutfdos, 
um de ter levndo a os|iada homicida no 
peito de um homem, os outroJ de lhe 
terem prestado u'eiia clrc-inistancla o 
seu apoio moraJ. A InaUurção do pro- 
ce.'8>, u» dtqiolmoiilos das testemunha» 
versando sobre a provocação do marque* 
do Morès su capitão Neycr, sobra o poso 
das cspjda* do ombale o o correcçio 
do) comhatontes no campo, nAo adianta- 
ra ni maioria, apeuas deram lugar a que 
o marque* de Muròa contasse oi eeus an- 
tecedentes. 1’ernnte o tribunal olte ox- 
plicou o seu odlo aos Judeus (que os 
liomoni que eo oocontram com inonopo- 
llus aonbtm por descobrir por tod* a 
parte uo seu caminho) pelos sent Insuc- 
ccssos em explorações começadas o aban- 
donadas na America, ouds (ui rriadur de 
gado.com o flm, grande do mais. de furor 
concurroncia aos inçrcadores de Chicago ; 
na lndo-Chiua,onde tentou abrir estradas o 
vias de communlcação no commorolo colo- 
nial franecí; nalutapolitleacm queoacha 
ram bilicmio o estouvado demais para o 
tomarem como um cnndidiito sério; e llnal'- 
mente na camptaha emprolu-ndid* pela 
Libre parole contra os Judeus, que dou 
lagar a tantos ducllos o quo ainda uão 
terminou, dopofs de estocadas e muitas 
em justiça e da morte de um liomciu. 
Não foi. sem interessa para o publico 
esaa eepecie de exposição do mollvot 
do um odio pessoal transformado era 
motor do uma campaisln social. A fi- 
gura do marque* do Mores, Usnoritc 
■eformad» da courseoiros, rico- de mui- 
tos mllbüea. criador do gado uo kar- 
Wost, engenheiro a explorador mv Iodo- 
China. camUdsia poli tico eia farir. « 

promotor da manifestações socinlisUa 
anti-aciaitaa, sal da moootoni* doa 
typoa pouco ayrapatbtcos, de agitador» 
revolucionários. 12 verdade que li» quera 
diga queelleóum agltslo, insio pancado. 
ifss não é anlipatüb». No- Uibunal do 
j.ury trataram-no bei», em coosequco* 
eia. O prcaidoot* doixou-0 f.dlac, tratou-o 
do bomem a lioracm, como a um sim- 
ples oulpado do precipitação ou de ira 
prudoncio. O proprlo accusador pjibhco 
pediu a condem nação, não contra passou 
mns contra crimes, por exemplo o re 
jrosaãov Eo lUuatr* adr ogad» P f a o t» 


nvldo do rMama o do celebridade, |*or 
rtcoml.ilnsa que esta soja. 

litiUolaulo veiUloou-*a, por oecaaiãn 
d'r«t» recente Incidente, qne * maior psrfn 
do» livro» que olle nsslgiiqti como nuclor, 
uão ci am aeiião produclns do uma fabri» 
cação a Unto á pagina, foraooUo» por ea- 
eriptorea famélico* o mercenários. Um 
iTetles ronfossou que Oa amarei noivfoi 
iié Pia IX, publicados com gninde eacan . 
dalo n'um jorual do MaraoHia o do|iOl» 
com grande lueccaso da livraria na 
Delglea, doLim-lhc Immonio trabalho, 
lírio dlIUuulilado da invmlar oa nomea 
dn* amante* a oa requlntea da« devorai- 
i!0 -a criminosas do valho papa... 

— DepnLi do Iriumpho ludlrectamanle 
obtido pela I.ibre Parole com o processo 
Morès, recebeu cata um adulo publlc-i 
com a rocuaa da parte ( b> enibsixsilor da 
Itiissla n rcreher o» trinta mil fran 
cos da subscrlpçBo para os polires dn 
santo imiHulo. Ulecutldo a recusa, cx- 
|dlcnu-so esta pelas uiançOo* Irroverenloa 
para o C*ir, que acompanhavam re- 
messos dc auüsçripçSes miulmas, c que a 
I,ibie Parole puhllcavii in-exienso, aem 
pensar quo o Inuioiiulor o Rontillce da« 
Rnsslas não podln admlttli que, a pre- 
texto da lho niaudar dou» ríotoiia para os 
acua poliras, um antl-semll» discutisse 
os aclos da sus política Interior, ou o con 
vldasso a se converter no catbolicismo. 

— 0 presidente da Republica viaja pela 
Sxbala, trnzendo a lllti»lração da s’ia |ies 
soa ãs festas commoniorativas da annoxa- 
ção iTaqucllu provinda Italiana ã França, 
oa ministros Inauguram cautuas |a do ge- 
neral Bourrascm Pomplgnam.a de Kugiiu' 
relletan em Royau) noa dapartnrociitos. 
oa congressos aocbillslas resolvem cousas 
temerosas para o futuro d» sociedade 
burguesa, as grfves terminam aqui para 
rocomeçarem Mli cada ve* mais por- 
sislontea a choias do gravhtade, n polí- 
tica dos político» o n littcralura produ- 
zem menos matéria para artigos nos jor- 
naes. (Tanto quo o Uvro de Zola. n 
appnrecar para o anno, jã d discutido 
como no estivesse feito.) 

0 cholcra ameaça aempre a todos e 
prejudica princlpalmsnto o mercado de 
(rucUs. Mas cm compensação faz bom ãs 
companhias de aguaauiiuarae* caos ptisr- 
macculico». 0 Sena, o Sena ovante jà anda 
tão ilcsaeredltartc, que atè a frejuezla dos 
banhos frios lhe diminuo com o panlcn 
dos tniciobins... K* ventado qua o tampo 
começa a refrescar. Os cafés conccrtna 
dos Campos Elystos fecham as barracas 
e tiram os collarcs do globo* foscos de 
qa* e mudam-so para o boutovard Sebos* 
tf.pol para casas fechadas, c os thealcos 
fochados pelo- estio abrem as portas com 
reprises, prautuolmcnte. 

0 syndicuto doa directoros contra os 
blibetos do favor e os gauderios doa ca- 
saios geracs reduzido a um aõ membro 
v»l termlnor a sua existencla ephemera, 
lavada poio ptímclro bifajó do aqulUo 
do oq tona. 

Pari*,. 5 dc setembro I89Í. 


ir nr- ip-iwij» 

.Ú.mo*«L. hm rrn mhe%« MftVl •KflniU>L^W> 


i** . 


De Paris (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


957 


olnqwenct# par» gaaooc «na aaswmjw 
prevista. 

0« incidentes que acompanharam o- 
processo foram mai* intermautes. 0 que 
deu logar ao ducllo ontre o iTHvqttoz do 
Moréa c o capitão Meyer for a revelagão 
tU »cta de um duoHo anterior entra Bd. 
Drumont c o capitão Crcroicu-Foy priu 
irmão d'eâte ultimo, um empregado de 
banco, chamado limest Ccòmicu-Foy, que 
sem ser tostomunhaioterveiu n&contcuda, 
commmúcando » jornalistas as condiqüis 
doduello eatee olrmioeoradaclor da Li- 
bre Parolt. O marquoz do Mores fez d'isso 
uro aggravo ao capitão Moyes, testcoiu- 
iiluL contraria ; cate, emlwa declarasse 
iulo ter sido o rçvelador dn acta, tomou a 
si a rosponsabiüdada de fucto e mor 
|ior um sogredo quo não ora se«. 

No cm , rcrd<»dcbJ»»ceosnrmt>«acer>- 

bamonto ao irmão do Crémi«t-Foj o sou 
zelo impothtno e a. soa resertà medrosa, 
que trouxe como consequência a morte 
■derum bomeat. O presidenta di» picy» as 
testnmunhns prd e contra* os- mirogados, 
o proprio prometo»* publico, cobriram da 
vergonha o procedimento da Ernesto Cté 
mleu-Foy. A. conscqnencia.d*tsso fot mais- 
um oscandaJo n» dia saguinto. Descsp- 
perádo com a bumilh*ç8o que softrer* en» 
publico, a que a v<wr tf» Imprensa eentu 
pllcsve om echo», o pobra Ernesto foi 
ter com * tenonto Tractra, da guarnição 
de Nfoaur, sou smigo notes dn« duolftw, 
e que mais o sccusara pernnto o Jwry. 
psr» desaflai-o. 

O tenente Trochtr, que rcerbera dosou 
co remei' ordem de nifo nccell.or provocação 
alguma por causa da questão Meyer 
Morès, n sobretndb vindo eila do Ernesto, 
.respondeu no do&oflo d'caíe com uma M 
cuset de batev-so. As testemunhas do- Kr*- 
- nceto (tuna era o Sr. Isanc, CM-prefoilo de 
; celebro memória poroecnsiào dos scon 
tos do Pourmior) voltaram par» Parb.thBK 
elle fhrtoso foi procurar o tencntíTrocInv, 


S 

l'R 

c 

e 

r 

r 

c 

t 

d 

R 

c 

] 


l.elle fhrloso foi procurar o lenonteTrochu, 
[que almoçava ron outros miniarcs,o quiz 
esbofeteai-m com a fura. 

Os militares correram com dica brn- 
galadas,. socco» e pontapiw; um mesmo 
quebrou-lhe na cara uma garrafa dí 
deííeUz. E a cousa fícoü nlseo. 

EÍ^Acr par» indiscretos qitc não sobem 
tomar covaíosiinuíntte x responsa lílfiitatle 
das- mira intriga* Não- lhe* vale depois 
o moilfir valentias fõrade tempo- I? um 
homwn- perdido pelo riJicuto. 

Outro incidente fui o levantado pelo 
depoimento do iiina-toslomuuha d» oscu- 
isnção, um homem quo teve aqui lia 
annos nmaescandalosa-ropnlaçAo do 1 nflli- 
dcrical, o Sr. Lóo Taxil, que hoje COU* 
Vertido, c&holico e ulUanionUno, não se 
resigna 1 entretanto' a dehrar qus <v sücrr-- 
cio se faça om torno do sou triste 
nome; «r velo contar lílstorfa<de omeírçtfac 
vitupérios conrra osjudeuíf-que ouviiv n» 
snl» do» Passos Pérriidosdopfflitclo de Jtts* 
tira a um dos accusados, o Sr. (Tiiéria, da 
Libre Parolt. O Sr. Guérin, por unica 
resposta, perante o tribunal chnmou-o dc 
repugnante o Infecto grtdln. O presidente 
pediu no necusndo que retirasse a expres 
sfio por ottenção ao (ribunal c deixou que 
o advogado do mnrqucz dc Mores- orra-' 
/.asso depois a testemunha com refercii 
cias ao sei» passado. 

A grande jornalista Scvcrina notou a 
proposito d'csse incidcnto quo o catbolico 
converso te escusou com bem pouca hu- 
mildade e rnnlricçSn, cm vez de‘ confessar 
bravamente o seu passado pouco digno, 
em romparação com a sua redempção de 
iiojc. 

lí' que o Lóo Ta vil, auefor dos livros 
quasi obscenos que os meninos de' colle- 
glo no meu tempo liam As escondidas, c o 
raíliolico in leLvntcmente fervoroso de hoje 
■ são a mesma pessoa — um meridional 
| sem cscrupulos, de cabc;a esquentada 


De Paris (detalhe) 





958 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 284, p. 1, 11 out. 1892 





DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


— Fez-se muito bavuino em somo o * 
ecqulsiçAo de om bronze venezUnodo 
Meulo XVI pelo museu do Louvre. De- 
pois ve. ideou -»o que o bronze cra UM ' 
l P bei li ui ma obra moderna, imitando adrol- 
n r tvolreeuta o caracter dae obra» do tempo, 

'» cus que d*o valia por Imo oe 40.000 íran- 

* cos por quo tinha «do ajustada. B fez-se 
I- um ainda maior barulho «obro o logro 
lc do Se. Courajud, director do mujcu na- 
'* cional. 

Na realUade, o logro foi de quantos 
viram obruoae e.cablndoem estase diante 
l” ilVIle, approraram calorosamcnl* a acqai- 
*|çfto. Oi jornaes Unhara publicado 
artigo» de especialista erudito» o de 
amadores, que co congratulavam por 
ter essa maravilha da osculpUra do 
J- Reniucimento escapado ã avidez dos 
M directores dos museus de Loadrea e 

* de Berlim, rivao: perigosos, qno « es- 
ta tos últimos aojioi têm empolgado quanto 
Jí de nntheotlco e unlco tem appnrecldo 
V no* mercados do arto histórica. O* peri- 
tos se prenunciaram, o se o proprio ven- 
dedor nfto desistisse de garantir a authcn- 

do ticidade do «eu bronze, assim qne esta foi 
m- suspeitada, i natural que oa 40.00) francos 
Ibe fossom entregues o aespigi pregada. 
,1o KAo foi culpado o dirtctòr do Lourro de 
ter cedido aoa conselhos de tanta gente 
Monea para o caso. 0 que o engano do 

* Sr. Oourajod unicamente prova, ê o apor- 
te- feicoamento dn (uduitria moderna, que 
»h tio bem permitte Imitar as obras primas 
:u da arie doa bellos séculos. Um museu do» 
£ npocrjpbot, que se creasse com as peça> 
ria menos que duvidosas das colleo;fics partl- 
■da cuLirei « dos proçrios museus nacionaes, 
jj|| bastaria pwa encher df orgulho o homem 
ras que sc sinta verdadeirameuie dosea tempo, 
ms Fm madeira» antigas, entalhadas, com a» 

■ 0 brechas do rigor e até as broca» doa bi- 
jl? ebo* curtidas » permanganato de poUtsa. 

acido nítrico e fuligioi rdciuaJa, para 
terem a phyalonomia escura e mdineo- 
uã ,ic * 1,1 etn torras cotla» jraga 

ou orientar*, com o» «cus colorido* drs- 
ir- boiados pelo enterramento doraote *©• 
jj** cílios, em vidrarias aralK» ou vcociiana». 

cm c-ninlles toscos, marfliu amarelknto; 
•ia » bn.u/os de patina* pre<<igio«as, trabs- 
iJo lha-sc boje r tm# nas melhores épocas da 
^ art-, mus mais depressa e mais barato. 
««I A» offidftt» rhmsdas de rrif<s»»raf«l« ' 
to. Kcupatn um cxcrcllo do artífices »oUe- 


DE PÀRXZ 


Um rcAo do Fiçaro, do £0, dia 0 M- 

gulnto: 

■< Asseguram-nos qne o Congresso bra- 
sileiro nlo rallflcarl aluía este aunoo 
projocto do convençAo lltieraria com a 
França. 

O* Inspiradores do relbo partido bra- 
sileiro Invocam para escusar o atraso que 
assim solTre a cuosagraçAo de ure seto do 
cortczia estrlcta o de eslricta equidade, 
nlo sabomos que obscuros motivos de 
ordem superior. 

Esto incomprobenelvel recusa de Joe- 
ti.;a para com a litteratura francesa nlo 
^a^nderà por acaso, por algum sccrelo 
JttL; A f4l»do uw.tbcatro nacional brn- 


XVI, bocetas cinicladM do século X V I II, 
o joias d'arto de todos os tempo*. 

Tor quo n&o bavemos uds do noa con- 
tentar com a perfeiçlo (ecbnlea do coír* 
florentlno que no* oiTeracom, sem In- 
dagar ae tile data do tempo doa ColllaU, 
ouse simplesmente vfnj d‘alll dofsuboiirg 
du Templo t Porquo somos lodos poctu } 
o o merceeiro rico quer Ur «obre a aoa 
| chaminé, come o Üorghcae no seu palacio, 
um brome contemporâneo doa homens 
cujo* nome* fazem «cismar. 0 quo prova 
quio Insignlflcanto 6 em estlirtlca a parta 
UonçreU do gozo contemplativo.. . 

Ç n A r * ‘ do 9* o do l£* 

[w* | o liou Uruiluaraa 


r*»*r!o*. tradõuct», WUU ffja ^^tTfljf 

quo «jqucnrlam, a titulo prtraaSrin^ 
sos auctorea dramático» e os noaos tscrl* 
ptorc* j serie o proprio Esta Jo brasileiro forçadas® 


quem so encarregaria d’U*o, era pessoa P nn ^ as 4IHiHHi 
anonyma e irresponsável, oMeial mente. UB1 knto “b™ » Alivmanhs, caftt 

Tanto poior para o Estado brasilslrol . grandes manobras annuaes a lauto do 
Estas poucas pbnues azedas e mal ba- chokra tem retardado e Uiva impeça d» 
«eadas n'um direito pouco claro sAo um Anltlvamentc esto anno. 

«Io* pequenos meios do jornalismo fraoccz cholera em l*aris acho reolhor nlo 
para ae tornar anlipathlco no estrangeiro. Wtor scnâo depois ds osperiencU a quo 
TreUr do alto as pequenas n»çAes(que, *« «ubmetler a populaçlo durante aa 
por flm de contas, nlo ba grandes naçiks coraracraorativu do centenário da 

para oa pequenos J-maHsU» frnncszea, a republica, depois dc amanbá. 

□lo sor a Santa Russia, n'csto momento), Por cmquanto cllo maU menos gento 
mostrar os direitos da conquista csplrl- do quo a tuberculose pulmonar no IUo do 
I tnal da Torra pola França lUinba. appa« Janeiro. Uma miséria... De*raoral!& 
rentar generosidade* escusadas quando sam-ec estaa moléstias dos tempos o doo 
taes direitos nlo s&o humüJcmcnle reco- palzes barbaros, quando oe uiodertilaatA 
nhecidos.otTcndcrsuscoplibilidadrsincsnio o passam para terraa civillsadaa. Um 
das mais »ympalhicns à grande naç&o norte-americano jornalista, o Sr. STaa- 
latina, A a tarefa perniciosa dos demo- hope foi d'aqui para Hamburgo c li fez-s* 
cratas da penna, que trabalham na im- ndmitllr uo hospital dos eholericoa. 
prensa diária cm Fiança. Antca tinha se feito vaccinar por um 

Digo que sio oe democratas da penna, alurano de rastenr cora o temeroso bn- 
portjue ha gente que traz para flludlr a cílio uirgufu. Parece que nlo scallB 
tna suclcdsdo intelleetuai os hábitos c os mais do que a picada da injeoçlo. Ver» 
scnllo.ei.lo» dsa classe.» inferiores, a que dado ó quo a vaccloa nlo 6 abeolula- 
pertenccai por nasclmenlo ou por falta I mente protector*, diz o IHstonr. Mas o 
I Je condescendência social, qne 6 o prln- americano ainda nio começou a tor medo 
I cipto da educaçlo. do nlo torna t ver Boston. 

0* democratas m trahera peia lucapa- E os senhores abi com tanto medo da 
' cidade do orgulho. Slu oa pedantes a posto, que ató nlo querem ra»U rocebcr 
todos os respeitos, que nlo sabem fazer aguas rolneraea em garrafa... 
um. corloiU «cm mcMrftp o dm.ri.cl- _ Um , enJr , ; ,j, polcmlo. entre Fcr- 
uuntó do . tuorom, « gmlt quo •» í(mM Bninottírc, o critico d. ItaUli 
>dmir. do «r Una. ha qu.ndo endo- rfo , dom Ju ,|. do |orn.- 

■ni.g.iu oHn,u.s«i..t»«n..l t i»OKtl|io Uiuii , protlM | t o dc ore. ..IrecrtptJ» 

' * KC.ta branca tóio looipm um ,r do |Ul „ „ m , , Boudclnlrc, cooultii» 

_ [ raíretí. quo Mlnp . ft n ura do um» q ,,, .1 ru pto ui.U llttwio dootoa ultl* 

’ j tihruc ooblinhindo-» dcin.il». mM < 1 .,,. BrundUoro contoatou n'um nr- 

Aqul li. dlw ure liooiíin intcUlpnla tlgo da Snirêra nup^rtuntdmlo d. orijlr 
clwto político e omdor d. nomo. o Sr- i u um monomrnloao ouctúr d., Flturldu 
Clímcncuui. oacrovoodo um. min . 0 1 Uj(i Lorrjio .uitiu K.IIII d. 
eretreixiutor dl Ru.ll», enrit .nilj.nl, 1 L . rtrotoní. uo Br.o ií. Perl,), Honri 

: zzzsz ? uíitíK reois ^ ?rr. ?%£ 

m de dlzor que a alilança franco-rtia» va.1 Alburt Dclplt, cujo* lusulsos roHflBHI 
- 0 aperto do mio o a homenagem quo o t j m a pp< rerido frrq^ntqment* nas p»« 
generooo povo francez rocobla do czar, etc. I gjnos da grave fornecedora da Acudeaia» 
Como chplomata porn concluir um tra-j ac iiaram que BruneUAre ers Inimigo df 
tudo, 0 Sr. Clêmcaceau, a julgar por wr» ümdeialr#, porquo esto nunca escrevem 
cart», seria homem para rocebsr oa seus n * revista côr do telha e íaitArom-a» 
I- paaanporlss em msio d* negociação. E ha dijqr-H»» dM*fQNa- Brunetiora rss» 

1 um tem numero do homens pnbWcos po a d eu pelo Vigtro d* hoje que lnju« 

I n'este genero. risr nlo A discutir, e estabeleceu os prln- 

NJo anhsmos •• a convfuçio lltlsraria elpios da sua conteataçla ao oortclmentS 

• com a França so fnz ou nlo. Mm si cila ,j 0 Baudolalrc As honra publica da e»U- 
' nlo «e faz, Apor haver um projecto lua monumental. E a cousa nlo pára aquL 
I de thtslro maMniia*do a cabeça já tio uma briga anterior entro Henri Roo- 

tloccupada dos nossos directores polRlcos q u4 ( a uctor da Parmer.iM) a Abrshaa 
10 administrativos t O insplrsikr do eco D r0 yfm (suclor ds KlejAl*/ o Ao tem 
[do Flf/aro parece ver as cousas do um ^ r; ,nde aniosçAo. 0 Becque dedoreaqus 
i f modo muito msl« complicado do que é 0 Dpcyhu servis-se d'*lle psra conss- 

- pcrmiUldo suspeitar da nossas mnchina- g^ir uroa reputaçJo uo tbeat.ro c cortsr- 

I çõps poiillca. thc mais tardo na pello. E contou pelo 

I Para q»i« » fundaçAo de um thentro Q au i 0 if U m a hi,toria do sopa de cotivea 

- [ nacional fosso impedimento i coorenç.to q(J# começou a tollaboraçio entre oa 
• , lllterarin cnn» s Fraaçs. seria predsoque ^mis.. . briga dc comadres. 

> cs ms tbentio nacional ü ycsm em viste . ex ■ ^ # dtJW 1hm1 MrM| 00 QJAo^i 

, I piorar princinslmcnlo a Ulleratur» dra- {âJonHeur de rutovt, do Sr. Brlcux, um 
nssllca francesa. moço ds Ulsnto) o no Pran çale [La juif 

' M»s os senhores vlo vêr que o srtlgul- )w/onaJf d Erckrai „ B ^iri.n. uma rd- 
Jnhodo Figaro dá s voltai imprensa e príes cojo principal successo provòm da 

- attrabe- noa descompostura s fsrU, de*- ei|SCCnRcl0)> c^uilnem o csbcdal lltU- 

- compostura Unto nrale violentas quaslo ^ ^ ua%n% 

I menos capjus sAo os seus aucUrw de gempr* A alguma cousa. . . 

. noj lorncccc .Um q« pl^UmOi. e »- o „ 

o bre as quaes especulemos escandaiosa- 

• mente, com ©ridente proscripçio do direito Parts, W do iciombro. 


I íraneex. 


De Paris (detalhe) 




960 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 







DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


961 


I CORRESPONDÊNCIAS 

DB PARIZ 

Svmnimo — CoiBin*mor»çO*i. — U*.mz«m. — Ab- 
.luuvõcâ • l(Ji' 

No Jln 20 do setembro Inaugurou it em 
Vslrny um monumento InarabaJo do 
general Kctlermonn, por memorli il« 
batalha, combate ou escaramuça 4110 
alll so deu, eem aunos antes, entre tro- 
pas atiladas allemlles 0 austríacas, e um 
exercito da nascente Republica Franooza, 
«... Acção do guerra um pouco molle, 
um pouco confusa, e que no momento 
pareceu bem p^teo decisiva, a ponto dc, 
dons dias depois, os vencidos acam- 

* |iarem sobre as posições de ondo fo- 
■ ram rechajsaUoi ; sd 0 povo 0 os livro» 

populares, faltando d'c!la, empregam cor. 
t rentcineuto 0 grando termo do bata- 

> Hui... • Isto diz um escrlptor cora- 

> potente, tnitando do aeonteclmonto, do 
l>onto de vista estratégico. Mas, para a 

1 cominemornçito, pouco Importa a prrdslo 
' do termo militar: a jornada do Valray^ 

> batalha ou escaramuça, foi a primeira 

* grando vlctorla moral dos tropas da Re- 
0 publica, e esse nome do Valmy retum- 
bará na historia com toda a resonancla 

0 das suas InSnltas consequências. Dl/cm 

0 que 0 grande Gorthe, quo 30 achava no 
a acampamento dos nlllados, explicou aoi 
“ cabos do guerra admirados, quo cllcs 

Unham sido mais batido» do que tup- 
is punham, c terminou a sua demnn- 
!■ straçno pelas palavras prophottcas: «D'cst» 
logar 0 egesto dia data uma nova era 
1° na historia do muodo, 0 podereis dl- 
r “ zer : cu lã estivo...- O que Gootbo viu, 
m para 0 Impressionar assim, fot um oxer- 
clto de volboa tropas aguerridas 0 discl- 
or pllnadas, na tradição do grando Fre- 
r- dorico, oa melhores soldados da Enropa 
guerreira batidos por uma quasl mullldla 
mal armada, quo pcllojava aos gritos do: 
1’i'ou a nafdol 

Volray foi 0 consolidação militar da 
»• Republica, aurora 0 preiaglo das vteto- 
rias quo tornaram 0 nome francez odioso 

1 entre 0» populações dc lanto pntz con- 
n- qulstado, do Nicmen ao Tejo; Valmy fot 
JJ” 0 acaso feliz que decidiu da sorto da 

monarchia, alll vencida. Feliz ? nofaalo 
acontecimento? Eltes quo 0 Icstojarara 
com mnnujtiQnto e discursos coogralula- 
lorlos, lã 0 subam. Para mim 0» problo- 
iJt mas da historia são complicados demais, 
•ris para qut mo atreva a ciltlcar a sua so- 
la, Iiiçho. 

p'dra dc Françt ha muitos que não 
C. aelmm quo 0 Irlumpbo da revolução fosso 
'j™ uma cousa utll, nem noccssarla. E de- 
íi™ monstra-so alã, quo d’thl proveio pora 0 
•sta dosou volvimento da roça latina 0 qulçi 
U* das visiuhaa do Occidcnte um corto atrazo, 
pola» eonvulsOes políticas, pelo Inoondlo 
cm do oJlos internacionaos, que so ateiou na 
«11- Kuropa, pelo consequente rcglmcudubrtt- 
Inlldado militar, quo absorveu as força» 
viva» daa nações durante longos annqsa 
ias- as exbaurlu para os trabalbos mais ulois 
Uti- Oa vida paclllca. P6dc-se dlzor que tudp 
*, 1 ®; Isso são aUlrmaçücs improváveis 0 do mã 
origem, do estrangeiros c. . . que tapo t/c 
s do fira não ronco. 

> l0r Mas, cm França roesrao, ha gento d» 
!ém- dentro n 110 vota contra a revolução. Dosda 
car- 0 H do julho d'osto anno, jã qualorzoca- 


maras syndicaos do trabalho i-cspon- 
doram ao convite do morro ac 00101-11»- 
zairc, para tomarem parte nas coriraonia» 
da testa nacional , quo, depois do uma 
reunião na Bolsa do Trabalho, füra re- 
solvido ddxar-so á burguetia, única qup 
auferiu vanlagcus da tomada da Bastilha, 
o cuidado do festejar esso acontecimento, 
cuja data lhe ó tio cara. E mais, quo: 

Considerando-se hoje tão lesados como 
0111 1789; 

« Declaram abslcr-sedc toda a manifes- 
tação republicana 0 não reconhecer como 
festa senão 0 1* do Maio, dia escolhido 
pelos trabalhadores do mundo Inteiro 
para formular as suas reivindicações « 
chorar oa sons mortos do Fourmles. • 

A22da setembro, quando solemnlsou-s» 
centenário da primeira republica, da 
republica de Valmy (que, por signal, não 
se baptisou republica no mesmo dia, ocm 
em cem aunos chegou ainda a vtvor cln r 
coonla), rcpetlram-se as minifestsçõe» 
desfavoráveis, sinda que menos sensíveis, 
no melo da qussl indlltorcnçs geral. Em 

pariz 0 povo acudiu A passagem dos dois 
cortejos lilstorlcos, monos interessantes 
que os dos nossos cornavans aht no Rio, 
embora, mais caros e pretenclosos, Mas, 
badandrric K parte, não houve movimento 
dc cnthusiasmo senão otllclal: cmbnndol- 
rou-so monos, dansou-s menos, bebeu-s» 
menos. Por signal quo 0 cholora apenas 
tevo uma Traça recrudescência, que não 
durou. Muila gente aproveitou 0 feriado 
para ir passear no campo, aos últimos 
ralos do sol de verão. 

Sem fazer aqui phllosophlas inoppor- 
j 0 lunas, parecc-mo uma cousa de profundo 
plcanco esta reserva anlipathlca do quar- 
ta ellat/O. O que se soloinnisa a M do 
julho 0 a 22 do .setembro, são as dalas 
syrabolieas da lilwrlanAo das peias do 
antigo rcgtmsu. ã 0 principio da liber- 
dade em si. K oqnc querem as reivindi- 
cações do moderno espirito social, c a 
reorpnnUnçío do trabalho como iPnntes, 
em syndieatos. jurnudas c corporações, ê 
n renegaçáu da obra custosa que uni s f 
cílio não bastou para consolidar. 

A rcacção (selo povo è n historia sabida, 
mas a solocção conservadora, dclibera- 
daincnto c a frio, õ malcrla paia cogila- 
rües profundas. F. pensar quo õ a Eicola 
Normal que determina c»tc movimento 
Irresistível, c i|ue os trabalhos dc T.vlno 
sobre a revolução e as d.vnamisaçõcs dos 
seus discípulos vão fazer mais do quo a 
a (iropagauda dos partidos políticos para 
a reconsideração do Grande Erro I . . . 

Os discursos c mensagens dos realistas 
c pretendentes do príncipe NapoleJo (ur.s> 
mensagem reivindicando a data dc 22 do 
setembro do 1702 para a dynastia plebis- 
citaria dos Napolcües), do conde dTlaus- 

sonvIUc (discurso político cm Montsuban, 
revenha dos oconleclmontos no mori- 
bundo patlido orlcanista. respeitos» con- 
otação ã cncycllea conciliadora do 
Leão XIII, censura 4 desanimada demissão 
do marquoz de Brclcutl, oxpOslçSo do pro- 
g ram ma da •nonarelii» litieral-socialista, 
efe etc.) e a cari» do oondfc de Pariz lena 
sÍjÕo fitado das discussões polilieas cntrS 
osjornaíes duranlc a acnntia. 

A carta do conde dc Parte tem o de* 
f dto d.i sua origem, muito dircctsment® 
ir.lotcsuda na i*oiidtfi»cia, pua nAo falsear 
.1 dtecuss.no com armuncnlos que tralicm 
0 pei.vrtulismo cxccswTo dc um preien* 
lente .» i>.cr. Xla padetid» congratfc 
Ur- .- vm .v. 1 puo jior oscaswo «»«? 

" I . r, IVennillics. COtlgVãttllã"»» Phlf 


tô do içieniliro: • Valmy I dela gloriosa 
quq brilha, |*ura o som mancha, «miro a* 
matanças docoimçodr ictcmlno e o deere* 
to do UI.» K/iiina falta dc IojíIc», que vem 
do oeceuldadr, pouco ciam pnia os profa- 
tios, dc cougr.v ulorcm-so | or algi ma < ouso 
01 chefes de partido cm» o irii povo. 
Ma» uino iell'*\fto fu/ o ctuide do P»r(/, 
quo náo pôde ser mnh «* Parcco 

quo quoiii» fo/rr inqurccr quo o» pro- 
greatos mvroes o malciloc* dos ulllinos 
ccn» onnos «c estendo am l^ualmcnlo a 
outros povos dn Kuiopa, que, eillnlouto, 
nAo passaram pelas mesmas viciuiludes 
políticas. •• K*>«c csquccimcnio é a obicea> 
çüo doí homens dc »uu ó má (é. 

Quem nuitCsi foi Injusto contra os ndver* 
sarlos im mcnoi intcrcasuda daa dis* 
curCcs f 

Mas uma lelle.xAo mo acode ao conil* 
derar tsnta ciunmcmorayáo. UnU fesla 
dc centenário», tanta cxpOJ»i«;Ao rtlrospc- 
cllvs, tanto dcscnlcrrar dc mortos, tanto 
remexer dc cinzas do |>ns*ado, que nos 
vAo brftuqm ando— t que nOs ^oinos uma 
gcraçAo dc mo^leriio», que nos conside- 
ramos multo pouco. |>arn assim tcrmOs o» 
olhos «empre postos no pasmado... Scra 
esteo começo da nova era religiosa suc- 
Cedendo As desillu»dks instcriallstas do 
regímen da scíeucla orgulhosa? Entáo é, 
como a outra, uma religião dc doalcuio. 
porque dcconllan«,a cm si ede esperança 
no futuro vivo o homem, e nào dc rccor- 
daç&es. 

E outra— multo menos síuia— è que nus 
os brasileiros nos mctlcmo» cm republica 
e adoptâin^s o U de julho por festa na- 
cional, quando jã a ltcpuhlica nuosu apre- 
senta aos pensadores como a piimeiia 
das preoccuparõe», como a fôrma essen- 
cial dos governos liberacs, e quando a 
critica hUtoilca contesta a utilidade c 
a necessidade da Revolução, c o proleta- 
riado, bem ou msl doutrinado, cousIJcia- 
te espoliado por cila. K' caso para náo 
flcvmos contentes com os dircctores do 
nosso capital social (e moral, um poucn). 
lie, mudando as cousas por cá, nós conti- 
nuarmos 0 usar as da moda velha cm 
ldtas e representações. 

Domicio da Gama. 

fârlz, 1* dc outubro de 1892. 


De Paris (detalhe) 


962 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 308, p. 1, 4 nov. 1892 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


,1 




CORRESPONDÊNCIAS 

DE PAHIZ 

de flmu — A IOMÍÚ U 
Uumhi • "• ikiTiUiui.— 


No dia 7 de outubro reaUsaram.se it 
exrqulat publico» dc Itensncom o pompa 
olliclal que llie cabia |>rlaa fiiocqDee qua 
exercera cm vtda, o com o scotlmcnlo 
luipIraJo pela grandeza da obra deliaJa 
por cllc. Oi dlacuiioa pnoneneUdo» aobre 
»eu caixão em nome do Governo. do Col- 
le«ío do França e da Academia nlo 
adiantaram Uca aobre liiJo o que Ji a 
imprensa dlarla tinha dito de elogiou 
para a aua memória. E, ilndox na dia- 
curaoo, mal caeutadoa pela multidio qua 
•e apertava em tomo do morto IMuilre, 
exposto no puteo de honra do collejlo do 
Krtnça, tranaformado para a cJienmtUn- 
ela em capolla ardente, |«rtiram os re- 
presentantes dos corpo» conalltuldos, oi 
üpirSes do funccienaliamo oDIrlal conve- 
caJo para a cercmonla, e o cortejo fnnebre 
|>«-so a caminho do comtterlo Mool- 
mirlre, unicamente acompanhado (ela 
tropa o pelos amigos mais chegados. 

A'a 3 hora* da tarde caccrrora.ee o 
corpo no jazigo da família, depola doa 
últimos tiros das aalraa de cerimonia. E nn 
mesma tarde começara a discussão ua 
Imprensa sobra o projecto da traala- 
daçio para o Pantbeon doa restos mortaes 
do Ilcnau, Ulcheiet e Q.ilnet qne ■ ri 
apresentado ás camaraa, togo que calas 
te abrirem. DUcutiram-sc merecimentos, 
compararam-se valora* petsoaos, contes, 
taram-se titulei A gratidão nsclona', spro- 
TCitoii-se a oec asilo para ailirmar prlnct- 
pies que nlo rim ao caso,c com o ardor 
da diacuaslo nlo ae chegou t saber se ot 
grandes homens a quem a patria 6 re- 
conhecida, (im de ser sepultadas em 
pessoa nas crjptu tumulares do Pau- 
theoo, ou se baila, pera gloriAc.-ição dia 
suae memórias, que lhes srjam er.gtdoa 
memimentos nas narea do belio templo 
bojo paglo, que por memória doa (cmpti 
quo passaram ainda, con-crra a grando 
cruz da bronzo leeiatando o zimborio. 

Parece na verdade que caiei triumphos 
posthurooa não rio sem uma certa per- 
turbaçlo da paz devida sos niortei. 

Mio ha grandeza coutem purauo a quo 
nlo seja azedamente contratada. 

Ai apotheosei aos mortos do dia care- 
cem da unanimidade do respeito nicItoiL 
Depois, quando o poro ao acostumou a 
repetir um nome ligado a uma grando 
obra, então sim... 

Quom não dará logar a discussões d'cs!aa 
4 o velho Xavier Martnler, que seooterra 
hoje. Nasceu em 1909 o acadêmico autor 
do umas noticias de vlageoi pelo mundo 
Inteiro, muito pouco inlereeianles. 

1? possivel que essas viagens lide- 
rarias lhe tenham sido uteis, pelo preçoquo 
Ibe pagaram per cilas os livreiro*: para 
a humanidade certainenle uio forna, 
Xavier Maimler viajou com Idias fritai, • 
idéia francczes, exclusivas e multo espe- 
cites. Alúm d isso, era um espirito fe- 
chado e curto. 0 que t qne podia faxqr 
aobre elle o espectáculo do mundo, senlo 
dlvtrtli-oT 

A nOe i que ollo não diverto. As suss 
nevcllas exolicas, ae euna narraltvas dq 
viagem alo «criptar n'uma língua cor- 

naef « a nlnvnn I a mnitAlAn* m tr la Nem 


viagem aio «criptai n'uma língua cor- 
recta o clnzeolt, raonotona o fria. Nem 
Idia, nem relevo. Nlo admira, pois, quo 
ao cubo do ura anno elle já pareça um 
morto do antes da guerra. Mesmo ca Jor- 
na lis tal sò se oceuparam durante troo 
dias com a sua mortr,por cause de um loi 
gado demll francos que elle deixou por tes- 
tamento nos allsrrablstsidos ráea da mar- 
gem esquerda, da ponte Real áds S. MlgueL 
Oi mi! fisncos sio para um banquete qut 
em memória d'cl!e darlo os oitenta cu cenq 
livreiros, ao ar livra da beira do Sena. 

K' uma lembrança da estima do velho 
acadêmico, que contava entre aa horas 
mais felizes da sua vida us qne passou a» 
longo das eaixas de aliarrablot, procuraa, 
do cdiçbea Interessantes e conversando 
com aquella boa genta. Dizia elle quo 
iqnlllo Ibe substituía as viagens quo j^ 
nüo podia lazer. Compensação para queza 
contenta facilmente, ou viaja de um 
modo multo particular... 

0 caio 6 que os liortirot txlhos Aca- 
ram eonlenliaslmos, e boje seguem o cor- 
tejo fúnebre do bom homem Mnroler.quo 
a pedido seu não terá czcqutas oAlelsea, 
nem enterro pomposo. 0 kiuquotc ssri 
d'squi a tempos, pare não ter ares da 
cela de fimernes. 

— tirando polemica na Imprensa a pro- 
poslto de um duello que não teve logar 
entre doue Jornalistas, porque um d'cllee, 
lendo a escolha das armas e sendo boas 
atirador, exigiu que o outro *e lhe apre- 
sentasse dc frente, era vez do nllrar per- 
Alando o corpo, como i costumo no duello 
á pistola, em que se deviam trocar quatro 
bala*. 0 Sr. Ledat reclamava essa con- 
dição para igealar as chanças dc Uro,poia 
qne elle, não imdcndo voltar o pescoço, cra 
obrigado a atirar de frente, ao pa»»o que 
o Sr. Iten* Moizeroy pcrlllava-i* á. von- 
tade. As testemunhas do adverseuio não 
a ceei taram tal condição, o duello nio teve 
togar, o Ledat Arou muito triste com n 
idéa de quo agora vai lodo o mundo puder 
dcscompol-o, sabendo que elle nio atira 
senáo do frente, e choveram Interpreta- 
ções sobre prtxre dc duello para equiparar 
chanças, cngrsçadu algumas, até quo 
[começaram os especialista», mostres de 
armas, duellistai celebres "c homens do 
espada o pistola a declarar, que vai sendo 
tempo dc eeabar com estes duello» por 
dá cá aquella palha, que os duellos 
tinham a sua razão de ser nua tempos 
cm que andava toda * gente dc capada á 
chita, c, senlo mais violentos os eosiumro, 
era fscll pnxal-a para liquidar ponttl do 
honra c oHcnsns feitas, slii mesmo. 0 
que hoje rela para justificara continua- 
ção de um costume obsoleto, ú o respeito 
ao que dirá 0 rauudo, respeito da tradi- 
ção quo nenhum homem injuriado otí 
(jeíallado quer scr o primeiro a Infringir. 

Sao aclos de ànictvatiamo de uma 
áoclbdade que te dá por llb-rel e dc»- 
tituídâ dc preeontello». JI*’ t>e' lM *. 
pouco vai «merecendo o prestigio doz 
costumes lllogleos, e n imitação dos risi- 
nhos nsaii pialicos aeabârá por modifleir 
Intelramenle o modo de viver cm ioda-' 
dxJe. e ns próprias pslaíes terão mani- 
festações menos violentas. 

Talvez vcnliã ura lempo em que hm» 
r«[>A Jx seja objecto de contelhplaçõi» Af- 
chcologleas nos museus. Muita g.nic nlo 
saberá para o que terão servido fa su 
lio grande»... Será então o reino doi 
«- j ina.lv-}», que posiulrSo a terra. 

IK Micro ov (SlUA. 
Puziz, 11 Ci Outubro. 


do 


ou 


r«e 

de 

V» 

isr 

ra- 

sto 


ilul 


963 


De Paris (detalhe) 










DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


CORRESPONDÊNCIAS 


DE PAÍMZ 

Fruam. -0 Ofil.*®. A wnfiíirça n» nrwlto o;n- 
tn a |x>rl|ii riUrlw. A* rvtlaawçfet • o irriga 
UI*rW. A r>il >\« Rirtum oi riMM. 
IPjulira f o w*la1i«'iM «to KiUJi. foi it ,1cl 
(ucCiubi<]> |ck> udix.psJUU». 


Com o outono 6 n volta do campo, da» 
pral.ii, das ognas, a recnlraJa dos estu- 
dante*, dos polltleo-i, do* artistas: Pari/, 
revive. Os cn/.lnholros dos restaurantes 
cuidam dos seus pratos, os ariUUis dos 
tlieativi respeitam o seu publico, os lo - 
pistas tingem crcr que todos os freguezes 
são di terra: o estação dos Ingle/es cdos 
brspanhócs catà encora ia. 

Com as primeiras chuvas hybcrnaca o 
tlioi nimnetco marca o regímen das roupas 
dc conforto, pesadas c sombria*. 

Acccndcm-se a* lareiras, resta uram-se os 
ouros fechados, recolhem -*o as mesas dos 
terraços dos eafêa, varrem -so pira os cs* 
gotos as folhas moitas das arvores dos 
bou'cvard- 1 , e Installam-ac á esquina das 
taiemas os fogareiros cm qur ae assam 
castanhas ; 1’ariz se arruma para o frio. 
pira a sombra, para a vida recolhld* de 
Inverno. 

E, como quem n5o acha no conforto da 
sua casa r.vZDs para agilnr-frc. a gente 
de P.trlz discorre aocegn iamente e sem 
paixão sobro os lucidontes di vida social 
dc là dc fdr.i, sobro as conferencias polí- 
ticas o oa programinas clcltoracs, sobre 
o« congressos socialista* o as probabili- 
dades das soluções do questões insolúveis 
nos palzcs vlslnhos ou loogtuquos. lon- 
gínquos todos silo para c»ta naçio forte 
o tr.inquilia, preparada para a guerra e 
segura da pa«. As risinhança* perigosas 
afastam-se hoje á distancia de todas ns 
bayonetas francczas postas ponta com 
ponta. Para este resultado do confiança 
c dc calma, nio parecem demais aos con- 
tribuintes o milhar e meio de milhões, 
que anuualmente consomem os ministério* 
da guerra o da marinha. E coruo no 
ponto essencial da defeza nacional catão 
todas as polUicas o todos os poiitlcoa dc 
nccõrdn, pó»J«-sa ter como ntil ene po 
rlgo exlerlor que, polo quasi congrnç.i 
mento dc todos os partidos cm torno da 
mesma tdea, amortece o reprime as ma- 
léficas dlsscnsUcs latentes no interior. 
Ila uma fabula de Eeopo ou Lafontalne, 
em que um casal mal unido rcconciUa-so 
diante do perigo, por nm ladrio qun lhes 
entra cm casa, olta noite. 

Sdmcnte 0 perigo exterior vai passando 
a acr uma especio de papto com que os 
chefes jiolIUcos intimidam os revoluciu 
narios de dentro. E estes começam a 
l*rder o receio e a confiar muito, talvez 
demais, no trabalho dissolvente, que nss 
massas guerreiras dos vlslnhos Inimigos 
opéra o espirito socialista e a indisciplina 
anarcliista. As reclamações, justai ou 
Hlegitfnia*, dos operários contra a má 
distribuição dos quinhões dc bem-estar 
serial, as ir.contcntavcia e.\ig.í 0 cUs dos 
salnriadoa contra os que os empregam 
sobem do fundo das minas & tribuna das 
cornaras legislativa* n'um clamor teme- 
roso do odio o rancor. 

•Acento • miiegMgLp eeauadifl 


- - — 

llfjoi |>»r» mniitrr oi *.u« .IMIn., n.|. 
mbmcitMW n qiir.1',0 „ ,,m n. l.llra- 
nifnlo. o, wnliorc, ctllo tcntlo a tvr.m- 
nl.nloj proVt.irloj que coin.<;.i. Q era 
llverde lum.tr um em|.reun !.i ,1 'um cm 
dl.nío tord do índnjror |>révlnmcidc *. 
ello Ilio (em prujeclas do cninli.lxtirn A 
•iiairie ou no juizado de paz. Porque, em 

manifestando ,t xoU-rania do atiITmglo 
iinlvcm.il, náo In patrão que realsta nem 
1**1 H"** °brlguc o liomcm a largar o s.u 
emprego • as dcsjieza* da duplicata oor- 
rorAo por conta da estúpida Im.iv«.c/I;i, 
quo nunca fará ancrificio* barianto* pira 
Inzer esquecer o fcu caracter odioso do 
parte pagante da socicdido. 

O deputado bar Ao H-*llle, um dos dl- 
rectores da companhia, aceritou cm prin- 
cipio o arbitramento, cm nome dVtta. O 
marquez dc Solnges, outro dlivclor, já 
tinha dado a sua dcntbsV) dc deputado, 
para mostrar quo na rerintoncla di com- 
panhia A r.dioi.i exigência dos grévUtos 
nin on trava nouliuma política. Sacrifício 
Inútil : Calvlgnac será iim ,« 1 «trado com- 
munal c operário no gozo dc uma Pc*nçj, 
on u companhia se arruinará e mlte qui- 
nhentos mineiros viverão e«ci»ani'uto 
do* recursos que lhes dlstribul A a ci xi 
•ia greve, novos rcmMio* do novo ro- 
gimen,qiic ic anaunch pouco sympi thlco. 

E o camará saltou por clim disto des- 
prcoccupadninente, como quem não conta 
com o dia de nmaiihá. Assim vamos 
cnniiuliando para n desorganhuç'n da 
disciplina, da ordem c da justlçx. Mas o 
que querem que se f iça p.*!o dia de nma- 
idiã, q.jo nin «la está tão l>ngo, qnntido 
bojo ainda se tapa um dtflcit de des 
milhões no orçamento (quem nca dera 
uma brincadeira assim I) com o lança- 
mento dc um imposto de dez francos 
sobre os vcloclpcdca que por estas ruas 
e estradas nndnm so embaraçando pelai 
jiernas da gente I Quem acha tíio InHl- 
niente um melo dc topar rumbos no or- 
çamento |>âdo Já pensar nos iicrigos que 
I.crby Beauileu prevê para a economia o 
as finanças particular c publicas da Kr.in- 
ça I Das expcifencias do p r <>lccr|onlsmo 
c do socialismo do Estado n **» vamos ver 
os resulUdus... tarde. 


I>ouicio i*x Cauv. 
Pari», 20 de outubro. 



Foi ouctorisado o governador do Rio 
Grande do Norte a augmentar do 20 */, 
o salário do pessoal dc diaria da estrada 
dc ferro do Natal n Nova Cruz, »ob con- 
dição dn companhia apresentar prévia- 
mente novas tabeliãs nira npnròejção 
defini 1 iva. 

145 kilometros por hora 

No momento em que *•* vai discutir 
entre nós o grande projecto da Estrada 
do Rio do Janeiro a Pernambuco, pan 
a qual o seu anctor calcula uma i woci- 
ilaAc média dc 80 kilometros, afiai do 
fazer-ac em 30 horas o tiajecto indicado, 
não 6 inútil consignar o que ae está rea- 
llsando abl pelo mundo cm matéria da 
marchai dc trens. 

No dia 1* cie setembro proximo passsdo 
inauguroQ-aa noa Ksfculna tinidos n Phi- 
lat/slpfihi antl Ucuiffntf Itoai!, c o pri- 
meiro trem que se |>oz em marcha attin- 
•*tn a phimoinennl velocidade de 145 ki- 
lometros po'' hora. 

l)ir-w-hn que • rouaa A excepcional. 
N.ui li.t duvida. Esta marcho sú foi 9ua- 
po» — poy.» dc iuds minuto*, o o t 

tf«!n;aâ «eoir.sinlii. •implvsmeiiUi.da iOoo- i 


nmuflhinm^wiiüuii 

detêm injustamente. 

Outro nào 6 o grito dos commuuí*ta«. 
que, sob designações varias, fomentam e 
provocam ai grèvea que rebentara inces- 
sanlemente cm todosoa cantos da França, 
em tod&e aa regiões induslriacs o fabris 
onde quer que haja uma centena de ope- 
rários a excitar contra os patrões espa- 
voridos. 

N 'outro tempo o orgulho da* vlctoria* 
militares conduziu a França a um deaae- 
tre naciodal. Agora a convicção de quo 
sio clica os únicos a nio rcceiar da mi- 
séria, porqne sofTrem dapletbora de ouro 
porque a renda publica está quasi ao par 
pôde levar os £rnncc/es o graves dcsaccr- 
tos políticos e pcrtwrbar-lbcs o economia 
domestica ou arritinaí-a de uma vez. 
No mesmo di» cm quo sc reabriam us ca- 
marás e la dUcutlr-ac na dosdepulados n 
|ue*tilo erobamço.ia de Carmaux, um ar- 
tigo dc Paul Lcroy-Dcaulica nos Debato 
Icclsravo calamitoso o estado financeiro 
de muitas companhias por acções, «lei 
rneioa de transporte, do Ulumlnaçio elé- 
ctrica e de bancos, a ppnren temente pro- 
peros: o pouco auspicioso para os eopl - 1 
rjlisUs o emprego dos seus capltaes em 1 
qualquer empreza dependente dc ura nu 
mcroiO pessoal operário. A industria orr. 
estagnada,, leude a perldlUr, a prodnc- 
çáo agrícola nacional será brevcmenlc 
n tu ITlc lente para obstar ao crnpobrc- 
'imonto gradual do Estado, sob a ac- 
«;io combinada do menor rendimento 
«los Impostos, do augraento incessan- 
te das despezas publicas. 0 economista 
npprehensivo verifica a prosperidade 
nrtual revelada pelos algarismos dos orça - 
mentoi, mas nio augura oivda dc bom da 
excessiva confiança dos homens do go- 
verno. que praticam o proteecioniamo em 
matcrla commcrclal e o socialismo em 
matéria de organisação do trabalho. 

O caso da grèvede Carmanxqiteha tan- 
tas semanas já nos nzoina os ouvidos su- 
biu por IntcrpeUaçfio à camnra doí depu- 
tados. para ser resolvido pelo govorno do 
modo menos logico possível. Nio sei se já 
se contou aqui que os mineiros da mina de 
Carmaux puzorani-se cm grèoe contra a 
companhia que oa emprega, por ter esta 
despedido um opqrariodc nome Calvlgnac. 
eleito ntairo dacomrouna o portanto tor- 
nadu incompatível com o seu emprego dc 
operário mecânico. Quizcram tomar a de- 
mfssâo do operário como uma vingança po- 
lítica e forçar a dlrecloria da companhia 
n readmittil-o, com umaconcewAo de II 
cínça emquanto durasse o aeu mandato 
eleitoral. Para isso usaram dc pressões | 
oliosas. que forçaram o governo a man- 
dar guardar a mina e a séde dal 
rlircctória da companhia por forças da 
gendarmeria nacional, dá so vê quo lã 
haviam dc estar alguns deputados socia- 
iiittas e radica**, que mais depressa apro- 
veitam occaslõcs como esta de lançar 
d* I oleo na fogueira em que hão de arder a» 
instituições da hurguezia execrada. Ko- 
| s c ! ram ausm qno trouxeram a que*tty> p*ra a 
c.'man*. E o governo,qne nio ousara des- 
no i lituir o imu«Vv insubordinado do Carmaux 
dc J jji*. Calvlgnac rocitvou mandar alllxar 
^ I uma clrculsr do prefritodo departamento 
contra a* patrulb&s Ju* grúvi*tas. que, a 
! pvetexiode manter a ord«*fn, {mp^-.lísm os 
I seu* camaradas de voltar ao trabalho) 
achou melhor propor h rompanhfa de 
. Carmaux, que já tinha fcllo tantes sacri- 


da 


do 

r-| 


965 


De Paris (detalhe) 



966 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 332, p. 1, 28 nov. 1892 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


DE PftFlIZ 

- A irlu-l* A» A» Can»»*»- 

A bl .»•*» ai niUUiUiM iMltftet — A 

( nMm em rirll - rj. !»»•"«•* * 

IS ■djiat J* I^Umu — A »0fte A» UmW 


A lembras* qoestlfi de Qarmani v*«ol- 
reune p.vlflr*mrnte, wnlto aatlifaelo- 
rlaroenle. Muguem rtwfl eonlenU, tomo 
acontece aempro quo m> reclama e«m 
srociçst algoma ctau qoe nâo é dcvld*. 

Aqui lodos sacrificai am um pouco doa 
«•ui direitos, |*r* tfccgnr a ura chamado 
accordo. A companhia abaixou o ara lo- 
pele do pagante, promotlendo rwdalttlf 
ot mineiro# ceudrmnadoa cm policia cor- 
rvcloaal por delírios d* grave, OfOOpÇiO 
MU paro o» qiio JA Unham raàoa antoce- 
(lenlc* JudlelwUa (e mwmo ura ron- 
•elhcfcf municipal deaabaaad* proumttm 
admiti Ir na «oa exploraçJo). Oa prlrla- 
la* accviUrani c»*e compromisso « rol- 
lararo aos Iraballio» da mina, a" racamo 
(rmpo qoo rinha a orlem de ao'tnra aoa 
presos amnistiados pelo gorerno. R o ro- 
rerno, que foi quem mal» aollreu. P* r ' 
dciulo no aeu prmtlglo o prinelplo di» 
Auclorldade o da ordera, amnistiou con- 

iknuJo, |«r crlm» voo». 0 direito 
.amiqum, te Ur iia« 

l,Jo o Kl orbltnwwn» tnndtKtnctóle 

tonipr»»eluJ.r. Hmv, quom d»- 

Lm q.io o» meUdrdi» »Tuo • !»•- 

l.idr«l«do cooullw «»*» P*'» » “V" 

mirliiar. Otilr» viram i» tonlriidt 
... , d» o iirlmrlra votlfl»» rnlr» 0 novo ro- 
H, cloiu. lUorRoeri*) o o novimlmo II «le- 
^ inrlndol. r»» » raooolU. d. P' 1 " 11 " 1 * 
do. dlnrtlo, d'f»U oltlmo. 0 prooodlo do. 

1 .0 vvrvrlvlo do .oITrojI. oolvrrul. 

' Ko 10 to.» r.proMoUnlo do llurqocJlo, 
dlrlo qilí »>« V()o r.tío poro qi» oojofo 
0* burg.irif » que P»*™" 1 M 8 

. i rcpriunloçdo do P.ololoHodo .»(Iro S id» 

. polo volo popolor. qu. oolro too» •» 
Too, dlror o dl.prnvn lort.d. poro 
eleito do aufír/glo unlrereal 
p leontpororor oo ooo odlrino. oo ooo 
, loio. oo ,oo mino, oo lofor o» que 
. pilo mo trobolho .. 10. P«» «» 

. I cmqoonlo doro o Mo ooodolo «loltorol. 

E » o prol.lortodo oào um mrlo. di 
moolrr o .oo roprruotoqlo. Unlo l»U« 
t, I poro o elellorwlo do qo.rlo »»■*• «" 

! m.l. prodeoto oole. do ("CU*” 

' um, rlolqdo, o, forçodo ■. droperoo 
rldoo. rorolho mprm«.tooUo PM* 
,00 octlvllodo prodeuo o d*oUu>« 
,ou«ol. eomfoooom .. »»> ‘■“l" cl0 ’ 
lopoli honro oo mo mondo». 

Too» 010 1. qnonto 0 ooo»» orollo 
ooooUrrovolm.o» doo qoo ooplrom o 
honrt do reproio.l.r oo oo.» C»uU. 
«doo. oo Pnrlomoo» o 
funcífie* elertlrai da rida aoelal t ipoll 
IhaÁBu concí»»òr» B rach»aa do* <Uun- 
, a I tom do capital em favor doa qu# Um 
° (orno o udo » taom Uolo.oodl.fc P"' 
looplrot» do earld.do . do r.plrlw 
iortko omlioolro, roolo do qoo pel» i - 
clomordro ehoUodr od» e d, Inr^o. Sd 
U» to.Urt poro Impedir o rrrolotlo . 

— Mol o poma ocolmvo dc moolleoUr 
" polo. (oooldrroodo. dr .. ort.ltr.mmr» 
' olmordo. 0 .» rnprl» qo»l mH*!»” 
1 UO» llico ojorviflo ; do .ooUroqlo uol- 
ver»l, dlílrtlmlo-M 00 c.ro.r. um poo- 
’■ jocl» r. .opondo 0 M do II do )« ‘« 
I ,| e ] 8 S 9 , »brc ai candWalura* miutlplaa. 
I-Uaa lei voUda eom o flm do erlUr 
rUcoi qoo corri. . RopuhUc. coro o p«- 
rloo do. pleblmlwo por vl. do l.mom 
I .oUrosia, M o modo do bo.loofUmo 
* Lot o .riEBOrln- *!»'“ •“ 

!' do lUpohlico, 01 lUCUivo do pro|ot» qoo 


Irr um artigo de Jornal que o mal* 

I ralara. 

IWrvi uai.-rra m ItiC». t Jridr IRlO 
quaaqJo alumno do liarmmla no roa<er- 
yalorlo. fq\rn organliU no lotplclo do 
BIcAtre, onde rlreu algum annoa, tra- 
tando com o* alionadria, «minando llir* 
rainlea. orRanlMndo eoorertoa romellr», 
nU dando rrprrirnUçftra thralrara cm 
qut oo actorru eram cacolhldoi rntre oa 
melliorea doa penalonlaUt do eatabcV el- 
rarnto. Pn^ere que a piltam;» com * 
pentr deamltaiU deixou vriti^ioi Indrla- 
vrl» no caplrtto do muilre, que tola a 
ma rida foi um exeentrleo dc marra. 

Km 1840 começou r lie a aiiparrcer c >m 
fiequenat nperrUu ouanlrt phanüfla 
mukicnra dr dona peraoaagrn», u'um 
ilimtrinbo concerto, cm querra dlrrclor, 
auelor c octnr. Ma« drpela. n*o |«dfndo 
tranipor oa limite* daa peça* J« doi( 
pcrwiinren» cm que o encerrura o a*u 
prtvllrslo, lleiré fei-ao tenor llgrito • 
fel cantar prUi prorlnclai. Quando rol- 
ton entrou para o tvldorado fumo rvRenta 
de orebentra, deyola de ter dado iuw De- 
ImviDcnla Comlqoea o lliuiard rrne - 
cirfd', qoo foi um do« *eu* jrandct auc* 


I . rmogo. rlivror q“ • mlrlMlr • livro 

evcrrklo do «rhtrairlo do .riltroí» ool- 
.orool. eorboroçor ei», moirltataqlefc 6 
volor o prlocip» Iood.mo.tol do n- 
-Imoo Oo onrlort. do projK» cho- 
irom-M Gouticr do a«nj o Brlocord.., 
wme. qoo l«n ^ 

«.odo om qnrm urlo 0 P*™*" 1 
I ,'lIoiIo. Uiomorck dl. qoo orm o prlmol» 
ronorol vlttorlooo. » o e"erro ao llit,». 
E qoo t por i«» q“« « ropuhlk.oo. oio 
j querera a guerra . 

— Condemnarnra a qulnza raoaea dí 
prlíAo uma raulbor chamada Anna Duboit, 
qu* aoplniilo publica .ccm. de i l*r «a- 
1 . i- . n niml* dSo descobriram a 


Kldo 0 Irn.» 0 olodo oio dticobrlrtm 
id«ntid,de d, un» prdoço, d, oulro mo- 
llur quo oncontrorom n’omt t». em 
can.tnicqOo o. roo Bolurlfc li I*" “ 
Butto-Choumonl. Comeqom oo oudroooo 
» ochor qoo t roprv..io do orlou deLvo 
. doui.r Porlr- Em Eoodr» Umbrm 
« om »do o porto om qoo i b. mol» 
...» e «doo tomem nl» proolo otUoçio 
1 .o iHJmom. N»l.0 floro.» qo. m. »oo 
r .condo om crlmlnooo do qoo o multidão 
humana. 


H no Klternilo prodmiu abundante- 
mente c ac revendo toda n aorle de prça* 
muslcaea : operetas, eançaneias, duos 
conticoa, de uraa pbantasla rklrrpihHa. 

Jã OITenlacb, vindo da Allemanha • 
trahalliaodo no gmero errado por dlr, 
sobra litrttlos monos cxtravngantes, 
fa*la-lhe uraa concirrcndatrtumphaate. 
/.'(KW Crtaé primeiro o Pttl Faml nt- 
Rum tempo deipola, fizeram Hertò aablr 
da mela obscuridade a qut o llohaa redu- 
zido M auceruot etlrondasoa do aou con- 
currantc, c o aeu nome deu a roll» ao 
mundo. 

Depot* da guerra llenri U viver era 
Loodrc*. Onde pasanu loacoe annra com- 
pondo, rscravendo, cantando, trai alhande 
para oa ioglezet e para sa fraj.cezea. Ila 
casçdci bem agradaveia iTrlic. q« a 
Judie cantava na Mam'ulle Xiromcfu, 
na Rouihhu, na Femuie A pa;«. com 
aquella graça malieloua, (tontoande aa 
phrnies e aubllnbando a palsvraa de *o- 
gundn fntençAo, que afnda boje posaue a 
grande actrlz do vaodavilU novo. 

0 raudeville^ a comedia InUrctbüa Je 
eoplaa, ffira batido em brecha pelo autor 
do rctit Fausi no* azoa primeiros train- 
Ibos, « foi par* o vaudsrille qu* clU 
scabon carrt vendo. A Oprrrtt* dednha • 
o raudevllle proapera. Seri porque ô cal# 
o grnrro eminantemnnls francrz f 
UUImameaUllervè voltou paraa França 
e reappsrtceu em publico eom nma opo- 
rrita, nacchanale, que foi acolhida fria- 
roente pelo publico o pela Impreoai pa- 
rizieoaa. Acharam queaausextraviganela 
em musica nloapparrala mafs temperada 
por nenhuma originalidade ou faltaram 
os cxeculaotCs, que nVzotroa tem poa teriam 
levado tudo de reodda n'um amneo d* 
br# viu* e ifentrain f Nio *e tabe bem. 
Mudnram os tempos: a genlo vai te afi- 
nando e (ornando nuts exigente. Baccha- 
naU f« nasço. 

Jlervè sentiu-a* mullo e manifestou o 
ceu rcsenUraenlo por unta carU ao F>- 
çaro, em que aa declarava um doa maior** 
compositores contemporâneo*. 0 Apa>t> 
publl-nu s carta, rorao uma das cousas 
mais divertidas que linha produzido o 
grande mestre da farça miisletl. Wlq 
cntAo, desatinou e alUrmmi a ura repórter 
do Echo de Parir qu# Uoaart, comi*- 
rado eom «II*. 6 um pigmeu. Fizorzin- 
Ihe troça os jornalistas, e foi lendo um 
rtigo quo 0 discutia Vrevercotcmeute, 
que o ereador da operei* bulia, sjITjc» Io 
l«r um aeceaso do aalbma e do Ira. mor- 
reu em alguns instante*. 

Ficam doudos uru, morrem outros antes 
do tempo, rio acabasdo deprwaa este* 
Irritas d* stegrla irônica francezs. SovA 
castigo do cfcu. porque nio *e toqu* s rir 
na Ulnsio humana ? Seri um signal dos 
tempos, do* tompos d» triste» que fU 
rlrí A geração dos novos è tio síria I 
0 desprazo pelo rito vai crescendo, como 
se cada um te escutasse e »e senti*** 
viver, doMroearaent*. Todos roorallsara, 
pbllosophos, poetas o artlsUs. Uma ob- 
aessio de justiça (az d# cada livro, de 
cada quadro, do cada eaoçáo ura reclame 
contra a distribuição aetuald» qulnhjc* 
de felicidade phyaic* ou moral. Desviados 
do teu destino oo esforçoa da arlo, aeabs- 
rrmos por conclalr que a «rpre*s*o das 
suas vísSís e sentimentos foi dada co 
homem para qua ollo aa qoelxaase d» 
viver. 

B írancamciite... 


_ guardo Drummood, radactor d* 
Livrt Parole, entrou ante-bontem par* 
a nrlsio do Sainte Pelagle. onde ral pas- 
sar tres roezes cm cumprimeoto da pena 
ou* lbc foi imposta pelo jury do Soa* no 

J»,»» POV Jm.mo(*o qo, II» io»o»o 
oSr. Uonl.M, hojt nlloi.l ™ 

N'um gracioso artigo o jornalista con- 
demnado dovpodiu-ss do .tu Pari* de 
oulomno com multas saudades e fez een 
sldcraçOe» melancólica* aobre s dureza dn 
pena que o fera, sem annlail* ne« «>- 
ralsslo possível, emquanto oa 
grevistas silo postos n* *•* 
tempo, só porqne Uin» 1 " 
poliUeos agi' * 


ihrio 

i«na e ea- 

w?", queTíochepardo talvoz 
ffq.pi -TTiiiIo tarde, quando Urcr come- 
RdT* esUÇlo das aguas o fôr impoa- 
ilrcl prolongar a campanha. Parece quo 
as ultimas 'instrneçbs* sâo que o eoranel 
Dodds lomo K.na (p*r* o efMto moral) # 
queo paizMtj» depois rrtzz.odo, A volUda 
expeJlçAo mal praparada e mal •J u,1 » áa - 
Veriflcou-seque os negroseram maJs dirt.- 
ce isde vencer, porqneha omeiacsnllcraies 
nas 11 leiras d*liumeanas * f*H*m sle dc 
mezlzfos brasileiros que cutcndam dessa 
quitanda de guerras. (Os wnhor*» vao rèr 
que os francezes ainda no* levam a mal 
o,«# extraonlinaria exiortaçAO de mul«- 
IM do Brasil para •.'rvirem de cabo de 
g terra ao r*i Biluuzlo). 

O resultado da axpedição será para o» 
Íraucízea * peida de tnuiios milhões e dç 
munas ridas # a voltado multo* aoldaJos 
mutilados- Ainda agora chagam cen-.o * 
r/a. ‘lauto* ferid - * Msrs-lha. Psr. o. alie - 
de- 1 ,n\cs o resultado c commerdal : renda do 
1 )t>Uora « ..iibiKard*. K Mf» o* 
'fileira# - ""'a carreira nova que ss 
[abre... . 

wao. , - 0 buontor da Opareta butt». Dan- 
ando roond Itouger. ma » conhecido j-eln i‘ »mo 
» Ç Ao. , |.,|,'il«'i*»i iT, o do llerre. morreu IwMom 
, jde um acccsso de colora que o suffocou, 


que 
,y. o 
IdAo 

trla, 
ulil- 
ran- 
lo-** 
o no 
cu lo 

ui la. 
mar 
ngo* 


nri- 

Kiza. 


ESTADO OUIENTAL 


967 


De Paris (detalhe) 


968 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 345, 11 dez. 1892 









DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


969 


França e quo 6 mais ruinosa quo uma 
batalha perdida. ■ 

Oi! o» fios tclcgrapblcoa commellcram 
alguma Itiíltlclldade na transmissão das 
j Mias do Sr. CrUpl— ou cnláo o gramlo 
I homem está mudado do avesso I 


DE PARIZ 

Sciutit.~A iljnamlla «J» noto.— 0 fMVfMi l«- 
outiid), r*/J« PU rcprotlrsi e mo,- .!••«>- 
n»n:a.— ü |iv»Un.— Uma MdaliiU porfr.ta.— 
Kii«. rra ro*n(ançdo.— AbpaM mil* ou m*noi 
ínvio».— Viilnta»i|ri nla(>*a<iwr.-0 ntrauc 
«lo Paria c o itu A lei contra o» 

, Citrau;clroi c a con'rattre!Mç.ia do» poio». 

Na quarta-feira 0 dc novembro acha- 
ram uma panclla dc dynamlte á poria do 
cscrlptorio da Companhia das Minas do 
Carmaux, na Avenida da Opera. Um ern- 
1 pregado do cscrlplorlo c um ogeato de 
policia carregaram a bomba, que pesara 
’ seis ou sete liilos, para o commlssariaJo de 
policia da rua des Uons-KnfanK ntrnz do 
Palnls-Rnyal. Apenas lá Unham chegado, 
acompanhados por um Inspcctor que en- 
contraram cm caminho, o engenho destrui- 
dor rebentou, matando iustantaueamcule 
1 os dous portadores, o «ecretario do entn- 
nbsariado c outro agento quo alll so 
’ achava e roduzindo a uma chaga vira 
1 o horrível o inspcctor, quo morreu na 
mesma tarde. 

’ Dos outros mal sc puderam reconhecer 
os rostos estraçalhados o onucgrccidos 
pela explosão. 

Multas horas depals, ao revolver oa 
’ destroços do commissariado destruído, 
ainda sc encontravam bocados do tripas 
enroladas nas arandelas do gaz, pedaços 
1 dc couro cabeUndo, um calcanhar, ossos 
5 nús cm fasquias, um trabalho do csmlga- 
Ihamcnto prodigloio. A casa nlo calilu 
* to.la por ser uma d’aquellai solidas con- 
^ slrucçõcs do século XV U, quo ainda 
0 restam no antigo quarlolrão do Palals 
Uoyal. Mas foi preciso cspècal-a, como 
^ íl/cram á da rua de CUchy, para não rir 
abaixo. 

Foi por toda a cidade um grande cs- 
n paolo o um clamor geral contra o go- 
verno qnc, pela sua inércia, pela sua 
a fraqueza, consente quo um grupo do 
c loucos furiosos exerça a sua mania des- 
truidora, matando creaturas InolTenslvas 
c e aterrando um povo inteiro. Flllou-se a 
>f explosão da rua des Bons-Enfanls no caso 
'* de Carmaux contra cujo dlrcctor era 
ilhigida a bomba. No mesmo dia inter- 
pelioram o governo na camará. 

0 Sr. Loubet, presidente do conselho, 

„ quo tão fraco sc mostrou no seu arbitra- 
mento cm favor dos grevistas, declarou 
u qnc o governo estava disposto a scr (irme. 
j c Como não é provável que nppnrcça n 
] c gente contra a qual tenha dc so exercer 
j c cjs:\ fírmeza, a camara acabou, depois de 
, r uma discussão dcsconnexa, por votar uma 
p. ordem do dia unanime do Indignação 
t0 contra os anarcIlUtas militante?, c outra, 
as l' or K ran< l« maioiia, dc cunflança na 
0 acção do governo para a repressão do 
l(h crime» como este. 

jj a Distribuiram soceorros ás famílias das 
|f j, viclimas (lodos ciam casado?, tinham 
, c . filhos c cruro. naturalmcnto. pobre*’, que 
f >ram cnlcrradts com multas honrar, com 
j 0 ollicio religioso na Notre-Damc, toda ar- 
, ^ mada dc preto, c discursos á beira da 
cs cova pelo presidente do conselho, presi- 
dente do conselho municipal c prefeito da 
... nnllrla. Do cemitério foi o Sr. Louhct á 


publica sabe tudo o vigia tudo. Ora, ini 
iVcstcs ultlmoi tempos, ot grande» crimes nli 
■a tôm succcdldo— assassinato do general au 
SllverUofl, da karoneza Dellard, attenta- rti 
dos aoarchlstss e, anteriormente, wgro- no 
dos do nomes do Campi e do Prado— 
sem que nas dovassas a policia de Parlz so III 
mostro á altura da sua antiga legenda, cê 
SorA porquo os criminosos são mais Intel- vl> 
llgentet do que os bòmens do bem? Mas pc 
bem se podia tomar uma quadrillia do gc 
bandidos para a defoxa da gento honesta m 
o incaula. Nas rulnns dos castollos antl- a 
gos os cicerones mostram as salas baixas ca 
ondo se fechara a guarnição do incrccna- pi 
rios sem fé nem lei, vigiada do alto pelos q» 
lcacs servidores do senhor, c quo só se te 
soltava, como matilha do cães ferozes, 
contra inimigos ú vista. lu 

D'csto cspeclaculo do perturbação o de ca 
desassoccgo ou tiro uma reflexão agra- cc 
davcl para nós: ô que multo tempo ainda 
so psssarà antes da nós termos uma civl- a: 
lisaç.lo tão perfeita o completa, dc movi- 
mentos tão serenos no machinlxrno poli- m 
tico c social, quo n oxplosáo inesperada o 
do seis k‘!o* de dynamito basta para al- n< 
terar-lho a marcha o fazer perder (tem- 
porariamente embora).- a confiança nos v< 
seus destinos. Os francezc-s têm tanto vi 
medo de ver o paiz á beira do abysmo. . . o 
Nós cá temos lido o nosso no fundo ci 
tantas vezes, quo pareço quo Já sabemos tt 
mergulhar c tomamos godo pela gym- g 
naslica do cambalhotas da borda para o q 
fundo o do ascensões do fundo para n a 
borda. Quem llzcr a historia das nossas fi 
revoluções explicará talvez essa nossa b 
agilidade pelo caractor slmiesco quo nos 
attríbucm os vlsinhos o bons amigos. v 
Agora, tsmbem pódo ser que o nosso b 
abysmo costumado seja uma simples bai- o 
xada om comparação com o quo os n 
francczcj provém apprcltonsivos— um des- n 
penha Jo do pesadelo com pontas dc q 
bayoneta ao fundo. a 

Salutar apprchcnsão.so trouxer medidas r 
de segurança, quo rrslaurem a confiança 
antiga, que tirem do espirito do parizl- d 
enso alegro estas fumaças suiTocantcs do d 
bombas homicidas. Já não passa um r 
carro rodando surdamente sebro n cal- t 
çada de madeira do boulevard sem quo a í 
gente pense em desabamentos do casas 
longe. E de noito os sonhos archltcctam i 
dramas sobro acompanhamentos dc porias ( 
que batem, de ruídos dos tacões dos visi- > 
nhos quo entram tarde, conversas o can- < 
tos no rua, como musica dc tiros, impre- 
cações c gemidos, o estnndo dc uma < 
ma Lança pavorosa. < 

A unlca cousa engraçado no melo dc i 
lodo o panlco ò a questão suscitada peló • 
proprietário da caso cm quo vai morar o 
carrasco dc Parlz, para desfazer o arren- • 
damento. Argumenta cllc quo ignorara a 1 
qualidade do seu futuro locatario antes da 
assignatura do contracto. Foi só depois 
do ter lido a assigmtura que cllo per- 
guntou : 

« — M. Deibler... seria o senhor... 
o carrasco? 

— Sou, respondeu M. de Paris, sec- 
camcnte. « 

K o pobre proprietário, estatelado, só 
põdo gaguejar : 

> Ah I bigro! ah I blgre...» 

E vão demandar. 

— Houve utlimamente cm Lens na re- 
gião carbonífera do Norte, rixas do uma 
cirta gravidade ontre os mineiros fran- 


aemo ao coiuemo iiiunicqwi u |hvicuv u. 
policia. Do ccmltcrlo foi o Sr. Louhct A 
camara pedir outra moção dc confiança c 
declarar que à protecção das classes con- 
servadoras da nação j.áosc faz Ião ofilcaz- 
mente quanto seria para desejar porque o 
governo nlo dispõe do leis defensivas, 
sufikicntemcntc aggrcssivas contra a pro- 
paganda subversiva do regimen. E a 
camara resolveu inscrever na sua ordem 
do dia para quarla-íolra que vem um 
projecto de lei, quo modifica certos pontos 
da Icl de 1881 contra a Impronsa. 

Essa Icl, quo puno certas provocações 
não seguidas do cffcllo, não previu a pro- 
vocação à destruição por meio de engo- 
nbos explosivos. 0 projecto, alem d‘isso, 
auctorlsa a approhcnsão dos cscrlptos (o 
a prisão dos seus auctores) quo Insufla- 
rem o odlo dos descontentes, excitando- 
os ao saque, ao incêndio, á destruição dos 
bens c das vidas, o cdicta penas severas 
contra ot auctores dc provocações dirigi- 
das a militares com o fim dc os desviar 
do seu dever. 

Já ha seis mezos, por occasião d»s ex- 
plosões da rua do Clichy c do restaurante 
Vcry, quando -esse projecto foi apresen- 
tado pelo governo, a Imprensa raJical 
fez-lhe uma guerra implacável. Vão rc- 
nnsccr as polemicas adormecidas durante 
sois mezes, o, cm nome do um liberalismo 
quo ninguém pódo supportar, inappll- 

■ cavei, dcfcndcr-sc -In a liberdade do pon- 

■ sarnento c da palavra, mesmo quando 
um c outra sio aclivanicnto criminosos. 

, E c muito nalural quo o governo, quo 
. não toma a iniciativa do nenhuma mc- 
. dlda conservadora, quo emprega Ioda a 
sua nltençío cm prcscntlr os movimentos 
da malorh ou dos grupos parlamentares 
valiosos, para dirigir a sua política n'essc 
sentido, o governo, que íaz caso princl- 
palmcnte da sua estabilidade ministerial, 

3 não queira descontentar o bullionto par- 
tido do Sr. Clcmcnceaux e sacrifique um 
e pouco dos elementos dc firmeza o severl- 
B d.-ule quo eito porventura contasse ad- 
quirir com a votação d’cssa Icl dc defeza 
° social. 

Verdado 6 quo ainda na appllcação da 
l' lol, sc fosso votada, não so poderia espe- 
^ rar muito dc um governo quo já perdeu 
tanto do sou prestlgh n*uma questão dc 
direito claro o Irrecusável como foi a da 
grevo de Carmaux. 

a Entretanto roapparcccm as mysiiilca- 
n ções das cartas dc ameaças contra os lio- 
l_ rnens om cvtdcncia o lavra por toda a 
1,1 cidade o panlco das vislnhanças perígo- 
)r sas. Os moradores da casa cm quo ostá o 
cscrlptorio da companhia Carmaux rocla- 
0 num o seu despcjo.O barão Ucllle, dlrcctor, 

3 já sc obrigou a receber n correspondência 
no sou domicilio particular. Os mogistra- 
dos não garantidos por arrendamentos 
recebem aviso dos proprietários para 
deixarem as suas casas. A policia, quasl 
toda empregada cm guardar moradas 
r. assignaladas à destruição anarchlsta.dlmi- 
c, núc do vigi lancla nos sons outros misteres, 
ue I Já ninguém falta da mulher cortada cm 
e- I pedaços, cuja Identidade ainda não foi 
a reconhecida c cujo assassino não apparo- 
Jo ' c.' i. Tolas as alteuções convergem para 
dc os nnarchistas. 

I Quando a gc:.!o lia alll nos coüeglos o 
' folhetim do Jvr.utl, quo contava as in.ua- 
' villi -3 da -‘.ígavi lado dc Vi locq c dc Mon- 
,1 . KÍeur I.ccMj, ler.vJo pela Imaginação dc 
;; ' Holígvocy c dc Uaboiian, olIrihnU um 
. 1 f.vo ..li! nos inspetor» da policia y»a- 

I rüieosc, a prlmOna do mando. E ainda 
hoje ha quem peas: q ua a segurança 


ci ria gravidado onlrc os mineiros íran- 
cezes c os belgas. 

Esses incidentes siiggerirnm a alguns n 
deputados a Idea do um projecto de Icl z 
creando um imposto sobre os estrangeiros 
residentes cm França c abi percebendo 11 
salario ou vencimentos do qualquer sorte. F 
Os argumentos apresentados pelo Sr. 
Thcllior dc Poncheville, auctor da pro- f. 
posta, para justlflcal-a perante as cama- c 
ras o a opinião, derivam da desigualdade 1 
sensível das condições da concurrcncia 1 
para o trabalho entro os naclonacs o os 1 
estrangeiros, desigualdade quo consisto 1 
principalmcnto na dispensa para os ulil- * 
mos do serviço militar obrigatorio. ! 

Por isso, alòm da taxa das patente» . 1 
do imposto dc residência, o auctor do 
projecto de Icl protccdonlsta propõo mais ' 
uma taxa supplcmcntsr proporcional aos : 
salarios ou patentes para os estrangeiros 
que recusarem cumprir na Legião Es- 
trangeira todas as obrigações militares 
dos francczcs. 

Pelo caminho quo vão tomando as 
cousas, parccc quo tudo sc fará' para sa- 
tisfazer as oxigeneias do opciario fran- 
ccz. Já a Industria reclamou contra a 
concurrcncia dos produetos similares es- 
trangeiros o deu-sc-lho o protccclonlsmo 
aduaneiro. 

Agcra o operário reclama contra n 
concurrencia do braço estrangeiro o vão 
ercar um Imposto que peso sobro a per- 
niciosa diligencia d'cssc braço. Só o quo 
cu não vejo c o caminho por onde zo vai 
d'aqnl para a Urre concurrcncia do es- 
forço humano na sonhada confratcrnlsa- 
çâo dos povos. .. 

12 do novembro de 1892. 

Douicio da Gama. 


LUCTÀ COM A CARESTIA 

I 

Todos os donos dc casa o muito cspeel- 
almcntc as donas do casa clamam, crh 
altos gritos, contra o augmoalo do preço 
dos gcncros alimentícios, quo dobrou os 
pés com a cabeça ; attrlbncm-o aos mais 
dcscôcados motivos, pedem as mais dis- 
paratadas providencias por parto da 
administração publica, som so lembra- 
rem que; só pelo mcthodico c rigoroso 
governo da sua casa, têm meios dc 
luclar cíllcazmcntc contra n carestia ; 
quo irá sempre seu caniiabo, por roais 
quo gritem o so csfjlfcm os quo julgam 
quo tudo sc resolvo com palavras. 

Uma das cousas qnc falta ao brasiloiro, 
forçoso 6 conícssal-o, c o tacto cconomlco ; 
falta, cm parte, proveniente da largueza do 
nosso caracter, cm parto, por termos sido 
um povo nadando na abundancia, coroo 
foram o ainda são todos os povos dc ori- 
gem colonial. 

A nossa proverbial hospitalidade é um 
titulo honrosissimo; ma; um grande erro 
cconomico, a IndilTcrença, com que olha- 
mos para o dinheiro quo despendemos, 
abana muito a gíncrosiJado do nosso 
caracter; mas Indica um povo avesso 
aes mais comesinbos princípios do eco- 
nomia c o povo brasileiro, quo vai agora 
«alrar, cm uma nova phase de vida poü- 
M-a c cc nomica, q-.:e, como todes os 
jovos, valJ'i< i.ir pola vi la, tom que j-õr 
de parte csíhs vás glcrinlas dc proliga- 
i ihlcs t:o*pitaI?ir.'s dc quo vordaddra- 
i;rn!o si aprovcitnn» o» o io- s e cs pa- 


De Paris (detalhe) 




970 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 357, 23 dez. 1892 


rttfií 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


971 


DE PARIS 

Sr»v»«lO.-A lomaJa de Al»'m»y.-A moile do 

r»r.lzal Utlferl*,— ü dlicum do liulle OilUirr 

lia Academia. 

A parlo essencial da campanha do Da- 
liomcy pddo consldcrarso tormlnada. O 
general Dwldo, commandantoda coliinina 
expedicionária, tclegrnphuu no ministro 
da mariiihn, qtio entrou cm Abomejr, 
abandonada sem combato pelo rei 11o- 
llatizin. A fuga do clicfo negro 6 o unico 
Inconrcnlanto pnra a rcorgnnlsoção pro- 
visória do sen reino. 

Na falta do nuetorlsação sua, vão re- 
ta! liar-lhe o tonitorio c rcpartil-o cm 
províncias, quo serão umas Incorporadas 
ás possessões f rance/as de Bénln o outras 
submeti idas uoprotcctorado fruncez (o quo 
vem n dar nn mesma). Quanto ao paiz 
dos Decantes, quo Já 6 amigo, dar-sc- 
Ihc-ha por chefe o rei Tolfa, com 1’orto- 
Novo por Capital. (Ksto Porto-Novo é que 
mo cheira a iuiluoncla dos mulatos bra- 
sileiros, que dizem que por lá andaram 
dando agua pela barba aos guerreiros 
francczes.) Ao lado dos chefes cnthronl- 
sados nas tres províncias, serão colloeados 
residentes francczes, dependendo hicrar- 
chicamento do governador do Béiiin. 

Abertas estradas ligando Abomey a 
Vldah, estabelecidas as sedes dos gover- 
nos erm as competentes guarnições mi- 
litares c os postos aduaneiros cm Vidah 
c Godomey, llcarão os homens políticos 
habilitados tom um certo numero do 
empregos nn administração a distribuir 
pela innumeravol legião dos orçamcntl- 
voros do menor importância. Ficará um 
Tonkln mais perlo e rclntivamentc ba-' 
rato para os cofres públicos. 

0 estúpido do Bebauzin ú que não com- 
prchcnderá por que é quo os francczes 
lhe foram fazer guerra cm sua casa se 
não ó para devastar-lho o paiz c levar- 
lho a gente cm servidão. Tumbem não 
comprchcndcrá. a política do ministério 
da marinha que cm tez do mandar con- 
tra cllc, desde o comcco, forças nume- 
rosas que o esmagassem logo, esteve a 
mandar gcnlo aos bocadinhos, a regatear 
soldados para quo a guerra durasse o 
morressem tantos n'umn campanha que 
não valia a pena do heroismos. 

Herúo ficou o general Dodds pela sua 
firmeza c tactica militar na guerra do 
guerrilhas c pela modéstia das suas com- 
munlcações aos chefes hicrarcbicos, uni- 
camente o cstricto necessário, sem ad- 
jcctivos nem espalhafato bellico, como 
um empregado quo dá conta do uma 
missão ordinária. Vão ollerecer-lhe uma 
espada de honra, reccbel-o-lião com fes- 
tas, dar-lho-hío um bom commando no 
contlnonto branco. A menos quo tenham 
medo da sua nontilaridaile n mm vriinm 


contlnonto branco. A menos quo tenham 
medo da sua popularidade o quo vejam 
n'cllc um Boulnnger provável. Têm tanto 
medo das personalidades militares estes 
anonymos impopulares do governo! Que, 
por íim de contas, não acham os senho- 
res?... Nãoè bom brincar com armas: lá um 
dia o diabo fez fogo com uma tranca, 
diziam os sábios nossos antigos. 

— No dia 2G, pelas duas bocas- da ma- 
drugada, morreu cm Tunis, o cardeal La-; 
vigerie, arcebispo,- "primaz da AfricarJiH-, 
meado pelo papa administrador do vici- 
riato do Tunis tanto no lorapor.nl como 
no espiritual. Ura um dos poucos grandes 
vultos ainda vivos do ultimo quartel 
d’csto século, um- nome que representava 
uma personalidade considerável. Para 
rnuitn gcnlo cllc uüo seria mais do que o 
personagem modelo do retrato de Bonnat: 
para o resto, para os quo ncompauham 
os trabalhadores no campo do progresso, 
cllc era o conquistador espiritual da África, 
o liomcmdasmissões catholicas, quo orga- 
nisou milícias religiosas, os Monges brancos 
primeiro, os Prados armados do Sahara 
linalmcntc, encarregados uns c outros de 
abrir nodcserlo.para lájdos postos militares 
mais avançados, asylos para os escravos 
fugitivos. Assim livrava cllc os negros do 
capllveiro primeiramente e do islamismo 
depois. E fazendo obra humana c christã 
trabalhava pela França. 

Era patriota, republicano, disculídor 
ardente o tinha a paixão das suas cm- 
prozas. Nascera cm Bayonna em 1825, 
& raça misturada de bearnez e do vas- 
conço, filho de um recebedor das alfân- 
degas. Alumno do Saint Sulpicc, orde- 
nou-se padre o doutorou-se cm thcologia 
cm Pariz e foi professor de historia 
ccclosiastica na Sorbonno antes de ir 
para as missões dn Syria, cm seguida 
ás matanças du christãos n'aquello paiz. 
Voltando do lá foi para Itoma servir 
como ouvidor rft rola psiu França. 

Em 1SG3 foi nomeado bispo de Nancy c 
quatro annos depois pnssava pnra Alger 
mudado para cllo cm arcebispado. Alii 
fundou missões pnra o Sudan c o. Sahara c, 
a pedido do papa Pio IX, estendia-as para 
o interior da África (lago Nyanza, Tan- 
ganllcn, Congo) o estabelecia na Tripali- 
tnna o cm Tanger 03 missionários de 
Alger. 

No intcrvallo, tòra por duns vezes can- 
didato á asscmblé.a nacional cm 1S7I, 
nos departamentos dos Uaixos-Pyrcneus 
e das Landes. Derrotado nas eleições, 
conlentou-so com ser principo. da igreja 
(desde ISSétevo o chapéo vermelho) c 
apostolo africano. 

E' uma bella figura quasi heroica, quo 
dcsapparecq, n desse lllho de Blseaya, que 
ir Ipíeja não“fmpedlu do obedecer, como 

nltarlnaaiiin alam 1 »» /Ia eaaiiln >mo (mnnleAe 


E' uma bella figura quasi heroica, que 
dcsnpparccq, a d'csse lllho de Blseaya, que 
ir Ipfejn-náo^mpcdlu do obedecer, como 
obedeceria através do século aos impulsos 
do uma acllvidadc exuberante c impe- 
tuosa. As occupaçües o encargos da vida 
ecclcsiastica, a disciplina cerebral do pro- 
fessor thcologo, a obediência c a renun- 
ciação mysticado missionário da palavra 
divina, os negocios e a administração de 
uma vasta diocese não lhe tolheram o 
animo c a iniciativa do pregador e con- 
duetor de cruzada. Extenuado pelas mo- 
léstias do rlima da África, carregado de 
annos, viram-no, não ha ainda muitos 
annos, correr as capitães da Europa, so- 
licitando os governos, reunindo congres- 
sos, estendendo a mão á multidão nas 
igrejas, afim do congregar as boas von- 
tades cm favor da obra anti-csclava- 
gista. 

Impulsivo ou crente, era um grande e 
sympathico homem. 

— Na sessão publica annual da Aca- 
demia Franccza, faltou, apoz vinte o 
dous annos de silencio, o antigo ministro 
do império Ernilc OUivier, fazendo o 
elogio das pessoas a quem n'cste anno 
foram distribuídos os prêmios de virtude, 
o prêmio Montyon. Pareço uma cousa 
tão simples fazer um discurso acadêmico, 
celebrando ns virtudes dos humildes, que 
para isso basta ser da Academia. Mas 
ao homem de política vencida faz-se um 
delicto até dessa ultima ambição do 
orador que não quor morrer murado 
,no silencio c, depois de terem querido 


Impedir que cllo fulla-so p 0 i todaTsort 
do recriminações o do Injurias do um 
rancor obsoleto, ainda nahnram preten- 

c 0,0 0 Iddlscrcto o sou corrcctlsdolo dis- 
curso. 

Chamam a esta odiosa Imposição a cer- 
tos homens do serem as victlriiàs eternas 
do um erro collcclivo. do um arrependi- 
mento, do um regímen renegado, r,r Igen- 
ciu da coiucitncia nacional'. 'Vento a 
má fé pollllca joga facilmente com zyan- 
dos phrascs prestigiosas o tanto a Intolc-' 
rancla dos possuidores do poder se di/arça 
com a hypocrita cxhibiçáo de grandes * 
sentimentos. 


De Paris (detalhe) 




972 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 28, p. 2, 29 jan. 1893 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


973 


DE PARIZ 

fioNVAMo. — (Tronic» IrUU. — Um mio fim pira 

um bom prinHplo. — - A|>prelientAr« 0 Incfrim.— 

A r«ni 1 » 1'ulillra rm l>.itia.— O Irlo 0 a inl**rli. 

— Maii rioui man.lalo». — A utoill üo Allttil 

Ueipii 0 <Je AnAMi OèllMi* 

Triste acabou 0 anno do 18 92, Inquieto 
começou oh to do 1803. Nfto li» nada que 
possa conaolnr oa liomcna públicos do 
doacrcdlto que aobro a claaso dirigente 
dn nação lançou cata escandalosa devasso 
aobro corruptores 0 corruptos. Ninguém 
pódo prover a soluçfto quo Isto terA 1 «e 
virfio vlolonelaa do rua, so virá almplcs- 
monto, 0 ainda para pclor, 0 desanimo dos 
liomcns em sorrirem uma causa quo nfto 
parece mais do que um monto do empro- 
UB dcslioncstoB, do ambições pcssoaca 0 
illeglilmai. 

Entretanto, bem tlnlia começado oanno 
para a Hopubllcn. Os partidos adversos 
Iam pouco a pouco desarmando, como ao 
0 voto geral da noção reconliccosso 0 rc- 
glmon quo uma minoria idealista em tem- 
po lho lmpoz. 

O papa aconselhava 0 congraçamcnto e 
tirava ao partido monarchUta 0 seu apoio 
moral. No sou juízo a legitimidade do 
poder cabia & represontação republicano, 
que a França se attrlbulra. Esse deslo- 
camento do opinlAo nfto podia deixar do 
produzir as suas conscquonclas. 

Mas 0 governo da política opportunlsta 
confiou demais no seu prestigio. E uma 
tiiio de erros acabou por provocar a sus- 
peita geral do quo osgovornsntes actuacs 
aio deshonostosou pelo menes Incapazes. 
O triumpho republicano durante a oxpo- 
nçàode 1889,adcatrulçfto doboulaugismo, 
as demonstrações aympatbleas, fazendo 
prever uma alllança com a llussla, 0 
tqulllbramento das finanças naclonaos 
nanlfestando-86 pela cotação dos fundos 
públicos quasi ao par 0 pelos déficits In- 
significantes, tudo dcsappareco diante da 
desmorolisaçfto governativa 0 parlamen- 
tar quo um ministério Imprudeoto pro- 
▼ocou. 

O primeiro alarma velu das explosões 
dá dynamtte. Depois a questão da grèvc 
dt Carmauxem que 0 principio da aucto- 
rldade soffreu profundamento. Um arbi- 
tramento do presidento do conselho foi 
desrespeitado pelos mineiros 0 revogado 
pelo ministro das obras publicas, em 
plena camará, diante do Sr. Loubct silen- 
cioso 0 resignado. Mas 0 governo con- 
tinuava a governar; era 0 essencial. Foi 
preciso um movimento de impaclcncla, 
diante do uma discussão Irritante, para 
que 0 tenaz ministério Loubet cahlsso na 
ligunda batalha parlamentar do Panamá. 

Um novo ministério, recomposto com 
os mesmos elementos do antigo, menos 
dous membros substituídos, nfto tem mos- 
trado nem mais energia governativa, nem 
toais clareza c boa fé no seu programmn. 

Os tempos são calamitosos. O partido 
opportunlsta pareço esgotado e em crise. 
O Sr. Freycinet, atacado e impolltdo pe- 
los seus companheiros, nfio quer sahlr 
sósinbo, talvez com medo de que lhe fa- 
çam 0 mesmo que fizeram aos Srs. Rou- 
ticr 0 Jules Rocbo. O Sr. Floquet, presi- 
dente da câmara, nfto decidiu ainda sc 
so apresenta á reeleição. E já se indica 0 
Sr. Casimir Pcricr como 0 seu successor 
• candidato & succcssfto do presidente 
Carnot, na futura eleição. 

Entretanto já se falia no desprohun- 
ciamènto dds parlamentares Implicados 
00 negocio dos cheques. Eo Sr. Ãndrleux, 
o justiceiro, protesta desde jú contra a 
tenção do governo embaraçado e declara 
que tomará a si -a. causa cm justiça. 
Notem que Corneiius Hcrz, sempre por 
traz do antigo prefeito de policia, su- 
miu-se do Londres. E dizem que vão ris- 
cal-o do quadro da Legião dc Honra. 

Com todas as incertezas do dia de 
amanhã c as agitações e agonias da hora 
presente, os fundos públicos não se moa- 


Mai logo depola Ias Chevuliert de la 
Patrle, no tlieatro HUtorlco, foram multo 
bem acolhidos. E ultlmamcuto Ia fils 
de Curalie, tirado do romance do mesmo 
nome, foi um grande e duradouro auccesso 
no Oymnaslo, quo 0 repOo em scena 
sempre quo caho alguma peça nova. 

O seus numerosos romances, Lu Wrw- 
geresse, Ias Compagnons du Rol, Jea 11 
A’u Pledt, La família Cavalller, La filie 
du Alarquls, Passlontment, Ia dernier 
Gentllhomme, La Mar quite, Ias J Wan- 
crolx, Solangedt Croix SafritLuc, llellc 
Madame, Theretlne, Rispuru, Comine 
dane la vie, prendom a attonçfto do lei- 
tor pela ma grande hnbllldado cm tecer 
a Intriga 0 desenrolor perlpcclas, com 
um calor do expretalo communlcativo, 
resultante do clioquo dos sentimentos no- 
bres e dos generosos pensamentos dos 
seus licróci. 

Albcrt Dolpltfo! sempre um apaixonado, 
um Irritada perenno. Fez a guerra om 187o 
como um lieróo 0 ganhou nolla a Lcgl&o de 
Honra e a confirmação do sou ardor pe- 
ias grandes causas patrióticas. Por Isso 
as suas polemicas tomavam sempre um 
caracter aggrosslvo que não raroo levava 
ao campo da honra. Foi assim que, n 
proposito de um drama de Coppée, elle 
bateu -ae cm duollo e foi ferido pelo seu 
adversário, M. do BorJrt. Outra vez foi 
Alphonso Daudot quo 0 feriu ainda por 
causa do um artigo de jornal. Depois 
bateu-so com Paul Alcxls. E ainda ultl- 
mamento, naquestfto Brumelicre— Baude- 
lalrc, mandou ello as suas testemunhas 
ao critico da Revue des Reux-Mondcs. 

Essa exasperação da individualidade 
levou-o a um nervosíssimo que 0 con- 
sumiu e matou, ao cabo do crucis pade- 
cimentos. Experimentou todos os re- 
médios quo a medicina póde aconselhar 
para acalmar essa aupcrexcilação, menos 
0 repouso. Os seus successos dc livraria 
nfioo consolavam dodesdem dos críticos. 

As noites do Insomnia faziam-n’o soíTrcr 
tanto, que por vezes os vlslnhos ouvlam- 
llte os gritos de desespero. O Insuccesso 
do drama Passioniment, no Odéon, aca- 
bou de arrasal-o. Entrou a narcotlsar-se 
e 0 marasmo das drogas deprimentes apo- 
derou-so d'ello. Ha quatro dias entrou 
cm agonia como uma lam peda cxhaústa 
do oleo. Perdeu 0 conhecimento atd dos 
mais íntimos amigos e hontem extin- 
gulu-se para sempre. 

Morreu Amédéc Gulllemln, auctor de 
tantos tratados de vulgarisação seienti- 
flea, cujo auccesso dura lnda ao cabo de 
um quarto de scculo. Nascera cm Pierre 
(Saône et Lolre) em 182G 0 desde a sua 
chegada a Pariz em 1S44 misturava-se 
aos agitadores llberacs. Em 1851, cm- 
quantoo pai cra guardado preso em Mazas, 1 
elle fazia-sc professor livre. Depois em 
1800 era rcdactor de uni jornal La Savoie, 1 
em Clrambéry. Annexada aqnclla região, 
ello voltou para Pariz onde Poyrat 0 cm- 1 
pregou no Aucnir National comochro- 
nista scientlfico. Fornecia ao mesmo , 
tempo artigos á Revue Phllosophique 
e k líorale Indèpendante. 

Todos conhecem as obras de Amédéc 
Guiliemln sobre a physicn e a astronomia. 

O volume sobre 0 Ceo, que elle publicou 
em 1805, foi traduzido ou copiado cm 
quasi todas as línguas, 0 bindustani in- 
clusive. Algumas d*ellas são mais do que 
simples livros de vulgarisação. O acu tra- 
balho sobre os Cometas (1875) cheio dc 
erudição e do vistas originaes nfto fica 
mal na bibliothcca do um verdadeiro 
ostronomo. 

GuUlemin era um homem especulativo 
e um republicano aferrado, ao mesmo 
tempo. Ha gente que concilia cousas que 
parecem antagônicas, justamento por 
nunca careccrenrde as experimentar. 

Pariz, 5 de janeiro de 1893. 


trnm multo seguros c as cotações da bolsa 1 
variam no mesmo dia até um ponto de ' 
diircrcnço, n flrmissima renda frauccza ! 

Fóra da política não correm mais pros- ‘ 
peros os tempos. Faz muito frio. O Iber- j 
mometro tem descido a 14* ccnt. abaixo 
dc zero. Morro muita gente de frio 0 de ( 
fome. Todos os dias os jornaes contara y 
historias tristisssimas de crianças cn- f 
contradas mortas, de homens que cabem 1 
inanimados á porta dos asylos nocturnos ' 
cheios a transbordar e recusando abrigo , 
a centenas de miseráveis todas as nottes, 1 
dc famílias pobres que se suicidam juntas. 1 
E a caridade publica não cessa, os ricos 
distribuem dinheiro como so os tempos 1 
estivessem proximos 0 os pobres não rc- • 
gateinm 0 seu auxilio aos mais pobres. 

A Assistência Publica recebe dinheiro aos , 
«nllliões, presentes dos Rotliclillds e outros 
judeus ricos; 0 conselho municipal re- 
parte esmolas como se todos alli fossem 
Virentes dc Paulo e Francisco dc Salles. j 
Mas a miséria, assoberba a caridade. 

No rio de margens já coalhadas passam í 
os cavallciros brancos do gelo, que uma ’ 
corrente rapida leva para 0 mar. A oa- { 
vegação inlcrrompcu-se e das pontes só 
so ouve 0 ruido das lages de gelo que- k 
bs ando-sc dc encontro aos pegões, n'uma c 
chiadeira sccca. Mais dous dias do frio 1 
assim c 0 Sena coalha dc todo. E' a mi- 
séria para milhares do pessoas que d'ellc j 
vivem, mnrinheiros d'agua doce, carrc- 1 
gadores, empregados nos serviços da na- I 
vegnção fluvial. Os montes do soccorro j 
já começam a restituir aos pobres as j 
roupas de ngazalho empenhadas no verfio. 1 
E' a providencia tardia que deixa a pneu- 
monia levar muila gente antes de valer a ! 
mais robusta. 

Agora os patinadores esses gostam do 
tempo que lhes oITcrecc durante mais dc 
quinze dias resistentes 0 solidas as toa- 
lhas dos lagos desde Vinccnncs até Vcr- 
saíllos. Pelas ruas cncontram-se grupos 
dc pessoas cornos patins. dependurados ao 
'pescoço, como tropbéos. Alguns vfto al- 
moçar no restanrant assim armados. 
Talvez osso» não patinem, para não des- 
fazer a correcçáo do trajo especial d’essa 
occupaçfto da moda. 

Na alia sociedade dons escândalos mais: 
a prlnceza de Sagon quo demanda com os 
criados por pngnrncnto dc dinheiros que 
estes lhe adiantaram c Mme. Balllon, mu- 
lher do celebre professor de botanica, que 
npparcce em juizo trazida pelos credores 
por dividas e pelo marido em instancia de 
divorcio. O Dr. Baiilon ganha mil francos 
por mez; a mulher gastava sessenta mil 
por anno, tinha casa sua escondida do 
suarido c figurava como rica. Sd as re- 
clamações dos credores fizeram 0 sabio 
sahir da sua cegueira para 0 que se pas- 
■a?a em torno d'clle. 

Na livraria os livros de festas dc gra- 
. «»jras 0 capas vistosas. No lheatro poças 
dc grande espectáculo ou reprises. Até a 
Lysislrata dc Arislopbnnes, arranjada á 
fronccza por Muuricc Donnay, para 0 
Orand Théalre, é uma reprise. Mos 
nVla revelou-se ao grande publico 0 fino 
poeta dp Chat-Noir. 

Albcrt Dtílplt, homem de letras, acaba 
dc morrer, nu idade dc 44 annos incom- 
pletos. Embora nâodeixe uma grande obra, 
cra um cvriptor estimado. 

Nasceu cm 1849 na Nova Oricans. 0*s 
pais 0 destinavam ao commercio. Em 
França, porém, 0 joven Delpit entrou 
para a redacção do àlousquetairc, de Ale- 
xandre Dumas, c as lettras 0 absorveram, 
•s lettras liltcrarias. Foi dramaturgo e 
romancista e folhetinista com auccesso 
desigual. Robert Pradei, drama em 4 
-los representado em 187$ no Odeon, 

’ sco desde a primeira representação. 


De Paris (detalhe) 




974 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Aono XV 

Rio ac Janeiro — Maxta^feira 1 de Marco 

de ISSO 


N. 60 J 

GAZETA DE NOTICIAS : 

«•Muni 

Nuat*< 

i UETt IC IfflCÜ 

) AVULSO 40 » SMraâlBmD 

L. r"jm rí2C. » nKirt roo ghhn 

■ uau tamii ma. ■ taca* a «a» t Mo> é rari 

Tlrimsm 34.000 •«•mpl*r«* 

A» Ü L*0 1 1*33 I 
1 »« 

NUMtftO AVl/isC 

MO CHAT MOCA 

1 40 At 

rjr~— ***• -‘X' 

1 OC HANÇO 

-— -- — ,-— 

pSpHrgsJ 

ii-rrr.-'; 



"T? ^TT**** **"** l "!r— 




n ?r"Tâ‘.T*^ 

[ 1 *• 



1 _ íciíir: 

mu « a nruNut 



Tzz. 




1 CíKCff 




ic=.T=rrr 

j ,M , . .— 1 



: 

Í?K£H£âr 

|^irzr£5=sd 


jrp£ qspsJ 

j£ür^&. , ^35 




El* M 

-*"*• ■ *>*• -*’ 


SsLi. 


jp~ 

Z JUItY 


E5tssSí.= 

m -**“* **'-** *“*•— 

k» 

t " 



jp£§£~líH 

f&sinsâvTJL 


!=Ssss?2k 


~ t 1 

I .**** *E^y7*r**rV:, n ; j 


!“T! *.Trt 1 -Tr-TT r -T*. -r 

it 7* W T* >*** •,rT‘ T » ~ 


*' 1 *- " 1 ; l .^r""‘ r li 


| 

"•THÜT • WOi M nr». 1 

AtpyFsgtr-.l 

1 ; 


r<sS~^J«sl 

ÍSÉSIsIÍIII 




o ftnart MMim 


T^txTsIctr 

asiuLM» ave. 



imosio i aoMTKs ! 



MVMIt 1. Mtn’1 



•£=~-JrS: 

KSrT^rsür 


jti= - --“-A 


jrgsps^íaiísit 



ISSSrastrl 







* , Tr" tt*'/: “TuTrr*^ 







I rrt^FriHvsé I 


1 ^T** * 1 * r u -~‘ t 








rtJZ. 1 








-». ' - 


•rvM®te»= 




Cama iam a fretai fe 
caa» 

grigSreãfli 

sirrlrííí j 


•' srEpsEx 

3|i|£3r5= 

cHirSríEHl 

"=~ÍrEÁ=? 




rSáp^lpf 

r **■ » 


=~I£-r£~=| 


KEiSiSr 35 ^ 

t—.r»».»» »• -» — - 




Bí— ’^ rss 





— 




No Chat Noir. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 60, p. 1, 1 mar. 1889 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


975 


I NO CHAT NOIR 

No quarteirão da Lorette c das lorettes 
á a rua Viciar Massè que possue a original 
taverna do Gato Preto, de quo ó dircctor 
RodplpIio.Salis. 

E' uma taverna Titterariae artística, 
especie de Club publica, . aonde pdJe ir 
taraar um copo da cerveja quera quizer 
vér os intransigentes de boje, que serio 
talvez es acadêmicos de amanhã. A\s 
quartas e sextas-feiras ha representações 
drnmatico-musieaes. 

Quando sc vai pela noite escura e fria 
subindo aquellas escorregadias c lama- 
centas ruas de Montmartre, as grandes 
lanternas vermelhas. da bedéga bohemia 
parecem pbaróes auspiciosos a indicar- 
nos o ponto. A grande vidraça de côres 
abre no escuro o seu painel violenta- 
meate desenhado o colorido, chamando 
os olhos pela estranheza o obscuridade 
do symbolo. — 

Porque tudo n’aquella caia è symbolo, 
quer iti:er. O enorme suisso fardado, 
agaloado e do chapéu armado, que nos 
recebe á porta, trata-nos por monseignèur 
c, com o conto da pesada alabarda que 
| empunha, bate no chão tres pancadas es- 
trondosas. Quer isto dizer: « freguez» ! 
Vai-se no balcão tomar um bilhete e um 
horatm de calção e meia e casaca bordada 
de membro da academia guia-nos até a 
sala do espectáculo no segundo andar. 

A casa toda, desde a saln da frente no 
andar terreo atô o ultimo recanto escuro,. 
,è - cheia de desenhos, pinturas c escul- 
pturas dos habiluès e membros d’aquello 
cenáculo. E' um interessante museu, 
onde a gcnlo pódò descansar das reve- 
rencias da imaginação classic». Parece ao 
principio não haver senão disparafea o 
incongruências n’aquollns obras j a desor- 
dem reina na exhuberancia de expressões 
cstheticas que roçam vagamento pela 
loucura. 

Mas na realidade entro todos nqucllcs 
monstros gerados em cerebros, que a ob- 
sessão da fórma nova allucina, In como 
um signal do obscuro parentesco n notn 
harmoniosa sem a qual não ha plaslica.o 
sentimento do pittoresco.no movimento ou 
posição ,-tey figuras e na approxtmnção 
das cô‘ T. r 'tom e valor. 

Uaum completo despreso pelas conven- 
ções classicas, os pintores e esculptores 
são ou primitivos ou decadentes, os qua- 


Rotschild ; depois o Orgulho, a Sdencin, 
as divindades pagãs, cidade* mortas ou 
encantadas, a Gula, bailarinas da Opera. 
Mlle. Rcichemberg, Zola, Ohnet.^orol 
Jo Odcon, o^gencral Boulamgcr — válas e 
assobios, o Chat Noir é antiboulan£ista 
—a rainha de Sabá, Lcsbor, Fclicicn 
Champsaur, o Òlympo acadêmico, qua- 
renta visões deslumbrantes, que, para não 
fatigar demais o espectador, são dadas 
em duas porções. 

Nó iuterrallo dizem-se versos « can- 
tam-se canções. E ainda ahi ba espirito 
e poesia para dez folhetins. Uma canção 
cantada hontera pelo seu aucior, o Sr. 
Meuzy, vem hoje publicada no «upplc- 
mento litterario do Figaro. Sinas Hall 
que clle descreve: ' 

C’est à 1’heure brèva 
Oü la nuit s'acbéve 
Dês que le jour cré vo 
Son manteau brumeux. 

Falia no mercado de peixe: 

Mais 1'odeur plus forte 
Que la brise apporte, 

Ccst la vague morto 
Au picd des brisants... 

Les senteurs salinos 
Des algues marines, 

Linceuls des sardines 
Aux ventres luisants. 

Isto cantado com uma voz linda e «mo 
musica singela, de embalar... Um en- 
canto em dezeseis estrophea. Eè .ultima 
ainda. as mulheres suspiravam. Parcccu- 
me quo seria isto a poesia nova. . . 

Uma poesia do Sr. Masaoo, um ho- 
mem pequenino e hirsuto, sota» a le- 
genda de Avinhão, dos sinos que pelo 
Natal vão a Roma tomar a bençio do 
Papa ; outra abcuçoando a cabra que o 
amamentou ; canções bregeiras, depois 
do romances ternos... Uma hora ama- 
velmente rápida para o espectador can- 
sado das solem nidades impertinentes dos 
thontros c quem sabe se para clles mes- 
mos, pobres rapazes ambicioso» de gloria 
o tão mal tratados na couquist* 1 E’ isso 
o que os azeda e faz um pouco malcríi- 
dos. Mas no fundo ellcs não são peiores 
era maneiras, nom menos UientoMs que 
qualquer ncadcmico. E mesmo que hou- 
vesse aberrações de sentimentos que re- 
sistissem á acção suasiva doa- primeiros 
suecessos e das honras nublicas. rtles 


No Chat Noir (detalhe) 





976 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


são ou primitivos ou decadentes, os qua- 
dros o dezenhos são muitas vezes escan- 
dalosos como concepção e sentimento, 
nias nunca vulgares. Dão.sempre aidéa 
de que o seu autor tem talento. E só a 
impressão do pittoresco produz isto. Ha 
mesmo um tom sombrio no colorido gernl, 
uma espccie de cttloiage da fumaça dos 
cachimbos e de suggcstõcs pessimistas da 
penúria, do dinheiro dos drtistas ricos de 
idéas singulares. Imaginação muita I 

Tanta, que a fadiga seria excessiva, se 
as 'representações' durassem meia hora 
mais. O theatro 6 n’nma sala em que 
podem cstnr sentadas quarenta ou ciir- 
cocnta pessoas, um buraco na parede om 
fôrma de ferradura achatada ou arco mou- 
risco, emmoldurado n’um resplendor dc 
ourp. por cimo e ó roda do qual despe- 
nt^i-se em gymnasticos cabviolnnto» uma. 
caeiiqeira dc gatos. ( Gatos encontram-se 
por toda a casa, pequenos o grandes 
em profusão, que são um mimo de ma - 
sidão e de lindeza, predominando os pre- 
tos, emblemáticos). 

E todn a parede c todas as paredes sio 
ornadas caprichosamente, dc modo a per- 
millir ao' espirito que descanso de uma 
contemplação por outra, do uma estatua 
serena, enroupada em vestes de pureza o 
de innoccncia, por uma bnchanal de ca- 
beças de pierrots sobro casacas pretas c 
feiticeiras de meias encarnadas caval- 
gando vassouras. E outras cousas assim. 
No excessivo de cada obra ha requintes, 
que seriam de mau gosto, se fossem feitos 
e tomados a sério. Mas elles, os ironicos, 
não são nevroticos como so nosalligura. 
E, se nevrosc houvesse, não seria essa de 
fanatismo. Aqnclla gente não tem Ídolos 
õcos, não levanta os olhos para cima, 
para quem os despreze por os não enten- 
der, ou para nbstracçOes vãs, que elles 
tão pouco entendam. 

A sua esthetica è antes negativista, se 
pdde haver uma assim. Elles riem. Can- 
tando, pintando, desenhando ou rccor- 
'ttindo bonecos para os suas peças de 
sombrinhas, elles riem sempre, fazendo a 
satyra da bestice ambiente, política, ar- 
tística, mundana, amorosa, chauvinista... 
E é um gosto.no emtanto, perceber como, 
sob aqucllc sccpticismo maldoso na appa- 
rencia, bate fogoso o coração franccz. Ha 
sempre o thema— amor o patria— como 
fundo, c o mais são variações mais ou 
menos nraximas. Ainda hontem vi isto. 


successos e das honras publicas, elles 
não resistiriam á uniformisação pelo es- 
pirito tradicional. 

E’ isso o que não temos, nAs o* bràzi- 
Iciros, sem fórma original e sem fundo 
primitivo. Nem scqner temos o elephantc 
que nos prenda, para não macaqucarmos 
demais. Ficelles sim, temos dc sobra, de 
tida g sorte, pnra nos embaraçarmos 
n'cllas. 

0 espectáculo, começado áa 10 horas, 
acabou antes da meia-noite. Em menos 
de duas horas tive mais divertimento para 
ò espirito qne cm quatro do qualqnor 
exccllonto theatro, cora actorCs de repu- 
InÇão cohsagrada. E 1 que nos bons tlica- 
tros a convergência dos esforços dos 
adores de educaçõzsdiflcrcntca, coibidos 
aqui o acolá, não se faz senão spparcn- 
temenic. 

Nas melhores representações ha dos- 
a filiações c deslinrmonias. Ao passo que 
no Chat Noir liu unidade na variedade c 
isso som esforço, espontaneamente, har- 
monia dc aflinidiides. 

Hoje amanheceu nevando. A queda si- 
lenciosa dos flocos brancos pocificou-me. 
Ia tratar da invasão boulapgista, mas 
preferi fallar-lhcs da taverna iliustrada. 

A política nào valeria maia do que isto, 
talvez... 

Douicio da Gama. 

Pariz, 12 dc janeiro de 1869. 

0 Sr. Forlunato Lopes Cançado, que' : 
com sua família se retirou para a pro- 
vinda de Minas, despachou no dia 10 de 
janeiro, na estação central da estrada de 
ferro D. Pedro II, para a esUçáo de lla- 
bira, quatro canastras, pesando 97 kilus, 
e pagou ltglOO. N’cstas canastras iam 
toda a roupa dc uso c objcctos neces- 
sários. 

Tendo o Sr. Cançado chegado i Uábira 
no dia 14 dc janeiro, procurou na e«tação 
a sua bagagem, e, nau enroatraiido-n, 
pediu ao agente que telegrapbassc para 
a côrtc. 0 Hgcntc não só tefogrspliuu 
ra a côrte, como para as estações de 
Paulo, Porto-Novo . o ootras, mas até 
o dia 15 do passado ainda n Sr. Cançadu 
não havia recebido as suas canastras. 

Para esta irregularidade chamamos a 
attençfio do Sr. direclor da estrada de 
ferru D. Pedro II. 


Exercito 

0 superior dc dia A guarnição de boje 
é o nmjor addido ao 22' batalhão de in- 
fantaria Julião Augusto da Seria Mm Uns. 

As guardas para as repartições publicas 


sou uquciic sccpiiuismo muiuosu nu nppa- 
rencia, bate fogoso o coração franccz. Ha 
sempre o tbema— amor o patria— como 
fundo, e o mais são variações mais ou 
menos próximas. Ainda hontem vi isto. 

A peça que se ia representar ern n 
Tentação de Saritq Antonio, poema sug- 
gestivo e dramatico-satyrico em dous 
actos e quarenta quadros. Mns como /«- 
ver dc rideau deu-se antes uma comedia 
amarga de Willette, o desenhista ma- 
cabro. Intitulava-se a pequena panto- 
mima — Lágc d'or e moralisava sobre a 
conquista do amor pelu ouro. Entretanto 
cada um dos que sc achavam alli com a 
sua chaeune, como na canção, sabia hem 
que não ora verdadeira a conclusão que 
ila peça tirava ■ o Sr. Snlis, fazendo »l«* 
Coro Antigo. Não foi ccrtnmcnte a suluc- 
ção do Iniz dc ourei o qne lhes trouxe a 
companheira, porém sim o que primeiro 
ensaiou Pierrot amoroso — a lyra, o pin- 
cel, ou a galanteria e a graça do corpo 
novo e forte. 

Mas niDguem protestou contra a amar- 
gura da doutrina inclusa. E, quando lc- 
vnntou-sc o panno de novo, todos applnu- 
diram o symbolo do macaquinho agfl c 
ligeiro, ligado por um cordel immenso, 
embaraçado c cheio de nós, a um pesado 
elephantc. 0 Côro Antigo explicou que 
nquillo era a ficei U do convencionalismo. 

, E emquanto o pobre bichinho ia c vinha, 
na ancia de liberdade, sacudindo a sua 

i cadeia' hem visível sobre o transparente 
illuminado, da hoocn sarcástica do taver- 
neiro poeta choveram allusõcs ferinas 
contra os conservadores, os carrançaa, 
os imbreis, contra os detentores d’essa 
liberdade, dc que a gente nào sabe mais 
o que fazer quando a possuo. 

Drpois subiu o panno para a verdadeira 
peça, c no seu deserto da Tlicbaida appa- 
receu n santo orando ajoelhado em frente 
ú cruz, emquanto um penedo ironico 
fazia-lhe caretas o o seu porco amigo 
bocejava, deslocando as mandíbulas n'um 
enfado immenso, O pobre sanlo nào tinha 
a saciedade da vida, não estava farto de 
gozos, c os nervos novos c sem uso vibra- 
vam-lhe. Em torno d’elle uma aranha de 
imaginação teceu a sua teia. Começou 
o galope. 

j Primeiro o sabbat— mulheres ; depois a 
cidade — I.uz, que Satau lhe mostra— o 
Santo não quer ser vereador ; depois o 

I !!e/J f hv do Ouro— O Santo não quer se [ 


No Chat Noir (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


977 



Sexta-feira 19 do Aorll do^l88í^ 


Rio do Janeiro 


ADIO 


flUBN COSfUCW 


COM 0 tf LCOMPHO 


RICIAMAÇÔES 


O Rio de Janeiro em Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 109, p. 1, 19 

abr. 1889. 







978 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


0 Rio de Janeiro em Pariz 

A impressão que causa a vista da cidade 
do Riodc Janeiro é do uma bella moldura 
mal empregada. Os que n'ella têm vivido 
e soflrido, os que a cila são condcmnados 
perpetuamente conhecem a cidade, a bella 
còrtc que se sonha na provinda, como 
uma especio dc monstruoso emplastro de 
caliça o pedra, cinzento, sujo, Informe, 
collado á face da natureza viçosa e des- 
lumbrante. Do alto dos morros tem-se 
a vista ingrata dos telbado3 escuros, es- 
maltados do flechas dc foguetes, rabos de 
papagaios, cascas dc laranjas e outra» 
sujidades antigas. Uma cupola o duas 
flechas de igrejas o duas ou tres constru- 
cções decentes mal apparccem entre o 
acervo da archltectura dos mestres dc 
obras. 

Pelas ruas estreitas c tortuosas passa 
contiuuaraentc um formigar sombrio, li- 
dando n'uma faina silenciosa para quem 
a contempla de fóra e arredado, mas 
cheia de gritos dc raiva e odio, dc supplí- 
cas, dc lamentos, dc suspiros das decc- 
oções, de cantos dc alegrias que nao du- 
ram, de baques surdos dos que tombam 

vencidos na batalha, cheia de estrondo 
épico par* quem vivo n*clla e quer es- 
cutar. E muito longe, azulando-se no 
horisonte como um idèal que recúa s*ra- 
pre, depois da campina risonha do mar 
com as suas ilhas verdes, as serras porfl- 
lam-se altivas « serenas. 

Abaixando de navo os olhos para a 
cidade, as janellas abertas deixam ver 
interiores tão desarranjados, tão nús, tio 
8ctn conforto e sem arte, quo basta esse 
syraptoraa da pobreza dos seus habitantes, 
pobreza de dinbclro 


descuido d'esses 

adoçamentos indispedsaveis da vida do- 
mestica, amarga c aspera tantas vezes, 
desprendimento das materialidades recon- 
fortantes, Buggestivas de bons o altos 
pensamentos pelo culto diário da bollezâ, 
-pobreza de espirto, enlão, pobreza mo- 
ral, roais desoladora ainda— que basta a 
visita de rocia duzia dc interiores flumi- 
nenses dos genuinos para sentir-so ridí- 
culo, isto ê, isolado e desamparado, ex- 
tranho o fóra da afinação geral, quem 
quer que abi pretenda ser artista cm 
actividade, fazendo d*cssa profissão o 
objectivo exclusivo. 

Kntrctanto, a despeito dc todas as con- 
trariedades, começando pelo clima que 
suggere o quietismo, passando p«la raça 
que. so não é a menos artista, i sem 
duvida a menos representativa do occi- 
dente.e terminando pelas condições sociaes 
de nação nova. em que todas as forças 
ellicazes são naturalmcntc empregadas 
no trabalho material, que sc apresenta 
em primeiro lugar, apo/ar de todos os 
embaraços que a contemplação esthetlca 
sempre encontra em uma sociedade ainda 
não completaroente desonvolvida, ha no 
Rio de Janeiro quem seja capaz de vêr 
bcllo c de representar a «ua visão de 
artista. 

N’essa cidade, edificada por portuguc- 
zes, que parecem ter tomado dos arabes 
a renuncia A representação da plastica 
ideal, ha quem imagine e realise *»«* 


para as lados do Andnrahy. Ha sombras 
o eíTcUos de luz lindíssimos. Não posso 
aqui moncionar pormenores encantadores. 

A idcallsação como cm todos os trnba- 
flios do pintor c considerável. K aqui, 
nWa téln de 115 metros dc extensão, cila 
aprcscnla-sc cm coda pequena cousa co- 
mo ui# trabalho incalculável. Sdmento 
cu desejaria que clls não me bulisse nas 
casas, nas minhas horriveia cassado Rio, 
que desde osdozo annosestoo costumado 
a ver, com um desgosto qu» jà é uma 
afToição. E elle idealisou isso também. 
Em vez de representar a minha casaria 
cinzenta e feia, lá arrumou á beira do 
mar sapbyrino uma festa de córea em 
essas que parecem tiradas de fresco das 
caixinhas de brinquedos que rèin da Al- 
l»manh&. Um fruncer. pensando «er-me 
amavel disse que parecia uma ddado 
Oriente. Um americano mais desafo- 
rado disso que parecia Panamá. E, meio 
envergonhado dc parecer tão peqoena a 
chiado escondida nas dobras do terreno, 
ouvi mais de um brazlleiro enumerando 
a estrangeiros a população do Rio, alga- 
rismos cororoerciaes, etc. Nio sorãisso o 
que Irão lá procurar os estrangeiros, ma* 
sim uma impressão agradarei paia os 
olhos. Isso oncontrarào os mais indiffe- 
rentes a bellozss uaturacs e artificia**. 

O pintor com a sua cabellelra branca 
arrepiada como ã um refegio d* vento (o 
sopro da inspiração ou da gloria) pare- 
cia contente. Tinha de que. Não i com- 
mum receber com tamanha profusão, di- 
recta e iudirectaments, cumprimeutoa os 
ma» lisongeiros ao seu amor proprio de 
artista. E hontem a multidío (escolhida 
embora, porém multidão) que se apiuha- 
va na plataforma do panorama mostrava- 
se tão encantada, que bastaria ao Sr. 
Victor Mcirelles olhar para a cara de um 
doa seus convidados para ver n'e!la um 
cumprimento. 

Eutre os muitos brazileiros Ulustres 
que alli «stavam, encontrei o Sr. barão 
de Teffê que, eleito ha cerca de um mez 
membro correspondente da Academia de 
Sclcncias para a secção ds gcographia, 
foi hontem mesmo convidado pelo minis- 
tro do commercio e industria para fazer 
parte do Congresso de Chronometria que 
se reunirá em setembro, e para-str socio 
do Congressso de Trabalhos llydraulicos, 
que será aberto em outubro. 

Vê-so qne os brazileiros aqui valem 
algum* ecuss. E h* tanta gente quo se 
está perdendo na rua do Ouvidor, em 
vez de ser aproveitada convonlentemcnto 
n'esta terra hospitaleira... 

DoMtao oa Gama. 
Pariz, 15 de março de 1S89. 


CEARENSES NA VICTORIA 

Ante-bontem publicámos, em telegram- 
ma, a noticia de que emigrante* cearenses 
continuam expostos ao tempe, na capital 
da província oo Espirito Santo, dormwdo 
em grutas e mattas, e de que ha muitas 
mulheres gravidas, também retirantes do 
Ceará, quasi a termo e sem o menor 
abrigo, além de turmas da pedintes, da 
mesma procedência, reduzidos á miséria 
-c á fome, solicitando da caridade do povo 
meios de subsistência e em triste nccom- 
modarãn sob a oedra nroxima á rua da 


ellicazes são naturalmcntc empregou;», 
no trabalho material, que sc apresenta 
em primeiro lugar, apezar de todos os 
embaraços que a contemplação esthetlca 
sempre encontra cm uma sociedade ainda 
não completaroente desonvolvida, ha no 
Rio de Janeiro quem seja capaz de ver 
bcllo c de representar a sua visão de 
artista. 

WessA cidade, edificada por portuguc- 
zes, que parecem ter tomado dos arabes 
a renuncia A representação da plastica 
ideal, ha quem imagine e realise a sua 
figuração imerna. Entro cose formigueiro 
sombrio c desalentado, que anda de olhos 
baixos como quem busca o logar da 
sepultura, sem nobreza de corpo c de 
atlitudes, sem vibração na voz. sem uma 
nota sequer do glorioso clangor da fan- 
farrice humana, ha quem se Ulumlne as 
claridades de cima e traga a cabeça ajl* 
e fallo a lingoa cadente e sonorosa, de- 
fesa ao vulgo, ha quem saiba a fôrma 
ideal plastica ou rithmica, ha poetas que 
os IcttradOB portuguezes declsram supe- 
riores. ha pintores que nós mesmos admi- 
ramos — ba arlistas. 

Os artistas contrastam tanto com esse 
meio Inp-nto, nctinm-K tio itagatarei. 
tio ililercntes do, seu, MenelhMlt*i q». 
ellos sio os que mii» *0 d'isao 

c tombem, volb» » «rdnde, o, que moi» 
ie admiram peiwalmoote. Alguo, mes- 
mo olo Um maia applauso, de qu. o, 
proprio,. Mi» outro. accumuUm prodi- 
moumente e andam eavolto. n'uma glo- 
fl,, cornados de esplendor, na pando 
gala pérenne a que osobrig» a reneraçâo 
própria e alheia, lambem pereaaes. B 
quando sabem do Rio o Tio pelo mundo 
é mollcmcnte meliuadoe no p^anquim 
das reclamei que elles viajam, como uns 
reis. Bem bsj.m por isso: a gloria dvriles 
é tamanha que nio ba braiiloiro humilde 
a quem nio cbeguo o seu reflexo. Sio 
elles s consolação do, qne nio Um bnlho 
proprio» 

Dos artistas brazileiros quo nos fazsm 
honra na Europa, Pedro Américo e Victor 
Mcirelles são os que mais avultam em 
importância e numero da sua obra de pin- 
tores. Dizem que elles são rivaes, rivaes 
em gloria e celebridade. So o aio, muito 
tom que fazer o pintor do Juramento do 
Y piranga, para que a sua aureola chegue 
a reluzir com a de Victor Meirelles. Toda 
a gente que costuma ler os artigos de 
Fcrnand Xau, no Echo do Pariz, sabe a 
esta hora que» o pintor do panorama do 
Rio de Janeiro tem no Brazil o trata- 
mento de excellcncia e, confiada na pro- 
verbial sabedoria do nosso imperador, que 
nio daria esse prémio a merecimentos 
secundários, vai affluir ao numero 80 da 
• Avcnuc Suftren e, depois de se embriagar 
dc cõrcs e claridade ivopicacs, sahtrá es- 
palhando ios quatro ventos o nome do 
nosso. primeiro panaram] sta. 

Foi hontem ás duts horas da tarda a 
inauguração. Sobre a plataforma circular, 
que representa o alto do morro de Santo 
Antonio, a colonia brazllclra em Pariz e 
alguns estrangeiros rinAam-je dado ren- 
dci-vous, como se diz hoje em estylo de 
jornalista mundano. Ao sahir da estreita 
c escura escadinba, qne vai ter á plata- 
forma, dei primeiro com os olhos nas lar- 
gas costas de um dos nossos mais botos 
c sympathicos- diplomatas, um que foi 
delegado de policia no Rio e cujo nome 
esqueci infelizmente. Já começava a ser 
apatria aquillo. Depois, por cima das 
cabeças apinhadas, cabeças bonitas, ca- 
beças feias, novas e antigas, conhecidas 
c desconhecidas, de physlonomias as mais 
dilTerentes, porém todas com a mesma 
expressão do contentamento, vl o céu. 

Não è o nosso céu habitual, o nosso 
azul implacável, esmagador, diante do 
qual nos sentimos mesquinhos, nullos: 
ò um céu de Julho, nevoento e magoado, 
com vapores frigidos no horizonte, em que 
já so estendem as purpuras crepusculares, 
um céu do pintor nostálgico. Nas que- 
bradas das montanhas parece que ainda 
*e estendem como véus azulentos, gra- 
duando a perspectiva com effeitos dc uniu 
doçura ineíTavel, as fumaças das fogueiras 
c dos fogos de artificio das festas do bon. 
mez. Mas isto 6 só para o poente. A 
labia, o mar, as serras ao nascente e ao 
norte têm a mclbor illuminaçào. do 
já muito baixo, quo uuvens escondem 


Pariz, 15 dc março da 1889. 

CEARENSES NA VICTORIA 

Ante-bontem publicámos, em telegram- 
ma, & noticia de que «migrante* cearenses 
continuam ex postos ao tem]», na capital 
da província oo Espirito Santo, dormwdo 
em grutas e mattas, e de que h* muitas 
mulheres gravidas, também retirantes do 
Caará. quasi a termo e sem o menor 
abrigo, além de. turmas da pedintes, da 
mesma procedência, reduzidos á mJserin 
e à fome, solicitando da caridade do povo 
meios de aubeistencia © em triste nccom- 
modaçüo sob a pedra próxima * rua da 
Lspa. A mesma notlci* telegrspbiea en- 
volve a referencia de que pa Victoria ha 
alojamento» alugados, com os commodos 
sunteierrtes, mas o inspector das terras o 
colonlsação resarva-os par* Immfgrantes 
italianos, proxímos a chegarem. 

Nada existe mais doloroso e mais grave 
do que a cxposiçio d’csse facto, conai- 
gnsdo em termos singelos e sem inten- 
ção de ofleesft a.|iessoa algum». Mas, per 
Isso mesmo qpe o caso é de exctpçio no 
aerviço orgaxmsdo pelo governo e diri- 
gido peto Sr. barão do Rio Bonito, n*e»ta 
corte, para © alo)*m«nto, hospedagem e 
destioo d©s retirantes cearenses, seus 
omnrsfos »m casas de família e na la- 
voura. é conveniente deelarer qne nãe 
se refere a emigrantes do Ccari des- 
embarcados na corte, o facto occorrido. 

O que ha de positivo è o seguinte: 

Era flns de março ohegou avho a «ta 
capital de que o vapor Pernambwe», es- 
perado no dia 1* do corrente, traz» a 
bordo, par» o sul, trezentos e tanta* em- 
grantès cearensM. Oom esse aviso foram 
tomadas as necessárias provfdeoctar de 
desembarque e ootra», attlnente* «o *a - 
áumpto, medidas que foram desaprovta- 
tadas peto tacto .4* haver o commsndante 
d aquellf paquete perralttfdo, na «catado 
IVntsníMico' pela Vfctoria, qae sahtssem 
dc bordo duzentos e tanto* rottreetes.jWA 
adquirirem coUocaçáp na provfoefcdo ta- 
pírrto Santo, chegando apenas no «Ha 1 de 
abril ao Rio de Janeiro í>9 cearense». 

NsturalmenU são aqucllea oe emigran- 
tes de qne se occupa o teiegramma* os 
quaes se acham agora victimaA* peto ift- 
ortunto. sem culpa d* dlreeção geral 
n’e«ta ddado. , _ 

E, a proposiio. não è máu appeflar para 
osaentfmentoe de reconhedda candadedo 
Sr. ministro interino da agricultura, qean 
to A situação dos nossos compalrieta» c 
ás medidas tomadàs pelo inspector espe- 
cial da colonisaçlo no Espirito .Santo. i 
Tsmbera a propósito lembramos quo 
todos os emigrantes embarcados d aqv» 
para «sa provinda estio collocsitos em 
diffcrentes ramos de serviço, sendo que 
apenas uma leva de 35 para ltape l P ,rtm ' 
não seguiu o destino escolhido, pela au- 
sência do contractante na estação do Ale- 
gre, cm contrario ao ajustado. Esse tacto 
chegou ao conbcdnMinto do Sr. barao 
do Rio Boaito. e S. Ex.. por intermédio 
dacompanhi» Espirito Santo e Caravcltas, 
deu as providencias sobre alojamento, 
hospedagem c mais cuidados aos cea- 
renses, c transporte para o município oc 
S. Mathcua, onde, hoje col locados na la- 
voura, trabalham c nenhuma queixa de 
qualquer natureza tem allegado. 

Assim, pois. está provado qne o «enriço 
d© internação das turmas dos infelrzes 
emigrante# cearenses nada tem produzido 
de prejudicial sos nossos compatriotas, c 
que— se por acaso— alguma reclamação 
apnarece é de origem e por motivos atw©- 
lutamente estranhos ao Sr. barão do Rio 
Bonito oo seus auxiliares. 

Consta-nos que o Sr. Feippe Nery, sub- 
delegado da fregnez» do Espirito Santo, 
pede hoje ao Sr. desembargador chefc de 
policia a rcipoçio do commsodante da 
13‘ estação policial, tenente Biancbi. 

A preside ncia do Rio Grande do 8ul 
requisitou dos juizes de direito, presi- 
dentes daaj untas revisoras de .lagiiarãc, 
S. Borja, Taquary, Alegrete e D. I'edrito f 
^ ««M. «In wliw-An nnt rtdailãos ara- 


O Rio de Janeiro em Paris (detalhe) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 979 


5 e 6 de maio. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 157, p. 1-2, 6 jun. 1889. 


Rio do Jonoiro — Qulnt -foir. 8 do Junho da 1880 * 

GAZETA DE NOTÍCIAS 


a*» vrnit.iT» n W* & toe» í nr** * KW » » 

Tlraftam "a4.000 onaropiaraa 


■ÚMERO AVULSO 40 RS 






980 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


le' 


bi 


1 - 


<ai 


do 


5 E 6 DE MAIO 

A (cata do 5 do mato ora Vcrsatltes foi 
menos uraa ceromonia clitca do que uma 
romaria* Digo menos quantltatlvamentc . 

A ceromonia foi oflicial o conatatlu em 
inauguraçfiode umalaptdo comraeroorati- 
va da abertura doa EstadosGeraes do H89, 
destilar de tropas, discursos do presidente 
da republica e dos do senado e da caroara 
na Galeria dos Espelhos do relho palacio 
historlco o passeio pelas alamedas do 
parque entre alas de soldados. B apesar 
do ter havido um lunch para os convi- 
dados de, cart&o branco, apesar de Irem 
no cortejo certas caras gaiatas e. pbyato- 
nomias amavets, apesar do presidonte lr 
mais risonho que de costume, cortejando 
á direita e k esquerda, acccndendo na sua 
passagem um rastilho de vivas o accla- 
m ações estrondosas, apesar da feição de- 
mocrática e pouco solerane do préstito, a 
festa verdadeira, alegre e sem segundas 
vistas era o povo quo a faria. 

Os trons intermináveis, que, partindo 
da quarto em quarto de hora das gares de 
St. Lazare e Montparnasse, entornaram 
grande parte de Parlx sobra Versailies no 
domingo, levavam muita gente par* a 
qual nunca tiveram sentido as mais bellas 
phrases que se possam pronunciar ou es- 
crever sobre a poesia das cornmemorações 
republicanas. Essa era a raulUdio, que 
aproveiton o pretexto para tomar um fartlo 
de ar, de lua, de verdura, sentada á som- 
bra das arvores, nos relvados em trampa 
Junto às fontes ou passeiando pelas largas 
alamedas de perspectivas magestosas era 
que outr'ora se estadclou a pompa da 
lyrannia. Dos tyrannoe quem ae lera- 
braaso seria benevolamente, com um vago 
sentimento de gratldio pelos que, fasendo 
obra de orgulho pessoal, embora, criaram 
para m França o mais bello passado que 
póde ter uma naçio e a prepararam par» 
ser o que depois foi e hoje continua a ser 
-a heroina da. geates I B emquanto na 
sala dos espelhos hr^e turvos e emba- 
ciado», em que outriora se reflecilu a fi- 
gura do RriSdl o presá dente da ropubKca 
oom uma eloquência que não possuem 
todos os chefes de catado rememorais a 
serie doe grandes feitos de tmmensaa con- 
sequências que abriu a 6ra nova, a 5 de 
maio ó que já faz de todo discurso a 
tal reupeito uma espede de ladainha lau- 
dativa o raonotona, emquanto os presi- 
dantea das camara» cantava» os loavorea 
da mais gloriosa jornada da Historia, 
sentados á sombra dos buxos seeulaws, 
encostados is arvores recortadas om py* 
ramides • oípheras verdre, estavam muitas 
boas criaturas, que, se sdamavara ao 
sussurro da agua d» fontes, n lo era de 
taes cousas quo scismavam . A historia 
d’cate dia nio tomará nota d'cstea des- 
cuido» e dlrà que um cuthusiasmo loueo 
ardia em todos os peitos som cxcepçAo, 
qvc o mais bello da festa era essa com- 
munhio uo altar da patris, ctc. E os pares, 
amorosos quo buscavam os recantos mais 
solitários rara ajuntarem um capltnlo á 
velha e doce historia o os photographos 
amadores, que, com a sua camara-escurai 
debaixo do braço, eorriamdaqui para allt 


fiòres, as Untcroaa pare a illnmiaaçfc» 
olectrica foram pisados e destruído*, a 
desordem foi auginentando progreosiv*- 
monto até quo, o cortejo do presidonte 
tendo porcorrido a exposição, oa soldado» 
deixassem passar o publico livremente, 
Mas durante as quatro horas da balbúrdia 
nem uma rixa houve, nenhum incidente 
desagradavel qno necessitasse a inter- 
venção da polida, o que prova a doçura 
do caracter e a boa oducaçlo do (rance* 
sobretudo quando elle está disposto a dà- 
vertir-e». 

A ceromonia da inauguração foi beta 
simples. A's 2 horas da tarde o preA* 
dento da republica apeou-se do ae* 
landau à porta da Dôme Central e oe 
córos do Conscrvatorlo entoavam a Mar- 
selbezn, acompanhados pela orchestre d* 
Collone. Terminado o ultimo ostribilb*o 
presidente do conselho o ministro da com- 
mercio, M. Tirard, apresentou a Expori- 
çSo a M. Carnot.Este, em pá junto da ca- 
deira dourada o encarnada que foi de Na- 
poleáo o Grande, defronte da massa cscuffi 
de casacas em que apenas brilham as en- 
zca, a» ustrcllas o as fitas das oondecor»* 
ções o os bordados de ouro des farda» 
ofliciaea, lê um bello discurao em que ♦ 
ologio da Repnblicu vtm ímpHdto na» 
varlaçQea composta» om torno do thesa» 
do consordo do trabalho com a Hberdada. 
Os republicanos • sobretudo o» filho* 
revolução como Carnot parecera coireeo- 
eidos do que sem ethi • festa do Campé 
de Marte nto se poderia fazer. Sio cousa» 
que nfio vaie a pena discutir. Ha gentd 
cónvencid» do contrario. E’ tio bom ater 
convencido de qualquer cousal... 

Emquanto 0 presidente cekbreva a» 
conquistas da ac tenda e da iadoatriy 
prestava homenagem toa executora d* 
grande obra e dava a boa viada ao» «*- 
trangoiros quo a cila concorrera», eru 
om gosto levantar os olhos da sua froal» 
pallida e percorrer a galeria superior, 
quo as roupas claras e oe ehap&n florido» 
das mulheres transformavam n’uma lm- 
mensa grinalda. Notare-sa muito o b*ct 
gosto do vestido de Mm». Carnot, em qu» 
as tres côres naclooaes juxtapunhaat-a» 
spavemonte, com uma mansidão da loa* 
barmoniota. Attrabiam também o» olha- 
res as roupas exotfcas dos selvagens afiri- 
canos e dos filhos do outras civiliuçQa* 
cbstribuidoa pola sala mnito decoreliva* 
mente. 

Depois do dlscnreo (nauguratívo, co- 
meçou o passeio pola galaria central d» 
industrias diversas, galeria das macte- 
nas, oxposiçQeu estrangeiras (doCTOnte d» 
pavilbio brasileiro apresentação doa com> 
missarioe ao Presidente por M. Qregerk 
palacio das bellas-artes (raate Waroa- 
Ibcsa, d'esta vez reforçada pela» ram 
desafinadas da multidão), lunch e aakid^j 
de carro pela esplanada do» Invalida*,- 

De noite ’ Pariz inteire illuminou-a* 
todo o mundo sahiu paru a rua e a rir- 
cotação de» carros, omoibu» e traaway» 
(ai suspensa a partir das 1 horas. Peta 
beira do rio, quo barco» guarnecido» dfi 
lanternas venczioaaa percorriam • ood» 
as pontes e as arvora dos cia semeada» 
e guarnecidas do fogo fariam o aspeete- 
ciilo mais bello. rrastavaoa-se duas hora» 


amadores, que, com a sua i-.».-.— ...... 

debaixo do braço, corTÍamd’aqui para aui 
á procura do grupos o assumpto* plUo- 
rascos, terão tanfbem commungado no 
aliar da patris. . . 

0 tiro de polvora secca que, ao sahtr da 
pnc. 'Bcaurau. ura *isr»ç«<io liomcm 
»ra emprego dUp.ro» mb™ o prooldonlo, 
tovò lâo pouco è», qM sb de toU» • 
polo. jornoe. d. larde, «oube . 
mHo d» cento 4110 houver* um arremedo 
dê .ItentKio. A coum foi tío pouco grave 
0 J/otín Jo dl. seguinte clMÜBeoM 
do simples incidente, llnuee meemo m.- 
leioios que o nttrilmlram 4 pWçh rfm 
dc.attrahir sehre C»rnot u lympathlu d« 
multid&o- Mm o iuq.crito provou quo o 
üro de revólvOF do Perrln nío pretadU 
m.i, do que chMUíir s altcntio sobro ura 
homem poneo iutoressoote era si, um 
emprego m«lr«o,del>tor o insubmisso. 
EntrcUnto o pseudo attonUdo foi occaslio 
para o aympathtco Carnot receber cum- 
primentos do todas M partes o do todas 
« n«dei Mlomeaha e ItalU iaoloMvo. 
cumprimentos ollidaei e particulares. El !c 
nom Unha percobido qtie lhe atirovam ! 

Foi um homem da rua quo gritou-lhc: 

« On vient de tirer sur vous, M. Ic pri- 
sident. Vive la republique I » Carnot 
saudou com a cabeça, mas parece quo nio 
entendeu. Depois explicaram-lhe o facto 
e rilo proraetteu iiitorcssar-se por Perrin. 

E eis como n‘esta psrifica republica ató 
os tiros dc reválvcrsio mansos... 

No dia 6, Pariz amanheceu toda enfei- 
tada. as cassa Iavãda*i as arvores verdes, 
o Céu aroavcl, liwidciras por toda a parte, 
cm tropbeus o isoladas, a trUolor nacional 
dominando as 'das nstjhei sympathlcas 
frequentemente, á brasileira multo deco- 
rativa, de longo 'cm Iõhgc...Estranliol 
que não puessem folhas do mangueira 
peto chão: CKpllcàrnm-me quo nío havia 
mangueiras com fartura j o um sujeito af- 
flrmou-mo que mesmo qué houvesse raan- 
«íeiras basUnte*, nhignem as despojaria 
da* sum folhas para alastrar cora cilas as 
ruM- Nio tivo cJoqucucia sullicionto para 
fozcl-o apreciar a eslhctíca de uma rua 
do Rio da Janeiro «n dia de grande feata: 
oa francczcs sé entendem aquffio que 
sentem, quando cotoukm. Também nunca 
mo eaforço por íazol-os admirar conaas 
que nSo entram na sentimentalidade ge- 
ral. E o Brasil, co» as suas bellas consas, 
anda por muito loego das prooccupaçtiea 
d'olles. 

A's 10 horas da manhã, um tiro dc ca- 
nhão annnnckaiao» operários de Exposição 
o encerramento da primeira parte dos 
trabalhos, a interrupção por algumas 
horas da faina dc tantos mezes. Atira- 
ram-se as ultimas pás do saibro pcl&s 
alamedas dos jardins, hastearam-so as 
ultimas bandeiras, cobriram-se com pan- 
nos os cahões o objectos não % a mimados 
nas secções abertas, fecharam-se os pa- 
vilhões ainda multo atrasados e ao 
meioriia, pela poria Rapp, oomeçaram a 
entrar os convidados para a Inauguração. 
N5o eram muitos: s 6 quantos coubesiem 
sobo riraborio central, entre b palacio das 
artes llberaes o o das bellae-artcs, pouco 
mais de dois mil. Podlâ-ie andar k vdn- 
tdSé c meemo a!nioç»r sodegndaraente em 
qualquer do» restaurantes; Mas, k I hora 
da tarde, começou a entrar o publico p*- 
‘gaatc (tres francos), o como uraa dupla 
fila do soldados desde a porta de Ioua até 
a porta dá sala da inauguração, dividia o 
Campo dc Marte em dois, começou o aper- 
Uo, com grande satisfação para os que 
50 divertam com Isw. Ab cercas c balaus- 
tradas eram escaladas até pelas mulheres, 
no meio de muita pilhéria e grandes risa- 
das. Os tacto* das caías selvagens c das 
habitações lacustres da serie da flistorlA 
da Habitação de Charles Garnier foram 


11 »: 


nçs 


e guarnecidas do fogo teriam o «pecta- 
culo mais bello, gastavam-se duas horas 
para vir da Ponte Nova a Fonte da V Al- 
ma, tão compacta ore a tulUflfco qu* aM 
se apinhava. 

Vista dos terraços das Tolherias,! praça 
da Concordia deslumbrava, coia o» se as 
cordões de globos brancos, oa greode» 
lampadários c espaçadas, ardcmfc como 
fogarèos colossaes de (estas babyloalea* 
no alto de colnmnas de fcrro, eabrikil- 
ros de cbamma desgrenhadas ao vente. 
Atravessaudo o rio, a vozeria da multl- 
dào ora dominada pelo sussurro de vente 
da noite atravez dos anrevea de gaz, cuj* 
cbamma ora abatia-eo, azul, quasl extio- 
guindo-se, ora dUatava-ee n’um graod» 
clarão triumphante que cegava. 

Dentro do Campo de Mnrte contlauore 
o atropello. A maior parte da gente nS» 
sabia dlriglr-so o voltava sempra a» 
mesmo logar, deslumbrada pelos cbara- 
mas dos fogos de côres, paios fôcos vil la- 
ti mos dc luz eleetrica que projectaram 
sombras fortes por toda a parta o des- 
orientavam mesmo os que coobeetam a» 
logares. No mirante da torro do Pavllhi* 
Brasileiro, icerca de quarenta metros d» 
altura acliavam-so reunidas algumu 
pessoas, homens o senhoras, isoladas d» 
multidão,’ cuja vo» chegava atenuad* 
cowxanta, apenas msls alta quando 
applaudiam as sur prezas pfrOfechnkas. . 
E tronqulllamcntc, contemplando o ma- 
ravilhoso espectacHlo deseorobdo 
torno pola noite afôra, esperareae.pote 
fogo, como so esperaria Junto de um» 
sacada no largo da Lapa, conversando 
cm francez por cortezta para cwm o» 
franoezes presentea, em portoguez logo 
que formava-so um grupo com recorda- 
ções ou impressões pessoses a trocar. 

Ao lado de nôs crgola-ee a torro cm 
cuja primeira plataforma ma! se riam as 
cabeças dos homena encarregados dos fo- 
goe, debruçados, olhando. Entre dl* 
estava um redactor do Figaro, que «ís» 
no dia seguinte um lindo artigo. Ourat 
elle via pouco roais oa menoa o nessa 
quo nós, transcrevo da sua dcacvfpç** 
melhor do que a que eu pudesse fazer, 
alguns trechos; 

■ Todos os monnroentos de Pariz en- 
gem-so corOadoá do ligo, «cirna do oceano 
dc tcctoa sombrina, na ootte protnmta; 
cllcs são mats coroparii-s k beira do Soo», 
depois espnlharo-se, depois tornam-se ra- 
ros no borisonte bronostw 
Perto 6 o Trocadero com os teus andu- 
res, as suas torres, os porticos c os dolia 
braços tmmonsos illominados por lanter- 
nas de côres ; depois S. Agostinho, a Ma- 
dalena, a praça da Coucordü, o Palacio 
Bourbon adormecido, oa Inválidos cajos 
ouros da capu la parecem apagada*,®» doa 
campaoarios do S. Sulpicío, o Pantheo* 
o Notre-Dame com aa suas arcarias go- 
thlcas que tomam tons dc prata ao fogo; 
voltando, uma simples aureola meio per- 
dida nas nuvens 6 o Arco deTriumpho; 
mais perto ainda os tcclos do porcelana 
das galerias das Bellaa-Artos e aimmcnsa 
vidraçarla do teclo da galeria das maebl- 
nns como um lago de chumbo derretido. 

* Um dos roaiorea wccesaos fet o da» 
fontes taminosaa. Nsda 6 mats curioa 
nem mais poctlco quo tal espectáculo. 
Os jorros azues succedcm aos jorros de 
ouro, depois so transformam ca» violeta 
rosa, verde, passando de branco vlriwdm» 
ao oncarnado mais ardocte e reunindo 
dc repente todas as cores ao eaMr. 

« Quando as acclamações ccsaavam, 
vozes clevsvam-iM «ta nô*: eram os eór« 
de Colonne, que calcavam os mais bello» 
trochos de seu ropertorfo e atravez d» 
noite a brisa nos trazia os fortes. 

« Por momentos, ao signal de um tiro 
de canhão, a Torre mesma esbraa»\a-»l 


da Habitação ae uiaru* uarmer lorani wnu», » .v..v 

J ' Invadidos pelos mais ageis. Alguns ca- aos fogos de bengalla; cila Rpparoctarubr» 
De MJr.ilni ■( minn .1 II m fOM CC fjXO. *. , n:uUat'*l" ' 



8 S í 3 8 saxi *o5. 


5 e 6 de maio (detalhe) 


DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 981 




982 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


I PARIS EMC FAMA 

v>nrn ns bandas do Cnmpo do Marte 
move-se diariamente uma grande massa 
Je povo, que sai do casa com a tenção 
llraie do voltar .maravilhada e que de lã 
volta na rcalidnde apenas fatigada. 

A exposição não estã prompta, bem que 
se tenham passado quinze dias depois da 
sua abertura. Toda aquella gente quo se 
escúa cm formigueiros escuros pelos nume- 
rosos postigos quo vão da escola militar 
ao palacio do Trocndero, so resumisso os 
impressões do seu passeio, contaria maior 
numero do pequenas misérias o contra- 
riedades do que do satisfações verda- 
deiras. 

Começa a cousa pela dilllculdadc da con- 
ducção. Masjsso 6 o menos: póde-so ir a 
pé até á primeira entrudada rua do Cons- 
tantina, a dous passos da praça da Con- 
cordin, o começar a visita pela esplanada 
dos Inválidos. 

Logo que se entra no recinto fechado os ' 
pés sentem a diíTerença. As calçadas cx- 
cellentes da cidade, as ruas frequentemente 
irrigadas, mas não lamacentas cmquanto 
não chove, acostumam-nos mal. Dentro 
da ox posição o sólo em muitos pontos não 
está consolidado e a camada de saibro que 
atiram pelas alamedas encobre um ato- 
leiro muitas, vezés. Humilham tanto á 
gente os pés sujos de lama 1 Depois ha a 
caliça o os cartazes com o prenez par de 
t\ ia peinturc. que assustam tanto ã gente 
economica c allciçoada â sua roupinha 
nova de verão. Em certos logarcs estreitos 
é um problema torturanto a passagem 
entre os Ücyllas de lama c os Carybdcs de 
vermelhão e oleo de linhaça. Quando isso 
ó ao pé de algum cdillcip do bella fachada,, 
quem ó quo levanta os olhos para \ êt 
architecturas, so os tem occupados\ejÍL 
dofoiuler so do tantos perigos ? F. 

Qnasi todos os pavilhões estão fechados: 
os que não gslão ainda cm construcção, 
como o do Portugal, estão cm arrumação 
comò q do Brazil, o da Republica Argen- 
tina, México, ctc. Tendo, toda a exposição 
está cm arrumação, cm arranjos llnacs 
n’umas partes, cm assentamentos de ma- 
chinas, em arrematação, cin pintura, so- 
bretudo em pintura... 

Nos logarcs de menos eslorvo, no ar li' rc, 
todo o mundo pára e servo de estorvo aos 
que já estão cansados do encontrões c 


imaginar ncmsuppor, mas vêr.Promettc- 
ram-nie uma torre de ferro da cõr do um 
monumento cgypcio. dourando-so ao s<5l 
ctc., c com elevadores que em alguns mi- 
nutos me elevarão a 303 metros acima do 
sólo: não faço caso da torre Elíjfel (pie por 
cmquanto ainda não cumpre das quatro 
condições sonão o ser do ferro o (dizem) 
ter 300 metros de altura. Faltam-Ihc ainda 
a cõr de monumento cgypcio, quo o sôl 
doura, e a ‘ftcccssibilidado propicia ás • 
scismas no azul. E faz-me pena vèr os 
cordões de gente que gastam tres francos 
o a virgindade das suas impressões su- 
bindo pelos degraus muito vulgares (o 
muitos, oni verdade !) de umas escadas em 
zig-zng, que apenas vão até a segunda 
plataforma do uma torre quo não é dou- 
rada nem nadai E promotternm secções 
inauguradas ao mesmo tempo quo (v.Bx-. 
posição so abrisse, para depois ileiíftfefn 
| a gente á cliuvn (quasl todas ns tanle» 
chove) logo quo dã o ti^o daí 6 hofns, * . 
pretexto do ainda não estarem prepa* 
radas as galerias para a visita.dc'nontov 
A illuminação <i insullicientc: as nia- 
chinas productoras da electricidade não 
bastam para o consumo. Não sendo 
domingo as noulcs alli- são lugubres. 
Alguns poucos milhares do pessoas disso- 
minam -se pelos recantos, depois dc te- 
rem vÍ 3 to as fontes luminosas e, como 
não ha mais nada para ver nem musica 
para ouvir,, a não ser a das massantes 
cançonetas do caíó»concerto no theatro 
das Folú's Paritienncs, vão-se embora 
todos desconsoladamente. Fóra os cochei- 
ros fazem desaforos á gente que mora 
longo, e a policia tem de obrigal os a 
i.ljituisportar os infelizes visitantes do Ex*. ^ 
tfejüção. Imagine-se quanto será agradar ^ 
|Ml- levado por um cocheiro, dc má von- 
LtfiSel 

De todas estas decepções, de todo este 
atrazo no cumprimento dos programmas, 
da falta dc força das machinas, da falta 
de vidros nas vitrinas, da falta do côr 
egypcia na Torre, dos cartazes mais- ou 
menos polidos que impedem o publico de 
entrar ou ir adiante em lugares por onjle 
ainda na vespera circulava-se livremente,'., 
do pavilhão argentino fcchar-H depoiü 
dc estar aberto no dia da inauguração,' 
do pavimento brasileiro ninda não dar 
café aos seus vi3itantc3, o dos reporterrf 
dejornaes fantasiarem cousas que ainda 
nin n/.iirtm n minada c Pariz. 


Paris em Falta (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


983 


quo já estão cansados do encontrões c 
'apertos. Entrando nás galerias, lia o atra- 
vancamcnto dos o 'oj cotos fora dos seus 
logarcs, as obstrucçües Imprevistas e as 
voltas polo mesmo caminho, lentamente, 
abafado, a suar, com a dôrdc cabc<;a c a 
irritação nervosa das tolices quo se dizem 
o dos encontrões mais brulnes. Tudo isso 
para nada vêr ou para vèr tão pouco que 
nio vale a pena, porquo ha sempre quem 
nos desvio do um objecto que queromos 
examinar ou quem nos encubra o que de- 
sejavamos vèr. Na galeria das machinas 
faz um calor terrível. Da. vidraçarla do 
tccto desce o mormaço n’uma claridade 
crúa. Muitas machiuas já trabalham, al- 
gumas a sccco. Defronto de uma ranchina 
do fiar vi Uontcni operarias suissas fazeudo 
os gestos da llnçuo, movendo-se para 
diante o para tráz, n’aquollo passeio curto 
acompnnbnndo quasi machlnalmcntc o es- 
trado da machina ou recuundo diante 
d’ollc. Faz mal vèr uma cousa assim: è o 
trabalho, o esforço sem o sou resultado; 
a operuria Um o ar trisU, embrutecido, 
machinalisado, c a machina liando em vão 
taz pensar nos queixos de um faminta 
mastigando o ar. Adiante uma Marinonl 
imprimia o l’ctit- Journal, o colossal 
jornalzinho de um milhão de exemplares 
diariamente. Mas logo ao pó ajustavam-se 
as peças de uma machina formidável. E 
por cima, na linha interminável das ar- 
vores dc transmissão, grandes extensões 
de pulias esperam ainda as correias que 
lhes utilisem a força disponível. Entre- 
tanto, já as pontes rolantes movom-se ao 
longo da galeria, transportando os visi- 
tantes que querem tor do alto um golpe 
do vista do aspecto e do movimento geral. 
Do lá os pequenos appaielhos curiosos 
dcsnpparccem junto das grandes moles de 
ferro. Mesmo esses nio funccionam por 
emquantoj mesmo nas galerias do indus- 
trias diversas as exposições não estio com- 
pletas. 

Incompleto é o adjectlvo que sempre, 
vem modiflcar-nos todos os juizos que 
possamos fazer sobre uma cousa que deve' 
ser vista no seu conjuncto. NâO ó a im- 
paciência de vèr a obra feita c sim 0 receio 
do nio vèl-a completa o que nos daçagrada 
do espectáculo de uma arrumação de- 
morada como esta. _ 

11a um prazer especial em assistir a 
uma construcção qualquer, seja esta um 
pedaço de madeira que so transforma 


dejornaes fantasiarem cousas quo ainaa 
so não púdem ver-a culpada ó Pariz, 
disse um d'est 08 dias o Sr. Berger a um 
dos commissari03 da exposição brasileira. 

A culpada è Pari/, do não ser sufliciente- 
meat coulillée pura uma exposição d estas. 
Nio usei so isto prova contra Pariz, so a 
favor da exposição: sei quo desculpa 
multa cousa, ato a mim dc escrever cartas, 
cheias dc («ycliologia. 

Pensar quo esta d'aqui a oito dias, não 
terá mais razão dc ser (menos para a cõr 
da Torre, que já lhe perdi a esperança) 
c que só d'aqui a dezoito, cila chegará 
ao seu destino... Faz-me isso vontade do 
encaixar aqui a psycho logiado despaiza- 
. mento, expatriaqão ou cousa qpe o 
valha, quo fc a causa do ar soturno da 
certos grupos na exposição : domina nlll 
o estrangoiro. Mas isso nio levaria a 
tratar das causas da dillgoocla, do ardor 
com que trabalham na arrumação (psy- 
chologia da arrumação) do Pavilhão bra- 
sileiro os membros da commlssão. Con- 
decorados quasi todos, titulares alguus 
d'cllcs, não remunerados... e se empoei- 
ram c suam tanto, e desarrumam o aga- 
salham com tanto amor aqucllas pavo- 
rosas croiues, aquellos artefactos do 
papel douradW-rocortados a ponta da 
tesoura, quo Uics vènr rocommendados 
da mãi patria — com que interesse, por 
qual estimulo V 

Psychologia o mysterlo... Nas cousas 
mais transparentes ha d'cssos núcleos do 
sombra. 

Pariz, 20 do maio. 

Doittcio de Gama 


MEMÓRIAS 0A RUA DO OUVIDOR 

Temos á venda cm nosso cscriptorio 
aP-uns exemplares d'esto interessantís- 
simo livro do finado escnptor Dr. Joa- 
quim Manuol do Macedo. . ■ 

O produoto da venda d esse livro tão 
valioso é dostW&do a suavisnr ns pre- 
cárias condicücs ora quo so aeba a íliustra 
viuva do disUncto escriptor. 

Fazemos um appello aos discípulos, 
amigos e correligionários do On»do, de - 
xando á sua generosidade a importancta 
a pagar por volume. 

Falleccu liontcm, na Detenção do Nf- 
I ctberoY» o sentenciado Manuel Raposo de 
‘Azevedo, quo estava cumprindo a pena de 
1 M snnos de prisão simples, imposta pelo 
jury da Parahyba do Sul. 

AA9TUIIM' 


la 

iá' 

M 

so 

ai 

da 

si 


lãs 

m 

ar. 

nil 

in- 

ie- 

do 

in- 

ina 

mil 

m- 

itia 

les 

um 

ma 

ora 
' ao 


uma construcção qualquer, seja esta um | ju 
pedaço de madeira que so transforma 
cm utensílio domestico ou um eanto dc 
niarmoro desbastando-se uo escopro do 
csculptor o revelando a UWm. do seu 
sonho plástico. A psjculogia d’csso inte- 
resse ó sempre a inestna— a da contem- 
plação dãS cóusas em fierí. Não cahc aqui 
o seu desenvolvimento, que ú tão curioso, 
entretanto. Busta dizer que é a psycotogia 
da Esperança. A sabedoria espontânea do 
povo, resumindo e dellnludo o vago da 
poesia das cousas em formação, aclarando 
a esthetica inctaphysicado ferí, aftlrma 
que o melhor da festa é esperar por ell*. 

Os nervosos, os seiisuaes, todos os que já 
aualysaram a sensação de um goso aucio- 
sumento esperado conhecem a inteira 
verdade do dictado popular. Satisfações de 
vaidade, gloria, amor e pandega, tudo 
o que sc prova e toca servo para conflr- 
mal-o. E o francamente, seu 1'tlippe..- 
quo o Martins dizia tão bem nos Dominós 
cúr dc rosa, tom mais melancolia do que 
parece. 

Sabem-no alguns tão bem e são tao 
familiares com o desconsolo da supposta 
reaiisaçào dos sonhos, quo so abstêm mes- 
mo de querer cousas realisaveis o a cla- 
reza da vontade razoável sempre se lhes 
enturva do ideal. Ha os que so matam 
na véspera de serem felizes - matam-se 
ou deixam-so morrer, o que dá no mes- 
mo _ por sentirem que o auge da ven- 
tura é um minuto ephemero, um iustan- 
le, um ponto apenas, a máximo, da fatal 
trajcctoriu da vida qtrc não pára. São 
uns exagerados esses:- perdêramos a es- 
piritualidade superior e alogica excessiva 
(porque a lógica nunca deve provar con- 
tra uós mesmos). Mas a eausamVj deixa da 
ser natural o de existir, elementar mento 
embora, nos almas mais humildes. Entre 
Byron morrendo na vespera do tornar-se 
herda e um noivo qualquer quo dispara 
na noite do casamento, existem afftnida- 
des numerosas. E ha os colleccionedores 
de csbo;os e de obras incompletas era 
que tlcn sempre lugar para o sonho 
Pois uma exposição de iudustria nio ó 
lugar i>ara sonhos. A poesia que n’ella 
houver será implícita e resultará da anai 
lyse dc certas concepções. Mas o que all- 
esta é c tem de s**r de uma inaterialidado 
1 bem nraiicã c appUcãvel, E u.Vi queremos 


Paris em Falta (detalhe) 




984 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



O Brasil na Exposição. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 187, p. 1, 6 jul. 

1889. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


0 BRASIL NA EXPOSIÇÃO 

Hoiitom foi a fcj>tu da inauguração do 
Pavilhão Brasileiro. 

Festa devirás: sem ceromonial o com 
alegria, com muita alegria. Sem entrar 
cm grandes investigações, acho quo essa 
alegria tinha um núcleo— o contentamento 
da commissáo organisadora por ver ter- 
minada n primeira parto da sua traba- 
lhosa empresa -- d'ondc, por irradiação e 
contagio, cila se estendia aos mnls. 
festa era sympathlea. 

O pavilhão encheu-se de convidados da 
ooloniu brasileira o do estrangeiros no- 
táveis. Quando o presidento da republica 
entrou, eram duas horas o seto minutos. 
Receberam-no A porta o ministro do 
Brasil e o cominissario geral, quo com ( 
recto da legação c da commissáo franco- 
brasileiro llzoram-lho as honras da casa, 
Não houvo discurso, o o Sr. Carnot, 
mostrou-se tão reconhecido por essa fl- 
£zn, que demorou-se na visita mais 
t$mpo do que contava. Então, nprovei- 
,'ndo a sua boa vontade, mostraram-lho 
ido : os mincraes, n Bendegó, os ma- 
tÈirns, as libras, os tabacos, a borracha, 
j (rfcafé, o assucar, a carnaúba, as janga- 
das. os moveis, os tecidos, as drogas e 
licores, as cartas gcographicus, as plantas 
da estufa, tudo. E elle, com a sua intel- 
üpencia lúcida de engenheiro que a ana- 
lyso mathcmatica não estupidilleou, viu 
^iido muito bem, fazendo lá o seu juizo 
que uiuguem sabe, c mustrando uma cara, 
fri te d o. 


está contente. 

Tinha do que. Em primeiro lugar, cllc 
teria ouvido fallar da nossa exuberância 
meridional em palavras c gestos, e quan- 
do entrou vinha um pouco rcceloso cTclla, 
Mas o seu receio dissipou-se logo. 

Ninguém lhe deu um empurrão, nin- 
guém abraçou-o nem lho bateu no lioin- 
bro, ninguém lhe impoz a obrigação do 
çespouder a um discurso, atlnando-se pelas 
ardências tropicacs dos nossos, n’cssns 
fibroses já tão sabidas, que, mesmo quando 
são sinceras, parece que o nio são. Todos 
foram correctos (não tanto como elle, 
que ó a corrccçio exemplar], amáveis 
(não tanto como cllc, etc.), discretos, 
bem. O Brasil portou-so bom j não foi 
rçutaquQUire, nem selvagem, llcou-sc na 
■média, hoimsla de 

quer fingir mais do quo é. 

O presidente tevo do subir duas oscadas, 
mas as rampas eram guarnecidas de flo- 
res c as varandas estavam cheias dos 
mais boi leis especímens do brasileiras, 
bouquet quo raramente so pódo reunir 
ftjca da patriu. q^usstn^ dentro d'q|Ja. No 
terraço, onde n cJsíDchcvet sèrvlã um" 
lunch, elle tomou um copo dcchampagne. 

Embaixo mostraram-lho uma cesta 
cheia do maenitlcas orchidéns e outrnt 


riqut, oo que é redactor o Sr. SanfAnna 
Nery. 

Devido unicamente A bcnovolcnciud'esse 
bizarro jornalista, do quem os fmncczes 
dizem quo não é bom ser Inimigo, acha- 
se o meu retrato entre as dos brasilo! 
ros o francezes que merecem esta honra, 
do mim ocioso o ignorante entre os Ira 
balhndorcs c entendidos. 

E houtom mesmo vi quanto estou mal 
collocado, estando em tão illustro compa- 
nhia. Qulz explicar a uma menina fran- 
ceza o quo era o paro o quo servia uma 
cousa informe, quo vinha do Ceará com o 
rotulo — Buxos de pescada, o não o con- 
segui. Elladcu-mc uma vala o cu flqucl 
humilhado. Vclu logo um velho muito 
amigo do Brasil o muito cacôte, c poz-se 
a questionar-mo sobre o Bendegó. Metti- 
Ihe nas mãos o álbum do dose Carlos o 
esquivei-me pruderttemente, som indagar 
mesmo de qnacs eram ou qual ora o ciou 
da Exposição. 

Sahi triste commlgn mesmo, mas hu- 
milde. Lembrava-mo a phrase do menino 
do escola, madr aço o castigado, quo apa- 
nhando os bolos dizia contrlctamonto : 
Quem me mandou iido aprende, si 
mestre /... 

A minha cnnlricçúo é a homenagem 
sincera aos quo são entendidos om pedras 
quo enhem da lua o upplicnçõcs indus- 
triara dos buxos das pescadas. 

Douicio da Gasta. 

Pariz, 15 do iunho dó 1889. 


lunch, cllc tomou um copo de cbanip.ngne. 

Embaixo mostraram-lho uma costa 
cheia dc magnificas oreliidèas o outras 
dores tropienes, mandadas vir expressa- 
mcnlc dc Bruxcllas para prescuto a Mme. 
Carnot. Elle agradeceu com uma phra.se 
qualquer c foi-se embora muito contente, 
sem ollercccr a todos a sua casa na 
rua do Paubourg St. Ilonoré, porque 
nunca para lã, o anda sempre porfóra cm 
visitas ou viagens. Mas logo que assen- 
tar no que Oca, quando Boulangcr voltar 
dc Londres para tomar conta do que c 
sen, não tem mais do que procural-o, 
ctc. 

Fora, á sabida do presidoote, o povo 
agglomerado entre os pavilhões do Brasil 
e da Republica Argentina gritou — Viva 
Carnot ! — emquauto nào grita — Viva 
Boulangcr.! —ou qualquer outr.a cousa. 
No tcrreirinho em frente ao cbalctda 
distribuição do café brasileiro, u musica do 
24* rogiincnto dc infantaria, composta de 
oitenta executantes, tocava a Marselhcza, 
valsas, marchas, o bymno brasileiro.... 
Uma senhora quo não conheço, tirou-me 
o chapéu das mãos, para que eu applau- 
disse, não sei se porque cila tem as mãos 
muito pequenas, ou se porque eu as tenho 
muito grandes. Fk-lhe notar que os ra- 
ratatchin dos musicas francesas nio têm 
o desgarre o a fanfarrice marcial que nós 
exigimos da banda do arsenal e de outras 
nossas musicas militares. 

Muita gente, gente bonita e flna, na 
opinião dos estrangeiros, que, ao que pa- 
rece, suppõem sempre que vúo ver bugres, 
quando têm de se encontrar cora brasi- 
leiros. A rainha modéstia, quando rae fal- 
iam hem dos brasileiros, dá para dizer que 
— nós cd somos assim... O Morianno 
Piua.passaudo muito apressado pelo cauto 
onde eu estava, parou um instante pata. 
gabar-mo a formosura o a gentileza das 
brasileiros. Só não queria vel-as tio pa- 
rizicuses... Parisiense era ironia: 
nossas patrícios gostam de praticar o 
francez umas com as outras. Hontemon- 
táo,om certas occastòes. fechando os olhos, 
parecia-me estar era Petropolis. Falia va- 
so francês, da vida alheia, e... noinora- 
vtv-s.' . Uma cousa singular,, dc que a gente 
aqíil so esquece que existe, 6 o namoro 
brasileiro. 

Pois 6 acclimavd, adapta-se bem, vai 
a toda a parto com as deslocações da co- 
lonia I Eu não vi nada, porque andava 
pelos cautos, mas ouvi os mexericos. Isto 
sim, 6 uma instituição universal, mais 
ou menos allnada e espirituosa, mas no 
fundo sempre a mesma. Eu sou obrigado 
adcfendcla, até... 

Havia um grande cheiro do borracha 
em toda a casa. Paréccu-me que aquilto 
era symbolico, que apregoava a nossa 
elasticidade, que garauiiariios o credito, 
xuggcstivamonte. E as madeiras sáõ for- 
tes, as massas dc ferro são formidáveis, 
as cartas geographicas mostram a nossa 
aterradora vastidão superficial, e os alga- 
rismos principaes das eatallsticas nll- 
nham-se em miragens phantasiosas, 
cheias de promessas miríficas dos pro- 
gressões mais ou menos geométricas du 
nosso desenvolvimento financeiro e ou- 
tros... Dentro «lo pequeno pavilhão, quo 
apenas occupu 10) metros quadrados, dos 
2,400 do recinto da Exposição Brasileira, 
sente-se a emoç ão de quem está em írcuto 
de grandezas incalculáveis. 

A lida tem sido grande, c ainda não 
passou da sun primeira phase ; mas hon- 
teu» j á algu ns dos membros da corntuis- 
sâo litasi leira • jKidom >cntir-se parcinl- 
mente p^*Slii : Vlo pela satis- 

fação <|óc lhos causáva u incontestável 
SUCCOS4I iAtxfxjskfiò. ' 

O \ i - -rntaüi' porexciuplo. 

que ainda •hm^WTlrdáva nppretfcnslro 
c dc ui tu in:itau,:de Itcdedi- náu cccwl- 
iwn ■ 


985 


O Brasil na Exposição (detalhe) 


986 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anno XV 


Rio do Janoiro — Sexta-feira 13 do Sotombro do 1889 


N. 256 



GAZETA DE NOTICIAS ! 



4 


Cousas modernas. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 256, p. 1, 13 set. 1889 


liifllíii 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


987 


COUSAS MODERNAS 

II i pente quo «o diz modernista sem 
lí*; bastante cerlcza de i|uc O moderno 
existo, que é modernista por acompanliar 
a moda, mas «em convirjo, persnadid» 
mesmo ilo queo nas-uulo foi maior do que 
o presente e mau ndniiraeol. Para mim, 
qnc sou um humildo e simples de espi- 
rito. que não sinto tão bem ás grandezas 
,i- o. o.'» . quo me dominam sa . 

hora presente, o sentimento do moilcmo 
é a syinpathia com a vida que mo pui- : 
lula oni turno. A humanidade [ior qno i 
me aflito c essa que tire commigo horm 
a hora. quo sento, pensa, c quer cousas i 
que entendo, quo sinto, que sou capas d» ) 
querer, ininn.diaiamentc realianveis ou 
não, mas nunca iuuHs ou obsoletas. 

O .|ito é quo ó moderno, qual o enrarter 
do modernismo não ê cousa fácil dc dizei I 
o ninquem mesmo ainda o d, tiniu. Cara 
deres do moderno, sim. cada um des- i 
cobie diariamente. por miúdas Meões, por i 
(acetas inicro<ropn:a<. por cantinhos sin- t 
ciliares da alma qno ao revela. So as > 
linlijs pentes da c..nstrueçào psycholo- • 
«ira faltam. K faltarão, lia coisas que 
não convém sabor. O enigma eterno e a ! 
raz '0 do scr da nossa actividade, o esti- 
mulo do progresso. Decifrado elle, o des- i 
esp mo de sabor seria de mais funestas 
consequências que a anciidc descobrir. • 
Nán imagino Deus. com» não imagino o i 
naila— a concepção da omnipotência cout 
a omnisciência o oihílista. 

Não percebo qual seja o estimulo de i 
um i vontade ab>o!ii(a, o erilerio do uma 
actividade absoluta, omndode ser de um ’ 
trahalh» sem resivlcnrla. A lógica tem ! 
d’calas humildades demolidoras. A logic» 
è a característica do tempo. K" a hones- 
tidade do espirito levantando á altura das > 
abstra.-çücs a rcctidão dc uso nos cousas 1 
chã» da vida. A prcoccupaçio do mal 
mio podem causar llieorlns imo verifica- i 
ilas. vencendo o orgulhoso sentimento i 
das dotmnai;õcs doutrinarias, e uma cousa, t 
«3 do nosso tom|»> o uma liem bella cousa t i 

Por toda a parto vai desapparcccndo a i 
separação que havia entro a chamada, i 
«ciência pura c o sentimento humana. 
Tola solução dc uma questão thcorica -• 
s«J vale nelas suas consequências socioes. > 
li quando o homem (pie pensa chega a ■ 
teniir a sociedade, a vaidaae, as mc«qui- ) 
nlias prcocciipnçües iudlviduaes não o ; 
escravizam mais. Kllo iledica-sc, obicu- t ■ 
ramente. tem esperança de prêmio, sem i 
a tebre dos cnthuaiasmos eplicmcros, que 
a primeira dcsillusão abate, dcdici-se re- 
ligiosamente : transforma-se cm homem I 
quo ronscioutemente vive da »nciedade,u , 
|>cla sociedade c toda a sua obra adquiro í 
então essa grande/a, esse caracter nobre 1 1 1 
{dos trabalhos que os alies sentimentos 1 
estimulam. ■ | 

Nos tempos passados não faltaram ho- i . 
mens assim, cujo riomo enche um século t 
povoando-lhe os desoladas solidões. I ’ 

lias eis aqui: uma voz lambem enche ■ • 
uma rala varia, acordando-lhe ca é-cos • t , 
unm o.-cheslra tanto púde ter dez como 
mil in.-tnimentiM — nos tempos passado* 1 
havia nomes isolad<>s enchendo séculos, i 
hoje o numero è grande dos que, sc não 
são gi.tndcs homens porimc isso pooco i 
exprime ante a concepção depreciada pela ! 
frequência da designação, não deixam de 
scr venerandos e admirareis. Não o por- i 
quo us conhecemos d ■ mais perto — ao t 
contrario conhrccmol-<« menos do qnc . 
os porvir hão do us conhecer — é porque 
um des traços significativos do nosso c 
tempo c a abundancia de heróex sem es- 
pada no lado. A espada brutal cortava os 


K da ao lado. A espada brutal cortava os 
.■os das aggregaçoeu, quo porventura so 
formassem liai ealiadox entre d uai r frgas 
do batalhas: uào li.i nada menos scctavcl 
do que um henie militar, constantrmrnte 
occ ipado cm impeilir que por comparações 
nece- varias o seu 'prestigio diminun; para 
cs-vi llm fa/-*c-!hc o viuio em tornu. 

lloje o inelhodoè dilferonte: os homens 
que o mesmo impulso a fazer grandes 
cousas congrega c associa, tem, como os 
antigos, n alma heroica ; tém, porém, 
ainil.v mais alguma cousa, que õ o re- 
speito da opimúo » rurrigir-lhcs a vai- 
dade r o sentimento dn humanidade a 
disciplinai -llici os Ímpetos individunrs. 
Am bro-M c, paciflcnmenlc, trabalham 
em comniuni . A rra da bemaventurança. 
o reinado dos mansos dc cornção vai 
elwgar. Ks«cs rnraçgc* mansos são na- 
tural mente humildes. Ao passo que os 
auligos reis diziam nus c era do seu unico 
queier que sc tratara, os da ícaJc/a dc 
espirito artnal dizem ru frequentemente 
eis sentir, a aspiração do seu tempo 
qun falia por sua voz. 

Passaram as orgulhosas generalizações 
doutrinarias: hoje tudo são contribuições 
particulares para uma synthcse. que sO os 
dcmasi.vdamcnlc moços ou os demasiada- 
mente velhos se atrevem n fazer dcllnitira. 

As synthcse! mais uteis são provisórias. 

E’ n modéstia do espirito, que a força e 
a lucidez Impõem. Nunca sc fallou tanto 
em nome do indivíduo c nunca cm ver- 
dade so trab.vll.un tanto cm hem da cs- 
pecie. K o que faz quo o no«so tempo 
tuircça profniidameulo egoísta, sem o scr. 

Eu cada «,l)ra individual, sincera, de con- 
vicção, sente- st a vibração liiimana. 
Atravessaram-na a* correntes das aspi- 
rações soc.aes, que lhe deram tempera e 
cunho. 

O sonlio intlnito irvprime-ic artisUcn- 
muito : nu gesto indeciso do uma face do 
cstvtua, na luz inelfnvel dc um conto de 
pai/agem, no aliai.vamento de tom de 
uma phraae musical repetida em eco, 
no destaque dc um tccto de palacio sobre 
um fundo de architccturas longe, n’uma 
combinação decorativa dc cures o liohas, 
na orchestração dc uma pagina dc cslylo 
rheia do harmonias voluntários, um re- 
flexo dc sensações facilita as communbões 
mais intimas no mundo do sentimento. 

O nosso tempo tem um caracter pro- 
funilaiuciito sentimental, por mais quo 
digam. 

E todos os que vivem da vida do sen- 
timento— os chamados espíritos secros 
não são espíritos— não púdeni deixar do 
entcadcl-o c de synipatnisur com elle. 
Ainda nu outro dia u-i perislylo do Pan- 
tlicu.i um niociultu jornalista iudi- 
gnava-se porque as landeiras dos regi- 
mentos sa inclinavam diante dos bcrfe«; 
clia entendia qnc era a Carnot n conti- 
nência e nán ailinilttu que Carnv(Vj»prc- 
seiitane n 1 iwtMdoiú 

anisas, quo perna nalurala’ rateiu deli 
iii»deni". não cnt.vdl.i n •>. ,i«“l -is ~ 
ecivin >:ii.vs. cia mn espiriio sceco. ( 
Nó<, porém, a entendemos. eu c o leitor 
nos somos modernos *• eonvenri<b>«. Tudo 
contvneidi t riinlormil-vc fnnlmenlc rm 
propagandista. Mas para explicar n cs- 
ihotica e a cthiea noras é preciso cem- 
proral-a*. dutumcntal-ai pinto a ponto. 
Aqui sc abre c«ta secção J>ar.v esse fim. 

Serio apenas natas. valendo pelo 
Mimpt», sem o mereci ui cn to dos estudos 
paro Ma na iilts competência. 
Mas será O bastante pura quem ssbu 
pensar. 

Douicto Lia Ga ua. 

Parb, 21 dc agosto. 


Cousas modernas (detalhe) 


988 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



O fim da Exposição. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 332, p. 1, 28 nov. 

1889. 10 


10 Reproduzido em Vacotilha. Maranhão, ano IX, n. 305, p. 3, 26 dez. 1889, 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 989 


0 FIM DA EXPOSIÇÃO 

Acabou-sc. Fecharam-n'a. E mesmo os 
que desejavam vcl-a fechada, andavam 
anUshooiem por lã .com um ar cm que n 
tristeza vencia c- Aborrecimento. Os abor- 
recidos são ordinariamente os que mais 
sentem, maissofTrem nervosamente. Havia 
impressões demais a receber nas visitas 
n Exposição. Era o mundo inteiro a 
passar por diante de olhos intelligentes, 
o um mundo de sensações, um turbilhão 
im/tg inativo que cm duas horas impossi- 
bilita a coordenação de idéas. Asuggestãe 
dos pcnwncntos, para ser ulil, deve ser 
feita por parles e com o tempo necessário 
para a consolidação dos juízos formados 

Na Exposição as passagens eram muito 
rapidas, os contrastes muito violentos, 
mesmo nas cousas classificadas sol a 
mesma rubrica. A suggeslão não se fazia 
por imbibição ou por insinuação, cano 
na vida normal, mas por percussão, à» 
martell&das brutacs, choques bruscos de 
côres e de formas c de ruidus. E do aro- 
mas. Abusava-se por talos os modos la 
lastimosa vibratilidndo dos nervos dissi- 
pados cm orgias a sccco. 

O que na vida de lodos os dias é feito 
mansamente, sem imposições autoritários 
aos sentidos, sem violações da admiração, 
pela meiga caricia da obra d'arte quo as 
contemplações aturadas toruam quasi 
familiar, era alli o resultado de repellõis 
nervosos, brutacs, começava quelmnnda» 
conto certos licôros fortes antes do se 
lhes sentir o sabor. E nem sempro hn\i» 
tempo para gostar. Da sensação nova só 
ficava muitas vezes o desagradável do 
novo. Prejudicava isso o desenvolvimento 
das roacçòcfi moraes. 

Nas secções de pintura, por exemple, o 
olhar que começava a se enternecer diante 
de uma scena sentimental, arrazava-so 
de lagrimas diante da tela seguinte, quo 
era no cmtanto uma paizagem luminosa 
ciumoldurundo idyllios e einbrumava-a 
de melancolia, emprestando-lhe um ca- 
racter sentimental, que não fòra c;rta- 
mente da intenção do pintor. Aos emba- 
raços iudividuaes da adaptação p&vcho- 
logica ajuntava-se esse da insulllci-ucia 
de terrrpo para a integração dos elcacntos 
complexos de uma emoção csthHici 

Corria-se , |Xü : corrin-sc , procurando 
sempre o que fosso mais novo, mais dif- 
ferente, mais extraordinário; com a ten- 
ção, raras vozes rcalisada mais tarJe, de 
voltar. 

Quando se voltava, sentiam as pernas 
desde a entrada a extensão das plcrias 
u percorrer, ronio uma carga esmagadora 
de enlhusiasmo passível a trausportar 
Contavam-se então as telas como marcos 
dejoinadn, c não havia ínteresfo senão 
pelo que cstivetic nas ultimas salas. 

Depois a diirerença dos ambientes 
Sahia-se tonto, com dOr de cabeça, íuca- 
paz de resumir impressões sená • viciosa 
ou paradoxalmentc. K os dias p&ssavam, 
sem que o gente conseguisse visitar seria- 
mente a Exposição. Só os que vinham do 
muito longe, com os dias contadas, con- 
sagravam-nos lodos r. cila. Assim um 
estudante brasileiro em Boston, quo os 

nan i ntíat- Alli 1 'iWi/. 


seus seis milhões de passageiros n 
fiança que n'elle dopositarom. No ul- 
io dia transportou cllc mais de sessenta 
jto mil passageiros em 202 trens. 

!o jantar de despedida que a Sociedade 
Dícauville deu hontem aosseus o|>crarios f 
dos Dccauvillc declarou que esse cami- 
nho de ferro, a que é o menor da França o 
tajvccdo mundo, transportou em seis nie- 
í cs dejtrufcgo maior numero do passageiros 
que uiuitasgrondes Unhas em longos nnnos 
E cada uma das suas locomotivas per- 
correu no mesmo tempo uma distancia 
equivalente ao terço do memllauo ter- 
restre. 

Encerrada a exposição, vtyo vir os re- 
latórios, tarefa formidável, para relatores, 
como para leitores. E’ o rabo da vaca. 

Douicio da Gama. 
Pariz, 8 do novembro. 


31 012 DEXEtlUttO. — o*HÍ 
guadiniN «|iio imo forciu i*«- 
foinmdiiK utó c**tu tlttlf» serão 
Niispciinus. 


Relação -ulos subdelegados nomeados 
para o município neutro : 

X* districto do Sacramento, José de 
Amorim Lima e do 2*, João Alves Mendes 
da Silva. 

.1* districto de S. José, João Uaptista 
du Costa, c do 2* Dr. Autouio Padua de 
Assis Rezende. 

Candelária. José Silverio Barboza. 

1* districto de Santa Rita. Oro/lmbo 
Correia Ncllo, c do 2*, Ür. João Baptista 
do Castro. * 

Gnvea, .Toiquim José Fernandes. 

Gloria, Fraucisco Manuel Esto ve*. 

tagòa, ür. Carlos Autouio de Paula 
Costa. 

1* districto de Jacarepaguá, Camillo 
da Silva Ferreira*© do 2', capitão Ga- 
briel Emillo da Cruz. 

1* districto de SnnFAnnn, Henrique de 
Araújo Lima, e do 2*, Dr. Agostinho 
Luiz. da Gama. 

•Santo Antonio, Dr. Eduardo Augusto 
de Souza Kart tos. 

Espirito Santo. Dr. João Chrysostomo 
Drummond Franklin. 

S. Christovào, Dr. José Lopes de Castro 
Junior. 

1* districto do Engenho-Velho. Dr. 
Francisco de Paula da Silva Cunha, c do 
2*, Dr Augusto Gomes de Almeida Lima, 

1* districto do Engenho Novo, Dr. Al- 
fredo' Moreira Pinto, o do 2‘, monsenhor 
José Oilofrc de Souza Breves. 

Baque tá, Fraucisco Correia da Con- 
ceição. w . . 

Irajã, José Manuel de Novaes Machado. 

Inhaúma, Antonio Joaquim de Souzu 
Botafogo. 

Campo Grande, Dr. Sergio Eustaquio 
Ferreir a de Oliveira. __ , 

1* districto de Guaratiba, Dr. Raul 
Capcllo Barroso, c do 2*, José Joaquim 
Rodrigues Vieira. 

Curato de Santa Cruz, Dr. Domingos 
Lepes da Silva Araújo. 

Delegados : 

1* Dr. João das Chagas Lobato. 

2* Dr. Thomaz Delllno dos Santos. 

3* Dr. José de Nápoles Tòlles de Mc- 

4* í)r. Joaquim José de Almeida Per- 
nambuco. 

5 * Dr. ltomualdo Monteiro Manso. 


Cs Sr*. João Duarte Moraes c Adol- 
nlio Moraes estão fazendo umas esta- 
tuas al lego ricas para um liando preca- 
tório, que tem de sahir brcvomenlo ngen- 
eiahdo donativos para auxilio do paga- 
üvnto dt» divida interna. 


ta 


•J. 


sole dias que. leve pani esiar cm jvru, 
passon no Campo de Marte c nos Invá- 
lidos. 

Esse viu o que os purí/.ienses não vi- 
ram quando tinham tempo, o quizernm 
ver todos juntos no ultimo dia. Foi um 
atropello horrível. 1 louvo muitos ncci- 
denies, sessenta c tantas syncopos gra- 
ves por suiroeação no aperto, braços 
quebrados, contusões de quédut, ele. 

E essa aíllucncin extraordinária, que o 
bcllo dia de sol c a noite de luar favo- 
receram, completou o algarismo do vinte 
c cinco milhões de entrad is pagas cm 
seis niczcs de Exposição aberta: mais 
doze milhões que a de 1878. 

0 ultimo tiro de caulino da Torre, mar- 
cando o encerramento da festa, às 10 ho- 
ras, foi registrado por um phonographo 
c vai ser rcmctlido a Edison como 1 ome- 
nagem de KiíTol . A essa hora ainda havia 
quem qiilzcssc entrar, c até onze horas 
houve quem não quizesse sahir. 

Muita gente dansava, como n’uma kcr- 
messe colossal. Foi preciso apagar a luz 
eléctrica. E ainda não tinha morrido ao 
longe o ultimo rufo dos tambores batendo 
a retirada do povo, já soavam os pri- 
meiros golpes de alvião nos aterros, c as 
primeiras martcllados dos operários de- 
molidores. 

Desde hontem o Trocadéro foi fran- 
queado ao j publico, c |»clo meio da espla- 
nada dos Inválidos fizeram-se cercas, 
reservando as edificações, sem prejuízo 
da passagem. No Campo de Marte anda 
se pódc entrar mediante um ticket;- !’ur<» 
ver a ruiua... 

ü visitante que tivesse adormeedo na 
noite de 6 de novembro na Kvpotiçáo c 
alli despertasse na tarde seguinte jH.ri.-a- 
ria sonhar, não vendo mais a phyMono- 
raU dos logarcs na véspera. Por :cda a 
parte, nas galerias vastas, arniman *:;c os 
objcctos para a partida. K' a desordem do 
uma mudança complicadíssima, multi- 
plicada por milhares, n partida em massa 
de uma grande cidade. Os paridnsos 
esvasiaram mais depressa as suas vi- 
trinas. Thpeçarias, tecido* de seda, joias, 
tudo o que se dobra c guarda facilmente, 
já l;i não está ! Mas os bronzes d’aftc, os 
moveis, as grandes, peças demoram. 

A galeria das machinas faz tristeza; 
apenas operários, rclativamcntc silen- 
ciosos, desmontam machinas ; lembra 
aquillo uma colmeia vasia, com *>•.- raro; 
zumbidos de umas abelhas doenlci que 
reatam. Do alto das varandas, os peça* 
enormes dns machinas paradas, paro 
fjuem ainda n \ vcs|>cra as viu agitadas, 
ruidosas, quente?, parecem cadavofe» de 
aço que urna cataslropho fez. / 

Na secção das Delias Artes despenJu- 
rnni-sc os quadres. K os carregadora la. 

, levam ás costas os mais leves, as 
quo talvez, nunca mais veremos. Na sec- 
ção d««s instrumentos de mus’cn. no pia- 
cio dns Artes hibernes, uni piano toe.' E* 
o cãiito tht }'a>’thhu talvez. Na d. \- 
geral talvez, seja cl lo o piano i}jm- 
r.niK do conto de ILtIIoz. Tanto o r- 
tcllar.iui nos holhis di.is. que clle ;• 
s<V<inbu 1.» ficou iiuu íiiibttiuht no - . 
cio. Quando fòra destruição dos mundo*, 
um plano acanq.anliará a rui na c o d • 
Abar des astros. 

Na rui do Cairo nào ha mnls c «>••• < 
rcínweo', nem dins.s de v :;'rc, ‘ u 
• nitra- c •i:a- q«« iiteí . 1 !.» um b. :u 
di- > n/al.i V* lha. Pola aniodra, os ‘r . :. - 


p 


iji ii.nl.; 


|..l • 


I' 


O fim da Exposição (detalhe) 


990 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



A impressão na Europa. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XV, n. 357, p. 2, 1889 








DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


991 


lo 


di 


IMPRESSÃO RA EUROPA 

Uma grande i_jiorpresa, dessgradavcl 
como o são todas ns sorprezns. 

Estavam todos multo assentes cm que 
havia algures um império muito vasto, 
muito rico c muito feliz, um império cm 
pie todos descançavam de preoccupaçõos 
políticas que porventura pudessem surgir, 
confiando na alta Intclligcncia de um 
rei sabio, liberal, bondoso o recto, na 
altura da sua posição e do seu tempo, 
monarcha pai de família, que pagava, 
em dedicação patriótica c cuidados inces- 
santes pela causa publica, o amor o a 
veneração dos seus súbditos. E dc repen- 
te chega a noticia de quo uma revolução 
rebentou destruindo essa monarchia mo- 
ldo o que, dc tanto amor filial pelo seu 
imperador, o povo brasileiro só deu mos- 
tias «implesmcnto polidas nos votos dc 
b»a viagem que o saudaram ã sua partida 
para o exílio. 

Então osso trabalho, considerável para 
quem jã tem muita lida cerebral, quo í 
refazer juizos bem assentes e sntlgcs, 
pareceu uma importunação aos.jornnliMas 
europeus e nenhum d‘ellcs deixou dc 
mostrar a sua Impaciência, do achar im- 
pertinente quo um povo, que para cllcs 
ainda vivia na sua idade dc ouro c estava 
fóra do movimento, quizessejã cutrar na 
era das perturbações políticas a que si 
têm direito as noções bem adiantada: 
para saberem o que quer o. m. 

A falta do dados para julgar a natu- 
reza do movimento político, a fnlta do no- 
ticias positivas acerca d’cllc (só os tcle- 
grammas muito laconicos da agencia lia- 
ras aqui chegavam) escnrccia as aprocia- 
;ões muito no ar e cm falso que sobre os 
acontecimentos do Brasil se faziam. Co- 
meçon-se por lastimar a sorte do impe- 
rador e profligar a ingratidão dos seus 
súbditos. Fizcram-se prcdicçõcs funestas 
sobre a sorte da republica nova, desmem- 
bramento da naçfto até agora unida, aber- . 
lurado periodo dos pronunciamentos mi- [ 
lilnres sugando como uma parasita c pa- 
i alysando o desenvolvimento nacional 
l>cln falta de confiança publica nos go- 
vernos instáveis, sem garantias, etc. 

Espalhou-se a noticia dc que a revolu- 
ção não fòra mais do que uma cilada 
orgauisada o rcalis.vln no Rio, a que 0 
rcslo da nação foi obrigada n adhcrir 
pelo terror. D'ondc o receio de que su- 
blevações posteriores contra o novo rc- 
cimen, ou pelo menos contra os seus 
aetuacs orgnnisadorc?, acabassem pelo 
parccllaincnlo do Brasil em tantas peque- 
nas nações quantas fossem as ambições 
proviuciacs ou locacs que conseguissem 
apoderar-se de um retalho do grande 
império dilacerado. E um movimento dc 
desconfiança se fez sentir na baixa brusca 
profunda dos nossos títulos e valores 
nas praças as mais arredadas do nosso 
inerralo financeiro, como são Vienna c 
Berlim. 

Pcior do que todas as manifestações 
scntirnentacs pela destruição da nosso nn 
tigo regimen, muito sympathico cm todo 
o mundo (unções rcpublicanns inclusivo) 
$8Ea o ntsso d ^credito financeiro. Mas 
felizmente e antes mesmo da declaração 
(clcgrnphica do ministro da fazenda ao 
noiso ministro cm Londres, o Times de- 
clarou qur, republica ou monarchia. 
desde que a ordem se mantivesse, o 
Brasil eslava pcrfcitamcnlc em condições 
dc pagar aos seus credores e cumprir o: 
seus contractos. E a tranquillidade foi 
voltando e a cotação dos nossos títulos e 
atores foi subindo. Dejois n'nm bem 
ponderado artigo o grande jornal ingloz 
fez hontem as considerações mais sérios 
que ate aqui têm npparccido na Europa 
acerca da nossa crise politica, 

Ello acha que è um problema insolúvel 
ira os observadores â distancia a inda- 
gação das cansas da aboüçãn dc um re- 
gímen em que os brasileiros pareciam 
considcrnr-se prosperos e felizes c que n 
unica questão, praticnmcmc importante 
para os possuidores dc títulos brasile.ro: 
e os que nlii têm capitães, seria saber s< 
o novo regimen ê estarei c manifesta uma 
vontade nacional. 

A calma com que se fez o movimento 
l«lilieo parece-lho uma garantia d isso. 
Elogia r. mao. iia pir que a cousa foi le- 
vada a elTeko c chega a suppor que pau 
lai resultado concorreu o já estar o Ini 
per.vlor preparado para a mudança. 

•• Se o imperador qutzesic real mente 
conservar o poder, dteo rcdaelordo Times, 
i.óssó poderiamos aos admirar d.i singu- 
lar perfeição dc nedidas, que ihe não 
permitliram fazer outra cousa s< n o par- 
tir. Sc os republicanos puderam mostrar 
ao antngonhta menos prudente .» sua 
completa fmj-dencia com o simples [»'r 
r.s ca; la* na m sa, c que a partida foi 


permanente do povo brasileiro, ainda que 
seja dillicl! comprchender como as idêas 
tomaram lai caminho. Põdc-sc prosuinir 
além disso, que a revolução foi dirigida « 
por homens que são os guias naturaos tio « 
povo c não por aventureiros que quizes- < 
sem galgar por meio de distúrbios altu- « 
ras n que não chegariam dc outtro modo. i 
Tudo o que por eraquanto sabemos dos < 
actuacs depositários do poder, confirma n i 
idéa dc quo cllcs são dos mais capazes no I 
Brasil para o desempenho das alfas 
funeções políticas. E' infelicidade ou culpa < 
nossa de não acompanharmos d’aqui a ! 
carreira dos homens políticos no Brasil | 
com oassiduoc intclligenlc interoísc que < 
nos permittiria formular um são juizo « 
sobre o caracter o merecimentos d’ellcs. r 
Mas a opinião dos que sabem um « 
|)onco das 00 usas brasileiras é que os | 
dircctores do movimento republicano i 
são homens dc aptidões e reconhecida in- t 
tegridade. Qnanto ao mais, ha probabi- 
lidades de que eonünua-so a respeitar j 
os contractos, k principal difliculdade i 
com que o novo governo terá de luetnr i 
scrã a vastidão da arca a dirigir c a i 
grande quantidade de interesses e condi- i 
ções locacs muito dilforcntcs. Será duvl- • 
doso por algum tempo sabor se os Esta- • 
des Unidos do Brasil, ollicialmentc pro- « 
clamados concorrerão para .justificar o 
seu titulo.» 

E dá então conselhos para quo a uni- 
dade nacional não seja quebrada, [ainda : 
que, diz. ello, uma completa desintegra- 
ção do velho Império não seja provável. 

Em todo o caso scrã essa a primeira 
prcoccupnção dos homens que dirigiram 
o movimento o 6 do suppor que, tendo 
tão euidndosamentc amadurecido os ou- 
tros pianos, cllcs não sc esquecerão dc 
assegurar-se a respeito do mais impor- 
tante dc todos os pontos. ■> 

Nenhum outro jornal tratou-nos tão sc 
rinmcntc e esse artigo, cm que só n> 
informações detalhadas faliam, contrasta 
com os dos jornaes francezcs , va- 
zios, chocarrciros ou mentirosos, aecot- 
tando informações falsas ou forjando-as 
para mostrarom-se sabedores dc cousa» 
que ignoravam até & chegada dos telc- ; 
granimas da liavas. Só o Temps c o 
Journal des Mbais, cuidaram mais ec- • 
rinmcntc do nosso caso. Os outros admi- i 
,, raram-ío no principio c liojo seguem todos 
- o exemplo do Figaro, que desde o pri- 
i' meiro dia achou nisso assumpto de cs- 
á plrito. 

e No Inlransigeant que no dia 17 fazia 
0 elogio do Imperador vem hoje um ar- 
tigo dc Rochefort injuriando-o, chaman- 
do-o dc monarcha— Bcnoiton c Luiz. XIV. 

I de Pc tropo! is, etc. Mas, deixar ns perso- 
nalidades c tratar da questão politica no- 
•I nhum pódc; falta-lhes a competência e o 
interesso. 

r Entretanto já se sabe em Pariz que. 
t. para o advento da republica no Brasil. 
ii concorreram nl li adas duas forças— a mi- 
s litnr c a dos bacharéis : foi o Figaro • 
quem deu ossa informação. 

A impressão na colonia brasileira foi 
dc espanto quando se soube a nova. 
Mouareliistas ou não, ninguém queria 
acreditar. B depois dc certificarcm-wz 
andavam alguns meio corridos, conto 
quem leva um tombo de (Ilusões. Até hoje 
dura-me por dentro um abalo compará- 
vel ao qne sentiria alguém que estivesse 
distrahido, encostado a uma porta fechada 
oque lh'a abrissem de repente. A porta 
abei ta ò uma sabida, horizontes novos, 
muita cousa para ver... Mas, o susto dc 
sciilir-se cm falso, perUrba n intclligcncia, 
impedo de vèr claro, principalmente sc 
vem uma claridade muito viva pela aber- 
lorn. Essa c a payeliolngla da surpresa 
que já sc vni moderando cm muitos. Co 
; meçam todos a ter mais ou menos pre 
i visto o acontecimento. Só cu não : con- 
fesso humildemcntc que estura bem cn- 
i costado, absorto, a ler ou a scismar, sem 
mesmo pensar que houvesse porta atra/ 
i dcinim. 

i Domicio da Gama. 

1 Pariz, CO dc novembro dc 1880. 


A impressão na Europa (detalhe) 


992 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Carta de Paris. Correio paulistano, São Paulo, ano XXXVI, n. 10129, p. 1-2, 13 jun. 1890. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


993 


CARTA DE PARIS 

0 príncipe de Rismirelc não quer quo 
o esqueçam. Acccita com prazer todas as 
occosiões cm quo pódo fornecer matéria 
para artigos nos jornalistas désoccu pados, 
que o vão visitar ao seu retiro de Friodri- 
clisruli. 

Causa mesmo uma certa cstr&nhosa a sua 
nmaliiliiludc agasalhadora para com essa 
gente importuna dn imprensa, que põe 
tantas vezes na Ikícoji dos grandes homens 
palavras quo elles não disseram. Admitti- 
do, porém, que cllc quer fazer fnllar dc si 
mesmo depois de destlironado. a sua fran- 
queza é muito natural: ollc nunca foi ho- 
mem de moías palavras. 

Agora é sobre um artigo de um oollabo- 
rador do Matin que so discute em Paris o 
sobro os tologmmmns do um correspodcn- 
tc do Xücoíc Vréinia quo se discute cm S. 
Pdersburgo. Discussões muito largas, ouc 
tém o inconveniente de versarem Sobre 
questões muito pouco solúveis de política 
geral curopéa, dc equilíbrio, de predomí- 
nio dn uma potência, dc direitos de raças 
e do nacionalidades, de direitos históricos 
controversos c do meios «lo os fazer valer. 
Além dc que o cx-chancollor parece dizer 
a cada jornalista o que mais amavol lho 
parece no ponto dc vista da nacionalidade 
1 de enda um. Ao fràticez diz que o perigo 
europeu ú :t Kussia invasora. 

AdmitU-se quo a França esmagasse a 
Allemanha n’uma guerra : a Rússia so poria 
em marcha para esmagar a França; 6 a lei 
. dn historia...» Mas ao jornalista russo o 
Ncstor político dá conselhos sobre melhor 
posição diplomática a occupar na Europa 
em vista dos Interesses russos o contesta a 
utilidade quo haveria para n Allemanha 
em guerrear a Russía, mesmo no ponto do 
vista oconomico. 

Ksta difTcrcnçn das opiniões de um gran- 
de homem, pódc provar que Rismarck es- 
teja a fazer ensaios de opinião a festo e a 
oeste, mas provará inai* facilmente quo 
jornalistas são todos os mesmos oqueem- 
qunnto o pliònograpliO não fôr nperfoiçoa- 
ilo ao ponto dc poder registrar todas as 
palavras o até as iullexões sinceras ou iro- 
doumn conversação, muita mentira cor- 
rerá mundo com todas as npparcncins dc 
verdade. 

—As touradas recomeçaram om Paris, 
rom a volta do sol. O divertimento nacio- 
nal da llesnnnhn tenta ácclimar-se porto 
do Jardim (1’Acclimação. 

A‘a quintas-feiras o aos domingos -cn- 
r.lie-so lá uma praça do touros gigantesca 
com o que ha de mais fino no beilo mundo 
parisiense, para vòr investida* quo louros 
embolados atiram ás barrigas do carallos 
de olhos tapados o as bellns farpas que os 
bandarilhciros poem nos pobres brutos 
.•stonteados. 

O espectáculo nfio feio, mas o mono- 
tono. 

As sortes sempre as mesmas, a quasi 
ausência do perigo, o circo muito grande, 
quo nunca flea cheio o o publico composto 
do espectadores que nunca viram aquillo, 
que não sabem upplaudir, quo não tõn» 
nas veias sangue dc toreador, fazem contar 
os minutos que cada touro flea na arena. 

A s vezos chovo, o chão escorrega o tor- 
na-se lamacento, os animaos caliem, ns 
belhts roupas dos cavalloiros o dos capi- 
nhas onxdvwlliam-se : uma tristeza. 

Krnhaldo a musica toca chulas c rlmpso- 
dia* hespnnholas e a enscennçâ > da toura- 
da •• feita com o maior rigor: da massa de 
espectadores, tltnplcsmonte curiosos e não 
entliusiasmndos. sahe um frio que g/la os 
polires licspanKoèa despaizados. 

Os francezes não entendem numllo o 
paru riuo fazerem comntontarios jôra do 
proposito conscrvam-8o calados. 

Certos grupos do hespanhúcs applaudom 
sortes que o grosso do publico nem per- 
cebeu. , , , 

Raros são os quo lá voltam. Apesar do 
já se escrever suerte c aficionado, sem 
gripho nos jornaes. a tauromachia não doi- 
t:i raizes no cliuo do vaudeville e da opc- 


la raizes no cimo uo vanuovuie e ua opc- 
letla. , 

-Acabou-se o houlangismo. O tira vo 
(\eneral dispensou os serviços dos mem- 
bros do seu partido, vencido nas ultimas 
eleições para o conselho municipal de Pa- 
ris, o diz na sua enrta que vao rccolhor-se 
para estudar as questões quo interessam á 
sorte dos operários, dos que solTiom, dos 
que, em geral, tém fome, e sede do justiça 
,• quo tanto tempo doUô esperaram quo 
lhes matasse a fome o a sede. 

O que quer dizer— mais um sonho do 
ambição quo se não reulÍBa, para o bom e 
liouru de uma grande o nobre nação, desta 
vez. , , , 

0 general Roulanger que, por nao ter 
querido sabir dos meios legaos, não con- 
seguiu npodorar-.se do poder. Ilcnrá no 
T-xil»o, cmquantó um decreto do amnistia 
não vier demonstrar que a sua presença 
em França é indilTerenle ao governo forte 
o seguro dc si. 

K* possível que dentro de poucos mozes 
possa a gente mostrar num camarote do 
lhoatro ou numa mesaderestaurant aquel- 
lc celebro boróe popular, glorillcndo na 
canção, na olcographia, na gravura, na 
imagem por todos os modos, quo sacudiu 
a França n um alvoroço apaixonado por 
não sei* quo sonhos do reivindicações nn- 
cionacs. fazendo bater ao mesmo tempo 
de esperança os corações dos descontontes 
políticos e de curiosidado amorosa os co- 
racOes das mulhores românticos. 

Elle será um exemplo vivo n salutar dos 
mallogros do ambições illegitimas, quo on- 
tliusiasmos insensatos sustentam. 

Ennmnto isso não so dá, como ainda 
restavam so om Paris (que ainda a 27 de 
Janeiro de fazia Roulanger deputado 
. do Paria, por 270.00o votos ), cerca do 
. ltt.DOO votos boulangistas, lançam -so as 
, bases de um novo partido, quo recolha 
essa succe6sâo política. 

O neo-bdulangismo, que tem por titulo 
j — Alliança republicana . socialista, reci- 
„ sionista , propõo-so a firmar a Rcpublicaj 
. reformar a Constituição rnoiWchicà do 1873 
> por meio dc uma assemhléo cohslituinto, 

! cuja obra flearti sujeita no referendum 
. popular, proceder a muitas outras refor- 
mas quo socialisem o Kstado e flnalmente 
amnistiar os condemnados por liaverem 
tentado a destruição da mesma republica 
. quo so firma hoje. 

O boulangismo som Roulanger, arrisca- 
se a não passar de um partido projectndo 
* em jornaes, so não houver um homem sobro 
o qual os rcus partidários depositem com 
a sua dedicação, as sua» osperança*. 

O povo, que compõo o numero cíilcaz 
' pura os resultados do voto carece de um 
“ homem quo represento ou não represente 

- M»*' „ - • 

As ideas não personahsadas lho suo m- 
dilTorontos om todo caso. 

—Abriu-se a exposição dos artistas dis- 
: sidontes, quo llzeram no Palácio das Bel- 
* Ins-Artos (dos cdillcios quo ficam da Ex- 
posição Universal) o seu primeiro salon. \ 


cinosiçuô A pequena, rolaUvamefite ã do | 
Pai.icío da Industria .f.SOR obra-. pãraj 
6.0W; mas õ touito bem composta a dis- 
posta. 

Át? obras melhores déiUcam-s: d entre 
nz -.'itris o as thedlócreu 'ôm as còodiçOts | 
melhorea quo podoui obter fóta do atolkr ,] 
do artista, pinturas feitas para sòretn vistas • 
cm altura, duUueia o luz conveniente*. E < 
ha grande mimei o de bo« obra*. 

Kxpucfn lá Meis-tonier (presidenta^, Dn- t 
gnaa-Bouvoret, Shermtttc, Ribot, Harpi- 
jnles, V. Lemrtíre, Caroití Dnrand.OervcX. 1 
Roll. Borand, Cazin, Duez e cincoenta ou- ' 
tros grandes nomes, entro o* nintores 
francezes * os osiraagciios que adnoriram i 
d nova associação. i 

O sentimento geral, porém, «• que o con- 
graçamento e a reunião dos dou* salons , 
so fará mura cedo ou mais Urdo o que não 1 
persistirá ossa lastimavcl prova de que as ' 
rivalidades entro artistas podem chegar ao • 
odio separatista. 


Paris, 23 de Maio. 

Doutcio í»a Gama. 



Carta de Paris (detalhe) 




994 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Escândalos parisienses. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 111, p. 1, 21 

abr. 1892. 


Uil 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


995 


Collaboraçâo Européa 


ESCANOÍLOS PARIZIEHSF.S 

t-anir, 30 d* març) 

A nrciamocAo doa candidato» Inhâbltt- 
tadna no concurso aos togarei do lente 
mballtuto na caco!» do Medicina. |aia 
quo ocoociinio oeia annullndo, dou logar 
ao primeiro escândalo. 

Ao revelaçAcs quo oo Interessados da- 
ram nos rrp orltrt doajornae., níto foram 
multo grave», mas fo. nm ►igiililcRlIva.. 

A commlaaiio julgadora do concuroo de 
•jrgregnqáo (togar de lonUo ouboUtntoo) 

• compunha-*' do nore membroa: quatro 
profesoorco doa faculdade» da provinda 
o cinco de Parir. oa l»ci. Uouchard, Ucr- 
maln .S<«, Itetaln, Debove c Petor. 

K-oc* julrco (oram cacolhldoi polo di- 
rectordo enaino ouperlor. M. I.lanl. por 
Indiraçáo otllclosa do la.pcetor geral dao 
Kacn Idade». 

Ora. porcco quo 6 de jurlopnidcnrta 
corrente noo concursos da cKola de Me 
dicinat r, que oo deve dar um «ppknte 
ao juli quefalur no momento em quo a» 
prova* tlvsrem começado; 2*. que eito 
supplente deve manter o icu mandato ale 
o Um do concurso, sem noJer 
dispensado. 

Entretanto— dizem os candidatos ln- 
babilitadoa no ultimo roncur*o-o con- 
curso, tendo aldo interrompido logo no 
começo por uma indisposição do Sr. Ger 
maia Sée, era va do ae ibo dar um *®P- 
plente. proferiu o presidente da coinmls 
aio julgadora adiar as provas at* que o 
lento Indisposto podes?o assistir a cllaa. 

O professor Germain Sèo voltou com 
cfTeito e o concurso pôde continuar, mas 
logo nma Indisposição mais grave pri- 
vou-o do assistir á« ultimas provas, que 
eram as maia importantes do concurso. 

E então, como o concurso estava come 
çaito. nJU> se lhe nomeon um supplcnto 
O* juizes ficaram em numero de oito, com 
o professor IJouclurd por presidente. - 
E como dos cinco substitutos nomeados 
tres aio alumno* do Sr. Boueliard, 
passo que os tres Inhabilltados são alum 
nos dos professores Brouardel, Corntl o 
Chareot, vltl-M logo alil uma traição de 
Bonchard ao seu antigo mestre Chartot, 
eom o fim de desprestigiai -o e de vingar- 
se ao mesmo tempo de Brouardel, que 
tinha enganado n’ums eleição para a ca 
deira dc pharmacologia, aqni hs tempos 
Germaln Sce o Bouchard protestaram 
contra essas accusaçOes, e como a cousa 
era um facto consummado c sem recla- 
mação ate que os candidatos rccusadoa 
tivessem perdido toda a esperança, a au> 
ctoridsde competente nem sequer tomou 
conta da questão. 

Súmente, consta que Chareot rompeu 
vioientamente com Bonchard. aceosando-o 
dt deslealdade e dc ingratidão, e o ma- 
ligno Cornil parece que prepara alguma 
peça a pregar ao seu hoje trinmptiante 
; ra f adrersarto: Todtr o éorpo medico e ooco 
lar se apaixona pela questão, mas parece 
indlgnar-so pouco contra a parcialidade 
do Julgamento do concurso- Os candida- 
tos vencidos oito eram superiores aos fe- 
lizes nomeado», ú o que é. Ou então um 
ee n a in » na escola de Medicina de l arit 
ú uma cousa tio artificial, como oe exa- 
t mes c concursos nas escolas do Brasil... 


polira. E, em vci de |»i«»lbllisni* 
m.xrxbm». anarchls. o padre í.c Molgne 
l*v» e a faltar muito msntamcatc di amor 
divino. dos gozas, da carldsuo o da ajv 
] roxIrmçVi dos corações no amor do Jo* 
sus Clirhto. 

Os «H'lali*ta«1ogradoa fizeram hirnlho, 
reclamaram a mat -ria da orJem do dls, e 
por fim qui/eram escalar o púlpito psra 
o apmrrllarrm eomo tribuna. Mas fo- 
rsm repellldos pslos firls y fez-se \\m 
grande tumulto, o ocgilo po/-se a l*rrsr 
pelos seus tubos mais grossos para abafar 
aalgszarrs.abr1ram**ca«porins da fgreja, 
c oe combatentes partiram entre filas dos 
agentes de policia que para alll tinham 
accorrido. Houve algumas ca leiras que- 
bradas c a conferencia annunrlada nlo 
se fez. 

Na Igreja dc Salnt Joseph de Belle- 
ville as cousas se pnvsaram mila seria- 
mente. Alll dous padres dlseutlsm, um 
do púlpito, outro entre os ouvintes, a 
qurst Ao operaria e o snef«ll«mo do Es- 
tado sob a fôrma de conferencia contra- 
dictoria. quando um socialista malcriado 
pediu • palavra. Qnlrrr.im expulsal-o, 
mas o homem tinha partidários num«- 
rosos. que. depois de uma luta rrnhIJa 
em qne as esdelras e genuflexórios da 
Igreja terrlam de srmaa. ficaram nenhorea 
da nave eentral e alll se «narraram 
cantando a Carmaçiiole, em ros|>ostm 
aos cânticos sagradus que vinham do 
coro e das naves latemeo.onde se tinham 
refugiado os lieis. TirJo aquillo alter- 
nado eou» gritoe e apupos o motejo^uma 
nlga/arra infernal. Os fiei» inretllram ^ 
varias vezes contra o* turbulentos psra 
expulsal-os. mas só depois de apsgadas 
todsa as luzes, e quando daa tributas 
comoçava contra elles o bombardeio 
com cadeiras, foi que os socialistas as 
decidiram a partir. K foi então uma de- 
bandada tão Impetuosa, que nma das 
imrtas da Igreja foi arrombada pelos últi- 
mos, que são queriam ficai I cm fraco 
numero, entregues á furla dos rtels catho- 
lieos. 

A policia sd Intonreiu para mandar fe- 
chara igreja, que uèo se tomou a abrir 
para tacs conferencias. 

Ficam os padres prevenidos de qus a 
casa da oração nãoâ sala de conferencias 
contraditórias sobre questões palpitantes 
de actusl idade, e qur os ministros do Se* 
nhor não têm eompeteneia para doutri- 
nar cm matéria civil, por mais Intimas 
.que se jam as rslaçün» existentes entrf 
sociologia e religtlo, entre o evangelho 4 
o codigo. 


•CO* 

Itar 

>m- 

ildo 

ira- 

»ta- 

de. 


D. G. 

LIFFITTE NO C0UE6I0 OE FRMpl 

Paiuz, 2 dc abril 

Foi no sabbado 26 de março que abriu* 
se o curso positivista dc Historia Gorai 
das Sacarias e que a doutrina de Augusto 
Comte começou a faxer-su ouvir do alio da 
tribuna do ensino ofttrtal no eollfgto ds 
França. Um chroniata da Reuue iflcuà 
dou <t*Mui MOBtrjinionlo, quo ias dato 
na historia das conquistas do espirito 
humano, unis autida lào engraçada, quo 
não posso fazer melhor do que substituir 
a traducção d*eib k minha pesada proax 
0 velho papai I-afTUte é um grands 
diacursédor o nao |>erde occasíio etu qus 
pós**, a pretexto de comtnemorsr defun- 
tos llluitrea. semear a semente da boa 
doutrina, continuando assim a obra pela 


1 

1 

; 

, 

» 

> 

e 

- 

: 

0 

** 

» 

0 

•r 

I. 

1 

1. 

ia 

c, 

Dt 

o» 

ea 

m 

q 

0 segundo escsmlalo foi provocado por 
m Jesuita Inglex, o psdre Forbes. qoo, 
m umadas soas conferencias da qua- j 
cama na igreja de Santa Clotilde. assim ^ 
e exprimiu, foliando do exercito francez: 

» As famílias dlo ao exrrcito moços ^ 
tios de corpo e dc espirito, e clle os res- 
Litoe apodrecidos do viciot, cheio* de 
mokstlas vergonhosas edepaixOes degra- 
dantes.'» 

Um dos fleis presentes estomagou-se 
com a afUrmação eaiogoriea do padre es- 
trangeiro, o na sua qualidade do íranorx # 
de antigo ofllcial cscreveo-lhc uma carta, 
contestando o absoluto da sua proposição 
e defendendo o exercito a quo olle tivera 
a honra de pertencer. 0 padre Forbes 
respoudeu ao homem oilendido nggra* 
vando ainda maia a sua falta, entrando ora 
explicações para provar a sna proposição, 
narrando factos que tinham chegado ao 
seu conhecimento por iotermodiode tami- 
iias de milHares, resulUdos de observações 
próprias, etc. Ha vários livros cseriplos 
sobro o assumpto, mas oa livros não es- 
candatisara como a palavra pronunciada 
■ao palpito.-^ corrruviadrn to do psdre eu- 

uai 

tCuI 

ator 

nau 

cliè 

nar« 

jant 

iqiu 

:urt 

tvar 

çide 

le 

ogi 

corr 

da* 

cull 

disc 

que 

clle 

lest 

mci 

c m 

idér 

prs 

A 

lolt 

0 0 

7^" 

trtgen a carta a um deputado radical, o 

*or 

as 

Sr. Ficboo, que aproreitou a occasião em 

dia 


que ae discutia na camara doa deputado. 


de 

o eito doa tumulto» aocialiataa na igreja 


• é 

dc Saint Merrl. pura lani^d a na diacnaalo 


do 

como jusUflcação das violcnrias contra o 

lor 


clero. Hetultaloio presidente do eon- 



«ellio declarou qneumaordeni deeipnisio 

Na 

u- 

tinlia aldo lançada contra 0 jeauiU inglca. 

mc 

•m 

o r|ue, ae oa tnraultoa naa i*r«jaa de Parir 

tor 

ive 

cantimtaa»em, o gorerno aa mandaria te- 

foi 

V- 

etiar. Parece qoe a tanto nJo outaram 

toi 

i e 

n .pirar oa turbuleotoa anU-elericaea. K 


dê 

as»im quo, vencendo a desordem, tem -st 

da 

io. 

uma apparencla de ordem, aem qos custe 

ca 


mn^o... 

0 í 


K«e tumulto na Igreja da Salal Merri 

pU 

>h 

foi provocado peba aociallata», attrahidoa 

de 

ua 

ú igreja pela tema daa conterenciaa aobrt 

da 

ri- 

a queatio operaria, quo alll faria ás ter- 

Ai 

re- 

qaa-fciraa o padre jeuitU L« Mo:go». Na 

pa 


primeira d'essss eonforcncias, destinadas 

*0 

•os. 

«recinlmente noa iiomena 0 inapiradii 


m- 

na doutrina da encydlea de Leio XIIL 

ol 


o pregador tratara da «coodição dos ope- 

'i 

íis 

rarloa*. Nn aegund,. que aereava aobrt 

dc 

rou 

a» .caiiaaa do paupenuno o pregador 

Cl 

iiet 

atacara a revolução, declarando qus cila 


or- 

trabiu as esperanças das trabalhadores c. 

a 


prcclnmando o regi meo do individualismo. 

Cl 

>Ua 

náo ll.es deixou mai. do que a liberdade 

h 

r.s 

para morrerem d. mlaeria o de fome. 



nouvo proteatoi no auditorlo, ®ai oe 

Si 


qus protestavam, foram ünmediatamentc 

a! 

as- 

expulaoa da igreja. 

II 

m 

Social i.u, oa ananchisUs crpulao. 

t< 

ma- 

voltaram na terça-feira aeguinte com rc- 

P 

i 

fon;o, e a Igreja enebeu-a* com unia mui 

d 

n 

tidifo Inquieta c mmoroaa. 0 programint 

d 

nf A 

da terceira conferencia, para eaaa noite, an 

n 

om 

nunclava, no estudo das -DilTerentessoln 

d 

t d 

Cfies do poupertamo., depota de um eatod. 



hiatoríco e critico do socialismo em tod-o 

â 


a. anis vaHcdadM (comniuniuno, mar 


uri 

vi.mo. pofaiLlli-nw', aoardiia. nllillurao) 


or.s 

unmdefraa tq; legiiimidade da propriedad, 


IS 

pri.aJ.i o da cai 1- <1. E guardava para 

11 

r»i 

flru, tendo a**>£nab(io .n Jnva.lo dos ao 



| pbiam*> i»!iUoA..pb!cw allcnkf» a »p-e*t. < 

11 


palpitante * Sovemos pm^lsno* um di 

s 

ücf 

i»^fi r->n!tnunr«.nio» a ler fr.vo»v/-'s t • 


-U pr«vJon«*ui>*v ag!!:i'Ia do a-idstorlo de 

ç 

m-iveu. purrm, •» padre tío »<V i 



[de a‘- 3 car fcae progiamma# qutfjthrirav 



Escândalos parisienses (detalhe) 



996 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



O terror anarquista. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 112, p. 1, 22 abr. 

1892. 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


Colla&oraçâo Européa 


9 TEMOR ANARQUISTA 

Paru, 2 do abril 

C>ror**t» a coma por UM roubo de vinte 
o oito Ull« « •!« dynamit: cm uron podiolra 
cm I-oUy-woi-rUoli. Alvoroçou *» a 
Imprensa com com acontecimento amea- 
çador da IranquIllIJade publUa, maa como 
imprensa w uma ganas do Capitollo 
stmpro assustada, grituna e rnramo.tc 
alocem, a população de ParU não ao ln- 
tarratou psr esu toubo de substancia w* 
pio* Iva que u rnconlra no commercio c 
que níio o diilkil do fabrlcir-ae. 

Do repente, uma imuhâ, uma lata d-- 
santinha, tran «formada cm bomba car 
regada da dynamlte. fez explosão quari 
entro na pernas do porteiro, que varria a 
calçada cm frente ao piado da prince/a 
de Sngati. O homem ficou doente cora o 
auito n Pari/ lambem começou a ac 
prcoccupsr com a dynamitc furtada em 
taU.v-aoua-ETiolcs, a reclamar medida* 
de precaução para que ta*a factoe ao não 
reproduzam. a ralhar contra os proprietá- 
rios do minas o pedreiras e — natural- 
mooio — contra a |»licia, que nAo prende 
os anarchiktaa quo andam a pegar sumo» 
a cento paraU o tranquilla. A policia 
começou a dar busc.it, a se aprcaaar len- 
ia meu to na repressAodaa perturbações do' 
aorego publico. 

O que n&o Impediu que uma noite, peias 
oito bornr, houresto nova explosão o’oulrs 
c.v\a do bonlcrard Sainl-Gcrniain, onde 
morara o Sr. Benoit, juiz quo tinha pre- 
sidido ao« debates de um processo de aiiar- 
cbisUs ha cerca de um anno. A oxplo- 
sio já foi maia forte: Km voz de uma 
lata de sarJInhan, a bomba era composta 
ile uma panclla do ferro fundido podendo 
conter dons kiloa de substancia explosiva 
•i mais n* baiaa e os fragmentos de açr 
que ajudavam A destruição, porque 
aqtllln foi uma verdadeira descarga de 
metralha que arrebentou portos, destrate 
ioda a vidraria da casa e esburacou a cs- 
ada no togar em quo foi posta a 
bomba. 

Verificou -ae agora qna o portador da 
bomba deixou-a no patamar do 2* andar, 
t»rque a mecha, que cl lo tinha acendido 
na rua. não durava maia que quaroola 
irgundos. 

Assim fui que o juiz, que morava no 
quarto andar, nio tovo maia do quo o 
,u>lo c os seus prejul/os foram menores 
do quo os dos infelizes locatários dos an* 
dares inferiores. . 

Como os estoques aluiram, o porteíro.que 
correra ao estrondo, passou rtracei do tocto 
do primeiro andar- o cahiu na sobreloja, 
esmurrando- ao um pouco. Os pnfntzo* 
sofTridos pelo proprietário da casa (conde 
de llonlesqufco— Pezensac ) e polos loca- 
Ui tus da casA foram avaliados sm muitas 
dezenas de milhares de francos, quo a» 
companhias de seguros não tio obriga- 
das a pagar, os sinistros por explosão 
vndo provistoa nos coniiarlox de seguros 
cn.-no ereadas por força maior. 

Kstn circomatnncla começou a inquie- 
tar KÕrmmcntc a gente que tem cauta, a 
cente <|U.‘ mora nas casas, elementos 
ti« dn sociedade. O legislador moveu-ae. 
Fl/eram-sc reclamações nas camaras. A 
policia moveu-se. Fizoroni-se muitas bus- 
xj* o muita* prisões. A gente suspeita 
começou a ser ineommodada. Disseram 
enlJo os jornalista* que »* explosOns níio 
eram obra dos anarchlstaa, gento raulio 
do bem. que tòm em vUU a destruição da 
•ocicdculc sctual, msa qoe por emquanto 
nAo ac adia ainda organisada sen Ao como 
um partido polUiro, não rcprcaeota mal' 


A casa, lrmn»di.st jarii-otafc cvneutid.t. sem 
qin* f.wso permlliiJo a>s moradores tirar 
d'ellaflfl movria quo eaea|uini«n A «b s. 
trulçAo, fei couvenL-ntcmctue especada da 
lado da rua de Mim. para onJo amea- 
çava do«absr. Evfxwviieuto que não lm- 
peJe que sej» neceiurk) rcconstrulU-i 
quail iateirameate » alo darentos mil 
francos de prejaizo para o proprietário, 
st-m contar ot pivjniros dos Iccatarioa o 
Jos vizinhos. Tudo Dlo porque na casa 
morava, ao 5* an lar, o Sr. Boiot, sub- 
stituto do procurador gerar? 

K»ac magistrado estava de «erviço no 
anno pastitdo, quando furam trazidos & 
birra do tribunal do Jury do Sena o con- 
«icruQxdoa de ire» a cliscu annosde prU.V», 
tiva Indnlduo* de nomo Deram p», Darlaro 
o Luralilè que tinham \ n votado c dirigido 
os tumultos anarc ii«Ua de UvailloU- 
Farrvl. O prerilcne du tribunal era o 
■Sr. Dennlt, oSr. fl*.l»t fo^ n aerniaçA), 
t‘m depois d» outro foi dynamltado. 
Itavacbol incumbio-sa de tlugar os seus 
companheiros, fazen lo mhnr os magia- 
trado* que applitaram contra clles a lei. 
B quem vera a ser itavacbol ? 

lí' um bandido, antigo tintureiro cm 
Soint-KUenne. moedeiro falso, la.lrilo do 
quadrilha r aasas*ino — uma fera, dizem 
memiiu que no apfar. ucla pbyslea. Fot 
com parto dos. 10. OO franco*, que roubou 
a um eremita d« CU ml des di-pois do o 
ter asSassiuaJo. que etle . meUcu-se na 
empiv/a de destruir n fortuna publi.a o 
privada e a vtda d^s ;-.ua acuidluntcs. 
Depois do crime de Chambka Unha tMo 
preso, maa conseguiu escapar-se e apenas 
dous dos seus cuni|ilf<vs era oujo poder 
foi encontrada c;rca de metado do pro- 
dueto do crime de Cbxmblcs, foram pu- 
nbioa com aete annos de galé*. Kllo vctii 
l«ira l^rlz fnzer bombas e rebentar casas 
— cavouqueiro alni^tro. 

A Imaginação popular JA o deafigurara, 
emprestando lhe na» sei qr.s aureola fatal. 
No cmtanto o bruto deixou-se prender 
n'uma bodega, em que alin hava dous dias 
aegnido« t despert ando suspeitas, que o seu 
avviprmlamcnlo eoahccido tornava facll 
verllicar. C tagxreli-iva sobre aiiaichJa 
roro um criado de casa do pasto como 
ae fosse ura ami^o. Avisada a policia, 
vioram prcndcl-o. Resistiu, lutou, berrou* 
apanhou toou pancada que tevo de ficar 
de cama com febre e acabou confessando 
quem ei 1 *, depois que um compauhciro o 
descobriu e coafciurui» parte dos seus 

crimes. , 

Que, de resto, a sua conta esta feita. 

A guilhotina o espera. 

Foi um suspiro Immcnso do aliivio em 
toda a eldade. A pequena bodega «m qus 
Ravacbul foi preso ò ainda hojo objecto 
de percgrÍnaç.\o. O pariziense quer ter 
a satisfação de scr'derviiio pelo criado 
que denunciou o terrivel bandido anar- 
chista. E faz-se cauda á porta c dão-lho 
dinheiro à larga, aos cera, sos quinhentos 
francos, como a um benemerito da fazenda 
privnda c das vidas particularmcnte earaa 
de nós todos. Lerot c o herde do dia c, 
se o não matarem autet do I a do mato. 
como o anieaçim cartas do rancoroso* 
aiiarchistas, dentro do pouco tempo terá 
feito a sua fortuna. 

Entretanto, Ravacboi preso, condeiq- 
nado, decapitado, terá múnido cora cila 
a hydra da anarebi» / Parece que «Ao t 
ainda restam solto* vários militantes— 
Gustave Matbieu entre outros, que está 
provavclmenlo em Pari* onde a policia 
não costuma encontrar quem proeura. JA 
lizem que estA nx Rclfiea. Tamisem até 
que oato fosae píer», aeguia-so muito 
•ic li va mente a pista de Ila.acuol ora Uar- 
oelona. 

De toda csU kisUiria até aqui pouco 
traglei de dynamite e de anarxhistas, sd 


997 


O terror anarquista (detalhe) 




FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


| Ki/eram-sc reelamações nas camnras. A 
l*»licia moreu-se. Pizararo-ee inult/ubun- 
mi o moita* prisões. A gente suspeita 
, começou ã ser incommodeda. Disseram 
enfio n* jornalistas que as explosfrs ato 
eram obra doa niiarchista*, gento mulio 
do bem. que tòm em vl»ta a dcstrolçáo da 
•ociediulc actual, mas qoc por emquanto 
nio sc acha ainda organixada senio como 
um partido politlro, nV> representa malt 
do que uma opiniAo alo activa, e otiUas 
desculpas d'c*to quilate. Fez-se a rese- 
nha dos anarchiatas eaislentca cm Pari/ 
(o* reporters parizleoses sio sempre per- 
fcilamcnto Informado# I) e por exclusão 
chegou- se à c 'iicluslo que nio cra ne- 
nhum d'ellceo aoctor das explosões do 
boulevard Salnt Germaln e da do quartel 
Lotea. 

Porque, emquanfo a Imprensa discutia 
a auctoria dos precedentes delidos e a 
policia prendia a torto e a direito peasoas 
suspeitas pelaa suas relações, ama janella 
de um quartel saltava uma nolle com as 
tuas grossa* gradee de ferro chumbada* 
na cantaria, c a bclla vldraçarla colorida 
da igreja fronteira voara em estilhas. 
Outra pnnclla de ferro earregada de dy- 
n imite fl/er» toda a obra inslanUnea- 
in.ii to. Os soldados, que nada aofTreram. 
na-ia viram. As buscas da polida níW» 
deram resultado* apreciards. O anony- 
mato dos delictos exagerava a sua im- 
lortsncia. Pariz começou a sentir-se sobre 
mn vulcAo do dynamilc. Os vinte e oito 
ki lo» ruubado* na pedreira Iam dar para 
arrasar-so * cidade inteira. Propuzcram- 
se oa meios maia extraordinários para cri 
Inra entrada las pane lias explosivas no in- 
terior das casas. Poz-ae a prémio n cabeça 
do mystenoto auctor d'essa pyroteehnla 
perigosa. E a legenda de Ravachol come- 
çou a formar- se. 

Alguns das anarchiatas, presos log> 
apta a exploeáo do boulereid Saint Ger- 
main, Unham occultado a principio o 
nomodo auctor ou dos auclorca d’c*aae*plo- 
5 Ao como das anteriores. Mas um acon- 
tecimento de maior importaoda, augmtn- 
Lindo a gravidado da aituaçáo d'cDei 
perante a justiça, tlroa-os xla. reserva 
discreta, em que nio podiam maia pru- 
den temente conscrvar-se. 

A’a 8 hora* do manhã de 27 de março, 
uma cxplosüo formidável abalava todo o 
quarteirão detraz da Trinitê. Era a casa 
n. 39 da rua de Clicby, esquina da rua 
de Berlim, que acabava do ser di/nami- 
larta. A bomba tinha stdo posta no pata- 
mar do seguddo andar, pendurada do 
coai lo do uma ca m pai n ha qae foi encon- 
trado depois melo queimado entre o en- 
tulho. 

A esçada inteira velu abaixo e, tendo 
desabado a parede lateral entulhou com 
oa seus destroço* o pstec da cass vizinha. 
Todas as Janelloa e portas voaram arre- 
bentadas pola pavorosa deslocação de sr 
e nas casas vizinhas nio Ac ou vidraça In- 
tacta. Os teclo* aluiram, os muros de can- 
taria reforçada fenderam-se dc alto abaixo 
e a casa começou a arriar leotamcnte, 
aesuitadorameotc. Acudiram cm soccorro 
dc* moradores. Nenhum tiaha morrido, 
mas havia muito* feridos. Uma mniúer 
tinha trinu e sete feridas dc estilhaço* 
de vidro, Uecas de madeira e ferro que a 
o Ao mataram por milagre. Enternece □-« 
toda a gente sobre am reeemnaseido 
d aqaella noite, que, no meio do desmo- 
ronamento, foi abrigado no seu berço per 
um tabiqiie.que se dobrou sobre elle acm 
quebrar-se. Era o Alho do pturuaceutic > 
da esquina. A conta dos ferido*, segundo 
os joroacj, varia entre setee qulaze. 


ainda restam soltos vários militantes— 
Gustave Malliieu entre outros, que está 
provavelmente em Pariz onde a policia 
nio costuma encontrar quem procura. IA 
lizem que está m Bélgica. Tnnitera stú 
qua esto fosse preso, seguia-so mtiilo 
.•uüvamcntea pista dc Ilavacuol em Bar- 
celona. 

De Ioda esta historia atò aqui pouco 
traglci dc dynamfte e de anaixhistat, »d 
uma cousa me admira t/a simplicidade 
com que jornalistas, a pretexto de artigos 
tem informados, vêm contar no publico 
os planos dos criminosos e fazer a dcsorl- 
pçAo das bombas e outros engonhos ex- 
plosivos, qu«* tiveram nas mim mãos, sem 
revelar o nome <l’esscs bandidos que con- 
fiaram na palavra dc honra dos repórter*, 
lia ahi Jogar para uma d iscussho cerrada 
sobre rcsponsslMlidado e dever social c, 
palavra de cavalheiro, muito intcresaxnlc. 

A gente que mora nas casas que tem 
magistrados no quinto andar c que anda 
apavorada. Pnzeram-lhes guardas aporta: 
ninguem Aea mal* tranquillo por Uso. Já 
um proprietário, anniinciando um com- 
modo para alugar, declarou no cartaz 
qu* nAo havia magistrado n’essa casa. 
A policia supprmiu o cartaz sevenunente. 
Dentro de pouco tempo a maginlrelura 
terá dc viver cm quartéis ou residências 
fortificadas. Foi para Uto que ae fez a 
revolução dc 178?? 

As buscas da 'policia têm feito multa 
gente desta,:er-so de explosivos que ti- 
nha em casa. C«da dia sc encontram nji 
ma tubo*, cartuxos, machlnn* «m con- 
strucçúo. 0* inventore* vão suspeitos, oa 
estraugclros conhecidos pela* suas opi- 
niões revolucionarias aáo expulsos. Já lá 
; ar tira m quarenta. Depois do terror d? 
dynamlte, vero o terror da policia. 

Isto m passa na começo da primavera 
de 189?, por um tempo a loravcl, claro e 
tépido, coroo so Já tivesse passado o 1 * do 
maio. 

d. a. 

A oxpoilçio «lo panorama da cidade do 
Rio de Janilro íol hontem vMtada por 
150 peoswis. 

Intitsle da Ordta Jos Adrejaíos BmsiIusJ 

Em ultima redacção, foram a nte-hontem 
*p provados os novos estatutos dVsie in- 
etltato. 

Foram acccitos membros efTecRvoi os 
Xrs. Dre. CHirtira Coelho. Joio Damas- 
reno Pinto Mendonçs, Lueidlo M.vtli.so 
Daniel Quelro* Uma: e propostas os 
Srx. Dra. Joio Brasil Silvado, Joaè Ri- 
beiro Junior, Joaquim da Silva Santos, 
(.indo Gomes de Souza. João Carlos de 
Oliva Maia, Renato Gomes Flores c J. 
Evangelista Bulhões Carvalho. 

A actual directoria do instituto, eleita 
d* accõrdo com oa novos estalutoa, & a se- 
guinte: 

Presidente. Dr. Joaquim Saldanha Ma- 
rinho; 1* e 2* vice-presidente*. Drs. Au- 
irmto Al vare* de Azevedo e Zcíerlno de 
Faria Filho. 

I* secretario. Dr. Sa Vianna; supplen- 
te*. Dra. Amtides Sptoola e Èfptdfo 
Trindade. 

2* acerotario. Dr. Urbar.o Nerc*;*up- 
plratee, Drs. Mello ILattos e J. J. Si- 
queira. 

Thesoureiro, Br. AadronicoTupteamhá. 

Orador, Dr. J. RaptUta Lima Drum- 
moad. 

ComniissAo de redacção da Reoiça, 
Dr. Alfredo Bcrnardes, Oliveira Ooriho e 
Iríneti Jelttlj. 

Commr-s j>» de misttnria judiciaria, 
Dra. iiull)t>s Pedreira, Augmto Marqaet 
e KraristA Gonzaga. 

Coiwnivòo dc *ynd!cva:ia. Dr*. Joâi 
Mnrqucs. C. Soares G ; •nariez f I*aU 
G. de Mc lio . 

— o in*M'ifo r?nne-se t>Jss as qitart*.«- 
feiras, as 7 hora* di aoit % na nu doí 

Oaitrca u. b.', 1* auda.*. 


O terror anarquista (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


999 



Anno XV 117 


Rio do Taml fo — Doming o 15 d o Maio 4o 1 QQQ 


ij»» «Gaveta de Noticias» 


ESTADOS 


;l 0 balanço de Ainit»!; 


Callitiaracio Enrtpín 


A SEMANA 


NOS BASTIDORES 


(Espiem irnciici 


Ealiíni FrUanclar 


O movimento anarquista. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 135, p. 1-2, 

15 mai. 1892. 




1000 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


: Collaboraçâo Européa 

4 0 MOVIMENTO ANARGHISTA 

i, II» epocs» eni qus todos oi aconteci- 
( mealoa •« afleam, p»r» Mrao iuterasun- 
. tra. O Interesse parece que ò » nuii at- 
(cuqAa d«*p*rt»— » tom orelha «a pi 
pare o caracter aymptomatteo, dowraea- 
. tathro, do» IacIm mrtrao da mlniraa in- 
w lensldni»,— qua o p rolos o‘aat*a tempo» 
j J» rriae. Saotlmo» qua qsaiquer oouia u 
. mura debaixo doi iioaioa pês c obearra- 
j moí, Eotlo Inquietos, nato coetentaa, coq- 
i forma achanoa »'taa» morim auto a orl- 
i gein da acontectmaatoa gravca, ou Uraraoa 
I ilVIla conjecturas (arorarala áa oottaa 

> phlloaophla» linsgtnetlvss. 

) O qua toda nda, racaloaoa ou traa- 
I qulllos, n\o podtmos deixar da rar, i 

> que todai aa qnoatOetquc os pbllosoptioa, 

I oa paniadoraa, oicroadoteado ajrstaraaa do 
, mundo parece taram raso! rida especular 
i tlromeote, ado repostas om dlacuaaia. B 
i quem aa pretenda raaolrar agora, nio aio 
i os abilraclaitorti ife qiiinttiitncúu daa 

cousas, nio alo os trabalhadores oni dla- 
i clica, qua faiam obra nova a oararU 
i Ibata combinando elementos conhecidos, 

I nlo slo os trios e audurocldos proflislo- 
naas ds moral; aio os Ignoramos, qp 
I inelo-cêgos. oa Inlartaaadoa, oa Impul- 

■ slroa ; i a (cole bruta a malcilada da 
i segunda mesa do banqueta daa cirilis». 

, i.õca, qua sq Impacienta com a looga 
I aapera, omquanto oa outros dlacurum a 

i pbllosophaoi.doulrluaudo sobra a (ume o, 
i da barriga farta. 

I As reroluçòes rabeolam, quando, as ao- 
I bramrsas aa prolongando demais, a !m- 

■ padoncia dos famloloa qua esperam, aa 
I manifesta por actos ds «loleucla. O mal 

proròm da soparaçio social, do barer uma 
, primeira e uma segunda racaa, da £alla d» 

I caridade dos que ao assentam à primeira, 
i da (alta do Uabllidado dos qne esperam 
• cra sO moilrar a aua fome, acm esper- 
te» para, Indisldualmento, cada um e 
por coasegulnlo lodos ganliarcm um 
logar entre oi (srorecldoi; 0 mal provèra 
da so erearem classes eoclaeu, depois do 
so suppriioircm as custas. 

E’ para admlrar-ss a geote, o poaur 
| que todas aa llqSrs praticas da vida nio 
. lesam o homem 4 persuasão ds qot, para 
i sor bem succcdldo nas suas reclamares, 

' cite deve proceder iadiriduaimeote, c nio 
' collecUsameote. O que um poso Inteiro 
| reclama a nio consegue cora armas na 
i mio, i obtido muitas rcrca por um ho- 
mem calmo e animado do seotlmcntos 
1 pnei ticos. A rcacção das massas contra aa 
massas... todoa sabem Isto I e, depois 
do tanto gasto do sociologia o de política, 
atiram-to classes contra clnsacs, como se 
atirariam poros contra povoa. Aa trana- 
acçües, aa coaccstScs graduaes, que sã» 
faceia de obter partlcularmente, alo re- • 
cuiadas quando tomam a fôrma do rel- 
1 sindicar» apresentadas por uma classe. 

' Assim, is guerras cada vez mais rara» 
com o estrangeiro, por defesa de territo- 
1 rios antigamente conquistados, por mau- 
1 tença do brios oacionaes e do ideaas po- 
‘ Micos, sSo socccder as lutas odiosas da 
clacses arUOelalraento congregadas em 
torno da principioe cootestaveis. 

Obecnqusulterlormente d'tsio provlri, 
iO no correr das gerar» compensará o 
mal resultaole da desordem, da falta de 


disciplina social, produzida por tal estado 
de espirito. Os phllesepbos do futuro, 
estudando a historia dns nossas lutas do , ■ 
claaioa, veriOcjuào que ellaa te rvdutctn 
prlnclpalmente a esforços do arablçlo 
material ; que a guerra aocial de longos 
sonos, violenta e Iníqua, foi do trabalho 
contra ocapttat, das pcquonaa parccllas 
contra ca grandes tolaet— uma burlas 
tragédia secular, de que uma sccna cri- • 
llca te prepara n'este momento nos basti- 
dor» do grande Tbentre I 

Emquanto tudo ec prepara pera a crise 
maior do que a grande d» positivistas 
(pois assegurn-ee quo a revolução falhou 
o acu objectivo, deslocando simplesmente 
os prlvllegl» da nobreci para a buvgue- 
ila argoataria, c quo tudo esti por fazer), 
emquanto se faz a contagem dos des- 
truidores das Instltulçta opprotiivaa o 
ordeiras, quanto incidente eoiulco te passa 
entre a massa dos borguezes ameaçados 
pelos bombas inarcblstas I O modo laz o 
fundo d'csse eomico utn elemento quad 
doloroso de comedia... N'uma terra 
em que com tanta focllidado se coa- 
domr.am homens 4 morte— onergin salu- 
tar das elisses conservadoras pela dofeu 
da sociedade— em que n'uma semana trea 
cabeças cabem decepadas pela guilhotina, 
sem que Julses de lacto e magistrados 
appllcrulores da lei te sintam opprimidos 
por essa terrível responsabilidade peraale 
a própria consciência e perante a cons- 
ciência universal, cm qua todo o mundo 
4 soldado, esn quo a valentia 4 a regra e 
a covardia uma rxecpçio degradante, 
cbega n deixar de aer eomico o medo qua 
tôm os Jurados quu terão de julgar na 
semana próxima o anarchlsta Ravichoi, 
n u de assassinato, de roubo o de rno-rda 
falsa. 

Escrevem uns no presidente do tribunal 
que têm pessoas da família gravemente 
enformas, outros inventara desculpas de 
menos taba, a outros confexsam pura e 
simplesmente o siu receio de não come- 
rem as cerejas de Junho, se n cabeça de 
Ravachol cahlr por voto d eli» em meie. 
Esse receie cospllca-sc com a falta do 
disposição para o pagamento das mullaa 
que liste traria e não comparecimcnlo as 
sessões do jury. 

Ha aqui espirito conservador o Inatincto 
ds conservação. A combinação 4 quo fu 
a comedia, 4 que 4 bumnua. 

E nlo aio ad oa pobm burgoezee, jura- 
dos, comraerelant», industria» e pro- 
prietários, oi ittríbuladot pelo terror "aoar- 
ehtsta. São os magistrados, que virem em 
trames contieuM, de guarda 4 porta, 
como rictimas indicadas da tiydrn, e que, 
pnra altonuarem a Importância dot sou» 
requisitórios, dlo-ae como adversarioa 
dn pena de morte, eu como soclallslaa 
doclaradoi. Sio os agentes de poli- 
cia e os guardas muolclpart, que apro- 
veitam o pretexto de nio sei que re- 
clamação peudcnlo da decisão admi- 
nistrativa fiara augmenlo doa vencimen- 
tos o diminuição do serviço, para teota- 
| rem pvr-se em greve no llm do raez, atA' 
qne o perigo de 1‘ de maio»teja passado. 

E' o proprio governo, que apressa a ln- 
strucçlo do proc»so de Ravaclsol, dei- 
xando a incompleta, para jasel-ojulgar e 
condemoar antes do (lm do mcz. São oa 
proprietários, os capitalistas, n genta 
conhecida o rica. qua abandonam Poria 
nnlevdaêpecn mareada para as rillegiatu- 
ta», anles dn Salont o do Cm mi Príx. 

São llnalmentcos proprios indivíduos sut- 
priíos dc anarebismo, que se uüo ccctcop 


2 


audroa no mel» d’»to andaço de terror, 
wfo 4 do quo rlleu proprte» lerem, que oa 
ISrcblsta* têm medo, aatt ciara, lia» » 
represeio auctoriurla pddo nio dlncrlml- 
nar oe eulpadoa doe vtstnboa e esmagar 
4 todos, como 8. Ptdro fes 4* abelhas da 

uilm qua J4 eallo par» 14 das fron- 
teiras mulloe homens simples e Incautos, 
ano manifestaram Idíaa lubveralras por 
ftnrlcçio tbeorica ou por Impostura de 

F - Ho. fortes e emancipados, persn e a 

CO das classes eonsorvadoras. Hoje 
:limi «onKrtadorM, •pfttorMi», 
arredam As *4 caies deposito» de Idèas 
detensDlee. Km todo» os palse», na lle«- 
panha, na Ualla, na llvr# Sulisa, oa 
Áustria, vlgUm-se ca estrangeiros sut- 
pcitos de alhillsmo. E se aa expulsões 
eorr.cçarctn a ae gensrallsar como em 
Trança, na Runla e oallespanh», 
brevemeule o Draill recebendo nlhlllsU» 
} anarcblstaa catre oa scui nbvn colonos. 

Nio «ri» mio, Uivei, qne pnra 14 fo»- 
gem rases azedados pola Injuatlç» social. 
Nio ba entre n6s questão soclol pnslvel, 
eco a terra de que dispomos, ateria a 
todas as acllvldadee; e homens de grande 
aplrlto, como Ellat» Rteius, Kropotklne, 
A, lienin, Benoll Malon, Llcbknecbt, 
pio podiam deixar de na Interessar pela 
posta terra, pela noata sorte política e 
aocial. Adaptadas, onclonnUnidas, ado- 
çadas st tuas doutrinas pblIotopblMS, 
quem sabe ae nio dariam bom resultado 
p'case vasto campo de experiências poll- 
fleas que 4 boje o Brasil 1 E nfc nos ea- 
fcbeleccriamos sm faco do Velho Mundo 
«orno modelo 4» sociedade» roodernes, 
americanas, a primeira naçio a «alisar 
ps» paradoio sljmologleo da Anarcmn 

arganlsada- pontoo oa Oaisa 

parti, 21 d« abril. 


O movimento anarquista (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1001 


Anno XVTTT 

Rio da Janolro — Sofn.ndn-fnira 83 «o Maio do 1893 


N. 143 

: GAZETA DE NOTICIAS 

nURUO AVULSO (0 Kl J SUfMlypAilt* ImprrMt lunMohluinuIlvMibAvKqtMtfiMfmiJiUiU I nuitno AVULSO 

1 oocAodxl» MOBy» «GtU^U do Hoticiat» j ««yiiai—hn— <>i 

:™ : W 

TTVOMArMA 

•0 IIV 

Vmm MM ■■'hm 

loa* Nuritotem felbr 

ortPicaos emcms 

llkvissi 

^^rZT^TZJ' Wlihnca íuropéi 

**-*Ç*^,A M M J i miara » »»w 

x»» EKSSjs: 

SS^5f^§ 

cmareDaau 

flNANÇ AS I 



> — i— 




*1“- ,*Tr— 




ílÉÉullrali 

bUl ui: a_«££,’£jrz: 

£rr-* r -^l 

irn=“r~T~v 



jjgjjwfl ogg 


SrSTçESHy *■"“ : 

=aSK=a:'aS£ 

SsSSITs 

^yrr?^ 


Sisar»— ~ 


rr*-ii ; 

Tlití 

SírESTBt 


E 


ÉS=i~~“ 

rn rtT rr* * -Trrrvi 

EHrlS~v~i 

gírisrji*^ 

: -ÍH : .r5-.‘_‘Tr 



ggtgigSg 



OT|M> II “ • “ «• 

*"TT~-*" *“" ~- ~ 'JV 

■AftlNNA 01 0UIR1A 

r . '7!, *!"! 

MÉIMIWD 


"—■-rS—— 

ntzrJL^ *''J 

grrssrsrr 

£-2rèHE!S 


SySãigrta 


rS?= : iSí 


^J**- ^", f ,‘„‘"-~*‘ ÍL^££ 


St,; iSj.*™** “ *" 

&Z2tt£SEtrJL 

üfyr.^jss \s4siTsrlss *•,*•;•** .■.! ■-■* 

• + +**»*. 

T-* 

r s 

T- 

_ r — — -r.— *•*.* 

+<**+*. _ 

M-^«r .y«,UL.— jX'!»»— »•»* — — >• ~~ “ 

ESTADOS 


Mn — «n Mn • 4Mn M 



JS-M. . Mm IJZZJZ 

Z mSzJzr.zzr^* — -‘-T— .rr- •— r 



HITI.IS tCí li ü 

rZjS+mfZZ 

25*«: «ST* *“ 

yÊIÊÊ-M- 

►TT* ** “ r "'^ ? | < ^*** **~ T*' ** ‘TV - **T‘~~ ~ 

rHãzipiibrE-: 

S3: s s 


2* — — - 

TjrrTjS'.-.— «. M. 

Sg.**— »»i— 

ãr-T-ggg riSrrfzz 

ggSPgg 

ST£-:=r: j g 

= SrSürS 

o ialAo dk parix 

ifHa— Ãí 

J^paorícís 


ySgããrST 

Er“iEEE : s 


llffiSrí 



rV. ^*TT7..v r V*^‘--"* | t^LT. 

5f!bf£|§vr 

PORTUOAL 








r*nr^rr;rT,.‘.^ 

r.‘ l: '-* *? 'TT.T 






!E-Sir:SLCr: 

■ ■ v ' 7 - 

r7 ~7*~ !ú’ r*'- — 2T*«~. 

Chronica do dia 

MRTAUBAK '“.-T “"**** 1 ~ -' - 4’-***' 


nr, 

Sia-rrasr. 

iNCKxmo 


TtS5í 


^V-jsr^vt^rr 

1 rü‘ jin.Tr; Jüm 

rrj^Tizrriiirsr.rís 


-«•?. «-í&íSiai 

ír-T^T* "*~** *■ 

srs ■ ít ■.„ »■*■ zzl: 

,> T?rT. to rTr: gg".*tr- 

^í* 

?*** T*r V *~ ■ * - *- 



=£«*£Í«S£ 

fr ^T" mi 

girr.‘JLa 

!S2r5t£i‘3.: 


1 


írs S£ 11. u 



-•- - — . 1— •— ■• -•■ 4 


A dinamite de Paris. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 143, p. 1, 23 mai. 


1892. 



1002 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


CoMonçlo áuropêa 


A DYNAMITE PARI 2 

A quetio do DAVney, a qucstfto 
clerical, oi acontrducUm da vida po- 
litiga, da V.da arlUÜ* o inuyjbna de 
Pari* perdem todo o Irereito. «Irsappa- 
recvrn |«ar* n altcnçl publica n‘rt(o 
momento, Lntelraracnt absorvida pelos 
factos e gcitM dobandílolstro dos pyro- 
tcchnlcos anirchbtas,' 

Lllos sào toucos o prccem legião para 
o terror buiguez. Uiçiiex n‘c>tc caso ò 
quem tem alguma coui a perder, quando 
n.\o aoja srnlo a Vida, uc o pânico uni- 
versal faz parecer ma cara. Kol um 
tempo em que sc fez Cnosessoda vida, 
e por conseguinte da orte. Era o tem- 
po cm que o Iiomervivla menos feliz, 
menos farto, merw* contente da sua 
rica materialidade, h um século ainda 
agora o terror ata era medo em França. 
O Terceiro Fadado trailluva entio para 
ser tutlo. Hoje q«»e ell« tu-lo. quo triste có- 
pia es (4 dando do si o-talo burguez ITrca 
bombos de dynami' o dcxmnrallsam. 
Acabamos do ver r terra ciassica da 
coragem o do hrfo alnte ie reunir para 
ter medo publicamos e do companhia. 

Foi por occaal&o djjulgamoato de Ra- 
vachol o dos seus implices quo este 
estado de espirito d.vf lasse* conservado- 
ras so revelou á intea evidencia. A Jus- 
tiça tinha apressada Instrucçta do pro- 
cesso do facínora sarcblsta, separando 
os soua crimes anieores o só o julgando 
em Pariz pelo crímdc tenUtlva do as- 
sassinato por moio i bomba* de dyna- 
mito. Isto para llqdar o caso Itavachol 
aates do V do mal< 

Aeonlcceu o quo < recriava. Na vés- 
pera do dia do iuigiento do herde anar- 
chisla uma bombas dynsmito fez cx- 
plosAo na bodega d qun cllo tiuha sido 
preso, dovastando W> o pavimento terreo, 
ferindo gravemcnWnuUa» pessoas, lan- 
çando o esponto aflOalrro e na cidade 
Inteira. Ycry, o d® da cass, tom bojo a 
coxa amputada, tf olho arrancado o 
•oíTre horrivclmentde oatras feridas que 
lhe llzcram os cslIUços da bomba. Duns 
outros pessoas quo c achavam no res- 
taurante estão om pigo dc vida. Uma 
velha curinhetra mrdeeeu completa- 
reento com o cslroto da explosão. As 
casas fronteiras, um nmway que passara, 
ficaram sem vidros. A gento quo estava 
no tejadilho do tranfay viu o clarão da 
cxploata, mas nioirlu quem lançou a 
bomba. O guarda )o catara da vigia 4 
cas-i, quo cartas aonymis ameaçavam 
diariameote, derribo» pçla violenta des- 
locação do ar, ió aibe correr atraz das 
pessoas que íugisnespnrorldas. Nenhu- 
ma prisão foi feita. * amigos de llavscbol 
vingaram se impuzmento dos souo de- 
nunciadores. Yirjfcou arruinado o mu- 
tilado. Lhérot jsdpou lullsgrosameute. 

Entretanto, foi juda esse o quo no dia 
atgulnlo.comoUV-munlia no julgamento 
do lUvachoi, dl pz com mais coragem e 
iaençlo do espiío. O j*lacio dc justiça 
estava dcfcndld como sc recriassem um 
nlaquc, a sala 4 tribunnl quost vasia, 
cm coiiscquencl da extrema reserva na 
ndrnisstados oastentes. O intcrrogstorlo 
do Itavachol fofeito pelo preaidenle do 
tribunal eoni tala mollcza, tanta corlczla, 
como so sc tralsso de uma formalidade 


ai tendsoclafl da tisoclaçAu, respondeu: 
» N.«s agimos por Iniciativa própria, cm 
nosso nouto pessoal, exaelamento roraoos 
iuiarchlstas,uão tendo cumorllcs outro llin 
senta fotlr Inimigos quo nós suppumos 
perigosos. e que só o sáo peia noaaa pusll- 
laDimidadc. Mostremo-nos, pois. Ja que 
ha homens que tremem— e sáo soldndos 
do dsver, chamados à honra do occupar 
portos diflkeis no momento presente— 
aillrmcnio-nus braramonte, sem fanfar- 
rice, mas sem medo do perigo, c defenda- 
mos os innoccntcs. cuj* vida ó ameaçada 
polos loucos e pelos violentos. A policia ò 
Impotente, o governo hesita e mostra -sc 
dtfsazado, a magistratura tem modo. Le- 
vantemo-nos oúa e caiamos sobre os dy- 
namitlstasl - 

Hopnrtlrnm-so logo dous mil francos 
para a compra de armas e a fabricação 
dc cngonli'* para esta guerra particular. 
Discutiram-se molhados o processos de 
destruição o levantou- so a sessão única 
dVssa liga secreta, que vai entrar imne- 
diatamentecnt nctiridade. 

Yamostcr desatinos rcaccionartos qual- 
quer momento. A snarchia já será um 
facto, quando os cidadãos ralurcm por 
cima da Icl para se defender a sl pro- 
prlos, reagindo, respondendo 4 violcncJ* 
com a vlolcnda. Como rcsultailo, já n&o 
será máo para os com pan hei roa do Ra- 
vachol. Um pouco mais, e tercnioa o dos- 
moronamento da ordem, o desmantelo da 
sociedade constituída. 

Tudo Isto pravindo do maior bom que 
possuo a sociedade moderna, provindo da 
extrema facilidade da propagação doa 
ideas boas c más (más quando chegam ás 
suas derradeiras consequências) pela im- 
prensa I Tudo lato porque a obra da hu- 
manidade ao faz contra todo estorço, c spe- 
zar do lodo accidcnte que a intervenção 
do homem possa trazer 4 marcha dos seus 
destinos I 

Na expectativa, por cauta de tres casas 
que SAltam (do 80,000 que conta Pari/), 
parto da população retira-se ou quer re- 
tirar-se, os estrangeiros fogem da cidade 
ameaçada, o faubourg Si. Oennain fecha 
portas ojanellaa como se estivessem todos 
ausentes, e muita geate quo deve o alu- 
guel da casa, pretexta o terror anarchUU 
para mudar-so sem pagar. Os proprio- 
larios auilxui cm cólicas. São clles os que 
recebem maior numero de cartas amea- 
çando furei -as saltar por estes dJas. O 
1’ de maio 6 gcralmente o grande prazo 
para o asas predições sinistras. Triste 
nicz dos rosas I 

A maior parte das carias de amrnça* 
são peças pregadas aos inimigos, ou mesmo 
aos amigos. 

As acenos cómicas a quo o terror in- 
fundado dá logar, üM^innumeravcia. Mas 
já se começa a reagir severamente contra 
essaa pilhérias de màu gosto. Agora, 
por qualquer brincadeira do pregar susto 
aos visiuhos, vem a policia o leva o en- 
graçado parn a cadeia. Sempre è alguém 
que se prende, na iaita dos verdadeiros 
anarehistas militantes. U quando a liga 
aotí aoarchisla começar a trabalhar, quero 
rabe quantos excessos náo teremos que 
deplorar I 

Isto se passa na eapital da clrillsaçáo 
moderna, no tempo em quo se celebra- 
riam a a festas da priinavéra. 

D. Q. 

Pari/, 30 do abril do 1332. 


Tin m \ TAr\n 


como so sc iraisso u® um® wmmw»w 
jurídica pela qsl tivesse do passar um 
homem do bomantes do sor restituído á 
sociedade, de qu unto desgraça o tlvcsic 
cxcluido.O presleote Guòs achou occashlo 
para foliar na oragom de Rovachol em 
acconder mecha de bombos dc dynsmito 
orctirar-se deri* frxraçii/f/amonlr, na 
gencioiidado ddU vachol em distribuir 
pelos toos smips o dinheiro roubado ao 
pobre volho ocigenario quo cllo assassi- 
nara om Chamlcae o producto das joias 
roubados so edsver ds velha condessa 
de RocbeUlIlrí desenterrada por ellc 
n' um cemitorioji noite. Achou occosiio 
para mostrar ilUvacbol que só na sua 
qualidade do ptsidento do um tribunal 6 
quo pcnnlUis-i s audaeia de dasslüoar 
de rêgreuablc \ seu horrível passado de 
bandido. Ravaho', diante do impudor 
d esse medo, asumiu ums postura dc 
chefe politico puionolro dos inimigos, lou 
o seu manifeat anorchists, rcs(»ondeu o 
que quii o :omo quiz, mansamente, 
quando podia ser insolente, e acabou 
sendo condernado à prlsta perpetua 
com o sou Qropliee Slraon Blscuit. 
Os outros, cmnuroero do ires, foram 
absolvidos. Of jurados oào tinham 
obedecido á inimaçAo do promotor Ques- 
nsy do ücaurqtaire a que cumprissem o 
seu dever, citdemnando o bandido á 
pena ultima. I medo dos juizes tinha se 
commtmicado m pobres burguezes, que 
reconheceram trcumsUnclssattenuantcs 
no heroo da dynmlte. Dous d'elles mesmo 
não queriam ahlr da sala das delibera- 
ções para outr lér a sentença pe- 
rante o tribuna rcunid i. Esses teriam 
absolvido Ravsdiol. 

Os condemnadn sabirsm entre os guar- 
das dando vivssá snarchia. E Pariz in- 
teira MQttu-xe desconcertada diante da 
fraqueza do seu jnry. 

O pânico spodrou-se dos espirito*. Esta 
gento do Pariz, iue atravessou imptvida 
os horrores do <*rco e da commuDA, es- 
vasia a cidade agira antes do lompo, por 
raedo que a dyn.mite ansrehista faça sal- 
tar tudo amari hl Superstição dus datas I 
llojo pernoitarão tm Pariz 00, (XX) homens 
em armas para rqirimlr os desatinos pos- 
síveis de meia duia de bandidos incó- 
gnitos. quo ameaçam perturbar nmsnhã 

0 equilíbrio doa oJiilcios e das institui- 
ções Governo, cirro, magistratura e povo 
iüo tem scuào um desejo : que o dia 1 * de 
isaio pawc se a multas mortes, sem oca- 
liclysmo cspaitoso que o pavor gera nas 
Imaginações. 

E* um estada desagradável sobre todos 
este da falta de cunQança dc uma popu- 
larAo de tres m ibões de habitantes nos 
funccionartos a quem incumbe a defesa 
pessoal dos cidadãos. Ycritlcou-se que a 
policia 6 irapetento para reprimir essa 
daninada projagnada ftor seios da gente 
que se põe ínra dx lei. E já se formou 
uma li '4 a (articular, para usar da lei de 
Lynch contra es anarehistas. 

Um gtU|>o de roo;os pertencentes às 
clawís conservadoras, occupando pdáçõcs 
irn» ortjjitc», liberara ou in-Justriaes, pro 

1 Oc-se a combater os anarchUlas bo pro- 
( rio te: reno, e nào rri sc com as próprias 
armas. 

Ma primeira teu • » dV<-a liga sin- 
ruhtr Louve q< vm ol»jertM»e contra a 
ir r vf.L:. '.i : • lx n; .. -»*• .\-i da pena de 
í.tll: • irii-ia ’ .1 • oivtlbada. quando 


nd®ir 


A dinamite de Paris (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1003 


Anno XVIIT 


/lio do Janeiro — Domina o it do Satemfcrn <■> 1892 


N- 204 


GAZETA DE NOTICIAS 




A convenção literária com a França. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 

254, p. 1,11 set. 1892. 




1004 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A oonvcnçno littoraria 
cora a França 

Ha qacra entonimends e *• 

fisgue por preços cxorbltnuio*. Min llear 
contento cora ctlss.O llntril tem M» fo- 
llclJade de ler quem no otiaugelro c 
discuta de griça. Tudo acontece • quem 
nabo osperai-.., 

Eás vezes não nos tUsnttom mal. entes 
ouropans. T sls-se Inlroduriodo a serie- 
dade, n respeito— qur direi?— » tympatlila 
no tom rio v artigos que (retem do nòs c. 
das nossas querifra fU vida p*f>il1fn. Sup- 
^jnoiiho que r porque começamos Jk ser 
f j Intciveiiuilr», ou oomo naçào em partl- 
! oídar. ou con.ouni trecho d’e*ve eulgroa- 
o 1 Urs e ameaça !ora America. quo o cento - 
M | uario do Culomlo .pde na ordem «to tila. 
que nos entra initm mais o ‘entoa ultimo» | 
ten.pos de (crias jornalística». 

Soo sempre uoa estudos muito pola 
mme, estudes do voríio de jMBàUlU 
sondo o optvmJn, os qnc nos consa- 
gram os folUns diárias. E gcralmcuu' 
vem a pro|<o<4to de rtolamaç&os mal iun- i 
dada* ou Intclrsniente vãs. Mos a jo- 
clamaçlo c o pretexto. Nem o tom dos 
.iitigoa ò occrbo, nem »o nprovelta a! 
iircaiuAo partt ítuer plliiuriss sobre os 
pobres achagríns de al<?m-mar. Ho como 
que uma curiosidade sytnpaUUIca dtflirrorj 
procura conversa com .o vblnho, jxars 
:>aber quem «'• e.pór-ie bem com silo. 

Agora querem fazercomnosco umcicon- 
vcnçúo.liUorurL» 'Jurrem, depois quosou-‘ 
foramquc el!a catnm n aerapproMuiapelo 
ContfHíSso. 0 que estes letrados nfto tariko 
ncismado sobre o.ceuaumo que-têru entre 
côa. as auaspioilucções... lilloi quo pen- 
sovam YpM sú a ltusaia n o> L-itaJos-Uni- 
dos compravam os sem Urros e repre- 
«iitavam as suar pecas de tlicatro. 

«IA >òin, »cm duvida, ffaa do tempo as 
reítaAe* 'que eu possa fazer sobre osts 
oxquUila convenção, -que bem podia ter, 
oulro 4 iome~Maa r por UiopporUins que. seja, 
a discussão do uma questão tio pouco, 
urguato como s^ja estn do pqg*r aos fran 
oeoea.aqt. lo quc.nús lintiamosdegra.ça e t j 
nem que «lies o »us|>«iuiu«ii, sempre ou, 
gostaria dc fazer aqui una cmnprlnicnUu 
nns riopuuulcu' brasileiros caos promotores 
d este presente, que n imprcnsa-c aa em-, 
prezas dc thestros brasileiros .vâo fazer 
aos auctores francc/n. C -uma pura 
dadivo, estejam. cortoS! e que, sem onri*' 
queeera chusma immonas dos plumlüvosij 
lo segunda. categoria, que nas nbatUccm 
de imaginação barata, ajuUario o eso/s- 1 
monto do ouro jmm calas terras já tão. 
ricas. 0 pioprío 'Jtnxps, n'um artigo dc 
Tondo, (Hx que nào se dovo re*.sar cm' 
conec*ȟe* cm troca do rccoribecimcirtoj 
da propmdude duo iraaeeaes,.que os bra ; j 
slloiros cstâo om tíh deíszsr. 

Ku .lambaoi.aclio .que.nõs.nlo devemos 
prdirnadn cm troca, par* sor completo oj 
favor. fttcaqd era a -França a grandcl 
noção sem rlvnl cm movimentos fivnc-;] 
msos. Vençamos n França.n'e*ta mataria: 
«ejaraos anllprâUcoso nobeea. .lteooohe- 
çiruos a Moatqpin, » Juh» Mnry, o Bei*-’ 1 
fioboy, a Gaorgo* Ohnst, a dlínncry, a)| 
Mcctor Malat, Albert Dolpit c.a outros da. 
lannmdUw « quo lidado Uo prodirctora» 
dc âbras^ríplnaes, de cieadocea lltion» 
rius, o paguemos ã Utleratura coomcrci.il 
ícxncora os diraitea quo cila nio tiniu 
fiodcnrs |iarn rcciumar de nós. Bm troco 
raio peqamos nada : seria ridículo. ' 

Mas com isao nio cansintaraos cu nttcl-' 
buir ao nosso folio exemplo dc fralcrol t| 
«imio internacional um esractar do con- 
veot^Ao JlscutiJ» ctUre duus paftea cou*’j 
tmetantes. .Nin (açamos dc pobre quo foz 
núu negodo com ricos. Nio rpicirarao»' 
•*cr embrulhados n‘uan transseção ab , 
surda. Os europeus noa cmbrulbArúa | 
fom II 'outros nogoclos, pois quo sftoollc*. 
que tôm o dlrttwiro do quenús carcoomo«‘ 


V 


o reconhecimento d# lai pn.p-iodndc. A 
appr nvaçlu noa oamaraa, de um projecto 
do lei quo a recoiiUcço, m« Urá coucluir 
quo uio è o ]KMltlvi«mo que governa o 
llrasll, tomo aqui se espalhou nVatca 
urtlmos tempos. 

£‘ o uniuo boncholo que ae tlrari da 
appmraçio desaa lnopporluna 1*1, que 
nenhum direito orTcndldo reclmuou, que 
oeuburua convoaleuola ccouuuka ou |»- 
tidea suggorlc. Ficnnioa sabendo que uAu 
ha uma doutrina governando um Krftado. 
Esse» symptoniM urgatiroi na vcx«^ ins- 
piram maU uonllança do quo aa allirma- 
1«V*e dc um mluiitro dc finança». 

Vas l»v. não lira que eu, f«ltado |Mlos* 
tbciuuroa «le úrlaxcrxcs do Hio de Ja- 
neiro, Vatou aqui, catou caldndo no ruinan-, 
se- folhetim, m (literatura dc imnqluação 
.irrcplaib, com' gancho n <f Hm do cada* 
(uUicUm. E ó talvez pen^mdo na miutia 
próxima futura di-graduçAo littoraria, quo*| 
puxo para baixo tanta Idea nobre, quo o 
o calor do JG* quo aqui tomos, Ur subir lu 1 
para o talào, onde lia fresca imaginativa.] 
Dr MTtÚ DA CrAMA. 

Paria, CO do agosto. 


O Kr. -ministro do interior dirigiu o i 
fiilate aviso ao Dr. iiupretoi geral «lr’| 
li.Xg.cne : 

«• A’ vHta do qnc reprotentou a Inuporlo 
cia geral de aaude doa pvrtos om olUcio ] 
de £ do cor ma te me/, sobro a necessidade 1 
de aar pvoliibida a importação üas agtus.] 
-Jhunijdxs lutoeraM, oujo maior consumo 
ó XuUo naa refeições e como rofrigeninte,. 
procedentes -doo pal/ea ande gmua o' 
«jholora morboi, outrosim quo oalraaida-:, 
pelos vaporea, quo já sc oohnm om ca > 
mlnho da Jlbr Grande, dotem scr com 
o maior cuidado relidas naa «üfandogaa. 
nio entregue* ao roosumo e rcexjMrtãd: a 
uo inutillamiai, do modo que ninguém 
possa, entre ada, fazer aso d'dlaa, resol- 
veu o govemo que, atUadida A.indicadn.j 
requluQào,aojani reexportadas aa owsiuas 

•ígUAS. , 

N*ecta conformidade solicito ao raiuls- 
te/io da. fazenda a expedição daa .ncces- 
curifi ordens. • 


0 Sr. senador .Ramiro Bareellos qpre- 
«ntoa'liotiUm «OAonado oneguintepro- | 
Jeclo de lei: 

«0 Congietso Nacional resolve: 

Ari. J* . Jiioam destinados os saldos dn 
verba— subsidio a deputado* c acnidorca — | 
do corrento exercício aos (ra ba lhes da^ 
•eciadea de prorogaçâo. 

Art, 2’. ‘Ravogam-sc as dlspoalç&rs en 
.uuitrario.*— liam iro JOarctlloi.— Amt- 
ihco 'Labo . — Jmü dklfJUno.— J-snmnoJ 
>fa üilotira.— Ktyuu ifartitu.— D^~ { 
minguej Vuxnu.* 

Rneorrou-se hontem -o prazo da cou 
•snrrencia olwrta poLa lnlcodoacia para 
o ssrviço dc abastecimento de onrno varde 
A [lOpul.içio d'c»la capital. 

Consta nio sc lerem qpresontado coo- 
curreatos. 

O Sr. Oarloa 1‘romenl, quo lia tem^j 
orfereeeii uma pr<qwsU para tal serviço, 
^pivseniou hontem uma rnUHeaçio dn 
'ua proposta -aos Srs. -ministro do iote-]J 
-riono presido ii te Ja inlendsticia. 


Foi auctorisado o dircetor tia oit rada 'dc 
ferro Central do .Brasil a alterar o art- k 
4* das tarifas c condições regulamentares 
•la mesma estrada, no-sentido do começar 
o vtmli «los bilhetes quarenta miuutna r 
c-ísur cinco minutos .ar.tea da hora mar- 
nsdapam a partido dos trens. 


O Kr. coronel Olympio Kcrraz convido», 
pnrs-fsu advogado, no conaelbo a que vai 
.vtponder, o illustrc dçputado Epitaclo j 
í’c-wa, que do molbor gcalo aeciitou c 
convite. 


I 


çsmoa a Moatqpin» a «Juka Mnry, a Bcl>-' 
^obcy, a Goorgos Oluiet, a «llSnncry, a] 

' llcetor Malat, AlbertDolpit c#a antros da. 
i isesrtmdUme « qualidado Uo praditrtor* 
dc Obras jonglnaes, dc cicadoroa lltiom ' 
Hus, ©-■paguemos á lUteraiura cotomerci.il 
fnnooza os dirsitos quo cila não tiniu 
poderes (Ntra rvclumar dc nò*. Bm troca 
; imo peçamos nada : seria ridículo. ‘ 
Mac com isso nào csnsinUraos o o nttcl- * 
Inilr ao nosso folio exemplo dc fraterni i 
«indo internacional um caracter do con-' 
veoÇAo discutida c<Urc duus partes com-' 
iroeUnltes. .Ns» (açamos dc pobre quo faz 
mau negocio com rico». Nio queiramo»’. 
»er embrulhados n'unw transaeção ab : 
surda, bs curopous nos embrulharão. 

. fom u‘outros nogoclos, pois quo aioollcs. 

que tôm o dlrthoiro do qucTiôs carcocmo» 

* inccssautomentn. Perderiamos assim m 
benefícios da acçAo -generosa. 

•Jn os jornses f rance/es, induairlndiu, 

. por um brasileiro que sc tndJgnou contr.-’ 
a «poliftçio qoo sofTrem.os Infelizes an-* 
ctorea fronoezes da porte dos directorc» 
«Jc Jornncs o dt theatros e dos livreiros- 1 
editores, começam n reclamar como ura' 
Jircito aquillo que constitua uma puMc, 
tio hypotfotica: n partilha rios lucros dr 
■ uma cspeculsçôo cm que cub ara factorc» 
iJo diilonsntcí c cuja discriminação d. 
valores ê tio diflictl, como aeja a publi- 
cação dc um livro ou aTQpreaentaçdo Ur 
«ima comedia. 

Direitos dc traducção! 'C-uma cousa 
ün(astl'*3, quando so peosa-hom rihato!* 

. Ihiroec-mc, na mlnba mesquinhez dr- 
cttrado sem vertigens dc ambição, qui 
cu pagaria antes um jantar a quvm mc 
, t-«duzi»sc para outns língua, dando -nu- 
«* honras dc outra gramiuaUca, do ves- 
. tiiDontas novos, do sonoridades cxotica*. 
Jc pbraso. E a iiiuslraçáo do um nome., 
que As vezes nAo õ sufRcientcncnte co- 
' uliocido no paiz natal, con ta. pouco ?Tlc- 
decttndo no trnhalho que mc dA a tra- 
«lucçAo dc uoin pagina imbecil, na Htto 
i AlisaçÃo do u st trãbalho do fancaria, aU 
quo ello tome uma apparcncia decente, 
cu ntscmolho o Jorgo Obnet ou o Dolpil 
que me pedir a paga «ia minba nnma la 
ao gallcgulnbo que, viajando n põ, 'per- 
guntava ao cavalleiro compassivo quaut:- 
lho pagaria esto para Icval-o á garupa. 

Propriedade JUtcraria, de que cousa .' 
Oi fórma?K o trabalho do traductor. q«r 
deforma, transforma e tantas rezo i re- 
ifldividuaUín o tredio traJozído ? Ndu sc» 
so osCÁo limbrados do unta parte dos, 
Miseráveis, traduzidos cm (olbetim do. 
Jornal do Commercio. -em que o Jos- 
Koliciano dc CauillM) faria a Katiitlna 
camar ao pc do berço da fUbiuha : 

Bi ilha O brilhai. W, 4 r« a rou ; 

A»! ç«e i.ihie» aiaonn, ,çu« «a Uuto I 

O- original franeez diria : 

Lm Ms«ii «mi M««t. (esrgee.SMU rssrt; - i 

Lei biseu mo« Ums. . . Vt«e«t r«t »«iur- I * 

Ora agora, cora justiça, c merecimento 
da (raducçòo i par! , podia o ViC»or 
Hugo reclamar direitos do tradueção 
•■‘esses dou» verãos, om q no nenhum ver- 
tigio sc encontm dos originas» 1 iV>H hu 1 
muita traducçAo n‘esU gosto. Pergun- , 
tsm «os qiw tradurem para o'theatro no < 
llio de JAreiro. se lhos nAo dai «a o mes- 
mo trabilfo escrever uma peça original. ] 
E* o aiiumpto, c-*ra o s;u onchimcnto 
de Irinasfquem se atreve a declarar-sc I 
proprietário dc assumptos e do fdéasT 1 
N*um terapo em que *e sonha com a re- % 
r®rtiç.\o das rii ii c/as eiqoilatiramente, < 
cm que o problema social pareço icr ' 
I ri mel ram; nto n carahsoçAo publica d->« \ 
cstagnrs que represam os eapltaas d» 
mundo, chega a ser afourdo rreur dtrelU - * 
Um fuciAmcntn moral, nem justlficaHras * 
'hooríeas ou praticas. O |>equcno c*>nh-*- 
í cimento qoe tenho do doutrina prritt- 
I vista, mc faz pensar que tila nio O/pcova \ 


A convenção literária com a França (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 1005 


Klo.de Janeiro — Domiçgo 18 de Iíéaoml>ro de 1803. 

MZETrDTNOTMS 


MUMERO AVULSO CO RS. 


Blw wtip nh o iraprCMa ou nnohin»* rotativa* do Mtrinoni. n» tyjvofniyhU d* . 

•ocloJvic n&oayaa «Gazeta do Noticias a | 


MUMERO AVULSO 60 RS. 


(Q.CC8 «uapiutíj A SEMANA 

^isaura ‘■"Hlt-t-HH-j-E" ' |~E: 

AZ!"""*!' 

- T ImsHi ioPanJBí 


ÜO NOVO 

1893 



li"M 1LLÜSTRAD0 

I MU IM 3 Ir 


I firm 01 NOTICIIS 


•Jkiíl.V DL NOTICIAS,. 
G-*&do c lnpre»okn- ' 


OPHELIETA 


. C1RTAS II ULEMIMi ; 


Q1E3TÍ0 BIHClBii 


»»« ‘«use 35000 ■ 

A C.,i:Ude IHUni 

i!r--ra:o mlitic:'' 


A questão do Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XVIII, n. 352, p. 1, 18 dez. 

1892. 




1006 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


eainJnLo, « ajo receberia e»t* fator d» 
t*o, de encontrar uma Utettlgencl* U> 
wlü. A*|*»| f*ti o meo niUi, 

— Aqui «»ti • a-.re, Jferapr* is su*« 


— l;ualm:;tc. 

— (.t/*rfr) Que Iwnrtn dlstlncto! 

— btparfe) Que cMlmsvd sorti*! 

# 

A Questão do FanasiA 

SmmiiIx— rmai* * TiiUml U « 

f*W4 i «Min .**« 4rNUk Hfwt.i ••• 

A •»*•*« baia* Í4 lU.tvk. 

Ijtury» t t n*i |%K 

Ks qolnta f lra*ili seman* que vem, 
54 de novembro. comparecer 3o | «Tanto 0 
Sr. PvrlThr. prteUcnte da prlnv. ira ca* 
maré dotntanst de a.npHIsçJodc 1'srls, 
oi Sr». Kcrilinand d« l.r»«cç>«, preAldeni*' 
àn eoateJho de adralnlstreçAo da Compa- 
nhia do Caral <1* Panam», Charles de 
fi, bário Calitt, Marlus Fontana, 
blslrodocc*. e EUlrl, ©mpcrlielro do» 
0». 

I prellra laarc» do colotial procwno 
começa, rrcl.itn.iio duranto tnnt»» 
I* o On.il mm t« (naliarsdo eonfr» rs 
ivet» .pelas mslvcraõc» cowmetll- 
pcks que traflairam cocn o dinheiro 
acclontals» « c/cJoros «la eompanbU., 
[A espada da lei tera aqui urra sobre- 
r-a <!e mil • qidnhcatos mlll-õcs. Um 
I re diabo eemo eu nem dara ura si 
ib o ramaçaimfito dVaia rama. Mas a 
(•culpada como respoosavcl rela» 
-Upidnçüca qee a fortuna dos scelooi»- 
aatfrou ao. camelo do cxeeaçio d» 
rgraoAo emp qoc la aloda mal» II- 
lustrar o ik -ocm tu hhUria da 
hnmsaldado.* o iccuwtW» contra qoeo 
o meirinho rio tribunal lançmi a» citaçõe* 
tem ot nomes do I.eascps. EUM o üorlmi 
FooUor. rcjrfcscntnm wiiui o rrtUtra- 
ciai fabulosas. Vlo aaldr limpos do 
exame publico em jeriiça o o odio popu- 
lar cctisrA de peiar sobre ellci. NAo esü 
*hl o Interesse do pcoemo, cuja soloçio 
te prttc • dcsej-i. 

0 iaUrciK c»ti nu revelarei Uelks- 
lei, que jd na o,*£u»d>-'cira comcÇArns» 
oa ornara do» dcpelados, por occasiSo 
da* interpcltnçõe» ao povetao sobre a 
Crsad? questán. a qoestio anic», cm in- 
tornst palplunto. em Importancu H-ua- 
eeira, em tigisUlcaçio irersl. Todo o 
perigo do eriso a»!al»tcHal. qwc a Inter- 
venrío do porerno na queaUo de Cur- 
maux e a soa IcapotcoeU na repressio 
do» crime» do» ansrcblilas tinham pro- 
roçado, drnpparcc^u diialo i*o 
comnum. O Sr. RknnJ, ministro da 
justiO. ordc***do o começo do luqnerito 
judacuHo sobra a queaUo do Panami, 
promoveu uru «HvcrsAo aa acllvkJaie 
parlamentar, toda faroravd ao governe. 
Qtícuòe* de cconoraka ct>moa 

a do tratado froaco-wi*» o a da ld lobre 
r. aabrbidi^ quntú.a aoeiaro cotv» a da M 
•obro a iratroMs, jmuram para o at- 
oa guado plano oa foram caqaocVIas, auim 
9 - que »e ooeuociou o coiacço da graivie 
e- Ueraua pepbte oa Ulb«u»^«- * l v ** , T w 
St a rrptnruu,*- 

ie Alroroçou-ae toda a geot» directa oa 


gtnda*(rlra para a diacussiU da» Inter- 
pcllv.Se», a lnlrrT-*!^A> esílarrcld* do 
Sr. UarOrnu, dr(mU>lo ra Ural. r cjtl-ranio 
a ccavcQknrl» joluica de dhcuUr*ieaa 
r a mar a a att/lbulçlo dai ruipoaaaUllda - 
dc», ditcriudrtando-sc »emprr tudo qaaato 
jk>ju caUr a b a acçbo Ju lkUrla w»n- 
[•rtcBtr. obrigou o Sr« Itiord, gcaida 
di* •ellea. n enfer diante da roatade roa- 
nlfctta da Canxra. E ficaram te«he na 
appartaeU anlUlellos com^oe multado* 
da Jaraada. 

Um deputado da direita. • Sr. Tror**! 
de l.mnay. d! «se que no negocio tio 
obicuroda Patumi ba uma cocaa «a- 
lildai * boore cm buraco pelo qual ar 
«teoirtm c*» mliliCc* doo artlonliU» ; è 
prctko mcontrar nu buraco.» Talrcs 
«r|a para arrvar aU um laço A volta by- 
poilietica doa raio» qao rooram o lailbo. 
Scnlo, rara que?... 

Era UdacaupAfccedUIlcll acbarircamo 
«ao buraco. Seriam multna o» buraco». 
í>» o-tintnKtr.vJ.-rr» da companhia teriam 
mio» de etrumidolra. larga* r rotn». gc- 
ncreua». Hoje amarg«*lhca a rarMadt an- 
tigo. O bário Jacub de lUk.aJi apforccea 
caU naaiibA «orlo tu cama. Diam que 
fol apoplexia, dl/cm que tU atlrilli, dlctm 
qeo tol aa»-.iaait« por envenenamento. 
Kra uai do» alcalnbtrodore* da d<»r*a- 
nhla t Implicado na acruAaçèo. Waem 
qoe cUo ae orcupota com « p^quenoa 
faverea aos liomcns publkoa, pãbtko» e 
joriulbtas, rajava a» dooprras «U r^o- 
paganí* cn» favor da gr.inde emprrra da 
exploraçj* do caj lUl íranccs. TUIu • 
Urro do» eboquee e «rchlvava a» cbrlga- 
7 '»'» piaU>nkaa do» bomem ntHa que 
n'dffia lerra da eivIHuçio ediaalada con* 
ctiloeai uma legllo. «oubaram llae «m 
Urro de a»«entn» pnrtkular e l«io ngo- 
nioo-o n.uUo. la carar para d.ilrafclr-as 
da» ifiqnklaçO.'» do espirito, boje domingo-, 
mas o criada que foi accordal-o de inaalil 
achon-o morte. I^vcnmsmcnto ! »ukl- 
dio ? morto natural / o Inqncrit» • dlr>... 

IoquctUoi 1 a utopus» phjrakM e mo- 
rta t por toloo ca lidos a geatc vi 
disto... Sc iUianlaoM alguma cousa t... 

Qae« dc nada d isto aabc. como ai aV> 
fotar cm toroo do acu grar.ic non>« que 
tc lai todo «s*.a eicandal». è • telbo coade 
de Ua»cps, qae reclusa r.*> c:u cmtHIo de 
la Chernaxc, dorrta de um resfriamento 
o doo *oui oltrnls o *ote annc*. Impo- 
tente e qua.l aurd», eAo ü senis tvtl»las 
cuidadosa mente eactdhliaa pila família o 
nào conversa sendo do acu raua^» tAo 
diversa mento gterv>»o. Eapera-re jxúcr 
poupar set sen» ultimo» dia» o d r de 
um wniparcciracfclo persnte tribo- 
ual ctmo acciaalo d« concuiaVo o sbeso 
de coniança. K q«»e o vclbo bomom po- 
pular morra Ignoondo a vergeoba e a 
deg-adaçio dc nr.u proounda • qt»M <lc 
«ima coódemsaçAo em policia correcdo- 
nal. me uno sendo c*«a coodcmaaçAo peo- 
lerUa por um prcaldrnto de Tribunal de 
Appellaçio. uairo tribunsl que fWe jul- 
gar un fraucr/ honrado core a Oraa Crtw 
« a Lcjlio de Honra. 

Psrh, t3 de ooreesbra de l-M. 

UOlli 10 OA 0»»IA. 


de 

al 


de 

rta 

ara 


A!roroçou-se toda a geuti directa ou 
lolireclsmcale comproaM. Wa oa ques- 
tão. Acermkram-ae os oilw antigos c 
as mis paivk» encoberto» »ob % cnj«n dc 
boas Motlraeotw —cip*^ 0 jesliçs. 
necessidade de resolver duriJai .iftroiilo- 
• 0 * |ora os bancas de bem, caluraaUdo». 
etc. — lançar am sa cerno ums msii-hs 
daniaada »obre refutações rcípciUvcl» 
ati squl • IntaeUS para o publico. 

Ti c» Jornses de opposíç-»o perroaneste 
-La Cu<unSr, Ia llfcv 1 ‘uroU • L'J*- 
ir^mtiçtuni — abriram a campanha daa 
denuncia* pemaes centra o* Itomen» p«* 
UHco* e desde bontem s Comrrfc. anttço 
orgAo boelanirista, Inoçsvs ums accuai- 
centra o Sr. Ktoqurt. prc.McnU* da 
C»mara «lo* Deputados. Q*wn<o presi- 
dente de eoasctbo, dia clls, o Sr. Kioqwt 
obrigo* e coeiaetbo d* alminiUiaçie «h* 
PatumA n eslregar-lbe ire/eniea »U 
fnocos. que lo ram **Mm dutrlbuWo» : 
cem mil para as despr/as da caodidatura 
J seques coutrs o gfncrnl Doclanger ( que 
|t»fiboo a ekiçAo. como csU# todo» lem- 
bradas), Ctm mil para um Jornal da 
nutüii e oa onlros com rsra outro jornal 
da Urde. Parecia qne olaffoom dctls 
farer cafco de ama accosaçlo cm qira s.\o 
ir spreacaUin os fac-slnslks de r«íl>* e 
oalro» documento» dc que i lào prxfccs 
a pequena imprensa em apanhando « n 
escsndalo s a>K « os snliiroe mctnbrô* 
do gabinete HoqtKl aaa convertas pelo* 
corredores da csmsra gracejavam á pro- 
podb) da denuncia: 

— Iteccljcfim* trcientoa mil francos, 
Jna. nma mlocria... quem ê que nào n- 
erbe treiintos nril froncosl... 

Ma» o pmidcnle ds cara.ua nüo tomou 
n cousa por esse lado r. assim que foi 
votada a Lrouie-ruouxc a kl sobre a im- 
pressa q*ic. cora aa emenda», ficou tda 
dnconjunUda e IneCku, p»r »l;»»al. k- 
rtniou-se eo ks kgar e r<dm a atlcnçAd 
da ssserabka para uma decliraçb». 

Fea-«c logo um silencio ab>oluto. 

• Anlrs dc dor s palavra oo prisotirs 
orador luscrl;-4o piro s dhcusvà » ib* ln- 
trrpcllaçdca ao govetno sobre • q-»o»iAo 
da r»oa;ni, disso o Sr. ITo-picl 


Uccsça ú OA.ar» para rc»i»oa*lcr <» duas | CuP 


;bp- 

aU 

,re 

este 

lade 

ms 

?er 

•tos. 

e* 

». 

• fa 
rada 
tx 

pr*» 

S do 

r • 

tra- 

t c« 

:ncl 
t era 


mure 
o q*< 

pallb 

D»i« 

Mo 

Al ij 


Er. 
lenta 
com 
pnrd 
cl I cu 
eiijo 
E 

• bo 

volv 

0 

d‘oqt 

sc-ll 

pasn 

vam 

qt»e 

tou. 

So 

da s 

Ui 

sim 

ca ■ 
cria 
pert 
lv ti 
mal 
And 
««*• 


O 
Uns 

Wloegi 


lera 

um; 

dc 

mer 

clb 

a ui 


csC 


Ma 


palavras a a-cgAçCe» proJuWa* coalra 
tlm. 

• Smi breve. Affirwo perante s ca- 
trm-a que. ms eireumslaach* de qoe 
U.^u-#e, nlo oú nunen excrvl |re*i.Vo 
slguraasoVo quom quer qac sejn, alo 
iu auces ealgl cousa slguran, mns ssd « 
pedi, nada ubtotuuncab rcccU e tada 
distribui* 

• U gavern» q^e eu tire a hmra do 
pvesniir f« lesi e probo. A Mlminldra- 
çlo qac n»t coube partlcnlarascnt?, s do 
aitsislerio do intetior • da se^ursisça 
jvrat Um a cussclcacla |ura o •• mloe 
limpas. 

• JaoaU Ura eu s atsiada dc accettar 

e dc cvsxrrar a bocra de presidir a ou 
MKobSQAi ae sohtc 0 rn«u pisudo nií- 
nistcrial pod.s»o pairar a knibrasç«.nt« 
digo jade um ado culpado, mas laesico 
de «i .i Actie»|*l«oco. • 

Uran losga e i.naslme sal«a dc patmas 
se.^hou c»ta U«eUraçio. 

X cau» • a lei aa seu proUtuie nua 
oiaçlu cilírara, « to-*»» k pre paravsa* 
par» tM^nr-K* limpa dc «aiW» c c-tt- 
Kvtncla icianto cs iras eiciSmes ccom 
wiüintv*. pel» mom» pr«c»so slmple» 

< expoditc. quail primllhc^ de rcíutsr 
uon arcu .>;3o » ;:a [rara», por uoa t:s- 
U.taçilo tsMbetaaca prova», nu* carre- '*• 
g»J» de Í11IÍÍBS5Í0. 

i -! ■ li;. . V 'T' ’ ■ í * ’,!n' ^ . 

•\r/«li«..l!viíá'Je->íai.:r£.'í c iJríiVijt*. 

ura Ilio c . Mtiiútro d. d. «Ire 

w6je i i* lUi;W > m 


d 

vu 

*1 

r>i 

< 

Ml 

f.l 


Ji 

Ei 

iil 


A questão do Panamá (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1007 


Anno XIX 



M&uasirv UUKUN r 




A política e o Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 4, p. 1-2, 4 jan. 

1893. 




1008 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


& Píll ITir.A E 0 PANAMÁ ItnpoJIr do conlCnunr longa vl.gom." O 
A. rULI I IUA t U sr. CmMMMhv rrl.lor da eomwU.lt» 

Svmvauí,. — X ui» mlnliUrlil. — O tMdiri» «m do orçamento, republicano moderado, lio* 

iriom do Influencia r po.eulhdo ■> me- 
loiwriM. - »I d»s< i».miw«'Im. - Nrs«i« lhores relaçSei pollilcai, (ambem não 

:%rD«ir: l .7r ,, r o i A r r *; nd / 

por j*riucl|uu«. o Nr. Dcvolle, rnloUâro dcmhilonario d» 

agricultura, u tentar combinnçAc* quo 
O iinleo resullado claro o apreciarei s .,| vcra ,i gulls m inlstro« do gabinete em 
que sitò »Rora lem tido n q»c»lIo do 1 a- crlso. > . 

nainA foi a dcmltsfto do mlnUtorto* No Tudo hto porque a Cómmiislo de ln«' 
sua lossiio dc icRundn-felra, 2* de novem- q U< » r ito, a juefh o Sr. Hlcard tlnhaim*' 
bro, a Camara doaDopulados rejeitou por pnidontcmenfc promeUldo’communlcaçio‘ 
«ma maioria dr 2U3 votos contra jv-’. j 09 A „t os ,j 0 procciio judiciário do Pa- 
uma ordem do dia pura e simples, pedida cn t rou em C dni1 Icto com a magls-' 

pelo governo, em seguida a uma di«CM- trA tura pvriüVAvto dc iltriUiç&o de p.o- 
s3o, cm que tomaram |arto os Srs. I»a j crM> 

Ferronaye c UriíWi do uma parlo e da Qunndo a commlssáo parlamentar do 
oníra o mlnlalrqdajtlillça o o presidente i ngner |^ reolamoii o» nutas judiciários 
, do conselho. A questão, posla pelo mar- p lra Mr0)n examinado» por alia, os adro». 

quez de I.a Fcrronays o transformada cm ga j 0>I j 0 j inculpados no processo *m eor- 
■ intcrpcllaçlo pelo Sr. BrUson, prcslilon o rff< ,j 0nj | reivindicaram altlvamcnlo í» 
da f»mosa'Coromlssão dc lnqtflsrilo, tuter* , ltrollol defesa, 0 procurador Bcrdl 
I ngava o governo sobre os boalos contra- m(ln |t C5 { 0u _ M cm contrario, amngislra* 
. dictorios que se espalharam a respeito a tl|rs cn , j <s0 protcslou contra a irregu- 
I morte do barão .lacqucs de Uetnach. loridado da reclamação. 


' Por que não abriu n justiça um Iaque- ,, g Sr> Prlníl) juij (lo llu j ruo<io ,)„ 

. rito sobre as causas d essa morto su ma, pTOCt , ÍO( q ll0 p,p M j e p 0r perante a com- 

• sobrevinda justamente na vespera do < ia |n [ ss - l9 (| rcperlandose em tudo aos autos 

• em quo o Sr. Rclnacli la ser citado a j H j| c j„.| 0Sj a [Urinara que, som se Impor» 
i comparecer como Implicado no processo ^ C0In 0 nome qo S corrompidos, tinba 
e do Panamá? Por qn/ não foram pos os c i 19 gado á convicção dc que houvera cor- 
? srllos do justiça no domicilio do defunto c n ,pçj 0 c que ni0 [ oram c | nc0 mllliõo» 

náo foram apprchcndidos os seus papeisr 5 ^ nicn te, mas nove niilhOca o tanto, o 
e Por que, descurando d essas medidas e q UC 0 bar.ão do Relaach despea lera e >m 

• costume, deixou-so propagar o boato e p 0 [jti 0o ,, publicistas o homens do immJq 
” ter aido (Iclicia a Inhumaçto feita As na campanha para aucloi isaçio «Ia emis- 

j. pressas nos arredores de ltoauvais, e quasi sí0 ,| os (j( u ] os g. norteio, o Sr. Prinet 

lc ás escondidas, não havendo dentro do p 0 j q llaí | rcprohcndldo pelo sou superior 
0 esquife mortuário outra cousa scnSo achas ] 1 j orarc ) 1 ; c0p „ primeiro presidente do Tri- 

0 de lenha? Porque náo se desmentiu a (J c AppcUaçAo, o Sr. Pcrivicr, qua 

o, voa que dá o barlo do Holnsch como 0 nJo auc iorlsado’ a lt fator tal 

i- vivo o escapo á acção da justiça, cem co- j 0 j X ,víçAo . 

,0 nheelmento, senão com a cumplicidade do Kntre lauto a commissSo não descança 
governo? no seu empenho do, fazer n.luz — uma 

le A resposta do Sr. Kicard, guarda dos j UJt vaeillanto o turva, desagradaicl — 

•• sólios, ministroda justiça, foi uma fugida s0 [, re os vcn didos do parlamento.' K em- 
ío para traz da legalidade. quanto a camara não vota para » sua 

no A licença para o enterro foi dada cm í0mm | ís y 0 cspcclai poderes equivalentes 
10 virtude dc attcslado do medico compc- nos j 0 j u | £ j c iustrueçáo (proposta doa 
tente, que declarou o barão de Ucinacb grs pouge, Leygues o Pourqucry da 

1 morto dc uma congestão cerebral. A or- nois&cHn, para ser discutida na primeira 

Ir. dem dc autopsia dc um defunto aó se pd«le scss; - 10 cm q„c 50 apresente o novo minis- 
c- dar cm justiça quando ha prcsump;ão dc s cr i 0 j, T j 0 dcslllando diante do tribunal 
ião erlmo. o isso mesmo quando essa pre- p a , -lamentar dos 33, aquellcs que por soa 
:3o siimpçáo chegou á altura do uma con- |j,. rc vontade resolvcm-sc a trazer a pu- 
de vicçáó na consciência do magistrado, 0 seu contingente de revelaçõc» 

m, Ora o Sr. Ricard não teve essa convicção, escandalosa^ interessantes ou anodynas. 

:cl Não polia pois om sua consciência or- Alguns fazem rir : o cocheiro do ban- 

denar a autopsia. queiró Proppor, por exemplo, que decla- 

A apposição dos sclloscssa sò podia ser pay ler conduzido o amo á gare du Nord 
:ho ordenada pela jnrisdicçSo competente que „ 0 dia cm q„ 0 f 0 | enterrado o barão d» 
«es tem direito de pcrqmsição c opprchensão. pcinarb em Beaurais, facto naturalis- 
az, Foi o que fez o Tribunal de ApprlIaçSr, s [ mo 0 explicável por si: limquanto n»‘ 
cni no dia 25, tres dias depois da morto do rec inlo augusto o homem depunha cheio, . 
eas homem, mas todo o mundo sabe que cm ( Crrori na rul dc Borgonha. exposto,’ 
e- justiça nunca é tarde. . . pari salvar prln- J0 fri0i ,, m continuo da camara guardar* 
cipíos c formalidades. o conpA do banqueiro. 

1 de A peroração do minislro foi cheia de Dizem agora que vão citar as cocotlel 
pc- eloquência, dc grandc3 phrasos c exhibl- antigas e actuac3 amigos do Artoa para,’ 
i’n- ção dc dlgnldado c consciência do dever sl (,c r cm onde pára este fuc~(ahtm do 
C umnrido° Mas não produziu nenhum Darão de Ucinacb. listo Arlon, que outro» 
i sl- cfYcito. conhecem por Arou, pessoas quo o viram 

5 o A camara eslava Indisposta para. alten- n0 Rjo de Janeiro o cm S. Paulo; bndo 
stro del-o. O discurso do. Sr. Brisson, presi- c || 0 viveu longos aonos c de onde voltei 
dente da commissão dos 33, apontando no css! ,j 0 C om uma brasileira, dizem quo 
ministro da justiça o artigo ãl do codigo „j 0 Si1 |,| u ,| c Parlz c que a policia não o 
veis de instrueçâo criminal que' prescrevo ao q Ucr #c |, ar> porque -isso náo convém aos 
im- procurador da Republica 0 dever dc, cm |„i orclul ]oT. Sáo tantos os Intercssadoa 
as a coso de morte violenta ou cuja causa seja cm qll0 B j 0 remexam nVsscs papei* 
esta desconhecida ou suspeita, transportar-se, velhos, cheios do iwccados mofçntos! 

paro junte do eadaver. aeompauhado de 0 s ,.. Antonin Prouxt leve de cxpli- 


A política e o Panamá (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1009 


.to 

\0 

Ao 

ria 

»1a 

da 

MV, 

>H 

to- 


dous modlcos, c insistindo pela necessi- 
dade de um inquérito mcdico-legal, pro- 
parou n recusa da ordem do dia pura e 
simples que o governo, pela vo/, do Sr. 
Lpubct, reclamava o a votação que deu com 
gabinete Loubct por terra. 

Por uma ordem do dia do Sr. Mttlcvoyc 
assim sc exprimiria a camara : •lamen- 
tando que o Sr. guarda dos scllos não 
lenha tomado por occasião da morte do 
Sr. Kcinach as medidas que a situação 
comportava, a cornara passa á ordem do 
dia.» . 

Era duro. O Sr. Brisson quis altcnuar 
a cousa o propoz a sua: *'A camara, as- 
sociando-se ao desejo exprimido pela sua 
Coirímissao de Inquérito, passa n ordem 
do dia. » 

O Sr. Loubct, presidente do conselho, 
subiu h tribuna. Fizeram muito barulho, 
impediram-no dc concluir o aoudiscurio 
c elle desceu gritando: « Si vott* croycz 
que c*est ainsi qu*on pôiit gouverner gou- 
vernez vous-mêmes. Jc n’oi plus rlon á 
vous rèpondrc . » lí, ji do seu banco, dc- 
ciarou cm alta voz :-«0 governo repcllc 
a ordem do dia do Sr. Bri«on. As nossas 
intem ões. os nossos actos são conUnua- 
menle suspeitados. Sou interrompido a 
cada instanto á direita c â esquerda. 
Digo e repito que não ba governo po-sivcl 
cm tacs condições. »* 

O Sr. Maujan propoz ainda uma ordem 
do dia alliviada c compromissorla: « A ca 
n.ara, confiando no governo... » Mas o 
Sr. Loubct, zangado e decidido, declarou 
que cada um tem asna maneira do salvar 
a sua dignidade o responsabilidade, que 
o governo tendo declarado á camara pela 
bocca do guarda dos scllos a que elle sup- 
nnnha zer a lei c as razões pelas quaos 
não podia aeccdcr ao desejo dacom- 
missúo, não pò.dc mudar de opinião, por 
mais testemunhos de confiança qucjhc 
«leem. Ueclamou, portanto, a ord.^ do 
dia pura c simples, que foi rcjeityía por 
203 votos contra 105 e, tendo os níiiiUtros 
deixado immcdiatamcntc a saly a mdçao 
do Sr. Brisson, supprtmido o addendo 
ebeio dc confiança do Sr. Maujan, foi vo 
tada por 323 votos contra tres. 

Nunca se viu ministério mais bem cn 
terrado. Foi o Sr. Ricard que lhe trouxe 
o enguiço, com a sua alcunha dc «• Bclla 
Eatma», que, não sc sabe por que, ridl 
culhava o. Uma coir.ç|dçncia curiosa foi 
a do suicídio, no mesmo dia do queda do 
ministério, de uma rapariga com a mesma 
alcunha do ministro da justiça, que veiti 
de Dordeaux matar-se á porta do ingrato 
amante, filho do um negociante da rua 
Yivicnnc. O Sr. Ricard cra a * Delia Fa- 
tt.m V dc I touco c foi o Panamá que o 
arrasou. 

Tambsm a situação política creadA 
pela sua fu ri a do honestidade governa- 
mental difllcnltft sériamente a formação 
de um gabinete composto de elementos 
do mesmo grupo. Não cabe aqui expor 
miudanicnle as phascs c Incidentes de 
uma crlso ministerial. Basta que sc diga 
que o Sr. Brisson, herdeiro indicado da 
succcssão Loubct. dcpois’dc ler feito pro- 
messas graves o dado mostras do um des- 
interesse político do outras eras, pro- 
pondo-so a organisar um ministério sem 
assumir a sua chefia, teve do renunciar á 
sua om preza, em consequcoeia da recusa 
dos Srs. Casimir— Péricr c Bourgcois dc 
tomarem parto na combinação. 

' A. commissào des XI crs a grande pedra 
posta no çamiuhq dc um governo para o | 


stri* 

irsáo 


com- 

telc- 

icicm 

»*re- 

npre- 
e^tre 
vo do 
jreve 
erem 
incia 


car cm publico o que vem a ser um syn* 
dieato do garantia de uma emissão, os 
riscos c perígos que correm os que n’ellc# 
tomam parte, por opposiçào ás pequenas 
vantagens que d’abi pódem provir. Fran* 
camentc, cu também acho quo alguns 
milheiros de francos dc lucros prováveis 
não compensam para um homem político 
o desprestigio dc ter tomado parle n’ums 
patota financeira. Mas as despezas for* 
çada* quo traz a frequentação das lindas 
mulheres e os encargos de um orçamento 
sobrecarregado de verbas cxtraordlnarial 
para quem c homem do mundo obrigam 
ou antes facilitam as translgcucias com o 
respeito da posição. 

Digo respeito da posiçAo, porque pà* 
rcce quo partieularmente actos frTcstc são 
classificados sob a rubrica nepociot, que 
escondo muita carga avariada, lí o ho- 
mem publico, legislador ou funccionario 
acha muitas vezes meio do descriminar- , 
sc separando os proventos dos negocios 
privados da sna opinião como adminis- 
trador da cousa publica, no parlamen- 
to ou na secretaria dc listado. 

«Ganhei vinte o cinco mil francos na 
emissão do Panamá, disso cm substaucia 
o senador Lèon Renault quando lhe apre- 
sentaram dons cheques recebidos cm soo 
nomo que foram cucontrmlos entre os 
vinte c seis sacados pelo liarão do Rci- 
nach contra a casa Thlcrrcc, mas tinha 
perdido quarenta c tantos mil n*um ne- 
gocio particular com o barão do Rein^cli 
o esse dinheiro não cra mais que uma 
indemntsaçio quo elle me qUlz conceder. 
Qanto ao voto favorável tt emissão, que ea 
tinha dado- tres semanas antes, não penso 
quo sc lhe i->. i sa altribuir aêriamcnto um 
caracter interesseiro. 

O barão dc Rcinach nunca me faltou 
tfisso. liu cra companheiro dc infancia 
do Charlas dc Lcsseps. Isso e a minha 
opinião pessoal Justificam arcplamente o 
meu veto.» 

O Sr. Alberto Orêvy, irmão do que 
foi presidente da Republica, não explicou 
um cheque do vlnto mil francos do ma- 
neira nenhuma, declarou que protestava 
contra o procedimento irrogu'ar o aibl- 
trario da commissào. Fez cllc muito bcm.j 
Diabos levem tal commissào mexcri- 
queirat Diz o Sr. Grêvy que cila ainda 
dú com a Republica cm terra. 

Entre os 1*0 clicqucs, representando a 
somma dc tres mllhõos c novecentos mil 
francos, que o barão do Rcinach sacou 
contra o Banco dc França por intermédio 
,1a casa Thlcrrcè só esse dous nomçs co- 
nhecidos na poiitica so encontram. 

Os outros cheques recebidos por hemera 
de negoebi, empregados dc escrlptorlo? 
pessoas quaesquer, supp5c-se quo não 
poderão servir de prova contra ninguém. 
Alguns dos que o receberam vão decla- 
rando que o Panamá não tem nada com 
isso, que receberam aquilio por negocio# 
particulares etc... 

E é. Olhem que tudo isto são nogooloi 
muito particulares. , 

Para que remexer cm negocios parti- 
culares, a proposlto de não sei que neces- 
sidade do varrer testadas políticas? A 
varredura faz uma poeirada que vai su- 
jando tudo c suíTocaudo a gente. 

límquanlo a commlssAo do inquertte 
parlamentar trabalha, os dous jornacs 
justiceiro, La Cor arde ç La Libre Pa- 
role vão fornecendo diariamente ao pasto 
da curiosidade publica novas denunciar 
ou mWrtfJfí. Trovas c deso*íu*idoi cru 


3 

z,hi'.u una cõluiuoas alo todos os dum' 1 . • 

Vai Miado uma furta esto hmnenso ejennie 
publico da boncslldndo política c par- 
tlcaal.r (csU entendido quo lua duas) dos ^ 
homens Influente». Ninguém pensa no 
estrangeiro que ao regozija com a dc»mo- iv 
rslisação do» JormillatM que o Injuil.wn cs 
por babllu orgulhoso, ou quo deploro o M 
ales prestigio quo «om Isto sotTrc n mãí-pn- iu 
trla latina, n gloriosa o elvllisada França. so 
tanto mal» Irrltanto esto prurido ™ 
lio curlosldado cm torno alo omprego do c0 
mela diizlo do ntllliões, quanto nlnguom 
mais so occnpn com o rumo quo lovarom 
as dezenas do oulros qnc ncnlauma cs- ^ 
erlpluraç.lo Jusllllca, a» ccnlen.is d’cllcs p 
quo foram llttcralmonto desperdiçada» d< 
n'cssa colossal cspceulaçlo quo absorvem ^ 
perlo do dou» mil mllllbts do* pcquona» ré 
economias do povo francoz. O perito cm m 
escrlpliiroçSo junto no primeiro Tribunal £ 
do AppcIlaçSo do 1’orlz, o Sr. Hosslgnol 
declarou quo mil o seiscentos mllbpcs \ 
do francos tinbam sido empregados nos n' 
trabalhos do Isthmo, ecm mllbbts para J 
empregos c salários o trezentos milhões j t 
para primeiras despezas. Sobre esta ul- d 
lima somma 30 milhões tinham sido 
consumidos pola commissào do syudi- 
ealo o 20 milhões empregados cm publi- 
cidade. 

Ora pareço quo cm K milhões quo nõo 
aabiram dc 1’arlz, ha tnargom para favo- t 
reocr amigos o abafar Inimigos. As som- 
mas com quo so pretendem esmagnr n t 
íjnprcnsa sío tilo ridículas quo 0 dircclor 
do Oauloh vai Intentar um processo 
çontra o Sr. Rosslgnol. por ter esto dc- r 
clorado na sua deposição que o Gaulolt t 
,6 recebera dezeseto mil francos por des- j 
pezas dc publicidade (la emissão do I’a- 
oapiá. ' 

••Entendo o Sr. Adolpho Meycr que n ' 
menção dc tão ridícula somma desnere- , 
dita o seu jornal que mereceu muito mais < 
e que recebeu rcalmcnte multo mais do J 
quo dczcselc mil francos. Ao mesmo f 
tempo qne uma recllrtcação da mais re- 
tumbante publicidade, pretendo o Sr. ' 
Meycr provocar uma questão dc principio 1 
quanlo ao pagamento da publicidade jor- 
nalística. 

Isto fecha bem uma chronioa. 

Douicto ua Gama. • 

Parlz, D dc dezembro dc 18?2. 


A política e o Panamá (detalhe) 


1010 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Hio de Janeiro — Sexta-feira 0 do Janoiro do 1893 

CSZETA DE NOTICIAS 


H. 5 



mmimuamim 




SlorootyfuiU • imprMM mi bmMbm roUtir** d* M»rlao»l. M typoffrtphU d* 

•ociedv3o w:onym» « Gazeta do Noticias» 


1 questão is Pisam! 


0 Mito POLÍTICO 


o um umeim 


COSTUMES 


A questão do Panamá. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 5, p. 1-2, 6 jan. 

1893. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1011 


i questão do Pauaniá 

Scnmams.— 0 boto m|n!tf?rio.--tJm roto mom- 
dalo o & Jemluto tio Sr. itouvicr.— A UUiorla 
dé t'»rneliu» llor* o o inlciilin ilo liarão do IUI- 
nacli.— A ff tu da poldlra opporiumilt.— S«uio 
lantiUimn na camara, mi m>Iu d« maluda.— 

0 lufuUirrla, a Uopublica, tudo ilroroçado.— A 
reuda pnblloa Uiiao. 

No Bicsmo dia cm que cu lhes escrevia, 
dando parto das dldlculdades que encon- 
travam os homens da aclual poülica para 
a organisaçüo de um ministério vlavcl, o 
Sr. Itibot npresentuva ao prcsldcolc^da 
Republica uma lista, que foi aecclta. 

Ministério 6 cllc ; viovel 6 que não pa- 
recc. Tem contra si o ser um gablnelo 
reformado, cm ve i de ser feito com cie* 
mentos novos. Dos antigos ministros do 
gnbineto I.oubH sd foram, çxcluldos ns 
Srs. Ricard (substituído na pasta da jus- 
tiça pelo Sr. Dourgeois, ministro da in- 
atrueçáo publica) {o J tiles Rochc, substi- 
tuído pelo Sr. Slcgfrled, deputado do 
Havro. De fúra entrou mais o Sr.Dupny, 
para a Instrucçáo publica. 

0 Sr. Rlbot, multo sympalhlco A ca • 
maru e ao paiz pela sua hábil adminis- 
tração nos negoclos estrangeiros, foi 
muito, J>em recebido no dia da apresentação 
do ministério. Mas as cousas «ão podiam 
durar. 

No dia seguinte, um artigo dc acnsação 
do Figaro dava a blographía do Corne- 
lius Ilerz, um dos endossantes do cheques, 
cujo nomo foi encontrado entro os , vinte 
c seis apprehendidos cm casa do Sr. 
Tliicrréo como lendo recobldo cm duas 
vezes dous mllhõci. 

Esso Coraeilus Ilerz, um allcmAo quo 
se natural Isou americano o por lá so fez 
doutor, era em Parir o grando especu- 
lador de cousas da electricidade. Tempo 
houve cm quo ello obtinha e vonclia con- 
ccssScs do telephones, commanditava a 
Justice (jornal do Sr. Clòmenceau), sus- 
tentava com o» seus capitees a lista ra- 
dical nas eleições do 1885, era nomeado 
successivamento ofllcial, comnicndador e 
grande-ofliclal da Legião de Honra. 

Os ministros da Republica faziam por 
ollo.o quo pelos seus favoritos nSo podem 
mala fazer os reis, sem cscandalisar a 
opinião. 

A proposilo das suas relações com o 
barão dc Rcl n ac h, disse o Figaro que Alio 
passara om cua companhia e na dos Srs. 
Clèmcnceau e ItonvUr a maior parto do 
dia 19 dc novembro, e que no dia segninte 
partira par» Londres pelo Club-Train, ás' 
3 horas da tarde, quando jã a noticia dn 
morto do seu amigo começava a espa- j 
lltar se por Pari*. 

0 Sr. Clèmcnceau, rectWeando os In- 
formações do artigo nnonyrrto do Figaro, 
declarou no dia seguinte quo tinha real- 
mente sido procurado na camara dos 
deputados pelo Sr. Itouvicr, ministro das 
finanças, quo acompanhava o barão do 
Relnacb, c quo aqucllc lhe pedira a sua 
assistência a *uma entrevista em que 
nqoalje ia pedir ao Sr. Cornelius Ilerz 
quo ptiiesse om jogo as suas relações, dc 
uma influencia cílicaz.Hiara fazer cessar os 
ataques do quo ello era alvo, c quo não 
tardariam cm fazêl-o implicar n’um pro- 
cesso perigoso. 0 Sr. Clcmenccau ncccdcu 
ao pedido c os tres sc reuniram ás 7 horas 
da noite em caso do Sr. Ilerz. Mas a en- 
trevista não durou dez minutos, o logo As 
primeiras palavras o americano influente 
mie não se achava cm condições 


j 0 cnn '‘ 1 de 1'ãuamAJd estàbem avançado, 
quo sc acha n melo caminho do Versall- 
Ics, para o Congresso. 

Emquanto isso. os InterpellaçCos so 
sueccdwn o as sessões da camara pouco 
ndlnnlam, aenflo para o doscrodito do 
governo, irontcm diicúllti-aV. um pro- 
Jocto do Jcl do Sr. Pourqiiery |de Iloliso- 
rln, conferindo A commlnsáo parlamentar 
do inquérito allrlbulções cxtraordloarias 
cm concurPMicla com os do poder Judi- 
ciário. 0 Sr . DrUfton, presidento dacom- 
missilo, podia o adiamento da discussão 
por indjfyortuna. 0 governo reclamava a 
discussão ImmcdTftta^ por neccMÍdado do 
impòr-so á auclorldrido govcrnrnientaJ, 
quo n votação da lei viria cercear. lí a 
Sr. Rlbot venceu o Sr. IMsson, o sou 
amigo Brlison, por grando maioria. 

Mas quando passou-so A discussão do 
projecto, enxertaram-so n’cllo vários in- 
cid entes quo fizera m-n'o passar para o 
segundo plano. 

Ninguém escutou os juristas quo dis- 
cutiram o prd o o contra do projecto, mas 
lodos intervieram na discussão catre os 
Srs. Provost-Dolaunay, deputado da di- 
reita, e o Sr. Treyclnet, sobro os títulos 
quo tinha o Cornelius Ilerz ao grnnde- 
olllcialato da Legião do Honra. OSr. Trcy- 
clnct respondeu com multa energia quo 
Unha sido como sabio. 

A camara achou a cousa engraçada, o 
então o velho ministro da guerra, quo 
também 6 sabio, zangou-so e deu oxpli- 
caçõea multo eloquontes que convenceram 
a quasi todo ò mundo. 0 Sr. Olèmen- 
ceau também Intcrvclu, quando so faliou 
na recommcndaçAo do polítioos Influentes, 
os membros da direita fizeram multo ba- 
rulho, o flnalmcnto, encerrada a discus- 
são geral, para passar-so ao voto sobre a 
discussão dos artigos, rebentou uma dis- 
puta torrivol ontre o presidente do con- 
selho o o seu amigo Brisson, cm seguida 
i qual o governo eslabeleeou a questão • 
dc confiança. Votou-so no ateio dc uma 
ruidosa o febrii agitação, quo durou vlnto 
minutos, c finalmentc, pelas seis e meia, 
soube-se que o governo ainda possuo na 
camara uma maioria, pequena na vorda- 
de, pois quo a passagem á discussão dos 
artigos foi votada por 271 contra 265, mas 
ató sabbado 6 quanto bula. £ 

K jã dopolsdo levantada a sessão, os do- 
putadosflcnrnm norcclutoaberrar, quasi a 
brigar, o Sr. Btuidry d r Asson gesticulando 
c gritando: «Viva a justiçai abaixo os 
ladrões U e outros a der vivas à Re- 
publica. ^ 

- Ah I elta esiá bem com6a1ida, a Repu- 
blica, a opportNnista ao menos... 

0 Figaro, quo è uma cspecle do rato 
que abandona os navios que fazem agua 
(lembram-so do Boulangismo?), jà co- 
meça a achal-a mal. 

Ainda hontem publicava ello notas blo- 
grqpbicas sobro os pretendente* a osso 
tbrono do Tranço, quo jà pertenço à 
historia. 0 quo vai de esperanças' sob 
esta vergonhosa agitação do ofllos o do. «i 
receios. .. Ha cousas quo- se pensam, mas. ? 
que so não escrevem. „ V* 

Paria, Hl do dezembro do 1802. 

Domicio na Gama, 


O Diário Ofjlcial publica bojo o so* 
guinto : 

« Manifestação .— Completando n notí- 
cia quo demos ha dias soVe as saudações 
que a oornoraçAo tynogrnphica do Diário 
Offíciat diriciu no dia 1 do corrente ao 


uv - — — 

da noite em casa do Sr. Ilerz. Mas a en- 
trevisto não durou dez minutos, o logo ás 
primeiras palavras o americano Influcotc ( 
declarou quo nio «a achara cm condições < 
do prcslar o serviço quo reclamavam I 
d’cllc. 1’arcco quo antorlormcnte ello U- j 
nlia dado a entender quo poderia prestar , 
osso aervlço: agora reconhecia que ora t 
Isso impossível. 

O Sr. Uclnach escutou essas palavra» , 
som dizer nado, r, voltaodo-ie para o Sr, j 
C16mcnc.au, pcdlu-lhe que o acompa- 
nhasse á ca.a do Sr. Constan», quo -na ‘ 
opinião do cortos jornacs — podia teria- ; 
finepeia sobre uma das pe6soas quo o t 
atacavam. J 

Chegados á rua des Ecurlc» d’Artols, o , 
Sr. Constan» dcclnrou-lhcs cora n maior 
energia quo não tinha acçlo alguma, dl- < 
recta ou indirecta, sobre as pessoas que ^ 
promoviam a campanha, «Cioco minutos I 
dcpol», diz o Sr. Clèmcnceau, noa despo- i 
dlamosdo Sr. Constans. Na rua separei- ■ 
mo do Sr. ltcinach. pile mo disso : Ettou 
per tido. Nilo tornei a vêl-o. i 
O artigo da Justice produziu um resul- , 
lado facil de prever: no dia eeguluto o I 
Sr. Rouvlcr nprescalava-se á camara, 
tendo dado a sua demissão do ministro 
dss finanças, o explicava asuainlcrvençlo 
purnmonto amlgavel om todas nqucllss 
1 negociações infructltoros do barBo de , 
‘ Rtinach, cm seguida ás quacs elleentrara 
. em casa para sulcldar-sc. O Sr. Dcrou- 
i léde nfccusouo brutalmentc, ollc defendeu- 
1 so como poude c o Incidente foi encerrado. 

E o Sr. Itouvler foi enterrado politlca- 
I mento, nas vésperas mesmo deordensr-se 
a oxhumaçào c a autopsia do barão de_ 
Rclnach, primeira divergência do minls- 
i lerlo renovado com a oplnldo do anllgo 
ministério. 

1 O Sr. Tirard, antigo mlnlslro do varlos 
' gabinetes, ministro do gabinete da expo- 
' siçSo, foi chamado pelo Sr. Carnot para 
substituir o Sr. Rouvlcr. E os fundos 
públicos, depois de uma ligeira deprcssdo, 

' subiram trinta cêntimos na bolsa da 
í noile, cm seguida á demissão do Sr. Rou- 

• vier, abandonado pclos qua pareciam seus 
’ amigos, a reprovação universal. Um ar- 
1 tlgodo Jornal dosDcbatcs, partlcularmcnte 
r duro.asslgnalcn a obscuridade que contl- 
> núa.a,palrar sobre a personalidade desse 

■ Cornelius Hera, d'csso especulador estran- 
e gelro, amigo particular do Sr. Froycinct, 

1 promovido aos mais altos gráus da Legião 
0 do Honra o julgado bastante poderoso ou 
e perigoso para que um membro do governo 

0 fosse solicitar a sua Intorvcnção cm favor 
a dc um homem como o barão de Reiuach, 

* comprometlido n'um‘ processo de corru- 

1 pçãoc de peculato. E acccntua o estado 
e de incerteza, dc cnervamento.de onerehin 
>. mora i, a que so neba reduzida a classe 
' dirigente da nação. 

. poriz c a França despertam cada ma- 

■ nbãcom os olhos sobre os jornacs, ã 
0 pro-ura do novo escandaio, do novo nome 
I- atirado cm pasto á suspeita, publica. E do 

governo já nem se esporn um neto dc 
energia quo reprima' um pouco o ima- 
í gioaçJo odienta dos jornalistas de oppor 
siçso. 

0 governo tem mt-4o da camzro, que 
e começa a insubordinar-se, o consta mesmo 
! que o Sr. Carnot não esta tijnquUlp 
- quanto aos resultados da sua poiuiel, . á 

■ «bamada do Sr. Tirard á administração 
" dssBnanças cau«ou uma certa admiração 
. aos que não descobrem no amigo do pre- 
sidente outras qualidades que o recom- 
mendem, sonão a sua perfeita honorabi- 
lidade. Disseram que o Sr. Carnot prevê 
a crise presidencial e quer cahir com os 
seus amigos à ro Jn. Ha quem allirmc que 


A questão do Panamá (detalhe) 





1012 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anno XIX 


Hlo do Xanoiro — Segunda-feira 19 de Janeiro de 1803 


N. 15 

uãmnm 

: GAZETA DE NOTICIAS : 

flB 

mwiwu 

kUMtftO 

avulso «o nv 

1 SiowtTpuU • tuprr — ui twM*m reUUni de lürisai, u lyjefrtpkU d* 1 

Nuacao A W ISO 

CO RI 

Tripa 40000 

r r iTaialTrr'-— 


2-i"Er r *^ t ."rrjn* 

intüzn' *í n/rr^r^** 



i<Vl r» 


i r~;rm ,0 T^ l TT- '■ 

—— .*1*7'" Tt*rm “*■* **~ ] 

“~=»55r-“Ç 


|sa.r:as: 

4-"'.““'~“*~‘[ 




srrrrirjr 



|“=r£írrE:i| 

Ü^l 



Sagsrw 

i mmii to prnil 

*•-' — .rrc- 

jljiríriKsar 

, trÜT*- 

y ■ 

cu» coima a 

u *M Ul«fe. <«•« a~. «■ 

ü> • «—• >•» • *■ • 1 »n W 



“Iírrti=:| 


ípS?Sx;'st5 

ESsssrg 

ELfjsj^sj 

Trrr.rT'-'^^' 

t “ t c .‘nr Í - V 




El RCICRVa.- 


rrrr^Ttmrr.ít 

—m 

: : 

A intervenção 

psSSS: 

ESrèürj 


j*** . 1 — ' 2 

í—rEElEnEE 


L-rrin fjrrff 

Srj.ínrstt:' 


Ertu-Kssns 


. jaaajy.™'. 

teíSSiísr 



aárvrs^S 

rtrrHrHr* 


liÊíSsís 


^rErSrLirx' 

Isttssrr- — 


■pEsSES 

|lslsS3sS 




rErrTErS: 

oiiortu 

'«• C t. 

:Ç7Cr"~" ; - 



iSSSiSsíri 



IÇ^aTilTJSKSS 











A questão do Panamá [segundo texto]. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 

15, p. 1, 16 jan. 1893, 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1013 


A QUESTÃO DO PAilÂMÃ 

PAtuz, 21 da dezembro. 

Esta hlitori» toda do Panamá já vai 
fleando sêriamcnlo desagradavel: para os 
Implicados nas devassas,' pcsqulzas, in- 
formações, processos o denuncias publicas 
ou privadas; para os quo perderam na 
ladroeira colossal o seu magro dlnhclri- 
nbo, c que perdem agora a esperança de 
o rehaver, táo mludamcnto o profusa- 
mente foi clle repartido entre outras 
mãos, que não as dos cavadores do canal 
tiueroceanico ; para os patriotas o homens 
do coração, inimigos do cscandalo quo 
por meia dúzia do homens venaes o cor- 
rompidos envergonha uma nação inteiro; 
o para os desinteressados do negocio, por 
philosophia ou por fatiga da curiosidado 
satisfeita, quo são obrigados a contai-o 
aos loitores, comoso a cousa valcsso inais 
a pena do quo uma intriga de romance 
bem imaginado o escripto. 

Que tudo isto para o chronista desin- 
teressado não passa do cousa cscripia : 
recriminações, censuras, phrnscs indi- 
gnadas, exhiblção do algarismos argen- 
tinos, relações de conversas o conciliábulos 
entre figurões Influentes, cm que se vê a 
grande política republicana do lado de 
dentro como um theatro olhado dos basll- 
dbres, ameaças do- dissolução social, ou 
pelo menos de substituição do regimen 
político por outrò quo não valha mais do 
qpo clle, denegações violentas produzindo 
logo a suspeita do mais uma consciência 
inquieta, desafios, duollos, polemicas par- 
ticulares, que dlstrabem agente da grande 
quesíOo tm/ca, incidentes elevados qi ail 
á importância do acontecimentos, e factos 
capilaes, significativos, perdidos na con- 
fusão do aloucamcnto geral, na gritaria 
ensurdecedora de um turbilhão pânico, 
tudo. isto, para quem está do fóra o não 
sonte o dramnlico da acção, nem sympa- 
thisa com nonlium dos personagens, pa- 
rece cousa cscripia c mal cscripia. 

As questões de collogio o do escola, se 
bem me lembro, não são menos capilaes, 
nem menos complicadas, guardadas as 
proporções com as discussões publicas 
d‘csta importância. 

Também n'ellas a poli tica entra, os 
interesses possoaos so encobrindo sob 
capas sumptuosas, prestigiosas, do senti- 
mentos nobres, cívicos aqui, moraes, do 
brio e hombridade lá c aqui. E lá, cinto 
aqui, triumpha sempro o mais calmo o o 
mais fino, quo 6 o que não se compro- 
E.ctteu desde o começo da acção. 

Quem será na questão Panamá o que 
irá colher os fruetos da campanha de 
(lUTanmçâo ou do moralisação. publica? 
.nara atiom ostarão preparando p bocado,. 


s .para quem ostarão preparando o bocado,. ^ 
r estes oglladores da massa' fermenlida , 
i da indignação popular?' ' ’•*. •' •'< , j 
c - Não sei. Não sou do jogo, não tenho c 
s palpite. Não sou da companhia, não tenho ( 

t camaradsgem quo mo faça prever sympa- 
1 thicamente o resultado da contenda. Faz t 

i um frio do quatro gráus centígrados £ 

* abaixo do zero : é uma temperatura quo c 

I dissuade a gento do ir á praça publica ] 

1 vibrar com o enthusiasmo dos cidadãos ( 

1 que discutem. E por perlo quo so movo ( 

I da caniara, do palacio do justiça, das ( 

f pebOese das redacções, a ln'ormação do , 

I que se passa, chegando cscripia dcslo o , 

1 romper do dia até ás 10 horas da noite, , 

1 polas columnas variegadas do 30 jornacs 

e polos. boletins das agoncias noticiosas, , 

* precipitada, oITcgnnte, ropellda, contra- ( 

* dictoria, mal redigida, informe o Insln- , 

1 cera, perdo para a nossa altenção fatigada | 

< o caracter dramalico o interessante,' para , 

tomar ares do bate-bocca da populaça na , 
1 feira das ambições. ( 

1 Outro phonomono, explicável pola ra- | 
1 pldoz com quo so publicam as noticias, ó , 

I o precoce envelhecimento d'cllas. Um ( 

1 nconloclmonto rolatado polos jornaos da | 

' manhã, das tres horase das nove da noite, 

1 ' tom; troa dias na manhã seguinte,' 0 n 
‘ gentijá falia d'ello como da historiar an- , 

1 | tiga.'. 

A pVlsão dos tres udmlnistradqres do 
I 1 Panamá, (èsquccou-mo dizer-lhes quo o 
' Sr. Caltu. quc suppnnham ter fugfidoí velu 
! 1 do Yienna blzarramento entregar-se A 
1 5 justiça e partilhar dá sorte dos seus col- 
1 1 legas Carlos de Lesseps e Marins Fon- 
! * tane), com todos os seus pormenores 
1 odiosos do transporte om carro ccllular o 
1 3 sujeição ao regimen penitenciário de 
1 3 Mazas, dos nccusados, como se já fossem 
1 3 comlcmnados; a discnssáo ontro os Srs. 

I 3 Clémcnceaii o Paul DerouleJo na camara, 

3 a proposllo de uma questão do Sr. Pro- 
■ 3 vostde Launay no Sr. Froycinct sobre a 
3 condecoração de Corncllns Ilcrz, discussão 
violenta seguida de nm ducllo cheio de 
* peripécias c quo não (evo resultado ; a 
entrada cm scenado Sr. Andrlcnx. antigo 
1 prefeito do policia e antigo deputado, apre- 
J serdando-sc ao Sr. Emmnnucl Arcnocomo 
s o responsável pelos artigos nssignados 
Micros na Libre Parole, c fazendo com as 
^ suas revelações mudar o andamento do 
a Inquérito, promovendo o apparcciniento 
" ilo fumoso talão dos cheques lteiuach, (pie 
o Sr. Tbicrrro declarara ter queimado, e 
- provocando assiui os pedidos á camara e 
n ao senado de suspensão de Immiinidudcs 
parlamentares para dez dos sons membros 
0 (os Srs. lv. Arêiie, Jnlos Iloelic, Rouvicr. 
o Duguí de la Fanconnerle e Antonln 
Proust, deputados, cos Srs. Albert Grévy, 
Lí-un llénault, Dcviu, Tliéveiict o Déral, 
senadores), para serem processados em 
corrccclonal por crime de corrupção no 
-xerciclo das suas fur.cçõcs; tudo isto 


succcdondo-so n'uma semana com uma 
rapidez vertiginosa, n’um arranco de 
resoluções de comlti revolucionário, mal 
tem tempo para so gravar na memória. 

E' um romance, um romance hlslcrlco, 
que precisa do ser bem , contado o expli- 
cado lóngamentè ao amador tio littcratu- 
ra documentada. Ora, a ponta do ilo de 
toda osta embrulhada não so sabe onde 
está, o a intriga & por isso extremamouto 
obscura. 

Nós assistimos a um melodrama sem 
desenlaço prosimamonlo provislo. A vi- 
sita do barão do Ilelnacli, acompanhado 
dos Srs. Cléinenceau c Itonvier, ao Cor- 
nolius Iferz n ao Constans não está ainda 
explicada c já parece cousa velha. 

A mudança de opinião do gabtneto Rl- 
bot quanto nos trabalhos da commissão 
do inquérito, o golpe do auctorldado que 
prendeu o mettou no sogredo 03 adml- 
nlstradoros do Panamá, o alijamento de 
Itouvlor pelo ministério, o pedido do pro- 
curador geral ás cornaras para a sus- 
pensão das garantias parlamentares a 
i dez dos seus membros nccusados do cor- 
1 rupção, e a desigualdade no tratamento 
entro esses dez corrompidos, quo ainda 
não foram presos nem ouvidos om justiç i, 
o os tres corruptores, quo lá estão ua 
geleira ccllular do Mazas, onde as camas 
são redos, o ondo não se accende fogo 
n'osto tempo de pneumonias e rheu- 
matlsmos, as contradicçõcs quo os actos 
da amanhã opporão sem duvida ao 
System» oxpllcatlvo quo nós tivermos 
I combinado hqjc, tornam » leitura deste 
i romance fatigante o desagradavel. Rcsu- 
nill-o om poucas paginai élmpojslvol por 
i emquanto; contar as peripécias prlncl- 
i pacs da acção encheria para cada semana 

• uma pagina inteira da Gazeta.. Esco- 
i lher algumas d'ellas, fornecer notas o 

• perfis ou simples traços pittorescos da 
i grande campanha cm quo está mettlda a 
1 política franccza, 6 tudo o que se póJo 
i fazer, o leitor se incumbindo de tirar os 

> conclusões. 

• E’ o quo so propõe n fazer a correspon- 
; dcncia pariziense da Gazela rf« Noiicias. 
r emquanto não diminuir a agitação que 

> multiplica os acontecimentos em torno 
) dVsto escandaloso processo. 

• (Testa carta não cabo mais senão um 
s boato tratando do uma conjuração para a 

substituição do regimen, que so planeja 

- aproveitando n desrooralisação da rc- 
: publica parlamentar. Os coriphoua d’csso 

• movimento seriam Ed. Drumont, Do 

- roulédc, Andriciix.Rochcfort e... Cornellus 
i Ilcrz! Somprc o homem da electricidade 
i a machinar planos políticos 1 So este não 
: cliega n ter uma legenda popularl. . . 

Também consta que Andrleux vai ser 
preso (clle mesmo .conta com isso), o que 
oSr. Krcycinct, ministro da guerra,, vai 
sçr obrigado a dar a sua demissão. 0 
encerramento das cnmaras duranto as fé- 
rias do (fatal talvez adio caso projecto do 
sabio engenheiro e ministro. 

Finalmcnteo ultimo boato é qnco nome 
do homem influente que o Sr. Audrieux 
não qulz revelar á commissão do inquo- 
rilo, não 6 outro senão o do pai do actual 
presidente da Republica. 

Em tempo de guerra... os senhores 
sabem. 


A questão do Panamá [segundo texto] (detalhe) 




1014 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Armo XIX 

Rto de Janeiro — Domlfcgo 86 de Março de 1893 


N. 81 

es-C H 

uKLL 1 

1 DE NOTICIAS ac 

tlUMLHO AVULSO 60 RS. 

* **•<**> » **+ ** r * «#■ 

SteMotyj.»(ÍA c isprou nu w««iiwnA4 roUttv*» d* Kann«i ; . na TjTi#£T*«fcin Ik 1 
locMdt aaosyau (QAXOtA de NoticlAS» 


0 RS. 

rnfl» 

CXPEOICNTI 1 

j* 7 t, *]i"| j 

êMêMí 

•nau a ir*, nu. ihp” • 

> 

O* Argonautas 1 

*7 r T- 1 *.",Tr* * zrr ir 


A9* Sr». RMigB*ntç* <n 
ç-ir tenham de r\n*n|i*l £ 


"7 ‘“7**“ 7V [ -'V 1 - 

SSSHSH 

- j - 


^griSv~:|: 










u noro do r*cibO. / 


rrrirrrt — L 

r£ríSüEr1: 

iESr:rasirr|: 

r,^'r 4 - , - J1 =^s: 

rr^-^Tn^rC 

■'.?7: ^71*7 77 

A SEMANA í 

Kio Grande do Sul 

ajsHEsi=:'s 

ãSHr- ; .|: 

3rEci=.“: 

~“:HírI== 

r^=^H=T=: 

m JÜ " “ __ ***** *T 7 

— trr*"* *' 

r c 

íaátx* prtjaamilraí J 

SrÜHriSf 

??J.rvrr3!r 


H=~rr£ 


íSífHtLrríS 

*** 

|f||g|l 

-rtr. rZT.HH 



iprrrrSiE 

H^T-CT.— 

aajiaitrjãiS 


r .7v.£XTr 




JiSsE-HH 


'ferrrrEH 

£5?^SíStíi 




~S““; 



■! NDBIIFMLMIM 


^FOLHETIM 

3 EfiClLHAMSBt 

r 

[J- “rZTx~m r- 


-;rHr^i ZZ1 




tiaiTon ■nwimoi 

:||SíE?S=? 

Jrv^r.-tsu.--: 


iv«. . * J^ZZC ta *^ 

jrSriS-IrT 

£; ESrsÉS- 






- : • ■*-* •"—'**' 7 *** — 7 » 7** ***** *"*?7T 

,|íl*Il7 1 "*** * ,l,r "' M *“ 


No Bairro Latino. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 84, p. 1, 26 mar. 1893 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1015 


NO BAIRRO LATINO 


- Dous acontecimentos chamaram a »t- 

o tenção dos pariziemes iTtsla banda para 
o ai paregens remota» do outro lado da 
o agua. » 

- No dia 15 foi o suicídio do um estu- 
i, dtnto polaco, do S9 annos, chamado Za- 
a vlckl, porque um collega o compatriota 
i, lho dora bcngnladas na rua. 0 drama 
o b mais complicado do que ptrcct, assim 
.0 coutado. 

3 Filhos dc Varsóvia um o ostro, Zartclci 
>, o liandclsmann entraram aos 19 nnnos 
la n'uma conjuração tramada pelos revolu- 
i- cionarios contra o governo do Csar. A 

0 consequência foi o processo cliamado doa 
A proletários, que cm 19di atlrahiu a curio 
)■ sldadc internacional sobro Virsoria 0 que 
te leve por desfecho cinco «xecuçõci capl 
>- lacs o darias do degredados para a di- 
vo beria. Dizem que para conseguir revela 
is ções, muitos dos accusados aoftrcram n 
I- tortura o que, mais fraco do que os 
► compaulicirot, liandclsmann nto pouda 
d resistir. 

a. Foram os suas revelações quo perderam 
os os outros, Ello defendeu-se dessa argui. 
54 ção dizendo que os juizes lhe atlrlbutrarn 
te palavras que não dissera. 

Nilo obstante isso e, apezar de Ilau- 
iu dclsmann ser zonsenrado ua Sibéria . solo 
d- annos, ao passo que Zavtcklde U voltava 
as so cabo do cinco annus de desterro, ires 
a. das oontiem nados que IA morreram noa 
a- trabalhos incumbiram a Zavickl de cas- 
tigar liandclsmann eomotrahidor, eapul- 
m, tando-o da religião dos proscripto», cm 
ito qualquer logar quecllcs se encontrassem. 
>to l’usto cm liberdade, Zavickl vclu 
as Pariz estudar medicina. Dous annos do 
va pois llandeltmann tambom cá reiii ter, 
pois quo Pariz 6 o campo do todos as 
loa ambições e o hospício do lodos os des- 
ta, coasoloa. Os dous se encontraram o co 

1 a meçou a guerra entre o aecusador o o 
re, accusado, guerra quo perturbou a eo 
, a lonla dos proserlptos o que humilhou a 
vos um, sem terminar por um trlumpho para 
;a- Zavickl a cujos compatriotas repugnava 
in- acreditar que Iiandelsrotnn fosso um 
I. O trshidor. Muitos hesitavam em repcllllo, 
as. pediam provas. Assentou-lo flnalmcntc 
a o quo um jury dc honra, composto do tres 
vu- boroena o uma mulher, dccidltis a qncí 
«... tio. 

nrn O jnrv, campoito de Stanisláu Gutt 
Iro, msycr, Dolcalio Llmanowiki, Antonlo 
nte Slalwackt e Cesnrina Wolnarowik», re 
an- ualu-so ha poucos dias. Ouviram prtmei- 
ia), ramculc a declaração de llandeUmano 
quo durou duas horas ; depois vnriea ps 
;is. lacos, coodemnidos ao mesmo tempo que 
i de ello, e finalmeuto Zavickl, que se ciprb 
ra- miu pouco mais ou menos n'estei termos 
,ra- • K possível que, por cante do tempo 
a á di distancia, nto po.vacs forrasr um 
mo. Jiitro sobre e procedimento de llandets. 

0 av mann. 1’óde ser que tcnhacs do voa de- 
por clarar incompetentes. 

1 do Mas eu não q-uro quo cisa eou9ss«o dc 


Inb 

Utn 

dor 

t 


sir 

tud 

n'e 

rei 

I 

eia 

cul 

dai 
o v 
ç*< 
Soi 
S 

tio 

CU 

ini 

ve 


do 

•za 

do, 

ia 

vi 

Us 

h 

i * 

sos 

tbo 

que 

is 

dot 

i da 

;lci 

nn- 

em 

tra. 

iro- 

lor- 

oas 

da. 

vro- 

) da 

:S 0 

ina- 

thu- 

•nos 


Ignorância aproveite • llandeltmann. 
Nenhuma decisão p6do destruir a decla- 
ração fn extremh feita pelos meus com- 
panheiros do exillo. A palavra d'ellcs tem 
auctorldado sob.-Ja para quo alguém a 
eentesto. • * 

O Jurjr declarou se incorapoloutc. Ilan- . 
ilclsmann Interpretou cm pvorclto seu a 
Incerteza, o poJIu uma reparação a Za- ' 
vlckl, quo recutou-a alIlvamrale.O outro 
então cahlu-lho cm cima is bengaladas. 

Um franco/, um latluo leria matado 
liandclsmann. 0 (lavo entrou para casa, 
escreveu uma carta aos amigas, quo ter- 
minara assim : 

Malar liandclsmann? repagas-me aer 
assassino. Uatcr-mc com ctlo 1 prohlbe- 
m'o o raeu orgulho. No entanto a ver- 
gonha do Ur sido maltratado por esse 
mlscravot 6 para mim tão esmagador» 
quo sou reduzido n malar-rao. Ello quo 
foça o incarno, se tem coragem.» 

E b.-beu strichinlna. 0 veneno quo 
lleou no fundo do copo dava alada para 
nvalnrdoui homens... 

Ilandclimnnn não fez o mesmo e foi um 
sã cadarer do polaco quo o cemltorlo 
Montparnasse rocobou liontem. Duzentos t, 
proacrUplus o acompanharam deado t 
rua DulToa, uma rua pubro que tem de 
um lado o interminável muro da Jardim 
das 1‘lanlas . A gento do bairro aeudta 
toda dsjaucllai, admirada <l'aquollo acom- 
lunliamcnto osquislto, em quo as cabal- 
loiras reroltase ss caros magras • palli» 
das e a abundando de oculas, tanto r.os 
homens como eu mulheres, fszlaia liar- 
monia com a pobreza quast miserável 
dos tr.-ges. 

No conillcrle— por medo da Ruistat — 
o discurso do despedida A beira da cot» 
(oi pronunciado por um russo naturall- 
sado franco/ o posto isslm ao abrigo da 
umn expulsão, a pedido da Grande h mâ 
do Korle. 

Esta ò a hlaloria escura de Luiz Za- 
vieki o do Ilnndelsmsnn nroulslowikl. 

A outra historia do Bairro Latino 6 
clsrs como um dia do sol o toda exterior, 
quasl senv mal, senão sem maldado. E* 0 
começo das hostilidades entro os estudan- 
te* e o Sr. Larroumct, antigo dlrcctor 
das Delias Alies, hoje professor de UIU» 
ratura franceza na Sorbonno. 

O Sr. Larroumct A octimlmente a sue- 
ccssor do Sr. Caro na admiração das 
muiberos. Dizem que quando ello pro- 
fessa move-se para as bandas do bairro 
dos estudos graves todo o mulherio ele- 
gante da -■ «i ^r*r[» çl/ nascimento o do 
dinheiro, o f.vjbourg Salnl Ocrmaln c o 
Pare ãlonceaux. E’.quo o protcsaor, mun- 
dano e janota, 6 um bonito homem, ora- 
dor eloquente o professor de ensinamento 
faeil o acccsalvcl. Increpom-llie cu» 
mesma facilidade c a escolha do assum- 
ptos amáveis qno lhe attraiam o auditó- 
rio amarei por cxeclleoda. O caio ò quo 
n IrisSfcrna Sainl Jocqnci e as vizinhan- 
ças da Sorbonnc tornaram a vír, como 
nos (trapos gloriosos do Ciro, as longas 
tilai de carruagens do luxo com brazõos 
nas portinholas e s ouvtr o tropel dc ca- 
valloi impacientes cscavsndo o chão, con- 
tidas a custo ror soberbos cocheiros de 


tidos a custo por soberbos cocheiros de 
librú cmquanto durava a conferencia do 
illustrc professor, 

Mas em breve começou a sala do cuiu 
do llttcratura franceza no sceulo XIX a 
scr pequena demais para o publico habi- 
tual da estudantes o do sniadoros, E, 
como os estudantes têm outras classes, 
c não dispõem do todo o tempo pars guar- 
dar togares, acabaram as mundanos por 
tomar as melhores posições ua sais, ou 
por chegarem mais cedo ou por manda- 
rem reservar logarcs pelos criados. 

A ropaziada z»ngou-s* e ura dia, reu- 
nidos muitos deram uma patoada ao pro- 
fessor, uma vaia colossal, enlreiuclnJa d» 
canções frescas o do ditos apimentados, 
paro ctcaodalo dos damas assistentes^ 
Intcrvciu o decano ds congregação, Inu- 
tilmente. O professor resignou-se a aban- 
donar a cadeira. 

Fez-so muito barulho em torno dess» 

. simples inaltnada. A Associação dos lis- 
i ludsntcs declarou quo não lomara parto 
n essa manUcstaçAo indigna decstudanles 
• respeitadores da liberdade dos curecs. i 

E as cousas tornaram a catrar ao* seu* 
i eixos, acochando o Sr. Larroumct as des- 
i culpas que Um deram da parte dos estu- 
i dantes cm geral c continuando os moça» 
o velhas lottradas mundanas a suadevo- 
I ção do curso de littoralura franceza na 
I Sorbonno. 

Si alguns jornalistas miU ferozes eon- 
i tlouam a cortar na pcllc do antigo diro- 
I ctor das Delias Artes, com um ardor do 

- Inimizade pessoal. Serão olles feios o ía- 

» vejosos por Isso?... Q 

- Pariz, 21 dff IcTcrelro, 


No Bairro Latino (detalhe) 




ULi ‘li 


1016 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Anno XXHI 





RtO a» Janc ir o — g tmrttwoini 14 d« Abril do 1807 

GAZETA DE NOTICIAS 




O dinheiro pacificador. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XXIII, n. 104, p. 1-2, 14 

abr. 1897. 







DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1017 


0 DI.VHEIRO PACIFICADOS 

O meu porteiro. que, por me ver lidar 
rom livros e jornaes. me tem na couta do* 

■ iilcndlilo cm publica geral, 1 v me veiu 
perguntar esla manhã se vamos ici .-«terra, 
K que os jornaes Iranreaes desrobriratu 
linalmenle que se passa alguma cousa IJ 
por terras do Levante. ,\ão loi sem cuslqe 
Cento c cincoenla mil armênios foram liii« 
cidadosem lodoo império Otlomano.a Ingla. 
terra moveu-se indignada, o velho ilíada 
tone iuvectivou o sultão assassino, a própria 
impassível 1'nlSo Americana manileslou 
desejos de intervir nos negocias da Europa 
em nome da humanidade— o n Prança 
não dava mostras de perccher que tora ib 
politira dos grupos parlamentares, isto í-, 
dos interesses jiarliculares por elles repre- 
sentados, |Kide haver cousa que mereça a 
atlenção dos seus homens de Kslado. | 

K um destes mesmo — um dos mais ‘ 
acatados iiela opinião puldica, o Sr. Ilsno- 
tauv — dera a sua consulta na fíttitc de 
l‘iris que tudo liem estudado, não podia 

■ tomar ao trágico os aconlceimcutos do 
Oricnlc. - 

A imprensa, espelho de opiniões doí 
eheles polilicos ou linanreiros, permanecia 
tão iterolmonlc quiela. que parecia justi- 
ilear a injuriosa asserção de Hochetort do 
que as lihras lurcas c as coiidecúraçòoí 
tinliani uliaiado nos jornalistas a indigna- 
ção que pudesse nelles despertar o prcca- 
dimenlo da uação que lia tantos séculos 6 
n vergonha da Europa o seu llagello. 

Fiualmeulc o rei dos llcllcnos to titulo 
iimliirioso e sonoro tem a vantagem do 
transpor as fronteiras actuacs e estender 
a solierania a lerrilorí-í secretamente niht- 
çados. o rei Jorge a> , iu-se a um dVsscá 
aetos da potitica heroica que (azein a His- 
toria c que aproveitam ás jovens naciona- 
lidades: sacudiu » cabeça aos conselhos 
interessados do Concerto Encopeu mandou 
(omcnlai- um nos o levanto dos christàos 
contra os Turcos em Creta e, a pretexto 
de defender os seus compatriotas r cor' 
religionarios em perigo, tez partir iTutn^ 
esquadra, commauilsida pato filho, um pri- 
meiro .contingente de tropas, para quo 
occupasscm a ilha em seu nome. 

A pari Ida da expedirão para Creta se fez 
com uma solemuidade commovenle. AS 
tropas luram passadas em revista pelo 
proprio rei diante do palacio. A rainha 
lavada em lagrimas, despediu-se do 
filho, abreçando-o. e beijando-o perante c 
povo immcnso que assistiu á scena, rumo 
um eúro sympatliieo de tragédia antiga 
Alheiias não dormiu nVssa uollc. 

E a sua vigília, passada em passeiat: g 
rythmadas por cautos heroicos e gritos o 
vivas cnthuslastkos, e o clarão dos ar- 
chotes o tachos, que (Iluminaram os co- 
midos populares cm toda a rírecia ifcssa 
noite, perturbaram lambem o somuo do 
muita gente tora do paiz. 

U primeiro a quem os noticias de A Hie- 
nas commuQicararn o ardor militar, em- 
bora em sentido contrario, tol uaturalmento 
o sultão. Posse ainda livro o grão lureo, 
como nos bcllos tempos do Soilmão e do 
Selim, c a Grécia Seria punido pelo seu 
atrevimento, levada a ferro o togo. sa- 
queada pelos soldados, a quem se não 
paga soldo, c reduzida a província do 
império üllomano. Mas a Turquia é es- 
crava do Couccrto Europeu, o qual, por 
sua vez, t escravo do terror da guerra. 


Esse terror da guerra entre as seis po- 
tências do concerto impediu as sjmpa- 
lliias de se pronunciarem o produziu uma 
demora na decisão que linalmenle lomaranj 
de se opporrm á conquista de Creia. Do 
mora que deu logar a Ioda a sorle de couv 
jecluras sobre o exilo possível da aven- 
tura hetlenica. Formaram-se combina- 
ções de toda a sorte sobre a divisão « par- 
lilha do imjierio OUomano quo já se- des- 
maiava como cousa decidida nâo eonst- 
derando a intervenção das potências se-não 
como uma iurinalidade platônica e achando 
mesmo que Guilherme 11 daAlkmanha-le- 
s ava longe demais a sua ira apparentd 
conlra os gregos, que em definitiva elld 
não |>odia senão apoiar. 

E os jornaes neutros durante dous ou 
Ires dias hesitaram em censurara publica 
do rei Jorge, tio do tzer. cunhado de Al- 
Lerlu Eduardo do Gaites o cujo herdeiro 
■ cunhado de Guilhenn 11 — homem hem 
aparentado - c<l i on > na Europa, nu 
sunima. Jí;V> podi-m et r quo vi.ira-.se set- 
sinhu na aventura l-u- - le arrostar os 
ltn.ua na pNpOivào de um eoulra cinco. 

E qui.-i s- n ltnp-q.uiari .andou Sr. Ila- 
nolauv, por demurar c pilnciplo em dar 
um livro aiiiac .1 - sol-c-. a cansada c pur 
(ha, lis SCtr.ll . t -|-:ão Orlvllte. V por 
, seguir ikqwl wUlib I.tm nt a jwiiltat 
liilp -raduiis. eli. Ipl" - vlumá de 


O dinheiro pacificador (detalhe) 




1018 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


ar!i;n nin um certo eco 11:1 Imprensa uculra | 
li na opinião alvoroçada o aneiosa |ior 
assistir ii briga ilo tos-terrier com o louro. 

Não deixou ilo haver um movimento 
lavoravet á Greda entre o povo Irainvz, 
roino entre os Italianos e os ingb-zes. No 
Dairro I.atino mesmo chegaram a »m«i»í- 
/«Inr i- houve, como ile costume em laes 
casos, pancada a valer e muita grilaria e 
algumas prisões. 

As conlcrcnrias se multiplicaram, alis- 
laram-se o partiram voluntários, ainda 
qu- em multo menor numero do que nos 
liellos tempos românticos das guerras da 
libertação da Grécia o da llatia (creio 
mesmo que Amilear C.lpriani não chegou 
h reliniruma companhia a cuja Ircnte já 
Chegasse á Creta como capitão) e Sarali 
fp.inhardt deu uma malinit com a Phae* 
llrn, de nacine, cm benclicio dos creten- 
ses insurgidos. 

foi talvez a niatinrr do Sarah Bcrnhardl 
que encaiporou a questão de Creta. 

Logo depois dVlla a polida das esqua- 
dras curopvas, que até então so limilára 
è manter a ordem nas tres cidades prlnci 
jiacr, da ilha o a imtiedir as matanças que 
seriam a consequência da vlcloria dos 
christãos sobre os turcos, tiassou a exer- 
cer a sua Intervenção a tiros de canhão 
persuasivos. O coronel Vossos, cominan- 
dante das tropas gregas de desembarque, 
qúe recebera do rei Jorge Inslrucçõcs para 
Ipmar o occupar Creta om seu nome, loi 
obrigado a restringir o campo dos suas 
operações militares, e os navios gregos 
loratn impedidos de desemliarcor tropas, 
munições e provisões de campanha. Co- 
meçou O bloqueio da ilha. 

Bjsa demora em lomar medidas enér- 
gicos não aproveitou aos gregos, como 
devia. A cltervescencia militar não se |iro- 
çagou pelas provindas rhrlstãs da Turquia, 
nem pelos Estados livres dos lialkans, que 
licaram lodos a ver cm que dava a expe- 
riência gccgn. O dinheiro que falta ú Grécia, 
falta jK»r lá lambem, atêm do que são essas 
nações apenas meio livres as que menos 
tem a ganhar como uma revisão das IrOU- 
leiras lerrltorlacs na Europa oriental. 

E a medida que passava o tempo, sem 
quo se ferisse nenhuma acção militar que 
Importasse em rompimento de hostilida- 
des inlernacionacs, sem que a siluação da 
Greeia se lirmasse por uma alllnnça visí- 
vel, ia diminuindo a sympalhia dos uru- 
froj pi-la pequena nação, que a principio 
linha para elles o clilc da valentia, e que 
acaba por ser uma ridieula e amhiriosa 
perturbadora da paz eurnpéa. 

Já agora se sabe que não haverá guerra, 
porque o concerto europeu é mais forte do 
que nunca, e o bloqtido das costas gregas 
vao por « uma camisola de torça a essa 
loucura lurlosa.u 

F. o Sr. Ilanolaux teve uma immensa 
maioria para votar lhe uma moção d- con- 
lia nça na camara e oulrn no senado e lorit 
Sallsbiiry já disse na camara dos com- 
minis que reportava se ás explicações da- 
das pelo governo Irann-z llonl Salislmry ó 
muito ivspeiladm- dc jovi-u elianccllcr da 
Itejmldii-n Irancezai. e a Jornahida ii entra 
começa a se inquietar seriaiiieiilc com os 
prejuízos que vão sollivros jiorlailorcs de 
títulos e linnlos gtvgos. 


Vai ser talvez o ronu-ço da nohllilação -■ 
do dinheiro esb- Impedimento de lazer 
guerra que i-nconlram as uaçõ.-s pobre, 
na polilica liiteniacioii.il mod-rna. Se se ,i 
esU-nilessi- aos hnlividuos a paeilieaçàn i 
forçada, o socialismo, qu-- é n cm|wbreri- f 
menlo geral pela repartição dos h.-ns, seria 
o reinado dos mansos, que possuirão a l; 
lerra e. serão liemavenluraiios porqu--. 1 
além disso, nada mais possuirão. Item j' 
saltemos qne islo é utopia para os imli- „ 
vidllos ; vallitwios que o não seja para as i 
nações. No caso pr -senle b-nios a certeza ' 
Ue que uma das causas da Grcria não 
brigar com a Turquia >■ não lh’o consen- r 
llrein os ;• us credor. ;. 

llizem m -.mo que a op|-0<ição do impe- 
rador da Allenianha ivpivsi-ulaia o> inlc- 
ress-s dos possllhlorcs de liiulos gregos, 
que os não qiliz- ram ver expostos nos - 
riscos ite lima aveulura militar, tique é 
lacto • qu.- loi a alllluil- trancam -nt' , 
quasi u tio- iin. iil ■ Ito I I a Greeia do imp -■ | 
ndor Guilht-im qu - guiou a |iolilica do 
Couc il" Kinoji ii. A |. -ii -ativa G-rmaiil.i ' 
consid-ron Ioda- as p.-rdas qu-- iam -nlirer 1 
o coinm- ivlo - a itnli: tria. a j -:» r :. I s 
económica, aerisc Ihiam -irai- quem salie 
ie .social que ia provocar Uina cib-rra leila | 
|Kir aV. llIUreilM. d pelicos b-res roulra 
Uma nr • o já ai i uái ida. e r.-sotvell o|i|ior i 
s; a i ■ o e arradi.á a. Irmãs na sua r o- 1 
itlçáo. 

ii leiTor da guerra, que traz p.iidos o 
ove. uaiiles coiis ri alivos das nuçõ-sm- 
)opê.i ., não oxl-.Jo na bolllens» c turl ii- 
1 . id. i liri-cia 'bui - :trs la m i ■ cauaiü 

liu I- iips d r linliub II o qni 

ry lonymo d neroso.i* rel Jorgeo 
. Andei p do lie. ii! I. 1 ii.illl ii: I" a áll li- 
ção das |K>b-ufias par» as ti!ris-iil.nii- 
comiuetlid '- p losliui -s l oulra oschr! 
lãos i:o Orlrub- ! dá. h> a blb-ri- : - ,j : . 

F.I 1 I-, ; i p.ira I* ■: •■.* r .- rurqiiis a !;./■ r .i. 
rebinn - política pr, i I las ,i lá- la . 
não me pp-st -r. m ■ ouvidos di— 
(l-aliidos. 

Depois disso | mona corr.ro inatli 
dos nosios irei-, op-nn liilleno nn 
\ se, e eu 

a fortuna da nt r-n !ni r nlra isos. uâonie 
ap.ivor i a nwr! ■ ti- 0.111 > d - b:deP c 0 
ball-ndo pelos In lis - -o il |IS UI- !is, . Ml 

nome ib- uma 1..11 -.-nla . Nj -niorr- i 
Coimnieo a nação I, ii -ni.-a: crescera an 
b-s. e mais uma ' • aliirtnar.i na ii, 
lorlii, combal.-nb ■ !■■: . ■- 1 >111 Gi.'--:' ds 
sua raça 1* por imura da luitnanidade. - 
Ol-siibdos par- c. iii o, s iillin-utos qu 
es-es jialavras, 011 a-, rd" -a-, rxprán-iii, • 
pod r-am sii idü ..n" .. i% -nrgl.ie 1, ■. 

CallO de sa-nli ,, da:!:»a berniiM dos III '. 

lo 1 J • II 

Ureciaaniiga uão |i')S,i|ii 0 |K-io ln-lbii" 
senã- • a b-rr.i c .1 . 1 ui-. . \ com o< n-'. 
prestigiosos, c o inrornp ravcl " o. T.i. 
bem como ,11 1 ;■ bulam os iiá os ■■■.- 
Açor- s Idasonar ib- pa-sado :llu-ír.‘ e 
Claiii r iiliai . bl-l-ve . --0111 a labute-: 
Jrtlantt*. N 111 mc-iiio 0 rei . ... i-.i.ilil -.-- 
mente -rego, qil nasceu no Norte, lio 
sangue barliaro, como lautos conquisla- 
Uoresqti" assolaram paiz tuiiiluoso. 

1; no euilanlO t tu :• : Ima lã" er--.-» coai" 
Um puro lll-lleno. 

ti-. .1.. ...... ...... 1 . .. ,i, j. 11. .,1 


Mas da uma grande id-aa ila i -rça da Ideal 
nos povos essa substituição d-- uma na- 
cionalidade desapji.are, ida por OUlr» qu - : 
quer coniinuar. e qu - 11 eonlinuar.i lali. z 
Que imporia qu.- s -jam azttes os olhos do 
jorg" í letllOillíO 0 s.'U sangll", s • bab 
pola Gr. ela novaos--u coração generoso 1 
«se loi itluuiinado 0 seu espirito pela alia -■ 
Clara cliamma Inb-lb-dutd da civllisaçáo 
grega ? üs voluntários de 1 'iT tinham 
monos IJZÕ-S imm -di.at.is ou motivos pra- 
tlois para irem p-l-jar pela indepçmb ncia 
Ue um |iovo que d - grego Unha apenas 0 
UOine. Nos loilos, que odiamos o luivo i 
queremos ver a Grcrla r- slaurada nos seus 
iiiitigos jWmliilos. nem laz inos lllleratura 
Uem lazenios IKtlitlca quo oprovclln á 
gente que AlmlJt taul-> mallr.itou nos ,cU:- 
llvros. somos, com iulinltamenie m 1101 
ciitliosiasmo, outros lautos voluntários 
platónicos de ls.* 7 : e qu -ndo cada noil- 
morremos de impaeiein-ia, porqu - os jor- 
naes ainda não Iraz-m a nolli ia de que 
rompeu a guelra, reproduzimos rotn alb-- 
nu.ição inliiiila o drama de livrou mor 
remlo em Missa', ongln ant.-s do combale; 
celet-rjmys - m gosta ejroj <j culto da 

Humanidade, (tela aspiração a volta de 
uma In-lla cousa, a Greeia antiga, ou peta 
simples ivslituição do seu nome ao, terri- 
tórios qu-- n harliaro lun-o aluda [loilue. 

láilrelaiilo, js-nsatnlo nos portadores d-- 
liiulos gregos e nos portadores dc outros 
titulos, res|Kindi ao desasocegado porteiro 
que não haveria guerra «porque o Concerto 
Kliropi-ii o não coiisenle... Ko homem desceu 
as escadas, sem entender liem, mas niuilu 
alllvlailo. 

IKiMic.10 n.i Gama. 

P.ariz, IS de março de ISO'. 


O dinheiro pacificador (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1019 


318 REVISTA 

A UNICA CONSAGRAÇÃO 

Quando foi tia festa de João de Deus — nVssc dia, 
entra nundhe pela casa dentro, em algazarras de cntliu- 
siasmo, rapazes aos magotes tpic queriam beijar a mão 
do mestre ou simplesmente tocar-lhe o fato. Outros, 
face a face, berravam-lhe discursos, e por entre perío- 
dos estouvados, diziam-lhe palavras lindas, como só se 
dizem entre namorados, 

Joíto de Deus ria e chorava ; e n'esse momento d'an- 
gustiosa felicidade o poeta não tinha palavras, nem 
atinava com uma cstrnphc simples que dissesse áquclln 
mocidade totlo o seu commovido agradecimento. E esta 
foi uma grande homenagem, porque o enleou : mas A 
que lhe fizeram nas paginas tios jornaes e cm milhares 
de bilhetes dc felicitação — a essa foi-lhe facil c sereno 
agradecer : agradeceu pelo correio. 

Ru queria que sc fizesse lambem a Eça de Queiroz 
uma d'cstas homenagens em que todos entram — a 
maior consagração, a prova mais firme de que o roman- 
cista é comprehendido e amado. Aqui, na rua, no meio 
de toda a gente ouviria os louvores rasgados dos que o 
admiram, na linguagem de cada um, afouta c incor- 
recta, mas incomparavelmente mais viva do que esta, 
cm lettra redonda, feita com o embaraçoso cuidado tpic 
empana enthusiasmos, quando os não gola a tinta fria 
do tinteiro... 

Essa outra consagração — a de toda a gente — seria 
a única que, porventura, poderia agradar ao poderoso 
cscriptor, subtil c ironico, e não a dos que escrevem — 
os monos competentes, porque, intumescidos do leituras, 
não têm auctoridade para dizer o que é ltom, ou o que 
ó mau ; alem de que a alma da gente nova é fria para 
enthusiasmos ruidosos, nós a quem ventos maus doridas 
promessas crestaram as frescuras da mocidade — já tão 
distante ! 

Antiibro de Fioueibeoo. 


PARALELLO 

Eça de Queiroz c Anatole Franco são dois nomes 
que no meu espisito se casam, a mesma impressão 
produzindo. Rcprcsenta-os o meu temperamento visual 
por um templo hcllcno da ordem florida dc Corintho, 
de columnas ligeiras cm cujos capiteis abrem-se c, retor- 
ccm-sc os acanthos de largas folhas. 

Em ambos a mesma nobreza dc plirasc, castigada c 
fina, prata trabalhada a cinzel, filigrana desfiada cm 
oiro. 

Templo elegante e branco, cm perfumes simples, que 
não embriagam, que não matam, que deliciam apenas; 
mas entre cujas columnas appareco, envolto nas largas 
pregas da túnica de philosopho, a hocca de Dcmocrito 
a rir. 

Como uma lufada de vento que para lonstc levasse 
uma nuvem, ou como um panno de bocca que corresse, 
a emoção terna das coisas atravessa a obra, como no Lys 
rouijc em que soluçam desesperos, como nos Maias 
onde incestuosos amores contorcem-se e epilcpsiam-se 
na tragédia final. 


MODERNA 

O estylo, em ambos, ó sereno c claro. A syntaxo, 
ligeira, alada por vezes ; outras, descança, baloiçando, 
como umn grande nau. 

\ ejam no Ly* rouge a dcscripção de Florença, leiam 
no Mandarim a luminosa paisagem chineza com gran- 
des lagos onde, tranquillanientc, os lareos ncnupharcs 
espreitam... Itecordcin-se da Itcliquia, antes e depois 
do sonho, procurem a Ilói issrric de la reine Petlauync c 
Opmioii* de Mr. ,/ériane Coignnrtl, e encontrarão os 
pontos que germinam os dois illustrcs escriptores. 

Hecordcni-se de Thnis esse mármore feito canto, roca- 
pilulem o sonho do « Kaposão... » 

Não parecem escriptos cm dilTerentes linguas, sahia- 
mente escriptos, pelo mesmo auctor esses trechos 
modelares ? 

Ambos ligeiros por vezes, rindo-se do vagalhão hu- 
mano que atravessa o palco, abraçados como duas ja- 
nellas manuelinas cm que uma vac a fundir-se na outra, 
formando um só rasgão dc luz, attestarão, neste fim do 
raça, aos que vierem, a alta espiritualidade do mundo 
neo-latino. 

Henhuíuk ijk Vasconcbiaos. 


NA FALTA DE IDEAS CLARAS 

Julgar um homem pelas suas obras parece cousa 
natural e lógica e tão facil que correntemente vamos 
classificando mortos c vivos com uma segurança e con- 
vicção só comparáveis á certeza e rigor critico dos que 
sobre o mesmo assumpto tóm exactamcntc a opinião 
eon traria. Taes exercícios dc critica são innotentes quando 
sc trata de extranhos. Com os que amamos e veneramos 
o raso é mais melindroso e requer cuidado. 

A gente preclara que escreveu antes de mim tem a 
fortuna de possuir sobre Eça de Queiroz ideas claras c 
precisas, a que chegaram por analyse e por synthcse, 
tratando com o cscriptor, estudando os seus livros. As 
idéas claras afOrmam muito o estylo, animam o anda- 
mento das phrascs pela estrada batida da prosa encomiás- 
tica. Com ellas vae longe um critico. Vae e volta. E as 
mesmas ideas refazem a jornada litteraria. São discipli- 
nadas c commodas, dão ao discurso a graciosa virtude 
da facilidade, que particularmente sc preza nas demo- 
cracias intcllcctuacs. Tóm, porém , o inconveniente de 
serem impessoaes, dc assentarem a todos com a mesma 
odiosa justeza das roupas feitas, que as fabricantes por 
grosso talharam pela média das estaturas communs e 
que têm sempre o ar de não pertencerem a ninguém, de 
serem do regimento ou da communa. Para as necessidades 
mnemónicas das historias de litteraturas nacionaes esses 
nivelamentos, essas compressões e deformações classili- 
cativas de um genio individual podem ser provisoria- 
mente uteis ; para dar- lhe apreço e glorifical-o c que não. 
Ila certos adjcctivos folgados nas cavas e dc ampla roda, 
ba phrascs mal pannejadas, cm pregas mal dispostas, 
cahindo fóra do logar, ba discursos domingueiros de 
muita vista e grande estylo, que injuriam pela improprie- 
dade. A injuria não está na insufficiencia ou no excesso 
da homenagem, está na indifferença da sua objectivuçâo 
c consequente insinceridade. Estou certo de que até o 
grande Hugo recusaria uma apothcase que primitiva- 
mente fosse destinada a Shakespcare, como uma |>ahua 


Na falta de ideias daras. Revista moderna, Paris, ano 1, n. 10, p. 318-319, 20 nov. 1897. 





1020 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 











. — 


trmmphal a <|ue apenas sc mudasse a inscripcão das 
filas. ‘ 1 

Certamente nao se applica á presente homenagem ao 
primeiro prosador português o que exngeradtuncnte digo 
sobre o pa|»el nefasto das ideas claras no julgamento dõs 
grandes homens atravez das suas obras. N’cste caso 
particular a precaria psyehologia cede o campo á admi- 
ração incondicional e sincera. Mas no meio do sussurro 
admirativo várias tentativas de filiações, de explicações 
esthetiens revelam a eivo irreprimível, a tenção do jul- 
gamento c classificação do escriptor celebrado. Temos 
umas phrases promptas c occasiâo de as empregar : ipic 
importa que n cilas não caibam trinta nnnos de labor 
fecundo da vida de um grande artista > Sempre um canto 
da sua figura lá se achará contido e medido, parcella de 
retrato... ' 

Pamllelos, medidas, juízos e classificações — obra 
(K-iosa e van! Quem as emprebende presume que apro- 
veitarão ao objccto da sua consideração ; porém mais 
frequentemente, como nas marchas triumphaesde noite, 
a claridade do archote dá primeiro sobre o porta-facho. 
As vezes o triumphador sc esquiva c sóbc a alguma 
varanda para contemplar a sua gloria que passa em 
clarões c vivas. E a procissão continua desapercebida, 
ebria de cnthusinsnio, louca, symbolieamcnte. Tem ess.a 
miséria a gloria que a turba vil que nos applnude a si 
mesma sc acclama, exaltada na grandeza de um dos 


seus. Supprimido o escravo insultador dos triumphos 
antigos, resta esse odioso memento da nossa filiação 
democrática. K apezar do sou sahio descuido da critica 
e por mais aflcctuosa c singela que seja a manifaluçilo 
da Rcvitlu .Moderno , O claro c subtil Eradiquo Mendes 
vae aqui ver-se mal explicado, senão mal entendido, 
Pd”* seus acclamadores, que o vestiram de idéas claras 
para o demonstrar ao publico. 

Em ensaio psychologico sobre Kça de Queiroz, ideas 
synthcticas sobre a obra de um homem que ba longos 
annos vem trabalhando paru a sua lingua e |>ara o seu 
|k>vo com .1 assiduidade e sinceridade de quem trabalha 
humildemente para Deus, que tem formado a sua alma 
ao contacto do mundo c que a não tem' posto nos seus 
livros, porque almas não cabem cm livros, demonstra- 
ções do seu genio nunca me pareceram necessárias 

unidade do publico que sou. Sinto-me feliz de viver 
n um tempo em que o pude conhecer c amar, sem carecer 
de o buscar disperso cm livros reficctindo desigualmente 
generosos impulsos e agitações dos vinte annos e con- 
templações serenas da edade madura. Sobrasse-me 
ainda mocidade e memória c cu faria como o que apren- 
deu a Relíquia de cór, para ornamento do seu espirito e 
graça e conceito do seu discurso. Esse é o verdadeiro 
culto e devoção. O resto são variações litterarias sobre o 
thema conhecido da glorificação do Mestre. 

Dojiicio da Gama. 


Na falta de ideias claras (cont.) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 1021 


fU© 6 » Janeiro — 6 *®nnívl«iri 1 &m Junb» Ao 1003 


IIMHI 'TUII T« iffXIIC 


: GAZETA DE NOTÍCIAS 


■vatao tniu ioo n 


» Oumta (Ir Noticias» 


<T»a*r*pfc~<U, I «U««»0 Mm to too n 


24 horas 

kHTtfl.Oft ]- *'"*■” 


~ .. CHRGIÍU POLÍTICA 


» seriai cauiu: 


ííOtóS 6 D0KI3S 

Muaitlii Dl KtroMA ■ 

\s.£: rss2ret> 


ommnuTWA 


imn t Mini 




1 l.l.MJHAMMAS .^^r^aggs ír 




A sétima coluna. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XXX, n. 152, p. 1, 1 jun. 1903 


•ii .Il.ii.ili4 !lt ilíl.iit 



1022 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


A SÉTIMA COLUMHAF 

Na Reographia da Gnzrtn fot dorante ! 
muitos nonos ««t-i n região mais especial- 1 
mcnlc lilleraria, destinaria ãs manifestações 
da arte c da critica. Daqui falavam os i 
oscriplores. que nào eram lodos jorna- 
listas. K os jornalistas que cã vinham, J 
lalvez porque o Paginador. guarda da Ira- 
dicão — naquellc tempo o Paginador era o 1 
meslre d? cerimonias da Casa— os fizesse 
' faltar do alio, pendurando-lhes a prosa 
logo abaixo do cabeçalho da tolha, os jor- 
nalistas deslocados cm missão lilleraria à 
| Sétima Columna senliam-se obrigados A 
imaginação, que c quem dá o tom ao 
: cstylo. 

i De um desses, que <’• a saudade d<- lodos 
nós e o génio tutelar desta casa que licou 
, sendo a sus. pudemos muilas vezes com- 

■ parar a graça imaginativa na Sétima com 
’ a argumentação conselheira na columna 
| polilica. que era a Primeira. 

r Aqui vinha clle relrescar-se dos cseri- 
' pios «ronsequ-ntes e graves •, era que o 
5 peso dos lactos esmaga a phanlasla, senão 
i o entendimento. K como rcarção no des- 
i aiogo da passagem do grave ao b-ve, o 

■ dlvcrlimenlo dò seu espirito descuidoso e 

I livre ia até ú pilhéria irreverente. 

A Sétima era o terreno neutro, era que 
a assignatura respondia pela opiuião e pela 
' sua maneira do exprimir-se. Mas muito 
naturainienle a sua influencia estendia-se 
i também ás demais secções c aos artigos 
• que annolavam a vida corrente. De toda 
‘ r-fla independência dc espirilo e de forma 
resultava uma grata impressão de mo- 
i cidade < n Uv os collaboradores do jornal. 

J Nasceu talvez dahi o sentimento de que a 
. Cnzrtn cra o viveiro dos jovens esrriplo- 
i res. Os que linhara coragem e ambição 
• vinham a <-lia in«tinctivann*nle. sympalhl- 
camente. Fi nenhum --ra ropellido, se podia 
, s«-r aproveilado. Quem não achava Jogar 
lixo na redacção. Unha o agasalho tempo- 
1 rario da Sétima. 

1 Foi isso o que me aíílrmou o Chefe. 

. quando ha mais de quinze annos fui ode- 
i recer-lhe iill-ratura a imprimir. FJfe não 
examinou-mc a prosa. Contou as paginas 
| do eonlo que eu lhe levava e disse, candi- 
I cionalmente: «Sc servir, vai para a Se- 
1 lima Columna.» Creio que não serviu. 

| ou só serviu mais larde; porém fiquei 
. cotão conhecendo a Sétima, que frequentei 
1 durante longos annos da minha inda roais 
1 longa mocidade. 


A Gizrta era como nm organismo vivo: 
modificon-so com os annos, eom a morte 
on com a ausência dos que lhe forneciam 
os cJenienfos da nulrição espiritual, mu- 
dou de aspecto, mudou de humor, relle- 
cliii os sentimentos vários das novas ge- 
rações desencantadas, irónicas, preguiço- 
samenle pessimistas. A sua columna litte- 
raria. depois de deslocar-se para legares 
diversos da primeira e mesmo da segunda I 
pagina, como a gente arruinada que muda ' 
frequcoU-mrnle de casa antes de desappa- I 
reec-r inleiramente da circulação, depois [ 
de desaggregar-se em pequenos artigos sem 
folego e como envergouhados da afinação 
dtfferente. tão desacompanhados vinham, 
é hoje representada pela chronica h<-t>do- 
madaria <■ pelas raras noias avulsas, em 
que a agudeza do espirilo não suppre a 
falia do amparo do numero. 

Trala-se de reslaurai-a agora, e. para lhe 
dar prestigio, volla ella à sua anliga posi- 
ção à direita do leitor, rccommendada a 
consideração do Paginador, preliminar da 
consideração publica. 

Ainda não sabemos quem nella escrevera, 
nem o que nella se escreverá. A esperança 
é que sejam ninitos e que sejam cousas 
graciosas e suggesliras o que clles escre- 
verem. O respeilo ao leitor, que é a gram- 
malica, <• garantido pelo revisor. 

Os erros de doutrina, os conlrasensos 
sublimes ou ridículos, as perversas verda- 
des improváveis ou as mentiras flagrantes 
e Innocentes correm por conta dos signa- 
tários. desde que a gOrte da Sétima Colu- 
mna. lançando a sua prosa ao mar da publi- 
cidade.raramentc hesitará em íazel-a seguir 
da assignnlura, a reboque na esteira rc- 
fnlgente. 

Seria lacil alinhar aqui um programma 
magnifico a exeentar por collaboradores 
imaginários. Os collaboradores reaes íarão. 
porém, mnllo mais se, por si c com Ioda 
a liberdade, roalisarera a obra rara, dizendo 
a impressão sincera da vida vivida ou so- 
nhada, que ê sempre a mesma, mas que- 
cada alma espelha difTereate, mudando 
! rada dia ãs claridades novas. A reporta- 
gem imagioativa ganharia em imprevisto 
como ganha a jornalística quaodo a inves- 
tigação t pessoal o não copiada. Ora já 
se põdc prever a inllucncia prodigiosa qne 
teria uma scliina columna assim composta 
sohre o seu grupo jornalislico... e sobre 
os outros sucressl vatDcntc . Mas esta ten- 
ção regeneradora seria demasiado ambi- 
ciosa para uma secção que se restaura : 
Irasta que ella seja o que íol a columna 
do; Ferreira de Araújo, Eçn dc Queiroz e 
Machado de Assis. 

DOülCIO ru (.AMA. 


A sétima coluna (detalhe) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 1023 


CRÔNICAS SOB O PSEUDÔNIMO ANTONIO SERRA 








1024 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Cartas de itaEia 


Roma, 8 de Abril de 1891 

SLM.VIARIO: Feria» Poülicas-Ocõnflicto 
americano— A politca afrlcaiia-Y.iriaa oc- 
currrncuu. 

A semana política passou sein novidade 
dc vulto. Dos ministros mesmo, o Sr. 
Hicotcni aproveitou as férias para dar um 
passeio co seu caro Piemonte, onde foi 
recciiido com ns maiores manifestações de 
apreço. Em Turim sobretudo, durante a 
sua visita aos institutos seientificos, aos 
grandes cstabelfciraentos pubücos, a mul- 
tidão sympathica rodeara-o com sauda- 
ções conliaes. Uma commissão dc esta- 4 
dantes veio pedir-lhe anlorisação para que- 
fosso collocoda 110 odifitíoda Universidade 
de Tuiim uma lapide conunemorativa 
dos estudantes viclimas dos movimeptos 
de 1821. Esta lapide foi i-or mnitos annos 
objccto de discussões controversas sobre 
a convcnicucia da sua inauguração, atten- 
ricinlc-se As allusões políticas que ciia 
encerra. O Sr. Nicotera liquidou a ques- 
tão autorisamlo a col locação da pedra, 
depois do a (cr visto. 

Derão-lho um aiinoço no Hotel Feder c 
um jantar no Hotel (VKuropc , para que o i 
ministro do interior não achasse monotona ■ 
a cozinha turincDsc, talvez. E cada um des- i 


i- 


tes repastos foi adubado dc discursos á farta. 
Recebeu muitascommisâõcs o delegações dc 
sociedades c uniões d os» vários offleios, em- 
pregos e profissões industriaeso civis do Tu- 
rim. Visitou o príncipe Victor, conde do Tu- 
rim. a prínCcza Iznbcl, duque» do Genova, 
n junta munu-i|»al, o Instituto dos Cegos c 
o Internacional c acabou depois dc uni 
grande discurso na Sociedade Promotora 
da Industria Nacional, por um saniu no 
WkiM-ViuO, onde se rcunio a tina Horda 
sociedade turinonsc.E partio i»ara Genova 
multo contente c muito consndo. Outro 
ministro, o Sr. Branca, aproveitou dc se 
adiar desoccnpodo para ixxKr uma moça 
cm casamento, para fidanoz tr-se, como 
l»or aqui se diz. 

— Continuãoas conferencias do Sr.Fortcr 
encarregado dc ncgocios dos Eatados-Uni- 
dos cm Roma, com -o Sr. di Rudini, minis- 
tro dos ncgocios estrangeiros, a respeito 
do couilicto italo-niucricano que ameaça 
proiougar-sc até á fatiga da attenção pu- 
blica. Só então poderá luvcr um accímlo 
entro os dons governos, igiuilmeiitc emba- 
raçados neste inoincuto entro as reclama- 
ções da opinião dos seus paizes e da Europu 
inteira, interessada na questão. Os ame- 
ricanos considcrão a npplicnçán «La lei 
dc Lynch (-i)iiio uma instituição, local 
mas respeitável, embora toudo um caracter 
barbaru. 

Sun contar que a administração da justiça 
compete a cada um dos Estados, que gozão 
de uma autonomia absoluta a este respeito, 
de sorte que o governo da Casa Branca não 
poderia tomar o compromisso de exercer 
uma pressão qualquer solirc as autoridades 
da Luiziania cm vistas dc obter a punição 
dos culpados da matança dos italianos, sem 
violar a Constituição Americana, i»or esse 
facto. Aecrescc a isto a quasi certeza da 
absolvição dos incriminados, se estes forem 
trazidos ã bjira do tribunal do jury, como 
clles mesmos se pro]»õcm, para resolver a 
diliicaldade dipbmiatica. 

A absolvição dos lynchndorcs não fazia 
mais do que azedar c complicar a questão, 
longe de liqiiida-la. 

Já se AnnnncÜto conjurações c pre|«- 
rativos dos italianos residentes na Luizia- 
uia i»ara o fim dc, reunidos cm massa dc 
alguns milhares, usaram dc represálias 
em desagravo da offcnsa soffridn pela 
nacionalidade .ua i«cssoa dos compatriotas 
assassinados cm Nova-Orlcans. A absol- 
vição dos clicfcs do lyucbamcnto seria o 
signal do começo de uma situação im- 
possível. Eiitrclnnto os chefes do movi- 
inciito contra os italianos assassinados, 
Parkenson c Uoustoi», já se aprcscutárão 
a depor iierantc os juizes. 

DeiK)siçõcs pi '0 fórmula. Em Nevr-Or 
leans desde o primeiro dia c hqjc cm toda 
a Europa os nomes dos promotoras da bar- 
bara acção são hqjc conhecidos iielos por- 
menoras fornecidos pelos jomaes america- 
nos. Um jornal dor de cxtraliimos estas par- 
ticularidades diz (|ue desde a noute de 13 
de mnrço um giujio dc cidadãos calmos c 
respeitáveis (rool hcailcd men , gente dc 
cabeça fria), advogados, doutores, negoci- 
antes. homens políticos, dc posição social c 
influente, reunirão-se c deliberarão convo- 
car para o dia seguinte um niocting sem 
distipeção de partidos (mass-mccting). Fi- 
zcriio imprimir o seu manifesto, aflixar, dis- 
tribuir pelos jomaes, c no dia seguinte to- 
dos os cidadãos dc Ncw-Orlcaus lião pelos 
muros e uos jornacs da mauliã o que se se- 
gue : 

« Todos os l»ons cidadãos são convidados a 
tomar parte cm um mass-tncclinq.quG terá 
logar sabbado, 14 <lc março, ãs 10 horas da 
mãnliA, junto á estatua de Clay, para tratar 
dc pôr cobro á quebra dc justiça no proces- 
so pelo assassinato do chefe da polida, 
Hennessey. Veubüo todos preparados i»ara 
a acção. • 


cios para a satisfação da sua politica volun- 1 
tariosa c insensata. 

Não contente com haver esgotado o» cré- 
ditos concedidos para as despezas faculta- 
tivas com a colonia hybica, verifica-se 
aeora que clle tinha tomado um milhão c 
meio sobre o orçamento futuro. Mas não 6 
tudo. Para as escolas italianas do Oriento 
gastou-se mais meio milliãn do que a vertia 
consignada para esse fim. Dous milhões são 
cousa que conta no estado actual das finan- 
ças italianas já tão exprimidos. Até as con- 
decorações forão esgotadas pelo terrível 
Chrispi. 

Tem agora todos a convicção dc que o 
grande homem de estado fazia bem pouco 
caso da ficção parlamentar. E já iiouvo 
nuem se lembrasse dc projiôr um processo 
ilo responsabilidade administrativa ao 
liomem do militarismo e da tríplice al- 
liiuiça. 

— AfTirma-sc que está qnasi cstaliclc- 
cido o accõnlo entre a Hussia c a Santa 
Si* om materia religiosa. Dizem que o I*npa 
aceitou os pontos cm que a Rússia quer 
que a sua autoridade seja respeitada. 

— Diz-se qnc o Papa vai errar tres bis* 
pados no Braxil. 

— O pro.viino eonsistorio do Vaticano 
terá lugar no fim deste inez. Serão nomea- 
dos canlcncs por essa norasino os inonse- 
nliores Ruffo Seilla, Scppiacci, Morenni- 
Igraska, arcebispo dc Vienna o um prelado 
Iie»|Miiiho!. Os novos pnrpornli rccclicriiõ 
o clia|»éo no invz «tcvlnnlio. v 

— O príncipe dc Nápoles será breve- 
mente promovido a major-general. 

— A casa Rodornnncelit dc Iávomo sus- 
l»cn<Icii os seus pagamentos. O seu passivo 
é de seis milhões c o activo figura como 
quatro milhões, mas muito desfalcado por 
hypothccos c depreciado no seu valor real. 
O luxo dcscnfreiailo que sustentava e n 
paixão do jogo são a causa da ruina de Uo- 
dnrnnncchi, quo era muito estimado i»or 
todos. 

A sentença do magistrado lmionlicz 
que eomlcninou um dos estudantes que 
apuparão c iiüuriárão Josué Cardueci, n 11 
do mez passado a ‘200 liras de multa, foi 
vivaincntc enmmcntada c «liversamente apre- 
ciada pela imprensa. O que resulta do pro- 
cesso é a consagração do principio da auto- 
ridade mesmo contra as travessuras de 
estudantes. 

Anlçnio Sorra. 


NOTICIAS DIVERSAS 


Associação Coranir retal do Itlo de 
Jnneiro— Tendo sido presentes ao Sr. mi 
oistro da fazenda, pela AssociaçAo Coinmor- 
cial do Ilio de Janeiro, os pareceres do di- 
versos negociantes e banqueiros sobre os 
moios que se lhes aflgurAo necessários para 
melhorar o estado actual de nossa praça, 
foi pelo mesmo Sr. mini Aro expedido o se- 
guinte aviso: 

« Ministério da fazenda em 27 de Abril de 
1891.— rtccebi vosso oflicio do 20 do Abril 
corrente, no qual submetteis a minha apre- 
ciação os pareceres dos comtnissõca dos 
negociantes importadorei o dos banqueiros 
acòrca do estado da noisa praça, resultan- 
tes das consultas quo lhes dirigistes. 

« Da leitura desses pareceres conclue-sc 
que as causas determinantes dos males quo 
d - algum modo tám desequilibrado o anda- 
mento regular das operações da praça s&o 
iodas accidentacs e quo ao governo não 


Scguião-sc setenta assignaturas, todas de 
homens dc peso e dc influencia,, um dos 
quaes, Parkenson, é um disüncto jurista dc 
New -Orleaus, chefe do movimento i»ani a 
reforma municipal que teve logar a tres 
atino?, outro, Walter Dencgcr é um dos 
membros mais afamados do fòro da cidade 
c Iloustoii, rico, bomem político influente 
e muitos outros. 

0 meeling teve lugar. Os oradores oxei- 
táráo a multidão a invadir a prisão, afim 
dc justiçar, os italianos absolvidos pelo jury 
* comprado pelo dinheiro da associação se- 
creta da Mafia. » E quando a iuiqua acção 
foi executada, quando os cadaveres dos 11 
desgraçados jazião i»r terra atravessados 
dc balas ou pemlião dos lompeôcs dc gaz 
na rua, fui ainda mesmo Parkenson (|ucm 
fallou A multidão — carrasco, á multidão 
assassina : 

«Cidadão?, disse ellc, a lei tinha sido im- 
potente contra os assassinos, por culpa dc 
um jury vendido c de funccionarios cqitu- 
ptos. ròr isso foi que eu c os meus compa- 
nheiros tomámos sobre nós o inflingir o 
devido castigo aos assassinos qnc por taqto 
tempo infestarão c desbonrárão a nossa ci- 
dade. 

« Os assassinos dc I Icnncsscy estão agora 
mortos, uns dentro dos muros da prisão, 
outros na rua sob os vossos oilios. A lei dc 
I.ynch,i/eiif/c«iuii,ó uma terrível cousa Alas 
a Ma fia cessou do existir em Kew-Orícaus, 
de uma vez i*ara sempre. Reeáia sobre o 
infame jurv que absolveu os culpados a rc- 
sjionsnbilidadc deste dia terrível. Foi feita a 
vontade do povo que reclamava a morte 
liamos assassiuos. Agora que a cousa está 
feita, se querem ouvir o meu conselho, re- 
collião-sc todos em paz ás suas casas. » 

E os oenlUtmcn se recolherão As suas 
casas. Mais tarde na Bolsa do algodão houve 
outro mee titi;} para endossar (to endorse) 
c tomar a resjionsabilidade do facto rcnli- 
endo dc manhã. Esse mcctintj adojitou a 
resolução seguinte: 

«Considerando a deplorável administra- 
ção da justiça criminal nesta cidade c a 
tcrrivcl extensão que tem tomado a cor- 
rupção dos jurados, constrangendo os ci- 
dadãos dc Nova-Orlcans a vingar por si 
mesmos a justiça ultrajada: 

« A|>ezar de deplorarmos a necessidade 
dc recorrer á violência, consideramos o neto 
desta manhã como opportuuo e justificá- 
vel.» 

Depois da publicação destes documentos 
tão significativos, não é possível esperar das 
afctoridadcs da Luiziama a instauração dc 
processo sério contra os lynchadorcs c 
menos ainda a condem nação destes pelo 
tribunal do jury. Também i>arecc que, 
estabelecido o principio da indcninisação 
ás famílias das victimas, o governo italiano 
so contentará com o simulacro dc instrucção 
dc processo, com o inquérito preliminar a 
que ora se procede em Nevv-Orleans. 
Assim o barão de Fava não terá o trabalho 
de partir para tornar a voltar i«ara o» Es- 
tados-Unidos. 

—Com os destemperos provados da poli- 
tica colonial, tem sido revelados abusos de 
poder e irregularidades administrativas dc 
Crispi. Menotti Goribaldi, filho mais velho 
do benic nacional, acaba de chegar trazendo 
informações desauimadoras ácérea do estado 
das cousas pela Erythréa. Diz clJc que, se 
não se remediar promptamente aquillo, o 
prestigio do nome italiano ficará inteira- 
mente perdido na África. A difficuldade 
do remedio é a falta de fundos suflicientes 
para as reformas necessárias, para a rcali- 
saçáo das medidas mais urgentes. Os sue- 
ccísores de Crispi téni que reparar os gastos 
excessivos feitos por ellc, que compromcttcu 
as finanças publicas durante muitos exerci- 1 


Cartas de Itália (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 1025 

JORNAL DO BRAZIL 

ANNO I “ '“íj^vSir 4 ' 14 RIO DE JANEIRO— flEOUNDA-FLIRA 18 DE MAIO DE IMI 



Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 40, p. 1, 18 mai. 1891. 



1026 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



CARTAS DE ITALIA 


Roma. 20 dc Abril dc 1891. 

Summaiuo-A qucuão da F.thtopia —Queixas 
contra a França— Consolações e pobres a 
Viva a França/- O Parlamento- Italia c 
Inplaterra- Italia e Allemanha — Italla e 
Estados- Unidos -O Hei— O Sr. Xicotera- Co- 
lombo e a r.vjjosição de 1892-0 Conde tf£u — 
An tonto Prado. 

Foi distribuído ao parlamento um Livro Verde 
sobre a missão do conde Antonclli na Abystinia, 
ou, mais cxactamente, na Etbiopia, pois— «Man- 
go* ta Itiopia* (reino da Etbiopia)— 4 o nome que 
dão ao seu palz os «ltiopisvans», chamados 
Abvtsinios na Europa, E' um relotorio composto 
de tres partes c repleto dc documentos explica- 
tiros, cm que se trata da repugnância de Me- 
tielik, o «negus* ou rei supremo da Abyssinia 
em aceitar o protcctorado italiano, e do* nego- 
ciações relativas A interpretação do artigo 17 do 
tratado de Ucrialli. 

Seria muito longo expor aqui o conteúdo de 
toda a papelada, de que se tira cm definitiva 
que os italianos não so subirão vontajosamente 
dos seus ucgocios com o successor do Preste* 
João dos índios. 

O artigo 17 exprime o focto essencial da inter- 
ferrneia do governo italiano cada vex que Meus 
lik tenha de dirigir-se a qualquer outra potência 
ou governo. E desde o principio começou o negus 
a (altar a fé do tratado, dirigindo-se directamente 
ao imperador du Allemanha c ao presidente da 
Republica Francesa, para cornmunicar-lliet o seu 
advento ao throno. Como o facto não tinha gra- 
vidade e não era mais do que uma transgressão 
do principio estatuido, o ministro dos ncgocios 
estrangeiros, que nesse tempo cr* o Sr. Crispi, 
telegraphou ao conde Antonelli, para que pos- 
sesso simplesmente «um sabão* (uma /anafa 
(ti capoj a Mcnelik, quo nisso agia sob a 
influencia dc curopéos adversários da Italia cer- 


povo. 

Xo dia 13 o senado votou o orçamento 
modificado para o exercício de 1890—91. Foi 
adoptado por 54 votos contra 4 . O déficit é de 
54 milhões de liras ou 21600:0008000 do Bnuil. 
O Sr. Cambrny-Digny, relator da comnússão de 
fazenda, pedio aos ministro* a mais severa eco- 
nomia, c que fizessem nas despesas redacções 
de caracter permanente. >ia discussão, o minis- 
tro dos finanças, o Sr. Luzxatl, declarou que o 
governo já tinha começado a cortar despesas c 
continuaria nesse cominho. Assim os venci- 
mentos dos conservadores de bjrpotbccas vão ser 
reduzidos, o que trmrA um beneficio de 400 000 
Uras annnalmente paru o t besouro publico. Al- 
gumas tropas já foram retiradas da África. 

Xo ministério da marinha* é que o Sr. Las- 
sa ti não ponde conseguir redacção alguma. O 
almirante de Saint Bon, que 4 o ministro desta 
posta, epretentou um orçamento com as despe- 
sas auguicutadas porque julga indispensável u 
orgauisaçào de uma esquadra de reserva. 

O senado autorisoa o governo a denunciar os 
tratados de commercío, prurogul-os ou a cele- 
brar novos. 

Xa camará dos deputados começou no dia 14 
a discussão da lei do recrutamento do exercito. 

O professor Sbarboro foi derrotado ua eleição 
de Pavia, sendo eleito o candidato ministerial 
Sr. Rampoldi. 

O Times publicou no dia 14 um telegramma de 
Roma dando conta de certas declarações que o 
Merques de Kudjni, discorrendo sobre a Tríplice 
Allisnçs, fizera a um homem politico, cujo nome 
oão foi declarado. Segundo este telegramma. o 
Sr. Rudini disse que a Tríplice Alliança era de- 
fensiva e nio o Ofensiva, e a inelbor garantia da 
paz da Europa, que a Italia devia cada vez es- 
treitar mais as suas relações com a Inglaterra, c 
que se se desse a eventualidade de uma guerra 
entre a Rússia e a França, dc um lodo, e do 
outro qualqucrdos potências da Tríplice Alliança. 
necessariamente a Inglaterra teria de intervir ua 
Inta para combater a Rússia. 

Dctias declarações concluirão, sem razão al- 
guma, vários jornaes franceses, de que a alliança 
selornára quadrupla pela adhesão secreta da In- 
glaterra. 

A Opénione e todos os jornaes governisios des- 
[ mentirão formalmente as declarações st t ri bui das 
ao primeiro ministro italiano. 


lho contra o capital. Foi distribuído um violento 
manifesto, tirado a cento e ciocoenta mil exem- 
plares. 

A municipalidade de Geoova enviou A de Se- 
vilha um album contendo 55 pbotographias dos 
prindpaes monumentos da cidade e reproduzindo 

0 de Colombo em todas as suas particularidades 
assim como os autographos do grande navega- 
dor qae se conservão no palácio Tursí. 

Isto 4 uma pega dc finezas A municipalidade 
de Scvilh* qae no anno passado tinha mondado 

1 de Génova nm album do mesmo genero re- 
produzindo especialmente oe monumentos que se 
ligâo A historia do immortal genovez. 

Entretanto ninguém mais folia da Exposição 
Commemorativa d* 1892. Xio ha festeiros pera 
a festa neste tempo de economias. 

Esteve alguns dias na nossa capital, du- 
rante as férias da Paschoo, o príncipe Gaston 
■rOrleans, conde d*Ea, acompanhando sua irmã 
mais moça, a princeza Blonche d’Orieans. Soas 
Altezas Reoes voltarão logo para Canne* onde o 
príncipe foi reunir-se A Sra. condessa d'Eu e aos 
seus filhos. 

O visconde de Ouro Preto tenninon a soa vi- 
sita As nossas principae* cidades este il lustre es- 
tadista brazileiro. Em Roma sei que clle exami- 
nou muito attentameote. como um joven estu- 
dante, todos o* principae» monumentos, museus 
e bibliot becas. 

S. Ex. já regressou a Paris donde me dizem, 
tenciona partir breveuiente com sua família para 
o Brasil. 

Acha-se agora em viagem pela Italia. com 
o funde inspeccionar os eacriptorioa de informa- 
ções da emigração para o Bnuil. o Sr. conse- 
lheiro Antonio Prado. Por toda a parir, particular- 
mente em Genova.tem S.Ex. encontrado o mais 
caloroso e cordial acolhimento. A imprensa tem 
recordado o* serviços do ülu»tre braxüeiro A grande 
causa da abolição da escravidão e os ocas esfor- 
ço a intelligentes e perseverante* para ougroeo- 
tar no Bnuil e numero jA avultado de trabalha- 
dores europeus. Da sua visita eapera-ee qu* al- 
guma cousa de bom resulte para a solução da 
questão da emigração para o Braxil, 

Mija em sua companhia o Sr. barão de 
Santa Anna Xery, seu secretario, que tendo vi- 
vido loogot annos na Italia, onde completou oe 
seus estudos, acha-se aqui como na própria 
terra. 

[Antoalo Borra. 


Cartas de Itália (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


temente. Mas na cópia do tratado, que levou 
- muito tempo a diaculir-ae e a redigir-se, eteapou 
a palavra ma etllalo cm ve* de rali, referindo-se 
' ao artigo 17 do projecto. , Escapou a palavi 
r penna do traductor. qne 'tinha inttrucçüe* do 
■ ncgus neaie sentido. Não .houve meio, de cooso- 
. guir de Menelik outra traducção do qne alie 
' diria ser o verdadeiro texto do artigo 17 do tra- 
tado em lingna amariea. para substituir a versão 
que alia jnlgava ofTenaiva á sua dignidade. K o 
embaixador, rompendo as negociações, vol- 
tou para a Itaiia, abandonando não o artigo 17 
do tratado como o resto. Uoja os principaes 
nrgãos da imprensa italiana qneixão-se amar- 
gamente da ingenerosidade com que os fran- 
oezes procedem para com a Itaiia, intervindo 
nas snat questões de poli ti ca colonial afri- 
cana. mesmo tão longe de alcance dos interesses 
f rancei es. 

Estão todos coDTencidup, pelos proprios di- 
zeres do relalorio do conde Antooelli ; que ‘a 
intervenção da imperatriz ou rainha da Abjra- 
sinia para a recusa do tratado foi obra dós agen- 
c* europeus advertarios da Itaiia, isto é. dos 
agentes francezes. E os italianos se admirão de 
que aôs francezes não contente a sacrifício do 
Sr. Crispi, o homem de estado. italiano que mais 
us visitava. Pcnton-se que a retirada de Crispi 
assign alasse o começo de uma distensão entre 
oi dons paizes : qne a Itaiia padeise fazer so- 
erga (lamente o seu caminho na Abvssinia, que 
a França abrandasse os rigores do seu protre- 
cionismo aduaneiro. Até deste lado parece qne 
está perdida a esperança. Pelos telegranunaa 
qna vím de outro lado doa Alpes tomos infor- 
mados de que a maioria dos conselhos ge- 
mes em França .pronuncia-se pela proleccio- 
nismo em política ecooomica. 

A unica consolação que se póde tirar do aosso 
insucccaso colonial é qne por este lado podrmoe 
realiur algumas economias, já qne não podemos 
augmrntar por ahi a renda nador.al. Reduzindo 
a zona de oocnpaçáo na Abyasinia ao triangs> 0 
<le Atmara, Keren e Maasuah, e abandonando 
os postos avançados, altelia não renuncia com- 
pletamcnte aos s«us intentos ; deixa apenas 
agir o tempo que ainda é um dos melhores di- 
plomatas nas cousas africanos. Emquanto isso, 
melhorarão talvez as comoções financeiras do 
paiz, que agora são bem calamitosas. 

O estado tstà pobre e o povo ainda tnai< 
sem esperanças de enriquecer, nem um net 
outro. A agricultura deperece ; a industria não 
prospera sob o peto dos ià) postos ; a política 
italiana não acha meio de abrir novos entre' 
postes commrrciaes ú actividade nacional. 

0 paiz está coberto de ferro em baionetas e 
de ouro em galões ; o mar, de navios de guerra, 
que não transportam, só consomem riquezas. A 
miséria é grande. 

JA ’ se pede ao governo qna obrigue 
I panhins de navegação subvencionadas a ex reatar 
| a convenção que as constrange a construir e re- 
parar o sen material no .paiz, afim 
occupação aos milhares de braços drsoccupadoi 
que por emquanto aúo arrebatados pela etuigra- 
.çãopara a America do Sql, mas qne breve- 
mente serão em exercito de descontentes, quando 
o socialismo os tiver organizado e disciplinado. 
Ainda mais, ba trabalhos públicos urgtnlcs, 
qne não podem mais ter adiados: o governo 
tirando os olho* da sua polifica exterior Terá no 
iuterior muita obra para a sua actividadf pa- 
triótica, prroccnpações mais. graves do qne tra- 
tados com o negus da Abvstia ou troca de notes 
diplomáticos com o Presidente dos. Estedos- 
Uniclot da America. 

A hostilidade, mais ou mçaos disfarçada, do 
governo francez e. sobretudo, a. linguagei 
vinnaincnte insultuosa do ' muitos jornalistas 
franoezes, tém produzido na Itaiia, desde slguns 
annos, um grande fermentolde indignação nos 
circuioa ofSeiart • no povo, ruas ha ainda mui- 
tos italianos qne. apezar de 'tudo, são partidá- 
rios da aliiança franceza, e outros que, não 0 
sendo, mostrão-se todavia gratos aos serviços 
que a Itaiia deveu á França no tempo de X‘o- 
poleão III, de Yictor Manoel e Cavoor. 

No sessão de 17 na câmara dos deputados, 
o Sr. Imbriani proferiu da tribuna estes pa- 


O qua ba de exacto é simplesmente qne o S: 
Rndini deseja manter a melhor intelligvocia cot 
a Inglaterra, o que de nenhum modo occnlla tu 
pensamento de hostilidade à França. Pelo ccm 
trario, esse bom arcordo entre os gabinetes d 
Roma e de I.oodrvt tornará a Itaiia roai iode 
pendente em soas relações com 
Auslrii. 

Xo dia 15 o Msrqoez de Rndin 
inglez I-ocd DufTerin asiigqsrão 
fixando oa limites das espberas de infloencia di 
Itaiia e da Inglaterra nu Nilo Anil e no mar Ver 

melbo. 

0 imperador Guilherme telegrapboo ao noss< 
rei, annunciandoque dera o nome de Humberto i 
um dos grandes enoonraçados em cmstrucção ot 
arsenal ds Stcttin. 

O rei agradeceu muito oordealmeote este t>or< 
testemunho de boa amizade do imperador. 

liiterpellado na camara dos deputados, tx 
dia 17. pelos Srs. Mariaetti • Lnrim. st br* « 
lynehsmento ds XoVa-Oriegns. o.Marquex de Ilo- 
dini rvsponden que quatro dos aasasai nados cri., 
súbditos italianos, e que ellc logo chamou a at- 


« bsrbsro at- 
mças taiisíac- 


tenção do gnvrrno federal para et 
tentado e recebeu a principio segui 
terias, qne Ibe formo conGrmadas pelo ministro 
dos Estados- Unidos junto a 


Constituição não podia envolver-se noa 
nrgociot do eatádo da Lniziania, o Barão de Fava 
uma nota a Mr. Blaioe para lombrar-Ibe 
que a Itaiia não pretendia discutir a lei cmnstitn- 
cional do paiz, só reclamava justiça s não podia 
ndmittir a irresponsabilidade do governo federal. 

Com o silencio de Mr. Blaine. o governo italiano 
ordenou ao Barão de Fava qoe se rotiraase dos 
Estedos-Unidos entregando a legação ao secre- 
tario Imperiali. Depois deste o ocu n cnoa Mr. 

gado de negocio Imperiali e cate. arguindo as 
i ostra cçòea qoe recebera pelo telegrapbo, re- 
iteliaoo não julgaria en- 
cerrado o incidente diplomático senão qnaodo 
fossem processados os criminoso*. 

O Sr. Rndini manifestou à cantara a espe- 
rança ds qne o governo de Washington encon- 
traste uma solução favoravel nos direitos ds 
Itaiia, qne são também os dos paizes cultos, 
todos solidários na canta qoe eUs defende. Ac- 
crescenton. terminando, que não havia razão 
para prever graves complicações, mesmo qnando 
se não chegasse a nma decisão satiifactoria, mas 
qne. se tal se désae, ellc teria motivo para de- 
plorar profnndamente qoe paiz tão adeantado na 
civilização ae mostraste assim tão pouco escru- 
puloso dos princípios de justiça uuiverstlmenle 
aceitos c em pleno vigor na Europa inteira. 

Os interpellantes drclorarão-se satisfeitos com 
as explicações do presidente do coo telho. 

Depois deste discurso tivemos conhecimento, 
por um teiegramma de Washington, da resposta, 
tão demorada de Mr. BUine. Foi nma dece- 
pção. O secretario dos negocius estran 
que o presidente Harrisoa et 
procurador geral 
sobre o caso de Nova Orieaos. Ve r-se-ba depois 
do inquérito se a questão pódc aer levada aos 
tribunaes dos Estedos-Unidos, porém, t 
provável qne o processo só poeta ser intentado 
perante os tribunaes da 1 

|u« o presidente póderà fazer aeré 
autoridades daqueOe Estado qoe 
promovão o processo a j 

Esse conselho já foi "dado pelo preaidente 
desde 15 de Março. 

De sorte qne n*aqaelle grande paiz. um pe- 

geiras. 

trasgeirv qo» k tateada com o governo federal 
encarregado das relações exteriores, e 
vento rtrpoode qne «ó está em intt mi 
selhar as autoridades dos Estados, e nada póde 
conselho» forem desprezados 
. Bella constituição que dá rrsnhados taes ! Ha 
mundo uma outra grande confederação, o 
imperio brilaonico, com aa suai rica 


■ Ainda que conservâodo-nos inteiramente 
italianos, devemos desejar manter boas relaçõea 
com n nobre noção f ranceis. Lembro-me de 
tudo quanto ella fez em prol da Itaiia. • 

0 Sr. Bianchcri, presidente da cimtra inter- 
rompeu o orador, dizendo : 

a Todos aqui partilhamos os sentimentos do 
orador pela França. ■ 

Mas as manifestações da sympatbia são retri- 
buídas quxsi sempre nos jornses franceses com ■ 
ironia ou a injuria aos «vencidos de Custozza e 
Lissa«, aos que «nunca poderão vencer senão 
com o auxilio da fúria franceza-. Estas s ou- 
tras amenidades do mesmo gosto são logo repro- 
duzidas aqui pela imprensa' e coLlocão em po- 
sição dirticil e summamente falsa ós amigos ds 
França. Nenhuma olfenu dóe mais do que as 
que são feitos nu amor propfio nacional dc uni 


t ui pão espeeial. Mas casos destes não se dio nos 
vastos domínios da corôs britaumea. 

E* muito provável qna o rei faça próxima 
ente uma viagem à ilha da Sardenha. ] 
unica parte do reino qne Soa Magestade não 
ohtee ainda. 

[-se que haverá então uma rotrvTitta do , 
rei eom o preaidente Caraot, indo e«!a viiital-o 
Satsari. 

Foi muito festejado o ministro Xirotéranavi 
gera que acaba de realizar pelo Piemonte e 
Lombardia. 

Em Milão, Turim e Gênova recebeu mu 
delegações ds operários. 

Um grande meeling socialista teve logar 
em Milão no dia 12, estando presente* dele- ■ 
gados da França. Hcipaaba c Allnaat 

Rouaret. do conselbo municipal de • 
Parir, foi muito applaudido. A reaüiãó TôtôC uma 
ordem do dia em favor da manifestação de 1* de 
e da organisação internacional do traba- 
lho contra o capitel. Foi distribnido um violente . 


1027 


Cartas de Itália (detalhe) 


1028 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 47, p. 1, 25 mai. 1891. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1029 


_ 

CARTAS DA ITALIA : 


Um pavoroK) desastre. — Abolição do etcrutinio 
de litta. 

Roma. 30 dc Abril. 

No dia £3, pelo* 7 hora* r 10 minuto*, Rom* 
foi despertada do *eu socego matutino por 
uma explosão terrível, que a todo* se Afigurava 
visinha, qua ftt em eatiibaço* ao mesmo 
tempo toda a vidrnçaría da* casas, que abriu 
portas * jonellas mal . fechada* a derrubou gente 
oo* terraços como oo ímpeto' de um furacão, e 
fez desabar muro* e tectos e racbar parede* como 
se as sacudisse um terremoto. 

O j.i-. irjiv \ <R ImI-a f j • — «• « 

' 0 - .■ dí ê c is tti.il, 

I segura*. Ao estroudo espantoso da explosão, I 
J se guio- se o clamor da população feminina e da 
gente fugindo espavorias t >em destino, interro- 


fu- I gando-sc, em uma opprebensão angustiosa de 


I qualquer cousa de terrível oue se passava. _ 
I pelai ruas alaetrodae d* miudoe fragmentos de 
I vidro, corríão todoe na direcção da porta São 
I Paulo, donde e« ele va vão grossas nuvens de 
I fumo. velando o horironte. Do céo cabem cinzas 
I e restos de explosão. A cidade inteira «e agita 
I no pânico de um cataclismo. 

I A explosão tioha sido do deposito da polvora 
I do forte Rrovctta. a cérca detres kilometros dn 
I porta Portese : 205.000 kilograinmas de polvora. 

I que sc incendiarão de repente, uma bomba co- 
I loatal. O sitio era pouco habitado. Aquil os 
I bandas do monte Tostoccio são pobres. Entrei an- 
I to, podia ter morrido muita gente, s« alguns 
I minutos antes da explosão não se tivessem ou- 
I vido no interior do paiol da polvora uns estoli- 
I dos como do fogo de artificio. • 

I ' O capitão da engenheiro* Spaocamcla, que fa- 
I ría a renda no* ebrredores, ouvindo isso. deu o 
I alsrtns ao» soldado* que montavão guarda, or- 
I denondo-lhes que ee espalhassem pelos arre- 
I dores e prevenissem a população para que esta 
I fuoissc A explosão que êlle previa medonha. 

I Foi elle a primeira victima. Quando todo* 

I tinhão partido e elle j4 estava a uma centena 
I de metros de distancia, conflagrou-se toda a 
I polvora. oocultou-sc a face do sol, um clarão 
I rubro, itnmeaso, substituio-se 4 sua luz e o ar 
I todo e a terra se moverão em umn deslocação 
I de incomparável violência. O capitão Spacca- 
I mela foi arrojado a um fosso de onde horas 
I depois o retirirão desfalkcido, graveniento fe- 
I ríefo. | , 

As victima* forão poucas relativamente : dou* 

I mortos instantaneamente, cento e sessenta e 
I tantos feridos, por estilhaços da explosão ou 
I por t lhas, vidraças, ou tnuros que deaabãrào ao 
I abalo. 

I Os soldados maodados pelo capitão Snocca 
I rnela ' tinhão entrado pelas casas visjnuas do 
I forte c com gritos, aocordando os homens oiuu- 
I Iberes, carregando para fóra as crianças e os en- 
I fertuoe, tiuhao feito evacuar os casebres, dos 
I quáes em um raio de doas kilometrcs- nem um 
I s0'fiçj>u de pé. i- 

Agcntc, msl acordada do bom somno da 
I iminhà obedecia aos bertaylieri inochinalmeute. 

Diçi* depois uma velha, carregada para fóru de 
I casa por um soldado,. qus aquelles militares sr- 
I tnados parecião sujos sslv adore* vistos cm sonho. 

I A explosão foi tão forte que matou uma mu- 
I hef a dous kilometro#. Também oavirão-na de 
máito longe por toda a campanha roaaoA E 
I logo começArão a chegar a Roma tclegraininas 
I pedindo noticias s informações. Em um sõ dia 
I « -hcgArão 6.000 telegrommaa a forão expedidos 

á yo primeiro momento o pânico assaltou os 
moes como os homens a reinou um* grande 
turbação na cidade. Saltou geote do prunciro 
I nddor das casos 4 ruo, ferindo-se na queda. Das 
I catai d* hanhna homen» * mulheres sahírÔA mis. 
Dspois dos vidraceiros, forão os médicos, os 
profÍMÍonaes cujos serviços andarão mais solici- 
I lados. Muita gente adoectu com o abolo. 

A basilica de S- Eedro foi fechada: os es- 
I tragos nas bellos vidraças coloridas são irrepa- 
ráveis. Os vidros dacnpola quebrados vão deixar 
I exposta ao tempo a navs desabrigada. 

No Vaticano foi grande o susto. Houve pes- 
soas feridos. Os prelados pontifícios cuidarão 
I que era a revolução que começava. Mesmo assim 
Leão AU1, que dizia missa, apenas olhou paru 
a janella e continuoa o oílicio sagrado. Houve 
^condes 'perdas nu* galeria* d’axte. Logo .me 
ududto s lembrança do* espelho* da galena Bor- 
gbese pintados por Mano di Fiori, se se que- 
I brorião. I 


toro! hem podia continuar o seu mandato até • 
fim «la legislatura. E assim voltou-ee 4 reparti 
ção do reino -em collegioa de urn s<> deputado 
organisedos nroporcionalmente oo numero «b 
população. Nés no Bnuil, com nma educoçii 
política bem inferior a da Itália e França, aindi 
agora começamos a recomeçar a experieacia dt 
•)stema que 14 mesmo j& achamos w4o e qm 
aqui ninguém mais acha bom. 

Na ultima sessão em qns diteut ia-se o as 
«umpto eslavão todos tão de oecónlo ou tãc 
fatigados da disenssão, qne os oradores qu« 
propunbão emendas erõo frequentemente inter- 
n.mpidos com gritos de : tkufa ! rate meu. tule 
oeeorre outra conta ! Interrompério Imbriani 
que /aliava, e étte. que nio tem papoa na lín- 
gua. ditse que.a 'camara composta de pessoas 
cortczes era no entanto collectivamente de 
um procedimento qne revelava a completa igno- 
rância d* um ia) livro (referio-se oo do civi- 
lidade). . • > 

Não o dciXArão acabar e o presidente Binn- 
cliere disse-lhe que respeitasse os collegas. Im- 
Lriani observoa-íhe. pachorrentamente : 

■ Vamos 14, Sr. presidente, qne por fim de 
contas somo* todos bons amigos • ^ Hilaridade ) 
Noutro momento da sessão Imbnsni pergun- 
tava ao ministro sc aceitaria nma emenda sao 
mas Nicvtera conversava com nma porção de 
deputados, qne lhe rodeavio a banca e nao lhe 
dava attençao. Imbriani gritoa então: «Sr. go- 
verno. que estA faltando com a clientela?,..» Ao 
que Nicotcra replicou de prompto : »Eh. clien- 
tela incerta!...» E toda a cornara cohio na 
ritadà. 

Mos esta mesma assembléa. tio proinpta a su- 
blinhar com risadas os pilhérias trocadas entje 
ministras e opposicionLsUs, xangoa-se ni sessão 
do dia 29 com um discurso do mesmo Imbriani. 
um turbulento que é quem alii fax a alegria da 
casa. Imbriani verberava a teimosia do governo 
em sustentar a política colonial africana, qne a 
tanta drtpcza obriga, aera lucro futuro para o 
estado, sem. proveito . para a nação, nem gloria 
para o soldado italiano, que, em contacto com 
esses povos da civiliaaçôes nullas ou inferiores, 
(tesmoralilio-ae em vex de os ci vi Usarem. 

A propoaito, alie citou o boato do apresa- 
mento de um barco corre gado de jovens escra- 
vas que os offkise# repartirão entre si e as 
pancadas dadas por um oflficiol italiano em um 
rapazinho abysimio que não qaeria ^ comer 
carne de cabrito porqua, a tua crença lh’o pro- 
hibia. Essas ooensaçoes levantArão na camara 
nra tal clamor que o presidenta achou melhor 
cobrir-se e suspender a sessão. Ha verdades 
importnnas e a camsra evita oavi-lat fazendo 
algazarra e pedindo ao presidente que retire a 
palavra aos oradores que as enuacião. 


AXtONIO SAARA. 

. . ' — «... r«u*' o 


Cartas de Itália (detalhe) 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


E o* da galeria Cvlonua « a» maravilhas em 
cerâmica, os vidro* vtauiaooi, aa purrellanas, 
as cousas miraculo semente escapada* às vicis- 
situdes dos séculos, que o estrondo monstruoso 
tenà destruído. Dizem que ha dou* milhões de 
prejuízo só dos bens do estado em Roiua • dous 
milhões e meio dos particulares e da municipa- 
lidade. A igreja soflreu perdas no valor de cerca 
do 800 000 liras. Toda* as vidraças da magni- 
fica basílica de S. Paulo de Ez.tra-inuros vo*- 
rão. Kesla indeumUar o* prejuizo* dos parti- 
culares, se isso for possível. 

Por cmquanto jã o rei determinou que se 
desse agasalho às pessoas que ficArão sem abrigo, 
toda a pobre gente do Testoccio e da porta 
Portese. 

Sflrvissc isto de lieçio para que não se per- 
mittso taes massas de matérias explosivas na 
visínhinço de uma grande cidade.. ■ Na Itália 
meridional sobretudo, onde ha tonto' campo 
deserto per® (wúaaa dejwlyora. 

O rei Humberto (oi mn dos prirtdn»»-»- •• 
encontrar no lugar do sinistro, solicito em di- 
rigir os sooconos aos feridos, a remoção doe entu- 
lhos das casas que ooculUvõo . vic tunas gemen- 
tes, em animar oom a sua presença a desolação 
do pòvo. * 

Entrando em um esUbclediuento de caridade, 
risinho do forte Bravstta, a escola agrícola da 
Vigna Pia, dirigida por frades, «He nao encon- 
troa senão um religioso, que, sem o conhecer, 
entrou a contar-lhe comova cousa se tinha 
dado e na exhuberahcta da gesticulação italiana 
apertava-lhe o braço e sacudiu-o energicA e fa- 
iniliarmente. Dcpolã, quando soube com quem 
fsllsva, desfez-se èm escusas, confuso s hu- 
milde. Mas o rei tfmnquillisoa-o amistosa mente 
c elogiou-o peto bom procedimento em não 
abandonar a casa como os outros religiosos, 
que tinhão fugido espavoridos com alguns dos 


alurono*. ■ P* 

O povo fe* uma ovação ao rei e voto* de 
graças lhe forão dirigidos pela municipalidade e 
pelas causaras. c * 

Na camara dos deputados o ministro Branca 
f aliava, dando explicações do desastre, quando 
do-tecto esburacadrf p«ll> explosão caluo^he ao 
p* um pedaço de vidro da clarabóia qu«br%la. 

File deu um pulo asaoatado, ♦ os deputado* 
rirão. Foi talvez essa a uniem risada que o ea- 
psntoso acenterimento pôde provocar.. Quanto ri 
aos moradores da* i isinnanças do outro# deposi- 
tõs de polvora, esses se acbão sob umaial im- 1 
p rossio, que o menor rumor os põe alerta. - m 

Ainda na madrugada de 25 houve uma corrida 
louca de babitanta*"dô campo visiobo da .poeta 
3. Psncracio que invadirão o posto da alíaodega 
e que rià<> a toda a força entrar na cidade, fugin- 
o do deposito de polvora que alli fica e 
ue, dizião ellea, ia saltar como o outro.. 

1 Tudo averiguddo je depoU de se tarem -abalado 
policia, autoridades e ministros, eoncluio-se 
que fóra uma stiUinella^ que. ouvindo ou sup- 
pondo ouvir dous tifo* no iótenor do forte 
ou no campo em torno;, deu immedistamentc 
0 alarma. A guarda acudio com lanteruaa e 
aquellés movimento* d# luzes oo meio da es- 
curidão da noite fez crer ao povo que ia haver 
uma explosão como a da porta rortese. E’ a 
desmoralisação dos nervo* pelo terror da pri- 
meira eatastrophe. 

Quatro dias depofs em Ceogio.Savona.ein nma 
fabrica de cartuchos de dynomite deu-se uma 
pequena explosão, qnasi desapercebida nela gente 
do lugar e que com menos estrondo matou 
instantaneamente quatro raparigas operarias e 
ferio a duas outraa. E’ paia que se continue a 
dizer que um* desgraça nunca vém só. 

— Depois da França, a Itália abandona o 
•vatetua eleitoral preoonisado para Gambetta 
como o coroarocnto de um edincio constitucio- 
nal ve rdadeir amente moderno. 

N* Italia não durou dez anno* a experiência 
desse' systenia, adoptado em Dezembro de. 1881, 
ao mesmo tempo que a extensão do suffragio, 
de 650 000 a 2 .600.000 eleitores. 

Pensou-se logo *rfs**e tempo na influencia 
excessiva que o governo poderia exercer sobre 
um corpo eleitoral tão considerável c tão pouco _ 
exercitado na confecção das listas plurinomi- 
aães. E Depretis, que era então o presidente do 
conselho, consentio em uma tran* acção que con- 
sistia em limitar o voto nos collegios eleitoracs 
de cinco deputados, cada eleitor não podendo 
votar senão em quatro nomes da sua )U|*. 

Era isto destinado a garantir o direito das 
minorias. 

Por meio desta coocessio um tonto virtual e 
pouco pratica, o accôrdo *« estabeleceu entre o 

S overno e a com missão de estudo- Em Setembro 
e 1882 a lei do escrutínio de lista foi incorpo- 
rada na lei organica eleitoral. Os annos decorridos c< 
desde então mostriráo à saciedade os vicios ra- g< 
dicaes desse systema. que parece inventado para 
destruir toda * a communicação directa entre o 
committentc e o deputado, falseando a expres- t« 
são da vontade popular, destruindo a represen- 
tação dos interesses locaes e organisando a tj- 
rannia snonyras dos directorios sem mandato. 

Desde antes da qutda de Crispi sentia-se na p 
opinião um movimento em contrario. O roinis- 
tró da tripüce alliança, que bem conhecia as 
vantagens que um governo abusivo encontra no p 
mecanismo de mn tal systema, queria reduzir as 
70 províncias histórica* da Italia a um pequeno 
, nqraero de colleirios eleitoracs que o governo diri- d 
, ifisse pelo grande numero de nomes a eleger em 
, listas collossaes. 

A política de Kttdini e de Nicotera rncontruu i 
o terreno preparado para pronôra abolição dease 
[ fundamento da do seu predecessor. Isto noin 
uniu simples cousulta 4 camara, ao mesmo 
tempo liabil e leal. A camara conservou nesta 
questão toda a sua liberdadu de acção e a revo- 
I gnçio dalcí do escrutínio de lista por 182 . votos , 
contra 75 ganbou assim todo o prestigio de uma c 
decisão tomada com a mais perfeita indepen- 
dência. 1 

O governo teve um ponto a esclarecer na 
discussão, uma questão quost de casuística par- 
0 lamentar. Dizião os adversários do revisão da 
Isi eleitoral que uma camnra eleita por um modo 
de escrutínio nio póde adoptar outro systema j 
sem ip*o facto decretar a sua dissolução Esta 
consideração tenderia q fazer que um parlamento 
■ não toqne no svstrtóft eleitoral senão am vesne- 
1 1 rss de terminar a seu mandato, a titulo da dis- 
a posição testsmentaria, paramente. Verdade é 
O que. nessa caso, os adversários da nova reforma 
•0 podem dizer que uma camara prestes a sepatar- 
le nr não tem mais mandato assaz autbentico. não 
e è bastante representativa para ousar taes im- 
io prezas. Assim se immobuisaria uma camara, 
rontra a sua vontade a contra o do paiz, rn 
» um ult(lli:i 

'1 *■ O í>*. Niculvra, declar o u qisc - 

o, («rio julgava que não havia relação alguma 
U entre o secretario da lista e a dissolução da ca- 
o- niara e que etU/ipOa a modificação da íei elei- 


Cartas de Itália (detalhe) 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1031 


JORNA] 

j DO BRAZIL 

ANNO 1 

JOItfALDO BIIAZ1L 

DIA A DIA 

RIO DE JANEIRO - SEXTA-FEIRA 24 DE JULHO DE 1891 


“ - n m 








iLT. t-Lr&ri” 





Cart*» ém ItaUa 


NOTK IAS DOTO&IS 




rsrazA -TTOJUtJt 









<UK^b»r» 


wnii raiiVD 




TUIGRAMNAS 






4- 


Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 107, p. 1, 24 jul. 1891. 11 


11 A crônica anterior da seção “Cartas de Itália” (n. 105, de 22 de julho de 1891) traz 
uma suposta tradução de um texto de Edmondo de Amicis dedicado à memória de Garibaldi, 
recém-falecido. Como não há informações que corroborem a pseudonímia, e também atentando para 
a diferença de estilo e de estrutura entre tais textos e o das demais crônicas de Domício (sem falar na 




1032 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Carias da Italia 

l!OMA, 3 de Jnllm* 


Sl MJIAltlu— Serniu tumtiUmtm »a mmarti-SaltMtt 
din aijiNchinha* itnliuttoi ilr Tvoit—A rrlntrii 
rrãn rir l.rrrofhi—A ntririorir rio rri - A mmttmt 
cm Aoririn - O» riorllm ao rxrrrito-O Ihrwum 
rir S. I*nim. 

Uma manobra política do governo, que não 
qniz Tér curem rein-ac o» trabalho* parlamenta- 
res sem gnnliur umn nono de confiança, deu 
lugar a incidentes que não contribuirão elevar i> 
prestigio de que »iu mdeada» as dclil«cnções 
Mnntecitoriu. 

A opposição tiniu nnnnoriado uma interpjd- 
lação a«« guvcmn ãcéfCa da política exterior 
(Kwmqfto da tríplice alliança etc.) cnglobaml**- 
se nelln questões de política interna (suppreasio 
do» mrcthujM etc.). Ma» o gabinete não querendo 
responder no tnesino tempo ú» duas quest*».* 
reunida» U força. Cavallotti retirou a sua questão 
sobre a poli tira exterior. rescrvando-ic pnru 
tornara aprcsenta-la depois que o governo hou- 
vesse respondido A de Colaianni sobre a suppres- 
sào doí comícios e outras medidas dc ordem, 
ultifnaimnte tomadas. 

O presidente annuucion então a leitura de 
uniu intcrpcllnção de um antigo membro da 
opposição. o Sr. Urine, que «meria interrugar o 
ministro dc estrungeiru» sobre a direcção da 
política exterior Era um compadre que o go- 
verno faria vir em sen auxilio, afim de fazer 
ligura na exposição das tendenciu* c gesto» da 
tríplice alliança. qne sempre será mu elemento 
dc Iriumpho para qualquer governo italiano vm 
perigo. 

Os radicaes, porém. I«vaitlàru«» tal grita u 
nroposito da questão de ordem, dizendo que u 
Sntorpcllação de Colaianni devia vir em primei- 
ro lugnr. que no primeiro dia nada *e fez. npe- 
znr de unta primeira »u»pen*âo da sessão ã» (5 
horas e dc tuna secunda ás 7. 

No din seguinte (M dc Junho) aberta a 
sessão no mem de uma tfTi-rvrwenria ameaça- 
dora. o colur que drsein da clarnbtna c que »c 
desprendia da imuit-nsa multidão que enchia 
a sala da* *e*»òcs e u* tribunas do palácio le- 
gislativo dc Mcntecitorio. desencadriou alli uma 
tempestade euino não lia me i cria na historia 
purlaiicntar italiana. 

Desde u começo Cavalhdi pr..tovt«»n coutra a 
rxpotiçã» da interpnllnção de Brin c««tm» uma 
transgressão do regulamento e uma «dTciisa 
aos dlrr-it"* da minoria. K i*ur mais que o pre- 
sidente da camara e o pri-sidt-ntc do conselho 
ic et fundissem por c«»u siderar ccuio exposta o 
interpcllsção Ilrin e quizrsseni passar .i de Co 
laiauni. a extrema esquerda nu*. pcnmttir. nem 

3 ue sc uuvi*»e a declaração frita pelo ministro 
c estrangeiro* dc que « fri/i/írc ollianra 
nvri rro^nulu, tar* era.» «* grito* que adia- 
rão c o motim que fazião coitiu meio de 
abstrnrção. 

!*ur iiui, esquentamlo-se cada vtz mais os 
mimos descerão o» deputados dos seus bancoa 
p drpiis de uma cerrada troca dc injurias e 
vitupério*, uivados mais do que pronunciado», 
romeçirãu a atirar uns u«.s outro» os cartões 
dc desatio primeiro e d-bi a pouco, não con- 
tente». pogúrão-»e u pancada. 

Cavallolti atirou-se contra a bancada em 
que ee osseotnvio Dctnaria e Ferrari* Mnggio- 
nno. Mobneati queria bater em quem Hm» 
alirott uma folha dc papel à cara. Unia onda 
de deputado» ia vadio o heniicyclo onde então 
»c deu uma sceiiu de pugilato indcscriptivel. 
Davio-se c recebiâo-*e *occ«>s couio_ imiiu « 
briga de meninos de collegio. Colainni.i «• 
PuvonecUi alraràriio-se. Fratti e Soaninn, fu- 
riosos, agarrados j*.r ainigns. qnerião de- 
rocar-s e . 

Os que intervinbão para apartar n* c-m.bn 
tentes sabião I.kIus rõlos. arraubud.-s e itioido» 
J«. pancada Os que ficarão de prior partido 
fi»rão O* deputado» qilt »e_ scnlnvuu no cmtr» 
eiqucrdo, por. pie aguentarão todo •» |«r»o da 
peleja alô pi«trem escapar-se . O* dn direita, 
esses ficirào QUÍeto». aMÍstindo âqnclb- l*nrh»«ii 


e vergonhoso Vspcciuculo. como quem se di verte 
a ver touro» de palanque. Xai» gritarão «•» ••• 
pertftdoris da* tribunas e galerias, sobretudo as 
senhoras. 

E os continuo», puxando pela rotina un* bn- t 
«udortt. grilarão initant* mente. lamrt.t* *» j 
mente : • Oaorrnrir. *i cvluii / Mi mniMM/i | 
0 presidente cobrio-se e sabh» da sala. Os 
ministros ficãrào nos feu* lugares. A* tribuna» 
forüo evacuada», exerpto a da imprensa. « nd- ‘ 
os jomulistas trimnrãn em ficar. 

A interrupção da sessão dnn»u qnasi nma 1 1 
lmra. Começárão nos corredores, nos gabinete* ! | 
das commissõe» e n« l«otrqnim dt caimiro a* 
recondliaçõcs, pela intervenção dos amigo» c.un j t 
ii»iiii». qne não qiicriào vér segnirrm-w eon»e 
qtiencis» mais gia\es ãqiH-lla sci-na vergonbo.-a 
on «01110*0. VrrificMi-sv que m» cbinfrin qnasi 
tudu» prrdfrão u eabtça e que lionvc muita 
naanntl I q*ic ern n o seu destino. .\**im Uarnl j 
iotti. «pis primeiro luvealit» contra iVmaria. r*-- 
euaüren que tinta thlo |»r equivoco e »p*-r- , 
lun-llie a mio. C<>laiuuui c IV Martin» tirerio 
iiiiiu exjdieação ideuilca. 

Xo intervallo o general Pnlhtvicinl di Prt«da. i 

primeiro ajudante dc campo do rri. vrio *aber , 

iiuticiat do que tinba MMtlicido. K nmit.s , 
nndurr» deScrfão d» C«|4tu|io aonde j.» tinha , 
chegado o eco do que se pa«*avu ua camara , 
baixa. ’ 

Kcabcrta a sessão, o presidente prnpox o »i-u | 
adiamento para a terça-feira, mas u ruinaru • 
adoptwa a pnrposta di/depuiauo Tosldi. para qne . 
não »o fjçã» mais caperer ns f.-rias parlaui»n'a- • 
rc». E dep*»i« da uma saudação do prrabb-nte í 
aos seita lollegas em mune da paz e da co«irt*r i 
dia, levanta *c » Srisãu à» 5 e <11 da tarde. , 
K* inútil dixer •» r*cauda!o que e*s.i derra- . 
•J« ira sessão da cauiara it.iii uiu prvduzio « i.t t*.do . 


0 piliz. 

Attribuio-fd a culpa à extrema esquerd!». com 
ns sua* violências ao g»*\cni >. que ijtiix I 

uma ctcflliioleaç.io p> liti» , n. nlilisendo cm »> ti j 
favi.r uma iutcrpel|v.,-à» da opp .siçfm no pr 
sidente Pdanrheri. que. traiMcrrduido um ariigo I 
•I» rcgul.iment», não aoiibr ilrp.ii manter a • r I 
dem na *ala. 

O que parece mais pioCav* ] i «plc . j 

,. a j,, r ii,i>-tiSo, q»ie remava un »u!a r> pb-tu de •! 
putad* s • de publico li» » tribunas, o qtte piovo- 
r „u aqoella i xnmloràn de unim**, iridu/imt*. 
por gesto» dc viob iicia muito rawMSS» etin- 
ioites ineridionai » exuberante». 

Mas não resta dnvída que a int«i»çào do g«* 
vemo. qiteera obtrr uma noção du eonfintiçn u» 
ultimo dia d.i sessão |iarlatrcnUr. foi roatpleta- 
menlu illndida. 

K tudo isso |KMrque é preciso qne o por» não 
»eja directamcnte coumltado a rr «peito d i n no- 
vação d.i lripÍM-4* iitliuoç.i. .\ abidiçjo •!» direito 
•lc* reunião política ci-rccmi |>P>fiiudanicnte •• 
principio da liberdade na llaliu... para «t-rvii 
a* v iulrrvvvc* da AHcinanba «• da Áustria. l*.-r 
paga lirno moí italiano* u mala «las índia*, fa 
/cmlo a embarcar cui £alonica eui vez d» Ibiu 
«liai . 

O cardeal l.avigcne venecn lôcclru *«■«;•* 

Tuni» ordetu da Santa Sv rliatnundo ú llaliu «•« 
misiomiio» italiaiM'» que faziâo niflcsmami « 
ubru «lo celebre cardeal íruuc*/. Illle CScrvv ia ». 
conde Uaffo. ba |h*mco» ilius, ilizeud» qn« * 
parlida do» religioo» capuebiue* de Tuni« «ia 
provocada |«eU supprrMáo da» «qunq.Vv i*- 
ligioAa* na llulia. 0« italiano», p< réiii. un» »•• 
d> ixáo levar pcln» Ihus palavns do ranb nl r 
entrudem rjnr I «ibililiiH^u iliu tui»ti >nari> * | 
|ii'.de ** r feita |*»r outr..« da uieMiin nucN.nah- | 
dnde embora, mas dediindo» ã nbrn do rar.b-il ! 
é uue uão pinleui »b i.«.»r de nr. 

•lá agora p«'»de vir de lauii a runimicsá* to* . 
meada |» l••s mter«^ -.4d.«s nu que lá liqin m • ■ J 
capnrbinlins italiano» «• malle/ea : o Santo l*a- . 
do? uno a receberá* uma vc* que «ll.« »»ra f«r- ‘ 
o:'*. I apresent ir-se prmo in» a qualquer uul 
rid.ide italiana e que a S.uta Sü não aduiii « ! 
que seja dada uo (MH *c**m!;i r a pHlStuia |J» 
bottieuMgen». Além di»*o já foi ebumado a«> Va- * 
(icano v procurador geral dos capuchinho* par., 
que cou»ninutcu»*e m s de Tuuis que seriâo n; .- j 
peuto» a diria t* »c não id>cdrce»«em ã ordem ; 
sahir ds Tuni». 

1 — Na noite de 25 dc .luulio foi transportado 
de Lugaso a Chia»»**, uu frouleiru itulli.ma. tui 


I 


I 

I 


carro fechado c d» vidamcnle ercoltado n tenente 
l.ivragbi. iiupliead.t nn« matanças de Mnssnnli. 
qne a juvtiça f< di-ral lielvr tica entendeu linal- 
imiile duvrr entregar õ justiça de rru pai. 

U pre*o I» m lauto r«*reio do que o *-«pern 
ua Italia, que p«>r Ires rezes tentou suicida* ie 
• luquanto estava na prisão de laigano. Da pri- 
noi/a vez passon Ire» dia» e duas n«>ite* sem 
c>uner nem bt-ber. 

Fm preriso qne mu medico lhe di*«e«se que 
havia meio» d.- nutri-lo artitõialmente para qne 
elle inudavse de inltnlo. I). p..l« poz-»e mu «lia 
a «inrhrara cabeça contra as grade» de uma ja- 
m lta e utinul ebegó^ão um dia o» gitardç* quando 
elle descspemdaincntc batia rum o rnineo de 
encontro a» lag*s do patto. 1'u/erão-llie rntão a 
c.iiiii-.ola de força c foi assim qne a» autoridade » 
witvu cntrrgáráo-no à» italiana» depois <1« ri- 
gorusameute rumprida» toda» a» formalidades 
la c.vlr.idicção. 

C«*rrcrà em Nànole» opmcc«so e o julgamento 
•lo militar nvM«tino. 

— Ajiezar «la «ua li«ta civil ji reduzida e 
lã'» sob r e car re g ada «|ç d*«pnas indisjcnsavcii e 
tiensões qne a «ua infatigável gen eroaulade tímia 
igt*j|m»nte m-cevsarias. e!-rri llumliertu acaba 
uc repartir : 

|iM>»t lira* p* his virtimas «la explosão do «le- 
pn*ii«i dc p«dv«>ra d« Ibuna ; 

l?IH»l lira* pelnt victímns «lo tcrrcno»t«» c 
inuiolndot de Vcrona ; 

5-1» *0 lira» pelos prejudicado» pelo» tempo* 
rac* ua [»r«»vineia «lc \ icencia ; 

8 Uttl) liras ledas victima • das inundações nu 
Valia de Sus». 

A popularidade qne este» c outr«>» actos fre- 
«|Mcutc« «le b» u* licencia trazem ã casa «le Saboia 
ua ptssbfl «br seu rbsfe, «liflirilnirnfe a prvipa- 
ganda republicana siipplanlará. 

— 0» sicilianos são incorrigíveis cm ma leria 
dc associações secretas. 

Em Audria, província dc Rari, dcscohrio-se 
uma iiuva c vasta associação de malfdlor»-«. 
chamada n Ui infame. Era constituída sobre as 
im-«niQS base» que a da Mola riln. de enju 
pn'*ccs«o me occnpei lia limpo». O procurador 
regio m» Trani cxpc«lio rincornta inundado» dc 
priaão. O pr««ces*o será interessaute como estudo 
•lc rustuiuc». 

— 0 minUtro da guerra rnviou instrurçõe» 
ctpeciae» a«» commandantei dos corpos «leex«*r- 
cit«» n respeito dos duclio* militares. K»tal»ek- 
ccmlo as medidas disciplinares para o» dncllis- 
t&s. o miuistrvi rccumiiienda «pie se busque 
saber, não sõmentf se forã*» «d.servada» a»ji«*r- 
ina» ravnltcircscAs. mas lambem qnaes farão as 
causas du encontro. U minislr*' accrrscwita : 

Xão raro os dncllos, (S|»ccialincntr no» milita 
res dc linha, »ào pruv«*cadus p«>r olícnsa» ús 
normas elementares «le e*lucaçâ«» • ao sentimento 
la camaradagem. Eia taes casos «leve ser pu- 
nido cxclusivainente quem pr<«v«K"oa o eucon- 
Iro.» 

Estas m«'didas rigon-sas são t- inada» emri«ta 
la recrudescência extraordinuría «lo numero «lc 
luctlos no exercito italiano. 

— Diz o J/fuiijj-ro qne nu dia 13, |»or ord* ui 
do Santo 1'adrr. ires cardeaes furão á ca«a «1«« 

lunsenbor Falchi. ibesourtir» d«* «•bulo de 
S. 1'cdro. pedir-lhe a ent-fg:» da» chave» d«» 
tliesuurã. 

Dizem qne essa exautoração «- ama coo»e- 
quencia das recentes polemicas no Vaticano. 


Cartas de Itália (detalhe) 


disparidade cronológica entre a datação daqueles e desses), não foram incluídas as contribuições de 
“"Edmundo de Amicis” no presente anexo. Ressalve-se, porém, como indício da veracidade de sua 
contribuição, o interesse geral do Brasil republicano pelo autor — sobretudo, por Cuore (I a ed. 1886) 
— como exemplo de educação moral e cívica de um novo homem para o novo regime. Cf. a esse res- 
peito o artigo de Maria Helena Bastos (1998). 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1033 



Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 117, p. 2, 3 ago. 1891 


Mwm 






1034 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Cartas da Italia 


Roma, 10 do Julho. 

A Cu*:;rtu «lo dia 7 publica uma 

eraverhiçã»» >|iui «* ara corr#*|»ondcaic tu» líoma 
Iku* rMin «i Sr. Xicotera. que llie explicou a sua 
\ «-nlnd«-iru situação no governo v o que nrelcn- 
dia fuz*-r i* ministério. Começou por declarar 
cuwpMainrate deslit uniu* de fundamento t.* 
bouto* que rorrèrão de dceaccãrdo entre tariu» 
im-mbres do miiiUtcrio e |*or negar forinaliiicnte 
a snpposla intelligencta existente entre clle e a 
extrema esquerda. • ü HOHO gabinete, tli**e 
dlc cm mtr.no, v de alguma sorte hui gabinete 

inilibri». balançando entre a direita c a et- 

qurrda. Cada um de nót Irabalka Icahneute por 
manter r«*e equilíbrio, com u única preocenpa- 
ção de restaurar «« linança* * a préepcridadc 
nacional. No me* de Xotraibro apresentaremos 
um pnqprauima completo que ser» finda um j*r»*- 
gratmiiu administra:^». •«■ui declaração pol.tlca. 

A rnmani então »r pnuiunciurú. Mn* estejn certo 
de que ella te pronunciará «abra a sorte do mi- 
ni«t<-rii) inteiro c não s**br« a de mn do» 
mini* In»*. Xã«» sumo* um gabinete qne k re- 
menda. Ka náo>oo doa que detxâo dufidir. 
Ssdiimoft todo* UU eu lião aaiu. > 

(piem cwnbec* Xicotera. o antigo trinnivim, 
aeredita na sinceridade destas palavra* enér- 
gica* e resoluta». 

— Um p< riodico que se nccnna com ot in- 
tereasta mPitare* da Italia. *• Extrtilo, dá «nu 
explicarão como outra qualquer da prr*«a com 
qnv m potenrias renovará** u tríplice ulliunça. 
Segundo o r.jt rcito. a declaração •oleniue c uii- 
trcipu«la ilvtM renovação teve como razão e»j*e- 
riali«*ima os grandes movimento* dc tropas 
que utlimamente n* estão fazendo em França 

A* grande* manobras^ do Outono sempre 
iuquUdáo «•* virinliov da França. Auunneiu-*c a 
reunião de rPJ.fPJO homeua não lougc da fron- 
teira da Aluaria I .orce. a. para o me* de Sctdnbru 
u«* mesmo t*‘inpo que IfO.UOO lioinen» mano- 
l.rio entre Uriançoit e Gai» e que poderosas 
forma uavaes (numiui evoluirão jiar mnitos ie* 
mana* no M« diterraneo. Foi impressionado* psr 
lai » deuioaslraçio-s armadas, que • * governos 
.illiudov uccelcrário a troca de notas que dHrr 
minarão n mmvaçã** da /ríWVr. rum ume 
adbeftâo que tjttari a t**n»a qttudnqda. 

Kssa «dbesio da Inglaterra não deixa d* «er 
interessante c>*nio cav* de cunvcnio internacio- 
nal. feito por um ministro de K*tu«lo. que tem a 
força, mas que não tem a responsabilidade de 
um tratado devidamente feito t saucvioinnlo p«- 
|.*s respccliv* « inriaiiicntn*. t'oiihec«tido u no* 
cauismo da diplomacia rampéa. «•* li»»nrr* d< 
Kstadu inglv/c* emprebenderio que ^ a soa po 
lisira exterior se acharia na impossibilidade «I» 
realizar certa* combinações se. aos t -atado* ipie 
não podem tornar-se publico*, não ic substituis*» 
■nua fii.ina de compromisso equivalente •>« a|*ne- 
ximativa. Assim c que fonimu-sr a tradição, se- 
gundo n qual uma nota nsriguada pelo ministro 
d*: estrangeiros equivale a um tratado formal. 

Ua •‘•Miipromissos tomado* por esta fôrma. |*r 
ra*la ministro da rainha, são respeitados jn-lo* 
seus iimtsssrv*. de s»rte que dia ha soluçwo dr 
r**utinuidadc nu p<*litiea ext»-ri«»r do |!eino-l.'ui«J< 
e une, ape/ar da impossibilidade em que **• arlia 
o Foreign-Ollice de »*«igiiar tratados secretos, 
não lia potência cuja política secreta s* ja tá»* 
r.irstdiTTivel v tão complicada cotim a I:»gla*emt. 

I».. fnd<>«. isijai cansas |M*nnanei*<M|i secreta*. 
*õ *r podem fazer nmjtctins interprH ativas. 
Ila uma. combimola |a*r um c.*rrest*omlrute es- 
trangeiro, para n*o di*» leitores da la*/ciieH»fi u 
th IfT. que lião deixa de ser bem arranjada. 

•Segundo esse romhiuador de partida* dÍ|d«— 
imitiras, lord Salisburv não quiz entrar ftmuul- 
m-nte na triplice-alliança jiara não llic dar 
f»»rça de tuats. U snprrino objectivo da diploma- 
cia britânica neste momento é evitar que *e faça 
a aüiançn fnine.*-ru**a. A tríplice nlliança col- 
loixitt a Kttropa na dura alternativa de vér, em 
caso de guerra, o triuniplio do utilitarismo al- 
letiiáo «u a expansão do pantlavisino até Cwit- 
stantinopla. Ksta ultima hvpotluse apavora os 
homens de Kstado iuglezc*. Tara ruujura-la i 
preciso, |iriuieiraijiente, afastar a França da 
Kiistiu. e pora is*o não ha melhor meio do que 
enfraquecer a unira causa «M fneça a republica 
a procurar a orientação de S. Petersborgo: essa 
«*au«a * a tríplice «I li anca. que mette a diplo- 
macia francesa dentro dc um circulo dc feiro. 

Nu enoca prrsrute o ideal da ^dijdiunacia in- 
glesa deve *er tuna especie dc íColUerein »un- 
diterraneo, cujo uncleo seria constituído por 
ella. com o concurso da França o du Italia. - 
que sc iijiintariào as potências que. como 
líi-spntiba c a Áustria, léu» iuteresse cm que os 
Itardauello* não caiáo cm poder dc um Império, 
que. então, não teria mais contrapeso desse 
lado da Kttn*pa. Sé assim sv |*o*|eria talves 
fazer a França renunciar a um ideal diplomático, 
que não d*-ixu dc iu*|ttielar a Inglaterra, apesar 
du *en caracter uI«»]mco por eimp.ianto. 


do 


Ksta maneira de encarar i* problema ravnpfo 
explicaria o movei a qne ubedsern a pofitira 
inglesa, concluindo com u Italia um pacto que. 
em definitiva, tem como consequência distraliir 
aceârdo com a In- 


da triplice-alliança para «• : 
gl aterra uma t*ar1e «l«*s iwter 


Iin troca da* suas |irwmcMilS. a Inglaterra 
obteve d i Italia gar.inli.-t* qne a 1ratmuilli«âo 
mais a respeito «la sua |N«rição no Kgrpio. 
prova isto a]K-itat qao para qi»c:u sabe negociar 
lião lia luc.-fi qne *»• d« dmhe, par p*q treno 
qne M-ja. Mus a «lt•«•vti«• egy|*cia nao prejudica 
a fornmção do ZoUvcreíu * mediterranso. pelo 
lado da França. 

K*ta leni interesse em conservar n sna |*o*:çãn 
t.olilica à beira da NB»», é ver*la»le ‘. mm ha. na 
Kiiropn. território# nue lhe são mais ear**s «lo 
que os «.«cmirio* oas pyramide*. e nã > ^ ha 
frunces qne não adhira ã comliinação que lis«*r 
eabir •• uuieo ob<*lae>tlo que lhe impede n pat»** 
no raiuitiho para as pMvinrias per<li«l.is de 
lêslc. 

— A «limlnnieio rotisMeravH que »» verifieot» 
no rendimento «í**s imp«**t»»s para • rxrniria d» 
ttCJU-IXlil qne acaba do lindar uttruhirin» *b 
in*¥o a altração do governo para»* e*ia«h* d*» 
iim-Íos «le preencher «• ri»jWf resultante. T«l»« **s 
uiiiii ttroa se r»f*»flfiii «••^iscienciovautrule por 
nliiviar quanto l*V |«a*Ít» , l « o^amento d«*s res- 
pcdivtM mimsteri»**. Mu* Ioda* a* iMNim-na* »e**- 
iioiuia* i. u'izad:re lã» n custo não cli»'gão para 
fa/er e.*iitrap o* á d«-s|K-sa eob*s*j| rum «• exer- 
« lt«» e itnn.mietito* militares c iiavne*. Apesar du 
grandr r pu.nnr iria il ~ lutlti ff ninn l *ai o g«»- 
ve:«m ser obrigado a errar novos nrarso* |»*r 
«•*»•« ribaiçôes biipn;*i!am. Ha inuit** te:n**o 
petisu-«» em etlabi lcrer »» mmM*p»*lio •!••* j*ln*<- 
plion**. qtte Seria tuna f**nle denuda uvuítuda. 
\fu« pura i»o* «• a* ec*«ario iu*le inoznr t n 1..«« *.« 
fabriranlr* aHutrs. o qne seria agg avar a »q«e- 
raçi'*c.*c» o «nlwrnço *lc um cuip.estimo prévio, 
lí* «ta. rutáo. o imp'*4to sobre as iiioitgeits «lo 
trig«i. o i .ii|***;»ii!ar.«‘inio tribut** sobre o pão. 
Sômetite. es*v t«*rta a vuntagi-ni de tra/er uimuul 
umite Kü miÜImh-s para o tliesonm. o .iitr seria 
«afttcirige para «••juilibrar o tl-firit e rviiluar c er- 
l**s iral*all:**s publk.-s |n*li*|»eiisuvels. 

— As formalidade» inev**.iria* à l*o« distri- 
buição «la jiretiça uiignreutuo nalecipadanirnle a 
làxiagbf <*s lo. iiieitlos da |*1ta que o h i de fe- 
Tr**u\e:ao-ll«* de l.ng.iiu* pata NapoVs e 
agora U o l*>\ .!■• para Massniha n-sjHinder p»*b*s 

«i ;i* « . iiiie no *ii; i?. etn qae «•« prntie-u. 

— Alguns joinaes. que as explicações tão 
francas «• categóricas »l»»canlral lotvigeric ■o|»n* 
a partida •!•* mi» «ioiiari* s nipnridiib*^ italianos 
• imitiezcs «le Tnuis mui conseguirá» |»ersaadir. 
publicarão ama representação c *m «» litnlo «!•• 
•/* ociròf d*w ropwrAõiAof tlr Tu w*« iro ftio/m/ 
SimAuil, «pie «• ain v*r*ln«|eim librtlo c<*ut.a 
Ilustre i*r* lado. K* inútil *11 Ser «pie » memória é 
ap s-rvplia c «|«i« os *• ipv.«*hiiilios não «»U«ariã*» «*e 
•píer íevantar a v»*s contra •» amigo d** VatVaii**, 
— Tc* r lugar cm Venera, m* dia li «le .lull:**. o 
lai ç<iiM«-ulo a** mar do grande eiicoii,-»*;ado Si- 
rilM. de lít.HMI t*>iirliohis. t«*r»;a «|e ra- 

\ll!l**s r custa dc íti .VllÜ.tKlU liras «piamlo Coiii- 

I *l«-iaiiH*uir amiMilo- U canlral Ag»*stini *lcn » 
•«•itçã** m** naiii* e a ,‘iiiuha Iji:ç-*u mar um 
aum*l|Kis«a*loa nma fitH*a se la qnamb* iiiMacu 
totnoM carreira p« a ctil;ar n*ugua. O l*upii*ut«» 
•tu a garrafa <lc fliaiiqaigur «iiicbrada «le en- 
contro ao talliiiuia. Ilcou atM*li«(.* cm f«i*«*.- «la 
antiga t .-adição *«aiciiana. restaurada paia fascr 
li 'Ta a tilgtins j ■ n-iti-»lus franr.*»e*. 

F««i ama «•crctn»»aia muito suVmiic. n «pie as- 
•latirão inml«-s g.-umhs |a*.s .nageas. «po rstavãs» 
n horda «la cs*piadra iug*«/a. «pic o ici «isit**n. 

>•'* n princesa *1- |«.iit« :d «• g. lilhu d-i raiiilu 
Virtins ti» 1 * *|uis si»*l^Jir à lesta, a pretexta «I»* 
lião t«>.' t.asido ti iilHtc pa u • sse tini . 

K ns dilBcaMttd»* «b* irtwl Mlhuut arredãrã»* 
a es.piadni nust*ii:ra «b* A«lriatire». paru mio «lar 
lagar a numifcstaçiVs |M*litica*. 

ti .Sõ/r.i f*.i j. »i-i i*«* • st ..leira rta IS(7. »*b a I 
•lirecção «|e ICmesto M«rl*n»s. qwo »lu.an?.*l 
\ amo.* *p.c piin* <ii s.-m s.bir *1" V» ms.» ditigío 1 
ince* tanfesneute a s;a ivi.stnic.-au c cbcgon á 


té 


gloria de o vrr lançado o«* mar. Sc:á um d**s 
iiiai* |«od»ro»'.s vn*«.* «le g a e r r a qne ■•xiitrrn . 
t’m p-‘pi**io incnletilr fez re*iir um 
•liirunte *. Ijiiçumeitfo *• nati* b.jdrtido n» «ua 
carteira «• I «• *u «• fundo, ma- relo-ca- 

dons «I* *p « ii«b rão iopo lla iiouo o«a M»d» qu». | 
«I* sannada. j«i p ».-i li tonr1.-»di« • «• aj * /». *b ■» j 
vinte e m*"« *• im io tiiille < « «pie c t»!a « Italia »• I 
liojc Ws* «las ?u»s mais \i\as § «tisfa» ( «**s. 


Cartas de Itália (detalhe) 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1035 


JORNAL DO BBAZIL 



Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 132, p. 2, 18 ago. 1891 


rjliW* 




1036 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Carias da itaSca 


Ijii»*. J! .Jnllio de 1801 . 

Scmuaiju— E eiquanto «Ics.-ansán a» câmara*. . . 
— Sisseiitu e oito milhões <l« economia* — 
O r»npt*iB ugiiculu dc Xopo!.« c n prole-*- 
chmiÍmki— lui artigo do Sr. Crispi — Cmtoas 
ilu Vulimo — A nwlmari.! <!>• Ibrna — Trinta 
e -ti» condi m mu h* — O c.ird« al — 

ln<liirtmifarl(ilnr*l — L'ini» murclii; .h-»a*t.-osu 

— A viagem príncipe 4c Xapol**. 

O gabim-tr 4* llndiui empregará^ n* feriu* 
parlamentares cm prj-arar a *..|>«,-ilo 4c duas 
qm-Mòes psira as .pia.-* «Ur M rhanmdn ao 
jH'4cr: a orçaiiisAçãn dvGuitisa Ja Erytliria o 
o equilíbrio 4u (■tvwiwiilo. 

O general liowliiüi, que 4c lã c*nn li 
rença. não v.dta a Muésmih. Sâo *c sab 
jaciii o substituirã. »* *erâ um gcm-ral ou 
•i- %f i-x|M-riiii< ntar.i mu ynvmiiilur civil. 
Uitrnlflii-u a» Suutagen» e a* desvantagens 
de mu e 4c ontr.. srstemu d< II 

r.m«.4hf> 4a uiiiii.tr..*. muito atarefado «■••ui a« 
rifonuu» económicas pedida* p«do Sr- Luzzali, 
ministro 4o llicioiiro. iiiwl» . não p*de tomar 
uma rv*o|;».-ão mate assumpto Entretanto •• qn« 
m póde «Uonsir 4a coirailc l.i ojdai*», o qu* 
ií cnclu» dav iníormaçsMrs 4«# comniiiMUM 
inquisidores na Abj ssiuia assim como das ten- 
dt-ucia* govtraameníavs, permitte aíürmnr qno 
vai haver uma mudança 4c regímen na Alnra 
italiana. O» geiierae* ticaraõ j.ara o exercito co 
exercito guardara o mm pMto n» Europa. Nu 
África s>> *c gaanlurA com tropa* dc occupação 
o triângulo Ma**uuh-K<-rrtn-Asinara. A polinea 
militar progressiva. du» incursões. couro n «jae no 
u uno passado fez •> general Ortro, será abandonada. 
Tudo terá pela c-msulidaçâo: diplomática c 
ndiiiiiiíatrativaiucirte. 

Tarte pum o Clioa o Ur Traversi conr 
uma iiii»M*> 4a Sociedade de |Gc«>grapliin ; 
lia i|i«em diga ijiic clle na realidade vai 
desembrulhar nllicinsumcute o fjuon diploma- 
inuci.i ollirinl do conda Anlonelli tão Um em- 
brulhou. A questão doe limite» r sobretudo a 
interpretação do faun>«o art. 17 do tratado de 
1'cciali (»obre a int. rprctaçâu da intervenção iia- 


| j ornara culholic.i d c Ilmua e u jurtiae* li- 
1 -rae* d.i mesma cidade a flif .rmn c a frí^umn, a 
I f |< rito dc iui. rprcln-;».. de mu artoda .'anta 


império protegido) serão 
cr.tre o Ni-gn* c o Ur. 


i*a nejj. 

tratada» dirrrtiimeiite 
Traverai- 

São cate.» os primeiro* lineamentos da nova po- 
lítica que •pierem fazer na África os «ucccMurt» 
•lo Sr. Crispi 

Outra preoceupação do ministério, «pie è 
laleex a sua prinieim froemiavin e <• seu 
principal ohjectir». é o •••jiiililino >1.1 rrceita pn- 
híicn com a dmj-era. K* um tmhulho ingrato u 
de ia va atar ecoix mias <ju« terxiii tantos e 
iiupopularisão i|>ta*i tanto mu ministe.i.. 
cm no a creuçào deiinpealo» novos. Kolrctant • 
diante da necessidnde urgente de solver «• 
lieficit •leKII.(M<0.iM<S| deixado pelo gnliiiiete Crispi 
e na inipo»sihilida'lr dc ereur novas fontes 4» 
renUa publica, o miidslerio não p«'.4« senão 
rucr um lN«adiuho 4» cmla v*rha. 4 iuiíumíií4o 
■ lerpeaji necessária*. deixnn4o inactives os »• ' 
4a4os c «juiitos nos portos <>• pesado* navi- * 
4e guerra, para uno gastar dinheiro com ini- 
n obras custosas, interromnend» os Iraball: .» 
pnhlicos. cortando, cortando. ..p.ira nprvteut.ir 
msís uma «eoti«»niia 4c ?8.UM).UHI neste am o 
jMiJer prometti r u ei|ni!il>rio do or^auietiT» 
pura o ijna ' cm . 

As «coDouiras rigorosas que se fseem •■•n 
todos na loiuistcri* s (nirnim nos |MaatlU<im< > . 
e «pie pareeiâir invirdtiyeis. da guetra e da mu- 
iiilia !) nio coj.tcnlâo. poiV-m. is que im- 
eew nisso nennes «ofidos c iToim ttrdores 
«ra o filtra <l> tnpb. O optUil.riu do or^-a- 
incuto |>nr nm oniw uâo A Knlltcú nt« <|uao4" 
t<.«ln a nação aeitlvs* peiadn | •rniu |.r..t-«vi'- 
' uno que. s»m a igmentnr a mww na«ri. nal. 

. qadiree® eerti-» rorp'»s dc pri aluda: c* dr-lla 
di s* ipirah ,•'*.• • . :r o | .t.«. - 

wisuio atluaneiri» _ que famn-pc a úi.tuCria. lhes 
tire a cila >>s meio* »lc «xUtcuri-i. 

.lã inuiti s | r»»prictari«*s ngrio las aluirido- 
ni.ii-s «•ise.íni ■«•!) pis!.»: • i.s, , « lll 
don ni nndlior i»n4a «3o 4-j.. . in*t » l !i .. 

innto ln»r»> nn lisvo. A iuiia luni... íc-til 
a a ser «••a.u» iir attliguí.b-dc un a rliMUon 
«lado em «uc | :*s’er» s spumlin #*■«* 
iüIimIiiis. 

I; .:udi*-M cm Xup^lo» mii c.*ngr- ogrío.du 
>■ «pie c.’n.paree>‘.n • -I* I» ;• '■ * 4c |o.!u* r« 
pari'* «la Iliba. 4i-c-.it...., .• ».|e t,.,»„. 

>ir> s'4-nte i!" < u;-r*- . » • • « '• ii.i - i. i. i 

nlstro da o^nmUnrs. ii-4l--.',r'.. •• que A .,nc u 
• »...:-s pei.i • ' >r r 4 tio , \ r.. . e . . c 
. que r *e 1. 1 c...: a f.iICr Sohrr • .is* ..iq,:,t O 
dlsnin" do :i /lias». »v,. r*e.« que » p... 
prateccioni*mr> arruina a vwla tcuuooiiea do 
paiz e que A ii • • voltar a d»utrini d> 

lavour: nte a ll.ilia *c|a Um cambista, mesmo 
in face 4a F.nrujm inteira pivlcecn-nista. 

0 miuiatro <1« agriei)!tnra raspomlcn a.- prr 
ti.lr: |c do rs.t..-r«s«o sgric ls raufiniismlo .i 
resolnçi» narra", de :nai t»r o re_-!m*n 
•b s tratados 4c romuicielo. K i . i ir..l . . . 

riloii olgarisM' *. pr«'»a:4o qiicaliuliajArc- 
clqnirin paile 4c qae prrdcn t,a ruptura a«tu.i- 
neira i«*n u !■'••••> : >1 -s» qm. «* 

a ><iir«'4 --.Uri» ’>• 113 u IV» mill( .f , •• 
j.«ra « ABemanbn 4" ífil n "li iuíIImV* e quo 
ti.râ« priw , 'ip.»l.* • •• pri.H. rti-s agricoln* .j.tc 
j.r.idinúião • • oi:;;..a t.t •. A prop-^ito 4j , x 

portução de »í 4i- •• que tanto interessa à |f 
a-rie drt. II >'l . t ÍI.I i ri l!i'iui»n qnc d" |S‘rt 
| :c.l .11.1 art/oun: a do 70fM»tl bert dítr. *. ; 

P . |. | qce a importação d» vii.le s . «trjiv . ;,-. 

•!e.. ía de ■J.HlHii berl Ktrrs - I». t to ap .. „ 

— (I Peei / • •!" Naf-wlcs. p.ildiea mu i.'«n:iin 
•!n ailig 1 * dc Sr (’ ispí. q.i • .ir.pareecrá I 

1 il • « > ' ■ d • I de ' • 

c qi" t-rà p"i t«t*ib» c.\ n Fm:-' 

. Pppta f- % -■ 

1 O • 'Tr\’ t". S ti'c'r ' > • -ii-.» . . 


I* 




||||| ||ir< l’S »<•»•**.» ri;.'i - ri. | 'n- '!• -n 

{ ,...c ■- •• ■ s’ 'li 1 - •• ••c •• • . 


il do» d< « 
• •• 


C Í-. 


I', 


I Foi « caso q-ie inaotonbor Kntlo S. illa. m«r- 
1 mo dos t.atacios .-ipo.ti.Iic , *. ritmi p. r.t l.- 
pretor 4e Alb-i: .. doa* i.r q.ii. t ui. , dc ( .istd. 
I gvadolfo, para I'»sr a ilr limitação certos ler- 

I n nos ciMitinau h. «•••ui ot do p.q^i. Sabe-sc qn«- 
a l'i da» gu. aiitins 4á ao papa o ;s.ra do* pa- 
l.ici i* jp.. «(. ';•• » <|o Vaticano c loitrão, cusii 
*' **'•*• o* edifk-ius. jiinliiit e terreno* anuexo 
or.hn e.in.1) «la villa da Castelgandolfo (.••lu i 
•na» dc].» ndruPÍ i*. Oro, ims dspiadenei— d.i 
i .1 di- fu.*. 1.- 1 idojfa filio CoSiiplX le-lididof 
tTrcm.s que m irginão o p« querio lago deste 
'.••mt- t- n*.s qoaei cooslnictu-sc agora ulgmi.jis 
cuv««. T»r.re que os proprietário* cio qne.tão 
tnmurjo a!gr-.i.. mclrn* 4o lerreon fa/"ndo porte 
•'•* dsUltlni» 4i i u i., ao papa. • puindo # ,| e fc ..u|... 
4 . facto, jã ira tard- j.ara r. clamar: b«vm 
pr» «vqiçio. Mn» l.'ão XIII, nào qturvndu erear 
preeeilente. diiigio-se ao pretor para qm 
fo.sein demarcados ot limites 4a sua proprie- 
dade. 

O facto em si A muito simples. Ma* c.,m , 
ImHii^ o que tora no Vaticano n.is «ui.i 
lai-«"i » com o pivcnxi italiano interessa 
parjicilarmente ao* jornacs libtraes, aprovei 
tãrio c*te* a nccasiào para «lizcr quo • 
p»j<i. rmmdtt ao pretor de Alban», reco 
iilu cmi a lei da. garantia*. Os orgão* cutb<4 iro. 
pr>.iestão notiiribuentc e dizem qne neste m«. 

•i Santo Ta4-r apenns fux respeitai os seus dirti 
li«. Ctr* a qui lo poderia o papa rtcorrrr s*iij.. 
a qm ui Icn» u força para os farer valer. Tal 
qual. se houve**-* uni roubo no Vaticano e o 
ladrão fo»*c ciHibccido eui Iloma, elle .e diri- 
;iria A policia italiana para rekaver n que lhe 
Í" «’ c»«ciii roubado. As recliuiaçôes junto do 
•rctor de Alhaiio são assim cuino passot dados 
unto dc uma espccic de funo-iouario da |hjIící« 
udirinria italiana. 

— Oi delegados itaü.m >s na conferencia dc 
líertia lAin iiiiii.Vi 4e_e-for-ar-se pnr mnsegiiir 
da Alleinanha f.iilidades de entrada pnra os 
vinhos da [•etiiiitals. Em tn»ea. a Jtalia ahaixar.i 
o* direitos 4e importação sobre o ferro, a» lãs 
seda*, lixando desde jã uma tarifa uduima 
para c»te« ire» generos. 

— No Vuiieimo . mente-se f-tcmalmcuts .. 
boato que coma ns-ste» últimos dia. de qne. para 
augmeiitar os rendimentos da Sanla Sé. o papa 
linha decidido lanç.ir um imposto sobre Iodas a* 
confraria* c associações religio«a» do orbe ca- 
tbolico. 

— O processo do* 43 individuos preso» 

. >r exeiloção * revolta on ulirag.s aos 
agentes da força puMii-.i no dia l* de >laiu ter- 
minon pela condrmnnçãn de 36 «Irllea a |»ena* 
que varião de tre» nnno* a dons meies de pri- 
.üo : os novo outros forão al solridcs. E*te pri 
rneiro processo sai ser »egtiido T j,, r outro, relati- 
vo a facto, mais graves, passados igualim-nu 
1* de Mui", cj-.i qne muitas 
Amilcare Cipriani iucliuive, estão compremetti- 
da«. 

A edera dc certo» jornacs contra o cardeal 
gerif n.:u roiibcce mais limitis. Cusin smr 
que bomric* de boa fé joittào explorar assim 
entra o clero francez nina qu.sti.. liv «imple. 
cfinii a «los capuchinhos d«: T'i(,ir. IV-le-»' 
admitlir em rigor que um jornal g.illophoh , 
cnuMi a AMvwi convide o gr*v»nn» italiano a 
tomar medidas que iinptçla a •exjsoRaçào* d-, 
bens c .la. igreja* •!.■» mi»*ioaanos italianos 
Ma* admira vèr um jornal liahiinnlment'' »isu<h 
c -mo a tòrrrrf/.f 1‘itmoiih-if qualificai 
car leal laivigerie de - lloulangcr d.i Igreja» 
fallnr do rodi» fer. z do earJeal rrpiihheanu «»m- 
missionariot it.ilianM» •• dar o cardeai 
•restes a piV-se á frs-nie de uma cnnud . 

•ara a recooqiliata d» poder temporal do. 

•u. 

I ui dos lado* mais enrioso* desta campai li i 
qne o* orgão s do liberalismo mui* anliclenebl 
azciB-M cmnpei>» d<>t missio ná ri os , cuj. « inte- 
resse» elles proclumão solidários cti.i d • 
E*tado. quando ui,, ha muito tempo akda * 
davã.. todos os rviigi. »os como mimig •« d.» 
Italiu. 

— A* cleiçõ. » dc domingo (|9 .|-*.lii<h.i) po- 
•u d»r uma id. a do qne |oir uqi.i *ni de ic.lif 
f<f>nei em matéria elut-.nit. 

No primeiro rollrgú. de iPnnis. «obre- 
..«es iiiscriptos. u penas 4 tolnãrào parte 
oto: em t m.eo .s -‘|4 .obre 23.70T, ; en 
lldina 5.209 sol.re I7.W57. ?e isto nã.. ssiirns'* 
um grande dv*animu n n speito d i • llomcia du 
lic;i.» |.arlanienlar para o ntidaim tilo du* ueg.*- 
-io» puldíci.f . . . Ou «crã a pregniça que o culor 
•rifiuz. a lerrive! canirrtla italiana '.que es» asm 
cidade*... *,-m emlter ••* cainp, =. 

O» j-rn it* descrevera uma tu. rd, a militar de 
sattrwH ,i>ia.si ramo um.» incursão nn paiz ini-, 
migo. O l.i* e IO* regimentos de infantaria, ntq- 
vtndo-M d* Nenda para Mcuternlondo. >Ki- 
'• ã r -», , o"U -: * Ctrl c.iminlio. soldado» 

mom-rão. uutr- . nifrrmãrão gravem ente. Foi .. 

‘ terrível que fez todo esse estrago. Talvez 
■ em temi»_ d’Africa uâo s. -tiVcssem tanto, 
irquc temarião mais prveauçõe». 

A viagem do princine de X-ipob-s. herdeiro 


.J, 




c 


I-Op 


I 

o ã 


D 

gaç: 

e a 
d<rr 
A, 
Itsll, 
F. 
Dr 

prf-s 

uisl, 

r. 

ifni 

F. 

uinli 

satu 

Aug 

M 

.luui 

F. 

Ur. 


esirAa da Italia. que lã anda nda Inglaterra 
* *- 1 — * — taç-oes de a 


da 

rerdiendo juntares e’ mani.Vsli , 

••Dk-iuet e particulares, suggerc muitas inte’rpre- 
tuçôes, como *e fo»se uma missão politin. 
du parte dos jnruaes francezes e inglezes. Nu 
realidade o princijie foi & rõrtt ingleza fazer a 
visita da ci^iszia eutre soberanos cujos governo* 
uc-abão de rvnliznr um accúrdo ou convento d<- 
poütica internacional e nada mais. A It.-lia 
sonha pouco agora e a Inglaterra n.io 
mãos à realização de sonli-s ivcbtsrDM. 

Antonio Serra. 


Mai. 

F. 

Gabi 


] l|,.l o 
ditrc-dd.idcs a • -O», tio )! 
;, w s .1- I’| • 

? i a hrciS II ; • l*i» I 


c*. Eli# C.s. eçvra 

tera se t. r.i op; 
r- ■ I* F 'ia cm., I- 

id<. d« Vetic-.n • par - r tr 


, : '**' 


Cartas de Itália (detalhe) 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1037 



Cartas de Itália. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano I, n. 169, p. 2, 24 set. 1891. 12 


12 As “Cartas de Itália” posteriores (n. 121, de um de maio de 1892; n. 122, de dois de maio de 1892; 
n. 166, de 15 de junho de 1892; n. 168, de 17 de junho de 1892; n. 170, de 19 de junho de 1892; n. 
233, de 21 de agosto de 1892; n. 236, de 24 de agosto de 1892; n. 269, de 26 de setembro de 1892; n. 
271, de 28 de setembro de 1892; n. 319, de 15 de novembro de 1892; n. 320, de 16 de novembro de 
1892; n. 321, de 17 de novembro de 1892) trazem novas supostas traduções de textos de Edmundo 
de Amicis, dedicados respectivamente ao “Socialismo e burguesia na Itália” (n. 121 e n. 122); a “O dia 
do terror”, i.e., à ameaça de conflitos no dia do trabalho (n. 166, n. 168, n; 170); a “Emílio Zola e a 





1038 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


CAUTAS DA ITALIA 


UM PUNHADO DE NOTICIAS 

Eoxt, 37 tle Ag.-tto. 

Uma rnorrae r <’c vlijantcs dc laJit 

a» po.-tes ib Jt.» 1 :.! iU*:vi ca r anl.i d.. dia 2J 
«lc Ap.ilo ú rilrilí dc MuiiJai na 

Piemonte. I ria .•* i.tir ã inauguração do tiio- 
ntiiu» nlo .Ic Cati.s Mancei I*. O i»i. acomja- 
nba.lo | cio conde ■'« Turim. j<’.> marque* de 
í:,v.li,,i. cciimocc 1** II- 'X. Vlllaii. lVi.aii. presi- 
dente* d * se; ado e da cosuara «• muitos « u<ro* 
all. * digoilJSM» «Ta r.'ilí e bouit-ns politiro*. 
d.iv.n Tmius •'.* * I; ’ d* n.rolii para U a.ustir 
j idími cdtliHila jt ‘J Ijí i.j rulhed.Ml J« 3l<in- 

Mui trpiUi railirl* I >K'i pn o landurb 
dc M.inJo»'. onde *j sela erigida u su< niusseut.», 
n «ei* Lik.tnetioi da riJjilr. I’nr Ioda o fsiui- 
■tli >, aruaJo de ritoi de t.i.iiiiplio c dc maitio» 
rvtu baodvsr.*. im.a si.tillidâo iumicaia «-pecava 
a passagem do ici paia iiil.mii- Ia ulUiÍMIh 
tWMrit- 

A*» meia-dia d< r<t liiân a c-tatua d« Orlo* 
Mim-I, «.1 ra d > « -latujiio lUlli Ycdova. dr Tn- 
litti. T< UI í.iut* «'<• <|llJllii nrtu-S J» ultur ; - ilo 
dc Mitr r :i» r. p.-Jrttjl !;>] •. «raia \ | iiu«-i|>r. 

* ' i|i:riib ■o)ydli * 


via 


i l a. ti 


•lucila 


Ia a iiii(ri|için »< g-iiute . 
• A l‘»rl « Mao -Cí I. IVjt ■;* de lies rniiíot «» 
Jiah.ii. i. I» ai. ai. ii .1 • tia < -ti Unuiui la : 

i< iiiirâ-i Mr *nk«er'i çA» |-i I lira r.rca dr 
.TM*»» I •»* ■■■ela faltão tocado iü »K>j paia 

IV|i. i* dc d« «coberta a cilatna. o «Irput.iJo 
P.t.\ tTii i i u a \ ‘a d.i lieco, oiir cllr 
tlriav i» dc |u*o i»*nr da u.nfir.ção da Italia. 
Fl»i «»■ C •• Union ..'1*11*0. 

A'. 5 lií «• ici I -»«-»«« ro\ »*ta a $n00b m:n« 
|icrli nreiid9 a< « c.-ipo» «E* raçadore» ; »| ino» r 
da ,i i tilli iri.i dr m-iil julia. Do m ilt* Ltn.w •••o 
jantar d.* .'0 i !Ii*f * K u .vi ti icwu »'«'» dc- 
crvto dc uimiclia »-u íavcc *te lo>!.-« •■« d» •«; ju- 
re* a nfr.icl.iiia» A ki luililar desdo E IS ali- â 
c!a»»i de 1*72 

i *. „»ta que o Sr. CVIiuiIh». sidn.itro da» 

<||WW« |.rop.T- ic a tCJimnitir o «crsiço Ua» 
lut.-.ias de modo a l.rua-U» mal» undosa* pst* 
o lliinlo Etn ves de f>»er-»e a cxtrarçâo Iode» 
k « sabb.vU». a* tirjgen» serio© íeiU* lodo» ot 
dia* correndo a» guiidt» viJndcs Jo reino e-da 
uma por »ua vez. Pelo* calculo» do ininUlroctie 
syMrraa fatia «* tl.rsouro arrecadar prlo m«no* 
liiuiauuUoc» wai» do que o q««U»c tende o aclu»J- 


E' nm rtinedio peru o mAo talado da* finan- 
. ie, mu é força convir fae é na triate n- 

rnclio. 

Entretanto, a ncrmldade nr»»nt« de preenche» 
Ot e1nmi_ «jue a diminuirão da exportarão e da 
im|iOilarâo e o arni rtrrimeuto da eioa «pi- 
cola f.irrm na» renda* publica* obripi a eo- 
gnti-lo tem farrr careta». K »rrã d'ahi «jn« vero 
a alta inr»|dicaeel «lo cambio, apetar da pea- 
tima «iluarão «conouiica uio « i do peit inteiro, 
como partictilarmenle du ridadtt d» Roma, 
Florença e outra» grande» capita»» da Itália 
— Dricubrín-ae em Ilarí ostra aiaociação do 
malfi itorre aemelliant* á da t/o la fido, d* r,no 
lauto ie faltou arpii ba tempo*. A maior [.arte 
doe «joe delia fanâo parle furão preto*. 0» **- 
lalulo» c regnluaieoto» de»la a*»ocurin aecrtta 
para o crime não diflerião aenaieelmente do* 
da* outra* do rar»mo eentro. O qtic etta linha 
era itin chefe, chamado Sraaeella, <]ne pelo acn 
*?ngne frio e audatia lemeraria taraeia a 'pia- 
driSa partlrulani.entc [••íigeta. A txa jinaão 
“ão te fc* tem difiicnldade. 

Oi carahiueimi ccrrérèo de neite a cata cm 
W» dh W IliW I o r ctiimaadar.t# f^ndolfi 
bateu A porte. Sca»«*eUa shrie <!e rer.rste a 
perla e arrojou-te para f< r* depei* de derrabar 
dom aoldadoe com doo* liro* de reeolaer. 0 
mminaivlante lançon-*e etn ma pertegoicão, 
trama-o* luta rorporal e o* doa», atracado*. 
de«peoLãrão-te de uma barranca de aei* »ne- 
tn.» dc altura qne batia perto. NesLntu ferio-ae 
aeríaniente, ma» o Irsro olficial são largou o 
Lasdido até qne i * carabineiro», feita a pritõo 
dc 12 du» malfeitor** que eatavão ca caia. 
ricrio ajnda-Io. üi dona loldados ferido* expi- 
rarão, entretanto. 

— Ern nm importante isrefiaf de proletlo 
contra a Triplice-A!!ian-;a a população de Atti 
votou a eegninte ordem do dia: 

• ConsiTeraodo que o povo tem o direito * © 
dever de ae occnpar com aa anas alliatça» in- 
ternadooaci; qne a alliança actnal do governo 
italiano com c« goveme» da Auclria e da An*- 
manha t. politicamente e moralmente, prejudi- 
cial á Itália, j.role»ta mntra a Triplice-Alhança 
e afllrma o direito do j-ovo italiano de conbccer 
o texto do tratado e de ter contallado nc* eo- 
niicioi eleitora*» para manifeitar a ana opinião 
tvbr* eira alliança.» 

— Trata- *« em Génova da fandaçõo de nm 
a«ylo para ot emigrante» qne em graode nu- 
mero afllnem ãqnclla rjJaJe. porto dc embarque 
para a terra promettida da America. Maitc» que 
não têm logo lugar no* vapore* que vão partir 
•ão obrigado» a vaguear pela» roa* de*e©u»ola- 
•Umcnte ou a dormir «obre o* banco* do» pa*- 
teio» * na* «oleira* da» porta». Cuidando de**a 
iiiisena de quem vai em t.n«ea da foitona. I*n- 
çnu o governo urn importo, a pagar ].e!o* 
agente* de emigração, de 23 cente*imo* sobre 
cada emigrante embarrado e com i*»o já se 
ajuntarão mau de 12.000 lira*. I.«go qne_ »e 
renna nina quantia maii avultada iMiut^arãô o» 
trabalho* no cs-convento de S. Francisco d* 
Paula, cedido pelo governo ao município de CtnoT* 
para fal fim. *« bétn qne elle não preencha lã 
muito bera a» eoodiçoaa nece**ana» a um «Ci- 
licio destinado para tal fim. 

— Di* o Diritto qne o marque» de Tíndini, 
quando esteve no Piemonte, |-or occasião das 
fcst:i* «la inauguração do monumento erigido 
em Mondovi ã memória de Cario* Manoel.l*, 
cneontron-te em Turim com o m*rnuc» de Me- 
nabréa, embaixador da Italia em Pari», e com 
elle teve uma longa conversação. Tratou-se de 
nin projecto de viagem do Rei da Italia á Io- 
glateira 0 presidente do conselho perguntou ao 
embaixador cm França qne iropmsão rautsria 
nesse paiz o nnnuucio da viagern real e se p<*- 
ventura o pre f idcnle Camot convidaria o rei _a 
demorar etn França. Senij-re pelo que di» o Di- 
riU-t. o* dous diplomatas discutirão a bypothese 
dc uma visita du rei Humberto a Toabao. onde 
elle parsaria revista á esquadra fraoceza do Me- 
diterrâneo. 

Conto tua nltima vontade, o finado prín- 
cipe Alexandre Torlonia detxiu comignajo em 
trstaiiiento que a ct lebre galeria do palacio Ye- 
ncza. avaliada em mais de dez milboca, ficais* 
como patriuiinio publico para lustro de Roma. 
c delegou a gunrda c conservação delia ao seu 
genro D. .Ilibo Dorgbctc, duque dc Ceri. 

• Pastãrão-se tempo*, porém. * e* herdeiro* 
não cumprirão a vontade *lo testador, fazendo 
entrega da galeria ao governo. O advogado do 
roina uMcbeu-ee catão, e o* berdeiro» «lo prin- 
cipc. recetando iun ínatil escaudalo publico, re- 
»dv>rão-*e abrir mão da magnifica cullreção. » 

O governo cuida de cscxll.tr u loest para o 
eonvri.iente alojamento daqcella* prccl«-»idade» 
artística*, o paliei-. Torlonia. tendo de eabir 
krernueute sob a picareta do» demolidores que 
andão n u.odenii«ar Il.-n.a pjr um plano qne 
aqui se chama de piano wJalore. 

— Corrct» como vinda d* f.-nte oflicial a no- 
ticia de qno o cotsnl geral italiano em Adea 
rrrebeu do n>i MiUaea a quantia de líO.OOO 
tballen. jmr ecnt* do reembofto do empresUiuo 
absiiiaio. 

kicãiãa todo* muito contco*'» com a noticia 
d.i viuda dcs»e dnibrir». primeira qne a Italia 
tira d* África, de troto qcc para lá teus aua- 
dado. 

K* o primeiro pagamento do e-apreUitno feita 
a Menelik pelo llinm Xtrkaal coai ga.-a Fiado 
governo (a ‘.T* d- Oatnbru de ISTj). do qtiil si 
to mittgliât d. «* milbõec. havendo o Negn» 
renuncia-io ac» outro» «1"'U. 

Um trlfgr jtno-.a vindo de Pari* a.Trraa que 
Mri.cbk laJoJou «aviade* que já esuo roí ca- 
ii.inbo com =». m tmt qu ito» i* ppteacb» cara- 
ptau. E»lã no »su direito Msnebk: '.«em toa 
bem »• leuihra d* j^gar a» sa»e divida» b-m 
pÃdt recordar ao* outro» at queixa» qua ttm do» 
Bcn* rredere*. 

— Uma circular do u-ioUIm da» fioarça* cua- 
vida c» s ;?«.!*» fiicac» a !n'.’tn qne • * im- 
postes publico» rendáo lodo r* pmdncto de qae 
terccptivtis. Car ec e h taalu d* diafceuo. 
l."io grriidc» sâo 9» diíllculdadt* financeira* da 
lilnrção qnr o presidente docontclbo, e r.r.vi JaJo 
a nm l-imiuel* em q«t lhe prrj^rrioaa.â-» oeca- 
tião par.» mu di«cuTM «obre a sitnaçã». e*cn- 
tou-ie dirrndo qne elle era forçada * isaisr 
re sirva rmqtmnto o *«u collrga da» Lna-vas 
não resolvia as Jifficnldadea da *ua pasta. 


Cartas de Itália (detalhe) 


Guerra” (n. 233, n. 236); às atualidades políticas (n. 269, n. 271); e a “”0 general Henrique Cialdini” 
(n. 319, n. 320, n. 321). Pelos mesmos motivos expostos na nota anterior, tampouco foram incluídos 
no presente anexo. 


DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1039 


LITERATURA DE VIAGENS 



Em Beyreuth. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIV, n. 294, p. 2, 21 out. 1888 




1040 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



EM BEYREUTH 

O nosso carro dando a volta do perbtylo 
apinhado de gente e as trombetas do 
ttuatro atirando ao ar as longas notas da 
chamada. De Wagner tudo é interpre- 
tativo : interpretai logo : • Bcinvindos os 
percgrloos de além-mar I » E flqncl 
contente... de chegarmos a tempo e de 
termos um carro com dois cavalk», 
quando todos se apelavam dc traquitandas 
desaprnmndas, com um sd cavallo a um 
lado da lança. 

A sala grega, núa e sevrsa, em linhas 
rectas tem a frescura e a obscuridade 
recolhida de um temp'o. 1081, no meio. 
Para baixo um tapete de cabeças descendo 
em rampa forte atô a mystcrlosa concha 
que abriga a orchestra. Para cima uma 
barreira dc alIeraAes, assoprando-se mu- 
tu^montq amabilidades, n'um coxixar que 
lembra vigamento um tacho de goiabada 
ao fogo, as ayllabas rcsfolcgantcs reben- 
tando a todo o instarfte como bolhas de 
vapor. Para os lados caíras precoces, 
pensativas, bochechas riscadas por golpes 
de rapiére — rlvos padrões de glorias 
universitários, narizes grossos, informes, 
de uma humildade passiva de condcm- 
nadoeaos queijos horriveis, às cervejas 
nauseantes, aos laborotorios pestiferos... 
Quando a cliamma do gaz desce dentro 
dos grandes globos leitosos sobre os 
capiteis das columnas e faz-se a obscuri- 
dade quati completa, ha sempre aqui e 
acolá um lampejar de vidro de luneta. 
Eymbcllca— « Na resplandecente Germania 
jámais se extinguirá de todo a luz I » 
Todos os olhos se fixam anciosamente 
•obre o panno que fecha a sccna, gran- 
de cortina rasgada ao meio, pintada sim- 
plesmente em largas riscas cinzentas e 
vermelho n pagado. Musicao Um arre- 
bata mente. A orchestra 6 como ora 
grande córo em que o canto não se arti- 
cula, em que todas as vozes se fundem 
n’uma só, alta e profunda, múltipla e una, 
completa como seria a vlbraçào accor- 
de de toda a lyra de um poeta e dando 
a idèa perfeita do que seria um centro 
Irradiante de harmonia. Aa phrascs váo 
definindo-se lentamcnte, com um longo 
desenrolar de theorios mysticas, Quctua- 
ções de Téua brancos, nebulosidades in- 
definidas em que pouco a pouco se dis- 
tinguem aons de harpas cadenciando a 
marcha da prodssào solcmnc. Subindo, 
•ubindo, numa gradação auspiciosa, pro- 
mettedora de alturas vertiginosas, o can- 
to Instrumental mais complicado agora, 
dá aUlnsão da aproximação: sob a ampli- 
dão soberba do tbema principal deae- 
nham-se as phrascs menores arabcscando 
o fundo n'uma flligrana de sons. Náo lia 
claros, nào ba costuras, as ligações suo 
Imperceptíveis, cada nnipe de instrumentos 
embebendo e embebido pelos proxlmos 
como as zonas de coloração spcctrnl. 
Comprehende-so entAo a utilidade de oc- 
cultar a orchestra. Assim nem pela vista, 
pelo jogo dos instrumento», «o qucbnuà 
a wrtúade da grande voz, resultado ma- 
ravilhoso da concurrencia de esforços 
anonymos. Tudo visa ao c lícito no the.v 
iro do Beyrenthe o cffcito dos cíTcitos ô a 
ç:*nde syrobolica do musico-philosopho. 

Apparentcracnte Parsifal è um poema 
da salvação. Os heróes dos dramas mu- 
aieaos de Wagner sáo um pouco mono- 
tonos : monotonia dos traços de familia, 
tanta semelhança que dir-se-hla que cllcs 
alo • preprio Wagner idealisado. Parsi- 
fal, que s um Lohengrin de baixo para 
cima e sem amor, è um rapaz allemfto, 
bonito, gordo, ignorante o casto, uma 
versão singular do poema christ&o. Cas- 


tidade inútil dc detalhes para a producção 
de pequeninos, imperceptíveis efleitos. 
Digo imperceptíveis, porque o largo sopro 
de inspiração que corre por toda a obra 
varre as pieguices d'cste parnasianismo 
esteril. Pnra que entio uma enscenaçáo 
exagerodamente minuciosa, se o drama 
musical vale por aí? E para que syrobo- 
lismos obscuros, confusos, asnaticos e 
massantes, quando so póde fazer boa 
musica, simplesmente ? Ah I i para não 
fazer as cousas sem philosopbia, sem es- 
tbetica bem humanitária e bem su- 
blime I... 

E bem germânica. Vive a Ailcmanna, 
ha que tempos, querendo illuminar o es- 
pirito humano e só conseguindo olTus- 
cal-o e mesmo cègal-o com as suas ful- 
gurações artiilciacs, deslumbrantes al- 
gumas, mas ophemera* todas. Não sc re- 
signam os allcmàcs de oculos.a confessar 
que os clarões mngnesicos das suas tran- 
sitórias metnphysíeas (prova-se que toJa 
a sdcncia nllcmá systematisada é meta- 
pbysica) não ralem a luz serena do sol 
latino. Cada um se applica a combinar 
os elementos illuminativos da intclli- 
gencia para produzir pyrotecb nicas espe- 
ctaculosas. Mas náo passam do uns fo- 
gueteiros dilettanti esses prophclas da 
lux nora. A conibin&çfto è «Tclta. o ma- 
terial primitivo 6 nosro. A Germania 
ainda será por muito tempo o mundo 
bárbaro vivendo ás portas dn cirüisnção 
greco-latina, cujos thesouros inexgoianús 
lhe fornecem as beilas synthcses philo- 
sophicas s os primores da sua plástica 
sem par. Ds tudo isto, ella faz um*angú 
pretencíoro, faz symbolismo em arto e ni- 
hilismo em pltilosopbia. Querer fazer mo- 
derno c o seu erro e ao mesmo tempo r 
um pouco n sun desculpa. 

O grande terror das almas slmp:cs e 
descuidosni, é o que está por traz das ap- 
parcncías artisticas, i o revestimento in- 
tencional, o fundo de doutrina que enco- 
bre essa simples excitaçáo dos sentimen- 
tos gcucrosos que é anrte sem A grande. 
Muitos sc irritam, despeitados por náo en- 
tenderem tudo, como se houvesse algum 
capnzdoontc d r tudol Mas os desabu- 
sados dc estheticas e do philosophias «Vas. 
tomam a senuçáo onde a encontram ; 
o gozam . Que importa o pedantismo de 
Wagner ou dc Hugo, se ha poesia nn mu- 
sica e musica nos versos? Idéas, abstrac- 
ç&es, muitas que sejam nfto velara o sen- 
tir ; Qtravcz da aua transpaiencia de 
mica incolor jassarã sempre a ardência 
•uggestiva de uma sensação, sc o artista 
é poeta, se ello mesmo vibra. .Mas nào 
póde haver vibrado unisona, sun uma 
allnaçáo dc sympathia. Ora, quem po- 
derá boje ser sympathico em arte, se náo 
tiver a complicação dc sensações, a agi- 
tação de idéas^ a necessidade angustiosa 
dc explicar o mundo, do doutrinar, dc 
convencer aos outros para se convencer a 
si mesmo, se não tiver traços moraes 
que wjarn nossos, se não puder mostrar- 
nos, singiilaruicnte, ideal mente smplltl- 
eoda.H pnrn a emoção artística, apparen- 
clas novns, aspectos náo revelados d’css.* 
Protbcu de mil figurações, que 6 a nossa 
alma indivisível ? 

Essa agitaç.io dc falta exigida pela ne- 
cessidade do novo que atormenta o artis- 
ta moderno (na opiniáo dc Bourget tola 
a arte so eivou dc espirito germânico) 
obscurcce-lhe a fôrma, sobrecarrega n lo- 
a de intenções subtis, dc preciosismos, 
do pedantismo. Mas, bem julgado, néo é 
mais interessante este pedantismo que c 
antes um excesso do que um dofeito, que 
è um symptoma de progressivismfyle ín- 
contenlr.mcQto, náo ò mais sympaUiica 


um punch de arrebentar. E com isto a 
ingestão directa da esscncia universal 
das cousas, uma espccie do salada dc 
noumenos crus, que c a verdadeira mu- 
sica, diz Scbopcnhaucr. Isto todos os dias 
faz mal por força. Atóm dc que, Luiz II 
tomou multo ao pé da lettra o exemplo 
de Parsifal (que na legenda é entretanto 
o pai de Lohengrin I) e eximiu-se á prin- 
cipal lei da vida animal, que obriga a 
reproduetividado especifica: Ora, como 
nào se pódo provar a utilidade da exis- 
tência do homem só, a mãi natureza con- 
siderando a miséria d*aqurlla crcatura 
mandou-lhc n’uma noite de bnllata uma 
ancia irresistível de repouso no fundo do 
lago negro. Tudo por culpa do Wagner 1 

Àbl se Wagner só tivesro cscripto 
musica e náo dramas, scas suas operas 
fossem symphonias apenas, ou sc os cnn- 
tores solfejassem simplesmente, que per- 
feição seria Parsifal I 

A delicia do preludio, da marcha de 
Graal, do encanto da sexta-feira santa, 
dos seu* coros incomparáveis, cm que ta 
tudoo que se póde querer da musica, 
faria esquecer a excessiva extensão de 
certos trechos e as subtilezas fatigantes 
do outros. Mas com drama ao vivo, can- 
tores allemnes rigOritUi ern pronuncia e 
gestos, versos interjcctivos e syinbulica 
traiçoeira, o que deveria ser memória vnça 
a inefTnvcl imprecisão da musica objccti- 
va-se cm phrsses sibilantes ou engasga- 
das dc nnra lingua barbara. A esteada 
meia)Jii'sica das cousas foi-me dada em 
pilulas muito grandes e que amargavam 
por fora. 

Tenho esta lo a brincar, mas sem men- 
tir. Sómente, est mottus in rebus. 

Náo cnbjria na noticia de uma repre- 
KcntRção de Par ti fal a exposição demons- 
trada do que valo llL-ardo Wagner. Espero 
entretanto que ainda poderei fallnr con- 
venieniomente do crcndor de um theatro 
moderno, que não c o theatro oc tua I. Será 
catão occasiào de mostrar que largueza 
tem o campo da arte, fura do realismo e 
mesmo fóra do idealismo, livre das mes- 
quinhezes peda n toscas das doutrinas c 
dos sy&temas. 

O erro do Wagner foi a aouirtnaçdo, 
que é o erro dos inventores. Mas ila sua 
obra tirará mais lucro o mundo, que dc 
todo o espolio musical dos scculos passa- 
dos. ] 

DnuiClO DA pAUA. 


A rua da Prtneczn cm Nkthcroy, no 
trecho compiehomlido entre as ruus do 
Marqitiz d.* C:. v :ías o S. Francisco, |>úde 
Iwm dar uma Héa do zelo da cantara 
municipal d'»quo!la cidade : do lado da 
numeração impar, cm ^:z do passeio, ha 
um ntaiagnl com diver^s montes dc 
lixo que Atlcstont que por alli náo pissa 
Itscal ou cousa que com isso sc pareça. 


DR. LOPES TROVÃO 

Os aluamos da Mc- 1 ! Mas re- 

unidos em anemblt*a geral K>b s presi- 
õcuÁu do Sr. k*i|jr.me(lo Slsácarenhas. 
servindo do secivuirio o Sr. Rib iro dn 
Silva, resolve, ain tomar parto ua recepção 
do Dr. Lo|>es Trovão. 

Para cs o flm foi nomeada uma com- 
ntissito, (juo llcuu usMin coiutiluidn: Fran- 
cisco de P. Fajardo, Manuel Ü. Gonçalves 
Pedreira. Tilo Livío de Caítcv, Jor.q dm 
da M. Sodró. Xobrx- tiiio O-isea, Cotnc.i 
Nctto, Fonciuno Cabral. Tobias llcgu 
Monteiro. No* bei Tdxciiti Malliias lo- 
bato Lopes, Klpidio de Queiró/., Nnbueo 
de üotivea, Josué de Toledo. Carlos da 
Costa Soares, Joúo F. dc Araújo, Álvaro 
dc Curvnlho, Aunibal Eslcvcs e Leopoldo 
de Noronha. 


Náo ha policiamento na Oonscabnns. I 
Muitas famílias que alli se acliaiu a ba- | 
nhos, vivem assustadas, á vista dos con- 
tínuos e repetidos assaltos ás casas do 


Em Beyreuth (detalhe) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1041 


vertia singular do poema chriatão. Cas- 
to ou beata. Durante ura ac to Inteiro 
eonserva-se de pi na meama posição, com, 
as mios cruzadas adiante, immovel como 
nma estatua, a estatua da lnintelligcn- 
eia. Prestou toda a attençáo, mas não 
entendeu nada da bclllsslma ccrcmonla 
da Salnt-Graal. Por minha conta ex- 
pliquei logo a sua paamosa Immobili- 
dade phvsica por uma correspondente 
obtuaidade Intellectnal. « Ulôlo de pe- 
dra» cbamar-lhchla o meu velho mestre- 
escola. Pois este eerá o eleilo para ar- 
rostar sedueções perigosas, para recon- 
quistar a sagrada lança, cuja perda des- 
Btorallsou a irmandade de Saint-Graal, 
para curar uma ferida do rei, tornada 
chronica e para fazer descer a pomba 
mystica sobre o vaso em que refulge com 
rutilandns de fogo de bengala o sangue 
do Cordeiro tmmaculsdo. 

O que elle faz para isto não 6 grande 
cousa. Da scducção das mulhsres— flores 
(graciosa mclonymial) elle não entendeu 
pitada e quando ia escorregando com s 
Kundry, s bella feiticeira apaixonado, 
•obreveiu-lhe uma dor tão forte, que por 
muito menos seria Tirtuoso qualquer de 
dós. Depois ba uma tira de borracha, 
que desvia a lança arremessada contra 
tile porKIingsor, quei um bruxo sombrio, 
representando o gênio do mal ou antes o 
gcnlo do despeilo— Salnn castrado. No 
S‘ ac to Parsífal apparecc já com ares de 
qnem se entende a ai mesmo, barbado e 
armado, Cbristo militante, e a Kundry 
convertida o amorosa, raagdalentea, lava- 
lhe os pis e enxuga-os com os cabcllo9. 
Disse-me uma gentilíssima senhora In- 
fleza que muita gcnlo achava esta secoa 
(mproper. Eu acliel-a ridícula, apenas. 
Mas parece que Wagner não sabia o que 
era ridículo. Nem o que era enfadonho. 
Ba um Gurncmanz que faz de expositor- 
eonselheiro desde o começo da peça c 
que n'cste aeto revela-se completamente, 
terrivelmente cacete. NSo 6 Parsifal o 
principal papel; i elle. Canta bem, mas 
canta demais. E' elle o grão symboli- 
tante. , 

Depois ba uma mutação (maravilhosas , 
u mutações, que «e fazem cireiilsrmcnte ; 
parece que è o espectador que desloca- 
se e não a sccna) e vem a seena csplen- i 
dlda da restauração de Saint-Graal,— a l 
procissão, os Ciros, Amfortns, que se quei- i 
xs da sua mazella incurável e faz proje- l 
ctos de mudar-se para Zurich, Parsifal i 
que entra e canta e o consola c cura i 
tocando o com a lança, que é a meama ] 
eom que 8. Longino abriu o lado ao i 
Cbristo morto, Gurncmanz que cauta sem- ; 
pre, o sangue que brilba no sagrado calix, i 
» jomba quçj desce e palra sobre elle, de 1 
azas abertas, pendurada por um fio, a : 
Kundry que cabe morta por paga do seu 
dedicado amor c as cortinas listradas dc ; 
Vermelho sujo que se fecham sobre aqncile 
quadro de pintor antigo que tivesse pre- ; 
dilecçõo pelos toas fracos de rosa e de , 
and. i 

Dizem que foi o próprio Wagner quem i 
fasiiluiu rigorosamente a agrupação e o i 
colorido doa quadros das suas operas. I 
Pois podia ser outro qualquer que lhe < 
»lo cresceria a gloria por isso I Quem i 
correu meia duzia de galerias dc arte, já i 
•Jo pòdc encontrar olli impressões plás- 
ticas novas e sim recordações. E' uma das i 
fraquezas do grande muako cata minudo- i 


«. >•**» •^lupviUHUU |>M/|tlS»-<IVIllll"|t(*; III- 

■ contentamento, não 6 mais sympathica 
1 esta turbulência, este despenhar- -e cm 
'«catadupa dc idèas novas do que o repouso 
1 dc sapo calmo e trnnquillo, á beira do 
seu stagno de idòas consagradas, de plira- 
1 ses feitos e.do formas flxaa V— Ccrtamcntc, 
sim, quando essa turbulência 4 produ- 
ctiva, quando ò do ideas novas o turbi- 
lhão^ O sapo immobilista e eontomplativo 
íd quer que ndo lho seque o stagno. A 
graça, a cicgancio, o bom tom cerimo- 
nioso náo são dotes dos espíritos de vida 
maior, asm dos que rcflcctom a luz alheia. 
Náo ha como os povos do nima rstrava 
para os rigorismos do etiqueta e cererao- 
nial. No mundo do pensamento tamisem 
ha conservadores de musesss c mestres de 
ceremon as para a etiqueta das Idòas ; são 
esses que só as têm claras, isto i lustro- 
sas e correctas. E nós mesmos, qnc so- 
mos liberaes e tolerantes, não queremos 
grande bem aos agitados e aos invento- 
res. A nossa eatcrUidade vê cora maus 
olhos a excessiva fecundidade d'esses yen 
tres dc idías. 

Quando nada lhes podemos arguir sobre 
a pnrezo originai, 6 sobre « apresentação, 
i em questões dc fdrraa secundaria que 
os incriminamos. 

Vem á fronte o chavão de obscuridade 
e pedantismo. Mas não seremos nós os 
pouco perspicazes, os de eurta vista e de 
alma demasladamente clara, isto é, rara? 
Não, porque nós somos o publico, a maio- 
ria. E cm todos os tempos, peia força e 
pela fatalidade do numero, a razão c a loi 
tem pertencido e pertencerão ú maioria. 
Constituam maiorii os homens de genio 
ou dynamlscm a sua idòalisação e nos 
submcltcrcmos então, quando o seu valor 
estiver verificado, quando a masia pas- 
siva da humanidade obedecer ao seu im- 
pulso. Alé lã lhes negamos o nosso voto, 
soberanamente. 

E como o nosso voto, o nosso anplauao, < 
a nessa adoração 6 a gloria que clles mais 
ardentemente ambicionam, nós, o publico , 
ignaro, o profano vulgo, gozaremos sem- 
pre esla delicia de sermos adulados pelos 1 
deuses do futuro, teremos sem pio a come- j 
dia do despeito dos Schopenbauers e dos , 
Wagncrs. c 

Cimcdia ei fárn ; não para os que cs- ! 
tfebuxam nas garras d 'essas agulas do 1 
talento. Tortura atroz I ha o esmaga- i 
mento da motaphyslca, a carga insupor- 
tável de abslraeções c ba as pontas ace- ' 
radas c subtilíssimas da symbolics. Essa 1 
ê a obsessão Ouvindo o admirável pre- I 
ludio do Parsifal cu presentia que o 1 
tbema se desenvolveria circularracnte, cx- | 
pressão geométrica da Vida, que não tem | 
começo nem fim, que c universal o eterna. 
Mas além d'isso (eis ahi I £ preciso ser 1 
fino, attento, estudar muito, o que fatiga , 
horrivelmente...) eu via ainda que o i 
anncl fechado também 4 um zero. sinis- 1 
tro symbolo doNada. E combinando esta ! 
primeira impressão cora os moAt I c os | 
AuAa I que saltam a cada instante como 1 
domonios ironicos atravex do drama, . 
achcl-o negativista no fundo. Vão ver ' 
que não serã outra cousa e que nu pre- | 
ludio do Parsifal catara a causa ob>cura 
do suicídio do rei Luiz. O pobre moço Ire- 1 
quentou Wagner demais. Wagner é como | 
um vinho forte de que não convóm abusar 
Eu ainda sinto o mal aux cheveux, a ^ 
ressaca das nove ou dez horas ua orgia . 
deBcyrcnlb. Harmonia c mctaobj-sica 


Em Beyreuth (detalhe) 




1042 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1043 


■ QUINZE DIAS NA ITALIA 

1 TUfUV, 28 DK ABIUI.. 

Quem faz um projecto de viagem, nio 
deve dl/el-o aos amigos. Nio é pelas 
encomniomlas que nos fazem — só no 
Brasil ainda ha esse costume — 6 pelas 
rceommcndaçòcB, discussões de ilinerat ios : 
e fingimentos Je peaar por nio serem 
nossos companheiros. 

— Disseram-me que vai á Balia. COiuo 
eu a invejo I Passa a «mana santa em 
Roma, naturalmcnie... Ah I Roma i tio 
bonita n’cslc tempo I Nio se esqueça dc 
ir a Tivoli ; c a primavera agora. Roma 
ao pôr do sol, do alto do Piocio, é uma 
cousa unlca. Peça uma audiência ao Papa; 
é uma scnsaçio singular quando o re- 
thinho nos abençõa. . . Vá por Marselha, 
desembarque em Nápoles e suba a Itália. 
Torquc nio vai pola Allcmanha ? começa 
ror Veneza e acaba por Turim ou por 
Gênova, se quizer voltar pela RI viera. . 
Mas demore-se, para poder tèr alguma 
cousa ; cm quinze dias nio verá ntda . 
(E vem-nos logo o desejo de nio partir.) 
Mas agora, com a semana sinta, os mu- 
seus estio fechados ; nio ha nada que 
ver ; vai perder a viagem. (E decidimo-nos 
a partir, pois que os museus estio fe- 
chados...) Quer um eouclbo? vi por 
Bile. Ainda ha neves. A subida de S. 
Gofianlo é’ndm irarei. 

Vim por Bàle. A subida dc S. Gothardo 
é admiravel, mesmo. Moita neve apo’- 
vdhando os pinheiros dos montes e muita 
neve cm toalhas geladas por onde a agua 
das torrentes abro caminho e cava sumi- 
douros. Mas nio ha cousa que se pareça 
mais com um monte nevado do que outro 
monto nevado. Na quentura de um raio 
de sol claro, bem agasalhado na mantn 
de viagem, adovmrço sonhando core as 
ruas escuras das cidades antigas onde sc 
passeia dc braço dado conversando dc 
cousas amaveis, ao luar, lembrança r 
nuggeatilo da bclla noite passada em Bi'*' 
na véspera. Almoço em Goerchencn, cn- 
gulido em quinze minutos, entre a brtn- 
cura reverberanto das neves ao sol. Pas- 
sagem do tunne), menos interessante que 
vinte minutos de undcrground em 
Londres. 

Km Ai rolo ainda a Italia fmtcrnisa com 
a Sulttâ cm nomes allcmfles cscriptos n 
par dos nomes da beIU língua sonora «- 
musical. Mas descendo, descendo, á me- 
dida que vAo dcsapparecendo as neves e 
apparecendo mais frequentes nos pomares 
amda despidos as manchas eôr de rosa c 
as manchas brancas dos peccguclros c 
das macieiras cm flôr, vai se aeccntunndo 
o mcridionalbino da lingua c dos costu- 
mes com a da paisagem. Nas estações 
apregoam-se jornaes de Milio, do Ge- 
nova, de Roma. K' domingo de Ramos ; 
as roupas das mulheres em grupos n 
beira da estrada tem córea vivns, gritan- 
tes, sem harmonia. Os homens de mios 
nos bolsos, cm posições indolentes, riram 
para o trem barbaças c llgodcs gigan- 
tescos, formidáveis. Dá muito bem a barba 
por aquellas alturas. Visita da alfân- 
dega cm Chi.asso: formalidade, eortezia 
como na SuUsa, mais do que em França. 

Passagem por Lugano e Como, regiàn 
dos IngOB, do uma poesia pouco sensível 
a quem vem cansado. D'alli guardo n 
recordação de lonjSs horas de enfado 
mortal, Tendo cahir a chuva, ba aeto me- 
rco. Hoje ô o sol quente e claro, que HA 
vida ús searas verdeo, que faiaca na relha 
dos arados da lavoura cm pequenos reta- 
lhos innumeravcis, desde a beira da es- 
trada atò o borlsoiite baixo da planidc 


passa. Raras converas, uma cantiga 
tle bebxdis desuflBAda e sem nexo, lã 
para um becco escuro, á porta de uma 
quitanda um fragmento de <b*)ogo <l u <* 
não sei porque me faz estremecer e ao 
pé da ponte Sol ferino um cafó cantante 
com quatro músicos c duas cantoras al- 
IcmSos applaudldos por uma assistência 
de militares graduados de alferes até 
majores, foi o que ouvi a vi de Pisa 
n'cssu noite. 

No dia seguinte vi o resto: Quoreo, Ba- 
tistério, Campo Santo, casa de Gableu, 
igreja dos Cavalleiros, Santa Catharinn, 
ctc., E, facto singular I nio me senti me- 
lhor nem mais humano por conhecer d* 
visu o que a imaginação me Unha mos- 
trado amplificado... Do que nio fazia 
idéa é da eôr barrenta e suja que tóni os 
edifícios c monumentos antigos na Italin. 
Parece que tudo aquillo esteve mergulhado 
longos annos na agua amarclla dos seus 
rios turvos. 

Em Campinas podiam bem lembrar-se 
de fazer de taipa uma reprodiicçio do 
rathcdral He Pisa, que terin desde logo 
a eôr dns scculos. 

A’a 11 horas da noite por um trem rfi- 
rttUuhno, quo vai parando em cada es- 
tação (ainda mesmo para com os trens 6 
preciso aqui fazer a rcducçio dos super- 
lativos e o desconto do meridionalismo 
dos adjcctivos simples), ebeguei a Roma. 
Um certo drsasocego, a emoção cheia de 
respeito, a humilhação do indivíduo dianlc 
dns grandezas consagradas, ura pouco da 
apprehcnsio d'aqucllcs bárbaros que se 
vôrn nos quadros espreitando a cidade de 
cima do Janiculo, aflligia-rao. AflUgiumc 
também a visinhançn do relogio da ca- 
mara dos deputados, que dÀ horas tres 
rezes e conta os quartos, o que faz qua- 
renta e uma badaladas entre as doze e 
uma hora. Todas as noites que pa«sri em 
Roma aquclla machio* canavto retalho -a- 
ma os sonhos com o sarcasmo do tempo 
contado aos quartos ironicos, com um ge- 
miiio quo fica na vibração morrente, eho- 
rando o tempo que passa c nio torna, 
nunca mais I... 

Na manhi seguinte as primeira* figuras 
amureis que encontrei foram o birão dc 
Sabola e o visconde de Cavalcanti. Esta- 
vam na capclla Sixilna estudando cut- 
dadosaincote a brAtalidado do Miguel 
Angelo. Entre o/tros muitos estrangei- 
ros, um allemáò estava com a cabeça 
deitadasobre o encosto dc uma banqueta, 
mirando um dos palnels do teclo. Rncon- 
trcl-o dias depois debruçado sobre o es- 
pclbo da galeria Roapigtlox! a cstudnr 
durante meia hora a conhccidissima Au- 
rora do Guldo. Esse Unha lcini>o, vene- 
ração e pachorra . 

Eu tinha ainda Roma Inteira para 
ver. 

Disparei pelos museus a dentro o As 
2 horas o Vaticano estava liquidado. 
Mas também ataozc, logglc, pintaras, 
mármores, tapoçarias, o Apollo, o I.no- 
eoonlf, os Antiuous, Pudicitia, o Torso, 
as Dianas o as Minervas, brancuras de 
cstatias e colorações dc pinturas pas- 
taram-me polos olhos em mutações kn- 
Icidoscopicas, quando senlel-mc par» al- 
moçar n'uma bodega em frente de S. Pedro. 

O resto da tardo íol para S. Palro, 
Santa Maria di Troustevorc, Santo Onofro, 
casa dc Tasso, passeio |>elo Jnniculu 
(panorama do Roma), S. Pedro dí Mon- 
lorio, Fnrncsina c Panlheon. Dc noite 
ouvimos Jxs fírigaiufi, de òffcnbach, 
fantasiada ã italiana, caricatura dc eari- 
catura, qo theatro QuIHno, onde, quando 
chove, a clarabóia deixa mollnr-se a 

n.nlA.1, nl.lÜA 


Quinze dias na Itália (detalhe) 





1044 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


irada alô o borlsonle baixo da planidc 
lo in barda, r trtili<aima. E o sol parece que 
italianisa o trem. Por alli vai ellc deva- 
garinho, preguiçoso, a;>aiihando gente cm 
lodos as estações, gente que fumá multo 
c fala alto. 

Milão is 5 1/2. A’s 8 horas Lohengrin 
no Scala, modiocremcnte executado r 
muito applaudido Mas nos camas otes 
n fina flôr das amadoras conversava e rin 
cmqunnto os cantores sc «bofavam por 
exprimir as intenções muuicacs do Wa- 
gner. Scinpro um zumzum na sala. Ap- 
plausos fóra do tempo o bis sotn proposito. 
Um casal do nücmács foi-se embora no 
fim do primeiro acto. Fiz o mesmo do- 
pais do segundo, O chã do Café BilTl na 
gnU-rla Victorfo Kmmanucl não presta. 

E no dia seguinte, o caminho de lisa. 
por Génova, lia nos jornaes da terra quo 
a representação do ÍMhengrln marcava 
unrn dni mais bei las noites da estação 
lyrlca, que n algnorina tal tinha apro- 
veitado o mostrava estudos, que o tenor, 
livre das emoções da estria. Unha se ex- 
cedido, que o publico mostrara intclli- 
gcncia e soubera apreciar devidamente a 
muxica do Wagner c outras babuzetras, 
que mostram que os jornalistas aio por 
toda a parte os mesmos. Na Itália elfoa 
j.io os mesinoH, mais alguma eu usa, que 
«íio os adjectívoa superlativos o o abuso 
<la presa grandíloqua a proposito da 
menor fríoleira. O leitor nio habita ado 
fica pasmo do tanta exhaberancia o n.\o 
se resigna ás redurçOes necessariai, para 
que os factos tenham as tuas justas pro- 
porções. Vate a roncaria dos periodos que 
muitas rezes bonitos slo rcalmentc. 

Até Gonova conversa com um ofüclal de 
marinha quo esteve quatro ou cinco vozes 
no Rio, que falia «fclie como quem o co- 
nhece bem c que sobretudo falia do Im- 
perador. 1'or cuc mundo a fora é sempre 
D. Pedro a cousa mais natural o o prin- 
cipal ponto de rcfcrcacla, quando se trata 
do Brasil. Quando outro merecimento elk 
uio tivesse, esse ninguém lhe pôde re- 
cusar. 

Do Genova por diante a memória da 
viagem 6 de um pesadelo de tunnels, fa- 
zendo cora a marcha rapida do trem uma 
alternação fatigante de sombra e do luz 
vivíssima. A estrada perlonga a costado 
| mar, n*csse dia cinzento e triste, choran- 
i do a espaços com um pranto que domina 
: a barulhada do trem . 

E pelas encostas plantadas de parroi- 
k ras e do oliveiras cinzentas, onde parece 
. que nunca ha inverno, mu também n&o 
ha festas de primavera, i sempre o mes- 
! mo desenrolar de povoaçõ s nos recantos 
[ e casas dispersas p los sitios mais pilto- 
rescos, sempre o mesmo iccnarío de sonho 
de ingleza romantica— uma villa na col- 
1 llna dominando o mar azul onde vogam 
J brancuras, longe e na praia pescadores 
, vestidos de côrea vivas, (aliando approxi- 

- madamonte uma lingua que se canta n* 
Covcnl Garden. Parcco quo ao ral fe- 
Ihciando um volume de illustração in- 

i glcza, Art Journal, ou livro de paisagens 

- Ri viera, IUustrated Italy, ou outro. 

' A chegada a Piia foi ás 5 1/2, na me- 
I lancolia do céu pardo, do dia cm dcctinio, 
do estomago vazio e do aspecto mortiço 
da cidade, jantar do treze pessoas á mezn 

- redonda do Hotel de Londres em uma 
0 sala abobadada e pintada de arabccos c 

ornatos antigos, bonito», mas de um 
clTcito triste. Dc|k>Is «lo jantar sahimo» 
. a ver a cidade ao luar, que aqui e Melá 
i, furava as nuvens c por dm brilhou claro 
c no céu. 

O Lungarno seria bonito no tempo d< 
a Severo ToreUi, do Copjív. Hoje é um 
,a duplo correr de ca w s:m aichileclura 
particular, crivadas de janrlla* de vene* 
o sianas verdes dando x »bro um ria ama- 
•- rvllcnto o sujo. Alli. c;.mo nu reis da 
cidade, os pdadus antigos t**n» seu» 
escudos senhoria** *«,br -• a veq» da ja- 
" nella ou da { or a principal. K* itd- «v«- 
^ santo opMvio p-ías nus e vielbs • 
ItrcíUs c soaiblia*, lOr uale jKiuai geul 


gentoda platéa. 

E foram dias seguidos assim. A manhã Aj 
para as galerias e museus, a tarde para 1 
as igrejas c monumentos antigos, a noite in 
para os concertos religiosos no theatro o» 
nas igrejas, quando as nevralgia» o per- 
milliam. Perquo as nevralgias vieram 
logo com. a malária a: nnliada ao claro os 
sol damnoso da campanha, no passeio pola 1 k 
V ia Appla, no Circo de Maxencio. nns 
Thcrmai de Carncnlln. no mephltismo dns 
catacumbas ou mesmo dentro do Itonia. 2* 
na sujldado legendária dar Cidade F.ternn, 
em que cada entrada de casa, cada cor- ^ 
reilor, cada pnteo, cada. rua estreita c sem 
claridade ú fúco do infccçno. No cmtautu 
cm cada canto do rua, cm cada praça 2fl 
jorra a agua das fontes abumlantcmcntc. ,K 
Ma* 6 para prascr dos olhos c dos ouvidos ^ 
qno as fontes monumentacs das praças r - 
as ideas dns bitergas e nieilas entornam 11 
a agua que vêm de longe pelos aquedu- I 
elo» gigantescos. O homem que me cxpli- n 
cava a disposição das Thermas de Cara- h 
cal la tiniu um certo tremor na voz, como I 
se ainda o tomasse a admiração «le que [j! 
tão colossal edifleio fosse feito para la- ^ 
var-sc n’cllo a gente... 

Em Roma, por pouco que se tonha j 
febre, que o sangno se apresso na car- 
rcira ou que os nervos so emancipem da 
tutella da vontade, a Imaginação se muda 
facilmente om delírio. Fechando os olhos M 
A fadiga das agulhadas nevralgkas. no 
relaxamento do critério cíassifieaiivo das 
impressões, a» Imagens das cousas, per- . 
dendo o contorno claro o real de mato- 
rialldndcs tangíveis, fundiam-se n* som- $ 
bra larvosa om quo a inconstnncia da* p 
fôrmas 6 uma agonia mais. Imaginar com 
imagens c com idea», com a suggettã> 
da imagem, com a gtiphica da Idéa, J* 
com o idcalisação caprichosa quo tom 
por unico estimulo a ancia de estar bem. 
imaginar cora a imprecisão o o vago do 
sonho, crear o mundo em quo tudo passa, 
vire, existe fora do tempo, fora do espaço, I 
fora «to numero, 'sem submCsjíH logi- ® 
ca», sem contingências de cousa «foflnidn 
0 destinada, com apenas do razoável 
o sentimento da idcnlidudo individual 
;a-a obstar i dispersão total, Imagi- 
nar sem corrigir a imaginação fc delirar. 
Mas é então que se entendem bem, tor- ‘ 
nnm-sc mais sympathicos Baudelaire. 
Poé o Byron. A luz do olhar de um re- 
trato, o gesto indeciso de ama estatua, n 
agrtiçaçfio das figuras n’uma pintura, a 
proporcionalidade das linhas de uma ar- 1 
chitectura, o brilho de um vaso do ouro. 
o clarão sumptuoso do uma vidraça co- 1 
lorida, todos o» recursos de que a arte 
dispõe para impressionar fundem-se com- 
pondo uma harmonia raga que i como sc fl 
fosse o sonho do divino. Quando a idoa- 
IIsaçüo tem subido a essas alturas, o ab- j 
stracto fica valendo mnts que o concreto, , 
fez-se a saturação eatheUca. contempla- j 
ções posteriores ião simples accumula- < 
ções do visões Improflcuas, que nos dei- x 
xom Indlffercntcí, quo nio tem mal» j 
poder para nos fazir vibrar... c 

Nio cheguei alò lá. Mas duas noites de 
nevralgia, com a confusão f.«til na me- t 
muria de tudo o que me impresslonára 
de qualquer modo nos dias uítlmos, dlrnl- < 
nuiram-mo aingularmento a rcceptlri- ( 
dade para as emoções est bélicas. A ultima 
visita feita á villa norghcse nio mo dei- . 
xou outra impressão a lera de uma grande 
mancha verde nos olhos com umas bran- 
curas vagas, que são estatuas ou cdillcfo*. 

E a dculadura alva que n't:m forri^o 
mostrou um modtlo conhecido dolklmiro. 
que ia eomnosen... 

Tamk m teve as febres o Belmiro e du- 
rante mc/cs ; mas Icimuu c venceu as. 
EntMant-* perdeu tempo o no se i stiolio 
pjuens tiabilhns ainla »c v*« que 
mostrem a sua maneira nova. IMt mais 
rica de c -r c tem nmb corjo a sua p:n- 
tura ogorn. Unia cab ça do mulhw o I 
r !.a t.U nu for representando um gaiotol 
sento 'o «V i-cren Ir.oçaiacm unia grande I 
oadcim do c»|-aiJar |oi.tcaado um ba:»-I 


R 

dolim são os primeiro» trabalhas da nova 

á 

phase do antigamente um pouco descu- 

a 

rRiio pintor. Agora estuda clle desenho 

e 

como um homem. Ecomo nio pinta mais 

0 

do chie, chegará a pintar como um 

0 

pintor. 

- 

D» Semana Santa não vi nada que 

R 

valesse mala que as featas na Capelln 

è 

Imperinl. Apenas os' sermões do padre 

a 

Agostinho Montefcltro nttrahiam a mul- 
tidão. Mas na Igreja do S. Pedro mal se 

»- 

onchi» a capella em quo cantavam os 

i, 

caurati. Boas vozes isoladamente, máus 

i, 

conjunctos. No Panlhcon um oflicio ce- 


lebraJo, emquanto calda a chuva pela 


abertura da abobada, formando poças no 

“ 

chão da Igreja, lembrava vagamente uma 

» 

roncaria de aapos á beira de um clurco- 

s 

Depois de uma ultima noite sem dormir 

1. 

o de uma aftlictiva viagem para Genova, 

0 

vêm flnalmeate os dias de repouso, os 

s 

passeios á beira-mar, os tapetes do pé- 
talas de camélias da Villa Pahvkint, os 

í 

Van-Dlclis do Palazzo Roxso, ai csciiiptu- 

a 

ras thcalraes da Campa Santa, a provin- 

0 

cia especial dos genorezes como so fossem 
paulistas faltando italiano... Depois cru 

i- 

Turim, uma cidado do rua» largas o elo- 

- 

ras, com muito movimente, mulheres 

è 

menoa bcllos, porém mais graciosas quo 

- 

as romanas, rccordo-mo de uma fanfarra 

0 

de clarins á hora do cropiiiculo n‘umn 


grande praça cm frente do um quartel, 

c 

corq um cITeito peregrino da agonia do 

c 

som acompanhando a agonia da lua. 

0 

Dzpoh. . . a memória, o tempo que passa 

e 

crysfollisaráo imagens c visões fugazes 

t 

o sons de vozes, os aspectos e pbysiono- 

c 

mias de coitscs de menor valor e, quando 

- 

me vier o tempo da evocação taudoxa d'estn 

s 

viagem tio pouco poética, mais mo con- 

■ 

vencerei de que é bom viajar para ter 

e 

viajado. 

n 

Douicio na Gama. 


Quinze dias na Itália 




DOMICIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1045 




Bio de Janolro — Bomlngo 81 de Maio do 1803 


N 14 't 

„v* iMi oi viçou 

: QAZ 

AVULSO M M. 

FTA DÉ NOTICIAS : 

r,, M , nf — aimTmIiIIwi é. lUr.M.i - tn»*S«P«« * [ «■«« M,lf0 60 M 

lA.irvotypâ ^ do NottcLftBI 

wijwijS 

rxpccTnrr* ~ 

•■»»***■*• j- 


I 



DR. PASCAL “ 

==T^trS|_ 

Aio Gruidc d« Sul p 

ySãssçsgã 

"VsRMANA •“ 




SSHE—f 

■H 


OE VOLTA 







^Agg^gji 

"=sr- — •- 

■ - 'Afi 

~ZZ7IS~ : : : 




yròonírr rr^~ 


:irzjirx 

- r.rrar. 

!22r“ * " I 

^SSs| 


r t: .íTTr— — 


gffjgrSgsrrj* 


■ . 




■* 


Sãgsgss,*"'"' ** 

Saí^S^ 

■ . 

vjrrjrfzr. r_.,_ ~ 



Svtãl-nS; 


^gyarsgwa 

Sr.’-r=.'r.i=: 


O prefeito 

ISraaSrj 



l~Sr_rri 


•^SjrSss 

! tUTU) : 1 í: ;•< 

ií« zzs-~TZ2rzr. 

?|52£~ft53 


3^SSmSS 



Jrrrrfsã 1 ^ 

|52rsSvS 





gF agM ^Ü 



De volta. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 140, p. 1-2, 21 mai. 1893. 


13 


13 Na coletânea de Borges (1998, p. 326-332), “De volta” é levantado como um “recorte de jornal 
não identificado, assinado pelo autor e datado do Rio de Janeiro, 18 de maio, 1893. Arquivo Domício 
da Gama da ABL.” Ademais, sua transcrição deixa de fora seus dois últimos parágrafos (a começar 




1046 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


DE VOLTA 

Meu caro mestre.— Do no*so grupo, cu 
mu Mm duvida o unlco quo não tom • 
sympalhla nrcheoíoglco, que não rlvc n# 
passado hlstorko senão momcalos do 
comparaç*» recriosa o Incerta, pera logo 
volUr, odlosamenle, chaUmente moderno 
ãt coutas actuaes. 

Assim, bs poaaons em qnom s piodsdo 
nio eonscgno vcnccr a InstlocUva repu- 
gnância pel<> cadavcr. 

Ms», oJiosamenle roodemo como sou, 
ha un» sentimento nntigo quo admiro o 
venero — o do apego ao lar domestico, 

| que por extensão è o aentlmenlo da palrla, 
Crrlo que i la» o quo fez o Intereaao da 
OJysséa, mala do que a aua belWaa poo- 
| (Ira. 0 commum dos bomens do nosao 
tempo, por mullo menoa obstáculos do 
que oa que venceu Ulyssea, desanimaria 
de TOltar a Ithaca. 

E o obstáculo nialcr caconlrarla em el 

0 proprlo viajante no cliamado coimopo* 
lillamo, quo è un» terrível araollaoedor de 
rijezas nativas. Devo datar dos tempos 
da decadência romana, quando o Importo 

1 C'A o mundo clVfUsado e dissoluto, o 
trl tc aphorismo do urbi boxe, íW paina. 

KAo ino sinto romano da drcaJcncia, 
com uma certa vergonha lltlerarla o coa* 
fosso { não pnade o lustro que pa«cl om 
terra estranha, dissolver- mc o sentimento 
do mo achar, senão melhor— a beata ae des- 
acostumara das ruiczaadc trato primitivo 
— ao menos mais consclo da minha Inte- 
gridade na terra natal. Factos materiaes, 
provas valiosas que levem a convicção a 
outros, nilo postúo. E’ o sentlmrndo sói 
Mas esse, forte, mio grado c contra todoo, 
como as cousas quo s« enraizam na nlma 
da lnfanc'a. 

B tinha um medo da prova, quo era 
ostn volta I... Tnsto medo, q»*, oner- 
vado por clle, docldl-mo a partir, mais 
cedo ainda do que podia. Nós ahi víamos 
os que parliem. forçado» a regressar ao 
lar p» terno, adiar, transferir até o der- 
radeiro pr«« o nrrancnmento da cidade 
amavcl »bre todas, em que a vida é 
doco o oblivlsccnte. Lembra-se ainda V. 
(Taquello melancólico paasclo de despe- 
dida, na vespera da primeira volta do 
Eduardo? Era n'uma tarde de agoslo, 
tépida e serena. Descia se a svenida de 
Bois, cheia de carruagens Indo e vindo, 
trens de luxo do andadura rapida empa- 
relhando com lardonhos carros dc alu- 
guel, rodando tudo nNinu voeira surda 
sobre o macadnm húmido da larga es- 
trada aberta entre arvores e rolvadoe 
verdejantes, da mole glorlfleanleda gran- 
dora napokonlea às sombras claras do 
lUirqnc. 

Havia alll capectaculo de aobra o 
m-osijo para os contem pladorea maia 
exigentes. Mas nilo sol que visão sombria 
oITuscava os olhos do Eduardo, empana- 
dos o mortos por traz das auaa luuetls 
dc myope. Derrubado a um canlo da car- 
ruagem, do corpo molle, a cabeça sumida 
entro os bom br os. asvnãos cruzsdaa sobro 
a grossa bengala em muleta, ia elle 
alwndonado o absorto, perdido n'uma 
InftniU tristeza. Nem as mulheres quo 
passavam, vestidas de claro, sumptuo- 
sas, modestas, graciosas, senhoris, vir - 
gints faciln accetsu ou matronas dignas, 
abril cm flôr ou tisno o naves do In- 
vernos ambulantes, nem as celebridades 
mundanas parizienses, que faacm voltar 
todas as cabeias, conseguiam dlslraliil-o 
d'aquelle fondo sclsmar. E quando n uma 
encruzilhada a carruagem parou, para 
deixar passar outras, ello só rompeu o 
silencio para dizor com uma voz surda e 
escura, passada de aonllmento: « Deci- 
didamcnla c uma cousa multo séria ler a 
gcnla dc voltar para o Dravil I - 
Impressionou -me esse grilo de agonia. 


ri«- 
U„ 

das 

esc 

an 

irdo 

D«s 

:.»|H 

mde 

iú c 

•na* 

indo 
II es, 
inha 
rtav 
iado. 
lanta 
ex- 
i ca 

i re- 
icion 
ir os 
gem, 
i-»pc- 
ostes 

não 

0 in 
«obre 

UKi 

rstas 

1 Rio 
aUm 
atina 
mente 
laveis 

el no 
veeno 


po- 

ffl- 

it«- 

uu- 

ella 

Dr. 

fro* 

lls- 

iitfl 

% 

será 

Ma- 

nga 


geme ac uwwr |x»« v «••«> • - 
Impressionou-me esse grilo de agonia, 
como nos impressionara as misérias do 
que podemos vir a aolTrer. 12 a mioha 
crise semelhante eu sabia que era fatal, 
por mais que me dUvcsscm os amigos quo 
ou, jd agora, depois da tanto (entro, não 
podia mais voltar. Tive raedode não po- 
der roais voltar. Os prazeres da vida 
intcllectual o da outra civirara-se da 
apprehenslo do tempo em que ns não 
tivesse mais. Fiquei como o honum são, 
quo receia cabir doento. Um resto do 
pudor impedin-mo do me declarar In- 
capaz de viver no Brasil. Mas no lo- 
tin»o, cm vergonhosa contradição cora 
as rainhas palavras do contestação, dava 
razão aos quo oppunham, em desolador 
contraste, a vida cl v ilíada do Pariz 4 
rida Mmi-barbara do Rio. A's vezea 
essa insinceridade transparecia om actoe 
ou palavras involuntários quo me enver- 
gonharam. Perdi a paz da consciência. 
Para readqulrll-a, para «atar saudade*, 
c com cilas tllusfiw prováveis, para chegar 
ao fundo do meo dcflnlllvo Infortúnio, 
parti logo que ura laço aírouxou-se dos 
quo mc prendiam a Parta. 

Você velo estação e devo ter admi- 
rado o meu heroisrao— não chorei, nea 
ri demais. Apenas sabre o largo pollo do 


tader 

ulos, 

lhes 

pccie 

ontox 

ofrcj 

snss 

:0<X>S 
rac». 
penas 
ikers. 
a aos 
qnal- 
r% ou 
à cor- 
Uvas. 
lucor- 
Icncia 
dias. 
akcra 
:i Ao a 

noml- 

fsooer 


pouco, ouvindo bater-lhe o coração amigo. 
E ao Paulo, que InJagava da natureza 
da sensação do voltar, respondi que era 
do um pravíssimo dc'gosto (disgustinffy. 
Na realidade estava morto do fadiga o 
atordoa va-me a precipitação dos acon- 
tecimentos. Assim que o trem partiu, 
abati-me a um canto do vagon e ador- 
meci c sonhei quo tornava a embarcar 
no Rio. de volta ã Europa. Sonbb syra- 
ptematico... 

Quinze dias depois, no poclo da Bahia, 
um brasileiro, a quero me apresentaram', 
t ratou -mc por doutor. Rctomava-mo i 
palrla carinhosa. 

A chegada ao Rio foi melancólica. 0 
fíritii passou ao longo da coala ondi 
correram os meu* primeiros ânuos. Cotr 
o binoeulo vi clararaente os rochclos in* 
hospUos dc Ponta Negra, e, rara o fuodq- 


De volta (detalhe) 


por “Senti-me tomado aos quais recomendamos o leitor. 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1047 




•obre o« mn Ira furtes <U serrs, inda > 
tlglo« das plantações familiares. 0 sol 
daa ditas horas falseava sobre n verdura 
das maltas o «obro a areia braneaconta 
das duma. lira a aolld&o morna doa 
porta», rlgorosamonlo. Um funcclonarlo 
frencei em rnlssAo diplomática InJafou 
da popnlaçflo, da riqueza daa culturas. 
Rri| ondl-lho quo lia dri annoa ellc po- 
deria rcr aqudlas eneoslss cultivadas, 
algum eito cio negma trabalhando... 
negros es: raios. . . K fugindo á observação 
tobre a liituílle lenda do trabalho livro, 
provada r*1<* *»u resultados pratlcoa, 
vim A fronlo espreitar os rochedos qm* 
asalgnalam n entrada da barra. 

Toda a gouto a bordo enrarecla • bcllr/a 
do espocMculo: oa brasileiros por dctva- 
peditonlo, oa estrangeiros por admiração 
alnccrn. Só um velbo operário parl/Iensc. 
descontento com a loaguludraa viagem, 
resmungava quo não ciiUndla quo ao pu- 
deuo vir morar tão longo. Foi o derra- 
deiro oclio quo ouvi da opinião franceza. 
JA, como o navio ontrnva, mirava eu uin 
morro da Outra banda, em quo â mela en- 
costa, sobre o fundo vcrde-cactiro. assenta 
a velha cara da Uoa Vida. 

NAo mo esperavam. D* -li negociantes 
amigo* (com prazer lho digo que eram 
portoguezea), preveni-los Indircc lamente, 
vieram procurar-me a bordo o levaram- 
mo para terra, depois do uma terrível 
luota eonlra os ijaMoui, empenhados cm 
dlfllculUr o occctso do Un/ilaosproprlo* 
naclonnes que paro cA voltam ao cabo dc 
cinco annoa do auceneia. 

Trlalc deaembarquf. Um momento du- 
videi to era ao Klo do Janeiro que tinta- 
mos chegado. A’solto horas da noite, aea 
bando da Jantar cm um terraço do bote' 
quo dã para o largo do Paço, um compa- 
nheiro do viagem deelnrou aalltfello qur 
nlo estranhava aqulllo, que o Itlo do Ja- 
■•Iro ó toi q nl Puerto Rico. E ou, su- 
cumbido, la»Umcl os Infelizes quo vio a 
Pucrto Rico. 

talamos defronto do antigo palaclo lm 
perlai, em quo se nh ja bole a repartição 
central dos tdegrsphos. Entre nós e <• 
palaclo do tempo de L). Joio VI um Jardim 
Inglez, meio deslntWo, com uns restos di 
gradll quebrado e arvores poeirentas ;• 
roda do uma tapagem dc maddro, Indi- 
cando o logxr de um monumento. 

K* preciso que lhe diga que entro nó:- 
f sentimento da veneração publica exige 
•croteilo», mesmo antas de ter asscnlafo 
nos grandes homens que alli serio glori- 
ficados. N'urn largo aqui vlsinho um pe- 
destal de granito aguarda ha 10 annoi 
tuna estatua o uma inscripçAo, para ser 
nm monumento. Acho do bom caracter 
ceje symptoma da venerarão em disponi- 
bilidade. Mos para cá do jardim em ruína 
• do monumento em construcç&o, à belr;. 
da calcada esburacada o tuja, um kio»q»ic 
illunilnado a g.u c eroba:.ddrado apresenta 
A venda nas mu cinco vidraças toalhas de 
bilhetes dc lotoria. O letreiro - AmanhA *. 
eu permanência sobre cada um dos paniiu:- 
de vidraça, symbolisa a esperança pe- 
rennc o o recurso do novo sonho coolra 
a desllhisio do dia. Dizem o* estrangeiro:- 
sofregos que aman Art e unha jmckncia 
deveriam ser os Icmmas da tanddra na- 
cional, já quo nAs carecemos de letreiros, 
fívessemos nós tompo para trr paciência, c 
moral mento seria esta a terra superior. 

O dia linha corrido trUte, na appre- 
hensâo dc motins na rua. Na véspera o 
trabalho do um club político para es- 
conder a mentira «/» brome ( o mais bellu 
monumento que ainda temem, que tem o 
defeito actual de ser a estatua equestre 
de Pedro 1 J Uniu sido destruído por al- 
guns particulares, quo preferem uroa 
hell.s estatua a um feio coreto de taboas. 

A festa de Tlradontc* rosfriou-so com 
asse Incidente o a população encolheu - n . 


asse Incidente oa população encolheu- * . 
Isso ainda roais entristecia a cidade. Já d. 
tl soturna o escura. Vim, tropeçando por 
ama calçada detestável, mostrar aos roeu> 
companhdros do vingem a rua do Ouvidor; 
escura e estreita como a dcMont-Thabor. 

iNa Gazeta o Chaves rcccbou-nio coroo 
n'uma casa em qtie morreu alguom, rc- 
icebe-sc nm parem o que vem de longe— 
cempasiitf, qiiaxl poznrosoj som a ais- 

C ‘dade antiga. Puz-me n a. ismar no que 
la roorrido, quo assim entristecia o 
ambiente brasileiro. Na turca a vapor 
em que atravessei a babla. indo para 
casa, nAo vi seaão pretos e mulatos : 
d'onde me vinha tauta sombra Ingrata? 

Duas horas depois, suado, morto de 
fadiga, batia A porta do casa c acordara 
meus pjl». lia quem roo adio frio: se 
visse as nostni cftusfcs familiares I Apcnv 
ona exclamação do surpreza, trva pbrates 
de saudaçAo, e foi como so os cinco anno> 
tivessem siio cinco mc/es do ausência. 
Apenas nlil, se qualquer cousa morrera, 
como cm (oda a parte, também alguma 
couta nascera, q-.:e clareava n cscuridio 
da cosa antiga. Sobre um CAvallete d< 
pintor, uma grande Icli começada sepa- 
rava em duos n grande varanda da en- 
trada. E um cheiro do tintas frescas di- 
ria- m o que alli so |«n<ara em outras 
cousas, além das causas da taixa do 
cambio o da guerra civil no Rio Grande. 

Conversámos atò At duas da manluV 
«ma converta cortada, deseonnexa. em >1 
qu-i aa proposições Incidentes tomam di 
repente mais importância que as princS- 
paes, explicações trazendo ex|dleaç&rs, cn 
tremeladat de «lài pcn^ivaquctu ^abios- 
•llernnndocom «Isto i outra historia muit 
éomprida»— o primoiro ensaio de queni. 
vindo dc fAra. acerta os ollios para ver as 
crns&s ti'ootii luz. E era quasi penoao. 

Antes de dormir, abri a jnndia do mo- 
qnartinbn antiga. A noite cstsva limpa, 
•erenn, c«l'cUnda. Do outro la Io da tahia 
M lampctVi da ilIuminnçAo do Rio mar 
carnm a« linha» sinuosas dos các* o co. 
briam do bordados luminosos n eneo»ta 
dos montes, recortados em serra aobr.* c 
cfo a/ul-uegro. No arvoredo escuro um 
venlinholeve rochhhava.com súbitas ele- 
vações <le tom do impaciorcia reprimida 
e abafamentos graves meditativos. A 
rosas debaixo da janelln intercalavjir 
bafejos de aroma fino o discreto ao cheiro 
agudo da htada de ja»mins do Chile. K 
uma papaya, alta coroo um coqueiro. 
desp*J.\\a o perfume dos seus cacho» 
brancos, poderoso, As lufadas tonteontes. 
Na sombra outras flores cheiravam, 
outras folhas, outras resinas o a própria 
terra enriqueciam a fragrancia ambiente. 

A natureza tropical é um templo em 
quo ardem aem cessar infinitas caçoulas 
resccndenls. 

Sentl-me tomado pela religiosidade das 
affciçõcs primitivas. A xoz oJTcctuosa dos 
velhos, os niraoros e os aromas da noute, 

• sensação da harmonia das cousas, con- 
sagravam definitiva a volta, mais cfllcae 
mente do que o facto matorial do ter 
desembarcado do um transiilanlico, ao 
éabo dc cinco annos do ausência. K se a 
áaudade das p«<soas caras que deixei 
do estrangeiro, e to o desconforto da vida 
iarbara a que tinha de submctter-mc, 
ainda mo peiturhavain o euntcntaniento 
de voltar, a rcflcxAo angustiada do Edu 
ardo valia menos pira o caso dc que os 
pobres versot de um carpinteiro dc Cabo 
Frio, que nasceu poeta o morreu guar 
oa alfandrga: 

Da sua patria terra 
Feliz qium dío sabiu, 

Nrm de oltnngeinn dimas 
0 sol brilluiido \|ii ; 
l>or graça cm meia alheia 
Fria q.tcsn nJu eomeu, 

Feliz quem alo bcl>: u 
Nas festas dos csumUos... 

tCour/ntia). 


De volta (detalhe) 


o 1 i IV»- 


1048 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


Acao xíX 


Hlo ac Janei ro — Segund a -fclraJB8_ác Malo^da 1B£3 

GAZETA DE NOTICIAS 


• iBf r*** (uu bmM im wUüwm *• M t ri x m i. m t TP a C T *f w » ** * 

lodtitli tuijrmd ( Ordoeta de Noticias i 


miMCfto mujo eo es. 






DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1049 


S3E VOLTA 

(CouiluuapTo) 


«da 

(as 

ui 

por 

to- 

cos 

ca- 

do 

ros 

<ar- 
■ d« 

alo 

■lo 

• • 

por 

idas 

>oro 

lei* 

•PO- 

ibeu 

KTe- 

Iros 

rrll- 

um 

«eu 


• Nos primeiros dias tudo * fasla, dl- 
xlsm-m» ainda os amigo». tudo * novl- 
dado, o aehn-M graça no proprio «Icion- 
Corto. Mas logo qua estriam o» alvoroços 
da chegada, a comparação »e Impôr, o 
ofto ba phlloaophla que consolo de prlva- 
(9n. ■ 

O primeiro dia tol na reallJndo o mala 
duro. A primeira pergunta doa conhe- 
cidos qno eneonlrava, depois dos cum- 
primooloa do Ixu» vinda, cra Invariável- 
mento » • KnUo. agora, quando volta? de 
quanto 6 a demora?* Eu respondia qun 
flearia alguns dias, alguns niczca ou al- 
guns annos. aa por cá mo quftrss*m. 

Mas la-me entrlsUeendo com o conaolbo 
de mo lr embora. Implícito n\»ias per- 
guntas. Começava a sentir a prlvaçio da 
estabilidade. Se todos ambicionam ir viver 
no estrangeiro, o qno vinha eo c4 faror ? 

Do Raul Po m fila rcccbl uma rajada cm 
«entldo opposto: •Fallem-nie n^m homem 
assim*, gritava elle.aacudincU.-mo oa lira 
çoi.depoU de um breve exame; •rejam o 
que 6 caraeter 1 Náo conseguiu amolgar 
aquella clvIlUaçáo» nem táo pouco se 
deixou amolgar por ella l » 

15 arrastando- me para uma livraria 
preiontfon-mo com um cxsmplar das 
Fcstai Kadonaes, do Rodrigo Oetavln, 
prefaciado por elle. 

Esse prefacio, qua apresenta o Mvrú 
como quem, apresentando um amigo, re- 
parte com elle aa honras da conversaçAo, 

6 o que do mais Intenso e grava tenho 
lido desde qno vlnr. E' a primeira capo* 
siçlo ãystcmatica da domrtna natlvfsta, 
doutrina respeitável, logicamente rlgo 
losa, legitima como asptroçáo patriótica 
Inadmissível como pro^ramma pnlitico— 
e Isto pelo seu deleito essencial dc scr 
um corpo do dorradelraa consequências. 

Alèm do que, 6 «enipre suspeito um sys- 
teroa cxpUcalIvo que se alarga ati á syn- 
thcae. Explicar o mal-csUr político e 
financeiro do Brasil desde a Republica 
pola Intcrvf nçáo maléfica do elemento es 
trangeiro, pelo portugue/ monardüaU e 
peio Inglea capeculador, ê, ganrdadns aa 
proporçfes, o mesmo que explicar o mo- 
vimento das ondas do mar pelas caudas 
dos peixes. O portuguc/, o inglea e oa 
peixes existem c se movera no Brasil e no 
mar : a discrimlnaçio daa Infiuencias res- 
pectivas na agitação política, na depressão 
financeira e no p?rpetuo remexer daa 
aguas, 6 que parece menos provarei. 

Noa problemas de solução indetermi- 
nada, como aio as questões soclaes, 6 
caso de consciência philosophlca attrlbolr 
a um determinado elemento, do preíeren 
cia a outros, a produeçáo dc ura pheno 
meno complexo. 

Maior è a responsabilizado quando essa 
attribulçúo do caosalidalo é, como no 
caso de que trata o Pompcla, uma con- 
clna&o gravo e consequmle, estimulada 
pelo -odio santo, quo ainda c uma ma - 
niícsUçáoconstructiva do Amor*. Fossem 
ou Iros os tempos, mais apertasse ao bra- 
sileiro a crise política o a consequente 
crise oconomic , « a exhorlaçlo poética 

do Pompcla á man//V/i«r<?o contirucitu* 
do Avwr levantaria por csass ruaa c 
estradas o bsrbaro grito antigo «te mala 
gallejo t que bavta dc espantal-o Unto, 
oomo a uma criança cspanU o Incêndio 
que atelou com um p* o«phoro. 

Mas o nosso grande poeU náo pen-a 
cm tal, c os quo o qualificam do exaltado, 
esquecem quo o Poinpcia nunca viveu 
sem nm enthusisvmo e uma indignaçáo 
convergentes, como a agula qua o vento 
leva. bato as ajas, n'um pleonasmo de 
•ctividado. O enthusiasmo aqui è ^ pa- 
triótico e Justo; a Indignação opposta 
k ih* viria savntíicse poctlca, estrei 


do livrarias, aperar do rolume de trcg 
franros i»clnco«ulacu*Ur aqui qualrc m» 
réis. Discute-se, Mcrm-af, critica-se. 

Apparcceram cmsb editoras. etom do 
G.iruWr r du Srrallm. l.ogo quo n cambio 
suIm, -»s Jomaca vão suilcntar um critico 
liltcraito espoelal. Ficaremos rnlAa ©bri- 
ga-los n aUonder mais para as nonas 
obra» c, logo quo cila» pela ««mruricncla 
sa tornarem mais vrilosxs. uppsrtccrl 
entro n6s nrals frequentemente o Uno 
original . A vlbnç.\o existe ; sA falta quo 
ao prtxfurn n corrento. 

Cm bom symptoma 6 o dt*âppareei- 
mrnto da bdimila. O rtnmlucnse vc»lc-*o 
melhor e toro inolhores costumes. A gente 
que percorre a rua do Ouvidor, ás iiovl* 
dadrt, sal dos csrrlptorios, carlsrio» « 
labora loi los, á hora canônica do Jantar. 
Os bohcmlo* do meu lompo se arruina- 
ram c n\o Um substltulos. 

Quail todos Ura mulher o cinco filhos 
como aqnelles guardas adunneiros de qua 
Mia o Hugo nos TralalSodorai do «nur. 
Alguns foram ricos, reinaram dias n« 
Rndtk diurn/o, tiveram inllham dc con- 
too dc rèls; hoje *omns lodo* pobres « 
h jmUdcs de trato. O contacto temporá- 
rio da ii |uc;a melhorou alguns, tiran- 
do-lhes a timidez e a IndccUAo; a oulmi 
a ruína adojou. quobrando-lhes a *ob«r- 
ba nn miwrin. A vaidade ingênua tolTre j 
um rude golpe. Nem sequer osque ;ni- 
denm conservar o luxo dc hadout annos, 
r*eebem, no poisar nns nuas carrua- 
gens, um olhar do» tramwxys que raiara 
c tidos de antigos mllllonaiio*. Algum 
Unho visto, quo shl em Pariz ostadea- 
rars uma opulência do mão gO'U>, c agora 
lio discreto* e dn bom tom. Seaalso 
financeira do Brasil toeaaao unk-imcnU 
sos qua sc enriqueceram Inlquamento, 
quanta gr*lld:Vj doreriamos aos qua 
os lançaram na cspcculaçiu da Bolsa I 
Uma UquMaçio dorastroia produriu 
maia cm dous annos p* r a s civlll- 
ttçilo fiuminens* do que viole annos 
de vida tranqallla sobre dna« geroçUcs. 
Homens de trinU annos tèm hoje a appa- 
renda mo-letla, desilludiJa c resignada 
de velhos experimentado» polo dura vtla. 
K cu •ioto-ms íslis do que a rainha volla 
i terra natal colndda a»m a volta dos 
outros á vida sárla o honesta, quo eUca 
abandonaram pelas scducçôes groasci ru 
da fortuna ganha n um dia. 

(Coitfinrco). 


Instrucção Publica 

Por d n: rolos du lò dc maio foram no- 
meado* peio Sr. pccfello do districto fe- 
deral para a dlrcctoria de InstrucqSo 
municipal: 

Chcf«.*s de secção: Manuel Maria No- 
guoir .1 Serra o Abcllard Genca de Al- 
meida Fetjô ; 

Primeiros ofilciacs: Josò Narciso Braga 
Torre* o Carlos Pinto Barreto ; 

Segundos oíhcUea: Gemlnlano Ylelra 
de Mello, Christnr.to I«»la* de Moraes 
Pinto, Carlos Augujlo Moreira da Silva 
o Heitor Ferreira França ; 

ArchlvUta: Paulo Abellwa Forte- Bus- 
taroante Sá; 

Almoxarife: Augusto d* Awtodo ternos; 
Amanuenses: Joio Brteve* da Silveira, 
Francisco Mourc, Anlonlo Perelrn Owt*. 
Anlonio Tinto dn Rocha Bados, llenriq«»e 
Teixeira Alves, Arlhur Américo dc Mattos, 
Ailhur Cslasans o Antonio dc Mo.irs 
Castro Juuior; 

Porteiro: Antonio N^udra dc l^cerda; 
Contínuos: Salvador Piuto Barreio» 
Adolpho Carios Dori» ; 

Correio»: Germano da Silva Casas e 
Antonio José Bruno. 

Por decretos da mesma data foram no- 
meados inspectores carolarwsde di.lricto: 
Do 1* districto o Dr.Josè Jullo d» Silva 


I- 


\o 


;te 


rso 


ito 

ao 

rra 

ujo 

lil 

ea 

cr- 

\bl 

iha 

illo 

►m 


Caxt 

Pi 

a 

Ado 

O 

Ant 

P 

me.* 

D 

Rai 

lad 

;al 

4o 

Ra 

4oí 

Lo 

Pii 

lei 

Fr 

11' 

Sa 

1 

rai 
1 
r;. 
Fe 
•lo 

Ui! 

Dl 

re 

t*i 

ri 

Fi 


- nal 
do 


clor 
l as 

di- 


lol 

inal 

)osr 

çOes 

10V0 


>xts- 

r 


piei 
•cri 
lo da 
nlo* 
cr em 


*euu 
S — 
ar ia. 


Mas o nosso gramlo poeta nSo pen-a 
cm tal, c os quo o qualificam de exaltado, 
esquecem que o Poinpcia nunca viveu 
«cm nm eothusiauno e uma IndignM 0 
convergentes, como a agula qua o vento 
leva, bato as ajas, n'um pleonasmo dc 
âctividado. O enthusiasmo aqui è pa- 
triótico e Justo ; a Indignação opposli 
è quo lhe viclaa synthcse portlca, crirci- 
lando-a. Fóra d Uto, oncontrol o Po«n- 
p&ia som mudança — um bello cercbro. 
qua um grande corsçào excita o manda. 
Tiabalha em livros, o quo corrige de tra- 
balhar cm pamphlcloa. Ao mesmo tempo 
dirige o Diário Official e è profeawr na 
«scola do Bcilas Artes. Quando diante dc 
mim fali arem na preguiça dos brasileiro», 
ciiard o nome d este por prova do con- 
trario. 

Sem fallar nos que menos apparoccm 
Quando a actlvldade so náo traduz cm 
trabalho material, ha a influencia no* 
ospiritos. O calor e o café ajudando, ha 
nqul infinitas actlvldade* dLponlms c 
ferventes- O cooselho frio e dcalnlorta- 
sado de um homem, nfto profissional, 
mns Intelleclual, encaminha frequente- 
mente a appllcaçio d*cssas forças. 

Os nio aconselhados, os que sd a ti 
escutam e attendem, tornam-se ás vczrs 
soberbos o prctenclosos, Insotíacs. Um 
d*clles, sem conslderaçáo pelo meu abraço 
amigo, porguntou-mc: «Tu sem dovlri» 
i» contrario a esto rcglmca ? . . .• Achei a 
suspeita desagradável. Sóontío me lem- 
brei dc que o homem era deputado. Foi 
um dos peiores momentos quo aqui tenho 
passado. Quasl desmontou-me ewa ques- 
Llo a soberba confiança na cordialidade 
brasil -Ira. Foi preciso um dia Inteiro de 
convena com um velho magistrado c 
pbilosopho para repôr-me no caminho 
da adapiaçío ao clima moral dn minha 
terra. 

Mas oulraa sentaçõas mais vivas dU- 
tralnram-me d*cssa o dc outras parecidas, 
qno ji apenu do leve me tocaram. 
Vindo para a cidado r.o domingo, vl. 
entrando para a Igreja no melo do nm 
rancho de moç^s, qno eram as Olhas, 
Mme. Arnaud. quo la á ml*sa. Cuidei 
qno fosse o sol que llic falseasse nos ban - 
deaux negro», mas, quxado entrou na 
sombra do adro, vl qno Mmo. Arnaud ti- 
nha o* cabellos brancos. Quanto daria 
o Paulo po.* um minuto dVsses do recur- 
rencla sentimental, perfumado dc rosaa 
o de goivos ? 

Fui ao theatro uma noite, para acom- 
pinb.r <1o!i esLnnyeírot «>m quem (tn 
l»r»,« dircrll-mo ]»r itilnh, Conl», C0Í10 
M uio (IresM IJo aUi pâr» oulrm eoou. 
VcrJ.be * q»« w rcpcaenlât» uma peqa 
iiaciunal. do m»l« nacional do. noMoaco- 
mcdlosraphOT. o Arllluv A levedo . E apciAr 

Juse>irangelruoqueengrosuvama(ruu|te 

de actorc bradlclroí e Iropec.v.m na 
iTonuncl». iquillo cr» rapreaeaUdo » 
r.ler, com um» caarleçAO meritório. 
Fiquei aorpreio o cneauUdo- (A certej» 
er» ruim, quente , enr»; un« l»rb»r« 
.lelUvam-Die pedaço, de gelo dentro. . .) 

Andei por .rcrotaria. de E<lado- Alto» 
(uncelouarloa, mlnlalro», trataram-me cor- 
bnmento. de ralo na rali, cora nm» iraa- 
billdado de qu*at camarada. Onde param 
aquelten antlfo. ralnlsln» penetrado, 
da >ua cacelleaela o ab«»aodo a cada 
tnitante do «amanhl. brniileiro ? 

A conTcraaçlo melhorou. Conllmi» 
tralmlbo inletlectnal aob a» preoceupaçde» 

, ollttcai c econômica». Ha maior nuraaro | 


De volta [segundo texto] (detalhe) 


1050 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 



De volta [terceiro texto]. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano XIX, n. 144, p. 1, 25 

mai. 1893. 14 


14 Novamente, o levantamento de Borges (1998, 333-338) apresenta sérias lacunas. A continuação 
de “De volta” é reproduzido em seu anexo com o título “De volta (T)”, constando da seguinte nota: 
“Manuscrito, s.d., existente no Arquivo Domício da Gama da ABL”. Inegavelmente, a versão do 





DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 1051 


DE VOLTA 

• ( ConelutJo ) 


lier 

ha 

de 

lio, 

itto 

■M 

por 


>ine 

Mia 

IçiO 

lera 


\ «le 
• de 
o. e 
No- 

C. 


Duas rlagen» que fli em mIi dlaa bas- 
tariam pera convcnosr-rae da perfeita 
habltabllldade do Brasil. Aproveitei a 
companhia do Eduardo, rscem-chrgado 
da Europa e subi a Felropolla. Fui ver • 
padre José, que me linha mandado feli- 
citar pela chogada, e passei duss horai 
com ellfl. 0 padre Joaò ò um mlulonarlo 
jesuíta perlugusi, que hoje descança do 
tongo peragt Inar pela Fé, educando crian- 
ças. 1“ um Justo, um santo, e nenhuma 
amiúde me desvanteo e me Intimida 
como a aua. Chamo-lhe de padre-me»lre 
c qulzera poder mostrar-lha. por outro 
tratamento, maior vensraçio e mala af- 
fecto. Segus-ms por longe a aua aympa- 
thla. Como ha do um homem acr tnfellz, 
atòíóra do aeculo tanlaa adelçõea o 
acompanham na aua carreira? 

0 padre José estere no Japão, na China, 
na índia e noa Estado» Unidos, longos 
annos. Entretore-me de cousae longln- 
qtms no tempo e na dletancla, com a 
tranquilidade cora que tratou das cousar 
actuaes e próximas. Ouvindo-o, entra' 
va-me no coraçáo a paz o conveneta-me 
do que o mundo ó pequeno e de que 
n'el!e está bem em toda a parte o homem 
de bem quo cumpre o eeu destino. 

No dl» seguinte partia para Minas Ge- 
rats pelo trem nocturno, melhoramento 
que não existia no roco tempo. No 
iltcfring-ear, menos sacudido do que no» 
trens quo vlo paro Modana, ouvi o msu 
companheiro do vlagom.que cra tyn nego- 
ciante do Rio. conversar com um Itallaoo 
tomado em caminho. 0 Italiano ero nego- 
ciante c fazendeiro, tinha colonos que 
trabalhavam com participando no» lucros; 
linhn um torto sotaque, havia pouco qoe 
rcgrctasra dn Italie, masfallava doscoO' 
sas do Dn si! como nm brasileiro, farta 
polilka, naeionallsaro s« pela família 
pelos Interessa. Qusndo o brasileiro- 
noto sdormeceu, o meu amigo explicou 
me que Já ha muitos n’e»s#s casos doide 
alguns annos s que a» condições do tra- 
balho agrícola se ráo pouco a pouco mo- 
dificando com cases Innovadorca. que náo 
tòm uma rotina a vencor. Ii para o nosan 
futuro que aqucllo homem, aUl rosom- 
nando entro dm»* estações, trabalbara. 

Muito movimento de cidade para ci- 
dade, embora tosse sexta-feira. 

Amanheceu-no» em Barbaccna, que é oma 
das rosla altas e a mais aaudavcl cidado 
do Draaíl. Cabia aqui uma ücscrlpçào da 
madrugada nos campos de Minas, quo 
lhe poapo. Ao tndo dia chegamos a Sa- 
bará apí» dezenove horas de viagem. Ahl 
um dos meu» lrmáos nos esperava, e par- j 
limo» montado» em mulas paro a lavro 
d'elles. 

Uma mina de ouro 6 cousa prestigiosa, 
mas quSo dllfidlmento accesiivsll Por 
umas russ calçadas de pedra mliuta, 
ord» ■»« Cnrrsílaras dos nnlmac» estre- 
pitavam, chamando gente às portas, atra- 
vessamos primeiro a ladolrenta o velha 
gabará, adormecida, morta, com Igrejaa 
de archlteclura Joiultica e casas do ro- 
tula que parecem datar alada do tempo 
cm que por alli pastavam os sgentes do 
fisco d' El -He! Nosso Senhor, a recollwr o 
imposto sobre o ouro das ricas lavras de 
cnlào. 

A estrada de Sabari ao Caelhi atrarcisa 
em subidas o descidas fatigantes cinco 
léguas dc solidão, cinco horas do msrcha 
atra vos dc montes peitados, cm quo psa- 
tam raros bois o capim sem viço o de 
c*j<ôcs de mstto nss grotas abrigadas do 
vento e das geadas dc Inverno. Duronto 
todo o trxjecto apenas cncmtrámos duas 
tropas (Iria caravanas de ronlas), arrsn- 
chadas àbdia do caminho, e, Já de noite, 
uma familta viajante —nm homem e ums 


Kaubourg Sslnt Ilonoré. Mas, UI qual 6 
basta ao meu Irmáo barbara, no José, que 
uma rica natureza de homom e quo 
dirigo aquillo com dccltáo r coragem. Na 
sua cella do mongo leigo ha Uvroe do 
mineração e metal l urgi», amostras— typot 
do minério, um Ucbo de cobra cheio de 
uma lama eaeura, que A ouro, e earablnei 
de caça o do guerra. De Parti trouxs-lhe 
uma buasola de engenheiro e um revAlrer 
«le bom (Iro — seguranças do dlreeçfto o 
defesa . 

Depois d a cela preparada por Dom Anna, 
uma eacallrnlo velha mineira que lha 
toma conla da eau, reatámos o fio dss 
conversas antigas. 0 meu Irmlo barbara, 
tio forto o corajoso, llto decidido o severo 
para ai como para oa mais, n quem Inti- 
mida eom o elmpla olhar, viveria feliz 
n‘aquclla vide, se o nko pungisse a duvida 
pbilooophica dos deatlnoa... A falta do fi 
devasta-lhe o bigode, quo elle rde sem 
ccisar.o cnsombrariho o olhar o lho amar- 
gura a bocca oontrahlda. Sohrm«scm-lho 
ocios, o breve terlemos o Nlelzache do 
Sáo Luiz do Encantado. Mas, como uma 
Intensa nlTtctlvidado Ibe purifica o co- 
raçAo, sonha com a fortuna que lhes virá 
em braro o pcrmlUirá eo Irmáo artista 
Ir pnsselar a aua contemplaçJo Inlelli- 
gento pelos relhos mundos. Para o locand 
çavol José novas explorações so aprara- 
ptam a dezenas de dlss da viagem, nos 
»orl5?s de Goyaz. Dtante d’olle sontl-rae 
pequenino, tivo vergonha das minhas 
prcoeeupaçSes de csthetica pessoal o da 
minha vida de trabilbo suave o que ráo 
rende. 

Descemos todos á grando mina, uma 
funda caverna cavada ns rocha o Já em 
res ontiares, a quo se accodo por cacadas 
sem corrimão. Toquei os vetoa em cxplo- 
raçio, ente! pyrltes a luz das lam padas 
um asas. Fomos, ver as noras galoriaa do 
estudos, enchemo-nos de carrapatos no 
morro o voltámos a ratai -os cm casa. 
Depot» (rabalhet-duss horas com mer- 
cúrio aobro uiA bolo de lama negra, .para 
obter um bocado do ouro, quo lbe guardo 
por racmoria. .B oo dia seguinte o meu 
Irmáo artfilU veiu trazer-nos a Sabará. 
Mos não quiz acompanhar-nos senão até 
o meio da ponte sobra o rio das Valhas, 


tlciaa. a que mal se allende n'cete mo- 
mento de praoceupações msfs graves, re- 
velam uma actlvidsde incontestável, quo 
so traduzirá forçosamento um dia, por 
obra tbcorica ou do npplicaçlo, som so 
fallsr no que so nâo aabc, que so faz 14 
fôra, na provinda. 

Só a agitação política Impefio quo a 
crystallisação eo (Aça. que os activldadcs 
dispn-aas se concentram n‘nm trabalho 
ellicaz. Nem mamo a recapltiilaçlo ta 
pôde fazer seguramonte dos progressos 
reaUsado», sen&o materlalmente, ao menos 
em tcndenela ou preparação. Mas venha 
a paz, aealme-se esta turbulência de as- 
pirações Imprecisas que se guerreiam ci* 
nome de prindptos com objectlvos cl ema* 
aiadamento proximos, turbulcoda de mo* 


lo 


io 


que para cá cra ji o caminho ds ferro a 


aa lilda da solidão. 

do 

Firamos cm dous dias a viagem quo na 

»/- 

ida fizêramos cra vints e seis horas. M0 

to. 

vindo do dia. rlmus a actividade-agricola 

ica 

e Industrial nos catabelcdmcntos o cida- 

Us 

des an longo da estrada. 

te. 

E quando entrámos no Rio d« noite, o 

rm 

trem correu a todo o vspor. durante vínto 

le- 

minutos, entre a casaria nova o ccrrads, 

sse 

do um lado e do outro, illumlnada a gaz. 

ria 

Tire a asnsaçlods entrar o'timo tmmrasa 

sto 

cldndc moderna o rica c progrestiva. 


K a impressão ficou-mo, aaalysaawo o 


caracter das construcçScs novas, esn q«s 


os architcctoa Italinuos já trabalham ocn 

oê. 

salutar cooenmncla com os mestres dn 

Mi- 

«l>r»« p«rl..g«ww.| v v-iuilallUu JOrdlni 0 

rto 

d* 

chácaras o a própria odifleaçio do cenird 

U- 

da cidado. Depois, leado os jornses, eo- 

cl- 


uma familla viejsnte — nm homem e uma | 
menina a cavallo, a mulher a pé e um 
cáo prcccdcndo-oo. Tndo calsdo. triste. 
Senti um tolo de entrade na barbaria. 

Todo o terreno por alli é anrlfero, mais 
ou recuos aproveitarei. Montes de cas- 
calho asslgnalam o trabalho dos antigos, 
que cra slraplesmento n lavagem. Por 
Isso, bs aguas levando paro aa torreatea o 
humus da terra, nio medram alli aa 
plantas e a região aurífera 6 desolada, 
como punida de ter aceendldo nos corações 
sim pia a «siri taera fbmit. A estrada 
corta velos pobrat do rico metal; nas 
chapadas o nas cneostss dos moutes 
granda rasgões sangrentos, feridas aber- 
tas na pelle esverdeada da terra morta, 
contam a anela dos anonymos quo alli 
fossaram. Abrindo a marcha, meti irmáo 
íallava, com gestos que transpunham lé- 
guas,- apontando o trabalho dos anliyot, 

contando cxploraçõcs.vlagens por aquellas 
solidões, em que o carrapato 6 lolreigo 
mais considerarei que a cascavel. 

0 vento da tarde, frio. vindo do deserto 
inimaginável, tlravn-lbe as pslavras da 
bocca. E a minlia mula resmungara, la- 
ctclando nas descidas, queixava-so da 
rupereza das ladeiras. A estrada ia, ia. 

Um longo momento p«rccla-roo andar 
pelo Auvergne, subindo do lado dc Murais 
para o Mont-Dora. Um sôl avermelhado 
dc ou toai no tingia as grimpas das serra»; 
ao crepuscnlo o Tordc-escuro das mstias 
uos primeiros plsnos roadava-er cm azul 
acuro no fundo da palzagem. Ilonvo um 
minuto de grande bellcza de illuminaçáo. 

0 céo dc uma Infinita transparência In- 
cendiou-se, passado de luz, como n'uma 
npothcosc, até a oIToaeaçào da vista. E 
dc ropente a nolto cahlu profunda e es- 
cura, como um véo sobre o esquife do 
ouro do sót. 

Dobramos a montanba. Náo era oMont- 
Dore do outro lado. Fnzla frio, fazia fome; 
cessou a conversa. 

No escuridão do caminho perdíamos do 
vista uns aos outros. Atravosaàroo» uma 
cidade sem vcl-a. Havls mstto nas mos 
do Cactbé. - 

Recomeçámos n descer interminável 
mente. E quando de longo ouvimos o rui 
do dos pllíea do engenho socando o mi 
nerio de ouro, foi o contrario do medo 
Jc Sancho Pnnça ouvindo os plxões, do 
noite. 

Era o trabalho humano o a vida na 
solidão. A torrente escumava na grande 
roda hydraulicn, doze pilões eaorme» que- 
bravam, trituravam o quartzo duríssimo, 
a areia escoav»-«e para o rego e a poeira 
aurífera depunha-sc noa pannos das 
canidz, que uma operaria levantava de 
hora cm hora para lavar n'am grr.nde 
Ianque. Um franccz arribado áqocllas 
brenhas e o meu Irmão harbaro liscoli- 
, avaro o sorviçe, alteroadamcatc, dia c 
noite. 

Dora rida. sem conforto, acm repouso. 
Ingrata e perigosa. A casa náo tera vi- 
draças, as camas aáo aimples cairos, os 
unlcos assentos aáo Ires longos bancos — 
a tnsiallaçlo é bem mais summaria do 
[que a do nosso saudoso cseriplorio da 


aiadamento proxtmos, turbulcocla de mo* 
cidade inexperta que anuala o escandaliza 
os velhos conservatiros o sabido», con* 
ter.tcm-se ou desriem«sc as amblçõe? 
obstmentea, o os resultados da ogilsçáo 
compeosaráo som durida cm obra nora o 
que fot destruído das outras gerações. 

Aqui me tem, portanto, o meu caro 
Eça de Queiroz, melhor do quo resignado, 
contento por ter voltado á minha terra. 
E a easc retaliado cheguei, reagindo pri- 
meiro contra a dilusneia da «•ivlllsaçio 
material o comparando depois o estado 
actual das nossos cousas, estudando as 
maneiras novas da nossa actividnde cere- 
bral (multo auperfidiilmenle embora), 
mas som pretender comparal-as com o 
quo ri e apreciei no estrangeire. !dem 
*ri que a minha apreciação é toda pes- 
soal, mas isso mesmo ó por huniildadr 
de sentimento. 0 cèo claro, o ar amigo, i 
perfil familiar dos horitonles retoma' 
ram-me tíosamonte. E a tristeza pro- 
sentida dos primeiros dias, seria talvez a 
vergooha de ter virido longos nnno* ila 
outra rida como qnem vive mergulhado 
na dlssolaçáo do peccado delicioso. 

Do ui ao da Gama 

Rio, 19 de maio do 1993. 

P. 8.— Por paga ds mo achar hem eom 
a volta, mandam-mo agora de noro cor- 
rer mnndo. 8c eston eu destinado a no- 
•fl» voltas?. .. Se, em uma aeccleração 
progressiva. vou eu Justificar malcrlsl- 
mente oa rrrsos de Vlctor Hugo: 

filK o*l Totro roso *1 crtlr» r*l rol» «ilm. 

Hoisnti.el tmi tauniat rBrejabPnKni tíio! 

Pcdl-llio varias rezes uma idóa para *x- 
librit. Crrlo ter rncontrado agora uma 
que me rervlrla prorlaorlamonte: conso- 
Iho de uma roda que gyra ao homem paro 
quo siga o bom caminho— uma roda do 
leme, e a divisa ut rectc eat. .. 


0 mlnlatorio da justiça solicitou do da 
viação providencias, afim do que, pela 
estrada de ferro Central do Brasil, ao 
continuem a conceder passes gratuitos 
de vinda o volta, diariamente, aos alumnos 
pobres do Instrucçáo secundaria residen- 
tes nss paro.-hia» subuibants sorvidas 
pela mesma cUraris, de conformldsds com 
as o'dctis sdoptados cm virtudo dn rç; 
quisiçAn do nvlro dj ^(>3^0 jnhUlrnp 

BO 1 v.y -li', de 10 de agú»Âo de Tsõl. tor-á 
nando-se extensiro aos alumnos nobres 
do Instituto Nacional do Musica o ficando 
a dirertoria d*aqnella sstrad.» anctortisils 
s altandsr a i cJidoa quo n‘r*«c arnlido 
Ihc forem frito» pelos dircctorcs doa ro- 
spcetivos estabolecímenUu. 

Foi nomeado carteiro de 2* clara* do 
cornrio gorai o supplentc FruncÍKO José 
do OJirdra Uos». 

Rerlamam os moradoras de Cascadura 
contra uma vslla que alli existe c quo 
servo para dcrrsjo da mat-rias fecaes « 
ds toda a sorte ds imimiodicicz. E* tal q 
máo clielro que exliala aquelte fóro de 
pasta qus os moradores daqueila estaç^á 
vivem afinirtos. Sendo o le^ar salubre, j% 
têm alli apparecLdoeaaos oé lebre» polua- 
Ires atUibuidas nquella valia. 

1‘ara a auctoridadn «anilaria appcllsns 
os moradores d'aqnrlle togar, c»p;rand( 
que ao menos seja limpa n mesto» 


De volta [terceiro texto] (detalhe) 


jornal é mais completa, uma vez que possui uma seção inteiramente nova (segunda parte, reprodu- 
zida acima). Atente-se ainda para o post-scriptum de Domício à terceira parte, ausente do manuscrito 
transcrito por Borges (1998). 




1052 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O CAPITULO DAS VIAGENS 


A J. Capistrano de Abreu 

Relidas e analysadns sem indulgência pessoal, estas impres- 
sões das minhas passagens e demoras entre gente extranha não 
parece contribuírem grandcmentc para a instrucção da moci- 
dade, nem mesmo para o repertório, hoje tão pouco renovado, 
das bcllas mentiras vindas de longe. 

Falta o garbo narrativo a estas relações, falta-lhes a exu- 
berância admirativa, o rnaravilhamento abandonado c contagio- 
so á força de sincero, a tenção de gosar a vida nova, ainda que, 
para o fazer melhor, seja preciso tornarmo-nos romanos nas 
Komas successivas da nossa jornada do mundo. Não se desco- 
bre ncllas o homem prestigiado pelo muito que viu e aprendeu, 
que teve a fronte illunnnada pelos sóes das terras distantes, de 
que nos fica a nostalgia para sempre, e o sangue enriquecido 
aos largos haustos das brisas oceanicas, que viu alteiarcni-se no 
horizonte dos seus olhos religiosamente attentos os vultos trá- 
gicos dos monumentos do passado e as moles soberbas e sum- 
ptuosas onde pompeia a grandeza do presente, que pendeu a 
cabeça sob as abobadas soiennes onde se ensinava a doutrina ' 
antiga c, peregrino em busca da revelação, remontou até ás ori- 
gens as grandes correntes da vida eivilisada. 

Para todos estes effeitos esperados em livros de viagens 
era preciso o animo de dizer coisas novas, que nunca tive. Esta 
humilde segurança me seja contada no meu balanço nitelle- 
etual, que nunca presumi de descobridor. O que as impressões 
directas do mundo exterior acordaram em mim de idéas ou de 
emoções raras sempre me pareceu que antes de mim outros os 
teriam tido. 


O capítulo das viagens. Revista do Brasil, São Paulo, ano I, v. III, n. 12, p. 315-321, dez. 

1916. 15 


15 Há diversas alterações entre O texto publicado na Revista do Brasil e o original manuscrito 
da ABL, transcrito por Borges (1998, p. 488-493); cf. os comentários a ambos os textos no Anexo II. 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1053 


3.16 It lí VI ST A 1)0 BRASIL 

O nninio dc dizer coisas novas nasce do caracter impulsivo 
e generoso, que as dcsillusõcs não modificam, porque exciue o 
senso critico, que delias tiraria ensinamento. Nem mesmo póde 
ser muito ensinado um espirito assim decidido a vôr as coisas 
como as imaginou, através dos seus desejos d «formativos. Esta 
decisão capaz de nos apresentar realidades poéticas já intei- 
ramente construídas para as nossas necessidades, emquanto 
outros ainda desenham penosaniente a épura incerta da verda- 
de deduzida, esta confiada e ingênua e simples visão pessoal 
dos espectáculos da vida promovem em nós a syinpathia maxi- 
ma com que lemos os livros dc divertimento. Mas a honestidade 
lógica, incompatível com a phantasia graciosa e fácil, e a humil- 
dade espiritual do que não pretende o privilegio de aprender 
sem esforço — cedo extinguiram em mira o poder crcador das 
verdades para uso proprio, cedo estancaram-me a fonte da poe- 
sia corrente cantando entre jardins de flores conhecidas. Do 
mal dahi provindo não sou culpado, que me não escolhi um 
caracter e assim me encontrei cauteloso c analysta. Cultivo, 
sim, essa terra secca da critica com o severo carinho de urn 
amador de actos reharbativos, considerando que ha logar para 
esthetica até no trabalho ingrato das classificações abstracti- 
vas. Sómente, o divertimento tirado de taes contemplações cos- 
tuma ser reservado c austero como as alegrias que dc tão pro- 
fundas nem chamam o sorriso aos lábios. 

Receio bem que o leitor destas notas avulsas seja ainda 
mais rigoroso que o autor e não encontre ncllas merecimento 
para serem conservadas em volume. A justificação do volume 
prcsumpçoso seria o conselho instante dos amigos. Porém, ain- 
da mesmo sem esse grato estimulo, eu sinto que era fatal a 
crise das saudades em que do rcmecher em jornaes velhos e ca- 
dernos resultaria o livro, falhado e escasso embora, dos itine- 
rários c registros de impressões recebidas pelas estradas e nos 
pousos do mundo. Será ellc o alpenstoclc literário das minhas 
excursões de mocidade, omittidos os nomes evocativos das esta- 
ções sen tirnen taes. Se coubesse em escriptos como este a com- 
pleta expansão de memórias intimas, sobraria por ahi matéria 
para novellas captivantes. Assim serviriam as viagens para 
justificar a mudança dos scenarios na comedia trágica que 
cada um de nós representa na vida. 


O capítulo das viagens (cont.) 



1054 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O CAPITULO DAS VIAGENS 317 

Escasso e falho ó o livro, mas a sua pouquidade Jifio é im- 
pertinente. Quem o percorrer com paciência não achará aggres- 
sivo o seu personalismo, que não doutrina. E’ que as minhas 
viagens foram feitas para aprender, não para ensinar. O mes- 
mo é de certos livros qne lemos para os ter lido, não para falar 
'dellcs. Descrever paisagens classicas e contar emoções consa- 
gradas sempre me pareeeu exercício de poeta sem respeito peia 
imaginação alheia. Dahi a parcimónia das descripções nestas 
paginas descuidosas. Emquanto as esboçava in pensando nos 
que antes de mim viram melhor e exprimiram melhor o que 
viram, com mais vibração, com a convicção communicativa. E 
resumia e scliematisava e calava, com esse honesto medo de en- 
fadar que impede tanta gente de ser engraçada em sociedade. 

Também não era para ser guardado isso que a longos iuter- 
vallos andei dando a jornaes e revistas, por enchimenlo. A pri- 
meira tenção de quem escreve é sá publicar a obra fina, esco- 
lhendo ante as suas producçõcs as mais valiosas, as pérolas 
mais perfeitas da sua sensibilidade, para cngastal-as sob a for- 
ma definitiva no livro destinado aos séculos. As resmas de pa- 
pel manuscripto que perdemos pelos escriptorios dos jornaes, 
nas gavetas c armarios dos hotéis ou cm mãos de amigos des- 
cuidados representam a pródiga] idade de quem julga inexhau- 
rivel o seu thesouro de idéas e emoções. Mas o tempo passa e 
as obras essenciaes não foram feitas e a sensibilidade teimosa- 
mente sadia e equilibrada cessou de produzir as pérolas pere- 
grinas da poesia. Lembra-se então o eseriptor das suas paginas 
menores, desprezadas entre a palhada van do jornalismo. E re- 
conhecendo-as e recolhendo -as com mão piedosa, não póde dei- 
xar de pensar na série ou no capitulo em que ellas figurassem 
decentemente. 

E’ ainda este um dos casos em que melhor seria o livro que 
não foi escripto. Interessante, senão informativo, seria o itine- 
rário ideal do menino sedentário e roido de desejos, cuja phau- 
tasia viaja sem repouso e sem destino, eomo num sonho ardente 
,de liberdade e de poesia. Desembaraçado da realidade impor- 
tuna, evadido das linhas certas dos roteiros frequentados, que 
gradeiam o horizonte ao viajante ordinário, esse peregrino das 
Mocas imaginadas teria a independeu cia de expressão e a au- 
toridade do quem affinna cousas inverificavcis. O livro nume- 


O capítulo das viagens (cont.) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1055 


318 REVISTA 1)0 BRASIL 

roso e profundo, e verdadeiro na sua imprecisão, não foi es- 
cripto, talvez porque não pudesse ser lido. Qualquer de nós é 
capaz de o conceber, embora lhe falte a fé para reduzil-o a lín- 
gua clara e sympathica. 

No começo é o poema da aspiração, a divina aventura da 
alma dispersa cada manlian aos quatro ventos do ceu, forra- 
geando pelps campos do saber alheio, e regressando cada noite, 
exhausta de fadiga, ajoujada sob a carga da pilhagem vária 
destinada ao thesouro da futura urbs cerebral. Programma 
não ha, nem tenção formal, que a vida intensa é sem tenções e 
tudo espera do imprevisto: apenas o impulso do desejo, a pro- 
jecção do indivíduo para a frente. Mas dos hyinnos retumban- 
tes de esperança acompanhando as sortidas e da surdina ele- 
gíaca das voltas se vae compondo a toada característica do 
homem feito, o seu thema pessoal e representativo nos concer- 
tantes da vida. R, premiada nas confirmações praticas das suas 
intuições e previsões, ou ensinada nos desenganos de que uão 
resulta amargura, porque ainda são a lição da experiencia, 
esse ir e vir da alma aprendendo a viver encerra nos seus mil 
episodios desdenhados toda a infinita e inexplorada poesia das 
descobertas. 

Aos dois annos de edade foi a passagem da casa natal na 
varzea para a morada no morro. Atraz ficavam os apegos ma- 
teriaes, cousas amadas, outras detestadas, claridades familia- 
res nas várias horas do dia, uma carranca apavorante na pare- 
de de um quarto escuro, e no salão, suspensas em baças mol- 
duras verdes, gravuras coloridas contando o romance do Filho 
Pródigo. Adeante era o não conhecido e não desejado. Havia 
apenas um campo a atravessar e uma ladeira a subir — quinze 
minutos para as corrVtis loucas no futuro. Mas, naquella tar- 
de, ao menino que pela primeira vez transpunha a cerca do 
campo afigurou-se vastíssima a pastagem rodeada dc brejaes, 
dessorando pelas valias sinistras a agua tinta, ainda mais es- 
curecida pela sombra das arvores á beira. A altura do hombro 
materno que o carregava não lhe dava para dominar o hori- 
zonte hostil, cheio de vultos e de rumores mvos. Pela estrada, 
que encobria uma cerca viva, passavam carro i de bois cantando 
e rouquejavam gritos selvagens de carreiros, fóra da afinação 
com a serenidade da hora. A meio da ladeira foi a primeira 


O capítulo das viagens (cont.) 



1056 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O CAPITULO IMS VIAGENS 319 

visão dos altos pen riachos de espuma branca, franjando u mol- 
dura amarellenta das dunas, de onde vinha como um trovão 
surdo e continuo o estrondo temeroso da arrebentarão do mar. 
Tudo parecia estreitar-se, aproximar-se, ameaçar. Era o mundo 
inimigo, o pânico iuexplicavel e invencível, religioso. O braço 
forte e doce que o sustinha, a cabeça amiga apertada contra o 
seu coração agitado sentiram-lhe nas contracções do corpinho 
mais aconchegado, buscando amparo, a invasão do terror an- 
gustiante. E logo a voz segura e clara começou a fallar, espan- 
cando os medos vagos, ensinando a coragem, disfarçando as 
estranhezas da casa nova, promettendo bellczas, restabele- 
cendo na alminha desnorteada o equilíbrio perdido na emoção 
violenta, até á vinda do sonmo agazalhador e calmante. 

Este drama fremente do primeiro desarraiganiento mere- 
ceria ser contado com arte. Acaso revelaria elle á analyse dessa 
impressão profunda do horizonte mudado em torno, da illumi- 
uação differente, dos vultos e linhas familiares, que nos occupa- 
vam o ambiente e lhe definiam a physionomia obscura, substi- 
tuídos agora por uma figuração antipathica na sua novidade, 
sem passado, sem uma acção que lhe dê prestigio e a persona- 
lize na breve e balbuciante e palpitante chronica dos nossos pri- 
meiros dias, acaso mostraria pela própria violência dessa extra- 
nheza o resaibo pungente de toda sensação bastante nova e 
intensa bastante para que delia nos fique a marca funda na 
memória. E, ainda mais, comparando esse quasi espasmo da 
sensibilidde á primeira mudança com os choques cada vez mais 
fortes que soffremos de fóra c que cada vez menos nos abalam 
subjectivamente, mostraria na perspectiva invertida da nossa 
consciência a degradação dos tons e o esfumado das figuras, 
diminuídas de nitidez c de relevo, vindo dos derradeiros planos 
para a frente e significando o estancamento gradual da fonte 
de emoções nascidas do substratum obscuro que é o terror do 
desconhecido. A conclusão seria que quando chegamos á per- 
feita segurança individual, que, só, nos permitte a critica, tem 
desapparecido em nós o melhor do sentimento poético, com a 
faculdade de transmittir emoções vehementes e elementares. 

Já a segunda grande viagem, aos cinco a mios, para ir vêr 
o mar e a escola, sendo voluntária, foi mais tranquilla e con- 
fiada. Já ahi se misturavam os arrepios do medo das ondas fra- 
gorosas com a curiosidade — não manifestada: as maravilhas 


O capítulo das viagens (cont.) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1057 


320 REVISTA DO BRASIL 

não querem ser explicadas — das causas e dos destinos de toda 
squella agitação sem tumulto. E a casa mysteriosamente fe- 
chada (era á hora do crepúsculo) da escola aonde se vae ganhar 
prêmios, ganhar respeito, ganhar saber nos livros que nos eom- 
ínunicain com o mundo além, não era mais a terra incógnita 
para o menino em cujo espirito já se firmara a certeza de que 
aprender é um modo de viver. 

Foi assim, sem receio, ainda que não sem emoção, a partida 
para os estudos na cidade, passando por logares cujos nomes 
andavam sempre na bocca dos mais velhos, os viajados. Partida 
ao amanhecer, depois da noite de vigília e anceio, coração 
tá m ido de pena e de alvoroço, estirões fatigantes de marcha, 
paizagens sempre mudando em perfis de montanhas, em 
espraiados de rios, sombras, perfumes, vozes, sensações exóticas 
em poucas léguas de distancia, tres cidades vistas no mesmo 
dia pelo mítuto de doze annos que apenas visitara um povoado, 
tudo mereceria registro no capitulo das viagens. 

E finalmente dias antes de partir para o estrangeiro, a 
derradeira visita á casa paterna seria a viagem memorável, 
cuja data assignala a entrada de um período novo da historia 
pessoal. 

Oertamente se combinaram em gravidade reflexiva e pro- 
funda e obscura demais para a analyse as emoções várias dessa 
despedida. Havia alli dois homens de mais de quarenta annos 
de differença, almas distantes de todo esse tempo, embora liga- 
das na communhão do affecto, pae e filho que se iam separar, 
talvez para sempre, e o filho trazia ao pae a notícia da sua 
ruína. Mas emquanto um se sacudia do atordoamento do golpe 
cuidando antes da partida do outro, substituição heroica da 
confiança em si pela esperança na aventura alheia, o filho, ape- 
zar seu, estudava no pae a physionomia nova que devia ter o 
homem que ao fim da vida assim cessava subitamente de ser 
dono de outros homens. E como a situação era pungentemente 
perturbadora, as phrases raras que trocavam mais pareciam 
ditas para velar o pensamento tormentoso. 

Ultimo beijo de adeus na mão quente e segura, primeira 
amada e unica temida no inundo, olhar panoramieo sobre o 
horizonte conhecido, amigo, em que sempre oramos centro e 
que por longos annos ainda, quiçá por toda a vida, vae a ser a 
paizagem dos sonhos de outra acção, premura no coração da 


O capítulo das viagens (cont.) 



1058 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


O CAPITULO DAS VIAGENS 321 

incerteza, da apprehensão dos dias futuros, que sentem á hora 
das decisões os pensativos, os leaes para comsigo mesmos, som- 
bra da saudade prévia que empanna o brilho da mais radiosa 
manhan de partida, quem vos pudesse contar com sinceridade 
não teria perdão se por sua escolha envelhecesse e morresse 
cm terra extran ha! 

Mas ninguém póde, ninguém sabe dizer essas peregrinas 
angustias dos grandes momentos que nos revelam a nós mesmos. 
Ou, se sabe e póde, não encontra logar para ellas entre as des- 
cripções da realidade corrente e impessoal, qne querem que sejam 
as narrações de viagens. O “capitulo dos livros” seria mais apro- 
priado para taes dissecções. Sómente, a quem fazer lôr tal 
capitulo, senão aos escriptores, que têm “a intelligeneia”? Tanto 
vale deixal-o por escrever. 

E no entanto de quanta deformação critica, dc quanta injus- 
tiça na apreciação das coisas exóticas é cansa esse apego irredu- 
ctivel ao ambiente pátrio, revelado em paroxismo pela creança 
pavorada íi sua primeira saliida de casa, e quão facilmente se 
póde retraçar á sua origem estreitamente nativista a impermea- 
bilidade, a inhibição da alma errando sempre fechada na sua 
couraça de antipathia isoladora! Assim viaja a maior jjarte da 
gente sincera. 

O leitor dirá se assim viajei. 

DOM1CIO DA GAMA. 

Petropolis, 11 de Maio, 1906. 


O capítulo das viagens (cont.) 



DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1059 


DISCURSOS 


THE NEUTRALITY RULES ADOPTED BY BRAZIL 

By His Excellency, the Braziuan Ambassadob, 
Senhor Dom Domicio Da Gama. 

I crave your indulgence for a brief presentation of the rui es 
adopted to define, secure and maintain the neutrality of Brazil in 
the present European war. I will not undertake a detailed dis- 
cussion of them; I only desire to call your attention to them as a 
contribution towards the maintenance of friendly relations between 
belligerents and a country not involved in the war. The observ- 
ance of these rules, which was announced at the beginning of the 
war, seems to have been approved by the belligerents, and particu- 
larly by one of them, which has gone so far as to propose that they 
be taken as an example elsewhere. But the fact that the rules 
wisely adopted by Brazil in matters of neutrality could not be foi- 
lowed by others is another proof that International problema have 
to be trcated according to internai conditions, and their solution 
subordinated to national conveniences. “ For geographical reasons” 
was a rather elegant phrase lately used in the declination of official 
invitations to coõperate in defensive actions of government. This 
is a new proof of the fact that, in some cases and particularly in 
those involving responsibility, governments may feel safer in acting 
alone than in finding themseives in good company. 

I am prepared to admit that reflections such as these may 
serve to cool the generous enthusiasm of the honest preachers of 
intemational solidarity; nor should I wish to appear to be sarcastic 
as I crcdit philanthropy with taking the initiative in the improve- 
ment of International relations. And I also recognize that optimism 
is at the basis of every constructive work, and should be an alto- 
gether good thing. But we must also know that virtue among 
nations has not reached such a pitch as to justify the belief in an 
intemational society of nations, ruled by the same restraining, vir- 
tuous, moral principies that preside over the relations of individuais 
living in society. We are well acquainted with lessons of history 
which not only sadden our hearts and darken our minds with the 
tragedies of ambition, both in individuais and in nations, but which 

147 


The neutrality rules adopted by Brazil. The Annals of the American Academy of 
Political and Social Science, Philadelphia, v. 60, p. 147-154, jul. 1915b. 16 


16 O texto acima encontra-se reproduzido em Gama (1915a). 




1060 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


148 The Annals of the American Academt 

aiso teach us that optimism, especially in the sense of undue self- 
confidencc, rnay hurry us on to grave catastrophes. We are all 
thinking of the preaent war— this war, that none of us would like 
to be responsible for; this, to the cool-minded man, suicidai war, 
was rendered possible by optimism in that sense. Some good 
peoplc, honcstly believing that they had grievances to redress, felt 
that all they had to do was to start and strike at thosc who stood 
in the way, and that they would get their due for being brave and 
strong and having confidence in themselves. And they went out 
and struck and have been striking ever since, but cannot yet say 
when the fighting will cease, because there are othcrs in the way, 
equally brave and strong and self-confident. The lesson of this 
tragic mistake cannot destroy the hopc that is immortal in the 
heart of men, hope for better times when peace will rule the w r orld; 
but it may warn us against the dangers of miscalculation through 
optimism and, if some good may arise from so much evil, it will 
come through fear — which in many rcspccts is the beginning of 
wãsdom-— fear that we are not safe, that wc are not sufficiently 
protccted by our overestimatcd and over-trusted civilization. 

Rules of neutrality appear as a consequence of the salutary 
fear of entanglements and complications with othcr peoples’ troubles. 
Thesc rules are rathcr precarious, being bascd on prccedents or, more 
exactly, upon the rcspcct of the belligerents, a respect that may 
naturally diminish as it comes to conflict with the nceds of war. 
When the rules are violated, protests are promptly made, explana- 
tions and excuses follow, for the sake of international good feeling; 
and the history of violations of neutrality is augmcnted by another 
page on which is specially recorded yct another incident eonnected 
with the solving by arms of the conflicts between natíons. 

Ror this, among othcr reasons, neutrality suffers a ccrtain dis- 
paragement in the minds of plain peoplc, not to say of belligerents. 
Nor are we neutrais credited with absolute impartiality before the 
struggle, and, although “the state of neutrality avoids all considera- 
tion of the merits of the contest,” it cannot go so far as to sincerely 
“recognize the cause of both parties to the contest as just,” unlcss 
a man has arrived at that degree of eynieism in which all human 
ambitions and strifes appear as mere foolishness. From the average 
man, even from profesgors of international law, hardly can we 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1061 


Brazilian Neutrality Rules 149 

expect such unearthly detachraent as to precludc sympathy in the 
decisions of absoluto justice. 

There is nothing to prevcnt us as individuais from making a 
choice. We are free to have preferences, to takc sides, if only 
morally, in a contest of such magnitude and far-reaching conse- 
quences. This is our personal right and almost bounden duty. 
Where political rcasons int.crvene it is in not showing our prefer- 
ences, in expressing opinions and sentiments that might carry a 
moral weight in favor of one of the contending parties; and such a 
reservednoss, amounting to more than usual discretion and pro- 
priety in social relations, is not obtainablo without much cart; and 
a real effort on the part of the governments. 

Now, there seems to be no real reciproeity on the part of the 
belligerents for such a consideration from the neutral. Enemies 
are sometimes shown courtesies that are omitted with friends that 
are neutral, and this is perhaps because they are neutral, that is to 
say, friendty to the other party also. If it is true that the friends 
of our friends are not always our friends, the friends of our enemies 
may easily be found to be our enemies; or, at least they cannot be 
of the beat we may have in matter of friends. Oh! it is a poor 
fricndship, — the one which simply reads as the contrary of enmity. 
It goes by degrees and has restrictions and wears out at the first 
and lightest friction, as a labei of no consequence upon a bottle of 
doubtful wine. 

This is what we imagine belligerents feel about neutrality, if 
they do not really express theinselves so clearly about it. And the 
mortification of being under suspieion is thus added to the worries 
and cares of the neutrais in their dealing with the special situation 
created by an international war; a situation which should prevent 
nations from armed conílicts, if the memory of past sufferings could 
appear as vivid in our mind at the criticai moment; which at all 
events could be considerably improved if the interests of the neu- 
trais were properly taken into consideration and their rights clearly 
defined and respected by belligerents. A movement in this sense 
was initiated last year by the governments represented at the Pan 
American Union. A committee of study was appointed, which has 
bet;n working steadily and has already nearly completed its report, 
and the nations of our continent, taken by surprise and finding it 
difficult to Iegislate in time of war without affecting positions ac- 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 




1062 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


150 The Annals of the American Academy 

quired and advantages gained by one or other of the belligerents, 
prepare themselves to codify the rules of neutrality that may be 
adopted in common and will in future conflicts serve the interests 
of peace without interfering with the contest. I am not authorized 
to speak about this preliminary work, which has still to be sub- 
mitted to the consideration of our governments, unless it is to say 
that it was conducted upon the most liberal principies. The 
Brazilian rules of neutrality given in full in the footnote 1 were among 
the elements that were considered by the sub-committee in charge 
of this codification. And from them, because so much has been said 
about the exportation of arins and ammunitions of war to bellig- 
erents, I select two articles which read : 

Art, 4th. The exportation of arms and ammunitions of war from Brazil 
to any port of the belligerent natione under the Brazilian flag, or that of any 
other nation, is abBolutely forbidden. 

Art. 5th. The States of the Union and their agents are not permitted to 
export or to participate in exporting any kind of war material for any of the bellig- 
erents, severally or collectively. 

These rules are not new. The first of them was promulgated 
by the Minister of Foreign Affairs of Brazil on April 29, 1896, on 
the occasion of the war between the United States and Spain. The 
second is an extension of the first, and affirms the authority of the 
federal govermnent on an international matter. 

Lately a circular dispateh dated February 22 of this year was 
sent by the Minister of Foreign Affairs to the Brazilian Embassies 
and Legations, saying that: 

According to our law, that follows in this the principies of commercial taw 
common to all civilized nations, the commercial associations cstablished and 
operating in the country and registered in the Brazilian boards of trade are con- 
sidered ae Brazilian irrespective of the nationality of their individual members. 
Aithough this may bring as a consequence a difíerence between the juridic per- 
sonality of these societies and that of their members, the Brazilian govemment will 
not give its support to the claims made by commercial societies composed of for- 
eign members, against acte of any of the belligerent nations, until and when, 
having duly exsmjned the facts and carefully considered the circumstances, it 
will be convinced,* not only that the claim is absolutely well founded, but also 
that it is free from any poli tical objects. It is the aim of the govemment of 
Brazil to see by this decision that a juridic principie true and useful in time of 
peace, may not be diverted from its moral purposes of tutelage and organization 
so as to eover acta not consist.ent with the neutrality that Brazü has so rigorously 
maintamed. (Signed) Lauro Müller. 

1 For General Rules of Neutrality see folio wing pages. 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1063 


Brazilian N eutrality Rules 151 

Everything points to the practical wisdom of these rules. 
They have proved satisfactory so far, but I arn not aware of their 
being put to a test. It was not so long ago when the papers re- 
ported that reply of the commander of a British squadron to the 
captain of the enemy warship, who claimed the right of asylum in 
neutral waters: “I have to sinlc you first: diplomacy will settle 
the matterafterwards.” Brazilian diplomacy has not been settling 
questions of violation of neutrality in our territorial waters. 

GENERAL RULES OF NEUTRALITY 

Art. lst — National and foreign residents in the United States of Brazil must 
abstain from any participation in aid of the beiligerents or any act that inay be 
deemed hostile to one of the nations at war. 

Art. 2nd — -The beiligerents are not allowed to promote in Brazil the enlist- 
ment of their nationala, or of Brazilian citizene, or of subjects of other nations, for 
Service in their forces on land or sea. 

Abt. 3 rd — The govemment of Brazil does not consent that privateers be 
anned and equipped in the ports of the Republic. 

Abt. 4th — The exportation of anns and ammunitions of war from Brazil to 
any port of the beUigerent nations, under the Brazilian flag, or that of any other 
nation, is absolutely forbidden. 

Akt. 5th — The States of the Union and their agents are not permitted to ex- 
port or to participate in exporting any kind of war material for any of the beiliger- 
ents, severally or collectively. 

Akt. 6th — A beUigerent is not permitted to have a naval base of operations 
against the enemy at any point in the littoral of Brazil or its territorial waters, 
not to have in said waters wireless telegraph stations to communicate with beUig- 
erent forces in the theatre of the war. 

Art. 7th — In case the mílitary operations or the sea-ports of any of the bellig- 
erents are situated at less than twelve days from the United States of Brazil, 
reckoning travei at twenty-three miles an hour, no warship of the other belliger- 
ent or beiligerents will be aUowed to stay in Brazilian portB, harbors or roadsteada 
longer than twenty-four hours, except in case of ships putting in on account of 
urgent need. 

The case of urgent need justifies the staying of the warship or privateer at 
the port longer than twenty-four hours; 

1. If the repairs needed to render the sbip seaworthy cannot be made within 
that time; 

2. In case of serioua danger on account of stress of weather; 

3. When threatened by some enemy craft cruising off the port of refuge. 

These three circumstances will be taken into consideration by the govern- 

ment in granting a delay for the refugee ship. 

Art. 8th — If the distance from the Brazilian port, harbor or roadstead of 
refuge to the next point of the littoral of the enemy is greater than twelve daya' 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 




1064 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


152 The Annals of the American Academy 

sai], the duration of the atay of the refugee ship or ships of war in the Brazilian 
waters wiU be left to the determination of the government, aeting according to 
circumstances. 

Art. 9th — Regardless of the distance between the Brazilian ports and the 
principal field of military operations or between the Brazilian ports and those of 
one of the belhgeTent countries, privateers will not be allowed to stay in ports, 
harbors or territorial waters of Brazil longer than twenty-four hours, cxocpt in the 
three cases mentioned in Art. 7th. 

Art. 10th — The rales established by Articles Nos. 7 and 8 for the limitation 
of the stay of ships in the ports, harbors and territorial waters of Brazil do not 
apply to ships of war occupied in soientific, rcligious or philanthropie missiona, 
nor to hospital ships, 

Art. llth — Any act of war, includrag capture and the exereise of the right 
of visit, by a belligerent warship in territorial waters of Brazil constitutcs a viola- 
tion of the neutrality and offends the sovcreignty of the Republic. 

Besides duc reparation, the government of the Republic will demand the 
release by the belligerent government or govemments of the vessels captured, 
with their officers and erew, if eu oh captured vessels are already beyond the júris- 
dictional water of Brazil and immediate repression of the abuse commítted. 

Art. 12th — Once war is deelared, the federal government will prevent, by all 
means, the fitting out, equippíng and arming of any vessel that may be suspected 
of intending to go privateering or otherwise engaging in hostihties against one of 
the bclligerents. The government will be equally careful in preventing the sailing 
from the Brazilian territory of any vessel there adapted to be used as a warship 
in hostile operations. 

Art. 13th — The belligerent warships are allowed to repair their damages in 
the ports and harbors of Brazil only to the extent of rendering them seaworthy, 
without in any wise augmenting their military power. 

The Brazilian naval authorities will ascertain the nature and extent of the 
propor repairs, which shall be made as pTomptly as possiblc. 

Art. 14th — The aforesaid ships may take snpplies in Brazilian ports and 
harbors: 

1. To make up their usual stock of food supplics as in time of peaee; 

2. To take fuel enough to reach their next home port or complete the filling 
of their coal-bunkers proper. 

Art. 15th — The belligerent warships that take fuel in a Brazilian port will 
not be allowed to renew their supplics in the same or othcr Brazilian port before 
three months ha ve elapsed sinee their next-previous supply. 

Art. lôth — Belligerent ships are not allowed to increase their armament, 
military equipment or crews in the ports, harbors or territorial waters of Brazil. 
They may claim the Services of the national pilots. 

Art. 17th — The neutrality of Brazil is not affected by the mere passage 
through its territorial waters of belligerent warships and their prizes. 

Art. 18th — If warships of two beUigerents happen to be together in a Brazil- 
ian port or harbor, an interval of twenty-four hours shall elapBe between the sail- 
ing of one of them and the sailing of her enemy, if both are steameis. If the firBt 
to sail is a sailing vessel and the next being au enemy is a steamer, three days’ ad- 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 




DOMÍCIO DA GAMA E O IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL 


1065 


BraZIUAN NeüTRALITY RtTLES 153 

vance will be given to the first belligerent. ahíp. Their time of sailing will be 
counted from their respective arrivals, exceptions being made for the cases in 
which a prolongation of stay may be granted. A belligerent. ship of war cannot 
leave a Brazilian port before the departure of a merchant ship under an enemy 
flag, but must respect the aforesaid provisions concerning the intervala of de- 
parture between steamers and sailing vessels. 

Art. 19th — lf a belligerent warship having received due notice from the com- 
petent local authority does not leave the Brazilian port where her stay would be 
unlawful, the federal government will take the neeessary measures to prevent her 
sailing during the war. 

(a) The officer in command of a ship of war flying the flag of a nation having 
ratified the 13th convention of The Hague, October 17, 1907, or having adhered 
to it afterwards, is under obligation to facilitate the execution of those measures. 

(b) If a comtnandant of a belligerent ship refuses to comply with the notice 
received, for some reason nonapplicable, or for lack of adhesion to that and other 
clauses of said convention of The Hague, the federal government will command the 
naval and military authoríties of the Itepublic to use force to prevent the viola tion 
of Brazilian neutrality. 

(c) A belligerent ship being detained in Brazil, her officers and crew shall be 
detained with her, 

(d) The officers and men thus detained may have their quarters in another 
ship or in some place ashore, to be under the restrictive measures that are advis- 
able, keeping aboard the warship the men neeessary to her upkeep. The officers 
may have their freedom, under written pledge, on their word of honor, not to 
leave the place assigned to them in Brazilian territory without authorization from 
the minister of the navy, 

Akt. 20th — The captures made by a belligerent may only be brought to a 
Brazilian port in case of unseaworthiness, stress of weather, lack of fuel or food 
provisions, and also undeT the conditions provided hereinbelow in Article 21st. 

The prize must depaxt as soon as the cause or causes of her arrival ceas'. 
Failing that departure, the Brazilian authority will notify the commander of the 
prize to leave at once, and, if not obeyed, will take the neeessary measures to have 
the prize released with her officers and crew, and to intern the pTize-crew placed 
on board by the captor. 

Any prize entering a Brazilian port or harbor, except under the aforesaid 
fotiT conditions, will be likewise released. 

Art. 21st — Prizes may be admitted that are brought, under convoy or not, 
to a Brazilian port, to be placed under custody pending the decision of the com- 
petent prize-court. The prize may be sent by the local authority to some other 
Brazilian port. If she is convoyed by a warship, the officers and prize-crew put 
aboard by the captor may return to the warship. If she sails alone, the prize- 
crew put aboard by the captor is left at liberty. 

Akt. 22nd — Belligerent warships that are chased by the enemy, and, avoid- 
ing attack, seek refuge in a. Brazilian port, will be detained there and disarmed. 
But they will be allowed to go if their officers in command take the pledge of not 
engaging themselves in war operations. 

Art. 23rd — No prÍ 2 e will be sold in Brazil before the validity of her capture 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 




1066 


FRANCO BAPTISTA SANDANELLO 


154 The Annals of the American Academy 

is recognized by the competent court in the country of the captor. Nor is the 
captor allowed to dispose in Brazil of the goods in his possession as a result of the 
capture. 

Art. 24th— From the officers in command of naval forces or warships calling 
at Brazilian ports for repairs, or supplies, a written declaration will be required 
that they will not capture merchant shíps under their adversary’s flag, even out- 
side territorial waters of Brazil, íf met between 30 degrees Long. W. Greenwich, 
the parallel of 4 degrees, 30 minutes N. and that of 30 degrees S., when these mer- 
chant ships have taken cargo in Brazilian ports or are bringing cargo to the same. 

Art, 25th— Belligerents cannot receive in Brazilian ports goods sent directly 
to them in ships of any nation, since thís would mean that the warships did not 
put in in a case of urgent need, but intended to cruise in these waters. To tolerate 
such an abuse would amount to alíowing Brazilian ports to be used as a base of 
military operatione. 

Art. 26th— Belligerent warships admitted into the ports and harbors of 
Brazil shall remain in the places to them assigned by the local authorities, per- 
fectly quiet and in peace with the other ships, even with the warships of other 
belligerents. 

Art. 27th — The Brazilian military, naval, fiscal and police authorities will 
exercise the greatest caTe to prevent the violation of the aforesaid measures in the 
territorial waters of the Republic. 

Department of State for Forejgn Relations, Rio de Janeiro, August 4th, 1914. 

Fredeíuco Affonso de Carvalho. 

Decree No. 11,141 of September 9th, 1914, Completing the Roles of Nbtt- 

TRALITY ÁPPROVED BY DECREE No. 11,037 OF AoGUBT 4th, AbKOOATES THE 

Last Part of the 22nd Article of the Same Decree 

The President of the Republic of the United States of Brazil 

Resolves to incorporate into the Decree No, 11,037 of the 4th of August ul- 
timo the following rules; 

Art. lst — No merchant ship will be allowed to sail from a Brazilian port 
without a previous declaration from the consular agent of her nation, stating the 
ports of call and destination of said ship, with an assurance that she is employed 
only on commercial business. 

Art. 2nd — In case it will be known, by the length of her voyage or the Toute 
of her sailing, that a ship sailing from a Brazilian port went to other ports than 
those declared in her statement, and she retums to Brazil, she will be detained by 
the Brazilian naval authorities to be eonsidered as belonging to the fleet of war 
of her nation and as such submitted to the dispositions of Article 19th of the De- 
cree No. 11,037 of August 4, 1914. 

Art. 3rd — Abrogates the last. clause of Article 22nd of the rules approved by 
Decree No. 11,037 of the 4th of August, 1914. 

Rio de Janeiro, September 9th, 1914. 

Hermes da Fonseca. 

Lauro Muller. 


The neutrality rules adopted by Brazil (detalhe) 






Realizado o depósito legal na Biblioteca Nacional, 
conforme Lei 10.994, de 14 de dezembro de 2004 


Formato: A4 (21 x 29,7cm) 
Tipologia: Garamond (14/21, 14/16,5. 12/14,4) 
I a edição: 2017 


UFMA 

Av. dos Portugueses, 1966, Cidade Universitária, Bacang 

São Luís / MA